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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA

ANTHONY DOW NS

200302 3168
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N<'ifn r .f:H.' ql!c s ~·lan.:ovit c h

Adolp ilo .los<' Mel fi

SÃO PAULO
I:lll'I'ORA llA liNIV ERS!I lAilE DE Tradução

Sergio Micd i Pcs.-;Ôa de fJ:t rros


Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos
/Jirelu r l:"dito riul Plinio [\.·1artin s Filho
I leitor Fcrr:u.
Rodri go l~1cerda

Curu íssiio Edito rial .Sergio t\1iccl i Pcssôa de Barros


( Preside nte)
Da v i Arrig uc ci Jr.
Oswa ld o Paulo foratt i ni
T up:í (;cHllcs Corrê a
SUMÁ RI O

Apresentação- Fá bio U1mdcrley Reis .. . . . .. . ... . . . . . .. . .. .... ... t 1


PreEtcio .. .... . .... !9
Agmdccimen tos .. . . . . .2!

Parte I. ESTRUTUR A 13ASlCA DU MODELO


~ J. Introdução . . . .... 25
~ 2. Motivação Partidú ria c a Funç Ju do Governo na Sociedade ... .43
~ J. A Lógica Básica do Voto ... . .. 57
4. A Lógica Básica da Tomada ck Dccis~o Gov~rnamcntal .. . . . ... 71

Parte 11. OS EFE ITOS GERAI S DA INCERTEZA


o 5 O Significado da Incerteza . .. . ... 97
• 6. Como a fncerteza Afeta a Tomada ck Di::cisão Governa mental .103
, 7. O Desenvo lvimento ele fd eologias Políticas
como Me io de Obte r Votos ............ . . ..... 11 7.
,. S. A Estática e a Di nâmi ca de Ideo logias Partidárias ... .... . . . .. .. 13 5
9. Ptpblemas de Racio na lidade sob Governos de Coa lizão ... . .. . . .. 163
10. Maximização de Voto Governamental
e Equilíbrio Mmginal Individual .. .. . . • • . . . . . . . • . . . J 85
UMA TEOR IA ECONÓM!CA DA DEMOCIIACIA

Parte !li EFEITOS ESPECÍFI COS DOS CUSTOS DE INFORMAÇÃO


1 J. O Processo de Tornar-se Informado ............. . .... .227
12. Como os Cidadãos Racionais Reduzem os Custos de Informação .. 239
13. Os Retorn os Provenientes da Informação e sua Diminuição .257
14. As Cau sas e Efeitos da Abstenção Racional ... 279

APRESENTAÇÃO
Parte IV IMPLICAÇÕES E HIPÓTESES DERIVADAS
15. Um Comentário sobre as Teorias Econômi cas
de Comportamento Governamenta l .. 297
R = (B*p)-C
16. Proposições Testáveis Derivadas da Teoria .. 31 J

Bibli ografia JI<J


.. J2J Fúhio mmdal<:i·' /leis
Índi ce Onomástico
Índice de Assuntos ..... .. . .. . ... 325

Este volume de Anthony Downs foi originalmente publicado em 1957. É,


sem dúvida (junto com A !Jígica da Açtlo Co letiva, de Mancur Olson, apare-
cido em 19651), um dos mais importantes tr<Jbalhos pioneiros no campo geral
que veio a se tornar conhecido como a teoria da "escolha racional" (rational
choice), que se especifica no campo da.. l~llt;~;J:-dc ~~o~aõ-êõlii-C:~I:t~) uso ter-
minológico, como a teoria da "escolha pública" (puhlic choice). O volume
representa um exemplo precoce e frutíf~~;, em pa~·ticular, daquilo que alguns
analistas designaram como a "escolha pública positiva", interessada, nos ter-
mos de Brian Barry e Russell Hardin, nas~ções individuai s e suas conse-
qüências coletivas"2,'em contraste com a "escolha pública normativa", interes-
sada na. articulação entre "preferências individuais e decisões coletiv(:0· A
escolha pública normativa - também designada, de maneira que se presta a
confusões, como a "teoria da escolha social" (social choice theory)- tem raí-
zes mais remotas na subdisciplina conhecida, no campo da economia, como

I. Mancur O lson, .Ir., The Logic of'Col/ective Action: Public Goods and the The01y o(Groups, Cambridgc,
Massachusetts, Harvard University Press, 1965, tmdução de Fábio Fernandez, a ser publicado breve-
menle [lrad. pela Edusp, nesta coleção].
2. A contraposição entre esco lha pública pos itiva e normativa se encontra, por exempl o, em Dennis C .
Mueller, Public Choice 11, Cambridgc, Cambridge University Press, 1989; veja-se também Brian !3arry
e Russell Hardin (eds.), Rationa/ Man and lrrationaf Society?, Londres, Sage Publ icalions, 1982.

/() 11
APRESENTAÇÃO
UMA TF:ORIA ECONOMICA DA DEMOCRACIA

como for, o que importa é que há traços que emergem no ní vel agregado (os
"economia de bem-estar" (welfare economics), e é possível dize r que um dos
efeitos "agregados", "emergentes" ou "perversos", na linguagem de alguns3)
efeitos da conjugação do rigor analítico com a perspectiva normati va que a
caracteriza foi a revivescência da própria filosofia política. que se tem espe- como regularidades que não apresentam correspondência com os desígnios
cialmente com os trabalhos grandemente influentes de autores como John dos atores tomados iso ladamente e, às vezes, se colocam em aberta contradi-
Raw ls e Robert Nozick, alguns dos quais já contam com tradução brasileira há ção com eles. A questão das relações entre racionalidade individual e raciona-
lidade coletiva é, portanto, centraL
certo tempo.
Downs, como Olson, pretende ser estritamente "positivo" em sua abor- O curioso, contudo, é que a intuição do que há de problemático n~s rela-
dagem. O que distingue a abordagem é o esforço de tratar os problemas ela ções entre os planos "micro" e "macro", tão fortemente presente na abo(dagem
política com a perspectiva e o instrumenta l próprio da economia como d isc i- da escolha racional em suas diferentes variantes, não impede que a perspecti-
plina --- mais precisamente, da microeconomia , empenhada na formulação de va mais ortodoxa dentre os seus proponentes se caracterize pela expectativa de
uma teoria abstrata e logicamente rigorosa do comportame nto com base em derivar com êx ito o que se passa no plano agregado ou coletivo com recurso à
certos supostos ge rais, destacan do-se o suposto da racionalidade dos agc nl cs. construçi'ío teórica assentada em postulados referidos ao plano individual ou
Se uma visão convencional dos objetivos da microeconomia pmvavc:lJJJcJJil' "micro" - - ou de estabelecer, segundo o conhecido lema da escolha racional ,
exigiria a espec ificação de que se trata ria de uma teoria dn cniilpm i : JJIJ c~ JJiu "os 1\mdamentos micro dos fenômenos macro". Uma caracterização simples
cwnômico , a aplicação da abordagem econômica aos fenôm enos coJwcncio- que permite esclarecer tanto os possíveis fundamentos dessa expectativa quan-
nalmenle percebidos como pertencendo a outros campos (ciência polí tica, to as dificuldades que enfrenta se tem com a distinção de Jon Elster entre o
soc iol og ia) envolve justamente a suposição de que a economia como discipli- comportamento intencional, de um lado, e, de. outro, do is tipos ele causalida-
na lcú ri ca redunda numa teoria do comportamento racional como tal, a qual de, a causa lidade subintencional e a causalidade supra-in tenciona/4
seria c m principio válida para qualquer comportamento qu e e nvo lva um pro- Comportamento intenciona l é o comportamento dos age ntes humanos
blema de d .- icúcia e seja, po rtanto, pass ível de scr ap reciad,> c' lll termos de capazes de desíg nio c raciona lidade; trata-se de a lgo que correspondc, em
r:J cion:il idadc: a bu sca de poder po lÍl ico, stutus \ lll prcsl igio soc ia l n:!n menos princípio, ao plano dos indivíduos, com o que h:í de des ígni o no plano das
do que a dc ganhos "econômi cos" PU Iil:i lcriai s. coletividades (orga ni zações de um tipo ou outro), sendo visto como supost;J-
1\ 1\í rmula das "ações individuai s c suas co nscq[i i: ncias coleti vas" para mente redutível aos ind ivíduos e à interação entre eles, de acordo com os pri n-
cara ctc rizar a abonlagcm ressalta o que hú de problcmútico na passagem du cípios do "individualismo metodológico" próprio da abordagem da escolh a
níve l " mi cro" corrc:spondcndo, no liinil c, ús açi'ícs elos atores individua is na racionaL A causalidade subintencional seria aque la com que lidam as ciências
busca supostamente racional de sc:us objetivos de qualquer natureza - e o da natureza e, de mane ira peculiar, a psicanálise, que cqntempla fatores alheios
nível co letivo ou agregado ("macro"). Na verdade, a grande contribuição do à vontade dos indivíduos a condicionar-lhes o comportamento (não obstante o
li vro de Olson, ;1cima colocado :w ladl> deste vo lume de Downs, consiste em suposto racionalista que associa a cura com a assun ção de autocontrole cons-
dar lúrmulaçi'ío abstrata c genl:rica :\ intuiç:1o de um paradoxo na articu lação ciente por parte do age nte an tes submetido à operação de tais fatores). Mas a
dos dois níveis, intuição esta que se acha presente em Downs e que, de fato, causalidade supra -intencional é a que interessa de maneira singular às c iências
emerge freqüentemente, com fe ições variadas, no pensamento de vá rios auto- sociais: ela corresponde justamente àquilo que "emerge" como regularidades
res ao longo de toda a história do pensa mcnlo político oc idental. Refiro-me ao "objetivas" da interação dos atores individua is distingu idos por intencional ida-
chamado "paradoxo da ação co letiva", em que a ação racional dos atores no de. Esta é a causa lidade espec ificamen te "soc io lógica", objeto, por exe mplo,
pl ano "micro" (os indivíduos ou mesmo os atores coletivos de menor escala)
aparece como propensa a resultar em irrac ionalidade no plano "macro", com a
frustração dos objetivos ou interesses de todos. Cabe notar que o paradoxo 3. Veja-se, por exemplo, Raymond Boudon, E;f!i!ts pervers et ordre social, Pari.(), Presses Univcrsitaircs de
France, 1977.
assume por vezes a forma , em certo sentido oposta à recém-i ndicada, em que
4. Veja-se Jon Elster, Logic and Society: Contradictions and Possible Worlds, New York, Jolm Wilcy &
vícios privados ou "micro" resu lta m em virt1rde pública ou " macro". Seja Sons, 1978, apêndi ce 2 do capilulo 5, "Causality and ln tentionality : Three Models ofMan".

12 13
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA APRESENTA ÇiO

da forte intuição durkheimiana em que o mundo social aparece marcado pelas public choice pode ser descrita como correspondendo à "economicização" da
características de objetividade e exterioridade com relação às consciências ciência política, no sentido do recurso ao instrumental da análise econômica
individuais, resultando na "coerção social" e levando Durkheim a estabelecer para tratar os fenômenos da esfera política, são vários os esforços mais ou
como regra importante do método sociológico a de "tratar os fatos sociais menos recentes que redundam no movimento inverso e que se poderiam des-
como coisas". O plano do "agregado" ou "emergente" é, pois, o plano que a crever como uma espécie de "sociologização" e "politização" da ciência eco-
sociologia "convencional" reivindica em sua especificidade e no qual· se insta- nômica. É o caso, para começar, da perspectiva da "nova esquerda" de alguns
la, enquanto a perspectiva econômica ambiciona dar conta dele em termos de decênios atrás, para a qual, de forma curiosa e sugestiva, certos autores reivin-
mecanismos correspondentes ao plano individual ou "micro". dicavam o rótulo de "nova economia política", também sendo usado para indi-
Como costuma acontecer, cumpre apontar méritos e dificuldades de car a public choice; na óptica da nova esquerda, porém, tratava-se de designar
parte a parte. Assim, não há como negar o interesse e a importância do ques- com esse rótulo a atenção para fatores políticos e macrossociais na operação
tionamento feito pela . abordagem econômica dos postulados próprios do da economia, numa empreitada que poderia justificar a divi;;a de busca dos
"coletivismo metodológico", destacando-se a idéia da contradição micro- "fundamentos macro dos fenômenos microeconômicos", simetricamente ao
macro e a percepção do caráter problemático da ação çoletiya, que a perspec- lema da "escolha racional". Mas é também o caso de diversas tentativas cor-
tiva soc iológica convenciona l tende classicamente a ver, ao contrário, como rentes de estabelecer uma economia "pós-walrasiana", genericamente designa-
decorrendo natural c espontaneamente do simples compartilh amento de deter- da às vezes como o "novo insti tucionalismo" ou a "nova economia institucio-
minada condição objctiv.a pelos indivíduos ou atores de nível "mi cro" . De nal". Apesar de ambigüidades e desdobramentos equivocados, que se ligam
outro lado, contudo, é claramente precária a aposta decisiva da abordagem com a pretensão reiter<ida de revelar as "microfundações" das instituições,
econômica em sua li.tcc mais ortodoxa, segundo a qual seria possível deduzir podem citar-se perspectivas como a do "intercâmbio conflituoso", de Samue l
a sociedade c recons truí-la teoricamente a partir da mera suposição de racio- Bowles e Herbert Gintis, ou a da "economia da informação", de Joseph
nalidade c de agentes individuais calculadores postos numa espécie de "esta- Stiglitz, onde se tem o estudo das "falhas de mercado" e o questionamento de
do de natureza", pois a recuperação do cálculo do agente e a avaliação da velhos supostos da econom ia neoclássica (preferências dadas, enjim:ement
r;tcionalidade da ;tção supõem que se esteja adequadamente inf(mnado a rcs- sem cu stos, informação sem custos), como exemplos de esforços que levam à
peito do contexto em que o ;tgcnte alua c que se possa, portanto, entre diluição das fronteiras entre a economia c as demais ciências sociais de manei-
outras coisas, aquilatar a extensão e a ac uidade da informação que o próprio ra que resulta diferente da mera invasão do campo convencional destas últimas
agente processa ao agir c a qualidade do seu c{dcu lo. Ora, o analista não tem pelos instrumentos tradicionais da análise econômica -··- c que ocasionalmen-
como obter a inf(mnação requerida com os instrumentos da abordagem eco- te, como nos trabalhos de Robert Bates, chega mesmo ao recurso explícito às
nômica ou da perspectiva da escolha racional por si mesma, c não pode pres- contribuições de sociólogos e cientistas políticos5
cindir, na ca racterização do contexto, do equipamento fornecido pela ciência O presente volume de Downs ilustra uma faceta particular do confronto
social convenci onal. Por outras palavras, o uso do próprio postulado de racio- das perspectivas econômica e sociológica, a saber, a faceta relativa à explica-
nalidade, que seria a marca distintiva da abordagem econômica, remete à ciên- ção da democracia e dos processos políticos específicos que nela se dão. As
cia social convenci011al. E a receita consistirá em combinar o recurso àquele análises empreendidas na perspectiva sociológica convencional a respeito,
postulado, importante c mesmo indispensável (e de fato sempre presente, ainda que não deixem de considerar os interesses, tendem a destacar o papel
ainda que freqüentemente de forma tosca e pouco elaborada, em qualquer
esforço de "compreensão" do comportamento), com a contextualização que só
a ciência social convencional possibilita.
5. Veja-se, por exemplo, Samuel Bowtes c Herbert Gintis, «Thc Reveng e of 1-lomo Econom icus:
Na verdade, as razões de perplexidade envolvidas na articulação micro- Contested Exchange and the Revi va i o f Political Economy", Journ al ofEconomic Perspectives, vol. 7,
macro têm produzido, há algum tempo, sinuosidades revel adoras nas relações n. I , 1992, pp. 83-102; Jose ph E. Sti glítz, Whilher Socialism?. Camb ridge, Massachusetts, Thc MIT
Press, 1994; e Robert H. Bates, Beyoud th e Miracle ofthe Morket, Ca mbri dgc, Cambridge University
da economia com as demais ciências soc!<l\s:, Se a 'perspectiva ortodoxa da
Press, 1989.

14 15
APRESENT AÇlO
UMA TE0/1/A ECONÓMICA DA DEMOCIIA CIA
ores
de opção envolve, sem dúvida, certa abdicaçã o com respeito às ambições mai
cumprid o pelos "va lores" ou pela "cultura política" , tanto na criação dos teóricos da escolha racional; mas, al ém de ser p rovavelmente a co ndição
nas
democra cias estáveis quanto na dinâmica democrát ica, especialm ente para que esta possa pretende r aprese ntar-se como abordage m peculiar perante
as na vida eleitoral e partidári a. A discussão feita por
decisões envolvid a sociolog ia ou a ciência social convenci onal, a aparente modéstia da opção
político-e leitoral em termos a nálogos aos que são uti-
Downs trata o processo está longe de significar que os problemas que assim se situam sob seu
foco
do
lizados para dar conta do jogo do mercado na ciência econômi ca, salientan analítico seja m problema s sem interesse ou destituído s de importân cia. O pre-
partidos e eleitores em variadas circunstâ ncias que
0 cálculo realizado por sente volume revela os ganhos poss íveis de certa simplific ação ligada à ade-
um
e ncontram regularm ente ao tomar suas decisões . O livro estabelec eu são aos postulad os relativos à rac ionalidade, em que a estilizaçã o e mesmo
a
como referênci a pelos autores que se dedicam ao
marco usualmen te tomado distorção das complexi dades da realidade se compens a com o interesse ' analí-
se trate de autores simpátic os à abordage m
es tudo do processo e leitoral, quer tico dos insights obtidos. Um exemplo se tem com as análises em que as idéias
dela. Entre os inúmeros comentá rios
econômi ca ou reticentes ou hostis diante de Harold Hotelling sobre competiç ão espac ial são transpostas da esfera
do
volu-
de maior ou menor fôlego a que deu origem, sem dúvida cabe destacar o mercado para a da competiç ão partidária : não obstante as crí ticas a que se
me de Brian Barry intitulado Sociolog ists, Economi sts and Democra cy, que
Downs, sua fecundid ade
expõem diverso s pontos específic os da discussão de
das perspecti vas de economi stas e
já e tn 1970 realizava minucioso confronto fica evidente nas numerosa s retomadas por outros autores e nos enriquec imen-
soci ólogos a respeito da democrac ia e sua dinâmica , com atenção especial
tos que lhes foram trazidos. Merecem destaque, aqui, as análises dos sistemas
para as análises de Downs6. partid{1rios emp reendidas por Giovanni Sartori (que não pode ser visto com
o
Certamen te não seria o caso de fazer o elogio sem rese rvas do que Downs adepto da escolha racional em sentido mais estrito) em Parties and Party
ios
tem a dizer-nos. Com toda a importân cia que atribuem a Downs, comentár Systems, de 1976, que culminam nas implicaçõ es e ramificaç ões da idéia de
dificulda des específic as
c ríti cos como o de Barry apontam com acerto várias competiç ão espacial e se envo lvem em intenso diálogo com Downs
7
.
amostra bem clara
em que suas análises incorrem. Contudo , o volume é uma Além disso, não obstante a importância do luga r a ser reservado às normas
m
da riqueza de intuições e resultados analítico s qu e cabe esperar da abordage c va lores na explicação da democrac ia e da política em geral, a relevânci
a da
da escolha ra cional, se tomada com a devida sobriedad e. ênÜlse geral no cálculo "contextu alizado" dos interesses dificilme nte poderia ser
O que se di sse acima quanto às dificulda des epistemo lóg icas da adoção exagerad a, especialmente di ante da tendência a certa idealizaç ão que cerca a
(hi ra cionalidade como categoria deci siva aponta para um paradoxo crucial da ênfase nos fatores valorativos e na "cultura política", no Brasil não menos
qu e
nte
abordage m, que se v C: l'orçada a optar entre: (I) aderir de maneira conseqüe e m outros países. Vale talvez a pena evocar, como fe cho destas breves notas,
aos dcsdubra mcntos da posição central atribuída à racionali dade e dar atenção ainda
alguns dados brasileiro s a respeito. Produzidos e examinad os (em textos
plena às compli cações nela envolvidas, caso e m que a pe rspectiva da escolha inéditos) em conexão com um projeto de pesquisa exec utado no Departam
ento
não
racional , ao invés de permitir a rei nvençno "microfu ndada" da sociolog ia, de Ciência Política da UFMG há alguns anoss, os dados e m questão mostra m
escaparia de diluir-se numa sociologi a "convenc ional" para dar conta d
. aquilo en-
que, em amostras de categorias diversas da população brasileira (e provavelm
nor-
que conümna socialme nte o próprio ator racional como tal, incluindo as te de maneira mais geral), níveis mais altos de informnç ão e sofisticaç ão se
dos quais se define sua identidad e e se torna pos-
mas e os valores em função acham associado s, em co ndições normais, com maior propensã o ao comporta -
, uma
sível a busca de objetivos remotos ou mesmo transcend entais e, portanto
(2) apegar-se a uma concepçã o de certa
racionali dade de maior fôlego; ou
forma mais estre ita de racionalidade, na qual se visualiza m agentes em busca
vol. I, Cambrid gc, Cambridgc
7. Giovanni Sa r1 ori Parties cmd Party S'y stems: A fJ·ameworkjOr Analysi:;,
de objetivos dad os por contextos bem definidos e se podem explorar com
rigor Partidários, Bras~!ia,
University Press'. 1976 . .Note-se que a edição brasileira (Partidos e Si.vtem as
ntextualiz ado". A segunda impo rt~mte adendo ao tex to da edição inglesa ori gi nal, que se encontra JUS-
os desdobra mentos da lógica do cálculo ass im "co UnB/Zahar, !982} contém
tamente no capítulo fina l sobre a competição espacial.
col-aboração com Mônic3 Mata
8. Proj eto "Pac to Social e Democracia no 13 rasi l", executado pelo autor em
Pompermaye r. Os textos men-
Machado de Castro, Edga r Maga U1ãcs, Antôn io Augusto Prates e Malori
cionetdos devem publi car-se breven1cn te.
ill an, 1970.
6. Brian Ba rry, Sociologists , Economist;- and Democracy, Lond res, Collier-M acm 17
UMA TEORIA ECON6MICA DA DEMOCRACIA

