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Agosto 2014 nº 14

Revista do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

ELEIÇÕES 2014

O que as candidaturas à Presidência


e a sociedade civil propõem para
as comunicações no país
EDITORIAL

8 Movimento Social
Eleições e marco regulatório Reforma Política e Reforma da Mídia
O FNDC aprovou, em sua última Plenária Nacional,

O
período eleitoral é um momento estraté- uma articulação entre a coleta de assinaturas para o
Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrá-
gico para a população debater questões tica e as mobilizações em torno do Plebiscito Popular
centrais para seu futuro. Educação, saúde, pela Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Po-
transportes, política econômica, meio am- lítico. Entenda por que essas duas agendas são estraté-
biente... diferentes temas e diferentes propostas são gicas para a democracia do país.
confrontadas democraticamente, para que cidadãos
e cidadãs escolham o projeto que mais atende às suas
necessidades e às demandas do país. Legislação
Infelizmente, a agenda das comunicações – tanto 12
do ponto de vista das políticas públicas quanto da Marco Civil da Internet
legislação que rege o setor – sempre esteve de fora Ministério da Justiça deve lançar em breve consulta
dos pontos centrais da disputa eleitoral. Considerada pública para regulamentar diferentes aspectos da nova
historicamente uma área cujas decisões cabem a “es- lei, aprovada em abril pelo Congresso brasileiro. Entre
pecialistas” e à qual a população não tem contribui- eles, exceções à neutralidade de rede, o sigilo na guar-
ções a dar, a comunicação segue sem ser vista como da de dados dos usuários e como o poder público colo-
cará em prática políticas de inclusão previstas no texto.
um direito fundamental.
Para tentar reverter este quadro e pautar nessas
eleições um debate público sobre as comunicações
do país, o FNDC apresentará às candidaturas um
documento em que trata da importância de um Participação social
20
novo marco regulatório para o setor. A expectativa é Conselho de Comunicação Social
que partidos políticos e candidatos/as assumam em
definitivo um compromisso com o desenvolvimento Órgão consultivo do Congresso Nacional para as co-
desta agenda. municações, CCS chega ao final de mais uma gestão
sem estabelecer critérios transparentes para a indica-
A luta do FNDC pela democratização das ção da representação da sociedade civil. Frente Par-
comunicações no Brasil vai, no entanto, muito além lamentar critica a prática e propõe grupo de trabalho
do período eleitoral. Nesta edição da revista Mí- para reformular o funcionamento do Conselho.
diaComDemocracia você ficará sabendo de um
conjunto de ações que o Fórum tem desenvolvido
no sentido de tornar o setor midiático de nosso país
mais plural e mais diverso: da luta por uma internet li- 24
Comunicação Pública
vre e por um sistema público de comunicação forte à Fórum Brasil
defesa de mecanismos de participação social e difusão
da produção popular audiovisual, como o Canal da Marcado para novembro, encontro pretende ser um
Cidadania. Confira também o artigo de Glauco Faria espaço de rearticulação entre as emissoras de rádio e
e Renato Rovai sobre o papel desempenhado pela televisão do campo e organizações que defendem as
mídia comercial na Copa do Mundo de 2014. mídias públicas, comunitárias, educativas e universitá-
rias. Um documento com propostas para o fortaleci-
mento do campo será entregue à candidatura vence-
Boa leitura! dora das eleições presidenciais.

