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APRESENTAÇÃO
UNIDADE 1 - CONSTRUÇÃO DA CONSCIÊNCIA FILOSÓFICA
1.1 Mito ........................................................................................................................ 04
1.2 Da consciência mítica à consciência racional ......................................................... 07
1.3 Filosofia na história ................................................................................................. 11
1.3.1 A Filosofia na Idade Antiga (séc. VIII a. C. ao séc. V d. C.) .............................. 11
1.3.2 A Filosofia na Idade Média (séc. V ao séc. XV d.C.) ........................................ 13
1.3.3 A Filosofia na Idade Moderna (séc. XV ao séc. XVIII) .................................... 14
1.3.4 A Filosofia na Idade Contemporânea (séc. XIX ao séc. XX) ............................ 17
1.4 Filosofia e Ciência ................................................................................................... 21
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 26
APRESENTAÇÃO
Filosofia é uma área do conhecimento que implica reflexões e análises tendo como
instrumento exclusivo, o raciocínio lógico. Os estudos anteriores de Filosofia apresentados a
você, na etapa de segundo grau, deram conhecimentos propedêuticos sobre a origem da
Filosofia. A partir desta disciplina, teremos a oportunidade de ampliar o diálogo filosófico
dentro de um processo reflexivo como: compreensão, interpretação e análise crítica.
Bons estudos!
Sócrates
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OBJETIVOS
1.1 Mito
Como sabemos, o mito teve sua origem na Grécia, especificamente no Período Arcaico
(séc. VIII ao V a.C.) e Período Clássico (séc. VI e IV a.C.). No Período Arcaico são escritas
as obras “Ilíada” e “Odisseia” de Homero. Ambos considerados poemas épicos. No “Período
Clássico são escritas as obras “Teogonia” e “Os Trabalhos e os Dias” de Hesíodo classificadas
como poemas didáticos.
Quanto à poesia didática de Hesíodo “Os Trabalhos e os Dias” esta tinha como função
principal o ensinamento da agricultura, da navegação, da prática do trabalho, da justiça entre
os homens, preceitos sobre a vida moral, além do calendário sobre os dias bons e ruins. Já a
obra “Teogonia”, era considerada um tratado mitológico, visto que narrava sobre as origens
dos deuses e do mundo, tendo uma semelhança ao livro dos Gêneses, da nossa bíblia.
(D’ONOFRIO, 2007).
Dessa forma, podemos dizer que, esses poemas tiveram um valor educativo para os gregos,
pois o fator educador consistia em manter viva a lembrança da glória do passado, visto que
os mitos religiosos incluíam suas façanhas e seus sentimentos, assumindo, portanto, o papel
de paradigmas ideológicos para qualquer situação de vida. Daí os gregos adotarem essas obras
como um manual didático para o seu povo.
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Para o mitólogo Eliade (apud BRUNEL, 2005, p. 16) “O mito conta uma história sagrada,
narra um fato importante ocorrido no tempo primordial, no tempo fabuloso dos começos”.
A exemplo disto podemos indicar o mito de Perséfone, filha de Zeus e Demeter, que
explica o nascimento das estações do ano.
No que diz respeito aos mitos, “toda mitologia é uma ontofania” o mito revela o ser, revela
o deus, e por isso pode ser apresentado como “uma história sagrada”. (ELIADE apud
BRUMEL, 2005, p. xvi).
Assim, percebemos que o primeiro conceito tem a função de narrar ou de contar algo, já
o segundo, tem a função de explicar como aconteceu o fenômeno, enquanto o terceiro implica
em revelar o sagrado.
Adentrando para os conceitos dos filósofos, buscamos na Antiguidade Clássica o seguinte:
“Mito é considerado um produto inferior ou deformado da antiguidade intelectual. A ele era
atribuída no máximo, ‘verossimilhança’, enquanto a ‘verdade’ pertencia aos produtos
genuínos do intelecto”. (PLATÃO; ARISTÓTELES apud ABBAGNANO, 2003, p. 673).
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Fonte:https://www.google.com.br/search?biw=1600&bih=720&tbm=isch&sa=1&ei=B3mN
WoyNBozZzwLVuaLIAg&q=coruja+de+minerva&oq=coruja+de+minerva
Outra concepção de mito apresenta-se de forma autônoma de pensamento e de vida. Nesse
sentido, a validade e a função do mito, não são secundárias e subordinadas em relação ao
conhecimento racional, mas originárias e primárias, situando-se num plano diferente do plano
do intelecto, mas dotado de igual dignidade. (VICO apud ABBAGNANO, 2003, p. 673).
Nesses dois conceitos percebemos que o pensamento dos filósofos Platão e Aristóteles
coloca o mito destituído de fatores intelectuais, ou seja, o mito aproxima-se apenas da
similaridade da realidade. Neste caso, passa a enquadrar-se como uma inverdade. Por outro
lado, Vico reforça que, o mito não está subordinado ao conhecimento racional, mas sim, a um
plano diferente que merece todo nosso respeito. Trata-se de um plano poético que contém
significados históricos acontecidos nos tempos primordiais.
Morin nos apresenta um conceito que se aproxima da fábula, em que animais, plantas e
coisas possuem características humanas. Esses aspectos também podem ser expressos na
narrativa do Mito.
Com essa visão prévia de mito proposta por filósofos faz-se necessário mostrar o papel
que a mitologia exerceu na Antiguidade Clássica.
Sabemos que o homem para sobreviver tende a dominar seu espaço. Espaço este, que deve
lhe favorecer condições de sobrevivência social e ambiental. O homem em tempos primordiais
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passava por problemas existenciais que o levava a buscar compreensão através do sobrenatural.