mento orientado por normas ou valores solidários ou cívicos; contudo, na ocor-


rência de circunstân cias que evidenciem o caráter inócuo ou ineficaz da postura
cívica, quanto maiores a informaçã o e a sofisticaçã o, tanto maior a propensão a
substiruir a posrura civica pela disposição à defesa desembara çada ou cinica do
interesse próprio. Do ponto de vista que aqui nos importa, dois aspectos mere-
cem ser realçados: em primeiro lugar, em vez da contraposi ção cortante entre a
referência a normas e o cálculo racional que muitas discussões tendem a supor,
o que os dados revelam é um padrão de articulação complexa entre a maior ou
PREFÁCIO
menor adesão a normas, de um lado, e, de outro, um elemento crucial para o cá!-.
culo e as feições por ele assumidas , ou seja, o elemento cognitivo, a informaçã o
em sentido amplo; em segundo lugar, os dados indicam também, como parte
desse padrão, a importânc ia de situações em que a atuação do fator cognitivo
(das percepçõe s e expectativas) torna simplesme nte irrelevantes e inoperantes
mesmo as normas a que convencionalmente de fato se adere, determina ndo o
predomíni o de consideraç ões orientadas pelos interesses. Se os mecanism os
assim sugeridos mostram-s e importante s para o caso de democraci as consolida-
das c efetivas, onde a vigência ele normas c da "cultura cívica" não teria por que
ser vista como obstáculo à atuação "clownsiana" do cálculo guiado por interes-
Este livro procura elucidar seu assunto - o governo de Estados democr:·,
ses, eles o são também, c de modo provavelm ente especial, para fenômeno s
ticos - tornando inteligível a _p()) íti_s1 par!id!r:0 das d~mocraci as. Esse er:1 "
como a deterioraç ão das disposições democráti cas em situações de crise. Sem
ponto adequado para abordar o problema inte lectual que o autor escolheu para
htlar do jogo "fisiológ ico" de vale-tudo próprio da condição pretoriana em que
si próprio, ou assim me parece. É um fn to que _si~te~~ P~E!i.9_áEios com_petiti ··
tão longament e nos debatemos c cuj:1 vigência impede o enraizame nto efetivo
vofi__SãO um traço visíve l de prnticamc nte todas aquelas nações que o mundP
das instituições democr~1ticas: a supcraçiio dessa condição não parece depender
~~~o-comu ni sta considera como democráti cas. É um fato ainda mais importan
apenas (ou sequer principnlmentc) de que normns cívicas sejam difundidas e
te que o que está em jogo no governo, e na competiçã o para controlar os car
ass imiladas, mas antes de um difícil jogo de coordenaç ão em que as cognições e
gos públicos do governo, é hasic~unente a mesma c.o.isa. Fundamen ta lmenk.
expectativas venham a convergir de maneira consistent e em direção propícia.
gove rn:u significa conseguir que as pessoas façam coisas, ou conseguir qw·
elas deixem de fazer cqisas ..Aqueles que têm a autoridade formal para govcr··
nar, se é. para eles governare m realmente , devem procurar descobrir quem esl:\
com eles e quem está contra eles. Nos Estados democráti cos modernos , essas
operações de inteligênci a e propagand a são políticas partidárias, ou são prin·
cipalment e isso. Uma teori a da democrac ia que de ixe ·de levar esse fato cn1
conta é de pouca valia em nos dar uma apreciação dos tipos de ações que pode··
mos esperar de um governo democrático.
Tendo dado à política par.tidária--HfH-h:rgar-c·entrai-e ntsetl-i'ws am.ent"
sobre a de.!}1Qcraci a, Downs a trata de modo muito diferente de outros estudio ·
s'as de po lítica. Todo o seu esforço vai na direção deLexplica r o que os partidos
e os ele itores fazem\ Suas explicaçõe s são sistematic amente re lacionadas a
: .....
supos ições afirmadas com exa tidão sobre as motivaçõe s que acompanh am as
//!
19
UMA TEOR IA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA

Ldecisões de eleitores e p a r tido ~e sobre o a mbiente em que eles age m, e


dedutíveis dessas suposições. E le está conscie ntemente preocupado com a eco-
no mi:: da exp licação, isto é, em tentar explicar os fen ômenos em termos de
uma quantidade muito limitada de fatos e postulados. Também está preocupa-
do com as principai s características da política partidá ria em qualquer Estado
de mocrático, não co m a dos Estados Unidos ou de qualquer outro país, ind iv i-
dualmente. O livro de Dow ns não torna obsoletas, em qualquer sentido, as des-
crições cuidadosas e profus amente docume ntadas de atividades partidárias que AGRADECIMENTOS
caracterizam o melhor trabalho a nterior nesse campo. É muito m ais um ponto
de parti da para a ordenação e atr ibuição de importância às descobertas de
grand e parte da pesquisa passada e futura.
\Qow ns pressupõe queos partidos políticos e os e leitores agem rac io nal -
mente na busca de certas metas claramente es pe cifi cada ~ é esse pressupos -
to, na verdade, que dú à sua teoria seu poder explicativo. 1\ maio ri a de nós
so mos filhos tã o acrílicos de Freud que dizer " Ele fez aqu ilo porque decidiu
q ue era a mel hor man e ira de consegui r o que que ria" tend e a nos parecer com o
nilo muito profund o. Todav ia, assim como fi rmas que não se envolvem na
busca racional do lucro tendem a deixar de ser fi rmas, tam bém os políticos qu e
Como todas as obras supostam ente origin ai s, este es tud o deve mui to de
nã o buscam vo tos de uma maneira racional tendem a de ixar de ser ~1olíti cos . O
seu conteú do ao pe nsa mento e es forços ele outras pessoa s. Gosta ria de ag rade-
co mportamento dos e le itores pode ser igno rante, mas isso não é c4ui va le nte a
cer particu larmente a Kenneth A rrow por todas as horas que devotou à o ri en-
ser irracional. I~ óbvio qu e se deve testar rigorosame nte, na experi ência, a uti -
taç ão e correção do meu pensamento e pe las muitas idéias exce le ntes co m qu e
lidad e de se pressupor rnc io na li dade por pa rte dos atores po líticos, mas ns ale-
contribuiu . Também gostaria de agradece r n Robe rt A. Dahl e Me lvin W.
gaçiíes de Dow ns eonJ rel ação ô. utilidade deveria m f icar cl aras a partir do qu e
Rcder, qu e leram o manus crito e fize ram muitas sugestões q ue inco rpo rei.
e le fez com aquel e pressupos to.
Além d isso, minh a gratidão va i para Dorothy Wynne, que corrigiu d ive rsos
Nfío posso di zer, nem mesmo nesse Prefúcio, que Um a Teoria Econômica
erro s na pri meira versão do Cap ítul o !O; para J uli us Margo li s, cu jo in teresse c
da Democracia de /\ nthony Dow ns é um livro se m defeitos. Mas posso d izer,
paciência nas pri meiras di scussões sobre o assunto me encoraj aram a embar-
ele mod o muito since ro, qu e hú poucos livros que tivera m um impacto tão gran-
car neste estudo; e pa ra Carol yn Young c James Sm ith, que tivera m o tra balho
de no meu pe nsamento, ou que eu gosta ria tanto de ter escrito. Daqui a alguns
de cu idar da datil og rafia e edição da ve rsão fi na l. Fina lmente, gostaria de agra-
a nos, fic arei surpreso se a o bra de Downs não for reconhecida como o ponto
decer ao O ffice ofNaval Research pe lo au xí lio qu e torn ou este estudo poss í-
de partida de um dese nvo lvimento muito importa nte no estudo da po lítica; sua
ve l. Naturalmente, quaisque r e rros nele deve m ser co nsiderados como parte da
influência jú é consideráve l e con tinua a crescer.
min ha própria co ntribuição original.

STANLEY K ELL ER JR.


A NTHO N Y DOWN S
Princeton , NJ
Stanford Uni versity
Maio de !965
Maio de ! 95 6

20
21
Parte I

ESTRUTURA BÁSICA DO MODELO


1

INTRODUÇÃO

No mund o todo, os governos dominam a cena econômica. Seus gastos


determinam se prevalece o pleno em prego; seus impostos influenciam incon-
túve is decisões; suas políticas controlam o comércio internaci onal; c suas
regulamentações domésticas se estende m a quase todo ato econômico.
Contudo, o pape l do governo no mundo da teoria econômica não é de
modo algum proporcional à sua predominânc ia. É ve rdade que, em cada
campo separado da economia, o pensamento recente se concentrou de manei-
ra frutífera no impacto do governo sobre a tomada privada de decisão, ou na
participação do governo em agregados econômicos. Mas pouco progresso se
fez na direção de uma regra de comportamento generalizada porém rea lista
para um governo racional, semelhante às regras tradicionalmente usadas no
caso de consumid ores e produtores racionais. Como resultado, o governo não
foi integrado com êxito àqueles que tomam dec isões privadas numa teoria
geral do equilíbt'io.
Essa tese é um a tentati va de fornecer essa reg ra de comportamento para
o governo democrático e de rastrear suas implicações. Ao perseguir esses obje-
tivos, não fingimos resolver todos os problemas que têm frustrad o a análise
nesse campo. Entretanto, esperamos caminhar para a solução de a lgu ns deles
e formu lar uma saída razoável para outros que são intrinsecamente inso lúveis.

25
/NTRODUÇA-0
UMA TEORIA ECO NÓMICA DA DEMO CRACIA

!. O SIGNIFICADO DE RACIONALIDADE NO MODELO consec ução de outra; portanto, não se pode traçar apenas um único ca mi111i o
p ara aque le que toma deci sões racionalmente seguir. Para evitar esse impasse,
A. O conceito de racionalidade na teoria econômica os teóricos postulam que as firrnas maximizam os lucros e os consumidores
maximizam a utilidade. Quaisquer outras metas que qualquer u m dos dois
Os teóricos econômicos quase sempre examinaram as decisões como se tenha são consideradas desvios que qualificam o camin ho rac ional em direção
e las fossem tomadas por mentes racionais . Esse simplificação é necessária à m eta princ ipal.
para a previsão de comportamento, porque as decisões tomad as aleatoriamen- Nessa análise, o termo racional nunc a é aplicado ao s fins de um agent.e,
te, ou sem qua lque r relação entre si, não obedecem a nenhum padrão. Todav ia, mas somente a seus meios2 Isso resulta da definição de racional como eficien-
as ações hum anas só podem se r previstas, ou as relações entre elas sujeitas a te, isto é, maximizar o produto no caso de um dado insu mo, ou minimizar o insu-
análi se, se e las formarem algum padrão. Portanto, os economistas devem m o no caso de um dado produto . Desse modo, todas as vezes que o s economis-
admitir que oco rre um orde name nto de co mpo rta mento. tas se referem a um "homem racional", eles não estão desig nando um hom em
Não hú razão a p riuri para presu mir qu e esse ordenamento é racional, cuj os processos de pensamento consistem exclusivamente de proposições lógi-
isto é, razoave lmente diri g ido para a rea li zação de objetivos consc ie ntes. cas, ou um homem sem preconceitos, ou um homem cujas emoções são inope-
I ~ntretanto, a teo ria eco nômi ca se erig iu sobre a supos ição de que prevalece a rantes. No uso normal, todos esses poderiam ser considerados homens rac ionais.
ra cion~li icbdc co nsciente, apesa r das úc idas afirmativas contrárias de homens M as a definição eco nômi ca se refere unicamente ao homem que se move em
como Thorstein Veb len e Jolm Maurice Cla rk. Já que nosso modelo ex deflni- direção a suas metas de um modo que, ao que lhe é dado saber, usa o mírÍimo
tion e di/. re speito ao comportamento raciona l, temos também que fazer essa insumo possível de recursos escassos por un idade de produto valori zado.
supos i<,:ãol. Para esclarecer essa defin ição, vamos considera r um exemplo de comporta-
Co mo re sultad o, os m étodos trad icionais de previsão e análise são apli- mento que é raciona l apenas no sentido econômico. Supon ha qu e um monge esco-
cúvcis ao nosso mode lo. Se o tL!r'1rico co nhece os propósitos daquele que toma lheu conscien temente, como sua m eta, atingir um estado de conte mplação místi ca
d ee i s~o, e le pode prever qu :1 is passos seriio dados para atingi-los, como ,se de Deus3 A fim de ating ir sua meta, ele deve pu rificar sua mente de todos os pen-
segu e: (I) ele calcul a o caminho mai s razo:'ivcl para aquele qu e toma decisão samentos lógicos c da busca co nsci ente ela meta. Economicamente falando, essa
ating ir suas lllcl as, c (L) pn;su mc que esse cam inho serú realmente escolhido purgação é bastante rac ional, embora fosse considerada irraciona l, ou pelo men os
porque aqueil! que lo111a dcei siio 6 racio nal. não-racional , por qu aisquer das defin ições não-econômicas de racionalidade.
A <lllúlisc.: cconúrnic:1, porL111lo , consiste de doi s importantes passos: cles-
cobc rla dos objet ivos que aqu ele qu e toma dccisiio está perseguindo e análise
de quais mei os de atin g i-los são os mais razoú vc is, isto é, exi gem a m eno r apli- 2. Esta mo s presu mindo, HO longo deste estudo, que os rin s podem se r separados dos me ios na mente
cação ele rec ursos escassos. Ao exec utar o primeiro passo, os teóri cos geral- daq ue le que toma decisão. Embora se possa arg umcnt.:tr que as metas pode m ser modificadas pelos pro-

m ente te ntaram reduz ir os fin s de cada agente eco nômico a uma única meta,' cessos usados para atingi-las, alguma s~paraçiio entre fins c meios deve ser rx:rm itid él, ou todo o com-
portame nto se torn a desorgani zado c sem sen tido. Conseq üentem e nte, admitim os que todo aquele que
de modo que se possa e ncon trar uma maneira eficiente ele ating i-la. Se se per-
toma decisão avalia as a lt ernat ivas d ia nte de le pela rclaçiio delas co m seus fi ns. mesmo que esses rins
mite m múltiplas meta s, os meios apropriados a uma ci cia s podem bloquear a
sejam temporú rios ou seja m eles próp rio s meios p3ra um fim úl timo. Pa ra um;.1 discussão desse proble-
ma, ver William .1. Baumo!, JYe(/àre Economics und th e Th(!O IY q(the St ate, London, Lo ngmans, (Jrecn
and Co ., 1952. r. 121 n.
3, p. 27. Nossa defin ição de racionalidade inclui pressuposto de que os homens busca m seus 3. Metas conscientemente escolhid"s não precisam ser ( I } manti das conti:ntamcntc IHI consciência
Ver not~1 t)

e nquanto es tão sendo pe rseguid as · o u (2) puramente uma questão ele livre esco lh a. O prime iro pon to é
próprios intcrl!sses dirctr1mcnte sem disHlrçíl-los, exceto em um ca so específico discutido, no Ca pítul o
provado pelo exemplo dado. O seg undo pode ser mostrado pe lo fato de que os homens co nsc ie nteme n-
3. Para unu1 anil lisc d<IS ocasiões em que os homens rac io nais escondem suas preiC!rências, ver Kenneth
1951, p. 7. Como te procuram obter alimento, embora seu desejo subjacente de comer seja intrínseco a sun natureza.
.1. Arrow, Social Clwice and Individual Valaes , New York, .lohn Wil cy & Sons I nc.,
dojo~o_'~- da to mada ele dec isão. exceto por Desse modo, a seleção consciente pode, às vezes, ~c li mitar a especificamente pôr em prát ica impul sos
Arrow. excluímos de nosso estu do os aspectos "prazeres
basiCamente inco nscie nt es.
alguns comentários específicos.
27
26
UMA TEORIA ECONOMICA DA DEMOCRACIA INTRODUÇ.10

Rac io nalidade econômica também pode ser form almente definida de perseguem é bastante arb itrá ria. Por exemplo, um executi vo de uma corpora-
o utra maneira. Um homem raciona l é aque le que se comporta como se segue: ção pode traba lhar po r uma renda maior porque gosta de traball1ar e também
(! ) e le consegue sempre tomar um a dec isão quando confrontado com uma para ter mais poder de compra: daL considera r esse últ imo como seu único
gama de alternativas; (2) ele classifica todas as alternativas diante de s i em motivo real é errado, assim como arbitrário. Todavia, esse é um estudo de
ordem de preferência de tal modo qu e cada urna é ou preferida, indife ren te,. ou racionalidade econômica e política, não de psicologia. Portanto, ainda que
inferior a cada uma das outras; (3) seu ra nking de preferência é transitivo; (4) considerações psicológicas tenham um lugar legítimo e signi ficativo tanto na
e le sempre escolhe, dentre todas as alternativas possíveis, aquela que fica em eco nomia quanto na ciência políti ca, nós nos desviamos de las, exceto por uma
prime iro lugar eni seu ranking de preferência; e (5) ele sempre toma a mesm a breve menção no Capítulo 2.
dec isão cada vez que é conü-ontado com as mesmas alternativas4 Todos aque- Nossa abordagem das e le ições ilustra como funciona essa defini ção
les qu e toma m dec isão racionalmente no nosso modelo - inclusive patt idos esl ri ta de rac io nalidade. A funç ão políti ca das e le ições numa democ racia , pre-
po lí ticos, g rupos de interesse c gove rn os - mostram as mesmas qua li dades. s umiiiHls, (·selec ionar um gove rno. Portanto, compo rtame nto rac iona l vincu-
A rac iona lidade assim definida se refere a processos de ação, não a se us I:Hiu :'1 ~: t'.kl <,:iil.'s L: co mportame nto o rientado para esse fim e nenhum outro.
fins ou até mesmo a seus êxitos em alcançar os fins desejados. l~ notório que o VallHlS :Hituilir <JII l: 11111 ce rto home m prefere o partid o A por razões políticas,
planejamento racional às vezes produz resu ltados muito inferiores úqucl cs obti- mas su:1t.:SjHIS:I lt.:il l 11111 :1u:sso de raiv:t toda vez que ele de ixa de votar no par-
dos pm pura sorte. A longo prazo, esperamos naturalmente que um homem tido B. É perfeitame nt e mciun:d, do ponto de vista pessoal, que esse homem
raciona l tenha um desempenho melhor do qu e um homem irracional, ceteris vote no partido B, se evitar os acessos de raiv:1 de sua mulhe r é mais impoi-tan-
purihus, porque os falos aleatórios se neutralizam e a eficiência triu nfa sobre a te para ele do que a vitória de A, em vez de B. Contudo, em nosso modelo tal
incf'icil:ncia. Contudo, já que o co mportamento no nosso modelo não pode ser comportamento é considerado irracional porque emprega um expediente po lí-
tes tado por seus result ados, aplicamos o termo racional ou irracional ape nas a tico para um propós ito não -político.
processos de a<,:iio, islo (:, a me ios. Naturalmente, alguns me ios in termediúrios Desse modo, não leva mos em consideração a pe rso nalidade g loba l de
s:lo eles prúpr ios me ios pa ra fins últimos. A rac ionalidade dos prime iros nós cada indivíduo qu and o di scutim os q ual compo rtam ent o é raciona l no caso
podclllos jul g:ll', mas a <lv:tl iaçilo dos últimos estú além do nosso c~copo. dele. N ão ab rimos espaço para a rica diversidad e dos fins ate ndidos por cada
um de se11s atos, a complex idade de seus motivos, o modo como cada parte de
sua vida está intimamente re lacio nada com suas necess id ades emoc ionais. Ao
l!. () cw1ceitu estrito de racionalidade no presente estudo contrário, tomamos e mprestada da teoria econômica tradici onal a idéia do con-
sumidor racional. Correspondendo ao notório homo econom icus que Veblen c
I ~ ntre tanto , mesmo que nã o possnmos dec idir se os fins daqu ele que toma outros censuraram severamente, nosso homo politicus é o " homem médio" do
dec isão silo rac.: ionais, devemos .wher o que selo antes que possamos decidir se e le itorado, o "cidadão ra cional" de nossa democracia modelo.
0 comportamento (; mcional, no seu caso. Além disso, ao des ig nar esses f ins, Porque permitimos que esse homem político tenh a incertezas so bre o
devemos evitar a <..:l)nc lusiío tautológi ca de que o comportamento de tod o futuro , ele não parecerá se r ta nto um personage m de cérebro de máqu ina de
homem é rac iona l porque (I) visa a algum f im e (2) os luc ros devem ter supe- ca lcu lar qu anto o homem econômico dos utilitaristas. No e nta nto, e le perma-
rado se us custos, e m sua opini ilo, ou e le não o teria adotado. nece sendo uma abstração da plenitude real da persona lidade humana.
Para escapar dessa armadilha, co nce ntramos nossa atenção apenas nas Presumimos que e le aborda cada si tuação com um olho nos ganhos a ser obti-
metas econô micas c políticas de cada indivíduo ou grupo no mode lo. dos, o outro olho nos custos, uma capacidade delicada de equilibrá-los e um
Reconhec idamente, a separação dessas metas das muitas outras que os homens forte desejo de ir aonde qu er que a racionalidade o leve.
Sem dúvid a, o fato de nosso mundo-modelo se r habitado por esses
homens artificiais limita a comparabilidade de comportam ento, dentro dele, ao
comportamento no mundo rea l. N esse último, al guns homens realmente vo tam
4_ Essns condições são tiradas dJ aná lise nos Cap itulos I c 2 de Àr.row, op. ci!.

28
INTRODUÇÃO
UMA TEOR IA ECONOMICA DA DEMOCRACIA
raciona lidade perfeita, dada sua percepçã o deformada da realidade. Po rlanln,
mais para agradar suas esposas - e vice-vers a- do que para expressa r suas pre- intenção é uma distinção inadequada.
ferências políticas. Esse comporta mento é, muitas vezes, extremam ente racio- Para nossos limitados propósitos nesse modelo, a possibilidade de COITl'·
nal em termos das situações domésticas em que ocorre. Estudos empíricos são ção é um meio muito melhor de dife renciar ent re erros e comporta memo irra
-
s
quase unãnimes em sua conclusão de que o ajustamen!O em g rupos pnmàrio cional. Um homem racional que está sistemati camente cometend o algum erro
considera ções ma is
é muito mais crucial para quase todo indivíduo do que vai parar de ·fazê-lo se (l) ele descobri r qual é o erro e (2) o custo de sua e
li -
remotas de bem-estar econômico ou político5. minação for menor que os benefíciõs. Nas mesmas condiçõe s, um homem irra-
Devemos presumir, todavi a, que os homens orientam seu comport amen- cional deixará de corrigir seus erros porque el e possui urna propensão não,'-
a
to principalmente em direção a esse último, no nosso mundo; se não, toda malabarismo lógica a repeti-los. Suas ações não são primordialmente motivadas por um
da
análise da economia ou da política se transform a num mero acessório sacana desejo de atingir eficientemente seus fins declarados; daí ele deixar de fazê-lo
s
sociolog ia de grupo primário. Entretanto, quase todos os g rupos primário mesmo quando possível.
daí
sfl o fort emente influenci ados por condições econômi cas e po líticas gerais; Há duas objeções a esse método de distinção entre erro e irraciona lida-
amente considera r as peculiari dades de cada um desses os
podermo s provisori de. O primeiro é que el e freqüentemente exige verificação hipotética, já que
grupos como contraba lançadas por peculiaridades opostas de ou tros g rupos homens rac ionais equivocados nem sempre descobrem seus erros. Se um
primári os. Portanto, quando definimos raciona lidade em termos de cond ições homem continua a cometer erros, como poderemos sabe r se ele é irraciona l
ou
gera is somente, não estamos distorcendo tanto a realidade qu anto poderia apenas lhe falta into rmação? · Nesses casos, não somos levados a voltar a jul-
parecer a princípio. gar suas intenções, que acabamos de mostrar serem indicador es inúteis?
A natureza exata dos fins econômicos e po líticos dos quais extraímo s Essa obj eção traz à tona uma dificulda de básica nas ciências sociais, ao
nossas descrições de comportamento racional será revelada na estrutura espe- atacar a incapacidade dessas ciências de provar todas as suas asserçõe s expe-
cífica do nosso mode lo. Mas, antes de consider armos aquela estrutura, deve- rimentalmente. Sem dú vida, ela enfraquece nosso argumento. Entretanto,
se
mos esclarecer mais um aspecto do qu e entendem os por racionalidade: como cedermos a e la completa mente, devemos nos priv<Jr de fa zer quaisque r afirma-
podemos distinguir entre os erros de homens racionais e o comporta mento ti v:Js sobre muitas questões vitais em todas as ciências soc iai s. Para evitar essa
normal de homens irra ci onais? Se racionalidade rea lmente significa eficiên- para lisi a, fazemos hipóteses sempre qu e. for absolutam ente necessário, reco-
os
c ia, ser:'t qm: os homens inefici entes siio sempre irracionai s, ou será que nhecendo as limitaçõe s disso.
homens racionais també m podem agir inefi cientemente? A segunda objeção é seme lhante a uma questão que j ú di scutimos. Ela
afirma que o comportamento que é irra cional segundo nossa definição é alta-
-
mente racional na economia psíqui ca da personalidade do indivídu o. O com
C. lrracionalidadc e afitnçlío básica da racionalidade política portam ento neurótico é, muitas vezes, um meio necessári o de aliviar as tensões
o
que nascem de conflitos soterrados no inconsciente<>. Mas estamos estudand
Não é uma tarefa J~ícil distinguir claramente entre erros racionais e com- con1porta mento político racional, não ps icolog ia, ou a psico logia do compor-
portamen to irracional. Nossa primei ra tendênci a é declarar que um homem tamento po lítico. Portanto, se um homem ex ibe um comporta mento políti
co
racional equivoca do pel o menos pretend e conseguir um equilíbrio entre custo que não o aj uda a atingir seus objetivos po líticos eficientemente, nos sentim os
e lucro; ao passo que um homem irracional deliberad amente não consegue justificad os em rotulá-lo como po litica mente irraciona l, não importa quão
fazer isso. Mas numeros os casos de ne urose inconscie nte desmentem esse cri- necessário a seus ajustamentos psíquicos esse comportamento possa ser.
tério. Até mesmo psicótico s irrecuperáveis freqüente mente se comporta m com '
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6. Ve r Kt1ren Homey, T!te New·oric Persuna/i!y C?lOur Tim e. Ncw Yo rk,
Person al 11?/lu en ce , Gl encoe, :~ \D
5. Para um resumo desses estudos. ver Elihu Kstz c Paul E ,Lazarsfcld,
\ ~ : 1937 , pn.-;sim.
"'i
11\inois, The Free Press, 1955, Parte Um . ("() 3I
30
UMA TEO !!!A ECONOMICA DA DEMOCRAC/ii INTRODUÇÃO

A razão por que estamos tentando disti nguir co m ta nto cu idado e ntre güidade é inevitável, m as sempre que a incerteza aumenta muito, a rac ionali-
erro s racionais e atos irracionais é que desejamos ao mesmo tempo (I) salien- dade torna-se clificil.
tar como o custo de informação pode levar homens racionais a co meter e rro s Como o governo fornece o referenc ial de ordem sobre o qual o resto ela
sisremáricos em pv lirica e ~2) e\ írar qualquer disc ussão de 1rraci onalídade sociedade se constrói,,a rac ionalidade política tem uma fun ção muito mais fun -
po lítica. Nosso desejo de desvia r da irraciona lidade política nasce de ( 1) a damental do que a simples e lim inação de desperdício no ato ele governar. O
co mplexidade do assunto, (2) sua incompatibilid ade com nosso mode lo de l/co mportamento racional é impossível sem a estabilidad e ordenada que o
comportamen to puramente racional e (3) o fato de ser um fe nôme no empírico '·
i' governo proporciona. Mas o governo continu arú a proporcionar essa estabili-
que não podemos tratar através apenas da lógica dedutiva mas qu e também clade •,somente enquanto o sistema político funcion ar eficientement e, isto ~,
,.
~ .-
exige rea l investi gação para alé m do escopo deste estudo. enquanto for racional. D esse modo, a raciona lidade política é o sine qua non
Há apenas u m ponto no qual a irracionalidac.l e precisa ser discutida em ele todas as for mas de comportame nto político.
re lação a nosso mod e lo . Se um setor s ig nifi cativo de qualquer corpo políti co Naturalmente, a racionalidade polí tica não precisa operar democratica-
se torna irraci onal e m seu comportame nto, um difícil problema se coloca para mente, como ocorre no nosso modelo. Desde que a incerteza seja reduz ida e a
o homem que não se torna irracional. Como deveria e le agir? Qua l é o melhor ord em estúve l, introduzid a c mantida, a ação racional é possível, mesmo que a
caminho para um homem racim\al num mund o irracio nal? tirani a prevaleça. A lém disso, a ra ciona lidade políti ca não preci sa ser perfeita,
A resposta depende de saber se a irracionalidade que ele enti·enta envo lve já que a maioria elos sistemas po líticos opera toleravelmente bem sem se r .,
ou não padrões previsíveis de comportamento. Se envo lve, a ação rac ional ainda depurada de toda a ineficiê ncia. Todav ia, um alto grau de rac ionalidade politi- I
lhe é possíve l. .l ú que quase nenhuma soc iedade pode sobreviver por muito tempo ca é necessá rio em todas as sociedad es de g ra nde porte, se é importante para
se nin guém ne la estú persegu indo eficientemente suas metas, há, em geral, algum elas resolverem seus pro blemas com êx ito.
tipo de prcvisibilidadc no sistema político. Os cidadãos que se comportam irra-
c.ional!.n ente o fitzcm em parte porque alguém que se dispõe a ganhar os incita a
ir adiante. Por exem plo, um partido que pereneme nte ú1z fi1 ls:ts promessas pode JJ A ESTRUTURA DO MODELO
ganhar votos se convencer os eleitores a acreditar em suas mentiras. I~ racional
para esse partido e ncorajar os t: ki torL'S a se comportar irracionalme nte. Tensões Nosso modelo se baseia no pressuposto de q!J..C_JMD.....gill'CIDO..pmcJ.WL.
desse tipo fí·t?q tiL,nt emcntc L'x istcm, m:ts, na med ida e11 1 que prevalece a raciona- fUaximizar o apoi o político. Presumi mos ainda qu e o govern o existe numa
lidade de alguém, pode-se ai nda prever o comportament o. sociedade democrát~ que se faça m e lék_ões J!.e.uó_dlc~s_, gtl_e_ :;~~_2QJ ehv_2
Desse modo, para I idar com un1 co mpmtamcnto aparentemente irracio- principal é a reele ição, e q_~::: ição ~~l _c.!..b.l~!ivo daqueles partido s al;iora ali.:_
nal , ·o hom t: lll racin na l deve tentar disccrni!" o padrão subj ace nte de racionali- jados do poder:..~m cada e le ição, o partido que recebe o maior número ele votos
da de; deve descobt·ir aos fins de quem esse compor tam ento está real me nte (embora não necessariamente a maiori a ) controla todo o governo até as próxi-
atendendo c quai s são esses fin s. En tão e le pode decidir, e m vista de seus pró- mas ele ições, sem quaisquer votações in termediárias, sej a pe lo povo como um
prios fins, como deve ria reagir a esse comporta mento . Somente quando não se todo, seja pelo parlamento. Q...QaJ:ti<:lQ_gQ\f_CJ!:@Q_te, po rtant()_;_~E?_libet:_d.ade ili_- _
pode descobrir qualquer padrão c todos os atos são imprev is íveis - isto é, mitac!a_de_açã o,. dent.m...dDslim ites ela co nstituição.
q uand o prevalece o caos ··- é que não há qua lquer cami nho ra cional pa ra o Q_I_11_ai~ i_rr:Jll_<?.r~al1!~. -q~s~~-~J.il!lites _é_q_ue ()__gQy~r\19_..::-.. ist(). é, ()J2~X.!.i0_o
homem que con hece suas próprias metas. gove rnante - não prukümp~gjr__as_QpJ,;El.ç_Qld_ill:.._Q_ut ro_~.Pl!I.Ii<JQ~_jJ_<&iticQ~~t_
Portanto, o comportamen to racional requ er uma ordem social previs ível. sociedade?. Não pode restringir sua libe rdad e de expressão, ou sua capac idade
Assim como o produtor rac ional deve se r capaz de faze r previsões razoave l-
mente precisas de sua dem a nda e custos, se é q ue vai investir de modo inteli-
ge nte, o homem rac ional na política também deve ser capaz de prever ap roxi-
7, Ao lo ngo desta anilli sc, usarnos o term o J;O I'ern o no sentido europeu; isto é, ele sem pre se refe re ao par-
madamente o comportamento de outros c idad ~ ds y do gove rno. Alg uma ambi-
tido governonte a menos qu e seja regisnado diferentemente.
32 33
: '. ~

UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA


INTRODUÇÃO

de fazer campanhas vigorosas, 01/


a liberdade de qualquer cidadão de falar
abertamente contra qualquer partido. Tambén; não pode alterar o calendário Tendo dado ao governo um objetivo, podemos descobrir os meios mais
das êlêiÇÕ€lS, qu€l S€l repetem:. intervalos fixoó\8 eficientes que ele pode empregar para alcançar aquele objetivo. Em outras
Economicamente, entretanto, não há limites ao seu poder. Pode naciona- palavras, podeJ;UOS construir um modelo que mostre como um governo racio-
lizar tudo, ou entregar tudo para grupos privados, ou chegar a algum equilíbrio nal se comporta no tipo de Estado democrático que delineamos. acima.
entre esses dois extremos. Pode impor impostos e executar quaisquer gastos Entretanto, primeiramente precisàmos saber mais sobre o mundo no qual
nosso governo modelo vai fimcionar.
que deseje. A única restrição sobre ele é a de manter a liberdade política; por-
tanto, não deve arruinar seus oponentes através de políticas econômicas que Esse mundo difere do mundo de equilíbrio geral porque contém incerte.-
visem especificamente a prejudicá-los. Também deve sustentar economica- za. De fato, a fim de estudar a lógica básica de tomada de decisão na nossa
mente os direitos de voto de seus cidadãos9. economia política, vamos presumir conhecimento perfeitonos CapítulosJ_e 4._
No entanto, esses capítulos são apenas preliminares à posterior análise de com-
Alguns teóricos políticos podem objetar que esse governo parece ter
portamento quando prevalece a incerteza.
pouca relação com o Estado que deve gerir. Os sociólogos poderiam objetar
ainda mais que a reeleição, per se, de nada adianta para ninguém; portanto, Nossa razão para enfatizar a incerteza é que, na nossa opinião, ela é uma
algumas motivações mais profundas devem estar por trús dela. Vamos tratar de força básica que afeta todas as atividades humanas, particularmente a ativida-
ambas essas críticas no Capítulo 2. Por enquanto, vamos supor que a meta de de econômica. Lidar com a incerteza é uma função importante de quase todas
todo governo é ser reeleito, quer o governo seja de uma nação, de um Estado as instituições significativas na socieda,de; portanto, ela configura a natureza
ou de uma municipcllidadelo. de cada uma delas. Um excelente exemplo é o dinheiro, que lorde Keynes e
outros mostraram ser uma resposta à incerteza, um vínculo entre o presente c
um futuro não definitivamente conhecidoi 1• Seria absurdo estudar o dinheiro
somente num mundo certo e esperar descobrir sua essência --'- na realidade, a
K. bnbor;1 <ls clciçt·ies se repitam <:1 intervalos fixos no nosso modelo, elas poderiam ocorrer iptalmenle :1 tentativa de fazê-lo levou a contradições inerentes.
qualquer momento 1kntro r/,• limites fixos de tempo, com a data precis::1 estabelecida pcln p:1r!ido 110
Da mesma forma, embora possamos descobrir algo sobre como os gover-
poder, co111u 110 sis!L'IJJ;J político hritilnico. Desse H lodo, nossa restrição é mais türtc que o JH.'Ccssúri(l;
nos racionais operam, através da análise deles. num mundo "certo", aprende-
tom;uHos css;1 llltdida apcn;ts para l~liminar o cak:ndúrio das eleições da área de cstratégi<l ptlrtid[Jria. A
des~;e :1xiom<1, a f'im de tomú-lo p<lrccido ~om o sistema britflnico, não ai"etari:1 ncnhullla ck
alter:u.,::lo
mos muito mais enfrentando a incerteza e os problemas que ela cria. Muitos
nossas conclt1s<ics. desses problemas são relacionados ao custo de obtenção de informação.
9. Podc-sç <lf!!,LJillcntnr qllc o governo não deve destruir direitos de propriedc:1de privada se quiscr gar:1ntir Portanto, dedicamos diversos capítulos ao exame de como esse custo afeta o
liberdade política JWI"il seus cidndJos, já que eles devern permanecer independentes de seu controle. comportamento político racional. .
Entrdanto, fJI"OJJricdodc jJf"iPm/a nesse sentido nilo significa uma reivindicação de posse sobre os meios
Esperamos que nosso estudo seja ele interesse para os estudiosos da democra-
de produçrlo, nws um<~ parcela Jcg:llmcntc protegida de seu produto. Se um cid<1Lião sabe que sua renda
cia assim como para os economistas. Poucas de nossas conclusões são novas; na
depende do cumprimento de ccrt;1s tnrcnts bem tk:rinidns, relacionadas com SCLt emprego, c que a lei o
protege de perd:.1s <k rendimentos qtJc resultem de quaisquer ações desvinculadas daquele emprego, ele realidade, algumas foram especificamente afirmadas por Walter Lippmann em sua
é livre para seguir su<Js pn'1prias inclin:H;ücs polític;Js, independente de ck trabalhar para o Estado ou brilhante trilogia sobre a relação entre opinião pública e governo democrático 12 .
p~1ra unw firma privad<L Ek possui seu emprego e, desde que cumpra seus deveres, não pode ser priva-
do dele sem o devido processo da lei. Exemplos disso s;lo direitos de senioridadc em sindicatos e graus
de status no serviço pltblico. c:oncordarínmos em que o governo não deve ::1bolir tanto esse tipo de pro-
priedade privada quanto a posse privada dos meios de produção, se é pnn1 existir liberdade política; por- 11. Ver John Maynard Keynes, The General Theo1y c?( Employment, In teres f, and Money, New York,
tanto, o poder econômico do governo tem alguns limites. Além disso, jú que tod<:1 propriedndc privada Harcourt, Brace and Company, 1936, cap. 17. Para uma explicação lúcida desse capítulo, ver Abba P.
depende de um sistema legal inclcpcnclcntc da política, um dos elementos ti:! constituição de nosso Lerner, "The Essentia! Properties o f lnterest and Money", Quarterú' .Journal <?f" Economics, LXVI,
modelo deve ser esse sistema. 1952, pp. 172-193.

lO. Nossa principal preocupação é com o governo nacional, ao J01:go deste estudo. Entretanto, grande parte 12. Waltcr Lippmann, Public Opinion, New York, The Macmillan Company, 1922, The Phanlom Pub!ic,
da argumentação também se apliCél aos outros tipos. Ne\v York, Harcourt, Brace and Company, 1925, e Essays in the Puhfic Philosophy, Boston, Little,
Brown and Company, 1955.
34
35
UMA TEORIA f CON0MtCA DA DEMOCRACIA INTRODUÇlO

I '. lllrdanto, nossa tentativa de rastrear o que farão os homens racionais, tanto como soa separada que tem seus próprios fins, não necessariamente relacionados
, l<l<idãos quanto no governo, é, salvo engano, nova. Ela tende a provar logicamen- com os próprios fins dos indivíduos. E le age para maximizar seu próprio bem-
"' al'irmações a que Lippmann e outros chegaram através da observação empírica estar ou utilidade através da manipulação dos gastos governamentais e da tri -
da política. butação, de maneira que o ganho marginal de gastos adicionais seja igual à
Desse modo, nosso modelo poderia ser descrito como um estudo de racio perda marginal de tributação adicional. Esses ganhos e perdas são sociais -
~~is!-ª.de política de um ponto de vi~m__ecQ.U.ômico. Por meio da comparação do sentidos pela personalidade do Estado. Não são os ganhos e perdas de indiví-
quadro de comportamento racional que emerge deste estudo com o que se conhe- duos sob alguma forma agregada.
ce sobre comportamento político real, o leitor deveria ser capaz de tirar algumas Embora essa abordagem "organísmica" seja intelectualmente clara, elf!
co nclusões interessantes sobre o funcionamento da política democrática. não tem um conteúdo substantivo, como salienta Buchanan. Ninguém sabe
com quê se pa rece a função de bem-estar do Estado-como-pessoa, nem é pos-
._ sível descobrir isso. Portanto, é inútil como um guia para decisões práticas .
!I!. A RELAÇÃO DE NOSSO MODELO COM MODELOS ECONÔMICOS A segunda abordagem de Buchanan considera que apenas os indivíduos
ANTERIORES SOBRE GOVERNO têm estruturas de finalidades. O Estado não possui uma função de bem-estar
própria; é s implesme nte um meio pelo qual os indivíduos podem satisfazer
A maior parte dos estudos econômicos sobre governo diz respeito às coletivamente algumas de suas necessidades . Por exemplo, o Es tado tem o
suas políti cas em campos especificas , tais como controle monetário, ma nu- monopólio de certos serviços; mas, em vez de tentar maximizaras lucros, ele
tenção do emprego, estabilização de preços, regul a me ntação de mo nopólios e procura apenas cob rir os custos a longo prazo. Os indivíduos compram-lhe ser-
comércio internacional. As poucas análises de atividades governamen tais lkllkl viços c pagam-no apenas pelos serviços que recebem. Desse modo, um prin-
como um todo são principalmente normativas, isto é, deduzem o ti po de ações cíp io de benefício quid pro quo básico subjaz no funcio namento do Estado c
qu<..: um gov<..:mo de veria realizar a partir de um princípio ético bás ico sobr<..: estabelece os limites do que e le faz 14.
su :-1 fi mçilo característica. À pri meira vista, essa visão voluntarista do Estado não se coaduna com
Nossa an:í lis<..: é igua lmen te dedut iva, já que coloca uma reg ra b{Jsica e seu uso de coerção no recolhimento de impostos. Se os impostos s5o simples-
tira eonclu sões a partir de la. Entretanto, é também positiva, porque tentamos mente pagamentos quid pro quo por serviços prestados, por que os cidadãos
desc rev<..:r o qu<..: ac:onteccní wh certas condições, não o que deveria acontece r. devem ser forçados a pagá-los? Paul Samuclson respondeu a essa questão
Contudo, mostraremos brev,;mcnte como se relaciona a diversas idé ias norma- argumentando que, nesse mundo-modelo, o Estado assume _apenas aqu e las ati-
tivas propostas por out ros l!Collottlistas, c como tenta resolver certos problemas vidades que proporcionam beneficios inclivisíveis 15 • Já qu e tod.os os homen s
que eles levant:1m n1. desfrutam dos beneficios de todos os atos gove rnamentai s, não importa quem
pague po r isso, cada homem é mo tivado a fu gir do pagamento. No entanto, el e

A. O J)rohlenw dcjàlsa per.;·ontjlcaçüo versus superindividualis mo


14. Essas duas aburclagens foram elaboradas em maior detalhe por Edward C. Ban rield, que distin g u~; entre
do is tipos de visiio "uni tária" do Estado c três tipos de vis<lo "i ndividualista". Sua análise realmente
Num artigo sobre "A Teoria Pura das Fi nanças Govername ntais", James ~1p rox ima as id é i ~J S de 13ucllanan da rea lidade, mas não altenl a dicotomia búsica que cs t~mos djscu tin·
Bu chanan sugeriu dois mod os mutu amente exclusivos de se cons iderar a toma- do . Ver "Note on the Conceptual Scheme", em M3rtin Meyc rson c Edwnrcl C. Ban fi e!d, Politics.
ela de deci são pelo Estadoi J. O prime iro é cons iderar o Estado como uma pes- Planning. mui lhe Public In teres/, Glcncoe, 111 .• The Free l'ress, 1955, pp. 322-329.
15. Paul A. Samuelson, "The Purc Theory of Public Expenditures", Rel'iew ofEconomics an d Stalistics,
XXXVI, nov., 1954, pp. 387-389. Samuelson afirma também que o governo timi pagamentos de lrons-
terência direta (impostos mais gastos) para sat isfazer o "observador ético". Entretanto, essas tran sfCrên-
13. James Buc:ha nan, "The Pure Th t:o ry of Government f:inf1.nce: A Suggested Approach", Journa/ q/ cias não envol ve m qunisquer atividades governament::tis que esgotem os recursos; daí serem irre levan-
Political t:conomy, LVII , dez., 194 9, pp. 496-505. tes para nossa discussão dessas ati vidRdes.
Jlí 37

ij
t
UMA TEOfUA ECONÓMICA Q,J DEMOCRACIA INTRODUÇÃO

es tará disposto a pagar sua parcela do custo - já q ue realmente recebe benefí- Desse modo, evitamos tanto a fa lsa personificação de uma construção mental
cios por isso - se todos os outros também assum irem suas parce las . Todos os e u ma visão superind ividualista da sociedade. En tretanto, a inda nos confrnn1 :1
c idadãos concordam em ser coagidos, visto que o ga nho de cada cidadão mais mos como problema de descobrir-uma relação entre os fins dos indivídu os e 111
do que compensa sua parte do custo, e propo rcionam-se benefic ios que não geral e os fi ns da coalizão gue não restringe o governo à prov isão de benej i
poderiam ser obtidos de outro modo. A natureza voluntarista do Estado não é, cios indivisíveis. Nosso modelo tenta descrever essa relação.
desse modo, contestada por seu uso de coerção 16.
Julius Ma rgolis atacou co m vigor essa concepção do Estado como sendo
completamente irrealista' 7 E le salienta qu e quase nenhuma atividade assumi- B. O problema da fu nção de hem-estar social
da pelo Estad o produz benefi cios purame nte indi visíveis. Até mesmo a defesa
nacional, o exemplo clássico de beneficios indivisíveis, au xilia a lgumas pes- Exatamente o mesmo problema foi, há muito tempo, o centro da contro-
soas mais do que outras, e o gasto marginal com ela pode rea l me nt ~ prejud i- vérsia na nova economia do be m-estar, em que a "fun ção de bem-estar social"
ca r a lguns cidadãos. A mai o r parte d as outras ativ idades gove rna mentais pro - foi proposta como sol ução 1s. Tendo reje itado benefic io cardinal e com parações
duz be ne fi cios claramente indi visíveis; por exemp lo, qua nto mais os cidadãos psicológicas interpessoais, Bergson tentou substi tuí-los por uma reg ra abstra-
de B a Z usam estradas co nstruídas pelo governo, ma is cheias f icam essas ta para extra ir f ins soci ais a pa rtir ele fins individua is. Ele chamo u essa reg ra
estradas, e me nos be nefici o o c idadão A obté m de seu uso. O fato de o gover- de "fjJnçõa d e"' he 1n -cs tar socjaJ " .
no desempe nh ar essas atividades, no lugar ele fi rmas privadas, nã o .pode ser Essa entidade amorfa foi o a lvo de duas grandes críticas. Uma é que ela
ex plicado pelo critéri lJ de Samuclson. Seu mode lo, diz M argo lis, limita o não eli m ina a necess idade de pesar os desejos de cada individuo no processo
Estado a tfío poucas ações que n5o é razoáve l aceitá- lo nem mesmo como uma de alca nçar uma estru tura co letiva de f ins. Contudo, qu a lquer pond eração des-
teoria normativa de atividade governamental. Nós concordam os. sas é, na realidade, uma comparação interpcssoa l de bem-es tar; ela desempe-
Nossa própria crític a da abordagem Buchanan-Samuclson é qu e ela cria nha a mesma função que o pressu posto de que todos os homens têm ig ual valor
uma falsa di cotomia entre as dtw s visôcs, uma das quais é tota lme nte falsa e a ético, na anál ise a nterior de Pigou. Desse mod o, o uso de uma flm ção de bem-
o utra expressa ape n:ts part e da VCTdade. Pur utn lado, a visãn orga ní smica de estar social não reso lve o prob lema de como fazer co mpa rações intcrpessoais,
governo n5o é verdadeira porqu e se baseia numa entidade mítica: um Estado como o próprio Bergso n admitiu' 9.
qu <.: é um a coisa sepa rada dos home ns individuais. Por outro lado, a visão indi- A segu nda c r!tica fo i fe ita po r Ken neth Arrow e será anali sada em de ta-
vidualista é incompl eta porque não leva as coalizões em consideração. lhe no Capítulo 4 20 Em resum o, Arrow mostrou que, se a maio ri a das situa-
Como ve remos no Capítulo 2, quando um pequeno grupo de homens, ções de escolha e nvo lve mais que duas alternati vas, c se as preferências dos
ag indo e m coa liz5o, gere o aparato do Estado, podemos falar do governo como ind ivíduos são suficientemente d iversas, nenhuma fi.m ção de bem-esta r ge ral,
aquck qu e toma dec isões sepa radamente dos cidadãos individuais e m ge ral. tra nsitiva e singul ar, pode ser constr uíd a, a me nos que uma parte da sociedade
dê ordens para o resto. Esse argumen to demoliu o que restava da função de
bem-estor social proposta por Bergson e dissolveu a relação entre fi ns indivi -
du ais e sociais que ela tentara estabelecer.
16. Uma abordagem scmc llmntc é usnda por Wi llitllll .1. 13aumol, op. cit. , c é afirmada. e cri ticada por
Rich ard A. M usgravc em "Thc Voluntary Exc hangc Thcory oi' Public Economy". Quarter()' Journal f.?{
A economia do bem-estar vo ltou, portan to, ao estado debilitado em que
Ecmwmic...,·, LI I I, 1939. EssaS análises são basta nte parec idas com a de Samuclson, de modo que não hav ia e ntrado anteriormente por meio da rejeição de do is postul ados: utilidade
precisamos trató-l as scp<lrada mentc.
17. .lu!ius Margo li s, "A Com mcnt on lh e Pore Thcory o f Pub!ic Expcnditures", Review q{Economics and
Statistics, XXXV II , nov., 1955, pp. 347-349. A resposta de Sa muclson aceita alguns dos pontos levan - \ 8. Abram Bergson (B urk), "A Refonnu!ation or Ccrtain Aspec ts of" Wcll~tre Econum ics", Quortcr~l'
tados por Margo li s e esc larece a naturezH de mcrcadori:1s "p(Jbliças" e "privadas". Ver Paul A. Journa/ oj"Economics, LI I, tev. , 1938, pp. 3 14-344.
Samuelso n, "D iagrammatic Exposition o f a Th eory of ~.ll ti~i G.-,Expc n d itu rc", Relliew ql Economics wul 19. VerTibor Scitovsky, "TI1e S1ateo f Welfarc Economics", Americm1 F.conomic Re1•ieu•, X LI , 195 1, pp. 303-3 15.
Stntistics, XXXVII, nov., 1955, pp. 355-356. ' · · . 20. Ken i1eth J. A rrow, op. cil .. passim.

31! 39
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA
IN TRODUÇÃO

cardinal e comparações de bem-estar interpessoais. Esses axiomas haviam sido


conhecimento, por parte do governo, da estrutura de preferência de cada cid a-
jogados fo ra porque o primeiro era desnecessário e ambos se baseavam numa
dão, e cálculo preciso e pagamento de compensação. Esses expedientes, sem
visão psicológica falsamente empíri ca do homem. Mas sem eles, ou outros
dúvida, desempenham um pape! legítimo na análise teórica; nós mesmos os
para substiruí-los, poucas afirmações de política significativas podem ser fei-
tas. usamos ocasionalmen te. No entanto, a maior parte de nosso estudo di z respe i-
to ao que realmente aconteceria se os homens no nosso mundo razoavelmente
Nosso modelo tenta fmj ar uma relação positiva entre as estruturas de
realista se comportassem de modo racional. Portanto, não podemos nos apoiar
final idades individuai s e sociais por meio de um expediente político. Como
em procedimentos que a divisão do trabalho torna não-práticos, como ocorre
cada cidadão adulto tem direito a um voto, suas preferências de bem-estar são
com todos os três mencionados acima. :
pesadas aos olhos do governo, que está interessado apenas no seu voto, não em
Por outro lado,. nossa análise sofre da mesma generalidade que aflige as
seu bem-estar. Desse modo, em resposta à primeira crítica levantada contra
teorias tradicionais do comportamen to de consumidores e firm as. Não pode-
13ergson, admitimos abertamente que estamos adota ndo um princípio ético-
mos preencher os detalhes de nossa função de voto mais do que I. R. Hicks
igualdade do direito de voto. Esta mos tornando-o uma parte da política, na
dúvida preencheu os detalhes dos mapas de indiferença ou funções produtivas em
qual acreditamos que a ética social deveria ser tratada. Em suma, estamos vol-
tando ú economia política. Va!u e and Capita/2 1. Fazê-lo é a tarefa de políticos, consumidores e homens de
negócios, respectivamente. Analistas abstratos, como nós, só podem mostrar
Isso não elimina, entretanto, o argumento de Arrow de que a ação social
como esses detalhes se encaixam no esquema gera l das coisas.
racional ús vezes é impossível. Nossa defesa contra esse ataque consiste essen-
cialmente de uma dupla evasão. Tentamos mostrar o, seguinte: (1) a crítica de
Arrow nem sempre é rel evante e (2) mesmo quando é relevante, seu impacto
I V RESUMO
freqüentemente se limita a áreas muito mais estreitas de escolha do que se
poderia supor. Esses argumentos serão apresentados no Capítulo 4.
Embora os governos sejam de crucia l importân cia em todas as econo-
I\mhora nosso mod elo se relacione ao problema básico de econom ia de
mias, a teoria econômica não produziu uma regra satisfatória de comportamen -
bcm-csl;u· que Bcrgson tentou resolver, ele não é um modelo normativo. Não
to para eles, comparável às regras que usa para prognosticar as ações de con-
podemos usú-lo para argumcnlar que a sociedade está em melhor situação no
sumidores e firmas. Nossa tese tenta forn ecer essa reg ra, postu lando que os
I\slado A do que no J(stado 13, ou que o governo deveria fazer X mas não Y. O
governos democráticos agem racionalmente para maximizar o apoio político.
único ckmento normativo que contém está implícito no pressu posto de que
Por ação racional, entendemos a ação que é eficientemente planejada
cada c id<1d~o <~dullo tem direito a um e apenas a um voto. Realmente, embora
para alcançar os f ins econômicos ou políticos conscientemente selecionados
um juízo ético deva ser a justificat iva definitiva para esse pressuposto, nós
0 do ator. No nosso modelo, o govern o persegue seu objetivo sob três condições:
incorporam os ao nosso modelo apenas como um parâmetro factual, não como
uma estrutura política democrática que permite a existência de partidos de
um JXmlmetro normati vo. Portanto, a relação que construímos entre fin s indi-
oposição, uma .atmosfera de graus variáveis de incerteza c um eleitorado de
viduai:; c governamentais é aqu ela que acreditamos que existirá sob certas con-
eleitores racionais.
d ições, não aquela que deveria existir porque preenche algum conjunto ideal
de exigências. Nosso modelo mantém uma relação definida com modelos econômicos
anteriores de governo, embora o nosso seja pos itivo e a maioria dos outros
sejam normativos. Buchanam propôs uma dicotomia entre concepções organís-
micas e individualistas do Estado; tentamos evitar ambos os extremos.
C Problemas técnicos
Samuelson e Baurnol argumentaram que o Es tado pode ass umir efici entemen-

Muitas abordagens normativas sobre tomada de âecisão governamental


apresentam mecanismos tais como referendoi>'' sQ?re cada deci são, perfeito .
2 1. .1. R. Hicks, Value and Capital. 2. ed., Oxford. Clarendo n Press, 1950. caps. I. VI e VIl .
40
41
\ J ~ i
2 8 6 G~)O
UMA TEOI/!A ECONÓM!CA DA DEMOCRACIA

te apenas transferências diretas de renda e ações que produzam benefícios indi-


visíveis; tentamos mostrar que tem muitos outros papéis legítimos. Bergson
28GG~5ü
tentou estabelecer relações entre fins individuais e sociais por meio de um pos-
tulado puramente ético; adotamos um axioma ético sob forma política. Arrow
provou que essas relações não poderiam ser estabelecidas racionalmente sem 2
prescrição; tentamos mostrar como seu dilema pode ser contornado.
Tentamos essas tarefas por meio de um modelo que é realista e, contudo,
não preenche os detalhes das relações no interior dele. Em suma, queremos MOTIVAÇÃO PARTIDÁRIA
descobrir qual forma de comportamento político é racional tanto para 0 gover- E A FUNÇÃO DO GOVERNO NA SOCIEDADE
no quanto para os cidadãos de uma democracia.

INTRODUÇÃO

Os modelos teóricos deveriam ser testados primordialmente mais pela pre-


cisão de seus prognósticos do que pela realidade de seus pressupostos 1• Todavia,
se é. para nosso modelo ter coerência interna, nele o governo deve ser pelo menos
teoricamente capaz de desempenhar as funções sociais de governo2 No presente
capítulo, tentaremos mostrar como e por que o partido governante se desincumbe
dessas funções, ainda que seu motivo para agir não se relacione a elas.

I O CONCEITO JJE GOVERNO DEMOCRATICO NO MODELO

A. A natureza do governo

A definição de governo usada nesse estudo é tomada emprestada de


Robert A. Dahl e Charles E. Lindblom, que escreveram:

Para uma excelente afirmação desse ponto de vista, ver Milton Friedman, "The Methodology o f Positive
Economics", Essays in Positive Economics, Chicago, Univcrsity o f Chicago Press, 1953.
Nesse capítulo, a palavra governo se refere à instituição, e não ao partido governante. Entretanto, vol-
tamos n usar esse último significado em todos os capítulos subseqüentes.
42 43
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA MOTIVAÇÃO PARTIDÁRIA E A FUNÇ.40 DO GOVERNO NA SOCIEDADE

. Os Governos [são][ ... ] organizações que têm um monopólio suficiente de controle uma organização em qualquer área possa se encaixar na definição dada.
para Impor uma resolução ordeira de disputas com outras organizações na área(. .. ] Ouem Conseqüentemente, o governo é uma organização especializada, distinta de
guer que contro~e o governo geralmente tem a "Llltima palavra" sobre uma questão; quem todos os outros agentes sociais.
quer que cc.ii:ro;c o ~oYemo pode impor de-cisões <"i outrdS On!anizacões na área.:_
Desse modo, numa base puramente positiva, sem postulados ético~,
podemos concluir que (l) o governo é um agente social específico e singular
_Como salientam Dahl e Lindblom, "Todas as definições curtas de gover-
e (2) tem uma função especializada na divisão do trabalho.
no sao merentemente ambíguas"4 Porém, sua definição consegue diferenciar
o governo de outros agentes sociais sem circunscrever com precisão seus pode-
res. Daí essa definição ser ideal para nosso modelo, já que, nele, o governo tem
B. A natureza do governo democrático
poderes amplos, como explicado no Capítulo 1.
. Mas o que o governo deve fazer com esses poderes? Qual é o papel pró-
Para evitar premissas éticas, definimos governo democrático descritiva-
pno do governo na divisão do trabalho? Claramente, essas questões são vitais
mente, isto é, através da enumeração de certas características que, na prática,
no mundo real da política. Entretanto, ninguém pode respondê-las sem especi-
distinguem essa forma de governo de outras. Um governo é democrático se
ficar uma relação ética entre o governo e o resto da sociedade. Como essa
existe numa sociedade onde prevalecem as seguintes condições:
especificação é normativa e não positiva, ela escapa do alcance de nosso estu-
ch ~o que _di~.E~2P_C:.!~~- a e3~:_5studo, é permitido ao governo fazer qualqu;n· 1. Um único partido (ou coalizão de partidos) é escolhido por eleição popular
coisa que nao VI_<2\.:_~~-]nmtes constitucionais descritos no Capítulo 1.
para gerir o aparato de governo.
No mundo real, o governo de fato faz quase tudo que é concebível a uma
2. Essas eleições são realizadas dentro de intervalos periódicos, cuja duração
organização fazer. Entretanto, nem todo governo faz a mesma coisa que os
não pode ser alterada pelo partido no poder agindo sozinho.
outros, daí ser infi·utífero descrever as funções do governo através de uma lista
3. Todos os adultos que são residentes permanentes da sociedade, são normais
de um conjunto de atividades típicas. Alguns governos não desempenhariam
e agem de acordo com as leis da terra são qualificados para votar em cada
todas elas, c quase todas elas seriam desempenhadas por alguns agentes não-
uma dessas eleiçõess.
governamentais. Portanto, quando tentamos especificar o que os governos têm
4. Cada eleitor pode depositar na urna um e apenas um voto em cada eleição.
em comum, somos levados de volta àquela definição algo vaga dada acima.
5. Qualquer partido (ou coalizão) que receba o apoio de uma maioria dos elei-
Apesar de sua imprecisão, essa definição sugere duas coisas sobre a fun-
tores tem o direito de assumir os poderes de governo até a próxima eleição.
ção do governo na divisão do trabalho. Primeiramente, todo governo é 0 focus
6. Os partidos perdedores numa eleição não podem jamais tentar, por força ou
do pod~:r último na sua sociedade; isto é, ele pode coagir todos os outros gru-
qualquer meio ilegal, impedir o partido vencedor (ou partidos) de tomar posse.
pos a obedecer suas decisões, ao passo que esses não podem coao-i-lo da
' b 7. O partido no poder nunca tenta restringir as atividades políticas de quais-
mesma forma. Portanto, sua função social deve pelo menos incluir a ação
quer cidadãos ou outros partidos, contanto que eles não façam qualquer
como fiador final por trás de todo uso de coerção na resolução ele disputas.
tentativa de depor o governo pela força.
E concebível que diferentes "fiadores últimos" de coerção pudessem
8. Há dois ou mais partidos competindo pelo controle do aparato de governo
coexistir na mesma sociedade, cada um gerindo uma esfera diferente de ação
em toda eleição.
(por exemplo, a Igreja na religião e o Rei na política). Mas em nosso modelo
embora o poder possa ser extremamente descentralizado, supomos que apena~
Já que nossa sociedade-modelo, tal como descrita no Capítulo 1, exibe
todos esses traços, o governo nela é democrático.

3. Roberl A. Dahl e Charles E. Lindblom, Po/itics. Economics and Welfáre, New York, Harper & Brothers,
1953, p. 42.
4. lbid. 5. Ern algumiJs democracias, mulheres ou estrangeiros com residência permanente, ou ambos, não podem votar.

44 45
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UMA TI::OII!A ECONOM!CA DA DEMOCRACIA MOT/VAÇA-0 PART!DAIIIA E A FUNÇÃO DO GOVERNO NA SOCIEDAD E

Uma conclusão importante pode ser tirada da definicão acima· o objeti- Em segundo luga r, os homens que realmente tomam decisões governa-
vo central das eleições numa democracia é selecionar um .:royerno Pol·t~nto mentais específicas são aqueles que ocupam cargos, embora a definição ampla
e:: ' '
qualquer cidadão é racion al quanto à eleição se suas ações lhe possibilitam de pa;tido dada acima sugira que um grande número de outros cidadãos,também
desempenhar seu papel na seleção eficiente de um governo Essa defio.içà_o participa dessa tomada de decisão. É verdade que sua voz, nas decisões, não pre-
específica de racionalidade subjaz na maior parte da nossa análise posterior. cisa ser igual à dos ocupantes de cargos. Mas especificar exatamente quão forte
ela é envolve novamente análise de uma luta de poder intrapartidária.
Consideradas conjuntamente, essas duas desvantagens contrabalançam ~
!f O PAPEL DOS PARTIDOS POLÍTICOS NO MODELO vantagem de ver os partidos como coa lizões. O objetivo de fazê-lo é escapar d~
dilema de falsa personificação versus superindividualismo, descrito no
A discussão precedente mostra quão importante é o papel que os parti- Capítulo 1. Mas essa definição ampla de partido nos atira nas garras do
dos políticos desempen ham no governo democrá tico. Para demo nstrar como superindividualismo, já que não podemos tratar o partido governante como um
aquel e papel é cumprido em nosso modelo, examinamos em seguida a · nature- entidade única, racional, que toma decisão e controla a política governamental.
za, motivos c fu!lcionamento dos partidos. Para evitar esse resultado, redefinimos partido da seguinte mane ira:..IDll
partido político é uma equipe de homens çm~ buscam controlar o aparato Qy
governo obtendo cargos numa eleição devidarn..entç__ ç_on~.ti.tuícla . .f'_QL§.!JW~
A. A natureza dos partidos fHJIÍ!icos en.tendemos uma coalizão cujos membros concordanLS.Qhn::.....t.b.das as suas

"f·-· No sentido mais amplo, um partido político é uma coalizão de homens


que ..btJ.S.C.am controlar o aparato de governo através de meios .legais. Por coa/i-
/
metas, em vez de apenas parte de las6. Desse modo, todos os membros da equi-
pe têm exatamente as mesmas melas que todos os outros. Já que também supo-
· mos que todos os membros sào racionais, suas metas podem ser vistas como
Z(to_, 9!!!:ç_~:!.d_et}l<~S um grtmo de indivíduos 911_e têm certo~ em comJim e \~ uma ordem ún ica e consistente de preferência.
ÇQQj}!;.J:í!UU.al.l[(;J:ij_..ll.illl!..atirui-los. Por aparato de goveny2.,, entendemos o_e11ill:- Com eleito, essa definição trata cada partido como se fosse uma úni ca
p:mw!llo flsi~,;.u.Ê.gil.ls..imJ.i.J:!I~;j~lil<li !J\lÇ.__(l__g~l_ycm.o usa para cumprir seu ÍJapel pessoa; daí poder parecer ser uma falsa personificação. Admitimos que se trata
e.li)lc.cializlli.!u . ua.t.l..iY.i.:;.[\L<ill.. Lu.lh1!Ihíl,J\lt:..!lL0.!LUCg!J.i,L,_ç_[l(QJlÜÇJ.l10S ou e lei_ções de uma abstração elo mundo real , j á que, na realidade, nem mesmo os 1\mcio-
dcvid:um:nk.J.:.illl ~LÜJJÍ\i:I~ ..P\!_)J !Ü!J~JJ.ÇJJIJ.9Lílim!!, .. nários-chave de qualquer governo têm exatamente as mesmas metas. No entan-
Segundo essa det"ini çi"io, qu;ilqul:r um que vote regularmente num parti- to, não somos culpados de falsa personificação porque não postulamos a exis-
do e contribua ocasionalmenle com dinheiro ou tem po para suas campan has é tência de qualquer entidade supra-humana. Simplesmente presumimos com-
um mem bro daqu ele partido, ainda que não aspire a ocupar nenhum ca rgo pleta concordância com relação a metas, entre os membros de uma co<ilizão
político. O p:utido 6, desse modo, um g rupo ele homens, formado livremente, candidata a cargos públicos.
que coopera princi palmt.:nte num esforço de conseguir que alguns deles sejam Estreitando dessa maneira nossa definição, escapamos elo dilema coloca-
eleitos. Enlret<mto, eles podem discordar vigorosamente entre si sobre as polí- do no Capítulo 1 e não obstante construímos um modelo no qual o governo é
tica s que os eleitos deveriam co locar em prática. um agente que toma decisões, separado dos seus cidadãos. Nat11ralmente, não
Embo ra essa definição esteja de acordo com o uso popul ar, ela tem duas é separado de todos os seus cidadãos, já que alguns deles constituem o parti-
desvantagens no que diz respeito ao nosso modelo. Em primeiro lugar, essa do governante. Contudo, podemos razoavelmente supor que a grande maioria
coalizão não possu i uma ordem única e consistente de prefe rênc ia. Seus mem-
bros concordam sob re algum as metas, mas discordam sobre muitas outras. Daí
as medidas tomadas pelo partido como um todo poderem formar uma misce-
lânea de co nciliações- o resultado de uma luta interna de poder e não de qual- 6. Essa definição de equipe e (l definição anterior de coalizão são tiradas de Jncob Marschak, "Towards
an EconomicThcory ofOrganization and lntbrmation", Decision Processes, cd. por R.M . Thrall, C.H
quer tomada racional de decisão. ·
Coombs e R. L. Da vis, New York, .Ioim Wiley & Sons, In c. , 1954, pp. 188- 189.

47
28GG50
UMA TEOIUA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA
MOTIVAÇÃO PARTIDA lUA E A FUNÇ;iO DO GOVERNO NA SOCIEDADE

dos cidadãos não pertence nem à equipe governante nem às outras equipes que
competem com ela pelo poder. Portanto, podemos tratar os cidadãos e os par-
,. Aqu.e.la constituição da nossa naturez_a que nos faz senti.r mais i~lt.en.samentc o, o.. ',uc '\
nos afeta de modo d1reto do qrre o que nos afeta ele modo l!ldneto at1avcs ele outJo,, neces-
tidos políticos como dois grupos mu~amet.!_~~--~_s:Iusivo~~_!9rcer indevi-
damente a rea!jd;;dç. 1 sariamente leva ao conflito entre indivíduos. Cada um, conseqüentemente, tem uma maior
' con.;;iJerac3ü r:cr .):J~~ própriJ. segur2;;Ç?. ou fel1c1dade, do que pela seguri.'tnç·~-J. ou feli.::1d:...Jê r
Há três qualificações para essa conclusão. Primeiramente, em muitas de ~utren;: e,' qu,ando essas entram em choque, está pronto a sacrificar o interesse de
outrem ao seu propno8
J
democracias, o aparato administrativo do governo é tão grande que emprega
uma fração significativa para os cidadãos. Mas, já que não estamos estudando
Ao longo do nosso modelo, supomos que todo agente age de acordo com
o impacto da burocracia sobre a democracia, presumimos que apenas alguns
essa visão da natureza humana( Desse modo, todas as vezes que falamos de
homens em cada ramo da administração são membros da equipe do partido.
ClJt!lllOrtamento racional, sempre nos referimos n comportamento racÍOIJ.f!.L9iri-
Todos os outros são empregados permanentes que não perdem seus empregos
)jitlrl_principalmcnte a fins egoístas. .
quando um novo partido governante toma posse. Além disso, presumimos que
Na 1\'alidadc, os homens não são sempre egoístas, mesmo na políttca. Eles
os membros da equipe controlam completamente a política de todcis os outros.
Jinjiicntcmcnil' J;izcm o que parece ser individualmente irracional porque acre-
Portanto, podemos considerar quase todos os empregados do governo como
cidadãos c não como membros do partido. dit:ltn que é~ socwlmcnlc racion:d islo 6, que beneficia outros mesmo que os
prejudique pcssoalnH:ntc. l'm cxcmplu, os políticos no mundo real às vezes agem
Em segundo lugar, em algumas partes do nosso estudo, tmt<1nms os p;lr-
cumo acham melhor para a sociedade como um todo, mesmo quando sabem que
tidos como se fossem coalizões imperfeitas, em vez de cquipL~s; isto é, supo-
com suas ações perderão votos. Em todos os campos, nenhuma descrição do
mos que existem lutas de poder intrapartidárias. Fazcmus essa altera<;ão tem-
comportamento humano está completa sem men<;ão a esse ;lltruísn)n(nqueles
porária de dcfini<;ões porque ela nos permite analisar as lutas intrapartidárias,
que o possuem estão entre os heróis que os homens justificadamente admiram.
não obstante não leve a conclusões incompntíveis com aquelas tiradas da visão
dos partidos como equipes. As teorias gerais ele ação social, entretanto, sempre se' apóiam pesada-
mente no axioma do interesse pessoal. Praticamente toda a teorin econômic:1,
Finalmente, embora haja outras coalizões e equipes na sociedade além
por exemplo, se baseia nessa premissa. Como disse Adam Smith:
dos partidos políticos, reconhecemos spcnas três tipos dsqucles que tomam
lkcisões políticas em nqsso modelo: partidos políticos, cidadãos individuais
( O homem tem oportunidade quase constante de ajudar seus irmãos e é em v:!o que
c grupos de interesse. Essa última categoria inclui tanto indivíduos quanto I ele espera a ,~juda vir da benevolência deles apenas [... ] Não é da benevolência do <lÇ<HI·

~
1
coalizões nüo-partidúrias como corporações, sindicatos trabalhistas e associa- uciro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas do respeito deles por
<;Õcs comcrciais7. seu próprio interesse. Nós nos dirigimos não à.·~ua hu1~1anidac:c n~as a~l seu amor ~1-or,~'
mesmos, e nunca falamos a eles de nossas prop11ds necesscd,;des mds de suas Vclntlgcns

B. O axioma do interesse pessoal Sua argumentação se aplica igualmente bem à política. Portanto, 1J.J.:cita-
mos o axioma do interesse pe.ss.o.al como Jllllil pedra 8ngrtlor de nossa ouális..c,
Exatamente com que metas todos os membros de cada partido concor- Exatamente o que significa interesse pesso8l ficará elmo quando descrever-
dam? A fim de responder a essa questão, apresentamos aqui um axioma cru- mos em detalhe como se comportam os diversos tipos daqueles que tomam
cial para todo o restante de nosso modelo. Supomos que todo indivíduo, embo- decisões políticas, no modelo.
l;il racional, seja também egoísta. A significação desse axioma do interesse
pessoal foi exposta por Jolm C. Calhoun da seguinte maneira:
8. John C. Calhoun, ''Disquisition on Governmcnl", Pubíic Opinion mui Propaganda , t_'d. por K;ll/,
Cartwri2ht, Eldersvcld e Lee, New York, The Dryden Prcss, 1954, p. 15.
9. Adarn S~nith, The /Yealth of.Nations, f'dodcrn Library Edition, Ncvv York, The Modtrn Library, 1937,
7. Para uma discussão detalhada c derinição de grupos de)nlt!l'esse, ver Capítulo 6.
p. 14.
48
49
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA
MOTivAÇÃO PARTIDARIA E A FVNÇlO DO GOVERNO NA SOCILDADE

C A motivaçào da açâo partidária


. d )articla extremamente írrealista para uma teoria da ativiclaclc cconô-
ção serta
tnica numaumsocJedac c:
ponto I e cometei,
."··ri c que nos sairíamos bem melhor se partíssemos de propo-
Do axioma do interesse pessoal nasce nQ~a vi;;ão _QQlj.ue motiya..as_a.ÇJS.es
siçõcs sobre lucros 10
políticas dos membros partidários. Supomos que eles a2em somente com o
intuito de obter renda, prestígio e poder que resultam de estar no cargo. Desse Aplicando a mesma argumentação à política, disse ele:
modo, os políticos no nosso modelo nunca buscam o poder como_ljmmeio de
executar políticas específicas; seu único objetivo é colher as recomill<n.§as __çie . ·r1cad0 ou função social ela atividade parlamentar
Juua/mentc, o s1g111 . d é,' sem
c1 . ciCtvida,a
ocupar um cargo público per se. Eles tratam as políticas puramente como c JcaJsiaçao
duz1r . - e em P arte ' medidas administrativas. Mas a f1m e enten e1 como t't' r
meios de atingir seus fins privadós, que eles conseguem alqançar somente se pro . . d "' ..·t1. c.1 'aten d e a essa f'ma l'clade
1 social , elevemos partir ela luta. compe. . 1 1\0a
forem eleitos. po. htlca emocla '· . b que a função social é preenchida, por assim dizer, lllCiclcn-
p clo poder e cargos c pel ce er . - d I . .JJ
tal mente- no mesnl. o s cnticlo que a ])l'Odução é incidental a produçao e uel os .
Sobre essa argumentação se assenta a hipótese fundamenFal de nosso
modelo: illL)2llJJ..id.rui__frmnulam políticas a fim de ganhar eleições, c não
? •anham eleições a fim de formular políticas. Esse insight brilhante resume toda a nossa aborda~em elo ii.mcionan:en-
.
to d o governo. Ele
- se iguala à análise dual de orgamzaçoes feita pelo socwlo-
À primeira. vista, essa hipótese parece tornar nosso governo-modelo
go Philip Selznick, que escreveu:
incapai': de desempenhar sua função social. Aos olhos dos cidadãos, a fun-
<,:ão do partido governante na divisão do trabalho é formular e executar polí- .
Todas as organtzaçoes , I s~ro
-" f'orn1a·s ' mold·lclas
' por forças
. - tangenciais a .suas, estruturas
T .
ticas, nuo proporcionar aos seus membros renda, prestígio e poder. Todavia,
das~ : ~~:;~:~1~~~~a~:~s~:~,:'~~~~~~::~;~~::~ ~:1 ~i':~;;~;lstc~ 1~~r:;~~~t 0 ,.z~:
1 1 1 1 1 1
em nosso modelo, o partido governante executa essa função apenas na racionalmente ordcnta
·ccursos humanos c ecnlcos . , El . , "o
medida em que Lvê-lo promove as ambições privadas de seus membros. Já I1 , l . l .. ·t ,, 113 tendem a resistir a ser tratados como mctos. es lntc:l cl"'em
mhv1duos c cnt1o c o Sls et ' . · · · [ ] S,, c se
quG essas ambiçõGs não são per se relacionadas à função do partido gover- ,_ tos f·r-L·enclo valer seus próprios problemas c objetivos cspcctats ... , Cic,U -,
COlllO COI1Jlln , c ' · - fl t' ..' OS esforÇOS
l , c /verá uma estrutura informal dentro da orgamzaçao quere c lld ', , . ,
nante, como podemos esperar que a busca daquelas realií'.cm essa? - - 1
. , -' , s de indivíduos c subgrupos para controlar as com1IÇOCS c c sua_~ IS
que se c csc.nv' x 'tcncn [ ]
espontanco~_
' " ...
;\parcnlemente, nosso modelo não contém governo vdvel porque confunde A estrutura m f'OJm,
- 'li ·S''l.:l
.__ ' "'lO n1csmo tempo indispcnsúvcl ao, e tcrú consequencws pald, o
f' illS G meios.
próprio sistema formal de delegação c controJel2
Essa crítica pode soar plausível, mas L~ completamente falsa. Mesmo no
mundo real, quase ninguém cumpre sua função na divisão do trabalho pura- Claramente, o objetivo formal dos partidos políticos- formular e, e~~cu:
mente por ela mesma. Ao contrúrio, cada uma dessas funçôes é executada por tar políticas quando estão no poder- não é a única coisa que uma ana,IIse de
alguém que é estimulado a agir por motivos privados, logicamente irrelevan- '
governo l
ceve Ievdl
, . em cor1ta'· Igualmente significativa
" . é a. estrutura mtormal,,
tes;\ sua fi.m<,:ão. Desse modo, as fun<,:ôcs sociais são, em geral, os subprodu- isto é, a estrutura que se centra em torno dos motivos pnvados daqueles que
tos da a<,:ão humana, e as ambições privadas, seus fins. Essa situação resulta ..
dmgem ca d a par·t'do
1 · Nosso modelo tenta combinar ambos os elementos numa
diretamente do axioma do interesse pessoal. Como afirmou Joseph teoria coerente de funcionamento governamental.. -
Schumpeter convincentemente:
Embora essa teoria se baseie no axioma do mteresse pessoal, nao supo-
mos que as ambições privadas dos membros do partido não tenham lnmtes. O
Não se conclui que o significado social de um tipo de atividade necessariamente for-
ncccrú a força motriz, daí ;1 cxplica\;!o do último. Se isso não ocorre, uma teoria que se
contente com uma anúlisc do fim ou necessidade social a ser atendido não pode ser aceita
como uma descrição adequada das atividades que a atendem. Por exemplo, a razão por que
I O Jose )h A_ Schumpeter, Capitalism. Socialism. and Democracy, Ne~v Yo-~ "k , Harper
. ~ - & Brolhers
_. ~~, 19\0
- . : p. 282.
.,
hú algo como a atividade econômica é, naturalmente, que as pessoas querem comer, vestir· 11 lbid.l A an81ise prolllllcla da democracia feita por Schumpeter c a 111Sp11'8Ç80 e tunclam~nlo ele tOdd a
se, c assim por diante. Proporcionat· os meios para satisfazer qssas neccssid;Jdcs é a finali- ·sa tese e nnssa dívida c gratidão a ele são realmente grandes.
dat.lc ou significado social da produção. No cnt;mt?,·toclos concordamos que essa pmposi- - "A Theory ofOrganizationa! Commitments", Rea der 111
nos ' Selznick,
12. Philip · Bureau c!acv
. . , ecl . por Merton,
~.1cl1coe, 111inois, The Free Press. 1952. pp. 194. 195.
Grny, Hockey e Selvin, u
50
51
..
28GG~)U

.. •~ ~ .J

UMA TEORiA ECONÔMiCA DA DEMOCRACiA


MOTII~4ÇÃO PARTiDA lUA E A FUNÇÃO DO GOVERNO NA SOCiEDADE

interesse pessoal de cada um tem pelo menos dois limites: (I) ele não co
me- A. Implicações normativas
terá atos ilega is, tais como aceitar subornos ou usar seu poder para violar
a
constitui ção e (2) e le não tentará se benefi ciar à custa de qualquer outro i\fodelos éticos, ou normativ os, de política democrát ica ger2.lmen te são
mem-
brü de su:; própn~< equipe partidária . A inda que ambos esses limites
sejam construíd os da seguinte maneira:
irrea listas, sem eles nossa análi se teria que ser amp liada para além do a
lcan-
ce deste estudo.
J. O criador do modelo postula certas metas como "boas".
2. Ele delineia o comporta mento necessári o para alcançar essas metas.
3. E le conclu i que esse comporta mento "deveria" ser posto em ação
pe los
D. A meta especifica dos partidos membros de sociedad es democráticas reais.

Os po líticos , no nosso modelo, são motivado s pelo desej,o do poder, Entretant o, os criadores desses modelos ne m sempre consid eram se o
pres tígio c ren da c pelo amor ao conflito, isto é, a "emoção do jogo", comporta mento que e les advogam como bom é também racional no se
comum a muitas ações que envolvem ri sco. No entanto, el es não co ntido
ns e- econômic o . Um homem que é bom aos olhos deles pode ser inca paz de dcsem-
guem obtl:r nenhuma dessas dcsidcmt a , exceto a última, a menos que
seu pcni1:1r eficien temente sua funçã o na divisão do trabalho. _Na realidade , o
partido seja e le ito para o cargo. Portanto , não distorcem os os motivos com-
dos portamen to bom, como eles o defi nem, pode ser tão meficien te qu e sua preva-
membros part.id:írios ao dizer que seu objetivo prime iro é ser eleito.
Isso, lência destruiria o próprio estado socia l que desejam. Se é assim, suas prescri-
por sua vez, implica que cad a partido procura r ecebe r mais votos do ções no rmati vas sfío realment e contrad itória s; daí sua concepçã o de comporta
que -
qualquer outro.
mento bom ter de ser reexamin ada.
Desse modo, nossa argumen tação nos levou do axioma do interesse pes- Essas co ntradiçõe s não podem ser descober tas num modelo normativ o, a
soal para o governo de maximi zação do voto, desc rito no Capítulo l. O menos que o comporta mento prescrito como bom seja testado do ponto
part·i- de
do qu e dirige esse governo manipula suas políticas e ações da m ane ira que
ek vi sta de sua racionali dade. Ao transform ar nosso modelo pos iti vo num mode-
:1credita que isso lhe trará mais votos, s~:; m violar os prece itos constituc iona lo normat ivo, podemos fornecer uma excelente ferramen ta pma esse teste.
is. Na
l•: videntem cnte, esse Ctl mportam ento implic:1 que o partido governan te
esti1 sua forma positiv<J, nosso modelo contém um conjunto de condiçõe s que
eo nsc ie nte de uma rel a.,-.iin definida e ntre suas políti cas e o modo como con-
ilS sideramo s meramen te como descriçõe s das reg ras reais da sociedad e. Mas
pessoas votam. Nos prú xi mos dois capítulos , examinam os essas afirmativ exa-
as tamente as mesmas condiçõe s podem ser deduzida s de certos preceitos éticos;
1
em detalh e.
daí e les poderem ser vistos quer positiva quer normat ivamente .
1 Por exemplo , co nsiderem esses dois pan\metr os no modelo:
cada cidadão
tem direito a um voto e o partido qu e receber o maior número de votos
depo-
l/f. A 1</JA(.'AO I><> MOVHO COM A ÉTiCA E A CIÊNCIA DESCRITIV.' l sitados na urna é el eito . Em nosso estudo, essas regras meramen te descreve
m
que é feito na sociedad e. Mas, no modelo normativ o construíd o por Dahl
0 e
O modelo neste es tudo ocupa uma zona de penumbr a entre os modelos Lindblom , as mesmas regras denotam o que deveria serfeito porque denvam
normativ o c desc ritivo. Nilo é normativo , porque não contém postulado s
éticos dos seguintes ju ízos de va lor:
c n5o pode ser usado para determin ar co mo os homens deveriam se compor-
lar. Nem é puramen te descritivo, jú que ignora todas as considera ções A democracia é. uma meta, não uma façanha[ ... ] A meta dc1nocrática tem
não- dois lados.
racionais , tilo vi tai s para a política no mundo rea l. Todavia, ele se relaciona Consiste de uma co ndi ção a ser atin gida e de um princípio que guia o procedime
a nto para
ambas essas fa ses da economi a po lítica e tem uma fun ção distinta em alin gi- \a. A condição é. a igualdade política, que definimos a seguir:
cada
uma delas.
O controle sobre as decisões governamentais é compartilhado de modo que
as prefe-
rên cias de neHhum cidadüo pesem mais do que as preferênci as de qualquer
outro cidade/o.
52
53
UMA TEOIIIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA MOTJV,JÇÃO !W?TIIJ IÍRIA E A FUNÇÃ O DO
GOVERNO NA SOCIED.4DE

O princí pio é o da maiori a, que defini mos da segu Em segun do lugar, o mode lo nos diz que compo
inte mane ira : rtame nto pode mos espe-
rar se os homens agire m racion alme nte na polític
As decisõe s govern amentai s deveriam ser control a. Assim , pode talvez ser
adas pelo maior número qu e usado para descob rir (I) em que fa ses da polític a
express a suas pre ferências na "úl tima pal avra"i 3 no mundo rea l os homen s são
racion ais, (2) em que ràses s3o irracio nais e OJ
como se aiasta m da racwn all-
Igualm ente, muito s out ros parâm e tros que usamo dade, no segun do caso .
s positivament e podem Em todos esses modos , espe ramos que o model .
se r consid erados co mo expres sões prática s de axiom o ajude a guiar a pesqm -
as éticos , sa empír ica a invest igar questõ es impor tantes,
Conseq üentem ente, o cri ador ou avalia dor de um em vez de questõ es triviais .
model o norma tivo pode Entret anto, o model o não é uma tentati va de descre
ac har que seu modelo contém mui tas das mesm ver a realid ade com preci-
as regras de com portam ento -
qu e o nosso. Se isso ocorre r, el e pode usar nossa sao. Como todas as constr uções teóric as nas ciênci as sociais, e le trata algum as
descrição positiva de compo r- variáv eis como c rucia is e ignora outras q ue
tamen to racion al para c heca r a eficiên cia do compo realme nte exerce m algum a
rtame nto que e le consid e- influê ncia. Nosso modelo, em partic ular, igno ra
ra bom. Qualq uer diverg ê ncia que ele encon tre lança todas as forma s de irracio na-
dúvida sobr~ a e xeqüib i- lidade e compo rtame nto subco nscien te, ainda
lidade ele suas prescr ições e, porta nto, sobre o quão que e las desem pe nhem um
boas e las realm ente são.
Embo ra nosso mode lo possa, desse modo, ser u pape l vital na polític a do mundo real.
norma tivas, nós o e mpreg aremo s com esse objeti
sado para testar teo rias o fato de nosso estudo ser positivo mas não descnt. 1vo . . .
da ongcm a uma
vo apena s quand o hou ve r difi culdad e inerra di cúve l de expos ição. As afirma
uma ditere nça notáve l en tre compo rtamen to ra cional ç ões, na nossa a ná lise, são
c algum conhe cido pre- verdad eiras em relaçã o ao mundo -mode lo, não ao
ce ito para comporlaln<.:nto bom. t:ssas referê ncias mund o real, a menos que se
ocnsio nais a um mode lo eti- refira m de modo óbvio a esse último. Dessa ma ne
camen te ideal não devem ser conJi.mdidas com nossas ira, quand o fazem os comen -
referênci as freqüe ntes a tários não-q ualific ados sobre como pensam os home
um (mod elo ide a I d,, ponto de vista inform ac ion ns, ou o que faz o gover-
nl./ Const ruímo s esse último no ou que estraté gias estão aberta s aos partid os
nos Capítu l os 3 c 4 presum indo qu e a inform ação de opos ição, não estam os nos
pe rfei ta este ja ú di sposiç ão ref~rindo a homens, govern os ou partid os reais, mas a seus
de todos :1queles que to m am <keisões. O " mundo suced âneos -mode -
certo" que surge serve como
uma nonna pos iti va par:1tk tcrmin :1r o impac to da lo no mundo raciona I do nosso estudo .
incerte za c o custo da infor- Deve-se ter essa distinção constantemente em mente;
nw~::lo suhrL: a dcnwn aci:1. senão o leitor pode
condenar muitas de nossas afirmações como errône
as do ponto de vista Ültual,
qwmd o elas não são, de modo algum, realmente asserç
ões factuai s. Se surgir con-
fusão, apesa r de nossas precau ções, pedimos ao leitor
li. fll lfllimc rlcs descr itivas essa indulg ênci n: sempr e que
ficar tentado a achar que uma asserção é empiri camen
te fal sa, qu e e le provlsona-
mc nte suponh a que el;i se refere apenas ao modelo.
 rl' l ev:u~ei : l do mod e lo neste estudo para Se ela, então, se encaixar logi-
a ciênci a descri tiva é dupla. camen te, essa suposição é correta ; se não, nossa análise
Em prime iro lugar, pro piie uma únic a hipóte se para precisa ser melhorada.
explic ar a tomad a de dec i-
são govem amcnt al e n co mport ament o partid ário,
em gera l. Já que essa hip ó-
tese leva a corolú rios verific úveis, eln pode ser
subme ti da a co mprov açilo
empír ica. SL: vcrific:l<i:l, pode leva r a conc lusões IV RESUMO
não-ób vias sobre as açôes c
desenvo lvimen to do s p:1rt idos, trazen do ac résc imos,
portan to, ao nosso conhe - N este estudo , o governo é defini do como aque le
cilllen lo da n;alida d e '' · agente especi alizad o na
divisã o do trabal ho que pode impor suas deci sões
sob re todos os outros age n-

I 3. Dahl c Li ndblom. op. cit., p 41


senws, a maior part e das in st itui ções, nele. se tornmiru
n inút eis como ba se s de compara ç8o com !li1SSO
14. Entrctnnln, o nwndo de inf(mna çiln perfC ita
é lão radicai.Jllente difeJ:t:nte de qu alquer "mundo incerto" modelo rea l. Portanto. csboçnremos apenas algumas
qua lidades do modelo idea l do ponto de visw in for-
que nào roch:mns levar nnssn mode lo ide.:l ! do
maciona\ e i ~norare nos muitos dos problemas
po nto de viaa informaciona ! !O llf!C demais . Se
o rlzés~ 1 que ~urgiriam se t~ ntásscmos ck:sc revê-l o em dcta
iiH.: .
54
55
UMA TEOR IA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA

tes ou indivíduos na áre·


. ' d.
u d . . .
m governo emocrat1co e aquel e escoll ·d ·
drcamente · d 11 o pe no-
, por· mew c e leições populares nas quais dor· s .
ou ma1s partidos
competem pe los votos de todos os adultos.
. Um partido é ~I ma equipe de indivíduos que procuram controlar o apara-
~~ de governo atr~v~s da ob te nção de cargo numa eleição. Sua função na divi- 3
sao do trab alho e formul ar c executar políticas governamentais sempre ue
consegurr chega r ao poder. Entre tanto, seus membros são motivados por ;eu
desejo pessoa l pela renda, prestíg io e poder qu e advêm da ocu - d
D · d · paçao · o cargo A LÓGICA BÁSICA DO VOTO
essa man e rra, ese mpe nh a r sua função socia l é para eles .. d .
. , b. - . ' , um mero e alcan-
çar suc~s ,lm rçoes pnvad as. Embora esse arranjo possa parece. t h ,
encontndo i · · · · · 1
es ran o e
, 'o pnncrpro ao fim da divisão do trabalho por causa d
·. d · .
Cid o Int eresse pessoal na ação humann.
· .a preva I:en-

. Já que nenhum dos co mpl ementos do cargo pode ser obfd .


e le t . .· . · I o sem que se 1a
J o, .t prmc Jpa 1 meta de todo partido é ga nh ar as eleições A . d· ..
su·rs .. ~ . . ·.. . . . _ . ss1m, to as as
. , . açocs VJS,llll a maxJmJ za~· ; ro dos votos e e le trata as pol 't . , .. · .1
t. . I tcas Simp csmen-
c como me1o para alcan<;ar esse fim.
Embora nosso mode lu seja puramente positivo I d .
l , ·t. . . ., . · .. . · ' . ' e e po c ser usado para
cs di ,r J,tcwnalJdade de comportamento prescrito em m ode los pol 't. . .
lll 'tli V N .' . I JCOS noJ- INTRODUÇÃO
• os. a CJcnc Ja d esc riti va , e le (I) promove a hipót , l, . . -
t . . _ ese < c maxnmzaçao do
vo o como un.Ja cx pl!cr,:ao de com portamento político dcmoc r·ítico e (2)
tn'>i un · ·· · ' con s- t_A fim de pl anejar suas políticas de modo a ganha r votos, o governo deve
. · .... · nonna posJ!.i\';t pc l:l qual se distingue entre co ·t· .·
J.t
,.
L. lll,JCJOIJ;ti Clll JlOlilll::t.
mpo1 .tmcnto raciOna l descobrir alguma re lação entre o que faz e como os c idadãos vot a n~ Em nosso
mo de lo, a relação deriva do axioma de que[9s cidadãos agem rac io nalmente
em políticajEsse ax ioma implica que cada[.:idadão vota no pa rtido que e le
acredita que lhe proporcionará ma is beneficios do que qualqu e r outr':Y
Embora essa definição pareça óbvia, ela renlmente se baseia em conceitos
que são tanto compLexos quanto ambíguos. N esse cap ítulo, nós os exa minamos
c uidadosamente a fim de mostrar o que o "voto racional" realmente implica.

I. RENDA DE UTILIDADE PROVENIENTE DE ATIVIDA DES GOVERNAMENTAIS

l ?s benefícios que os e leito res consideram , ao toma r suas decisões, são


flu xos de utilídad:_pbtidas a partir da atividade gove rnamenta l. Rea lme nte,
essa defi nição é circular, po rque definimos utilidade como um a m edida de
beneficios, na mente de um cidadão , que ele usa para decidir e ntre caminhos
alternativos de ação. Diante de dive rsas alternativas mutuamente exc lusivas,
lum homem raci onal semp re escolhe aquela que lhe traz a ma io r utilidad e~
ceteris paribus; isto é, e le age para seu próprio e maior be ne fi c io. Essa é a
5()
57
2 8 GG~) Cl0l'
t::o J (,J,hl
r 1.

UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA A LÓGICA BÁSICA DO VOTO

conclusão direta que se pode tirar da defin ição de racionalidade dada no JI. A ESTRUTURA LÓGICA DO ATO DE VOTAR

Cap ítulo I.
Todos os c idadãos estão constantemente recebendo fluxos deLbenefícios A. Termin ologia da análise
pro\'ementes de ati\'idades govemamemaisj Suas nus são poiiciadas, a agua
punflcada, as mas consertadas, as praias defendidas, o lixo coletado, o tempo Ao definir renda como um flu xo de benefícios, envolvemo-nos no tempo,
previsto etc. Esses benefícios são exatamente iguais aos benefícios que recebem já que flu xos só podem ser medidos como taxas por unidade de tempo. A uni-
da atividade econômica privada e são identificados como sendo produz idos pelo dade de tempo que usamos é o período eleitoral. Ele é definido como o tempo
governo apenas por sua fonte. Natu ralmente, há enormes dife renças qualitativas que decorre entre eleições e constitui a principal unidade de julga mento na
entre os benefícios recebidos, digamos, da defesa nacional e da ingestão de torta mente do eleitor.
na sobremesa. Mas não importa quão diversificados, todos os beneficios devem Pelo menos dois períodos eleitorais entram nos cálculos de um eleitor
ser reduzidos a algum denominador comum para fins de alocação de recursos racional: o qu e se segue à próxima eleição e o que termina no di a da eleição.
escassos. Isso é igualmente verdadeiro no caso de beneficios dentro do setor pri- Nós nos referiremos a esses períodos como t+ I e t, respectivamente.
vado. Chamamos o denominador comum usado nesse processo de utilidade. Para ilustrar a análise verbal, também empregamos diversos outros sím-
Um cidacl?ío tem a possibilidade de receber utilidade a partir de acon teci- bolos, como se segue:
mentos que estão apenas re motamente vinculados ú sua próiJI'ia rend a material.
Por exemplo, algu ns cidadãos cons iderari am que suas rendas de utilidade U representa a renda de uti lidade hipotética ou real, provenien te de ativid a-
teriam aume ntado se o governo subisse os impostos so bre elas a fim de distri- de govername ntal , recebida pelo e leitor individual durante um período
buir alimentos grá tis para chineses üunintos. Não pode haver uma identifica- eleitoral ' .
ção simples entre "ação em nosso próp rio e maior bencllcio" c egoísmo no sen-
tido estrito, porque a carid ade desin teressada é ti·cqiientemente uma g rande A é o partido no poder, isto é, o partido govern ante no perí odo l.
font e de benefícios paw nús mesmos. Ass im , nosso mod elo deixa espaço para
o altruísmo, apesar de se apoiar basicamente n o ~xioma do interesse pessoa0 B é o partido ele oposição, isto é, o partido que não est~1 no poder no período
l Jsando esse conceJlo amplo de Ui.JiidaJc, podemos üliar ele uma renda de t. (Na primeira parte ela aná lise, supomos um sistema b ipart id úriu.)
utilidade proveniente da at ividade governamen ta l. Essa renda inclui beneficios
qu e. o bencf'i ciú rio não percebe que está recebendo. Também inclui benellcios U" representa a renda de utilidade realmente recebida dura nte um período. !': a
qu e ele sabe estar recebendo, mas cuja fonte exata ele não conhece. Por exem- renda de utilidade proporcionada pelo partido no poder durante aquele período.
pl o, muitos c idadãos provavelmen te não se dão conta de que a água que bebem
é fisca lizada por um agente govern amental. Se a inspeção fosse interrompida, U representa a rend a de utilidade que o eleitor acredita ser a maior qu e ele
eles poderiam não perceber que sua s rendas de utilidade hav iam di minuído até poderia ter recebido durante algum período. l~ a renda de utilida de que o
que recebessem úgua poluída. A inda assim, nem todos eles sa beriam que uma govern o idea l ter-lhe-ia proporcionado se tivesse estado no poder durante
suspensão de at ivi dad e governamental causa ra essa queda de renda. aquele período.
O fato de os hOtm:ns poderem receber renda de utilidade proven iente de
ações governamentais sem se darem conta de rece bê-la pode parecer vio lar a E representa o va lor esperado.
d,efinição l;abitua l de renda. Contudo, devemos insistir nela, porqu~ma estra-
tegica polJtJca Importante dos governos é fa zer os eleitores perceberem os
b e n ef~ci~s qu e j á estão recebend3 Entretanto, apenas os beneficios dos quais
os eleitmes se tornam consCientes podem mfluene1ar suas decisões de voto · de Nas fOrm ulas, mantivemos.D U da expressão " util it y income", utilizilda por Downs pa ra se rc!"Crir ao
outro modo, seu comportamento seria irrach;niat ' conjunto de bencllci os provenientes de ações govername nta is recebidos pelo eleitor (N. da T.)

51! 5Y
A L6GICA B;/SICA DO VOTO
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA

B. Os diferenciais bipartidários Como um dos partidos concorrentes já está no poder, seu desempenho no
período t dá ao eleitor a melhor idéi a possível sobre o que fará no futuro,
,LCada cidadão, no nosso modelo, vota no partido que ele acredita que lhe supondo que suas políticas tenham alguma continuidade 4 Mas seria irracional
proporcionará uma maior renda de utilidade do que qualquer outro durante 0 comparar o atual desempenho de um partido com o desempenho futuro que se
próximo período e leitora~ Para descobrir qual partido é esse, ele compara as espera de outro. Para uma comparação válida, ambos os desempenhos devem
rendas de utilidade que crê que receberia, caso cada partido estivesse no poder. ocorrer nas mesmas condições, isto é, no mesmo período de tempoLPortanto,
Num SIStema bipartidário, essa comparação pode ser montada como uma sim- o eleitor deve pesar o desempenho que o partido de oposição teria tido no
ples subtração: período t se tivesse estado no poder.J
De fato, esse desempenho é puramente hipotético; assim, o eleitor só
pode imaginar qual renda de utilidade teria obtido graças a ele. Mas o futu-
ro do partido B é hipotéti co também -· ass im como o é o do partido A. Desse
A diierença entre essas duas rendas de utilidade esperadas é o diferencial modo, ele deve comparar ou (1) duas rendas de utilidade futuras hipotética s
partidário esperado do cidadão-lSe for positivo, ele vota nos ocupantes do ou (2) uma renda de utilidade presente real e uma presente hipotética . Sem
cargo;. se f(lr negativo, vota na oposição; se for zero, se abstém2.\ dlivida, a segunda comparação lhe permite fazer um uso mai s direto do s
1\ primeira vista, o voto racional parece ser, desse modo~ uma questão fatos do que a primeira . Não apenas um de s~us termos é uma entidade real,
muito sirnples. Mas sua aparente facilidade é enganadora, pois uma pergunta mas o outro pode ser calculado em vista da situação da qual nasce. Se o elei-
crucial permanece: como um eleitor racional deveria calcular as rendas de uti- tor comparar rendas de utilidade futuras, não aproveita nenh u ma dessas
lidad e esperadas c das quais ele deriva seu diferencial partidário esperado? É duas vantagens./J?ortanto, acreditamos que é mai s racional qu e ele baseie
ao responder essa pergunta que encontramos dificuldades. sua decisão de voto nos eventos atuais do que simplesmente em eve ntos
Quando um homem vota, ele está ajudando a se leciona r o gove rn o que 0 futurosj
govcnwrú durante o próximo período eleitoral (isto é, o período 1 + /). Conseqüentem ente, a parte mais importante da decisão de um eleitor é o
Ll'ortanto, C<ll1lO acaba mos de mostrar, ele toma sua dec isão, comparando os tamanho de seu diferencial partidário atual, isto é, a diferença entre a renda
dt.:scmpcnll\ls futuros que csper~1 dos pa rtidos concorrentes. Mas, se for racio - de utilidade que ele realmente recebeu no período te aquela que teria recebi-
nal, de saht: qut: nt:nhum partido serú capaz de fa zer tudo o que diz que fará. do se a oposição estivesse estado no poder5 Algebricamente, essa entidade é
i\ssim, nilo pode simplt:smente comparar plataformas; em lugar disso, deve calculada da seguinte maneira:
estimar, em sua própria mente, o que os particjos realmente fariam se estives-
sem no pode(l.
"·.\

É o determinante principal de seu diferencial partidário esperado.


Entretanto, essa conclusão não significa que os ci cladilos, no nosso mode-
1. D~l<juÍ em di<t n!c, o lermo renda de utilidade se rclCrc cspccificnmente à renda de utilidade provenien- lo, ignoram o futuro quando estão decidindo como votar. Obviamente, essa ati-
te: de atividade govcrnnmental, a meno s que se di gno contn:irio.
tude seria irracional, já que o objetivo ele votar é selecionar um futuro gover-
Discutiremos a regra de dccis11o parti sistemas mult ipnrtid,i rios pos teriormen te nesse capítulo.
2.
no. Portanto, o homem racional no nosso modelo aplica dois modificadores de
3. O partido governante, no nosso modelo, tem pode res tão amplos que talvez pudesse cumprir todns ,15
stws promes sas. ContuUo, supomos aqui que ele não consegue t-à zê. Jo, por duas razões: ( 1) no mundo
real e no nosso próprio modelo de incerteza, o governo nfio rode prever todos os obstáculos qu e
en con trar{!; evident emen te, esse f'~ltO tem rep ercussões nn cstruturfl de opinião dos eleitore s; e (2)
A tendência de todo par! ido raciona l de manter co1Hi nu idade em suas politic<1S é discuJ ida no Capítulo 7.
num sistema bipartidário, cada partido deliberadamente lfaz promes~as amb íguas; da í <lS pl al<l fornws
4.
5. Para evitar confusão, adotamo s a seguinte regra: sempre que o term o d{(ereu cia/ parlidário aparece sem
serem arautos insatisfató rios de ações até mesm o e m'n?SSO.Jflodelo. O segundo pomo é discuti do em
o adjetivo atual acompanhando-o, ele st:mpre dcnot<l o di thencial partidári o e~perado.
detalhe no Capit ulo 8.
(i(}
ól
UMA TEO/i/A ECONÓM ICA DA DEMOCI/AC/;1
A LÓGICA BIÍSIC4 DO VOTO

orientação futura a esse diferenci al partidário atual a fim de calcu lar seu dife- eleitor entre as futuras projeções desses dois conjuntos ele política. Mas se as
rencial partidário esperado. políticas da opos ição são idênticas àquelas elo partido no poder, a mera proje-
ção não proporciona aos eleitores uma escolha real. Nesse caso, seu julgamen-
ro expressa se cks aval iam a fo lha de serviços dos ocupames do cargo como
C Ofátor tendencial e avaliações de desempenho boa ou ruim, segundo algum padrão abstrato.
Desse lnodo, toda eleição é um mecanismo de sinalização assim como
Podemos chamar o primeiro desses modificadores simplesmente defator um se lec ionador de governo. Entretanto, num sistema biparticlário; ela se limi ·
tendencial. Trata-se do ajuste que todo cidadão fa z em seu diferencial partidá- ta a dar um de dois sinais. Os ocupantes do cargo sempre consideram a ree lei~
rio atual para levar em conta qualque r tendência relevante nos acontecimentos ção como um mandato para continuar suas políticas anteriores. Inversamente,
ocorrida dentro do período eleitora l atual. Por exempl o, vamos supor que um o partido de oposição considera seu triunfo como uma ordem para alterar pelo
eleitor acredite que o atual governo cometeu muitos erros logo ao tomar posse, menos algumas das políticas dos ocupantes elo cargo; do contrário, por que as
mas melhorou de forma constante, c agora estú governando habilmente. Ele pessoas terimn vo tado nele'l Em su ma, o resu ltado pede ou "nenhuma mudan-
pode sentir que essa habilidade prevalccerú ao longo de todo a próxi mo perí o- ça" ou "mudança". Ass im, sempre faz diferença qual partido é el eito, não
do eleitora l se os ocupantes do ca rgo l(Jrem ree leitos. Portanto, ele aj usta seu importa quão semelhantes sejam suas folhas ele serviços no período t. Se a
di lcn;ncia l partidúriu atuil l para eliminar o impacto dos erros iniciai s. oposição ganh ar, certame nte executará políticas diferentes daquelas que o par-
lnversilmen tc, se c: lc sentir que o governo co meçou extremamente. bem mas tido no poder executari a se tivesse sido ree lei to.
tkgc ncmu de maneira contí nua, ele poderú projetar somente o mau desempe- Entretanto, ningu6m sabe de antemão exatamente que mudanças de políti-
nlw em seu diferenc ial partid{u·i o esperado. cas a oposição brú se for eleita. Nem se pode descobrir isso olhando-se para a
O segundo mod ifi cador entra em jogo apenas qua ndo o cidadão não con- fi1lha de serviços hipotética ela oposição no período t, jú que (estamos supondo,
sGguc ver qualquer diferença entre os dois partidos concorrentes; isto é, quan- aqui) ela é idêntica à dos partido no poder. Mas se os homens niío sabem o que
do <tcha que el es tê m platafo rmas e políticas correntes idênticas6 Para Cugir signil"ica i! mudança, como podem vo tar racionalmente a 111Vor dela ou contra ela'l
d.:ssc impasse, ck altera a base de sua decisão, colocando a questão de se os Os homens racio nais niio estão interessados nas políticas per se, mas
ocupantes do l'<trgo govcmaram ou não tão bem quanto seus antecessurL>s. em suas pró pri as rendas de utilidade. Se suas rendas de utilid ad e prese ntes
Nosso uso tkssc mecanismo específico de desempate pode pmcn> r mu itn são muito baixas a seus próprios o lhos, eles podem acreditar que qua se qual-
arhitrúrio. l'or qu e. um eleitor deveria prestar atenção no passado, ao selecionar quer mu dan ça a se r provavelmente fe ita aumentarú suas rend as. Nesse caso ,
um governo futuro' / l'or que a semelhança presente entre os partidos Ltz co1n para eles, é racio nal votill. contra o partido no poder, isto é, a l~wor da mudan-
qu.: ele arraste governos passados em suas decisões'! ça em ge ral.
A rcsposl<t a essas questões vem do impacto das eleições per se no com - Por outro lado, os homens que estiío se beneficiand o elas políticas do par-
portamento parti dário. Com eieito, toda eleição é um julgamento fe ito sob re a tido no poder podem sentir que a mudança provavelmente os prejudicar{! ao
folha de serviços do partiuo no poder. Ma s os padrões usados para julgar sua invés de ajudú-los. !~ verdade que a oposição poderia introduzir novas políti-
folha de serviços são de dois tipos. Quando as políticas da oposição no perío- cas que aumentariam suas rendas ele utiliclacle. Mas suas rendas já são tão altas
do t diferem daquela s elo partido no poder, o julgamento expressa a esco lha do qu e eles temem qualquer inter rupção na continui dade das políticas atuais.
