Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
16 (2015)
CERQUEIRA, G. R. R.
GOMES, M. A. S.
MEMÓRIA, D. O. G.
PONCE, R. G.
RAGNINI, O. G. J.
REIS, S.
ROCHAS, H. M.
SÃO JOSÉ, N.
¹Acadêmicos do Curso de Bacharel em Direito da Fundação Universidade Federal
de Rondônia - UNIR. E-mail: pesquisa.cientifica.unir@gmail.com
OLIVEIRA, K. S.
Docente do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia -
UNIR. E-mail: kaiomi.cavalli@unir.br
RESUMO
O presente artigo apresenta o resultado de um estudo de caso, tendo como objetivo
central de estudo, a exploração do trabalho humano e seus impactos sociais em
Rondônia, decorrente do trabalho análogo à de escravo, tomando como primícias, a
violação do trabalho digno diante da existência da exploração do ser humano em
detrimento de uma ordem econômica. Em que pese, foi possível constatar que,
mesmo com os avanços tecnológicos e a modernização dos meios de produção, a
exploração do trabalhador no Brasil é uma realidade, caracterizando novas formas
de trabalho escravo, a qual é denominada “Trabalho Análogo à de Escravo”. A
metodologia aplicada no desenvolvimento da pesquisa, consiste em um estudo de
caso de natureza exploratório-descritivo utilizando-se de estudos bibliográficos,
pesquisas na internet, bem como da utilização de trabalhos cientifico já elaborados
sobre a temática em comento. O estudo permitiu concluir que, o estado de Rondônia
vem sendo palco dessa mazela, entre o ano de 1995 a 2014, quarenta e
três empregadores foram relacionados no Cadastro de Empregadores Infratores do
Ministério de Trabalho e Emprego (MTE), cadastro este conhecido como “Lista
Suja”. Em Rondônia tal fenômeno está ligado em sua maioria a atividade
agropecuária, onde ocorre uma facilitação para sua ocorrência, pelo fato do local de
trabalho ser situado em zona rural, que por ser extensa e de difícil acesso, dificulta a
chegada dos órgãos fiscalizadores. Fato este que permite que o empregador que
adota a prática escravocrata com seus empregados se sinta à vontade para
perpetuar tal ato, pois acredita que não será flagrado, e em decorrência disto saíra
impune.
Palavras-chaves: Escravidão. Exploração do trabalho humano. Impactos Sociais.
INTRODUÇÃO
A globalização e o desenvolvimento tecnológico acelerado promove uma
desvalorização generalizada do trabalho, e as pessoas não conseguem sobreviver a
61
não ser em condições de extrema degradação, o que vem contribuindo para uma
evolução na forma de exploração do trabalho humano.
Com o objetivo de aprofundar o conhecimento da relação entre os aspectos
sociais e trabalho, este artigo visa apresentar a problemática da exploração do
trabalho humano e os reflexos que o mesmo possa gerar em meio a sociedade.
Cada dia mais, as pessoas trabalham excessivamente para que seja possível
prover uma melhor qualidade de vida à sua família, é notável a quantidade de
pessoas que se sacrificam e concordam com certas condições degradantes de
trabalho para que seja possível a manutenção do seu emprego e, com isso
resguardar a sua segurança e de sua família em face da frágil economia existente.
Assim sendo, o presente artigo tem como objetivo central de estudo, a
exploração do trabalho humano e seus impactos sociais em Rondônia decorrente do
trabalho análogo à condição de escravo, apresentando uma previa contextualização
do trabalho escravo e sua evolução história, analisando as modalidades do trabalho
análogo ao escravo, não obstante, procurou-se identificar fatores que contribuem
para o trabalho análogo ao de escravo, bem como, uma verificação de ocorrências
de casos regionais (Rondônia), e por fim, avaliar os efeitos decorrentes do trabalho
escravo na economia.
A metodologia adotada para a elaboração da pesquisa constitui em um
estudo exploratório-descritivo amparado por meio de referências bibliográficas com a
finalidade de fornecer parâmetros para o esclarecimento de ideias, oferecendo
dados para a realização de estudos mais aprofundados referente ao tema. Segundo
Gil (2002, p. 41), “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”.