Assim, para atenuar seus medos e temores passou a recorrer aos deuses.
Mediante tal premissa, podemos elencar a função/papel que o mito exerceu na antiguidade
grega. Segundo Aranha e Martins (1995, p. 56), a primeira era “acomodar e tranquilizar o
homem em um mundo assustador”; a segunda, “fixar os modelos exemplares de todos os ritos
e todas as atividades humanas significativas”. Neste caso, o homem copia os gestos exemplares
dos deuses reforçando nos ritos as ações deles.
Como podemos perceber cada autor apresenta uma interpretação, uma posição conceitual
na tentativa de explicar o que realmente o mito pode significar. Essa interpretação perpassa por
concepções ideológicas que vão desencadear a compreensão de mito.
Vale reforçar ainda, que o mito grego exercia também o papel de manter a ordem e a
justiça. Quando um imortal ou um mortal não cumpria tais preceitos eram severamente
punidos. Faz-se necessário dizer que, os heróis míticos possuíam qualidades relevantes que se
definiam como: nobreza, coragem, sabedoria, força, habilidade, hospitalidade e outros. Essas
qualidades serviam de reforço para os jovens da época.
É com Descartes (séc. XVII) “que a consciência é colocada como a terra natal da
verdade: como certeza que resiste à dúvida”. (DESCARTES, XVII apud RUSS, 1994, p. 48,
grifo nosso).
Como percebemos Kant vem nos dizer que a consciência humana implica em colocar
em prática o seu dever, ou seja, colocar o seu juízo diante de um tribunal que pode ser sua
condenação ou sua libertação.
Na Antiguidade, os sofistas separaram o mito da razão, mas nem sempre para sacrificar
o primeiro, pois com frequência admitiu-se a narração mitológica como envoltura da verdade
filosófica. Esta concepção foi retomada por Platão, especialmente quando considerou o mito
como um modo de expressar certas verdades que escapam ao raciocínio. Nesse sentido, o mito
não pode ser eliminado da filosofia platônica, pois desapareceriam então dela a doutrina do
mundo, da alma e de Deus, bem como parte da teoria das ideias. O Mito é para Platão, muitas
vezes, algo mais que a opinião provável. Mas, ao mesmo tempo, o mito aparece nele como um
modo de expressar o reino do devir.
A história empiricamente verificou que os mitos podem não ser verdadeiros no que
contam, mas são verdadeiros noutro sentido: na medida em que contam algo que realmente
aconteceu na história, isto é, a crença em mitos. Por outras palavras, os mitos foram
considerados como fatos históricos: a sua verdade é uma verdade histórica.
Os estudos apresentados por Aranha e Martins (1995) nos referendam a passagem do mito
à razão sob a ótica de Cornford. Este autor diz que não existe “uma imaculada concepção da
razão, pois o aparecimento da filosofia é um fato histórico enraizado no passado”.
(CORNFORD apud ARANHA; MARTINS, 1995, p.67). Essa declaração tem amparo na
dicotomia de posições quando estabelecemos diferenças entre o pensamento mítico e a
filosofia nascente.
Uma indagação ainda sob a visão de Aranha e Martins (1995) à luz de Augusto Comte,
fundador do positivismo responde afirmativamente: ao explicar a evolução da humanidade,
define a maturidade do espírito humano pela superação de todas as formas míticas e religiosas.
Dessa maneira, opõe radicalmente mito e razão, ao mesmo tempo em que inferioriza o mito
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como tentativa fracassada de explicação da realidade. Porém as autoras, não refutam a ideia
de que tudo o que pensamos e queremos se situar inicialmente no horizonte da imaginação,
nos pressupostos míticos, cujo sentido existencial serve de base para todo o trabalho posterior
a razão. Nosso comportamento também é permeado de rituais como: comemoração de
nascimento, a entrada de ano novo, as festas de formatura e de debutante, os trotes de calouros,
além de outros componentes míticos no carnaval e no futebol.
As crenças, os temores e desejos fazem parte da vida humana lembra a autora, o que
concordamos plenamente, entretanto os mitos de hoje não emergem com a mesma força com
que se impuseram nas sociedades tribais. (ARANHA; MARTINS, 1995)Hoje, por conta do
exercício da crítica racional nos é permitido legitimá-los ou rejeitá-los quando nos
desumanizam.
De acordo com Aranha e Martins (1995), alguns fatores que desencadearam a passagem
da consciência mítica para a consciência filosófica, foram: a redescoberta da escrita; a moeda;
a lei escrita; o cidadão da polis e a consolidação da democracia.
Aranha e Martins (1995) consideram que a escrita surge como possibilidade maior de
abstração, de uma reflexão aprimorada que tenderá a modificar a própria estrutura do
pensamento.
A moeda apareceu na Grécia por volta do século VII (a. C.) vindo facilitar os negócios e
impulsionar o comércio, além do efeito político de democratização de um valor, a moeda
sobrepunha aos símbolos sagrados e afetivos o caráter racional de sua concepção: a moeda
representa uma convenção humana, noção abstrata de valor que estabelece a medida comum
entre valores diferentes.
A lei escrita, regra comum a todos, norma racional, sujeita à discussão e à modificação,
passou a encarnar uma dimensão propriamente humana. (ARANHA; MARTINS, 1995).
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O cidadão da polis nasce no ágora (praça pública), local onde os cidadãos atenienses
debatiam os problemas de interesse comum. Esses debates aconteciam em torno do novo ideal
de justiça. Neste caso, a justiça assumia caráter político e não apenas moral, ou seja, não se
tratava de algo individual ou familiar, mas sim de algo referente ao seu desempenho na
comunidade. (ARANHA; MARTINS, 1995).