Assim , votam a favor do partido no poder, isto é, contra a mudança em geral.
L~ ev idente que ambas as ações são respostas racionais ao fato de que as
6. Qun nclo exis te inl(mnaçãn pt:rli.: ita, os cidudJos pensam que as políticas partidárias s.:i o idênt icas ape-
el eições inevitave lmente sinali zam ou mudança ou nenhuma mudança. Elas
nas qu;:mdo elas são realmente idênticas. Mas. num mundo em que os homens não estão plcn;J!ll l.!!l tc
informados, algumas diiCrcnças reais entre os part idos podem não ser notnda s porque não siío sign i ri-
mostram que, mesmo quando os partidos concorrentes apresentam folhas ele
cati vas a ponto de ultrapassar os limites de pcrcepção·q? de_[~or. Para uma nmior explicdçrio dessa pos-
serv iços idênticas no período t, muitos cidadãos podem sensatamente esperar,
s ibilidact~ .
ve r Seção 111 des te Cap itulo . ele cada partido, rendas ele utilidade diferentes no período t + 1. Portanto, a
62
óJ
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA A LÓGICA 11ASICA DO VOTO

abstenção é racional somente se o c idadão crê que ou(!) as mudanças de polí- rados diretamente, como vimos antes. A avaliação de desempenho de um
tica que se rão feitas se a oposição for eleita não terão efeito líquido sobre sua governo pode mudar pelas segu intes razões: ( 1) ele muda suas ações enquan-
renda de utilidade ou (2) essas mudanças podem afetar sua renda, mas a pro- to outras condições permanecem as mesmas; (2) ele mantém as mesmas ações,
babilidade de que elas a aumentem é exatamente igual à probabilidade de que e elas dão origem à mesma utilidade que antes, mas outras circunstâncias
elas a diminuam; isto é, a mudança esperada é zero. mudam, de modo que o nível ideal de renda de utilidade se altera; ou (3) ele
Duas coisas devem ser registradas a respeito desse raciocínio. Primeira- mantém as mesmas ações, mas outras circunstâncias se alteram, de modo que
mente, admitimos um grau de incerteza no nosso modelo de certeza. Entre- essas ações não mais produzem as mesmas rendas de utilidade. ,
tanto, o objetivo desse modelo é preparar para a análise do modelo de incerte- Em nosso modelo, as avaliações ele desempenho entram na tomada de
za; assim, nos sentimos justificados em levar a incerteza em conta sempre q 11 c decisão de um eleitor quando ele pensa que ambos os partidos têm as mes mas
ela afeta r a estrutura básica do comportamento racional. plataformas e políticas atua is. À primeira vista, essa regra parece sugerir des-
Em segundo lugar, argumentamos que a folha de serviços do p:1rli do IH> co ntinuidade na opinião do e lei tor, mas, na realidade, não é ass im. Todo elei-
poder pode ser julgada como boa ou má 'mesmo quando é idGnl ilca ;'1 I\ >lha de tor racional sabe que, se o partido de oposição for e leito, e le alterará algumas
serviços da oposição. Mas qual padrão de julgamento existe 1ws:;c c<Jso'l ( \nn das políticas que estão sendo segu idas agora pelo partido no poder. Mas sem-
o que a folha de serviços do partido no poder pode ser cun1pamda'l pre que os dois partidos tiverem plataformas ou políticas atuais d ifere ntes, ele
No mundo real, os homens freqüentemente compar:un " qu,, o governo tambl:m sabe exatamente quais mudanças serão feitas. Portanto, ele pode esco-
es tá fazendo com o que ele deveria estar fazendo, sem se referirem a nenhum lher cnln: os p;lllid<ls, de ci dindo se g<lsla dessas mudanças específicas. ·
outro partido. Ao contrário, estão implicitamente comparando as rend as de utili- Entrd:lnlo , qu :Jiid<l :Jcn:dii:J qm: os dois partidos têm plataformas e polí-
dade que estão realmente recebendo com as que estariam recebendo se 0 gover- ticas atuais idênl ic:1s , ck n:lo sabe mais que mudanças específicas ocorrerão,
no ideal estivesse no poder. Naturalmente, nenhum homem tem o mesmo idea l se a oposição vc uce r. l'orlanlo, ele é forçado a basear sua decisão em sua ati-
que os outros. Todavia, cada homem pode usar seu conceito particular de gover- lllde em relação :'1 mudança em gera l. Não há alteração no seu método de deci-
no ideal para atribuir uma avaliaçüo de desempenho ao partido no governo ou n dir co mo votar; ao conlrúrio, é uma mudança na evidência disponí vel que faz
qualquer outro partido 7• Algebricamente, é computada da seguinte maneira: co m que ele se desJ:tça de uma ferramenta para usar outra. O objetivo das duas
ferramentas é o mesmo · estimar o ganho que obterá caso vote num partido e

[~! J
não em outro.
Desse modo, os eleitores usam avaliações de desempenho somente quan-
do seus diferenciais partidários atuais são zero, mas, ainda assim, nem sempre.
O diferencial pnrtidúrio atual de um homem pode ser zero por duas razões: (1)
Avaliações de desempenho são extremamente úteis para comparar gover-
ambos os partidos têm plataformas e políticas idênticas; ou (2) embora suas
nos que funcionam em períodos ele ·tempo diferentes ou mesmo em áreas dife-
po líticas e plataformas sejam diferentes, produzem rendas de utilidade idênti-
rentess. E las são necessárias para essas compa rações porque ní ve is abso lu tos
cas para ele. No último caso, as ava liações de desempenho lhe são inúteis por-
de renda de utilidade de diferentes períodos de tempo não podem ser campa-
- que e le j<i sabe que mudanças ocorrerão se a oposição ganhar. Já qu e essns
mudanças não alteram sua renda de utilidade, e le se absté m. Mas, no primeiro
caso, e le não sabe que mudanças a oposição fàrá; daí e le precisa r de algum
7. Parn comptttar Hs avaliações de p.artidos que n5o estejam no momento no poder, é necess::írio ( 1) subs- modo de determinar sua atitude em relação à mudança em gera l. Já mostramos
tituir a renda real que está sendo rccebidn pe!ns rendas rea is (ou hipotéticas) que ~les proporcionaram
que ( 1) essa atitude depende de quão boa ele julga ser a atuação do partido no
(ou proporcionariam) c (2) selecionar a renda ideal adequada de modo que ambos os termos da th:1ç.fío
digam respeito ao mesmo período de tempo.
poder em lhe proporcionar renda de utilidade e (2) ele pode avali ar o desem-
8. Nosso uso de coel'icientes parrJ denot<:~r avaliações de O~sen1penho é puramente arbitrúrio; qualquer outra penho do partido no poder em comparação a um desempenho ideal. Mas por
medida matemática que pcrmitt~ comparllçÕes relativas"'p:~Je: substituí-los sem alterar o nrgum cnto.· ~ quais padrões ele estima, digamos, uma avaliação de 40% de bom ou mau?
ó5
UMA TEOR I.-1 ECONOMIC/1 LJA DEMOCRACI
A
A LÓGICA BA.\'!CA DO VOTO
A formulação desse padrã o é o que exige
que o eleitor considere os áreas de atividade governamental onde a difere
desempenho s de governos passados. Em nosso nça entre os patiidos é grand e <•
mode lo, cada eleito r desenvo l- sufici ente para impressioná-lo. Quando a difere
ve seu próprio padrão a partir de suas exper nça total em flu xos de utilidade ,:,
iências com outro s governos. grande o sufici ente a ponto de ele não mais ser
Através do cômputo de suas avaliações de indiferente em relacão a qual pnr-
desempenho, ele cria uma medi da ;ido está no governo, seu limiar dijérencial partid
com a qual pode desco brir se os ocupa ntes ário foi ultrapassado. Até lá, ele
do cargo estiveram se saind o bem, permanece indiferente em relação a qual pattid
mal, ou indiferentemente na ta refa de governar9 o está no poder, mesmo se um lhe
Vota neles se a avaliação de les desse uma renda de utilidade mais alta que o outro
for boa, contra e les, se for ruim, ou não vota . A existência de limiares levan-
se for indiferente. Assim, ele pode ta a probabilidade de que o diferencial partid
racion almente atribuir um valor não-zero ao ário esperado seja zero, isto é, que
seu diferencial partid ário espera- ocorra abstenção. Tamb ém torna possível muda
do, mesm o quando os dois pmtid os apresentar r a idéia de um eleitor ao lhe fol·-
em folh as de serviços idênticas necer melhor informação sobre o que já está
no período t. acontecendo com ele.
Nessa altura, encontramos dois importante
s probi emas. Em prime iro
lugar, quando abrimos a porta de nosso mode
lo à incerteza, tamb ém devemos
admitir coisas indesejáveis, tais como erros
IIJ. DIFIC ULDA DES PREL IMIN ARES CAUS
ADAS PELA INCERTEZA
, informaç.ã o falsa e ignorâ ncia.
Como neste capít ulo lidamos apenas com a
lógic a básic a do ato de \l{)tar, adia-
Até agora ü1lamos loquazmente de eleito res remos as consi deraç ões desse s fatores até
qu e comp utam seus diferen- mais tarde , exceto no caso de un1a
c iais partidários c avali;.lçÕes de desempenh condição. Ao longo desta tes~, supomos que
o sem apont ar para a dificu ldade não existe informação falsa (isto
desse cúlculo. A fim de enco ntrar seu di k renci é, incorreta do ponto de vista dos fatos) ,
al partidário, o eleito r, num sis- embora possa existir infor maçã o
ll:ma bipartidúri o, deve litzer o seguinte: (1) incompleta. Assim, exclu ímos do nosso
exam inar todas as fa ses de ação modelo as mentiras delib erada s,
govername ntal para descobrir onde os dois embo ra erros e dados engan adores possam
partid os se comportariam de modo permanecer.
di lercnte, (2) desco brir como cada diferença O segundo problema se enraíza no próprio conce
afeta ria sua renda de utilidade, e ito de mudança de idéia do
(3) agregar as diferenças em benefício e chega eleito r quanto a como votar. Como mostramos
r a um número liquido que mos- , todo eleitor toma suas decisões
tra o quanto um parti do seria melhor que o quanto ao voto através da comp aração de variad
outro. É assim que o eleitor racio- os t1uxos reais e hipotéti cos de
nal se comportari;1 num mundo de inform renda de beneficio. Para dec idir qual o impac
ação completa c sem custo - o to de cada ato governamental sobre
mcsnw mundo Jh l qual habita o consumido sua renda, ele o avalia como bom ou mau à luz
r racio na l e o produtor racional da de sua própria visão da "boa socie-
teoria econúmica tradicional dade". Esse procedimento é racional porque
cada cidadão, em nosso mode lo, vê
No mund o real , a incerteza c a fa lta de inform governo como um meio de conquista da boa
ação impedem , mesmo o elei-
0 sociedade, tal como ele a vê.
tor mais intelig ente e bem inform ado, de se comp Desse modo , a ava_liação que um homem fà z
orta r exatamente do modo que de cada partid o depende, em
descrevemos. Como ele não tem certeza sobre últim a instância , ( l) da informação que ele
qual é sua renda de utilidade atual, tem sobre suas políti cas e (2) ela
provcnicntt: do governo, ou qua l seria ela se relação entre as políticas elo partido de que
um partido de oposição estivesse no ele tem conhecimento e sua con-
poder, só lhe resta li1zer estimativas de amba cepçã o da boa sociedade. Uma vez que o eleito
s. Ele as b::Jseará naque las poucas r, mesm o que provisoriamente,
decidiu como votar, ele pode ser persuadido
,, desse s dois tà tores se altera r. Para simplificar
a mud ar ele idéia apena s se um
a análi se, presu mimo s que todo
cidadão tem uma conce pção fix a da boa soc
iedade e já a re lacionou ao seu
conhecimento sobre políticas partidárias
9. Quandn vot;J r 11~io tem cuslo, o t..:leilor que
usa ordens dt preferência sempre vota, caso
de mane ira consistente . Po rtanto ,
ca rgo tenham se sa ído hl'lll (ou rna!) , mas
os ocupan tes do some nte novas infor maçõ es pode m persuadi-lo
isso n:l o é verdade quando votar tem c u~to
elevado . No LJiti-
a mudar de idéia.
mo caso, as perdas (ou be nelic ins ) que d e Essencialmente, estam os presumindo que
e s pcr~ 1 da mud:mç n em geral devem
ser g ra ndes o suficie n- os gosto s políticos dos c ida-
te para supera r t) custo de vo1< 1r; s l:n;! o ele
se abs terá, mesmo que qs ocupanlcs do dãos são f ixos. Mesmo que esses gosto s
cargo não tenham freqüentemente mude m de forma
uma avaliaçJo indi fe rente. Para um.:1 discuss
<io rnais _ ~<::talh~ da de a'bstenção quando votar radic al a longo prazo , crem os que nosso press
ver Carítulo 14.
custa caro, uposto é plaus ível a curto prazo,
impedindo guerras e outra s convulsões soc
iais. Na realidade, gostos políticos
líl
286650
L/;\/'1 TEORIA ECONC)MICA DA DEMOCR!ICI;!
A LÓGICA BASICA DO VOTO

fixos nos parecem muito mais plausíveis do que gostos fixos de consumo, que
ganhar. Ele faz isso porque seu voto deveria ser ampliado como parte de um
são geralmente supostos em estudos de demanda.
processo de seleção, não como uma expressão de preferência. Daí, mesmo que
prefira o partido A, ele estará ··desperdiçando·· seu voto em A se esse não Ü\er
nenhuma, chance de vencer porque muitos poucos outros eleitores o preferem
IV VARIAÇCJES EM SISTEMAS MULTIPAR11DARIOS
a B ou C. A escolha relevante, nesse caso, é entre B e C. Como o voto em A
não é útil no processo real de seleção, votar nele é irracional.
Nossa análise foi feita até agora em termos de um sistema bipartidário,
Desse modo, uma parte importante da decisão a respeito do voto é pre-
mas suas conclusões podem ser facilmente estendidas a um sistema multipar-
ver como outros cidadãos votarão, através da estimativa de suas preferências.
tidário. Nesse último, o eleitor segue as mesmas regras que no primeiro, mas
Cada cidadão usa sua previsão para determinar se o partido que ele mais pre-
compara o partido no poder com qualquer dos partidos de oposição que tenl1a
fere é realmente parte de uma gama relevante de escolha. Se ele crê que não é,
a mais alta avaliação atual de desempenho, isto é, que lhe concederia a maior
cntfío a racionalidade ordena que ele vote em algum outro partido.
renda de utilidade se estivesse agora no poder.
Na auscncia de qualquer informação sobre o que os outros eleitores prova-
Entretanto, hú uma eventualidade num sistema multipartidário que não
velmente üu·iJo, o eleitor racional sempre vota no partido que prefere. Também o
surge no sistema bipartidário: um eleitor racional pode, às vezes, votar num
faz sempre que a informação que tem o leva a crer que seu partido favorito tem
partido que n5o é aquele que ele mais prefere. Por exemplo, quando o Partido
uma chance razoável de vencer. O sentido preciso de ''razoável" não pode ser
Progressista lançou um candidato na eleição presidencial americana de 1948,
definido a priori; depende do temperamento ele cada eleitor. Entretanto, quanto
alguns elcitot·cs que preferiam o candidato Progressista a todos os outros ainda
menos chance de vencer ele sente que seu partido favorito tem, mais provável é
assim votar<tm no candidato Democrata. Fizeram isso porque sentiram que seu
que mude seu voto para um partido que tem uma boa chance.
candidato Ütvorito não tinha qualquer chance e quanto mais as pessoas votas-
O nível exato de probabilidade no qual essa mudança se dá dependerá em
sem ndc, menos votariam nos Democratas. Se a votação nos Democratas fóssc
parte de quilo importante ele considere impedir a vitória do pior partido, Por
muito h;Jixa, ns I<.epublicanos -- o gmpo menos dcscjúvcl do ponto de vista
exemplo, vamos supor que haja três partidos: Direita, Centro e Esquerda. O
f'rugrcssist;J ganh;n·iam. I ksse modo, um voto no seu candidato tüvorito iro-
eleitor X prefere a Direita ao Centro e o Centro à Esquerda, mas acredita que
nicuncntc aumctJt;tv;t a proh:thilitbclc de que ganhasse aquele que eles menos
a Direita tem a menor chance de vencer, entre os três. Se ele prefere muito a
:tpoiavam. Para evitar c.ssc [iltirno n:sult;tdo, eles votaram no candidato que
Direita ao Centro e é quase indiferente entre o Centro e a Esquerda, é menos
OCU]Xtva uma posi<,:iio inttTmcdi:'iria em sua ordem de preferência.
provável que ele mude seu voto da Direita para o Centro do que se ele prefe-
Evid~:ntcmcntc, trata-se de um comportamento racional, mas contradiz rir ligeiramente a Direita ao Centro mas abominar a Esquerda.
nossa regra simples de como os eleitores deveriam agir. Essa discrepância pede
Essa situação torna-se ainda mais complexa quando consideramos o voto
um:1 cxplicat;ilo. Primc·ir<ttncnte, devemos apontar que, em nosso modelo, as
orientado para o jitturo. Um eleitor pode apoiar um partido que hoje não tem
clcJçiks siío mcc:ulismos de scler;ilo de governos, embora realmente sirvam a
chance, na crença de que seu apoio permitirá que o partido cresça e, um dia,
muitos outros pror,úsitos al6m desse. Também podem ser (1) meios de criar
torne-se um provável vencedor- dando-lhe, assim, uma gama mais ampla de
s~lidariedaclc social, como ocorre nos países comunistas modernos, (2) expres- seleção no futuro. Ele também pode, temporariamente, apoiar um partido sem
soes de prcfcrcncia polític:t, (3) mecanismos de liberação de agressão pessoal
chances como um aviso a algum outro partido para que mude sua plataforma
em canais legítimos (por exemplo, em campanhas políticas) e (4) incentivos
se quiser seu apoio. Ambas as ações silo racionais para as pessoas que prefe-
para que os cidadãos se inJ(mncm sobre acontecimentos atuais. Contudo, esta-
rem melhores alternativas de escolha no futuro à participação presente na sele-
mos !nleressados nas clciçi)es unicamente como meio de selecionar governos,
ção de um governo to
c dcfmnnos comportamento racional com essa finalidade em mente.
Um eleitor racional primeiro decide qual partido ele crê que lhe trará
maior benefício; daí ele tenta estimar se esse partido tem qualquer chance de
10. Pnrn uma discussão msis detalhada do voto em sistemas multiparticlúrios, ver Capítulos R e 9_
()8
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA

V RESUM O

Num mundo em que lhe são fornec idas inform ações


compl etas c sem
custo, o cid;;diio raciona l toma sua decisão em re lação
ao voto da seguin te
maneir a:
4
l. Atravé s da compa ração do t1uxo de renda de utilida
de proveniente da ativi-
dade gove rnamen tal recebid a sob o presen te govern o
(com ajustamento de A LÓGICA BÁSI CA DA TOM ADA
tendên cias) e aq ue les fluxos que crê qu e teria recebid
o se variad os partido s DE DECISÃO GOVERNAMENTAL
de oposiç ões tivessem es tado no govern o, o eleitor encont
ra seus diferen -
ciais partidá rios atuais. Eles estabel ece m a preferê ncia
do e leilor entre os
partido s concor n:ntcs.
2. Num sistem a bipartid:írio, o eleitor e ntão vota no
partido que prefere . N um
s istema multip artid5r io, estima o que c rê se rem as preferê
ncias de ou tros
eleitor es ; daí , age do seguin te modo:
a. Se seu partido favorito parece ter uma razoúvel chance
de vencer, vota nele.
b. Se seu partido favorito parece nuo ter quase nenhum
a chance de vencer,
vota em a lg um outro pa rtido que tenha uma cha nce
razoáy el, a fim de
impedi r que vença o partido que menos apóia. !NTJW DUÇÃO
c. Se é um eleitor orienta d o para o futuro, pode votar
em seu partido htvo-
rito mesmo se parece r que e le quase nilo tem chance Tradic ionalm ente, a teoria econôm ica supÕL~ que a runçi\o
de vem:e r, a fim de soci;ll c o mot i-
melhor ar as :ilternativas abL'rtas :1 eiL: em futuras eleiçõe vo privado do govern o co nsi stem, ambos , da maxim
s. ização d<J utilida de soci;il
ou bem-e star soc ial. Nossa hipótes e di!L~ rc dessa v isiTo
3. Se os eleitor es não co nsegue 1n es tahekc cr uma prcferG
ncia entre os parti- de três m <ln e 1r~1 s : (I) e m
dos porque pelo menos um partido de opos içiio está em nosso modelo , a funçiTo socia l do govern o não é id0ntic
patado co m os ocu- a ao seu motivo priva-
pantes do ca rgo na disputa do primei ro lugar em sua do; (2) especi ficamo s apc1ws o último , que é a maxim
ordem de prclcrGncia, iz:1çiio de votos c ni\o de
ele então age da seg uinte maneir all: utilida de ou ele bem-es tar; c (3) o gove mo é Ulll partido
em disputa co m oulrns
a. Se os partido s es tão empatados, ainda que tenham partido s pelo con tro le do aparato de governo. Neste
platafo rmas ou políti- capít ul o, usa mos os dois
cas atuais dilercn tcs, o u ambas, ele se abstém . último s desses axioma s para descre ver os princíp ios
básico s da tomada de
b. Se os partido s es tão empata dos porque têm platafo decisã o govern amenta l em nossa democ racia-m ode lo
rmas e polític as atuais .
idênti cas, ele compa ra a avaliaçiio ele desem penho do
partido no poder
àquela s de seus predec essores no cargo. Se os ocupan
tes do cargo fize- I PRINC ÍPIOS FUNDA MENTA IS DA TOMADA DE DRC'!S
ram um bom trabalh o, vota neles; se f izeram um mau ÃO GOVER NAMEN 7A!.
trabalh o, vota con-
tra eles; e se seu desem penho não é bom nem mau, se
abstém.
A. O concei to de opcraçi!cs 1narginais

1!. O caso no qual dois ou mais partidos de oposição estão empatados Como 0 govern o, em nosso modelo , deseja maxim
em primeiro lugar não 0 coberto por i zar o apoio políti-
nossas reg ra s de decisão. Entreta nt o, pa r~cc rac iona l
que un1 cidadão vote e m qualquer um dos dois par- co, ele executa aquele s atos de gastos qu e ganham
a lll<lior quanti d ade de
tido s no topo do ranking qu e ele ache te r a melhor
~h{u;Ge-·ç.l e vitôritL P:1 ra ou tras considerações ·Ç11.1C votos por meio daquel es atos de financ iam ento que
perdem a menor quan-
poderiam ter intluênci2 so bre sua decisão, ver Capílulo
9. tidade de votos. Em outras pa lavras, os gastos são
aumen tados até que o
711
71
UMA TEOR IA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA A LÓG ICA BASICA DA TOMADA DE DECISÃO GOVERNAMENTAl.

ganho de votos do dól ar margi nal gasto igua le a perda de votos do dól ar A ativi dade gove rnamental inclui fornec er condições sociais básicas, tai s
margina l fi nanciado. como proteção policial , cumprimento de contratos, manutenção da defesa
À primeira vista, esse papel prc>cessua! d2 2Ç30 go\'ern2mental se p2r=- n;-,.:ionaL etc. Desse modo. a utilidade total que um homem extrai da ação
ce mu ito com a regra tradicional baseada na utilidade soc ial. Essa última governamental inclui seus ganhos com a lei e a ordem na sociedade e com a
afirma qu e o governo deveri a continuar gastando até que o retorno socia l segurança na política mundial. A inda que essa renda total de utilidade exceda
marginal caia a um nível igual ao custo social marginal, isto é, o retorn o sua perda total de utilidade em impostos e em re lação a atos governa mentais
marginal qu e é possível obter no setor privado. Embora pareça que nossa dos quais não goste, ele pode ainda desaprovar fo rtemente alguma ação gover-
hipótese simplesmente substitui a função de utilidade soc ia l pe la fun ção do namental marginal. Um voto contra qualquer partido é, portanto, não um vdto
vo to, na rea li dade as duas regras são radicalmente diferentes. O governo, 110 contra o governo per se, mas desaprovação líquida das ações marginais espe-
nosso mode lo, está di sputando votos com outros partidos políticos nesse cí ficas que aquele partido implementou.
momento f(na do poder; daí seu planejamento dever levar em co nta não ape- Dess e modo , tanto o governo quanto os eleitores estão interessados em
nas as fun ções de utilidade dos eleitores, mas também as propostas fei ta s por ;dt era<,:ões margina is na estru tura da ati vidade governamental. Por altera-
seus oponentes. cil;·s llllll'ginais, entendemos mud anças parcia is na estru tura de padrões de
A lém disso, os partidos de oposição geralmente não têm qu<: se compro- co mportam ento govL:rn:11m:nta I que cada administração herda de seu ante-
meter com qualquer questão até que o comportamento do partido no cargo cessor. Essas mudanças podem se r absolutamente ele grande impo rtância
como governo revele sua política. Portanto, quando os ocupantes do cargo dão (por exemplo, a alteração nos gas tos com defesa, da ordem de diversos
início a um programa, podem somente adivinhar como seus oponentes reag i- bilhões de dó lares, pode ter repercussões notáveis na econom ia). Além
rão. Mas a oposiçã:J sabe que política os ocupantes do cargo têm em relação a disso, uma série de mudança s marg inais pode alterar toda a estrutura de atos
qualquer qu estão dada e pode se lecionar a me l.hor estratég ia para se contrapor gove rnamenta is; ass im, o s ignificado de margina li dade estú relacionado
a ela. Portanto, a tomada de decisão governamental ocorre num contexto com- co m as unidades de tempo esco lhidas2. Entreta nto, é legítimo co ncentrar <l
plicado de valores ótimos econômicos e de guerra política . atenção em atos governamentai s ma rginai s a curto prazo, qu e é o que no s
Em nosso modelo, no começo de cada período eleitora l, o governo in te ressa neste capítulo.
recém-eleito elabora um plano para guiar suas ações ao longo do período.
Poderíamos pn.:sumir qu e cada um desses planos é formul ado, desde os atos
búsicos de gove rno até o último detalhe, como se não tivesse havido governo B. O princípio da maioria
antes. Entr~::ta nto, isso tanto descreveria o procedimento real de modo impre-
ciso quanto mudaria sua estrutura lógica. Embora esse fo co estreite drastica mente a gama de escolha aberta à con-
Portanto, supomos que o novo governo fa z ape nas alterações parciais no side ração do governo, ele a inda enfrenta um tremend o problema de escolha,
esq uema de ati vidades governamentais herdado da administração anteri or; não pois há numerosas margens e quan tidades de alternativas em cada uma. A fim
recria o esquema inteiro Esse postulado é tanto realista quanto útil na formu-
1
• de apresentar nosso modelo de como o governo se comporta nessas circuns-
lação de regras relativamente simp les de comportamento govern amental. Além tâncias, fazemos seis suposições si mplificadoras:
disso, nos perm ite correlac ionar os planos de governo com as funções de uti- ' ~

lidade de e leitores individuais, porqu e os c idadãos decidem como votar por I. Todas as decisões são tomadas por uma unidade centra l no gove rno qu e
meio do impac to marginal da atividade governamenta l sobre suas funções de pode examinar todas as margens de ação possível.
utilidade e não do seu impacto total. 2. Em cada margem, há apenas duas alternativas de ação, Me N.

A admin islração preceden te é a mcsmn que a atual em ~ãsos\~e reele.ição. 2. Nesse aspecto, nosso co nce ito se p:.rect:: co m o de custo margina l em ~conomia .

72 73
'1!.
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11(\f'díu~
'-d

UMA TEORIA ECONÔM ICA DA DEMOCRACIA A LÓGICA BÃSICA DA TOMADA DE DECISÃO GOVERNAMENTA L

I

3. Todas as escolhas governamentais são independentes entre si; isto é, o força os c idadãos a decidir como votar através da comparação entre a ava li a
resultado de cada decisão não tem influência sob re as escolhas ou resulta- ção de desempenho do partido no poder e os de governos an teri ores . Mas, num
dos poss íveis de qualquer outra decisão. mundo certo, os ocupantes do cargo conseguem facilmente descobrir e adotar
-+. Há apenas dois pamàos dtsputando o controle do governo, um dos quais
está no momento no poder.
a posição da maioria em todas as questões; daí, é prováve l que sua avaliação
de desempenho seja alta o suficiente para assegurar a reele ição. Além disso, as ''
5. Cada partido conhece a natureza de todas as funções de utilidade de e leito-
res individuais, de modo que pode dizer se, e por quanto, cada eleitor pre-
fereM ou N para cada opção que estú co nsiderando. Por meio di sso, pode-
-~ ~
'li'
únicas circunstâncias que fazem com que um governo que agrade a maioria
ten ha uma avaliação de desempenho baixa também fazem com que outras •'
{~··
••
estratégias funcion em ainda melhor do que a manobra de correspondência
mos supor a cardinalidade intrapessoa l da utilidade, mas não dizemos nada total. Portanto, essa última seria raramente usada em nosso mundo hipotético.
~:_
so bre comparações interpessoais. ~~=-· -

6. Os elei tores são intiJrmados, sem custo, de todas as possívei s dec isões
governamentais e suas conseqüências, e tomam decisões de vo to raciona l-
:·: 1
_·_ ·- _ B. Coalizào de minorias
mt:nte, como descrito no Capítulo 3.
'' I
'I Sob certas condições, a oposição pode derrotar um governo que usa o prin-

·y..~··J!
Nessas condições radicalmente supcrsimp lil'ieadas, o governo suj eita cada cí pio da maioria assumindo posições contrárias em questões-chave, isto é, apoian-
(kcisilo :1uma votac,:ãu hipotética c sempre escolhe a alternativa qu e a maioria dos do a minoria. Para explicar essas condições, usamos os seguintes símbolos:
e leitores preil:rc. Deve proceder assim porq ue, se adotar qualquer outro caminho, ·t:
··, -:·
o partido de oposic,:fío pode derrotá-lo. Por exe mplo, se o governo agir em tudo
como prefere a maioria exceto na questão x, a oposição pode propor uma plata-
., ..
U representa a renda de util idade que um eleitor obteria de um a possível polí-
tica governa me ntal e m re lação a alguma questão.
lú rma idêntica <1 do governo, exceto pe la questiío x, no que se coloca com a ma io- ~-: i
ri a. 1í que os eleitores silo indill:rent es l' lll relaçilo aos partidos em todas as out ras M é a alternati va de polític:1 em re lação a qualqu er questiio qu e é apo i<Jda por
qucstúcs, tmb a disput:1 SL' rc:duz ú questão x, e a oposição, tendo apoü1do a posi-
~::lo (/;) ma ioria, ganh:1 nJ;Jis vo tos do que os ocupantes do cargo. Desse llWdo,
·\ uma maioria daq ueles cidndãos que não são indiferentes úqucla questão.

para evi tar a derrota, o gowmo deve apoiar a maioria em todas as questões. N é a alternativa de política em relação a qualquer ques tão que é apo iada por
\
uma minoria daque les cidadãos que não são indi fe rentes úque la questão.

11. EST/?;JTÚi!A IM W 'OSI(.'ÃO CONTRA O PRINCÍPIO DA MAJOR/A f' é o conjunto tota l de qu es tões que surgem durante um período eleito ral.
1

1\ me lhor política dos ocu pa ntes do ca rgo é seguir o princípio da maio-


ria, mas isso não garan te vitória em todas as dcic,:ões. O partido de oposição
pode, algumas vezes, derrotar um gove rno que agrada a maioria u sando uma
de três es tratégias possíveis. ·f' j
,. {
I S é um subco njun to e m P contendo questões de 1 as, das qua is a primeira a
s urgir (questão I) não precisa ser a primeira qu estão a surgir em P, mas é a
questão mais anti ga em P so bre a qual o partido de oposição assume a posi-
ção da minoria.

A. Correspondência total de políticas


ll":i representa qu alquer questão individual.

A estratégia mais simples de oposição é a adoção de um programn que é


idêntico àquele dos ocupantes do cargo, em todos os detalhes. Essa manobra
74
,. I
. ' X é o partido no poder.

Y é o partido de oposição.
75

\ !
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DtMOCRACIA
A LÓGICA BASICA DA TOMADA DE DECJSXO GOVER NAMENTAL

O partido de oposição sempre pode derrotar os ocupantes do cargo se há


A condição um implica que o govt!rno nem sempre agrada o mesmo con-
algum Sem P que tenha as seguintes características:
junto de homens quand o assume a posição da maioria; isto é, a composição da
maioria muda de uma dec isão para outra. Esse resultado _i ar:nis pode ria ocor-
l . Mais da metade dos cidadãos que votam são a minoria em relação a algu-
rer se um conjunto específico de cidadãos, compreende ndo mais de 50 % do
mas questões em S; isto é, preferem Ni a Mi, pelo menos uma vez.
eleitorado, concordasse com todas ·as questões enfrentadas pe lo governo.
2. Cada cidadão que detém a visão minoritária em relação a algumas mas não a
Portanto a estratég ia da coalizão -de-minorias funciona apenas quando nenhu-
todas as questões em S tem uma preferência maior por aquelas políticas que
ma maioria de e leitores 1nostr:1 pe rfeito consenso sobre todas as questões.
apó ia, quando na minoria, do que por aquelas que apóia, quando na maioria.
Além disso, a condiç:lo dois significa que, uma vez que o governo foi
3. O partido de oposição não precisa se comprometer com qualquer questão
eleito, a maioria dos cidadãos prcli:riria que el e seguisse as opini ões da mino-
em S até que os ocupantes do cargo tenham revelado sua posição em rela-
ria em re lação a todas as questões c111 S a que segui sse as opiniões da maioria
ção a tod as as qu estões dnquel e subconjunto, ne m tem que revelar sua posi-
em relação a todas as qut:stões desse suh conjuntll. Isso não significa qu e são
ção em relação a qualquer outra questão em P até que os ocupa ntes do
ant idemocráticos, pois uma democracia t:xige o regime da maioria apenas na
cargo tenham se comprometido em rel ação àquela questão.
t:scolha de seu governo. No enta nto, impli ca qu e o consenso é fraco, já qu e os
homens são mais veementes qu anto a sua s opini ões minoritárias do que quan-
Ao longo deste capítulo, nos referimos a essas características como con-
to às opiniões qu e compartilham com a maioria dos outros.
dição um, condi ção dois e cond ição três, respectiva mente.
Pode-se m os trar como essas condi ções favorecem a es tratégia da coali-
As cond ições um c dois podem ser expressas mais precisamente em sím-
zão-de-minorias por meio de um exemplo. Suponham que A , B e C são o
bolos, como se segue: há mais eleitores para quem
eleitorado inte iro e qu e o governo tome dec isões sobre du as qu estões .
J Quanto à primeira questão, o governo ass ume uma posi ção que A e E ap óiam
I (uN- MM);> o ligeirame nte e a que C se opõe fortemente. A decisão do gove rno quanto à
i~ l
seg und a questão tem a forte oposição de A, mas é ligeiramente apoiada por
do que para quem 8 c C. Des se modo, a ação governamental agrada a maioria, em cada caso.
Contudo , tanto A quanto C incorrem em pe rdas líquidas a partir da ati v ida-
.1' de governamental, já que a satisfação que cada um recebe em relação a uma
L.,(UN--MM); < 0 questão é superada pela infeli cidade em relação à outra . Conseqüentemen te,
i~ l
cada um vota rá no partido qu e adotar a opinião minoritária e m relação a
nmbas as questões.
Em outras pa lav rns, mais elei to res têm orientação minoritária em relação aS do
Nessa s ituação, poderia parece r mais sensato que os próprios ocupantes
que orientação majori tú ria em relação a esse subconjunto. Aqueles para quem
do cargo adotassem uma estratég ia de satis fação da minoria. No entanto, a
s condição três impede-os de ganhar fazendo isso. Quando a oposição pode se
L(UN- MM); =0 abster de se comprometer até depois que os ocupantes do cargo tenham agido,
i=l
e la pode se contrapor a qualquer estratégia qu e eles adotem. Se o governo
são ambivale ntes3 emprega o princípio da maioria de modo consiste nte, a oposição o derrota
apoiando a minoria em relação a cada questão. Inversamente, se . o governo
ass ume a posição minoritária em relação a até mesmo uma só ques tão, a opo-
3. Essa no~eu.;5o pressupõe a c~rdi na li da d e intrapcssoa! da ut ilidade, como foi afirmado anteriormente no s ição pode triunfa r, igualando-se a ele em relação a todas as outras questões e
cap itulo. Entretanto, o argumen tO verbal qu e a precede · n'~io · depend e desse pressuposto; é igurJ imcnte a poiando a mai oria em relação àque la questão específica . Em resumo, o p arti-
vú lido sob pressupostos puramente ord inais. Para prova. dess~ - ~sserção, ve r nota 14 deste cn;ítul o. do no poder não consegue ve ncer quando todas as três condições prevalecem.
76
77
A LÓGICA IIASICA DA 7VMADA DE DECJSJO COVE!i NAMENTAL
UMA TEORIA ECON<5MICA DA DEMOCRACIA

Referimo-nos a essa característica de S como condição quatro.


Se retivermos as duas prime iras condições mas enfraquecermos a condi-
A condição quatro pode ser expressa mais exatamente em s ímbolos,
ção três, a oposição aind a tem uma vantagem, embora possa conceb ivelmente
como se segue: há mais eleitores para quem
perder4 • Por exemplo, suponham que a mesma situação exista, como no nosso
exemplo anterior, execro pela seguinte mudança: a oposição deve se compro- s s
meter a respeito de cada questão em P depois qu e os ocupantes do cargo reve- I,(uy ); > L,(u x );
la m sua posição e m relação àquela questão, mas antes que o façam em relação i= l i=l

à próxima (presumimos que as questões surjam uma de cada vez). Nesse caso,
é possível aos ocupantes do cargo derrotar a opos ição sempre que a preferên- no que toca a pelo menos uma estratégia possível da oposição do que e le itores
cia do eleitor B pela opinião da maioria seja mais forte em relação à primeira para quem
questão do que à segunda. O governo escolhe a opinião da maiori a quanto à
s s
primeira questão e m S (como deve se mpre fazer) e a oposição se<conlrapõe
co m a opinião da minoria. Mas, em relação à segunda questão, o gove rno opta
L,(Uy); < L,(Ux );
i= l i=l
pe la opinião da minoria , f(Jrçando a oposição a apoiar a maiorias. Como B
ganha mai s com a posição do s ocupantes do cargo em relação à primeira ques-
no que toca àq uela estratégia. Reconhecidament e, esta é uma afirmação muito
lilll, em t.:ompa ração com a pllsição da oposição, do que perde com a posição
geral, mas não podemos torná-la mais específica devido ao número enorme ele
deles em relaçilo ú segunda, ele prefere os ocupantes do cargo à oposição. C
estratégias possíveis quando as condições I e 2 prevalecem e há muit(IS ques-
a póia a oposição, c A, o governo; portanto, os ocupantes do cargo vencem,
tões ou muitos eleitores, ou ambos.
mesmo que as condições um e dois prevaleçam.
Se S se amolda à condição quatro, os ocupantes elo cargo não podem
Desse modo, quando a versão atenuada da condição três está em vigor, a
obte r a vitória forçando a oposição a adotar uma estratégia heterogênea em vez
oposiçiln pode ter certeza de vitória somente se prevalecer também uma quar-
ta condiçilo: de uma coalizão pura de minorias. Uma estratégia heterogênea é aquela na
qual cada pal'tido apóia algumas minorias c algumas maiorias em S, como no
4. Niín import:1 que posições o partido no poder assuma em relação a
exemplo dado ac ima . Em bora os ocupantes do cargo possam forçar a opos ição
todas as qucst(lcs em S; depois da questão I, o partido de oposição pode sem-
a adotar essa estratégia, mesmo quando preva lece a co ndição quatro, não con-
pre igualar essas posições nu adotar pos ições opos t3s de tal modo que mai s
seguem vencer fazendo isso. Nenhum a manobra de sua parte pode superar a
elei tores prefcririío o conjunto de políticas da oposição ao co njunto de políti-
poder. vantagem consegu ida pela oposição quando apoiou a minori a em re lação à
cas do partido 110
questão I em S. Desse modo, quando prevalecem as condições um, doi s e qua-
tro, os ocupantes do cargo são sempre derrotados, a menos que se introduza
4. Sua vant a~c m l~ a ca pac idade (lc decidi r qual questão em P ser{! a qucs tfio 1 em .)'; is!o i.'. deci dir quan-
incerteza no modelo.
do comc..;a S. Oc-; O!..! upantes do cargo de vem adotar a posição majoritária a respeito daquel3 prin1ei ra
quest:i u l:lll s· pnrqul.: n oposição npoiou a nwiori<-1 (isto é, se equiparou aos ocupantes de) cnrgo) em todas Naturalmente, quando o partido de opos ição assume o governo, e nfrenta
as <Ju cstlics anh:rion,:s. ( )s ocu p;uJks do cargo não podem nunca apoiar a minoria até depo is qu e a opo- o mesmo dilema qu e seu predecessor não conseguiu resolver. A lém disso, se
siç;io o 1:1\.<L St: isso ocorresse, :1 oposit.;:.iu apoiaria <1 ma i o ri~1 qu nnto àquela questão, se cq u i ptt r~ r i ;'t aos as mesmas ques tões surgirem de novo, ele deve lidar com elas da maneira indi -
ocup<llliL~S elo c;u~o em rci<H,::lu a todns :1s qucsti'ics subscqlientcs c venceria r1 eleição. O conjunto .)'
cada pelas suas promessas de camp anha; isto é, se havia sustentado opi niõ es
comc~:a qu ando a üposiç;\o prin k' im decide n:l o se equ iparar aos oc upant es do cargo e. em luga r Li isso.
da minoria quanto a todas as questões, dará força de le i àquelas opiniões quan-
apó ia<) rninorin em rclaç;\o :1 alguma qw.:st;io. Aquela questão é st:mpre a questão I em S; daí a oposi ~
ç:\o ter a iniciativa e poder qu;mdo dcscj:L As outras qu estões em S não precisam seg uir a ques~
~ltC11..:a r
do se tornar governoG. Nesse caso, é vulneráve l à estra tégia pela qual seu rival
tiio I imcd iatamcnlc ~:m P, mas devem ser su bscq iicnlt:s a cb.
S. Se n oposiç:.lo rambém apoiar a mi nor ia qu<t nto ;l ques tJo 2, perúc a e leição, no nosso exem plo, porque
a disput n se restrin ge à questão I, em rcl êlçào à qual a n1~ii.?ria; apóia o partido no poder, como tQi exrl i- de cun1p ri r suas pronH!SS <1S, ver C:1pítulo 7.
6. Para evidênciêl da necessidade qu e o partido t~m
cada na nota ante ri or.
79
78

.\
I
UMA nO!/IA t:CONOMICA DA DEMOCRACIA A LÔGICA B!ÍSICA DA TOMADA DE DECISÃO GOVEIINAMENTAL

i • iguala em relação a todas as questões exceto uma, em relação à qual o riv<JI das por qualquer uma das três políticas mutuamente exc lus iva s, f, g e h8
apóia a maioria. Desse modo, a menos que as condições um, doi s e quatro Vamos supor ainda qu e, quanto pelo menos a uma questão, nossos três elei to-
111udem, a oposição pode contar com a própria derrota ao final de um manda- res, A. B, e C. clas~ific a m as três alternativas. como se segue:
to no governo.
Em suma, os dois partidos se alternam regularmente no poder,. cada um
deles durando apenas um período eleitoral de cada vez. Pode parecer que essa Eleitor
conclusão mina nossa hipótese: se o governo sabe que vai ser inevitavelmente
derrotado na próxima eleição, por que se daria ao trabalh o de maximizar Escolha A B c
vo tos? A resposta tem dois lados : ( I) se deixar de fazê-lo, os e leitores podem
não reelegê- lo quando for sua próxima vez de assumir o governo e, (2) na rea- Primeira f o
o h
lidade, a incerteza impede a oposição de derrotar os ocupantes do. cargo com
a reg ularidade possível num mundo certo mesmo quando as condições um, Segunda g h f
dois e quatro prevalecemJ
No mundo real, é muito provável que um partido de oposição tente '' Terceira h f "
b

estratégia da coalizão de minoria depois de os ocupantes do cargo es tarem no


poder por um longo tempo. Do contrário, essa manobra é arriscada porque nin-
guém sabe, com certeza, se as condições um, dois e quatro realmente prevale-
cem. Mas quando os "no poder" estiveram governando por diversos mandatos Nenhuma alternativa tem o apoio majoritúrio, na primeira escolha; de
co nsecutiv~Hllc:ntc, des tiveram qu e tomar tantas decisões que (1 ) provave l- fato, qualquer alternati va que o governo escolha pode ser derrotada numa elei-
mente fi zeram muitos inimigos c (2) a probabilidade de uma co mpos ição ção po r alguma outra alternativa. Se o gove rn o escolher f, tanto B qt1anto C
va riú vel de: maioria em relação a diversas questões é alta. Portanto, ;1 oposiç;io preferem h. Se o governo escolher h, tanto A quanto l3 votariam numa oposi-
pode esta r di sposta a abandon:1r a posição majorilúria em relação a a lgumas ção que escolhesse g. Fina lmente, se o governo seleciona g, a oposição pode
questões na espe rança de criar Ullla ai iança bem-sucedida entre os dis s identes esco lher f, que tanto A quanto C preferem a g. Uma vez que o governo tem de
da açiio gove m;11m.:ntal. se comprometer primeiro, a oposição pode escolher alguma outra opçi"io, igua-
lar-se ao programa do governo quanto a todas as outras questões, de: modo a
reduzir a eleição àqu e la a lternativa, e derrotar os oc up antes do cargo não
C' () jJroh/cnw de Arrow importa que alternativa esses escolham!
Talvez pareça que os eleitores enxergarão atrav és da estratég ia da oposi-
A terceira estratégia possí ve l da oposição contra o governo, assim como ção, porque eles perce bem que, quando a oposição assume o poder, deve
a segunda , fi.lnciona apenas quando hú fa lta de co nsenso no eleitorado. Se os enfrentar o mesmo di lema. Entreta nto, o x do problema não é a ação dos e le i-
e leiton:s discordam , de certos modos específicos, quanto a quai s metas são tores na eleição, ma s a estrutura de suas preferências. Como Arrow most rou, o
desejáveis, o gove rno pode ser derrotado porque não consegue seguir o princí- governo, nessa situação, não pode adotar uma política racionaJ 9 Não importa
pio da maioria, mesmo que o quei1·;1. Para estudar essa situação, deixamos de o que faça, está errado, porque a maioria teria preferido a lguma outra ação.
lado o pressuposto simplificador de que há apenas duas alternativas para cada
decisão . Em lugar disso, supomos que a lgumas questões podem ser soluciona-

R. Esse cnso ele três cscolh.<IS cobre todos os casos que envolvem m;lis de du <ts nlt~..:rnativas.

9. Kenneth ./. Arrow, Social Choice and !ndil'idual Va/ues, Ncw York, Jolm Wilcy & Sons. lnc., 1951
' \

7. Ver Cnpítulo 7 para uma discussão do priml!iro ponto e SCção li! deste capítulo quanto ao segundo po,hto. Grande parte elo conleúdo desta seção é tirada diretamente da obrJ de Armw.
/i() 81
UMA TE0/1/A ECONOM!CA DA
DEMOCRACIA
A LOG!CA !J)SICA DA T0i1/ADA
DE DECI SlO GOVEii N!IMENT.'il
Cert ame nte, não é racional que os eleit .
ores se recusem a vota r num a alter nati-
va que prefe rem quan do se lhes é ofer membros. Nossa hipó tese de que
ecid a uma esco lha- todavia é som os governos agem de mod o a rna
ente ximi zar
assim que a estratégia da oposição votos pare ce levar a seu próprio aban
pode ser derrotada. O fato é que nada dono ".
os eleitores fúe m é racion::l!, no senti que E~sa conclusão pessimista depende da
do de seleção de uma alternativa estáv exeq üibil idad e de uma estra tégia
preferida, na med ida em que suas prefe el, de corr~spondência d~ questão, isto
rências são tão díspares. é, da habilidade da opos ição de redu
disp uta a algumas ques tões através zir a
Com o o gove rno enfrenta mais que ' da conc ordâ ndia com os ocup ante
duas políticas alter nativ as em quas s do
toda decisão, pode mos pres umir a e carg o em relação a toda s as outras. Essa
priori que ele topa com esse dilem estratégia é poss ível som ente se a opo-
menos uma vez dura nte cada perío a pelo sição tiver certe za (l) de quais ques
do eleitoraJio. Qua lque r outra conc tões envolvem prob lema s de Arrow
lusã o de qual alternativa em cada questão e (2)
exige um grau extre mo de cons enso derrotará aquela que o gove rno esco
entre eleitores em re lação a todo s os lhe!'.
lhes de toda s as ques tões - uma deta - Sem certeza quan to a essas questões,
condição que acre ditam os improváv a oposição corr e um risco enor me quan
el. do se igua la aos ocup ante s do cargo -
Portanto , uma vez que man temo s as em tudo o mais, já que isso elim ina
outras supo siçõ es que fizem os no com qual -
ço desta análise, os ocup ante s do carg e- quer possibilidade de venc er em relaç
o semp re serão derr otad os pela opos ão a qual quer outra questão. ..
A opos ição precisa apen as seguir a ição. Por outro lado, a idéia do princípio
estratégia de corr espo ndên cia de polít da maioria se asse nta na hab!ltdadc
reduzindo portanto a eleiç ão a algu icas, da opos ição de adot ar uma estratégia
m problema de Arrow, c .espe rar de corr espo ndên cia de ques tão se os
que o pantes do cargo ao men os uma vez ocu-
gove rno se com prom eta em rel ação deixam de apoi ar as opin iões da maw
àque la questão. Então, simp lesm ente na.
ciona a política que derr ota o que quer se le- Nov ame nte, a opos ição tem que ter
que o governo tenha esco lhido e - pron certeza de que, em relação a algu ma
- tão espe cífica , os ocup ante s do carg ques -
to' --- cstú eleita! o adotaram uma posi ção mii1oritária.
essa certeza, nenh um parti do ousa ria Sem
reduzir a eleição inteira a uma ques
Assi m, tanto a derivação do princípio tão.
da maioria quanto seu sola pam ento
prob lema de Arrow depe ndem do pres pelo
III O PAPEL DA CERTEZA NO MOD suposto da certe za .
ELO Exatamente o mesm o argumento se
aplica à estra tégia de coal izão da
Nesta altur a, noss o mod elo com eça minoria. Se a opos ição sabe que as
a se desi nteg rar por caus a do pres condições um, doi s c quatro prevalece
- ela pode sempre derr otar os ocup ante m,
supo sto de certe za; isto é, os p~rt s do cargo assu mind o posições mino
ido s sabe m o que os eleit ritá-
ores pref erem e rins em relação pelo men os a algu
os ekit ores conh ecem as cons eqüê mas questões. Portanto , os ocup ante
ncia s dos atos gove rnam enta is. s do
conh ecim ento perf eito perm ite que Esse cargo não têm nenh um incentivo para
os prob lema s de Arro w dom inem a agradar a maioria, jú que sua caus
atcn - inútil. A certeza que perm ite que o a é
çfio e forcem o siste ma soci al a princípio ela maio ria fui1cionc si mult
um cola pso, espe cialm ente se envo anea -
ques tões impo rtant es. Poi s se nenh lvem men te solapa-o sem pre que essas frês
um gove rno pode ser reele ito, entã condições preva lece m.
o a
moti vaçã o parti cbria para a ação não
pode cont inua r send o por muit o temp Se tentamos fuairo
desses dois dilemas introduzindo a
incerteza, salvamos
o dese jo de ser reeleito. A expe riênc o os ocupantes do cargo de uma derro .
ia logo conv ence rá cada part ido de ta inevi tável, mas, ao mesm o tempo,
que timo s que eles aban done m o princípio pern n-
seu dese jo é fútil. da maioria. No entanto, lidaremo s com
Portanto, uma vez eleito, o governo esses desdobramentos posteriormente 12
não tem por quê segu ir o princípio da No momento, mantemo s a certeza, mils,
maioria em relação a qual quer ques ao mesmo tempo, ignoramo s seu efeit
tão. Ele sabe que se enco ntra r um o sobre a motivação do com port ame
únic o nto
caso de problema C:e Arrow, não impo
rta quão trivial, perd erá para a opos
Com o isso é altam ente prov ável, o ição.
governo agirá segundo algu ma regra
rente do princípio da maio ria, tal dife- 11. Tnlvez possamos concluir. com
com o ganh o material imed iato para base nisso. que a democracia não
pode l'unc ionar num mundo certo.
seus menos que consenso en tre eleitor
es seja quase comp leto em rel nção
a
0 H tod(IS as questücs. No mund
real a incerteza mascara os dih:ma n
s que :1 sociedade cnti·entaria se tivcsSl
: que confrontar sua
dad~ hones tamente; daí ser possível
a democraci~.
divc,·s l-
Esse racioc ínio demonstra quão
I O. De agora em diante, referim
o-no s a qualqu er um desse,S\d r! incerte za para a vida politic a em
fundamental ~ a
er1las corno um «problema de Arrow todas as sociedades grandes.
".
12. Ver Capít ulos 5, 6. 7 e 9.
H2
....
83
UMA TEORIA ECON(j/vfiCA DA DEMOCRACIA

A LOGICA . !CADA rOM4DA
BAS " · DE DECISÃO GOVERNAMENTAL
partidário; isto é, supomos que os partidos nunca se sentem desencorajados em
seu desejo de ser reeleitos pela sua derrota contínua depois de um mandato no negociação mencionada (como no Q ua d.IO 2) ' então a estratéoia
, o de coalizão
pode1: Assim, a maximização de votos pennanece como a meta cemral de seu de minorias funciona 13
comportamento. Esse subterfúgio admitido nos permite manter o princípio da
maioria tempo suficiente para fazer algumas deduções úteis a partir dele.
Quadro 1 Quadro 2

!V A PREPONDERÂNCIA DA "VONTADE DA MAIORIA" Eleitores Eleitores

A. O regime da maioria apaixonada A B c A B c

A partir da análise precedente, fica claro que o governo nem sempre Questão 1
segue o princípio da maioria mesmo num mundo certo_ Quando a oposiçfío Alternativn M 10 8 10 8
adota a estratégia de coalizão de minorias, o governo pode ocasionalmente
apoiar a minoria a fim de maximizar a chance de um empate. Ou, se um par- ;\ltcrnativ:1 N 10() <) 5 IOU 9 5
tido de oposição obtém o cargo seguindo uma estratégia de coalizão de mino-
rias, ele executar{! políticas que agradarão a minoria sempre que questões Questão 2
semcllwntcs surgirem de novo. Finalmente, quando surgem problemas de Alternativa M' 10 10 16 10 10 16
Arrow, não hú posições majoritúrias a apoiar. Portanto, à primeira vista, o prin-
cípio da maiori:1 parece ser um conceito completamente inútil. Alternativa N' 9 9 17 9 9 20
Hntn;tanto, ~c excluirmos os problemas de Arrow, isso leva diretamente
Os números representam unidades de utilidade.
ú seguinte conclusão: num sistema bipartidário, os partidos quase sempre ado-
t:JJil qualquer política que uma maioria de eleitores prefere, não importa que
cstmtégi:1s os partidos estejam seguindo. Nenhum dos dois partidos pode
ganl1ar assumindo uma visão minoritária, a menos que a maioria sustente suas Esse exemplo t.I ustra
- d.tvets,,
-·as c-Jracterísticas
' do regime
. - dn maioria
, I,, ·,IIJH.ri-
'Cr-
I p · · ·a mente a c ar d .ma 1.d1 acle intcr1Jcssoa1
,· e Irrelevante. sso c v
opini(ics sem entusiasmo; portanto, uma maioria apaixonada sempre determi- xonac a. nmen, ' . . . , - !c utilidade ele qualquer um ou
na as políticas. - ue Jodemos multiplicar os numeros c - .
dade pOiq l .
d t d . os ·idadãos por quatsquet num - . eros positivos sem mudar os tesu!tcl-
. l-
Para mos I rar exatamente o que é uma maioria apaixonada, vamos supor
d e o ost toc que todos os numews,. - para qualquer
' homem, sejam
- multtp. tca-
99
que os eleitores vinculem utilidade a diversos resultados de políticas, como /(li
demonstrado no Quadro J. os, con an . A, . fato de a renda de utilidade de A subir .
d elo mesmo numero. ssun, o ' , ·c/·
os·dp desseM for su b stitm
- . 'd o por- M' não necessariamente compensa a, pet d
Se for assim, o partido de oposição não pode adotar uma estratégia de
de uma umdade por par e d e B ' devido à mesma mudança, _i{l que não 11a como
um a . . t
coalizão de minorias (políticils N e N') para se contrapor à estratégia de
·c! d · terpcssoalmente.
maioria dos ocupantes do cargo (M e M' ), embora o eleitor A prefira muito comparar um ades lm . 0 fator que determina se um homem assume uma
mais receber N a receber M'. Essa possibilidade é eliminada porque C esta- Em segun o ugm, . 1 - cad8
- e seu ganho rel8ttvo em Ie açao a
posit,:iio majoritária apaixonada nao ,
ria disposto a negociar o resultado minoritário em relação à questão 2 pelo
resultado majoritário em relação à questão l; isto é, ele é mais apaixonado
em relação à sua opinião majoritária do que em relação à sua opinião mino-
ritária. Se alterarmos sua paixão, a fim de'qu~ ele se disponha a inverter a 1\ ll!':t t'Ltln <l p~l!lll d~·~,';(' r;winl'Íili!l ljlll' ~ls L:ondiçôt:s que subj<:Jzcm 8 maiori~; ~lp<lixon~Jda silo o npostcl
C\:\(\ I d;J:; t 11!\dll;\lt'\ \lll\ (' dui•,
UM/I JT:0/1/A ECONOMIC A DA DEMOCR.1C/;J

..! L(jGJC.·I IJ!ÍSICA DA TOMADA DE DECI.\ÀO GOVE/IN!IM ENTAL


ques tão! ' mas seu ganho total em relação à combinaç ão inteira de questões
exemp o, no Quadro I C b ~ p .
o .
' . o tem 3 7,5 Yo mms benefício s de M do que d,. N OI
pode deseja r N loucamen te. O ponto crucial é se os cidadãos na maioria
têm
mas somente 6,2 5 % ma1s utilidade de N' d '
suspeit::~r G" -' , . . - ~:.,. -~• ... : _ . . .
0 e
qu e de M: portanto, poderíam os
' uma preferênc ia maior pela sua posição qu anto a essa questão do que por
posi-
Mas isso é·;· I'- <:"' '' ' u •da u \o explica a disposiçã o de C de negociar N por ções minorit:ir ias que assumem quamo a outras questões. Desse m odo, os
M. par-
a so, com o o Quadro 2 most · c · tid os não julga m a paixão co mparando os ele itores uns com os outros; em
ciar M . , la. es ta ago ra mais disposto a ne <>o- luga r
' . pm N ' em bora obtenha apenas 25 %mais utilidade de N ' do
e amda obtenha 3 7,5 % mais de M do que de N E .d t
d
qu e e
'M, disso, compara m a intensida de dos sentimentos de cada eleitor em re lação
a
to tal em rel ação a todas as ce rtas qu estões com a intensida de de seus sentimen tos em re lação .a outras.
- . . VI en emente, seu ganho
mais como e le vot· I , questoes considera das conjuntam ente determin a Esse fàto leva nta duas perguntas: ( 1) há quaisquer comparações inte rpe~
­
, .
espec1f!ca 14. cl lo que a ta xa de ga nho em relação a quaJqueJ· qtlest,"lo soais em política? (2) o que realmente significa o regime da maioria apaixona
da'!
Finalmen te 0 excm 1
.. .· . . ' p o mos tra que uma maioria apaixona da tião é
sa t lament e m:us apai xonada em rel ação a suas o . . - • . d ,.
, . . neces- B. A importância política das maiorias ap aixonadas
ela domina . Dito de outro modo · . . . . . - plntoes o qu e d mmona
qu e
~~:;l;l~~~~lt<;~ cia 1:Jaioria c om aqu·e~:~~:~: t:~~~~~:l:\~~~ :~::~~:~~;:~~:~ :: 1 ~~~;~~,:~;od~;
1
As compara ções inte rpessoais se constitue m, de fato , na essência da polí-
' . .t< .lo <c. ncgocwr os resultados <IUC prefere qttalldo !la 1 . .· tica, porqu e sua função é a resolução de conflitos e ntre os hom ens . A lém
'Ijuel· · f ' c l 1aroua por disso,
, l . cs que prc en; quando n:t minoria. O cidadão A ··d
já que definim os utilidade como uma medida de beneficio , e já qu e todos
desejo lll:ti s intenso de co ns c<>uir Nem ve d M d ev! ente mente tem os
um conJ1itos dizem respeito a benefícios, essas comparações são, no fund o,
rclaçi'ío a qualque r qu es tão· to~avi a no Q zd e I o que ~ualquer outro com-
· - e m parações de beneficios. Entretanto, são ordinai s, não cardinais ; a cardinali
p:uxao mais fraca dos cidadãos ' ' '' ua r o sua pmxao é supera da 1 da-
8 e CJ 5. ' , , pe a de é proporcio nada pe la suposiçã o de que cada c idadão pod e depositar na
Desse modo, não podemos jul ar urna
- . , um c a p e n a~ um voto. Esse axio ma implica que as opiniões políticas de
lllL:io de se us scnlimcn tos em reJa - g, . quao a!Xl!Xon:da e uma maioria cada
por
llleltlhros de tlnl · . . . · . . çao a qu alquet questao mdJvJdualme nt c. Os ho mem silo t5 o importan tes quanto as de qualquer outro ho me m, mesmo
• . .J me~ I O !la ap:u xonada podem se .
qu e
t· . um ;1 ss uma suas posições com fervor intenso e o outro seja quase .indife
I(Ji Csl:o/hid: t :t :dt,;mati va M em ' d I111jJOI a! ap enas um pouco se: rente.
\ ez a alternativa N; ao passo que a minoria O fato de cada um ser um cidadão é que torna suas opiniões significa tivas,
não
o fa to de e le ser (ou não) fe rvo roso em relação a elas. Daí, nem a paixão
nem
a s ua a usê ncia se soma ao peso político das opiniões de le num mundo certo.
14. A!(: Jltcsrno :I c;mlill<ll id:i lk Ínlrapcssoa / pode ser~ ~- . d Mas se isso é verdadeir o, o que pode s ignificar o reg ime da ma ioria apai-
Nos· ~: ll nHna a sem alt cr·1r 0 rctrim .. d.
illllanlcrno.o., ;tqtli porque ( ) . • , ~ · .·
. - 1 1OIIJ ,I .t
_,. • • "· ' b e a llla!OJJ::t np:1i xo rwd a.
CX j)OS IÇH O llKII S tacil c (2) se , .. · .. ~
xon:Jda? Seu s ignificad o real é que o regime da maioria prevalece na forma-
no no n :stn do <.:studo (. . · cncnx.1 em no sso uso di..! benc/i.
· · .on 1li< 10 • po( 1en ;11nos uli lizar un1<1 ab r 1- n ção de políticas governam entais apenas qu ando há um co nsenso de intensida
cur~lunlos de JHllirica s l'Jll v~.:;: d , I . ·r.· . ) , .· , .. .
o ca:::-em cstrJ!dmente ordma l comparando -
. t: )Cilt.; ICIOS. I or exemp lo no Qtnd ro I
Ml'v l' ~to ..:on.itlllltl NN ' nns l () . . ') . . . . . . r-. -, . des ass im como um consenso de opiniões . Por consenso de intensidades
11 1 • ( · 0 e ettnr C prelcre o co njunt o e nten-
' ' · t , u.H 10 ... Slld prc/crencw se in ve rte S · 1-· . , -~ .- .. .
gosto Ctll rel;u,;;i n ;is polil it" J<; I I . . e Simp esmc nte dllllll~t nnos que se u de mos que a maio ria dos c idadãos concorda em relação a quai s qu estões
. ·• . nnt t ou, pot cnll)s ltnJr 1ts mesnn s c ·I -
são
lld;tde de modo ;t/uwtt TtHh.. . . . ' onc usoes que antes Sl:!m mencio nar uti· muito importan tes, mes mo que discorde quanto a que política seguir em
.--. . , ::. ,Js Olltlas pilrtcs de nos so csl udn que , , I
ment e.: lrttusposr; 1!-; em .111 .- r .. ,. l'l. . .. re la-
1
• , ~ ~t.:- <c 1 rrH' ct cn,·a ou urdlllal;. · em 0 ve m utJ!tcla ck: podem ser i~ua/ . ção a cada qu eslilo; isto é, se importa muito quanto a qu e se s iga a políti ca
de da
. portanto n -~ I d- - ~ cor-
c:udma/id:tdc da utifi< h I, .. ·. . . , en umw as noss~s conclusoes depcn .
, (_c, SlJI llliL'r- ou tnlr~tpcsso al A Úttin . . :-- . - reta t:ll1 re lação às mesmas qu es tões, em bora possa ter idéias difere ntes
d:Jg<.~lll cstrit;un en tc ordinal do tome ·o . I .. _; ' , . . , ' a~c~o POI que na o usn mos uma <lhor-
.sobre
15. Esse rcs ul!;tdo l~ ain da nnis not·ível sç' _'lt lu n ~que t.:l.t torna a expostção o que são as po líticas corretas. Por consenso de opiniões entendem os que,
mais di1lcil. em
, . , . c .supusermos que: as uti lilhdcs d t I ~ . re laçilo a qualque r qu estão, uma maioria de cidadãos apóia uma alternativ
dos ll<I S mes mas u uid<~ d cs isto ·, , . .. . . .
- , .
. {
c , que c! Cclldnl<:liHl él dc l!l!Crpcsso·d _
e ot os os tres e! c Hore s são medi~ a
r.: nlao subnm w· H c c p;.~ra ) . ·r· .·., N , ; .' I C
1 IC Cllu.:m c todos ganharwm . · · ' c possJ\ e · lara mcn te. 1\ poderia ma is do qu e outras- tem a mesma opinião sobre qual política é correta.
de votos é pro ibid<J. O dcsci o .,1 ,. . _ t ~tlv~- b . . . ·
~ . , czsu SfdJlCI J 1ment e. Toda vic:l, a venda Esses dois tipos de conse nso são independ entes entre s i, já qu e cada um
J te a Jvc~m cn tc cno nnl! de A pôr N . . . . I
discussiio dctallwda de \'Cnth d ~ t . \ . ~- ; e lllCVttave mente li·uslrado. Para lllll <J
' e vo os nessas S!luct ções, ver Cap'ítulo IO pode ex is tir por si mes mo. Mesmo quando existem ao mesmo tempo, a
maio-
86 ria que apóia uma dada política pode não ser a mesma maioria que apói a
al gu-
87
UMA TEOIIIA ECON(jAfiCA DA DEMOCRACIA
il !.ÓGIC.-1 BASICA DA 7VMADA DE DECISÃO GOVERNAMENTAL

ma outra política. Entretanto, haverá um único conjunto de cidaelãos, com-


grande parte indivisíveis, é provável que todo cidadão tenha sentimentos mais
preendenelo uma maioria de eleitores, que têm rankings muito semelhantes de
intensos quanto à sua especialidade- que é relativamente singular- do que
importância de todas as questi'íes. Essa semelhança n3o precisa eliminar a pos-
quanto a seus mtercsses gerais- que ele compartilha com a maioria dos outros.
Slbil!daele de ações que favoreçam a minoria, porque pode haver um pequeno
Assim, a especialização é uma força politicamente divisora numa democracia
subconjunto ele políticas dentro das quais prevalecem as condições um, dois e
que encoraja os homens a se aliar às minorias a fim de frustrar a vontade da
quatro. Ao se igualar aos ocupantes do cargo em relação a todas as outras polí-
maioria Ir,_ Veremos depois como esse fato leva à assistência mútua' e a outras
ticas, a oposição pode reduzir a eleição a esse subconjunto e aplicar a estraté-
táticas pelas quais um grupo de minorias concorda em explorar a maioria 17
gia da coalizão de minorias. Contudo, o fato de se igualar aos ocupantes do
cargo em relação a todas as outras políticas mostra que a posição majoritária
geralmente prevalece mesmo nesse caso. .
V O PROCESSO ORÇAMENTARIO
Além disso, mesmo quando se encontram problemas de Arrovv, o regime
da maioria apaixonada tem repercussões significativas. Por baixo de um com-
A. Decisàes orçamentárias sob o princípio da maioria
plexo ck alternativas que causa problemas de Arrow, geralmente repousa algu-
ma dlóclsiio mais fundamental de políticas. Por exemplo, hú inúmeros modos
No começo deste capítulo, afirmamos que o governo aumenta seus gas-
de se montar um programa de seguridade social; daí, a adoção de qualquer um
tos até que o ganho de voto do dólar marginal gasto se iguale ú perda de voto
deles pode envolver o governo num problema de Arrow. Mas a questão de se
do dólar marginal de financiamento. Em outrás palavras, quando um governo
os Idosos dt::vcriam ou não receber de alguma maneira mais do que a assistên-
recém-eleito (ou reeleito) monta seu plano de ação, ele pergunta em relação a
cia pública mínima pode se reduzir à base do sim ou não c pode-se encontrar
cacl:! gasto: "Vale seu custo em votos em termos de votos ganhos?", exatamen-
uma opinino majorit{u-ia. Se a maioria parecer apoiar vigorosamente esse prin-
te do mesmo modo que uma firma lucrativa pergunta em relação a seus gas-
CipiO, ambos os partidos a adotarão. A gama de alternativas sobre :1 questão
tos: "Vale seu custo em dólares em termos de receitas acrescentadas?"
da scgui·id;!dc social é, portanto, reduzida a diferentes defini~'Õcs do que sc :
11 rvlas o l'.overno assume muitas das atividades de seu predecessor sem
·'mais do que mínima" c a diferentes métodos de administraçiio. l~mhora issu
realmente pc~sar em aboli-las, embora possa considerar uma alteração margi-
;linda deixe uma gra11dc úrea de escolha, não proporciona um ponto de vista
nal de sua quantidade ou a reorganização de sua administração. Assim, come-
sobre a qucsl;"ítJ h;.lsic;I que ambos os partidos adotam c em torno da qwil as
ça com uma grande quantidade de atividades essenciais que sabe, por expe-
rca1s <Iilcrn;ltiv;ls se agrupam. Concluímos que, numa democracia bipartidú-
riência, que valem seu custo em votos. Provavelmente, também existirá um
ria, as polític;1s governamentais, no fundo, seguem o que quer que a maioria
conjunto de mecanismos básicos de obtenção de receitas que o governo sabe
deseje ardentemente, c que o raio de desvio de suas aspirações é relativamen-
te pequeno. que. custam menos em votos do que custaria a interrupção daquelas atividades
que apóiam. Desse modo, o peso crucial de votos ocorre nas margens dos
Desse modo, a democracia leva ú preponderância das opiniões ela maio-
padrões tanto de gastos quanto de receitas.
ria sempre que a maioria dos eidad;los concorda entre si mais enfaticamente do
A maior parte dos governos separa os estágios iniciais de planejamento
que discorda entre si. Uma J(Jrça social extremamente importante que causa
de gastos dos estágios iniciais ele planejamento de receitas como parte ele sua
tanto eoncord{incia quanto discordúncia é a divisão de trabalho. Como ela
aumenta a dependência dos homens, uns em relaç;lo aos outros, ela cria uma
necessidade de eoncordüncia. Entretanto, também aumenta a especialização;
16. L:isa conclusão é semelhante ú de David Riesman em sua anfllise de "grupos de veto". Ver David
portanto, dú ensejo a pontos de vista díspares sobre que políticas são melhores
Riesm<111, lhe Lone(P Cr01vd. New Haven, Yale University Press, 1950, pp. 244-255. Para Ulllí:l maior
para a sociedade.
discussão de como essa desunião pode paralisar a democracia, ver Capítulos 8 c 9 do presente estudo.
Além disso, como cada homem ganha a maior parte de sua renda em sua !\o original, fo:;ro/J;n:;, cxpressfío usCJda nos EUA para se referir à prática em que um grupo vota no
área de especializaç;lo, e como os benefícios da cooperação social são erí1 nutro c vicc-vcrsn (N. dZI T.).

17. \"crCapítulos 12 e 13.


li/i
8Y
UMA TEOI/ IA ECONOM!CA DA DEMOC//AC/!1 A LÔC!CA BIÍSICA LJA TOMADA DE DECISÃO GOVERNAMENTAL

divisão interna de trabalho. Dois conjuntos de planos são montados e subme- no não pode mais pesar os atos indiv idualme nte, mas deve olhar o efeito d e
tidos a algum órgão central de ba lanço, que deve delimitar o padrão de gastos tod os eles como um a unid ade. Conseqüentemen te, suas decisões se tornam
e achar algum tipo de f inanciamento , seja taxado, impresso ou emprestado, muito mai s complexas.
para tudo isso . Se o governo esti ver agindo de modo a max imizar vo tos , esses Como exemplo, digam os que o governo está ponderando so bre um pro-
planos são avali ados por seus acréscimos às rend as individuais de utilidad e de blema que aca bou de surgir em Tn, que é qu a lquer momento entre Tb, o come-
cada eleitor ou por subtraçiio dessas renda s. O órgão de balanço pesa cada ato ço do período eleito ral, e Te, a data da eleição. Todas as suas ações de Tb a Tn
adicional de gasto em re lação ao financiamento adiciona l necessário e decide devem ser co nsideradas como dad as, uma vez que já estão afetand o rend as
se irá ga nhar ou perder vo tos, à lu z das funç ões de utilidade de todos os e lei- individuais de utilid ade. Igua lmente, um esquema foi montado anteriormente
tores e da possível estratégia da oposição. para os atos futuro s de Tn a Te, que foram originalmente coordenados com os
É provável que o gove rno adote qu alquer ato de gasto que, acoplado ao atos agora dados num únic o plano geral qu e cobre todo o período. Aconteci-
se u finan ciamento, é um ac résc imo Iiqu ido de utili dade para mais é leitores do m entos não previstos provocam constan tes desv ios desse plano geral , cada um
qu e é uma subtração, isto é, agrad::~ mai s do que ir rita. Do contrário, a oposi- dos quais sendo realmente uma reformulação do plano inteiro de Tn a Te , à luz
ção pode aprovú-lo c transform á-lo numa qu estão na próxima ca mp<mha . dos atos já executados de Tb a Tn. D esse m odo, cada única dec isão não previs -
In ve rsa mente, se mpre que um gasto propos to irrita mai s e le ito res do qu e os ta e nvo lve uma nova prev isão a respeito da pos ição da renda líquida de utilid a-
ag rada, o partido no poder muito provave lmente se recu sará a executá-l o . O de de cada e le itor no dia da eleição.
governo continua a pesar as propostas des sa man e ira muito depoi s da formu- Na prática, ne nhum govern o rea lmente rea li za cá lcul os tão e labo rados.
lação de seu prime iro plano, jú que as condições mudam e novas possibilida- Não apenas lhe falta informação a re speito das configurações das funçõ es
des deve m ser consideradas. individuai s de utilid ade, mas também lhe é quase impossíve l fazer esses cá l-
Portanto, a pressão da competição moti va o governo do mesmo modo que
lnuliva as firma s privadas, L~mhma o número de competidores seja muito menor,
q cul os tre mendos pa ra cada decisão. Co ntud o, os rudim entos desse tipo de

L: a compdiçiú1 SL: j:1 pm voios L'lll vez de dó lares. Essa pressão a té mesmo l~1 z
COIIIqu e os partidos inove m, de modo a pree ncher as novas necessidades soci:1is
'I
\
pen sa mento aparec em no fato de o governo manter um olho nos diversos gru -
pos da sociedade pa ra ver como estão e para descobrir qu e ações deve riam se r
executadas a fim de apaziguá-los ou atrair seus votos. S implifica ndo os
c a se manter lcu1icamente no mes mo passo que a concorrência. milhões de e le itores num pequeno número de blocos e fundindo os milhares
de atos em a lgun s g randes g rupos de p o líticas, o governo pode rea lmente
faz er o tipo de recál c ulo di sc utido. Pode levar em conta como uma dada polí-
IJ. !lecisiies orçamentárias sob outras condições tica afetará os fazendeiros, os trabalhadores, os home ns de negócios, etc., e
como essa política se encaixará no e feito lí qui do que seu programa inteiro
A dcscriç;lo prccedcnlc do orça men to governamental se aplica quando o terá tido sobre cada um desses gru pos hom ogê neos por volta elo di a ela elei-
gove rno s..:gue o princ ípio da ma ioria, mas e le não necessa riamente e mprega ção, dadas as ações já executa das.
aquclc princípio sob locb s as comli~côes. Co mo vimos, sempre qu e a opos ição Concluímos qu e os governos, em nosso mund o-mode lo, ou ( J) tomam
usa a estratégia da coali zJo de min orias ou é impedida pe la incerteza de ado- cada decisão de gasto separadamente por me io do princípio da maiori a ou (2)
ta r uma es tratég ia de equiparaçüo de questôcs, o governo fica livre da ne cess i- encaixam cada decisão no padrão inte iro e recalculam o impac to total de seu
dade ck co ncordar corn a 111;1imia em rcla ç:lo a cada questão. prog rama d e gastos sobre to dos os e leitores. Qual dos dois mét odos eles
Por co nseg uin te, não c:st ~1 inte rL,ssad o no impac to líquido de cada ação segue m dep ende do grau de incerteza em re lação a seu co nhec ime nto d as
so bre a renda de utilidad e do elei to r, mas s im no de todas as suas ações con- funções de utilidade dos eleitores e das estratégias adotad as pelos partidos
s ideradas em conjunto. Ocas ionalmente, se dispõe a irritar mais e le itores do de oposição.
que agrada, se ações subseqüentes ap lacarem os irritados e todavia não elimi-
narem completamente a sa tisfaç ão dos sa tis feito s. Isso sig nifica qu e o gove r-

YO Yl
UMA TEO!i!A I:'CO.V!)A/IC-1 DA DfMOCIIACIA A LÓGICA BÁSI CA DA TOMA DA DE DEC!SiO GOVERNAMENTAL

V! COMO OS ATOS GOVERNAMEN7AIS SE RELACIONAM As FUNÇÕES DE 3. Os eleitores rea lmente votam segundo mudanças em suas re ndas de utili da-
UTILIDADE DOS ELEITORES de e alternativas oferec idas pela oposição:

No Capítu lo 3, afirmamos qu e o modo como o eleitor vota depende de V e =f) (U1 , P 1 )


qu e ações o governo executa e de qu e ações a opos ição diz que executaria se
estivesse no governo, Neste ca pítul o, mostramos que as ações que o gove rno 4. As rendas de utilidade que os eleitores obtêm a partir de ações governa-
execu ta depe nd em de como o gove rno pensa que os e leito res votarão. Essas mentais dependem das ações realizadas pelo governo dura nte o perí od?
afirmações delineiam u ma re lação de interdependência mútua, que pode ser eleitoral:
transposta nu m conjunto de equações, co mo se seg ue:

representa o período eleitora l in tcm.1.


5. As estratégias de partidos de oposição dep endem de como vêem as rendas
V represe nta os votos reais dados aos oc upantes do cnrgo, de utilidade dos e leitores e as ações rea liza das pelo governo no pode r:

V' representa os vo tos esperados qu e o governo sente que lhe serão dados .

A representa as ações governa nK:ntai s, Esse conjunto de c inco equações tem c inco incógnitas: votos espe rados,
votos reais, estratégias da oposição, ações governamentai s c re ndas indi vicltwis
U representa as rendas ele ut iIidade dos eleitores provenientes da ação gover- de utilidade.
namental. Rcarranjamos nossas idéias e m forma de eq uação para mostrar a circ ul a-
rid ade de nossa estrutura ana lítica: votos depend em de ações e ações dependem
e representa :1 data da eleit;:lo 110 Cinal do período t. de votos. Os me ios pelos qua is a dependência opera são, em cada caso , as ren-
das de utilidade de indivíduos e as estratégias adotadas por partidos de o posi-
l' represe nta as estratég ias dos pa rt idos de oposição. ção, Outras va ri áve is devem se acrescentadas posteriormente quando introdu-
zirmos o custo de informação, mas a relação bás ica permanece a mesma.
fi representa um a re lação funcional.

Vn RESUMO
1. As ações do governo são uma fuiH,:<Io da mane ira como ele es pera qu e os
elei to res vote m e as estratég ias de sua npos içiio: De acordo com nossa hipótese, os governos continuam a gastar até qu e o
ganho marginal de voto proveniente dos gastos se iguale à pe rda marg inal de
AI "./i (V,'., P/) voto proveniente do fin ancia mento, Os determinantes de perda de voto c
ganho de voto são as rend as de utilida de de todos os eleitores e as es tratégias
2 . O governo espera que os eleitores vo tem segundo as mudanças e m suas ren- de parti dos de opos ição. Ass im, os gove rnos se e nvo lve m em gue rra po líti ca
das de utilid ade e as estratégias de partidos de oposição: ass im como em problemas de maximização,
Em condições de certeza, a me lhor estratégia de um governo é ado tar
v; =fi (U, , P,.) esco lhas que são a poiadas pela maiori a dos eleitores. Antes de fa ze r qualquer
gasto, faz uma votação hi potética para ver como as ren das de utili dade dos
YJ 93
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r.:..o > >,)()
UMA TF.OR/!1 ECONÔMICA Dll DEMOCR!IC/!1 28GU:J()
eleito res são afetadas pelos gastos e pelo financ iamen
to necess ário. Se deixar
de adotar a opinião da maiori a, seus opone ntes o
farão e brigar ão na eleiçã o
con1 base apen:1s !~essa quest3o. 3.ssegurandü desse
n1odo a derrota dos vçü-
pante s do cargo.
Entretanto, confor mar-se ao desejo da maiori a não
garant e a reeleiç ão Parte I!
para os ocupantes do cargo. Algum as vezes a oposiç
ão pode forma r uma coa-
lizão de dissidentes e vencer, assum indo a visão minor
itária em relaçã o a ques-
tões-c have, e outras vezes não existe uma posiçã o OS EFEITOS GERAIS DA INCERTEZA
major itária clara. Em ambos
os casos, a derrocada dos ocupa ntes do cargo é causad
a pela falta de forte con -
senso no eleitorado, combi nada com a habilid ade
da oposiç ão em abster -se de
se compr omete r até que o governo aja.
Desse modo, o domín io da maiori a nem sempr e
preval ece em relaçã o a
questõ es específicas, mas geralm ente isso ocorre
num si stema bipart idário
sempr e que a maioria apoiar vigoro samen te uma certa
polític a. Essas maior ias
apaixo nadas existem quand o os cidadãos têm sentim
entos m ais fortes quanto
ús opiniõ es sobre políticas, qu e a maior parte dos
outros compa rtilha com eles,
do que quanto úquclas em rehtção ús quais estão
na minor ia. Ao estimu lar a
especi alizaç ão de ponto de v i st~, a divi são de
trabalh o tende a fi-agmcntar
maiori as apaixon:tclas c a fomen tar governos de coaliz
ão de minor ias.
Quando o governo estú seguindo o princíp io da maiori
a , planej a seu orça-
me nto !itzendo um:t vot:t(,:ilo hipol~lica em relação
a cada decisã o . Quat1do es tú
usand o :tlguma outra cstrat~gia, julga toda ação como
parte de seu plano total
de gastos para o períod o eleitoral. Ev~..:ntos não prev
istos torçam -no a recalc u-
lar todo o plano ú luz do qut.: jú iez.
Como os governos planej am suas ações para ag radar
eleito res c os elei -
tores decidem como votar com base nas ações govern
ament ais, uma re lação '·

circul:tr de mútua interd epend ência subjaz no '.···1


fun cionam e nto do gover no
numa democracia. .\
I

Y4
.5

O SIGNIFICADO DA INCERTEZA

I. A NATUREZA DA INCER TEZA

A incerteza é qualquer falta de conhecimento seguro sobre o curso de


acontecimentos passados , presentes, futu ros ou hipotéticos. Em termos de
qua lquer decisão específica, ela pode variar quanto à possibilidade de elimina-
ção, à intensidade e à relevância.
Quase toda incerteza é removível através da obtenção de informação, se
uma quantidade suficiente de dados estiver disponíve l. Entretanto, alguma
incerteza é intrínseca a situações específicas . Por exemplo, o resultado de uma
e leição livre é incertó antes que a eleição ocorra porque os eleitores podem
mudar de idéia no último minuto. Os deterministas poderiam discordar, ale-
gando que informações suficientes sobre cada el eitor possibilitariam a uma
mente superinteligente predizer o resultado de modo infàlível. No enta nto, não
queremos nos envo lver na eterna controvérsia livre-arbítrio vs . determinismo.
Os agentes, no nosso modelo, raramente têm dados sufi cientes para elim ina r
toda a incerteza, mesmo qua ndo ela é teoricamente removível. Portanto, nós
simplesmente supomos que a inten sidade da incerteza pode ser reduzida pela
informação, que pode ser obtida apenas através do gasto de recursos escassos.
A intensidade da incerteza numa dada situação é expressa pelo grau de con-
fiança com que aquele que toma decisão to ma suas decisões. Se o conhecimento
adicional esclarece a situação na sua mente e aponta de modo mais forte para uma
Yl
UMA TFORI,J ECONÔMICA DA DCMOCRACIA
O SIGNIFICADO DA INCERTEZA
alternativa como sendo a mais racional, sua confiança varia em relação direta à
sos de pensamento lógico e com os princípios de anál ise causal; presumimos que
quantidade de dados que possui. Inversamente, informações adicionais podem
todos os homens a possuem. Conhecimento conrextual nós definimos como percep-
contradizer o que ele já sabe, de modo que sua confiança diminui à medida que
ção das forças básicas re levantes a algum campo dado de operações. É uma com-
ele aprende mais. Entretanto, como regra geral. quanto mais informação aquele
preensão das reiações enrre as variáveis fundamentais em alguma área, tais como
que torna decisão obtém, mais confiante em tomar a decisão certa ele se torna. E
matemática, economia ou agricultura na China antiga. Desse modo, conhectmento
quanto mais confiante ele fica, menos ele deve descontar os ganhos provenientes
contextual (I) é mais específico do que razão, (2) não é comum a todos os homens,
de sua certeza no planejamento de sua alocação global de recursos. Portanto, a
mas é adquirido em maior ou menor grau através da educação c (3) pode ser un:
informação é valiosa se aumentar a confiança numa decisão correta, mesmo que
obj eto de especialização. Informação são dados sobre os desenvolvimentos corret\-
não mude a decisão a que se chegou tentativamente. No entanto, os retornos mar-
tes nas, e status das, variáveis que são os objetos de conhecimento contextuaL
ginais desse uso de dados diminuem rapidamente, tendendo a zero, isto é, quanto
Desse modo, um homem pode conhecer a estrutura monetária de um país
mais confiante um homem está em relação à sua decisão, menos ele acredita que
sem estar informado sobre o nível atual da taxa de lucro, a oferta de dinheiro,
pode ganhar com base em informações adicionais. .
etc. Falta de conhecime nto contextual é ignorância, que deve ser distinta de
A incerteza é irrelevante para uma dada decisão se a decisão for trivial, ou
fal ta de informação. Para combater a ignorânc ia, um homem precisa de educa-
se a incerteza disser respeito a conhecimento que não lhe é pettinente. Desse
ção; ao passo que, para combater falta de informação (se ele já tem conheci-
modo, um homem pode ter um grau extremamente alto de confia nça em relação
mento), e le precisa apenas de informação, que é menos cara que a educação,
a algumas de suas decisões mesmo que viva num mundo de tremenda incetteza. A
mas ai nda assim tem custo elevado.
incerteza deve se referir a acontecimentos específicos; não é uma condição geral.
Com base nessas definições, é possível ver que um homem pode ser culto
Todas essas três dimensões da incerteza podem ser fundidas num nível de
sem ser informado, ou ser informado sem ser culto, mas ele não consegue
confiança com o qu al aquele que toma decisão toma cada decisão 1. Confiança
interpretar informação sem conhecimento contextuaL Portanto, quando fala-
abso luta significa que a incerteza foi removida, embora isso seja raro. E já que
mos de um cidadão informado, estamos nos referindo a um homem que pos-
o nível de confiança se refere a uma decisão específica, apenas a incerteza
relevante o iníluenciará. sui tanto conhec imento contextual quanto informação sob re aquelas áreas rele-
vantes á sua tomada de decisão.
Não faremos freqüentes referências explícitas ao nível de confiança em
nossas discussões do custo de informação e seu impacto sobre a rac iona lidade
política2. Entretanto, o apresentamos aqui a fim de esclarecer aquelas partes de
nossa análise em que seu uso é implícito. !11 AS FORMAS DE INCERTEZA NO NOSSO MODELO

Vamos nos voltar da semântica para a especificação dos tipos de incerte-


za que encontraremos . Os eleito res e os partidos políticos são as duas princi-
IJ RAZÃO, CONHECIMEN 1V E INFORMA ÇÃO
pais classes de atores no nosso modelo, e cada classe tem diversas formas de
incerteza associ adas a ela.
Uma distinção da qual faremos uso mais explícito é aquela entre razão,
Os eleitores podem estar incertos das seguintes maneiras:
conhecimento contextual e informação. Razíio significa facilidad e com os proces-

1. Podem es tar cientes de que suas rendas totais de benefic io se alteraram, mas
I. O term o nível de COJ~jiança (/el'e/ q(cm!fidence), tal como o usél mos aq ui, não tem exatamente o mesmo
estar incertos quanto ao qu e causou isso, particularme nte quanto a se ares-
significado que o termo estatí stico nível de COi!fian ça (cot?fidence leve/) . Esse último é um termo téc-
nico com uma defin ição precisa, enquanto o primeiro e de natureza mais general izada. ponsabilidade foi do governo ou da ação privada.
2. Tampouco tentaremos analisar os diversos métodos de tomada d~ decisão em condições de incert eza . 2. Podem não conhecer as repercussões, sobre suas próprias rendas de benefi-
Para uma discussão cuidadosa desse tópico, ver Kenneth J. Arro\v, .:A.fternative Theories o f Decísion- cios, de algu ma ação governamenta l proposta (ou executada), principalme n-
Making in Risk-Taking Situations•\ Economeirica , X I X:'-)~_-Sf; pp. 404-437.
te porque não sabem que mudanças nas condições objetivas ela provocaria.
Y!i
99
UMA TEOR I.1 ECONÔMICA DA DEMOCRACIA O SIGNIFICADO DA INCERTEZA

3. Podem não ter nenhuma consciência de certas ações que estão sendo exe- Na discussão sobre incerteza, podemos dis tinguir de forma útil entre
cutadas pelo governo, ou de alternativas que o governo pudesse ter esco lhi- tipos de conhecimento. O conhecimento textual ilumina a estrutura causal
do ou de ambas. básica de algu m campo de operações; ao passo que a informação fornece
4. Podem não ter certeza em relação a quanta influência suas próprias opi- dados atuais sobre as variáveis significativas naquele campo.
niões têm sobre a formação da política governamental.
5. Podem não ter certeza em relação a como outros cidadãos planej am votar.

Em resumo, os eleitores nem sempre estão cientes do que o governo está


ou poderia estar fazendo e, freqüentemente, não conhecem a relação enh·e as
ações governamentais e suas próprias rendas de utilidade.
Os partidos políticos (incluindo aquele no poder) podem estar incertos
das seguintes maneiras :

1. Podem não saber que decisões os elementos não-político s da economia vão


tomar; isto é, pode m ser incapazes de prever as condições econômicas com
as quais devem lidar ao gerir o governo.
2. Podem não saber como um dado ato governamental afetará as rendas de bene-
fício dos eleitores, mesmo que saibam que condições obj etivas ele produzirá.
3. Podem não saber que conseqüênc ias objetivas um dado ato governamental
terá, mesmo que saibam como as rendas de beneficio dos eleitores serão
afetadas por cada conjunto possível de conseqüênc ias.
4. Podem não saber quanta influência cada eleitor tem sobreou.tros éleitores.
5. Podem não saber se os ele itores estão cientes do que o governo está fa zen-
do e como os afeta, ou quanta informação adicional é necessári a para tor-
nar os eleitores cientes.
6. Podem não saber que pol íticas os pa rtidos de oposição adotarão em relação
a qualquer questão dada. Se esse tipo de incerteza existir, um partido será
incapaz de prever como os eleitores reagirão à sua própria política, mesmo
que conheça o modo como os eleitores serão afetados por aquela política e
a natureza de suas funções de beneficio.

IV. RESU/110

A incerteza é qualquer fal ta de conhecimento seguro sobre o curso dos


acontecimentos. Pode estar presente em qualquer parte do processo de tomada
de decisão política e geralmente afeta tantq ospartidós pollticos quanto os elei-
tores, através do controle do nível de confia~çacéóm o qual eles tomam decisões.

1110 IOI
6

COMO A INCERTEZA AFETA


A TOMADA DE DECISÃO GOVERNAMENTAL

INTROD UÇÃO

A incerteza divide os eleitores em diversas cla sses porque afe ta


algumas pessoas mais qu e outras . Além disso, dá origem à persuasão, já
que alguns dos e leitores que têm mais certeza tentam influenciar aque les
que estão menos certo s. Desse modo, a incerteza cri a dois critérios para
diferenciar eleitores: a confiança com a qual um eleitor sustenta sua pre-
ferência partidária, e a intensidade com a qual advoga quaisquer opini ões
qu e tenha.

OBJETIVOS

Neste capítulo, tentamos prova r as seguintes proposições:

I. Alguns homens racion ais são pol iticamente ativos, outros são passivos
ou confusos e outros reagem à política com padrões habitua is de com -
portamento.
2. A liderança política é possível somente num mundo incerto e os líderes
ganham seguidores racionais de modo aproxi madamente proporcional à
falta de informação dos segui dores.
/03
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA COMO A INCERTEZA AFETA A TOMADA DE DEC!SlO GOVERNAMENTAL

3. Todo governo democrát ico descentraliza seu próprio poder se é difícil des- extremo da escala de incerteza - estão certos de qual decisão de voto é
cobrir as opiniões de seus eleitores, não importa quão centralizada seja sua melhor para e les2. São também extremistas na escala de intensidade, já qu e
organização constitucionaL esrão suficientemente inTeressados rra \·irória de um panido para fazer pro-
4. Num mundo incerto, é irracional que o governo democrático trate todos os selitismo a seu favor.
homens como se fossem po li ticamente iguais. Nem tpdos os persuasores presuntivos são eleitores; os partidos obvia-
mente também são persuasores . Aqueles que são eleitores, chamamos de agi-
tadores, isto é, eleitores que usam recursos escassos para influenciar outros
f COMO A INCERTEZA DÀ ORIGEM À PERSUASÃO eleitores. Tendo se informado bastante bem para ter certeza quanto a suas pró-
prias decisões, os ag itadores são praticamente imunes à persuasão de seus opo-
Contanto que reten hamos nossa suposição original de certeza, nenhum nentes, já que supomos que a persuasão pode ser exercida apenas através do
cidadão pode de modo algum influenciar o voto de outro. Cada um sabe o qu e o fornecimento de informações, não através da mudança de gostos. Os agitado-
beneficiari a mais, o que o governo está fazendo e o que os outros partidos fariam res são geralmente motivados por um desejo de ver as políticas de um partido
se estivessem no poder. Portanto, sua estrutura de gosto político, que supomos ser específico sancionadas, ou por gratidão a um partido por ele ter executado
fixa, leva diretamente a uma decisão desprovida de ambigüidades sobre como alguma política que apóiam. Mas, quer seu motivo sej a a simp les retribuição
deveria votar. Se ele permanecer racional, nenhuma persuasão consegue fazê-lo de um favor político ou o m;ús idealista altruísmo, estão dispostos a investir
mudar de idéia. Nesse mundo, mesmo que um eleitor queira apa ixonadamente recursos escassos - pelo menos tempo, e talvez mais - em agitação.
que seu partido vença, é fútil tentar influenciar qualquer outra pessoa a votar nele.
Mas, assim que a incerteza surge, o caminho claro que va i da estrutura de
gosto à decisão sobre o voto se torna obscurecido pela falta de conhec imento. Para li. OUTROS TIPOS DE ELEITORES
alguns eleitores, a decisão permanece óbvia; querem que um partido específico
vença porque suas políticas lhes são claramente as mais benéficas. Mas outros têm Alguns eleitores são bem informados o suficiente para ter tomado certas
muita incerteza quanto a qual partido preferem. Não sabem exatamente o que lhes decisões de voto definitivas e certas, mas não estão interessados em persuadir
está acontecendo, ou o qu e lhes aconteceria se um outro partido estivesse no poder. outros a concordar com eles. Chamamos esses eleitores de passivos, se chegam
Precisam de mais finos para estabelecer uma preferência clara. Ao fo rnecer esses a uma preferência partidária, e de neutros, se são indiferentes em relação aos
fatos, os persuaso res encontram uma oportunidade de tornar-se mais efetivos. partidos. Estando certos, nem os passivos nem os neutros são abertos à
Os persuasores não estão interessados per se em ajudar pessoas que estão influência. No entanto, seu éomportamento no dia da eleição é diferente - os
incertas a se tornar menos incertas; querem que a certeza produza uma deci- passivos votam, os neutros se abstêm3.
são que auxili e sua causa. Portanto, forne cem apenas aqueles fatos que são Até agora, tratamos apenas dos eleitores que estão certos sobre como
fa voráveis a qua lquer grupo que estejam apoia ndo. Presumimos que esses querem votar. Isso não signif ica que conhecem todo fato relevante à sua deci-
"fatos" nunca serão falsos, mas eles não precisam dizer toda a verdade. E pro- são de voto, nem que têm absoluta certeza de que é a melhor decisão que
vavelmente não o farão, porque os persuasores são, por definição, propagan - podem tomar. Significa que sabem o suficiente para ter chegado a uma deci-
distas no sentido original da palavra- apresentam informações corretas, orga- são definitiva, e que consideram como desprezível a probabilidade de que
nizadas de modo a conduzir a uma conclusão específica.
Co ntanto que s upon hamos a racional idade, ape nas as pessoas que j á se
decidiram podem persuad ir outrasl. Portanto, os p ersuasores estão num 2. Isso não significa que é impossível que infOrmações adicionais façam um persuasor mudar de idéia.
Para uma defin ição exata de certo, ver Seção li deste capítulo.
~- Ao longo deste C.:flpítu !o, supomos que o custo do voto é zero. Quando não é zero, alguns passivos tam -
I. É verdade C]UC, no 1m111do real, persuadir os outros é freqií-ç.nieti\ente um meio de confirmar as própria_s bém se abstêm. Para uma discussão deta lhada de como os custos do voto afetam a participação, ver
crenças qu e ma ntemos sem segurança, mns ignoramos essa possibilidade no nosso mode lo. Capílulo 14 .
104 105
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286650
f .; ) • •.

28G650
UMA TEORIA ECO NÓ MICA DA D EMOCRACIA
COMO A INCERTEZ4 AFETA A TOMADA DE DECISÃO GOVERNAMENTA L

qualquer informação adicional fari a com que a mudassem. Daí não buscarem
IIJ O PAPEL DOS LIMIARES
deliberadamente informação adicional4.
l\fuitos cidadãos, entretanto,' ficam mcertos quanto a como votar. Ou Pio Capir:uio 3, introduzimos a noção de limiares políticos, um conceito
ainda não decidiram, ou chegaram a alguma decisão, mas sentem que informa- que tem um peso considerável sobre a natureza da persuasão. Por exemplo, um
ções adicionais poderiam alterá-la. Aqui podemos distinguir três categorias: os legalista pode saber que as condições hoje diferem bastante daquelas existen-
confusos são aqueles que não decidiram; os passivos quase-informados são tes quando escolheu um partido em que votar habitualmente , mas, a menos qpe
aqueles que chegaram a decisões tentativas favoráveis a algum partido; e os as condições sejam excepcionalmente diferentes, ele não reexaminará esse
neutros quase-informados são aqueles que chegaram à conclusão tentativa de hábito. A mudança deve ser grande o suficiente para cruzar algum limiar de
que não há nenhuma diferença significativa entre os partidos atuais ou entre percepção antes que ele resolva reconsiderar seu padrão de comportamento.
esse governo e os precedentes. Se esses eleitores estiverem ainda incertos no Um outro exemplo é um confuso que tem informações que levam à preferên-
di a da eleição, os passivos quase-informados votam, mas os confusos e os neu- cia por um partido, mas que tem tanta incerteza de que essa informação este-
tros quase-informados se abstêm. ja completa que ele a desconta para um nível abaixo de seu limiar de ação. Ou,
Por fim, alguns homens racionais votam habitualmente no mesmo parti- se um passivo descobre que seu diferencial partidário se tornou muito grande,
do em toda eleição. Em diversas eleições anteriores, eles se informaram cuida- ele pode começar a tentar persuadir outros a votar CO}TIO ele. Desse modo, ele
dosamente sobre todos os partidos concorrentes e todas as questões do cruza seu limiar de agitação, e se torna um agitador em vez de um passivo.
momento; contudo, sempre chegaram à mesma decisão sobre como votar. Esses limiares são cruciais no processo de influenciar eleitores. Se um agi-
Portanto, resol veram repetir essa decisão automaticamente sem se tornarem tador quer saber exatamente quanta informação dar a um confuso (ou a um grupo
bem informados, a menos que alguma catástrofe os faça perceber que 0 parti- de confusos), de modo a conseguir seu voto mas a não gastar recursos conven-
do não mais expressa seus maiores interesses. Como todos os hábitos, esse cendo-o em excesso, o agitador deve saber onde fica o limiar de ação do confu-
economiza recursos, já que impede que os eleitores invistam em informação so e quão próximo está dele. Da mesma forma, um partido que busque converter
que nunca alteraria seu comportamento. Desse modo, trata-se de u~ hábito passivos em agitadores precisa saber quanta decisão ele alteração de políticas é
racional. Eleitores habituais são ou legalistas, que sempre votam no mesmo exigida para empurrar os passivos para além de seus limiares de agitação. Desse
partido, ou apáticos, que sempre se abstêm porque crêem que os diferenciais modo, os julgamentos de agitadores, partidos e outros persuasores a respeito ele
partidários são zero para sempre. quantos recursos deveriam investir em persuasão dependem de suas estimativas
Em resumo, eis aqui os tipos de eleitores que decidiram votar listados de quão próximos variados limiares estão de blocos-chave de eleitores.
pela ordem de confiança com que sustentam suas decisões: ag itad; res, pas- Também é um limiar que impede que os confusos fiqu em hesitando de
Sivos, lega!Jstas e passivos quase-informados. Eis aqui aqueles que decidi- um lado para outro entre partidos a cada informação adicional que obtêm. Em
ram se abster, classificados da mesma maneira: neutros, apáticos, neutros condições de perfeita certeza, a quantidade mínima de diferença entre partidos
quase-informados e confusos. Apenas cinco dos oito tipos estão normalmen- seria suficiente para determinar o voto de um homem. Mas, no mundo real, e
te abertos à persuasão . Pela ordem de sua suscetibilidade, esses são os con- no mundo de nosso modelo de incerteza, ele sabe que é provável que diferen-
fusos, os neutros quase-informados, os passivos quase-inform ados, os apáti- ças mínimas que vê sejam ou ilusórias ou contraba lançadas por outras que não
cos e os legalistas. vê. Portanto, ele aguardará um grau significativo de diferença entre os parti-
dos antes de abrir mão de sua neutralidade.

4. Há duas qualificações para essa asserção: (I) os homens que estão certoS podem acidentalmente encon- IV A NATUREZA E AS FORMA S DE LIDERANÇA NO MODELO
trar informações que abalem sua certeza , ainda que a p t:o~a9if1~adc de isso acon tecer seja baixa e (2)
os ag itadores podem buscar mais informação para usar na perst.ip.são de outros e não para tomar suas Sempre que um homem pode ser influenciado, outros homens aparecem,
próprias decisões de voto.
cup especialidade é influenciá-los; também é assim em nosso modelo. A
/06
107
UMA TEO RIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA COMO A INCERTEZA AFETA A TOMADA DE DECISlO GOVERNAMENTAL

incerteza faz com que muitos eleitores se disponham a prestar atenção em líde- seguidores quanto os líderes, poi s mo ldam suas políticas para satisfazer elei-
res que parecem conhecer o caminho para aquelas metas sociais que os eleito- tores de modo a obter tantos vo tos quanto possível. Feito isso. tentam levar
res _defendem. Desse modo, eles seguem o conselho dos líderes sobre quais todos os eleitores a crer que essas políticas são as melhores para eles. Os gru-
poht1cas governamentais aprova r e a quais se opor. Formas mais suti s de lide- pos de interesse se defi nem como líderes que tentam chegar ao governo para
rança se insinuam na transmissão de notícias, no estabelecimento de modas adotar alguma política específica benéfica a si próprios, alegando representar
políticas e na configuração de imagens culturais do bem e do mal. eleitores. Buscam implantar seus próprios pontos de vi sta nas mentes dos elei-
Presumimos, no Capítulo 3, que os gostos dos eleitores em relação ao tores, de modo a realmente representá-los; então o governo pode ficar sufi-
governo eram fix os, porque eram simplesmente deduções racionais com base cientemente impressionado a ponto de ajudá-los. Os compradores.de favor são
nas opiniões dos eleitores qua nto à boa sociedade. Entretanto, num mundo incer- homens que desejam que um partido aja de alguma maneira que os beneficie
to, caminhos que conduzam à boa sociedade são difíceis de distinguir daqueles e, em troca disso, influenciarão eleitores a apoiar aquele partido. Os compra -
qu_e se distanciam dela. Assim, embora os eleitores tenham metas fixas, suas opi- dores de favor alegam não representar ninguém além deles mesmos; estão sim-
moes sobre como abordar essas metas são mal eáveis e podem ser alteradas atra- plesmente envolvidos em negociar sua influência sobre os eleitores por atos
vés da persuasão. Conseqüentemente, a liderança pode ser exercida na maior específicos que querem ver executados. Sua influência freqüentemente consis-
parte das questões de política, porque quase todas as políticas são meios para a te de dinheiro que eles podem devotar a campanhas em nome do partido com
consecução de metas sociais mais amp las e não fins em si mesmas. o qual estão tratando. Qualquer líder pode praticar todos os três tipos de lide-
Definimos liderança como a habilidade de influenciar os eleitores a adotar rança simultaneamente, mas os manteremos separados para fins analíticos.
certas opiniões como expressão de sua vontade. Os líderes são homens com
influência sobre eleitores - geralmente não com co ntrole total sobre seus eleitores,
mas pelo menos com alg um impacto nas opiniões deles sobre as melhores políti-
cas pa ra os partidos adotarem. A liderança, nesse sentido, pode existir apenas em
" V O FUNCIONAMENTO DE INTERMEDIARIOS

cond1ções de incerteza, porq ue sempre que os homens conhecem as reper:cussões A. A necessidade de representantes por parte do governo
de cada at~ concebível, não precisam de conselho para descobrir o que é melhor
para eles. E verdade que, mes mo em condições de incerteza, os homens precisam A incerteza é tão básica à vida humana que ela influencia a estrutura de
de líderes para decidir o que fazer na ausência de consenso universal, e para coor- quase toda instituição social. O governo numa democracia não é exceção a
denar a divisão do trabalho. Porém, isso é diferente de decidir o que deveria ser essa regra. Para lidar com a incerteza, é fo rçado a empregar intermediários
: feno, Isto é, quais políticas são mais benéficas para os eleitores individualmente. entre si próprio e os membros da sociedade.
~

i'-, Por que os líde res lideram') No nosso modelo, todos os líderes são moti- Esses intermediários têm duas funções, deri vadas da re lação entre os
vados pelo desejo de melhorar suas próprias posições na sociedade. Ao atri-X atos governamentais e as funções de benefíc io individual descritas no
butr, assim, toda ação humana ao egoísmo, não a estam os limitando ao senti- Capítulo 4. Corno vimos ali, o governo planeja seus atos examinando as fun-
do estrito daque la palavra. Também inc luímos um sentido amplo que pode ções de benefício individual e descobrindo o que querem os eleitores. Para
requerer grande sacrifício de si mes mo. Todavia, a maiori a dos líderes serão isso, precisa de represe ntantes do povo que possam simplificar a tarefa,
pelo menos em parte, motivados pela possibilidade de obter algum benefíci~ mesmo que impossível, de explorar a função de benefício de cada indivíduo.
dn·eto para si próprios - econômico, político ou social. --.. / Igualmente, os indivíduos decidem como votar comparando os atos do
-\ . Há três tipos de líderes em nosso modelo: partidos políticos, grupos de i<- governo e as propostas dos partidos de oposição. Portanto, o governo manda
mteresse e compradores de favor' . Os partidos políticos incluem tanto os seus próprios representantes ao povo para convencê- lo de que seus atos são
