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Ética do discurso e deliberação mediada


sobre a questão das cotas raciais

Ângela Cristina Salgueiro Marques


Doutora em Comunicação Social (UFMG)
Professora de Pós-graduação em Comunicação
da Faculdade Cásper Líbero
E-mail: angelasalgueiro@gmail.com

Resumo: O objetivo deste artigo é mostrar como a ética do


discurso pode ser aplicada à deliberação mediada sobre as co-
tas raciais de modo a promover: um melhor entendimento do
problema em causa; a definição das posições em disputa; um
esclarecimento recíproco a respeito de experiências pessoais e
A ética do discurso (ou da discussão),
tal como elaborada por Haber-
mas (1995, 2004), baseia-se na tentativa de
apontar um modo reflexivo de comunicação
demandas de reconhecimento. A análise de matérias do Jornal
Nacional e da Folha de S.Paulo revela como a estrutura dialógi- intersubjetiva para a solução de conflitos e
ca do texto jornalístico promove um debate mediado estrutu- impasses normativos de fundo moral. Valo-
rado em torno de enquadramentos, perspectivas, estruturas e
processos discursivos específicos.
riza-se o uso da linguagem voltado para a
Palavras-chave: ética do discurso, deliberação mediada, enqua- busca de um entendimento que seja livre de
dramentos, cotas raciais. coerções e violências de toda sorte, fundado
Ética del discurso y deliberación mediada sobre las cuotas na igualdade entre parceiros de interlocução
raciales que se atribuem reciprocamente o status de
Resumen: El objetivo de este artículo es demostrar como la ética parceiros moralmente dignos de serem ou-
del discurso puede ser aplicada a la deliberación mediada sobre
las cuotas raciales de manera a promover: la comprensión del pro- vidos e considerados em debates sobre leis
blema en causa; la definición de las posiciones en conflicto; una e questões de interesse coletivo. A ética do
clarificación recíproca relacionadas a experiencias y a demandas
personales de reconocimiento. El análisis de textos de la prensa
discurso visa a ampliação dos horizontes éti-
nacional, la Folha de S.Paulo y el Jornal Nacional divulga mientras cos individuais (e não a sua supressão, como
que la estructura dialogica del texto periodístico promueve una apontam muitos dos críticos de Habermas)
discusión mediada organizada alrededor de encuadramientos, de
perspectivas, de estructuras y de procesos discursivos específicos. tendo em vista a consideração de questões
Palabras clave: ética del discurso, deliberación mediada, encu- que dizem respeito ao que é bom para to-
adramientos, cuotas raciales.
dos. Para tanto, faz-se necessário encontrar
Discourse ethics and media deliberation about racial quotas princípios gerais que possam, ao nortear dis-
Abstract: The aim of this article is to show how discourse ethics cussões e diálogos, conciliar interesses e ne-
can be applied to the media deliberation concerning racial quotas
in order to promote: a better understanding of the problem in cau-
cessidades particulares – os quais emergem
se; the definition of the positions in dispute; a reciprocal clarifica- em esferas públicas parciais de interação de
tion regarding personal experiences and demands of recognition. grupos e indivíduos – com preocupações
The content analysis of media texts diffused by Folha de S.Paulo
and Jornal Nacional discloses how the dialogical structure of the inerentes a todos aqueles que integram uma
journalistic text promotes a mediated debate organized in specific sociedade complexa, pluralista e diferencia-
framings, perspectives, structures and discursive processes.
Key words: discourse ethics, media deliberation, framings, ra-
da (Habermas, 2004). O objetivo da ética
cial quotas. do discurso é auxiliar as pessoas a descobrir,

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por meio da discussão argumentativa, qual a 2008) sobre a questão das cotas para negros
regulamentação mais adequada ao interesse em universidades públicas, no contexto da
equânime de todos os interessados (sobre o aprovação do Estatuto da Igualdade Racial,
que é bom em igual medida para todos). nos permite avaliar como a reflexão coletiva
Para que todos tenham chance de parti- sobre normas morais e seu processo de vali-
cipar desse processo de discussão, devem ser dação demandam não só a valorização do re-
capazes de exercer sua autonomia política, conhecimento da paridade entre os interlo-
isto é, de formular razões próprias e passíveis cutores, mas também a busca de um acordo
de serem compreendidas e aceitas; de iniciar racionalmente motivado no espaço público
ampliado.
Neste texto, pretendo revelar que ques-
tões ético-morais podem ser melhor enten-
A reflexão coletiva sobre
didas a partir de uma análise que leve em
normas morais e seu conta os princípios da ética do discurso e a
processo de validação estruturação de um discurso prático no âm-
demandam a busca de bito da mídia, aqui entendida como espaço
um acordo racional- de trocas argumentativas, posicionamentos e
mente motivado no demandas por reconhecimento social. Essas
dimensões privilegiam a comunicação in-
espaço público ampliado
tersubjetiva como aspecto central da elabo-
ração e constante transformação dos prin-
cípios ético-morais que regem os conflitos
debates e interpretar suas necessidades de sobre normas e as negociações agonísticas
maneira reflexiva e de serem reconhecidos nas sociedades contemporâneas.
como moralmente responsáveis por seus jul- Ao analisar matérias do Jornal Nacional e
gamentos e ações, sendo capazes de explicá- da Folha de S.Paulo, entre 11/2008 e 09/2009,
los aos outros se houver necessidade (Cohen, estabeleci algumas variáveis/categorias que
1997 e Rostboll, 2009). Sob esse aspecto, a nos permitem ver, na estrutura dialógica das
autonomia política (ou pública), abrange a matérias, como se delineiam enquadramen-
“habilidade de assumir papéis dialógicos, tos e, dentro de cada um deles, como (e se)
de se engajar reciprocamente na prática de os interlocutores: a) definem a questão em
assumir o lugar do outro, de alcançar a re- pauta, expressam e trocam argumentos; b)
flexividade diante desses papéis e articular constróem seus discursos em torno de posi-
suas próprias necessidades, interesses e va- ções polarizadas, conhecendo ou desconhe-
lores a fim de determinar sua universalidade cendo a posição de seus interlocutores; e c)
e chegar a um acordo comum sobre normas como o debate se estende ao longo do tempo,
gerais” (Cohen e Arato, 1992:398). Assim, os dando a ver uma conexão entre argumentos
atores são tidos como responsáveis e autôno- e contra-argumentos.
mos se possuem a habilidade de justificar as O texto se divide em três partes. Na pri-
demandas de validade atreladas a seus profe- meira parte, busco apontar as principais ca-
rimentos por meio de razões próprias. racterísticas da ética do discurso. Na segunda
Mas o princípio normativo e moral da éti- parte, exploro a noção de discurso prático e
ca do discurso só pode ser concretizado em como ele pode ser uma promissora fonte de
situações práticas de deliberação e discussão, produção de soluções para a discussão das
nas quais é testada a validade das normas que cotas raciais. Por fim, na terceira parte, evi-
estão sendo propostas e consideradas para dencio como a mídia pode ser concebida
adoção (Habermas, 1997). Nesse sentido, a como espaço de conversação e debate polí-
deliberação mediada (Wessler, 2008 e Maia, tico, tomando como exemplo as trocas entre