Já a democracia se dava de forma livre aos cidadãos, fossem estes ricos ou pobres. Todos
tinham acesso direto à assembleia. Tratava-se da “democracia direta”, pois não eram
escolhidos representantes, mas cada cidadão participava das decisões de interesse comum.
(ARANHA; MARTINS, 1995).
Vale dizer que a passagem da consciência mítica para a consciência racional não
aconteceu de forma rápida, mas sim, de forma processual exigida pela própria dinamicidade da
sociedade. Assim, a racionalidade impera com a evolução dos tempos em consonância às
exigências política, social e econômica.
Com base em Aranha e Martins (1995); Luckesi e Passos (2012) e Souza (1995)
apresentaremos a seguir, os períodos históricos da Filosofia. Pretendemos de forma genérica
mostrar como o pensamento filosófico se processou em cada período. Estes estão distribuídos
em: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
Neste período já é perceptível o conhecimento racional, o que leva a uma reflexão mais
ética e política. É neste período também, que nasce a filosofia ocidental em que se elaboram
doutrinas que marcarão toda a história da Filosofia até os dias atuais:
Podemos dizer que, a filosofia foi elaborada a partir de uma ruptura com os modos
anteriores de explicação do mundo e, mais particularmente, em oposição à explicação
mitológica dos fenômenos.
Figura 3 - Sócrates
Este período se destaca pelo pensamento dos filósofos gregos Sócrates, Platão e
Aristóteles. Além, destes temos os sofistas que se destacaram pela arte de ensinar a de
argumentar. O êxito da argumentação era o principal objetivo, ou seja, vencer o adversário,
convencer plateias, ganhar votos e causas.
conhecimento verdadeiro. Para Sócrates o sujeito deveria buscar no seu interior os conceitos
universais como forma de elucidar a verdade.
Aristóteles procurava explicar o real por si mesmo, mostrando que é dentro da própria
coisa que se encontra seu princípio de explicação. Pensador enciclopedista, Aristóteles, elabora
uma filosofia sistemática em que procura dar conta da experiência humana em todos os seus
aspectos. Dele se origina inúmeros conceitos que influenciarão toda história da filosofia
ocidental. (ARANHA; MARTINS, 1995).
Aqui acontece o encontro da filosofia grega com o cristianismo. Os Padres da Igreja fazem
a primeira elaboração filosófica dos conteúdos do cristianismo. A questão principal é a
conciliação da razão humana com a revelação divina. Os filósofos que se destacaram foram:
Santo Irineu, Justino, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio
Magno, Gregório de Nissa. O destaque maior foi Santo Agostinho. (SOUZA, 1995).
Em face dessa confiança total à razão surgem outras correntes, como o empirismo. Seus
principais representantes foram Francis Bacon, Thomas Hobbes, John Locke, Georges
Berkeley e David Hume. Estes dão primazia à experiência como fonte, garantia e limite do
conhecimento. Essa corrente partia do princípio aristotélico de que “nada estava no intelecto
sem que antes não tivesse estado nos sentidos”. Assim, os empiristas negavam qualquer ideia
inata e afirmavam que todo conhecimento tem sua origem na experiência sensível. (LUCKESI;
PASSOS, 2012).
No séc. XVIII acontece uma crise cultural na Europa exigindo urgência de mudanças.
Essas mudanças ocorram no âmbito intelectual, social e político provocando um movimento
filosófico chamado Iluminismo. A autoridade, a hierarquia, a tradição, dão lugar à liberdade, à
autonomia e ao livre uso da razão.
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A razão se torna crítica e parte para o ataque das opiniões formadas dos privilégios, das
incoerências que se manifestam nesse mundo. Os séculos precedentes haviam preparado o
afastamento da religião. As Luzes consumam esse divórcio apoiando-se na ideia de natureza.
Como uma luz natural iluminando cada indivíduo e guiando-o rumo à maioridade, a
razão permite ao homem conquistar sua autonomia. Pensar em si mesmo, fazer uso de sua
razão, sair da minoridade, da tutela da autoridade religiosa e política, essa é a tarefa do homem
das Luzes.
A razão não é mais luz vinda do alto descobrindo as verdades inatas, as ideias claras e
distintas como entendia Descartes. Ela não é mais razão metafísica, mas sim luz natural em
cada um, faculdade crítica apoiada na experiência.
A seguir mostraremos quatro pensadores que se destacaram nesse período, tendo como
fonte de pesquisa as autoras Aranha e Martins (1995).
Kant definiu de maneira eloquente o que é o iluminismo, para ele seria “A saída do
homem de sua minoridade, cuja responsabilidade é dele mesmo”. Tenha a coragem de se servir
de seu próprio entendimento. Eis aí a divisa do Iluminismo.
Podemos citar também Newton que se liga aos pensadores do Século das Luzes quando,
opondo-se ao caminho cartesiano, considera que a razão, longe de encontrar por si mesma as
verdades absolutas, deve elaborar o conhecimento a partir da observação.
• Século XIX
Para ampliar um pouco mais sobre as mudanças desse século mostraremos as correntes
e os filósofos que mais se destacaram. Idealismo: Fichte, Shelling, Schopenhauer, Hegel;
Positivismo: Comte, Taime, Stuart Mill, Spencer; Evolucionismo: Darwin; Pragmatismo:
William James, Dewey, Pierce; Socialismo: Saint-Simon, Furier, Owen, Proudhon,
Feuerbach, Marx, Engels; Fenomenologia: Bretano, Husserl, Scheller, Hartmann;
Psicanálise: Freud; Linguística: Saussure; Filósofos independentes: Kirerkegaard,
Nietzsche. (SOUZA, 1995).
