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Papo Cabeça (Doutor Guitarra) por Marcelo Gomes

Meus amigos,

É um grande prazer estrear essa coluna num veículo tão moderno e com o nível de conteúdo
da Guitarload. Minha experiência em lecionar guitarra em instituições significativas da esfera
do ensino em São Paulo vem de longa data. De fato, à 25 anos sou instrutor de alunos em
torno dos 20 anos cursando o ensino superior em música e que, em sua grande maioria, vem
do universo do rock. Essa bagagem, somada a trajetória artística e acadêmica que percorri, me
permitiu observar certos aspectos singulares da prática musical e da guitarra e perceber que
havia certas áreas pouco discutidas e ensinadas, mas que, se trazidas à tona, poderiam ser
extremamente úteis para o desenvolvimento dos alunos. A proposta dessa coluna é
exatamente essa.

Nesta edição vamos falar sobre a afinação da guitarra. Conta-se na história da guitarra que
Charlie Christian (1916-1942) foi o primeiro a eletrificar o instrumento e ter espaço e
reconhecimento como solista, em especial na Big Band de Benny Goodman, conhecido como o
“Rei do Swing” (importante estilo de jazz dos anos 1930). A partir daí, nosso instrumento, que
se restringia ao papel de acompanhante devido à sua sonoridade pequena num contexto de
grupo (imagine-se tentar solar com um violão ao lado de um piano, uma bateria e um
trompete), passa a ser ter também seu espaço como solista.

Acontece que a grande maioria dos instrumentos de corda cujo papel é executar melodias e
solos – improvisados ou não – tem uma afinação regular. O que isso quer dizer? Que a
distância entre as notas de cada corda solta é a mesma. Examinemos primeiro o violino: sua
afinação é sol-ré-lá-mi (do grave para o agudo), ou seja, sempre quintas justas. Se você não
conhece intervalos, procure aprender. É relativamente fácil e serve como uma trena para o
arquiteto, como uma forma de medir a distância entre duas notas. Outro caso é o do
bandolim, também afinado em quintas.

Já numa esfera mais moderna, vejamos o caso do baixo elétrico de seis cordas. O baixo de
quatro cordas, que tem a afinação mi-lá-ré-sol (sempre quartas e, de novo, do grave para o
agudo) se reporta claramente às quatro últimas cordas da guitarra (3,4,5 e 6). Ao inserir uma
nota mais grave, como é o caso do baixo de cinco cordas, optou-se por uma nota si (B - quarta
abaixo de mi) como, aliás, é o caso do violão de sete cordas. Mas, ao introduzir uma nota mais
aguda, os baixistas inteligentemente elegeram afinar esta corda em dó. O baixo elétrico de seis
cordas, portanto, tem uma afinação regular, já que a relação, a distância entre suas cordas
soltas é sempre a mesma, uma quarta justa. Por quê? Porque todos os desenhos, shapes e
formatos de escalas, arpejos, modos e até mesmo acordes se repetem.

Ora, quando aprendíamos a afinar nossa guitarra (sem a ajuda dos hoje tão popularizados
afinadores eletrônicos), diziam-nos para apertar a quinta casa da corda mi, para que se esteja
tocando a nota lá, uma quarta acima. Quando a corda mi (mizão, sexta corda), apertada na
quinta casa, soar igual a corda lá (quinta corda) solta, o primeiro intervalo de quartas estará
afinado. Esse processo se repete mais duas vezes, com a corda lá (quinta corda) apertada na
quinta casa, que deve soar ré, portanto igual à próxima corda solta. Mais uma vez de forma
idêntica isso acontece na relação entre as cordas ré e sol.

Eis que então o inesperado acontece. Quando temos que afinar o próximo par de cordas, nos
dizem para apertar a quarta casa da corda sol, e não a quinta. Ninguém nos falou porque,
onde, como, nem quando, e também não perguntamos nada, apenas aceitamos e
aprendemos. E logo em seguida apertamos novamente a quinta casa da corda si para afinar a
primeira do instrumento (E, mizinho).