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argumentos e contra-argumentos articulados mento mútuo e um acordo provisório entre


em seis enquadramentos distintos que foram os participantes de discussões práticas, volta-
identificados nos textos da mídia impressa e das para o acordo sobre a validade de normas
televisiva acerca da lei de cotas e do Estatu- que afetam a coletividade. Assim, na esfera
to da Igualdade Racial. Revelo como a mídia pública, sujeitos capazes de fala e ação usam
pode ser concebida como uma esfera pública a linguagem e o conhecimento intuitivo de
articulada em rede, na qual as opiniões po- como proceder em determinadas situações
dem ser evidenciadas, testadas e contrapostas. (adquirido no processo de socialização), de
forma racional (o que não significa isenta
A ética do discurso e a negociação de elementos estético-emocionais) para que
coletiva acerca de questões morais possam chegar a um acordo (sempre sujeito
à revisão). Os princípios estabelecidos pela
Ao refletir sobre a realidade plural das ética do discurso requerem “que os indiví-
sociedades altamente complexas, Habermas duos escutem uns aos outros, respondam à
(2004) procura destacar a importância da críticas e justifiquem suas posições recipro-
criação e manutenção de uma dinâmica ar- camente, colocando-se sempre no lugar do
gumentativa na sociedade, pois seria somente outro” (Chambers, 1996:100). Além de en-
por meio dela que passamos a dialogar, deba- tender o que o outro diz, os parceiros preci-
ter e negociar continuamente normas, valores sam empenhar-se em um confronto discur-
e necessidades. Assim, ele busca desenvolver sivo que exige o distanciamento crítico dos
um conceito procedimental de democracia próprios interesses e necessidades.
baseado em um modelo que “se interessa pela Alguns críticos de Habermas, sobretudo
função epistêmica do discurso e da negocia- Thompson (1998), argumentam que tais
ção” (2006:413). Uma de suas preocupações condições ideais da discussão geram o enten-
centrais consiste em encontrar “um princípio dimento de que Habermas estaria negando
formal para a legitimidade das normas em as preocupações individuais dos sujeitos para
uma sociedade que é plural e composta por universalizar aquilo que dificilmente pode
indivíduos com distintas concepções de bem- ser generalizado: parâmetros de percepção
viver” (Cohen e Arato, 1992:357). do mundo constituídos por meio de expe-
Para Habermas (1987, 1995, 2004), a éti- riências subjetivas, sejam elas positivas ou
ca do agir comunicativo (ou do discurso) negativas (danos morais como desrespeito,
funda um espaço para os fenômenos que violência, negação de direitos, humilhação
constituem a aceitação discursiva de normas etc.). Acredito que esse tipo de interpretação
em contraposição à sua mera internaliza- esteja ligado a afirmações ambíguas de Ha-
ção (2004:31). De modo a revelar como, por bermas a respeito de sua distinção entre ética
meio da interação discursiva na esfera pú- e moral no contexto das interações práticas
blica, os indivíduos poderiam chegar a um dos sujeitos que negociam sobre a validade
entendimento acerca de seus interesses e ne- de normas que os vinculam coletivamente.
cessidades, ele procurou esboçar uma teoria Veja o seguinte exemplo:
capaz de evidenciar como o “uso racional da Os envolvidos nessas interações precisam
linguagem”1 é capaz de promover o entendi- deixar de lado a pergunta sobre que regu-
lamentação é ‘melhor para nós’, a partir da
1
Segundo Habermas, “a racionalidade de uma pessoa mede- respectiva visão que consideram ‘nossa’; e
se pelo fato de ela se expressar racionalmente e poder prestar só então checar, sob o ponto de vista mo-
contas de seus proferimentos adotando uma atitude reflexiva”
(2004:102). A racionalidade dos atores (adquirida intersubjeti-
ral, que regulamentação ‘é igualmente boa
vamente), portanto, está menos ligada à posse de conhecimen- para todos’ em vista da reivindicação mo-
to do que ao uso que os atores fazem dele. É essa racionalidade ral prioritária da coexistência sob igualda-
que, para Habermas, nos acompanha na prática comunicativa de de direitos. (Habermas, 2004:319-322,
cotidiana. grifos meus)

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Duas considerações podem ser feitas a as diferentes dimensões do problema buscan-