Charles Darwin expõe sua teoria da evolução na sua obra “Origem das Espécies”
(1859).
Marx e Engels, por sua vez, denunciam a exploração do homem pelo homem e
elaboram um pensamento militante com vistas a transformar o mundo.
• Século XX
Enquanto o século XIX fundava suas esperanças em uma razão científica concebida
como fonte infinita de progresso e felicidade, o século XX se abre sobre a crise científica e
sobre o absurdo da guerra. A razão fica abalada, desfaz-se a confiança em sua onipotência,
tanto no plano prático quanto no teórico.
ou ainda, como Michel Foucault, o poder. Muitos, à imagem de Bergson, de Alain, Sartre ou
Merleau-Ponty, empenharam-se por um mundo mais justo e assumiram a postura de
intelectuais engajados.
Segundo Souza (1995), esse período foi marcado pela pluralidade de correntes
filosóficas como: neopositivismo, positivismo lógico (Círculo de Viena), racionalismo
transpositivista, fenomenologia, existencialismo, hermenêutica, filosofia da vida,
neoescolástica, neokantismo, estruturalismo, escola de Frankfurt, arqueogenealogia etc. A
Ciência atuava como tema central dos filósofos, bem como a epistemologia (teoria do
conhecimento).
Para que esta seção não se torne muito extensa solicitamos a pesquisa das outras
correntes, como: hermenêutica, filosofia da vida, neoescolástica, neokantismo,
estruturalismo, escola de Frankfurt, Arqueogenealogia. A intenção é levá-lo ao conhecimento
do propósito de cada corrente. Lembre-se, você é o sujeito do conhecimento e como tal deve
adotar a postura de “trabalhador intelectual”.
Assim, o século XX se torna testemunha do horror, do mal, da perda dos ideais, da ilusão
do domínio do sujeito sobre si mesmo e de sua capacidade de atingir uma verdade absoluta.
Esse também é o século da defesa da liberdade e dos direitos humanos, da rejeição do
totalitarismo e ao dogmatismo, bem como de um avanço técnico sem precedentes que é
preciso colocar em discussão a fim de se evitar o risco de uma visão por demais tecnicista
com o mundo, que não teria outro objetivo não a eficiência e o consumo.
Heráclito afirmou que convém que os filósofos sejam sabedores de muitas coisas.
Atribui-se a Pitágoras o fato de ter chamado a si mesmo filósofo, mas não só se discute a
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Para entendermos com mais minúcias a relação Filosofia e Ciência passaremos a indicar
a etimologia da palavra ciência, suas características e seus limites entre elas.
Etimologicamente, “ciência” equivale a “o saber”. Contudo, não é recomendável ater-se a esta
equivalência. Há saberes que não pertencem à ciência; por exemplo, o saber que por vezes se
qualifica de comum, ordinário ou vulgar.
Parece necessário determinar qual o tipo de saber científico e distinguir entre ciência e
Filosofia. Ambas se completam, considerando os objetivos que as caracterizam, a história nos
revela alguns fatos determinantes para a compreensão da história que justificam a relação entre
as áreas: Filosofia e Ciência à luz de Aranha/Martins (1995, p.73). A Filosofia continua
tratando da mesma realidade apropriada pelas ciências. A visão da Filosofia é de conjunto, e
não parcial. A ciência se especializa e observa “recortes” do real. A Filosofia tem uma função
interdisciplinar por estabelecer elo entre as diversas formas do saber e do agir. A Filosofia se
distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto: em todos os setores do conhecimento
e da ação, a Filosofia está presente como reflexão crítica a respeito dos fundamentos desse
conhecimento e desse agir.
Portanto a Filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor. O
filósofo parte da experiência vivida do homem trabalhando na linha de montagem, repetindo
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sempre o mesmo gesto, e vai além dessa constatação. Não vê apenas como é, mas como deveria
ser.
Para ser precisa e objetiva declara Aranha e Martins (1995, p. 130), “a ciência dispõe de
uma linguagem rigorosa cujo conceitos são definidos de modo a evitar ambiguidades” na
medida em que utiliza a matemática para transformar qualidade em quantidade.
Ampliando esses argumentos supracitados, Gramsci (1978) considera que desde o século
XVII a partir da revolução metodológica iniciada por Galileu, as ciências particulares
começam a delimitar seu campo específico de pesquisa e que pouco a pouco até os tempos
atuais, a ciências como a física, astronomia, química, biologia, psicologia, sociologia,
economia etc. se especializam e investigam “recortes” do real.
Apesar da separação entre objeto da Filosofia e das ciências, o filósofo continua tratando
da mesma realidade apropriada pelas ciências, uma vez que jamais renuncia a considerar o seu
objeto do ponto de vista da totalidade.
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Se a ciência tende cada vez mais para a especialização, a Filosofia, no sentido inverso,
quer superar a fragmentação do real, daí sua função de interdisciplinaridade, buscando
estabelecer o elo entre as diversas formas do saber e do agir.
A Filosofia ainda distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto: em todos os
setores do conhecimento e da ação, a Filosofia está presente como reflexão crítica a respeito
dos fundamentos desse conhecimento e desse agir.
Mais uma diferença entre Filosofia e ciência: os resultados das investigações científicas e
sua verificabilidade permitem uniformidade de conclusões e, com isso, a ciência adquire
maior objetividade. Nesse sentido, a ciência trabalha com juízos de realidade, já que de uma
forma ou de outra pretende mostrar como prevê-los. De modo diferente, a Filosofia faz juízos
de valor, porque o filósofo parte da experiência vivida e vai além dessa constatação, não vê
apenas como é, mas como deveria ser. Por exemplo, discute qual o valor do método científico,
ou quais as consequências éticas de um experimento. A Filosofia julga o valor do
conhecimento e da ação, sai em busca do significado: filosofar é dar diante do mito sentido a
experiência.