Expediente Apoio da Comunicação do Ceará; Comitê pela Democratização da Comunicação do Distrito Federal;
Comitê pela Democratização da Comunicação do Espírito Santo; Comitê pela Democratização da
Comunicação do Mato Grosso; Comitê pela Democratização da Comunicação do Mato Grosso do
Sul; Comitê pela Democratização da Comunicação de Minas Gerais; Comitê pela Democratização
Coordenação Executiva FNDC 2014-2015: Rosane Bertotti – Central Única dos Trabalhadores; da Comunicação do Rio Grande do Sul; Comitê pela Democratização da Comunicação do Vale dos
Renata Mielli – Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé; Rogério Oliveira – Conse- Sinos (RS); Comitê pela Democratização da Comunicação de Pelotas (RS); Comitê pela Democrati-
lho Federal de Psicologia; Orlando Guilhon – Associação das Rádios Públicas do Brasil; Bia Barbosa zação da Comunicação do Pará; Comitê pela Democratização da Comunicação da Paraíba; Comitê
– Intervozes; Bruno Cruz – Federação Nacional dos Jornalistas; Everaldo Monteiro – Federação pela Democratização da Comunicação do Paraná; Comitê pela Democratização da Comunicação
Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão. de Pernambuco; Comitê pela Democratização da Comunicação do Piauí; Comitê pela Democrati-
Comitês Regionais do FNDC: Comitê pela Democratização da Comunicação de Alagoas; zação da Comunicação do Rio de Janeiro; Comitê pela Democratização da Comunicação de Santa
Comitê pela Democratização da Comunicação do Amapá, Comitê pela Democratização da Catarina; Comunicação de São Paulo; Comitê pela Democratização da Comunicação de Bauru
Comunicação do Amazonas; Comitê pela Democratização da Comunicação da Bahia; Comitê (SP); Comitê pela Democratização da Comunicação de Osasco e Região Metropolitana Oeste (SP);
pela Democratização da Comunicação da Região Sisaleira (BA); Comitê pela Democratização Comitê pela Democratização da Comunicação de Sergipe.

MídiaComDemocracia é uma publicação do Fórum Nacional Capa: Pablo Alejandro


pela Democratização da Comunicação. Ilustrações: Pablo Alejandro
Editora: Bia Barbosa (MTB nº 31.762) Gráfica: NSA Comunicação - Gráfica e Editora – Tiragem: 2.000 exemplares
Pesquisa de imagens: Mariana Moreira e Pedro Rafael Vilela As opiniões aqui expressas não representam necessariamente a posição das entidades sócias
Editoração: IncaDesign www.incadesign.com.br do FNDC. É livre a reprodução dos conteúdos, desde que citada a fonte.

MÍDIAComDEMOCRACIA 3
ELEIÇÕES 2014

FNDC entregará
Por Najla Passos e Mariana Moreira

É consenso entre os principais movi-


mentos sociais e organizações da sociedade

a candidatos
civil que a democratização da comunicação
é medida fundamental para o avanço e con-
solidação da democracia brasileira. O espaço

plataforma
destinado ao tema no debate eleitoral deste
ano, no entanto, não responde à urgente e
necessária aprovação de um novo marco re-
gulatório para o setor. Nas entrevistas e sa-

em defesa da
batinas já realizadas com os candidatos pelos
veículos da mídia comercial, praticamente
inexistem menções à pauta. E, nos progra-
mas de governo dos 11 postulantes à Presi-

democratização
dência da República, a invisibilidade também
é quase unânime.
Para tentar reverter este quadro, o Fó-
rum Nacional pela Democratização da Co-

