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Filosofia

Profª. Terezinha de Jesus Silva Bogéa


SUMARIO

APRESENTAÇÃO
UNIDADE 1 - CONSTRUÇÃO DA CONSCIÊNCIA FILOSÓFICA
1.1 Mito ........................................................................................................................ 04
1.2 Da consciência mítica à consciência racional ......................................................... 07
1.3 Filosofia na história ................................................................................................. 11
1.3.1 A Filosofia na Idade Antiga (séc. VIII a. C. ao séc. V d. C.) .............................. 11
1.3.2 A Filosofia na Idade Média (séc. V ao séc. XV d.C.) ........................................ 13
1.3.3 A Filosofia na Idade Moderna (séc. XV ao séc. XVIII) .................................... 14
1.3.4 A Filosofia na Idade Contemporânea (séc. XIX ao séc. XX) ............................ 17
1.4 Filosofia e Ciência ................................................................................................... 21
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 26

UNIDADE 2 - NOÇÕES DE PROBLEMA E REFLEXÃO


2.1 Problema e Razão ....................................................................................................28
2.2 O que é Problema? O que é reflexão? Qual a relação entre ambos? .......................30
2.3 Reflexão ...................................................................................................................31
2.4 Crítica ......................................................................................................................32
2.5 Ideologia ..................................................................................................................34
2.5.1 Método de análise dialética ..................................................................................35
2.6 Teoria-práxis ...........................................................................................................36
2.5 Dialética ..................................................................................................................40
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................47
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APRESENTAÇÃO

Caro (a) estudante,

Filosofia é uma área do conhecimento que implica reflexões e análises tendo como
instrumento exclusivo, o raciocínio lógico. Os estudos anteriores de Filosofia apresentados a
você, na etapa de segundo grau, deram conhecimentos propedêuticos sobre a origem da
Filosofia. A partir desta disciplina, teremos a oportunidade de ampliar o diálogo filosófico
dentro de um processo reflexivo como: compreensão, interpretação e análise crítica.

Levando em consideração os conhecimentos previamente já adquiridos, convidamos você,


a mergulhar nos pressupostos básicos da Filosofia, pois estes o levarão a desenvolver atitudes
reflexivas e críticas frente à realidade. Assim, esta apostila está organizado em duas Unidades:
Unidade 1 - A Construção da Consciência Filosófica; Unidade 2 - Noções de Problema e
Reflexão.

Os conteúdos pressupõem constantes possibilidades para a indagação. Problematizar e


investigar são prerrogativas das relações filosóficas presentes na metodologia da disciplina.

Assim, a excelência no processo de aquisição do saber, pelo exercício do pensar e de


assumir a atitude filosófica será o nosso maior compromisso. Sempre com você e por você
desejamos que seja significativa nossa parceria.

Bons estudos!

“Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância”

Sócrates
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UNIDADE 1 CONSTRUÇÃO DA CONSCIÊNCIA FILOSÓFICA

OBJETIVOS

• Mostrar os diferentes conceitos de mito e seu papel na antiguidade clássica;


• Destacar a passagem da consciência mítica à consciência racional;
• Conhecer a Filosofia na história a partir da antiguidade até a modernidade.

1.1 Mito

Como sabemos, o mito teve sua origem na Grécia, especificamente no Período Arcaico
(séc. VIII ao V a.C.) e Período Clássico (séc. VI e IV a.C.). No Período Arcaico são escritas
as obras “Ilíada” e “Odisseia” de Homero. Ambos considerados poemas épicos. No “Período
Clássico são escritas as obras “Teogonia” e “Os Trabalhos e os Dias” de Hesíodo classificadas
como poemas didáticos.

Jaeger (apud D’ONOFRIO, 2007, p. 55):

[...] tem ressaltado a grande influência da poesia épica, na formação


social e cultural da Grécia Antiga. Já os filósofos socráticos
consideraram Homero como educador da Grécia toda, pois na idade
primitiva de um povo os valores estéticos não se separam dos valores
éticos.

Quanto à poesia didática de Hesíodo “Os Trabalhos e os Dias” esta tinha como função
principal o ensinamento da agricultura, da navegação, da prática do trabalho, da justiça entre
os homens, preceitos sobre a vida moral, além do calendário sobre os dias bons e ruins. Já a
obra “Teogonia”, era considerada um tratado mitológico, visto que narrava sobre as origens
dos deuses e do mundo, tendo uma semelhança ao livro dos Gêneses, da nossa bíblia.
(D’ONOFRIO, 2007).

Dessa forma, podemos dizer que, esses poemas tiveram um valor educativo para os gregos,
pois o fator educador consistia em manter viva a lembrança da glória do passado, visto que
os mitos religiosos incluíam suas façanhas e seus sentimentos, assumindo, portanto, o papel
de paradigmas ideológicos para qualquer situação de vida. Daí os gregos adotarem essas obras
como um manual didático para o seu povo.
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Após esses antecedentes valem ressaltar alguns conceitos esclarecedores a respeito do


mito. Primeiramente, daremos o conceito etimológico e, posteriormente, o conceito de mito
na visão de um mitólogo e também na visão de alguns filósofos que, de alguma forma,
perceberam o real sentido da representatividade do mito na história da humanidade.

A etimologia da palavra mito vem do grego mythos, significa etimologicamente “fábula”.


“É uma narrativa na qual a palavra é usada para transmitir e comunicar coletivamente a
tradição oral, preservando a sua memória e garantindo a continuidade da cultura.” (SOUZA,
1995, p. 38).

Para o mitólogo Eliade (apud BRUNEL, 2005, p. 16) “O mito conta uma história sagrada,
narra um fato importante ocorrido no tempo primordial, no tempo fabuloso dos começos”.

[...] mito relata como, graças às façanhas dos Seres


sobrenaturais, uma realidade chega à existência, seja à
realidade total, o Cosmo, ou somente um fragmento: uma
ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma
instituição. (ELIADE apud BRUNEL, 2005, p. 16).

A exemplo disto podemos indicar o mito de Perséfone, filha de Zeus e Demeter, que
explica o nascimento das estações do ano.

No que diz respeito aos mitos, “toda mitologia é uma ontofania” o mito revela o ser, revela
o deus, e por isso pode ser apresentado como “uma história sagrada”. (ELIADE apud
BRUMEL, 2005, p. xvi).

Assim, percebemos que o primeiro conceito tem a função de narrar ou de contar algo, já
o segundo, tem a função de explicar como aconteceu o fenômeno, enquanto o terceiro implica
em revelar o sagrado.
Adentrando para os conceitos dos filósofos, buscamos na Antiguidade Clássica o seguinte:
“Mito é considerado um produto inferior ou deformado da antiguidade intelectual. A ele era
atribuída no máximo, ‘verossimilhança’, enquanto a ‘verdade’ pertencia aos produtos
genuínos do intelecto”. (PLATÃO; ARISTÓTELES apud ABBAGNANO, 2003, p. 673).
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Figura 1 – Minerva (Roma) / Athena (Grécia)

Fonte:https://www.google.com.br/search?biw=1600&bih=720&tbm=isch&sa=1&ei=B3mN
WoyNBozZzwLVuaLIAg&q=coruja+de+minerva&oq=coruja+de+minerva
Outra concepção de mito apresenta-se de forma autônoma de pensamento e de vida. Nesse
sentido, a validade e a função do mito, não são secundárias e subordinadas em relação ao
conhecimento racional, mas originárias e primárias, situando-se num plano diferente do plano
do intelecto, mas dotado de igual dignidade. (VICO apud ABBAGNANO, 2003, p. 673).

Nesses dois conceitos percebemos que o pensamento dos filósofos Platão e Aristóteles
coloca o mito destituído de fatores intelectuais, ou seja, o mito aproxima-se apenas da
similaridade da realidade. Neste caso, passa a enquadrar-se como uma inverdade. Por outro
lado, Vico reforça que, o mito não está subordinado ao conhecimento racional, mas sim, a um
plano diferente que merece todo nosso respeito. Trata-se de um plano poético que contém
significados históricos acontecidos nos tempos primordiais.

Para Morin (apud RUSS, 1994, p. 187):

O mito exprime virtualidades humanas que não chegam à realização


prática, mas somente fantástica [...] ao mesmo tempo, os mitos
implicam o antropomorfismo: são ‘fábulas’ em que animais, plantas e
coisas têm sentimentos humanos [...] e exprimem desejos humanos.

Morin nos apresenta um conceito que se aproxima da fábula, em que animais, plantas e
coisas possuem características humanas. Esses aspectos também podem ser expressos na
narrativa do Mito.

Com essa visão prévia de mito proposta por filósofos faz-se necessário mostrar o papel
que a mitologia exerceu na Antiguidade Clássica.

Sabemos que o homem para sobreviver tende a dominar seu espaço. Espaço este, que deve
lhe favorecer condições de sobrevivência social e ambiental. O homem em tempos primordiais
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passava por problemas existenciais que o levava a buscar compreensão através do sobrenatural.
Assim, para atenuar seus medos e temores passou a recorrer aos deuses.

Mediante tal premissa, podemos elencar a função/papel que o mito exerceu na antiguidade
grega. Segundo Aranha e Martins (1995, p. 56), a primeira era “acomodar e tranquilizar o
homem em um mundo assustador”; a segunda, “fixar os modelos exemplares de todos os ritos
e todas as atividades humanas significativas”. Neste caso, o homem copia os gestos exemplares
dos deuses reforçando nos ritos as ações deles.

Como podemos perceber cada autor apresenta uma interpretação, uma posição conceitual
na tentativa de explicar o que realmente o mito pode significar. Essa interpretação perpassa por
concepções ideológicas que vão desencadear a compreensão de mito.

Vale reforçar ainda, que o mito grego exercia também o papel de manter a ordem e a
justiça. Quando um imortal ou um mortal não cumpria tais preceitos eram severamente
punidos. Faz-se necessário dizer que, os heróis míticos possuíam qualidades relevantes que se
definiam como: nobreza, coragem, sabedoria, força, habilidade, hospitalidade e outros. Essas
qualidades serviam de reforço para os jovens da época.

Chamamos a atenção que na modernidade podemos encontrar “narrativas heroicas” como


a série Harry Potter, O Senhor dos Anéis, A história sem fim e outros que podem ser
trabalhadas em sala de aula com o intuito de desenvolver o hábito da leitura e também de
resgatar valores relevantes tais como: missão do herói (proteger e servir); superação de
dificuldades, autodisciplina, sabedoria, discernimento entre o bem e o mal, responsabilidade e
outros.

1.2 Da consciência mítica à consciência racional

É com Descartes (séc. XVII) “que a consciência é colocada como a terra natal da
verdade: como certeza que resiste à dúvida”. (DESCARTES, XVII apud RUSS, 1994, p. 48,
grifo nosso).

Reconhecendo que a consciência se impõe como verdade e certeza vale apresentar a


concepção de Kant que diz: “A consciência é a razão prática que representa ao homem seu
dever para absolvê-lo ou condená-lo em cada caso em que a lei se aplica”. (KANT apud RUSS,
1994, p. 48).
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Como percebemos Kant vem nos dizer que a consciência humana implica em colocar
em prática o seu dever, ou seja, colocar o seu juízo diante de um tribunal que pode ser sua
condenação ou sua libertação.

Segundo Aranha e Martins (1995), as concepções míticas e filosóficas apresentam


características antagônicas. Essa diferença está no fato de que os sábios orientais como
Confúcio, LaoTsé (China), Sidarta Gautama – Buda (Índia), Zaratustra (Pérsia) não se
aprofundavam em questões abstratas, enquanto os filósofos gregos mesmo sofrendo influências
religiosas já problematizavam a realidade.
É fundamental conhecer o princípio mesmo que numa visão de conjecturas fabulosas
do mito. Sobre esse aspecto Mota (1978) declara que neste início, os fatos quase sempre eram
imprecisos, ligados a grandes feitos heroicos apresentados alegoricamente em que comportam
a personificação de coisas ou acontecimentos.
Após esse breve entendimento de consciência mítica, faz-se necessário mostrar
segundo Aranha e Martins (1995) alguns acontecimentos ocorridos na Antiguidade, na Idade
Média e na Idade Contemporânea. Esta visão oportunizará a você maior compreensão sobre a
formação do conhecimento filosófico como princípio da racionalidade.

Na Antiguidade, os sofistas separaram o mito da razão, mas nem sempre para sacrificar
o primeiro, pois com frequência admitiu-se a narração mitológica como envoltura da verdade
filosófica. Esta concepção foi retomada por Platão, especialmente quando considerou o mito
como um modo de expressar certas verdades que escapam ao raciocínio. Nesse sentido, o mito
não pode ser eliminado da filosofia platônica, pois desapareceriam então dela a doutrina do
mundo, da alma e de Deus, bem como parte da teoria das ideias. O Mito é para Platão, muitas
vezes, algo mais que a opinião provável. Mas, ao mesmo tempo, o mito aparece nele como um
modo de expressar o reino do devir.