RESUMO
ATIVIDADE
REFERÊNCIAS
OBJETIVOS
Política, ele afirma que “o Homem é o único animal que possui razão”, e que a razão serve
para lhe indicar o útil e o pernicioso, portanto também o justo e o injusto (Pol., I, 2, 1253ª
9; cf. VII, 13, 1282b, 5). Por outro lado, Descartes dispensara a animalidade e reduzira o
homem ao pensamento, como consciência imediata: “Para falar com precisão, sou apenas
uma coisa que pensa, um espírito, um intelecto ou uma razão”.
ii) Fundamento ou Razão de ser. Visto que a Razão de ser de uma coisa é sua
essência necessária ou substância expressa na definição, assume-se às vezes por
“Razão” a própria substância ou a sua definição. Este é um significado frequente na
filosofia aristotélica ou nas correntes nela inspirada.
iii) Argumento ou prova. Nesse sentido dizemos: “ele expôs suas razões” ou “é
preciso ouvir as Razões do adversário". Este significado refere-se também à
expressão "Ter Razão", que significa ter argumentos ou provas suficientes, portanto,
estar com a verdade.
iv) Relação, no sentido matemático. Neste sentido, fala-se também em “Razão direta”
ou “Razão inversa”.
Percebe-se que esta dificuldade aparentemente não possui solução. Alguns de nós
expressamos algumas frases muito conhecidas, tal como: “o problema é sério, é preciso
pensar com calma”. Será que nesse momento o exercício do raciocínio filosófico já se
iniciou? Sem sombra de dúvidas. De modo geral, pensa-se em várias respostas para tal
problema, porém enquanto não há uma investigação, a resposta será apenas uma hipótese.
Para que a verdade seja alcançada, exige-se um método científico, ou seja, um conjunto de
processos empregados na investigação e na demonstração da verdade. (CERVO;
BERVIAN, 2007, p.27).
resolvido. Postura científica intelectual que nos encaminhou a uma “verdade” e esta se
submeterá à apreciação dos espectros geralmente em eventos científicos, tais como
simpósios, congressos e aguarda-se julgamentos.
2.3 Reflexão
Reflexão diz respeito ao estudo que se reporta à área da psicologia, base do ato de
filosofar, considerando o perfil sistemático que este exerce sobre o conhecimento. A ideia
de reflexão é conceituada por diversos filósofos como o ato de expor para análise e
processar a reflexão necessária para o exercício filosófico em atividades acadêmicas com
mais prontidão. Neste aporte teórico, conta-se com Locke, Leibniz, Kant e Sartre para
esclarecer o entendimento sobre reflexão.
Locke afirma: “[...] entendo por Reflexão o conhecimento que a alma toma de suas
diferentes operações, pelo qual o entendimento passa a formar ideias” (Ensaio Filosófico
sobre o entendimento humano, p.61). Para Leibniz, “A reflexão nada mais é do que uma
atenção ao que está em nós, e os sentidos não nos dão o que já carregamos conosco”
(Novos Ensaios sobre Entendimento Humano, Prefácio, p. 40, Garnier-Flammarion). Kant
considera que
A reflexão (reflexio) não se ocupa dos objetos mesmos para deles adquirir
diretamente os conceitos, mas é o estado de espírito em que nos preparamos
inicialmente para descobrir as condições subjetivas que nos permitem chegar aos
conceitos. É a consciência da relação de representações dadas às nossas diferentes
fontes de conhecimento, relação que só pode determinar a relação de umas com
as outras. (Crítica da Razão Pura “Analítica Transcendental”, liv. 2, Apêndice,
p.232, PUF)
atos que tornam evidentes as vivências. A reflexão husserliana não é, portanto, meramente
psicológica interna, mas uma operação que inclui a apreensão imanente das essências.
(MORA, 1978, p.350).
2.4 Crítica
Tem-se como definição geral de crítica a faculdade de pensar e a arte de julgar. Em
sentido primitivo, é a parte da lógica que trata do juízo. Foi um termo introduzido por Kant
para designar o processo através do qual a razão apreende o conhecimento de si mesma.
Ainda, em estudos proferidos por Nicolas (2007), consta que a tarefa da crítica, portanto, é
ao mesmo tempo negativa e positiva: negativa enquanto restringe o uso da razão; positiva
porque nesses limites, a crítica garante à razão o uso legítimo de seus direitos. A crítica é
um instrumento de análise e, segundo Larousse (2008, p.218), é um exame detalhado para
estabelecer a verdade, a autenticidade e possível correção no processo de construção do
conhecimento.
Para Karl Popper, a possibilidade de uma teoria ser refutada constitui a própria
essência da natureza científica. Assim, uma teoria só pode ser considerada científica
quando é falseável, ou seja, quando é possível refutá-la. Este conceito ficou conhecido
como falseabilidade ou refutabilidade. Portanto, para Popper, o que não é falseável ou
refutável não pode ser considerado científico. As teorias da gravitação de Newton são
científicas, porque, além de se enquadrarem na definição ao propor equações que
descrevem os modelos gravitacionais, também é possível se fazer previsões acertadas com
base nelas. E as teorias de Newton também são falseáveis. Tanto que o foram, quando
Albert Einstein com sua Teoria da Relatividade demonstrou que a mecânica newtoniana
não era válida em velocidades próximas à da luz. Em decorrência do exposto, parece lógico
que quem propõe uma teoria deveria tentar refutá-la, porém a tendência é defendê-la e
procurar evitar sua refutabilidade, daí que para essa teoria ter a possibilidade de ser
refutável é preciso que a mesma seja exposta para que outros o façam. "A publicação de um
trabalho científico é uma forma de exposição para a crítica e questionamento, e os órgãos
de divulgação se inserem nesse cenário do jogo científico, que é o papel que acreditamos,
como revista científica, estar cumprindo". (Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 54 (1): 5-6,
jan./mar).