partir dessa citação. A primeira é a constata- do ampliar suas perspectivas e não mantê-las
ção de que, para Habermas, questões éticas e herméticas às considerações dos outros.
morais possuem naturezas diferentes. Segun-
do ele, questões éticas são aquelas que se colo- A teoria do discurso introduz a distinção
entre questões éticas e morais de maneira
cam do ponto de vista da primeira pessoa (do que a lógica das questões relativas à jus-
singular ou do plural).2 Elas dizem respeito a tiça passem a exigir a dinâmica de uma
indagações que buscam dar respostas a “quem ampliação progressiva do horizonte de in-
sou eu e quem gostaria de ser, ou como deve- terpretação. A partir do horizonte de suas
ria levar minha vida”, ou ainda como os mem- respectivas auto-compreensões e compreen-
bros de uma comunidade “se entendem, quais sões de mundo, as diversas partes em diá-
logo referem-se a um ponto de vista mo-
os critérios segundo os quais deveriam orien- ral pretensamente partilhado, que induz a
tar suas vidas, o que seria melhor para todos uma descentralização sempre crescente das
a longo prazo etc.” (Habermas, 2004:40). Já as diversas perspectivas, sob as condições si-
questões morais referem-se à busca de nor- métricas do discurso (e do aprender com o
mas e regras justas capazes de permitir a co- outro) (Habermas, 2004:316).
existência em sociedades pluralistas, pautada
pela busca do interesse de todos e não pelo A ética do discurso reúne, então, prin-
que é melhor para todos. Assim, enquanto cípios que tentam direcionar os indivíduos
as questões éticas estão voltadas para o auto- para a resolução cooperativa de problemas
entendimento e para o que é “bom para mim que atingem a todos. Ela determina que uma
ou para nós”, as questões morais se destinam norma só pode ser considerada válida ou
a descobrir “qual a regulamentação mais justa se ela for discutida abertamente por to-
adequada ao interesse equânime de todos os dos os concernidos, sob condições livres de
atingidos (sobre o que é bom, em igual me- quaisquer constrangimetos (Herrero, 2002).
dida, para todos)” (Habermas, 2004:313). O Pautada pela equidade e paridade entre os
discurso (discussão reflexiva) nos possibili- participantes de uma discussão, a ética do
taria expressar nossos desejos, sentimentos e discurso é um procedimento que demanda
necessidades de modo a reconhecer quais são “aos participantes que reflitam e avaliem
aqueles que pertencem ao domínio do julga- suas necessidades e interesses racionalmen-
mento pessoal e quais são aqueles que deve- te do ponto de vista de sua generalidade”
riam ser compartilhados e entendidos como (Chambers, 1996:103). Eles devem estar ap-
pertencentes ao âmbito coletivo da justiça, das tos a formular, de maneira autônoma, razões
normas e dos direitos. próprias e passíveis de serem compreendidas
Uma segunda consideração aponta para e aceitas; de iniciar debates e interpretar suas
o fato de que a distinção entre ética e moral necessidades de maneira reflexiva, expondo
não pode ser concebida como uma tentati- seus interesses sob uma perspectiva generali-
va de isolamento ou apagamento da subje- zante (Maia, 2001, Cohen e Arato, 1992).
tividade em prol da coletividade. Habermas Todavia, os procedimentos de generali-
reafirma constantemente em seus textos que zação de perspectivas e necessidades não im-
julgamentos morais só se concretizam a par- põem a supressão de particularidades ou o
tir da perspectiva subjetiva dos concernidos esquecimento de dimensões do bem-viver,
que, ao buscarem um acordo, devem avaliar mas apontam a situação discursiva como um
processo moral transformativo que nos per-
2
“Aqui, a perspectiva da primeira pessoa não significa a limi-
mite uma aproximação do universo do “ou-
tação egocêntrica às preferências individuais, mas garante a tro”, possibilitando a emergência de novos
referência a uma história de vida que está sempre ligada a tra- vínculos e de novos interesses. Como afirma
dições e formas de vida intersubjetivamente compartilhadas”
(Habermas, 2004:40). Habermas, “se os atores não trouxerem con-

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sigo, dentro de seu discurso, suas histórias tivamente compartilhados e generalizados e


de vida individuais, suas identidades, suas quais não podem.
necessidades e desejos, tradições e pertenci- A ética do discurso proposta por Habermas,
mentos, o discurso prático será esvaziado de ao estabelecer conexões entre o ponto de vista
todo o seu conteúdo” (1982:255). particular (das experiências e sentimentos) e o
Nesse sentido, os discursos não devem ponto de vista moral (da universalização e do
ser entendidos como atividades destinadas coletivo) fornece as bases para nossa análise da
a encontrar regras que conectem diferenças discussão mediada acerca da questão da reser-
isoladas, mas como práticas necessárias à
compreensão de como as diferenças se sobre-
põem e se interpenetram (Benhabib, 1996). Demandas de validade:
O discurso envolve mais do que um trata-
uma de suas funções é
mento igual àqueles afetados. O ponto de interpretar os interesses
partida analítico da ética do discurso não é e necessidades que
uma concepção de soberania desconecta-
da e isenta da individualidade, mas a infra-
podem ser comunicati-
estrutura comunicativa e intersubjetiva da vamente compartilhados
vida social cotidiana. Os indivíduos agem e generalizados
em relações de reconhecimento mútuo nas
quais adquirem e afirmam sua individuali-
dade e liberdade de forma intersubjetiva. No
processo do diálogo, cada participante arti-
cula seus pontos de vista e interpretações de va de cotas raciais em universidades públicas.
necessidades e desempenha papéis ideais em Tal questão, associada ao debate sobre o Esta-
uma discussão prática e pública. Isso pro- tuto da Igualdade Racial, aponta para o modo
move o quadro analítico no qual o entendi- como o discurso se transforma em elemento
mento da interpretação das necessidades dos
outros se dá por meio de um insight moral e central da construção de decisões capazes de, a
não da empatia (Cohen e Arato, 1992:376). partir da consideração pública de argumentos
particulares, constituir uma base comum para
O discurso refere-se, portanto, a uma for- acordos firmados a partir da avaliação coletiva
ma de comunicação ideal para validar nor- de necessidades e interesses particulares.
mas morais de modo reflexivo. Seu objetivo é As cotas para negros nas universidades
resolver uma disputa normativa abrindo es- começaram a ser implementadas em 2002,
paço para a manifestação e consideração de com a iniciativa pioneira da UERJ. Em 2009,
todos (Chambers, 1996:98). Nesse sentido, 94 universidades já possuíam algum tipo de
os discursos, em sua dimensão prática, são ação afirmativa. Os modelos aprovados por
formas normativamente aceitáveis de reso- cada uma delas são diferentes, pois cada um
lução de conflitos por meio do teste público tenta refletir realidades regionais e dinâmi-
de demandas de validade3, sendo que uma de cas específicas. A lei de cotas prevê que 50%
suas funções é interpretar e testar quais inte- das vagas em universidades federais sejam
resses e necessidades podem ser comunica- destinadas a alunos que realizaram todo o
ensino médio em escolas públicas. Metade
3
As demandas de validade estão conceitualmente ligadas à dessas vagas devem ser distribuídas entre
idéia de que todos deveriam concordar que aquela norma que candidatos auto-declarados negros, pardos
está posta em debate, buscando validade, deve ser válida para
todos (Habermas, 1998). As demandas de validade são três: a)
e indígenas, na proporção da população de
verdade (quando o ato de fala se refere a algo que existe no cada Estado, segundo o censo do IBGE. A
mundo objetivo); b) correção (quando o ato de fala dirige-se outra metade seria destinada para estudan-
a normas que sustentam as relações sociais) e c) veracidade
(quando o ato de fala expressa algo que é de domínio subjetivo, tes de famílias com renda igual ou inferior a
ao qual o sujeito tem acesso privilegiado). 1,5 salário mínimo per capita. Nesse sentido,