Do mesmo modo, Prestes (2005, p.26), define pesquisa bibliográfica com
sendo “[...] aquela que se efetiva tentando-se resolver um problema ou adquirir
conhecimentos a partir do emprego predominante de informações provenientes do
material gráfico”. Para Gonçalves e Meirelles (2004, p. 37), é aquela “realizada para
descobrir ou descrever melhor o(s) problema(s)-raiz que são apontados através de
sintomas (ou queixas) para se alcançar os objetivos.”
O estudo é de caráter exploratório, pois procura expor as distinções
existentes entre a forma de escravidão da antiguidade, que tinha a pessoa humana
62
como res (coisa), do atual conceito de trabalho escravo, o trabalho análogo à de
escravo. Propende ainda, em um processo descritivo abordar a realidade fática as
quais as vítimas do trabalho escravo contemporâneo são submetidas.
Contumaz, uma abordagem socioeconômica foi realizada para que seja
possível obter uma ampla visão sobre o tema e seu impacto na sociedade e na
economia que a envolve. Ainda na área sociológica, sobreveio uma explanação
sobre medidas que estão sendo adotadas para combater esse tipo de prática, como
programas de combate a escravidão e as chamadas lista suja de empresas que
utilizam esse tipo de mão de obra.
Com base no escopo mencionado, é cediço que a ordem econômica brasileira
repousada na valorização do trabalho humano, de modo que é indispensável
assegurar o respeito ao princípio constitucional que versa sobre a dignidade da
pessoa humana. A dignidade do ser humano é transcendente a legislação e
compõem parte intrínseca da lei natural, aquela que está inscrita nos princípios do
Direito Natural e considerados bens humanos evidentes em si mesmos.
Assim sendo, a importância do estudo emana da necessidade de investigar
as hipóteses que podem caracterizar trabalho em condições degradantes e sob
jornada exaustiva, com ou sem o cerceamento ao direito de liberdade do
trabalhador, e que desta decorra obtenção de lucro do capital mediante exploração e
a opressão de trabalhadores.
63
Várias civilizações antigas foram erguidas com base no trabalho
escravo, onde as gigantescas obras exigiam mão de obra braçal, com jornadas
extenuantes e sem o mínimo de condições para o operário.
Os egípcios, gregos e romanos utilizaram do trabalho escravo para as mais
diversas funções, seja na fabricação de utensílios, em trabalhos domésticos, seja na
condição de gladiadores.
Para Jorge Neto e Cavalcante (2005, p. 3):
65
europeus índios ou indígenas. Em segundo momento, os escravos negros foram
trazidos ao Brasil para trabalhar, principalmente, em canaviais e engenhos de
açúcar. O tráfico negreiro teve seu início oficial no ano de 1559, quando a metrópole
portuguesa permitiu o ingresso de escravos africanos no Brasil. Os negros não eram
considerados pessoas titulares de direitos, eram tidos como racialmente inferiores e
juridicamente reputados objeto de relações econômicas, o que seria um grande
argumento na época para serem tratados como mercadorias. Legalmente o negro
não era considerado pessoa e sim coisa.
A história do Brasil teve seus principais momentos forjados pela inserção do
escravismo como parte constitutiva de sua própria sociedade, e que, conforme
Stuart Schwartz (2001, p. 93), é de:
66
Contudo, a prática do trabalho escravo evoluiu, tomando moldes diferentes
daquela existente no Brasil colônia. Na atual conjuntura, o trabalho escravo
contemporâneo não está adstrito a pessoa negra, e sim a uma situação em que o
ser humano é submetido a jaezes similares com a escravidão, ou seja, o chamado
trabalho análogo à condição de escravo.
Arrazoando sobre o tema, Sento-sé (2000, p.24) ensina:
69
Fica nítido que não mais se exige o tratamento do ser humano como em
épocas distantes da nossa história (pessoas acorrentadas e sujeitas a
chibatadas, aprisionadas no pelourinho etc.). O conceito de escravo há de
ser interpretado em sentido amplo, abrangendo inclusive a submissão de
alguém a uma jornada exaustiva de trabalho.
70
comercial mundial, tornou-se cada vez mais competitivo o mercado, fato esse que
colabora na permanência do uso da exploração da mão de obra do ser humano.
A condição avarenta em que se deparam grande parte da população vem
agravando e favorecendo o sistema de escravidão. Isto decorre da busca pela
sobrevivência e das dificuldades de se alocar no mercado de trabalho, ou seja, os
trabalhadores não têm outra opção senão a de aceitar a primeira oportunidade de
emprego que lhes é ofertada.
