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A Metamorfose

KAFKA, Franz. A Metamorfose. Tradução de Modesto Carone. São Paulo: Companhia


das Letras, 1997.

No livro A Metamorfose de Franz Kafka (Kafka, 1997), acompanhamos a


história de Gregos Samsa e sua família. Gregor Samsa é um caixeiro viajante que
trabalha incansavelmente para manter certo padrão de vida para sua família, porém,
certo dia, Gregor Samsa ao acordar, após um sonho agitado, pronto a se preparar para
um novo dia de trabalho, é surpreendido pela sua nova forma: Gregor se metamorfoseou
em um inseto enorme, parecido com uma barata.
Nessa primeira parte do livro, o autor nos mostra como foram as primeiras horas
de Gregor como um inseto gigante, como o próprio Gregor reagiu a essa sua nova
forma. É interessante notar que, apesar da metamorfose, Gregor continua tentando se
preparar para ir trabalhar normalmente como se nada houvesse acontecido: Gregor tenta
se acostumar e entender sua nova forma, chega a tentar entender como poderia se
locomover sozinho em sua nova forma, como sair da cama e se levantar para então ir
normalmente ao trabalho. Além de Gregor tentando se entender com sua nova forma,
nessa primeira parte do livro temos ainda a reação da família de Gregor de seus patrões
à sua nova forma, o autor nos mostra que ao se atrasar para o trabalho, os pais de Gregor
estranham e o chamam diversas vezes, imaginando que Gregor pudesse estar doente, e
também o chefe de Gregor vai até sua casa para saber o motivo do atraso.
Na análise das primeiras impressões que todos ao redor de Gregor tem ao se
depararem com sua nova forma vemos que Gregor era explorado em seu trabalho (não
podia sequer adoecer ou corria riscos de perder o emprego) e também parasitado por sua
família, uma vez que ele era o único e total responsável pelo sustento de seus pais e sua
irmã. Nos trechos a seguir vemos como o trabalho de Gregor era árduo e como sua
família aparentemente não se importava desde que o dinheiro de seu sustento fosse
provido por Gregor:
“Que trabalho fui escolher! Viajar todo santo dia!
Ocupação mais cheia de preocupações do que trabalhar no
escritório! À parte o próprio negócio em si, havia ainda
aquele flagelo de se ter de viajar: a ansiedade de mudar
constantemente de um trem para outro, as refeições
irregulares, horríveis, as caras sempre novas, que não veria
nunca mais, pessoas com as quais não tinha a
oportunidade de mostrar-se cordial. Que fosse para o
inferno tudo aquilo! (Kafka, 1997, p. 14)