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uma das principais polarizações do debate Os embates travados na Câmara dos De-
na mídia ocorreu quando os atores nele en- putados acerca da lei de cotas (também obje-
volvidos se manifestaram favoravelmente a to de uma audiência pública conduzida pela
cotas para pobres e contra cotas para negros Comissão de Constituição e Justiça, CCJ) e
(que privilegiam a raça e não a classe social). do Estatudo da Igualdade Racial serão aqui
Concomitantemente à discussão das cotas, analisados tomando como ponto de partida
pode-se observar neste período a retomada dos a idéia de que o debate mediado e as diferen-
debates sobre o Estatuto da Igualdade Racial, tes demandas de validade dos participantes
que estava parado na Câmara dos Deputados de um debate mediado são produzidas e or-
ganizadas “dentro” de diferentes enquadra-
mentos (frames), que competem entre si no
A publicização de uma espaço de visibilidade mediada.
questão no espaço de
visibilidade mediada A mídia como espaço deliberativo:
promove um fluxo de questões metodológicas
discursos que se inter- Os agentes mediáticos apresentam a
pelam e chamam por capacidade de reunir as “vozes” de atores
esclarecimentos recíprocos diferenciados, articulando argumentos e
questões em focos temáticos de modo co-
erente. Como acentua Habermas (2006), o
sistema dos media captura e relaciona opi-
desde 2005 (projeto de lei n.6.264). Ele estabe- niões produzidas por vários tipos de atores,
lece um sistema de cotas raciais para diferentes desde políticos até os cidadãos comuns. O
setores (como universidade, serviço público, entrecruzamento de diferentes perspectivas
mercado de trabalho, atores de cinema, publi- no espaço discursivo de visibilidade media-
cidade e TV).4 A proposta inicial, feita pelo de- da nos oferece a oportunidade de avaliá-lo
putado Paulo Paim (PT-RS) teve o texto modi- também como arena discursiva de conflitos
ficado, após mesmes de embate na Câmara dos pontuais e/ou disputas de pontos de vista a
Deputados, de modo a extrair pontos conside- longo prazo.6
rados polêmicos (como, por exemplo, a criação Nesse sentido, a publicização de uma de-
de cotas para negros em filmes e programas de terminada questão no espaço de visibilidade
TV; a prioridade para empresas com ações de mediada não só permite sua generalização a
igualdade racial; e os princípios para a demar- um público múltiplo, ampliado e capaz de
cação de terras quilombolas.5 interpretar criticamente as mensagens, de
expressar suas opiniões e contestar aquelas
4
Ver: Scolese, Eduardo; Cariello, Rafael. “FHC e Lula coloca- que já foram expressas, mas, também, pro-
ram tema na agenda”, Folha de S.Paulo, Especial, 23/11/08. move um intenso fluxo de discursos que se
5
O Estatudo da Igualdade Racial, com o texto alterado, foi apro-
vado pela Câmara dos Deputados no dia 09/09/09. As alterações interpelam e chamam por esclarecimentos
foram sugeridas pelo DEM e tiveram como principal articulador recíprocos. Acredito ser possível, então, per-
o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). O texto aprovado e mo-
dificado contempla, entre seus principais ítens: a possibilidade de
ceber e avaliar o espaço de visibilidade me-
o governo criar incentivos fiscais para empresas com mais de 20
empregados e pelo menos 20% de negros; adoção (sem obriga-
ção) de ações afirmativas, pelo poder público, em instituições pú- 6
Considerar o espaço mediático como um âmbito de circula-
blicas federais de ensino (sem prever cotas); o governo promoverá ção de perspectivas e pontos de vista variados implica também
a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Foi tam- reconhecer que os media, ao praticarem uma seleção de certas
bém aprovada uma cota de 10% para negros nas candidaturas a fontes e proposições, e ao conferirem visibilidade e destaque a
vagas da Câmara de Deputados, Assembléias Estaduais e Câmara apenas certos aspectos dos acontecimentos, privilegia apenas
de Veradores. (Ver: Nublat, Johanna. “Câmara aprova Estatuto da alguns segmentos sociais em detrimento de outros (Habermas,
Igualdade Racial”, Folha de S.Paulo, Cotidiano, 10/09/09). 1997:351).

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diada como um contexto de entrecruzamento envolve, portanto, uma atividade coletiva


e enfrentamento de diferentes proposições e de definição de um problema público, na
pontos de vista (Wessler, 2008, Maia, 2008 e qual eixos discursivos e temáticos são res-
Marques, 2007). ponsáveis, ao mesmo tempo, por reunir ar-
Segundo Adam Simon e Michael Xenos gumentos afins, e por organizar as tensões
(2000), no debate mediado, vários atores entre os diferentes conjuntos formados por
competem entre si para definir a situação. esses argumentos.
Cada um dos argumentos e demandas de va- Todavia, os enquadramentos devem ser
lidade feitos por esses atores são “abrigados” concebidos como um dentre vários dos re-
em diferentes enquadramentos de modo que cursos estruturantes dos processos de or-
uma competição entre diferentes argumen- ganização da deliberação pública mediada.
tos ocasiona também uma competição entre Eles nos permitem ver como os media lidam
enquadramentos. Na verdade, isso nos revela com diferentes fontes e seus proferimentos
que os enquadramentos não podem ser re- por meio da construção de um enunciado
duzidos a tópicos singulares ou expressões próprio. Considero, contudo, que, para evi-
cuja “saliência” ativa a memória das audi- denciar de modo claro como se estabelecem
ências. Mais do que uma “idéia organizado- as trocas argumentativas no espaço mediá-
ra central ou roteiro que provém sentido” tico, é preciso mais do que determinar os
(Gamson e Modigliani, 1989:57), o enqua- eixos discursivos e temáticos nos quais dife-
dramento é um processo de desvelamento e rentes atores são localizados. É preciso ava-
construção discursiva de uma questão políti- liar o modo através do qual as negociações
ca ou controvérsia pública (Entman, 1993 e discursivas são textualmente encadeadas no
Porto, 2001, 2007). espaço de uma matéria e também no espaço
A presença dos enquadramentos no es- configurado por um conjunto de matérias
paço discursivo mediático enfatiza a impor- que, tomadas a longo prazo, retomam e re-
tância da identificação dos “temas” e “enre- avaliam perspectivas anteriormente publi-
dos” (story lines) delineados pelos meios de cadas. Para captar e exprimir a dinâmica de
comunicação, os quais agrupam pontos de contraposição dos discursos, das tomadas de
vista, esboçam diferentes nuances do pro- posição “pró” ou “contra” e da formulação
blema e orientam a justificação pública que de demandas de validade, é preciso associar
se estabelece entre os participantes do pro- os enquadramentos a alguns dos princípios
cesso de debate. O enquadramento mediáti- normativos que norteiam a ética do discurso,
co, entendido como eixo organizador de di- criando categorias analíticas que permitam a
ferentes atores e seus enunciados acerca de avaliação qualitativa de um processo media-
uma controvérsia pública, dispõe também do específico de troca argumentativa.
um roteiro7 de interpretação que pode ser Neste artigo realizo uma análise qualitati-
acionado a qualquer momento pelos atores va da discussão mediada a respeito da lei de
interessados. O enquadramento mediático cotas no período de 11/2008 a 09/2009. Fo-
ram coletadas 30 matérias dos dois maiores
jornais de alcance nacional, Folha de S.Paulo
7
A associação entre os enquadramentos e as noções de “ro- e Jornal Nacional, de modo a contemplar não
teiro” e “enredo” remetem ao entendimento de que os enqua-
dramentos são formas narrativas que definem relações sociais só os argumentos disponibilizados por um
em contextos temporais específicos. O enquadramento per- veículo impresso de grande circulação, mas
mitiria, assim, o encadeamento causal de ações, dando a ver
um processo coerente de produção de significados socialmente
também as posições que adquirem grande
compartilhados da realidade vivida (Simon e Xenos, 2000; Ga- visibilidade ao serem televisionadas.
mson, 1992). Frank Durham acentua, contudo, que “as histó- O primeiro passo da análise foi identificar
rias que contamos uns aos outros de modo a organizar nossa
percepção do tempo e do espaço não podem ser cristalizadas os principais enquadramentos que estrutu-
em enquadramentos estáticos” (1998:105). ravam narrativamente a controvérsia pública