Em muitos casos, são submetidos a trabalhos degradantes, em que a
remuneração não condiz com os serviços prestados, se por sorte existe, a moradia
não passa de um barraco, uma cama e direito à alimentação pouco saudável, em
forma de salário in natura.
Todo este cenário demonstra que os empregados estão cada vez mais
vulneráveis, sujeitando-se a condições degradantes de trabalho em barganha da
sobrevivência pessoal e de seus familiares, abrindo mão de seus direitos
fundamentais básicos, sua liberdade, e também de sua dignidade.
Segundo a OIT (2007, p. 11), o sistema que garante a manutenção do
trabalho escravo no Brasil contemporâneo é ancorado em duas vertentes: de um
lado, a impunidade de crimes contra direitos humanos fundamentais aproveitando-se
da vulnerabilidade de milhares de brasileiros que, para garantir sua sobrevivência,
deixam-se enganar por promessas fraudulentas em busca de um trabalho decente e
de outro, a ganância de empregadores, que exploram essa mão de obra.
Com isso, o trabalho análogo à condição de escravo, se manifesta
de várias formas, sendo as mais frequentes a: escravidão por dívida, por imigração,
por miséria e necessidade de sobrevivência e tráfico de pessoas.
Figueira, (2000, p. 9), relata como ocorre o trabalho escravo no Brasil:
71
alojamentos são típicos do meio rural, improvisados com estacas,
geralmente fechados com plásticos na cor preta.
Não a óbice que a maximização dos lucros das grandes empresas, seja ela
comercial, industrial ou agropecuária é o fio condutor que liga passado e presente e
que o trabalho escravo se insere na própria lógica do capital.
Sakamoto (2007) defende o ponto de vista de que o trabalho escravo pode
ser considerado como um espaço “não capitalista” necessário ao desenvolvimento
do próprio sistema. É a forma ilegal de trabalho que acelera a capitalização e
garante a capacidade da concorrência.
Neste contexto, não resta dúvida que a incidência do trabalho em condições
análogas à do escravo está intrinsecamente relacionada com:
a) Trabalho por dívida - situação que caracteriza submissão do empregado
ao empregador tendo em vista a perpetuação da dívida, a remuneração do
empregado está submetia a descontos e outros acertos por conta do domínio
econômico que o empregador estabeleceu sobre o empregado;
b) Isolamento geográfico - devido à extensão territorial do país que contribui
para o isolamento geográfico dificultando o acesso para a realização de fiscalização;
c) A impunidade - esta é um dos principais fatores que contribuem para a
prática do trabalho escravo. Entretanto, nota-se a grande dificuldade para por em
prática soluções para diminuir efetivamente a impunidade.
Quadro: 01
Ano Estabelecimento Inspecionado Município Total
2002 Agropecuária Iquê Vilhena 1
2002 Agropecuária Itaúna Ltda (Fazenda Bela Vista) Chupinguaia 11
2002 Agropecuária Pimenta Bueno S/A Pimenta Bueno 18
2002 Fazenda Anita Chupinguaia 12
2003 Fazenda Livramento Cerejeiras 73
2003 Fazenda Modelo Chupinguaia 128
2003 Fazenda São Joaquim Pimenteiras do Oeste 219
2003 Fazenda Tapyratynga Corumbiara 12
2003 Fazenda Três Irmãos (Agrop. Três Irmãos) Corumbiara 51
2004 Fazenda São Sebastião Chupinguaia 18
2005 Fazendas São João, Água Boa e Pedra Alta Chupinguaia 19
2005 Ivipora Agropecuária Ltda. (Fazenda Tropical) Corumbiara 10
2005 Parplan Agropecuária Ltda. (Fazenda Ivipita) Corumbiara 13
2008 Agropecuária Corumbiara Chupinguaia 5
2008 Fazenda América Porto Velho 23
2009 Construtora BS Ltda. Jaci-Paraná 53
2009 Fazenda Novo Horizonte Vilhena 1
2009 Locação de Máquinas e Const. Primavera Ltda Porto Velho 5
2010 Fazenda Agrinbo Vista Alegre do Abunã 11
2010 Fazenda Biribas Vista Alegre do Abunã 4
2010 Fazenda Rancho Colorado Porto Velho 8
2010 Fazenda São Francisco Ariquemes 1
2010 Fazenda São Francisco Porto Velho 17
