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134 RESENHAS

Adolescência: reflexões desses indivíduos. O adolescente, em


psicanalíticas. Marta Rezende Cardoso meio à crise por que se vê passando, sen-
(org.), Nau Editora. Rio de Janeiro, 2001, te-se ultrapassado pela intensidade de
140 p. suas próprias sensações, em perigo de
perder a capacidade de se distinguir do
Pedro Henrique Bernardes Rondon outro, de diferenciar o dentro e o fora.
Este perigo se estende ao nível da relação
Psicanalista, membro efetivo da SPCRJ. entre as instâncias psíquicas e ao das fron-
teiras de seu ego. Sentindo-se “possuí-
do”, por tais excessos e pelos objetos-
Marta Rezende Cardoso, autora que no fonte dessa violência, ele pode tentar
momento está pesquisando a adolescên- como saída a expulsão violenta da exci-
cia sob a perspectiva da violência que tão tação traumática que o desorganiza.
gravemente afeta esses sujeitos na con- O adolescente é visto, então, como ten-
temporaneidade, organiza esta coletânea tando controlar onipotentemente, no
em que apresenta um trabalho seu, resul- plano externo, aquilo de que não dá conta
tado da referida pesquisa, juntamente no plano interno.
com textos de outros sete expressivos Cardoso sugere então que, na luta
autores do cenário psicanalítico nacional entre a dependência aos objetos e a busca
e internacional na atualidade. da autonomia, a violência comporta uma
A partir de perspectivas diversas, os dimensão de domínio sobre o outro, para
autores falam de aspectos da problemáti- instaurar um processo de separação: “Atra-
ca da adolescência contemporânea que vés de atos violentos, tenta-se inverter o
a todo momento nos colocam diante processo, transformar passividade em ati-
de dificuldades na compreensão e no vidade, formação de um estranho ‘com-
manejo dos jovens em todos os campos, promisso’ entre o desejo de marcar uma
não só na clínica psicanalítica, mas tam- diferença e o desejo de uma aproxima-
bém no campo social, especialmente no ção extrema com o outro.”
terreno das relações familiares. Assim, é O artigo de Jean Laplanche, “Pulsão e
bem-vinda uma coletânea como esta, em instinto: oposições, apoios e entrecru-
que os autores procuram oferecer aos zamentos”, inicia-se com uma discussão
leitores sua compreensão acerca daquilo sobre o uso dos termos pulsão e instinto.
que se passa nas experiências de trans- A grande descoberta de Freud, diz ele, é
formação e de ruptura dos adolescen- o sexual infantil, o “sexual” levado além
tes, abordando os conflitos internos e dos limites da diferença sexual. O que a
externos que acarretam, acrescidas das psicanálise nos ensina é que no homem
exigências da cultura, das quais eles têm o sexual de origem intersubjetiva, por-
que dar conta. tanto o pulsional, o adquirido, vem antes
Em “Adolescência e violência: uma daquilo que é inato: a pulsão vem antes
questão de fronteiras”, Marta Rezende do instinto, o fantasma vem antes da fun-
Cardoso busca alcançar uma compreen- ção: “e quando o instinto sexual chega, o
são metapsicológica dos fenômenos da lugar já está ocupado”.
violência associada à adolescência, recor- Laplanche argumenta que, não tendo
rendo ao estudo psicanalítico apro- mecanismo endógeno inato, a sexuali-
fundado dos processos de subjetivação dade infantil não poderia surgir junta-

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mente com a autoconservação. A simples do nascimento à puberdade. É ela que


fantasmatização das funções corporais de desaparece no inconsciente, e é objeto
apego e de autoconservação não confe- da psicanálise.
riria caráter sexual a funções somáticas. “Tá tudo dominado! — Adolescên-
Diz ele que fazer surgir o sexual a partir cia e violência originária” é o artigo de
da insatisfação da autoconservação, seria Paulo de Carvalho Ribeiro e Maria Teresa
algo como tirar “um coelho da cartola”. de Melo Carvalho. Estes autores abordam
“Mas é preciso que alguém tenha coloca- alguns aspectos das manifestações de
do o coelho na cartola — e foi o adulto comportamentos violentos tão comuns
quem o colocou aí.” Alude então à teoria na adolescência, afirmando que muito
da “sedução generalizada”, lembrando mais do que considerá-las apenas fenô-
que através do contato com o adulto que menos culturais, é preciso compreender
cuida dele é que o pequeno ser humano suas raízes no psiquismo, especialmente
vai ficando contaminado e comprome- pela inevitável associação de violência e
tido pelo sexual adulto. Essa relação recí- sexualidade. Tratando de maneira sinté-
proca de comunicação e de mensagens tica as bases metapsicológicas das origens
fica infiltrada pelo inconsciente sexual da sexualidade, apoiando-se nas contri-
do adulto. buições de Laplanche e de Jacques André,
Nada permite ver, na evolução mais e “pondo para trabalhar” as idéias que
ou menos caótica da pulsão sexual, algu- Paulo C. Ribeiro expôs em seu livro
ma coisa que se inscreva num esquema O problema da identificação em Freud: o recal-
acabado, preparando a puberdade como camento da identificação feminina primária (São
se fosse um objetivo. Mesmo assim Freud Paulo, Escuta, 2000), os autores apresen-
quis efetuar essa reinscrição da pulsão no tam seu estudo da adolescência de ma-
instinto, quando descreveu uma espécie neira atraente e estimulante.
de desenvolvimento programado no qual Teresa Pinheiro, em “Narcisismo, se-
sexualidade infantil, sexualidade da pu- xualidade e morte”, mostra que a adoles-
berdade e sexualidade adulta estão em cência é o momento exemplar para a com-
continuidade. preensão da dupla função da sexualida-
A opinião de Laplanche é de que con- de, como conceito articulador entre o
viria falar de dois tipos de latência: uma psíquico e o somático e como metáfora
latência pulsional, definida por Freud, liga- da condição humana, momento também
da ao recalcamento e ao Édipo, situada em que todas as feridas e fragilidades fi-
entre a idade de 5 ou 6 anos e a puberda- cam expostas. Discorrendo sobre a ques-
de, e uma latência instintiva, aquela defini- tão do narcisismo e da sublimação, dis-
da pela “visão popular sobre a sexualida- cutindo o envolvimento da problemáti-
de”. Isto é, uma latência que existe do ca do envelhecimento dos pais no de-
nascimento à puberdade, durante a qual senvolvimento dos filhos, a autora pro-
só a pulsão tem livre curso. Na adoles- põe uma tentativa de compreender as
cência, então, duas correntes heterogê- dificuldades da adolescência, nos dias de
neas confluem — e nada garante que se hoje, com o despertar para a sexualidade
combinarão harmoniosamente: de um genital, a castração, o equilíbrio narcísico,
lado, a pulsão e o fantasma infantil; do e com as possibilidades que a sociedade
outro, o instinto da puberdade. pós-moderna oferece para lidar com es-
A pulsão sexual ocupa o lugar decisivo, sas questões.