Você sabia que a “refutação” é um método e seu precursor foi Sócrates? Este
método consiste em evidenciar a contradição à qual leva a asserção do interlocutor,
permitindo, pois, isentar o próprio interlocutor da presunção do saber. Platão sempre
considerou esse procedimento como a propedêutica indispensável da investigação
científica. Aristóteles definiu “refutação” como a demonstração do contraditório.
(ABBAGNANO, 2007, p. 988).
2.5 Ideologia
Ideologia é um termo composto do grego idea, ideia e logos, ciência. É a ciência das
ideias resultantes da sensação (termo criado por Destutt de Tracy, 1754-1836). Entretanto,
conforme estudos ampliados à luz de Mondin (1990, p.310), é de Marx a perspectiva de que
ideologia é uma interpretação do mundo, do homem, da sociedade e da história, voltada
para o poder. No sentido marxista, há conservação do poder por parte da classe dominante.
Segundo Marx, ideologia é a superestrutura conceitual com que a classe dominante justifica
e mantém a estrutura econômica vigente.
Mora (1978, p.192) apresenta os filósofos Marx, Maquiavel e Hegel que tratam de
forma específica sobre ideologia. Mora inicia o tema comunicando que Ideologia foi uma
disciplina filosófica cujo objeto era a análise das ideias e das sensações. Em meados do
século XIX, a concentração de estudos deu-se em análises das faculdades e dos diversos
tipos de ideias. Estas ideias não eram nem formas lógicas ou metafísicas, tratava-se da
ciência dos primeiros princípios e das principais causas, nem fatos estritamente
psicológicos, embora de algum modo participassem de cada uma destas. A ideologia está
intimamente ligada à gramática geral, que se ocupa dos métodos do conhecimento, e à
lógica, que trata da aplicação do pensamento à realidade.
Em geral, pode-se denominar Ideologia toda crença usada para controle dos
comportamentos coletivos, entendendo-se o termo crença em seu significado mais amplo
como noção compromissiva da conduta, que pode ter ou não validade objetiva. Entendido
neste sentido, o conceito de ideologia é puramente formal, uma vez que pode ser visto
como Ideologia tanto na crença fundada em elementos objetivos quanto uma crença
totalmente infundada; tanto uma crença realizável quanto uma crença irrealizável. O que
transforma uma crença em ideologia não é sua validade ou falta de validade, mas
unicamente sua capacidade de controlar os comportamentos em determinada situação
(ABBAGNANO, 2007, p.616).
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Politzer (1987), em seus estudos sobre o fator ideológico, considera este como uma
causa ou uma força que age e que é capaz de influenciar, e é por isso que se fala da ação do
fator ideológico. Exemplificando, as religiões são um fator ideológico que tem uma força
moral e que age de maneira importante.
Politzer, em uma visão analítica, ressalta que os escritores e os pensadores têm por
missão propagar e defender as ideologias. Os seus pensamentos e escritos nem sempre são
muito caracterizados, mas, de fato, mesmo nos que tem o aspecto de serem os mais simples
contos ou novelas, reencontramos sempre, pela análise, uma ideologia. Esta análise é uma
operação muito delicada, e devemos fazê-la com muita prudência, ocasião em que o
referido autor nos indica o método de análise dialética, que será de grande utilidade, mas,
para que não se seja mecanicista nem queira explicar o que não é explicável, é preciso
prestar muita atenção.
passa no romance pode estar conectado a um ponto de vista social. Se isto for possível, se,
razoavelmente, não puder ser feito isso, então vale mais abandonar a análise do que
inventar. Não se deve nunca inventar uma explicação;
d) Uma vez que obtivemos tudo isso, podemos então procurar a ideologia, isto
é, ver quais são as ideias, os sentimentos e a maneira de pensar do autor. Ao procurar a
ideologia, pensaremos no papel que desempenha e a sua influência no espírito das pessoas
que lêem o livro;
Este método de análise só pode ser bom se, durante sua aplicação, nos
lembrarmos de tudo o que já foi dito anteriormente. É preciso pensar que a dialética, se nos
traz uma nova maneira de conceber as coisas, exige, também, a quem fala delas e as
analisa, o seu perfeito conhecimento.
Agora que vimos em que consiste o nosso método, é necessário tentar (nos
estudos, na nossa vida militante e pessoal) ver as coisas no seu movimento, na sua ação de
mudança, nas suas contradições e na sua significação histórica, e não no estado estático,
imóvel. É necessário vê-las e estudá-las sob todos os aspectos, não de maneira unilateral.
Em suma, aplicar, em tudo e sempre, o espírito dialético. Vamos pôr em prática, seguindo a
desenvoltura dos princípios filosóficos que envolvem a discussão sobre Teoria e Práxis?
2.6 Teoria-práxis
Nicola (2007) constitui um dos núcleos centrais na semântica histórica e no
“conflito hermenêutico” das definições filosófico-conceituais, da rede de saberes, modelos
culturais e ideológicos. Inicia-se pela análise dos argumentos que envolve primeiramente
sobre teoria com a seguinte reflexão: quais os principais filósofos envolvidos neste estudo e
o que os distingue neste tratado? Ao conhecer os princípios da teoria, que ponto de
identificação acadêmica deve-se assumir?