Vemos como o trabalho de Gregor era cansativo e como ele ainda se mantinha
preso a esse trabalho do qual não gostava única e exclusivamente por se colocar como
responsável pelo sustento da família, em outros trechos ele diz que se não fosse pelo
dinheiro que sua família devia já teria se demitido há tempos, ou seja, Gregor
permanecia preso a uma situação da qual não via uma maneira de sair, Gregor não
possuía liberdade para fazer e ser quem ele quisesse, pois sua vida era condicionada
pela situação em que ele e sua família se encontravam.
Ao continuarmos a leitura do livro vemos uma grande mudança do
comportamento da família de Gregor após a metamorfose. Antes, quando trabalhava,
Gregor dava a seus pais todo o dinheiro que recebia sem se queixar, e a família com o
tempo passou a entender aquilo como obrigação de Gregor, porém, ao metamorfosear-
se Gregor é visitado pelo gerente da empresa que assustado ao ver em que Gregor se
transformou sai correndo, não é difícil de imaginar que Gregor perdera o emprego.
É importante salientar que, com a metamorfose, Gregor Samsa não perde
totalmente sua humanidade, embora tenha se transformado em um inseto gigante e
perdido a capacidade da fala humana, Gregor continuava a ser ele mesmo, ele entendia
tudo o que era dito a sua volta e percebia as mudanças de comportamento de sua família
e de todos à sua volta.
Após as reações iniciais, de espanto e desespero obviamente, pelo que se tornara
Gregor, os pais de Gregor passam a rejeitá-lo, ou seja, agora que Gregor passou de
parasitado a parasita, uma vez que em sua nova forma, Gregor passa de fornecedor a
consumidor, ele apenas consome sem nada fornecer. Ou seja, juntamente com sua
mudança de forma, Gregor vê suas relações com os pais e a irmã mudar: antes
afetuosos, quando Gregor supria suas necessidades sem reclamar, agora enojados e
afastados, quando Gregor se transforma e não mais trás o sustendo à família.
É nesse momento que temos a cena que é descrita no trecho apresentado, onde o
pai de Gregor o acerta com uma maçã, o que levará a sua morte pouco depois.
Inicialmente, temos a irmã de Gregor ainda um pouco afetuosa, como se ela entendesse
que aquilo seria passageiro, Gregor estaria apenas doente e voltaria ao normal dentro em
breve, porém, como isso não acontece e Gregor permanece em sua nova forma, até
mesmo sua irmã passa a rejeitá-lo.
Percebendo que Gregor não mais poderá sustentar a família, os pais de Gregor
voltam a trabalhar e sua irmã também arruma afazeres para ajudar na renda da casa,
sendo assim, ao resolverem o problema financeiro, Gregor não é mais necessário, e
como era visível que ele não voltaria ao normal, a família de Gregor, especialmente seu
pai e sua irmã, passam a desejar se livrarem daquela “coisa” (eles não mais viam aquele
inseto como sendo o filho e irmão que antes tinham).
É nesse momento que vemos Gregor se mais incisivamente rejeitado por sua
família, o pai de Gregor visivelmente tenta eliminá-lo acertando-o com uma maçã. É
interessante notar que, como Gregor ainda sentia e entendia tudo a sua volta, ele sente a
dor da rejeição, ele sente a dor de ser um peso para sua família e ele também sente a dor
de não poder ser outra coisa, de não ser entendido, de não ser amado.
Podemos perceber que, após essa agressão do pai de Gregor, ele não mais se
interessa por nada, não quer se alimentar, não tem muitas expectativas, aparentemente
não deseja mais viver. Logo após uma sequencia de rejeições e situações humilhantes,
Gregor definha até que num belo dia é encontrado morto pela empregada da casa. A
reação dos pais e irmã de Gregor a seu falecimento é parcialmente comemorada pela
família, é como se Gregor fosse um peso indesejável que agora se fora, nesse momento
então a família começa a traçar novos planos para seu futuro, esquecendo-se
completamente de Gregor.
Podemos entender a história contada por Kafka como uma metáfora para a vida
cotidiana, não apenas a vida no tempo do autor (1912 – dois anos antes da eclosão da I
Guerra Mundial), mas, também nos dias atuais. Nessa metáfora podemos vislumbrar um
grande critica à sociedade capitalista que dá valor apenas àqueles que produzem, que
geram renda, ou seja, aqueles que têm dinheiro e podem proporcionar as benesses que o
dinheiro compra são amados e respeitados, o contrário, aqueles que por algum motivo
se encontram em uma situação de falta de recursos, esses são rejeitados e não são vistos
como pessoas, em muitos casos são até invisíveis, não há quem se preocupe com eles,
quem os ame e deseje entende-los e ajudá-los.
Outro ponto interessante nessa obra de Kafka relaciona-se às correntes
filosóficas do existencialismo, uma vez que toda a obra apresenta uma desesperança e
um pessimismo constante: a família não mais ama e admira Gregor que o percebe e tem
sua saúde psicológica abalada, a irmã que não acredita mais que seu irmão irá retornar,
o pai que não mais aguenta aquele “ser” em sua casa, a mãe, que é fraca e parece o
tempo todo alheia a tudo e por fim a própria morte de Gregor, fruto dos abalo que
sofrera pela rejeição e pela desesperança de mudança.
Jean-Paul Sartre, o filósofo mais conhecido da corrente existencialista, diz que o
ser humano pode ser visto como o nada (ente para-si), ou seja, um espaço aberto, pois o
homem não é estático, compacto, mas sim passível de mudanças. Mas para isso, o
homem deve ter a liberdade de realizar escolhas, das quais é responsável e, dessa
maneira, formar a si mesmo. Para Sartre, a liberdade é responsável por mover o ser
humano, gerar dúvidas e o estimular a ultrapassar barreiras. Porém, no livro A
Metamorfose (Kafka, 1997), vemos que Gregor não possui a liberdade de realizar
escolhas por si mesmo, ele está preso à sua convicção de que deve sustentar sua família,
ele pensa em sua família e deixa de lado suas ambições e seus desejos e por isso acaba
sofrendo em demasia com sua metamorfose, pois, se vê diante de uma situação não
prevista, uma mudança que poderia ser sua libertação, mas ele não vê assim e continua
preso, refém de suas emoções e das relações opressoras que mantém com sua família.
Gregor então, após grande sofrimento e sem perspectiva e tão pouco desejo de
mudança, ele já não tem mais forças para se mover, se entrega à desilusão e apatia
apenas aguardando a hora de sua morte.

Lilian Mascarenhas de Carvalho acadêmica do curso de Letras pela Universidade


Federal de Minas Gerais (UFMG)

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