2011 Eplan Engenharia Planej. E Eletricidade - Ltda Rondônia 9
2011 Fazenda Guará II Guajará-Mirim 5
2011 Fazenda Nova Descoberta Corumbiara 6
2011 Fazenda Nova Querência Cacaulândia 7
2011 Fazenda Pedra Branca/Fazenda Pedra Bonita Ariquemes 10
2011 Fazenda Pedra Preta Cujubim 22
2011 Fazenda Pica-Pau Porto Velho 6
2011 Fazenda Pica-Pau Porto Velho 1
2011 Fazenda São Francisco Guajará-Mirim 4
2011 Fazenda São João Ariquemes 6
2011 Fazenda Sonho Meu Porto Velho 4
2011 Fazenda Tuliane Porto Velho 8
2011 Fazenda Wakayama Porto Velho 2
2012 Fazenda Araputanga Chupinguaia 29
2012 Fazenda Vitória Porto Velho 5
2012 Manejo Florestal Porto Velho 5
74
2013 Fazenda Bandeirante Chupinguaia 11
2013 Fazenda Massangana Ariquemes 2
2013 Manejo Florestal - Fazenda Pasárgada Porto Velho 6
2014 Giovani Luiz Minosso Porto Velho 2
TOTAL DE TRABALHADORES EM CONDIÇÕES ANÁLOGO AO ESCRAVO 863
Fonte: Repórter Brasil (2014).
76
escravista abolido no Brasil no ano de 1888. Comparando o modelo praticado na
antiguidade e o contemporâneo, restam apenas sentimentos de indiferença
e superioridade em relação a maneira como foram e são praticados, todavia, ambos
tende a incessante busca pela lucratividade. Já a principal diferença entre os dois
modelos, é que no sistema tradicional o escravo era propriedade, e hoje isso é
proibido, conforme prevê o artigo 149 do Código Penal Brasileiro.
Desta forma, o trabalhador reduzido a condição análoga à de escravo
atualmente é visto, pelo empregador, como um mero prestador de serviços, sendo a
peça engrenadora fundamental do processo produtivo, ou seja, após ser explorado,
é simplesmente abandonado, é lançado à sorte, Silva (2010).
Segundo Pereira (2008), à escravidão não é decorrente da introdução do
sistema de produção capitalista, na verdade ela somente acompanhou o
desenvolvimento da sociedade, com motivos, objetivos e de maneiras diferentes,
que persistem até os dias atuais. Para melhor exemplificar, os trabalhadores
superexplorados hoje, não dependem mais da sua raça ou da cor da sua pele.
Para Schwarz (2009),
77
2009, e nos dias atuais, além destes, os haitianos também são superexplorados no
Brasil – povo que tem uma estimativa de migração no país com mais de 22 mil
pessoas desde o ano de 2010.
Wrobleski (2014), destaca também que a exploração das pessoas em nosso
país está diretamente relacionada à ausência de políticas públicas adequadas, sem
as quais deixam as pessoas em um estado crítico de vulnerabilidade.
Economicamente, o sistema de produção capitalista necessita de mão de
obra barata. É óbvio que quando se tem menos custos com pessoal, maior será o
lucro. Em contrapartida, o proletariado pobre, miserável, necessita do modesto
dinheiro ganho com o trabalho. Para Armatya Sen (apud Silva, 2005) economia,
ética, liberdade individual e desenvolvimento estão estreitamente relacionados. Para
ele “o desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que
limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente
sua condição de agentes”, logo, a liberdade se torna o principal objetivo do
desenvolvimento.
Com isso, já não apresentam mais liberdade àqueles grupos de pessoas que
aceitam serviços com regimes análogos aos de escravo, pois necessitam do
dinheiro para que possam regressar à comunidade de origem, pois se voltarem sem,
estariam violando as normas comportamentais intrínsecas ao grupo que pertencem.
Retornar sem dinheiro seria algo vergonhoso pelo que seria entendido por fracasso.
Desse modo, ficar isolado geograficamente, estar sendo controlado por meio
da violência física e/ou simbólica (endividamento), viver em condições degradante e
humilhante, desta maneira vindo a perder os seus direitos como cidadão, seria uma
forma de tentar vencer na vida, de tentar viver e de continuar vivendo, situação esta
que será transmitida de geração para geração.