37
Russ (1994, p.292) amplia a análise sobre conceitos de teoria ao afirmar que,
enquanto a filosofia antiga via a teoria como uma pura contemplação do mundo, o
pensamento moderno privilegiava, frequentemente, a significação epistemológica deste
termo (conjunto que integra um grande número de fatos), sem com isso desprezar a ideia de
conhecimento desinteressado.
Russ apresenta vários filósofos e seus conceitos, tais como Bernard, Duhen,
Einstein, Aron, Granger e Ullmo. Os conceitos sobre teoria são de fundamental
importância. É preciso conhecê-los para que se possa analisar e fazer considerações em seu
caminho de descobertas conteudistas. A Filosofia é a base teórica subjetiva que valida os
princípios e fins do conhecimento. É necessário apreender esta base e a Teoria é
fundamental.
Bernard diz que “a teoria é apenas a ideia científica controlada pela experiência”.
(Introdução ao Estudo da Medicina Experimental Gilbert., Ano ?, p.44, Gilbert). Duhem
afirma que “a teoria física não é uma explicação. É um sistema de proposições
38
Einstein ressalta:
O pesquisador, impelido pelos fatos da experiência, desenvolve [...] um sistema
de pensamentos que, com frequência, é logicamente construído sobre um
pequeno número de suposições fundamentais, os chamados axiomas. Chamamos
um tal sistema de pensamento uma teoria. Uma razão de ser do fato de vincular
um grande número de experiências isoladas; aí reside sua “verdade”. (A Teoria
da Relatividade restrita e Geral, p.138, Gauthier-Villars).
Granger conclui:
Nas ciências de hoje, uma teoria é um conjunto de conceitos abstratos, no interior
do qual, mediante certas regras de combinação e dedução, é possível concluir a
necessidade ou probabilidade de certas configurações igualmente abstratas, que
se supõem representarem os fenômenos. (Teoria e Experiência, in: Philosopher,
p.342, Fayard).
Práxis a princípio, dito por Nicolas (2007), é uma palavra grega que significa ação.
A terminologia marxista designa o conjunto de relações de produção e trabalho, que
constituem a estrutura social, e a ação transformadora que a revolução deve exercer sobre
tais relações. Definições particulares de filósofos ampliam o poder de análise. Sartre define
a práxis como projeto organizador que ultrapassa condições materiais na direção de um fim
e se inscreve pelo trabalho na matéria inorgânica como remanejamento do campo prático e
39
reunificação dos meios sem vista de atingir o fim. (Crítica da Razão Dialética, t.1, p.687,
Gallimar).
2.5 Dialética
O termo "dialética" teve estreita ligação com o vocábulo "diálogo". Pode-se definir
primeiramente como "arte do diálogo". (MOURA, 1978, p.105). Tal como no diálogo, na
dialética há também duas posições entre as quais se estabelece precisamente um diálogo.
Neste contexto conta-se com a contribuição teórica de Georges Politzer (1986) autor do
livro Princípios Elementares de Filosofia.
O autor conta que falar em dialética é falar, por vezes, em tom de mistério,
apresentando-a como algo complicado. Conhecendo mal o que é, fala-se dela, também, a
torto e a direito. Tudo isso é lamentável, diz ele, e faz cometer erros que é preciso evitar.
Politzer exemplifica citando os trabalhos manuais: alguns são simples, outros, mais
complicados. Fazer caixas de embalagem é um trabalho simples. Montar um aparelho de
T.S.F., pelo contrário, representa um trabalho que requer habilidade, precisão e agilidade
nos dedos. As mãos e os dedos são para nós instrumentos de trabalho. Mas pensamento
também o é. E se os dedos não fazem sempre um trabalho de precisão, o mesmo acontece
com o cérebro.
olharmos a natureza, vemos que tudo se move, tudo muda. Constatamos a mesma coisa
com o pensamento. O resultado desta constatação é, portanto, um desacordo entre a
metafísica e a realidade. É por isso que, para definir de uma maneira simples e dar uma
ideia essencial, pode-se dizer: quem diz “metafísica”. O movimento e a mudança, que
existem em tudo o que nos rodeia, estão na base da dialética. Politzer cita Friedrich Engels
(Anti-Duhring, p.52):
Quando submetemos ao exame do pensamento a natureza ou a história da
humanidade, ou a nossa própria atividade mental, o que se nos oferece, em
primeiro lugar, é o quadro de uma confusão infinita de relações, de ações e
reações, onde nada permanece o que era, onde era, como era, onde tudo se move,
se transforma, vem a ser e passa.
Engels nos diz: “os mesmos são diferentes”. Pensamos ser iguais e já mudamos. Da
criança que éramos, tornamo-nos homens, e este, fisicamente, jamais fica o mesmo:
envelhece todos os dias. Não é, pois, o movimento que é aparência enganadora, como o
sustentavam os eleatas. É a mobilidade, visto que, de fato, tudo se move e tudo muda.
Engels ratifica a mudança quando cita a História como prova que as coisas não
permanecem o que são. Em nenhum momento a sociedade está imóvel. Primeiramente,
houve na antiguidade a sociedade escravagista, sucedida pela feudal que foi seguida pela
capitalista. O estudo dessas sociedades nos mostra que, contínua e insensivelmente, os
elementos que permitiram o nascimento de uma sociedade nova se desenvolveram nelas.
Outro exemplo são os nossos próprios sentimentos que se transformam e mal nos
apercebemos. O que era apenas uma simpatia se transforma em amor, depois se degenera e
algumas vezes se transforma em ódio.