Na Antiguidade e na Idade Média, deu-se particular atenção ao próprio conteúdo dos


mitos e ao seu poder explicativo. Desde o Renascimento, abriu-se passagem a um problema
que, embora já tratado na Antiguidade, tinha ficado um pouco a margem: o problema da
realidade, e, por conseguinte, o problema da verdade, ou grau de verdade, dos mitos.
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Figura 2 - Platão e Aristóteles

Fonte: COTRRIM. Fundamentos da Filosofia, p. 101

A história empiricamente verificou que os mitos podem não ser verdadeiros no que
contam, mas são verdadeiros noutro sentido: na medida em que contam algo que realmente
aconteceu na história, isto é, a crença em mitos. Por outras palavras, os mitos foram
considerados como fatos históricos: a sua verdade é uma verdade histórica.

Na Época Contemporânea, prevaleceu o estudo do mito como elemento possível, e em


todo o caso ilustrativo, da história humana. O mito não é objeto de pura investigação empírico-
descritiva, nem tampouco é manifestação histórica de nenhum absoluto: é modo de ser ou forma
de uma consciência, “a consciência mítica”.

Os estudos apresentados por Aranha e Martins (1995) nos referendam a passagem do mito
à razão sob a ótica de Cornford. Este autor diz que não existe “uma imaculada concepção da
razão, pois o aparecimento da filosofia é um fato histórico enraizado no passado”.
(CORNFORD apud ARANHA; MARTINS, 1995, p.67). Essa declaração tem amparo na
dicotomia de posições quando estabelecemos diferenças entre o pensamento mítico e a
filosofia nascente.

Uma indagação ainda sob a visão de Aranha e Martins (1995) à luz de Augusto Comte,
fundador do positivismo responde afirmativamente: ao explicar a evolução da humanidade,
define a maturidade do espírito humano pela superação de todas as formas míticas e religiosas.
Dessa maneira, opõe radicalmente mito e razão, ao mesmo tempo em que inferioriza o mito
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como tentativa fracassada de explicação da realidade. Porém as autoras, não refutam a ideia
de que tudo o que pensamos e queremos se situar inicialmente no horizonte da imaginação,
nos pressupostos míticos, cujo sentido existencial serve de base para todo o trabalho posterior
a razão. Nosso comportamento também é permeado de rituais como: comemoração de
nascimento, a entrada de ano novo, as festas de formatura e de debutante, os trotes de calouros,
além de outros componentes míticos no carnaval e no futebol.

As crenças, os temores e desejos fazem parte da vida humana lembra a autora, o que
concordamos plenamente, entretanto os mitos de hoje não emergem com a mesma força com
que se impuseram nas sociedades tribais. (ARANHA; MARTINS, 1995)Hoje, por conta do
exercício da crítica racional nos é permitido legitimá-los ou rejeitá-los quando nos
desumanizam.

A concepção da consciência mítica o que “parece ser” e “o que é” provinda da


racionalidade é a nossa revelação, em discussão. Alguns autores chamaram de “milagre
grego” a passagem da mentalidade mítica para o pensamento crítico racional e filosófico.

De acordo com Aranha e Martins (1995), alguns fatores que desencadearam a passagem
da consciência mítica para a consciência filosófica, foram: a redescoberta da escrita; a moeda;
a lei escrita; o cidadão da polis e a consolidação da democracia.

Aranha e Martins (1995) consideram que a escrita surge como possibilidade maior de
abstração, de uma reflexão aprimorada que tenderá a modificar a própria estrutura do
pensamento.

A moeda apareceu na Grécia por volta do século VII (a. C.) vindo facilitar os negócios e
impulsionar o comércio, além do efeito político de democratização de um valor, a moeda
sobrepunha aos símbolos sagrados e afetivos o caráter racional de sua concepção: a moeda
representa uma convenção humana, noção abstrata de valor que estabelece a medida comum
entre valores diferentes.

Nesse sentido, a invenção da moeda desempenha papel revolucionário, por vincular-se ao


nascimento do pensamento racional crítico. (ARANHA; MARTINS, 1995).

A lei escrita, regra comum a todos, norma racional, sujeita à discussão e à modificação,
passou a encarnar uma dimensão propriamente humana. (ARANHA; MARTINS, 1995).
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O cidadão da polis nasce no ágora (praça pública), local onde os cidadãos atenienses
debatiam os problemas de interesse comum. Esses debates aconteciam em torno do novo ideal
de justiça. Neste caso, a justiça assumia caráter político e não apenas moral, ou seja, não se
tratava de algo individual ou familiar, mas sim de algo referente ao seu desempenho na
comunidade. (ARANHA; MARTINS, 1995).

Já a democracia se dava de forma livre aos cidadãos, fossem estes ricos ou pobres. Todos
tinham acesso direto à assembleia. Tratava-se da “democracia direta”, pois não eram
escolhidos representantes, mas cada cidadão participava das decisões de interesse comum.
(ARANHA; MARTINS, 1995).

Vale dizer que a passagem da consciência mítica para a consciência racional não
aconteceu de forma rápida, mas sim, de forma processual exigida pela própria dinamicidade da
sociedade. Assim, a racionalidade impera com a evolução dos tempos em consonância às
exigências política, social e econômica.

1.3 Filosofia na história

Os saberes e a evolução do pensamento nos levam a reconhecer os caminhos percorridos


pelos filósofos. A história revela a evolução e o perfil do “saber racional”. Daí a necessidade
de conhecermos o percurso do pensamento filosófico dentro dos diferentes períodos históricos.

Com base em Aranha e Martins (1995); Luckesi e Passos (2012) e Souza (1995)
apresentaremos a seguir, os períodos históricos da Filosofia. Pretendemos de forma genérica
mostrar como o pensamento filosófico se processou em cada período. Estes estão distribuídos
em: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.

1.3.1 A Filosofia na Idade Antiga (séc. VIII a. C. ao séc. V d. C.)

Neste período já é perceptível o conhecimento racional, o que leva a uma reflexão mais
ética e política. É neste período também, que nasce a filosofia ocidental em que se elaboram
doutrinas que marcarão toda a história da Filosofia até os dias atuais:

• Pré-socrático (séc. VIII a V a. C.)


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Podemos dizer que, a filosofia foi elaborada a partir de uma ruptura com os modos
anteriores de explicação do mundo e, mais particularmente, em oposição à explicação
mitológica dos fenômenos.

Se quisermos compreender a natureza é preciso romper com a explicação irracional que


se apoia no divino. Os pré-socráticos elaboraram, portanto, uma obra científica que seu
propósito era explicar o mundo não mais a partir de um princípio misterioso e transcendente,
mas a partir da própria razão, apelando a um olhar crítico sobre a mitologia. (GRISSAULT,
2012).

Esta Filosofia se propõe em explicar a natureza material e o princípio do mundo e de


todas as coisas por meio dos seguintes elementos: água (Tales de Mileto); ar (Anaximenes);
apeíron (Anaximandro); devir ou vir-a-ser (Heráclito); ser (Parmênides); ar, água, terra e
fogo (Empédocles); homeomerias (Anaxágoras); átomo (Demócrito); número (Pitágoras).

• Socrático (séc. V e IV a. C.)

Figura 3 - Sócrates

Fonte: CHAUI, Marilena. Um convite a filosofia, p. 41

Este período se destaca pelo pensamento dos filósofos gregos Sócrates, Platão e
Aristóteles. Além, destes temos os sofistas que se destacaram pela arte de ensinar a de
argumentar. O êxito da argumentação era o principal objetivo, ou seja, vencer o adversário,
convencer plateias, ganhar votos e causas.

Sócrates, considerado o pai da Filosofia, criou o método da Maiêutica que consistia em


duas etapas: a ironia e a maiêutica. A Ironia se dá por meio de perguntas sucessivas de modo
a desmistificar falsas verdades para atingir as verdadeiras. Já a Maiêutica (significa parto) é o
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conhecimento verdadeiro. Para Sócrates o sujeito deveria buscar no seu interior os conceitos
universais como forma de elucidar a verdade.

Aristóteles procurava explicar o real por si mesmo, mostrando que é dentro da própria
coisa que se encontra seu princípio de explicação. Pensador enciclopedista, Aristóteles, elabora
uma filosofia sistemática em que procura dar conta da experiência humana em todos os seus
aspectos. Dele se origina inúmeros conceitos que influenciarão toda história da filosofia
ocidental. (ARANHA; MARTINS, 1995).

• Pós-socrático ou helenístico-romano (séc. IV a. C e V d. C.)

Esse período tem o predomínio da ética. Tinha a preocupação com a salvação e a


felicidade do ser. Surgem pequenas escolas filosóficas como Estoicismo (Zenão); Epicurismo
(Epicuro); Ecletismo (Pirro); Neoplatonismo (Plotino). (SOUZA, 1995).

• Patrística (séc. I a V d. C.)

Aqui acontece o encontro da filosofia grega com o cristianismo. Os Padres da Igreja fazem
a primeira elaboração filosófica dos conteúdos do cristianismo. A questão principal é a
conciliação da razão humana com a revelação divina. Os filósofos que se destacaram foram:
Santo Irineu, Justino, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio
Magno, Gregório de Nissa. O destaque maior foi Santo Agostinho. (SOUZA, 1995).

1.3.2A Filosofia na Idade Média (séc. V ao séc. XV d.C.)

Marcada pela dominação da religião monoteísta, principalmente cristã, no Ocidente esse


período se esforça por reconciliar fé e razão. Além disso, marca o fortalecimento do
cristianismo que dará origem a inúmeras ideias prolíficas. Quanto ao pensamento sobre o
universo e sobre o ser humano, o cristianismo renova a visão de mundo, contribui para a
eclosão de novos conceitos que marcarão a história do pensamento. A ideia de um Deus único,
perfeito, transcendente e todo poderoso, bem como as noções de salvação e infinito, são fontes
de reflexões que substitui a visão grega do universo fundada na razão e na natureza.
(ARANHA; MARTINS, 1995).
Em síntese, a religião marca fortemente a época. A verdade se limitava na fé representado
pela hierarquia sacerdotal. Porém, o equilíbrio não foi permanente, novos fatos interferiram na
história.
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• Patrística (séc. V ao séc. VIII)

Neste período, a Filosofia passa a ser escrava da Teologia. A Patrística precede e


prepara a Escolástica medieval. A Filosofia de Platão é retomada por Santo Agostinho, bem
como o neoplatonismo. Além de Santo Agostinho outros filósofos participaram dessa escola
como: Boécio, Dionísio, Isidoro, João Damasceno e outros (SOUZA, 1995).

• Escolástica (séc. VIII ao XV)

O termo Escolástica corresponde a filosofia ministrada nas Escolas cristãs (catedrais e


conventos) se estendendo posteriormente nas universidades.

Santo Tomás de Aquino elabora a síntese do cristianismo com o apoio do aristotelismo


dando assim, suporte às bases filosóficas para a teologia cristã. Dessa união surge a Filosofia
aristotélico-tomista. (SOUZA, 1995).

1.3.3 A Filosofia na Idade Moderna (séc. XV ao séc. XVIII)

Trata-se de um período de transição caracterizado por uma renovação intelectual e moral.


Seus princípios se assentam nos escritos da Antiguidade. A Reforma protestante iniciada por
Lutero (1483 -1546) mina a autoridade da Igreja. Ao afirmar que a salvação vem
exclusivamente pela graça, colocando o ser humano em uma relação pessoal com Deus,
liberando-o da submissão às autoridades espirituais.
O desenvolvimento da imprensa possibilita a difusão do saber e do desenvolvimento do
espírito crítico. Lutero impacta uma geração instalando a dúvida na religiosidade até então
única, aliado a comunicação em que incentivou visões dicotômicas decorrente de vários pontos
de vista e opiniões. (ARANHA; MARTINS, 1995).

• Renascimento (séc. XV e XVI)


Sabemos que o Renascimento foi um período de transição entre a Idade Média e a Moderna
onde mudanças relevantes ocorreram. Este período é marcado por uma profunda revolução
antropocêntrica.
Novos valores nascem: o sujeito está no centro das reflexões, o pensador renascentista se
libera de a “autoridade divina” a fim de poder examinar de maneira crítica os sistemas
teológicos e filosóficos.

Desobrigado da transcendência divina, ele se descobre autônomo e responsável.


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Nesse período acontece a revalorização da Antiguidade Clássica (filosofia greco-romana)


buscada em suas fontes originais. Propõe-se um novo modelo de homem e de Estado. Galileu
Galilei introduz o método experimental impulsionando as bases da ciência moderna.