dignos de sua aprovação. Outros partidos, naturalmente, empregam represen-
tantes para convencer o povo de que aqueles que estão no gove rno deveriam
5
· Embora lodos os lideres s~jam reulmente homens individuais ... fahHl~·os aqui de grupos como líderes porque :1s
ser substituídos.
homens em cad<l gr upo ten tam persuad ir nào-mcmhros a ngir de manci"ras favoráveis ao grupo como um todo.
/()X JOY
f ( _} '. ~ !./

UMA TE0/1/A ECONOMICA DA DEMOCRACIA


COMO A I NCERTEZA AFETA A TOMADA DE DECISÃO GOVERNAMENTAL

A incerteza, desse modo, ajuda a converter a democracia num governo nenhum representante (ou grupo) local seja eleito. Naqueles lugares em que os
representativo. Uma outra força poderosa que tem o mesmo efeito é a divisão cidadãos elegem representantes não-nacionais, a descentralização tem uma
do trabalho. Para ser eficiente, uma nação deve desenvolver especialistas em ba!;e tanto constitucional quanto fun cional. Conseqüentemente. é provável que
descobrir, twnsmitir e analisar a opinião popular, do mesmo modo que desen- seja menos tlexível que em sistemas puramente nacionais como nosso modelo.
volve especialistas em todo o resto. Esses especialistas são os representantes.
Sua existência faz com que seja racional que o governo seja influenciado por
uma pequena proporção de seus cidadãos em vez de agir em nome de todos os
B. Intermediário s não-governamentais
cidadãos vistos no abstrato.
O governo, em nosso mundo-modelo, quer sancionar políticas que sejam Ao representar o povo perante o governo, os agentes oficiais tanto do
adequadas aos desejos de seus membros, mas não sabe quais são esses dese- povo quanto do governo devem ser tão precisos quanto possível. Seu trabalho
jos. Portanto, emprega, como parte de sua própria estrutura institucional, um é dizer ao governo o que o povo realmente quer que ele faça. Mas, em muitos
grupo de homens cuja função é se espalhar por todos os cantos da nação e des- casos, a maior parte dos cidadãos não sabe o que quer que o governo faç a.
cobrir a vontade do povo. Eles mantêm o órgão de planejamento central do Como veremos posteriormente, eles não se mantêm informados sobre a maio-
governo informado sobre o que o povo quer, de modo que possam ser tomadas ria dos problemas que o governo enfre nta; assim, não têm opiniões a respeito
decisões que irão maximizar as chances de reeleição do governo. de como ele deveria resolver esses problemas. Como resultado, não há nada
Como a informação e as opiniões que esses agentes de ligação fornecem para os representantes representarem em relação a muitas questões, no que diz
têm uma forte influência sobre as decisões governamentais, de fato um pouco respeito à maioria de seus eleitores<>.
do poder do órgão de planejamento central é deslocado para os agentes. O Entretanto, toda decisão governamenta l interessa a alguns homens direta
poder do governo, portanto, se distribui entre muitos representantes, em vez de e imediatamente. Esses homens são freqüentemente bem informados sobre ela
ficar concentrado inteiramente em um órgão. Teoricamente, o governo conti- e têm idéias definidas sobre o que o governo deveria fazer. A fim de conseguir
nuará a descentralizar seu poder até que o ganho marginal em vo tos, prove- que o governo adote seus pontos de vista, eles alegam que esses pontos de vista
niente da maior conformidade aos desejos populares, sej a superado pelo custo representam o que o povo quer. Além disso, suas alegações não são limitadas
marginal em votos de menor capacidade de coordenar suas ações. por qualquer necessidade de exatidão; na realidade, eles têm todos os motivos
A natureza qualitativa dessa descentralização de poder depende do modo para exagerar (embora nosso pressuposto de nenhuma informação falsa impe-
como os cidadãos são divididos em grupos heterogêneos. Se as principais ça a mentira cabal). Desse modo, eles se fingem de representantes da maioria
variações são geográficas, então o governo se tornará espacialmente descen- dos cidadãos, embora sejam realmente lobistas de algum grupo ou organiza-
tralizado; isto é, representantes de cada área relativamente homogênea deterão ção específica.
o poder, ainda que possam ostensivamente morar e agir em alguma localidade
Como a maioria das pessoas não expressa seus pontos de vista direta-
central. Se as principais divisões da sociedade se derem em termos sociais, mente ao governo, esse deve escutar os lobistas e tentar adivinhar exatamente
raciais ou econômicos, então o poder irá para representantes de g rupos e não quão representativas suas propostas realmente são . O governo, em nosso
para áreas. A quantidade de descentralização depende do desenvolvimento téc- modelo, não se importa se essas propostas são boas para seus cidadãos. Tudo
nico das comunicações. À medida que as instalações das comunicações melho- o que quer saber é se a maioria dos eleitores já as aprova ou se o faria se fosse
ram, menos descentralização é necessária para se manter em contato com a
vontade popular.
Esse tipo de descentralização governamental é necessária independente- 6. Se o governo conhecesse a configuração exata da função de b_eneticio de todos, pode ria descobrir o que
mente de a estrutura formal do governo exigir ou não eleições descentralizadas. seria melhor para cada pessoa, mesmo que a própria pessoa não soubesse disso porq ue lh~; tà lta infor-
O governo deve ter agentes "tomando o pu)so do povo" em cada área (ou mação que o governo tem. Nesse sentido, a representação perfe ita poderia funcionar, mesmo que üs
grupo), mesmo que todos os eleitores seja'm· ~grupados nacionalmente e·' elei tores não ti vessem opiniões. Mas o governo é moti vado pelas opi niõ es dos eleitores, não p~\o bem -
estar deles, já que são as opiniões del es sobre bem-estar que in tluenc inm o voto
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111
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA COMO A INCERTEZA AFETA A TOMADA DE DECISÃO GOVERNAMENT1 L

informada sobre elas. Por essa razão, os pretensos representantes tentam per- A compra de favores não é geralmente tão grosseira quanto o suborno ;
suadir o governo não apenas de que suas propostas são benéficas para o elei- trata-se do mecanismo mais sutil de fazer contribuições de campanha em troca
torado - nesse caso o eleitorado as apreciará posr facw - mas também de que de uma disposiçiio favorável de atitudes por parte de um partido: pró-livre ini-
o eleitorado já as deseja. ciativa, pró-mão-de-obra, anti-livre cpmércio, etc. Os pagamentos recebidos
Mas já que todos podem fazer essa alegação, o governo não se impres-l peJo partido ,pod-em nem ser em dinheiro. Em vez disso, podem ser políticas
sionará, a menos que seja aduzida alguma evidência para corroborá-la. editoriais, peso jogado num distri to eleitoral crucial, ou disposição de evitar
Portanto, esses representantes tentam criar adeptos que de fato desejem suas oposição a certas políticas. ·
propostas. Moldando a opinião pública a seu favor, eles esperam forçar o Desse modo, favores políticos são freqüentemente pagos por alguma
governo a apoiar seus pontos de vista, já que o governo se adapta à opinião forma de agitação; na realidade, a maioria dos agitadores é recrutada das filei-
pública sempre que descobre consenso nela. ) ras dos compradores de favor. Natu ralmente, o homem com o maior potencial
Ao adivinhar como os lobistas representativos realmente são,' cada parti- de influência como agitador consegue a maioria dos favores em troca de seus
do político geralmente desconta suas declarações de apoio. Audiências con- serviços. Portanto, ao decidir exatamente até que ponto fixarão políticas para
gressuais estão repletas de indivíduos que alegam falar por milhares de cida- satisfazer aqueles que buscam favores, os partidos políticos devem estimar seus
dãos, mas que admitem, sob interrogatório rigoroso, que suas organizações coeficientes de influência, isto é, os números pelos quais os próprios votos dos
têm uma dúzia de membros e nenhuma influência. Nem mesmo fica claro que que buscam favores devem ser multiplicados no cálculo de seu peso político.
uma associação bana /ides como a United Auto Workers sempre representa
todos os seus membros. Em relação a cada questão específica, grandes grupos
de membros podem discordar da posição oficial da organização. C. Os efeitos políticos líquidos da incerteza
Mas, mesmo que o governo desconte as alegações feitas pelos interme-
di ários privados, não consegue evitar ser influenciado por eles. O governo deve Como tanto os vendedores quanto os compradores nas transações de
tentar descobrir o que o povo quer. A menos que possa perguntar-lhe direta- compra de favor estão aí para ganhar, devemos admitir que suas ações são
mente por meio de pesquisas de opinião- que são caras e difíceis de interpre- racionais. Inversamente, a busca da racionalidade os levará a agir ass im. Daí ,
tar - , ele tem que confiar ou em suposições ou naqueles representantes que se a racionalidade, em condições de incerteza, leva o governo a construir políti-
apresentam e expressam seus pontos de vista. Além disso, o governo está inte- ca~ que, com freq üência, visam mais ao bem de alguns eleitores do que ao bem
ressado na intensidade com que cada eleitor sustenta sua opinião, j á que deve de todos, ou até mesmo de uma maioria7. Agir de outro modo seri a irracional.
pesar o efeito líquido de muitas ações sobre ele. Ele se arriscará portanto a Como resultado, os eleitores numa democracia não têm igual inf1uência
infligir um pequeno dano num eleitor se, ao fazê-lo, dá uma gran~e vantag~m na formação de políticas, mesmo que cada um tenha apenas um voto. A posse
a outro. Com algumas exceções, é provável que aqueles que se apresentam, de recursos outros que não o sufrágio definitivamente aumenta a ínf1uência
para forçar sobre o governo seus pontos de vista, estejam interessados de modo potencial de um cidadão sobre a política governamental. A participação ativa
mais intenso do que aqueles que se mantêm em silêncio. Um governo racional numa organização que reivindique representar muitos eleitores pode aumentar
não pode ignorar esse fato na sua formulação de políticas. ainda mais essa influência. Essas não são conclusões novas; a única novidade
Além disso, o governo preci sa de recursos para convencer o povo de que é que mos tramos que elas são o resultado necessário da ação racional por parte
suas políticas são boas. Também tem que se defender dos ataques de partidos do governo e de seus cidadãos. Apesar do direito de voto igual e universal, o
de oposição e de grupos de interesse que discordam de suas decisões. Para
conseguir dinheiro para essas tarefas, pode vender favores a homens que pre-
cisam de ação governamental e estão dispostos a pagar por isso. Os partidos
de oposição fazem o mesmo, mas se liÍnitá_m, a vendas com promessas pe 7. Essa conclu s8o pressupõe que apenas alguns eleitores tentam intluenciar qua lquer pol íric a govcrnamen ·
entrega quando eleitos. \ . ' tal específica diretamente. mesmo quando mu itos ou todos são afetados por ela. No Capítulo 13. pro-
vamos que esse pressuposto é vá lido em nosso modelo.
l/2 113
UMA TEORIA ECONOMJCA DA DEMOCRACIA
COMO A INCERTEZA AFETA A TOMADA DE DECIS!IO
GOVER NAMENT4L
governo não pode racionalment e considerar cada eleitor
como tendo a mesma A possibilidade de persuasão dá origem à competição
importância que todos os outros. Como alguns cidadãos pela liderança
têm coefi cientes de entre partidos políticos, gru pos de interesse e compradores
influência muito maior que um, um governo raciona l deve de favo r. Ao for-
atribuir-lhes mais mular políticas, os partidos tentam seguir os desejo s dos
peso na formação de políticas do que arribui à maioria de eleitor es, mas uma
seus concid adãos. vez formulada sua política, se esforça m para levar todos
Mesmo no mundo de certeza perfeita, os eleitores têm os eleitores a aceitá-
diferentes graus la como desejáve l. Os grupos de interesse querem que o
de influência sobre cada decisão govern amenta l especi fica. governo adote políti-
A di visão do tra- cas favoráveis a eles, assim eles posam de representantes
balho e a diversidade de gostos criam incont áveis grupos da vontade popula r.
relativamente homo- Tentam simultaneamente cri ar uma opiniã o pública real,
gêneos de eleitores, cada um com interesses diferentes dos que sustente seus
outros . Como qual- po 1 tos de vista, e conven cer o governo de que essa opiniã
quer decisão governamental específ ica tem import ância o pública existe. O's
diferente para cada compradores de favor represe ntam apenas a si próprio s,
grupo, os grupos não deseja m influenciar a decisão por mas estão dispostos a
iguaL Portanto, um apoiar partido s políticos em troca de favore s especí ficos.
governo racional pende mais para alguns eleitores num momen
to e para outros Como o órgão de planejamento central do govern o não tem
em outro momento, e a disparidade de influência marca qualqu certeza sobre
er decisão espe- 0 que o povo quer, tem de confia r em intermediário s entre si mesmo e os cida-
cífica. Mas não há desigu aldade de importância total entre
eleitores. O gover- dãos a f im de descobri-lo. Os grupos de interesse descrit
no nunca está disposto a incorrer na perda do voto de A os acima são um tipo
para ganhar o favor de de intermediário; os agentes descen tralizados do próprio
B, ceteris paribus, porque não tem qualqu er motivo para governo constituem
consid erar B mais outro. Os compradores de favor funcionam como interm
importante do que A. ediário s de um modo
oposto, ajudando o govern o a criar opiniõ es simpáticas
A incerteza destrói essa igualdade liquida de influência. a polític as sobre as
O govern o pode quais esse já dec idiu. Porém, todos esses intermediário
saber que perderá o voto de A se favorecer B, mas talvez s exigem um preço -
também saiba que o conseguem uma influência sobre a formul ação de polític
aux.ílio de B irá maximizar sua chance de persuadi r os confus as maior do que sua
os C e D a apoiá- proporção numérica na popula ção.
lo. Conseqüentemente, está dispos to a perder A a fim de
conseguir a ajuda de Desse modo, a incerte za força os governos racionais a consid
B. A incerteza permite que as distribuições desigu ais erar alguns
de renda, posiçã o e elei tores como mai s import antes que outros . Ao fazê-lo,
influência - todas as quais são inevitá veis em qualqu er econom modifi ca a iguald ade
ia marcada por de influên cia que o sufrág io univers al foi criado para garanti
uma divisão extensiva do trabalho - compa rtilhem sobera r.
nia num reino em
que apenas a distribuição eqüitat iva de votos deve reinars
.

VI. RESUM O

A incerteza divide os eleitor es em grupos com graus variáve


is de con-
fiança em suas decisõ es de voto. Como aquele s que
têm menos certez a
podem ser influenciados por informações adicionais, a
incerte za leva a ten-
tativas de persua são por parte de homens que fornec em
inform ação correta
mas tenden ciosa.

8. Pode-se conceber que a distribuição de renda nessa sociedad


e pudesse ser nivel ada, embora as distri·
buições Oe posição e influência não o tO ssem. Entretant
o, nenhuma ecOnomia grande e complex a ja mais
incorporou distribuição eqü itativa de renda, o qu e nos
peqn i'!~ -~o nsi derar que atingi-la é uma impossi-
bilidade prá tica.
' .
11 4
115
7

O DESENVOLVIMENTO DE IDEOLOGIAS POLÍTICAS


COMO MEIO DE OBTER VOTOS

INTRODUÇÃO

Nossa hipótese básica afirma que os partidos políticos estão interessados


em ganhar o poder per se, não em promover uma sociedade melhor ou ideal.
Mas, se isso é verdade, como podemos explicar o aparecimento de ideologias
políticas? Por que quase todos os partidos democráticos extraem ostensiva-
mente suas políticas de alguma filosofia específica de governo?
Nossa resposta é que a incerteza permite que os partidos desenvolvam
ideologias como armas na disputa do poder. Nesse papel, atribuem-se às ideo-
logias funções específicas que conformam sua natureza e desenvolvimento.
Definimos uma ideologia como uma imagem verbal da boa sociedade e
dos principais meios de construir tal sociedade. Na moderna ciência política,
as ideologias são quase sempre vistas em parte como meio para obter poder
político empregado pelas classes sociais e outros grupos, em vez de meras
representações ele metas reais. Nenhuma Weltanschauung é aceita pelo seu
valor nominal, porque é considerada como contaminada pelo desejo daqueles
que a esposam de ganhar o poder'.

!. Para uma brilhante exroslç~o desse ponto de vist;1, ver Karl Mannheim, Jdeo!ogy and Utopia, 1-Iarvest
Book Scries, Nc\\ York, Harcourt, Brace and Cornpany, 1955, pp. 96-97.

117
UMA TEORIA ECONQMICA DA D EMOCRACIA
O DESENVOLVIMENTO DE IDEOLOGIAS POLiTICAS COMO MEIO DE OBTER VOTOS

De acordo com esse ponto de vista, também tratamos ideologias como meio
para chegar ao poder. Entretanto, no nosso modelo, os partidos políticos não são Mas, num mundo certo, essas diferenças se dão estritamente no nível
político, porque as plataformas partidárias não contêm quaisquer elementos
agentes de grupos ou classes sociais específicos; ao cont rário, são equipes autôno-
ideológicos. Quando os eleitores podem julgar com habilidade cada detalhe de
mas que buscam o poder per se e usam o apoio do grupo para alcançar aquele fim.
cada posição assumida c relacioná-la diretamente a suas próprias opiniões
sobre a boa, sociedade, estão interessados apenas nas questões, não nas filoso-
fias. Assim, os partidos nunca precisam formar We!tanschauun gen, mas
OBJETIVOS
podem simplesmente assumir posições ad hoc a respeito de problemas p rá~ ­
Neste capítulo, procuramos provar as seguintes proposições: cos à medida que eles surgem.

1. Por causa da incerteza, ideologias extremamente variáveis podem ser


empregadas pelos partidos políticos, mesmo que todos sejam motivados B. Como a incerteza torna as ideologiás úteis aos eleitores
unicamente pelo desejo de maximizar votos.
2. Alguns eleitores racionais decidem como votar ideologicamente, ao invés A incerteza altera toda essa situação ao remover a competência perfeita
de por meio da comparação de políticas. dos eleitores em relacionar cada decisão partidária a suas próprias ideologias.
3. A disputa competitiva pelo poder obriga os partidos, em nosso modelo, a Os eleitores não conhecem em detalhe o que são as decisões do governo, e -não
ser tanto honestos quanto coerentes na formu Iação de políticas e ideologias conseguem descobrir isso, exceto a um custo significativo. Mesmo que as
e no seu desenvolvimento ao longo do tempo. conhecessem, não poderiam sempre predizer aonde uma dada decisão levaria.
4. Imobilidades racionais e institucionais às vezes fazem com que as ideolo- Portanto, seriam incapazes de rastrear as conseqüências de cada decisão com
gias e políticas fiquem para trás em relação às reais condições relevantes ao precisão e relacioná-l as a suas próprias ideologias . Também não sabem , de
comportamento partidário. antemão, que problemas o governo provavelmente enfrentará no próximo
período eleitoral. (
Nessas condições, muitos eleitores descobrem que as ideologias partidá-
I. O PAPEL DA INCERTEZA rias são úteis porque eliminam a necessidade de que eles relacionem cada
questão a suas próprias filo sofias. As ideo logias os ajudam a concentrar sua
A. Ideologias num mundo certo atenção nas diferenças entre os partidos; portanto, podem ser usadas como
amostras de todas as posições diferenciadoras. Com esse atalho, o eleitor pode
Mesmo num mu ndo certo, os partidos políticos se vêem enredados no poupar-se o custo de estar informado sobre uma gama mais ampla de questões.
clássico dilema de todos os anunciantes concorrentes. Cada um deve diferen- Além disso, o cidadão pode decidir em quem votar por meio de ideolo-
ciar seu produto de todos os substitutos próximos, todavia também deve pro- gias em vez de antecedentes passados. Ao invés de comparar o comportamen-
var que esse produto tem todas as virtudes que qualquer dos substitutos pos- to governamenta l com as propostas da oposição, compara ideologias partidá-
sui. Já que nenhum partido pode ganha r se opondo a uma maioria apaixonada, rias e apóia aquela que se parece mais com a sua. Desse modo, vota com base
todos os partidos adotam quaisquer políticas com as quais uma porção esma- em competência ideológica, não em questões específicas. Esse comportamen-
gadora do eleitorado concorde e deseje ardentemente. Mas os cidadãos verão to é racional e m duas situações: (1) tendo se informado razoavelmente bem ,
pouca utilidade em votar se todas as escolhas forem idênticas, assim devem ser
criadas diferenças entre as plataformas para atra ir os eleitores às urnas2
reduz o incentivo de votar porque torna o diferencial partidário menor do que seria se os partidos tives-
2. Essa afirmação pode parecer incon sistente com nosso arg.Lnl}_ sem plata tormas diferentes. Em conseqüência, a probabilidade de que o diferenc ia l partidá rio seja supe-
e n!o no Capít ulo 3 de que sem pre faz di t~­
rcnça qual partido ê eleito, mesmo quando todoS têm plata formas ide nticas . Contudo, essa identidade rado pelo custo do voto aumenta, aumentan do assim a pro babilidade de abstenção. Para uma discussão
mais detalhada sob re a participação em eleições democráticas, ver Capítulo 14 .
I/ /!
119
UMA TEORIA ECONOM!CA DA DEMOCRACIA O DESENVOL VIMENTO DE IDEOLOGIAS POLÍTICAS COMO MEIO DE OBTER /IQTOS

o eleitor não consegue distinguir entre partidos com base numa questão, mas C. Como a incerteza torna as ideologias úteis aos partidos políticos
consegue fazê-lo com base numa ideologia; ou (2) vota por meio de ideolo-
gias a fim de se poupar o custo de se tornar informado sobre questões espe- Num mundo obscurecido pela incerteza., as ideologias são úteis tanto aos
cíficas. Em ambos os casos, seu comportamento difere daquele descrito no partidos quanto aos eleitores. Cada partido percebe que alguns cidadãos votam
Capítulo 3 porque usa um diferencial de ideologia para tomar sua decisão, j á por meio de ideologias e não de políticas; assim, modela uma ideologia que crê
que não possui dados suficientes para formular um diferencial partidário dife- que atrairá o maior número de votos. Por razões que discutiremos posterior-
rente de zero. mente, essa ideologia deve ser tanto consistente internamente quanto consis-
O uso do diferencial de ideologia é racional somente a curto prazo. Todos tente em relação às políticas concretas do partido. Mas essas condições ainda
os eleitores racionais votam com o intuito de influenciar as ações dos partidos deixam uma gama ampla de ideologias possíveis abertas a cada partido.
políticos, não as afirmações deles. Mas as ideo logias per se são apenas afir- Ainda assim, p oderia, à primeira vista, parecer que todos os partidos em
mações. Portanto, se um eleitor consegue distinguir entre os partidos apenas nosso modelo terão ideologias muito semelhantes. De fato, eles desejam dife-
através de suas ideologias, os partidos são, na realidade, idênticos no que diz renciar seus produtos ligeiramente, de modo a reivindicar singularidade. Mas,
respeito ao bem-estar do eleitor. Comportam-se da mesma maneira, mesmo já que cada partido busca agradar a tantos cidadãos quanto possível, e já que
que falem de modo diferente; assim, não importa qual ele apóia. todos os partidos têm pela frente os mesmos cidadãos, por que esposariam ideo-
Desse modo, os eleitores bem-informados que usam ideologias como logias extremamente diferentes, como ocorre com os partidos no mundo real?
último recurso na tomada de decisão desistirão de votar, não importa quais Três fatores, em nosso modelo, explicam como a divergência ideológica
sejam seus diferenciais de ideologia, se os diferenciais partidários permanece- ampla pode se desenvolver a parti r de nossa hipótese de maximização do voto.
rem zero, eleição após eleição. As diferenças ideológicas entre partidos terão São eles a heterogeneidade da sociedade, a inevitabilidade do conflito social e
deixado de ser significativas a seus olhos. a incerteza. O fato de que os recursos mundiais são limitados cria em toda
Mas um cidadão que considera as ideologias como mecanismos de eco- sociedade uma tensão inerente entre os grupos sociais. Quando esses grupos
nomia de custo não as está emprega ndo como último recurso. Elas são pil;·a ele são bem definidos, essa tensão impede que qualquer ideologia política especí-
um primeiro recu rso, usado para poupar o custo de calcu lar seu diferencial par- fica agrade muito a todos os grupos simultaneamente, desde que os eleitores
tidário. Esse procedimento é racional se houver uma diferença real de compor- sejam racionais. Por exemplo, uma ideologia que adule os gerentes de indús-
tamento entre os partidos que tenham uma cor-relação conhecida com suas trias será sempre menos que ótima para os trabalhadores da indústria, mesmo
ideologias. Por exemplo, suponham que um cidadão pagou o preço de se infor- que a indústria seja propriedade do Estado.
mar sobre as questões e descobriu que as políticas do partido A lhe eram muito Desse modo, cada partido pode cortejar ideologicamente apenas um
mais benéficas do que aquelas dos partidos B e C. Porém, ele já havia adivi- número limitado de grupos sociais, já que seu apelo a um antagoniza implici-
nhado isso porque a ideologia do partido A lhe atraía muito mais que qualquer tamente os outros. Porém, devido à incerteza, não é óbvio qual combinação de
outra. Portanto, como é muito mai s barato se manter informado sobre ideolo- grupos rende o maior número de votos. Além disso, a sociedade é dinâmica;
gias do que sobre questões, daí em diante ele escolhe a primeira alternativa daí a combinação certa numa eleição poder se tornar a errada na próxima.
como um atalho racional à segunda. Portanto, é bem possível que os partidos discordem sobre que grupos sociai s
Esse comportamento é um meio-termo entre ser leal e estar plenamente agradar. Esse fato, combinado com seu desejo inerente de diferenciar seus pro-
informado sobre política. Diferentemente do homem leal, o homem que usa seu dutos, significa que os partidos, em nosso modelo, podem formula r ideologias
diferencial de ideologia como um poupador de custo sabe algo sobre atualida- amplamente variadas apesar de seus objetivos idênticos.
des. Mas não sabe tanto quanto um cidadão que use as questões para tomar suas As ideologias partidárias podem permanecer diferentes apenas na medi-
decisões, porque há muito mais questões do que axiomas fi losóficos em políti- da em que nenhuma seja visivelmente mais efetiva que o resto. Por exemplo,
ca. Chamamos esses conciliadores de dogmatistas porque examinam doutrinas vamos supor que três partidos se formem e agradem a três grupos sociais dife-
c não os comportamentos quando da escolha de u"!l1 partido para apoiar. rentes, e um desses partidos vença de modo consistente por um número esma-
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UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA O DESENVOL VIMENTO DE ID EOL OGIAS POLÍTICAS C OMO MEIO DE OBTER VOTOS

gador de votos. A fim de "voltar ao páreo", os outros dois partidos têm que cas. Como a incerteza existe, os eleitores precisam desses atalhos; assim, os
revisar suas ideologias para atrair votos do mesmo grupo que o eterno vence- partidos os criam. Mas seu desenvolvimento subseqüente depende de sua rela-
dor. Então, cada partido estará tentando combinar um segmento específico do ção com as políticas que os partidos representam, não da incerteza.
grupo predominante com parcelas dos grupos minoritários para fins de vitória Para que sejam atalhos racionais, as ideologias devem ser integradas às
eleitoral. Conseqüentemente, suas ideologias se assemelharão entre s·i muito políticas, de modo sufici entemente estreito, a ponto de formar indicadores pre-
mais estreitament e que antes. cisos do que é provável que cada partido fará no futuro. Quando as políticas
A incerteza quanto à eficácia é, portanto, necessária, se é para a diversida- mud<mi significativa mente, as ideologias também devem mudar; do contrário,
de ideológica persistir. Evidentemente, se todos soubessem que tipo de ideolo- não são sinais efetivos e os cidadãos no nosso modelo não as usarão. Desse
gia venceria, todos os partidos a adotariam. A diferenciação seria, então, feita modo, quaisquer fatores que influenciem o desenvolvimento de políticas tam-
num nível mais sutil. Aqui mais uma vez encontramos a maioria apaixonada. bém influe nci am o desenvolvimento de ideologias.
Nos lugares em que ela existe, as plataformas partidárias podem divergir apenas A principal força a conformar as políticas ·de um partido é a competição
se os partidos não tiverem certeza quanto a que, exatamente, a maioria é favorá- com os outros partidos por votos. A competição não só determina o conteúdo
vel, ou quanto a níveis de sutileza para além daquele do consenso apaixonado. das políticas partidárias, como vimos no Capítulo 4, mas também controla (I)
Um outro modo pelo qual as ideologias ajudam os partidos a tratar a sua estabilidade e (2) sua relação com as declarações públicas do partido. Dessa
incerteza é através de atalhos no processo de cálculo de quais políticas obterão maneira, a competição deterrpina se os partidos serão responsáveis e honestos.
o máximo de votos. Em nosso modelo, cada partido formula sua id eo logia para Uma ideologia é uma afir mação pública a respeito de política partidária,
que ela agrade àquela combinação de grupos sociais que o partido sente que já que ou contém ou implica propostas específicas ·cte ação. Portanto, através
produzirá o máximo apoio. Se sua formulação é precisa, as políticas escolhi- da análise da relação geral entre as políticas reais de um partido e suas decla-
das por sua coerência com a ideologia automaticamente satisfarão os cidadãos rações sobre políticas, podemos descobrir algumas das qualidades que sua
que estão sendo cortej ados pelo partido. ideologia irá exibir. Essa relação é relativamente independen te da incerteza,
Esse atalho elimina a necessidade de relacionar cada decisão de pplíti.cas embora pressuponha que os eleitores possuam um conhecimen to menos que
diretamente à reação do eleitor; portanto, reduz o custo da tomada de decisão. perfeito do futuro.
Entretanto, sua aplicação é limitada de duas maneiras. Primeiramente, a ideo- Na próxima seção deste capítulo, deslocamos nosso foc o das ideol ogias
logia pode não ser específica o suficiente para conduzir a ações de maneira em particular para os conceitos mais amplos de confiabilidade, integridade e
desprovida de ambigüidades - mais do que uma alternativa pode ser ide o logi~ responsabilidade tal corno aplicados a partidos políticos. Embora acreditemos
camente aceitável. Em segundo lugar, os eleitores estão, em últim~ instância, que nosso exame desses conceitos seja interessante per se, seu objetivo princi-
interessados em ações, rtão em ideologias, assim cada partido tem que, com pal é estabelecer certos traços de comportamento partidário relevantes a nossa
freqüência, checar suas ações diretamente com as preferênc ias dos eleitores. análise posterior de ideologias.
Não pode sempre confiar em ser ideologicamente correto, do mesmo modo
que o eleitor racional não pode sempre confiar unicamente em seu diferencial
de ideologia ao decidir em quem votar. IJ .CONFIABIL IDADE, INTEGRIDADE E RESPONSA BILIDADE

Até agora, mostramos que os partidos podem desenvolver ideologias por-


. D. Como a competição entre os partidos afeta as ideologias que elas são úteis a eles próprios e aos eleitores, e que a diversidade ideo lógi-
ca pode persistir ao longo do tempo. Agora, te ntamos provar que a ideol ogia
Embora a incerteza dê vida às ideologias, em nosso modelo, um outro de um partido deve ser coerente ou com (I) suas ações em períodos eleitorai s
fator determina o que acontece a elas dep0.is .que nascem. Essa causalidade anteriores, ou com (2) suas declarações na campanha precedente (incluindo
dual resulta de seu uso pelos eleitores como âtàlhos à consideração de po!ítil sua ideologia), ou com (3) ambas.
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UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA
O DESEN VOLVIMENTO DE IDEOLOGIAS POLÍTICAS COMO MEIO D E OBTER VOTOS

A. O p apel da conjlabilidade e da responsabilida de no modelo isso seria racional porque essas declarações são sobre a mesma situação, isto
é, T4. Todavia, esse procedimento ignora os antecedentes do partido no poder
A fim de analisar os conceitos de confiabilidade, integridade e respDnsa- que, em nvsso modelo, é o item destacado no julgamento dos eleitores .
bilidade, é necessário rotular os períodos de tempo, as ações partidárias e as Portanto, em nossa análise anterior de como os eleitores votam, afirma-
declarações partidárias relevantes à próxima eleição, Vamos supor que haja
mos que eles comparam (X2) e Y2, mesmo que estejam escolhendo um gover-
dois partidos, X e Y, e que os subscritos denotem períodos de tempo. Que Xl
no para governar em T4. É verdade que eles prefeririam comparar os antece-
represente as declarações do partido X durante o período T 1, e que (XI) deno-
dentes do partido no poder com as promessas da opos ição, isto é, (X2) e Y3.
te suas ações durante aquele período. Finalmente, que os períodos de tempo Mas eles não si~o comparáveis do ponto de vista lógico, porque se referem' a
sejam os seguintes:
situações diferentes (T2 e T4). Como as ações já realizadas se constituem em
melhor evidência do que as que foram meramente prometidas, deslocamos a
T l A campanha anterior ao período eleitoral atual (na qual foram feitas decla-
comparação de cada eleitor para (X2) e Y2, permitindo-lhe tam bém empregar
rações sobre o atual período).
um fator tendencial, se ele assim o desejasse.
T2 O período eleitoral atual, exceto a campanha em seu final.
Se os eleitores seguem esse caminho, deve haver alguma relação entre o
T3 A campanha no final do período eleitoral atual (na qual são feitas declara-
comportamento - real ou hipotético - de cada partido em T2 e o comporta-
ções sobre o próxi mo período eleitoral).
mento que produzirá em T3,.se eleito em Te. Essa relação é composta de con-
Te Dia da eleição, o dia que separa T3 e T4.
fiabilidade e responsabilidade.
T4 O próximo período eleitoral.
Um partido é confiável se suas afirmações de políticas no começo de um
período eleitoral - inclusive aquelas em sua campanha pré-eleitoral - puderem
Desse modo, Y3 denota as declarações feitas pelo partido Y enquanto em ser usadas para fazer previsões precisas a respeito de seu comportamento (ou
campanha pelo direito de assumir o governo durante T4. Supomos também que
de suas afirmações, se não eleito) durante o período. Assim, um partido que
X esteve no poder durante T2 e que (X2) represe nta suas ações er1quanto
sempre faz exatamente o oposto do que diz que fará é confiáve l, embma não
governo. Essas devem ser comparadas com Y2, já que um partido de oposição
seja honesto,
pode fazer declarações mas não pode agirJ.
Um partido é responsável se suas políticas num período são coerentes
O que os eleitores devem julgar, nas eleições, são (X4) e .(Y4), mas essas com suas ações (ou afirmações) no período precedente, isto é, se não repudia
ações futuras potenciais podem ser previstas somente através do conhecimen-
pontos de vistas anteriores na formulação de seu novo programa. Portanto, se
to dos eventos nos períodos Tl, T2, eT34. Um método é comparar X3 e Y3;
um partido tem tanto confiabilidade quanto responsabilida de, suas ações em T2
estão ligadas a seu comportamento prováve l em T4. Responsabilid ade implica
que as afirmações de plataforma em T3 estão relacionadas a, e se desenvolvem
3. Essa limi tação colocada sobre os partida·s de oposição resulta das peculiar idades de nosso modelo, que
a partir de, suas ações (ou afirmações) em T2. Confiabilidade implica que seu
não tem legislatura. Ent retanto, podemos fac ilmente revisar nossos ax iomas a fim de incluir uma legis-
latura de "vitrine" na qual os Iíderes de partidos de oposição podem exp ressar suas opini ões, debater
comportamento durante T4 pode ser previsto a partir de suas afirmações de pla-
corn os detentores do poder, tà zer i nvestiga ~õcs, e até mes mo co nqu istar votos. Uma vez q ue nenh uma taforma em T3 . Esse vínculo faz com que seja rac ional que os eleitores esco-
de suas atividades tem qualquer poder coercitivo sobre o partido governante, essa legislatura é perfei- lham um partido para governá-los du rante T4 comparando (X2) e Y2.
!ame nte co nsistente com o resto de nosso modelo. Mas a impotência mesma dessas at ividad es nos leva
a co nsiderá~ l as como declarações e não como ações.
4. O período T I pode ser interpretado aqu i como inclui ndo algumas declarações e ações.quc precedem a
campanha pouco antes do período T2 . Mesmo em nosso modelo, os eleitores consideram eventos dos
muitos períodos eleitorais anteriores ao julgar a integridade e respan·S~bi!idade . de cada partido. Mas,
todas as ações passadas e as pesam de mod o di feren!e. Para evitar uma formali zação longa desse pro-
como as co ndições mudam, os partidos mudanl suas ~~ii_t i~s-;e os cidadãos racionais percebem qu~
cesso, cortamos arbitraria mente o passado na cam1Ktnha que precede T2 em nossa amí l ise. Contttdo.
nem toda s as mud anças s~o irresponsáveis. Porta nto, os ciCiact~Os leva m em cont a algumas mas nen~
deveríamos lembra r qu e esse corte é feito apen as em prol da simplicidé1cle.
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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA
O DESENVOLVIMENTO DE IDEO LOGIAS POLÍTICAS COMO MEIO DE OB TER VO TOS

B. A necessidade de confiabilidade e de responsabilidade em política


racional, alg uma relação sistemática entre as afirmações do partido e suas
ações subseqüentes
Embora a confiabilidade e a responsabilidade sejam úteis em nosso
O caso inverso ocorre quando os partidos são con fiávei s mas não respo n-
modelo, t3.h·ez um3. delas ou as ciuas possam ser eliminadas sem destruir a
sáveis. Então os eleitores dependem unicamente daquilo que os partidos dizem
racionalidade política. Para examinar essa possibilidade, vamos considerar
que vão fazer, não daquilo que fizeram, para prever o que farão. Todavia, os
brevemente como a democracia funcionaria se os partidos exibissem (l) nem
antecedentes passados de cada partido são necessários para julgar exatamente
confiabilidade nem responsabilidade, (2) responsabilidade sem confiabilídade
quão confiáve l ele é, já que seus antecedentes devem ser comparados com suas
e (3) confiabilidade sem responsabilidade.
promessas precedentes. Entretanto, uma relação persistente precisa existir
A ausência de confiabilidade significa que os eleitores não podem pre-
somente entre promessas e comportamento, não entre as ações de um período
ver o comportamento dos partidos com base no que os partidos dizem que
e as do seguinte. Esse tipo de sistema eleitoral é tanto racional quanto exeqüí-
farão. A ausência de responsabilidade significa que o comportamento partidá-
vel; nele, os eleitores comparam XJ e YJ, ao invés de (X2) e Y2. Entretanto,
rio não pode ser previsto projetando-se, de modo consistente, o que os parti-
como salientamos anteriormente, eles estão ignorando os antecedentes do par-
dos fizeram anteriormente. Quando ambas estão ausentes, a única base possí-
tido no governo, que acreditamos ser um item central em qualquer considera-
vel para previsão é uma relação inconsistente entre as ações passadas e futuras
ção racional de como votar.
de cada partido. Mas, a menos que as circunstâncias estejam mudando com
Concluímos que a confiabi lidade é uma necessidade lógica em qualquer
extrema rapidez, quase toda relação viável entre as ações passadas e futuras de
sistema eleitoral raciona l e que a responsabi lidade - embora não logicamente
um partido exibe consistência. Se cada partido atende a um grupo social espe-
necessária - é fortemente subentendida pela racionalidade, tal como a defini-
cífico, seus serviços futuros ao grupo não entrarão em conflito com os passa-
mos. Naturalmente, essa conclusão não prova que a confiabil idade e a respon-
dos, contanto que os interesses do grupo sejam estáveis. Do mesmo modo, os
sabilidade realmente existam no nosso modelo. Podemos demonstrar que elas
partidos que perseguem metas puramente ideológicas agem de modo consis-
existem - e que portanto nosso sistema é racional- apenas mostrando que os
tente ao longo do tempo. Em suma, é irracional para um partido adot::tr com-
partidos políticos são inexoravelmente levados, por suas próprias motivações,
portamentos que sejam sistematicamente inconsistentes.
a ser confiáveis e responsáveis.
Portanto, qua ndo não existe nem confiabilidade nem responsabilidade,
não se podem fazer previsões políticas: Mas o comportamento racional é
impossível sem pelo menos alguma maneira de prever eventos futuros. Ipso
C Como as motivações de cada partido o .fazem ser honesto e responsável
fàcto, uma democracia na qual faltem aos partidos tanto confiabilidade quan-
to responsabilidade não pode ser racionaL Mas será que isso significa que
Os cidadãos no nosso modelo votam apenas com o objetivo de influen-
ambas têm de estar presentes?
ciar as políticas governamentais. Eles se interessam pelas declarações de cada
Onde os partidos são responsá veis, mas lhes falta confiabilidade, os
partido apenas na medida em que aquelas declarações servem como guias para
eleitores que examinam os antecedentes passados do partido a fim de deduzir
as políticas que o partido executará quando no governo. Quando o partido já
o que os partidos farão no futuro ignoram todas as declarações partidárias.
está no governo, suas ações presentes fornecem um guia melhor para aquilo
Contudo, o único registro recente de ação é aquele dos ocupantes do cargo .
que fará do que suas declarações presentes. Portanto, o partido no poder não
Durante o presente período eleitoral, a oposição não fez nada além de afirma-
precisa ser confiável contanto que seja responsáveL
ções e, como lhe fa lta confiabilidade, essas afirmações não têm sentido como
Mas os partidos de oposição não podem ser julgados por suas ações pre-
guias para seu comportamento futuro. Mas, se a oposição esteve fora do
sentes no governo porque não há nenhuma. Seus últimos atos de governo ocor-
governo por mu ito tempo, as condições podem ter se alterado tanto que suas
reram pelo meno s um período eleitoral completo antes deste para o qual estão
ações quando esteve no governo pela última vez são inúteis como guia para
agora sendo considerados para o governo. Como as condições mudam ao
aquilo que faria se fosse eleita agora. Daí ~e:r- ~ecessária , para urna votação
longo do tempo, esses atos não são muito úteis como indicadores únicos do
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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA
O DESEN VOLVIMENTO DE IDEOLOGIAS POLÍTICAS COMO MEIO DE OBTER VOTOS

que o partido vai fazer no futu ro, especialmente se os períodos eleitorais forem Dito de outro modo, a integridade é a relação mais simples entre as afirmações
longos. Portanto, os partidos de oposição precisam ser confiáveis, isto é, os e as verdadeiras intenções. Daí, quando existe, menos recursos são necessários
eleitores devem ser capazes de prever as ações deles razoavelmente bem, com para prever o comportame nto futuro de um agente do que são exigidos por qual-
base no que eles dizem.
quer outra form a de confiabilidade. Onde a análise é complexa e cara de qual-
Se um partido de oposição não é confiável, será incapaz de ganhar a con- quer modo, como ocorre na política, essa economia pode ser crucia l.
fiança - e portanto os votos - dos cidadãos racionais. Eles prefeririam votar Como a integridade é, portanto, essencial às relações interpessoais efi-
em um partido em que podem confiar para executar suas propostas imperfei- cientes, os homens racionais passam a valorizá-la per se. Um perfeito menti,
tas a votar em um cujo comportamento não pode ser previsto de modo algum. roso e um homem perfeitamente honesto são igualmente confiáveis, mas quase
Na realidade, os homens racionais votarão num partido de oposição em que todos os sistemas éticos exaltam o último e punem o primeiro. Essa valoriza-
não se pode confiar somente se os detentores do poder e todos os partidos con- ção ocorre, em parte, porque a comunicação numa sociedade de homens
fiáveis tiverem propostas tão insondáveis que a seleção aleatória de políticas é honestos é mai s barata do que numa sociedade de mentirosos. Igualmente, na
preferível a essas propostas. E, se muitos homens se sentem dessa forma, eles política, os homens racionalmente preferem os partidos que são honestos
provavelmente fundarão um novo partido, em vez de votar num cujas ações àqueles que não são, ceteris paribus. Conseqüentemente, a competição tende
futuras sejam imprevisíveis. Desse modo, como os eleitores consideram a con- a forçar todos os partidos em nosso modelo a serem relativamente honestoss .
fiabilidade um bem para qualquer partido fora do governo, todos os partidos A mesma força também obriga os partidos a exibirem responsabilidade.
de oposição são levados, pela competição, a obtê-la.
Uma vez eleito, o partido deve decidir que políticas quer promulgar. Mesmo
Além disso, o partido no governo nunca tem certeza de que será reeleito; que não seja honesto, provavelmente tentará cumprir as promessas que fez em
daí ter que estar preparado para se tornar um partido de oposição, se necessá- sua campanha. Seu objetivo é maximizar votos, e essas promessas foram efi-
rio. Porém, se não for confiável enquanto estiver no governo, os cidadãos cazes em fazer justamente isso. Portanto, é prováve l que o partido as incorpo-
racionais o considerarão igualmente não-confiável quando estiver na oposição. re em sua próxima plataforma de campanha, fazendo ajustes para se adequar a
Os partidos são portanto forçados a serem confiáveis quando no governo, de quaisquer alterações de circunstâncias. Seu desejo de se agarrar a uma coisa
modo a evitar criar reputações que os man terão fora do governo por um longo boa torna-o responsável.
tempo, uma vez derrotados. Em suma, a disputa por votos obriga todos os par- Inversamente, o desejo de se livrar de um perdedor coloca os partidos de
tidos a serem confiáveis.
oposição sob pressão para alterar suas promessas. Se perderam por uma vota-
Além disso, é muito provável que a forma que sua confiabilidade assu- ção esmagadora, essa pressão pode provocar irresponsabilidade drástica. Mas,
me seja a integridade. Um partido tem integridade se suas afirmações de polí- se a votação foi apertada, pode prevalecer a pressão de manter seus apoiado-
ticas no começo de um período eleitoral são razoavelmente sustentadas por res anteriores através da manutenção da maior parte de sua plataforma. No
suas ações durante o período (ou por suas afirmações, se não for eleito). fim , a primeira pressão os levará a um equilíbrio no qual a segunda pressão é
Devemos usar o advérbio qualificador razoavelmente porque nenhum partido dominante, isto é, cada eleição será tão apertada que os perdedores evitarão
controla plenamente todos os fatores releva ntes à execução de suas políticas. revisar seriamente suas políticas.
Como conseqüência, todo partido encontra obstáculos mais ou menos severos; A essa altura, os partidos de oposição serão mantidos responsáveis pelas
assim, se ele realmente tem ou não integridade deve ser decidido subjetiva- penalidades de irresponsabilidade. Se um partido freqüentemente adota novas
mente pelos próprios eleitores.
políticas incons istentes como as velhas, os eleitores suspeitarão que não se
Em política, como em todas as atividades humanas, a integridade é de pode confiar que aquele partido vá executar quaisquer políticas de longo
longe a forma mais eficiente de confiabilidade. Se A pode sempre ter certeza de alcance. Como a integridade, a responsabilidade é um traço que torna mai s
que B tentará fazer o que quer que B diz que vai fazer, A pode julgar a futura
ação de B muito mais facilmente do que se B sempre faz o contrário do que diz
que fará, ou tenta fazer apenas metade disso;·, ol.i nunca tenta faze r nada disso.
S. Essa co nc lusão é um tanto modificada posteriormente, nos Capí lul os 8 e 9.
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UMA TEORIA ECON6MICA DA DEMOCRACIA O DESENVOLVIMENTO DE IDEOLOG IAS POLÍTICAS COMO MEIO DE OBTER VOTOS

fácil o planejamento racional; daí os homens valorizarem e exaltarem aqueles A imobilidade ideológica é característica de todo partido responsável
que a possuem. Para tirar vantagem desse fato, cada partido será tão respon sá - porque ele não pode repudiar suas ações passadas, a menos que alguma
vel quanto as circunstâncias mutáveis o permitam, a menos que suas políticas mudança radical de condições justifique isso. Portanto, suas políticas doutri-
sejam vigorosamente rejeitadas por quase todos os eleito re:,. nárias se alteram lentamente para suprir as necessidades do momento. Lima
vez mais a incerteza é o fator decisivo; porque pode impedir que o partido
saiba que políticas são realmente as mais apropriadas. Na falta desse conhec i-
III COERÊNCIA IDEOLÓGICA E ESTABILIDADE mento, a responsabilidade torna-o ideologicamente imóvel, isto é, ele tende a
encorajar mudanças lentas e não rápidas na doutrina. Essa imob ilidade fre-
Qualquer partido que seja tanto responsável quanto confiável provavel- qüentemente faz com que o comportamento partidário fique mais para trás do
mente terá uma ideologia que é relativamente coerente e imóveL Em outras que ficaria se o partido estivesse perfeitamente informado. Todavia, trata-se de
palavras, sua ideologia não será internamente contraditória mas será pelo uma defasagem racional, porque é racional que o partido seja responsável na
menos integrada frouxamente em torno de alguma Ti'eltanschauung sociaL E o ausência de informação em contrário.
partido não mudará radicalmente suas políticas e doutrinas da noite para o dia, A imobilidade racional é fortemente reforçada pelas imobilidades institu-
mas mudará sua natureza apenas lentamente. cionais associadas a toda organização sociaL Como os homens individualmente
Já vimos como a incerteza leva os partidos a form arem ideologias. A s im- ficam identi f icados com certas políticas, é freqüentemente necessário que o par·
ples lógica dita que essas ideol ogias exibam pelo menos alguma coerência tido mude sua liderança antes que possa mudar sua plataforma, Isso significa
porque nenhum partido pode racionalmente esposar um conjunto de políticas que conflitos intrapartidários de poder influenciam a rapidez com que suas polí-
que contenha propostas mutuamente excludentes (a menos que ninguém possa ticas mudam. Diferentes grupos dentro do partido usam matizes variáveis da
prever que sejam mutuamente excludentes antes que sejam executadas) . Além ideologia partidária dominante como armas um contra o outro. Em sua disputa
disso, se um partido usa sua ideologia para atrair o apoio de grupos sociais pelo poder, cada um tenta convencer membros partidários influentes de que é o
específicos, ele tentará organizar suas políticas em alguma relação à ideologia. portador das idéias que têm maior chance de ganhar votos nas eleições gerais.
Como a própria ideologia consiste em parte de propostas de ação, essa organi- Essa disputa pelo poder dentro de cada partido é algo similar ao conflito
zação produzirá uma integração de teoria e política. entre os partidos. A incerteza sobre que idéias são mais eficazes para obter
Quanto mais intimamente essas duas facetas são moldadas numa única votos permite que exista uma divers idade de pontos de vista dentro do partido,
Weltanschauung, mai s atraente o partido se torna para aq ueles eleitores cujos (
assim como permite que diferentes ideologias partidárias existam na socieda-
pontos de vi sta se aproxi mam estreitamente dessa Weltanschauung- e menos de. Entretanto, os membros partidários selecionam uma ideologia para repre-
atraente se torna para todos os outros eleitores. Cada partido quer agradar a tan- sentar o partido numa base diferente daquela com que os eleitores selecionam
tos eleitores quanto possível, ou pelo menos tantos quanto possível dentro de uma ideologia. Os membros partidários escolhem uma ideologia que ganhará
alguma amplitude do espectro sociaL Portanto, nenhum partido faz sua ideolo- votos, não uma na qual acreditam, já que seu objetivo é a conquista do gover-
gia se prender de modo rígido demais a uma perspectiva filosófica específica. no, não a criação de uma sociedade melhor.
Por outro lado, não propõe simplesmente uma miscelânea de políticas, já que Esse rea juste contínuo de ideologias dentro de cada partido sign ifica que
quer parecer ideologicamente competente a fim de atrair eleitores dogmáticos. nenhum partido pode ser perfeitamente responsável porque sua estrutura insti-
Podemos, portanto, esperar que as ideologias sejam coerentes, mas não tucional é dinâmica demais. Sua liderança muda; conseqüentemente, sua ênfa-
integradas: por exemplo, um partido pode ser basicamente pró-A em termos de se política pode mudar de um período eleitoral para o seguinte. Mesmo numa
perspectiva, mas com algo para B, C, e O acrescido de maneira quase coOt·de- base puramente racional, condições mutáveis demandariam uma ab-rogação
nada. Exatamente quão bem integradas são as id eologi as depende do número de perfeita responsabilidade. É irracional se agarrar rigidamente às mesmas
de grandes partidos competindo pelo governo, como veremos nos próximos políticas quando novas situações surgem. Todavia, os partidos raramente são
dois capítulos. , capazes de ajustar suas ideologias exatamente na velocidade que as condições
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UMA TEORIA ECONQMJCA DA DEMOCRACIA O DESENVOLVIMENTO DE IDEOLOGIAS POLÍTICAS COMO MEIO DE OBTER VOTOS
A
H.!
/.
justificam. Desse modo, responsabilidade racional e imobil idade institucional outro será um fim subsidiário, necessário para a consecução do primeiro.
fi dão origem a defasagens e descontinuidades. Terá até mesmo precedência sobre a meta principal em algumas s ituações
ri em que contratempos no curto prazo levam a maior progresso no lo ngo
() : prazo em direção ao fim último. Portanto, o teste de precedência ocasional
' IV CONFLITOS ENTRE IDEOLOGIAS E OBTENÇÃO DE VOTOS não pode decidir entre essas hipóteses. A questão real é qual fim tem pre-
d cedênGia com m ais freqüência- com freqü ência suficiente para ser chama-
;f' Segundo nossa hipótese básica, os pm1idos buscam, como seus fins últimos, do de prevalecente. Argumentamos que o desejo de obter e manter o poder
I
o poder, a renda e o prestígio que acompanham o cargo. As ideologias se desen- per se desempenh; um papel maior no funcion amento prático da política
t. ~-
\ volvem, a partir desse desejo, como meio de se chegar ao cargo. Mas a manuten- democrática do que o desejo de implementar doutrinas ideológicas ou de
li L ção de ideologias pode se tornar uma finalidade subsidiária, com recompensas servir grupos soc iais específicos. Naturalmente, nosso argumento é sim-
diretas em termos de prestígio, especialmente se uma mudança na ideologia for plesmente uma op inião.
considerada pelo público como perda de integridade ou responsabilidade. Desse
modo, os meios com vistas a um fim maior se tornam um fim em si mesmos e
sua consecução pode às vezes conflitar com a consecução do fim maior. V RESUMO
No. mundo real, esse desdobramento irracional é um fenômeno comum
em organizações sociais. Mesmo quando uma organização é criada para servir A incerteza limita ·a capacidade que cada eleitor tem de relacionar todo
um propósito específico, ela desenvolve outros propósitos vinculados à sua ato governamental com seu próprio ponto de vista sobre o que seja a boa socie-
sobrevivência per se e ao prestígio a ser obtido com a operação. São assim dade. Portanto, a fami liaridade com o ponto de vi sta de cada partido sobre a
criadas as condições de confl ito entre metas maiores e menores. boa sociedade - sua ideologia - o ajuda a tomar sua decisão de voto sem ter
Naturalmente, onde duas alternativas de políticas são idênticas do ponto conhecimento de cada política especificamente. Os eleitores , desse modo,
de vista de conseguir votos, a mais ace itável ideologicamente será escolhida e usam ideologias para cortar seus custos de informação.
vice-versa; não há conflito aqui. Mas os conflitos surgem e, ocas-ionalmente, a Os partidos também acham as ideologias úteis na obtenção do apoio de
manutenção de uma posição ideológica tem precedência sobre o impulso total diversos grupos sociais e na abreviação de decisões quanto a que po líticas
pelo cargo. Nesses momentos, um observador poderia ficar tentado a concluir obterão o máximo de votos . Uma diversidade de ideo logias partidárias pode
que nossa hipótese não consegue exp licar o mundo real. Ao invés disso, pare- existir apenas porque a incerteza impede que qualquer uma delas prove ser
ce que está sendo sustentada a hipótese que transforma as ideologias na fina- superior às outras. Se uma ideologi~ superior realmente surge, outros partidos
lidade e o cargo no instrumentoG. a imitam e ocorre uma diferenciação mais sutil.
f' Porém, essa conclu são é duvidosa. Não importa qual dos dois fins - Em nosso modelo, é necessário que a ideo logia de cada partido mante-
i esposar ideologias ou assumir o cargo - seja visto como sendo o decis ivo, 0 nha uma relação coerente com suas ações e se desenvolva sem repudiar os atos
1: anteriores do partido. Qualquer outro procedimento torna a votação racional
1:' quase impossível; desse modo, os eleitores atribuem valor a partidos com essas
características. Para ganhar votos, todos os partidos são forçados, pela compe-
6. Hâ duas interpretações d~l hipótese que rrans tOrma a ideologia na fina lid:tdc e o cargo no instrumenlo.
tição, a ser relativamente honestos e responsáveis em relação tan to às políticas
A prime ira afi nna que aqueles que buscntn implementar uma cerra ideologia o tazem pura mente pelo
bem da sociedade, isto é, para pôr em ação o Estado soc ial que ela descreve. Esse pont o de vista tO i,
quanto às ideologias.
em ge ral, abandonado em favor do segundo pontu de vista. Segundo esse último, os grupos sociai s usam Embora as ideologias nunca sejam internamente contraditórias, elas
ideolog ias como cortinas de fum aça o u fe rramen ta s; sua finalidade rea l é o que quer que os beneficie podem ser integradas apenas ligeiramente, já que são projetadas para atrair
mai s. Aceitamos a segunda interpreta çãfl, ou a que serve ao gqtpo, na análise acima. As ideo log ias não muitos grupos sociais. Sua estabilidade ao longo do tempo tem raízes tanto
são realmente a finalidade ldtinw, quer nessa hi pó tese! quer na nossa; em ambas, são recllmente 0 ins-
. ' .. lógicas quanto in stitucionais que impedem que as políticas sejam alteradas
tnnnento para alg um outro fim.

/32 133
(

UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA (

uniformemente para se adequar a condições mutáveis. Assim, as ideologias (


causam defasagens e descontinuidades que podem custar votos a um partido. (
Dessa maneira, surgem conflitos entre a manutenção da pureza ideológica
e a vitória nas eleições. A primeira pode ocasionalmente ter precedéncia sobre
a última, mas nossa hipótese se sustenta, contanto que os partidos se compor- 8
tem, na maior parte do tempo, como se a eleição fosse seu objetivo primeiro.

A ESTÁTICA E A DINÂMICA
DE IDEOLOGIAS PARTIDÁRIAS (

INTRODU~~O

Se as ideologias políticas são verdadeiramente meios para atingir a fina-


(
lidade de obter votos, e se sabemos algo sobre a distribuição das preferências
dos eleitores, podemos fazer previsões específicas a respeito de como as ideo- (
logias mudam em conteúdo à medida que os partidos manobram para conse-
(
guir o poder. Ou, inversamente, podemos afirmar as condições sob as quai s as
ideologias passam a se parecer umas com as outras, a divergir umas das outras, (

ou a permanecer em alguma relação fixa.

OBJETIVOS
í

Neste capítulo, procuramos provar as seguintes proposições: (

(
I. Uma democracia bipartidária não pode proporcionar governo estável e efe-

I tivo, a menos que haja uma grande medida de consenso ideológico entre
seus cidadãos.
134
135

I
UMA TEOR IA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA A ESTrÍTICA EA DINÂMICA DE IDEOLOGIAS PART!DrÍRIAS

2. Os partidos num sistema bipartidário mudam deliberadamente suas plata- (a menos que seu pico se situe e m um dos extre mos da escala). Por exemplo,
formas, de modo que elas se assemelhem entre si; ao passo que os partidos se um eleito r gosta mais da posição 35, podemos deduzir imediatamente que
num sistema multipartidário tentam permanecer tão ideologicamente dis- ele prefere 30 a 25. e .1(} a 45. E le sempre prefere algum ponto X a um outro
tintos uns dos outros quanto possível. ponto Y, se estiver mais próximo de 35 do que de Y, e ambos estiverem no
3. Se a distribuição de ideologias entre os cidadãos de uma sociedade pe rma- mesmo lado de 35. A inclinação para baixo, a partir do áp ice, não precisa ser
nece constante, seu sistema político se moverá em direção a uma posição idêntica em am bos os lados, mas presumimos que não exista nenhuma assi-
de equilíbrio na qual o número de partidos e suas posições ideológicas são metria acentuada .
estáve is ao lo ngo do tempo. Esses pressupostos podem talvez se tornar mais plausíveis se reduzirmos
4. Pa rtidos novos podem, com mais sucesso, ser lançados imediatamente todas as questões políticas à sua re levância quanto a uma questão crucial:
depois de alguma mudança significa tiva na distribuição de pontos de vista quanta intervenção governamental na economia deveria haver? Se supusermos
ideológicos entre eleitores aptos. que a extremidade esquerda da escala representa controle governam enta l
S. Num sistema bipartidário, é racio nal que cada partido encoraje os eleitores pleno, e qu e a extremidade direita significa um mercado completamente li vre,
a serem irracionais tornando sua plataforma vaga e ambígua. podemos class ificar os partidos de acordo com seus pontos de vista sobre essa
ques tão, de uma manei ra qu e poderia ser quase unive rsa lmente reconhecida
como exata. A f im de coordenar essa orientação esquerda-direita com nossa
J A ANALOGIA ESPACIAL E SEU USO INICIAL esca la nu mérica, vamos supor arbitrariamente que o número que denota a posi -
ção de qualq uer partido indica a porcentagem da economia que e le quer qu e
Para rea lizar essa análise, tomamos emprestado e aperfe içoamos um apa- fique em mãos pri vadas (excluindo-se aquelas operações estata is mínimas qu e
rato inventado por Harold Hotelling. Ele apareceu pela primeira vez num até mesmo os economistas mai s hayekianos apóiam). Desse modo, a posição
famoso artigo sobre com petição espacial publicado em 1929, e foi refinado esquerda extrema é zero, e a extrema direita é 100. Confessamente, esse ap a-
posteriormente por Arthur Smithiest . Nossa versão do m ercado espacial de rato é irrea lista pelas seguintes razões: (I) rea lmente cada partido se posicio-
Hotelling consiste de uma escala linear que va i de zero a I 00 ·e da esquerda na mais à esquerda em relação a algu mas questões e mais à direita e m relação
para a direita, como é usual. Para tornar isso politicamente significativo, supo- a outras e (2) os partidos designados como sendo de extrema direita no mund o
mos que as preferências po líticas podem ser ordenadas da esquerda para a real apóiam o controle fasc ista da economia e não livres mercados. No entan-
direita de uma maneira com a qual todos os eleitores concordam. Eles não pre- to, ignoraremos essas limitações temporariamente e veremos qu e conclusões
cisam concordar em relação a qual ponto preferem pessoalmente, mas apenas de interesse podemos tirar dessa analogia espacial.
em relação à ordenação dos partidos de um extremo a outro. Tanto Hotelling quanto Smithies já aplicaram suas versões desse mode lo
Além disso, supomos que as preferências de todo eleitor têm um único à política. Hotell ing supôs que as pessoas se colocavam de modo espacialmen-
pico e se inclinam para baixo uniformemente em cada um dos lados do pico te uniforme ao longo da linha reta da escala e raciocinou que a competição,
num sistema bipartidário, faria com que cada partido se movimentasse em
direção a seu oponente do ponto de vista ideológico. Essa convergência ocor-
I. Harold Hotelling, "Stab ility in Com petition ", The Economic Journal, XXXIX, 1929, pp. 41-57, c
reria porque cada partido sa be que os extremistas na sua extremidade da esca-
Art hur Smithi es, "Opt imum Loca tion in Spatial Competition", The Journal Q( Po/Uical Economy, la preferem-no à oposição, já que está necessariamente mais próximo deles do
XLIX, 1941 , pp . 423-439. Para outros aspectos do problema da co mpetição espacial, ve r F. Zeuthen, que o .partido de oposição . Portanto, a melhor maneira de o partido obter mais
"Theoretical Rema rks on Pricc Policy: llotelling's Case wi th Variati ous,, Quart~r~v Jou rn al q( apoio é se movimentar e m direção ao outro extremo, a fi m de conseguir mais
Economics, XLV II , 1933, pp. 23 1-253; Eri ch Schneider, "Bemerkungen zu Einer Theorie der
elei tores fora dele - isto é, se colocar entre eles e seu oponente. À medida qu e
Raumwirtschatl", Econometrica, 111, 1935, 79-105; A. P. Lerner e ·H,c W. Singer, "Some Notes on
os dois parti dos se aproximam um do outro, tornam-se mais moderados e
Duopoly and Spalia l Competition", Journal ofPolitica/ E;cóno<ny, XLV, 1937, pp. 145-1 86; e August
Lõsch, The Economics of Location, New Havcn, Vale Uni~e-1~it~ Press, 1954 .
me nos extremos em termos de políticas, num esforço de ganhar os cruc iai s
136 f 37
UMA TEORIA ECONÔ MICA DA D EMOCRACIA
A ESTIÍTICA E A DINIÍMIC A DE IDEOLO GIAS PART!Di
ÍRIAS
eleitores do meio do caminho, isto é, aqueles cujos pontos eleitor em cada ponto da escal a, vamos supor que há
de vista os colocam 100.000 eleitor es cujas
entre os dois partidos. Essa área central torna-s e cada vez preferências fazem com que sejam distribuídos norma
menor à medida que lmente com uma média
ambos os partidos se empen ham em capturar votos moder
ados ; finalmente os de 50 (Fig. 2). Ainda, se coloca rmos os partidos A e B
dois partido s se tomam quase idémicos em termos de platafo inicialmente em 25 e
rmas e ações. Por 75, eles irão convergir rapidam ente ao centro. A possív
exemplo, se há um eleitor em cada um dos pontos da escala, el perda de extrem istas
e os partidos A e não deterá o movimento de cada um em direção ao outro,
B começ am nos pontos 25 e 75 respectivamente, eles porque há muito
se movimentarão em poucos eleitores a se perder nas margen s, em comparação
direção um ao outro e se encontrarão em 50, supondo-se com o número a ser
que se movimentem ganho no meio.
na mesma velocidade (Fig. 1). Como nas duas mercearias
no famoso exemplo
de Hotelling, eles irão convergir ao mesmo local até que
pratica mente todos os
eleitores sejam indiferentes entre eles.

A ->

o 25 50 75 100

Figura 1 o 25 50
Nota para Figurns I a 10: A escala horizontal represem
o a orieHtaçào política (ver pp. J3ó-J37). A escala A ->
vertical represen ta o número de cidadiíos.
Figura 2

Smithies aperfe içoou esse modelo introduzindo deman da


elástic a ei11 cada Entreta nto, se alterarmos a distribuição em relação àquela
ponto na escala. Desse modo, à medida que as mercea mostrada na Figura
rias se movimentavam 3, os dois partidos não se movimentarão de modo algum
para longe dos extremos, perdiam fregueses ali devido para longe de suas
ao custo adicional de posiçõ es iniciai s em 25 e 75; se isso ocorresse, perder
transporte; isso contev e sua aproximação no centro. Em iam muito mais eleito-
nosso modelo , isso é res nos extremos do que poderi am possivelmente ganhar
análogo à insatis fação dos extremistas políticos com a no centro. Portanto,
identidade dos partido s um sistem a bipartidário não precisa levar à convergência
e à sua recusa de votar em um ou outro, se eles se tornare na moder ação que
m demasiadame nte Hotelling e Smithies previram. Se as preferências dos eleitor
parecidos. Em que ponto exato esse vazam ento contém es forem distribuí-
a convergência de A e das de tal modo que os eleitores se concentrem bimodalment
B depende de quantos extremistas cada partido perde e perto dos extre-
ao se movimentar em mos, os partido s continuarão em extremos opostos em
direção ao centro, em comparação a quantos moderados termos de ideolog ia.
ganha ao fazer isso.
A possibilidade de que os partido s sejam impedidos de
éonvergir ideolo-
gicame nte a um sistema bipartidário depende da recusa
dos eleitores extremis-
tas de apoiar qualquer um dos dois partidos se eles se
li OS EFEIT OS DE DIVER SAS DISTRIBUIÇÕES DE
ELEITO RES
tornare m muito pareci-
dos- não idênticos, mas simple smente semelhantes. Num
mundo certo- onde
a inform ação é comp leta e sem custo, não há votaçã o orienta
A. Em sistemas bipartidários da para o futuro,
e o ato de votar não esgota recursos escassos - tal absten
ção por parte dos
Um acréscimo importante que podem os fazer a esse modelo extremistas seri a irracio nal. Enquanto houver até mesmo
a mais infinit esimal
é. uma dis- diferença entre A e B, os eleitores extremistas seriam forçad
tribuição variável de eleitores ao longo da esca+à:, f\. o invés os a votar no par-
de supor que há um, tido mais próxim o ddes, não import a quão desagradável
suas politicas pare-
13!1
139
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA A ESTÁTICA E A DINÂMICA DE IDEOLOGIAS PARTIDÁRIAS

cessem em comparação com aquelas de seu governo ideal. É sempre racional tão imoderados que todos os moderados se pareçam. Isso significa que é pro-
ex definitione escolher o bem maior diante de um menor, ou o mal menor dian- vável que o limi ar diferencial desses extremistas seja muito alto - eles consi-
te de um maior; conseqüentemente. a abstenção seria irracional porque aumen- derarão todas as pequenas diferenças entre os partidos moderados como irre-
ta as chances de vitória do pior partido. levantes à sua decisão de voto, isto é, como distinções irreais.
Tendo estabelecido a racionalidade da abstenção por parte dos eleitores
extremistas; vamos mais uma vez considerar uma distribuição bimodal de elei-
tores com modalidades próximas a cada extremo (Fig. 3). Num sistema bipar-
tidário, qualque r dos partidos que vença tentará implementar políticas radical-
mente opostas à ideologia do outro partido, já que os dois estão em extremos
opostos. Isso significa que a política governamental será altamente instável e
que é provável que a democracia produza caos. Infelizmente, o crescimento de
partidos de centro equilibradores é improvável. Qualquer partido que se forme
no centro se movimentará, no f inal, em direção a um extremo ou ao outro a
fim de aumentar seus votos, já que há tão poucos eleitores moderados . Além
o A 50 B 100
disso, qualquer partido de centro poderia governar apenas em coalizão com um
Figura 3 dos partidos extremistas, o que alie naria o outro e, portanto, não eliminaria
esse problema básico. Nessa situação, a menos que os eleitores possam de
algum modo ser levados ao centro da escala para eliminar sua divisão polar, o
Mesmo num mundo certo, entretanto, a abstenção é racional para os governo democrático não funcionará nada bem. De fato, nenhum governo
eleitores extremistas que são orientados para o futuro. Estão dispostos a dei- pode funci onar de modo a agradar a maior parte das pessoas; daí essa situação
xar o pior partido vencer hoje a fim de impedir que o partido melhor se movi- poder levar à revolução.
mente em direção ao centro, de modo que, em futuras eleições, ele este] a mais O ciclo político típico de revoluções pode ser visto como uma série de
próximo deles. Assim, quando ele realmente vence, sua vitória é mai~ valio- movimentos de homens ao longo da escala política 3 Prelimin ar à sublevação,
sa a seus olhos. A abstenção se torna, desse modo, uma ameaça a ser usada a distribuição outrora centralizada começa a se polarizar em dois extremos à
contra o partido mais próximo de nossa própria posição extrema, de modo a medida que os ocupantes do cargo cada vez mais antagonizam aqueles que se
mantê-lo longe do centro2. sentem oprimidos. Quando a distribuição se torna tão dividida que um extre-
A incerteza aumenta a possibilidade de que eleitores extremistas racio- mo passa a impor à força políticas abominadas pelo outro extremo, o conflito
nais se abstenham se o partido mais próximo a eles se movimentar em direção aberto irrompe e um grupo de oprimidos toma o poder. Essa mudança radical
a seu oponente, mesmo que não se torne ideologicamente idêntico a esse últi- de um extremo a outro é em parte responsável pelo reino de terror que marca
mo. Quando a informação é limitada e cara, é difícil detectar diferenças infi- a maioria das revoluções; os novos governantes querem eliminar seus prede-
nitesimais entre partidos. Talvez até mesmo diferenças relativamente signifi- cessores, que se opuseram implacavelmente a eles. Por fim, a Violência se
cativas passem despercebidas aos radicais cujos próprios pontos de vista sejam esgota, atinge-se um novo consenso a respeito dos princípios da revolução e a

2. Na rea lidade, já que tantos vo tos são depositados na urna, cada eleitor individualmente tem tão pouca 3. A descri ção que se segue não de ve rin ser interpret ada como uma explicação causa l das revoluções; é
influência sobre a eleição que seus atos não podem ser realisticamente avaliados como uma ameaça <1 antes uma tradu ção dos eventos que nelas ocorrem em movime ntos ao longo da escala que desenvol ve-
qualquer partido, supondo que as ações de todos os outros cidadãos seJ~m dadas. Como tratamos de sse mos. Daí não t3zermos nenhuma tentativa de discutir por que as revoluções seguem o ciclo retratad o.
problema atomístico de modo pleno no Capítulo 13, o dei~amq~ de !ad~ aqui supondo que cacl(-1 homem Para uma análise desse problema. ve r LyfOrd P. Edwards, The Natural Híst01y ofRevolution , Chicago,
se comportn co mo se seu voto tive sse um(! alta probab i l i d.~d 6 d~ ser decisivo . Universit y of C hica go Prcss, !927 .
1411 141
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA
A ESTATICA E A DINÂMICA DE IDEOLOGIAS P.4RTIDARIAS

distribuição se torna centralizada de novo- freqüentement e sob uma nova dita- tipo de democracia se desenvolverá. Por exemplo, uma distribuição como a da
dura tão rígida quanto a antiga, mas não confrontada por uma distribuição Figura 2 encoraja um sistema bipartidário com os partidos localizados perto do
polarizada de opiniões4 centro, em posições relativamente moderadas. É provável que esse tipo de
Em circunstâncias mais normai s, em países onde há duas classes sociais governo tenha políticas estáveis e, não importa qual dos dois partidos esteja no
opostas mas não há uma classe média bastante grande, é mais provável que a poder, suas políticas não estarão distantes dos pontos de vista da maioria das
distribuição numérica se incline para a esquerda, com uma pequena modalida- pessoas. Por outro lado, se os eleitores de uma nação estão distribuídos como
de na extremidade direi ta (Fig. 4). mostra a Figura 5, o resultado quase inevitável será um sistema multipartidário. ,

X'

o A 13 100
o 12,5 37,5 62,5 87,5 100
Pigura 4 A 8 c D

Figura 5

A modalidade grande à esquerda representa a classe trabalhadora ou ~!a sse


mais baixa; à direita, está a classe mais alta. Aqui a democracia, se efetiva, pro-
B. O número de partidos em equilíbrio
duzirá a instalação de um governo de esquerda devido à preponderânci a numé-
rica das classes mais baixas. Foi exatamente o medo desse resultado o que fez
Antes de examinar a dinâmica dos sistemas multi partidários, deveríamos
com que muitos aristocratas europeus lutassem contra a introdução do sufrá-
salientar que nossa versão política do modelo de Hotelling não padece da visí-
gio universal. Naturalmente, nosso esquema simplifica a situação considera-
vel limitação da versão econômica que ele- usou. No mercado espacial de
velmente. Na nossa escala política, cada eleitor tem peso igual em relação aos Hotelling, era impossível alcançar um equilíbrio estável com mais do que duas
outros, enquanto, na realidade, a distribuição desigual de renda permite que
mercearias. Aquelas no meio se tornariam sempre o alvo de convergência a
um grupo numericamente pequeno controle um poder político bastante des-
partir de cada lado; conseqüentemente, saltariam para fora para evitar que fos-
proporcional a seu tamanho, como vimos no Capítulo 6.
sem apertadas. Não havia qualquer mecanismo que restringisse a mob ilidade
Apesar dessa grande simplificação, fica claro que a distribuição numéri- perfeita que causava esse desequilíbrio.
ca de eleitores ao longo da escala política determina, em grande medida, que
Porém, os partidos políticos não podem se movimentar ideo logicamen-
te passando um pelo outro. Como vimos no último capítulo, a integridade e a
responsabilidade criam relativa imobilidade, o que impede que o partido dê
4. A aplicação desse modelo a revoluções foi sugerida por Robert A. Dahl e Kenneth Arrow. Professor
saltos ideológicos sobre as cabeças de seus vizinhos. Desse modo, o movi-
Dahl desenvolve um modelo semelhante em A Prejàce to-. pemqcm tic Theory. Chicago, Un iversi ty of mento ideológico é restrito ao progresso horizontal no máximo até o - e
Ch icago f'ress. 1956, pp. 90- 102 nunca além do - p artido mais próximo de cada lado. Combinado ao nosso
142
143
UMA TEOR IA ECONÔMICA DA DEMOCRAC IA
A ESTÁTICA EA DINÂMICA DE ID EOLOGIAS PARTIDÁRI AS

mecanismo de dis tribui ção variável, esse atribu to do model o quase sempre
tinua até que cada um dos sobreviventes tenha uma chance razoável de conquis-
garante equilíbri o estáve l.
tar a maioria dos votos, que é a única maneira de ele ter certeza de obter o poder.
É verdade que novos partidos podem ser introduzid os entre dois partidos
Desse modo, o resultado do tipo o venceàor-lc:va-rudo de uma esrrurura eleno-
anteriormente adjacentes ou fora de um deles. Contudo, essa possibilidade
não ral de pluralida de tende a estrei tar o campo a dois partidos concorrentes6.
pode perturbar o equilíbrio estável a longo prazo por du as . razões.
Onde e~iste represent ação proporcio nal, um partido que conquiste ape-
Primeiram ente, uma vez que o partido passou a existir, ele não pode saltar sobre
nas uma pequena porcenta gem do total de votos pode colocar a lgUJlS de
a cabeça de seus vizinhos, tal como foi explicado. Em segundo lugar, há um limi- seus
membros no governo, já que governos de coalizão freqüente mente prevale-
te ao número de partidos que podem ser apoiados por qualquer uma das distri- ;
cem7. Desse modo, a quan tidade mínima de apoio necessário para m anter
buições. Quando aquele limite é alcançado, não se pode introduzir, com suces- o
partido ativo é muito menor do que num sistema de pluralidade; assi m, um
so, mais partidos novos. Os partidos existentes naquela altura se organizam sis-
por tema multipart idário é estimulado. Contudo , cada partido deve ainda obter
meio da competição, de modo qu e nenhum partido pode obter mais votos mov um
i- certo número mínimo de votos, a fim de eleger membros da legislatu ra
mentando -se para a direita do qu e perde à esquerda fazendo o mesmo, e vice- que
poderiam possivelm ente entrar numa coali zão. Por essa razão, uma dada
versa. O sistema político atinge desse modo um equ ilíbrio de longo prazo no dis-
que tribuição de eleitores p ode apoiar apenas um número limitado de partidos,
diz respeito ao número e posições de seus partidos, presumindo-se que até
não mesmo sob represen tação proporcio nal8. Portanto , as condiçõe s de equilí-bri
houve qualquer mudança na distribuiç ão de eleitores ao longo da escala. o
existem tanto em sistemas bi- q).lanto multipart idários.
Se o sistema político contém ou não dois ou mais partidos nesse estado
O tipo de estrutura eleito ral existente num sistema político pode ser ou a
de equil íb rio depende (I) da natureza do limite colocado sobre a introdu ção
de causa ou o resultado da distribuiç ão original de eleitores ao longo da escala.
novos partidos e (2) da configura ção da di stribuição de eleitores. Examina
- Desse modo, se a distribuiç ão tem uma modalida de única em torno da
remos esses fatores na ordem. qual
quase todos os ele itores estão agrupado s, os criadores ela estrutura e le itoral
Em nosso modelo, todo partido é um grupo de homens que buscam che-
podem ac reditar que o regime de pluralida de não fará co m que nenhum grupo
ga r ao poder - um partido não pode sobrevive r a longo prazo se nenhum
de grande seja ignorado politicamente. Ou, se a distribuiç ão tem muitas modali-
seus membros se elegers. Mas, a fim de conseguir qu e pe lo menos alguns
de dades pequenas , os legislado res podem escolher a represent ação proporci
seus memb ros se elejam, o partido te m que obter o apoio de um certo número onal,
a fim de permitir que grupos extremistas grandes tenham voz no governo.
mínimo de eleitores. O tamanho desse mínimo depende do tipo de sistema
A causalidade também pode ser invertida porque o número de partidos exis-
eleitoral em func ionamen to.
tentes molda os pontos de vista políticos das gerações que surgem, influenci
Para consegui r qu e qualquer de seus membros chegue ao poder, um par- ando
assim suas posições na escala. Numa estruturá de pluralidade, já que se estimula
tido em nosso modelo tem que conseguir mais votos do que qua lquer outro
par-
tido concorre nte. Esse arranj o encoraja os partidos que perdem repetidas vezes
a se fundirem, de modo a conquista r um total combinado de votos maior do
que 6. Para uma discussão mais a rnpl a dessa asse rção, ver V. O. Key Jr., Politics,
o total recebido pelo partido que vence repetidas vezes. Essa amalgamação con- Parties. and Pressure Groups,
New York, Th omas Y. Crowell Company, 1953, pp. 224-231.
7. Uma an ál ise detal hada dos problemas levantados por governos de coalizão
é apresentada no p ró ximo
capítulo.
8. Uma out ra razãd por que novos pa rti dos não pode m se fOrma r ad injinutwn
5. Essa definição de partido não cobre muitos part idos verdadei ros que con é que os partidos po líticos
ti nuam n existi r embora suas
são agent~s especia lizados na d ivisão do trabalho, como foi explicado
chances de eleição sejam pra ticamente zero; por exe mp lo, os Vegetari anos no Ca pít ulo L Po rt an to, nem
c os Socialistas nos Estados
todos -pode m estar num partido politico; na realidade, numa dada sociedade,
Unidos. Esses parti dos são politicamente irracio nais do p OlHL) de vista de nossa hipó tese; isto é, as moti- há provavelmen te um Jimi-
te defini do, imposto p ela eficiência, sobre o núm ero de pessoas que pode m
vações que postulamos co mo politica mente racionais não Silo aquelas se especia li zar em se r mem-
que impul sionam seus mem bros.
bros partidá ri os. O tamanho desse lim ite depe nd e de fato res ta is co mo a
Até mesmo a raci ona lidad e ori enta da para o fu turo não as co bre, já qu'? a importância da ação govern a-
experiência passada demo ns -
me ntalnaque la sociedade, a necessidade de representaçã o d itê:re nciad a (isto
trn qu e suas cha nces ti.J tu ras de e leição tam bêm são qu~·~se) n?x istentes, é, a di stribui ção dos elei-
a menos qu e ocorra al gun:n
tores na escala ), o pres tí gio socia l e ren da econômica associad os a se estar
catástrofe al tamente improvável. na pol ítica c o padrão geral
de vida produzido pela di visão do trabal ho.
144
/45
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA (
A EST) T!CA E A DINA MI CA DE IDEOLOGIAS PA RTIDIÍRIAS

um sistema bipartidário e os dois partidos geralmente convergem, os gostos dos


tores estão distribuídos igualmente ao longo da escala (em XX'); isto é, cada
eleitores podem se tornar relativamente homogêneos a longo prazo; ao passo que
ponto na escala é uma modalidade (ou a distribuição pode ser vista como não
o efeito oposto pode ocorrer numa estrutura de representação proporcional.
tendo modalidade s). No entanto, nem todo ponto pode apoiar um partido se
Com bas.:: nessa análise, fica claro que tanto a estrurura ekiloral quanto a
supusermos qu e a estrutura eleitoral permite que apenas um certo número de
distribuição de eleitores são importantes para determinar quantos partidos uma
partidos dispute o poder com chances razoáveis de sucesso. Portanto, um
dada democracia irá conter quando alcançar o equilíbrio. Cada fator influencia
número definido de partidos irá surgir ao longo da escala e irá manobrar até
o outro indiretamente, mas também tem algum impacto, independentemente do
que a distância entre cada partido e seus vizinhos imediatame nte adjacentes
outro. Por exemplo, se um sistema de representação proporcional for estabele-
sej a a mesma para todos os partidos. Na Figura 5, presumimos que o númet'o
cido numa sociedade onde a distribuição de eleitores tem uma modalidade
total de partidos se limite a quatro; desse modo, em equilíbrio, eles se coloca-
única e uma variação pequena, é possível que apenas dois partidos existam em
rão espacialmente como mostrado (supondo que os extremistas se abstenham,
equilíbrio porque não há espaço político suficiente na escala para que mais de
se os partidos A e D se movimentarem em direção ao centro) 11 .
duas posições significativamente diferentes obtenham apoio mensuráveJ9.
Uma diferença importante entre uma distribuição como aquela na Figura
Tendo explorado o impacto dos dois principais tipos de estrutura eleito-
5 e aquela na Figura 2 é que a primeira não proporciona nenhum incentivo para
ral sobre o número de partidos num sistema político, concentraremos nossa
que os partidos se movimentem ideologicamente em direção uns aos outros. O
atenção, de agora em diante, no impacto da distribuição de eleitores ao .longo
Partido B na Figura 5, por exemplo, não consegue obter mais votos se movi-
da escala. A fim de fazê-lo, presumimos que essa distribuição é o único fator
mentando em direção a A ou a C. Se fosse em. direção a C, conquiS'taria votos
na determinaçã o de quantos partidos há 10.
de C, mas perderia tantos quantos para A. Portanto; permanecerá ell1 3 7,5 e
manterá sua pureza ideológica - diferentemente do Partido B na Figura 2 12
Esse último partido é puxado em direção ao centro porque, ao se movimentar
C Em sistemas multip.artidários
em direção a A, conquista mais votos entre os moderados do que perde entre
os extremistas, como mencionado anteriormente.
É provável que sistemas multipartid ários- aqueles com três ou n1ais par-
Assim, é prováve l que, em sistemas multipartidários, os partidos se
tidos importante s- ocorram sempre que a distribuição de eleitores é polimo-
empenhem em se distinguir ideologicam ente uns dos outros e em man te r a
da!. A existência de duas ou mais modalidades visíveis cria condições favorá-
pureza de suas posições; ao passo que, em sistemas bipartidários, cada partido
veis a um partido em cada modalidade e, talvez, partidos equilibradores entre
tentará se parecer com seu oponente tanto quanto possíveiJJ
elas. A Figura 5 representa um exemplo extremo dessa estrutura, já que os ele i-

! 1. À medida que novos eleitores apareçam na cena, eles podem se agrupar em torno de quatro localidâdes
9.. Esse exemplo ignora a possibilidade de um terceiro partido minúsculo ocupar uma posição equilibra-
onde os pa 11idos existem; e desse modo formar uma distribuição tetramodal como a mostrada pela
dera crucial entre os dois outros partidos grandes. De fato, esse resultado é também possível num linha
sis- pontilhada na Figura 5. Em outra s pa lavras, é provável que uma distribuição perfeitamente uniforme
tema de pluralidade se o governo fOr escolhido por uma série de eleições distritais em vez de uma
elei- não seja estável ao longo do tempo mas tenda a se tornar uma distribuição com modalidades de
ção nacional única. Como na Grã- Bretanha, um pequeno partido pode obter algumas cadeiras na fi nidas
legis- e com áreas menos populosas entre elas. Esse desdob ram en to resll:inge ainda mais a maneira
latura, mas se os do.is p<u1idos grandes tOrem igualmente poderosos, seu papel deci!;ivo no equilíbrio como os
do novos partidos podem enrrar no sisrema,jã que torn a algumas local idades muito mais desejáveis
poder· pode mantê-lo vivo. ainda que nunca chegue ao poder no governo diretamente. Nosso modelo do qlie
de outras c tamb ém coi1 centra os partidos existentes nos lugares mais tavoráveis.
pluralidade exclui esse resu ltado porqu e·postulamos a eleição numa base estrit amente nacional.
No pró- 12 . A esta altura, nós esramos ignorando a possibil idade de B obter o poder através dCI !Onnação
ximo capítulo, apresentamos um model o de representação proporcional no qual podeq1 existir esses de uma
par- coaliz.:1o com A ou C ou ambos. As forças que intlut:nciam o movimento de B quando está em
ti dos pequenos porém poderosos. ta! coa-
lizão são descrita s na Seção 111 do prôximo capí tul o.
I O. Naturalmen te, há muitos fatores que influenciam o número de pa11ido$ num da'do sistema,
mas a maio- !J. Um sistema bipartidário como aquele mostrado na Figura 3 não exibirá convergêncin ideológica.
ria deles pode ser subsumido na estrutura eleitoral (quC'a~~.an.~os de discutir) ou na di stribuição
de el.~i­ Entretanto, con1o sa li entamos, é du vidoso se essa distribuição pode ou não funci onar como uma
tores (que es tamos prest es a discuti r). demo-
cracia, já que o contlito interno ser~ intenso, não importa que partido ganhe.
/46
147
A CS'TA TICA E A DINÂMICA DE IDEOLOGIAS PA!ITI/)AIIIAS
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCfiACIA

Com freqüência, é difícil disting uir entre esses dois tipos de partidos, por-
Esse fenômeno ajuda a explicar certas peculiaridades dos dois sistemas
que muitos partidos fundados primordialmente para chegar ao poder realmente
políticos. Se nosso raciocínio está correto, é provável que os e leitores em sis-
desempenham a função de influenciar as po líticas de partidos anteriormen te
temas multipartidários oscilem muito mais em fun ção de cons ider:lções: dou-
existentes . Esse impacto tem sido típico de terceiros partidos na história dos
trinárias - questões de ideologia e políticas - do que os eleitores em sistemas
Estados Unidos, nenhum dos qu ais jamais ga nhou uma eleição nacional, embo-
bipartidários. Esses últimos eleitores são aglomerados na amplitude moderada
ra muitos ti vessem grande influência sobre as plataformas de partidos que ven-
onde ambas as ideologias se situam; assim, é provável que considerem a per-
ceram. Assim , se classificarmos os novos partidos pela intenção, quase tod os
sonalidade, ou competência técnica, ou algum outro fator não-ideológic o
eles são do tipo " real" ; ao passo que se os class ificarmos por resultados, a maio-
como decisivo. Como não se lhes oferecem muitas opções entre políticas,
podem precisar de outros fatores para discernir entre os partidos. ria deles, pelo menos na história norte-american a, são do tipo "influência".
Entretanto , presumiremos que os novos partidos que discutimos são plane jados
Os eleitores em sistemas multipartidários, entretanto, têth urna ampla
para ganhar eleições, a menos que sej a espec ificado de outra forma.
gama de escolha ideológica, com os partidos antes enfatizando do que suav i-
Nenhum partido, novo ou velho, consegue sobreviver sem obter o apo io
zando suas diferenças doutrinárias. Desse modo, considerar as ideologias
de uma fração grande do eleitorado - um apoio ativo o suficiente para se
como fatores decisivos na nossa decisão de voto é geralmente mais raciona l
expressar através de votos nas eleições. Isso não significa que um partido tem
num sistema multi partidário do que num sistema bipartidário. Apesar ·desse
que se localizar à direita no meio de uma grande massa de eleitores na nossa
fato , a ideologia do governo num sistema multipartidári o (em oposição aos
escala políti ca; de preferência, ele tem que estar ma is perto de um grande núme-
partidos) é, com freqüência, menos coesa do que sua sucedânea num sistema
bipartidário, como veremos no próximo capítulo. ro de eleitores do que estão quaisquer outros partidos. Sua localização depende
tanto de onde estão os outros partidos quanto de onde estão os ele itores.
É mai s provável qu e novos partidos sutjam e sobrevivam quand o bá uma
!li. A ORIGEM DE N OVOS PARTIDOS
oportunidade de e les reduzirem uma grande parte do apoio de um partido mais
antigo, des envolvendo-se entre ele e seus antigos eleitores. Um caso notáve l
foi o nascimento do Partido Trabalhista na Inglaterra, que pode ser ilustrado de
Ao analisar o nascimento de novos partidos, devemos di sti~guir entre
modo muito grosseiro na Figura 6. Antes de 1900, havia dois grandes partidos
dois tipos de novos partidos. O primeiro é projetado para ganhar eleições.
britânicos, os Liberais (A) e os Conservadore s (B) . Eles estavam sob a pressão
Seus criadores sentem que ele pode se localizar de modo a representar um
bipartidária habitual que os levava a convergir. Entretanto, a concessão elo
grande número de eleitores cuj os pontos de vista não estão sendo expressos
direito de voto à classe trabalhadora no fin al do século 19 hav ia deslocado o
por qualquer partido existente. O segundo tipo é projetado para influenciar
centro de distribuição de eleitores bastante p ara a esquerda da sua anti ga pos i-
partidos já existentes a mudar suas políticas, ou a não mudá-las; não visa pri-
mordialmente a ganhar eleições. ção. E o Pa rtido Liberal, mesmo depois de ter se movimentado para a esqu er-
da, estava à direita do novo centro de gravidade, embora fosse, dos dois parti-
Naturalmente, um partido nunca é fund ado por pessoas que pensam que
dos, o mais à esquerda. Os fundadores do Pa rtido Trabalhista ava liaram corre-
ele não vai obter votos ou conquistar quai squer cargos, se nossa hipótese
tamente qu e poderiam levar a melhor sobre os Liberais formand o um novo pa r-
sobre motivação partidári a for verdadeira. Todavia, alguns partidos - funda-
tido (C) à esquerda desses últimos, e foi o que f izeram. Isso prendeu os
dos por homens perfeitamente racionais - se destinam a ser ameaças a outros
Liberais entre as duas modalidades do eleitorado e o apoio a eles diminuiu
partidos e não instrumentos de conquista imediata de poder ou prestígio. Um
rapidamente até f icar insignificantel 4
exemplo é o Partido dos Direitos dos Estados Unidos, de 1948, cuja intenção
era ameaçar os Democratas devido à sua política de direitos civis. Esses par-
ttdos de chantagem são orientados para o futuro 1 j á que seu propósito é alte-
rar as opções oferecidas aos eleitores, pelos partidos existentes em alcruma 14. O interessem te é que, agora que o apoio ao Partido Liberal encolheu , o sistema el eitoral britânico vo l-
data futura. ·-., c <; ~
tou a seu padrão bip:1rt idário anterior. Como o novo cen tro de grav idndc estfl bem à esq uerdr~ do anti-
/ 4V
l .41i
UMA TEORIA ECON6M IC4 DA DEMOCRACIA A EST!ÍTICA EA DIN!ÍMICA DF ID EOLOGIAS PARTID!ÍRIAS

Áren que reprt!:>enra


o dire ito de voto
rccé 1n-amplindo
Área do direito
I
d~ '. Vto m.:..i:::. .:.;.r:ri _go

o A [J c 100

Figura 7
o c A 8 o
Figura 6

Aqui existe a oportunidade para que um novo partido seja formado em C. Se


esse partido crescer como resultado de des locamentos contínuos de eleitores
O fator crucial nesse caso foi o deslocamento da distribuição do eleitora- para o centro, no final pode aparecer uma nova situação como a da Figura 8.
do ao longo da escala política como resultado da extensão do sufrágio a um O centro se tornou preponderante, mas se dividiu em três partes porque novos
número vasto de eleitores, muitos dos quai s estavam próximos da extrema partidos surgiram para explorar a grande massa de eleitores moderados .
esquerda. Sempre que ocorrer essa mudança radica l na distribuição dos eleito-
res, os partidos existentes provavelmente não serão capazes de se ajustar rapi-
damente porque são ideologicamente imóvei s. Os novos partidos, entretanto,
não se curvam ao peso desse impedi mento. Livres de compromissos ideológi-
cos, podem selecionar o ponto mais oportuno na escala no qual se posicionar
e estruturar suas ideologias de acordo com isso. As oportunidades de fazer isso
serão especialmente tentadoras se os antigos partidos convergirem em direção
ao centro de gravidade anterior como resultado do processo bipartidário nor-
mal, e a nova distribuição se inclina fortemente para um ou ambos os extre-
mos. Isso foi aproximadamente o que aco nteceu no caso do Partido
Traba lhista. o 15 ; 3ü \ 50 70 90 100
Um impasse social causado por uma distribuição de eleitores como aque- ;\ R 11 X C D E
la da Figura 3 é uma outra situação que pode produzir novos partidos . Onde os
Figut·a 8
eleitores se aglomeram bimodalmente em extremidades opostas da escala, é
difícil ter um governo democrático pacífico, como mencionamos anteriormen-
te. Pode crescer uma facção que deseja conciliação, alterando assim a distri-
buição, de modo que ela se pareça com aquela mostrada na Figura 7. Fica claro que um pré-requisito importante para o aparecimento de
novos partidos é uma mudança na di stribuição de eleitores ao longo da esca-
la política. Uma alteração na universalidade do direito de vo to, um enfraque-
go, o Partido Conservador se movime ntou bem mais pà'r~r á:esquerda do que o Partido Trabalhista se
cimento de pontos de vista tradicionais devido a algum acontecimento cata-
movimentou em direção cl direita. Toduvia, existe clarame1~re~ u 1~ia tendência à convergê ncia. ·-
clísmico como a Segunda Guerra Mundial , uma revolução social como a que
! 51! !51
UMA TEOR IA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA A t.STÁTICA E A DIN/ÍMICA DE IDEOLOGIAS PARTIDÁRIAS

se seguiu à industrialização- qualquer dessas ocorrências perturbadoras pode Em situações como essa, é um movimento de ideologia partidária, e não
movi menta r as modalidades na escala política. Uma mudança no número de de distribu ição de eleitores, que dá origem a um novo partido. Ideologias par-
eleitores per se é irrelevante; é a distribuição que conta. Desse modo. o sufrá- tidárias são relativamente imóveis em sistemas multípartidários; assim , esse
gio feminino nào cria quaisquer novos partidos, embora aumente o tota l de tipo de partido novo aparecerá quase exclusivamente em sistemas bipartidá-
votos enormemente. rios. O medo desses partidos d~ chantagem pode se contrapor fortemente ao
Há uma situação na qual é provável que um novo partido apareça sem impulso centrípeto normal nesses sistemas.
qualquer mudança na distribuição de eleitores, mas esse será o tipo de partido
de influência, não a espécie que visa a se eleger. Quando um dos partidos, num
sistema bipartidário, deslocou-se para longe da extremidade que lhe era mais IV COERÊNCIA E INTEGRA ÇÃO IDEOLÓGICA
próxima em direção ao centro moderado, seus adeptos extremistas podem for-
mar um novo partido para trazer as políticas do antigo partido de volta em dire- A. Alteraçiio de nosso modelo para a inclusão
ção a eles. Na Figura 9, o partido B se movimentou para a esquerda de seus de partidos de políticas múltiplas
membros de direita porque deseja obter votos da grande massa de eleitores
próximos à modalidade meio à esquerda. A fim de ameaçar o partido B com a No Capítulo 7, mostramos que a ideologia de cada partido será coerente
derrota, a n:enos que ele se movimente de vo lta em direÇão à direita, os extre- mas não integrada. Isso é, não conterá contradições internas, mas também não
mistas de direita fundam o partido C. Não há como esse próprio. partido ven- ficará amarrada estrei tamente demais a uma Welta nschauung filosófica especí-
cer, mas ele pode jogar a eleição para A desviando de B os votos extremistas. fica. Isso é o resultado dos desejos conflitantes que cada pattido sente quando
forma sua ideologia. Po r um lado, quer agradar tantos eleitores quanto possível;
por outro lado, quer ter um torte apelo para cada eleitor individualmente. O pri -
meiro desejo implica uma plataforma que contém uma gama ampla de po líticas
que representam muitas perspectivas ideológicas diferentes. O segundo desejo
implica uma integração íntima de políticas em torno do ponto .de vista filo sófi-
co de qualquer um dos e leito res que estiver sendo cortej ado. Obviamente, quan-
to mais um desejo é a lcançado, menos o outro será satisfeito.
Esse dualismo pode ser representado em nosso gráfico de espaço po líti-
co. Primei ramente, devemos eliminar a suposição de que a plataforma de cada
partido contém apenas sua posição sobre o grau adequado de intervenção
A B c
governamenta l na economia. Vamos supor, ao invés disso, que cada partido
Figura 9 assume pos ições sobre muitas questões e que a cada pos ição do partido pode
ser atribuída uma posição na nossa escala esquerda-direita15. Então, a pos ição

Para se livrar dessa ameaça, o partido B tem que adotar algumas das
políticas de C, movimentando-se desse modo de volta à direita c cortando as 15. Podcn1os afirmar essa suposição IOrma! mente da seg uinte maneira: todos os cidadãos concordam corn
asas de C. Isso fará com que o partido C desmorone, mas ele terá cumprido uma o rde nação esq uerda-d ireita das pos ições assu midas pelos di versos partidos sobre qualquer questão
seu objetivo de melhorar a p lataforma de um dos reais concorrentes, B, aos dada. Desse modo, não e necessário que cada cidadiio tenha a mesma ordenação card i na l de posições na
escala esquerda -J in:ita que todos os outros; isto é, o cidadão A pode sentir que a posição do partido X
olhos de seus adep tos extremistas. Como mencionamo s anteriormente, o
so bre alguma questão está no pon to 35 , enquanto o cidadão 8 pode acreditar que a mesma posição está
Partido dos Direitos dos Estados Unidos, fo rmado em 1948, tinha exatamen-
no ponto 30, mas ;unbos têm que concord<-1r qu e ela está do mes mo lado que a posição do partido Y sobre
