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Além das belezas naturais que os portugueses encontraram a partir da chegada em 1500, eles
se estabeleceram graças ao “incentivo de certos homens”. Os caraíbas que “eram
considerados especiais, que tinham o poder de conversar com os mortos, os espíritos dos
ancestrais. [...] Faziam suas pregações desde tempos imemoriais, sendo muito respeitados
pelo seu estilo de vida errante, pelo que diziam e pela festa que promoviam nas aldeias tão
logo chegavam”.
Dialogando com Carlo Ginzburg, “que viu no inquisidor um virtual antropólogo, ou pelo menos
etnógrafo, a abrir caminho para o historiador da cultura, sem deixar de ser inquisidor.
Inquisidor-Antropólogo, a travestir de roupagem herética ritos e crenças que conhecia mal”.
Os inquisidores consequentemente ajudaram a nós historiadores por detalhar os rituais e as
crenças dos acusados pelo Santo Ofício.
I - IDOLATRIAS E COLONIALISMO
Justificando a escolha do subtítulo, Vainfas começa a obra relatando uma festa de 1550 que
contou com a presença do Rei Henrique II, Catarina de Médicis e com a participação de 50
índios recém-capturados no Brasil. “a festa foi chamada de sciamachie, cujo significado é
combate com a própria sombra, uma espécie de exercício, praticado pelos antigos, ‘que
consistia em agitar os braços e as pernas como uma pessoa que lutasse com a sua sombra’”.
Em verdade, foi uma espetacularização da cultura indígena, demonstrando “os embates
culturais deflagrados pela expansão europeia na América”. Hierarquizou-se as diferenças,
rejeitando o desconhecido por meio da animalização e da demonização.
P. 23 - Michel de Certeau criou o conceito de heterologia, a partir da literatura de viagens
quinhentistas sobre o mundo recém descoberto. Tal conceito seria um esboço do estudo
etnológico.
P. 24 - Laura de Mello e Souza “ao relacionar o saber demonológico emergente na Europa com
a literatura de viagens e com o esboço de um ‘olhar antropológico’ na velha cristandade
considerou demonologia como parte do que Certeau chamou de heterologia”. Para ela os
missionários, os eclesiásticos e os conquistadores eram “etnodemonólogos”. Ela constatou
que “as atitudes demonizadoras acabariam por triunfar sobre o ‘olhar antropológico’”.
Idolatria e Demonolatria
A ideia de idolatria tem origem no antigo testamento “indicando as impiedades dos gentios
que, ao contrário dos hebreus, adoravam estátuas, cultuavam ídolos”. Mas é a partir do
medievo que as práticas de idolatria passarão por um processo de demonização. Em solo
americano, os colonizadores verão tudo o que há no Novo Mundo como diabólico.
Poucos foram os colonizadores que não demonizaram as idolatrias, dentre eles, destaca-se o
frei dominicano Bartolomé de Las casas que “foi capaz de enxergar nas idolatrias a expressão
de sincera devoção religiosa. Não foi demonólogo, nem etnólogo. Construiu uma imagem
idealizada do índio – o índio puro que habitava o “paraíso perdido” – preconizando o mito do
“bom selvagem””.
No Brasil, portanto, foram mais amenas as perseguições estritamente religiosas aos índios. Em
verdade, os lusitanos negavam uma religião entre os índios, falando pouco em idolatria. Para
os jesuítas, “o gentio do Brasil não pronunciava as letras f, l e r porque não possuíam fé, lei e
rei”. Nóbrega foi um dos jesuítas que negavam a “existência de religião entre os índios tupi”.
Eles enxergavam o ameríndios, seguindo a ideia cunhada por John Locke, como uma “tabula
rasa”, um papel em branco.
P. 29 e 30 - A diferença no combate a idolatria entre Portugal e Espanha ocorre, de acordo com
Vainfas, devido “às características ergológicas da religiosidade nas duas Américas”. Na parte
Espanhola, México e Peru haviam “templos, variadas gama de sacerdotes, profusão de ídolos,
máscaras e cultos que se encaixavam em seu próprio saber diabólico”. A Espanha possuía um
corpo eclesiástico para o combate às feitiçarias, enquanto os jesuítas, no Brasil, tinham uma
característica mais evangelizadora.
P. 31 e 32 – A idolatria pode ser entendida de duas maneiras: como culto à ídolos, visão do
colonizador, e como resistência social e cultural dos ameríndios contra a colonização. Vainfas
concorda com Serge Gruzinski que analisa a idolatria como manifestação global de resistência
ao colonialismo, ressalvando que não pode ser entendida, então, como um fenômeno pré-
colonial. Para entender a idolatria é necessário inseri-la no contexto colonial. A cultura dos
ameríndios se modificou após o contato com os colonizadores.
P. 33 – A tipologia das idolatrias apresentadas por Vainfas não deve ser vista como inflexível.
Para classificá-las, ele levou em conta dois critérios: “a morfologia específica e as relações que
mantiveram com a sociedade colonial”.
As idolatrias ajustadas são aquela cujas “práticas em que o indígena mostrava-se apegado ao
passado e à tradição sem desafiar frontalmente, quer a exploração colonial, quer o primado do
cristianismo”. Os ameríndios se submetiam ao cristianismo (seus dogmas e sacramentos)
aparentemente. A exemplo, a “idolatria invisível” observada por Hector Bruit que via como
“uma estratégia de simulação” [p. 32] e as descritas por Gruzinski no México.
Idolatrias e Milenarismo