Vale destacar alguns pensadores como: Pomponazzi, Giordano Bruno, Campanela,


Telessio, Erasmo de Roterdã, Bodin, Maquiavel, Thomas Morus e Montaigne que
apresentaram ideias significativas para a humanidade. (SOUZA, 1995). Dentre estes
destacamos Maquiavel e Montaigne. Maquiavel apresenta os fundamentos da política sobre
questões da manutenção do poder. Sua política realista promove a ideia de uma secularização
do político; Montaigne recoloca o centro do questionamento filosófico com base no
conhecimento de si mesmo. Deus deixa de ser o único caminho para a felicidade, e a razão
passa a ser o outro.

• Racionalismo e Empirismo (séc. XVII)

Descarte, Pascal, Malebranche, Spinoza e Leibniz estão entre os racionalistas mais


marcantes de seu século, desvalorizam a experiência, as informações dos sentidos, em prol da
razão. Os sentidos nos enganam. Eles nos permitem apenas estabelecer verdades sobre
acontecimentos. Por outro lado, a razão descobre as verdades universais. No entanto, aparecem
divergências quanto à natureza do método que a razão deve adotar em sua busca pela verdade.

Em face dessa confiança total à razão surgem outras correntes, como o empirismo. Seus
principais representantes foram Francis Bacon, Thomas Hobbes, John Locke, Georges
Berkeley e David Hume. Estes dão primazia à experiência como fonte, garantia e limite do
conhecimento. Essa corrente partia do princípio aristotélico de que “nada estava no intelecto
sem que antes não tivesse estado nos sentidos”. Assim, os empiristas negavam qualquer ideia
inata e afirmavam que todo conhecimento tem sua origem na experiência sensível. (LUCKESI;
PASSOS, 2012).

• Iluminismo (séc. XVIII)

No séc. XVIII acontece uma crise cultural na Europa exigindo urgência de mudanças.
Essas mudanças ocorram no âmbito intelectual, social e político provocando um movimento
filosófico chamado Iluminismo. A autoridade, a hierarquia, a tradição, dão lugar à liberdade, à
autonomia e ao livre uso da razão.
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A razão se torna crítica e parte para o ataque das opiniões formadas dos privilégios, das
incoerências que se manifestam nesse mundo. Os séculos precedentes haviam preparado o
afastamento da religião. As Luzes consumam esse divórcio apoiando-se na ideia de natureza.

Como uma luz natural iluminando cada indivíduo e guiando-o rumo à maioridade, a
razão permite ao homem conquistar sua autonomia. Pensar em si mesmo, fazer uso de sua
razão, sair da minoridade, da tutela da autoridade religiosa e política, essa é a tarefa do homem
das Luzes.

A razão não é mais luz vinda do alto descobrindo as verdades inatas, as ideias claras e
distintas como entendia Descartes. Ela não é mais razão metafísica, mas sim luz natural em
cada um, faculdade crítica apoiada na experiência.

Considerado o século da razão triunfante, sobretudo no campo científico que conhece


a verdadeira revolução, indicaremos os principais pensadores que provocaram a evolução dessa
época, a saber, Iluminismo inglês: Locke; Iluminismo francês: Bayle, D’Alembert, Diderot,
La Mettrie, Paul Henri Holbach, Helvetius, Condillac, Cabanis, Destuttde Tracy, Voltaire,
Montesquieu, Rousseau; Iluminismo alemão: Tomásio, Wolff, Frederico II, Reimarus,
Mendelssohn, Lessing; Idealismo e criticismo: Immanuel Kant. (SOUZA, 1995).

A seguir mostraremos quatro pensadores que se destacaram nesse período, tendo como
fonte de pesquisa as autoras Aranha e Martins (1995).

Diderot e D’Alembert elaboram a “Enciclopédia” obra coletiva monumental de que


participam Buffon, Rousseau, Montesquieu e Voltaire. Esse dicionário Razoado das Ciências,
das Artes e dos Ofícios visa reunir o conjunto do saber adquirido a fim de difundi-lo.

Rousseau desenvolve a ideia de perfectibilidade humana: “para o homem progredir, é


preciso instruí-lo”. A alfabetização avança, os leitores são cada vez mais numerosos e as ideias
se propagam, assim, mais amplamente. Os salões literários se desenvolvem e são locais de
intercâmbio cultural em que se encontram lado a lado pensadores, artistas e nobreza
esclarecida.
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Figura 4 - Immanuel Kant

Fonte: História das ideias. Vol. 5

Kant definiu de maneira eloquente o que é o iluminismo, para ele seria “A saída do
homem de sua minoridade, cuja responsabilidade é dele mesmo”. Tenha a coragem de se servir
de seu próprio entendimento. Eis aí a divisa do Iluminismo.

Podemos citar também Newton que se liga aos pensadores do Século das Luzes quando,
opondo-se ao caminho cartesiano, considera que a razão, longe de encontrar por si mesma as
verdades absolutas, deve elaborar o conhecimento a partir da observação.

Assim, o Século das Luzes é um século de ruptura e de mutações, um século de


emancipação, de liberação de todas as tutelas. Descobrindo sua capacidade de atingir a
felicidade por si mesmo, o ser humano assume seu futuro em suas mãos.

1.3.4 A Filosofia na Idade Contemporânea (séc. XIX ao séc. XX)

• Século XIX

Este se manifesta como século do Idealismo e do Romantismo. Estudos de Grissaul


(2012) declaram que o que caracteriza o século XIX é a sua complexidade. Feito de
antagonismos e contradições é o século dos grandes sistemas totalizantes que pensam a
história e seu sentido, mas também é século do desencantamento e da perda de valores e de
ideais. O século que se fecha sobre a “morte de Deus”, que Nietzsche a suspeita e inaugura a
filosofia a golpes de martelo.

Segundo Souza (1995), nesse período acontece a valorização da ciência e a extensão do


método científico a outras disciplinas. Acontece também, a confiança no progresso indefinido
18

– material e moral – da humanidade. Surgem novas correntes filosóficas como: positivismo


(muito próximo do âmbito científico) e o socialismo em todas as suas formas no contexto da
Filosofia política. Temos também o desdobramento do idealismo kantiano. A psicologia de
Wundt e a Sociologia de Comte se separam da Filosofia e se tornam ciências independentes
levando à formação das Ciências Humanas.

Figura 5 - Augusto Comte

Fonte: História das ideias. Vol.6

Para ampliar um pouco mais sobre as mudanças desse século mostraremos as correntes
e os filósofos que mais se destacaram. Idealismo: Fichte, Shelling, Schopenhauer, Hegel;
Positivismo: Comte, Taime, Stuart Mill, Spencer; Evolucionismo: Darwin; Pragmatismo:
William James, Dewey, Pierce; Socialismo: Saint-Simon, Furier, Owen, Proudhon,
Feuerbach, Marx, Engels; Fenomenologia: Bretano, Husserl, Scheller, Hartmann;
Psicanálise: Freud; Linguística: Saussure; Filósofos independentes: Kirerkegaard,
Nietzsche. (SOUZA, 1995).

A seguir mostraremos alguns filósofos que se destacaram dentro da sua corrente. O


conhecimento de seus pensamentos dará maior clareza do propósito de cada corrente.

Schopenhauer desenvolve uma filosofia marcada pelo pessimismo, refutando a


possibilidade da felicidade. Longe de compartilhar o entusiasmo de seus contemporâneos.

Hegel elabora um sistema totalizante que pensa na história universal e identifica o


Espírito e o real. Seu idealismo absoluto constitui o pensamento maior do século XIX: todo
filósofo que sucede a Hegel se dedicará a desenvolver ou combater o sistema hegeliano.
19

Augusto Comte é o principal representante do Positivismo. Segundo a ideologia


positivista, a carreira científica é, então, considerada o único modelo a seguir a fim de
desenvolver o conhecimento. Mas o Positivismo tende, a partir da segunda metade do século
XIX, a se transformar em cientificismo: a fé na ciência se impõe como valor e método em
todos os domínios da vida. É somente no fim do século que será colocado em questão essa
supervalorização da ciência.

Charles Darwin expõe sua teoria da evolução na sua obra “Origem das Espécies”
(1859).

Marx e Engels, por sua vez, denunciam a exploração do homem pelo homem e
elaboram um pensamento militante com vistas a transformar o mundo.

Kierkegaard se opõe ao espírito sistêmico e valoriza a existência e a subjetividade,


abrindo caminho ao existencialismo que se perpassará o século XX.

Nietzsche inaugura com Marx as filosofias da suspeita, revelando as ilusões que o


homem é prisioneiro. E anuncia o surgimento do niilismo, a perda dos valores e dos ideais.
Nietzsche procura a origem do discurso que glorifica o trabalho, as peças que se escondem por
trás do elogio e do labor. Critica o cristianismo e dos valores tradicionais que apresentam o
ócio como o vício e o trabalho como fonte de virtudes.

Assim, observamos que diante da sistemática de Hegel à crítica nietzschiana da


racionalidade filosófica, o século XIX vê se enfrentarem pensamentos antagonistas. O que
anuncia diversidades que seguirão o pensamento do século XX.

• Século XX

Enquanto o século XIX fundava suas esperanças em uma razão científica concebida
como fonte infinita de progresso e felicidade, o século XX se abre sobre a crise científica e
sobre o absurdo da guerra. A razão fica abalada, desfaz-se a confiança em sua onipotência,
tanto no plano prático quanto no teórico.

O período do século XX começa com a guerra de 1914-1918. Seguem-se os “anos


loucos” e a liberação de costumes, que termina com a chegada da crise econômica mundial de
1929.

A maioria dos pensadores do século XX como, Freud, Husserl, Popper, Arendt e


Levinas combateram de frente o nazismo ou o antissemitismo? Cada um foi levado a
questionar a política, o totalitarismo, o mal e sua banalidade, a ética e a relação com o outro
20

ou ainda, como Michel Foucault, o poder. Muitos, à imagem de Bergson, de Alain, Sartre ou
Merleau-Ponty, empenharam-se por um mundo mais justo e assumiram a postura de
intelectuais engajados.

Segundo Souza (1995), esse período foi marcado pela pluralidade de correntes
filosóficas como: neopositivismo, positivismo lógico (Círculo de Viena), racionalismo
transpositivista, fenomenologia, existencialismo, hermenêutica, filosofia da vida,
neoescolástica, neokantismo, estruturalismo, escola de Frankfurt, arqueogenealogia etc. A
Ciência atuava como tema central dos filósofos, bem como a epistemologia (teoria do
conhecimento).

No Neopositivismo temos os filósofos: Ayer, Wittgenstein e Russel. Esta corrente tinha


como propósito mostrar que “a experiência é transcrita em forma de proposições, que são
verdadeiras enquanto exprimíveis”, ou seja, a verdade não depende de um conteúdo meramente
factual, mas da sua linguagem lógica. (CANDIOTTO; BASTOS; CANDIOTTO, 2011).

No positivismo lógico (Círculo de Viena) se fazem representar: Schlick, Carnap, Popper,


Nagel e outros. Popper ao se interrogar a respeito dos critérios de cientificidade, conclui a
impossibilidade de se estabelecer uma verdade absoluta em matéria científica.

No racionalismo temos como representantes: Koyré, Poincaré, Piaget, Bachelard, Kuhn


e outros. Essa tendência se propõe em praticar a filosofia da ciência reconhecendo a sua
autonomia e a sua relevância. Ela leva em consideração não só os aspectos lógicos do
conhecimento, mas também os valores humanos e o processo histórico-social da própria
ciência. (COSTA, 2011). Dentro dessa tendência destacaremos Bachelard que “entende que o
ser humano chega à verdade por processos contínuos de criação, mas também de retificações
recorrentes”. As rupturas epistemológicas (epistemologia - filosofia da ciência) devem
acontecer, pois toda teoria se constrói apenas em oposição àquela que a precede.

A fenomenologia tem como principal expoente Edmundo Husserl. O filósofo reabilita a


filosofia como ciência rigorosa ao desenvolver o método fenomenológico. A fenomenologia
envolve o estudo dos objetos das vivências e a descrição dos significados do intuído.

O existencialismo se faz representar por Heidegger e Sartre. Estes se interessam, embora


de maneira diferente, pelo sentido da existência humana, marcada com o selo da angústia e da
contingência. O primeiro convoca a colocar a questão do Ser, que a relação técnica com o
mundo fez esquecer. O segundo situa a subjetividade e a liberdade no centro de sua análise.
21

Ambos questionam as modalidades de uma existência autêntica de um sujeito que perdeu os


valores e as referências em mundo caótico.