te esse objetivo. , ·..
aq ue la qll es tào e tem a mesma re lação ordinal com as posições d os partidos W, Y e Z. Embora, no texlü,

152 153
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA A ESTATICA E. A DINÂMICA DE. IDEOLOGIAS PARTIDA RIAS

líquida do partido nessa escala é uma média ponderada das posições de todas de políticas. Já vimos que essa fração será menor num sistema multiparti-
as políticas específicas que ele sustenta. dário do que num sistema bipartidário, simplesmente porque a divisão de
Além disso, cada cidadão pode aplicar diferentes pesos a políticas indi- uma constante na metade produz partes maiores do que a sua divisão em
vidüais , já que cada política afeta alguns cidadãos mais que outros. Portanto, qualquer número maior de pedaços iguais . Se excluirmos qualquer sobre-
o partido não tem nenhuma posição líquida que seja singular e universalmen- posição de arcos de políticas, podemos concluir que as ideo logias serão
te reconhecida. Alguns eleitores podem sentir que ele é mais de direita que mais integradas em sistemas multipartidários do que em sistemas biparti-
outros e não se pode provar que nenhum ponto de vista esteja correto. dários. A plataforma de cada partido refletirá mais claramente um ponto de;
Entretanto, haverá algum consenso quanto à amplitude em que se situa a posi- vista filosófico, em torno do qual suas políticas estarão agrupadas de modo
ção líquida do partido; assim, ainda podemos distinguir partidos de direita de mais estreito. Isso está de acordo com nossa conclusão .anterior de que cada
partidos de centro e de esquerda. partido, num sistema multipartidário, tentará diferenciar seu produto dos
Nessas condições, a estratégia partidária racional é adotar um arco de produtos de todos os outros partidos de maneira mais pronunciada, ao
políticas que cubra uma gama inteira da escala esquerda-direita. Quanto mais passo que cada partido, num s istema bipartidário, tentará se parecer com
amplo for esse arco, mais pontos de vista a ideologia e a plataforma partidária seu rival.
agradarão. Mas um arco mais amplo também diminui a força do apelo a qual- Para ilustrar essa conclusão, va mos comparar a Figura 2 com a Figura 5.
quer ponto de vista específico, porque cada cidadão vê o partido sustentando Na Figura 2, depois que os partidos A e B se aproximaram um dq outro, perto.
políticas que não aprova. do centro da escala, cada um está tirando votos de metade da ,escala. Seus
Portanto, o juízo que o eleitor faz de cada partido se torna bidimensional: adeptos abrangem, em termos de ponto de vista, aqueles que vão de um extre-
ele deve contrabalançar a posi.ção líquida do partido (a média de suas políti- mo ao centro exato; assim, deve formular um arco de políticas que inclua todos
cas) e seu arco (sua variação) ao decidir se quer apoiá-lo. Se um partido tem eles. Porém, há mais eleitores no meio do que nas extremidades. Portanto, cada
uma média idêntica à posição do eleitor (que presumimos como sendo de valor partido estrutura suas políticas, de modo que sua posição líquida seja modera-
único) mas uma variação enorme, ele poderá rejeitá-lo a favor de um outro .par- da, mesmo que faça algumas concessões aos extremistas. Desse modo, espera
tido com uma média não tão próxima a ele, mas com uma variação muito impedir que os extremistas se abstenham e ainda cotejar os moderados que se
menor. Em resumo, os eleitores esco lhem antes vetores do que escalares de aglomeram em torno de 50.
políticas, e cada vetor é realmente uma distribuição de freqüência ponderada Em contraste com os partidos na Figura 2, os da Figura 5 não têm que (
de políticas na escala esquerda-direita. agradar a uma gama ampla de pontos de vista. O arco de políticas de cada um
é muito mais estreito, e qualquer tentativa de a~pliá-lo logo provoca uma coli-
são com um outro partido. Isso restringe o arco de cada partido mesmo que
B. Estratégias de integração em sistemas bipartidários e multipartidários permitamos que ocorra a sobreposição.
Por exemplo, o partido B, na Figura 5, não consegue ter ganhos ao tentar
Se supusermos que cada ponto na escala política representa uma abrir o arco de suas políticas, de modo a agradar eleitores nas posições 1O e
Weltanschauung definida, a extensão do arco formado pelas políticas de 60. Se desejar reter sua posição líquida em 35, tudo o que pode faze r é esten-
um partido varia inversamente à sua integração em torno de uma única des- der algumas políticas até 10 e 60. Mas os partidos A e, C estão concentrando a
sas Weltanschauung. Portanto, o grau de integração na ideologia de um par- maior parte de suas políticas, de modo a agradar ele itores em 1O e 60, respec-
tido depende de que fração da escala ele está tentando co brir com seu arco tivamente; daí B não poder esperar competir com A e C nessas posições. Na
realidade, B fica em melhor situação concentrando suas políticas em torno de
35, já que isso o impede de querer abarcar o mundo com as pernas e de perder
implicitamente presumam os concordância sobre a localiza.ç4o ·êxa~a de cada posição pnrtid<:lria a fim de votos para A e C de seu próprio campo. Dessa forma, nenhum partido, num
simplificar o argumento, nossas t.:onclusões também resultani <!e r'rcmissas puramente ordin ais. sistema multipartidário, tem muito incentivo para se abrir ou se sobrepor a um
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/55
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA A EST!ÍTICA E A DINÂMICA DE IDEOLO GIA S PARTIDA RI tiS

outro ideo logicamente, e cada um integrará estreitamente suas po líticas em Evidentemente, ambos os partidos estão tentando ser tão ambíguos
torno de alguma perspectiva filosófica definida. quanto possível e m relação à sua real posição líquida. Portanto, por que não
deveriam eles alcançar os mesmos fins sendo igualmente ambíguos em rela-
ção a cada política? Assim, toda posição em relação a políticas pode também
C Sobreposição e ambigüidade em sistemas bipartidários cobrir um arco ele eleitores. Não apepas os eleitores podem pesar diferente-
mente políticas individuais, mas também podem interpretar o significado de
Se permitimos sobreposição num sistema bipartidário, os resultados são cada política diferentemente - cada um vendo-a numa luz que a aproxima
radicalmente diferentes desses que acabamos de descrever. Cada partido lança tanto quanto possível de sua própria posição. Isso amp lia muito a faixa, n~
algumas políticas no território do outro a fim de convencer os eleitores ali de escala política, dentro da qual podem cair diversas interpretações da posição
que sua posição líquida está próxima deles. Nessa manobra, há muito espaço líquida de um partido.
para destreza, pois eleitores diferentes atribuem pesos diferentes às mesmas A ambigüidade, portanto, aumenta o número de eleitores a quem um
políticas. Por exemplo, suponhamos que haja dois grupos sociais, fazendeiros partido pode agradar. Esse fato encoraja os partidos, num sistema bipartidá-
e trabalhadores, cujas posições estão respectivamente à direita e à esquerda de rio, a serem tão ambíguos quanto possível em relação a suas posições sobre
50. Eles têm pontos de vista exatamente opostos sobre duas leis, uma sobre cada questão controversa. E já que ambos os partidos acham racional ser
apoio a preços de fazenda e a outra sobre práticas de trabalho. No entanto, os ambíguo, nenhum dos dois é forçado pela clareza do outro a assumir uma
fazendeiros põem um peso maior na lei da fazenda em suas decisões de voto e posição mais precisa.
consideram a lei do trabalho muito menos significativa; ao passo que a ênfase Desse modo, a racionalidade leva os partidos, num sistema bipartidá-
dos trabalhadores é exatamente inversa. Cada grupo, portanto, vê a posição rio, a obscurecer suas políticas numa névoa de ambigüidade. É verdade que
líquida de qualquer partido diferentemente do modo como o outro a vê. sua tendência à obscuridade é limitada pelo seu desejo de atrair eleitores às
Percebendo isso, um partido inteligente assumirá uma posição que favoreça os urnas, já que os cidadãos se abstêm se todos os partidos parecem idênticos
fazendeiros quanto à lei da fazenda e os trabalhadores quanto à lei do traqalho. ou se nenhum partido faz promessas que possam ser testadas. Contudo , a
Ao fazê-lo, pode estabelecer uma posição líquida simultaneamente próx ima a competição força ambos os partidos a serem muito menos que perfeitamen-
ambos os grupos, ainda que estes estejam distantes um do outro' . te claros em relação ao que representam. Natura lme nte, isso faz com que se
Essa possibilidade de ter uma posição líquida em muitos lugares diferen- . torne mais difícil para cada cidadão votar de modo racional; fica difícil para
tes simultaneamente faz com que políticas que se sobrepõem sejam uma estra- ele descobrir o que seu voto apóia quando dado a um ou a outro partido.
tégia racional num sistema bipartidário. Portanto, no meio da escala onde a Conseqüentemente, os eleitores são encoraJados a tomar decisões com base
maioria dos eleitores está agrupada , cada partido distribui suas políticas em em algo diferente das questões, isto é, com base na personalidade dos can-
ambos os lados do ponto médio. Ele tenta fazer com que cad a eleitor nessa didatos, em padrões tradicionais de voto familiar, na lea ldade a antigos
área sinta que o partido está centrado à direita da posição do eleitor. heróis partidári os, etc. Mas somente as decisões dos partidos em relação a
Naturalmente, isso provoca uma enorme sobrepos ição de políticas moderadas. questões são relevantes para as rendas de benefícios que os eleitores obtêm
Entretanto, cada partido salpicará essas políticas moderadas com a lgu- do governo; portanto tomar decisões com base em qualquer outra co isa é
mas posições extremas a fim de agradar a seus eieitores que estão distantes. irracional. Somos obrigados a concluir que o comportamento racional por
Obviamente, cada partido está tentando agradar um oposto extremo àquele que parte dos partidos tende a desencorajar o comportamento racional por parte
está sendo agradado pelo outro partido. Portanto, é possível detectar em que dos eleitores.
lado do ponto médio cada partido está rea lmente situado, olhando-se para as Essa conclusão pode parecer surpreendente, já que implica que há um
políticas extremistas que adota. Na realidade, esse pode ser o único modo de conflito entre racionalidade do partido e racionalidade do eleitor num sistema
diferenciar os partidos ideologicamente, já que a maior parte de suas po líticas bipartidário. Mas, na realidade, esse conflito também foi observado por estu-
está conglomerada numa massa que se sobrepõe no meio da escala. diosos do comportamento político, como mostra a citação abaixo:
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-- - '-'\..JVU

UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOC!IAC!A A ESTÁTICA E A DINÂMICA DE IDEOLOGIAS PA!?TIDAIIIAS

A tendência à concordância entre os pa1iidos, num sistema bipartidário, resulta do fato de de todos os membros do outro conjunto de atingirem suas metas, ele o fará.
de que os lideres pmiidários devem buscar construir LLma maioria do eleitorado. Na nação Essa é a conseqüência de nosso axioma de que cada homem busca seu próprio
como um todo, a maioria não pode ser construída com base no apoio do operariado organiza-
bem e, para consegui-lo, sacrificará o bem de outros, se necessário.
do apenas; os fazendeiros não conseguem reunir votos suficientes para formar uma maioria:
os homens de negócios estão decididamente em minoria. Dada a tradicional ligação a um par-
Para cok>car isso mais concretamente, se um partido acredita que pode
tido ou outro por pa1ie de grandes blocos de eleitores em todas essas classes, em geral a única aumentar suas chances de obter o poder desestimulando a racionalidade dos
maneira pela qual um partido pode constituir uma maioria é obtendo apoio adicional de elei- eleitores, seu próprio caminho racional é fazer isso. A única exceção a essa
tores de todas as classes e interesses. Para serem bem-sucedidos nesse esforço, os líderes par- regra o,corre quando a irracionalidade do eleitor pode destruir o sistema polí-
tidários não podem se dar ao luxo de antagonizar qualquer segmento importante da população. tico. Como os partidos têm interesse nesse sistema, são irracionais se encora-
Uma maneira conveniente de antagonizar um elemento na população é assumir uma posição
jam qualquer coisa que possa destruí-lo.
clara, num momento inopo1iuno, em relação a uma questão de importância. Semelhanças de
composição, po1ianto, contribuem para duas características dos pa1iidos americanos: sua Entretanto, não é óbvio que políticas ambíguas e ideologias semelhantes
semelhança de ponto de vista e sua inclinação it enganação e à ambigüidadel6 podem destruir a democracia. O que elas poderiam fazer é tornar o voto menos
que perfeitamente racional como um mecanismo de escolha de governos. Mas
Nosso modelo de "espaço político" nos levou exatamente à mesma con- a racionalidade, tal como a definimos, não é um conceito dicotômico; isto é,
clusão: os partidos tentarão se assemelhar e enganar. E quanto mais consegui- os estados possíveis de racionalidade não se limitam a 100% e a 0%, Portanto,
rem, mais difícil será para os eleitores comportar-se racionalmente. fazer com que o voto seja menos que perfeitamente racional não o torna abso-
Isso significa que nosso pressuposto de racionalidade leva a uma contra- lutamente inútil, mas simplesmente reduz sua eficácia como um processo de
dição num sistema bipartidário? Aparentemente, quanto mais racionais os par- escolha de governo. Sabendo disso, os partidos não se deterão diante do medo
tidos políticos são, menos racionais os eleitores devem ser, e vice-versa. Como do fim da democracia quando aumentam a ambigüidade e igualam sua plata-
isso afeta nosso modelo? forma à do outro.
Os eleitores contam com duas defesas contra serem forçados a serem
irracionais. A primeira é limitar por lei os funcionamentos de partidos. Nos
D. Uma tensãojimdamental em nosso modelo Estados Unidos, os partidos são forçados a fazer relatórios financeiros, a abs-
ter-se de declarações fraudulentas, a submeter suas primárias a controle públi-
Para responder a essas questões, devemos rever brevemente a estrutura co, a aceitar apenas contribuições limitadas de qualquer fonte, e a agir de modo
básica de nosso sistema político mítico. Nele, há dois conjuntos de agentes: a não explorar os cidadãos. Como seria irracional que os cidadãos permitissem
eleitores e partidos. Cada conjunto usa o outro para atingir sua própria meta. que os partidos os explorassem, essas leis indiretamente protegem os eleitores
Os eleitores têm como meta a obtenção de um governo sensível a suas neces- de serem forçados à irracionalidade. Mas os eleitores dificilmente podem
sidades; eles fazem uso de partidos para gerir esse governo. Os partidos têm esperar induzir o governo a aprovar leis contra a ambigüidade e semelhança de
como meta as recompensas de estar no poder; eles fazem uso de eleitores para plataformas, portanto essa defesa não ajuda muito.
se eleger. Portanto, o entrosamento de dois processos diferentes de busca de A segunda defesa é mudar o sistema político de bipartidário para multi-
metas constitui o sistema político. partidário. Isso fará com que os partidos estreitem o arco de suas políticas,
O único fim comum a ambos os conjuntos de agentes é a continuidade do diferenciem suas plataformas mais claramente e reduzam a ambigüidade.
sistema. Do contrário, nenhum dos dois conjuntos se importa se as metas do Entretanto, essa conversão também dará origem a problemas enormes, não
outro são atingidas ou não, a menos.que esse feito lhe seja benéfico. Portanto, presentes nos sistemas bipartidários, como veremos no próximo capítulo.
se um membro de um conjunto pode obter ganhos prejudicando a possibilida- Portanto, é duvidoso que a mudança melhore as perspectivas de votação racio-
nal; elas poderiam piorar.
Depois de pesar todas essas considerações, podemos concluir que nosso
16. V O. Key .Ir., up. cit., pp. 231-232.
modelo não é necessariamente contraditório. Entretanto, ele contém dois con-
/51! /5V
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA A ESTATICA E A DINAMICA DE IDEOLOGIAS PARTIDA RIAS

juntos de agentes em tensão entre si. Se se permite a qualquer um dos dois a distribuição de eleitores está dada. Assim, nos esquivamos da questão que
dominar o outro completamente, o modelo pode se tornar contraditório; isto é, acabávamos de colocar e estamos fugindo dela desde então. Mesmo agora, não
um dos dois conjuntos de agentes pode deixar de se comportar raciona!merite. podemos respondê-la. porque os determinantes são históricos. culturais e psi-
Desse modo, se os partidos conseguirem obscurecer suas decisões quanto a cológicos, assim como econômicos; tentar analisá-los seria empreender uma
políticas num nevoeiro de generalidades e se os eleitores forem incapazes de tarefa muito além de nosso escopo.
descobrir o que seus votos realmente significam, cria-se uma crise de raciona- Tudo o que podemos dizer é o seguinte: (1) a distribuição de eleitores é um
lidade. Como é ainda mais provável que essa crise ocorra num sistema multi- determinante crucial a moldar a vida política de uma nação, (2) importantes
partidário, vamos adiar a análise dela até o próximo capítulo. mudanças nela estão entre os possíveis acontecimentos políticos mais importan-
tes e (3) embora os partidos se movimentem ideologicamente para se ajustar à
distribuição em algumas circunstâncias, eles também tentarão movimentar os
V. UM DETERMINANTE BASICO DA POLÍTICA DE UMA NAÇÃO eleitores em direção a suas próprias posições, alterando-a desse modo.

De tudo o que dissemos, fica claro que um determinante básico de como


se desenrola a vida política de uma nação é a distribuição de eleitores ao VI RESUMO
longo da escala política, supondo que nosso modelo simplificado tenha algu-
ma aplicação no mundo real. Em primeiro lugar, o número de modalidades na Podemos transformar o famoso mercado espacial de Harold Hotelling
distribuição ajuda a determinar se o sistema político terá caráter bipartidário num mecanismo útil de análise de ideologias políticas, acrescentando-lhe (l)
ou multipartidário. Isso, por sua vez, determina se as ideologias partidárias distribuição variável de população, (2) uma clara ordenação esquerda-direita
serão semelhantes e ambíguas ou diferentes e definidas; portanto, influencia dos partidos, (3) relativa imobilidade.ideológica e (4) preferências políticas
as dificuldades que os eleitores enfrentam em se comportar racionalmente. máximas para todos os eleitores.
Em segundo lugar, se a democracia pode levar a um governo estável ou não Esse modelo confirma a conclusão de Hotelling de que, num sistema
depende de a massa de eleitores estar conglomerada centralmente ou estar bipartidário, os partidos convergem ideologicamente no centro, e o adendo de
amontoada nos extremos com baixa densidade no centro; apenas no primeiro Smithies de que o medo de perder eleitores extremistas os impede de se torna-
caso a democracia funcionará realmente. Em terceiro lugar, a estabilidade de rem idênticos. Mas descobrimos que essa convergência depende de uma distri-
distribuição determina se novos partidos estarão constantemente substituindo buição unimodal de eleitores que tem uma variação baixa e a maior parte de
os velhos, ou se os velhos dominarão e os novos simplesmente influenciarão sua massa agrupada em torno da modalidade.
sua política. Se a distribuição de eleitores ao longo da escala permanece constante
Naturalmente, a distribuição de eleitores não é o único fator básico para numa sociedade, seu sistema político tende a se movimentar em direção a· um
as políticas de uma nação. Por exemplo, alguns teóricos argumentam que o uso equilíbrio no qual o número de partidos e suas posições ideológicas são fixas.
de distritos de membros únicos, em lugar de representação proporcional, é a Se ele vai ter ou não dois ou muitos partidos depende (l) da configuração da
principal causa de um sistema político bipartidário 17. Todavia, quer seja vista distribuição e (2) de se a estrutura eleitoral se baseia na pluralidade ou repre-
como a causa em si mesma, quer como o resultado de fatores mais fundamen- sentação proporcional.
tais, a distribuição é um parâmetro político crucial. Nenhuma tendência à imitação existe num sistema multipartidário; na
Que forças conformam esse importante parâmetro? No começo de nosso realidade, os partidos se empenham em acentuar a "diferenciação ideológica
estudo, presumimos que os gostos dos eleitores eram fixos, o que significa que do produto", mantendo pureza de doutrina. Essa diferença entre os dois siste-
mas ajuda a explicar por que certas práticas são peculiares a cada um.
Os novos partidos geralmente têm como propósito vencer eleições, mas
17. Já discutimos essa questão na Seçfio Il deste capítulo.
são freqüentemente mais importantes como meios de influenciar as políticas
/60 lól
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA

de partidos anteriormente existent es . Como os velhos partidos são ideologi


ca-
mente imóveis, não conseguem se ajustar rapidamente a mudanças
na distri-
buição de eleitores, mas os novos pàrtidos podem entrar onde quer
que seja
mais vantajoso. Partidos de influência podem su:-gir em sistemas bipartid
ários,
sempre que a convergência tenha empurrado um dos partidos importa
ntes para 9
longe do centro, e seus adeptos extremistas queiram trazê-lo de volta
em dire-
ção a si.
Se supomos que a posição de um partido na escala é uma média ponde-
PROBL EMAS DE RACIONALIDADE
rada das posições ocupadas por cada uma de suas decisões em relação
a polí- SOB GOVERNOS DE COALIZÃO
ticas, podemos explicar a tendência dos partidos de abrir o arco de
suas polí-
ticas: eles querem agradar a muitos pontos de vista diferentes ao
mesmo
tempo. Os partidos, num sistema bipartidário, têm um arco muito mais
amplo
de política s- daí uma integraç ão mais frouxa delas - do que aqueles
num sis-
tema multipartidário. De fato, em sistemas bipartidários há uma área
maior de
políticas que se sobrepõem perto do meio da escala, de modo que os
partidos
se parecem muito entre si.
Essa tendência à semelhança é reforçada por ambigüidade deliberada
em
relação a cada questão específica. As políticas partidárias podem se
tornar tão
vagas, e os partidos tão parecidos, que os eleitores acham dificil tomar INTROD UÇÃO
dec i-
sões racionais. Contudo, fomentar a ambigüidade é o caminho racional
para Em sistemas políticos democráticos, o uso governamental da coerção
cada partido num sistema bipartid ário.
obtém sua sanção a partir do consentimento dos governados. Diversas
Um determinante básico do desenvolvimento político de uma náção noções
éa filosóficas subjazem a essa concepção, mas, na prática, quase toda
distribuição de seus eleitores ao longo da escala política. Desse fator, democra-
em gran- cia considera uma maioria daqueles que votam como sendo equivalente
de medida, depende se a nação terá dois ou muitos pattidos importan a todos
tes, se a os governados. Portanto, todo governo democrático deve, de algum
democra cia levará a um governo estável ou instável e se novos partidos modo,
substi- obter o consentimento voluntário de uma maioria de eleitores antes
tuirão continuamente os velhos ou desempenharão apenas um papel que possa
pequeno. governar legitimamente.
Mas, em alguns sistema s multipartidários, nenhum partido recebe
os
votos de uma maioria. Sendo assim, o governo de apenas um partido
signifi-
ca a imposição dos pontos de vista de uma minoria sobre a maioria
- clara-
mente uma vioiação da idéia básica por trás da democracia. Para evitar
isso,
o governo deve ser composto de mais de um partido ; isto é, deve
ser um
governo de coalizclo.
O comportamento racional em sistemas políticos governados por coali-
zões é bastante diferente daquele em sistemas governados por um único
parti-
do. Até agora, discutimos apenas esse último porque o governo de um
partido
está implícito em nosso modelo. Portanto, devemos alterar o modelo
para estu-
dar a racionalidade sob coalizões. Neste capítulo, fazemos as alteraçõ
es neces-
sárias e examinamos suas implicações.
162
l ií3
UMA TEORIA ECON6MICA DA DEMOCRACIA PROBLEMAS DE RACIONALIDA DE SOB GOVER NOS DE COALIZÃO

OBJETTVOS Para estudar esses sistemas, acrescentamos uma legislatura ao nosso mode-
lo, mudamos a estrutura eleitoral e permitimos o governo por uma coalizão de par-
Neste capítulo. tentamos provar as seguintes proposições: tidos. Vamos supor que o novo sistema eleitoral füncione da segu inte maneira:

1. Embora o voto racional seja mais importante em sistemas multipartidários 1. Cada eleitor vota em um partido na eleição nacional, não em qualquer indi-
do que em sistemas bipartidários, ele é mais dificil e menos eficiente. víduo específico do partido.
2. Em sistemas normalmente governados por coalizões, os eleitores estão sob 2. Totalizam-se os votos nacionais de cada partido.
pressão para se comportarem irracionalmente; portanto, podem tratar as 3. O total de votos em todos os partidos é contado e dividido pelo número d~
eleições como pesquisas de preferênci a. cadeiras na legis latura, a fim de obter a contagem de votos por cadeira, N.
3. As ideologias e políticas partidárias em sistemas multipartidários são mais cla- 4. O total de votos de cada partido é dividido por N para estabelecer o núme-
ramente definidas do que em sistemas bipartidários, mas programas governa- ro de cadeiras que e le obterá (estamos ignorando frações aqu i).
mentais reais são menos integrados nos primeiros do que nos últimos. S. Aquele número de homens é escolhido em ordem, a partir de uma lista clas-
4. Os partidos num governo de coalizão estão sob pressões simultâneas para sificatória montada pelo próprio partido antes da eleição.
convergir e divergir ideologicamente. 6. A legislatura assim consti tuída seleciona um primeiro ministro por voto
S. Uma certa quantia de irracionalidade política é inevitável em qualquer majoritário e aprova seus chefes de departamento governamental como um
sociedade. grupo, através de vo to majoritário, antes que comecem a governar.
6. O grau em que a racionalidade política é possível e eficiente numa demo- 7. Esse governo pode conter membros de mais de um partido.
cracia depende de quanto consenso existe quanto a metas; isto é, depende 8. Uma vez aprovado pela legislatura, esse governo tem os mesmos poderes,
da distribuição de eleitores ao longo da escala. com as mesmas limita ções, que o governo descrito no Capítulo l. Na data
de eleição seguinte, é disso lvido e uma nova legislatura é eleita. Portanto,
não há votos intermed iários entre a aprovação inicial de um governo e a
I. MUDANÇAS NO MODELO próxima eleição, seja pela legislatu ra seja pelos eleitores. Como a data da
próxima eleição é predeterm inada por regras constitucionais, a coalizão,
A maioria dos sistemas mu ltipartidários não tem eleições do tipo "o ven- uma vez aprovada, não pode ser eliminada por votos adversos de confian-
cedor leva tudo", em que o partido que obtém a maioria dos votos controla ça ou por qualquer outro meio pacífico até que aquela data chegue.
todo o governo. Na realidade, os eleitores não elegem diretamente o governo;
elegem membros de uma legislatura, que, por sua vez, escolhem o governo por Esses pressupostos a lteram radicalmente nosso modelo; portanto, diver-
voto majoritário. Se, como é muito provável, nenhum partido t em maioria na sos esclarecimentos adiciona is são necessários. Primeiro , ignoramos a maioria
legislatura, então o governo geralmente contém homens de diversos partidos. dos problemas causados pelas negociações interpartidárias no interior da legis-
Esses partidos se combinam para apoiar o governo, que assi m obtém indireta- latura, já que são complexas e empíricas demais para serem tratadas aqUl.
mente o consentimento de uma maioria de eleitores -o pré-requi sito necessá- Segundo, continuamos a supor que os eleitores vêem as eleições simples-
rio para um governo democrático'. mente como meio de escolher gove rnos. Talvez isso ·não pareça razoável, por-

O apoio de uma maioria da legislatura não é necessariamente equivalente ao apoio d~ uma maioria de .Ioim c. Co rt. "The Dicc Are Sli gbt ly Loadcd", The Commonweal, LXII, 24 de junho de 1955, pp. 302 -
elei tores, porque cada legislador não prec isa representar o mesmo número de eleitores. Na Câmara dos 303. Às vezes, as legislaturas sãG planejadas intencionalmente, de modo que um pa rtido que receba ape~
Depu tados dos Estados Unidos, por exemp lo, o Congress ista do go Distrito do Texas representa 807 000 nas uma pluralidade de votos possa obter uma maioria esmagadora de cadeira s legislativas. Entretanto,
pessoas (das quais nem todos são eleitores, JHlturalment((;); ·ao passo que o Congressi sta do 2u Distrito a estrutura eleitoral usada ncsle l::apítulo ga rante que uma maioria da legislatura seja sem pre equivalen-
de Dakot~t do Sul representa apenas \59 000 pessoas: nlm~c1~0s 'do Censo de ! 950, tal como citados ~;\1 te a uma maio ria d~qu e \ es quç \"Otam, como fica claro nos parágrafos seguintes do texto.

/64 165
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA PROBLEMAS DE:: RACIONALIDADE SOB GOVERNOS DE:: COAL/?.ÀO

que os eleitores na realidade esco lhem uma legislatura que, por sua vez, esco- Entretanto, a necessidade de imaginação não diminui se desv iarmos a
lhe o governo. Todavia, o objetivo das eleições é criar um governo sustentado contemplação dos eleitores para políticas futuras. Nesse caso, os elei tores têm
pelo menos indiretamente por uma maioria dos eleitores. Portanto, e leitores às vezes que adivinhar que po líticas terá uma coalizão que nunca existiu , se ela
racio nais votarão apenas com essa finalidade em mente. existir no fururo. Conseqüentemente, nossa manutenção do processo de toma-
Esse pressuposto impede o uso de nossa análise como uma descrição de da de decisão descrito no Capítulo 3 não cria quaisquer complicações adicio-
comportamento real em sistemas multi partidários. Na maioria desses sistemas, nais e, usando-o, poupamos o leitor de ter que considerar um outro desses pro-
pelo menos alguns eleitores tratam as eleições como algo mais que mecanis- cessos. Mas, para simplificar a linguagem da nossa exposição, descrevemos a
mos de escolha de governos. Mas definimos comportamento racional em elei- tomada de decisão dos eleitores como se comparassem políticas futuras de coac
ções como aquele que é o mais eficientemente projetado para selec ionar o lizões, em lugar de políticas presentes. A redução de verbosidade é apreciável,
governo que um eleitor mais deseja dentre aqueles candidatos com chances desde que não leve a qualquer raciocínio enganador ou a fa lsas conclusões.
razoáveis de realmente governar. Portanto, o que é racional para alguns e le ito-
res, na realidade, pode ser irraciona l em nosso modelo.
Por exemplo, alguns analistas políticos acreditam que muitos trabalha- I! A RACIONALIDADE DO ELEITOR SOB COALIZÕES
dores franceses votam no Partido Comunista simplesmente como protesto
contra a dominação capitalista da política econômica do governo. Esses tra- A. A complexidade e a dificuldade de ser racional
balhadores nem acreditam que os Comunistas se tornarão governo nem que-
rem um gove rno comunista. Não tratam a eleição nem como um mecanismo Em sistemas multipartidários como os que descrevemos, o total de votos
de seleção de governo nem como expressão de preferência, mas sim como um é geralmente dividido entre tantos partidos que nenhum tem a maioria na legis-
protesto socia l. latura. Os eleitores rac ionais, portanto, sabem que seu partido favorito tem
Igualmente, um trabalhador italiano pode apoiar os Comunistas mesmo pouca chance de governar sozinho. Se for para t er qua lquer participação no
que saiba que é improvável que eles estejam no governo. Seu voto mostr..a ape- gove rno, deve entrar numa coal izão com partidos ideologicamente adjacentes.
nas que gostaria que eles governassem. Se as eleições são pesquisa de prefe- Por exemplo, na Figura 8, o partido B deve entrar numa coa lizão com A c C,
rência, seu comportamento é racional; em nosso modelo, é irracional, a menos ou com C e D; do contrário, será um partido de oposição.
que ele esteja orientado para o futuro e acredite que seu voto os ajudará ache- Essa situação tem dois impactos no significado do voto. Primeiramente,
gar ao poder em algum momento posterior. Para eliminar essa última possibi- cada voto ajuda a eleger no máximo apenas parte de um governo. Em segun-
lidade, supomos neste capítulo que nenhum e leitor está orientado para o futu- do lugar, cada voto apóia um partido que terá que fazer concessões em suas
ro, a menos que seja especificamente designado como tal. polítiéas mesmo se ele ito; portanto, as políticas desse partido não são aquelas
Nosso terceiro e último esclarecimento diz respeito aos períodos de que o voto nelas realmente apóia. Em vez disso, o voto apóia as políticas de
tempo que entram nas decisões dos eleitores. No Capítulo 3, afirmamos que qualquer coalizão em que o partido ingresse.
os eleitores escolhem governos futuros comparando antecedentes passados, Nessas condições, um eleitor deve saber as seguintes coisas, a fim de
um proced imento que desejamos reter em nossa presente análise. Desse modo, votar racionalmente:
mesmo quando um eleitor está fazendo previsões sobre quais as coalizões em
que um dado partido poderia entrar e sobre que políticas essa coa lizão poderia 1. Em que coalizões cada partido está disposto a entrar sob diversos conjun-
ter, presumimos que ele está pensando em que políticas cada coa li zão teria tos de circunstâncias.
tido durante o período eleitoral passado, se tivesse estado no poder. Esse pro- 2. Distribuições estimadas de probabilidade que mostrem a probabilidade que
cesso pode exigir uma grande imaginação por parte dos eleitores. Não fica cada partido tem de entrar em cada coalizão aberta a ele. Estimá-las signi-
sempre óbvio que políticas uma coalizão tí:iriél tido se tivesse sido formada, fica prever como todos os outros eleitores votarão; trata-se de uma especi-
quando, de tàto, não foi formada e portanto duii.ca teve quaisquer políticas. ficação das ci.rcunstâncias mencionadas em (1) acima.
lóó Jrí7
'-VUUvV

UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA PROBLEMAS DE RACIONALIDADE SOB GOVERNOS DE COALIZÃO

3. Que concessões em termos de políticas é provável que cada partido faça em seguirá gan har a eleição sozinho, ele pode sentir que seu voto puxará C de
cada coalizão possível, isto é, que políticas cada coalizão adotaria depois volta para a esquerda e para fora da coalizão CDE no futuro.
de ser formada. Como essas concessões dependem da força relativa dos Esse exemplo demonstra o fa to de que o voto rac ionaL num sistema
di versos partidos em cada coalizão, para prever as concessões um eleitor mu ltipartidário, é mais difícil e mais importante do que num sistema biparti-
deve prever o resultado da eleição, exatamente como em (2) acima .. dário. É mais difícil porque os resultados possíveis são mais numerosos, e
pode não f icar claro para o ele itor exatamente o qu e seu voto está apoiando
Assim, quando um eleitor vota, está de fato apoiando uma certa distribui- quando ele o dá. Todavia, cada voto é mais importante porque é provável que
ção de probabilidade de concessões. Essa distribui ção é ela mesma composta a gama de políticas alternativas oferecidas aos eleitores num sistema multi-
de (1) uma distribuição de probab ilidade das coalizões em que seu partido partidário seja mais amp la que num sistema bipartidário. Ness.e último, os
poderia entrar e (2) diversas distribuições de proba bilidade das concessões que partidos oferecem plataformas relativamente moderadas2. Assim , se o partido
o partido poderia fazer em cada uma. a qu e ele se opôs consegue se eleger, o eleitor provavelmente não terá que
Obviamente, quanto menor for o número de coalizões em que qua lquer agüentar políticas muito diferentes daquelas que seu partido favorito teria
partido dado provavelmente entre, mais fácil será para os eleitores saber o que implementado. Mas, num sistema multipartidário, a vitória de um partido na
um voto naquele partido significa em termos de políticas. Como algu ns parti- extremidade da escala oposta à posição do eleitor pode introduz ir po líticas a
dos entrarão em apenas uma coalizão, a amb igüidade de votos dados a eles é que ele se opõe severamente.
pequena. Tal clareza é espec ialmente verdadeira no caso dos partidos extremis- A maior dificuldade de votar racionalmente quando há mais de dois par-
tas, porque eles podem transigir em apenas uma direção. tidos importantes pode ser ilustrada ainda pela comparação entre as Figuras 2
Se um eleitor sa be que seu partido favorito en trará apenas numa coalizão e 10. Num sistema bipartidário (Fig. 2) , há apenas dois resu ltados possíveis: A
específica, votará naquele partido se fo r racional, mesmo que um voto em e B. Portanto, o eleitor escolhe o resultado que prefere e vota ne le. Mas num
algum outro partido pudesse ajudar a eleger a mes ma coalizão. Isso é verdad e sistema tripartidário, como o mostrado na Figura 10, há pelo menos nove
porque quanto mais votos seu parti do favorito obtém, maio r peso terá na coa- resultados possíveis .
lizão e mais suas políticas prevalecerão ali dentro. Por outro lado, se o eleitor
não sabe em qu e coalizã.o cada parti do poderia entrar, ou que concessões pode- y z
ria fazer, ele pode não ser capaz de dizer qual é seu partido favorito.
Essa di fic uldade pode ser mostrada por meio da di stribu ição de e leitores
que aparece na Figura 8. Suponhamos que os três parti dos de centro B, C e D o 20 35 40 60, 80 100
A B c
estiveram governando numa coalizão e que ocorra uma nova eleição. O eleitor
Figura 10
X, acreditando que a coalizão BCD será form ada novamente se o parti do C for
forte o sufi ciente, dá seu voto para o partido C, porque ele é per se o mais pró-
ximo na sua preferência, e está numa coa lizão que também está próxima dele.
Entretanto, o partido C entra numa coal izão com De E e as políticas dessa coa- Se supuserm os que os do is partidos extremistas nunca se integrarão ao mesmo
lizão co locam o impacto líquido dele ap roximadamente onde es tá o partido D. gove rno, temos cinco combinações possíveis: A, B, C, AB e B C. Mas, nos dois
Olhando em retrospectiva, o eleitor X decide que, se tivesse sabido o que o
partido C ia fazer, teria votado no partido B. B está mais próximo dele do que
D, contudo a entrada de C na coalizão CDE significou que seu voto apoiou 2. Supomos que há apenas uma moda lidade na distri buição de eleitore s e q ue ambos os partidos estão
localiz.:'ldos próximos a ela. Co mo a própria modalidade é, por de fi nição, a pos ição mais moderada, os
uma posição de D. Na próxima eleição, se presumir que C entrará novamente
partidos o fe recem programas moderados. Se levarmos em co nta outras su pos ições menos normais sob re
numa coalizão CDE, ele votará em Bem vez de C, embora C esteja p er se mais a distribuição dos eleito res num s istema bipa rtidário, os partidos podem oferecer programas mais ex tre-
próximo de sua própria posição. Mesmo que o ·e leitor X pense que B não con" mos, como salientamos no Capítul o 8.

lóli ló 9
UMA TEORIA ECON6MICA DA D EM OCRACIA
PR OBL EMAS DE RACIONA LIDADE SOB GOVERNOS DE COA LIÜO

últimos, que são coalizões entre o partido de centro e cada um dos partidos Essa situação é exatamente análoga ao problema da variação conjecturai na
extremistas, um partido poderia dominar o outro , ou eles poderiam ter igual teoria do oligopólio ou ao problema básico da teoria dos jogos. As eleições setor-
influência. Desse modo, cada coalizão representa três resultados em vez de nam jogos, com os eleitores buscando estratégias mais favoráveis através da aná-
um, o que significa que as possibilidades são: A, B, C, AB. aB. Ab, BC. bC e lise dos possíveis passos uns dos outros. Sua situação dificillembra a analogia do
Bc. Podemos ampliar o número de resultados indefinidamente, aumentado os concurso de beleza com a qual lorde Keynes descreveu o mercado de ações. O
graus mensuráveis de predominância em cada coalizão, mas já temos o bastan- objetivo desse ~oncurso era escolhet~ de um grupo de mulheres, as que a maioria
te para deixar Y, nosso eleitor-amostra, confuso. das outraspessoas escolheu como muito bonitas; portanto, como disse Keynes:
Diante desse rol de possibilidades, o eleitor Y tem de saber algo sobre o
resultado provável da eleição, a fim de votar racionalmente. Se apenas um par- Não é um caso de escolher quais, tanto quanto é possíve l j ulgar, são realmente as mai s
tido vai vencer, ele votará em B, que lhe é o mais próximo. Também votará em bonitas, nem mesmo as que a opinião médi a genuinamente consi dera as ma is bonitas.
B se uma coalizão entre A e B for provável, já que ele gostaria que B fosse o Atingimos o terceiro g rau em que devotam os nossa inteligên cia a antecipar o qtte a opini ão
1Í1édia espera que sej a a opinião média3
parceiro mais forte. Mas, se for provável que B e C formem uma coalizão com
uma posição líquida de Z quanto a políticas, é mais racional que ele vote em
A do que ém B, já que preferiri a que A vencesse sozinho a ver tal coalizão. Os sistemas eleitorais em que ocorre raciocínio semelhante exibem varia-
Como deveria ele votar? ção conjecturai par excellence. A decisão de voto de cada homem depende do
A resposta a essa questão depende de dois fatores: (1) que conhecimen- que ele prevê que os outros homens estão prevendo, e as previsões daqueles
to Y tem sobre como provavelmente votarão outros eleitores e (2) como os outros se baseiam no que eles pensam que todo o resto está prevendo, e assim
homens deveriam escolher racionalmente entre alternativas com resultados por diante, ad infinitum.
íncertos. Esse último foi um assunto de interesse para teóricos econômicos, À primeira vista, essa situação parece absurda e impos-sível de analisar.
mas eles não chegaram a nenhum consenso sobre isso. Portanto, tudo o que Entretanto, ela não exclui o voto racional e a real seleção de governos mais do
podemos dizer é que Y seguirá o procedimento bastante vago descrito no que a variação co njecturai impede os oligopolistas de vender produtos.
resumo do Capítulo 3. Entretanto, devemos explorar o primeiro fa tor cuidado- Portanto, não precisa mos jogar fora a suposição de que todo homem conside-
samente porque ele leva a variações conjecturais entre eleitores. ra as eleições simplesmente como um processo de escolha de governo. Mesmo
com essa suposição, nosso modelo multipartidário revisado pode produzir
governos se os eleito res se comportarem como dissemos que o faria m no
B. O problema do oligopólio no voto em sistemas multipartidários resumo do Capítulo 3.
Contudo, não podemos fazer previsões muito precisas enquanto manti-
Vimos que governos de coalizão são form ados para fugir do dilema que vermos essa suposição. Essa incapacidade se origina das dificuldades de resol-
surge quando nenhum partido sozinho recebe o apoio da maioria dos eleitores. ver o problema de variação conjecturai. Até agora, ninguém produziu uma res -
Mas, quando os eleitores percebem que serão governados por uma coalizão, posta aceitáve l para isso. Como resultado, não há como prever o que os eleito-
um efeito de realimentação ocorre e muda a natureza do voto. res farão se a deci são de cada um depender do que ele pensa que todos os
Os eleitores racionais não mais votam simplesmente no partido que pre- outros eleitores irão fazer e se ele souber que os outros também tomam deci-
ferem como único governo; em lugar disso, levam em conta o uso de coalizões, sões dessa maneira . O resultado depende de em que momento cada homem
que se torna necessário devido à distribuição dispersa dos votos das outras pes- interrompe o processo de conj ectura e contraconjectura e, teoricamente falan-
soas. Em suma, toda decisão do eleitor racional depende de como ele pensa do, esse momento não é previsível.
que os outros homens votarão. Salientamos isso no Capítulo 3 e acabamos de
ver a que complicações isso pode levar qua!1ciQ há uma grande diversidade de
gostos políticos. ' · ~- .....
_
3. John M aynard Keyncs, The General The01y qfEmp/oyment, In teres/, and A1oney. N ew Yo rk . H arcou ri ,
. _· \ ..,
13 race ond Compony, 1936, p. 156.
170
171
PROBLEMAS DE RACIONALIDA DE SOB GOVERNOS DE COAL!ZlO
UMA TEOR IA ECONÓM ICA DA DEMOCRACIA

A pesar desse impasse, podemos fazer algumas afirmações relevantes Uma terceira opção aberta aos eleitores é a recusa de considerar o que é
so bre os possíveis resultados de variação conjecturai entre eleitores. O mais provável que outros eleitores façam. Ao invés de tratar a elei ção como o pro-
importante é que decisões de voto - como todas as decisões na vida real -são cesso de esco lha de governo. os eleitores que escolhem esse método dão seus
tomadas sob a pressão do tempo transcorrido , não num mundo intemporal de votos aos partidos que eles mais gostariam de ve r governando. Eles deixam a
abstração. Portanto, a solução que consiste de uma regressão infinita de cálcu- verdadeira seleção do governo inteiramente sob a responsabili dade da legisla-
los é impossível. Cada eleitor tem apenas tempo suficiente para fazer conjec- tura. Desse tnodo, a dific uldade de lidar com a variação conjecturai leva os
turas antes que as urnas se fechem no dia da eleição ; ele tem diante de si uma cidadãos a tratar as eleições como expressões de preferênc ia em vez de sele-
força inexorável que o obriga a tomar alguma decisão. Se hesita demais, a elei- cionadoras de governo. Do ponto de vista do nosso modelo, a complex idad ~
ção termina e e le terá se abstido - o que é uma decisão tanto quanto o voto. de se comportar racionalmente os levou a se comportare m irracionalm ente6.
Portanto, ele não consegue fug ir da escolha. Se todos os eleitores agirem desse modo, a eleição expressará suas pre-
Que escolhas pode fa zer? Primeiro, pode permanecer " no ar" e fi car tão ferências diretas; ass im a legislatura exibirá exatamente a mesma diversidade
tonto com o problema do oligopólio que fica em casa no dia da eleição. E um de opiniões po líticas que o eleitorado. O problema de conseguir apoio majo ri-
confuso, para usar a terminologia do Cap ítulo 6. Evidenteme nte, se todos esti- tário para um governo é simpl esmente transferido do eleitorado para a legisla-
ve rem confusos, o sistema ele itoral desmorona - ele deixa de esco lher um tura. Embora não seja solucionado por essa tra nsferência, e le é e liminado do
governo que tem o consentimento dos governados. Nesse caso, nossa suposi- alcance de nosso estudo.
ção de que cada homem considera as eleições como selecionado ras de gover- A análise precedente mostra que os eleitores que se defrontam com o pro-
no leva ao f im da democracia. blema de variação conj ecturai têm pelo menos três escolhas possíveis de ação.
Um segundo resultado possí vel é que cada eleitor decidirá que vai votar Todavia, não há razão para supor a priori que todos os eleitores fazem a mesma
não importa a que decisão chegou no dia da eleição. Tendo decidido isso, escolha. Na rea lidade, cremos que, mesmo em nosso mundo-mod elo, alguns
in te rrompe o processo de deliberação em algum momento imp revisível para eleitores fazem cada uma das escolhas ; o resultado é um sistema eleitoral misto.
um observado r externo4 . Esse truncamento é estimulado pelo custo da delibe- Alguns cidadãos, perplexos, se abstêm, outros se arriscam e votam apesar da
ração. Não somente é caro obter informações sobre políticas partidÚias e incerteza e outros, ainda, mudam sua opinião sobre as eleições e as tratam como
sobre o que os outros eleitores farão, mas também o mero ato de pensar con- exp ressões de preferência. Indu bitavelmente, um governo surgirá desse proces-
some tempo que poderia ser devotado a outras ati vidades. Portanto, os homens so, mas se ele foi racionalmente selecionado ou não é impossível di zer a priori.
podem decidir gastar apenas umas tantas horas pesando alternativas e manter Surp reendentemente, quanto mais eleitores forem irracionais do pon to de
qualquer decisão que prefiram ao fi nal desse tempo. Se todos os homens v ista de nosso modelo, mais fá c il é para os outros serem rac iona is.
forem, portanto, pass ivos quase-infor mados, a democracia não irá desmoronar Evidentemente, é menos difí cil prever que partidos outros homens preferem do
por falta de voto. Mas não se pode prever se os próprios eleitores vão conse-
guir selecionar um governo ou se simplesmente vão transferir todo o proble-
ma para a legislaturas. 13, um eleitor racional semp re interrompe o processo de de li beração e man tém qualq uer decisão a que
dá rio é d i iC-
chegou no momento da interru pção. Se, naque le momento, ele crê que seu diterencial parti
les-
re ntc de zero, vo ta; se o vê co mo zero, se abstém. Portan to, a expos içfio usa da aq ui no tex to simp
mente abrevia o processo descrito por inteiro nos Cap ítu los 3 c 13 .

Suas ações são imprevisíveis nó sentido causal, isto é, os passos causais que levam à sua deci são não 6. Expressa r suas preferênc ias diretamente nào é a única form a de co mport amento irracional aberta r:os
4
podem ser afirmados an tecipada mente. Entretanto, se presu mirmos que é provável qlle seu comporta- eleitores que decid iram ignora r o problema de ol igopólio. No entanto, é a ma is aproxi m<'ldamente racio-
nal, porq ue di z àq uel es que selecionam o gove rno - os legisladores - o que o cidadão qu er. Desse modo,
mento passado se repita, podemos fazer previ sões esrati sti cas ai nda que não saibamos por que ele chega
às decisões que previmos. A ignorâ ncia a respeito de como os homens resolvem problemas de o ligopó- é a co isa mais próx ima daseleção direta de governo, mas ê mui ro ma is rác il de os eleitores a executa-
lio, portanto, não nos im pede de prever com exa tidão sua s dec isões. re m quando o nú mero de coai izões possíveis é grande. Co111o todas as out ras formas de comportame n-

5. Pode parecer que esse método de toma r a decisão de vo to cOt~tr~.di-z o proc~dimento descrito no Capitul o to irracional não são igualmen te úteis como auxílios indi retos de seleção de governo. não as discuti mos
J porqu e não faz referência ao di ferenci al partidário do el eit~ r. R ~l mente, como veremos no Ca p
ítulo ~ em nossa análise.

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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA PROBLEMAS DE RACIONALIDADE SOB GOVERNOS DE C0.4l.!Zl0

que prever em que partidos eles irão votar se estão pesando as preferências uns ainda chegar a esco lhas de voto definidas, sem conjecturas infindáveis.
dos outros além das suas próprias. Portanto, quanto mais homens simplesmen- Entretanto, a escassez de coalizões prováveis é em si mesma uma indicação de
te derem seus votos para seus partidos favoritos , mais fácil é para os outros que as preferênc ias políticas não estão distribuídas de forma uniforme ao
hom~ns pre...-erem o resultado prová,·el da eleição. E quando essas pre\ isões longo da escala. Isso não significa que não há diversidade, mas sim que a dis-
são mais fáceis, os homens racionais podem mais facilmente decidir çomo tribuição é caracterizada por alguns grandes agrupamentos, em vez de uma
votar à la procedimento descrito no Capítulo 3. grande dispersão de grupos pequenos. Portanto, existem apenas nlguns parti-
Não se pode tirar nenhuma conclusão clara da análise precedente, mas dos e as escolhas são limitadas.
podemos chamar atenção para uma tendência significativa inerente a sistemas É onde as escolhas são muitas que os eleitores podem não consegu ir ·
governados por coalizões. Há uma pressão contínua para que os eleitores escolher seu próprio governo diretamente. Em lugar disso, terão que passar a
sejam irracionais, isto é, que parem de considerar as eleições como mecanis- responsabilidade para uma legislatura que tem uma compos ição diversificada,
mos diretos de seleção de governo. Essa pressão é especialmente forte se o refletindo a do eleitorado. A legis latura então deve enfrentar um problema de
número de coalizões prováveis for grande e se suas variações de políticas Arrow: como selecionar um governo de coa lizão para o qual se possa obter
forem extensas. Assim, a complexidade de tentar descobrir como constituir o apoio majoritário.
governo o mais favorável possível pode levar cada eleitor a simplesmente Essencialmente, essa é apenas uma ve1·são aguda do problema que se
apoiar seu partidq favorito e a deixar a seleção de governo para a legislatura. coloca para todo governo democrático, não importa corno os e leitores são dis-
Quando chamamos esse comportamento de irracional, não queremos tribuídos ao longo da esca la políti ca. Em todos os sistemas, o governo deve
dizer que não seja inteligente ou no melhor interesse dos eleitores. Na rea lida- forjar um único conjunto de políticas que possa de algum modo receber a san-
de, pode ser a coisa mais racional para fazerem como indivíduos. O único sen- ção da maioria daqueles que governa. O lema dos Estados Unidos, e pluribus
tido em que é irracional é do ponto de vista das eleições como selecionadoras unum, expressa esse problema perfeitamente. A natureza mesma da ação força
diretas de governos. Obviamente, se uma fração grande do eleitorado conside- o governo a assu mir apenas uma posição em cada situação; assim, suas políti-
ra as eleições como meio de selecionar uma legislatura via pesquisas de pr(Ofe- cas devem formar um único conjunto. Todavia, para governar, também tem que
rência, elas já não são dispositivos racionais para a seleção direta de governos receber o consentimento de uma maioria de cidadãos cujas preferências são
por parte do povo. extremamente diversificadas.
Para fugir desse dilema, o governo tem apenas um recurso: tem que mis-
turar diversas políticas a partir de uma variedade de pontos de vista, adotando
C O problema básico: falta de consenso entre eleitores muitas perspectivas filo sóficas imperfeitamente em vez de adotar uma delas
perfeitamente. Essa tendência é óbvia num sistema bipartidário, porque, em
Nós nos defrontamos com um resultado importante da falta de consenso sua tentativa de agradar a muitos pontos de vista, os partidos adotam platafor-
no eleitorado: os eleitores não conseguem selecionar um governo que os mas que são ambíguas e se parecem entre si. O eleitor nesse sistema se defron-
governará. Se cada um vota no partido que prefere, nenhum partido individual- ta com alguns conjuntos de políticas diferenciados de modo muito impreciso,
mente tem a maioria; portanto, nenhum partido pode reivindicar o consenti- um dos quais ele seleciona como sua escolha para governá-lo.
mento dos governados. Por outro lado, se cada um tenta levar em conta a diver- Essa ambigüidade também preva lece nos sistemas multipartidários,
sidade de preferências, e .portanto vota apenas depois de calcular como os embora neles os partidos tendam a ter programas bastante diferenci ados, cada
outros votarão, o processo de cálculo se torna complicado demais para que o um integrado estreitamente em torno de uma Weltanschauung. Os eleitores nos
eleitor lide com ele. sistemas multipartidários de fato se defron tam com conjuntos definidos e bem
Naturalmente, esse resultado terrível não vale para todos os sistemas integrados de políticas, mas nenh~r;l desses conjuntos realmente os governará.
multipartidários. Onde as coalizões são poucas e .s uas políticas são bem conhe- Apenas as coalizôes podem governar e a ambigüidade e a conciliação são
cidas, os eleitores podem tratar as eleições corno' selecionadoras de governo e . introduzidas num nível secundário sempre que se formam coa lizões. O progra-
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PROBLEMAS DE RACIONALIDADE SOB GOVERNOS DL COAL!ZlO
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA

ma bem integrado de cada partido tem que ser coordenado com programas de diversidade no interior da legislatura, os partidos que dela fazem parte enfren-
um ou mais partidos que são igualmente bem integrados, mas em torno de tam a dificuldade de escolher um governo que uma maioria pode apoiar.
pontos de vista diferentes. O resultado é um programa exatamente tão não- Porém, não estamos estudando intrigas intralegislatura em nossa análise;
integrado quanto qualquer um dos dois programas num sistema bipartidário. assim, limitamos nosso exame de estratégias parndárias racionais àquelas apli-
Na realidade, o programa de um governo de coalizão num sistema mul- cáveis depois que uma coalizão se formou e foi aprovada. Mesmo então, cada
tipartidário é geralmente menos bem integrado do que aquele do governo num partido na coalizão é pressionado por forças contrárias que o envolvem num
sistema bipartidário. Isso resulta da distribuição mais ampla de eleitores num conflito de desejos sobre que políticas adotar.
sistema multipartidário; geralmente, não há um agrupamento dominante em A primeira dessas forças é o desejo de ter um bom relacionamento com
torno de alguma média ideológica. Portanto, a coalizão tem que adotar um os outros partidos na coalizão. A coalizão deve fazer algum esforço para resol-
arco mais amplo de políticas para conseguir o apoio de uma maioria de eleito- ver os problemas que se colocam para a sociedade; portanto, deve ser capaz de
res do que deve fazê-lo o governo num sistema bipartidário. Isso é verdadeiro agir com pelo menos um grau mínimo de eficiência. É verdade que alguns
apesar do fato de que cada partido, num sistema multipartidário, ostensiva- cidadãos que se opõem a suas políticas prefeririam vê-la funcionando inefi-
mente representa um arco muito mais estreito de políticas do que cada partido cientemente, de modo que suas políticas nunca tenham qualquer efeito. Mas se
num sistema bipartidário. esses desejos são muito correntes, a democracia não consegue produzir gover-
As aparências enganam em política democrática. O tipo de sistema polí- nos efetivos: ela degenera num beco sem saída que simplesmente preserva o
tico que parece oferecer ao eleitor uma escolha mais definida entre políticas status quo. Como a mudança social ocorre independentemente de quem está
de fato lhe oferece uma menos definida. Esse sistema pode até mesmo fazer no poder, a distância entre as necessidades da sociedade e as políticas do
com que lhe seja impossível escolher um governo. Em lugar disso, pode forçá- governo acaba por se tornar tão grande que a democracia é substituída por uma
lo a transferir essa responsabilidade para uma legislatura sobre a qual ele tem forma mais efetiva de governo.
muito pouco controle entre as eleições. Entretanto, estamos discutindo aqui democracias que são governadas,
Esse paradoxo mostra que a distribuição de eleitores ao longo da escala não paralisadas; portanto, supomos que o eleitorado aprecie uma ação eficien-
política é o que determina quão bem integradas são as políticas de um gover- te por parte da coalizãol. Para serem eficientes, os partidos na coalizão devem
no e que pontos de vista predominam nelas. Em última instância, nem o núme- agir em uníssono; daí seu desejo de cooperar uns com os outros. Esse desejo
ro de partidos nem suas plataformas são tão importantes quanto a configura- os faz adotarem políticas semelhantes; ele constrói uma força centrípeta como
ção dessa distribuição para inf1uenciar a ideologia e a política de um governo a da maioria dos sistemas bipartídários. O resultado é uma tendência à integra-
numa democracia. ção das políticas da coalizão em torno de uma Vleltanschauung próxima do
centro de gravidade de qualquer arco de eleitores a quem a coalizão agrade.
A segunda fc>rça pode ter efeito ou centrífugo ou centrípeto. Cada parti-
III. RACIONALIDADE PARTIDARIA SOB COALIZÕES do quer que suas próprias políticas dominem as políticas conjuntas da coali-
zão; portanto, tenta atrair os eleitores para longe de ambos os seus aliados na
O governo por coalizões torna dificil o comportamento racional tanto coalizão e de seus oponentes fora dela. Se mais eleitores se juntarem no meio
para os partidos quanto para os eleitores, especialmente quando se deixa para do arco de políticas da coalizão do que peno das bordas desse arco, os parti-
a legislatura a tarefa de escolher o governo. Naturalmente, qualquer sistema
eleitoral projetado como esse neste capítulo delega algum poder de seleção de
governo aos legisladores. Entretanto, se as opiniões dos cidadãos forem muito 7. Em outras palavras. est;:lmos ignorando situações como ;:1 da França, onde a distribuição de eleitores pro-
voca paralisia virtual do governo. É questionável se essa distribuição pode ou não lcvélr a qualquer
diversificadas, os eleitores podem ser levados a dar seus votos simplesmente
governo verdadeiro, contanto que prevaleça a democracia se exigirmos que um vcrdadci!ugoverno seja
como indicadores de preferência, deixando assim todo o trabalho de designar capaz de, pelo menos, tentar resolver os principais problemas políticos e econômicos da sociedade. Essa
um governo para a legislatura. Como sua ação tl"':nde a reproduzir a mesm~ paralisia é o resultado mais sério da falta de consenso no eleitor<lJn.

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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA
PROBLEMAS DE II.ACIONALIDADE SOB GOVERNOS DE COALIZÃO

dos periféricos na coalizão são estimulados a se movimentar em direção ao a fim de conseguir votos para a coalizão, os partidos B e D deveriam divergir
partido do meio em termos de políticas. Essa convergência torna mais fá ci l a da posição central de C. Quanto mais longe de C estiverem, mais votos podem
coordenação de políticas no interior da coalizão. rouba r de A e E; mas também ( 1) perdem força dentro da coalizão para C e (2)
Por outro lado. os partidos periféricos da coalizão podem sentir que seu arco maior torna mais dificil para os três partidos cooperarem uns com os
podem conseguir mais votos movimentando-se para longe do centro do que se outros9. Qual é o caminho racionaLpara seguir se querem maximizar suas
movimentando em direção a ele. Isso é verdade sempre que os partidos em chances de eleição?
cada lado da coalizão têm mais adeptos do que o partido do meio na coalizão. Evidentemente, a eleição num sistema governado por coalizão significa
Nesse caso, o desejo de predomínio no interior da coalizão leva à divergência algo diferente da vitória não-qualificada que ela denota num sistema bipartii-
política entre os membros da coalizão; conseqüentemente, a coordenação se dário. Nenhum partido individualmente consegue gozar do prestígio, renda e
torna mais difícil. poder que motivam os políticos em nosso modelo. Na realidade, apenas certos
A terceira força que influencia os partidos na coalizão é centrífuga. Ela indivíduos em cada um dos partidos vitoriosos consegue vencer nesse sentido,
nasce do desejo de todos os partidos na coalizão de maximizar as chances de e sua identidade não pode sempre ser prevista antecipadamente. Todavia, quan-
que toda a coalizão seja reeleitas. Portanto, desejam que o impacto líquido de to mais votos um partido obtém, mais chances tem de entrar numa coalizão,
todos eles juntos seja tão difundido quanto possível; isto é, querem agradar a mais poder recebe se realmente entra numa, e mais indivíduos dentro dele
um leque tão amplo de eleitores na escala quanto possível. Podem melhor con- obtêm cargos no governo de coa lizão. Daí a maximização do voto ser ainda a
seguir isso divergindo ideologicamente uns dos outros de forma deliberada, motivação básica subjacente ao comportamento de partidos corno grupos cor-
levando com isso mais eleitores em cada margem a apoiar um dos partidos na porativos, e de indivíduos no interior deles 10:
coalizão. Entretanto, isso provoca desintegração e torna a coordenação difícil. Por essa razão, concluímos que cada partido numa coalizão faz o que
Todas essas forças podem ser ilustradas na Figura 8. Varrias supor que um quer que maximize seus próprios votos e não o que beneficia ü funcionamen-
governo de coalizão seja formado pelos partidos B, C e D. É lógico acreditar to da coalizão per se. Portanto, na Figura 8, os partidos B e D poderiam con-
que a coalizão pode governar mais eficientemente se seus membros estiverem vergir em C a fim de lhe tirar votos, já que podem obter mais votos movimen-
mais de acordo quanto às políticas. Desse modo, se esses partidos crêem que tando-se para o centro densamente povoado do que perdem em direção aos
vão trabalhar juntos por um longo tempo, poderiam ser encorajados a conver- extremos. Entretanto, quanto mais próximos estiverem os três partidos na coa-
gi r em termos doutrinários em direção à posição central de C. Poderiam até se . lizão, menor será o total de seu voto combinado e mais provável será que a
unificar para formar um único partido posicionado em C. No entanto, isso coalizão como um todo seja derrotada por um partido extremista. Uma tensão
seria politicamente tolo, já que enfraqueceria seu poder de obtenção de votos assim se arma entre o desejo de cada partido de garantir que a coalizão seja
enquanto coalizão. eleita, por um lado, e de aumentar o grau de sua influência no interior da coa-
O eleitor R apóia o partido B porque lhe é o mais próximo e crê que seu lizão, de outro . Não é de se surpreender que a política seja considerada por
voto ajuda a impedir a coalizão de se movi mentar muito para a direita fortal e- muitos como uma arte, em vez de uma ciência!
cendo o poder de B dentro dela. Mas se B se movimenta para C, o eleitor R
pode transferir seu apoio para A, que lhe é mais próximo do que C. Portanto,

9. Esse argume1lt o foi sugerido por um exemplo tirado da politica nos Países Baixos relatado por Hendrik
S. Houthakker.
R. Essa fOrça nem sempre fun cio na, porque os partidos numa co<t lizão podem niio des~jar vê-la reconsti-
10. Algu ns p<lrtidos nn históri a funcionaram com base numa estratégia menos cautelosa c buscaram o poder
tuída em sua presente türma. Por exemplo, se um par tido sente que poderin co nquistar apoio su ricie n-
na base do tu do ou nada. Ao invés de aceitar quaisquer ganhos que pudessem consolida r imediatamen-
te para governar sozinho, seu desej o de t irar votos de seus atu ais al iados oblitera qualquer tendênciCI su<'l
te entrando em coalizões, investiram ousada mente para conseguir poder tot:ll c desconsidera ram estra-
de auxiliar a coalizão como um todo. Entretanto, às vezes é ve rdade qu,e é improvi:Ível que os mem bro s
tégias banai s de maximização de votos. Entretanto, quase todos esses partidos não eram verdadeiramen-
de uma coalizão cousigam o poder novamente, exceto._cmno .parte daquela n1es1na coa liúio. Nesses
te democráticos, pois, assim que chegaram ao poder, violaram os preceitos constitucionais expostos no
casos, cadn pnrtido é motivado a buscar a reeleição para ;\ cba.Úzão inteira. Capít ulo 1. Portanl o, nos sentimos justificados em excluí-los de nosso modelo.
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179
UMA TEORIA ECON6MICA DA DEMOCRACIA PROBLEMAS DE RACIONALIDADE SOB GOVERNOS DE COALIZÃO

!V. CONFLITOS ENTRE RACIONA LIDADE PARTIDAR!A E RACIONALIDADE sos; assim, quando cada um persegue suas próprias metas, suas ações afetam
INDIVIDUAL outros homens. Além disso, esses outros homens nunca têm exatamente as mes-
mas metas que ele. Portanto, inevitavelmente surgem conflitos entre os homens.
No último capítulo, vimos que os partidos, num sistema bipartidário, ten- A política é o sistema de resolver esses conflitos, de modo que cada indi-
tam ser ambíguos quanto a suas políticas porque querem agradar diretamente víduo possa atingir algumas de suas metas. Os homens não podem todos atin-
a uma maioria de eleitores, mesmo que nenhum ponto de vista individualmen- gir todas as suas metas simultaneamente, porque quando um o faz, suas ações
te seja apoiado por uma maioria. Em contraste, os partidos, num sistema mul- impedem que outros o façam; isso é o que significa conflito. Portanto, a nat~­
tipartidário, tentam ser relativamente claros quanto a suas políticas, já que reza mesma da sociedade coloca limites à racionalidade individual - net;n
agradam diretamente a apenas uma gama estreita de eleitores. todos os indivíduos podem atingir a pura racionalidade ao mesmo tempo.
Entretanto, esses últimos partidos são extremamente ambíguos quanto a Numa democracia, o poder político é teoricamente o mesmo para todos
que concessões é provável que façam se entrarem em coalizões com outros os homens; isto é, cada um tem supostamente a mesma oportunidade de atin-
partidos. Não desejam alienar os eleitores, reunidos em torno de sua própria gir suas metas que todos os outros. Portanto, a irracionalidade inevitável em
posição, admitindo que apoiarão algumas políticas de outras partes da escala, qua lquer sociedade - isto é, a incapacidade de atingir suas metas perfeitamen-
se eleitos. Portanto, cada partido enfatiza sua própria linha partidária e menos- te- é compartilhada por todos os homens: ninguém pode atingir todas as suas
preza as concessões.que tem que fazer a fim de entrar numa coalizão - que é metas. Em suma, todo cidadão de uma democracia é necessariamente um tanto
a única maneira possível de participar do governo. irracional no sentido purol2.
Desse modo, a clareza num nível de sistemas multipartidários é contra- Por essa razão, não deveríamos nos surpreender que haja uma tensão
balançada pela ambigüidade, em outro nível; ao passo que sistemas bipartidá- entre racionalidade individual e racionalidade partidári a. Cada partido tenta
rios são ambíguos do começo ao fim porque contêm apenas um nível. Em extrair um conjunto de metas sociais dos valores dos indivíduos na socieda-
ambos os casos, o próprio governo é formado no nível ambíguo. A real políti- de. Para qualque r indivíduo, as políticas do partido representam uma conci-
ca do governo também é formada ali, como salien tamos nas seções anteri.ores liação, já que o partido tem que ag radar muitos outros indivíduos além dele.
deste capítu lo. A ambigüidade é o meio de disfarçar esse fato. É um mecanismo de produ-
Essa conclusão levanta a questão de se, numa democracia, o comporta- ção de harmonia onde não existe realmente nenhuma. Todavia, essa harmonia
mento político racional é possível para os cidadãos individualmente. Paradoxal- deve ser produzida, ou a sociedade se dissolve em miríades de indivíduos em
mente, parece ser racional que os partidos estimulem a irracionaliclade nos elei- conflito aberto.
tores. Se os partidos são sempre deliberadamente ambíguos, como podem os Mas mesmo quando um conflito é velado, os homens não conseguem
cidadãos descobrir neles a confiabilidade que é necessária ao voto racional? atingir completa. racionalidade política. Elementos irracionais são inevitáveis
Essas questões são essencialmente uma reafirmação do problema central em qualquer sociedade, assim como os indivíduos têm metas diferentes. Como
da teoria política: como se podem desenvo lver metas sociais a partir de valo- as diferenças de metas são relacionadas ao conceito mesmo de individualida-
res individuais diferenciados~~'? Topamos aqui com o dilema do e pluribus de, cremos que a irracionalidade não pode jamais ser eliminada da sociedade.
unum, mencionado anteriormente. Ele realmente torna impossível a racionali- Contudo, os homens ainda podem agir racionalmente no sentido que estamos
dade na política? usando: podem atingir tantas de suas metas quanto ·possível, dada a natureza
Raciona lidade individual significa busca de nossas metas da maneira mais da sociedade.
eficiente. Mas os homens vivem em sociedade e num mundo de recursos escas-

12. Essa generalizaç~ o não va le para aque les cidadãos que não têm tendênci<J s egoístas e cuja estrutunulc
I I. Para uma discussão detalhada desse problema -cujos res,L~lfa.d~s mencionemos em outra pane deste metas casua\mentt; coincide exatamente com o conjunto de concessões a que chega a democracia.
estudo - ver Kenncth .f. Arrow, op. cif. Entretanto, supomos que muito poucos cidadãos entrem nessa categoria.

/811 IH/
. :~ . ;. ~

UMA TEORIA ECONOMICA DA DEMOCRACIA PROBLEMAS DE RACIONA LIDADE SOB GOVERNOS DE COAL!ZtfO

A relação que sua realização manterá com a pura racionalidade depende em algum momento imprevisível, ou decide que é mais fácil simplesmente
de quão diferentes sejam suas metas, para começar. Quanto maior o grau de votar em seu partido favorito. Desse modo, algun s eleitores podem ser levados,
consenso, mais fácil será para os indivíduos agirem racionalmente, e mais efi- pela dificuldade de selecionar racionalmente um governo, a tratar as eleições
ciente será essa ação. Portanto, a possibilidade de racionalidade depende da como expressões de preteréncia, o que é irraciona l em nosso modelo.
distribuição dos eleitores ao longo da escala política. Se é unimodal e tem uma Subjacente a essa tendência está a dificuldade de conseguir que uma
variação baixa, a racionalidade é fácil e efetiva. maioria de eleitores apóie um único conjunto de políticas governamentais.
Entretanto, se os eleitores são distribuídos de modo desigual ou se aglo- Para abarcar a diversidade de pontos de vista dessa maioria, o governo tem que
meram em polos opostos, o confl ito tende a predominar sobre a realização
cooperativa e a sociedade perde seu núcleo vital de harmonia. Nessa situação,
a democraci a não consegue produzir um governo eficiente, porque a premissa
r
I
adotar um conjunto não-integrado de políticas que cubram um leque amplo na
escala política.
Isso é verdade mesmo nos sistemas multipartidários, em que os partidos
de poder igual para todos leva ao cancelamento de políticas e não ao reforço ostensivamente diferenciam suas políticas de modo acentuado. Mas quando se
mútuo delas. Portanto, a racionalidade individual em política desmorona. Ela form am coalizões, os partidos dentro dela adotam o mesmo tipo difundido ,
não mais leva a reso luções satisfatórias do conflito social. não-integrado de programa que caracteriza cada partido num sistema biparti -
Evidentemente, a democracia pressupõe consenso sobre metas~ não perc dário. Desse modo, a distribuição de eleitores na escala e a necessidade do
feita concordância, mas algo muito distante de perfeita discordância. Se nós governo de conseguir a maioria determinam, em última instância, as política s
supusermos que existe consenso suficiente, então a ação racional política é governamentais.
possível para cidadãos individualmente. Nenhum jamais chegará à pura racio- Os partidos nas coalizões são pressionados por três forç as : (I) 0 desejo
nalidade, mas, agindo tão eficientemente quanto possível, cada um atingirá um de tornar suas po líticas semelhantes para facilitar ação eficiente, (2) 0 dese:jo
maior número de suas metas do que conseguirá de qualquer outra maneira. de tornar suas políticas dife rentes para aumentar o arco de eleitores que
apóiam a coalizão e (3) o desejo de cada um de ado tar uma ou outra das opções
ac ima a fim de aumentar seu peso na coalizão. Durante as eleições, todos os
V RESUMO partidos também tentam ser tão ambíguos quan to poss ível a respeito de como
farão concessões se entrarem em di ve rsas coalizões. fsso torna a racionalicla-
Em a lguns sistemas políticos, apenas raramente um único partido recebe _de individual difícil, mas se há consenso suficiente no eleitorado, a democra-
mais da metade dos votos dados. Portanto, coa lizões se formam para que o cia pode fun cionar eficientemente mesmo que a soc iedade nunca at inja a pura
governo possa ainda ser consenso dos governados, isto é, por consentimento racionalidade.
de uma maioria dos que votam. Para estudar esses sistemas, usamos um mode-
lo no qual os e leitores elegem uma legislatura por representação proporcional
e a legislatura então seleciona um governo por voto majoritário.
Nessas condições, o voto de cada eleitor não apóia as políticas de um
único particio. Em lugar disso, apóia a coalizão inteira a que o partido se junta.
Desse modo, o significado de um voto em qualquer partido depende das coa-
lizões em que é provável que ele entre, o que, por sua vez, depende de como
os eleitores votarão.
Conseqüentemente, cada eleitor pode tomar sua própria decisão de voto
somente depois de avaliar que decisões outros tomarão; surge então um pro-
blema de variação conjecturai para o qual não se encmitrou solução. No final
'· . ..•;
das contas, cada eleitor ou se abstém, ou votà' íi1terrompendo sua deliberação
f/{] 183
10

MAXIMIZAÇÃ O DE VOTO GOVERNAMENTAL


E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIVIDUAL

INTRODUÇÃO

Como o comportamento governamental segue uma regra diferente da que


regula as ações de firmas privadas ou de indivíduos , os métodos do governo de
alocar seus recursos não são os mesmos que aqueles empregados no setor pri-
vado. Todavia, a alocação . governamental tem um impacto enorme sobre o
setor privado- até mesmo sobre os métodos de alocação que os agentes priva-
dos utilizam.
Neste capítulo, mostramos como o uso que o governo faz do princípio de
maximização de voto afeta ( L) os processos de maximização de lucro e de
maximização de utilidade que a teoria econômica tradicional atribui a agentes
econômicos privados e (2) a probabilidade de que um economia perfe itamen-
te competitiva atinja uma posição de ótimo paretiano.

OBJETIVOS

Neste capítulo, tentamos provar as seguintes proposições:

1. Como há alguns bens coletivos e interdependências não relacionadas


com o mercado em todas as sociedades, mesmo uma economia perfeita-
1115
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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇ·40 DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIVIDUAL

mente competitiva não consegue atingir um ótimo paretiano sem ação dade, lucros, ou bem-estar, não pode mais ser considerada como um simples
governamental. total presente. Em lugar disso, é vista como um f1uxo de muitas rendas, cada
2. Embora um governo democrático realize ações que produzem compensa- uma associada a um período de tempo diferente, começando no presente e se
ções de utiliàaàe iumras, ele não possui taxas de desconto próprias porque estendendo para o tumro.
busca maximizar apenas votos presentes. Todas as rendas futuras são sujeitas a desconto quando comparadas às
3. Com freqüência, o governo evita deliberadamente levar a sociedade a um presentes, e' a taxa de desconto é composta à medida que o período de acúmu-
ótimo paretiano renunciando a ações que melhoram a situação de algumas lo da renda se distancia mais e mais do presente. Isso permite que compensa-
pessoas e não pioram a de ninguém. ções líquidas presentes e futuras sejam comparadas em unidades homogêneas.
4. As sociedades democráticas nunca atingem posições de ótimo paretiano, a O planejador racional aloca seus recursos atuais para aqueles usos cujas com-
menos que seja por acidente, mesmo que o setor privado encarne a compe- pensações líquidas tenham os valores presentes mais altos. Ao fazer isso, ele
tição perfeita. obtém a maior quantidade possível de unidades presentes de valor - quer
5. Muito poucos cidadãos, numa democracia, alcançam equilíbrio marginal sejam utilidade, lucros ou bem-estar. Portanto, esse é o melhor método de alo-
em suas negociações com o governo. car recursos para qualquer agência privada de planejamento.
6. Mesmo que um governo democrático fosse tecnicamente capaz de alocar Há três coisas em que se deve reparar especialmente no que diz res-
seus custos, de acordo com o princípio de utilidade, ele não o faria. peito a esse procedimento familiar de planejamento. Primeiro, ele exige
7. Os governos democráticos geralmente agem em favor de cidadãos de baixa informações extremamente precisas e detalhadas sobre custos e compensa-
renda e contra cidadãos de renda alta, a menos que essa tendência seja com- ções presentes e futuros para todos os usos relevantes de recursos. Em
pensada pelos efeitos políticos da incerteza. outras palavras, ele implica que a parte específica da economia envolvida
8. Quanto mais eficiente é uma democracia do ponto de vista econômico, é uma versão menor do mundo certo que discutimos anteriormente.
maior é o grau de intervenção governamental no mercado livre. Sempre que a incerteza está presente, o planejamento irá se aproximar ape-
nas grosseiramente do processo descrito, principalmente porque serão con-
siderados menos usos de recursos do que o grande número teoricamente
I. ALOCAÇÃO DE RECURSOS NUM MERCADO LIVRE possível.
Segundo, o agente de planejamento negocia em termos de alguma quan-
A. Planejamento no setor privado tidade homogênea, tais como utilidade, lucros ou bem-estar. Isso é mais uma
maneira de falar do que uma descrição do que realmente ocorre, mas é uma
Os alocadores· racionais de recursos no setor privado seguem a regra maneira necessária de falar. Qualquer ato possível é uma alternativa a todos os
geral de aplicar insumos às atividades com as maiores taxas marginais líquidas outros atos possíveis que façam uso dos mesmos recursos escassos que o pri-
de retorno, maximizando assim retornos líquidos totais. Embora essa regra meiro. Portanto, como todos os atos usam tempo, podem todos ser considera-
seja colocada em ação por firmas e consumidores individualmente, cada um dos como alternativas uns aos outros. Naturalmente, toda unidade de planeja-
considerando apenas uma gama estreita de usos possíveis de recursos, ela s~ mento deve escolher realizar alguns atos e rejeitar suas alternativas, já que pos-
torna verdade em relação ao mercado como um todo através da competição sui recursos limitados.
entre esses indivíduos. Para fazer essa escolha, deve de algum modo comparar alternativas. Essa
Entretanto, os retornos não são sempre imediatos, isto é, não ocorrem comparação pode ser estruturada logicamente como sendo a avaliação do custo
dentro do período presente de ação. Desse modo, deve-se resolver um proble- e do retorno de cada ação em termos de algum denominador comum. O agen-
ma de alocação entre investimentos com compensações presentes e com com- te de planejamento escolhe aquela combinação de ações que ( l) não excede os
pensações futuras, assim como um problema de alocação entre diferentes usos recursos à sua disposição e (2) resulta na maior renda líquida em unidades do
presentes. Isso significa que a quantidade a s~T hÍaximizada, quer sejam utilic denominador comum. Isso é planejamento racional, quer o planejador seja
1/!ó /li?
UMA TEORIA ECONOMICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇ{O DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MAIIGINAL INDIVIDUAL

uma dona de casa, um monge lutando pela vida espiritual, um governo, o u um pensar o reinvestimento a taxas de lucro atua is2 Essa reg ra estabelece a ta xa
empresário em busca de lucro. Desse modo, num mundo de recursos escassos, de desconto para qualquer agente dado de planejamento.
o planejamento racional subentende necessariamente o conceito de alguma A existência de uma taxa de desconto positiva significa qu e todo agente
unidade de medida homogênea. de planejamento na economia apresenta um viés a fav or da ação que compen-
Terceiro, o fato de que compensações futuras sejam descontadas no pla- se no curto prazo e contra a ação que. compense no longo prazo. Como aceita-
nejamento racio nal não explica o que faz com que a taxa de desconto seja o mos as causas da taxa de desconto como fatores reais, consideramos isso um
que é. Em nosso modelo, há três razões por que a renda futura é descontada, viés racional. Portanto, todos os políticos serão míopes em seu pla nejamento,
quando comparada com a renda presente: não importa quão inteligentes e desinteressados sejam, já que todo mundo ,é
míope em algum grau e seria considerado irraciona l se não o fos se.
I. O curso dos acontecimentos futuros é menos certo do que o dos aconteci- Todo agente de planejamento, no setor privado, usa uma taxa de des-
mentos presentes; portanto, deve-se acresce ntar uma margem de risco à conto apropriada a suas próprias circunstâ ncias e não há razão a priori para
renda futura J. que essas taxas sejam as mesmas. Assim, à primeira vista, parece qu e as
2. As pessoas preferem o gozo presente a perspectivas de gozo futuro; portan- taxas de lucro não serão igualadas de uma ponta a outra da economia. Em
to, devem ser induzidas a se abster do primeiro por meio de um bônus alguns setores da economia, parece, serão feito s investimentos que pagam
acrescentado ao último. 20% ao f ina l de dois anos e, em outros, serão rej eitados investime ntos que
3. Se a taxa de lucro atual é positiva, um reinvestimento contínuo de retor- pagam 40%.
nos presentes provocará uma formação de capital; portanto, um investi- Entretanto, um olhar mais detido revela que a mobilidade do capita l
i
mento presente, que compense apenas uma vez no futuro distante, deve i._-, tende a torna r ig uai s as taxas de lucro em toda parte, levando em conta peque-
i~

ser feito a uma taxa mais alta do que aqueles que compensam mais cedo.
1.,
i nas variações quanto ao risco. Por exemplo, se A possui uma oportunidade de
' investimento com um a compensação futura que ele desconta para abaixo da
Portanto, ele pode compensar pela formação de capital possível com essa
última. taxa de juro atua l, ele pode vendê-la para B, cujo desconto de risco é mais
baixo, e B a assumirá. Se B não tem fi.mdos, pode emprestar de C a taxas atuais
A última razão pode ser esclarecida através de um exemplo. Se a taxa de de juros, comprar a oportunidade de A e obter um retorno grande o suficiente
lucro presente é 10% ao ano, $100 podem se transformar em $121 ao f inal de para pagar a dívida a C e ainda ter lucro. Esses movimentos do capital conti-
dois anos. Conseqüentemente, um investimento que absorva $100 agora mas nuam até qu e a taxa de lucro marginal descontada subje tiva seja a mesma em
não traga compen~ações em dois anos deve pagar 21% para proporcionar um todas as marge ns, incluindo aquelas que envo lvem compensações futuras. A
retorno igual ao reinvestimento anual de lucros atuais. Desse modo, todo essa altura, nenhuma realocação de recursos ent re os usos presentes, ou desde
retorno que advenha daqui a dois anos deve ser descontado a ntes da compa- usos que compensem no presente até usos qu e compensem no futuro, pode
ração com retornos advindos em um ano, ou imediatamente. melhorar a situação de ninguém.
Esses três fatores causais constituem as bases das teorias de juro prefe- Desse modo, os fluxos de capital raci onalizam o mercado, no sentido de
rencial de liquidez, preferencial de tempo e de produtividade marginal, respec- que eles permitem que se faça qualquer investimento arr iscado se ele compen-
tivamente. Em nosso modelo, a taxa de desconto consiste da soma ( 1) do des- sar o suficiente a ponto de sobreviver à taxa de desconto de qualquer investi-
conto de risco, que é uma margem específica de risco de cada investimento dor, mesmo que aquele investidor não tenha nenhum interesse direto na ativi-
específico e (2) da taxa preferencial de tempo ou da taxa necessária para com-

2. Em equilíbrio competitivo. essa s duas ta xas alternativas são iguais entre si na margem; daí não preci ~

1. Esse é apenas um dos diversos modos possíveis de trataf·Q· rí'sco em planejamen to econômico. Nós o sarmos especificar qual das duas deveria se r usada ao com putar a tlx a de desconto. Dever-se-ia tal11 -
usamos aq ui porque ele se encai xa em nosso modelo mais f1C:i l n~ente do qL:c suas alternati vas. bém obse rva r que os investime ntos com re10 rnos imed iatos são descamados apenas qua nto ao ri sco.

IX/i 1/iY
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UMA TEOR IA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇ.,IO DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIVIDUAL

dade específica que finan cia; por exemplo, mesmo que a poupança de um B. Obstáculos à consecução de um ótimo paretiano
açougueiro fi nancie um posto de gasolina distante. Esse processo é extrema- por parte de um mercado livre
mente importante porque garante que sejam fe itos todos os investi mentos mais
compensadores e não sejam fe itos os que trazem baixa compensação - isto <i:, O objetivo da a nálise precedenre é mostrar como uma economia per-
to rna a alocação de recursos racionaP . feitamente competitiva se movimenta automaticamente em direção a um
O mecanismo que produz essa racionalidade é um mercado no qua l cada ótimo paretiano. Entretanto, ignoramos dois obstáculos impo rtantes à con-
indivíduo pode comprar ou vender prerrogativas pessoais. Por exemplo, um secução desse óti mo: bens coletivos e interdependênc ias não relacionadas
homem que possua um terreno numa esqui na estratégica pode construi r nele com o mercado5.
pessoalmente, vendê-lo, ou alugá-lo a alguém que pode lucrar mais com o ter- Um bem co letivo é aquele que proporciona benefícios indivisíveis ; isto
rel\O do que ele. Os trabalhadores podem vender seu tempo pessoa l e força de é, ass im que passa a ex istir, todos são capazes de tirar proveito dele ind epen-
traba'lho, e os consumidores podem vender o uso de suas poupanças para os dentemente de se a própria pessoa pagou por ele e independenteme nte de
ba ncos. Na realidade, qualquer um pode vender qualquer coisa que tenha, com quantos outros também estão tirando proveito dele6. Po r exemplo, o supri-
exceção dele próprio como pessoa. mento de defesa nacional é um benefi cio para todos os cidadãos; mes mo que
Essas vendas continuam até que nenhuma ven da possa melhorar a situa- um cidadão pagasse por ele unicamente de seu próprio bolso, todos os
ção do comprador e do vendedor. Nesse mome nto, se presumirmos as condi- outros ganhariam com isso. Onde os cidadãos são nume rosos, cada home m
ções competitivas habituais, o mercado atingiu um ótimo paretiano; isto é, acha vantajoso se recusar a pagar por esses beneficios indivisíveis. Em vez
nenhuma transação entre partes privadas pode melhorar a situação de alguém disso, ele supõe que outros homens arcarão com os custos e ·que ele ainda
sem prejudicar outrem. É poss ível chegar a essa posição apenas porque todos vai se beneficiar. Mas, num mercado livre, todos fazem a mesma suposição ,
os agentes econômicos são livres para vender suas prerrogativas se quiserem então ninguém arca co m ne nhum dos custos e nenhum dos beneficios f ica
e, inversamente, compra r a de outros se assim o desejarem e tivere m recursos disponí vel.
para ta nto. Essa si tuação s ignifica que a ação voluntá ria não consegue produzir um
Nossa ênfase nessa permutabilidade nasce do fato de que, em po lítica, ótimo paretiano numa sociedade grande onde ex istem bens co letivos.
um homem não pode vender seu voto ou comprar o vo to de outros. Essa pro i-
bição diferencia o planej amento governamental do planejamento privado de De acordo com a teoria tradicional de equilíbrio geral, cada indivíduo
um modo significantivo, como veremos 4 transfere seus recursos de uma margem a outra até que as taxas de retorno em
todas as margens sejam idên ticas. Isso maximiza sua uti lidade total.

3. Natura lme nte, essa racionalida de é garant ida somente se o cap ital fo r perfei ta mente móvel, o qLH; nunca
rea lmente ocorre. Entretanto, não discutiremos eSSél qualificação em deta lhe porque não desejamos 5. Estamos igno rando muitos outros desses obstácu los além dos dois menci onados, mas só esses do is são
ficar emaranhados na teoria do capital ou do monopólio aq ui . Nosso único propósito é estabe lecer que, diretamente re levantes pnra a a11álise neste capí tulo.
/
pe lo menos em teoria, uma mobil idade rdati va de recursos baseada na negocia bil idade de pre rroga ti - 6. Nem todos os · ben.s cole ti vos pode m beneficiar todos os me mbros da sociedade;: poden1 ser capazes de
vas pode levar .a alocação efi ciente. beneficiar apení:IS um certo subconju nto de mem bros que têm acesso a elas. Por exempl o. o Cen tra l Park
4. Em nossa d iscussão do setor privado, ra lamos de «atividc1de econômica" num sent ido gera l q ue se refe- na c idade de New York não proporc iona qua lquer benefício a um morador de Dakota do Sul que nun cn sal
re tan to l1produ ç.c1o quanto ao consumo,jã que t r~n to os produtores quanto os consum idores {teoricamen - de casé:l. Portanto, qua ndo nos retCrimos a "todos" no argumento subseqüente, queremos dizer todos os
te) fazem planos raciona is da maneira descri la . O governo também desempenha esses dois papC.is 0, em que têm acesso ao bem coletivo e m questão. Além disso, pode haver algum limite para o número decida-
cada um, produz ut ilidade porque suas ações se somam ~s re ndas de uti lidade dos cidadfjos. Ao analisar dãos qu e podem de,sfi·utnr de um bem coletivo ao mes mo tempo; por exemplo, quanto mais pessoas ocu-
o setor privado, os economistas gera lmente supõem que é provável que firmas com fins lucrntivos empe- parem o Centra l Park ao mesmo tempo, menos cada um desfruta dele - pelo menos depo is de algum ponto
nhadas na produção planejem suas ati vidades de modo ma is exato que 'os consumido res. EntretRn to, em finito. Onde existe esse limite, o bem não é perfeitamente coleti vo; também co ntém alguns elementos de
nosso mu ndo-modelo, não precisamos fazer essa distinçãó'\ t~ m?ém não no caso dos governos, que tra ~ bem privado. Para uma d iscussão desse ponto, ver Paul A. Sa muelson, "Diagrammatic Exposition o f a
tamos como sendo plenamente Tacionais em todo s os seus papéis\cco nôm icos (e outros). Theory o f Public Expcnditure", Revic.~'' o/Economics and Statistics, XXXV II, nov., 1955, p. 356.

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MAXIMIZAÇlO DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUIL ÍBRIO MARGINAL INDIVIDUAL
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA

geral, que freqüentemente considera apenas as taxas de 2 a 6. As implicações


No diagrama, todas as margens de atividade são classificadas nos grupos
de sua inclusão são discutidas no texto.
que dão origem a taxas de retorno comumente utilizadas em análise econômi-
ca. Cada flecha representa uma direção na qual os recursos podem ser aloca-
Todosestariam em melhor situação se aigum insrrumemo cemral coagis-
dos e tem uma taxa marginal de retorno que lhe corresponde.
se cada indivíduo a arcar com sua parcela do custo desses bens, já que sua par-
cela dos beneficios (supomos no momento) é maior do que o custo que ele
pagaria. Se não existe esse instrumento, então a sociedade chega a uma posi-
Bens Colei ivos ção em que as transações entre as partes privadas fariam com que pelo menos
a situação de algumas pessoas melhorasse e a de ninguém piorasse, mas essas
transações não ocorrem. Evidentemente, trata-se de uma posição subótima.
Empréstimos a Outros \Z
N Recursos Alocáve is
Q Bens Privados de Consu mo Como salientamos no Capítulo 1, esse estado de coisas levou Paul Samuelson
a concluir que um dos papéis apropriados do governo na economia é fornecer bens
coletivos e pagar por eles coagindo seus cidadãos a renunciar a recursos7. Como
Capacidade I na ta
de Obt enção de Renda essa coerção faz com que a situação de cada cidadão fique melhor .do que ocorre-
mais ria num mercado livre, e como cada cidadão é racional, todos concordarão em ser
. !:) Estoque de Reiv indicações
de Propriedade
z;j coagidos. Desse modo, a ação governamental encarna a coerção vo lunt~ria que per-
Lazer
Ben s ele Investi mento mite à sociedade alcançar um ótimo paretiano mesmo que existam bens coletivos.
Entretanto, como veremos mais tarde, às vezes é irracional que o governo
leve a economia em direção a uma posição de ótimo paretiano. Ao analisar estes
Moeda Sonante casos, é importante não responsabilizar unicamente o governo pelo fracasso de
alcançar um ótimo paretiano. É verdade que a natureza do governo o impede de
Figura li
Representação diagramática de equilíbrio marginal individual
levar a sociedade a uma posição de ótimo, mas a natureza dos bens coletivos
envolvidos impede que o mercado livre se saia melhor. A responsabilidade de
garantir uma posição de subótimo é, portanto, partilhada por ambos os fatores .
Os mercados e as taxas de retorno relevantes são os seguintes: O segundo obstáculo à consecução de um ótimo paretiano, num merca-
do perfeitamente competitivo, foi assim descrito por Tibor Scitovsky:
1. Ação governamental em qualquer um ou em todos os mercados - retorno
O equilíbrio, numa economi a perfeitamente com petitiva, é um a situação de ótim o
marginal proveniente de ação governamental.
paretiano, exceto quando há uma interdependência entre os membros da economi a que seja
2. Mercado de produtos de consumo - retorno marginal proveniente de con- direta, no sentido de que ela não opera por meio do mecanismo de mercado. Na teoria do
sumo. equilíbrio geral, portanto, a inte rdependência direta é a vilã do caso e a causa de conflito
3. Mercado de trabalho - desvantagem marginal do. trabalho. entre lucro pri vado e benefício sociais.
4. Reservas - preferência de liquidez marginal.
5. Mercado de bens de capital- eficiência marginal do capita l.
6. Mercado financeiro- taxa de juros. 7. Paul A. Samuelson, "The Pure Theory o f Pub!ic Expendítu res", RevieH 1 of Economics and Statistics,
XXX VI. nov., 1954, pp . 387 -389 .
8. Tibor Scitovs ky, "Two Co ncepts o f Externai Economies", ./ournal of" Polilica/ Economy, LXII, a br.,
O diagrama mostra o papel indispensável que o governo desempenha em 1954, pp. 143·151. O protcssor Scítovsky não desconhece o impacto de bens coletivos num ótimo pare -
auxiliar os indivíduos a atingirem equilíbrio marginal e, portanto, a maximiza- tiano, mas ·pressupõe cornpleta divi sibilidade em sua disc ussão, eliminando assim todos os efeitos de
rem a utilidade total. Esse papel é geralmente lgrÍ:m,ado na teoria de equi líbrio beneticios indiv isíveis.
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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇÀO DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIVIDUAL

Como salientaram o professor Scitovsky e outros teóricos, a interdepen- ele pagar a sua, mas ninguém pagará se ele não pagar. A coerção governamen-
dência não relacionada com o mercado constrói f1uxos de utilidade que não tal fornece aquela garantia.
afetam os preços de mercado. Quando existem esses f1uxos, o mercado livre- Quando o governo consegue executar atos inequivocamente bons que um
que aloca recursos estritamente segundo os sinais dados pelos preços - pode mercado livre dáx:aria sem fazer, os beneficios sociais pro\·enientes da ação
deixar de realizar certos rearranjos de recursos que melhorariam a sorte de governamental são óbvios. Na realidade, sempre que existem bens coletivos e
alguns cidadãos, mas não à custa de outros. Desse modo, o mercado deixa de certas interdependências não relacionadas com o mercado, pode-se chegar a
atingir um ótimo paretiano9. um ótimo paretiano apenas se o governo intervier no mercado livre.
Em alguns casos, a ação governamental pode neutralizar os efeitos da Entretanto, uma intervenção governamental nessas condições nem sempre pro 1
interdependência não relacionada com o mercado e produzir certas realoca- duz um ótimo paretiano. Além disso, a intervenção governamental no nosso
ções inequivocamente boas que um mercado livre não produziria 10 • Por exem- modelo não se limita a casos em que ele realiza ações inequivocamente boas
plo, se A possuir uma fábrica de cola localizada num bairro residencial, o que o mercado livre não realizaria. O governo também pode intervir de manei-
governo pode cobrar impostos dos moradores na vizinhança e usar os fundos ras que não são inequivocamente boas - na realidade, seus atos podem conce-
resultantes para subornar A para que ele se mude para uma área industrial. Se bivelmente impedir a consecução de um ótimo paretiano que o mercado livre
o valor de cada propriedade no bairro residencial conseqüentemente subir, (com alguma ajuda governamental) poderia alcançar de outro modo.
então todos estarão em melhor situação, mesmo que a coerção tenha sido Encontraremos todos esses tipos de ação governamental à medida que nossa
necessária para produzir a mudança. análise prossegue.
Essa mudança não ocorreria num mercado livre por duas razões.
Primeiro, nenhum vizinho teria recursos para subornar A individualmente, já
que seu próprio ganho com a partida de A seria menor do que o suborno li. PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MARGINAL
necessário. Segundo, supondo que o bairro seja grande, nenhuma associação INDIVIDUAL
voluntária de vizinhos poderia ser formada para subornar A porque seus
membros não poderiam obrigar uns aos outros a pagar. Como homem racio- A. A relação entre governo e desconto
nal, cada um é motivado a deixar os outros arcarem com o custo do suborno
enquanto ele compartilha dos beneficios; portanto, ninguém arca com os cus- Diferentemente de agentes privados de planejamento, os partidos gover-
tos e não advêm beneficios. Dito de outro modo, o desejo de cada indivíduo nantes nunca cstiio interessados per se em retornos futuros advindos de ação;
de conseguir um benefício líquido grande em vez de um benefício pequeno estão sempre preocupados somente com a próxima eleição e os votos que rece-
impede que quaisquer indivíduos obtenham qualquer benefício. O que cada bem nela. Desse modo, nenhum governo visa à maximização de uma torrente
um necessita é de uma garantia de que todos os outros pagarão sua parte se de rendas composta de rendas separadas para cada um de muitos períodos. Ao
contrário, sempre organiza suas ações de modo a se concentrar numa quanti-
dade única: sua margem de voto sobre a oposição no teste ao final do período
eleitoral presente 11_
9. Esse problema é discutido longamente em William J. Baumol, We[jGre Economics and lhe Themy o( lhe