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sobre a questão das cotas. Cada enquadra- consistiu em adaptar os critérios e princípios
mento identificado era associado a um mo- da ética do discurso à análise empírica desse
mento específico do debate mediado, ou seja: debate mediado, adaptando-os às necessi-
a) a definição da questão; b) a polarização e dades da pesquisa. Assim, para o estudo das
o grau de conhecimento da posição alheia; discussões sobre a questão das cotas raciais,
a busca por um ponto de vista moral: reco- foram estabelecidas as seguintes categorias
nhecimento e autonomia. O segundo passo analíticas:

Quadro 1 – Categorias para análise de uma deliberação mediada

Representação discursiva das


Perspectivas discursivas
diferentes perspectivas apresen-
Enquadramento (Definição da questão em pauta)
tadas no debate.
Eixo discursivo
Estruturas discursivas Embate entre perspectivas
e temático que
(polarização entre argumentos e distintas, negociação, conflito e
agrupa pontos de
contra-argumentos, e grau de co- justificação sob o ponto de vista
vista, evidencia
nhecimento da posição alheia) da coletividade.
tensões e facilita a
contraposição de Como o debate se desenvolve ao
Processos discursivos
argumentos. longo do tempo: evidências da
(busca por um ponto de vista mo-
consideração ou desconsidera-
ral: reconhecimento e autonomia).
ção do ponto de vista alheio.

Nas seções que se seguem, serão feitas de base à construção de argumentos e po-
análises qualitativas do debate mediado so- sições. As matérias coletadas na Folha de
bre a questão das cotas raciais consideran- S.Paulo e no Jornal Nacional apontam que
do-se as três categorias acima evidenciadas: uma primeira tentativa de contextualização
perspectivas discursivas; estruturas discursi- das questões referentes às cotas se deram em
vas e processos discursivos. torno de dois eixos discursivos, ou enqua-
dramentos, principais. Tais enquadramentos
a) Perspectivas discursivas: a delimitação
articulam argumentos e contra-argumentos
do contexto e das principais linhas
que podem ser encontrados em uma mesma
argumentativas do debate.
matéria jornalística e/ou podem ser retoma-
O grande objetivo da ética do discurso é dos em matérias subsequentes. Nesse senti-
alcançar o mútuo entendimento. Para isso, o do, é importante notar a constante tentativa
primeiro passo a ser dado é definir coletiva- dos atores de definir e redefinir os quadros
mente a situação de ação, na qual se instau- contextuais mais amplos nos quais se inse-
ra, entre o “eu” e o “outro” um espaço que rem a questão das cotas.
é ocupado por certezas e intuições que são Os argumentos e contra-argumentos aqui
pré-reflexivas. Quando desejam se referir a reunidos revelam como, diante de uma ques-
algo no mundo (objetos ou estados de coi- tão que afeta a coletividade, diferentes atores
sas) os parceiros comunicativos se servem tentam estabelecer parâmetros de definição
dessas certezas e intuições (conhecimento de das principais linhas do conflito. Para essa
fundo) para que possam ser entendidos reci- dinâmica colaboram tanto o mundo da vida
procamente. quanto os enquadramentos, enquanto fontes
No âmbito da discussão mediada das co- comuns de recursos interpretativos para que
tas, é possível perceber como os atores ten- os atores possam tornar claros seus proferi-
tam definir e recortar o contexto que serve mentos acerca de problemas morais.

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Ângela Cristina Salgueiro Marques – Ética do discurso e deliberação mediada sobre a questão das cotas raciais
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Enquadramentos Argumentos Contra-argumentos