Para que esta seção não se torne muito extensa solicitamos a pesquisa das outras
correntes, como: hermenêutica, filosofia da vida, neoescolástica, neokantismo,
estruturalismo, escola de Frankfurt, Arqueogenealogia. A intenção é levá-lo ao conhecimento
do propósito de cada corrente. Lembre-se, você é o sujeito do conhecimento e como tal deve
adotar a postura de “trabalhador intelectual”.

Assim, o século XX se torna testemunha do horror, do mal, da perda dos ideais, da ilusão
do domínio do sujeito sobre si mesmo e de sua capacidade de atingir uma verdade absoluta.
Esse também é o século da defesa da liberdade e dos direitos humanos, da rejeição do
totalitarismo e ao dogmatismo, bem como de um avanço técnico sem precedentes que é
preciso colocar em discussão a fim de se evitar o risco de uma visão por demais tecnicista
com o mundo, que não teria outro objetivo não a eficiência e o consumo.

1.4 Filosofia e Ciência

Em leituras anteriores percebemos que o saber filosófico perpassa por argumentos


compostos por problemas, reflexões, posicionamentos e, se não, a solução destes, que por sua
vez desdobram-se em hipóteses, e destas, numa tendência de continuidade de estudos.

É importante que você perceba a sistemática que assume o processo do verdadeiro


conhecimento, comprometimento que se inicia com a vida acadêmica. O tratamento especial
na construção teórica e prática sob sua responsabilidade se faz necessário. As orientações
filosóficas são decisivas e companheiras nesse processo.

Apresentamos as discussões em torno da relação promissora da Filosofia e Ciência,


compreensão necessária para que se possa desenvolver habilidades intelectuais, prevendo sua
prática e seu êxito na academia.

Contextualizando as contribuições teóricas retomemos com mais especificidade sobre


Filosofia à luz de Mora (1978) e diremos que a Filosofia tem como significado etimológico
“amor à sabedoria”.

Heráclito afirmou que convém que os filósofos sejam sabedores de muitas coisas.
Atribui-se a Pitágoras o fato de ter chamado a si mesmo filósofo, mas não só se discute a
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autenticidade da afirmação como, principalmente se neste contexto “filósofo” significa o


mesmo que Sócrates e Platão.

Por aquele tempo consideravam-se filósofos sábios, sofistas, historiadores, físicos e


fisiológicos. Todos podiam ser considerados (como fizeram Platão e Aristóteles) como
filósofos. Esta tendência para o estudo teórico da realidade a fim de conseguir um saber
unitário acerca dela, em conjunto com a tese da diferença entre a aparência e a realidade (que
já em Platão é explicita), tornou-se cada vez mais acentuada no pensamento grego. A
concepção da Filosofia como uma procura da Filosofia por ela própria conclui numa
explicação do mundo que utiliza um método racional-especulativo, coincida ou não com a
mitologia. Desde então, o termo Filosofia tem valido com frequência como expressão desse
procurar a sabedoria.

Segundo Platão e Aristóteles, a Filosofia nasce da admiração e da estranheza; mas enquanto


que para o primeiro é o saber que, ao estranhar as contradições das aparências, chega à visão
do que é verdadeiramente, das ideias, para o segundo a função da Filosofia é a investigação
das causas e princípios das coisas. O filósofo possui, na opinião de Aristóteles, “a totalidade
do saber na medida do possível sem ter consciência de cada objeto em particular” a Filosofia
conhece por conhecer; é a mais elevada e, simultaneamente, a mais inútil de todas as ciências,
porque se esforça por conhecer o cognoscível por excelência, quer dizer, os princípios e
causas e, em última instância, o princípio dos princípios a causa última de Deus. É a Filosofia
que dá o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que
eles se destinam. (ARANHA; MARTINS, 1995, p.75).

Depois das considerações primeiras cita-se em decorrência Locke, Berkeley e Hume


que consideram a Filosofia, em geral, como crítica sobre a experiência. Quanto a Kant
concebe a Filosofia como um conhecimento racional por princípios, mas isso exige uma
prévia delimitação das possibilidades da razão e, portanto, uma crítica à mesma como
prolegômenos ao sistema da filosofia transcendental. Fichte, que a concebe como ciência da
construção e dedução da realidade a partir do Eu puro como liberdade. Hegel define a
Filosofia como a consideração pensante das coisas e que a identifica com o Espírito absoluto
no estado do seu completo autodesenvolvimento. Schopenhauer sustentou que a Filosofia é
a ciência do princípio da razão como fundamento de todos os restantes saberes, e como a
autorreflexão da vontade. (MORA,1978, p.15).
23

A missão da Filosofia segundo Wittgenstein, e muitos positivistas, que consideram que


a filosofia não é um saber com conteúdo, mas sim um conjunto de atos, definem que a missão
desta: não é conhecimento, mas atividade. A Filosofia seria uma “aclaração” e sobretudo uma
“aclaração” da linguagem, para o descobrimento de pseudoproblemas. Portanto, a missão da
Filosofia não consistia em solucionar problemas, mas em desanuviar falsas obsessões: no
fundo a Filosofia seria uma purificação intelectual.

O importante é a reflexão sobre as diferentes atitudes ante o problema da Filosofia


permitiu que se fosse tendo uma crescente consciência do próprio problema. Esta consciência
manifestou-se especialmente nas investigações de Dilthey que se esforçou por elucidar o que
chamou “filosofia da filosofia” teoria que tem a sua justificação no fato de a Filosofia não ser
nunca, por princípio, uma totalidade acabada, mas uma totalidade possível.

Após as contribuições dos filósofos, percebemos como ocorreu a evolução da construção


do conhecimento. Essa evolução obedeceu às mudanças exigidas pelo próprio tempo, feita
com farta diversificação de conceitos, de descrições e de caminhos para alcançar posturas em
prol do social.

Para entendermos com mais minúcias a relação Filosofia e Ciência passaremos a indicar
a etimologia da palavra ciência, suas características e seus limites entre elas.
Etimologicamente, “ciência” equivale a “o saber”. Contudo, não é recomendável ater-se a esta
equivalência. Há saberes que não pertencem à ciência; por exemplo, o saber que por vezes se
qualifica de comum, ordinário ou vulgar.

Parece necessário determinar qual o tipo de saber científico e distinguir entre ciência e
Filosofia. Ambas se completam, considerando os objetivos que as caracterizam, a história nos
revela alguns fatos determinantes para a compreensão da história que justificam a relação entre
as áreas: Filosofia e Ciência à luz de Aranha/Martins (1995, p.73). A Filosofia continua
tratando da mesma realidade apropriada pelas ciências. A visão da Filosofia é de conjunto, e
não parcial. A ciência se especializa e observa “recortes” do real. A Filosofia tem uma função
interdisciplinar por estabelecer elo entre as diversas formas do saber e do agir. A Filosofia se
distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto: em todos os setores do conhecimento
e da ação, a Filosofia está presente como reflexão crítica a respeito dos fundamentos desse
conhecimento e desse agir.

Portanto a Filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor. O
filósofo parte da experiência vivida do homem trabalhando na linha de montagem, repetindo
24

sempre o mesmo gesto, e vai além dessa constatação. Não vê apenas como é, mas como deveria
ser.

No pensamento grego, ciência e Filosofia achavam-se vinculadas, só vieram a se separar


na Idade Moderna, buscando cada uma delas seu próprio caminho, destaca-se o método, um
objeto específico de investigação, característica da ciência, pelo qual se fará controle desse
conhecimento. (ARANHA; MARTINS, 1995, p. 129).

Para ser precisa e objetiva declara Aranha e Martins (1995, p. 130), “a ciência dispõe de
uma linguagem rigorosa cujo conceitos são definidos de modo a evitar ambiguidades” na
medida em que utiliza a matemática para transformar qualidade em quantidade.

Lakatos (Apud FERRARI,1974) sistematiza o conhecimento a começar pelo


conhecimento filosófico: valorativo, racional, sistemático, não verificável, infalível, exato.
Conhecimento científico: Real (factual), contingente, sistemático, verificável, falível,
aproximadamente exato. No âmbito da Filosofia segundo Lakatos (2005, p.78), o
conhecimento é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas
humanos e o poder de discernir entre o certo e o errado. A ciência conceituada por Lakatos
(Apud FERRARI, 1974,p.?) “é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas
ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”.

Ao tratar da Ciência e da Filosofia mantêm-se entre si relações muito complexas. A


Filosofia foi e continuará a ser a mãe da sabedoria, considerando algumas características como
a de se ocupar da formulação de problemas, depois tomados pela ciência para os
solucionarem. A Filosofia está em relação de constante intercâmbio mútuo relativamente à
ciência; proporciona-lhe certos conceitos. A filosofia examina certos enunciados que a ciência
supõe, mas que não pertencem à linguagem da ciência.

Ampliando esses argumentos supracitados, Gramsci (1978) considera que desde o século
XVII a partir da revolução metodológica iniciada por Galileu, as ciências particulares
começam a delimitar seu campo específico de pesquisa e que pouco a pouco até os tempos
atuais, a ciências como a física, astronomia, química, biologia, psicologia, sociologia,
economia etc. se especializam e investigam “recortes” do real.

Apesar da separação entre objeto da Filosofia e das ciências, o filósofo continua tratando
da mesma realidade apropriada pelas ciências, uma vez que jamais renuncia a considerar o seu
objeto do ponto de vista da totalidade.
25

A visão da Filosofia é de conjunto, ou seja, o problema nunca é examinado de modo


parcial, mas sempre relacionado em cada aspecto com os outros do contexto em que está
inserido.

Se a ciência tende cada vez mais para a especialização, a Filosofia, no sentido inverso,
quer superar a fragmentação do real, daí sua função de interdisciplinaridade, buscando
estabelecer o elo entre as diversas formas do saber e do agir.

A Filosofia ainda distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto: em todos os
setores do conhecimento e da ação, a Filosofia está presente como reflexão crítica a respeito
dos fundamentos desse conhecimento e desse agir.

Mais uma diferença entre Filosofia e ciência: os resultados das investigações científicas e
sua verificabilidade permitem uniformidade de conclusões e, com isso, a ciência adquire
maior objetividade. Nesse sentido, a ciência trabalha com juízos de realidade, já que de uma
forma ou de outra pretende mostrar como prevê-los. De modo diferente, a Filosofia faz juízos
de valor, porque o filósofo parte da experiência vivida e vai além dessa constatação, não vê
apenas como é, mas como deveria ser. Por exemplo, discute qual o valor do método científico,
ou quais as consequências éticas de um experimento. A Filosofia julga o valor do
conhecimento e da ação, sai em busca do significado: filosofar é dar diante do mito sentido a
experiência.

O referencial teórico apresentado nesta Unidade contribuirá para habilitá-lo ao exercício


das análises e reflexões, requisito primeiro no processo de aquisição do conhecimento na área
da Filosofia, conhecimento este, imprescindível à formação Superior.

RESUMO

Nesta Unidade, estudamos diversos momentos evolutivos da história da humanidade,


em duas áreas Filosofia e Ciência.

A antiguidade clássica o fenômeno “Mito” inicia a análise primeira sobre o homem e o


mundo, de forma fantasiosa, dicotômica, em que os deuses nesta fase justificavam a maioria,
se não todos os fatos. Porém, as contradições foram se tornando fatos, através das grandes
navegações, a inserção da escrita e da moeda. No processo do conhecimento destaca-se na
Unidade, o ciclo do processo do conhecimento, o senso comum, o filosófico, o científico, três
níveis que de forma crescente envolvem o verdadeiro conhecimento. No teor conceitual do
26

senso comum, o centro de argumentação tratou-se do MITO, seguido da história sobre as


contribuições filosóficas dos clássicos Sócrates, Platão e Aristóteles.

A concepção filosófica envolveu os períodos da Idade Antiga, Média, Moderna e Idade


Contemporânea com a finalidade de analisar o pensamento filosófico e a atitude científica de
seus precursores, com foco na evolução política e social do homem.

A Filosofia e a Ciência, argumentação última desta Unidade, supõe que a construção da


consciência filosófica se dá pela razão numa perspectiva subjetiva, a Ciência pelo método.
Processo de conhecimento que incluem verificabilidade, objetividade e valores com juízos da
realidade.

ATIVIDADE

Caro (a) estudante,

Com o propósito de organizar os conteúdos e exercitá-los para um possível exercício intelectual


tornando-o apto a desenvolver habilidades frente ao conhecimento na área de Filosofia,
responda:

• “Mito e Razão se completam mutuamente”. Qual a função da razão diante do Mito?


• Analise a Filosofia na História.
• Explique “A articulação da Filosofia e Ciência”.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.


ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução
à filosofia.5.ed. São Paulo: Moderna, 1995.
BRUNEL, Pierre. Dicionário de mitos literários. 4. ed. Rio de Janeiro: J. Olímpio, 2005.
CANDIOTTO, Cesar; BASTOS, Cleverson Leite; CANDIOTTO, Kleber B. B. Fundamentos
da pesquisa científica: teoria e prática. Petrópolis: Vozes, 2011.
COSTA, Clauber da Silva. Transpositivismo, fenomenologia e neohumanismo. 2011.
Disponível em: <dasilvacostablogspot.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2018.
D’ONOFRIO, Salvatore. Literatura ocidental: autores e obras fundamentais. 2. ed. São
Paulo: Ática, 2007.
FERRARI, Afonso Trujillo. Metodologia da Ciência. 3. ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.
GRAMSCI, Antonio. Obras escolhidas. São Paulo, Martins Fontes, 1978.
27

GRISSAULT, K. 50 autores-chave de filosofia. Tradução: KREUCH, J.B. Petrópolis: Vozes,


2012.
LAKATOS, Eva, MARCONI, Marina A. Metodologia Científica.São Paulo: Atlas, 1991.
LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à filosofia aprendendo a
pensar. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
MORA, J. F. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1978.
MOTA, da Silveira. As Questões fundamentais da Filosofia. São Paulo: Editora Itatiaia,
1978.
RUSS, Jaqueline. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Nova Cultural. 1978.
SOUZA, Sonia Maria Ribeiro. Um outro olhar: filosofia. São Paulo: FTD, 1995.
28

UNIDADE 2 - NOÇÕES DE PROBLEMA E REFLEXÃO

OBJETIVOS

• Analisar o conceito de PROBLEMA na visão filosófica como fator de


construção de saberes filosóficos;

• Analisar a relação PROBLEMA e REFLEXÃO, considerando o fator de


relevância no processo filosófico;

• Analisar as principais contribuições teóricas sobre ideologia.

Caros acadêmicos, iniciamos a segunda Unidade do programa de Filosofia. Aqui,


pretende-se analisar o homem na sua dimensão social e política através da compreensão
sobre Problema e Reflexão, compreensão esta necessária à formação inicial da excelência
profissional a ser organizada e correspondida no período que ora se inicia.

Noções de Problema e Reflexão são desafios do conhecimento operacionalizado


nesta Unidade, um exercício documental considerado prioritário. Assim sendo, uma
parceria é fundamental neste processo, ampliando leituras, esclarecendo dúvidas,
estabelecendo horários de estudo e cumprindo a metodologia que o curso requer. A
influência desta Unidade para a sua vida acadêmica é infinita, considerando que a disciplina
Filosofia tem muito a contribuir no êxito acadêmico que é esperado não só para você, mas
para a Sociedade que o aguarda como profissional na área de Educação.

2.1 Problema e Razão


Tratar sobre Problema? Sim. Pensando bem, considera-se como a única forma de
demonstrarmos competência o ato de interferir na realidade e solucionar o “problema” na
área de conhecimento específico. A diversificação de métodos é determinante. Quando?
Como? Vamos pensar? Mas não movidos pelo pensamento que provem do hábito. É
necessário parar, testar conceitos, considerar erros e acertos e admitir um método. Penso,
analiso, pesquiso e agora já estamos falando mais sério, admitindo cientificidade.
Convido-os a enveredar pelos caminhos da Filosofia e discutir Problema e Reflexão,
instrumentos que caracterizam a Filosofia e a arte de fazer Filosofia, que envolve
diretamente o homem por ter a natureza racional.

Quais as definições que exprimem uma característica ou uma capacidade atribuída ao


Homem? A mais famosa é o Homem como “animal racional”, que expressa o ponto de
vista do iluminismo grego e o espírito das filosofias de Platão e Aristóteles, embora Platão
tenha dito somente que o Homem é animal “capaz de ciência” (Def., 415ª). Mas em
29

Política, ele afirma que “o Homem é o único animal que possui razão”, e que a razão serve
para lhe indicar o útil e o pernicioso, portanto também o justo e o injusto (Pol., I, 2, 1253ª
9; cf. VII, 13, 1282b, 5). Por outro lado, Descartes dispensara a animalidade e reduzira o
homem ao pensamento, como consciência imediata: “Para falar com precisão, sou apenas
uma coisa que pensa, um espírito, um intelecto ou uma razão”.

Razão, termo relevante no processo do filosofar, significa certa faculdade atribuída ao


homem e por meio da qual este foi distinguido dos restantes membros da série animal.
Razão, por ser considerada cerne fundamental da Filosofia, nos dá a oportunidade de
promover alguns resgates conceituais considerados fundamentais:

i) Referencial de orientação do homem em todos os campos em que seja possível a


indagação ou a investigação. Neste sentido, dizemos que a razão é “uma faculdade”
própria do homem, que se distingue dos demais animais.

ii) Fundamento ou Razão de ser. Visto que a Razão de ser de uma coisa é sua
essência necessária ou substância expressa na definição, assume-se às vezes por
“Razão” a própria substância ou a sua definição. Este é um significado frequente na
filosofia aristotélica ou nas correntes nela inspirada.

iii) Argumento ou prova. Nesse sentido dizemos: “ele expôs suas razões” ou “é
preciso ouvir as Razões do adversário". Este significado refere-se também à
expressão "Ter Razão", que significa ter argumentos ou provas suficientes, portanto,
estar com a verdade.

iv) Relação, no sentido matemático. Neste sentido, fala-se também em “Razão direta”
ou “Razão inversa”.

Obs: O significado de referencial da conduta humana no mundo (a Razão) pode ser


entendido como a força que liberta dos preconceitos, do mito, das falsas opiniões
enraizadas e das aparências, permitindo estabelecer um critério universal ou comum para a
conduta do homem em todos os campos. Os filósofos envolvidos são os citados a seguir: na
idade moderna, temos Aristóteles (técnica discursiva), Descartes, Espinosa, Kant, Fichte,
Hegel, Husserl e Heidegger (ABBAGNANO, 2007, p. 969). A busca pela compreensão da
gênese filosófica está inclinada a discorrer sobre os principais pilares que os definem. Um
deles é o “Problema” pensar de forma analítica e metódica. Desta forma, corresponde aos
requisitos do filosofar. Convido-os a dialogarmos sobre Problema e Reflexão, ato
preponderante no processo do filosofar no exercício da Razão, assunto anteriormente
tratado. Problema em filosofia? Vamos conhecer?
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2.2 O que é Problema? O que é reflexão? Qual a relação entre ambos?


Ao pensar em conceitos, transportamo-nos aos princípios. O que é problema?
Larousse define como “questão proposta para discussão e resolução [...] qualquer coisa
difícil de resolver ou de explicar” para a filosofia: questão fundamental, dificuldade teórica
cuja solução é incerta. Mounier afirmou: "[...] o problema é a dificuldade que está diante de
mim, que me barra o caminho. Enfrento-o e dele me distingo; posso cercá-lo. O mistério é
o problema em que me encontro engajado, em que estou em questão, na minha totalidade e
no meu ser)". (Introdução ao Existencialismo, p.30, Idées, Gallimard).

Percebe-se que esta dificuldade aparentemente não possui solução. Alguns de nós
expressamos algumas frases muito conhecidas, tal como: “o problema é sério, é preciso
pensar com calma”. Será que nesse momento o exercício do raciocínio filosófico já se
iniciou? Sem sombra de dúvidas. De modo geral, pensa-se em várias respostas para tal
problema, porém enquanto não há uma investigação, a resposta será apenas uma hipótese.
Para que a verdade seja alcançada, exige-se um método científico, ou seja, um conjunto de
processos empregados na investigação e na demonstração da verdade. (CERVO;
BERVIAN, 2007, p.27).

Problema em filosofia conta-se com a contribuição teórica da Nicola Abbagnano


(2007, p.934). Em geral, qualquer situação inclui a possibilidade de uma alternativa.
Trata-se mais do caráter de uma situação que não tem significado único ou que inclui
alternativas de qualquer espécie. Diz-se ainda ser tema de discussão e de investigação.
Estudar e resolver os problemas, isto é, as questões abertas são tarefas tanto da ciência
(Popper) como da filosofia. A tarefa específica da Filosofia é enfrentar e resolver “os
problemas últimos”. (MONDIN, 1980, p.316). O processo "problema e solução" é um ato
filosófico.

Aristóteles definia o Problema como um procedimento dialético que tende à escolha


ou à recusa, ou também à verdade e ao conhecimento, no qual as palavras “escolha” ou
“recusa” significam as alternativas que se apresentam aos problemas de ordem prática,
enquanto “verdade” e “conhecimento” designam as alternativas teóricas. Recordemos agora
a noção de Problema. Foi elaborada pela matemática antiga, que a distinguiu da noção de
teorema e Aristóteles possui méritos nesta área. A Lógica na era medieval (representada por
Jungius, seguido por Leibniz e Wolff) definiu o problema como “uma proposição prática
demonstrativa”. Considerando a diversificação de posturas teóricas, está ancorada na
análise de Dewey ao tratar do Problema ao falar em problematicidade dos campos em que
se apresenta o problema. Neste sentido, Problema é diferente de dúvida (que, uma vez
resolvida, está eliminada e é substituída pela crença), e também da pergunta, que, uma vez
respondida, perde o significado. (ABBAGNANO, 2007, p.935). Ao surgir uma pergunta, o
raciocínio lógico admite a resposta com menor índice de erros; logo, tem-se o problema
31

resolvido. Postura científica intelectual que nos encaminhou a uma “verdade” e esta se
submeterá à apreciação dos espectros geralmente em eventos científicos, tais como
simpósios, congressos e aguarda-se julgamentos.

Segue exemplos que auxiliarão a clarear a questão:

Tema: estresse em estudantes universitários.

Problema: estudantes universitários de Pedagogia do período matutino possuem


menor nível de estresse do que seus congêneres do período noturno?

Hipótese: os estudantes do período noturno, por estarem, em geral, submetidos a


maior carga de atividades diárias, têm maior incidência de estresse do que seus
congêneres do período matutino.

Neste processo, um pensamento analítico aflora em seguida no ser cognoscente.

2.3 Reflexão
Reflexão diz respeito ao estudo que se reporta à área da psicologia, base do ato de
filosofar, considerando o perfil sistemático que este exerce sobre o conhecimento. A ideia
de reflexão é conceituada por diversos filósofos como o ato de expor para análise e
processar a reflexão necessária para o exercício filosófico em atividades acadêmicas com
mais prontidão. Neste aporte teórico, conta-se com Locke, Leibniz, Kant e Sartre para
esclarecer o entendimento sobre reflexão.

Locke afirma: “[...] entendo por Reflexão o conhecimento que a alma toma de suas
diferentes operações, pelo qual o entendimento passa a formar ideias” (Ensaio Filosófico
sobre o entendimento humano, p.61). Para Leibniz, “A reflexão nada mais é do que uma
atenção ao que está em nós, e os sentidos não nos dão o que já carregamos conosco”
(Novos Ensaios sobre Entendimento Humano, Prefácio, p. 40, Garnier-Flammarion). Kant
considera que
A reflexão (reflexio) não se ocupa dos objetos mesmos para deles adquirir
diretamente os conceitos, mas é o estado de espírito em que nos preparamos
inicialmente para descobrir as condições subjetivas que nos permitem chegar aos
conceitos. É a consciência da relação de representações dadas às nossas diferentes
fontes de conhecimento, relação que só pode determinar a relação de umas com
as outras. (Crítica da Razão Pura “Analítica Transcendental”, liv. 2, Apêndice,
p.232, PUF)

A concepção da Reflexão adotada pelo idealismo pós-kantiano, e, em particular, por


Fichte é de índole quase exclusivamente metafísica: a reflexão é então a posição do Eu sob
si próprio. Já Husserl tentou concebê-lo por assim dizer neutralmente como um conjunto de
32

atos que tornam evidentes as vivências. A reflexão husserliana não é, portanto, meramente
psicológica interna, mas uma operação que inclui a apreensão imanente das essências.
(MORA, 1978, p.350).

Já para Sartre, “a reflexão é para-si consciente de si mesmo”. (O Ser e o Nada, 2ª


parte, cap.2, §3, p.199, Tel, Gallimard).

Os conceitos dos estudiosos tratam a reflexão como um pensar racional,


introspectivo, como um instrumento que vai auxiliar o homem a encontrar a resposta
verdadeira, a pesquisa.

Assim, reflexão é inerente ao processo de análise filosófica acerca do objeto que se


pretende conhecer. Considera-se o estudo como o processo que atende a este requisito.
Refletir sobre as teorias, dominá-las via reflexões distintas é apreender e, quem sabe, operar
sobre o apreendido, podendo-se construir o “novo”. E ao comunicar, aguardar os
posicionamentos acerca de seu trabalho.