Stare, London, Longrnans, Green and Co., 1952. Baumol também analisa a relação de beneficios indi-
visíveis ~ atividade governamental e chega à mesma conclusão a respeito de coerção voluntária que
mencionanms <lnteriormente. Ver especificamente pp. 90-94 e 140-142. 11. Alguns partidos políticos (especialmente os recém-fundados) estão mais interessados nas eleições futu-
J O. Um ato inequivocamente bom é aquele que faz com que a situação de pelo menos uma pessoa melho- ras do que nas presentes porque suas chances de chegar ao poder são maiores no futuro. Entretanto, um
re sem piorar a de ninguém. Esses atos não são os únicos que a sociedade pode julgar como bons. Na partido governante já chegou ao poder; portanto, sua preocupação fi.mdamcntal é conservar sua posi-
realidade, algumas ações que não são inequivocamente boas podem ser consideradas como superiores ção, isto é, ganhar a próxima eleição. Essa conclusão também se aplica a partidos em sistemas gover-
àquelas que o são. Entretanto, apenas os atos inequivocaD_le!lte bons podem ser considerados bons em nados por coalizão. A única exceção ocorre quando o governo sente que a derrota nas próximas elei-
termos econômicos somente; todas as outras ações boas e~i-gení")ustificação ética. ções é preteríve! ao abandono de algum princípio. Nesta nossa hipótese. os partidos governantes consi-
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UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA
MAXIMIZAÇiO DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIVIDUAL

Essa preocupação com o presente não significa que o governo ignora te numa moeda que não é o dólar mas sim os votos, que é distribuída de modo
todas as atividades que venham a ser realizadas depois da próxima eleição. muito diferente da maneira como são distribuídas as rendas em dinheiro.
Pelo contrário. os governos estão vitalmente preocupados com os efeitos que Como Yimos no CapÍtúiO -+, o goYemo procura equiparar compensações
suas ações têm sob;e as rendas de utilidade futuras dos eleitores, já que os elei- em votos em todas as margens de comportamento, e não compensações em
tores freqüentemente decidem como votar com base nas perspectivas dessa dólar ou utilidade. Por meio de ações econômicas e de outros tipos, tenta
renda futura. Portanto, o governo não possui taxa de desconto própria para manipular as compensações de utilidade tanto presentes como futuras aos
aplicar à sua própria renda- uma renda medida em votos. O desconto entra no eleitores de uma maneira que conquistará seus votos. Além disso, ao perse-
planejamento governamental apenas indiretamente porque o governo, a fim de guir esse caminho de busca de votos, desfruta de uma assimetria de poder en'l
descobrir como agradar seus adeptos, deve calcular a que taxas eles descontam suas relações com os que buscam dinheiro e com os que buscam utilidade. O
suas rendas de utilidade futuras. governo pode impor pela força suas decisões sobre manipulação de dinheiro
Como já mencionamos, num equilíbrio competitivo, todo eleitor descon- e utilidade sobre esses agentes; ao passo que esses não podem fazer o contrá-
ta sua renda futura às mesmas taxas que todos os outros eleitores porque o rio. Portanto, se surgem conflitos entre a busca do governo por equilíbrio mar-
mercado tende a igualar taxas marginais de retorno tanto interespacial quanto ginal de compensação de voto e a busca dos agentes privados por equilíbrio
intertemporalmente. Em conseqüência, um dólar investido em qualquer lugar de compensação de utilidade marginal, o primeiro sempre tem precedência
ou com uma compensação advinda a qualquer momento traz precisamente o sobre o segundo.
mesmo retorno efetivo líquido que um dólar investido em qualquer outra mar- Além disso, essa assimetria de poder não pode ser diretamente contra-
trem. Nessa situação de equilíbrio marginal, nenhum indivíduo consegue obter balançada por pressão econômica por parte dos donos do dinheiro. O gover-
~anhos realocando seus próprios recursos e nenhum par de indivíduos conse- no pode operar livremente na moeda que interessa aos que buscam dinheiro,
gue obter ganhos negociando entre si. Um ótimo paretiano é alcançado, como mas os que buscam dinheiro não podem operar livremente na moeda que inte-
foi mencionado anteriormente. ressa ao governolz. Isso é o resultado de uma proibição legal contra qualquer
Nesse equilíbrio, os retornos marginais que são igualados são retornos intercâmbio de direitos de propriedade entre detentores privados das duas
em dinheiro, ou retornos de utilidade associados com a alocação de dinheiro. moedas. Não se permite a nenhum cidadão que comercie seus privilégios polí-
Assim, a estrutura subjacente ao equilíbrio é a distribuição de renda em dinhei- ticos por maiores direitos econômicos, ou vice-versa; isto é, ninguém pode
ro. Uma vez que isso é dado, o mercado permite que cada indivíduo aloque sua legalmente comprar ou vender votos por dinheiro. Essa proibição vale não
renda, de modo que seu gasto em dólar produza retornos de utilidade iguais em importa quão indiferente se sinta, em relação às políticas partidárias, um cida-
todas as margens. dão que necessite urgentemente de dinheiro, ou, inversamente, quão indife-
Como as ações do governo geralmente envolvem a arrecadação e aloca-
ção de grandes quantidades de dinheiro, essas ações são evidentemente. de
grande importância na obtenção de qualquer equilíbrio tal como o descnto.
12. Por aqueles que- bl!scam dinheiro nos referimos tanto aos que estão atrás de dinheiro (firmas) quanto
Mas 0 tratamento que o governo dá ao dinheiro se baseia em sinais que ele aos que estão atrás de utilidade (indivíduos). Em última instância, todos os homens buscam utilidade
recebe dos cidadãos como donos de votos, não como beneficiários de rendas em vez de dinheiro ou votos, mas isso é uma mera tautologia, já que definimos utilidade como o deno-
em dinheiro. Isso é verdade porque o governo está interessado primordialmen- minador comum do que os homens buscam. A relação básica no mercado privado é que os home1~s usam
dinheiro para adquirir bens que lhes d~o rendas de utilidade. Portanto, a distribuição de renda em
dinheiro determina o poder re!Jtivo de comando sobre aqueles recursos que produzem renda de utili-
dade. Não determina a distribuição -de renda de utilidade; supor isso seria fazer compar8ções interpes-
deram os princípios puramente como expedientes; portanto, essa situação pode surgir a~enas se o par-
soais de utilidade c8rdinal, equiparando unidades de dinheiro a unidades de utilidade. Não obstante,
tido 110 poder sentir que algum princípio será muito valioso para ganhar eleições subseqüentes à elei"-
levando em conta os propósitos de nossa discussão aqui, vamos supor que a distribuição de renda em
ção iminente, embora provoque a derrota nessa última. Acreditamos que . essa situação é rara na políti-
dinheiro seja o fator-chave na configuração das ações dos homens em sua busca de renda de utilidade.
ca; portanto, mantemos o ponto de vista de que apenas a.~r&,<.i~~~a eleiçáo interessa aos detentores do
Esse tàto mais a necessidade de simplicidade verbal justificam, pensamos, nosso tratamento tanto da
cargo. Somos gratos ao professor Kenneth Arrow por apontàr ~ss'a possibilidade. ·
utilidade quanto do dinheiro sob a rubrica dinheiro.
!Yii
197
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇÃO DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIVIDUAL

rente se sinta, em relação a dinheiro, um cidadão que precisa desesperada- É verdade que nossa análise posterior mostra que o governo poderia levar
mente de influência política. a sociedade a um ótimo paretiano se pudesse julgar infalivelmente o potencial
de obtenção de renda de todos os indivíduos, medir seus beneficios e custos
sem esforço, diretamente e sem erro, e aprovar leis individualmente discrimi-
B. Como atos governamentais podem impedir um ótimo paretiano num natórias. Nessas condições, poderia cobrir seus custos fazendo com cada pes-
mundo certo soa uma barganha individual que a deixasse em equilíbrio marginal em suas
transações com o governo. Mas podemos considerar esse resultado como uma
A partir da análise precedente, fica claro que a sociedade atingir ou não
um ótimo paretiano depende inteiramente da ação governamental. Em pri-
meiro lugar, mesmo um mercado perfeitamente competitivo não consegue
atingir uma posição ótima sem intervenção governamental se existem bens
I impossibilidade prática por duas razões: ( l) as condições que pressupõe vãb
além até mesmo da suposição de conhecimento perfeito na teoria tradicional,
já que o governo deve ser capaz de ler as mentes infalivelmente e (2) embora
essas condições sejam necessárias para a consecução de uma posição ótima
coletivos ou certas interdependências não relacionadas com o mercado. quando existem bens coletivos, elas não são suficientes, já que o governo
Como ambos existem em qualquer sociedade organizada, o governo pode
sempre impedir um ótimo paretiano deixando de.tomar as medidas necessá-
I poderia se envolver em bloqueio negativo mesmo que elas existam.
Portanto, a existência de bens coletivos ou interdependências não relacio-
rias para promover um ótimo (isto é, os atos inequivocamente bons que um nadas com o mercado excluem a consecução de um ótimo paretiano, mesmo
i
mercado livre não executaria por si mesmo). Podemos chamar essa deficiên- no mundo certo da teoria econômica tradicional. Entretanto, a fim de demons-
cia de bloqueio negativo. trar os outros fatores que poderiam impedir a sociedade de chegar a esse
Segundo, mesmo se o governo executar as ações necessárias à promoção ótimo, vamos momentaneamente supor que todos os obstáculos técnicos a ele
de um ótimo ligadas a bens coletivos e a interpendências não relacionadas com podem ser superados. Isso torna a consecução de um ótimo um problema estri-
o mercado, ainda pode bloquear a consecução de uma posição ótima ao execu" tamente político.
tar alguma outra ação que distorça o ótimo. Sua capacidade de fazê-lo ~- ine- Os partidos políticos em nosso modelo não estão interessados per se em
rente aos poderes do governo descritos acima. Chamamos esse impediinento tornar eficiente a alocação de recursos da sociedade; cada um procura apenas
de bloqueio positivo. Ele consiste principalmente de redistribuições delibera- se eleger maximizando o número de votos que recebe. Portanto, mesmo se o
das de renda, que discutiremos posteriormente neste capítulo. No momento, governo tiver a capacidade de levar a sociedade a um ótimo paretiano, ele o
vamos concentrar nossa atenção na probabilidade ou não de o governo fazer fará apenas se forçado pela competição dos outros partidos. Do contrário, ele
qualquer bloqueio ne~ativo. é indiferente quanto a se a sociedade está ou não numa posição ótima; assim,
À primeira vista, esperaríamos que um governo racional nunca fosse essas posições serão atingidas apenas por acaso - uma ocorrência altamente
dado a bloqueios negativos. Como quaisquer atos que promovam o ótimo rea- improvável.
lizados pelo governo melhoram a situação de todos (ou melhoram a situação Desse modo, a questão crucial é se a competição interpartidária sempre
de alguns mas não pioram a de ninguém), parece poucoprovável que o gover- força o governo a levar a sociedade a um ótimo paretiano. Se as preferências
no possa conquistar votos deixando de executar esses atos. dos cidadãos individualmente são suficientemente diversificadas, a resposta é
Porém, essa conclusão é falsa. Há, na realidade, diversas razões para que não. Para provar essa asserção, construímos um exemplo baseado nas seguin-
um governo democrático se envolva com bloqueio negativo. A primeira é a tes suposições:
impossibilidade técnica de lidar com bens indivisíveis de modo a alcançar uma
posição ótima. Como veremos posteriormente neste capítulo, a natureza l. Uma dada sociedade está na posição X no período TI.
mesma dos bens coletivos impede o governo de alocar seus custos e benefí- 2. A posição X é uma posição subótima, porque algumas pessoas ganhariam
cios, de modo que nenhuma reordenação ·poderia mêlhorar a situação de e ninguém perderia devido a um movimento perfeitamente exeqüível para
alguém sem prejudicar outra pessoa. , a posição X', que é um ótimo.
19fl 199
MAXIMIZAÇ ,fO DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIVIDUAL
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA

Mas esses ótimos não-domin ados nem sempre existem. É verdade que
3. Como o movimento de X a X' envolve bens coletivos, apenas o governo
toda posição subótima é dominada por alguma posição ótima que pode ser
pode realizá-lo.
alcançada, a partir da primeira, por um movimento inequivoc amente bom,
4. Há dois panidos nessa sociedade: o panido A está agora no poder e o par-
supondo que todos esses movimentos sejam exeqüíveis. Mas é possível que
tido B é a oposição.
todo ótimo seja, ele mesmo, dominado por alguma outra posição, que pode ou
4. O partido A tem sempre que se comprome ter com qualquer questão àntes
não ser urn ótimo. Esse é resultado de preferências extremam ente díspares
do partido B.
entre os eleitores; é uma forma de problema de Arrow.
5. Na eleição, ao final de Tl, exige-se que ambos os partidos revelem suas
Na realidade, como nosso exemplo descreve o que é essencialm ente unia
propostas para a posição da sociedade em T2 e eles são julgados pelos elei-
eleição centrada em torno de uma questão, podemos ilustrá-lo empregando o
tores unicament e com base nessas propostas (isto é, não com base em seus
mesmo esquema de rankings de preferência que usamos no Capítulo 4. Vamos
antecedentes, como descrito no Capítulo 3).
supor que há três cidadãos na sociedade - P, Q e R- e três posições subótimas
- S, Y e Z - , cada uma das quais sendo dominada por um ótimo correspon den-
· Nessas condições, fica claro que o partido A não consegue sustentar a
te - X', Y' e Z'. Todos os cidadãos preferem cada ótimo à posição subótima
posição X se desejar ser reeleito. Se o fizer, o partido B sustentará a posição
correspon dente, mas não classificam os ótimos da mesma maneira. Suas pre-
X' e todos os eleitores ou se absterão porque são indiferente s entre X e X' ou
ferênci as são as seguintes:
votarão em B porque estão em melhor situação em X'. Como ninguém prefe-
re X a X', o partido A não conseguirá votos. Vamos supor que o partido A sus·
tente X' a fim de impedir essa catástrofe. O que fará o partido B? Cidadãos
Sua estratégia depende do grau de consenso entre os cidadãos. Por exem-
plo, suponhamos que uma maioria de cidadãos prefira a posição Z a X ou X', p R
embora um movimento de X a Z seja prejudicia l a uma minoria. Se o partido
B apoiar Z, então consegue derrotar o partido A, mesmo que o próprio z seja
Ranking:
Primeiro
Segundo
X'
X
º
Y'
y
Z'
z
uma posição subótima. Nesse caso, a competiçã o pelos votos não leva a socie- Y' Z' X'
Terceiro
dade a uma posição ótima. y z X
Quarto
Porém, esse argumento implica que o partido B tem mais informaçã o do X' Y'
z Quinto Z'
que o partido A. Se o partido A também souber que uma maioria prefere a y
Sexto z X
X', certament e não apoiará X'. Além disso, se Z for uma posição subótima, o
partido A também não apoiará Z, já que nesse caso o partido B poderia apoiar
a posição ótima que domina Z e vencer a eleiçãou Para impedir esse resulta-
Nesse caso, cada ótimo é dominado por uma pos ição subótima: X' por Z,
do, o partido A apóia aquela posição dominante, que chamamos deZ'. Desse
Z' por Y, e Y' por X. Portanto, mesmo num mundo de certeza perfeita, sem obs-
modo, parece que a competição força o partido que se comprome te primeiro a
táculos técnicos à consecução de um ótimo paretiano, uma democraci a bipar-
apoiar uma posição que é tanto ótima quanto não dominada por quaisquer
tidária não chegaria necessariamente a um. Não importa qu e posição os deten-
outras posições- uma posição que a oposição obviamente não pode melhorar.
tores do poder assumam, a oposição poderia derrotá-los assumindo uma posi-
ção subótima, porque uma maioria preferiria a última à primeira.
Além disso, é provável que existam estruturas semelhantes de preferência
! 3. Uma posição domina outra se (I) uma maioria de cidadãos esti ver num~ situação
melhor na primeira e em qualquer sociedade que tenha uma renda per capita acima do nível de sub-
perceber isso, (2} aquela maioria ti ver o poder de levar a .~o~ i~dad e da pdmeira
para a segunda e ( 3 ) 0
sistência, isto é, na qual quase todos produzem mais do que é necessário para
processo de mudança for tecnicamente possível e não u1~l~ çalísa de desvant agem suficiente, para a. mantê-los vivos. Nessas sociedades, há sempre alguma redistribuição de renda
-
maioria que o apói'a, para contraba lançar seus beneficios.
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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇiO DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIV!DUAL

que beneficiaria uma maioria à custa de uma minoria. Naturalmente, nem todas b. Ela o fará sistematicamente num sistema multipartidário ou num siste-
essas redistribuições são aceitáveis, mesmo para uma maioria que se beneficie ma bipartidário se todos os partidos tiverem que revelar suas propostas
com elas, porque elas podem ter repercussões de longo alcance ou não relacio- simultaneamente e o vencedor sempre executar suas propostas quando
nadas com o mercado que contrabalançam seus ganhos. Não obstante, ainda no poder.
parece provável que alguma realocação aceitável de impostos e beneficios gover-
namentais melhoraria a situação de uma maioria à custa de uma minoria, não
importa que estrutura de beneficios provenientes de imposto exista. C. Efeitos da incerteza sobre a consecução de uma posição ótima
Que conclusão podemos tirar desse raciocínio sobre se a sociedade sem-
pre irá alcançar um ótimo paretiano? A resposta depende da validade de nosso Fica claro, a partir da análise precedente, que, quando existem bens cole-
pressuposto de que os detentores do poder devem assumir uma posição antes tivos, a sociedade atinge um ótimo paretiano somente em condições muito
que a oposição o faça. Se isso for verdade, a oposição pode derrotar os deten- especiais. Uma dessas condições é a prevalência da certeza perfeita. Aceitamos
tores do poder ou com uma posição ótima ou com uma posição subótima; essa condição em parte porque ela é uma pedra angular da análise tradicional
assim, se a sociedade chega ou não a um ótimo paretiano é fundamentalmen- de equilíbrio geral e, em parte, para ilustrar certas forças que estariam em fun-
te uma questão de acaso. E como a gama total de estados sociais possíveis cionamento, mesmo num mundo certo. Agora, vamos introduzir a incerteza e
inclui muito mais posições subótimas do que posições ótimas, as chances são ver o que acontece com nossas çonclusões.
que a sociedade não atingirá um ótimo paretiano num sistema bipartidário. Em primeiro lugar, quando existe a incerteza, é improvável que o setor
Mas, se todos os partidos num sistema político revelarem seus conjuntos privado atinja um ótimo paretiano, mesmo que não haja bens coletivos ou
de políticas (cada um dos quais equivalente a uma posição social) simultanea- interdependências não relacionadas com o mercado. A maior parte da argu-
mente, então cada partido sempre escolherá um ótimo para patrocinar. Fazen- mentação da teoria de equilíbrio geral quanto à eficiência da competição per-
do isso, minimiza o número de outras posições que possam dominar sua esco- feita se baseia no pressuposto de certeza. Quando ele é abandonado, o mesmo
lha; portanto, aumenta suas chances de vitória. Como ilustração, no exemplo ocorre com a conclusão de que uma economia perfeitamente competitiva atin-
que demos, se o partido A escolher a posição subótima X, pode ser derrotado ge automaticamente um ótimo paretiano.
por X', Z e Z'. Se escolher a posição ótima X', também pode perder para Z e Segundo, a incerteza é o principal obstáculo técnico que impede o gover-
Z'. Desse modo, todo partido seleciona um ótimo paretiano para adotar e a no de tratar os bens coletivos de modo a atingir um ótimo paretiano, supondo
sociedade chega a esse ótimo não importa que partido vença a eleição, contan- que o setor privado tenha de algum modo feito o mesmo em relação aos bens
to que o vencedor cumpra suas promessas. privados. Como veremos posteriormente, se o partido governante conhecesse
Podemos resumir o que dissemos nesta seção da seguinte maneira: as habilidades inatas e as flmções de benefícios de todos os cidadãos e pudes-
se fazer cálculos instantâneos e sem custo quanto a eles, ele poderia criar um
1. A menos que façamos suposições muito irrealistas sobre o conhecimento sistema de imposto-benefício que não deixaria nenhum de seus cidadãos em
que o governo tem dos homens e eventos, dificuldades técnicas quase sem- desequilíbrio marginaL Dito de outro modo, poderia eliminar o bloqueio nega-
pre impedem que a sociedade atinja um ótimo paretiano, sempre que exis- tivo se quisesse fazer isso. Mas quando o conhecimento perfeito está ausente
tem bens coletivos, ao forçar o governo a se envolver em bloqueio negativo. - como na realidade sempre está - o governo não pode deixar de bloquear
2. Mesmo que façamos a suposição de certeza superperfeita necessária para negativamente a consecução de uma posição ótima.
superar essas dificuldades técnicas, a sociedade nem sempre alcançará um O terceiro efeito da incerteza é muito semelhante ao segundo: como
ótimo paretiano. nenhum partido sabe quais estados sociais são ótimos, ou de que modo estados
a. Ela o fará somente por acaso num sistema bipartídário se o partido de diversos dominam uns aos outros, a competição interpartidária não garante um
oposição puder esperar para revelar suas propostas depois que os ocupan- ótimo paretiano, mesmo quando todos os partidos revelam suas propostas ao
tes do cargo o fizeram. mesmo tempo. Cada partido é forçado a fazer conjecturas quanto à capacida-
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MAXIMIZAÇlO DE: VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIVIDUAL
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DCMOCRACIA

faz com que um governo que maximiza o voto impeça um ótimo paretiano
de ótima e à predominância e as chances são de que as conjecturas de nenhum
através do bloqueio negativo.
partido constituam realmente uma posição ótima. Como cada um deles sabe
A análise precedente mostra que a incerteza torna a consecução de um
disso. o incentivo geral até mesmo de buscar posições ótimas se reduz. dimi-
ótimo paretiano altamente improvável, especialmente quando existem bens
nuindo ainda mais a probabilidade de que elas serão atingidas. Além disso, a
coletivos e interdependências não relacionadas com o mercadol4 A incerteza
incerteza reduz a capacidade do partido vencedor de cumprir sua s promessas
produz resultados subótimos, em parte porque impede a integração plena das
completamente; assim, mesmo que ele adote um conjunto de políticas que pro-
duas distribuições diferentes que influenciam a alocação de recursos na eco-
duzam um ótimo, talvez ele não seja capaz de efetuar um ótimo.
nomia: a distribuição de votos e a distribuição de renda em dinheiro. A últt-
Finalmente, a incerteza pode levar os cidadãos a se oporem a dar ao
ma é o fator-chave do ordenamento nos arranjos ótimos da atividade econô-
governo os poderes necessários para atingir estados ótimos porque eles temem
mica. Cada agente dispõe de sua dada renda em dinheiro, de modo a equipa-
que o uso desses poderes crie um precedente que poderia ser empregado con-
rar as taxas líquidas descontadas de retorno de utilidade em todas as suas mar-
tra eles no fi.!turo. Por exemplo, suponhamos que haja uma sociedade nesse
gens de ação. O entrosamento de todas essas alocações de renda determina a
momento na posição J, que é uma posição subótima porque atos espec íf icos e
estrutura inteira da economia, que se radica portanto na distribuição original
inequivocamente bons envolvendo bens coletivos poderiam levar a soc iedade
à posição ótima K. Mas o governo, nessa sociedade, não tem poderes nesse
de renda.
No momento em que admitimos nesse quadro um governo como o de
momento para fazer as transferências diretas de renda e avaliações individuais
nosso modelo, urna segunda distribuição compete fortemente com a distribui-
necessárias para executar esses atos. Para atingir K, os cidadãos devem alterar
ção de renda em dinheiro por influência sobre a cena econômica. Trata-se da
as regras de procedimento do governo (por voto majoritário, presumimos) a
distribuição de votos - por suposição, em nosso modelo, uma distribuição
fim de lhe dar esses poderes.
eqüitativa entre todos os adultos. As ações do governo são ordenadas de acor-
Mas, uma vez que o governo fez uso desse poderes para ir da posição J
do com essa distribuição política; todavia, essas ações têm um papel vital na
para K, não há garantia de que ele não os use nova mente no futuro para ir da
determinação da estrutura da economia. Portanto; um dualismo básico apare-
posição K para algum outro estado. É verdade que ele é um governo democ-rá-
ce entre as forças que conformam a atividade econômica. O padrão de ativida-
tico; ass im, ele sempre se movimentará em direção a um estado preferível. a K
de que surge resulta de urna disputa e conciliação entre aqueles que possuem
por urna maioria. Mas seus movi mentos podem não ser sempre inequivoca-
as quantidades nessas duas distribuições.
mente bons; isto é, podem se dar à custa de uma minoria. Por exemplo, supo-
Há outras distribuições na sociedade que são importantes para a ativida-
nhamos que a sociedade inteira consista dos cidadãos D, E e F e que D e E
de econômica além das de renda e votos. Entretanto, a maioria delas logo se
apóiem um movimento do estado K para o estado L, embora esse movimento
coloca sob a influência da distribuição de renda em dinheiro ou se torna parte
prejudique F O cidadão F gostaria de se movimentar de K para M, uma
dela. O talento atlético, por exemplo, é distribuído de uma maneira não intima-
mudança que também beneficia E, mas prejudica D.
mente correlacionada, salvo engano, seja à renda em dinheiro, seja a votos .
Nessas condições, se o movimento proposto de J a K cria um preceden-
Contudo, pode ser negociado e os serviços de seus possuidores, comprados e
. te ao dar ao governo poderes que ele pode subseqüentemente usar de novo,
vendidos. Portanto, Jogo se acha sob o controle da di stribuição de renda em
tanto D quanto F podem se opor a esse movimento, mesmo que a situação de
dinheiro e aqueles que têm esse talento assumem seus lugares naquela distri-
todos melhore com isso. A incerteza faz com que ninguém se disponha a se
arriscar a criar um precedente que uma maioria possa usar contra os interesses
dele posteriormente. Portanto, a sociedade permanece num estado subótimo
14. Porém, os efeitos da incerteza não'·são inteiramente negativos. Ela tan1bém impede que o problema de
porque a maioria de seus cidadãos se opõe a permitir que o governo exerça os
Arrow provoque um caos virtual, como salientamos antes. Por exemplo, na sociedade que descrevemos
poderes necessários a alcançar um ótimo. Nesses casos, uma forma de indivi- na seção precedente, nenhuma política estável poderia ser mantida se prevalecesse a certeza, porque
sibilidade temporal -a incapacidade dos cidadãos de separar completamente uma maioria sempre preferiria alguma política diferente daquel a que estivesse sendo executada. Apenas
o que é feito num momento do que pode ser feito erh momentos posterimes - a incerteza pode impedir esse resultado. Ver nota 11 no Capítulo 4.

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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇÃO DE V07V GOVERNAMENT.4 L E EQUILÍBR IO MARGINAL INDIVIDUAL

buiçào. O mesmo é verdade em relação à distribuição de direitos de acesso a sobre A e B e pagar subsídios a A e B -comprando indiretamente, assim, seu
minerais valiosos, de grandes mentes acadêmicas, e da maior parte de outras apoio político à medida. Isso melhoraria a situação de todos. Entretanto, essa
coisas com qualquer relevância econômica significativa- exceto a proprieda- solução implica que o governo pode fazer barganhas individualmente discrimi-
de de \·otos. natóri:lS com os eleitores; ao passo que, na realidade, a incerteza torna essas
Se prevalecer certeza suficiente para excluir o tipo de influência política barganhas impossíveis por duas razões.
descrita no Capítulo 6, o dinheiro não tem o poder de influenciar votos. A-qui Primeiro, a falta de conhecimento sobre as preferências de cidadãos indi-
a disparidade entre a distribuição de renda em dinheiro e a distribuição de vidualmente torna tecnicamente impossível para o governo discrimi,nar, seja de
votos é vista de modo mais claro. Pode-se mostrar, através de um exemplo, modo preciso, seja de modo barato. Segundo, o temor de criar um precedente'
como ela pode fazer com que o governo se recuse a executar uma ação que pode impedir que os eleitores permitam ao governo que discrimine individual~
promova um ótimo. Vamos supor que haja apenas três eleitores: A, B e C. Os mente, mesmo que pudesse. Se fosse possível a discriminação individual em
eleitores A e B estão satisfeitos com o atual papel do governo na sociedade e nosso exemplo, A e B poderiam votar a favor de taxar C e de pagar a si pró-
se opõem a qualquer alocação maior de fundos privados para atividade gover- prios subsídios sem remover as árvores. Essa manobra melhoraria ainda mais
namental via impostos. O eleitor C, no entanto, quer que o governo gaste mais a situação da maioria do que o uso legítimo do princípio de compensação suge-
$1000 no corte de árvores no parque público em frente à sua casa, já que essas rido acima, embora uma minoria sofresse. Todavia, como explicamos anterior-
árvores estão fazendo sombra no seu jardim. Sendo um entusiasta da jardina- mente, A e B podem se recusar a tirar proveito dessa possibi lidade porque cada
gem, ele está disposto a pagar ele mesmo os $1000 porque considera q1Je os um teme que fazê-lo criaria um precedente que poderia ser usado contra ele
resultados líquidos valem pelo menos $2000 para ele. Mas não pode sair cor- posteriormente por uma maioria que não o inclui. Desse modo, todos os três
rendo e cortar ele mesmo as árvores porque elas são propriedade pública; tam- cidadãos se opõem à integração de distribuições de votos e de renda em dinhei-
pouco pode pagar o governo para fazê-lo, porque o governo está interessado ro, por parte do governo, por meio de discriminação individual. Aqui, nova-
em votos, não em dinheiro. mente, a incerteza impede que a sociedade atinja um ótimo paretiano.
Entretanto, como resultado do clamor de C, o governo faz pesquisas e- Esse bloqueio de nivelamento marginal não se restringe a atividades com
descobre que A e B são quase indiferentes quanto a toda a questão,- porém úão compensação presente, como o exemplo seguinte mostra. Suponhamos que
completamente: eles classificam "sombra" pouco acima de "nenhuma som- dois eleitores, X e Y, queiram que o governo financie dois investimentos dife-
bra" em suas ordens de preferência. Portanto, o governo deixa as árvores como rentes com compensações futuras. Ambos os investimentos pagam na mesma
estão, embora C queira muito que elas sejam removidas e A e B sejam quase data mas não à mesma taxa margina l de retorno em beneficios líquida e des -
indiferentes a que elas permaneçam. contada, computada contra os dólares de imposto marginal injetados neles. O
Se fosse permitida a venda de votos, C poderia pagar $100 a cada um, cidadão X vê o investimento que apóia como pagando 2000%, embora essa
mais o aumento em seus impostos- isto é, um tota l de $433 para cada um- taxa fosse declinar se mais recursos fossem transferidos para ali. Em contras-
para que A e B votassem a favor da remoção das árvores. Nesse caso, a remo- te, o cidadão X vê seu projeto como tendo um reto rno de 2%. No entanto, essas
ção das árvores melhoraria mais a situação de todos do que deixá-las lá. Nem duas taxas de retorno não podem ser comparadas diretamente porque não são
A nem B (supomos) se importam com a sombra no mesmo grau que se impor- computadas com base na mesma função de utilidade. Cada cidadão calcula o
tam com $ 100, e C obtém um resultado que vale $2000 para ele ao custo de retorno sobre seu proj eto governamental favorito por meio de sua própria fun -
apenas $1200. No entanto, a lei proíbe a venda de votos, assim a racionalida- ção de utilidade e, como supomos aqui, cada um acha que o projeto desejado
de exige que A e B votem a favor da sombra. Se fizermos a suposição crucial pelo outro não vale nada.
de que essa é a única questão política, o governo simplesmente segue a maio- Um único agente de planejamento- o governo- deve alocar recursos para
ria, deixando C frustrado e um ótimo paretiano óbvio inalcançado. esses dois usos. Mas o governo não avalia esses investimentos por suas com-
Os economistas do bem-estar poderiam argumentar' que o governo deve- pensações de utilidade, já que não tem função de utilidade. Ao contrário, ava-
ria taxa r C mais do que o custo de remoção da~'-~l:vor:es, não colocar impostos lia com base numa fun ção de compensação em votos e, como cada cidadão tem
J()(j 207
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇÃO DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MAR GINA L INDIVIDUAL

direito a um voto, os dois investimentos podem muito bem ter taxas marginais D. Um mercado hipotético de venda de votos
iguais de retorno a seus olhos. Se assim for, não pode racionalmente transferir
recursos do investimento de 2% para o de 2000%. Antes de responder a essas questões, devemos primeiramente examinar o
Se o livre comércio fosse permitido, o cidadão X, cuja taxa de compen- caráter peculiar do valor do voto para o indivíduo - um tópico que surgirá
sação proveniente de ação governamental é 2000%, pagaria ao cidadão Y para novamente mais tarde. Em qualquer eleição de grande escala, um eleitor racio-
que ele permitisse que o governo transferisse todos os seus fundos para o nal sabe que a probabilidade de que seu voto seja de qualquer modo decisivo
investimento da preferência de X, até que sua taxa de retorno caísse para 2%. é realmente pequena. Dado o comportamento de todos os outros, seu voto é
X poderia facilmente compensar Y pela perda que Y teria nessa transferência portanto de quase nenhum valor para ele, não importa quão importante seja ,
e ainda assim ficar numa melhor situação. Mas isso significa que X estaria para ele que o partido P derrote o partido Q. Conseqüentemente, ele estará dis-
pagando Y para transferir sua influência política; com efeito, X estaria com- posto a vender seu voto por um preço bem baixo se a venda de votos for legal,
prando o voto de Y Como esse suborno é ilegal, não pode recorrer a ele. já que o dinheiro lhe é definitivamente valioso. Em outras palavras, todo elei-
Todavia, Y não transferirá sua influência voluntariamente se, a seus olhos, o tor racional tem um preço baixo de reserva sobre seu voto. Não obstante, isso
retorno de 2000% for realmente um retorno de menos de 2% porque vê pouco não significa que os votos seriam baratos num mercado sem controle; seu
beneficio nesse projeto governamental específicots. preço depende da procura tanto quanto da oferta.
Desse modo, a proibição de compra e venda de votos bloqueia o funcio- Para explorar mais esse assunto, vamos supor, nesse momento, que (1)
namento do princípio de nivelamento do retorno marginal, tanto intertempo- não haja restrição legal à compra ou venda de votos e que (2) algum tipo de
ral quanto intratemporalmente. Como resultado, o governo está constante- certificado negociável de voto seja impresso e distribuído, um para cada elei-
mente se envolvendo em atividades com taxas diversas de retorno; assim, a tor, antes de cada eleição. O que acontecerá?
arbitragem poderia sempre melhorar ainda mais a situação tanto de compra- Nenhum eleitor individualmente tem muito poder político - isso expli-
dores quanto de vendedores de votos. Todavia, o governo não tem nenhum ca por que há um preço baixo de reserva. Mas qualquer eleitor que possa com-
incentivo para melhorar a situação deles através da transferência de recursos· prar uma grande quantidade de votos pode influenciar fortemente a política
sem qualquer venda de votos; daí ele se envolver em bloqueio negatiYÓ e do governo numa área que lhe seja de interesse. Como resultado, aqueles que
impedir que um ótimo paretiano possível seja atingido. Será que a sociedade desejam esse poder e que possuam fundos de capital para compra de votos
como um todo não ficaria em melhor situação, portanto, se a compra e venda formarão uma demanda por vo tos. Outros não tão desejosos, ou não tão dota-
de votos fosse legal? Um ótimo paretiano não seria então possível, ao passo dos de fundos, agirão como fornecedores de votos. É até mesmo possível que
que agora é impossível?t6 haja uma concorrência acirrada entre os interessados na compra de votos, de
modo que o preço .dos votos suba muito acima do preço de reserva da maio-
ria dos cidadãos. Se isso ocorrer, a maior parte dos cidadãos de baixa renda
não terá recursos suficientes para serem compradores, mas se tornarão, em
vez disso, vendedores.
15. Na rea lidade, oco rre muito subo rno nos sistemas democráticos, embora geralmente não com compe n-
S[I ÇÕes em di nheiro. Todo o sistema patronal, no qual os cidadãos concorda m em votar como o patrão
Portanto, não importa quais dos concorrentes finalmente acumule votos
manda, ern troca de favores que e le lhes tàz, é uma fOrma de suborno, isto é, de venda de votos. De tàt o, suficientes para controlar a política governamental, o vencedor será sempre o
a princ ipa l idéia por trás do nosso mod elo é que os eleitores recompensarão os políticos qu e os ag ra- possuidor de alta renda ou de grande capital. Em suma, se existir um mercado
da m vota nd o nesses políticos. Não obstante, mesmo no mundo real, não há um mercado organizado de aberto de votos, a política governamental será ditada por grupos de alta renda,
vend a de votos como o mercado do trigo ou o de ações, e a falta desse 1nercado tem os pri ncipais efe i- mesmo que haja uma competição dura entre esses grupos pelo controle sobre
tos di scutidos <1qui. Portanto, omitiremos, de nosso mundo-modelo, mercados de intluência localizada,
políticas específicas.
como aqueles do sistema patronal. , -,
16. Essas duas ·questões não são necessariamente idênticas, istQ é, 1J1elhorar a ~ituação da sociedade como
Presumivelmente, os cidadãos de baixa renda irão, no final das contas, se
um todo e atin gir um ótimo paretiano são doi s atos distintos'" qué J{~p1 sempre coincidem. cansar de serem discriminados pela política governamental. Para se contrapor
2011 209
UMA TEORIA ECONOMICA DA DEMO CRACIA
MAXIMIZAÇÃO DE VOTO GOVERNAMENTA L E EQUILÍBRIO
MARGINA L INDIVID UAL
à dominação da alta renda, eles podem tentar formar grande
s unidades de bar-
ganha coletiva exatamente como no mercado de trabalho - na em melhor situação financeira devido aos suborno s que receber
realidad e, pode- am. Os únicos
riam fazer uso daquelas unidades de barganh a coletiva que j á perdedores inequívocos são os cidadãos de baixa renda que não
existem no mer- venderam seus
cado de trabalho. Assim. o eleitor individual não sentirá mais votos, mas tentaram, em vez disso, influenciar as política s. Eles
que seu \·oro não não têm maio-
vale nada, já que pode se juntar a um grupo e, ao fazê-lo, aument res rendas e têm menos poder político do que tinham antes de
ar a possibi- a venda de voto
lidade de que seu voto - visto como o voto do grupo inteiro ser legal. .
- seja decisivo .
Desse modo, será recompensado pelo voto dado coletivamente Os cidadãos de baixa renda, como grupo, negociaram influên
não por paga- cia política
mento em dinheiro, como ele o foi quando vendeu seu voto, mas em troca de renda em dinheiro . A fim de conseguir de volta
por pagamen- tanta influênci<i
to em políticas, efetivadas quando centros de barganha de baixa política quanto tinham antes da venda legal de votos, eles têm
renda conse- que (1) se jun-
guem poder suficien te para influenciar o governo. tar numa combin ação de barganh a coletiva à qual todo benefic
iário de baixa
Nesse mundo hipotético, é sempre mais raciona l para o eleitor renda pertence e (2) abrir mão da renda em dinheiro que os suborn
vender seu os lhe pro-
voto do que votar - seja coletiva, seja individualmente - , contant porcion am. Se essa renda em dinheiro lhes dá mais benefíc
o que lhe seja ios do que uma
indiferente quais políticas o governo adota. ,É também mais volta a seu grau original de influência política , é óbvio que
racional que ele é to lo deixar de
venda seu voto se considerar os votos de todos os outros eleitore vender seus votos. Entretanto, eles deveriam ainda vendê-l
s como dados. os via barganha
Portanto, não é fácil persuadir os homens a continu ar combin coletiva , a f im de conseguir o máximo de dinheiro por eles.
ando seus votos, Do contrário, os
cada um contribuindo com o seu próprio voto dentro do grupo, compradores de votos podem j ogar os vendedores uns contra
depoi s que o os outros e cap-
grupo se tornou tão grande que a defecção de qualquer homem tar todo o lucro do mercado, exatamente como no mercado de
individualmen- trabalho.
te é per se trivial. A história do movimento de trabalhadores Entretanto, se o controle de políticas for mais importa nte para
e até mesmo dos os benefi-
grandes cat"téis prova quão difícil é isso. Ou a defecção deve ciários de baixa renda do que o dinheiro que podem obter venden
ser punida , ou se do seus votos,
deve ensinar aos homens que vejam essas situações emocional então sua melhor opção é consegui r que a venda de votos
e moralmente, seja proibid a.
ao invés de estatisticamente; por exemplo, cada membro deve Através desse único golpe, podem impedir que os grupos de
cons iderar seu alta renda inva-
compo rtamento não como singular mas como um exemplo dam o espaço de sua influência política . Quando cada homem
que outros ·(ão controla apenas
seguir. Do contrário, o grupo não se manter á coeso sob pressão um voto e não pode nem comprar nem vender o seu próprio
. , a igualdade do
Vamos supor que esse obstáculo seja superado e grupos de bargan poder político é alcançada entre indivíduos - pelo menos num
ha de mundo certo.
baixa renda surjam no mercado do voto. Eles logo entram Essa igualda de natural mente benefi cia os grupos de baixa renda
em concor rência devido a sua
com recebedores de alta renda pelo controle de votos periféri preponderânci a numérica. Portanto, fazer valer a igualda de do
cos, talvez com- direito de voto
prando votos com fundos coletados como dívidas , tal vez fazendo e a proibiç ão de venda de votos é a maneira mais efi ciente que
promes sas os grupos de
de implementação de política s. Os partidos políticos ou se tornam baixa renda têm na sociedade de se assegurarem de que têm
instituições influência sobre
supérfluas ou então entram eles próprios no mercado do voto as políticas governamentais.
e se tornam par-
tidários de interesses de baixa ou alta renda. Com essa conclusão em mente, podemos vol tar à questão de
se a vend a
Desse modo, o mercado do voto evoluí em direção a um equilíb de votos produz um ótimo paretia no. É verdad e que, em muitas
rio instá- si tuações,
vel de poder entre dois conjuntos de grupos: (l) grupos de tan to um vended or de votos indigen te quanto um compra dor
alta renda, cujos de votos rico
fundos lhes dão predominância inicial e (2) centros emerge ganhar iam se o primeiro pudess e vender seu voto para o segund
ntes de bargan ha o. Entreta nto,
coletiva e baixa renda, que podem no final obter uma vantage em quase todos esses casos, seu ganho signific a a perda
m numérica. de outrem. Por
Contanto que os grupos de alta renda sejam bem-sucedidos exemplo, peguem os o caso da sombra das árvores que discuti
na compra de mos anterio r-
alguns votos, eles têm mais influência política do que teriam mente neste capítulo. A e B se opõem ao corte das árvores
tido se a venda e C o deseja. Se
de votos fosse ilegal. Mas essa influência foi compra da através C pudess e suborn ar tanto A quanto 8, ele poderia conseg uir
do sacrifício de que as árvo res
renda; assim, os benefici ários de baixa renda qliG:, v..eqderam fo ssem cortadas e a situaçã o de todos melhoraria. Mas se o suborn
seus votos estão o for lega l,
é óbvio que fica muito mais barato para C suborn ar apenas
B, ao invés de A
210
211
UMA TEOR!A ECONÔMICA DA DEMOCRACIA MAX!M!ZAÇ-io DF VOTO G'OVERNAiv!ENTAL E EQU!LÍBR!O MARC!NAL !ND!Vf!)U,/1,

e B. Tanto B quanto C ganham - B por causa do suborno, e C porque agora A fim de que prevaleçam essas condições, acreditamos que ( l) todos os
controla votos suficientes para mandar remover as árvores - mas A perde. vendedores de votos teriam que barganhar coletivamente e (2) todos os com-
Ele não obtém nem sombra nem um aumento de renda- n:: re2lirhde. <;eu<; pradores de votos teriam que concordar a respeito de quais mudanças de polí-
impostos sobem para pagar a remoção a que ele se opõe. Contudo, é irracio- ticas seriam introduzidas por meio dos votos comprados. Em resumo, os ven-
nal para C subornar A também, já que fazê-lo custa mais a C mas não lhe traz dedores de votos formariam um único grupo que negociaria sua int1uência
quaisquer benefícios adicionais. Se C fosse de algum modo compelido a política com um cartel de compradores de votos.
subornar ou A e B ou nenhum dos dois, então C não poderia melhorar sua Entretanto, em nossa opinião, é extremamente improvável que esse
própria posição à custa de outra pessoa. Mas essa obrigação é incompatível monopólio bilateral gigante se formasse num mercado livre, especialment.~
com um mercado livre porque apenas transações puramente voluntárias porque diversos compradores de votos têm preferências muito diferentes em
podem ser feitas nele. relação a políticas. Somente se o governo interviesse de algum modo para
Na terminologia da economia do bem-estar, um movimento pode ser ine- compelir todos os vendedores de votos a formar um único grupo e todos os
quivocamente chamado de bom se melhora a situação de alguém e não piora a compradores de votos a formar outro, ocorreria essa situação. Obviamente, o
de ninguém. Obviamente, a introdução de um mercado escancarado de venda mercado não seria mais escancarado. Além disso, esse controle sobre a polí-
de votos não provocará esse movimento, já que as transações dentro dele ine- tica por parte do partido governante violaria os termos da constituição espe-
vitavelmente piorarão a situação de alguém. Portanto, não podemos dizer que cificados no Capítulo 1; o governo estaria barrando a liberdade de ação polí-
uma sociedade estaria necessariamente em melhor situação se tal mercado tica de seus cidadãos. É verdade que a proibição de venda de votos também
fosse legalizado I 7 limita aquela liberdade. Mas essa proibição não implica qualquer injunção
Há condições concebíveis nas quais um mercado de venda de votos específica de políticas a todos aqueles que desejam int1uência política, como
melhoraria a situação de todos, mesmo que todos tentassem minimizar os cus- o faria uma filiação compulsória ao cartel de compra de votos. Portanto, rejei-
tos e maximizar os retornos. Essas condições são as seguintes: tamos a possibilidade de que um mercado de venda de votos melhoraria a
situação de alguns cidadãos e não prejudicaria outros sem destruir a liberda-
L Nenhum vendedor de voto recebe um suborno menor, em termos de valor de política.
de utilidade para ele, que a perda de utilidade que experimenta a partir das Nossa conclusão é que o menor grau de incerteza impede que um gover-
alterações totais nas políticas que ocorrem com base no funcionamento do no democrático realize todas as ações promotoras de ótimo que são necessá-
mercado. rias para efetuar um ótimo paretiano até mesmo numa economia perfeitamen-
2. Nenhum comprador de voto paga em subornos uma quantia maior do que os te competitiva. Como lhe fàlta um conhecimento perfeito sobre as capacidades
ganhos que obtém a partir das alterações nas políticas, mencionadas em (1 ). e funções de benefícios dos eleitores, um governo maximizador de votos ine-
3. Todos os que não são nem vendedores nem compradores de voto não têm vitavelmente impede que ocorram equilíbrios marginais individuais. Portanto,
qualquer perda em utilidade devido às alterações nas políticas, menciona- a arbitragem, sob a forma de certas barganhas políticas, poderia melhorar a
das em (1). situação de todos, ou de alguns, e não piorar a de ninguém. Mas essas barga-
nhas não podem ser feitas. A livre empresa não pode fazê-las porque elas
envolvem bens coletivos ou interdependências não relacionadas com o merca-
do, ou ambos. Daí, os int1uenciadores que oferecem subornos políticos sem-
17. É verdade que a legollização dél venda de votos poderia ser boa para a sociedJde ainda que algumas pes-
soas perdessem com isso. Entretanto, sua excelência poderia ser julgada apenas por meio de compara- pre acham mais lucrativo prejudicar alguns cidadãos afetados do que subornar
ções interpessoais de bem-estar, isto é, juízos especificamente éticos. Como todos os cidadãos não usam todos eles. Percebendo isso, uma maioria de cidadãos se une para tornar o
os mesmo princípios éticos ao fazer tais comparações, a excelência da venda legalizada de votos é essen- suborno ilegal porque a incerteza faz com que cada um tema estar entre a
cialmente uma questão de opinião. Nossa opinião é que não ~cria boa para a$'oCiedadc, um ponto de vista minoria prejudicada. Tampouco o governo poderia forçar que essas barganhas
que parece predominar na maioria das democracias, já que qü~Se__tlãp há discussão política para tornar 8
sejam feitas, mesmo que soubesse o que são, porque, ao tàzer isso, colocaria
venda de votos legal e há considerável discussão contra as vend~·s d~ votos sempre que são dctectacl 8 s.
212 213
UMA TEORIA ECONÔMIC A DA DEMOCRACIA
MAXIkiiZAÇA·o DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILíBRIO MARGINAL
INDIVIDUAL
em risco a liberdade política. Em resumo, um ótimo paretiano nunca é alcan-
ce serviços de uma maneira não relacionada com a contribuição que cada indi-
çado numa democracia.
víduo deu para seu financ iamento. Portanto, é apenas por uma incrível coinci-
·
dência que um homem esteja em perfeito equilíbrio marginal em suas negocia-
ções com o governo. Normalmente, podemos esperar que o ganho marginal
E. O impacto da indivisib ilidade e suas causas técnicas de
todos os homens, proveniente da ação governamental, não seja igual à sua
perda marginal; assim, ele geralmente obtém um bônus marginal líquido do
Em seções anteriores deste capítulo, salientamos que algumas indivisib i-
governo ou tem um gasto marginal líquido com ele.
lidades vinculadas a operações governamentais criam obstáculo s técnicos
à Num mercado livre, divisível, nenhum desses dois resultado s poderia pr~­
consecução de um ótimo paretiano. Entretanto, adiamos uma maior discussão
valecer por muito tempo. Um homem racional, que estivesse tendo um gasto
desses obstáculo s; agora, desejamos analisá-lo s em detalhe. O primeiro passo
líquido em alguma margem, reduziria o fluxo de recursos para aquela margem.
é o reexame da renda de utilidade do indivíduo, proveniente de atividade
Isso iria, no fim, aumentar o retorno marginal ali ao nível do custo marginal
governamental, que discutimos pela primeira vez no Capítulo 3. ,
supondo que a le i de retornos marginais decrescentes valesse ali. Ou, se estives-
Cada eleitor recebe uma renda de utilidade to tal proveniente de ativida-
se obtendo um ganho líquido em alguma margem, ele transferiria mais recursos
de governamental e uma renda marginal proveniente do dólar governamental
para ali até que o reto rno marginal caísse para o mesmo nível do custo margi-
marginal. Também paga um custo total em utilidade, via impostos e restriçõe
s, nal. Em qualquer um dos casos, sua reação aumentaria sua renda ·líquida totaL
e. arca com o custo marginal do último dólar-imposto (ou perda de renda por
Entretanto, o governo não se envolve somente em transaçõe s voluntárias
restriçõe s ou inflação). Como um homem racional permanece numa socieda-
com cada cidadão, como o fazem as firmas privadas. Como muitas dessas fir-
de dada desde que sua renda total de utilidade proveniente de atividades gover-
mas, ele lida com categorias de pessoas por meio de regras uniformes aplica-
namentais e não-governamentais exceda o custo total, para ele, de todas essas
das a todas as pessoas dentro de cada categoria, mas exige-se que seus "c! ien-
atividades, não há razão para que sua renda total proveniente apenas de atos
tes" estejam em certas categoria s, quer queiram quer não. Assim, um fa brican-
governam entais precise exceder ou mesmo se equipara r ao custo total, p~ra
te privado de lá pis pode estabelecer a regra de que "todos que compram meu
ele, daqueles atos. · produto pagam $2,69", mas ninguém tem que comprar seu produto. Essa liber-
Do mesmo modo, não há razão a priori para que o ganho marginal aufe-
dade está ausente de regras governamentais como "todos em Mirinesota que
rido por qualquer cidadão a partir da ação governamental precise se equipara
r recebem renda tributável pagam 5% dela ao tesouro do Estado".
a sua perda marginal proveniente daquela ação. No mercado privado, isso não
Embora se pudesse argumentar que ninguém precisa receber renda tribu-
é verdade; um homem racional regula toda a sua vida econômica equiparando
tável, é difícil sobreviver numa economia de mercado sem fazê-lo. Na mesma
retornos marginais a custos marginais (que são realment e retornos prévios em
linha, poder-se -ia argumentar que um imposto por cabeça compulsó rio é real-
outras margens), maximizando dessa maneira sua renda líquida. Isso é poss
í- mente vo luntário, já que ninguém é obrigado a estar vivo. Entretanto, esse
vel porque ele pode controlar seu comportamento na margem com precisão,
sofi sma nega a possibilidade de coerção, que é ce rtamen te uma força real no
alterando-o Íigeiramente em uma ou outra direção. Em outras palavras , cada
mundo e também no nosso modelo.
um de seus esforços é- pelo menos em teoria- divisível e pode ser aumenta-
No extremo oposto está o argumento de que há tanta coerção no setor pri-
do ou diminuído em qualquer grau desejado .
vado quanto no setor público. Em nossa economia, não podemos sobreviver sem
O governo, no entanto, atribui a seus cidadãos custos obrigatórios que os
nos envolvermos em algumas transações com empresár ios, a menos que sejamos
cidadãos podem variar apenas dentro de limites estreitos ta. Além disso, forne-
ermitães. Portanto, todo não-ermitão é obrigado a comprar de firmas privadas
e
vender a eles tão forçosamente quanto é obrigado a pagar imposto de renda.
Embora haja uma grande dose de verdade nesse argumen to, o tipo de
18. Por exemplo, um homem pode reduzir suêls horas de trabalh o -panrev~tar
impostos sobre renda, ou eco- obrigação exercida no setor público é bastante diferente da do setor privado.
nomizar pa ra evitar impo stos sobre vendas ou fugir de mercad~'r ia:-s d'e Nesse último, deve-se negociar com alguém, mas os age ntes privados envo lvi-
lux o taxadns.

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UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇAO DE VOTO GOVERNAiviENTA L E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIVIDUAL

dos e o grau de cada negociação são deixados a critério do individuo. Ele pode governo extrair custos de seus cidadãos por coerção não explica quanto ele
entrar e sair de várias transações e mercados, alterando marginalmente sua tira de caca cidadão.
posição em cada um. Assim. ele pode realizar o processo de equação marginal Esse problema de alocação de custos poderia ser mais facilmente
descrito anteriormente19 resolvido se fosse possíve l medir com precisão a renda de beneficios de
Isso não é verdade em relação ao setor público, em que cada cidadão cada indivídu o. Mas muita renda de benefícios proveniente de ação gover-
deve tratar com o governo, e deve fazê -lo de maneiras especificadas pelo namental é puramente ps íquica - isto é, não advém sob forma de dólares
governo, não pelo cidadão. É verdade que ele pode tentar equiparar custo mar- mas é consumida diretamente. Como a comparação interpessoal de rendas
gina l e retorno marginal de todas as categorias da qual faz parte, vistas como psíquicas é impo ssivel, a renda de beneficios de um homem não pode ser
uma unidade, entrando e saindo intencionalmente de algumas delas. Mas tan- medida e comparada com as rendas de benefícios de outros para fins de alo-
tas categorias lhe são impostas que as áreas de movimento possível são limita- cação de custos. Tampouco o governo pode descobrir quanto cada cidadão
das demais para assegurar equilíbrio marginal. se benefi cia com suas ações perguntando-lhe, "Quanto você pagaria para
Essa situação resulta da indivisibilidade da ação governamenta l, que, por não perder o serv iço X?" Como muitos serviços governamentais produzem
sua vez, tem duas importantes causas técnicas: (l) a natureza do fluxo de bene- grandes excedentes de co nsumo, quase todo cidadão recebe um beneficio
ficio proveniente de certas ações governamentais e (2) a dificuldade de men- total maior com a existência do governo do que poderia fornecer a si mesmo
surar benefícios. Discutiremos as duas na ordem. gastando toda a sua renda apenas com esse fim. Também contribuem para
Como salientamos anteriormente neste capítulo, as principais atividades esse resultado as grandes economias de escala, inerentes a muitas atividádes
do governo produzem certos benefícios indivis íveis. Como todos são poten- governamentais.
ciais ganhadores desses benefici os, independentemente de quem paga por eles, Até mesmo a invenção de um método de mensurar beneflcios não elimi-
eles não podem ser alocados para indivíduos. Portanto, como explicamos naria todos os obstáculos à alocação de custos por meio do princípio de bene-
antes, o governo deve coagir seus cidadãos a pagar por esses benefícios, que fício. O governo ainda teria que entrar em negociações com cada cidadão para
geralmente se originam de serviços fundamentais do governo, como proteção descobrir o tamanho de sua renda de beneficios, assim como o faz agora em
policial, sistema judiciário e defesa. Obviamente, essa coerção elimina a j)OS- relação à sua re nda em din hei ro. Se essas negociações fossem muito caras, os
sibilidade de livre negociação. custos poderiam inval idar quaisquer ganhos que os cidadãos poderiam obter
Entretanto, essa indivisibilidade do fluxo de beneficios não exp lica o alcançando equ ili brio marginal em suas relações com o governo.
nível de gastos com essas atividades ou a alocação de seus custos, e tampou- Como, no momento, não ex iste nenhum mecanismo de mensuração de
co signif ica que os beneficios recebidos por todos são necessariamente beneficios, o governo não pode alocar custos em proporção a beneficios,
iguais. O gasto com defesa nacional contra ataques aéreos sem dúvida bene- mesmo que queira fazê-lo. E a indivisibilidade de benefícios impede-o de ven-
ficia todos em alguma medida, mas beneficia muito mais as pessoas que der serviços governamentais num mercado livre na base de quid p ro quo. Por
moram nas cidades perto de instalações de defesa do que os que vivem sozi- essas razões técnicas, o governo deve abandonar quaisquer idéias de ajudar seus
nhos nos desertos. Alguns cidadãos podem até achar que o gasto marginal cidadãos a ating ir equ ilíbri o marginal individual em sua interação com ele.
com defesa é uma perda líquida para eles devido à supermílitarização da vid a
nacional, baru lho excess ivo de aviões a jato, etc. Igualmente, o fato de o
F Distribuição de renda como causa de equilíbrio marginal bloqLteado

! 9. Aqui, estamos presumindo que exista competiç?ío perfeita· no setor privado e que todas as _merc ~:-1d oria s Mesmo que os problemas técnicos envolvidos na mensuração de bene-
nele sejam perfeitamente divisíveis. Esses pressupostos es tã o imp lícitos em todas as nossas disc ussões
fícios individuais e na condução de negociações individuais de baixo custo
do setor privado (co m exceção dos bens coletivos) neste c:ap ítulo. Fazemos, essas suposições em nome
pudessem ser so lucionados, não há razão para supor que cada indivíduo
da simplicidade e porque são as premissas costumeiras po'r dps modelos de equi líbrio geral em
Economia. atingisse equilíbrio marginal em suas negociações com o governo. Na rea-
216 217
UMA TEORIA ECONÓ/v!ICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇÀO DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUIÚBR!O MARGINAL INDIVIDUAL

!idade, o maior interesse do governo provavelmente residiria em se recusar Não obstante, desde que seja possível qualquer movimento que o afaste das
deliberadamente a fazer as barganhas individuais necessárias a alcançar penalidades e o aproxime das recompensas, esse movimento será feito.
esse equilíbrio. Se o governo soubesse com exatidão como todo cidadão reagiria a quais-
Cada indivíduo maximiza sua própria renda de utilidade, cereris paríbus, quer propostas que fizesse, poderia concebiYelmeme planejar uma estrutura de
quando a perda de beneficios causada pelo seu pagamento de imposto ma_rgi- imposto-beneficio que redistribuiria,renda dos ricos para os pobres, sem pro-
nal, ou pelo movimento inflacionário marginal no caso de financiamento de vocar uma queda na produção total ou um abalo nos equilíbrios marginais indi-
déficit, é igual ao ganho de utilidade produzido pelo benefício marginal que viduais. Por exemplo, poderia impor um imposto sobre a capacidade inata de
recebe da ação governamental. Nessas condições, o indivíduo está, com efei- auferir renda de cada pessoa, ao invés de sobre sua real renda em dinheiro.
to, comprando serviços governamentais com sua renda em dinheiro, dada essa Esse imposto tem todas as vantagens tanto do imposto por cabeça quanto do
última. Ele está usando sua renda dada em dinheiro da maneira mais eficiente imposto de renda, e nenhuma de suas principais desvantagens. Ele se parece
possível; isto é, está obtendo com isso a maior renda de utilidade possível. com um imposto por cabeça porque ninguém pode fugir dele realocando seus
Mas o governo não precisa considerar a renda em dinheiro de todos como recursos; portanto, não tem nenhum efeito de perturbação do ótimo na mar-
dada porque tem o poder de redistribuir rendas. Em nosso modelo, utiliza esse gem. Contudo, como um imposto de renda, pode discriminar entre indivíduos
poder sempre que fazê-lo o ajuda a maximizar votos. Obviamente, numa socie- e ser usado para redistribuição de renda. Assim, o conhecimento perfeito do
dade em que cada cidadão tem direito a apenas um voto, a melhor maneira de potencial de auferição de renda de cada indivíduo permitiria ao governo arran-
obter votos via redistribuição é privar algumas pessoas de renda- incorrendo jar seusimpostos e beneficios de tal modo que, depois que cada indivíduo
com isso em sua hostilidade- e tornar essa renda disponível para muitas pes- tivesse respondido aos programas anunciados, ele descobriria que seu ganho
soas- ganhando com isso seu apoio. Como a distribuição de renda, pré-tribu- marginal proveniente da ação governamental seria igual à sua perda marginal
tação, em quase toda sociedade dá grandes rendas a poucas pessoas e rendas em impostos, mesmo que os impostos lhe fossem impingidos e renda tivesse
relativamente pequenas a muitas pessoas, uma redistribuição que tenda à sido redistribuída no processo. Entretanto, o menor grau de incerteza - tal
igualdade cumpre a finalidade política mesma que o governo deseja. Assim, a como a incapacidade de ler mentes ou julgar potenciais de auferição de rendas
igualdade de direito de voto, numa sociedade democrática, cria uma tendência infalivelmente -- torna a onisciência totalmente inexeqüíveJ2ü. Na realidade,
de a ação governamental equiparar rendas, redistribuindo-as de algumas pes- qualquer estrutura de imposto-beneficio de grande escala impede um ótimo
soas ricas para muitas pessoas menos ricas. paretiano, e quaisquer efeitos redistributivos têm algumas repercussões sobre
Mas o governo não continua esse processo até que todos os cidadãos a produção total.
tenham a mesma renda depois que os impostos tenham sido deduzidos de, e os Na prática, isso significa que qualquer tentativa de tributar rendas em
benefícios governamentais adicionados à, renda original de cada um. Ele não dinheiro e distribuir benefícios de modo a ocasionar igualdade pós-ação gover-
faz isso por três razões, todas relacionadas com a incerteza. namental teria sérias repercussões sobre a produção total da economia.
Em primeiro lugar, o governo não pode criar um sistema de impostos e Cidadãos outrora de alta renda converteriam muito do tempo dedicado a obter
benefícios que redistribua renda sem provocar efeitos de retroalimentação ou renda em dinheiro em tempo de gozo de renda de lazer, reduzindo des;;e modo
de incentivo. Um dos axiomas do comportamento racional é que todo indiví-
duo procura evitar custos e obter retornos, se possível. Portanto, sempre que o
governo anuncia um conjunto de regras que regulam a tributação governamen- 20. É duvidoso se uma definição aceitável de "capacidade de auterição de renda" pode ser ou 1 ~ão cons-
tal e a distribuição de benefícios, todo cidadão aloca seus recursos de modo a truída conceitualmente. Os juizos-envolvidos dizem respeito a comparações interpessoais que são real-
fugir dos impostos e a obter os beneficios, na medida em que isso for exeqüí- mente éticas na natureza e não econômicas ou psicológicas; daí poder ser impossivcl uma base cien-
vel. Naturalmente, como apontamos na seção precedente, ele não pode mano- tífica para o consenso. Esse tàto enfatiza a incapacidade de qualqt.t\:~1: governo do mundo real de impor
uma estrutura de imposto redistributivo que não exclua a consecução de um ótimo paretiano. Somos
brar tão livremente em relação às regras governamentais quanto pode fazê-lo
gratos a Kenneth J. Arrow por nos apontar as possibilidades tcóric<1s e as debilidades prátic<1s desse
em relação às regras do setor privado, já que as pdmeiras são compulsórias. tipo de tributação.

2/8 219
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCIIACIA MAXIMIZA Ç40 DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILiBRIO MARGINAL INDIVIDUAL

a produção p er capita de não-lazer. Mes mo os cidadãos de baixa re nda acha m nientes de ação governamental ao custo marg inal disso. Essas condições são as
que a produção total, resultante de uma distribuição de renda bas icamente seguintes :
desiguaL seria muito maior do que a resu ltante de uma distribuição eq üitati va
- tão maior que suas parcelas menos que proporcionais da primeira seriam 1. Uma distribuição eqüitativa de votos entre os cidadãos, que pode ser consi-
absolutamente maiores do que suas pa rce las eqüitativas da última. Portanto, a deravelmente compensada em condições de incerteza por uma distribuição
oposição à equiparação completa de renda é quase universal; assim, o governo desigual' de influência com tendência favorável aos que recebem altas rendas.
que maximiza votos, em nosso modelo, a respe ita. 2. Distribuição desigual de renda, arranjada de forma que algumas pessoas
Há duas maneiras pelas quais a incerteza impede que o governo redistri- recebem rendas muito altas em relação à grande maioria das pessoas.
bua rendas até que elas sejam as mesmas para todos os homens. Primeiro, a 3. A capacidade do governo de obrigar seus cidadãos a dar-lhe alguns de seus
incerteza permite que os cidadãos de baixa renda acreditem que algu m di a recursos via tributação ou inflação, ou ambas.
também poderão ter rendas altas; porta nto, seu desejo de "extorquir os ricos" 4. O fato de que o governo age para maximizar votos, mas suas ações têm
é mitigado pela esperança de que eles mesmos venham a ser ri cos 21 . Segund o, repercussões sobre rendas de utilidade individuais. Embora as ações do
a incerteza cria eleitores mais ou menos influentes; isto é, altera a distribuição indivíduo, que visam à maximização da utilidade, incluam uma decisão de
do poder de voto para uma distribui ção que não é eqüitativa. Geralme nte, os voto, os indivíduos não podem coagir o governo do modo como ele pode
eleitores com as maiores rendas também têm maior poder político, j á que num coagi-los.
mundo incerto podem usar seus recursos fi nance iros para criar inf1uência para 5. Indivisibilidades téc nicas do funcionamento governamental provocadas
eles próprios. pela natureza de certos benefícios que o governo proporciona, e impossibi-
O primeiro desses impactos enfraquece a tendência "Robin Hood" natu- lidade de mensurar objetivamente as rendas individuais de beneficios.
ral de um governo democrático, e o segund o cria uma contraforça que pode 6. Proibição de compra ou venda dos direitos de voto, mas permissão de com-
ofuscar completamente essa tendênc ia. Se isso ocorrer, a ação raciona l do pra ou venda da maioria das outras prerrogativas pessoais, especialmente
governo pode até mesmo redistribuir re nda dos pobres para os ricos. direitos de propriedade.
7. Falta de conhecimento perfeito por parte do governo sobre as funções de
beneficio e capacidades inatas dos seus cidadãos e sua falta de conhecimen-
III. RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÕES to perfeito de acontecimentos futuros. Essa condição e m parte subjaz tanto
a (5) como a (6) acima.
Neste capítulo, examinamos o qu e aco ntece com um equilíbrio marginal
individual quando acrescentamos um governo que maximiza o voto ao mode- A teoria econômica tradicional postula que cada agente de planejamento
lo ge ral de alocação da teoria econômi ca tradiciona l. Nossa conclusão é que é irá alocar seus recursos de modo a equiparar retornos em todas as margens.
provável que nenhum agente privado alcance o equilíbrio marginal considera- Entretanto, como sugerem as condições precedentes, o governo impede que os
do como normal pela teoria tradicional. Diversas condições em nosso modelo agentes privados ajam livremente em certas margens; portanto, os impede de
impedem qu e a maioria dos agentes equiparem seus retornos marginais prove- a lcançar o equilíbrio postulado na teoria tradicionaL Além disso, os ind ivíduos
não podem barga nhar entre si por influência política. Portanto, o meca nismo
de mercado é eliminado como um meio de escapar ao bloqueio governamen-
21 Esse ti po de raciocín io por parte dos cidadãos de baixa renda poderia ser interpretado como irrac iona l tal do processo de equiparação marginal.
e, po rtan to, fo ra de lugar em nosso modelo. E ntretanto, ava li a r s ua raci onalidade minu c iosamen te é uma Igualmente, a meta de maximização de voto do governo faz com que ele
tarefa dilici l que envo lve análise de probabilidades subjetivas vs. objetivas. Embor<t não possamos ten- aja em favor dos grupos de renda mais numerosos - os que recebem rendas
tar essa tarefa neste estudo, consideramos esse ra ciocínio importante o suficiente para ser mencionado.
baixas. Portanto, ele tende a redistribuir a renda em direçã.o oposta aos grupos
Sua rncionalic\ac\c foi dlscutida em detalhe por Mil ton Frieclm_znrcm ''Choice, Ch<mcc, anel th e Persomll
Di stribution o f ln come", Joumaf t?f'Po/iricol Eco nomy, LXI, àgo ., pp. 277-290.
de alta renda, através de sua alocação de custos e serviços.

221! 221
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA MAXIMIZAÇiO DE VOTO GOVERNAMENTAL E EQUILÍBRIO MARGINAL INDIVIDUA L (

IV RESUMO (
Essas reflexões e as condições que as precedem nos levam às seguintes
conclusões gerais:
Nos setores privados da economia, os recursos são alocados para aqueles
1. Políticas de governos democráticos tendc:m a tàvorc:cer os que recebem rei1- us0s d~ n12! Jr rcrornv n1J.rg inal líquiào. Esse processo continua Jh~ que os
das baixas como classe, em vez dos que recebem rendas altas. retornos líquidos na margem sejam iguais em todas as direções , t<Jnto para
2. Conseqüentemente, como o mercado livre produz uma distribuição de cada unidade de planejamento quanto para a economia como um todo. Assim
renda altamente desigual, quanto mais efetiva uma democracia se torna conclui o raci ocínio geral da teoria econômica tradicional.
politicamente, maior é a interferência governamental no funcionamento Um governo que maximiza votos, no entanto, perturba esse equ ilíbrio·
normal da economia. marginal impondo certos custos obrigatórios a alguns dos que tomam decisões
3. A incerteza e o alto custo das informações redistribuem o poder político, de e tornando dispo níveis, para outros, beneficios subsidiados. Os que tomam
modo a contrabalançar a tendência econômica niveladora da democracia. decisões não podem retornar ao equilíbrio inarginal negociando entre si por-
Isso causa uma redução na quantidade de interferência governamental no que a venda de votos é proibida. Além disso, indi visi bilidades técnicas impe-
processo natural de distribui ção de renda. dem os governos de remediar essa situação seja (I) vendendo todos os servi-
4. Portanto, quanto maior o grau de incerteza na política, mais provável é que ços do governo num mercado livre, dando assim a cada cidadão a mes ma capa-
o governo seja menor- em termos de ação e tamanho- do que o seria numa cidade de manobra que ele tem no setor privado, seja (2) entrando em barga-
democracia perfeitamente informada22. nhas pessoais com os que tomam decisões privadamente. Finalme nte, a dife- (
5. Um planejamento governamental racional pode manter simultaneamente rença entre a distribuição cle votos e a distribui ção de rendas dá ao gove rno um
taxas muito variáveis de retorno -de utilidade descontado nas margens de incentivo de manter perdas e ganhos líquidos em margens de utilidade indi-
ação. Isso é verdade porque o governo equilibra as margens de utilidade de viduais, via redistribuição de renda. Isso confere uma tendência "Robin Hood"
indivíduos diferentes, umas contra as outras, em suas próprias margens de a seu comportamento, a menos que a incerteza aumente o poder político dos í
voto. grupos de alta renda.
(
6. Como resultado, a economia está sempre numa posição subótin1a, em ter- Um resu ltado desse abalo marginal é que um governo racional pode
mos paretianos. Uma posição ótima poderia ser alcançada em teoria por simultaneamente executar projetos com taxas muito variáveis de retorno de
meio de certas barganhas políticas, mas na prática elas não podem ser fei- utilidade sem realocar seus recursos dos retornos mais baixos nara os mais
tas sem colocar em risco a liberdade política garantida pela constituição . altos. Isso signif ica que sempre haverá um ótimo paretiano pos~ível que não
pode ser alcançado na prática.
Esses resultados todos advêm do comportamento perfeitamente racional Todos esses resultados nascem do desejo do governo de equipa rar retor-
por parte tanto dos agentes privados de planejamento quanto do governo, nos em suas margens de renda em votos, em vez de equipará-los nas margens
dados seus diversos propósitos. de renda de utilidade dos eleitores. Como o governo pode usa r de força para
implementar seus desejos, mas os que tomam decisões privadamente não
podem, o equilíbrio de utilidade deve dar lugar ao equilíbrio de voto sempre
que ocorrerem conflitos.
22. Essa conclu são não va le pa ra graus extremos de incerteza . Quand o existe ex trema incerteza, a ação
social se torna impossível porque não se podem fazer planos. Os homens reagem a esse caos instituin-
do fOrte con trole gove rnamental para retluzir a incerteza a níveis toleráveis, embora esse cqntrole nem
sempre caiba de direito aos agentes oficiais do governo. Portanto, à medida que aumenta a incerteza, o
con trole governamental primeiro decrescerá devido à intluência aumentada 1de grupOs de /aissez-.fàire
de alta renda. M esmo essa conclusão não é universalmente vál·(da~ I11?S, em todo s os sistemas, o contro-
le govcrnam~n tal no final aumenta muito quando o grau de i n c'e i·tez~f- at in ge proporções intoleráveis.

222 223
Parte III

EFEITOS ESPECÍFICOS DOS CUSTOS DE INFORMAÇÃO


11

O PROCESSO DE TORNAR-SE INFORMADO

INTRODUÇÃO

A teoria econômica tradicional presume que quantidades ilimitadas de


informação gratuita estão disponíveis para os que tomam decisões. Em con-
traste, procuramos descobrir como é a tomada de decisão política quando exis-
te a incerteza e a informação só pode ser obtida com um custo. Um passo bási-
co em direção a essa meta é a análise da economia de tornar-se informado, isto
é, a utilização racional de recursos escassos na obtenção de dados para a toma-
da de decisão. Embora esse processo não exista num mundo "perfeitamente
informado", veremos que, em qualquer modelo realista, ele afeta radicalmen-
te todo o procedimento de tomada de decisão.

OBJETIVOS

Neste capítulo, tentamos provar as seguintes proposições:

1. Num mundo incerto, os que tomam decisões racionalmente adquirem ape-


nas uma quantidade limitada de informação antes de fazer escolhas.
2. Todo relato é tendencioso porque o repórter deve selecionar apenas alguns
dos fatos existentes para passar para seu público.
227
UMA T!OORI!I ECONÔMICA DA DEMOCRACIA O PROCt"SSO DE 7VR N!IR-SE I NFORMADO

3. Um cidadão rac ional se mantém bem-informado ex pondo-se sistematica- uma ferramenta útil , livre de distorções que levam a fa lsas conclusões. Os princi-
mente a um conjunto específico de fontes de informação que esco lheu com pais passos da decisão raciona l de como votar e, depois, do voto são os seguintes:
esse fim.
l. Reunir informação relevante a cada questão sobre a qual importantes deci-
sões políticas foram (ou serão) tomadas.
I O PAPEL DA INFORMAÇÃO NA TOMADA DE DECISÃO 2. Para cada questão, se lec ionar, de toda a informação reunida, aquela que
será usada na dec isão de voto.
A. O processo de tomada de decisão e seus custos 3. Para cada questão, ana lisar os fatos selecionados para chegar a conclusões fac-
tuais específicas sobre possíveis políticas alternativas e suas conseqüências.
Pa ra tomar decisões racionais, um homem deve saber (I) qu ais são suas 4. Para cada questão , estimar as conseqüências de todas as políticas prováve is,
metas, (2) que maneiras alternativas de a lcança r suas metas estão abertas para à luz de metas re levantes. Essa é uma estimativa de valor, e não estritamen-
e le e (3) as conseqüênc ias prováveis da escolha de cada alternativa. O conhe- te factu al.
cimento de que ele necessita é conhecimento contextual, assim como inform a- 5. Coord enar as aprec iações de cada questão numa ava liação líquida de cada
ção, os quais são geralmente necessários a cada um dos aspectos de tomada de partido que concorre na eleição. Esse é também um ju ízo de valor, talhado
decisão mencionados acima. Mesmo a escolha de metas exige info rm ação, j á pessoalmente às metas do próprio eleitor.
que ape nas sua meta definitiva - sua idéia do estado social ideal - ex iste inde- 6. Tomar a decisão de vo to comparando as avaliações líqu idas de cada parti-
pendentemente de seu conhecimento da situação atual. A maior parte de suas do e pesando-as para futuras eventualidades.
outras metas são meios para esse fim máximo; daí que escolhê-los ex ige infor- 7. Realmente votar ou se abste r.
mação, assim como ideais.
Para propósitos de nossa presente análise, fazemos duas suposições sim- Cada um desses pa ssos, com exceção do último, pode ser delegado a uma
plificadoras a res peito da informação: (I) o conhecimento contex tual e a in for- outra pessoa que não o própri o eleitor. Se essa de legação ocorrer, passos ad i-
mação podem, ambos, ser tratados como informação, já que adquiri- los é d is- cionais devem ser ac rescentados para permitir a transmi ssão das· conclusões
pendioso e (2) nenhuma informação fa lsa é publicada por quaisquer fontes. desses agentes ao e lei tor, ou de um age nte para outro. Por exemplo, se um elei-
Essa última não significa que os fatos não podem ser manipulados, de modo a tor confia num perito para ap reciar os fatos referentes às políticas de energia
da r fa lsas impressões ; apenas significa que todas as afirmações factuais atômica, há um custo envo lvido na transmissão da opinião do perito ao eleitor.
podem ser aceitas como corretas sem maiores verificações, embora sua impor- Igualmente, o própri o perito pode ter tido que pagar pela reunião de dados feita
tância possa ser duvidosa. por outrem. Ass im, o custo de transmissão pode intÚvir entre os passos; se
Em nosso modelo, os cidadãos que não são membros do governo devem isso ocorrer, deve ser acresce ntado ao custo dos próprios passos no cômputo
tomar du as importantes decisões políticas: (1) como votar e (2) de que manei - do custo total da tomada de decisão.
ras - se houver alguma - exercer influência diretamente sobre a form ação de No que consiste esse custo') Por definição, qua lquer custo é um desvio de
políticas govern amentais. A diferença entre dec isões tomadas com esses dois recursos escassos de algum uso de produção de utilidade; é uma a lternativa
propós itos é di scutida em detalhe no Capítu lo 13. Neste capítulo, presumimos prévia. O principa l recurso escasso ·consumido nos passos aci ma é o tempo
que todas as decisões políticas são tomadas da mesma man eira; portanto, usado para assimilar da dos e pesar alternativas, mas muitos outros recursos
podemos ilustrá-las todas analisando a decisão de voto. também podem estar envo lvidos, especialmente nos passos de reunião e trans-
Para mostrar como o custo de informação colide com essa decisão, primei- missão . Dividimos todos esses custos em duas classes princ ipais:
ro traduzimos a lógica do voto, tal como descrito no Capítulo 3, numa série de pas-
sos distintos. Assim como a maioria das decompos_ições de processos dinâmicos I. Custos transferíveis podem ser transferidos do e leitor para outra pessoa.
unificados, a nossa pode parecer algo arb itrária, n'las acreditamos que ela forneça Separamos os custos transferíveis em três tipos:
228 22Y

'
.i,
UMA TEORIA ECON6MICA DA DEMOCRACIA O PIWCESSO DE TORNAR-SE INFORMADO

a. Custos de aquisição são os custos de reunião, se leção e transmissão de ção de uma só vez e (2) a assimilação e a avaliação de dados levam tempo, que
dados. é particularmente escasso na tomada de decisão, devido à pressão dos aconte-
b. Custos de análise são os custos da análise fac!ual dos dados. cimentos. Essas condições impõem a necessidade de se leção sobre todos os
c. Custos de avaliação são os custos de relacionar os dados ou as análises que tomam decisões, que devem escolher, da grande ofena de dados que exis-
factuais a metas específicas; isto é, de avaliá-los. tem, somente um número limitado para usar em suas dec isões.
2. Custos não-transferíveis são os que devem ser arcados pelo próprio e leitor. Além disso, como vimos na seção precedente, há custos vinculados á ,·
I
Teoricamente, todos os custos, exceto o de ir ás urnas, pode ser transferido aquisição ou uso de informação, além do tempo envolvido. Naturalmente, esse
para outros, mas presumimos, a menos que seja especificado de outra fato aumenta a pressão, sobre os que tomam decisões, para reduzir o número de
maneira, que o passo (6) é sempre executado pelo próprio eleitor; dai ele ter dados que usam. E como essa pressão existe ao longo do todo o processo de
de arcar pelo menos com o custo mínimo de assimilar informação ou juízos. tomada de decisão, surge um problema econômico em cada um dos passos
mencionados anteriormente: quanta informação (inclui ndo juízos) deveria ser
Obviamente, quanto menos passos o próprio ele itor executar, com menos enviada para o próximo passo? É verdade que a necessidade de seleção é intrín-
custos ele arca rá diretamente. Entretanto, ele pode transferir os passos descri- seca apenas ao primeiro passo, uma vez que é possível carregar tudo que é reu-
tos para outros e ainda arcar com os custos indiretamente, paga ndo os outros nido ao longo de todos os passos sem seleção posterior. Entretanto, essa práti-
para executar esses passos; por exemplo, um eleitor pode contratar alguém ca eliminaria a grande economia de reduzir continuamente a quantidade de
para tomar decisões sobre política externa para ele. dados transferidos de um degtau a outro da decisão. O tamanho dramático dessa
À primeira vista, pode parecer irracional que um eleitor delegue alguns economia é demonstrado por aqueles executivos que exigem que todos os dados
(
desses passos a outros, já que todas essas delegações o afastam um grau da rea- para cada decis1ío que tomam sejam reduzidos a uma página datilografada, não
lidade a que sua decisão diz respeito. Quanto á reunião, seleção e análise de importa quantos volumes tenham sido originalmente considerados relevantes.
fatos , fic a claro que a delegação é freqüentemente racional porque permite que Assim, da natureza econômica básica de tornar-se informado surge a neces-
o ele itor faça uso de economias de esca la e do conhecimento de es pecia li stas: sidade de seleção entre os dados. Imediamente, surge a questão crucial de como
(
M as a racionalidade da delegação não é tão óbvia no caso de juízos de valor decidir quais dados selecionar e quais rejeitar. A questão é crucial porque a res-
como os dos passos (4) e (5). As questões levantadas por essa delegação são posta escolhida determina que tipo de informação é usada na tomada de decisões, (
discutidas em detalhe no próximo capítulo. e, portanto, conforma as decisões e sua eficácia. Além disso, em cada etapa, com
exceção de (6), a seleção pode ser feita por outra pessoa que não aquela que toma
a decisão. Obviamente, quem quer que a faça tem uma influência potencialmen-
B. A necessidade e natureza dos principias de seleção te enorme sobre as decisões, mesmo que ele não' as tome ele próprio.
A análise precedente mostra que a informação é necessariamente reuni-
Num mundo perfeitamente informado, a informação está di sponí vel para da por meio de certos princípios de seleção: regras empregadas para determi-
qualquer um que toma decisões em quantias ilimitadas a custo zero, e ele não nar do que fazer uso e do que não. Pessoas diferentes usam regras diferentes,
precisa consumir seu tempo em fazer uso dela. Portanto, o probl ema de sele- mas todos devem usa r alguma regra- até mesmo a seleção a leatória segue uma
c ionar a informação mais relevante nunca se coloca: um planejador pode usa r regra . Portanto, toda informação é, por natureza, tendenciosa porque é uma
todos os dados que têm qualquer relação com sua decisão, não im porta quão seleção de dados a partir de uma vasta quantidade existente, dos quais outros
colossal seja seu número. Mas , em nosso mode lo, como no mundo rea l, inde- poderiam ter sido se lecionados!. Como disse Karl Mann heim:
pendente de quantCJs dados estão dispo níveis, a quantidade que alguém que
toma decisões racionais pode empregar, em relação a qualquer decisão, é estri-
tamente li mitada porque (l) a mente humana, mesmo quando ajudada por
I. Usamos deliberadamente a palavra tendenciosa para denotar essa carncterísti ca inere nte do relato, ape-
máquinas de calcular, pode abranger apenas urria quantia limitada de informa- sar de suas assoc iações emocionalme nte pejorativas. Quando ralamos do n::lato co mo tendencioso, não

230 231
UMA TEORIA IXONÓMICA DA DEMOCRACIA O PROCESSO DE 7VRNAR-SE INFORMADO

A his tóri a enquanto hi stória é ininteligívcl a me nos que algun s de se us aspectos Concluímos anteriormente que todo observador que rel ata um aconteci-
sejam enfatizados em contraste com outros. Essa se leção e ênfase de ce rtos aspectos da
mento deve se lecionar alguns fatos a transmitir e outros a omitir; assim, seu
totalidade histórica podem ser vi stos co mo o primeiro passo na direção que leva no final
re lato é inerentemente tendencioso. Seu método de seleção de faros depende
a um procedime nto ava liati vo c a ju izos ontológi cos 2
dos objetivos que tem quando fa z o relato; por exemplo, um méd ico russo re la-
taria a morte de Stálin de um modo, um cienti sta político britânico o faria de
Como a informação é essencialmente história de curto prazo, essa afir-
mação se ap lica plenamente ao processo de tornar-s e informado, que tem, ao outro modo e o jornal do Vaticano de outro modo ainda. Mesmo dentro dos
seu final , o procedimento avaliativo de tomada de decisões. Como a avaliação limites do relato político, métodos de seleção va riam muito segundo as filo ~o ­
começa com ênfase em - isto é, seleção de - certos dados em contraste com fias políticas dos repórteres, sua inteligência, sua experiênc ia em re latar; e
outros, toda essa seleção é ava liativa em a lguma medida. Em resu mo, não ex is- outras variáveis tais como seu talento para o dramático.
te um relato puramente obj etivo de quaisquer situações ou acontec imentos. Quando os cidadãos confiam em outrem para lhes relatar acontecimen-
tos, a raciona lidade decreta que eles selecionem aqueles repórteres que lhes
fo rnecem versêíes de acontecimentos que se aproximem estreitamente das ver-
I!. COMO OS PRINCÍPIOS DE SELEÇÃO SÃO ESCOLHIDOS RACIONALMENTE
sões que e les próp rios formul ariam, caso fossem testemunhas oculares espe-
cializadas. Para conseguir isso, e les têm que escolher repórteres cujos princ í-
Devido à divisão do trabalho, a maioria dos cidadãos, nas democracias pios de seleção são quase tão idênticos aos seus próprios quanto possíve l.
modernas, não reúnem por si mes mos a informação de que necessitam para Então, as inclinações inevitáveis dos repórteres auxi liarão sua tomada de dec i-
tomar decisões políticas. Milhares de agentes especializados jun ta m, interpre- são, em vez de dificultá-la s.
tam e transmitem essa informação, tornando-a disponível aos c idadãos numa Isso deixa duas questões sem resposta: (I) como podem os cidadãos
escolher seus próprios princípios de seleção racionalmente? (2) como podem
enorme va riedade de forma s, desde as transmissões televis ivas até as enc iclo-
pédias. Mas como os recursos que qualquer cidadã.o pode devotar ao pagamen- ter certeza de que aqueles que lhes fazem relatos sempre usam esses princípios
to e assimilação de dados são limitados, ele se ac ha numa situação de escéÍiha ou facsímil es próximos deles?
Os princípios de seleção de um homem são racionais se a aplicação deles
econômica: destas muitas fontes de informação, ele tem que se lecionar apenas
algumas às quais recorrer. lhe fornecer informação que s~j a útil para tomar decisões que ajudarão a efe-
O objetivo dessa esco lha é a criação de um sistema de aquisição de infór- tiva r o estado social que e le prefere a todos os outros. Obviamente, como os
mação que lhe forneça os dados que sejam tanto (I) escolhid os por meio de homens preferem estados sociai s muito variáveis, nenhum conjunto de princí -
princípios de seleção, de acordo com os seus próprios princípios, quanto (2) pios de seleção convém à todos os homens. Não obstante, esses princípios são
abra ngentes o suficiente para lhe possibilitar tomar as decisões com que se meios que tratam de fenômenos empíricos; daí, deveria ser poss ível a todo
defronta. Trataremos da amplitude de informação exigida ma is tarde. Aqui , cidadão testar diversos conjuntos deles para descobrir aquele que é o mais
nossa análise se conce ntra na maneira como os pri ncípios de se leção usados racional para ele- isto é, o mais útil na consecução de seus propósitos.
são escolhidos e testados. Um eleitor racional escolhe seus princípios de seleção fazendo uma amos-
tragem experi mental de relatos de várias fontes diferentes de informação simu 1-
ta neamente. Sua amostragem deveria incluir repórteres com princípios de sele-
ção muito diferentes; por exemp lo, um homem poderia ler o The New York
es tamos sugerindo que os dados ::t li sejam falsos, jâ que presumimos que to dos os dados são exatos, Times, o Daily Worker e o Chicago Tribune e comparar seus relatos. Em segui-
nem que o n::pórt e r seja imoral, umél vez que não se pode evitar o viés. Apen as te ncionamos dei.xar da , ele toma decisões hipotéticas com base na produção da fo nte de cada rela-
claro que a selt:Çélo e o arranjo dos fatos em. qualquer rel <lto S(iO inevitavelmente tin gidos pelo ponto
to. Aí, à medida. que a situação real se desenrola, avalia os resu ltados a que cada
de vista do repórter.
uma de suas decisões hipotéticas teria provavelmente levado. Os princípios de
2. Karl Mannheim, lcleology mui Utopia, Harvest Book Seri es· .-,~e.w~'o rk, Harcourt, l3race cm d Comp<llly,
I 955, pp. 93 -94. se leção que consistentemente o levam a tomar decisões com resultados os mais
232 233
.'

U.lt.i TI-:011/A f:CONÓM/C.i D.i Dt:AfOCIIAC/.4 O 1'/WCESSO DE TOIINAR-SH INFORMADO

próximo~ de se~1 ~stado social favorito silo os princípios que é mais racion:ll que mação sufic iente c toma sua decisão. O exemplo que usamos em no:sa análise
ele use. Sc~n duvala .. esse processo de verificação é imperfeito porque grande é a aplicação desse princípio il dccisiio que o cidadão toma e m r~laçao no voto,
parte dele c neccss:mamente h ipotético c, portanto, sujeito a erro. Não obstan- supondo que ele siga o procedimento de decisão exposto no Cap1tulo 3 .. _ . .
te, em nosso modelo, é o mecanismo de escolha mais racionai à1sponiH:I. :\ tomadJ d~ qualquer decisão pressupõe que aquel.:: que toma dt:c1soes .FI
_Depoi.s que o c~dadão racional escolheu aque le conjunto de princípios de possui um certo mínimo de informação. No mínimo. ele deve se dar conta de que
scleçao d~ mformaçao que acredita serem melho res para seus propósitos, des- tem uma decisiio a tomar t: estar cónscio d~ seu contexto geral. Assnn, antes de
cobre qums agentes de notíc1as também têm esses princípios. Entretanto, isso poder tomar uma decisilo de voto, um eleitor deve adquirir informação a respei-
não põe fim a suas pesquisas, já que ele tem que ocasionalmente checar esses to da data da eleição. o número de partidos concorrendo, seus nomes, os prçce-
agentes para se assegurar de que não estão se desviando dos princípios que d imcntos de voto, etc. Presumimos que o fluxo contínuo de informações gratui-
quer. Para isso, deve, de vez em quando, comparar os relatos deles com os de tas presente em todas as sociedades já tenha dado ao eleitor esse mínimo antes
outros agentes que também compartilham de seus próprios princípios. Por que ele comece a fàzer cálculos d etalhados sobre quanta infonnação ;ulquirir>.
exemplo. u m homem poderia simultaneamente consultar o The Neli' >'nrk Times, Três iàtores determinam o tamanho de seu investimento planejado de
o Hcra(d Trilmne de Nova Iorque c o Christian Science Monitor para ver como informaçiio. O primeiro é o valor que ele dú a tomar a decisão correta, em opo-
cada um cobriu a lguns conjuntos de eventos. Assim. reduz :1 probabil idade de sição a incorreta, isto é. à vnriação em rc11das de utilidade a ssociadas aos pos-
que qualquer agente individualmente possa se desviar sem ser de:scob..:rto. síveis resultados de sua dc.:cisão. O sc.:gundo é a rclevúncia da informação quan-
to a qualquer decisão que esteja sendo tomada. É provável que.: a aquisição desse
conhc.:cimento ...:specífJco influencie a dec isão de uma maneira ou de outra? Em
/11. A QUANTIDADE DE INFORMAÇiiO QUE t: IUCIONAI.ADQU/RIR caso positivo. quiio provável? Para responder a essas questões, deve-se fazer
uma estimativa d..: probabilida<le em re lação ús chances que qualquer informa-
Algumas pessoas obtêm informações como um fim em s i mesmo. ção tem de alterar sua decisão. Essa probabilidade é então aplicada no v.tlor de
Divertem- se ao ficar sabendo que Gn.:gory l'..:ck j:mtou no Stork C lub ontem a fazer a escolha certa (o mfor do voto, e m nosso exemplo). Disso surge o retor-
noite, ou que Santn Teresa de Lisieux realizou cinqüenta m ilagres. Ch:u{;amos no proveniente da informação que está sendo considerada, isto é, o retorno mar-
toda essa informação, obticb apenas para :1 cdific:tção que pro,)Qrcionn. de ginal proveniente do investimento em dados nessa margem especifica.
informaçiio de enlr!!tC'IIimc/110, não importa quão sério seja seu contetiClo. O terceiro hltor é o custo dos dados. O custo marginal de qualquer infor-
Entretanto, a maioria das informações é usnda como um meio que tem mação consiste dos retornos previstos em sua obtenção. Uma comparação do
como finalidade tomar decisões. Assim como ocorre co m todos os meios, a cuslo marginal estimado c do retorno marginal esti111ado de qualque r informação
utilidade dessa informação c a maneirn pela qunl é sckcion:~da dependem (la dctt:rmina se essa informação específica deveria ou não ser adquirida . Quando
finalidade a que servem. Classificamos todas a s dccisôcs q ue exigem esse se fizeram essas comparnções em relação a todas as informações, os dados a
tipo de informação em três tipos: decisões de produç:\o, decisões de consu- serem obtidos são determinados. Como discutimos tanto os retornos quanto os
mo c decisões políticas. Portanto, toda informaç:io que não seja de entrete- custos da informação em maior deta lhe nos próximos dois capítulos, não vamos
nimento pode ser classificada como inj(muação tlc produção, injórmaçfio de nos estender aqui nessa breve u..:scri.ç ão do processo de tomada de decisão.
consumo O·ll in/ill·flwçcio política, ou ·qualquer combinação delas, dependen- Nossa brevidade pode fazer com que a disparidade entre comportamento real
do de corno é usada. c os procedimentos em nosso mundo-modelo pareça notável, já que são poucos os
Para todos os três tipos de tomada de decisão, a regra básica pa ra decidir que realmente tomam decisão que parecem se comportar da maneira indicada.
quantos dados adquirir é a mesma. Aquele que busca a informação continua a Entretanto, os atos que descrevemos estão implícitos em qu::~lqucr tomada ele deci-
investir recursos na obtenção de dados até que o retomo marginal proveniente da são racional que requeira informação, ainda que a observação casual deixe de con-
informação se equipare a seu custo marginal. Aesta altura, presumindo retornos
'\ . ~

marginais decrescenres ou custos marginais cre'scC!rtes, ou ambos, ele tem in for"·


3. Ver Capitulo 12. Se-ção I

]Jf 235
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA O PROCESSO DE TORNAR-SE INFORMADO

firmar esse fato. Além disso, como veremos, muitos cidadãos racionais não obtêm para calcular seus modificadores de orientação futura. Assim, se os eleitores
praticamente nenhuma informação antes de tomar decisões políticas; desse modo, se concentrarem nessas áreas e ignorarem todas as outras, o ato de dar racio-
seu comportamento pode diferir muito do que descrevemos e ainda ser racional. nalmente um voto é extremamente simplificado.
Portanto, nosso mundo-modelo não está tão distante da realidade como parece. Através da divisão do trabalho, surgiu um conjunto de agentes que forne-
ce informação lidando principalmente com essas áreas diferenciais. Além
disso, essa informação é freqüentemente dada aos eleitores ou gratuitamente
IV A NECESSIDADE DE CONCENTRAR A ATENÇÃO ou a um custo muito baixo, porque muitos dos agentes que a fornecem são sub-
sidiados por pessoas outras que não as que recebem a informação.
O primeiro passo para determinar o valor de estar correto é a descoberta Analisaremos esses agentes em detalhe no Capítulo 12.
de quais resultados são possíveis e quais são as diferenças entre eles. Em nosso
exemplo, essa tarefa exige um esforço imenso. Como o governo por parte de
cada partido forma um resultado, quaisquer diferenças entre o modo como um V CARACTERÍSTICAS DE UM SISTEMA RACIONAL DE INFORMAÇÃO
partido controla o governo e o modo como seus oponentes o fariam são rele-
vantes, incluindo diferenças triviais na administração de agentes obscuros. Todo cidadão racional, no fim das contas, constrói, para seu uso político,
Naturalmente, essas diferenças não são igualmente relevantes, n1as é impossí- um sistema de aquisição de informação. Esse sistema consiste de um número
vel saber quais são as mais relevantes sem primeiro saber quais são todas. elas. limitado de fontes de informaÇão, de cuja produção de dados ele seleciona uma
Obviamente, o custo dessa descoberta é proibitivo para o eleitor médio. parte para usar em sua tomada de decisão política. Como explicado, ele é for-
Para fugir desse dilema, os eleitores precisam de um mecanismo para a çado a confiar em um processo bastante grosseiro de experimentação de ten-
concentração a priori de sua atenção apenas nos dados mais relevantes. Esse tativa e erro para construir esse sistema, mas, se esse surgir como um sistema
mecanismo lhes permitirá evitar a dificuldade desconcertante de saber tudo verdadeiramente racional, terá as seguintes características:
que o governo fez durante o período eleitoral e tudo que seus oponentes teria;n
feito, caso estivessem no governo. Esse mecanismo deveria concentrar atenÇão I. Os repórteres de dados, nele, usam princípios de seleção quase tão idênti-
apenas nas seguintes áreas diferenciais de decisão: cos aos seus próprios quanto possível.
2. É amplo o suficiente para relatar qualquer coisa de importância nas áreas
I. Áreas de decisão nas quais os partidos de oposição contestam as políticas diferenciais, ainda que estreito o suficiente para pôr de lado dados que não
dos que estão no poder e oferecem políticas alternativas. vale a pena conhecer. Em resumo, concentra a atenção do cidadão em fatos
2. Áreas de decisão nas quais o atual pmiido governante mudou os métodos do pertinentes à sua tomada de decisão.
governo de reagir a situações ou de lidar com elas, isto é, mudanças na políti- 3. Ele lhe proporciona informação suficiente a respeito de cada questão para
ca ou competência de desempenho, tal como as comparadas com governos que suas decisões sejam tomadas, dado seu desejo de investir em informação.
anteriores. 4. Tem suficiente pluralidade interna para que as partes do sistema possam ser