“Essa falsa solução pode levar a um
processo de acomodação e retardar,
1) As cotas consi-“A solução encontrada foi valori- portanto, a solução verdadeira e
deram unicamente zar a escola pública e, na divisão definitiva, que é a escola pública de
a etnia, deixando das vagas da escola pública, aten- boa qualidade para todos.” (Depu-
de lado os proble-der os dois critérios: o racial e o tado Aldo Rebelo, PC do B - SP)9.
mas socioeconô- de renda per capita familiar” (De-
micos do país putado Maurício Rands, PT-PE)8. “Isso se pode aceitar: cotas para
escolas públicas. Raça não.” (De-
métrio Magnoli, sociólogo USP)10.
“As cotas parecem ter desenvolvi-
do maior consciência e atenção às
relações raciais” (Fulvia Rosem- “Nós entendemos que essas políti-
berg, pesquisadora da Fundação cas de cotas raciais, elas não visam
Carlos Chagas).11 melhorar a vida dos pardos, dos
negros e de outros grupos. As co-
“A política de cotas estará crian-
tas raciais já estão gerando conflito
do oportunidades novas para um
racial” (Jerson Alves, Coordenador
Brasil melhor. As cotas étnicas
do Movimento Nação Mestiça)14.
2) O Brasil é uma vêm justamente para acelerar a
democracia racial integração entre brancos e negros “O Estatuto da Igualdade Racial
no Brasil” (Frei David, diretor que está sendo proposto por esse
executivo do Educafro)12. substitutivo não vai estabelecer
“Não tem mais esse negócio de ne- igualdade alguma. Ao contrário,
gro de uma lado, branco do outro. vai se estabelecer um fosso numa
É tudo misturado. Assim essa mis- sociedade onde ele ainda não
tura já é do Brasil. E é assim, todo existe.” (Deputado Onyx Loren-
mundo curtindo, sem preconceito, zoni, DEM-RS) .
15

já faz parte do Brasil” (Milene de


Araújo, universitária)13.

b) A polarização e o grau de universal exige, portanto, uma disposição


conhecimento da posição alheia de entender a questão em pauta a partir do
No contexto da ética do discurso, os in- 8
“Câmara dos Deputados aprova projeto sobre cotas na uni-
terlocutores não precisam chegar a um con- versidades”, Jornal Nacional, 20/11/08.
senso definitivo e último acerca dos pon- 9
“Câmara dos Deputados aprova projeto sobre cotas na uni-
tos de vista em negociação. As justificativas versidades”, Jornal Nacional, 20/11/08.
10
“Senado discute as cotas das universidades federais”, Jornal
apresentadas por cada interlocutor devem Nacional, 11/03/09.
induzir à reflexão, ter um efeito iluminador 11
GOIS, Antônio. “Diminuem as manifestações de preconcei-
to”, Folha de S.Paulo, Especial/Valores, 23/11/08.
e conectar a experiência particular de um 12
“Comissão debate cotas raciais em instituições federais de
grupo a um princípio ou a um ponto mais ensino”, Jornal Nacional, 18/12/08.
geral. Apresentar-se diante do outro e expor
13
“Projeto de criação de cotas para negros será votado na Câ-
mara”, Jornal Nacional, 19/05/09.
argumentos e pontos de vista ao escrutínio 14
“Comissão debate cotas raciais em instituições federais de
público exige respeito, reciprocidade e uma ensino”, Jornal Nacional, 18/12/08.
15
“Sessão sobre o Estatuto da igualdade é marcada por discus-
disposição em se “colocar no lugar do outro” sões na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara”, Jornal
(Habermas, 1998). Conectar o particular ao Nacional, 13/05/09.

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Ângela Cristina Salgueiro Marques – Ética do discurso e deliberação mediada sobre a questão das cotas raciais
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ponto de vista alheio, procurando conhecer mas uma tentativa de convencimento e uma
os argumentos e premissas de cada um dos disputa que não visa compreender as razões e
interlocutores do debate. premissas que sustentam os argumentos dos
Mas, na maior parte das vezes, o debate oponentes. Nesse sentido, identifiquei dois
mediado nos oferece posições e contra-posi- enquadramentos que, ao polarizar os pontos
ções fechadas em si mesmas. O embate entre de vista sobre a questão das cotas, mais difi-
elas não revela um esforço de aproximação, cultam do que facilitam a intercompreensão.

Enquadramentos Argumentos Contra-argumentos


“Nós precisamos discriminar hoje
sim, mas discriminar positiva-
mente, discriminar para consertar,
porque se a gente tratar o negro “Nós não podemos aprovar uma
igualmente a gente não vai mudar lei contra a discriminação abrin-
essa realidade” (William Douglas, do um outro viés discriminatório.
3) Para se ter igual- professor do Educafro).16
Se você estabelece cotas raciais,
dade é preciso dis-
“É preciso tratar os desiguais de vocês está discriminando pessoas
criminar.
forma desigual, elevando os des- pobres que não sejam negras ou
favorecidos ao mesmo patamar de pardas” (Senador Marconi Perillo,
partida dos demais” (Edson San- PSDB-GO).18
tos, Ministro da Secretaria Espe-
cial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial).17
“Quando se vê uma pessoa negra
na universidade a gozação é rápi-
“Eu acredito que vai mudar a da: ‘você só está aqui por causa20da
4) O sistema de co- coloração de lugares tidos como cota’”. (Helizabeth Bispo, BH).
tas aumenta o ra- espaços de pessoas não negras” “O Brasil corre o risco de criar
cismo. (Lucimara Martins, Movimento uma divisão que vai destruir a
Cernegro).19 idéia de povo brasileiro. É injusto
e indigno criar essa divisão” (Jor-
ge Zarur, antropólogo).21

A polarização sem a busca pelo conheci- ordem particular fosse egoisticamente ruim e
mento da posição defendida pelos parceiros só o que remete ao coletivo fosse bom), mas
de interlocução inviabiliza uma troca mútua sim requer o exercício de “não olhar para nos-
de perspectivas na qual todos devem ser es- so próprio entendimento de nós mesmos e
timulados a adotar a perspectiva de seus in-
terlocutores “a fim de que possam examinar a 16
“Projeto de cotas nas universidades federais é discutido no
aceitabilidade de uma solução de acordo com Senado”, Jornal Nacional, 18/03/09.
17
Santos, Edson. “Multilateralismo e ações afirmativas”, Folha
o modo como todos os outros entendem a si de S.Paulo, Tendências/Debates, 10/05/09.
mesmos e o mundo” (Habermas, 1990:98). 18
“Projeto de cotas universitárias é discutido em Brasília”, Jor-
nal Nacional, 05/05/09.
Sob esse aspecto, o ponto de vista moral 19
“Projeto de criação de cotas para negros será votado na Câ-
constituído pela ética do discurso não deman- mara”, Jornal Nacional, 19/05/09.
da um anulamento de necessidades, interesses
20
Semana do leitor, Folha de S.Paulo, 03/05/09.
21
“Projeto de criação de cotas para negros será votado na Câ-
e desejos subjetivos (como se o que fosse da mara”, Jornal Nacional, 19/05/09.