da comunicação
municação (FNDC) encaminhará uma carta
aos/às candidatos/as defendendo a importân-
cia do tema para a consolidação da democra-
cia brasileira. Anexo à carta, dois documen-
tos que são fruto das propostas aprovadas
pela sociedade civil na 1ª Conferência Nacio-
nal de Comunicação (Confecom), realizada Assunto está fora dos programas dos principais candidatos
em 2009. A Confecom institucionalizou uma
agenda de debates sobre a democratização
à Presidência. Para fomentar o debate no processo eleito-
da comunicação no país, a partir da aprova- ral, Fórum entregará propostas para um novo marco regu-
ção de resoluções para modernizar a legis-
lação existente e elaborar políticas públicas latório do setor aos postulantes ao Palácio do Planalto.
de promoção de diversidade e pluralidade na
mídia. Central Única dos Trabalhadores (CUT) e mento de democratização da comunicação.
Um dos documentos, intitulado “20 coordenadora geral do FNDC. Em maio passado, a Comissão Executiva do
pontos para democratizar as comunicações Representante da Federação Nacio- Partido dos Trabalhadores chegou a incluir o
no Brasil”, traz diretrizes fundamentais para nal dos Jornalistas (Fenaj) na Executiva do tema da regulação dos meios no documen-
um novo marco regulatório para o setor. En- FNDC, Bruno Cruz ressalta que é preciso to de Diretrizes do Programa de Governo
tre elas, a universalização do acesso à Inter- pensar um novo marco regulatório das co- do PT. Um mês depois, seu presidente, Rui
net, o fortalecimento das emissoras públicas municações no contexto da convergência Falcão, discursou na convenção nacional do
e comunitárias e limites à concentração da das mídias. “Sem uma regulamentação ade- partido afirmando que tão importante quan-
propriedade dos meios. O outro documento quada, o mais provável é que a concentração to a reforma política é a democratização da
é o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mí- expressa na radiodifusão, no mercado edito- sociedade brasileira.
dia Democrática, que apresenta, em formato rial, na produção cultural etc se reproduza, “Assim como a energia, o transporte e
de texto legal, as prioridades definidas pelo com algumas adequações, no ciberespaço. A a saúde, a radiodifusão é um serviço públi-
movimento para a regulação da radiodifusão isso tudo se soma um agravante: a estrutura co, concedido a particulares que, para ser
no país. Em todo o Brasil, o FNDC, ao lado de rede da internet é privada e não depende prestado com base no interesse público, re-
de dezenas de organizações e movimentos de uma concessão pública, nem tem limita- quer regras de funcionamento. No caso das
populares, está coletando assinaturas em ção de espectro, como acontece hoje com a emissoras de rádio e TV, essas regras são
apoio do Projeto da Mídia Democrática, que radiodifusão. Por isso é fundamental pensar fundamentais em função do impacto social
será enviado ao Congresso Nacional. dispositivos que, dentro do marco regulató- que os meios provocam, pela sua influência
O objetivo, ao longo do processo elei- rio, deem conta dessa convergência”, defen- na opinião pública e na formação de valores.
toral, é que os candidatos e candidatas se de o representante da Fenaj. Além disso, a comunicação é um setor eco-
comprometam com a agenda da reforma da Os programas eleitorais registrados no nômico da maior relevância, a necessitar de
mídia e com a urgência de um novo marco Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no entan- regras de funcionamento, de modo a coibir
regulatório para as comunicações. “Vamos to, não enfrentam a questão. oligopólios, ou a formação de um monopólio
entregar aos candidatos uma carta que re- no setor”, declarou Falcão à época.
cupera toda a nossa pauta, que dialoga com Programas de governo Em março de 2013, a direção nacional
as propostas defendidas na Confecom e com Líder nas pesquisas de intenções de vo- do Partido Comunista do Brasil, que também
o que acreditamos que deva ser o papel do tos, a presidenta Dilma Rousseff (PT) não in- integra a coligação que tem Dilma Rousseff
Poder Executivo, no caso, da Presidência cluiu no seu programa de governo o conjun- como candidata, aprovou posição destacan-
da República, na execução das políticas de to das propostas defendidas por seu partido do a necessidade da reforma da mídia como
comunicação”, esclarece Rosane Bertot- para o setor, que guardam muitas semelhan- uma das condições para aprofundar a demo-
ti, Secretária Nacional de Comunicação da ças com aquelas reivindicadas pelo movi- cratização da sociedade brasileira.

4 MÍDIAComDEMOCRACIA
Rogério Tomaz Jr.

I Conferência Nacional de Comunicação, em 2009: propostas aprovadas no evento subsidiaram documento que será entregue pelo FNDC às candida-
turas. Objetivo é comprometer os partidos e candidatos/as com necessidade de elaborar um novo marco regulatório para as comunicações no Brasil.