3. Áreas de decisão nas quais as situações às quais o governo deve reagir são usadas como verificações da exatidão umas das outras e do desvio dos próprios
marcadamente diferentes das existentes em governos anteriores. Esse princípios de seleção do cidadão. Para serem eficazes como verificações
conhecimento permite a .comparação do que o governo fez com o que os mútuas, as fontes de informação têm que ser independentes, assim como nomi-
governos anteriores teriam feito. nalmente separadas; por exemplo, uma estação de rádio e um jornal que usem
apenas os relatos da Associated Press realmente não checam um ao outro.
O conhecimento da primeira dessas áreas (políticas contestadas) é neces-
sário e suficiente para calcular o atual diferencial_partidário; o conhecimento A criação e manutenção desse sistema racional naturalmente absorve
das duas últimas (novas políticas e novas situações)ié necessário e suficiente recursos escassos, cujo custo deve ser equilibrado em relação aos retornos pro-
23ó 23 7
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA

venientes ela informação obtida. Portanto, a extensão do sistema depende


muito da natureza desses retornos, que analisamos no Capítulo 13.

VI RESUMO 12

A tomada de decisão é um processo que consome tempo e outros recur-


sos escassos; desse modo, deve-se praticar economia na determinação de COMO OS CIDADÃOS RACIONAIS
quantos recursos serão empregados nele. Esse fa to força os que tomam deci- REDUZEM OS CUSTOS DE INFORMAÇÃO
sões a selecionar apenas parte da informação total disponível para uso ao fa zer
escolhas. Os princípios de seleção usados dependem da finali dade para a qual
a informação é um meio, mas a lguns princípios são inerentes em todo relato;
assim, toda informação é tendenciosa por sua própria natureza.
Numa sociedade complexa, a informação qu e é usada por um c idadão é
freqüentemente reunida, transmitida e analisada por outros. Se for para o usuá-
rio saber o que sua informação realmente significa em termos de sua tomada
de decisão, ele deve ter certeza de que esses outros têrwos mesmos princípios
de seleção que ele, ou saber como seus princípios diferem dos dele. INTRODUÇÃO
Até mesmo a escolha de nossos próprios princ ípiós de se leção é difícil ,
mas, por um processo de tentativa e erro, cada c idadão racional ac ha um con- Os cidadãos racionais, num mundo incerto, ficam sob grande pressão
junto que melh or serve a seus f ins políticos. Ele deve verifi car suas fontes de para reduzir a quantidade de recmsos escassos que usam para obter informa-
dados ocasionalmente a fim de detectar qualquer desvio desses princípios. ção política. Neste capítulo, examinamos seus métodos de red ução de custos
Cada cidadão decide quanta inform ação adquirir utilizando o princípio bási- de dados para descob rir quão efetiva mente esses métodos fun cionam e qual o
co de custo-retorno marginal da Economia. O retorno marginal proveniente de impacto que podem ter sobre a distribuição de poder político em nossa demo-
(
informação é ca lcu lado primeiro pesando a impottância de se faze r uma decisão cracia- modelo.
certa, em vez de errada. A ess~ valor é aplicada a probabilidade de que a infor- Nem todo comportamento que descreveremos resulta necessariamente de
mação sendo considerada será )ltil na tomada dessa decisão. O custo marginal é nossos axiom as originais; alguns derivam em parte de algumas novas suposi-
o custo da oportunidade de adquirir essa informação. Grande parte desse custo ções que faze mos neste capítulo. Esses postulados são acrescentados para tor-
pode ser transferida daquele que toma a decisão para outros, mas o tempo para nar nosso mode lo mais re levante ao mundo real. Entretanto , ele não deveria ser
assimilação é um custo não-transferível. O que toma decisão continua a adquirir interpretado como uma rép li ca do mundo real, nem a análise que fazemos de le
informação até que o retorno marginal se equipare ao custo marginal para ele. deveria ser vi sta como uma descrição de processos reais de comunicação.
Para evitar o exame de todos os dados existentes, os que tomam decisões Formular uma te oria abrangente de comunicações/ e propaganda' requer a
procuram fontes de informação que concentram sua atenção em certas áreas exploração de uma extensa pesqu isa nesses campos - uma tarefa que não
re levantes de conhecimento. Cada um selec iona a lguns coletores e transmisso- podemos rea lizar em nosso presente estudo. Embora acreditemos que nosso
res e os molda num sistema pessoal de aqui sição de informação. Para ser racio- modelo oferece possibilidades como uma base pa ra tal teoria, nosso propósito
nal, esse sistema deveria ter o vi és apropriado, estar bem foc ali zado, fornecer ao usá-la aqui é muito menos g randiosa.
dados adequados mas não supérfluos e conter a lgvma plui·alidade interna. /
\
\
(
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(
UMA TEORIA E:CONÓMICA DA DEMOCRACIA COMO OS CIDADÃOS RACIONAIS REDUZEM OS CUSTOS DE INFORMAÇÃO

OBJETIVOS me tempo; e se ele a assimila ou pensa sobre ela, esses atos consomem mais
tempo. Assim, a menos que o custo de oportunidade desse tempo seja zero, o
Neste capítulo, tentamos provar as seguintes proposições: que é improváveL ele tem que sacrificar um recurso escasso para obter infor-
mação. Esse sacrificio é um custo não-transferível. Entretanto, há muitos
l. O fluxo de informação gratuita da sociedade sistematicamente fornece a outros custos vinculados à informação que são transferíveis: a maioria dos cus-
alguns cidadãos mais informação politicamente útil do que fornece a outros. tos de reunião, seleção, transmissão, análise e até mesmo avaliação de dados
2. Certos especialistas na divisão do trabalho agem automaticamente para pode ser transferido a outrem.
reduzir custos de dados drasticamente e para concentrar a atenção dos cida- Quando falamos de informação gratuita, nos referimos à informação que é
dãos nas áreas mais relevantes à sua tomada de decisão política. dada a um cidadão sem qualquer custo transferível. O único custo com que deve
3. Mesmo quando os retornos provenientes de tomada de decisão correta são arcar consiste do tempo que gasta absorvendo e utilizando-a. Esse custo varia
infinitos, os homens racionais às vezes delegam parte ou toda a sua toma- enormemente, dependendo da natureza dos dados. Por exemplo, o tempo que um
da de decisão política a outros; daí poderem ser totalmente desinformados homem gasta prestando atenção ao aviso "Cuidado!", quando pisa no meio-fio, é
sobre política. mínimo comparado ao tempo que usa lendo o Relatório Econômico do Presidente,
4. Em qualquer socied~de que contenha incerteza e uma divisão do trabalho, embora o primeiro possa ter retornos infinitamente maiores do que o último.
os homens não serão igualmente bem-informados politicamente, não Os cidadãos, numa democracia, normalmente recebem informação polí-
importa quão iguais sejam em todos os outros aspectos. tica gratuita das seguintes maneiras:
5. Qualquer conceito de democracia baseado num eleitorado de cidadãos
igualmente bem-informados pressupõe que os homens se comportam 1. O partido governante publica grandes quantidades de informação como
irracionalmente. parte intrínseca de suas atividades de governo.
2. Todos os partidos políticos, incluindo aquele no poder, divulgam informa-
ção partidária com o propósito de influenciar eleitores.
I. O FLUXO DE INFORMAÇÃO GRATUITA 3. Editores profissionais distribuem alguma informação que é completamen-
te subsidiada por publicitários (por exemplo, folhetos de propaganda, pro-
A. A natureza efontes de informação gratuita gramas de televisão).
4. Grupos de interesse publicam informação gratuitamente a fim de persuadir
Toda sociedade proporciona a seus membros um fluxo constante de os cidadãos a aceitarem seus pontos de vista.
informação gratuita sobre uma variedade de assuntos. Essa prática resulta dos 5. Outros cidadãos privados fornecem dados gratuitos sob a forma de cartas,
contatos cara a cara em todas as culturas e da necessidade de estreita coopera- conversas, grupos de discussão, discursos, etc 4 .
ção pessoal na produção, atividades de lazer, na criação de crianças e na ação 6. As fontes de entretenimento às vezes produzem informação política como um
política. Também pode ter raízes psicológicas na curiosidade do homem e na beneficio excedente do que tenciona ser um investimento de entretenimento
sua necessidade de relações pessoais com os outros. A amplitude de tópicos (por exemplo, o jornal num cinema). Alguns cidadãos também buscam infor-
coberta por esse fluxo varia entre as culturas e no interior de cada uma, mas
podemos razoavelmente supor que, nas sociedades democráticas, não há proi-
bição colocada sobre a livre circulação de dados políticos. Daí o fluxo de infor- 4. A pesquisa empírica indica que essa fonte é, provavelmente, a mais importante politicamente, mesmo
mação gratuita ser um fator potencialmente significativo em nosso modelo. em nações tecnologicamente avançadas como os Estados Unidos. Podemos, portanto, presumir que
Antes que vejamos exatamente quão significativo, devemos explicar o sempre foi a mais significativa, já que sociedades mais antigas não tinham os meios alternativos de
que queremos dizer com informação "gratuita". Nenhuma informação que um comunicação disponíveis hoje. Para um discussão detalhada desse assunto, ver E. Katz e r. F.
Lazarsfeld, Personallnf/uence, Glencoc, lllinois, The Free Press. 1955, e P E Lazarsteld, B. Berclson
homem recebe é completamente sem custo. SjmpJesmente percebê-la conso- ,
e H. Gaudet, The Peovle ~s· Choice, New York, Columbia University Prcss, ! 948.
240 241
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA
COMO OS CIDADÃOS RACIONAIS REDUZEM OS CUSTOS DE INFORMAÇÃO

mação política direta puramente pelo seu valor de entretenimento porque gos-
pela antropologia, consideramos apenas os usos políticos mais superficiais da
tam de rivalidade e guerra política. Quaisquer valores estritamente políticos
informação gratuita em nosso estudo.
que obtenham são subprodutos do excedente de consumo do entretenimento.
7. Igualmenre, a infonnação adquirida no curso da tomada de decisões de pro-
dução ou de consumo pode ter valor político. Já que esse va lor é incidental
B. A quantidade de dados gratuitos recebidos pelos cidadãos
ao propósito para o qual os dados são obtidos, pode ser considerado como
um benefício gratuito.
O fator m ais importante para determinar quanta informação gratuita um
homem pode receber frutiferamente é sua capacidade de arcar com os custo's
A informação política gratuita proveniente dessas fontes é de dois tipos: não-transferíveis inerentes a toda informação. Por essa razão, a quantidade de
acidental e buscada. Dados acidentais são subprodutos das atividades não-
tempo que ele pode gastar se informando é de suprema importància. Homens
políticas do cidadão; eles advêm para ele sem qualquer esforço especial de sua ociosos ou homens cujo horári o de trabalho inclui tempo para absorver infor-
parte para achá-los. Assim, seu custo em tempo é geralmente muito mais baixo
mação têm as maiores oportunidades de assimilar dados gratuitos. Embora não
do que o dos dados buscados. As fontes (5), (6) e (7) produzem principalmen-
haja nenhuma razão para supor que o tempo livre esteja correlacionado à
te dados acidentais; ao passo que os dados das fontes (2), (3) e (4) são geral~
renda, a capacidade de superar um segundo custo - o do acesso a canais de
mente ignorados pelo cidadão, a menos que esteja especificamente procuran-
·· informação gratuita- definitivamente aumenta com a renda. De fato, a infor-
do informação política. A fonte (1) produz ambos os tipos.
mação recebida pela televisão e estações de rádio não é gratuita devido a esse
Nem todos os cidadãos recebem a mesma quantidade de dados gratuitos, custo inicial de acesso. Mas, uma vez tendo sido paga a taxa de acesso, a infor-
tampouco aqueles que recebem a mesma quantidade são igualmente capazes
mação pode ser obtida a um custo marginal de quase zero.
de fazer uso deles. Qualquer um com tempo livre pode adquirir quantidades
Um outro fator a influenciar a quantidade de informação gratuita que um
infinitas de dados buscados , mas as variações na quantidade de dados aciden-
homem recebe é a natureza de seus contatos informais, tanto no trabalho quan-
tais recebidos podem resultar de diversos outros fà tores também. Na realida-
~ de, as variações sistemáticas na quantidade de informação gratuita recebida e
to durante suas horas de lazer. O tipo de dad o que um homem obtém através
desses contatos varia de acordo com sua classe social e com a porcentagem de
\ a capacidade de ass imilação podem influenciar fortemente a distribuição de
seus contatos que atravessam as fronteiras da classe social. O presidente de
) poder político numa democracia.
uma firma gigante freqüentemente recebe informação de significado político (
·\c, Antes de explorar essas variações, deveríamos salientar que o principal
nacional em conversas com seus colegas; ao passo que um lavador de pratos
-...~apel da informação gratuita em nosso modelo é agir como um chão para
pode jamais ouvir uma discussão sobre política ..
todos os tipos de cálculos racionais. É a base de estimativas preliminares de
O tipo de informação de entretenimento que os homens procuram afeta
entidades tais como diferencial partidário, o retorno marginal proveniente de
ainda mais a quantidade de dados políticos gratuitos que recebem. Por exem-
informação, o custo marginal de informações, e o custo do voto. Usando qual-
plo, um homem que lê História como hobby pode descobrir muitos dados poli-
quer informação gratuita que tenha às mãos, o cidadão racional pode adivinhar
ticamente pertinentes de maneira acidental. Como os leitores de muitas publi-
quão grande é cada um desses itens e assim determinar se obtém ou não mai s
cações baratas orientadas para o entretenimento obtêm beneficios semelhan-
informação antes de tomar sua decisão política .
tes, é difícil dizer se esse acesso aos dados gratuito's varia ou não de acordo
Como a informação gratuita é também o principal instrumento para a
com a renda.
aculturação de cada pessoa, ela realmente desempenha um papel muito mais
Finalmente, o grau em que a ação do governo afeta diretamente os
significativo do que aquele mencionado acima. Além disso, esse papel está
homens determina a quantidade de informação gratuita que recebem como
diretamente relacionado com a política, porque o tipo ele aculturação que uma
parte do processo de governo. Os homens que lidam com o governo nos negó-
sociedade proporciona a seus membros det~rmina em parte se a democracia
cios, ou são seus membros, estão automaticamente informados sobre pelo
nela será bem-sucedida ou não. Entretanto, a fim de evitar quaisquer excursões,
menos algumas ele suas decisões politicamente relevantes.
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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA COMO OS CIDADÃOS RACIONAIS REDUZEM OS CUSTOS DE INFORMAÇÃO

Na última parte desse capítulo, discutimos maneiras pe.las quais essas prio nome sug<!re, diz respeito a mudanças na situação que vale a pena
variações e as variações na capacidade de uso de informação gratuita podem conhecer. Naturalmente, o fato de os editores se concentrarem no tipo de
afetar a distribuição de poder político em nossa democracia-mode lo. dados que os consumidores querem não signi fica que eles sempre usam os
princípios de seleção política que os consumidores querem. Entretanto, eles
realmente livram os consumidores .do peso extraordinário de examinar tudo
li. COMO A ATENÇÃO É CONCENTRADA antes de escolher as poucas coisas que são suficientemente relevantes para
PELOS FORNECEDORES DE INFORMAÇÃO merecer consideração.

Como salientamos no último capítulo, a tomada de decisão política,


numa democracia de grandes dimensões, não pode ser realizada sem custos B. ·Grupos de interesse
fantástico s, a menos que (1) a informação seja reunida para aqueles que
tomam a decisão por alguns especialistas e (2) a informação que cada cidadão Como seu objetivo primeiro é influenciar a atual política do governo, os
recebe se pré-concentra nas áreas diferenciais de decisão. Essas cond ições grupos de interesse geralmente concentram sua energia de atenção nas políti-
gera is devem prevalecer antes que os indivíduos possam começa r a reduzir cas que parecem estar para mudar. Eles fazem isso quer apoiem ou se oponham
seus custos pessoais de dados para que eles sejam condizentes com seus retor- à mudança dessas políticas. Portanto, não despendem recursos divulgando
nos pessoai s provenientes de informação. questões obsoletas mas se cm1centram nos itens mesmos que são extremamen-
Na maioria das democracias modernas, a divisão do trabalho delega essas te relevantes à tomada de decisão política dos cidadãos. Naturalmente, há
funções para um conjunto de fornecedores especializados de info rmação. Ao exceções a essa regra. Não obstante, a maioria dos dados disseminados por
se especializar em obter informação, esses agentes redu zem tremendamente 0 grupos de interesse diz respeito a acontecimentos nas áreas diferenciais, em
custo unitário dos dados e desse modo tornam possível aos indivíduos a com- parte porque a movimentação desses grupos ajuda a decidir quais assuntos
pra da informação - embora, geralmente, não sem subsídio. E ao seleciorí; r, acham-se dentro daquelas áreas.
para apresentação, apenas os dados dentro de áreas diferenciai s, eles res~lvem
o problema da concentração da atenção. Há quatro tipos principais de fornece-
dores de informação, em nosso modelo, diferentes de pessoas privadas, que C Partidos políticos
presumimos serem não-especialistas em última instâ ncia dependentes, no que
diz respeito aos dados, dos especialistas que discutimos. Como cada tipo tem Em primeiro lugar na lista dos objetivos de todos os partidos vem a vitó-
diferentes motivações para suas ações, os trataremos separadamente5 ria nas eleições. Todas as informações que eles publicam estão dirigidas a essa
meta e são portanto relevantes à tomada de decisão política. É verdade que os
partidos ocasionalmente divulgam dados irrelevantes, uma cortina de fum aça
A. Coletores de dados profissionais e editores deliberada, a f im de encobrir fatos desfavoráveis ou de aumentar a ambigüida-
de de suas posições6. Além disso, cada partido tradicionalmente produz uma
Os coletores de dados profissionais e promulgadores transm item ape- grande quantidade de platitudes hipócritas elogiando a bandeira, a maternida-
nas informação de área diferencia l porque isso é o que os consumidores que- de e o lar. Entretanto, a maioria das emanações de todos os partidos são ou ata-
rem, e seu objetivo é lucrar ag radando seus clientes. "Notícia", como 0 pró- ques a seus oponentes ou defesas de si mesmos, assim eles enfati zam os ele-
mentos mesmos, a partir dos quais se formam diferenciais.

5. Embora algumas organizações não-lucrativas, não-políticas _(por exemplo, faculdades e universidades)


também divulguem dados, a mai oria desses dados chega aos~,dd ~H~ào s através de u;n dos quat ro canais ~
mencio nados; portanto, não tratamos esses grupos como um quinto tipo de fOnt e de in fOrmação. • 6. Ver o Capítulo 8 pant uma discussão detal hada dessa ambigü idude .

.I 245

I
UMA TEORIA I::CONOMICA DA DEMOCRACIA
COMO OS CIDADÃOS RACIONAIS REDUZEM OS CUSTOS DE INFORMAÇÃO

D. O governo modelo, o eleitor A, espera um retorno dado, X; seu problema é manter seus
custos de informação no nível de·x e ainda maximizar seu conhecimento .
Além da produção de informação habitual de um partido político, o
Para ilustar as principais abo rda gens desse problema, vamos supor
governo deve distribuir grandes quantidades de dados como pane intrínseca
que A está no momento investindo mais do que X em informação política
do ato de governar. Esses dados incluem diretrizes administrativas, promul-
e deseja reduzir seu inves timento. Pode fazê-lo de uma ou mais das seguin-
gações de leis novas, anúnci os de suas descobertas de pesquisa, e outros
tes maneiras:
informes que dá a seus c idadãos ao longo de suas operações. A grande maio-
ria desses dados são configurados unicamente pelas necessidades de admi-
1. Reduzir a quantidade de informação que está recebendo, isto é, absorver
nistração e não têm natureza política. Não obstante, fornecem importantes
menos informações e portan to usar menos recursos em obtê-las e assimilá-
evidências para os cidadãos que estão tomando decisões políticas, porque
las. Esse método tem a desvantagem de diminuir a quantidade de conheci-
informam esses cidadãos que políticas o governo está executando. Como
mento qu e entra nas decisões de A, aumentando assim a probabilidade de
quaisquer mudanças nas políticas devem ser particularmen te bem providas
que elas serão incorretas.
de instruções aos afetados, muita dessa informação se concentra em áreas 2. Receber a mesma quantidade de informação, mas reduzir seus custos de
diferenciais de ação .
obtenção,
Entretanto, ~ provável que esse avanço submerja no enorme dilúvio de a. utilizando mais informação gratuita, ou
informação que os governos produzem. Apenas mantendo um contato pura-
b. aceitando subsídios para esses custos sempre que possível, ou
mente superficial com o governo o cidadão pode obter dele quaisquer benefi-
c. fazendo ambas as coisas acima.
cios, já que ficará sabendo apenas das mudanças mais importantes de políti-
3. Manter o mesmo fluxo de informação em suas decisões políticas, mas dele-
cas. Mas essa superficialida de pode lhe fazer deixar passar dados mais signi-
gar parte da tomada dessas decisões a outros,
ficativos mas menos divulgados, publicados pelo governo. No conjunto, é
a. usando o aconselhamen to de especialistas para reduzir custos de análise,
duvidoso se a informação não-política fornecida pelos governos auxi lia ounão
ou
a concentrar a atenção dos cidadãos nas áreas diferenciais. Apenas se ef~ for
b. empregando os juízos explícitos de valor de outros para reduzir os custos
filtrada por agentes de notícias profissionais o joio será separado do trigo, de
de avaliação, ou
modo a que o volume total não seja esmagador. Nesse caso, naturalmente, o
c. fazendo ambas as coi sas acima.
foco é dado por esses agentes, não pelo próprio governo.

A primeira dessas alternativas não requer maiores desenvolvime ntos,


mas as outras, como são um tanto mais complicadas, as examinaremos mais
I!I. COMO OS CIDADÃOS RACIONAIS REDUZEM OS CUSTOS DOS DADOS
detidamente.

A. O problema e sua solução básica


B. A tran.~j'erência de custos de obtenção
Mesmo quando a maior parte dos seus dados políticos são pré-focalizado s
em áreas de relevância geral, o homem racional deve tomar medidas adicionais
Se um homem não deseja delegar a outros a análise e avaliação dos fatos
para aumentar sua eficiência. Portanto, ele procura (1) não gastar mais tempo e mais do que j á o fez, seus meios de cortar o custo de decisões políticas são
dinheiro obtendo informação política do que seus retornos lhe asseguram e (2)
limitados. Na realidade, se presumirmos que e le não pode ap render a pensar
receber tantos dados qu anto possível de quaisquer recursos que realmente use.
mais rápido e não quer usar menos dados, tudo o que ele pode fazer é conse-
No próximo capítulo, discutiremos o tamanho provável dos retornos provenien-
guir a mesma informação que antes com menos gas tos. Isso pode ser feito de
tes de informação política. No momento, valho-s· ~upor que nosso cidadão-
duas maneiras.
246
247
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA COMO OS CIDADÃOS RACIONAIS REDUZEM OS CUSTOS DE INFORMAÇÃO

A primeira é usar mais informação gratuita. Como vimos anteriormente, O principal inconveniente de usar dados parcialmente subsidiados é o
a informação gratuita, em nossa sociedade-modelo, vem de uma variedade de mesmo que o de usar dados completamente subsidiados: os princípios de sele-
fontes, que podem ser divididas em duas classes: pessoas e não-pessoas. essa ção incorporados nos dados diferem dos princípios de quem toma a decisão,
última composta principalmente dos meios de comunicação. Assim, por exem- de tal modo que ele pode ser levado a decisões erradas. Como vimos no últi-
plo, um homem pode obter mais dados gratuitos conversando mais freqüente- mo capítulo, esse perigo é inerente a todos os dados selecionados por alguém
mente com seus amigos bem-informados ou lendo os jornais na biblioteca diferente daquele que toma a decisão, quer subsidiados ou não. Todavia, o peri-
mais cuidadosamente. Esses atos reduzem os custos que paga pela informação, go se acentua ainda mais em dados subsidiados porque aquele que toma a deci-
se substituir os outros dados pelos quais costumava pagar pelos dados que são não pode forçar o fornecedor a se conformar a seus próprios princípios ;Se
obtém dessas maneiras. a renda do fornecedor for parcialmente provida por homens com outros prin-
Que tipo de fonte de dados gratuitos é provável que um homem racio- cípios. Como em qualquer mercado onde um grande número de consumidores
nal use mais? O contato pessoal com os outros que já obtiveram dados tem de pequena escala é servido por alguns produtores de grande escala, nenhum
a vantagem de produzir diversos outros tipos de benefícios, tais como o pra- consumidor tem suficiente poder de barganha para int1uenciar os produtores.
zer da companhia deles e a capacidade de dirigir a discussão de modo a obter Assim, sempre que se fornece informação a consumidores a custos baixos,
informação mais precisa. Igualmente, em geral é mais fácil contatar pessoas devido a produção em massa ou a subsídios ou a ambos, cada consumidor
relativamente bem-informadas do que localizar literatura ou transmissões ganha financeiramente apenas sacrificando o controle sobre os princípios de
gratuitas, que estão espalhadas em muitos lugares. Finalmente, dados gratui- seleção por trás da informaÇão. A menos que seus princípios de seleção éoin-
tos não-pessoais são, com freqüência, totalmente subsidiados por fontes inte- cidam com os dos fornecedores de dados, esse sacrifício pode contrabalançar
ressadas em divulgar seu próprio ponto de vista. Desse modo, a informação completamente seu ganho econômico.
emitida por partidos políticos, compradores de favor, grupos representativos Não podemos descrever os efeitos exatos dos subsídios ou do marketing
e outros inf1uenciadores é escolhida estritamente de acordo com seus pró- massivo de dados sem fazer uma análise detalhada de toda a estrutura de
prios princípios de seleção, que provavelmente não coincidem com C?S do comunicação da sociedade. Por razões declaradas na introdução deste capítu-
cidadão. Em contraste, com freqüência, é relativamente fácil pará um lo, o presente estudo não é lugar para tal empreendimento. Assim, devemos
homem descobrir alguém conhecido que tenha princípios de seleção como os nos limitar à conclusão de que os subsídios podem causar alguma distorção
seus próprios. na distribuição de poder político, mas não podemos especificar sua natureza
Por todas essas razões, nossa expectativa a priori é que, se puderem, os a priori.
cidadãos racionais procurarão obter de outras pessoas sua informação política
gratuita. Essa expectativa parece ser corroborada pelas evidências existentes7.
A segunda maneira de cortar custos de obtenção é utilizar informação C. Delegação da análise e avaliação como um meio de reduzir custos
parcialmente subsidiada. Nas democracias modernas, a maior parte dos meios
de comunicação de massa são subsidiados ou por anunciantes comerciais ou Em qualquer sociedade altamente especializada, muitas áreas de decisão
pelo governo; desse modo, quase todo cidadão racional que obtém muita infor- colocam problemas literalmente incompreensíveis para aqueles que não são
mação recebe alguma que é subsidiada. Em última análise, os subsídios são especialistas. Contudo, não-especialistas têm que ter opiniões a respeito da
pagos pelos compradores de produtos anunciados ou pelos pagantes de impos- adequação das políticas seguidas nessas áreas, a fim de tomar importantes
to. Mas como os receptores não precisam ser idênticos às pessoas que pagam, decisões políticas. Por exemplo, a natureza da defesa nacional numa era atô-
podemos tratar os primeiros separadamente dos últimos. mica é um problema político crucial tanto para a sobrevivência da nação quan-
to para a alocação adequada de seus recursos. Mas as questões envolvidas são
tão complexas que quase todos que não são especialistas nelas devem confiar,
' -~
no que toca a suas opiniões, naqueles que o são.
7. Ver K8tz e Lazarsfe!d, op. cit.; e Lazarsfcld, Bcrclson e Gaudêt, cit.

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UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA COMO OS CIDADiOS RACIONAIS IIEDUZEM OS CUSTOS DE INFORMAÇiO

A divisão do tra balho cria esse problema mas também o resolve, já que os passos avaliativos de suas decisões a outros. Portanto, é menos provável que a
os cidadãos podem comprar as opiniões generalizadas dos especia listas em delegação de avaliação ocorra, em nosso modelo, do que a delegação de análise,
cada área com um custo muito mais baixo do que aquele com que arcariam que, por sua vez, é menos provável de ocorrer do que a delegação de obtenção.
produzmdo opmiões comparáveis eies mesmos. Essa economia é tão enorme Para ser racional, aquele que delega a avaliação deve determinar pes-
que a ação política racional numa democracia de grandes dimensões é impos- soalmente se o agente que seleciona (I) tem metas semelhantes às suas pró-
sível sem uma transferência da análise fatu al para especialistas. prias, (2) possui mais dados que ele próprio e (3) tem poderes de j ulgamento
Mas como pode o cidadão não-especialista saber se as aná lises dos que são, na pior das hipóteses, não tão inferiores a seus próprios que contra -
especialistas são ou não exatas? Felizmente, os padrões profissionais na balancem as vantagens de melhor informação. Essa.s condições n ão precisaln
maioria das áreas de especialização fornecem uma checagem independente valer para todas as áreas das decisões do agente, mas apenas para aquelas que
da perícia que o le igo pode usar ao escolher um especialista a quem consul- aquele que delega tenciona confiar ao juízo do agente. Por exemplo, A pode
tar. Mesmo os especialistas discordam entre si, mas a maioria reconhece cer- discordar de B sobre segregação racial e não obstante delegar racionalmente
tos métodos padronizados de procedimento como válidos. Se um especialis- a B uma decisão avaliativa sobre política externa, área na qual A e B concor-
ta segue à risca esses padrões e além di sso demonstra capac idade, ga nhará dam quanto às metas.
uma reputação em sua profissão que os não-espec ialistas podem usa r como Com o intuito de descobrir se pode ou não confiar no julgamento de um
uma verificação .de sua confiabilidade. Essa verifi cação nâo é de modo provável agente, aquele que toma uma decisão racional tem . primeiro que
algum infalível, mas reduz acentuadamente a incerteza com que os não-espe- investigar o agente, checando seus juízos passados. Isso significa que a dele-
cialistas se defron tariam sem ela. gação ava liativa - como toda delegação racional - freqüentemente envolve um ,.
Embora a transferência da aná lise de fatos para os especialistas redu za o '
custo de seleção de agentes. Podemos dividir os agentes em três grupos: (1)
custo dessa análi se enormemente, algum custo ainda permanece. Ele deve ser pessoas como quem o que delega tem contatos cara a cara, (2) grupos de inte-
pago pe lo próprio cidadão (em cooperação com os outros cidadãos que estão resse, inclusive partidos políticos, com quem o que delega se identifica quan-
comprando a mesma informação), a menos que ele o transfira para subsidia- to a uma ou mai s questões e (3) especialistas profissionais de avaliação que
dores ou obtenha acesso ao trabalho do especialista através do flux o de infor- v ivem da venda de seus julgamentos a outros (por exemplo, colunistas políti-
mação gratuita. Reduz ir o custo da especia lização é, portanto, exatamente o cos, comentadores e editoria listas). Cada um que toma decisões pode fazer uso (
mesmo que reduzir o custo da obtenção, que discutimos anteriormente. de diversos agentes, de qua lquer um ou de todos os tipos. Por exemplo, um
Infelizmente, a natureza da avaliação impede o desenvo lvimento de qual- homem poderia aceitar os pontos de vista da Associação Médica Americana,
quer verificação objetiva da exatidão semelhante à profissionalização entre os de um fazendeiro amigo dele, e de Walter Lippmann em suas várias áreas de
especialistas. A avaliação é um processo de julgamento dos meios à luz dos fin s; especialização, e daí ele próprio fazer um balanço de todas essas avaliações ao
assim, os fins são de grande importância, mas os fins políticos variam de pessoa decidir como votar. Para economizar tempo, sua esposa poderia delegar sua
para pessoa, sem padrões objetivos disponíveis para escolher entre eles. decisão de voto inteiramente a ele. Esses atos são todos maneiras altamente
Naturalmente, como salientamos no último capítulo, mesmo a seleção e a aná li- eficientes de reduzir custos de dados e ainda fazer juízos baseados em infor-
se de fatos são parcialmente avaliativas, mas pelo menos alguns padrões objeti- mação ampla.
vos de procedimento podem ser construídos no que diz respeito a elass. Com o Há qua lquer razão a priori para esperar que um tipo de agente seja mais
isso não pode ser fe ito no que toca a atos explicitamente ava liativos, os que freqüentemente empregado que outros no mundo real? Na realidade, a distri-
tomam decisões racionais devem ser extremamente cuidadosos quanto a delegar buição de freqüê ncia de consultas não pode ser determinada sem investigação
empírica, mas suspeitamos que as pessoas são mais freqüentemente usadas
como avaliadores do que outros agentes. Nosso raciocínio aqui é exatamente o
8. Nesse caso, objetivo significa assentidos am plamente entre-~sp~ci~ li sras e outros cujo bcm.estar est{l
mesmo que aquele exposto anteriormente para sustentar nossa opinião de que
\ i_
envolvido. as pessoas são a fonte de informação gratui ta mais amplamente usada.
250
251
UMA TEORIA ECON6MICA DA DEMOCRACIA
COMO OS CIDADÃOS RACIONAIS RED UZEM OS CUS7VS DE fNFORMAÇ
rfO
D. A relação de delegação com os retornos provenientes de il?fàrmação
decisões políticas a outra pessoa é irracional - daí os partidos políticos não
poderem nunca ser agentes de delegação racional.
A análise precedente leva a uma conclusão surpreen dente : pode ser
Há apenas uma exceção a essa regra: se um eleitor acredirar que um certo
racional para um homem delegar a outrem parte de ou toda a sua tomada de
partido procurará maximizar votos atendend o aos desejos de um grupo de inte-
decisão política, não importa quão importante seja que ele tome decisões cor-
resse específico ou segmento do eleitorado, e se suas próprias metas forem
retas. Para provar essa asse rção, vamos supor um caso extremo em que um
idênticas às metas daquele grupo ou segmento, então ele pode racionalm ente
cidadão, S, deve decidir qual dos diversos partidos concorrentes governar
á delegar toda a sua tomada de decisão política àquele partido. Entreta nto, e~e
uma nação inteira durante o próximo período eleitoral. Qual é a maneira mai
s deve investigar as políticas, a fim de descobrir se existe tal identidade entt:e
racional de ele fazer sua escolha? suas próprias metas e aquelas de um grupo grande a quem o partido poderia
Obviamente, S não pode ser especialista em todos os campos de políticas
atender. Esse tipo de delegaçã o ex ige que ele arque de qualquer maneira com
que são relevantes para sua decisão. Portanto, ele procurará ajuda junto aos
alguns dos custos de informação sobre políticas.
homens que são especialistas nesses campos, têm as mesmas metas políticas
que ele e têm bom discernimento. Além disso, se S souber que T, em quem ele
confia, tem metas políticas gerais semelhantes às suas e mais discernimento
IV. O IMPACTO DO PODER DIFEREN CIAL DA INFORMA ÇÃO
que ele próprio, então é racional para S delegar a decisão final para T se esse
último tiver informação igual à de S. Em resumo, o caminho mai s racional
A. Va riações na C([pacidade de uso de dados políticos
para S é não tomar decisões ele mesmo, exceto a decisão de quem deveri
a
tomar decisões; qualquer outro caminho é irraciona l, mesmo se a vida de S
depender de se a escolha certa é feita ou não.
Nesse caso, os retornos provenientes de info rmação são realmente muito
I Dada a quantidade total de informação política que um homem recebe,
sua capacidade de usá-la depende principalmente de três fatores: ( l) o tempo
que ele pode se dar ao luxo de gastar assimilando-a, (2) o tipo de conhecimen
grandes, contudo a racionalidade ainda exige delegação de ava liação, a~sim -
to contextual que ele tem e (3) a homogeneidade entre os princípios de seleção
como de obtenção e análi se. Essa delegação não apenas assegurará a melhor
por trás da informação e seu s próprios princípio s de seleção. Como j á discuti-
decisão possível, mas também reduzirá os custos de S enormemente - daí ele
ter uma dupla motivação para ela. \ mos (l) na Seção I deste capítulo, examinaremos apenas (2) e (3) aqui.
A educação é a pri ncipa l fonte de conhecimento contextual. Entreta nto,
Não obstante, em condições normais de voto, os cidadãos em nosso
não é preciso que seja educação fo rmal, já que o treiname nto no trabalho pode
modelo não podem racionalmente considerar os partidos concorrentes numa
ser tão eficaz quanto o treinamento na escola. Assim, a escolaridade formal de
eleição como possíveis agentes para delegação. Se evitarem pensar em políti-
um homem e o seu tipo de trabalho têm uma relação importante com sua capa-
cas e selecionarem um partido porque seu pessoal está bem-informado e tem
cidade de fa zer uso significativo de dados atuais. Eles conformam não apenas
bom discernim ento, estão agindo irracionalmente. Isso é verdade mesmo que,
seu conhecimento contextual em gera l, mas também sua capacidade específi-
no mundo real , essa delegação de avaliação aos partidos ou candidatos seja
ca de tomar decisões . Não podemos afirmar a priori que tipos de ocupaçõe
provavelmente comum e possa até mesmo às vezes ser racional. s
permitem maior tra nsposiçã o de conhecim ento para o processo de tomada de
O x da questão reside no pressuposto de metas comuns, necessár ias à
decisões políticas; isso pode ser determinado apenas por estudos empírico
delegaçã o racional. Segundo nossa hipótese, fu ncionários do partido estão s
muito complexos. Tudo o que podemos dizer é que ( 1) a divisão de trabalho
interessados apenas na maximização de votos, nunca em produzir qualquer
definitivamente produzi rá di fe renças entre os homens no que diz respeito à sua
estado social específico p er se. Mas os eleitores estão sempre interessados
capacidade de usar dados e (2) na medida em que a educação formal torna
nesse último. Portanto, um eleitor racional que não seja n_m funcionário do par- a
tomada de decisão mais efi ciente, as crianças de grupos de alta renda, que
tido não pode presumir que membros de qualquer. partido tenham metas seme-
geralmen te recebem melhor educação do que as dos cidadãos de baixa renda,
lhantes às suas próprias. Mas, sem essa supos'içã Ó~ a delegação de todas as
tendem a ter uma vantagem.
252
253
UMA TEORIA ECONOMICA DA DEMOCRACIA COMO OS CiDADÃOS RACIONAIS REDUZEM OS CUSTOS DE INFORMAÇÃO

Se os princípios de seleção por trás dos dados que um homem recebe não comunicar seu conhecimento especializado aos outros sem custo. Portanto,
são homogêneos (isto é, semelhantes ou idênticos), então ele pode encontrar podemos concluir o seguinte:
diferentes versões das mesmas ocorrências, mesmo que todos os fatos indivi-
duais relatados sejam verdadeiros per se. Assim, um cidadão que atribui o I. Qualquer conceito de democracia baseado num eleitorado de cidadãos
mesmo peso a artigos no Daily Worker e no Freeman pode achar-se perplexo igualmente bem-informados é irracional; isto é, pressupõe que os cidadãos
com interpretações opostas dos mesmos eventos. Confusão semelhante pode se comportem irracionalmente.
resultar se um homem recebe informação apenas de fontes cujos princípios de 2. As bases de poder político diferencial numa democracia se' radicam ná
seleção diferem dos seus próprios, por exemplo, um trabalhador que não pode natureza mesma da sociedade.
se dar o luxo de ler outra coisa que não o único jornal diário em sua cidade, que
é controlado por um editor conservador. Os confl itos que surgem nessas situa- Além disso, para sermos minimamente realistas, devemos acrescentar às
ções tendem a paralisar a tomada de decisão ao criar incerteza. Mais uma vez, forças diferenciadoras acima mencionadas a distribuição desié,'Ual de renda.
é difícil generalizar quanto ao impacto desse fator sem investigação empírica. Toda informação é cara; portanto, aqueles com rendas altas podem arcar melhor
Uma conclusão tentativa poderia ser a seguinte: como os meios de comunica- com os custos de obtê-Ia do que aqueles com rendas baixas. Como vimos nos
ção de massa em muitas democracias são de propriedade de, ou são dominados capítulos anteriores, ~ sse fato distorce ainda mais o funcionamento do princípio
mais por, interesses de alta renda do que de baixa renda, é mais prováve l que os de igualdade política - o princípio que está no coração da teoria democrática.
cidadãos de baixa renda recebam dados selecionados por princípios que se cho-
cam com os seus próprios do que os grupos de renda mais alta. Não sa bemos
qual é o tamanho do efeito que tem esse conflito. Entretanto, ele contribui para V RESUMO
a vantagem geral, dos grupos de alta renda, produzida pela necess idade de arcar
com os custos de obter informação política. Toda sociedade fornece aos seus membros um flu xo de informação isen-
to de custos transferíveis. Nas democracias modernas, embora nem todos os i
cidadãos recebam a mesma quantidade de dados políticos gratuitos, todos eles
B. O custo de infàrmação e igualdade de influência política usam o que quer que tenham para fazer estimativas preliminares de se vale ou
não a pena adquirir mais informação.
Um fato se sobressai de toda a análise neste capítulo: em qualquer soc ie- Um pré-requisito necessário à ação política racional é a pré-concentração
dade marcada por uma ampla divisão do trabalho e pela presença da incerteza, da atenção nas áreas diferenciais de decisão. Essa finalid~de é cumprida pelos
o custo da informação tem que ser diferente para homens diferentes . Portanto, fornecedores de informação política que agem por variadas razões de interes-
a quantidade de dados que é racional um homem adquirir pode ser muito maior se pessoal. Para reduzir seus custos pessoais de obtenção de dados, o cidadão
ou mui to menor do que a quantidade que é racional para· um outro homem racional pode começar a usar mais informações gratuitas, que ele provavel-
adqui rir. Essa conclusão é válida mesmo quando os retornos provenientes de mente obterá de outras pessoas em vez dos meios de comunicação. Um outro
informação são idênticos para todos. método de redução de custos é aceitar informação subs idiada, embora ao fazê-
Se nosso mundo-modelo fosse povoado por indivíduos raciona is com lo o cidadão possa perder algum controle sobre os princípios de seleção por
inteligência igual, interesse igual nas políticas governamentais e rendas iguais, trás da informação.
eles não seriam, todavia, igualmente bem-informados politicamente. Na rea li- Em culturas complexas, uma parte essencial da tomada de decisão polí-
dade, muitos deles poderiam saber quase nada sobre política porque delegaram tica é a delegação a outrem de diversos passos no processo. Quase toda obten-
suas decisões para outros. A divisão do trabalho sempre coloca os homens em ção de dados e muita análise factual são feitas por agentes especializados em
diferentes posições sociais com acesso a informações variadas e necess idades vez de por aqueles que tomam a decisão. Ao utilizar esses agentes, os cidadãos
dessas informações, e a falta de conhecimento p~rfeito impede cada um de · podem cortar seus custos enormemente.
254 255
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA

Decisões avaliativas são mais dificeis de delegar porque não há padrões


profissionais pelos quais se podem reconhecer especialistas. Aqueles que dele-
gam têm, portanto, de selecionar apenas agentes cujas metas sejam semelhan-
tes às suas próprias e cuja informação seja mais ampla do que sua própria. É
13
muito prováve l que a delegação de avaliação seja feita a outras pessoas, em vez
de aos grupos de interesse ou peritos profissionais. Isso, às vezes, é racional,
mesmo quando os retornos provenientes de informação são muito altos, embo-
OS RETORNOS PROVENIENTES
ra os partidos políticos não possam ser tratados como agentes para delegação
racional em nosso modelo. DA INFORMAÇÃO E SUA DIMINUIÇÃO
Mesmo se os homens recebessem a mesma quantidade de dados, nem
todos poderiam usá-la com igual eficiência. Na realidade, a divisão do traba-
lho e a presença da incerteza garantem que os homens racionais serão politi-
camente informados em diferentes graus. Assim, as bases das desigualdades
de poder são inerentes às sociedades democráticas, mesmo que a igualdade
política seja suq. premissa ética básica.

INTRODUÇÃO

Os cidadãos adquirem informação política por duas razões principais: (I)


para ajudá~lo s a decidir como votar e (2) para formar opiniões com as quais
podem influenciar a formação de políticas governamentais durante o período
entre as eleições. A decisão de voto é tomada em vis ta das políticas que o
governo perseguiu durante o período eleitoral. É a reação do e leitor ao que
·quer que o governo já tenha feito. A decisão formadora de opini ão se destina
a influenciar a formação de políticas governamentais durante o período eleito-
ral; não é uma reação post fa cto às decisões governamentais, mas uma mode-
ladora ativa delas.
Naturalmente, o próprio ato de votar é um meio de influenciar as políti-
cas futuras do governo através da se leção de governantes que fizeram promes-
sas específicas. Também já influenciou políticas passadas porque a ação do
governo foi condicionada pela maneira como ele julgou que os homens vota-
riam. Portanto, do ponto de vista do governo, não há muita diferença entre
esses dois usos de informação. Mas, do ponto de vista do cidadão, as diferen-
ças são enormes, como veremos.
Neste estudo, ignoramos todos os motivos para se obter informação polí-
tica que não sejam os dois mencionados acima. Alguns cidadãos têm prazer em
discutir política ou seguir campanhas; outros obtêm prestígio social em coque-

256 25 7
t..UUUJI._,

UMA TEORI,1 ECONÔMICA DA DEMOCRACIA


OS RETORNOS PROVENIENTES DA INFORMA ÇÃO E SUA DIMINUIÇÃO

téis ao parecerem bem -versados em atualidades. Classificamos a informação


obtida para todos esses propósitos como informação de entretenimento, não tidos no governo a qualquer um dos outros. A margem de sua preferência é seu
importa quão políticos seus conteúdos possam parecer. diferencial partidá rio, como explicado no Capítulo 3; ele forma o retorno _bási-
co sobre o qual se calcula o retorno marginal de se mvestlr em mformaçao.
Vamos supor temporariamente que apenas um cidadão está votando;
OBJETIVOS
assim, seu voto decide que partido irá governar. Nesse caso, seu diferencial
partidário representa para ele o custo de votar errado, ou ,~lhando p~ra Isso d~
Neste capítulo, tentamos provar as seguintes proposições: modo inverso, a recompensa por estar certo. "Estar certo aqm s1gmfica sele:-
cionar 0 partido que realmente dará ao cidadão uma renda de utilidade mai's
l. Os cidadãos que mais se importam com qual partido vence uma dada elei- alta a partir de seus atos no governo do que qualquer outro partido; ao passo
ção têm a menor necessidade de informação; ao passo que aqueles para que "estar errado" significa selecionar alguU: outro partido e desse modo per-
quem a informação é extremamente útil não se importam com quem vence der a margem de utilidade que o melhor partido proporcwna.
a eleição. Obviamente, se um eleitor for indiferente a que partido o governa ~ isto
2. Para muitos cidadãos, a aquisição de quaisquer dados políticos não-gratu i- é, se seu diferencial partidário for zero ~ele não tem nada a ganhar com estar
tos é irracional, assim como o é a aquisição de muitos dados políticos gra- informado. Se ele comete um erro e vota no partido errado, não sofrerá qual-
tuitos, até mesmo durante campanhas eleitorais. quer perda de utilidade. Não há realmente nenhum partido "errado" para ele;
3. A rnaíoria dos cidadãos numa democracia não vota cotn base nos seus ver- ass im 0 retorno potencial sobre qualquer informação política que obtenha
dadeiros pontos de vista políticos. Portanto, o governo democrático pode para fins de votação é zero. Mas como se gasta tempo na absorção de quais-
deixar de fornecer à maioria de seus cidadãos todos os beneficios que eles quer dados, o custo de informação política nunca é zero. Aparentemente, os
poderiam obter dele. homens com diferenciais partidários zero são irracionais se investirem em
4. Apenas alguns cidadãos podem racionalmente tentar influ enciar q. forma- qualquer informação política que os ajude a tomar sua decisão de voto.
ção de cada política governamental; para a maioria, é irracional saber qual- Mas como um eleitor sabe qual é seu diferencial partidário se não inves-
quer coisa sobre a form ulação até mesmo daquelas políticas que os afetam. tiu em informação? Para descobrir se é zero ou não, ele deve obter alguns
5. Em gera l, as decisões econômicas de um governo racional numa democra- dados. Na realidade, descobrir o nosso diferencial partidário é idêntico a tomar
cia são tendenciosas contra os consumidores e a favor dos produtores. uma decisão normal de voto ~ a primeira é simplesmente nossa terminologia
6. A desigualdade do poder político é inevitável em toda sociedade grande para a última.
marcada pela incerteza e por uma divisão do trabalho, não importa o que Aqui nos defrontamos con1 o fato de que, no mundo incerto de nosso
diga sua constituição ou quão iguais seus cidadãos sejam em todos os modelo, assim como no mundo real , tomar uma decisão de voto é um ato dinâ-
outros aspectos. mico. Devemos portanto analisá-lo como um processo que ocorre no tempo e
consiste de passos distintos. O primeiro passo é a estimativa de nosso diferen-
cial partidário, seja (1) por meio ela informação gratuita que absorvemos na
I ADQU!IUNDO INFORMA ÇÃO PARA VOTAR
vida quotidiana, seja (2) por meio de dados obtidos num investimento explo-
ratório feito exatamente com esse propósito.
A. O papel do diferencial partidário A estimativa preliminar do diferencial partidário é o retorno básico sobre
0 qual cálculos subseqüentes se funda mentam. É o custo estimado de se estar

Por que um homem racional vota? Em nosso modelo, votar é um meio de errado, extraído sem exame sério do custo e retornos de se fazer a estimativa.
selecionar o melhor governo possível entr~ os partidos que concorrem pela Desse ponto em diante, entretanto, os custos e retornos de todos os dados
tarefa. Portanto, um homem racional vota po'tqU:~' preferiria ter um desses par'- devem ser pesados, e a informação deve ser obtida apenas se seu retorno pre-
visto excede seu custo.
251(
259
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMO
CRACIA
OS RETO IINOS PrWVENIENTES DA
INFORMAÇÃO E SUA DIMIN UIÇÃO
B_ Informações e seu uso na tomada de decis
ão Para esclarecer esse processo, vamos supo
r que o cidadão Z estimou seu
Um eleito r racional se interessa apenas diferencial partidário em 50 unidades e é então
pela informação que pode ria confrontado por uma única infor-
muda r sua decisão preliminar de \'ato, isto mação. Sua aquisição custa 10 unidades e
é, a dec isão indicada pela sua pri- tem os seguintes valores proYáYeis:
meira estim ativa de seu diferencial partid
ário. Embora toda informação seja
cara, apenas essa informação fornece retor 0.5 probabilidade de ser 100,0 unidades
nos em term os de uma · decis ão
melhor ou maio r confiança na decisão atuaL 0.4 probabilidade de ser -10,0 unidades
Desse modo , esse é o único tipo
de dado s que é racional adquirir. 0.1 probabilidade de ser - I 00,0 unidades
-;
Para desco brir se uma dada informação pode
ria fazê-lo mudar de idéia , o Seu valor previsto é, porta nto, 36, o que
eleitor a compara com seu diferencial partid significa que é improvável que
ário estimado. Aquela informação faça o eleitor muda r de idéia ; na realid
pode ser traduzida numa mudança positiva, ade, provavelm ente aume ntará -seu
nega tiva ou zero da renda de utili- diferencial parti dário. Entretanto , há 10%
dade que ele espera obter se um dos partid de chance de que o eleitor mude
os for eleito. Essa mud~nça afeta sua posição de apoio a um partido por
diretamente seu diferencial partid ário, uma 50 unida des para uma posiç ão de
vez que esse últim o é a diferença apoio ao partido rival por 50 unidades. Assim
entre a renda de utilid ade que ele espera , se .o eleito r deixa de comp rar
obter se os detentores do cargo forem a informação e seu valor é, na realid ade,
reele itos e a que ele espera obter se os rivais - 100, incorre num a perda em renda
deles venc erem. Se houver uma de utilidade de 40 unid ades votando no parti
chance razoável de que o diferencial partid do errado (supo ndo,q ue seu voto
ário que ele tem agora seja comple- decid a a eleiç ão) I. Esse exeniplo mostra
tamente anulado pela muda nça que essa infor que ele deve cons idera r a distribui-
mação indica, ele a adquire. ção inteira de cada info rmação e não apen
Entretanto, é extremamente dificil para o as seu valor previ sto quando da
cidadão estimar que mudança
em seu diferencial partidário ele pode esper avaliação .
ar de uma dada informação. Como ,
rar como a ,tj1}~­
as informaçõ es não são independe ntes umas O objetivo dessa análise detalhada é most
das outras, a orde m em que são ~ e uma informaçã o vari a em relaç
adquiridas é crucial. Por exemplo, suponham ão a seu valor e variação prev istos .
os que a informação X informa- A comp ensa ção p revis ta de uma infor maçã
rá ao eleitor se o partido A é ou não secre o é a quan tidad e de utilidade que
tamente dirigido por subversivos, e a é provável que um eleito r econ omiz e muda
informação Y se ele apóia uma tarifa alta ndo sua decis ão , como resul tado
ou baixa sobre o queijo. Obviamen- do receb imento dos dado s na porção. Se
te, o valor da informação Y depende inteir não é prov ável que uma infor ma-
amente do conteúdo da informação ção mude a decisão dele, sua comp ensaç
X, j á que, se o partido A for subversivo , ão prevista é zero, mesmo que seu
sua políti ca sobre a tarifa do queijo é va lor prev isto não seja zero. Quando a
irrelevante. Portanto, as informações não comp ensa ção previ sta de uma infor-
podem ser avali adas iso ladamente, maçã o supe ra seu custo , ele a comp
mas deve m ser consideradas em conj untos rará; do contr ário, não o fará.
. O método exato de exame a ser Obvi amen te, o tamanho da compensaç
usad o é um problema estatístico que não ão prevista de qualq uer infor maçã o
podemos discutir aqui. No entanto, depe nde do tamanho do diferencial parti
daqui em diant e, semp re que nos referirmos dário estim ado ao qual ela é aplic a-
a informação, quere mos dizer um da, assim como da própria informação.
conjunto de informações considerado como No caso de uma infor mação com
uma unidade. variação dada e valor previ sto dado , quan
Outra dificuldade é a conversão do valor to maio r for o difer encia l parti dá-
previsto de uma informação em rio de um eleito r, me nor será a comp
sua comp ensação prevista. Tudo o que um ensaç ão previ sta da info rmaç ão e
eleitor realm ente sabe sobre cada
informação antes de adqui ri-la é (1) uma meno s provável será que ele a comp re.
lista de seus possíveis valores, (2) a Em outra s palavras, quanto mais um eleito
probabilid ade associada a cada valor e (3) r apoiar originalmente urri par-
seu custo. Esse conhecim ento é real- tido em detriment o de outro , menos prová
ment e um conjunto de estimativas subje vel será que ele compre informação
tivas baseadas em qualquer info rma-
ção que ele j á ten ha adquirido. Com base
nela, ele pode calcular o valo r pre-
visto da info rmação e sua va riação, que ele
pesa contra '0 custo dela e seu dife-
rencial partidário ao decidir se vai adquiri-la
qu ·p~o- I. Sua perda é 40 em vez de 50 porque ele
tem de deduzir, do ganho que obteria
vota ndo corretament e. o
custo da compr a da in formm;ão.
260
261
'-VUUJG

UMA TEOR IA ECONOMICA DA DEMOCRACIA OS RETORNOS PROVENI ENTES DA INFORMA ÇÃO E SUA DIMINUIÇ40

política, ceteris parihus2 Se ele tiver uma forte preferência no início, é preci- centenas, milhares ou até mesmo milhões de outros cidadãos também se qua-
so uma grande quantidade de informação adversa para fazê-lo mudar de idéia. lificam para votar; assim, o voto de cada homem é apenas uma gota num vasto
Apenas uma série de informações com uma gama de valores que incluem valo- oceano. A probabilidade de que seu voto decida a eleição, dados os votos de
res negati\·os altos pode faze r isso. Como uma série assim não é usual na maio- todos os outros, é extremamente pequena, embora não seja zero. Seu tamanho
ria das campanhas políticas, os cidadãos racionais que têm fortes preferências varia dependendo de como é provável que os outros votem. Por exemplo, se
no começo de uma campanha provavelmente não usarão muitos dados divul- uma comunidade é dividida quase igualmente entre Republicanos fiéis e
gados durante ela. Com exceção de quaisquer informações gratuitas que absor- Democratas intransigentes, o voto de qualquer homem tem uma maior chanc ~
vam incidentalmente, é provável que fiquem desinformados. de decidir uma eleição local do que se a da comunidade for 85% Republicana.
Por outro lado, um eleitor que é indiferente no início pode também se Ou se 95% dos eleitores numa área se mantiverem longe das urnas, a probabi-
sentir apático em relação a se tornar informado. É verdade que seu incentivo lidade de que qualquer voto, entre os outros 5%, seja decisivo é muito maior
para adquirir informação é maior do que o do eleitor altamente partidário, já do que se 100% votasse, ceteris paribus.
que quase qualquer informação pode fazer com que ele transfira seu voto de Mas não importa que condições prevaleçam, todo eleitor racional perce-
um partido para outro. Mas, a menos que novos dados revelem uma mudança be que ele não é a única pessoa votando. Esse conhecimento altera radicalmen-
muito grande em alguma renda prevista, realmente não faz muita diferença te sua visão da importância de seu próprio voto. Se ele for o único eleitor, o
para ele quem vence. Portanto, é irracional para ele adquirir muitas informa- custo para ele de votar incorretamente é medido pelo seu diferencial partidá-
ções caras a menos que tenham ou valores previstos grandes ou variação alta rio, porque um voto incorreto elege o partido errado. Mas, de fato, há um gran-
em relação a seu diferencia l partidário original. Apenas esses dados podem de número de outros eleitores. Portanto, o partido que no final das contas
aumentar seu diferencial partidário, de modo que ele não mais seja indiferen- :, vence provavelmente será eleito não importa como ele vote, contanto que os
te quanto a votar corretamente. outros cidadãos votem independentemente dele. Assim, o custo de ele ter erra-
Concluímos portanto que (!)a informação é relativamente inútil para do não pode ser medido pelo seu diferencial partidário, já que esse erro pode
aqueles cidadãos para quem importa que partido vai vencer e (2) aquelys·cida- não alterar o resultado.
dãos para quem a informação é ex tremamente útil não se importam com quem Ao invés disso ele deve descontar seu diferencial partidário muito antes
vai vencer. Em resumo, ninguém tem um incentivo muito grande para adquirir de chegar ao valor d~ votar corretamente. Esse ~#rjkfé composto com
informação política. base em suas estimativas de seu diferencial partidário e da probabilidade de
que seu voto seja decisivo. Como o valor de voto mede o possíve l custo de
estar inadequadamente informado, é do valor de voto, e não do diferencial par-
C. Por que o dij"erencial partidário deve ser descontado tidário, que · ~ informação relevante para o ato de votar extrai seu valor.
Devemos portanto substituir o diferencial partidário estimado pelo valor de
Ao longo dessas considerações, presumimos que cada cidadão se com- voto, que é quase infinitesimal na maioria das circunstâncias, em todos os cá l-
portava como se seu voto sozinho determinasse a eleição. Mas, na realidade, culos delineados acima. O resultado é um incentivo enormemente reduzido
para os eleitorei; adquirirem informação política antes de votar.
Embora não possamos fazer previsões a priori de exatamente quão
2. A maior part e dos esiudos empíricos chega à conclusão exa tamente co ntrária. M os tram que quanto ma is pequeno é esse incentivo, parece provável que, para muitos cidadãos numa
parridfl ri o é um homern, melhor i11l"Üm1ado é prová vel que seja. Em nossa opinião, essa descoberta indi- democracia, o comportamento racional exclui qualquer investimento em infor-
~a q.u~ as pessoas se informam proporcionalmente a seu interesse no resul tado, não proporcionalmente
a ut11!dad e dos dados para a decisão de como votar. Se lbr ass im, a boa informaç ão dos homens irá
mação política per se. Não importa quão significativa se revele uma diferença
variar em propo rção direta ao tamanho de seus diferenciais paÚidárips. Do ponto de vista das eleições entre partidos ao cidadão racional por sua informação gratuita, ou quão incer-
~er se, esse co mp ortamento é irracional a menos que o~ dad_os seja m usados para persuadir outrem; isto to ele esteja em relação a que partido apoiar, ele percebe que seu voto quase
e, a menos que os eleito,·es bem-informados sejam agita~G.'·es,. Ver r. F. La za rsfeld, B. Berelson e (-1.
Gaudct, op. Cll. ·. • não tem chance nenhuma de influenciar o resultado. Portanto, por que deveria
262 21)3
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA OS RETORNOS PROVENIENTES DA INFORMAÇlO E SUA DIMINUIÇlO

comprar informação política? Ao invés disso, é provável que ele confie exclu- tores expressarem suas verdadeiras opiniões ao votar3. Por suas " verdadeiras"
sivamente no fluxo de informação gratuita que recebe durante suas atividades opiniões, nos referimos às opiniões que ele teria se julgasse que seu voto deci-
não-políticas. Nem ao menos utilizará toda a informação gratuita disponh·el, diria o resultado.
já que assimilá-la leva tempo . Mas, na realidade, seu voto não é decisivo: ele se perde num mar de
Essa conclusão não equivale a dizer que todos os homens politicamente outros votos. Desse modo, ele ser ou não bem-informado não tem impacto per-
bem-informados são irracionais. Um homem racional pode comprar informa- ceptível sobre o beneficio que obtém. Se todos os outros expressarem suas ver-
ção política porque(!) deseja influenciar as políticas do governo, (2) sua pre- dadeiras opiniões, ele obtém os beneficios de um eleitorado bem-informado
visão de como os outros eleitores agirão indica que é relati vame nte alta a pro- não importa quão bem-informado seja; se todos forem mal-informados, e'le
babilidade de que seu próprio voto seja decisivo ou (3) ele extrai valor de não pode produzir esses beneficios ele próprio. Portanto, como em todos os
entretenimento ou prestígio social desses dados. Não obstante, no que diz res- casos de beneficios indivisíveis, o indivíduo é motivado a negligenciar sua par-
peito ao voto, acred itamos que é racional para uma grande parte do eleitora- cela dos custos : recusa-se a obter informação suficiente para descobrir suas
do minimizar investimento em dados políticos. Para eles, comportamento verdadeiras opiniões. Como todos os homens fazem isso, a eleição não refl ete
racional implica tanto uma recusa a gastar recursos em informação política o verdadeiro consentimento dos governados.
per se quanto uma limitação definida da quantidade de informação política Além disso, o remédio usual para essas situações não pode ser aplicado
gratuita absorvida. nesses casos. Normalmente, indivíduos que recebem benefícios indivisíveis
dão poderes de coerção a um governo, que então força cada um deles a pagar
sua parcel a do custo. Desse modo, todos ganham, como explicamos anterior-
D. O impacto da indivisibilidade mente. Mas, numa democracia, o governo não pode forçar as pessoas a serem
bem-informadas pelas seguintes razões:

Essa v1são de racionalidade se choca com a idéia tradicional dçvbom 1. Não há maneira confiável, objetiva e barata de medir quão bem-informado
cidadão numa democracia. De fato, todo o conceito de governo representativo um homem é.
se torna bastan te vazio se o eleitorado não tem opiniões a serem representadas. 2. Não há uma regra acordada para decidir quanta informação de que tipo
Se assim for, como podemos defender nossas conclusões? cada cidadão deveria ter.
Não é possível, neste estudo, explorar plenamente o contraste entre 3. A perda de liberdade envolvida em forçar as pessoas a adquirir informação
modelos éticos tradicionais de democracia e nosso próprio modelo. Entretanto, iria provavelmente superar de longe os beneficios a serem ganhos com um
podemos indicar uma explicação tentativa para o conflito mencionado acima. eleitorado mais bem-informado.
Ele surge da verdade instantânea de duas proposições aparentemente contradi-
tórias: (1) os cidadãos racionais querem que a democracia funcione bem, de Em face desses obstáculos, a maioria dos governos democráticos faz pouco
modo a obterem seus beneficios, e ela funciona melhor quando os cidadãos são mais que obrigar os jovens nas escolas a fazerem cursos de educação cívica.
bem-informados; e (2) é individualmente irracional ser bem-informado. Aqui, O raciocínio precedente sugere que os sistemas democráticos de eleição
a individualidade rac ional aparentemente se choca com a racionalidade socia l· sempre funcionam com uma eficiência menos que perfeita. A tensão que exis-
isto é, as metas que os homens buscam como indivíduos contradizem as que te entre racionalidade individual e social impede os governados de expres-
eles buscam em coal izão como membros da sociedade.
Esse paradoxo existe porque os beneficios que os cidadãos tiram da orga-
3. Essa suposição é falsa porque aqueles que estão em mi;10ria podem ganhar, se a maioria deix<1r de
nização social eficiente são indivisíveis. Para os obj~tivos desta discussão,
ex pressar suas verdadeiraS opiniões nas e leições. Portanto, nosso argumento vale apenas para aqu eles
vamos supor que todos se beneficiem a longo_p_razo se o 'governo for verdadei- que· estão em situação de ganhar através do melhor funcionamento da democracia. Entretanto, como,
ramente gerido "por consentimento dos goverh.a'd.ÓB"; isto é, se todos os elei- ' por Qefinição, eles co nstituem uma m~ioria (se ignorarmos probl emas de A rrow). o argumento não é
desimportantc.
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265
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA
OS RETORNOS PROVENIENTES DA I NFORMAÇÃO E SUA DIMINUIÇÃO

sarem seu verdadeiro consentimento quando selecionam um governo. À medi- rendas de utilidade à ação governamental, mesmo quando a ação governamen-
da que a análise prossegue, descobriremos outras razões por que um governo tal de fato provoca aquelas mudanças. Em outras palavras, o governo pode não
democrático pode perfeitamente atingir seus ideais num mundo incerto. saber o quanto seus cidadãos sabem a respeito de como suas políticas os afe-
tam. Examinando esses diversos níveis de conhecimento, podemos classificar
os diferent(fs graus de atenção que o governo dará aos desejos de um cidadão,
li. ADQUIRINDO INFORMAÇÃO A FIM DE INFLUENCIAR
como se segue:
AS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS
1. Se o governo não sabe como uma dada decisão afeta a renda de um cida-
A. Como os dados extraem valor da influência dão, obviamente não pode levar em conta os interesses dele. Portanto, tem
de ignorá-lo, ao tomar a decisão.
Quando o governo em nosso modelo formula políticas, o faz expressa- 2. Se o governo sabe que a renda do cidadão não é afetada por uma decisão
mente para agradar tantos eleitores quanto possível, como fo i explicado no
específica, ignora-o ao tomar a decisão.
Capítulo 4. Mas nenhum eleitor fica satisfeito com uma política específica, a
3. Se o governo sabe que a renda de um cidadão é afetada mas que esse não
menos que a prefira às alternativas que poderiam ser escolhidas. E, a fim de pode remontar as origens desses efeitos especificamente à ação governa-
preferi-la, ele deve estar informado a respeito da situação na qual a decisão
I mental, ignora-o.
sobre essa política está sendo tomada. Portanto, a informação política é útil aos
I 4. Se o governo sabe que a renda de um eleitor é afetada por sua po lítica mas
eleitores porque lhes permite ter preferências específicas, que, por sua vez, I não sabe se o eleitor se dá conta disso, pode tentar fazer alguns aj ustes caso
influenciam as políticas governamentais que os afetam. ele se dê conta.
Naturalmente, as pessoas que têm opiniões antecipadas sobre decisões 5. Se o governo sabe que a renda de um cidadão é afetada e também sabe que
governamentais não são as únicas afetadas por elas. Desse modo, o governo o cidadão se dá conta disso, leva em total consideração o impacto de suas
não pode levar em conta apenas as reações delas ao tomar suas decisões. políticas sobre ele. Mesmo nesse caso, entretanto, pode ainda taticamente
Contudo, como o governo funciona numa névoa de incerteza, é certo que pres- ignorar os desejos dele numa tentativa de agradar a outros eleitores.
tará mais atenção a desejos que pode perceber do que aos que permanecem
obscuros. Essa tendência é especialmente forte sempre que o governo não tem
Todos esses graus de conhecimento dependem da informação que ( 1) os
certeza quanto aos resultados factuais de várias alternativas de políticas, ass im
cidadãos tê m sobre como as políticas governamenta is os afetam, (2) os gover-
como de seus impactos sobre os votos dos cidadãos. Por exemplo, um gover- nos têm sobre quais cidadãos sabem que são afetados. Obviamente, quanto
no pode saber que seus cidadãos não querem que um dado conflito trabalhista
mais informação tiver um cidadão, mais influência sobre as políticas governa-
perturbe a paz e a prosperidade. Entretanto, pode estar incerto sobre que pro-
mentais é provável que exerça - contanto que informe ao governo quais são
postas de qual lado levarão ao resultado mais tranqüilo. Embora muitas pes-
suas preferências. Inversamente, quanto menos um cidadão souber sobre alter-
soas outras que não os bem-informados sej am afetadas pela sua resolução do
nativas de políticas, menos preferências específicas pode ter, e mais provável
conflito (supondo .que ele tenha autoridade), ele deve confiar nesses últimos
será que o governo o ignore ao to mar decisões.
para saber quais serão os efeitos. Portanto, os bem-informados têm uma gran-
A informação, assim, extrai valor da influência que possibilita a seus
de influência sobre a determinação de que políticas o governo seguirá.
possuidores exercer na form ação das políticas governamenta is. A quantidade
Em nosso modelo, o governo não se importa se as rendas de utilidade dos
desse valor é o retorno sobre informação que deve ser contrabalança do com
cidadãos são afetadas por seu comportamento; está interessado apenas nos
seu custo, na decisão de comprar ou não os dados em questão. Mais uma vez,
seus votos. Desse modo, se preocupa com as rendas de, !Jtilidade deles apenas utilizamos o princípio de equiparar retorno marginal e custo marginal e, ma is
quando aquelas rendas afetam seus eleitores. ,Mas o governo nem sempre sabe
uma vez, temos que considerar investimento em informação como um proces-
se os eleitores conseguem remontar as origens,dã;l.nu danças sofridas por suas'
so a set analisado seqüencialmente.
266 \
I
/. 267
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA
OS RETORNOS PI/OVENIENTES DA INFORMA ÇlO E SUA DIMINUIÇÃO

Entretanto, devemos primeiramente examinar de modo mai s detido como questão de tática , pode fazer concessões aos desejos de X ou ignorá-los com-
a informação extrai seu valor da influência. Vamos supor que o cidadão X está pletamente. Ass im, para que X tenha qualquer influência sobre a política na
interessado na política que o governo adota na área econômica A. da qu:.ll X área A, as seguintes condições deYem ser cumpridas:
obtém sua renda. Mesmo que X não faça nada a respeito da influência - deixe
de se informar e deixe de se comunicar com o governo - o governo vai perse" 1. X deve ter preferências específicas na área A. Para que isso ocorra, tem que
guir alguma política na área A, supondo que "Não se meta" seja uma forma de estar informado sobre que alternativas existem ali .
política. Chamamos isso de política al. Por outro lado, se X estiver plenamen- 2. O governo deve estar a par de que X tem preferências e saber quais são. Isso
te informado sobre a área A, desejará uma certa política, ax, que o beneficia significa que deve haver comunicação de X para o governo 4
mais que qualquer outra política.
3. O governo deve ser estimulado, por sua percepção das preferências de X, a
Se a i e ax forem idênticas, então o cidadão X não precisará influenciar alterar a política que teria seguido na ausência dessa percepção. É verdade
o governo de modo algum para maximizar o ganho obtido com a· política na
que X pode estar tentando persuadir o governo a manter sua política atual,
área A. Na realidade, qualquer investimento que tàça a fim de exercer influên-
mas, a menos que ele estivesse a ponto de mudar essa política, a ação de X
cia ali é perdido. Entretanto, como vimos ao discutir o voto, o cidadão X não
é supérflua.
consegue saber se a 1 e ax são idênticas até depois de ter feito algum investi-
mento em informação. Portanto, deve utilizar informação gratuita, ou fazer
Chamaremos de a2 a política que realmente surge depois que X comuni-
algum investimento exploratório de dados, para formar uma estimativa preli-
cou suas opiniões ao governo; ela corporifica qualquer influência que X tenha
minar das naturezas de al e ax e da diferença de renda de benefíc ios entre elas.
tido. Se a2 for igual a a l, X não teve absolutamente nenhuma influência. Se a2
Vamos chamar essa margem de valor de intervenção na área A. É o ganho se diferenciar de a I mas for igual a ax, então X prevaleceu na área A.
máximo que X teria se ele mesmo pudesse determinar a política naquela área, Finalmente, se a2 for melhor para X que a1, mas pior que ax, então X teve
a lterando-a daquilo que ela seria sem sua intervenção para aquilo que ele mais
influência parcial. Em todos os casos, a quantidade de int1uência de X é medi-
gostaria que ela fosse.
da pela diferença de renda de utilidade entre a! e a2. Chamaremos essa dife-
O valor de intervenção do cidadão X depende de que influência .é prová- rença de impacto de opinião de X, uma vez que representa o ga nho real em que
vel que outros cidadãos exerçam na área A. Obviamente, se X não intervier na
incorreu tornando-se informado e deixando que o governo conhecesse suas
área A, aqueles queo fizerem estabelecerão as políticas do governo ali. Assim,
preferências. Apenas quando X prevalece, seu impacto de opinião é tão gran-
um número de cidadãos tentando simultaneamente avaliar sua própria inter- de quanto seu valor de intervenção.
venção na área A se assemelha a um número de oligopolistas avaliando as polí-
Dessa análise podemos ver dois desestímulos que o influenciador tem
ticas uns dos outros. Cada um deve estimar o que os outros irão fazer antes de
diante de si. Primeiro, se não for óbvio que política o beneficiará mais, ele
ca lcular o que é racional para si próprio e cada um sabe que os outros estão
pode ter que fazer um investimento dispendioso em informação para desco-
tentando de modo semelhante pesar suas próprias ações prováveis. Não faze-
brir. Mesmo assim, uma grande incerteza quanto aos resu ltados de diversas
mos nenhuma tentativa de oferecer qualquer solução geral para esse problema
politicas pod e ainda atormen tá-lo. Segundo, mesmo que ele saiba que polí-
de variação conjectura! mútua. Entretanto, cada cidadão deve de algum modo
tica prefere, nunca conhece a extensão de sua influência sobre a real de ci-
resolver a versão do problema que tem diante de si, antes que possa se decidir
são goveniamental até qu e ela seja tomada. Portanto, seu impac to de op inião
sobre seu investimento de dados mais racional.
Na prática, mesmo quando X se torna informado sobre a área A, sua
influência não controla necessariamente a política governamental ,ali. O gover- 4. O governo pode <I tender nos desejos de X mesmo se não tiver certeza de que ( l) ele tem algum ou \2)
no pode não estar a par de que X se importa com qual política ele adota na área quais são. Assim, se sentir que um grande grupo de eleitores poderia ser afetado por alguma polít ica,
de modo a alterar seus votos, essa sensação pode influenciar sua decisão. Nesse caso, não hú custu de
A. Mesmo se souber quais são as preferências çle X n~ssa área, o governo pode comunicação e os eleitores não precisam estar realmente informados (isto é; o gove rno pode estar erra-
não segui- las porque também está tentando ~gradar a outros eleitores. Por unia do). Contudo. a inlluência exercida nesses casos é muito menor do que a exercida t;J.I como dcscritn no
texto, c-eteris paribus.
2óii
26Y
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA OS RETORNOS PROVENIENTES DA INFORMAÇÃO E SUA DIMINUIÇÃO

é sempre uma previsão baseada nas outras pressões que ele crê que o gover- os custos, não o cidadão6. Mas não importa quem paga, a parte do custo que
no sofra. recai sobre o influenciador deve ser contada como parte do custo marginal a
Dificuldades semelhantes são encontradas por eleitores que tentam deci- ser contrabalançado com qualquer custo marginal que seja proveniente de se
dir quantos dados comprar, como vimos anteriormente neste capítulo. Na rea- estar informado. Esse custo varia, dependendo de para quem, no governo, o
lidade, o valor de intervenção aqui é exatamente análogo ao diferencial· parti- cidadão comunica seus pontos de vista, porque é mais caro chegar a alguns
dário em nossa análise anterior, assim como o impacto de opinião é análogo ao funcionários do que outros. Naturalmente, o impacto de opinião também
valor de voto. Assim, o valor de intervenção mede o máximo ganho possível depende de quem o influenciador cantata. Esses fatores devem ser levados em
que X pode obter da informação sobre a área A; ao passo que o impacto de opi- conta na decisão de quanta informação comprar com o objetivo de influenciar
nião mede esse ganho descontado a fim de levar em conta a influência de políticas.
outros cidadãos. O impacto de opinião é também o retorno básico sobre o qual
é calculado o retorno marginal proveniente de informações.
Esse cálculo é exatamente análogo a encontrar o retorno marginal sobre C Por que os influenciadores são melhor informados que os eleitores
a informação usada para votar e o mesmo raciocínio se aplica a ele. Além
disso, o mesmo prócesso de equilíbrio custo-retorno é empregado ao decidir Há uma segunda distinção importante entre os dois tipos de retorno pro-
que informações comprar. Portanto, não precisamos repetir nossa análise des- veniente de informação: quase todos pelo menos consideram votar, mas relati-
ses procedimentos. vamente poucos cidadãos jamais consideram exercer influência :em qualquer
área específica de política. Como vimos, o diferencial partidário de um eleitor
está sujeito a um desconto pesado devido ao grande número de outros eleitores.
B. O custo da comunicação Em contraste, o valor de intervenção de um influenciador pode sofrer quase
nenhum desconto porque somente um pequeno número de outros está interes-
Apesar dessas semelhanças, há diferenças significativas entre adquirir sado na política que ele quer influenciar. Talvez muitas pessoas sejam afetadas
informação a fim de votar e adquiri-la a fim de influenciar a formulação de por essa política, mas como a maioria delas não percebe de antemão a fonte
políticas. Em primeiro lugar, os eleitores automaticamente comunicam sua desses efeitos, não podem procurar alterar a política buscada naquela fonte.
decisão ao governo no ato de votar, mas os influenciadores devem transmitir Essa ignorância não é o resultado de mera apatia; ao contrário, nasce do
suas opiniões ao governo por meio de ato específico a fim de obter resultados. grande custo de obter informação suficiente para exercer influência efetiva.
Como todos os atos, esse usa recursos escassos; isto é, é dispendioso. O total Cada influenciador deve estar familiarizado com a situação pelo menos sufi-
desse custo de comunicação depende da posição do cidadão na sociedade. Se, cientemente bem para ser favorável a uma política específica. É verdade que
por acaso, ele for Vice-Presidente dos Estados Unidos, será baixo; se for tra- muitas pessoas expressam fortes preferências de políticas sem o beneficio de
balhador numa cidade mineira, pode ser muito altos. muita informação, e que os votos dessas pessoas são tão poderosos quanto os
Não importa o tamanho que tenha esse custo, alguém deve pagá-lo. dos bem-informados. Todavia, o governo sabe que seu comportamento numa
Entretanto, aquele que paga não precisa ser o próprio cidadão. Se seu interes- dada área de políticas afetará muitas pessoas que não mostram interesse ime-
se numa área de políticas nasce de sua atividade comercial, pode cobrar os diato naquela área. Conseqüentemente, deve ser persuadido de que esses cida-
custos da transmissão de seus pontos de vista à sua firma, que provavelmen- dãos atualmente passivos não reagirão contra qualquer política promovida por
te os deduzirá de sua renda tributável. Assim, a firma e o governo arcam com um influenciador. Um influenciador presuntivo tem de ser suficientemente ins-

5. A recepção que sua comunicação recebe depende de eie---~er.OU)lão um eleitor influente, como foi des- 6. A firma é realmente seus donos, que portanto arcam com parte desse custo. O governo, naturalmente,
crito no Capítulo 6. Entretanto, no momento, desejamos ni-a1it~r:.sua posição de comunicação analiticao- repassa sua parcela do custo para os contribuintes de imposto ou para os que sofrem com a inllação,

I
mente separada de sua influência poHtica. dependendo de corno está se financiando. ·
270 271
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA OS RETORNOS PROVENIENTES DA INFORMAÇlO E SUA DIMINUIÇ;TO

truído para realizar essa persuasão. área de gasto. Além disso, o custo dos dados comprados com o fim de influen-
Portanto, a formul ação de políticas requer mais conhecimento do que a ciar a política governamental numa área de produção pode freqüentemente ser
escolha entre alternativas que outros formularam. Como resultado, os influen- cobrado de uma firma comercial ou de um sindicato de trabalhadores. Essas
ciadores precisam de mais informação sobre as áreas de políticas em que ope- unidades corporativas podem, por sua vez, deduzir o custo de suas rendas tri-
ram do que até mesmo os eleitores mais bem-informados; portanto, seus cus- butáveis. Também podem ser grandes o suficiente para obter economias de
tos de dados são mais altos. A complexidade dessas áreas freqüentemente obri- esca la em cotisumo de dad os, através da especialização intensiva em áreas
ga os influenciadores a se tornarem especialistas antes qu e possam descobrir relevantes. de políticas .
que políticas são mais adequadas a seus próprios interesses. E como muitos Por todas essas razões, é muito mais provável que os produtores se tornem ,
influenciadores com diferentes metas estão competindo entre si pelo poder, influenciadores do que os consumidores. Os primeiros podem se pérmitir inves-
cada um deve ( 1) produz ir argumentos para se contrapor a quaisquer ataques a tir na informação especializada necessária para influenciar e pagar o custo de
ele, (2) atacar os argumentos dos outros com dados próprios e (3 ) estar sufi- comunicarem seus pontos de vista ao governo. Essa conclusão até mesmo se
cientemente informado para saber que concessões lhe são adequadas. apli ca às firmas comerciais, j á que sua renda quase sempre vem de menos áreas
Em contraste, um eleitor precisa encontrar apenas o impacto diferencial de políticas do que seus insumos de custos. Entretanto, quase todo homem é
sobre ele de algumas alternativas formul adas por outros. Não tem de examinar tanto produtor quanto consumidor em diferentes momentos de sua vida. Assim,
todas as alternativas possíveis, j á que nem todas estão abertas a sua escolha - devemos reformular a conclusão acima da seguinte maneira: é mais provável
embora todas estejam abertas à escolha de um formulador de políti cas. que os homens exerçam influê ncia política em seus papéis como recebedores de
Igualmente, um eleitor não precisa estar suficientemente bem-informado para renda do que em seus papéis como gastadores de renda, seja ag indo como cida-
pensar em concessões, j á que ou um partido ou o outro vencerá (exceto no caso dãos privados ou como membros de uma entidade corporativa.
de governos de coalizão). Além disso, a menos que estej a tentando persuadir Essa conclusão é de grande importância porque dela podemos deduzir
outrem a votar de sua maneira, não tem de argumentar com forças adversárias, (I ) o padrão de investimento de informação qu e é provável que qualquer cida-
e portanto não está sob pressão competitiva para se tornar informado. dão faça, (2) quais cidadãos têm a probabilidade de serem bem-informados em
O ponto principal dessa análise é qu e os influerrciadores são especialistas qualquer área dada de políticas e (3) que pressões sobre o governo têm a pro-
em quaisquer áreas de po líticas que desejem influenciar, ao passo que os elei- babilidade de ser as mais fortes em qualquer área. Evidentemente, o custo de
tores são generalizadores tentando fazer uma comparação geral entre os parti- adquirir informações e comunicar opiniões ao governo determina a estrutura
dos. A especialização requer conhecimento especializado e informação, princ i- da influência política. Apenas os qu e podem arcar com esse custo estão em
palmente se a co mpetição for ac irrada, mas a maioria dos homens não podem posição de serem influentes.
se dar ao luxo de se tornarem especializados em muitos campos simultanea- Um exemplo notável desse fato é a incapacidade dos consumidores em
mente. Portanto, os influenciadores geralmente operam em apenas uma ou duas geral de exercerem qualquer influência válida sobre as decisões governamentais
áreas de políticas, ao mesmo tempo. Isso significa que, em cada área, apenas que os afetam. Por exemplo, os legisladores são notórios em escrever leis tari-
um pequeno número de especialistas está tentando influenciar o governo. fárias que favorecem os produtores em cada campo a expensas de milhares de
Naturalmente, os homens que estão em melhor situação de obter ganhos consumidores. Com base apenas nos votos, essa prática é pouco compatível
com a influência que exerc em numa área de políticas são os que melhor podem com nossa hipótese central sobre o comportamento governamental. Mas, uma
arcar com os gastos de tornar-se perito nela. Seus retornos potenciais prove- vez introduzido o custo de informação, a explicação surge de nossa teoria intei-
nientes de influência são altos o suficiente para justificar um grande investi- ramente reforçada. Cada produtor pode se permitir exercer grande influência
mento de informação. Em quase toda área de políticas, os que estão em me lhor sobre aquela seção da lei tarifá ria qu e afeta seu produto. Inversamente, poucos
s ituação de ganhar são os homens que obtêm suas rendas ali. Isso é verdade consumidores podem exercer qualquer influência sobre quaisquer partes da le i,
porque a maioria dos homens obtém suas re!ldas em unia área mas as gasta em já qu e os interesses de cada consumidor se distribuem entre tan tos produtos. Na
muitas; portanto, a área de ganh o é muito màísv .ltal para eles do que qualquer realidade, a maioria dos consumidores não pode nem mesmo se dar o lu xo de

272
273
i1. ;
' ;

UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA OS RETORNOS PROVENIENTES DA INFOiiMAÇÃ O E SU.4 DIMINUIÇÃO

descobrir se as tarifàs estão au mentando o preço que pagam por qualquer pro- A análise precedente explica por que apenas alguns homens tentam
duto dado. Contudo, sem esse conhecimento, não podem ter preferências em exercer influência em cada átea, mesmo que muitos pudessem realmente
relação a políticas nas quais o governo preste atenção. ganhar ao fazê-lo. A maioria dos ganhadores potenciais não pode se dar o
Nessas condições, o governo é obrigado a estar mais atenro aos produto- luxo de descobrir onde a int1uência os beneficiaria. São fo rçados a deixar o
res do que aos consumido res, quando cria políticas. Isso é verdade ainda que campo para alguns especialistas em cada área; conseqüen temente, cada um
(1) o governo formule políticas com o fim de maximizar votos e (2) mais con- dos especiaíistas precisa descontar relativamente pouco seu valor de interven-
sumidores votantes sejam afetados por qualquer política dada do que produto- ção quando subtrai a influência dos outros homens. Como observado , essà
res votantes. Como resultado, mecanismos tais como conselhos de controle conclusão não se aplica ao voto. O custo do voto é tão pequeno que multidões
industrial tripartites com representantes dos trabalhadores, dos administrado- podem racionalmente se permitir fa zê-lo; desse modo, cada eleitor tem de
res e dos consumidores estão destinados ao fracasso7 O representa nte dos con- desconta r muito seu próprio impacto para justificar o número enorme de seus
sumidores nunca tem forças efetivas por trás dele, comparáv eis às dos traba-
companhe iros.
lhadores e dos administradores. Desse modo, esses conselhos praticamente
sempre agarram quaisquer oportunidades para que os trabalhadores e adminis-
tradores exp lorem conjuntamente os consumidores8 Mesmo os sindicatos D. Disparidade de influência e a distribuição de poder
gigantes de trabalhadores, que agem em nome dos interesses' de seus membros
consumidores, têm de distrib uir sua influência entre produtos demais para No último capítulo, m~stramos que a divisão do trabalho e a incerteza
serem verdadeiramente eficientes como contrapeso aos produtores em cada inevitavelm ente fazem com que o homem esteja informado em graus dife ren-
campo. Economicamente fa lando, a política governam ental numa democraci a
'·~~·;l
tes ; agora provamos que essa desigualdade de informação sempre resu lta nu ma
quase sempre demonstra um viés anticonsum idor, pró-produtor. E esse viés em f. .•• correspondente desigualdade de influência sobre a formação de políticas
nosso modelo existe não porque os diversos agentes envolvidos são irracio- governamentais. Essa conclusão enfatiza mais uma vez a desiguald ade ineren-
nais, mas porque se comportam racionalmente. Esse fato tem implicaçõ es :~
·' te de poder po lítico nas sociedades democráti cas.
enormes para as previsões econômicas em quase todos os campos, embora não A democracia é fre qüentemente definida como "governo por consentimen-
possamos explorá-la s aqui . to dos governados". Podemos ainda definir "governo por consentimento dos
Rea lmente, todas essas deduções resultam diretament e do papel da infor- governados" como "tomada de decisão na qual aquele que decide faz cada esco-
mação na divisão do trabalho. Numa sociedade especializada, todo homem é lha com base nas preferências dos afetados por ela e pesa as preferênci as de cada
naturalme nte mais bem in fo rmado sobre a área de sua especialidade do que um proporcionalmente ao grau em que ele é afetado"9. Embora essa definição
sobre outras áreas. Isso te m dois efeit os: (1) como sua renda vem dessa área, são complexa seja ai~da ambígua, ela é clara o suficiente para comparar com o
grandes os retornos da informaçã o útil para influenciar as políticas na sua área método de sopesar preferências, usado pelo governo racional em nosso modelo.
e (2) como ele j á está fàmiliarizado com a área, é baixo o custo de tornar-se bem- A comparaçã o mostra que o custo de infor mação impede que nosso
informado sobre ela. Assim, por sua própria natureza, a divisão do trabalho cria governo-modelo alguma vez fun cione por consentimento dos governados num
alguns homens em cada área de políticas que podem racionalm ente se permitir sentido puro. Isso não significa que o governo toma decisões sem considerar
influenciar a política governamental ali, e torna irracional para a maioria dos os desejos das pessoas afetadas por elas; pelo contrári o, é extremamente sen-
homens fazê-lo. Esse resultado ocorre mesmo que todos os homens sejam iguais sível aos desejos do eleitorado. Não obstante, devido à estru tura mesma da
em inteligência, riqueza, renda e interesse por atividade governamental.

9. Realmente, essa definição está tanto fo ra do escopo deste estudo (porque uma e
7. Com relação a esse ponto, somos gratos ao protessor Mely in W. Rcder.> defi nição étic:·l) qu<~ n ­
to incomp leta {porque ignora o problema de como traduzir preferência s
8. Um argumento semelhan te é apresen tado em Henry C. ·S,ihlQnS, "Some Re!"lection ind ividuais em escolhas
s on Syndicalis m", socia is). Entretan to, cremos que é adequada para o uso !im itado que razemos dela.
Economic Policy_lár a Free .)'ociety, Ch ic<JgO, University o'féhiCago Press. 1948. Port ::~n to, não 13zc-
.): mos nenhuma tent at iva de defendê-l a em detal he.
274
2 75
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA OS RETORNOS PROVENIENTES DA INFORMAÇÃO E SUA DIMINUIÇiO

sociedade, cada decisão governamental não pode resultar de igual considera- quer área de decisão, um cidadão deve estar continuamente bem-informado
ção dos desejos de homens que são igualmente afetados pela decisão iO sobre os acontecimentos dentro de la. Diferentemente do eleitor, e le não pode
Quando acrescentamos a essa disparidade inerente de influência as desigua l- lidar simplesmente com dii;.;:renc iais posrfàcro. O custo desse conhccr mc nto é
dades de poder provocadas pela distribuição desigual de renda, nos dista ncia - tão grande que nenhum cidadão pode arcar com ele em todas as áreas de polí-
mos da igualdade política entre cidadãos. ticas, mesmo que, ao fazê-lo, ele conseguisse descobrir lugares onde sua inter-
Essa conclusão não implica de modo algum que a democracia não possa venção colheria grandes lu cros. Se ele vai exercer qualquer influência, deve
funcionar, ou que ela não produza benefícios, ou que corpori fique apenas uma limitar seu conhecimento a áreas onde a intervenção compensa mais c a infor-
falsa igualdade. Um contraste entre nosso modelo e um modelo, digamos, de mação custa menos. Essas são as áreas de sua especialização de produção, j'á
um govern o comunista provavelmente mostraria que a democracia é relativa- que sua renda vem delas c ele já sabe muito sobre elas.
mente bem-sucedida em atingir a igualdade política. Contudo, nosso modelo Como cada cidadão racional pode lidar com informação suficiente para
tende a verificar a seguinte afirmação: mesmo que as regras de uma sociedade ser influente em apenas algumas - se é que em alguma- áreas de políticas, há
sejam especificamente destinadas a distribu ir poder político igualmente, essa relativamente poucos influenc iadores operando em cada área. Desse modo,
igualdade nunca advi rá num mundo incerto, desde que os homens ajam rac io- descontar para permitir a existênc ia de outros cidadãos é muito menos dramá-
nalmente. Em resumo, a perfeita igualdade política é irracional quando existe a tico para os influe nciadores do que para os eleitores, embora possa ai nda ser
incerteza, a menos que não haja divisão do trabalho. Nesse caso, é irrelevante. significativo.
Em geral , é irracional ser po liticamente bem-informado porque os baixos
retornos proven ientes dos dados simplesmente não justificam seu custo em
IJJ. RESUMO tempo e em outros recursos escassos. Portanto, muitos eleitores não se dão ao
traba lho de descobrir seus verdadeiros pontos de vista antes de votar, e a maio-
A informação política é valiosa porque ajuda os cidadãos a tomarem as ria dos cidadãos não está suficientemente bem-informada para influenciar
melhores decisões possíveis. Portanto, a principal medida de seu valor é .a·mar- diretamente a fo rmulação daquelas políticas que a afeta. Esses resultados
gem de renda de benefícios pela qual o resultado da melhor decisão excede o de monstram que a verdadeira igualdade política é impossíve l mesmo nas
da pior. Entretanto, todo cidadão racional desconta essa margem quando deci- democracias, desde que ( 1) exista a incerteza, (2) haja div isão do traba lho e (3)
de que dados adqui rir porque sua voz é apenas uma entre as muitas que tomam os homens a jam racionalmente.
a decisão.
Para propósitos de voto, o reto rno básico que um cidadão tem da infor-
mação é seu dife rencial partidário. A partir dele, calcula as compensações pre-
vistas de di versos conjuntos de inform ações. Antes de ser comparado com o
custo dos dados, esses retornos devem se reduzir drasticamente para se ade-
quarem ao papel infinitesima l que o voto de cada cidadão desempenha ao deci-
dir a eleição. Como resultado, os retornos são tão baixos que mu itos eleitores
racionais deixam de comprar qua lquer informação política per se. Ao invés
disso, contam com dados gratuitos adquiridos acidentalmente.
A fi m de influe nciar a formu lação de políticas governamenta is em qual-

I O. Decisões tomadas com igual consideração pelos afetados\g.mdfhcntc não precisam proporcionar-lhcs1
benelicios iguai s. "Con siderar" aqui signi ficn ""tomar conhecimcntp de", ao invés de "'agir e-m fh vor de".

27ó 217
~ ..' ·-·

14

AS CAUSAS E EFEITOS DA ABST ENÇÃ O RACIONAL

INTRO DUÇÃO

Os cidadãos que estão aptos a votar em eleições democ ráticas


freqüente-
mente deixam de fazê-lo. Na realidade, alguns cidadãos
nunca votam e, em
alguma s eleições, os que se abstêm superam os vota ntes.
Neste capítulo, exa-
minamos as condições em que a abstenção é racional
e tenta mos avaliar seu
impacto sobre a distribuição de poder político.
Ao longo dessa análise, presumimos que todo homem raci
onal decide se
vota ou não do mesmo modo que toma todas as outras decisõ
es: se os retornos
superam os custos, ele vota; se não, se abstém.

OBJET IVOS

Neste capítul o, tentam os provar as seguintes proposições:

l. Quando o ato de votar não tem custo, todo cidadão que


é indiferente se abs-
tém e todo cidadão que tem alguma preferência vota.
2. Se votar for caro, é raciona l que alguns cidadã os
indiferentes vo tem e
alguns cidadãos com preferências se abstenham.
3. Quando ex istem custos de voto, pequenas mudan
·,
ças em seu tamanh o
'· podem afetar radicalmente a distribuição de poder poli.tic
o.
27Y
UMA TEORIA ECONQM ICA DA DEMOCRACIA
AS CAUSAS E EFEITOS DA ABSTENÇÃO RACIONAL

4. O custo de informação age no sentido de privar do direito de voto grupos desmorone' ..Por essa razão, dão va lor ao ato de votar per se e recebem um
de baixa renda em relação aos grupos de alta renda, quando o voto é caro.
retorno disso.
S. Os custos do ato de votar podem também privar do direito de voto cidad3os Paradoxalmente, o tamanho desse retorno depende do custo do ato de vorar.
de baixa renda em relação a cidadãos mais ricos. Quando os custos do voto são zero, o retorno do voto per se também é zero, mas
6. Às vezes é racional que um cidadão vote mesmo quando seus custos de quando votar é caro, o retorno do voto per se é positivo. Discutiremos a segun-
curto prazo excedem seus retornos de curto prazo, porque a responsabilida- da dessas asserções mais tarde; no momento, vamos exami nar a primeira 2
de social produz um retorno de longo prazo. A democracia não pode funcionar racionalmente se todos forem indife -
rentes a que m vence a eleição. Naturalmente, nem todos têm uma preferênc'ia
partidária, mas é preciso que alguém a tenha para que a e leição seja um ato s ig-
f A PARTICIPAÇÃO NAS ELEIÇÕES QUANDO O VOTO NÃO TEM CUSTO
nificativo de escolha. Portanto, supomos em todo este capítulo que ( 1) pelo
menos um cidadão não é indiferente, (2) não ocorrem empates e (3) a indi fe-
Quando o custo de votar é zero, qualq uer retorno, não importa quão rença não reflete igual desagrado em relação aos candid atos mas, pelo contrá-
pequeno, faz com que seja raciona l votar e irracional se abster. Portanto, se a
rio, igual satisfação em relação a eles 3.
abstenção é racional ou não depende inteiramente da natureza elos retornos
Quando o custo de votar é zero, todos qu e não são indife rentes votam ,
provenientes do ato de votar. porque seu retorno, embora pequeno, é maior do que zero. Portanto, os c ida-
dãos que são indiferentes sabem que a eleição funcionará e a democracia con-
tinuará a funcionar mesmo que eles se abstenham. Essa conclusão vale mesmo
A. Por que apenas aqueles cidadãos que são indiferentes se abstêm quando a vasta maioria do eleitorado é indiferente; na realidade, é necessário
que apenas um cidadão vote. Os partidos concorrentes ainda devem satisfa zer
No último capítulo, salientamos que a recompensa de um cidadão pelo os interesses do eleitorado inteiro, porque (l) não sabem de antemão que m
ato de votar corretamente consiste de seu valor de voto, isto é, seu di~ere;l ­ será indiferente e (2) uma vez eleitos, eles sabem que os cidadãos que e ram