Mas a situação salta aos olhos: porque em todas as cordas apertamos a quinta casa, exceto
quando afinamos a corda si, pois nesse caso temos de pressionar a quarta casa da corda sol?
Porque a guitarra é um instrumento de afinação irregular. Como assim? A relação interválica, a
medida de distância entre todas as cordas da guitarra e do violão é de quartas, exceto entre as
cordas sol e si, cujo intervalo é de terça maior. É algo que está bem diante de nós, mas jamais
colocado com a devida ênfase. Ou alguém já te disse: - preste atenção no fato de que a relação
entre as cordas soltas da guitarra é sempre a mesma, mas há uma exceção entre as cordas dois
e três, si e sol, que torna sua afinação irregular?

Se observarmos mais uma vez o caso do bandolim, note-se que seu papel no choro, por
exemplo, costuma ser de solista, no sentido de executar as melodias. Já o cavaco, de afinação
irregular, faz o papel de “centro”, acompanhamento harmônico por excelência. Ou seja, os
instrumentos de afinação regular tendem a desempenhar uma função melódica, enquanto os
de afinação irregular tem papel harmônico, de acompanhamento. E as afinações irregulares
tendem a ser assim por motivos harmônicos, pela facilidade em se montar acordes. No caso do
cavaco, a afinação é ré-sol-si-ré, que já é um acorde (sol maior com a quinta dobrada) e seu
papel é quase sempre de acompanhamento.

E o que podemos dizer da guitarra. Porque sua afinação é irregular? Muito provavelmente por
motivos harmônicos também. Mas há outros, como a própria tradição do violão, certos estilos
musicais que sempre empregaram cordas soltas (o Flamenco espanhol é um ótimo exemplo),
entre outros. E quem iria saber que a eletricidade seria inventada, um guitarrista eletrificaria
seu instrumento e partir daí seu papel como solista cresceria tanto ao ponto de ser a estrela
absoluta no rock. Afinal, não existe nenhum outro estilo que, em muitos casos, o guitarrista é
mais conhecido e assediado do que o vocalista, não é verdade?

Mas a pergunta que nos interessa agora não é porque a afinação é assim. A pergunta
fundamental é como lidar com isso? Quais as consequências desse fato – da afinação ser
irregular – para o dia a dia do estudo, para o processo de aprendizagem, enfim, para que
toquemos melhor imediatamente e aceleremos nossa absorção de todos os aspectos da
música em geral e da guitarra em particular?

Vou começar com uma regra prática. Todo formato, shape ou desenho, toda memorização do
tipo “geométrica” deve considerar que qualquer desenho, shape ou formato, quando
transportado para a corda si deve ser executado um traste adiante. Explico e exemplifico.

A execução de qualquer estrutura deve se repetir quando transportada para cordas que
mantenham a relação de quartas. Quando o desenho terminar na corda si, execute-o um
traste a frente para que tal estrutura se mantenha. O mesmo vale para a corda mizinho(1), se
partimos da corda sol. Apenas na relação que envolva apenas as cordas si-mi (5-6) os desenho
retomam o formato inicial, pois a relação de quartas se reestabelece entre esse par de cordas.

Mas vamos aos exemplos, para que tudo fique mais claro. Vamos partir da posição E (mi
maior), talvez o acorde mais básico possível na guitarra e violão. Observe que nesse tipo de
notação corda mizão (seis) está em baixo.

Uma quarta acima está o acorde de A (Lá) maior. Porque a posição não é idêntica, se apenas
baixarmos todos os dedos uma corda? Por causa da corda si, que será então corrigida um
traste (meio tom) à frente para que tenhamos novamente um acorde maior. Veja abaixo:

Está ficando claro? Vamos fazê-lo mais uma vez. Uma quarta acima do acorde de A (Lá) maior,
temos o acorde de D (Ré) maior. Parta do acorde de Lá e corrija a corda si (5) colocando o dedo
um traste (meio tom) à frente, exatamente como propõe nossa regra.