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do mundo como o padrão por meio do qual cedimento que, ao mesmo tempo, leva em
podemos universalizar um modo de ação” consideração os entendimentos individuais
(Habermas, 1990:112). Se os sujeitos avaliam da situação em causa (geralmente expres-
determinados problemas coletivos unicamen- sos na discussão sob a forma de narrativas
te à luz de sua própria experiência particular, biográficas e testemunhos) e estimula “os
correm o risco de se tornarem moralistas, de participantes a perceberem que pertencem a
querer impor seu próprio ponto de vista aos uma comunidade ilimitada de comunicação”
outros desconsiderando condições de comu- (Habermas, 1990:98). Tal comunidade asse-
nicação capazes de proporcionar o exame pú-
blico e coletivo das perspectivas de cada um.
Nossa habilidade de sermos capazes de Os discursos são
criar empatia com os problemas de nossos essenciais para a ética:
depende não só da análise cuidadosa de ar- por meio deles e de
gumentos e contra-argumentos, mas tam-
suas componentes de
bém de recursos emocionais compartilhados
que não se restringem a problemas do dis- razoabilidade e emoção
curso racional. aprendemos a adotar o
Certamente, os sujeitos não alcançam sua ponto de vista moral
auto-realização somente por meio do desen-
volvimento de suas capacidades dialógicas
para que possam trocar razões com os outros.
A realização ético-moral dos sujeitos e das so- guraria redes de reconhecimento recíproco de-
ciedades nas quais se inserem também depen- rivadas do esforço de perceber os problemas
dem “de nossa habilidade para experimentar a pelo olhar dos outros. O igual tratamento
dor dos outros” (Stevenson, 1997:81). exigido nessa relação tende a procurar for-
mas de inclusão no debate que não sejam
c) A busca por um ponto de vista moral:
niveladoras de diferenças, permitindo que o
reconhecimento, reciprocidade e
“outro” seja respeitado em sua alteridade.
autonomia política
As questões de justiça só podem ser res-
O tipo de respeito mútuo exigido pela ética pondidas sob uma igual consideração das
do discurso envolve, ao mesmo tempo, a sin- perspectivas de interpretação do mundo
gularidade e a igualdade de todos os interlocu- ou de si mesmos de todos os envolvidos.
tores. Sob esse aspecto, o ponto de vista moral (...) Essas condutas comunicativas estão
(perspectiva intersubjetivamente ampliada) a entrelaçadas à reciprocidade e à relações
de reconhecimento mútuo (Habermas,
ser alcançado por meio do discurso privilegia 2004:56 e 314).
o respeito indistinto e a responsabilidade soli-
dária de todos os participantes do diálogo pelo O reconhecimento social recíproco re-
entendimento e solução de problemas coleti- flete o momento partilhado da experiência
vos (Habermas, 2004). Os discursos são essen- moral, na qual os indivíduos se colocam
ciais para a ética, pois é por meio deles, e de como portadores de necessidades e buscam
suas componentes de razoabilidade, emoção compreensão e aprovação junto aos outros.
e empatia, que aprendemos a adotar o ponto A auto-realização dos sujeitos e a evolução
de vista dos outros, ou seja, que aprendemos a moral da sociedade se entrelaçam de modo
adotar o ponto de vista moral. a evidenciar que, de um lado, a realização de
Para que, em uma situação de troca de si não pode se restringir à interpretação de
argumentos, todos sejam vistos como iguais certos ideais de vida particulares e, de outro
e considerados como parceiros do diálogo, o lado, que a sociedade deve alimentar padrões
discurso prático se configura como um pro- simbólicos de julgamento que, ao invés de

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depreciar e estigmatizar, apontem caminhos posição subordinada do negro (vítima dos


para a construção positiva de identidades in- sofrimentos impostos pela escravidão) e, de
dividuais e coletivas (Honneth, 2003). outro lado, reforçam padrões naturalizados
No debate mediado acerca das cotas ra- de depreciação das identidades étnicas. Entre
ciais nota-se a utilização de enquadramentos o material mediático coletado destacam-se
que, de um lado, privilegiam e enfatizam a dois enquadramentos principais:

Enquadramentos Argumentos Contra-argumentos


“A cota racial resgata uma dívida
através dos tempos que a gente
tem com a população negra des-
se país” (Senadora Serys Slhessa-
renko, PT-MT).22
“Não devemos ter medo de asse-
gurar oportunidade para quem
sofreu as piores consequências. E
“O reparo deveria ter sido feito há
5) A lei de cotas é a escravidão neste país é o maior
122 anos, quando assinaram a tal
uma reparação do crime que o Estado brasileiro co-
lei que dizia abolir a escravidão”
passado. meteu com o nosso povo negro”
(Helizabeth Bispo, BH).25
(Deputado Vicentinho, PT-SP).23
“A lei vai possibilitar ao nosso jo-
vem, o acesso ao ambiente acadê-
mico e, com isso, ele poderá retri-
buir à sociedade de acordo com a
sua potencialidade, com o seu tra-
balho” (Edson Santos de Souza,
Ministro da Igualdade Racial).24
“A constituição determina que “É a mesma coisa de você come-
ninguém terá tratamento desigual çar uma corrida, na qual você dá
perante a lei e que o acesso ao en- pra um uma escada com todos os
sino superior se dá por mérito. Na degraus e pra outros você dá uma
6) Frequentar a
reserva de vagas, há uma discrimi- escada que tá faltando alguns de-
universidade é uma
nação ao contrário, e entendemos graus. Então, agora a gente tem,
questão de mérito.
que isso é ilegal” (Roberto Dor- na verdade, essa possibilidade de
nas, Presidente da Confederação ter esses alunos concorrendo con-
Nacional dos Estabelecimentos de juntamente” (Débora Santos, pro-
Ensino, Confenen).26 fessora UnB, negra).27

Com relação ao enquadramento da “re- 22


“Projeto de cotas universitárias é discutido em Brasília”, Jor-
paração do passado”, destaca-se que a obri- nal Nacional, 05/05/09.
23
“Sessão sobre o Estatuto da igualdade é marcada por discus-
gação social de rastrear todas as ofensas sões na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara”, Jornal
feitas aos negros e zelar por sua reparação Nacional, 13/05/09.
24
“Senado volta a discutir sistemas de cotas em universidades”,
requer uma forma de comunicação na qual Jornal Nacional, 01/04/09.
os interlocutores se posicionem a partir de 25
Semana do leitor, Folha de S.Paulo, 03/05/09.
esquemas cognitivos e sociais para atribuir
26
Gois, Antônio. “Cota é vista como essencial e humilhante”.
Folha de S.Paulo, Educação, 23/11/08.
ou negar valor aos outros. Alguns dos argu- 27
“Câmara dos Deputados aprova projeto sobre cotas na uni-
mentos e contra-argumentos acionados para versidades”, Jornal Nacional, 20/11/08.