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Jacques André, em “Feminilidade to”. Como se constitui um adolescente


adolescente”, diz que a puberdade, che- cujo anseio por poder físico e intelectual
gada da genitalidade à maturidade, não e cuja aspiração à auto-suficiência domi-
corresponde ao nascimento da sexuali- na o seu horizonte? Empregando em seu
dade humana. Esta já tem uma longa his- estudo noções como a de pulsão de do-
tória, iniciada com a primeira sucção, por mínio, Cintra diz que antes de mais nada
cima da qual a genitalidade nascente vem será preciso verificar se houve, em sua
enxertar-se. Então, a irrupção da sexuali- história, experiências significativas de ser
dade pubertária não encerra o capítulo acolhido, de pertencer. O pertencimento
da sexualidade infantil: antes reabre suas implica sentir-se parte de um núcleo hu-
brechas, reaviva seus conflitos. A partir mano onde predominam trocas afetivas
dessa argumentação, o autor trata de te- e capacidade de reconhecer o outro. “Os
mas como a masturbação e, finalmente, a pais reconhecem o filho, e são por ele
anorexia e a bulimia, em suas relações com reconhecidos; a mãe reconhece o homem
a feminilidade. como seu homem e como pai de seus
Jacqueline Cavalcanti Chaves, em filhos e é por ele reconhecida.”
“Amor e ódio nos relacionamentos Hugo Mayer, em “Passagem ao ato,
afetivos da contemporaneidade” mostra clínica psicanalítica e contemporanei-
que, paralelamente ao ideal amoroso ro- dade”, discute a questão de que na clí-
mântico, surgem hoje em dia novos có- nica atual há elementos que permitem
digos de relacionamento e novas formas pensar em uma mudança nos quadros
de sociabilidade. O “ficar com”, comum clínicos, e justificam inovações na téc-
entre os jovens, é um exemplo destes nica e nas abordagens terapêuticas, de-
códigos e caracteriza-se pela busca de pra- fendendo que não apenas mudaram os
zer imediato e pela ausência de compro- conteúdos desses quadros e a visão que
misso com o outro. Levando adiante temos sobre eles. Assim, não podemos
idéias desenvolvidas em trabalho anteri- subestimar o fato de que nos últimos
or, a autora toma como exemplos o “ficar anos ficaram evidentes formas de ma-
com” e a relação amorosa virtual, para nifestação da patologia mental, como
explorar o modo pelo qual o sujeito lida as adicções, as doenças psicossomáticas,
com sua ambivalência na atualidade, ten- os distúrbios da alimentação, que não
do em vista que a experiência amorosa é podem ser reduzidas às estruturas clí-
“limitada, ambivalente, imprevista e im- nicas clássicas. Para fundamentar sua
perfeita”, considerando algumas caracte- postura, discute o impacto das modifi-
rísticas das sociedades ocidentais con- cações sociais e culturais no mundo da
temporâneas, como a ênfase dada ao con- globalização e do neoliberalismo, a ve-
sumo, ao prazer imediato, à diversão per- locidade das comunicações e as exigên-
manente e ao bem-estar absoluto. cias de satisfação imediata, sobre as re-
Em “Jakob Willem Katadreufe: força e lação familiares e sociais, com suas re-
crueldade sem pertencimento”, trabalho percussões na formação da estrutura psí-
de Elisa Maria de Ulhôa Cintra, temos quica infantil, determinando déficit
minuciosa e sensível análise do filme identificatório, pobreza de represen-
holandês Caráter, que serve à autora como tações e estreitamento do campo de
material para a discussão daquilo que cha- elaboração, que explicariam o aumen-
ma de “eixo narcísico do desenvolvimen- to da atuação dos impulsos, no lugar de

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seu processamento simbólico, em par-


ticular nos adolescentes.
Todos aqueles que se interessam pe-
las questões próprias da adolescência, seja
no sentido do trabalho clínico psicanalí-
tico ou no da compreensão do fenômeno
no plano social e no meio familiar encon-
trarão, nos textos que compõem esta co-
letânea, material clínico e teórico que
certamente enriquecerá sua reflexão a
partir da visão psicanalítica dos fenôme-
nos da adolescência contemporânea, e da
articulação entre psicanálise e cultura.

Recebido em 4/11/2001.
Aprovado em 8/11/2001.

Pedro Henrique Bernardes Rondon


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