Tudo bem, ok, todos sabem essas posições. Mas a regra vale para qualquer acorde, posição,
shape, escala, arpejos, modo, enfim, qualquer estrutura. E, muito embora pareça algo
complicado neste momento relacionar tais posições, aos poucos você vai ficar um craque,
conhecendo ou não teoria musical, no processo de tocar qualquer coisa em qualquer lugar. E
não apenas isso, tudo que você souber apenas em um lugar ou tom, será facilmente
transportável. Por exemplo, oitavar uma ideia. É realmente muito comum e usual qualquer
instrumento que se proponha a realizar uma abordagem melódica varie a oitava ao executar
duas vezes o mesmo trecho, como flautistas, saxofonistas, pianistas, entre outros.

O recurso usado em geral para fazer isso na guitarra costuma ser oitavar exatamente o mesmo
desenho, realizando-o 12 (doze) trastes à frente. Isso pode geral situações bastante ilógicas,
musicalmente falando, com o guitarrista tocando tal melodia oitavada depois do 12 traste. O
resultado é uma melodia de timbre muito fechado e pouco sustain, já que a cordas
empregadas estarão curtas, pequenas e serão cordas encapadas. Vou dar um exemplo com o
desenho da escala de dó em uma oitava, e não uma melodia. Veja a escala de C maior (Dó) na
oitava casa. Uma boa forma de memorizar isso é iniciar com o dedo dois (2) e então pensar 2-
4, 1-2-4 e finalmente 1-3-4.

Se eu começar o desenho na corda A (5), terceiro traste, não há modificações no desenho,


exatamente porque a corda si (2) não estará envolvida. Veja:

Agora vamos empregar a regra prática para oitavar o desenho da escala. Baixe todos os dedos
uma corda, ande com a primeira nota até o décimo traste (a nota dó na corda ré) e então
repita o desenho arrastando aquilo que acontecer na corda si um traste à frente:

E se começarmos pela nota C (Dó) na quinta casa da corda sol? O desenho será adiantado um
traste já a partir da segunda corda desse desenho específico. Note que a relação do desenho
não mudou entre a corda si(2) e mi (1), mas as duas mudaram caso nos reportemos a corda
sol. Isso se deve ao fato de que na relação G (sol) e E (mizinho) a corda B (Si) continua
envolvida, portanto tudo acontecerá, como em relação a corda si, um traste adiante.

E agora, deu para perceber? Vamos resumir então. Muitos dos instrumentos melódicos de
cordas têm afinação regular, porque isso facilita a transposição de ideias, melodias, frases,
acordes, etc. E a guitarra e o violão tem uma afinação irregular, ou seja, apesar da grande
maioria das cordas se relacionarem através de um intervalo de quartas, a distância musical
entre a corda sol e si (2 e 3) é de uma terça maior, portanto meio tom atrás (um traste a
menos). E a regra prática para transposição de qualquer estrutura é de simplesmente executar
aquilo que for transportado para a corda si (2) um traste à frente, meio tom acima, para que se
possam manter todos os resultados musicais idênticos ao anterior, apenas adaptando esse
material a irregularidade de nosso instrumento. Gostou? Deu para entender? Dê-nos suas
impressões dessa coluna e bom trabalho.

Doutor em Música pela UNICAMP, o guitarrista é professor na UniFIAMFAAM e na Fundação


das Artes de São Caetano do Sul. Sua trajetória artística inclui apresentações em vários palcos
do país e do exterior como Alemanha, Argentina, Canadá, Espanha, EUA, Peru, Portugal e
República Dominicana. Indicado duas vezes ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum
Instrumental em 2004 e 2006, seu mais recente CD intitulado Preto vêm sendo aclamado pela
crítica.

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