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tratar da questão da dívida histórica, ao in- auto-entendimento fica comprometido,


vés de salientarem a posição autônoma dos mas suas possibilidades de uma inserção
negros no debate das cotas tende a favorecer social marcada pela confiança recíproca,
uma posição passiva (de espera por um di- pelo respeito moral e pela estima social.
reito devido) e não de sujeito autônomo. Por Sob esse aspecto, o enquadramento do mé-
outro lado, grande parte dos movimentos e rito adquiriu destaque na discussão sobre
cidadãos negros se posiciona favoravelmente a lei de cotas raciais. Para Souza (2006) o
à lei de cotas, alegando a necessidade de se- argumento de que “todos devem vencer por
rem protegidos legalmente contra a institu- meio de suas próprias capacidades” serve
cionalização de normas que não reconhecem para garantir ainda maior invisibilidade aos
sua autonomia, seu status moral, sua capaci- códigos que utilizamos para atribuir valor
dade de participar em processos de troca de aos outros. Ao me apoiar nas idéias desse
razões, de sustentar seus interesses e justificá- autor, é possível afirmar que não se poderia
los reciprocamente com razões e argumentos assegurar uma pretensa igualdade de con-
próprios e públicos (Warren, 2001:63). dições apenas reservando uma quantidade
Na relação comunicativa de reconheci- determinada de cotas para alunos negros ou
mento mútuo prevalece o conflito, uma ten- do ensino médio. Há uma desigualdade que
são que busca negociar quais são os parâme- não pode ser suprida com políticas públicas
tros que são utilizados para atribuir um valor e sociais: a diferença entre os processos de
aos sujeitos, seja no plano das relações pri- socialização de pessoas brancas, negras, ri-
vadas, jurídicas ou sociais. Honneth (2003) cas e pobres.
e Fraser (1997) salientam que a busca por A tese do “esforço pessoal” ou do
reconhecimento envolve o questionamento e “mérito”omite todo o “treinamento” prévio
o exame desses padrões e códigos nos quais diferenciado da história da vida de cada um.
nos baseamos para atribuir valor aos outros. Não estamos igualmente preparados para a
Nesse sentido, o reconhecimento está direta- competição no mundo do trabalho. E quan-
mente relacionado ao status social atribuído do fracassamos, somos vistos como perdedo-
aos indivíduos, ou seja, se eles são reconhe- res e assumimos a culpa. Argumentos como
cidos como parceiros de debate moralmente esse tornam possível ver como argumen-
capazes de formularem e sustentarem pontos tos voltados para a importância do mérito
de vista e posições na esfera pública, ou se continuam cegos para as desigualdades que
eles são vistos como incapazes de contribuí- camuflam, pois não basta ofercer políticas
rem para o progresso coletivo, sendo tratados paliativas quando há toda uma experiência
como inferiores e dignos de desprezo: prévia de danos, defasagens e ausência de
oportunidades e estímulos para a participa-
Quando esses padrões constituem atores ção cívica e formação cidadã.
como pares, capazes de participarem em
condições de igualdade um com o outro na
vida social, então podemos falar de reco- Considerações finais
nhecimento recíproco e igualdade de status.
Quando padrões institucionalizados de va- O debate mediado sobre a questão das
lor cultural constituem alguns atores como cotas nos permite apontar como a ética dis-
inferiores, excluídos, totalmente outros, curso nos fornece diferentes elementos para
simplesmente invisíveis, isto é, menos que
a análise qualitativa de um processo de em-
um parceiro completo na interação social,
então nós falaremos de falso reconhecimen- bate de razões que se estabelece a longo pra-
to e status subordinado (Fraser, 1997:29). zo. Aplicada à tematização e enquadramen-
to de questões políticas contemporâneas,
Quando formas de desrespeito causam a ética do discurso enfatiza a importância
danos morais nos sujeitos, não só o seu de se analisar o modo como os indivíduos

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se acham representados nos discursos pú- das, trazendo questões morais de interesse
blicos; a necessidade de se conectar a ex- coletivo para um amplo debate público.
periência particular de um indivíduo ou Sob este aspecto, a política de cotas só
grupo a um princípio ou ponto mais geral; pode ser vista como norma legitimamente
e a centralidade da consideração da expe- aceita se resultar da participação, da argu-
riência alheia. Esses princípios da ética do mentação e da negociação entre todos os pos-
discurso foram aqui adaptados à uma pro- síveis afetados por seu conteúdo e efeitos de
posta metodológica que pretendia explorar sua aplicação. E, para que todos os interesses
as principais características da deliberação particulares em competição sejam igualmen-
mediada sobre a questão das cotas raciais te considerados, os participantes precisam se
nas universidades. colocar no lugar dos outros, procurando en-
Em sociedades plurais, vários grupos e in- tender seus pontos de vista e demandas.
divíduos lutam pelo reconhecimento de seu A concepção do espaço de visibilidade
status enquanto sujeitos capazes de formular mediática como espaço de debate e deli-
um ponto de vista e de defendê-lo na esfera beração pode ser uma forma relevante de
pública. Nesse sentido, o espaço discursivo mostrar que a renovação do vínculo social e
que se constitui e se desdobra nos discur- normativo que mantemos uns com os outros
sos mediático reúne e coloca em confronto nas práticas comunicativas cotidianas requer
perspectivas diversas, elaboradas com base o fortalecimento dos mecanismos de valida-
nas experiências subjetivas, dando origem ção e legitimação de regras, em um processo
a um processo de esclarecimento recíproco. no qual os interlocutores se percebam mu-
Tal processo é fundamental para que as re- tuamente como parceiros dialógicos capazes
presentações simbólicas culturalmente ins- de apresentar e justificar racionalmente suas
titucionalizadas que norteiam as interações ações, suas necessidades e seus desejos.
comunicativas sejam revistas e reformula- (artigo recebido mai.2010/aprovado jun.2010)

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Ângela Cristina Salgueiro Marques – Ética do discurso e deliberação mediada sobre a questão das cotas raciais
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Líbero – São Paulo – v. 13, n. 26, p. 75-90, dez. de 2010


Ângela Cristina Salgueiro Marques – Ética do discurso e deliberação mediada sobre a questão das cotas raciais

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