2.4 Crítica
Tem-se como definição geral de crítica a faculdade de pensar e a arte de julgar. Em
sentido primitivo, é a parte da lógica que trata do juízo. Foi um termo introduzido por Kant
para designar o processo através do qual a razão apreende o conhecimento de si mesma.
Ainda, em estudos proferidos por Nicolas (2007), consta que a tarefa da crítica, portanto, é
ao mesmo tempo negativa e positiva: negativa enquanto restringe o uso da razão; positiva
porque nesses limites, a crítica garante à razão o uso legítimo de seus direitos. A crítica é
um instrumento de análise e, segundo Larousse (2008, p.218), é um exame detalhado para
estabelecer a verdade, a autenticidade e possível correção no processo de construção do
conhecimento.

Appolinário (2011, p.39) considera crítica como análise e posicionamento frente a


um conhecimento, além de apreciação do valor de um conhecimento. Vale lembrar que a
crítica científica tem bases teóricas em sua apreciação. A crítica em caráter do senso
comum se baseia em sentimentos, de ordem pessoal em suas posições avaliativas que se
reverterão em opiniões de primeiras intenções.

Karl Popper (1902-1994), ao tratar sobre Ciência e Crítica, pontua os principais


argumentos em que evidencia a crítica como postura primordial para atingirmos a verdade.
Para tanto, caracteriza a ciência como o conhecimento racional, sistemático, exato e
verificável da realidade. Partindo dessa definição, a construção do conhecimento se compõe
em duas premissas indissociáveis: crença e verdade. Portanto, não basta somente acreditar
ou pensar que se tem razão; o conhecimento requer dados de apoio, uma justificação
racional e o uso crítico da razão.
33

O ser humano, por natureza, é capaz de conhecer e de pensar, não só por


capacidade, mas por necessidade. Para sobreviver e facilitar sua existência, o ser humano
confrontou-se permanentemente com a necessidade de dispor de conhecimento, inclusive
de construí-lo por si só. O conhecimento científico é racional e objetivo, depende de
investigação metódica, requer exatidão e clareza, atém-se aos fatos, é analítico,
comunicável e verificável. Devido a essas características, o conhecimento científico é
questionável e passível de crítica, sendo o questionamento a alavanca do conhecimento e a
fonte da inovação. Uma vez proposta, nenhuma teoria é mantida por dogmatismo.

Para Karl Popper, a possibilidade de uma teoria ser refutada constitui a própria
essência da natureza científica. Assim, uma teoria só pode ser considerada científica
quando é falseável, ou seja, quando é possível refutá-la. Este conceito ficou conhecido
como falseabilidade ou refutabilidade. Portanto, para Popper, o que não é falseável ou
refutável não pode ser considerado científico. As teorias da gravitação de Newton são
científicas, porque, além de se enquadrarem na definição ao propor equações que
descrevem os modelos gravitacionais, também é possível se fazer previsões acertadas com
base nelas. E as teorias de Newton também são falseáveis. Tanto que o foram, quando
Albert Einstein com sua Teoria da Relatividade demonstrou que a mecânica newtoniana
não era válida em velocidades próximas à da luz. Em decorrência do exposto, parece lógico
que quem propõe uma teoria deveria tentar refutá-la, porém a tendência é defendê-la e
procurar evitar sua refutabilidade, daí que para essa teoria ter a possibilidade de ser
refutável é preciso que a mesma seja exposta para que outros o façam. "A publicação de um
trabalho científico é uma forma de exposição para a crítica e questionamento, e os órgãos
de divulgação se inserem nesse cenário do jogo científico, que é o papel que acreditamos,
como revista científica, estar cumprindo". (Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 54 (1): 5-6,
jan./mar).

Você sabia que a “refutação” é um método e seu precursor foi Sócrates? Este
método consiste em evidenciar a contradição à qual leva a asserção do interlocutor,
permitindo, pois, isentar o próprio interlocutor da presunção do saber. Platão sempre
considerou esse procedimento como a propedêutica indispensável da investigação
científica. Aristóteles definiu “refutação” como a demonstração do contraditório.
(ABBAGNANO, 2007, p. 988).

A crítica sempre será um instrumento necessário para compor argumentos


verdadeiros por minimizar os equívocos de teorias e procedimentos, principalmente no que
se refere a ideias que se consagram como ideologias.
34

2.5 Ideologia
Ideologia é um termo composto do grego idea, ideia e logos, ciência. É a ciência das
ideias resultantes da sensação (termo criado por Destutt de Tracy, 1754-1836). Entretanto,
conforme estudos ampliados à luz de Mondin (1990, p.310), é de Marx a perspectiva de que
ideologia é uma interpretação do mundo, do homem, da sociedade e da história, voltada
para o poder. No sentido marxista, há conservação do poder por parte da classe dominante.
Segundo Marx, ideologia é a superestrutura conceitual com que a classe dominante justifica
e mantém a estrutura econômica vigente.

Mora (1978, p.192) apresenta os filósofos Marx, Maquiavel e Hegel que tratam de
forma específica sobre ideologia. Mora inicia o tema comunicando que Ideologia foi uma
disciplina filosófica cujo objeto era a análise das ideias e das sensações. Em meados do
século XIX, a concentração de estudos deu-se em análises das faculdades e dos diversos
tipos de ideias. Estas ideias não eram nem formas lógicas ou metafísicas, tratava-se da
ciência dos primeiros princípios e das principais causas, nem fatos estritamente
psicológicos, embora de algum modo participassem de cada uma destas. A ideologia está
intimamente ligada à gramática geral, que se ocupa dos métodos do conhecimento, e à
lógica, que trata da aplicação do pensamento à realidade.

Maquiavel suscitou a possibilidade da distinção entre a realidade – especialmente a


realidade política – e as ideias políticas.

Hegel assinalou a possibilidade de a consciência se separar de si mesma no curso do


processo dialético e, mais especificamente do processo histórico. Assim, as ideologias
formam-se como mascaramentos da realidade fundamental econômica; a classe social
oculta os seus verdadeiros propósitos (os quais ela mesmo pode ignorar) por meio de uma
ideologia, que por sua vez pode ser revelação desta realidade. Por outro lado, esta pode
servir como instrumento de luta, como sucede quando o proletário toma o poder e converte
em ideologia militante a sua concepção materialista e dialética da história (MORA. 1978,
p.192).

Em geral, pode-se denominar Ideologia toda crença usada para controle dos
comportamentos coletivos, entendendo-se o termo crença em seu significado mais amplo
como noção compromissiva da conduta, que pode ter ou não validade objetiva. Entendido
neste sentido, o conceito de ideologia é puramente formal, uma vez que pode ser visto
como Ideologia tanto na crença fundada em elementos objetivos quanto uma crença
totalmente infundada; tanto uma crença realizável quanto uma crença irrealizável. O que
transforma uma crença em ideologia não é sua validade ou falta de validade, mas
unicamente sua capacidade de controlar os comportamentos em determinada situação
(ABBAGNANO, 2007, p.616).
35

Ao tratar de contradição, a ideologia não é apenas um conjunto de ideias puras.


Comporta ainda sentimentos, simpatias, antipatias, esperanças e crenças. Na ideologia
proletária, por exemplo, encontra-se não somente os elementos ideais da luta de classe, mas
também o sentimento de solidariedade para com os explorados do regime capitalista (os
“prisioneiros”), sentimento de revolta, entusiasmo, e tudo o que compõe uma ideologia.

Politzer (1987), em seus estudos sobre o fator ideológico, considera este como uma
causa ou uma força que age e que é capaz de influenciar, e é por isso que se fala da ação do
fator ideológico. Exemplificando, as religiões são um fator ideológico que tem uma força
moral e que age de maneira importante.

O que se entende por forma ideológica? É um conjunto de ideias particulares que


formam uma ideologia num domínio especializado. A religião e a moral são formas de
ideologia, do mesmo modo que a ciência, a filosofia, a literatura, a arte e a poesia.

Politzer, em uma visão analítica, ressalta que os escritores e os pensadores têm por
missão propagar e defender as ideologias. Os seus pensamentos e escritos nem sempre são
muito caracterizados, mas, de fato, mesmo nos que tem o aspecto de serem os mais simples
contos ou novelas, reencontramos sempre, pela análise, uma ideologia. Esta análise é uma
operação muito delicada, e devemos fazê-la com muita prudência, ocasião em que o
referido autor nos indica o método de análise dialética, que será de grande utilidade, mas,
para que não se seja mecanicista nem queira explicar o que não é explicável, é preciso
prestar muita atenção.

2.5.1 Método de análise dialética


Para aplicar o método dialético, é necessário conhecer muitas coisas e, se
desconhecemos o seu objeto, é preciso estudá-lo minuciosamente, sem simplesmente fazer
caricaturas de julgamento.

Para proceder à analise dialética de um livro ou de um conto literário, Politzer


indica um método, que pode ser aplicado a outros assuntos:

a) É preciso, primeiro, prestar atenção ao conteúdo do livro ou do conto a analisar.


Examiná-lo independentemente de toda a questão social, porque nem tudo vem da luta de
classes e das condições econômicas. Há influências literárias, e devemos levar isso em
conta, buscando conhecer a que “escola literária” pertence a obra e levar em consideração o
desenvolvimento interno das ideologias. Em suma, é de bom proveito compor um resumo
do assunto, analisando e tomando nota acerca dos pontos que causam maior impressão;

b) Em seguida, observar os tipos sociais dos heróis da intriga. Procurar a classe


a que pertencem, examinar a ação das personagens e ver se, de alguma maneira, o que se
36

passa no romance pode estar conectado a um ponto de vista social. Se isto for possível, se,
razoavelmente, não puder ser feito isso, então vale mais abandonar a análise do que
inventar. Não se deve nunca inventar uma explicação;

c) Quando se encontrar qual é ou quais são as classes em jogo, é preciso


procurar a base econômica, isto é, quais são os meios de produção e a maneira de produzir
no momento em que se passa a ação do romance. Se, por exemplo, for nos nossos dias, a
economia é o capitalismo. Veem-se, atualmente, inúmeros contos e romances que criticam
e combatem o capitalismo. Mas, há duas maneiras de o fazer: 1. Como revolucionário, que
se atira para frente; 2. Como reacionário, que quer voltar ao passado. Esta última forma é
muitas vezes a que se encontra nos romances modernos: tem-se saudades dos tempos
passados;

d) Uma vez que obtivemos tudo isso, podemos então procurar a ideologia, isto
é, ver quais são as ideias, os sentimentos e a maneira de pensar do autor. Ao procurar a
ideologia, pensaremos no papel que desempenha e a sua influência no espírito das pessoas
que lêem o livro;

e) Poderemos, então, dar a conclusão da nossa análise, dizer o porquê de tal


conto ou romance ter sido escrito em tal momento, e denunciar ou louvar as intenções
(muitas vezes inconscientes no autor), conforme o caso.

Este método de análise só pode ser bom se, durante sua aplicação, nos
lembrarmos de tudo o que já foi dito anteriormente. É preciso pensar que a dialética, se nos
traz uma nova maneira de conceber as coisas, exige, também, a quem fala delas e as
analisa, o seu perfeito conhecimento.

Agora que vimos em que consiste o nosso método, é necessário tentar (nos
estudos, na nossa vida militante e pessoal) ver as coisas no seu movimento, na sua ação de
mudança, nas suas contradições e na sua significação histórica, e não no estado estático,
imóvel. É necessário vê-las e estudá-las sob todos os aspectos, não de maneira unilateral.
Em suma, aplicar, em tudo e sempre, o espírito dialético. Vamos pôr em prática, seguindo a
desenvoltura dos princípios filosóficos que envolvem a discussão sobre Teoria e Práxis?

2.6 Teoria-práxis
Nicola (2007) constitui um dos núcleos centrais na semântica histórica e no
“conflito hermenêutico” das definições filosófico-conceituais, da rede de saberes, modelos
culturais e ideológicos. Inicia-se pela análise dos argumentos que envolve primeiramente
sobre teoria com a seguinte reflexão: quais os principais filósofos envolvidos neste estudo e
o que os distingue neste tratado? Ao conhecer os princípios da teoria, que ponto de
identificação acadêmica deve-se assumir?
37

Os significados principais foram definidos por Aristóteles, que apresenta quatro


circunstâncias: a primeira, Especulação ou vida contemplativa (Nicola afirma que o termo
teve origem na Grécia); a segunda, uma condição hipotética ideal, na qual tenham pleno
cumprimento de normas e regras, que na realidade são observadas incompleta ou
parcialmente. Este significado está presente quando se diz: “na teoria, deveria ser assim,
mas na prática é outra coisa”; a terceira, a chamada “ciência pura” que não considera as
aplicações da ciência à técnica de produção, ou então as ciências, ou parte de ciências, que
consistem na elaboração conceitual ou matemática dos resultados, por exemplo, “física
teórica”; a quarta, uma hipótese ou um conceito científico. Percebe-se frente aos conceitos
de Aristóteles que a teoria tende a ser especulativa e hipotética em primeira instância e de
forma isolada, uma vez que na maioria dos objetos em estudo, principalmente na área
social, a dialética sempre está presente, motivo da instabilidade teórica em uma das
hipóteses.