Heráclito (600 a.C.-540 a.C.) é mais conhecido por suas crenças de que todas as
coisas existem em um estado de fluxo, que os opostos coincidem e que o fogo é o elemento
central de que o mundo é feito. Heráclito argumentava que, embora o universo seja eterno,
encontra-se em um estado de transformação constante. Usava a analogia de um rio para
explicar seu ponto de vista. Embora as águas estejam em constante movimento, o rio
permanece o mesmo. Heráclito declarou que os três elementos principais são a terra, o fogo
e a água. O fogo é o elemento primário, que controla e modifica os outros dois. O
dinamismo existente entre os opostos fornece a força motriz do universo – a união dos
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opostos. Tudo depende das tendências opostas que se unem e da tensão entre as forças,
fazendo com que o universo exista em estado de fluxo. Propôs que a mudança é a única
constante no universo. (HARWOOD, 2013, p.16).
Quanto à aplicação do método dialético nas pesquisas sobre educação, isto permite
a desconstrução de verdades postas contribuindo com a quebra de explicações que têm
como foco apenas as aparências dos fenômenos, como afirmam Diniz e Silva (2008, p.19).
A educação brasileira por muito tempo insistiu em tratar a formação letrada na escola como
um ato e uma prática de aprendizagem distante da realidade do aluno. Diante disso, muitos
estudos influenciados pelo método dialético começaram a desenvolver reflexões críticas
com relação entre a vida na escola e a escola da vida. Em uma obra com este título, os
autores Ceccon, Oliveira e Oliveira (1993) buscam por meio do método dialético analisar as
contradições presentes nos mecanismos internos da escola: como, por que e para que ela
serve à maioria numa sociedade capitalista.
Politzer conclui que para a dialética, não há nada de definitivo, o que significa dizer
que, para a dialética, tudo tem passado e terá um futuro, e que, por conseguinte, nada é de
uma vez para sempre, e o que é hoje não é definitivo. Como exemplo, temos a terra e a
sociedade.
Mas temos em vista outro olhar sobre dialética. Marilena Chauí (2001, p.203) nos
remete à análise de conceitos envolvendo pontos comuns em Platão e Aristóteles,
divergindo quanto ao papel da dialética, mas em um ponto comum. O conceito de logos é
dividido internamente em predicados opostos ou contrários divididos internamente por
predicados contraditórios. Em oposição a este, surge Hegel, que contraria os clássicos e diz
que a dialética é a única maneira pelo qual podemos alcançar a realidade e a verdade como
movimento interno da contradição, pois Heráclito tinha razão ao considerar que a realidade
é o fluxo eterno do contraditório. A contradição é essencial para a conclusão da verdade em
relação ao problema filosófico. A contraposição considerando conceitos anteriormente
analisados torna a verdade, seja esta verdadeira ou falsa.
Considera-se assim que a verdade tem duas faces e estas tendem a ser analisadas
pelo pesquisador. Você, acadêmico, deve estar se perguntando sobre os 100% de verdade,
como fica isto? Abre-se um leque de alternativas: a ciência dirá os fatos, a comprovação
poderá corresponder a esse percentual enquanto a filosofia indagará o porquê dos fatos. O
método terá a missão de responder a verdade que se espera. Uma verdade verdadeira ou
uma verdade falsa depende da natureza do objeto investigado.
43
Ao considerar a Unidade dois, uma discussão inicial, chama a atenção ao muito que
ainda temos de nos aprofundar no exercício do filosofar ao longo do curso, pela
responsabilidade do conhecer a verdadeira teoria e prática das disciplinas que compõem
este curso. Vimos que o processo do conhecer envolve princípios obrigatórios que
correspondem a construção do alicerce de seu curso.
Essência Razão
:“conhecer”
Fundamentação
ACADÊMICO
1 REFLEXÃO
Para si consciente FILOSOFIA 3Problema várias alternativas
De simesmo - Sartre <raciocínio lógico>
pela experiência:
As teorias indicam o caminho, a ciência justifica cada fato pelo método, comprova
as teorias que conhecemos pelos encaminhamentos racionais. Tem-se mudança de posturas
e metas definidas.
A unidade tratou de reflexão. Sartre compõe o quadro teórico com o conceito “para
si", “consciente de si mesmo”. Leibniz trata a reflexão como a “atenção que está em nós”.
A reflexão é a essência da filosofia cuja razão dá-se profundamente nos “porquês”
construídos principalmente em sua área de conhecimento. No decorrer do seu curso e a
cada disciplina, a reflexão será preponderante para a excelência de sua produtividade,
considerando a necessidade de admitir regras para apreender o conhecimento. É necessário
admitir um estudo sistemático, em busca de respostas pela pesquisa. Seu mestre será a luz e
você a descobrir caminhos pela cientificidade. A reflexão será seu mérito. Métodos e
técnicas de estudo o assessorarão ao alcance do objetivo previsto: absorção do
conhecimento com competência. A reflexão quase sempre acompanha uma indagação.
Neste caso o Problema o norteará no processo da investigação.
pedagogia, pode-se dizer, como variável inicial para refletir, é “o elevado índice de fracasso
e abandono escolar” e o dizer de que “a educação atual não fomenta a criatividade e a
curiosidade”.
RESUMO
ATIVIDADE
2 Razão pode ser entendida como a força que liberta dos preconceitos, do mito, das falsas
opiniões enraizadas e das aparências, permitindo estabelecer um critério universal ou
comum para a conduta do homem em todos os campos (ABBAGNANO,2007, p. 970).
Comente o conceito "razão referencial da conduta humana".
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
MONDIM, Batista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. São Paulo:
Edições Paulinas, 1980.