78
Organização Internacional do Trabalho (OIT) - É a agência das Nações
Unidas que tem por missão promover oportunidades para que homens e
mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em
condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade, da qual o Brasil faz
parte juntamente com mais 184 países.
79
Cabe destaque, a promulgação da PEC3 do Trabalho Escravo - Emenda
Constitucional nº 81/2014 que da nova redação do artigo 243 da Constituição
Federal onde:
Ainda deve ser regulamentada para definir o que será considerado trabalho
escravo, e em que casos se dará o perdimento de terras, imóveis e benfeitorias, a
emenda inclui também o que está na propriedade, como máquinas ou gado.
Embora o estado brasileiro acumule grandes esforços para extinguir a
escravidão contemporânea que ocorre em nosso país, maiores são as dificuldades
encontradas, dentre elas à extensão territorial é um fator que em muito dificulta as
ações de combate a exploração dos trabalhadores em condições análogas à de
escravo, porém, vale citar que conforme dados da OIT o Brasil desponta como um
dos países que mais combate o trabalho escravo.
CONCLUSÃO
A observância do trabalho escravo através da história, demonstra que tal
prática socioeconômica provoca consequências gravíssimas ao desenvolvimento de
uma economia e que se estende a estrutura social de uma nação. O objeto da
degradação do indivíduo para o trabalho é o mesmo contemporaneamente, o lucro.
Porém, o humano feito escravo não é mais de uma raça específica e sim todo
e qualquer indivíduo em condição vulnerável. A escravidão pode não se manifestar
em sua forma clássica, já conhecida pelos seus métodos, mas se valem de novos
estratagemas para suprimir a vontade do indivíduo como trabalhador, a exemplo da
privação de liberdade, os castigos físicos e ainda torturas psicológicas, aviltar seus
direitos e submetê-lo a uma condição em que seu esforço de trabalho traga apenas
o lucro ao escravista, sem que este cumpra com suas obrigações legais.
3
Projeto Emenda Constitucional
80
O termo a que se refere à escravidão transformou-se para acompanhar a
nova roupagem que está em prática, sendo adotado então convencionalmente o uso
da nomenclatura de atividade análoga à escravidão.
Em Rondônia tal fenômeno está ligado em sua maioria a atividade
agropecuária, onde ocorre uma facilitação para sua ocorrência, pelo fato do local de
trabalho ser situado em zona rural, que por ser extensa e por vezes de difícil acesso
dificulta a chegada dos órgãos fiscalizadores. Fato este que permite que o
empregador que adota a prática escravocrata com seus empregados se sinta a
vontade para perpetuar tal ato, pois acredita que não será flagrado, e em
decorrência disto saíra impune.
A legislação brasileira para o assunto é adequada e aborda o tema em todas
as suas possibilidades, prevê diversas penas para o infrator em questão e ainda
aparelha o Estado para coibir o trabalho escravo, porém o esforço para suprimir a
escravidão deve ser contínuo e nunca cessar, pois, onde ocorre qualquer
agrupamento humano e existir relação de trabalho entre os indivíduos sempre
haverá a possibilidade da ocorrência de trabalho escravo, e este sempre estará se
remodelando, sendo necessário que o Estado também se intere de como tal prática
ocorre, tendo sempre como objetivo a extinção deste ato vil que fere a dignidade
humana e suprime o indivíduo em todas as suas características.
REFERÊNCIAS
81
CERQUEIRA, João da Gama. Sistema de Direito do Trabalho. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1961.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
MAESTRI FILHO, Mário José. O escravismo antigo. 2.ed. São Paulo: Atual;
Campinas: Ed. Unicamp, 1985.
82
PEREIRA, Luciana Francisco. A escravidão contemporânea e os princípios do
Direito do Trabalho. Revista Âmbito Jurídico. n. 59, ano XI, novembro/2008.
Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5242>
Acesso 02/10/2014
SANTOS, Ronaldo Lima dos. A escravidão por dívidas nas relações de trabalho
no Brasil contemporâneo. In: Revista do Ministério Público do Trabalho, nº 26.
Brasília: LTr, 2003.
83
SILVA, Maria Aparecida de Moraes. Trabalho e trabalhadores na região do “Mar
de Cana e do Rio de Álcool”. Agrária. Revista do Laboratório de Geografia
Agrária. FFLCH-USP. n. 02. São Paulo, 2005. Disponível em:
<http://www.revista.usp.br/agraria/article/view/103/103> Acesso 01/10/2014
84