Russ (1994, p.292) amplia a análise sobre conceitos de teoria ao afirmar que,
enquanto a filosofia antiga via a teoria como uma pura contemplação do mundo, o
pensamento moderno privilegiava, frequentemente, a significação epistemológica deste
termo (conjunto que integra um grande número de fatos), sem com isso desprezar a ideia de
conhecimento desinteressado.

Seguem algumas definições gerais:

• Etimologia: theoria (grego) visão intelectual, especulação, ação de observar;

• Sentido geral e filosófico: conhecimento especulativo, desinteressado (por


oposição à prática);

• Epistemologia: conjunto organizado e coerente que integra um número de


fatos e leis em torno de alguns princípios fundamentais;

• Pejorativo: conjunto puramente hipotético e sem valor.

Russ apresenta vários filósofos e seus conceitos, tais como Bernard, Duhen,
Einstein, Aron, Granger e Ullmo. Os conceitos sobre teoria são de fundamental
importância. É preciso conhecê-los para que se possa analisar e fazer considerações em seu
caminho de descobertas conteudistas. A Filosofia é a base teórica subjetiva que valida os
princípios e fins do conhecimento. É necessário apreender esta base e a Teoria é
fundamental.

Bernard diz que “a teoria é apenas a ideia científica controlada pela experiência”.
(Introdução ao Estudo da Medicina Experimental Gilbert., Ano ?, p.44, Gilbert). Duhem
afirma que “a teoria física não é uma explicação. É um sistema de proposições
38

matemáticas, deduzidas de um pequeno número de princípios, que tem por objetivo


representar tão simples, tão completa, tão exatamente quanto possível um conjunto de leis
experimentais”. (A teoria da Física, seu objeto e sua estrutura, p. 26, Chevalier e Rivière,
1906).

Einstein ressalta:
O pesquisador, impelido pelos fatos da experiência, desenvolve [...] um sistema
de pensamentos que, com frequência, é logicamente construído sobre um
pequeno número de suposições fundamentais, os chamados axiomas. Chamamos
um tal sistema de pensamento uma teoria. Uma razão de ser do fato de vincular
um grande número de experiências isoladas; aí reside sua “verdade”. (A Teoria
da Relatividade restrita e Geral, p.138, Gauthier-Villars).

Granger conclui:
Nas ciências de hoje, uma teoria é um conjunto de conceitos abstratos, no interior
do qual, mediante certas regras de combinação e dedução, é possível concluir a
necessidade ou probabilidade de certas configurações igualmente abstratas, que
se supõem representarem os fenômenos. (Teoria e Experiência, in: Philosopher,
p.342, Fayard).

Ullmo considera que


A teoria científica propõe-se a dar, da natureza inteira ou, provisoriamente, das
porções mais extensas possíveis desta, uma representação adequada,
estabelecendo uma correspondência exata entre o conjunto dos fenômenos
estudados e um sistema coerente de leis matemáticas. (O Pensamento Científico
Moderno, p. 65, Flammarion).

Na Teoria, segundo depoimentos conceituais dos teóricos citados, convergem


conceitos em pontos comuns como a ideia científica, que segundo Hegel é uma concepção
abstrata. No sentido ordinário, é um conjunto de opiniões (RUSS, 1994, p. 85) em
contraposição à ciência. Segundo os filósofos clássicos, a característica de ciência é o
conhecimento racional que versa sobre a essência do real (por oposição à opinião). E a
discussão continua. Embora concordem em ser abstrato, os conceitos atrelam característica
de logicidade, um sistema coerente, combinação de dedução, o que confirma o raciocínio
lógico. O estilo de exigência em termos de concepção é a práxis como parceira da teoria.

Práxis a princípio, dito por Nicolas (2007), é uma palavra grega que significa ação.
A terminologia marxista designa o conjunto de relações de produção e trabalho, que
constituem a estrutura social, e a ação transformadora que a revolução deve exercer sobre
tais relações. Definições particulares de filósofos ampliam o poder de análise. Sartre define
a práxis como projeto organizador que ultrapassa condições materiais na direção de um fim
e se inscreve pelo trabalho na matéria inorgânica como remanejamento do campo prático e
39

reunificação dos meios sem vista de atingir o fim. (Crítica da Razão Dialética, t.1, p.687,
Gallimar).

Morin afirmou: “Chamo práxis o conjunto das atividades que efetuam


transformações, produções, performances a partir de uma competência”. (O Método, t.1, “A
Natureza da Natureza”, p.157, Le Seuil).

Campo prático, atividades, transformações produções e competências marcam as


características da Práxis.

Os dois termos (teoria e práxis), na sua clássica relação de oposição-contradição, de


não identidade, de relação hierárquica, descontínua ou de conflito, constituem não só um
dos tipos mais antigos da argumentação pública, como também um dos núcleos centrais na
semântica histórica e no “conflito hermenêutico” das definições filosófico-conceituais, da
rede de saberes e modelos culturais e ideológicos, conforme Abbagnano (2007).

A concepção em Platão revela algumas dicotomias acerca do processo teoria-práxis,


que é emblematicamente expressa por Platão na República (Livro VII) por meio da
elaboração do mito da caverna. Verdadeiro itinerário do conhecimento humano, na
interminável tentativa de sair da caverna, sofre continuamente as insídias da recaída na
facticidade.

No modelo aristotélico, a distinção entre teoria e práxis começa a delinear-se de


modo conceitualmente sistemático. Em Aristóteles, torna-se mais precisa a definição
disciplinar da filosofia como ciência especulativa ou teórica autônoma (através de um
confronto crítico-interpretativo contínuo e cerrado com o platonismo). E continua
implicando também, por via de consequência: primeiro, um valor “teológico” peculiar da
theoria; segundo uma distinção entre a filosofia pura, teórica e filosofia prática, entre a
sapiência e sabedoria, entre teoria da práxis e práxis humana propriamente dita. Em geral,
para Aristóteles, teoria é o modo por meio do qual o homem se põe racionalmente em
relação com o que não pode ser modificado por esse interesse humano, ou seja, o querer
saber desinteressadamente como as coisas são em si. Práxis, ao contrário, é a efetivação
existencial e a autorrealização do homem por meio da ação no espaço delimitado do mundo
humano. (ABBAGANO, 2007, p. 1128).

A participação de Platão e Aristóteles ao definir teoria-prática revela a relação que


compõe nossos estudos e, principalmente, nossas pesquisas. Com isso, a responsabilidade
com o compromisso de atingir o mérito da verdade em resultado de estudos científicos,
teoria-práxis são oriundas do compromisso do verdadeiro conhecimento extensivo até os
nossos dias. Sócrates e Platão são referências desde o início da cientificidade pela razão.
Surgem a partir deles outros colaboradores acompanhando as mutações sociais do século.
Observe que no decorrer deste estudo, várias vezes tratamos de dicotomias conceituais e da
40

evidência dos contrários, especificidade a ser trabalhada a seguir.

2.5 Dialética
O termo "dialética" teve estreita ligação com o vocábulo "diálogo". Pode-se definir
primeiramente como "arte do diálogo". (MOURA, 1978, p.105). Tal como no diálogo, na
dialética há também duas posições entre as quais se estabelece precisamente um diálogo.
Neste contexto conta-se com a contribuição teórica de Georges Politzer (1986) autor do
livro Princípios Elementares de Filosofia.

O autor conta que falar em dialética é falar, por vezes, em tom de mistério,
apresentando-a como algo complicado. Conhecendo mal o que é, fala-se dela, também, a
torto e a direito. Tudo isso é lamentável, diz ele, e faz cometer erros que é preciso evitar.

Ao tratar do sentido etimológico, o autor define como simplesmente a arte de


discutir. É desta forma que se sabe, por vezes, a respeito de um homem que discute
longamente, e mesmo também, por extensão, daquele que fala bem: é um dialético! Não é
nesse sentido que vamos estudar a dialética. Sob o ponto de vista filosófico, há uma
significação especial.

Para Politzer, a dialética no sentido filosófico, contrariamente ao que se pensa, está


ao alcance de todos, porque é uma coisa muito clara e sem mistério. Pode ser compreendida
por toda a gente, tendo, todavia, as suas dificuldades; e eis como devemos compreendê-la.

Politzer exemplifica citando os trabalhos manuais: alguns são simples, outros, mais
complicados. Fazer caixas de embalagem é um trabalho simples. Montar um aparelho de
T.S.F., pelo contrário, representa um trabalho que requer habilidade, precisão e agilidade
nos dedos. As mãos e os dedos são para nós instrumentos de trabalho. Mas pensamento
também o é. E se os dedos não fazem sempre um trabalho de precisão, o mesmo acontece
com o cérebro.

Retomando a História do trabalho humano, o homem, no início, apenas sabia


realizar trabalhos grosseiros. O progresso nas ciências permitiu trabalhos mais precisos.
Acontece exatamente o mesmo com a história do pensamento. A metafísica é esse método
do pensamento que apenas é capaz, como nossos dedos, de movimentos grosseiros (como
pregar caixotes ou puxar as gavetas da metafísica). A dialética difere deste método, porque
permite uma maior precisão. É apenas um método de pensamento de grande precisão.

A evolução do pensamento foi a mesma que a do trabalho manual. É a mesma


história, não havendo nenhum mistério: tudo é claro nesta evolução. Politzer ao tratar da
origem da dialética estabelece comparações entre a metafísica e a dialética. Diz que a
metafísica considera o mundo como um conjunto de coisas congeladas, e, ao contrário, se
41

olharmos a natureza, vemos que tudo se move, tudo muda. Constatamos a mesma coisa
com o pensamento. O resultado desta constatação é, portanto, um desacordo entre a
metafísica e a realidade. É por isso que, para definir de uma maneira simples e dar uma
ideia essencial, pode-se dizer: quem diz “metafísica”. O movimento e a mudança, que
existem em tudo o que nos rodeia, estão na base da dialética. Politzer cita Friedrich Engels
(Anti-Duhring, p.52):
Quando submetemos ao exame do pensamento a natureza ou a história da
humanidade, ou a nossa própria atividade mental, o que se nos oferece, em
primeiro lugar, é o quadro de uma confusão infinita de relações, de ações e
reações, onde nada permanece o que era, onde era, como era, onde tudo se move,
se transforma, vem a ser e passa.

Engels nos diz: “os mesmos são diferentes”. Pensamos ser iguais e já mudamos. Da
criança que éramos, tornamo-nos homens, e este, fisicamente, jamais fica o mesmo:
envelhece todos os dias. Não é, pois, o movimento que é aparência enganadora, como o
sustentavam os eleatas. É a mobilidade, visto que, de fato, tudo se move e tudo muda.

Engels ratifica a mudança quando cita a História como prova que as coisas não
permanecem o que são. Em nenhum momento a sociedade está imóvel. Primeiramente,
houve na antiguidade a sociedade escravagista, sucedida pela feudal que foi seguida pela
capitalista. O estudo dessas sociedades nos mostra que, contínua e insensivelmente, os
elementos que permitiram o nascimento de uma sociedade nova se desenvolveram nelas.

Outro exemplo são os nossos próprios sentimentos que se transformam e mal nos
apercebemos. O que era apenas uma simpatia se transforma em amor, depois se degenera e
algumas vezes se transforma em ódio.

O que vemos por toda a parte, na natureza, na história e no pensamento, é a


mudança e o movimento. É por esta constatação que começa a dialética. Ressalta-se que os
gregos se impressionaram pelo fato de encontrar por toda parte a mudança e o movimento.
Vimos que Heráclito, o chamado “pai da dialética”, foi o primeiro a nos dar uma concepção
dialética de mundo, isto é, descreveu-o em movimento não congelado. A maneira de ver de
Heráclito pode se tornar um método.

Heráclito (600 a.C.-540 a.C.) é mais conhecido por suas crenças de que todas as
coisas existem em um estado de fluxo, que os opostos coincidem e que o fogo é o elemento
central de que o mundo é feito. Heráclito argumentava que, embora o universo seja eterno,
encontra-se em um estado de transformação constante. Usava a analogia de um rio para
explicar seu ponto de vista. Embora as águas estejam em constante movimento, o rio
permanece o mesmo. Heráclito declarou que os três elementos principais são a terra, o fogo
e a água. O fogo é o elemento primário, que controla e modifica os outros dois. O
dinamismo existente entre os opostos fornece a força motriz do universo – a união dos
42

opostos. Tudo depende das tendências opostas que se unem e da tensão entre as forças,
fazendo com que o universo exista em estado de fluxo. Propôs que a mudança é a única
constante no universo. (HARWOOD, 2013, p.16).