cial partidário descontado, de modo a permitir a inf1uência de outi-os ~ leito ­ indiferentes poderão votar no futuro. Assim, os partidos competem entre si
res sobre o resultado das eleições. Se o cidadão for indiferente entre os par- para atrair os votos potenciais de homens que se abstiveram anteriormente ,
tidos, seu diferencial partidário é zero, portanto seu va lor de voto também
assim como os votos reais daqueles que votaram.
deve ser zero. Parece que ele não obtém nenhum retorno do ato de vo tar a Como resultado, os homens que são indiferentes sobre quem vence não
menos que prefira um partido aos outros; assim, cidadãos indiferentes sem- têm nada a ganhar, então· se abstêm. Portanto, quando o custo do voto é zero,
pre se abstêm. todo cidadão que é perfeitamente indiferente se abstém. Entreta nto, o raciocí-
Entretanto, essa conclusão é falsa, porque o retorno do ato de votar per nio acima não se aplica quando o voto é caro , como veremos mais tarde.
se não é a mesma coisa que o retorno do ato de votar corretamen te. A alterna-
tiva a votar per se é se abster; ao passo que a alternativa a votar corretamente
é votar incorretamente - pelo menos é assim que vimos isso em nossa aná lise.
Mas um voto incorreto ainda é um voto; portanto, se houver qualquer ganho
em votar p er se, um homem que vota incorretamente obtém um ganho, embo-
ra isso não ocorra com um homem que se abstém. 1. Esse pressuposto não s igni fica que todos os cidadãos recebem os mesmos be ne ficios da dcmoc mcia,
nem exclui que eles se oponlw m ~ma ioria em relação a qual quer uma ou a todas as qu estões. Ao con -
A vantagem de votar per se é que isso torna a democracia possível. Se trário, implica que (!)todo cidadão recebe alguns bene fícios e portant o (2) a perda que ele sofl·e quan-
ninguém vota, o sistema desmorona porque nenhum governo é escolhido. do a maioria provoca algo que e le não gosta que sej a fei to é, em p:trtc. comr ensada pelo be ne fici o que
ele recebe com o fu ncion ame nto da regra da maioria per se.
Presumimos que os cidadãos de uma democracia ap rÓvam seus princípios e 2. Como os custos do voto. na realidade, nun cn são zero , essa di scussão é simplesme nte uma prelimi nar à
portanto colhem benefícios com sua continuidad(\assim, não querem que ela . nossa análise pos!crior.
3. O terceiro pressuposto é discutido em detalh e posterio rmen te.
280
2/i l
UMA TEORIA ECONÕMICA DA DEMOCRACIA
AS CAUSAS E EFEITOS DA A/JSTENÇiO RACIONA L

B. A natureza da indiferença de vista verdadeiros. Entretanto, o custo de informação torna irracional a


investigação adicional. Como é mais difícil arcar com esse custo para os cida-
Em nosso modelo, os e leito res indiferentes nunca influenciam o resu lta- dãos de baixa renda do que para os de renda alta, a incidência de eleitores fa l-
do das eleiç&:s-'. Contudo, seus interesses ainda são sarisfeiros por cada parti- samente indiferentes pode ser mais alta entre os primeiros do que entre os últi-
do, porque a competição força os partidos a buscar votos potenciais, assim mos. Se isso ocorrer, a incerteza impõe um viés na distribuição de poder polí-
como reais. Esse fato levanta a questão de se a indiferença tem ou não alguma tico. Faz com que um número desproporcional de cidadãos de baixa renda
significação política. deixe de influenciar os resultados da eleição .
Os eleitores indiferentes são aqueles que não conseguem ver qualquer \ A validade desse argumento se assenta na seguinte proposição: quanto
diferença líquida nas rendas de beneficios que esperam de cada partido, se este I mais informação um cidadão recebe sobre as políticas de um partido, menos
for eleito. Portanto, parece razoável a priori que não tivessem influência sobre I provável é que e le seja indiferente. A menos que essa proposição seja verda-
quem vence. Entretanto, essa conclusão pode ser questionada em dois pontos. i deira, não há razão para crer que os homens que conhecem suas verdadeiras
Primeiro, os eleitores indiferentes são igualmente agradados por todos os
partidos ou são igualmente repelidos por eles? Quando uma grande parcela do
eleitorado é indiferente - como freqüe ntemente parece acontecer na realidade
II preferências tenham menor probabilidade de serem indiferentes do que aque-
les que não as conhecem.
Em nossa opinião, a proposição é falsa . A quan tidade de informação que
- a racionalidade,das eleições como seletores do governo depende da resposta um homem tem necessariamente afeta a confiança com a qual ele sustenta
a essa questão. Se a indiferença refletir igual insatisfação em relação a todos
os candidatos e uma forte preferência por algum não-candidato, a eleição fat al-
I
i
suas decisões, mas não necessariamente afeta a natureza delas. Se todos tives-
sem I 00% de informação, alguns cidadãos poderiam ainda ser indiferentes S.
mente produzirá um governo repugnante a muitos c idadãos. Por outro lado, se Portanto , a indiferença não é simplesmente uma ilusão provocada pela falta
a indiferença indicar satisfação alta mas igual em relação àqueles que estão de dados: assim, não podemos argumentar a priori que os aumentos de dados
concorrendo, apenas os cidadãos que votam contra o vencedor ficarão insatis: tenderiam a eli miná-la. Entretanto, mais informação aumenta a confiança de
fe itos com o resu ltado. cada cidadão em sua decisão, ceteris paribus, porque o aproxima à situação
Essencialmente, esse argumento levanta uma questão que tratamos bre- de estar 100% informado. Por esse motivo, quanto mais dados um homem
vemente no Capítulo 8: como são escolhidos os candidatos para cada e leição? tem, menos tem de descontar do retorno estimado proveniente do ato de votar
Para evitar discutir mais extensamente isso aqui, presumimos que todo ponto corretamente.
de vista político que tem um número significativo de apoiadores é representa- Quando o custo do voto é zero, não faz nenhuma diferença quanto cada
do por algum partido concorrendo à eleição. Portanto, a indiferença em nosso cidadão desconta de seu diferencial partidário estimado contanto que a taxa
modelo não é causada por igual aversão a todos os candidatos mas reflete seja menos que 100%,já que mesmo um retorno líquido mínimo faz com que
ambivalência de uma natureza menos pejorativa. ele vote. Portanto, os custos de informação não aumentam a abstenção entre os
A segunda questão levantada pela indiferença é se os eleitores indiferen- grupos de baixa renda em relação aos grupos de alta renda. Mas, quando o ato
tes realmente têm diferenciais partidários zero ou simplesmente não dispõem
de informação. No último capítulo vimos que a maioria dos eleitores não
adquire informação suficiente para descobrir suas verdadeiras preferências, já
que cada um sabe que seu. voto tem pouca importância. Talvez muitos eleito- 5. t possÍ\'el co nceber que a indi ferença pudesse não ex i stir num mundo pc.rteita mcnlc infOrmado, m~1 s
apenas se as preferên cias fossem descontí nuas. Portanto, a 1m1ior parte dos economistas presume que~
res que não são indiferentes deixassem de sê-lo se descobrissem seus pontos
inditerença é um estado de espírito real, embora não possa ser fac ilmente detectada no co mportamen-
to. Para most rar o rac iocín io que está por detrás desse ponto de vista, vamos su por que um consumido r
rac ional renlu1 dia nte de si três pacotes de mercadori as: A, B e C. Ele prefere A a B e B a C. /\gora.
suponll<lJ1lOS que o paco te A seja continuamente variado na sua COI11posição, de modo que g râdualm en-
4. Essa conc lusão val e, ainda que alguns eleitores indiferente? yotem quando·o ato de votar tem um cu sto,
te passe a se parecer co m o pacote C, embora de tal m aneira que nunca seja idêntico a O. Como o co n-
já que o f~1zem aleatoriamente, e seus votos, portan to. se Caúctlam uns aos Olll ro.s. Vçr Seç~o li deste
.capíwl o. su midor o prete re a B no in íc io e B a ele, no fin al, em algum momento na metade do caminho. ele deve
... -, \
ser exatamente indiferente entre ele e !3: assim diz o argum ento. Nós o aceitamos.
282
283
UMA TEOfUA ECONOMICA DA DEMOCRACI A
AS CAUSAS fó EFE/lUS /JA ABSTENÇÃO RACIONAL

de votar é caro, o fato de os cidadãos mais pobres não pod erem arcar com a por cabeça, o principal custo de votar é geralmente a renda de beneficios per-
mesma quantidade de informaçã o que seus vizinhos mais ri cos realmente cria
dida devido ao tempo devotado a isso, mais do que qualquer outra coi sa. Se o
um viés. Por exemplo. suponham os que :.1 distri huiç:H1 de custos do ato de 1·ot :1r
h.:mpo liYcr que ser subtraído das horas de trabalho, esse custo pode ser bem
e de retornos reais do ato de votar seja a mesma para ambos os grupos<>. Como alto; m~slc caso, os grupos de alta renda têm novamente uma vantagem. Mas,
cidadãos menos atluentes desconl:lln mais seus retornos, menos deles votarão. se o tempo coi nc idir com as horas de lazer, não há motivo para supor que exis-
Assim, a menor con f'ian~:a en tre g rupos de baixa ren da não tem repercussõ es ta tal di~pa rid ade cor re lacionada à renda.
políticas quando o voto nilo tem custo, mas se torna bastante importante quan- À pri meira v ista, todos esses custos podem parecer triviai s, c os v ieses na!
do os custos do vo to são introduzidos no modelo. capacidad e de arc ar com eles podem parecer irrelevante s. Entretanto, os retor-
nos do ato de votar são geral mente tão baixos que variações mínimas em seu
custo podem te r efeitos enormes sobre a distribuiçã o de poder político. Esse
11 PAR TICIPAÇÃO NAS ELEIÇÕES QUANDO O VOTO É CARO fa to explica por que práticas tão simples como fazer eleições nos fe riados,
manter as urnas abertas até tarde, revogar pequenos impostos por cabeça e for-
A. Os custos do vo to e seus eleitos comporta mentais necer transporte gratuito até às urnas podem afetar de maneira surpreend ente
os resultados da eleição.
Até aqui, presum imos que vo tar é um ato sem custos, mas essa suposi-
ção é autocontra ditória porque todo ato toma tempo. Na rea lidade, o tempo é
0 principal custo de votar: tempo para se inscrever, para descobrir que partidos B. Natureza, taman ho e impacto dos retornos do ato de votar
estão concorrendo, para deliberar, ir à urnas, e marcar o voto. Como o tempo
é um recurso escasso, votar é inerentemente caro . O retorno que um cidadão recebe do ato de votar se compõe de diversos
Esse fato altera nossa conclusão anterior de que todos votam se tiverem fa tores. O primeiro é a fo rça de seu desejo de ver um partido vencer, ao invés
qualquer preferência partidária . Quando há custos envolvidos no ato de V()tar, de outros; isto é, o tamanho de seu diferencial partidári o. Como salientamo s
e les podem superar os retornos; ass im, a abstenção racional se torna possíve l no Capítulo 3, as políticas partidãrias determinam esse fator. Um segundo
mesmo para os cidadãos que querem que um partido específico vença. Na rea-
fator é o grau em que ele desconta seu diferencial partidário para permitir a
lidade, como os retornos provenientes do ato de votar são freqüe ntemente influ ência de outros eleitores. No último capítulo, mostramo s que isso depen-
minúsculos, até mesmo os baixos custos do voto podem fazer com que muitos de de quão próxima ele acredita que a eleição estará. Esses dois fatores con-
partidário s se abstenham. juntament e constituem seu va lor de voto.
A importânci a de sua abstenção depende dos efeitos que ela tem sobre a O terceiro fato r independe dos outros dois: é o valor do voto per se.
distribuição do poder político. Esses efe itos podem se originar de duas fo ntes: Embora o tenhamos di scutido anteriormente neste capítulo, devemos examiná-
( 1) vieses na distribuiçã o da capacidade de arcar com os custos do voto e (2) lo mais cuidadosa mente em virtude do papel v ital que desempenha quando o
vieses na distribuição de altos retornos do ato de votar. ato de vo tar é caro.
Os únicos custos em dinheiro vincu lados à inscrição para votar e ao ato
Presumim os qu e todos, em nosso mundo-modelo, extraem beneficios de
de votar são quaisquer impostos por cabeça existentes e o custo do transporte . viver numa democrac ia, como afirmado anteriormente. Quando o custo do
A capacidade de arcar com esses custos varia inversamente à renda, ass im os vo to é zero, o recebimento desse beneficio não é colocado em risco pela abs-
cidadãos de maior renda têm uma vantagem. Quando não existem os impostos tenção, porque apenas aqueles que são indiferentes se abstêm. Porém, os cus-
tos positi vos do voto a lteram essa situação, fa zendo com que alguns homens
que te nham preferências definidas também se abstenham. Na realidade, como
6. Por reto rnos reais, nos referimos àqueles que cada cidadão pó:ç~-beí;ia nu m mundo perfei
o valor do vo to de cada cidadão é geralmente bem pequeno, qualquer custo
tamen te in tbr-
m t~ do. pode ameaçar de colapso o sistema político devido à fal ta de participaçã o.
284
21!5
UMA TEORIA ECON0MICA DA DEMOCRACIA AS CAUSAS E EFEITOS DA ABSTENÇÃO RACIONAL

A análise adicional é complicada por um problema de oligopólio seme- da racionalidade de curto prazo pode concebivelmente fazer com que a demo-
lhante àquel e descrito no Capítu lo 9. Se cada eleitor que apóia um partido cracia desmorone. Não importa quão improvável esse resultado possa parecer,
espera que muitos outros votem, seu próprio valor de voto é minúsculo; desse ele é tão desastroso que todo cidadão está disposto a arca r com pelo meno~
modo, ele é superado por um custo de voto muito pequeno. Quanto mais elei- algum custo, a fim de se assegurar contra ele. Quanto mais provável ele pare-
tores existirem que se sintam dessa forma, menor é o total de votos. Mas m:n ce, maior é 9 custo com que ele está disposto a arcar.
total pequeno de votos aumenta a probabilidade de que qualquer voto indivi- Como o ato de votar é uma forma de seguro contra ess a catástrofe,
dualmente seja decisivo; assim, o valor do voto de cada cidadão pode aumen- todo cidadão racional recebe algum retorno do ato de votar per se quandd
tar até 0 ponto em que supera o custo do voto. Portanto, os cidadãos que pen- o voto é caro. Sua magnitude (1) nunca é zero, (2) varia em relação diretà
sam que outros esperam que muitos votem irão eles próprios esperar que pou- aos benefícios que ele obtém da democracia e (3) varia inversamente à
cos votem, e i rã o querer estar entre aqueles poucos. quantidade de outros cidadãos que ele espera que votem. O último desses
Cada cidadão está , desse modo, preso num labirinto de va riação conjec- fatores depende do custo do voto e dos retornos que ele pensa que outros
turai. A importância de seu próprio voto depende de quão importantes as obterão daí. Desse modo, não eliminamo s completamente o problema do
outras pessoas pensam que são seus votos, o que, por sua vez, depende de quão oligopólio, mas introduzi mos um outro fator que tende a contrabalançar
importante ele pensa que é seu voto. Ele pode concluir ou que (I) já que mui- sua importância.
tos outros vão votar, não va le a pena ele votar ou que (2) já que muitos outros A fim de mostrar como esse fato r opera, vamos abordá-lo 'de um outro
racioc inam dessa fo rma, eles se absterão e portanto ele deveria votar. Se todos ângulo. Iniplícito ao longo de nosso estudo está o seguinte pressuposto: os
chegarem à primeira conclusão, ninguém vota; ao passo que, se todos chega- homens racionais aceitam limitações à sua capacidade de ter ganhos de curto
rem à segunda conclusão, todo cidadão vota, a menos que seja indiferente. prazo a fim de obter maiores ganhos a longo prazo. Esse pressuposto aparece
Esses resultados causam seu próprio fracasso. Quando ninguém vota, a em muitos dos dispositivos da constituição, expostos no Capítulo 1, e também
democracia desmorona. Contudo, se todos que não são indi feren tes votam, na na solução do problema de indivisibilidade, exposto no Capítulo 1O. As limi -
próxima eleição cada um se absterá, já que seu voto teve tão pouco efeito.ante- tações que os homens acei tam são geralmente "regras do jogo", sem as quais
riormente (isto é, quando todos votaram). Desse modo, se supusermos que não se pode jogar nenhum jogo. Cada indivíduo sabe que pode ganhar em
todos os homens pensam da mesma forma, a democracia parece incapaz de alguns momentos violando as regras do jogo, mas também sabe que a violação
funcionar racionalmente. Que regra podemos postular, dentro do referencial de ·constante por parte de muitos cidadãos destruirá o jogo e introduzirá o caos
nosso modelo, para mostrar como os homens racionais podein chegar a dife- social. Como ele próprio seria um perdedor, caso prevalecesse o caos, ele resis-
rentes conclusões, embora estejam considerando a mesma situação? te à tentação mornent~nea de deixar que triunfe a racionalidade individual de
A resposta consiste de duas partes: curto prazo sobre a racionalidade individual de longo prazo . Certamente, essa
resistência é racional.
1. Os homens racionais numa democracia são motivados em alguma medida Entretanto, ela não é uniforme por três motivos: (I) a vinculação entre
por um senso de responsabilidade social relativamente independente de um a violação específica das regras e o conseqüente caos não é igualmente
seus próprios ganhos e perdas de curto prazo. óbvia em todos os casos, (2) algumas viol ações levam a desordens piores
2. Se cons-iderarmos essa responsabilidade como parte do retorno do ato de que as causadas por outras violações e (3) os ganhos imediatos provenien-
votar, é possível que o custo do voto seja superado pelos seus retornos no tes da violação não são sempre os mesmos. Por exemplo, os efeitos deleté-
caso de alguns mas não de todos os homens. rios advindos da falta universal de comparec imento às urnas são ao mesmo
tempo mais claros e piores que os da falha universal de se tornar bem-infor-
Vamos examinar essas proposições na ordem. mado antes de votar. Igualmente, o custo evitado por não pagar imposto de
Algo que todos os cidadãos em nosso m?del() têm em comum é o dese- renda é muito maior do que o evitado por não votar. Por essas razões, os
jo de ver a democracia funcionar. Todavia, se exist~m custos do voto, a busca ' homens podem contar uns com os outros no sentido de se aterem volunta-
2M 287
UM/1 TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA AS CAUSAS E EFEITOS DA ABSTENÇiO RACIONAL

riamente às reg ras em graus difere ntes, em virt ude de reg ras dife rentes. Em Naturalmente, ele realmente obterá essa recompensa mesmo que ele pró-
algu ns casos, têm que apoiar as regras com vigo r a fim de garantir sua prio não vote, desde que um número suficiente de outros cidadãos o façam.
observância. l\fas já mostramos que ele está disposto a arcar com certos cusros de curto
A participação nas eleições é uma das regras do jogo numa democracia, prazo que poderia evitar a fim de fazer sua parte no que tange a proporcionar
porque sem ela a democracia não pode funcionar. Como as conseqüências da beneficios de longo prazo. O custo máximo com que arcará por esse moti vo
falha universal de comparecimento às urnas são tanto óbvias quanto desastro- em qualquer eleição dada é aquele que apenas contrabalança seu V<j lor de par-
sas, e como o custo do ato de votar é pequeno, pelo menos alguns homens ticipação a longo prazo.
podem raciona lmente se motivar a votarem, mesmo quando seus ganhos pes- Desse modo, o retorno total que um cida dão recebe do ato de votar nunú
soais no curto prazo forem superados pelos seus custos pessoais. Entretanto, dada eleição consiste de seu valor de participação a longo prazo, acrescido de
essa conclusão levan ta dois problemas. seu valor de voto. Em outras pal avras, a recompensa que um homem obtém por
O primeiro é a natureza arbitrária de se presumir que essa mot ivação fun- votar depende de ( 1) quanto ele valoriza o fa to de viver numa democracia, (2)
ciona em relação ao ato de votar mas não em relação a outras ações políticas. quanto ele se importa com qual partido vencerá, (3) quão próxima ele acredi-
Por que, por exemplo, os homens racionais não estão dispostos a encontrar ta estar a eleição e (4) quantos outros cidadãos ele acredita que votarãos. Essas
suas verdade iras preferências antes de votar, já que se beneficiarão, no longo quatro variáveis asseguram uma gama relativamente amp la de retornos possí-
prazo, com isso? Só podemos responder apontando para os fatores menciona- veis advindos do ato de vot~r para diferentes indivíduos. A gama de custos
dos anteriormente: (I) os maus efeitos potenciais de não votar são piores do possíveis també m é ampla, como vimos anteriormente. Portanto, uma combi-
que os de não estar info rmado, (2) a vinculação entre deixar de vota r e seus nação de retornos e custos pode fac ilmente resultar num resul tado misto- isto
maus efeitos é mais clara que aquela entre deixa r de se informar e seus maus é, num grande número de eleitores cujos retornos excedem seus custos e num
efeitos e (3) o custo do ato de votar é mais baixo que o custo de se informar7 grande número de abstinentes cuj os custos excedem seus retornos.
A lguns desses ou tod os es ses argumentos se ap licam a todos os outros casos Sem abandonar nosso pressuposto de que todos os homens são raci o-
de benefícios indivisíve is em que presumimos que a raciona lidadE>a curto nais, podemos desse modo expl ica r os seguintes fenô menos por meio de
prazo fosse dominante (por exemplo, pagar impostos). · nosso modelo:
Uma segunda dificuldade é explicar por que alguns homens votam e
alguns se abstêm ainda que todos apóiem a democracia e se beneficiem com 1. Alguns homens se abstêm todo o tempo, outros se abstêm às vezes e outros
sua continuidade. Reso lver esse problema exige a segunda proposição mencio- nunca se abstêm.
nada anteriormente: os reto rnos na real idade superam os custos para alguns 2. A porcentagem do eleitorado que se abstém varia de eleição para eleição.
mas não para todos. 3. Muitos homens que votam não se tornam bem-informados antes de votar.
Em bora os benefícios que cada cidadão obtém pelo fato de viver numa 4. Ape nas alguns homens que se tornam bem-informados não vota m.
democraci a realmente lhe advenham de modo contínuo ao longo do tempo, ele
pode considerá-los como um capital total que lhe paga juros a cada eleição. Além disso, nossa análise iso lou diversos fatores dos quais depende a
Esse procedimento é rac ional porque o ato de votar é um pré-requi s ito neces- incidência de abstenção racionaL Portanto, pode ser útil para propor métodos
sá rio para a democracia; portanto, a democracia é, nesse sentido, uma recom- de prever quantos eleitores se absterão numa dada eleição9.
pensa pelo ato de votar. Chamamos a parte dessa recompensa que o cidadão
recebe a cada eleição seu valor de participação a longo prazo.

8. Essa lista mostra claramente a razão por que a motivaç.:io para votar é mais forte que a motivação para
se tornar bem-infOrmado. A primeira abrfl n.ge todos os quatro fatores mt! ncionados, no passo que a lll !"i-
7. Nesse caso. um outro J-~lto e re leva nte: votar é um atç claTamente di stinto e identificável; ao passo que ma com preende apenas os fatores (2) e (3).
"estar bem ~ informado" é um estado de espírito vago·-8 u~ · é; difícil, mes mo para o próprio iud ivíQuo. 9. Desnecessário dizer, outros autores sa lientaram os mesmos fatores. Parél uma anál ise resum ida de seu s
recon hecer. . · ~ pontos de vista e descobert as, ve r V O. Key Jr., op. cit. . Capitulo 19.
288
289
UMA TEORIA ECONOM!CA DA DEMOCRACIA
!IS CA US.1 S E EFEITOS DA AIISTENÇlO 1/ACION;i/,

C Um sumário revisto de como os homens racionais decidem como votar " '
b. Se a soma dessas quantidades é menor que o custo do ato de votar, e le se
abstém.
A introdução dos custos do ato de votar em nosso modelo nos obriga a
5. Ao longo dos processos acima, ele busca mais informação sobre todas as
revisar de novo a regra de componame nro formulada primeirame nte no
entidades envolvidas sempre que a recompensa prevista excede o custo .
Capítulo 3. Num mundo incerto, cada cidadão racional toma sua decisão de
Como essa informação pode alterar sua estimativa de qualquer entidade, ele
voto da seguinte maneira:
pode m~dar de uma categoria para outra no meio de suas deliberaçõe s. Ele
vota de acordo com as regras aplicáveis à categoria na qual se encontra no
l. Faz estimativas preliminares de seu diferencial partidário previsto, do custo
dia da eleiçi'io 11.
do ato de votar, de seu valor de participação a longo prazo e do número de
outros cidadãos que acredita que votarão.
2. Se seu diferencial partidário é zero porque todas as políticas e plataformas
D. A relaçüo entre o comportam ento de voto e a dislribuiçüo de puder
partidárias lhe parecem iguais, ele pesa, contra o custo do ato de votar, seu
valor de participação de longo prazo acrescido do valor previsto de
Se traduzirmos os resultados das deliberações acima em tipos possíveis
"muda11ça" em oposição a "nenhuma mudança" (ou vice-versa) 10
de comportom ento, descobriremos que os cidadãos em nosso modelo podem
a. Se os retqrnos superam os custos e ele apóia a "mudança", vota no par-
reagir a uma eleição fazendo as seguintes coisas:
tido de oposição. (Num sistema multipartidário, escolhe aleatoriame nk
um dos partidos de oposição e vota nele).
I. Votand o em seu partido favorito.
b. Se os retornos superam os custos e ele apóia "nenhuma mudança", ele
2. Votando em algu m outro partido, esco lhido por razões estratégicas, porque
vota no partido que está no poder. (Se uma coalizão esti ver no poder,
seu partido favorito não tem chances.
vota num dos partidos que fàzem parte dela, escolhido a leatoriamente.)
3. Votando num partido esco lhido aleatoriame nte.
c. Se os custos superam os retornos, se abstém.
4. Abstendo-se.
3. Se seu diferencial partidário é zero porque ele espera rendas de benefícios
idênticas de todos os partidos, ainda que suas políticas e plataformas sejam
Esses quatro tipos de ação não resultam e m igual influência para os c ida-
diferentes, ele pesa apenas seu va lor de participação a longo prazo contra o
dãos que as rea lizam. Vistos como um grupo, os cidadãos que votam por pre-
custo do ato de votar.
ferência determinam o resultado imediato da eleição e têm um forte efeito
a. Se os retornos superam os custos, ele vota no partido esco lhido aleato-
sobre o desenvolvim ento a longo prazo de políticas partidárias . Os cidadãos
riamente.
que votam aleatoriame nte exercem ape nas o último efeito, já que seus votos se
b. Se os custos superam os retornos, ele se abstém.
neutrali zam no que diz respeito ao resultodo imediato. Os cidadãos que se abs-
4. Se seu diferencial partidário é zero, ele estima quão próxima está a eleição
têm também não exercem qualquer influência sobre quem vence a eleição.
e desconta seu diferencial partidário de acordo com isso. (Num sistema
Desse modo, o comportame nto de voto é um determinante crucial da distribui-
multi partidário, ele também tem de decidir se seu partido favorito não tem
ção de poder político.
chances, tal como descrito no Capitulo 3.)
a. Se o diferencial partidário descontado mais o valor de partici pação de
longo prazo excedem o custo do ato de vota r, ele vota no seu partido
favorito (ou em algum outro partido, em alguns casos-- ver Capitulo 3 ). ] ! . Esse método cxcessivmnente compiicM!o de decisiTo sobre como vot.:H· pan.!cc apres entar pouca
s sc mc-
lha nçc1s com a maneira como os homens agem no mundo real. Entretanto. co m cxceçào de uma
eta p~1 .
todo o processo está neces sariamen te implíci to no com portamento ele: qualquer eleitor rm.: ional. !llCSllll)
tlU C a
observação casual deixe de contirmar esse fato. A única etapa que nfio é ncccssflria C o uso
I O. Para uma explicação sobre por que ele considera "muda;l~~..-'~m; oposição a "nenhuma mudança" ness9 mecanismo aleatório de "d~sc mpate' ' por c itlad;:1os que sciu indiferentes 111as desejam votar. como
de um
caso. ver Capítulo 3, Seção li, C. ' clll
2a, 2b c 3a, acima. /\ s implicnções dessa etapa sfio discutidas no ApC:ndice ~~este cap ítul o.
2YO
2YI
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA AS CAUSAS E EFEITOS DA ABSTENÇÃO RACIONAL

Há duas razões para suspeitar que a proporção de cidadãos de baixa não é muito grande porque os beneficios da democracia são indivisíveis. Não
renda qu e se abstêm é geralmente maior qu e a proporção de cidadãos de alta obstante, ajuda a reso lver os problemas de oligopólio qu e os eleitores e nfren-
renda que o fazem. Primeiro, é mais difícil para os cidadãos de baixa renda tam. evitando com isso que a abstenção universal paralise a democracia.
arcar com o custo de vota r; portanto, mesmo que os retornos entre os c idadãos O retorno total qu e cada cidadão recebe do ato de votar depende ( 1) dos
de alta renda e os de baixa renda sej am os mesmos, menos desses últimos benefícios que obtém da democracia, (2) de quanto ele qu er que um partido
votam. Segundo, é mais dificil para os cidadãos de baixa renda arcar com o específico vença, (3) de quão próxima ele acredita estar a eleição, e (4) de
custo de informação; assim, é prováve l que uma maior quantidade deles este- quantos outros cidadãos ele crê que irão votar. Essas variáveis asseguram um~l
ja incerta porque lhes falta informação. Como a incerteza reduz os retornos gama relativamente ampla de retornos possíveis, semelhante à gama de custo.s
provenientes do ato de votar, uma proporção menor de grupos de baixa renda do ato de votar. Assim, quando os cidadãos confrontam seus custos e retornos,
vota ria, mesmo que fosse igualmente dificil para todos arcar com os custos do alguns votam e outros se abstêm.
ato de votar. Entretanto, a taxa de abst<mção é mais alta e ntre os cidadãos de baixa
Como os cidadãos que se abstêm exercem menos influência do que aque- renda do que entre os de alta renda por duas razões. Como é mais difícil para
les que votam, é provável qu e os grupos de baixa renda na sociedade te nham os primeiros pagar o custo do ato de votar, são necessá rios retornos mais altos
menos poder político do que seus números garantem, e os grupos de alta renda, para conseguir que eles votem. E como eles podem com meno r facilidade arcar
mais. Uma vez mais, vemos que a necessidade de arcar com os custos econô- com o custo de informação, têm menos dados e ficam mai s incertos; portanto,
micos, a fim de agir politicamente, influi na distribuição de poder, contra os descontam mais os retornos provenientes do ato de votar.
cidadãos com rendas baixas. Entretanto, não podemos· dizer a priori exatamen-
te quão significativo realmente é esse viés .
APÊNDICE: A POSSÍVEL EXISTÊNCIA DE IRRACIONALIDADE NO MODELO

II! RESUMO Ao longo des te estudo, evitamos fazer supos ições arbitrárias sem apre-
sentar ao menos algumas razões por que elas são plausíve is. Porta nto, oferece-
Quando o ato de votar não tem custo, qualquer retorno torna irracional a mos este apêndi ce como uma apologia por uma s upos ição feita neste capítul o
abstenção, de modo que todos os que têm mesmo uma leve preferê ncia parti- que é arbitrária, mas para a qual até agora não de mos qualquer explicação.
dária votam. Por outro lado, a abstenção não prejudica aqueles qu e são indife- O postulad o a q ue es tamos nos referindo é o segu inte: todo cidadão que
rentes porque (1) a democracia funciona mesmo que eles não votem e (2) os deseja votar mas é indiferente quanto ao vencedor escolhe um partido aleato-
partidos ainda satisfazem seus interesses de modo a conseguir seus votos da riamente e vota nele. Do ponto de vista do indivíduo, não há qualquer razão
próxima vez. Portanto, não há l'etorno proveniente do ato de votar per se, e para que a seleção aleatória seja preferível a alguns outros métodos de esco-
todos os cidadãos indiferentes se abstêm. lha. Como ele não consegue distinguir entre os partidos com base nas políticas
Quando o ato de votar é caro, se us cus tos podem superar seus re tornos, deles, ele poderia igualmente usar qualquer outra base que o agrade. Por exem-
de tal forma que a abstenção pode ser rac ional mesmo no caso de cidadãos plo, poderia vota r no partido cujo líder tem a perso nalidade mai s atraente, ou
com preferê ncias partidárias. Na realidade, os re tornos provenientes do a to de naqueles cujos herói s históricos mais o agradem: o u naq ue le e m qu e seu pa i
votar são geralmente tão baixos que mesmo os custos pequenos podem faze r votou. Desse modo, um homem racional pode emprega r meca nismos politica-
co m que muitos eleitores se abstenham; desse modo, variações mínimas no mente irracionais para dec idir em quem votar.
custo podem redistribuir o poder político acentuadamente. Embora o uso desses esquemas seja individualmente racional, ele é
Um dos retornos provenientes do ato de votar nasce da percepção de cada socialmente irracional. Se os eleitores indiferentes não fazem escolhas de voto
cidadão de que a democracia não pode funcionar a ~nenos que as pessoas aleatoriamente, seus votos deixam de se neutralizar; assim, os homens que são
votem. Esse retorno independe de seus ganhds 1i"perdas de curto prazo, mas , indiferentes qua nto a quem vence afetam o resultado de cada e leição. Não ape-

2Y2 293
UMA TEOR/,-1 ECONOM!CA DA DEMOCRACIA

nas esse arranjo é ineficiente per se, mas também pode ter efeitos drásticos
sobre o comportamento partidário. Se o número de eleitores indiferentes for
grande, os partidos planejarão suas ações e declarações de modo a influenciar
os mecanismos não-raciomus que eles acham que esses eleitores estarão usan-
do. Por conseguinte, os partidos deixarão de devotar todas suas energias á exe- Parte IV
cução de sua função social, que é formular políticas relevantes aos desejos
políticos dos cidadãos.
IMPLICAÇÕES E HIPÓTESES DERIVADAS
Obviamente, adotamos como pressuposto a seleção aleatória a fim de
evitar esse resultado. Entretanto, acreditamos que a irracionalidade não ocor-
reria numa medida significativa no modelo, mesmo que abandonássemos esse
pressuposto. Em nossa opinião, aqueles cidadãos que se interessam suficien-
temente por política a ponto de votar quase sempre têm alguma preferência. Se
isso for verdade, um número tão pequeno de eleitores racionais está em situa-
ção de ser influenciado por fatores politicamente inacionais que os partidos
não gastam muita,encrgia os cortejando. Admitidamente, esse ponto de vista é
simplesmente uma opinião.
Há outras partes da análise em que os fatores inacionais poderiam con-
cebivelmente exercer influência, embora nenhum seja tão inequívoco quanto
os acima. Por exemplo, se contamos o tempo que leva para ir às urnas como
um custo do ato de votar, por que não contar o prestígio social recebido pelo
ato de votar como um retorno? Claramente, a sociedade concede esse prestí-
gio aos homens a fim de fazer com que eles votem; não é portanto racional que
os homens busquem essa recompensal2'?
Como salientamos no Capítulo 1, o problema desses argumentos é que
eles racionalizam tudo. Se é racional votar por prestígio, por que não é racio-
nal votar a fim de agradar ao patrão ou à namorada? Logo, todo comportamen-
to se torna racional porque todo ato é um meio para atingir um fim que o ator
valoriza. Para evitar essa conclusão estéril, consideramos como racionais ape-
nas ações que levassem a fins estritamente políticos ou econômicos.

12. Realmente, o prestígio social vinculado ao 810 ele votar, no mundo real, é anúlogo <:lO valor de ptlrlici-
pação a longo prazo em nosso modelo. Podemos razoavelmente supor que os cidadãos do mundo real
não são tão calcu!ist<Js como os do modelo~ Portanto, os líderes da sociedade dão um jeito para que eles
percebam a responsabilidade soci;ll sob a tiJrma de sentimentos de culp'l ror ações equivocadas (ex.:
não votar) c sentimentos de recompensa por nçõcs corretas (ex .. votclr) .. Esses sentimentos llitlcionam
num nível inconsciente para atingir a mesma finalidade q~1c o _retorno prOveniente do ato de votnr per
.-:e atinge conscientemente em nosso modelo. Num certo séu,ti_du;;portanto, já explicamos o runciona-
mcnto do prestígio socía! na estrutura do modelo. '

2Y4
15

UM COMENTÁ RIO SOBRE AS TEORIAS ECONÔMIC AS


DE COMPORTAMENTO GOVERNAMENTAL

INTRODUÇÃO

Embora poucos economi stas tenham tentado explicar o comportamen to


governamental como parte de uma teo ria geral do equilíbrio, muitos fizeram
afirmações normat ivas que implicam uma certa concepção de governo. Nes te
capítulo, examinamos essa concepção para ve r (I) se ela é compatível com os
axiomas bás icos da teoria econômica e (2) que implicações esses axiomas têm
para teori as explícitas de governo como as nossas.

OBJETIVOS

Neste capítulo, tentamos provar as seguintes proposições:

I. A concepção de governo implícita em grande parte da teoria econômica tra-


dicional é incompatível com os axiomas que explicam como funcion a o
setor privado.
2. Qualquer tentativa de lidar com todas as formas de governo por meio de
uma única teoria econômica está fadada a ser ou autocontraditória ou geral
demais para ser significativa.
3. A fim de explicar o papel do governo na economia, seja num nível norma-
tivo, seja nu m nível positivo, os economistas devem levar em conta a con s-
297
U!VIA TEOR IA ECONQ MICA DA D EMOC/I i/C/A
UM COMEN TÁRIO SOO!IE AS TEOIIIAS ECON6
MICIIS D E COk!PO RTAME NTO C OVERNAML"N7>J
L
ti tuição polític a da sociedade; portanto, a economia
e a polític a devem se tribuíd a dos ricos para os pobres . Como o govern
fundir numa teoria unific ada de ação soc ial o é o agente que faz a redis-
tribuiç ão, podem os conclu ir que Lerne r acredi ta
que a fu nção precíp ua do
gover no é "maxi mizar a satisfa ção total numa socied
ade"-
0 segun do tipo de prescri ção feita a respeito do
!. A INCON SISTÊNCIA DAS TEORIAS ECON ÔMICA gover no é uma design a-
S TRADICIONAIS ção explícita de uma meta especí fica de políticas
DE GOVE RNO como sendo "precí pua" a ele.
Por exemp lo, Adolp h Wagn er consid erava a redistr
ibuiçã o de renda como um
dever do Estado , embor a mascarasse essa opinião
A. A visão implícita na teoria tradic ional pessoa l como uma " deman;-
da" reconh ecida pela "mode rna ciênci a da econo
mia". Ele afirm a que:
As tentati vas de tratar o govern o como uma variáv
el endóg ena numa O Estado, ao adotar política s adequa das, deveria
teoria geral do equilí brio são extrem ament e escass remedi ar os mal es que não são dev i- /
as, porqu e a maior ia dos dos a sua ação anteri or e m questõe s finance iras
ou ou tras. Dessa[ ... ] demand a [ ... ) segue-
teóric os seguiu a tradiç ão clássica de consid erar o se que [ .. ,] a tributaç ão, além de servir ao propós
govern o como uma influê n- ito purame nte finance iro deprop orciona r
cia pertur bador a sobre a econo mia privad a auto-r recei ta suficie nte, deveria ser e mprega da com o
egulad ora!. Portan to, eles o objetivo de rea li zar uma di stribuiç ão dife-
consid eraram como um dado exóge no e não como rente ele renda em rel ação àque la que resulta ri a elo
uma parte intríns eca da funci ona mento da li vre conco rrência na
divisã o do trabalh o. Mas o papel crucia l do govern base ela presente ordem soc ial 4
o em todos os campo s da
ação econô mica forçou os econo mistas a faze rem
afirma ções sobre seu co m-
portam ento , apesar da escassez de teoria s gera is a Outro desses JUÍzos de valor explíc itos é fe ito
seu respei to. Espec ialmen te por Lerne r da seguin te
nos campo s de fi nança s públicas e economia do marieira:
bem-e star socia l, as prescri-
ções norma tivas abund am. Se exami namos algum
as de las, desco brimo s que [É] dever do governo - talvez até mesm o o dever primor
qu ase todas sugere m uma conce pção semelhante dial do govern o - garanti r a
do papel precíp u o do gover- m anuten ção de pleno empreg o5
no na econo mia2
Essas prescrições são geralm ente feitas sob uma de
três form as. A priníeira Nenhu m desses dois tipos de prescr ição realme nte
é um julgam ento de valor disfarçado sob a forma de se qualif ica como uma
uma oração cond iciona l que teoria norma ti va de governo, já que o prime iro não
postula uma meta e de uma afirmação presumivelme é suf iciente mente explíc i-
nte factual que descreve to e o segun d o, suficie nteme nte geral. Mas é
como atingi-la. Assim di z o professor A. P Lerner em difícil encon trar afi rmaçõ es
The Economics ofContm!: explíc itas dos critéri os pelos quais ações própri as
ao govern o podem ser dife-
rencia das daque las própri as aos agentes privados.
Se se deseja maxim izar a sati sfação total numa soci edade, Uma das mais ampla s foi
o proced imento rac ional feita por Hugh Dalton em The Principies olPublic
é d ividir a renda numa base igualitúr-ia'- Finance:

. A maiori a das operaç ões de finança s pública s


Lerne r qualifica essa descrição do "proce dimen se res olvem num a séri e de transfe -
to racion al" poster ior- rênc ias de poder de compra [ ... ] de ce rtos indivíd
uos para autorid ades públi cas, e nova-
mente em sua análise, mas retém a idéia de que algum mente dessas autorid ades, por meio de gastos públi
a renda deveria ser redis- cos, para otttros indivíd u os[ ... ] Como
resul tado dessas opéraç ões de finança s públi cas
, mudan ças ocorrem na quantid ade e na
naturez a da riqueza que é produz ida, e na distribu
ição daquel a ri q ueza e ntre os indi víduos
e classes . Essas-m udan ças, em seus efeitos agrega
dos , são so ci almen te vantaj osas'/ Em
!. Ver Gerhard Colm, Es.my.\· in P11blic Finance and caso a firm ativo, as operaç ões se justific am; e m
Fi.Ycal Policy. New York, OxHxci Univers ity Press. caso negativ o, não. O mel hor sistem a de
1955, pp. 6-8.
2. Essa coincidência não si gni fica que todos os
economistas concordam quanto às recome ndações
ti cas para a açfío governam entaL Ao contnlrio, de poli·
eles concordam com uma afirmação muito ampla
objeto dessa ação: os governos deveriam maximiz do
ar o bem-esta r socia l. De..que modo esse objeti
melhor nt ingido é uma quest~o muito controversa. vo é 4. Adoph Wagner, FinaiiZl!'issensch qj;, Vol. I, Parte
. 27, tal como é citado em Elmer O. Fagan c C.
3. Abba P. Lerner, The Ec0110111ics q( Co11rrof. . Macy, eds .• Pubfic f'f/l(mce: Selected Readings. \Vard
New York, The Mt~,<.:mTi"G\1 Company, 194 4, p. 32. New York. Longmans. Grecn and Co., 1936, p.
5. Lern er, àp. cit., p. 307.. 179.
298
2YY
UMA TE0/1/A ECONÓMICA DA DEMOC!IAC!A
UM COMENTiÍ/110 SOB/I E AS TEORIAS ECONÓMICAS DE COMPORTAMENTO GOVERN;!MENTAL

finanças públicas é aquele que assegura um máximo de vantagem social a partir das ope-
rações que conduzr'.
Essa dualidade nasce do axioma do interesse pessoal, que afirma que, em
geral, os homens realizam atividades econômicas principalmente para promo-
n:rern seus próprios objetiYos pri';ados e apenas secundariamente para propor-
Uma afirmação semelhante aparece em Taxation and We/jàre, de Harvey
W Peclc cionarem beneficios para a sociedade (isto é, para os outros homens). Do
ponto de vista da sociedade como um todo, o objetivo da ação de cada homem
Se a operação pública de uma empresa produzir uma utilidade social líquida maior,
é o cumprimento de sua função social. Mas, do seu próprio ponto de vista, ele
os serviços prestados por essa empresa deveriam fazer parte da categoria dos bens públicos7 age para lograr seus próprios fins, que freqüentemente não estão i·elacionados
per se com aquela função. Portanto, quanto teorizamos sobre seu comporta-
Peck também cita a formulação proposta por Erik Lindahl: mento, não deveríamos nos limitar a descrever sua função social; deveríamos
também mostrar como ele está motivado a desempenhá-la.
De acordo com Lindahl [ ... ]a produção de bens públicos deveria ser realizada até o Todo economista reconhece esse estado de coisas quando fala sobre os
ponto em que a utilidade é contrabalançada pelos custos, como é a tendência na economia agentes econômicos privados. Ele não aconselha as corporações monopolistas
privada, ou em que a satisü1ção marginal é a mesma tanto em relação aos bens públicos a aumentar o bem-estar social cortando preços- e desse modo reduzindo seus
quanto privados8
lucros. Ao contrário, ele supõe que se pode esperar razoavelmente que os
homens que as operam maxi~11izem seus próprios lucros já que são humanos.
Essas poucas citações completam nossa amostragem, que, embora
Da mesma maneira, não acon'selha um sindicato a deixar de restringir a entra-
pequena, é, em nossa opinião, bastante típica de economisras não-marxistas.
da, porque fazê--lo provoca alocação ineficiente de recursos. Ele poderia crer
Por trás das prescrições citadas oculta-se uma única concepção de gover-
que a entrada deveria ser mais fácil para o bem da sociedade, mas se vir que
no: o governo é aquele agente na divisão do trabalho que tem como sua função
os membros do sindicato se beneficiam da entrada fechada, considera que eles
precípua a maximização do bem-estar social9 Entretanto, como essa concepção
estão agindo racionalmente em seu próprio interesse.
não é quase nunca formulada assim tão explicitamente, algumas de suas .impli-
Para remediar essas situações, não sugere que os homens envolvidos dei-
cações não foram reconhecidas. Em particular, o governo é raramente tratado
xem de ser egoístas. Ao invés disso, tenta planejar algum ordenamento social
como uma parte integrante da divisão do trabalho. A tendência clássica ele con-
que beneficie a sociedade através da própria ação daquele egoísmo. Nesse sen-
siderá-lo como estando fora elo sistema sob análise persiste até mesmo quando o
tido, o modelo ele perfeita competição proposto pelos economistas do bem-estar
analista reconhece que o governo tem uma função específica na economia.
é um triunfo de egoísmo. Demonstra como, em certas condições, a sociedade
realmente ganha quando os homens tentam maximizar os lucros e a utilidade.
Os economistas aplicam esse raciocínio aos agentes econômicos priva-
B. A .fi"agi!idade desse ponto de vista
dos não porque são privados, mas porque são agentes. Em suma, são humanos
e as realidades ela natureza humana devem ser levadas em conta em qualquer
Como salientamos no Capítulo 2, pressupõe-se que todo agente na divi-
análise econômica. Ipsofacto, o mesmo tipo de raciocínio deve ser aplicado a
são elo trabalho teGha uma motivação privada assim como uma função sociaL
todas as instituições geridas pelos homens, isto é, a todos os agentes na divi-
são elo trabalho.
6. 1-lugh Da!ton, The Principies o(Public Fillance, London, George Routledge <1ncl Sons, Ltd., 1932, pp. Entretanto, as teorias econômicas do comportamento governamental- na
9-10.
medida em que elas existem - universalmente deixam de atribuir quaisquer
7. f-larvey \V. Pcck, Toxotion mui Hi!l/ltre, New York, Thc Macmi!lan Company, I 925, PP~ 30-36, tc1l como
é citado em Haro!d f'vl. Graves (cd.), Vienpoinls in Pub/ic Finance, New York, Henry Ho!t anel motivações aos homens no governo. Em cada uma das citações acima, e em
Company, 1947, p. 551
quase todos os outros trechos semelhantes, o teórico que está discutindo o
8. Erik Lindahl, Di e Gerechligkeit der Besterung, ta! com9 .é citado em Groves, loc.cit.
9. Bem-estar social é usado aqui como sinônimo de utilidCJde_.sÓ.Gi-al, satisfação numa socicc!dde, vantageiJl
papel elo governo na sociedade simplesmente descreve sua função precípua.
social, e todos os outros termos que se referem à mesma id6ia geral. ~ ' Não diz nada a respeito dos incentivos que poderiam fazer com que aquela
300
301
UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA UM COMENTA RIO SOB li !:: AS TEORIAS ECONÓMIC'AS DE COMPORTAMENTO GOVERNIIMENT!I!.

função fosse realizada pelos homens que dirigem o governo. Contudo, aque les Apenas recentemente foram feitas tentativas de aplicar conceitos econômicos
incentivos são vitais, porque seu funcionamento determina de qu e modo a fun- a es sas questões 11.
ção do governo é cumprida, assim como o grau de competição entre as firmas Evitar a especulação política não impediu muitos economistas de serem
determina que mercadorias são produzidas. Como afirmou Joseph Schumpeter iní1uenciados pelo conceito altamente abstrato de governo tormulado por
num trecho que citamos anteriormente: Jean-Jacques Rousseau' 2 Com efeito;· ele argu mentava que o governo deveria
ser simplesniente um instrumento de consecução da vontade do povo; portan-
Não se segue daí que o signifi cado soci al de um tipo de atividade fomccerá neces - to, em teoria, não tem existência própria, separada daquela vo ntade. A aceita ~
sariamente o poder de mot ivação, dai a explicação do último. Se não o faz, uma teo ri a que
ção desse ponto de vista - mesmo num nível puramente teórico, normativo -l
se contenta com uma análi se da finalidade social ou que precisa ser servida não pode ser
ace ita como uma exp licação adequada das atividades que a servem lO elimina a necessidade de motivação governamental, pelo menos naquele níveL
Isso significa presumir que os governos não são instituições gerida s por
É verdade que os economistas que cometem esse erro raramente são cul- homens, mas são máquinas despersonalizadas , sem atrito, que operam segun-
pados de descrever a realidade de modo impreciso, porque a maioria de sua s do regras matemáticas; por exemplo, realizam a "vontade da maioria" 13 Sendo
afirmações são normati vas, não descritivas. Provavel mente, nenhum deles sus- máquinas, não têm motivações privadas. Não apresentando atrito, seu s proces-
tentaria que os governos no mundo real de fato maximizam o bem-estar social. sos particulares de funcionamento niío afetam seus produ tos. Porta nto, os
Não obstante, pt'escrevem políticas qu e presumem que os governos deve ri am oovernos em todas as sociedade
b .
podem ser tratados por me io da mesma hipó-
maximiza r o bem-estar. Mas é quase inútil aconse lhar os governos a fa zê-lo, tese, independentemen te de sUas estru tura s constitucionais. Essa conveniente
ou fazer recomendações de ação baseadas na suposição de que poderiam fazê- teoria não apenas elimina a necess idade de exp lica1· como qualquer governo
lo, a menos que haja um a razão para crer que o farã o. Ao contrário, o conse- individualmente é motivado a desempenhar sua função, mas também elimina
lho dos economistas pode muito bem ser tão inútil quanto dizer a um monopo-
lista que ma ximizao lucro para vende r seu produto a um custo marginal a fim
de beneficiar a sociedade. 11 . Esse estud o ·é, naturr1lmcntc. umn dcss<~s tcnl<ltivas. Um exemplo de outras lL:n tatlvas scnJclh:lntc~ 0 a
ap licaçilo da teo ria da escolha l a! como é desenvol vid a na econo mia <'1s buroc ra cias pol itic<1 s. Ve r
lic rbcrt S imo n, Admi11istratiFe /Jeltm·iour, Ncw York, Th c Macmi ll;m Cornpany. 1947.
12. Ver Jcan-.l ncqucs Rousscm1, Th e ,)'ocht! Contm ct. 1-l<~ l·n~r Library o r C L1ssics Eclition. Nc w York , H a l'ncr
C Por que os economistas ignoraram o problema Publishin g Co., 1948. i\ exp re ssão usachl por Rousscnu C "a vontnc\c ge ral". Ele próprio n;:io teve c ul pn
pela apli cat.;<io dessa conccpçiio de governo a todos os sis t·cma s polí ti cos. Na rcnl idade. e le a inve nt ou
co mo um ideal con trn o qual con trastar governos existentes. A respon sabilid ade pel a amp !iaç<io crróncr1
A maio_r parte das teorias na economia normativa supõe taci ta mente que da aplicação de sua s id0ias é da qudcs teóri cos econômi cos que seguira m n ra cioc ínio descrito no tcxh'.
o governo irá de fato maximizar o bem-estar, desde que sa iba como L1 zê- lo. embora n 1né1ioria o tenha ll:íto inconscienkmen tc .
1J. Ou tra i nte rp re tação possivcl da teo ria de ROliSScau!.! qu e o govt:rno consiste unica men te de ho me ns
Em nossa opinião, há três razões por que os economistas ignoraram o proble- contratado s que exec ut a m as políticas orckn adas pela "vnnt;H.Ic da 111:1ioria" Cssc a rgum ento explica us
ma de motivação governamental. O primeiro e mais óbvio é que esse proble- motivos privados do s homens no governo el e modo niuito simpks: eles obedece m ao s co m~mdo s elo
povo com pn.:cis<lo, a fim de manter seus empregos, porque a menor desobed iêncfa significa demi ssüo
ma se encontra muito mais no reino da política do que da eco nomia. À medi- imed ia ta. Co mo o nosso est udo inteiro mostra, esse ponto de vist a é incompa tíve l com a i1H.:crtcza c cO I\ I
da que os economistas deslocaram a ênfase da economia política para a aná- n divisão do tra b;:ilh o. Ele presum e que (I) o povo com o Ulll todo tem algum ~ ! vontade a ser n:ali Z<Jd<l
e m rela ção a to das as questões, mio importa quão tri via is c (2) que ele p od~.; cemunicar essas infin ida -
lise puramente científica , dirigiram cada vez menos atenção aos aspectos
de s de vontadCs a seus co ntratmlos (o governo ) se m des truir o dese mp enho das suas próp ri as - t ~lrcl'cls
políticos dos problemas econômicos. Em vez di sso, tenderam a de ixar todas cs pcci<lli zad:ls n<l divi são do trab alho. Enl o utras pal~1vrn s. hú in !t1rmnç<io pcrf'cíw no mui Ido. jama is se
as questões qua se políticas para os cientistas políticos e teóricos políti cos . c ncontrnm problemas de Arrow e a minoria sc mpr~.; se sujeita uirú SéllllCiltC ú ma ior!n. A mnurcza irrea-
\i sta dcss(; racioc ín io é de mo ns trada vi go rosamente po r Sc lunn pe tcr. op. â1. :\dmititlamcn tc. o pressu -
pos to de q ue to da grande corpo raçiio maxim iza os lucros se assenta cxata !ncn\c no mesmo I ipo de rélcio -
c ínio. jú qu~.:: esse press uposto não explica como as motiVi:lÇôcs elos ge rentes cln co rpora ção os levam u
reali zar os dcsc ios dos ac ioni sta s. Mas a mag nitude da di;,torç<lo cnvo !vich1 é muito mai or. numa escala
10 . .loseph Sehumpeler. Capitalism. Socia!ism. mui Dem ocra(:~:. ·Nê\v York, H" rpcr & Brolhcrs, 1')50. p., nac ion a l. elo q t;c no inte rior de umn co rpo raçcio ·- t~o ma io r que n<io ire mos leva r adia nte a d iscussüo
282. Schu mpctcr é um dos poucos econom istas que não ig noran11;\ o prob!cm~L dessa inte rpre tação de gove rno.

302 303
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA UM COMENTAR/O SOBRE AS TEORIAS ECONÓMICAS DE COMPORTAMENTO GOVERNAMENTAL

a necessidade de teorias separadas para explicar diferentes formas de governo. daquela função pode ser considerada em separado do modo como a divisão do
Quão conveniente ! trabalho é organizada para realizá-la.
Obviamente, nenhum economista crê que essa teoria "mecânica" descre- Essa separação da função precípua do goYerno de seu referencia l institu-
va com exatidão o mundo real. Tampouco muitos a aceitariam, presumimos, cional significa que todos os governos podem ser considerados a partir do
como um padrão normativo. Contudo, essa é uma dedução direta de muitas de mesmo ponto de vista, como mencionamos anteriormente. Como, por nature-
suas afirmações - algumas das quais citamos anteriormente neste capítulo. E, za, cada um teh1 poder geral na sua sociedade, sua função presumivelmente diz
na medida em que essas concepções de democracia como vontade do povo se respeito ao bem-estar geralis. Portanto, podemos postular que a função precí-
insinuaram no pensamento dos economistas, a atenção deles se desviou da pua de todo governo é maximizar o bem-estar social. Esse raciocínio culmina
necessidade de explicar o funcionamento do governo como uma instituição. no uso de uma única teoria para tratar de todos os governos, sejam democráti-
A terceira razão por que os economistas não discutiram o incentivo do cos, totalitários, aristocráticos ou monarquistas na forma. Essa conclusão pare-
governo de maximizar o bem-estar social é que eles foram incapazes de con- ce ser sugerida por muitos teóricos econômicos que discutem as políticas ade-
cOl·dar, seja quanto ao que é bem-estar social, seja quanto a como determinar quadas ao governo, sem referência à estrutura política da sociedade envolvida.
o que é. Portanto, concentraram sua análise na natureza da função do bem- Em alguns casos, propõem-se argumentos específicos que aparentemen-.
estar social - isto é, a regra para conversão de preferências individuais em ação te justificam o ponto de vista de que os governos - nas democracias, pelo
social. Especialmente desde que os novos economistas do bem~esta r rejeitaram menos - são altruístas embora os cidadãos privados não o sejam. Por exemplo,
comparações de beneficio cardinal e beneficio interpessoal , os economistas E. R. A. Seligman observa: · .
foram absorvidos pelas dificuldades de extrair racionalmente um conjunto de
preferências sociais de uma população com gostos diversificados. Até que Um indivíduo, associado a outros indivíduos num grupo cooperativo , privado ou
público, torna-se imediatamente, devido ao sim ples fato da associação, a lgo diferente de
essas dificuldades fossem superadas, parecia valer pouco a pena questionar o
seu eu anterior. Su as necessidades sepa radas especiais se transmudam em ·necess idades
pressuposto tácito de que o governo realizaria as preferências da sociedade
comuns [... ] O tema da ciência fiscal [... ] consiste das relações fiscais dos membros do
uma vez que essas fossem descobertas 14 · Estado. Essas re lações fiscais não são as dos indivíduos como tal, mas dos indivíduos em
sua condição políti ca ou pública 1G.

!1. A GENERALIDADE DE TEORIAS DE COMPORTAMENTO GOVERNAMENTAL Aqui Seligman sugere que os critérios que as pessoas aplicam a esco-
lhas referentes à ação governamental são diferentes daqueles que ap licam a
A. Tentativas de aplicar uma teoria a todos os governos escolhas privadas no mercado. Mas esse tipo de argumento é irrel evante para
o problema de motivação governaniental. Mesmo que todo cidadão numa
Em nossa opinião, a deficiênc ia em considerar a motivação governamen - democracia deixe de lado seus próprios interesses especiais quando pensa
tallevou a uma falsa generalidade na teoria de tomada de decisão governamen- politicamente, de modo que as decisões a que se chega visem verdadeira-
tal. Mesmo na teoria normativa, a premissa de que o governo age para maxi- mente à maximização do bem-estar social (presumindo que esse processo
mizar o bem-estar social significa, essencialmente, que os homens que o con- possa ser definido), não há razão para supor a priori que os homens que con-
trolam são perfeitos altruístas no que diz respeito a suas ações produtivas. trolam o aparato governamental sempre executem as política s que os cida-
Apenas eles, entre todos os homens na sociedade, não têm motivações priva- dãos escolhem. Devemos explicar por que aqueles homens desempenham
das outras que não o desempenho de sua função social. Portanto, a natureza

15. Por poder geral, referimo- nos él uma cnpacidade unilateral de coagi r todos os outros homens ou orga-
14. Kenneth Arrow provou que as difi cu ldades envolvidas não p~x!em ser superadas sem algu ns pressupos- nizações na sociedade. Ver o C<1pítulo 2 para uma discussão mais detalhada da natureza do !.!Overno.
tos bastante restritivos quanto a pre ferênci"s individuais>,y~~; -Qapítulo 4 deste estudo c Kenneth J. 16. E. R. A. Seligman, "The Social Thcory o f Fiscal Science", Political Science Quarterly, XLI, 1926, 1<11
Arrow, Social Ch oice and Individual Values. New York . .lohn Wiley & Sons, Inc., 19 5 1. como é ciwdo em Groves, op. ciJ. , p. 4

3114 31!5
'-o b" b' 5\

UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA UM COMENTAR/O SOBRE AS TEORIAS ECONÓMICAS DE COMPORTAMENTO GOVERNAMENTAL

essa funçã o em termos de seus próprios interesses, como observamos no í


O caso em que a soberani a dos consumidores é aba1~donada ou modificada (... ] é
Capítulo 2. prontamente desca rtado. Tudo que precisa ser feito é reformular o argumento precedente
As alternativas são (1) presumir que os homens que controlam os gover- para levar em conta o fato de que as taxas marginais pertinentes de substitui ção são ~que­
nos são perfeitamente altn.iis;as em seus papéis de prodmores ou (2) tratar o las decididas pelo Conselho e não por lares individuais 18

governo como uma máquina que realiza a vontade do povo em vez de uma ins-
tituição controlada por homens. Como mostramos, esses pontos de vista não Nesses trechos, Bergson está discutindo os problemas que tem diante de
se coadunam com os axiomas que explicam como operam todos os outros si um Conselho de Planejamento Central, que tem como sua função social a
agentes econômicos na sociedade. Portanto, nós as rejeitamos como justifica- consecução de uma alocação ótima de recursos na economia. Por trás de se'u
tivas de uso da mesma teoria para explicar a ação governamental em todas as raciocínio estão dois pressupostos tácitos: (1) o Conselho persegue sua fu t-
sociedades, até mesmo num nível normativo. ção social com igual zelo, independentemente de se as preferên'cias às quais
Uma outra dessas justificativas permanece. Ela afirma que a única serve são as de seus próprios membros ou as dos consumidores em geral e (2)
maneira pela qual diversas for mas de governo diferem é que cada uma no caso de soberania dos consumidores, as tentativas do Conselho de maxi-
maximizao bem-estar de uma parcela diferente da sociedade. Segundo esse mizar o bem-estar de lares individuais são igualmente fervorosas, indepen-
ponto de vista, um governo democrático e um gove rno comunista enfrentam dentemente do sistema político existente no Estado socialista. Dito de outro
os mesmos problemas conceitua is e lidam com eles do mesmo modo, mas modo, o Conselho de Planejamento consiste de um grupo de altruístas cuj o
preferências individuais são pesadas diferentemente nas suas funções de único fim privado é executar sua função social na divisão do trabalho. Mai s
bem-estar soc ial. Numa democracia, as preferências de todos recebem o uma vez, topamos com a falácia de um governo controlado por' homens com-
mes mo peso; ao passo que, num governo comunista, as preferências dos pletamente altruístas. .
membros do Politburo pesam muito mais do que as dos não-membros. Mas É verdade que Bergson salienta que " no mundo real a questão da eficiên-
o problema de maximização do bem-estar soc ial, dadas as preferências indi- cia comparativa não pode se divorciar completamente das qll.estões de políti-
viduais e seus pesos, é o mesmo em tod a sociedade e é tratado essencial·- ca"19 Mas, em sua análise, ele as separa. Natüralmente, não podemos esperar
mente da mesma maneira. . que Bergson ou qualquer outro economista especifique uma teoria política
Esse tipo de pensamento é exemplificado pela descrição feita por Abram completa todas as vezes que menciona uma ação governamental. No entanto,
Bergson do funcionamento de uma economia socialista. Diz Bergson: não é razoável que qualquer economista exponha uma teoria inteira de com-
portamento gove rnamenta l sem tratar o governo como parte da divisão do tra-
O interesse se concentrou, recentem ente, nas variantes desse caso [o caso de plen a balho, isto é, sem mostrar como as motivações privadas de seus membros
soberania dos consumidores] que surge m quando o próprio Conselho ass ume a tarefa de influenciam suas ações. Portanto, a teoria econômica de ação governamental -
determinar. em maior ou men or grau, o que é bom para os consumidores e aloca recursos mesmo num nível normativo - é simultaneamente uma teoria política e não
com base ni sso [ ... ) Se a deci são é a favo r da soberan ia dos consumi dores, (... ] o bem-estar
pode se basear em considerações puramente econômicas.
da comunidade é constante, aumenta ou diminui , dependendo de se as utili dades dos lares
mdi viduai s forem constantes, aumentarem ou diminuírem. Se a dec isão é contra a sobera-
nia dos consumidores, a função de bem -estar deve ser exp ressa por uma fó rmula na qual
as funções de utilidades dos lares in div iduais são substituídas pelas próprias escalas de prc·· B. Por que são necessárias muitas teorias
ferência do Consel ho 17

Como todo governo é gerido por homens, e como todos os homens têm
Noutro momento, Bergso n observa: de estar privadamente motivados para executar suas funçõ es sociais , a rela-

! 7. Abram Bergson (Burk), "Socia\i st Economics''. em A .S'ufv4~--0/ Contemporcuy Econom ics, cd. por
18. lbid.. pp. 423 -424.
Howa rd Ellis. Phi ladclphia, Thc Blak iston Company. 1949,'1, pp.' 414-41 8.
19 . lbid., p 448.
] {/ti
307
UMA TEORIA ECON6M!CA DA DEMOCRACIA UM COMENTIÍ/110 SOB Rlo AS TEOIIIAS ECONOMICIIS DE COMPOIITAME:NTO COI'EIINAMENTAL

ção estrutural entre a função do governo e as motivações dos que o gerem é consumidores, respectivamente. Toda teoria econômica de governo deve pre-
um determinante crucial de seu comportamento. Essa relação é, em essência, sumir que os governantes desempenha m sua função social principalmente com
3. constituição política da sociedade"o Ela determin3. o relacionamento efeti- o objetivo de a lcançar seus fins pri,:::.dos . Ademais, esses fins são provm ci -
vo entre o governo e os governados (isto é, o resto da sociedade), quer esses mente os mesmos em todas as sociedades: poder, prestíg io, renda e a excita-
últimos tenham uma voz direta na escolha do primeiro ou não. Em outras ção do jogo político. Somente a maneira específica pela qua l o governo é orga-
palavras, a constituição espec ifica os conteúdos da funç ão de bem-estar nizado, que ém parte determi na sua função soc ial, difere de uma sociedade
soc ial, porque fornece uma regra para transfo rmar preferências individuais para outra.
em ação social. Segundo, não pretendemos sugerir que todo economista deve também ser
Como as constituições variam muito, essa regra não é a mesma em todas um teórico po lítico. Quando d iscute uma sociedade específica, o economi sta
as sociedades. O comportamento do governo numa democracia que contém pode tomar sua estrutura política como dada e centrar sua atenção em questões
vários partidos concorrentes tem necessariamente de ser diferente do compor- puramente econômicas. Entretnnto, no ÜlZê-lo, ele não deve presumir - sej a
tamento de um governo num Estado totalitário unipartidário. Tampouco essa tácita, seja explic itamente - que o governo executará automaticamente qu~l­
disparidade pode ser expressa simplesmente como um peso diferente de algu- quer função que o economista considere adequada a ele. Se ele está tratando o
ma função de bem-estar geral. Nesse caso, os processos mesmos de ação social governo num ní vel descriti vo, deve leva r em conta as motivações de seus ope-
são tão dessemelhantes que qualquer teoria que tente abrangê-los deve ser ou radores e a natureza de sua estrutura. E, quando o trata num plano prescritivo,
autocontraditória ou geral demais para ser signi fica tiva. não lhe deve atribuir uma fun ção soc ial incompatível com aquelas motivações
Para evitar esse dilema, os economistas devem formul ar uma teoria e aq uela estrutu rél, a menos que esteJa deliberadamente aconse lhando uma
diferente de comportamento governamental para cada estrutura institucio- mudél nça na constituição política da sociedad e.
nal diferente de governo. A necess idade dessa diversidade na teoria descri- Em terceiro lugar, nossa insistênc ia na im portfmc ia do interesse pessoa l
tiva já é reconhecida. Mas os teóricos não podem nem mesmo fazer prescri- na ação governélmenta l não exclui nem a caridade e altruísmo individuais nem
ções normativas de modo inteligente, a menos que levem em conta as qua- a eficiência institucio nalizada a serviço de outrem. Como salientamos no
lidades peculiares do governo que estão aconse lhando. Na rea lidade, um Capítulo 2, o verdadeiro altruí smo é uma força importante na soc iedade c não
eco nomista normativo que procure descobrir o tipo de organização soc ial deve ser subestimado. Mas os eco nomistas, de Aristóteles a Zeuthen, presum i-
que mais provavelmente atingirá um conjunto dado de metas pode ter que ram que os homens dese mpenham seus papéis na divisão do trabalho como um
considerar tanto os arranjos polí ticos quanto os econômicos como variáveis. meio de servir a seus próprios in te resses pessoais. Estamos simplesmente
Isso é particularmente provável se as metas em questão exigirem ação pedindo que o governo seja reconhec ido como uma parte da divisão do traba-
governamental específica para sua realização. Desse modo, tanto nos planos lho. Além disso, não excluímos a poss ibilidade de que o interesse pessoal entre
p os iti vo~ quanto normativos, a economia e a política se fundem numa teo- os governantes possa assumir formas tais como co mpetição pela me lhor repu-
ria unificada . tação por serviços, ou a Ju ta po r slatus profissional por meio de exce lente tra-
É importante sa lientar quatro coisas que essa conclusão não implica. Em balho. Desse modo , o interesse pessoa l pode estar bem distante de um si mpl es
primeiro lugar, ela não significa que as teorias econômicas de governo não desejo de renda a lta ou poder comp leto; suas formas podem até mesmo ser
podem ter elementos comuns. Ao contrário, elas todas devem ter um núcleo alta mente benéficas para a sociedade. Tudo o que ped imos é que o papel do
idêntico de axiomas, da mesma maneira que a teoria do monopólio e a teoria interesse pessoa l seja iluminado de modo que o governo possa descer de rei-
competitiva presumem a ma ximização de lucros e utilidade para produtores e nos mais etéreos - e menos rc;.di stas - e ass umir seu luga r nas teorias econô-
micas como um age nte humano.
Finalmente, tornar o governo uma vari ável endógena nos mode los eco-
nômicos não eli m ina a possibili dade de usar as ações governamentais como
20. Por constit11ição politica, referim o-nos à real estrutura inst itudO.na[ de governo e não aos documentos
medi das cor retivas na econo JIJin. Atua lmente, os economistas cons ide ram o
sobre os quais se ba seia essa estrutura.

30R 30Y
(
UMA TfOfUA ECONOMfCA DA DEMO CRACIA
UM COMENTAR/O SOBRE AS TEOR IAS ECONÓMICAS DE COMPOIITJ/MENTO GOVERNAMENTAL (
comportamento dos consu midores e produtores como sendo determinados de aplicar o axioma do interesse pessoal aos governos, embora ele seja a base (
por seus próprios interesses pessoais e condições tec nol ógicas. Se os resul- de análise no que tange a agentes econômicos privados.
tados desse comportamento são ética ou economicame nte in satisfatórios ,
Essa inconsistência foi provavelmente causada por três fatores: (1) os
emão o goYerno pode: ser usado como um instrumento para acenar as coi - economistas deixaram a expiicaçào das mOtivações Jo go;-erno para os teón-
sas através da intervenção no mercado livre. À primeira v ista, essa li be rda- cos políticos, (2) as idéias de Rousseau promoveram a visão de que os gover- (
de do governo de agir altruisti camente sobre agentes privados dotados de nos numa democracia não tê m existênci a real separada da "vontade do povo"
interesses pessoais parece ser ob literada, atribuindo ao governo interesses (
e (3) os economistas concentraram sua atenção nos problemas de definir o
pessoais também. Se as próprias ações do governo são determinadas pelas bem-estar social. (
motivações privadas dos homens que o gerem, então não são todas as ações O resultado dessa deficiência é uma suposição inconsciente de que
na sociedade determinadas por um conjunto de equações s imultâneas basea- todos os governos são geridos por altruístas; portanto, eles podem ser trata-
das no interesse pessoal? Se ass im for, que espaço existe para as recomen- (
dos por uma teoria, independentem ente de suas formas políticas. Mas se -0s
dações de políticas? homens no governo agem ou não de modo a maximizar o bem-estar de todos
Numa democracia, podemos ver a resposta imediatament e com base em na sociedade, ou de qualquer grup o específico, depende de como suas moti-
nosso próprio modelo. Em primeiro lu gar, se nossa hipótese estive r correta, os vações se relacionam com essa maximização in stitucional na divisão do tra-
homens no governo alcançam suas próprias metas executando aquelas ações balho. Portanto, a estrutura política de cada sociedade determina como se
governamenta is que mais agradam aos eleitores, exatamente como os empre- pode esperar que o governo se comporte nela. Como essas estruturas diferem,
sários lucram produzindo coisas que o povo quer. Portanto, as recomendações diversas teorias são necessárias para explicar os atos econômicos do govemo
ele políticas podem produzir resultados ou (l) mudando as idéias dos ele itores em diferentes sistemas.
com respeito ao que é desejável (isto é, alterando seus gostos pol íticos) ou (2)
Desse modo, tanto na economia normativa quanto na positiva, a teoriza-
mudando as opiniões do governo quanto ao que mais agrada aos e leitores. ção sobre a ação governamental requer o uso de axiomas políticos. Os econo-
Segundo, a incerteza é tão grande no mundo real qu e o governo não sabe quQi S mistas têm de desenvo lver modelos que unifiquem a pol íti ca e a economia,
são as metas dos eleitores ou como melhor atingi -las. Daí suas ações não como fiz emos neste estudo . (
serem rigidamente determinadas por uma fun ção de voto, não ma is elo que as
ações dos oligopolistas são determinadas prec isamente por uma fun ção ele
demanda. Há muito espaço de escolha, portanto os partidos políticos estão di s-
postos a ouvir conselhos com rel ação a políticas e freqüente mente as adotam.
Os eleitores estão igualmente confusos e abertos a sugestões. Daí as recomen-
dações normativas não serem de modo algum fútei s, mesmo que o interesse
pessoal seja a motivação principal de toda ação social. (

I!! RESUMO

Embora teorias explíc itas de comportame nto governamental sejam raras


na economia, os comentários de diversos teóricos norm ativos revelam uma
suposição comu m de que a função precípua do governo seja a maxi mi zaçi:io do
bem-estar social. Entretanto, esses teóricos não explicam como os homens qu e
gerem governos são motivados a desempenhar essa•funç ão. Porta nto, de ixam

3 / {)
311
~ '.;._.' .. ... -.....
_

16

PROPOSIÇÕES TESTÁVEIS DERIVADAS DA TEORIA

INTRODUÇÃO

Completamos agora o principal objetivo de nosso estudo: propor uma teo-


ria de tomada de decisão governamental democrática e explorar suas principais
ramificações num mundo racional mas incerto. Não é preciso recapitular nos-
sas conclusões, porque já as realçamos nas seções "Objetivos" e "Resumo" de
cada capítulo. Portanto, dedicamos este capítulo final a uma lista de proposi-
ções empiricamente testáveis derivadas de nossas hipóteses básicas.

I. AS HIPÓTESES BASICAS E SUA INTER-RELAÇÃO

Nossa principal tese é de que os partidos na política democrática são aná-


logos aos empresári os numa economia que busque o lucro . De modo a atingir
seus fins privados, eles fo rmulam as políticas que acred ita m que lhes trarão
mais votos, assim como os empresários produ zem os produtos que acredi tam
que lhes trarão mais lucros pela mesma razão. Com a f inalidade de examinar
as implicações dessa tese, ta mbém presumimos que os cidadãos se comportam
racionalmente em política. Essa premissa é ela própria uma segunda hipótese
importante. Portanto, dois conjuntos de proposições testáveis surgem de nosso
estudo- um co njun to derivado de cada uma das principais hipóteses.
313
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UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA PROPOSIÇÓES TESTAVEIS DERIVADAS OA TEORIA


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Além disso, esses dois conjuntos não sã.o inteiramente independentes um Proposição 4: Num sistema multipartidári o governado por uma coalizão,
dó outro, porqu e o pressuposto de que os cidadãos se comportam racio nalmen- o governo toma medidas menos efetivas para resolver problemas sociais bási-
te está im plícito em algum as das conclusões tiradas da hipótese sobre motiva- cos e suas políticas são menos integradas e coerentes do que num sistema
ção partidária. Como resulrado, se a evidência contradiz certas propos ições, bip:Htidario. ~Ex rraida dv Czq:;iiu k• 9.)
não é possível dize r qual das hipóteses básicas é fa lha. Proposição 5: Novos partidos surgem quando ( I) uma mudança nas leis
Por exemp lo, o raciocínio no Capítulo 7 leva à seguinte conclusão: se os de sufrágio altera pronunciadamente a distribuição de cidadãos ao longo da
eleitores se comportam raciona lmente, os partidos que maximizam votos serão escala políti ca, (b) há uma mudança repentina na perspectiva social. do eleitora-
re lati vamente honestos em relação a cumprir suas promessas quando e leitos e do, devido a alguma convul são social como guerra, revolução, inflação ou
suas políticas serão relativamente coerentes ao longo do tempo. Vamos supor depressão ou (c) num sistema bipartidário, um dos partidos assume uma pos i-
que a evidênc ia disponível prove, sem sombra de dúvida, que os partidos não ção moderada sobre uma questão e seus membros radicais organizam um grupo
sã.o nem honestos nem coerentes. Obviamente, pe lo menos uma das hipóteses diss idente para forçá-lo de vo lta a uma posição mais extrema. (Extraída do
está impugnada por esse resu ltado. Mas qual? Não conseguimos saber se os Capítulo 8.)
eleitores não são rac ionais, ou se os partid os não agem no sentido de maximi- Proposiçâo 6: Os governos democráticos tendem a redistribuir renda dos
zar os votos , ou ambos. ricos para os po bres'. (Extraída do Capítu lo 10.)
Essa dificuldade surge com freqüência; portanto, testar a teoria não é tão Proposição 7: Os governos democráticos tendem a apoiar os produtores
simples como poderia parecer inicialmente. Entretanto, como a maioria das mais do que os consumidores em suas ações. (Extraída do Capítulo 13.)
proposições derivadas da hipótese de racionalidade são independentes da tese
de motivação partidária, a primeira pode ser testada diretamente sem esses
resultados ambíguos. B. Deduções a partir da hipótese de racionalidade do cidadão

As seguintes propos ições testáveis derivam da hipótese de que todo cida-


li PROPOSIÇÕES TES1~4.VEJS ESPECÍFICAS dão tenta rac ionalmente max imizar sua renda de utilidade, inclusive aquela
parcela que deriva da atividade governamenta l:
A. Deduções a partir da hipótese de motivação partidária Proposição 8: Entre os cidadãos que decidem como vota r com base nas
questões, os antecedentes de cada partido (especia lmente os ocupantes do
As seguintes proposiçõeS testáveis derivam da hipótese de que os partidos cargo) durante o período eleitora l que acaba de se encerrar são ma is importan-
políticos, numa democracia, planejam suas políticas de modo a maximizar votos: tes para sua ~ decisões do que as promessas do partido para o futuro2 (Extraída
Proposição 1: Os membros do partido têm como sua motivação principal do Capítulo 3.)
o desejo de obter as recompensas intrínsecas à ocupação de cargos de governo;
portanto, formul am políticas como um meio de ocupar o cargo e não buscam o
cargo a fim de executar políticas preconcebidas. (Extraída do Capítulo 2.) Ver R. A. Musgra ve, J J Ctlrrol!, L. O. Cook e L. Franc, "Dístríbution of T3,\:. Paymcnts by lncomc
Proposiçclo 2: Os partidos num sistema bipartidário concordam em rela- Groups: A Cõse Study for 194R", Nationa l Tax Journ al, IV. ma r., 1951, pp. 1-53; e A lan Pencock c P.
R. Brmvn ing, "T he Social Scrvices in Great 13ri tain and thc Rcdistribution o f Income", In com e
ção a quaisquer qu estões que a maioria dos cidadãos apó ie fortemente. (Extraí- Redistríbution and Social Poli( l', Lnndon. Jona th an Cape, 1964. Como o primeiro est udo cóbrc ttpc-
da do Capítulo 4.) nas <l triburaçiío, estimativas de d istribu iç:1o de gastos teri am q ue ser ctc resccntadns pa ra testa r a
Proposição 6. O segundo estudo co ns idera tan to o gasto qua nto a tribu tação e é po rtanto adequado em
Proposiçâo 3: Num sistema bipartidário, as políticas do partido são (a)
si mesmo pClra testar esse corolário. Suas descobertas sustentam nossa hi pótese.
mais vagas, (b) mais semelhan tes às dos outros partidos e (c) menos direta- 2. Nem todos os c idadãos racionais tomam decisões de voto com base em queslõc.::s. Como sa!ienlalllOS
mente vinculadas a uma ideologia do que num sistema multiparticlário. anteriormente, algu ns homens racionais habit ualmente votam no mesmo partido. outros vo tam por meio
de ideologias, e outros ai nda nunca votam. [>or outro lado, nem t·odos os homens que se c01nportam
(Extraída do Capítulo 8.) ass im são rac ionais. Ver Capí tulo s 6 e 7 pa ra uma explicação de qua ndo é racionn l igno rar questões.

314 315
UMA TEOR IA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA
PROPOSIÇÕES TESTAVE!S DERIVADAS Di/ TEORIA

Proposição 9: Em certas circunstâncias, um homem racional vota num par- Prop osiçüo 17: Muitos cidadãos delegam até mesmo os passos ava liati -
tido diferente daquele que ele preferiria ver no governo. (Extraída do Capítulo 3.) vos no ato de votar a outros e seguem o conselho desses outros no momento
Proposição 10: Os homens rac ionais podem votar num partido sem de deposit:n seus \ otos -_ (E.xtr:;íd3 do Capítulo 12.)
chances se (a) estiverem pensando no futuro e se a falta de chances do partido Proposição 18: Os cidadãos de uma democracia obtêm um retorno do ilto
for relativa mente nova ou (b) eles esperam influenciar a plataforma de um de votar per se mesmo que não lhes importe quem ga nha a e le ição específica
outro partido ao fazê-lo. (Extraída do Capítulo 3.) em questão. '(Extraídil do Capítulo 14.)
Proposiçclo 11: Mui tos cidadãos que votam e consideram votar impor- Proposiçc/o 19: A porcentagem de cidadãos de baixa renda que se abs7
tante são não obstante mal-informados sobre as questões envolvidas na e le i- té m em eleições é maior do que a porcentagem de cidadãos de alta re nda que
çãoJ. (Extraída dos Capítulos 6 e 13.) I se a bstém, ceteris paribuss. (Extraída do Capítulo 14 .)
Proposição 12: Como quase todos os cidadãos percebem que seu vo to I· Proposição 20: Se a proposição 19 é verdade ira, as razões para um a
não é decisivo em cada eleição, o incentivo da maior parte del es a adquirir maior abstenção entre classes de baixa renda são (a) maior incerteza provoca-
informação antes de votar é muito pequeno 4 (Extraída do Capítulo 13) da pela incapacidade de arcar com custos de informação e (b) maior dificul da -
Proposição 13: Uma grande porcentagem de cidadãos - inclusive e leito- de de arcar com os custos do ato de votar. (Extraída do Capítulo 14.)
res- não se torna informada em qualquer grau significativo sobre as .questões Proposiçtío 21: Quando os custos do ato ele votar são redu zidos subs-
envolvidas na eleição, mesmo que ac redite que os resultados sejam importan- tan c ia lmente, a participação nas e leições au me nta mui to. (Extraída do Cap í-
tes5. (Extraída do Capítulo 14.) tulo 14.)
Proposiçüo 14: Os cidadãos que são melho r informados sobre qu alquer Proposiçüo 22: Os cidadãos que são expostos a informação esco lhida por
questão específica são aqueles cuja renda é diretame nte afetadapor ela, isto é, meio de princípios de seleção não-homogê neos tende m a se abster do voto
aqueles que obtêm suas rendas na área de política que diz respeito a ela . mais elo que aqu e les cuja informação ve m de font es com princípi os homogê-
(Extraída do Capítu lo 13.) neos9 (Extraída do Capítulo 12.)
Proposição 15: Os cidadãos que são bem-informados sobre questões
que os afetam como ganhadores de rend a são provavelmente não tão bem-
in fo rmados sobre questões que os afetam como consumidores. (Extraída do
C Deduções a partir de ambas as hipóteses
Capítulo 13.)
Proposição 16: É mais provável qu e os cidadãos qu e têm preferências As seguintes proposições testáve is são ex traídas das hipóteses a nterio r-
partidárias definidas votem do que aqueles que não conseguem ver muita di fe- mente descritas :
rença líquida entre os partidosG. (Extraída dos Cap ítulos 3 e 6.) . Proposição 23: Os partidos políticos tendem a cumprir tan tas de suas
promessas quanto possível toda vez que são eleitos. (Extraída elo Capítulo 7.)
Proposiçclo 24: Os partidos políticos tendem a ma nter pos ições ideológi-
J. Os se 2 uintes estudos con têm material rel ev~ n te a essa proposição e a mui tas das outras mcncionaclns
postc 1i ormente: E. Ka tz c P. r. Lazarsfekl Personallnf/uence. Glencoc, lllinois, The Frec Press. 1955: cas que são consis tentes ao longo do tempo, a menos que sofram derrotas drás-
Anous Campbell e Roberl L. Kahn. The People Elect o Presidenr, An n Arbour, Survey Resca rch Ccnl-er. ticas; nesse caso, mu dam suas ideo logias, de modo a que se assemelhem à do
lns~tute ter Social Research, 1952: Bemnrd Berelson, " Democratic Theory and Publ ic Opinion". The partido que os de rrotou. (Extraída do Capítulo 7.)
Public Opinion Quarterlv, XV I. outono, 1952, pp. 313 -330: P. F. Lazmsfcld, B. Berelson c H. Gaudct,
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7. Ver os estudos citados na nota 3 acima.
Inc., 1954, 11. pp. 1124- 11 75. 8. Ver os estudos citados na nota 3 acinw.
4. Ver os est udos citados na nota 3 ac ima.
9. Ver Lip set, Laz.arsfe!d, Ba rton e Lin z. op. cit. Na rea lidade, como nossa anflli se no Capíttdo 12 ro i par-
5. Ver os estudos citados na nota 3 fiei ma.
cia lmente pl a n~jada no sentido de se adequar às conc lusões tiradas no estudo aq ui citado, aquele cslu-
6. Ver os estudos citados na nota 3 acima.
do não se constitui num teste justo da Proposição 2.2
31ó
317
IP ·;.,-;! ui

UMA TEORIA ECONÔMICA DA DEMOCRACIA


LLi~~~ I

Proposição 25: Em sistemas geralmente governados por coalizões, a


maioria dos cidadãos não vota como se as eleições fossem mecanismos de
seleção de governo. (Extraída do Capítulo 9.)

III. RESUMO

Duas principais hipóteses são explicitamente desenvolvidas em nosso BIBLIOGRAFIA


estudo: a teoria de que os partidos agem de modo a maximizar votos e o pos-
tulado de que os cidadãos se comportam racionalmente em política. Embora
às vezes a interpretação da primeira dependa da segunda, cada uma leva a um
conjunto de proposições que podem ser testadas empiricamente. Listamos
essas proposições e citamos qualquer referência que sabemos serem relevantes
no seu teste.

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98 n, 142 n, 18011, 19611,2 19 n, 304 11 Hicks, Jol111 R. 41
Homey, Kare11 3 I n
Banficld, Edward C. 37 11 Hotelli11g, Harold 136, 13 8
Barton, Al1en H. 3 I 6 11, 317 n Houthakkcr, Hc11drik S. 179 n
Baumo1, Wi11iam J. 27 11, 38 11, 194 11
Bcrelso, Bernard 24 1 11, 248 11, 262 11, 316 11 Kahn , Robert L. 3 I 6 11
Bergso11 (Burk), Abram 39-40, 306-307 Katz, Elih u 30 11, 241 11, 248 n, 316 11
Browning, P. R. 3 I 5 11 Key, V O. Jr. , 145 11, \58 n, 289 11
Buchana11, James 36 n, 37 Key11es, John May11ar~l 35, 171
(
Calhou11, John C. 48-49 Lazarsfeld, Paul F. 30 11, 241 n, 248 n, 262
Campbe\1, A11gus 316 11 ll, 316 ll, 317 ll (
Carroll, J. J. 315 n Lerner, Abba P. 35 n, 136 n, 298-299
Colrn, Gerhard 298 n Lindah\, Erik 300
Cook, L. D. 3 15 n Lindblom, Charles E. 43-44, 53-54 (
Cort, Joh11 C. 164-165 11 Linz, Ju an 316 n, 317 n
Lippmann Waltcr 35 (
Dah 1, Robert A. 43-44, 53-54, 142 n Lipset, Seymour 31 6 n, 317 n
Da\ton, Hugh 299 Lõsch, August 136 n (

Ed wards , Lyford P. 14 1 (
Mannheim, Karl 11 7 n, 23\-232
Margolis, .lul ius 38 (
Fra ne, L. 3 15 n Marschak, Jacob 47 n
Friedman , Milton 43 n, 220 n McPhee, W. N. 316 n (
322
323
UMA TEORIA IX ONOMICA D1l D EMOCRACIA

Musg rave, R. A. 38 n, 315 n Sc itovsky, Tibo r 39 n, 193


Seligm an, E. R. A. 305
Peacock, Alan 315 n Selzni c k, Philip 51-52
Peck, Han·<?y \\'. 300 Sin1on. Herbcn 303 n
S imons, Hcnry C . 274 n
Reder, Me lvin W. 274 n Si nger, H. W. 136 n
Ries man, Dav id 89 n Smith, Ada m 49
Ro usseau, Jean Jacques 303 Smithi es, Arthur 136, 138

Wane r, Ado lph 299


ÍNDICE DE ASSUNTOS
Samue lso n, Pau l A. 37, 191 n , 193 n
Sch ne ider, Eri ch 136 n
Sch umpeter, Jose ph A. 50-51 , 302 Zeuthe n, F. 136 n, 309

Abstenção de vo to como fi.mdamento lógico para coerção 38


efe ito da renda so bre 284-285, 290-292, de esta r bem-inform ado 2 64-266
317 de fin ição 191
influência sobre ideo logias 141 impedem ótim o pare tiano vol un tário
quando racional60, 140-14 1,279,31 7 190-1 93
Ato de votar Be ns colet ivos, ver Bens indiv isí veis
abstenção de, ver Abstenção
com o é influ e nc ia do p e la ince rteza 104- Certeza
105 e Iiderança I 04
delegação de decisão no 249-253, 3 17 papel no model o I 18-1 19
efeito dos custos do 290-292 produz co lapso político 82-84
em siste mas governados por coa li zão re lação co m ideol ogias 35
167, 31 8 Coalizão
lógica bási ca do 57, 3 16 de minorias 75-80
orientado pa ra o futuro 69, 3 16 defin ição 46
re torno proven iente de, in loto 259, pape l no governo 39, 47
289; per se 280-281, 28 5-289, 317 Competição
se a venda de votos fosse legal 209-2 14 em a locação econ ômica 189-190
uso de info rmação para 228-229, 258 - entre partidos, colapso sob incerteza
266,27 1-272, 3 16 82-84; efe ito sobre ideolog ias par-
Ava li ações de dese mpe nho tidárias 122 -1 23 , 127- 130; como pre-
definição 64 mi ssa 33 -34, 45; função social 5 1,
usos 64-65, 290-29 1 88,12 7-130; estratégi as de 73-82
Ver também Ideol ogias
Benefícios indi visíve is Consenso
causas e efe ito s 214-2 17 falta de e probl emas de Arrow 8 1-82

324 325
UMA TE0 /1/A ECONDM! CA 0 11 DEMOC/IACIA iNDICE D E ASSUNTOS

necessi dade de .. na de mocrac ia 182 cons umidores e produtores 274-275; no Equipe Ideologias
ti pos 87 grau de informação 240, 25 4-2 55; no defini ção 47 ambi gciidadc das 156-1 58, 175, 180
C ustos poder políti co 275 partido po lít ico vis to como 4 7-48 coerê nc ia e in tegração das 153-1 56
de in formação, ver Custos de info rmação em assegurar informação 250-25 1 Es trutura eleitora l como são afetadas ne la competição p?. r-
do voto, efeitos quando positivos 28 4- pape l do governo na 44, 50, 309-31 0 em nosso modéio 33 -34 , 44- 4() tidári a 122- 123
285, 290-292; efeitos quando zero 28 0- produ z governo repres entat ivo li O. em sistemas mul tipartidários I 64- 16 7 confi abi li dade en qu anto guia de atos
2 84 relação de funções c motivações na 50- impacto sobre o núm ero de partidos partidári os 123- 132
e m tomada de decisão 27, 28. 187,228 - 52; falha dos economistas em apli car 144-146 conflito co m obtenção de voto 132-133
230, 27 9 300-304 defini ção I 17
C ustos de informação Função do bem-estar soc ia l equilíb1·i o entre 143 -146
defini ção 229-230 Eleições na teoria recen te 37, 39-40 escala para represe ntação de 136· 13 9
impacto sobre igLtaldade políti ca 254- atitudes dos eleitores em re lação às papel do govern o 298 estabi lidade de 130- 132
255, 275 -27 6, 29 1-292 165 -166, 172 -1 73, 31 6 natureza, em s istemas multipartidári os
na com uni cação 27 0 como mecani sm os de s inalização 63 Governo 146-1 48; em siste mas bi parti dú rios
redução de, por delegação 249-253; escolha do momento 34 com o co ncentrador de ate nção 246 138- 143
através de trans ferên cia 246-249; natureza da democracia 45-46 com o fon te de ren da de benefí cios 57 - por q ue desenvo lvidas por partidos 12 1-
através do uso de ideolog ias 11 9- 123; no sistema multipartid ário mode lo 165- 58 122
em gem i 24 7 166 definição 43-44 por qu e úteis aos eleitores 1 19-120
participação nas 280-2 89 demouático 45 Igualdad e, ver Poder po lítico
Democrac ia por que nunca perfeitam ente e fi cientes função na sociedade 50-52 Incerteza
defi nição 4 5-46 264- meta específica 33-34 como causa de desigua ldade 113-114
des igua ldade necessária na I 13-1 14, propósito 46 motivação 298··3 02 como causa de intluênci a c persuasão
275 -2 76 significado de, em sistemas govemados nosso uso do te rm o 33 n, 43 n 104
eficác ia da 182, 265-266, 275-276 por coai izões 179; no mun do rea l 165-1 66 poderes no mode lo 33 -34 de fin ição 97
imposs ibilid ade de ótimo pareti ano na Ver também Abstenção por coalizões 163 (
e níve l de confiança 97-98, I 03
213-2 14 Eleitores relação com as fu nções de benefício efeito sob re custos de inlo nnação 254-
ati tu de para com ele ições 165 -1 66.
(
mode los no rmativos da 53-54 dos e leitores 92 -93 255
reto rnos provenientes da ... como moti- des igu aldade de pode r entre 1 13- 1 14 tamanho afetado pe la ince rteza 222 form as específicas 99 -1 00
vação no ato de votar 285-2 89 di stribui ção ideológi ca de, como cau sa teorias econômi cas de gove rn o 36-41 , im pacto sobre lóg ica da to mada ele
te ndênc ia,) redistribuição de rendas na de novos partidos 148-15 3; efe ito so bre 298 decisão governa mental 82 - 84 (
2 17-222, 3 15 política nacional 160-161; em sistemas vieses de, contra co nsumi do res 274- impacto so bre lógica do voto 66
Desconto multipartidários 146-148; em siste mas 275, 315; fav orece ndo c id adãos de impede ótim o pa rctia no 203-208, 213~
em plane jamento privado 187-189 bipartidários 138-143 baixa renda 21 7-222 , 3 15 214
pe lo governo 195-197 ha bilitação de 45 Ver rambém Tomada de dec isão gover- por que enfat izada no modelo 35
Desig ual dade, ver Poder político incapacidade de venda de votos 197-1 98 namental; Partidos po lí ticos se contra põe à redi st ribui ção de rend as (
Diferencia l Part idúri o por que desinformad os 264-2 66 Governos de coa li zão 21 8-222
de fini ção c uso 60-62 tipos I 05-1 06, 120 causade 164, 167- !68 Indiferen ça
desconto de 262-264 Ver também Poder políti co dificuldade de votar e m 167-1 74, 3 18 ca usa irracional id ade 292 -294
modificadores de 62 -66 Eq uilíbrio (
inefi cácia de 177 . 315 co mo os eleitores ex pressa m 60, 28 0-
papel quando o ato de votar é di s- de partidos políticos 143-1 46 racional idade partidária sob 176- 179 232, 290-291 (
pendi oso 290-29 1 margin al, no mercado li vre 190, 192 ; defi nição 275 n
quando zero 65, 67 governo versus indivídu o 197; do gov- Hipóteses natureza na pol ítica 282 -n4 (
uso de ... em s ituações de incerteza 25 8- erno em margens de voto 222; impedi- básicas no mod elo 33-36, 43-52, 3 13- Informação
262 do pela distribuição de renda 217-220; 314; em forma de equação 92 -93
(
atitude rac ional pa ra com 32
Divi são do trabalho impedido pclasindivisibilidades de par- relação das ... no modelo co m a ciência como parte do mode lo 292-294 (
des igualdades causadas pela, na capaci- tidos políticos 214-217 descritiva 54-55 ; com a ét ica 52-5 4 custos de 229-23 0
dade de usa r informação 253-254; entre teo ria ge\'al do 186-191 testáveis derivad os elo mode lo 3 14 defini ção 99 (
326 327
(
UMA TEORIA ECONÓMICA DA DEMOCRACIA Í NDICE DE ASSUNTOS

desigrtald e de ... na democracia 254-255 tidos em govern os de coal izão 179; estratégi as de, em governos de coaiizão definição 26-30
distinta de erro 30-32 como motivação part idária 51- 52; 176-179; como partidos de opos ição dificuldade de ... em s istemas multipar-
estímulo it.. em sistemas multipar- estratégias para 73-74 74-82 tidários 167-174
tid:lrios 173- 174 \!odei o reóri.:c, em adq uirir in form ação 234-231\, 260-265
fluxo li vre de 240-243 certeza causa co lapso de 82-84 meta específi ca de 52 em a locar recursos 186-1 90
fornecedo res de 244-246 estrutura de 33-36 motivação de 50-52, 314 em escol her princípios de se leção 232 -
informações 260-262 implicações de, descritivas 54-55; nor- natureza 46-48 234
Irracional idade mativas 53-54 número em equilíbrio 143-146 em relação ils eleições 46
natureza na política 32 incerteza em 35 origem de novos 148-153,31 5 limi tações sobre ... em todos os sistem as
necessidade de seleção 230-232 irracional idade em 32-33, 292-294 por que ideo logia são desenvo lvidas por políti cos 180- 182
necess idade de ... em todos os sistemas papel dos partidos em 46-52 12 1-1 22 no ato de votar 59-69, 229, 284-292
políticos 180- 182 poderes do governo em 33-35 Ver também Governo; Tomada ele relação de ... a, abstenção 279; infor-
papel da ... na tomada de decisão 228- racionalidade em 26-30 decisão governamental; Sistemas multi- ma ção 228; previ sibilidadc 32-33;
229 relação com teori as anteriores 36-41 , partidári os; Partidos específico s; in teresse próprio 48-49
por qu e os eleitores têm pouca 264-266, 297~302 Sistemas bipartidários versus irracionalidade 30-33
316 Período ele itora l 59-60 Renda
quantid ade raciona de se adq ui ri r 234- Orça mento do governo Persuasão, ver Liderança de finição 59
236 como é es tabelecido,- princ ípi o bás ico Poder políti co desigua ldade de 114; re lação com infor-
retornos provenientes de 259 -274 71; sob o princípio da maioria 89-90; desigualdade de ... entre consumi dores c mação recebida 253 -255, 273 -274, 3 I G
sistema de aquisição 23 7-238 sob outras condições 90-9 1 produtores 273-27 6, 315; causado por pape l da ... na moti vação partidária 50-
Ver também Custos de informação mudanças marginais em 71-73 custos de info nm1çào 275-276, 291-292; 52
Ori entação futura causado por incerteza 113-1 14, 254-255 prove niente de atividades governamen-
Liderança de eleitores 69, 315-3 16 do governo no modelo 33-34 ta is, def ini ção 57-58; relação com eq ui-
cond ições necessárias para I 04-105 de pa rtidos 148- 149, 174 n igua ldade de, e fe ito sobre rac iona li dade líbri o in dividual 214-217; papel no ato
definição I Qg Ótimo parctiano 181 -1 82; papel no mode lo 39; no de vota r 59-62, 284-285 , 291 -292
motivos para I 08 co nsecução de ... pelo setor p rivado ·190 mundo de certeza I 14 rerli stríbuição de 2 17-220
relação com incerteza I 04-105 efeitos da incerteza sobr·e 203-208 no mercado de venda de votos 209-214 Respon sabilidade
tipos de I 08- 109 e venda de votos 21 1-214 Princípio da maioria Revoluções 141-142
Limiares 67, I 07 obstáculos a 191-1 95 decisões orçamentárias sob 89-9 0
Lobby prevenção de, pe lo governo 198-202; defini ção 73 -74 Sistemas biparti dári os
causas de 111-1 12 pe la distribuição de renda 217-220; est ratégias contra 74-82 ambigüidade de ideologias em 156-158,
como a informação é usada em 266-270 pel as indivisibilidades 2 14-2 17 Pr-incípios de se lc<;ão 180, 3 14
por que eficie nte I I 1-112, 271-275 como são esco lhidos 232-234 ascensão de terce iros partidos em 148-
Pa rtido Com unista 166 definição 23 1 150, 152-153,31 5
Ma ioria apaixonada Parti do Conservador 149 natu reza de ... em info rm ação subs idia- defi ni ção 125
definição 84 -87 Partido Democrata 68 , 14 8 da 249 d istribui ção ideol ógica de ele itores em
efei tos de 88 Partido dos Direitos dos Estados Unidos 148 necessidade de 230-231 138- 143
relação com consenso 87 Partido Liberal 149 Problema de Arrow pape l da ... na política 125-127
Maxlmização Parti do Pmgressista 68 definição 80-82 por que os partidos aceitam 12 7-130
de rendas de benefic io, e beneficios ind i- Parti do Republ icano 68 fuga de 39, 88 prevalência dos desejos da maioria em
visíveis 38, 2 14-217, 264'266; como Partido Trabalhista 149-150 impacto sobre o modelo 82 sg,31 4
premi ssa na teoria 27; no planejamento Part idos políticos relação co m a co nsecução de ótimo razões para ape nas do is partidos em
econômi co privado 186; no ato de votar como avali ados pe los eleitores 59-66 paretiano 20 I 143- 146
59-62, 258-262 como concentrações de atenção 245 Sistem as multipanidári os
de votos, causa redistribuição de renda como líderes W.8-10 9 Racionalidade ambi g üidade de ideo logias em 180
217-220; confl itos com ótim o paretiano confli to çom eleitores 157- 16 1, 181 conflito de ... e ntre partidos e eleitores difi culdade ele votar racionalm ente em
198-202; efe it os de 220-222; por par·- delegaÇão de escolh as a 252-253 158-160 167- 174, 317
328 32Y
UMA TEORIA ECONOMICA DA DEMOCRACIA

di s tribuição ideológ ica de eleitores em teo rias eco nô micas da 36-4 1, 298 -307
146-148 Tomada de dec isão
inefi các ia do governo em 177, 315 govern o, ver Tomada de deci são gover-
lógica do voto em 6l:: namental
privad a, eco nômica 26- 30, 186-191 ;
Teoria econômica impacto da coerção sobre 214-217; no
alocação de recursos 300-302 ato de votar, ver Ato de vota r
da tomada de decisão govername ntal Ver também Rac ionalidade
25 , 36-41 , 298-300, 304-307; cl ebili - Tributação , ver Orçamento governam ental
dade da CLÁSSICOS
uso da raci onalidad e na 2 6-30 Ut ili dade
Te rce iros partidos 68-69, 149-153 cardina l 39-40
Tom ada de dec isão governam ental defin ição 57-58
afetada pela in certeza 1 13-114 em econ omia do bem -estar 27, 37, 39-40
descentralização da I I O-I 11 em teo rias de governo 300-3 0 I
e ótim o paretiano 195 -1 99, 206-2 08 papel na tomada de decisão 58, 186-187
in flLrenciad a por lob istas 111-113, 274- papel no ato de votar 59- GI
275
lóg ica bási ca da 71-91 Venda de votos
natureza margi na I ela 71-73 em mercado hi potéti co 209-214
papel de representa ntes na I 09-1 li proibi ção de, como obstácul o a ótimo
pe rturba o equilíbri o marginal individ- pa1·eti ano 197-198, 207 -208; razões 1. Os Funda men tos Racionais e Sociológicos da Música
ual 2 14-2 17, 220-222 para 211 Ma x Webcr

2. Litera tu ra Européia e Idade i\1édia Latina


Ernest Curtius

3. A Arte Moderna nos Séculos X IX e XX (


Meyer Schapiro
(
4. A Economia das Trocas Lingüísticas
Pierre Bourcl ieu

5. Construr,;üo Nacion al e Cidadania


Reínhard Bend íx (

6. Sistemas Políticos da Alta Birmânia (


E. R. Leach (
7. Coerçâo. Capital e Estados Europeus (
Charles Till y
(
8. A Eloqüência dos Símbolos
(
Edgar Wi nd
(
9. Poliarquia
Robert A. Dahl (
330
Titulo Uma Teoria Econômica da Democracia
10. A Cultura do Barroco Autor Anthony Dow ns
José Antonio Maravall 71-adução Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos
Produção Ponfo & Linha
11. i'-iós, os nkopias Projeto Gráfico Marin a M . Wa tanabe
Raymond Firth Capa Andrea Yanagu ita
Foto da Capa João Musa
12. Renascimento do Profissionalismo Editoração Eletrônica Ponto & Linha
Eliot Freidson Editoração de Texto Alice Kyoko Miyashiro
Revisão de Texto Joaquim Antonio Pereira Sobrinho
13. A Forma e o Inteligível Revisão de Prol.-·as Cleusa Con te
Robert Klein Cla ra Con te
Ricardo Koichi Miyake
14. Cursos de Estética I Fabricio Waltrick
G. W F. Hegel Érica Bombardi
Tania Mano Maeta
in dices Fabricio Wa ltrick
Divulgação Ma ria Helena A rrigucc i
Mônica Cri stina G. dos Sa ntos
Flavia C ris tina Moino
Secretaria Editorial Rose Pin.:s
Eliane Reimberg
For m aio I 8,0 x 25,5 em
lv/ancha 29, 0 x 44,0 paicas
Tipo /agia Times I 0,5/ 14
Papel Cartão Supre mo 250 gim ' (capa )
Pólen Ru stic Areia 85 gim' (miolo )
Número de Páginas 336
Tiragem I 500
( Fotolitos Ponto & Linha
ln~pressão Impre nsa Oficial do Estado de São Pa ulo

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