Quanto à aplicação do método dialético nas pesquisas sobre educação, isto permite
a desconstrução de verdades postas contribuindo com a quebra de explicações que têm
como foco apenas as aparências dos fenômenos, como afirmam Diniz e Silva (2008, p.19).
A educação brasileira por muito tempo insistiu em tratar a formação letrada na escola como
um ato e uma prática de aprendizagem distante da realidade do aluno. Diante disso, muitos
estudos influenciados pelo método dialético começaram a desenvolver reflexões críticas
com relação entre a vida na escola e a escola da vida. Em uma obra com este título, os
autores Ceccon, Oliveira e Oliveira (1993) buscam por meio do método dialético analisar as
contradições presentes nos mecanismos internos da escola: como, por que e para que ela
serve à maioria numa sociedade capitalista.

Politzer conclui que para a dialética, não há nada de definitivo, o que significa dizer
que, para a dialética, tudo tem passado e terá um futuro, e que, por conseguinte, nada é de
uma vez para sempre, e o que é hoje não é definitivo. Como exemplo, temos a terra e a
sociedade.

A recomendação do autor aos estudiosos é ratificar que a dialética não é um meio de


explicar e de conhecer as coisas sem as ter estudado, mas o de estudar bem e fazer boas
observações, pesquisando o começo e o fim das coisas, de onde vêm e para onde vão.

Mas temos em vista outro olhar sobre dialética. Marilena Chauí (2001, p.203) nos
remete à análise de conceitos envolvendo pontos comuns em Platão e Aristóteles,
divergindo quanto ao papel da dialética, mas em um ponto comum. O conceito de logos é
dividido internamente em predicados opostos ou contrários divididos internamente por
predicados contraditórios. Em oposição a este, surge Hegel, que contraria os clássicos e diz
que a dialética é a única maneira pelo qual podemos alcançar a realidade e a verdade como
movimento interno da contradição, pois Heráclito tinha razão ao considerar que a realidade
é o fluxo eterno do contraditório. A contradição é essencial para a conclusão da verdade em
relação ao problema filosófico. A contraposição considerando conceitos anteriormente
analisados torna a verdade, seja esta verdadeira ou falsa.

Considera-se assim que a verdade tem duas faces e estas tendem a ser analisadas
pelo pesquisador. Você, acadêmico, deve estar se perguntando sobre os 100% de verdade,
como fica isto? Abre-se um leque de alternativas: a ciência dirá os fatos, a comprovação
poderá corresponder a esse percentual enquanto a filosofia indagará o porquê dos fatos. O
método terá a missão de responder a verdade que se espera. Uma verdade verdadeira ou
uma verdade falsa depende da natureza do objeto investigado.
43

Considerações sobre a unidade II

Ao considerar a Unidade dois, uma discussão inicial, chama a atenção ao muito que
ainda temos de nos aprofundar no exercício do filosofar ao longo do curso, pela
responsabilidade do conhecer a verdadeira teoria e prática das disciplinas que compõem
este curso. Vimos que o processo do conhecer envolve princípios obrigatórios que
correspondem a construção do alicerce de seu curso.

Conhecer é a meta da Filosofia, portanto a força do compromisso por sua natureza


racional demonstra-se pelo esquema, em nível de compreensão o processo filosófico possui
cinco alicerces básicos: 1 Reflexão. 2 Crítica. Ideologia. 4. Problema e 5 Teoria e Prática e
suas especificidades, análises já apresentadas em unidades a anteriores.

Traçando caminhos de compreensão: esquema: problema e reflexão

Essência Razão

Argumentação Atitude Evidência


filosófica

:“conhecer”
Fundamentação

ACADÊMICO

1 REFLEXÃO
Para si consciente FILOSOFIA 3Problema várias alternativas
De simesmo - Sartre <raciocínio lógico>

Atenção que está em nós- Leibniz discussão

Domínio de conteúdo acerca do objeto resolução

2 Crítica procedimento dialético -


estudo dos contrários

Arte de julgar: verdade < F V>

4 Ideologia 5 Teoria e Práxis


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Ciências das ideias Ideia científica controlada

pela experiência:

Fonte: elaboração própria, 2018 Ac

Filosofia representa o alicerce do curso de Pedagogia por assegurar a cientificidade


e sapiência que com certeza corresponde à desenvoltura teórica estabelecida nesta unidade.
Tratou-se da fundamentação teórica em Filosofia, alguns pontos propedêuticos, mas a
prioridade nesta fundamentação reside no poder de amadurecimento profissional que se
inicia no primeiro período.

Quando se tratou sobre o processo do conhecimento, defendeu-se a razão (expressa


em teoria), a fundamentação sobre a capacidade de meditar em que compromissos começar
a construir para a finalidade última de seu curso em relação ao profissional que você deseja
ser.

As teorias indicam o caminho, a ciência justifica cada fato pelo método, comprova
as teorias que conhecemos pelos encaminhamentos racionais. Tem-se mudança de posturas
e metas definidas.

A unidade tratou de reflexão. Sartre compõe o quadro teórico com o conceito “para
si", “consciente de si mesmo”. Leibniz trata a reflexão como a “atenção que está em nós”.
A reflexão é a essência da filosofia cuja razão dá-se profundamente nos “porquês”
construídos principalmente em sua área de conhecimento. No decorrer do seu curso e a
cada disciplina, a reflexão será preponderante para a excelência de sua produtividade,
considerando a necessidade de admitir regras para apreender o conhecimento. É necessário
admitir um estudo sistemático, em busca de respostas pela pesquisa. Seu mestre será a luz e
você a descobrir caminhos pela cientificidade. A reflexão será seu mérito. Métodos e
técnicas de estudo o assessorarão ao alcance do objetivo previsto: absorção do
conhecimento com competência. A reflexão quase sempre acompanha uma indagação.
Neste caso o Problema o norteará no processo da investigação.

O Problema, âmago da Filosofia, envolve discussão e resolução, todo um


processo já comentado anteriormente. Neste processo, cita-se Sócrates pelo procedimento
dialético, estudo dos contrários. É importante compreender a relação do verdadeiro (V) e do
falso (F) na relação dialética. O contraditório da problematização é uma questão de lógica.
O currículo e a estrutura curricular precisam ser analisados pelo acadêmico de forma
analítica com leituras prévias do programa das disciplinas. Faz parte da excelência para a
efetivação do Curso Superior construir sua identidade profissional superando e resolvendo
problemas. Pode-se adiantar alguns exemplos dos principais problemas pedagógicos
contemporâneos que envolvem a razão e a reflexão. “O problema filosófico” à serviço da
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pedagogia, pode-se dizer, como variável inicial para refletir, é “o elevado índice de fracasso
e abandono escolar” e o dizer de que “a educação atual não fomenta a criatividade e a
curiosidade”.

O currículo de seu curso possui as ferramentas para habilitá-lo a resolver estas


inquirições, conforme resultado de Pesquisas – Instituto Nacional de Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira – INEP. Os problemas educacionais contemporâneos que
urgem demandam soluções. Os profissionais da educação, graduados, especialistas,
mestres, doutores das mais diversas áreas, em suas pesquisas estão contribuindo com seus
estudos. Enquanto isso, diversas ações são implantadas. A revista Educação (ano 12, nº
133) pontua reflexões de efeito na matéria “A Pedagogia do Novo Milênio”, de Sérgio
Rizzo, que põe em análise ideias que nasceram no século 20 com a participação dos
seguintes pensadores da educação, citando Emília Ferreiro, que defende o tema “A criança
como agente da produção de Conhecimento”; Ana Teberosky, que trata em sua obra sobre
“A psicogênese do sistema da escrita”; Miguel A. Zabalza Beraza, autor de “Novo Ensino”,
seus métodos e conteúdos; Isabel Alarcão, que formulou a proposta da “Escola Reflexiva, a
Comunidade de Aprendizagem”; Loris Malaguzzi, com “A Arte e a “Pedagogia da escuta”;
Antonio Nóvoa, que propõe “Formação continuada e desenvolvimento de Competência”;
Antoni Zabala, o qual propõe que a escola promova o “pensamento complexo” sob o
“enfoque globalizador”; e Bernard Charlot, que defende que o desafio da escola é fazer
com que o aprendizado permita ao adolescente construir sua identidade. É a atividade
intelectual do próprio aluno, no entanto, que determinará a aprendizagem. Pensadores,
analistas, pesquisadores estão trabalhando com um problema: a Pedagogia do novo milênio.

A condução teórica filosófica sensibilizará o acadêmico através de teorias e


práticas, da admissão de novas posturas acadêmicas frente as metas e do alcance dos
objetivos previstos no curso de Pedagogia. Este é um momento em que você, acadêmico,
consolida a análise dialética, seguindo o julgamento do processo de estudo pela pesquisa, e
o mediador deste, a crítica sobre o processo, a arte de julgar, as consequências do processo
dialético desenvolvido com muito mais rigor. Assim, destaca-se a relevância da Filosofia
no processo do conhecimento superior.

A Unidade 2 favorece este diálogo sobre o compromisso acadêmico em relação


à teoria e à visão prática da disciplina Filosofia no curso de Pedagogia. Isto posto, passa-se
ao último item de estudo de teoria e prática. O mais importante desta fase, que inclui ideias
científicas controladas pela experiência, considera-se que seja a busca por respostas
problematizadoras. Pensou em investigação? Acertou! Essa busca possui dois mentores a
iluminar o processo intelectual: “seu mestre” e o “programa de disciplina”. Ouvir aulas não
basta, pois é apenas o princípio do processo de “ser profissional”. É necessário “encontrar
tempo para estudar todos os dias” a partir desta, ou depois desta e ampliar o rol
bibliográfico com base nos princípios filosóficos compartilhados nesta Unidade.
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Caros (as) acadêmicos, o conhecimento filosófico o acompanhará em todos os seguimentos


teóricos e práticos, pelas abordagens, pelos métodos e pelas justificativas que envolvem a
relação da valorização do homem que aos olhos de Platão e Aristóteles, liberta-se da ilusão
gerada pelo mundo sensível a fim de alcançar a realidade inteligível.

RESUMO

Nesta Unidade, o alvo deste estudo em filosofia tratou-se sobre noções de


PROBLEMA E REFLEXÃO, tema que envolve outros objetos de estudos correlacionados,
tais como: noções sobre Crítica, Ideologia, Teoria e Práxis, e Dialética.

Os clássicos como Sócrates, Platão e Aristóteles embasaram os argumentos em


cada um dos temas citados. Não obstante, foi apresentada a evolução de conceitos e
argumentos de filósofos contemporâneos. Entender a relação da Crítica, Ideologia, Práxis e
Teoria no contexto de Problema e Práxis foram argumentos de compreensão e de exercício
dos conceitos na concepção do processo de construção do conhecimento filosófico.

Problema e Reflexão são processos inerentes ao exercício do filosofar.


Problema é uma dificuldade teórica cuja solução é incerta. Reflexão é retorno ao
pensamento ou do espírito sobre si mesmo e seus atos, por vezes, sinônimo de introspecção,
conceitos básicos discutidos no processo de evolução teórica da referida Unidade.

ATIVIDADE

A Unidade 2 apresenta fundamentações teóricas que suscitam análises e


reflexões que transcendem ao senso comum. Com o objetivo de oportunizá-lo ao exercício
filosófico, responda às questões a seguir:

1 Problema e reflexão são os desafios do conhecimento filosófico amplamente discutido na


unidade II. Construa dois argumentos que evidenciem afinidades filosóficas entre os
termos.

2 Razão pode ser entendida como a força que liberta dos preconceitos, do mito, das falsas
opiniões enraizadas e das aparências, permitindo estabelecer um critério universal ou
comum para a conduta do homem em todos os campos (ABBAGNANO,2007, p. 970).
Comente o conceito "razão referencial da conduta humana".

3 Ideologia é a ciência das ideias. Justifique sua posição conceitual argumentando-a no


contexto filosófico.
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REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1999.

GRISSAULT, Katy. 50 autores-chave de filosofia... e seus textos incontornáveis.


Tradução de. João Batista Kreuch. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

MORENTE, Manoel G. Fundamentos de Filosofia: lições preliminares. 2. ed. São Paulo:


Brasiliense, 1974.

MONDIM, Batista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. São Paulo:
Edições Paulinas, 1980.

POLITZER, Georges. Princípios Elementares da Filosofia. São Paulo: Moraes, 1986.

REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

RUSS, Jacqueline. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora Afiliada, 1994.

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