“O PCdoB compreende que esta é uma aos brasileiros e o compromisso com o for- ou usar um neologismo para se contrapor a
agenda política estratégica para a democracia talecimento da indústria audiovisual brasilei- qualquer forma de regulação do setor.
e, também, para a consecução de um Novo ra, através do programa “Brasil de Todas as Seu programa também fala, ainda que
Projeto Nacional de Desenvolvimento. O Telas”, mas não vai além no campo da ra- de forma superficial e evasiva, em expandir
Brasil terá mais dificuldades de avançar e diodifusão. a infraestrutura e o acesso à Internet: “O
consolidar um projeto soberano e de inte- As propostas mais avançadas para o cam- acesso à comunicação digital é altamente
gração solidária com outros países enquanto po referem-se à Internet. Ali, uma promessa estimulante à participação e colaboração no
operar no país um sistema de mídia mono- importante. Diferentemente do que pregou âmbito das redes sociais. Estimularemos as
polizado nas mãos de poucos grupos econô- a atual gestão, que defendeu apenas a massi- iniciativas de produção do conhecimento em
micos que utilizam o poder da comunicação ficação do acesso à banda larga, o programa rede”. Uso da Internet, acesso à rede WIFI,
para fazer oposição às políticas de soberania de Dilma promete agora a universalização do banda larga nas escolas e a utilização de tec-
nacional, às iniciativas de integração sobera- acesso à rede e a expansão da infraestrutura nologias de informação e comunicação apa-
na da América Latina, às políticas de inclu- de fibras óticas. Também fala da utilização recem como referências rápidas e sem pro-
são social, de investimento na indústria na- da Internet como ferramenta de educação, postas concretas.
cional, de promoção da cidadania e redução lazer e instrumento de participação popular, Terceiro colocado na corrida presiden-
das desigualdades”, acredita Renato Rabelo, em especial nas decisões do governo. E ga- cial, Eduardo Campos (PSB), da coligação
presidente do PCdoB. Segundo ele, nesta rante que, se reeleita, a Presidenta continua- Unidos pelo Brasil (PHS/PRP/PPS/PPL/PSB/
campanha eleitoral, o partido defenderá que rá a trabalhar pela implementação do Marco PSL), assume uma das pautas defendidas pela
o Brasil precisa urgentemente de um novo Civil da Internet, a mais moderna legislação sociedade civil no campo das comunicações.
marco regulatório para as comunicações. sobre governança da rede do mundo, criada Ironicamente, a única já implantada pelo go-
Propostas neste sentido, no entanto, fi- a partir da participação popular. verno Dilma. “Acelerar o processo de apro-
caram de fora do programa de Dilma à ree- Seu principal adversário, o tucano Aé- vação do Marco Civil da Internet de modo
leição porque não seriam unanimidade entre cio Neves (PSDB), da coligação Muda Brasil a estimular a democratização dos meios de
as outras legendas que compõem a coligação (PSDB/PMN/SD/DEM/PEN/PTN/PTB/PTC/ comunicação social, particularmente da mí-
Com a Força do Povo: PMDB/PSD/PP/PR/ PTdoB), reafirma seu compromisso fun- dia eletrônica e as novas tecnologias da infor-
PROS/PDT/PRB. O programa traz a defesa damental com a “liberdade de expressão”, mação que propiciem uma democracia mais
da “liberdade de informação e de opinião” sem explicitar o que quer dizer com isso: se participativa”, afirma.
entre os direitos que devem ser assegurados garantir o direito de todos à comunicação A reportagem da revista MídiaComDe-

MÍDIAComDEMOCRACIA 5
Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr Antonio Cruz/ABr Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Dilma Rousseff (PT) Aécio Neves (PSDB) Eduardo Campos (PSB)

mocracia tentou ouvir os três candidatos, esclareceu que pretende “cumprir e fazer concorda que é preciso limitar a proprieda-
mas eles não responderam ao pedido de en- cumprir a Constituição”, além de discutir as de cruzada e criar as condições para que os
trevista. propostas surgidas na 1ª Conferência Na- segmentos sociais tenham a possibilidade de
cional de Comunicação (Confecom) com a terem os seus próprios meios. E se propõe a
Propostas dos pequenos sociedade e os representantes do segmento. realizar “uma espécie de reforma agrária na
Em entrevista à Mídia Com Democra- comunicação”.
cia, Pastor Everaldo (PSC), quarto colocado A democratização para Mauro Iasi (PCB) defende o estímulo à
nas pesquisas, se afirmou contrário a qual- os pequenos partidos “luta continental contra a mafiosa Socieda-
quer tipo de regulação das comunicações. de Interamericana de Imprensa, em defesa
Seu programa comete o erro conceitual co-
de esquerda da imprensa popular e independente, pela
mum aos conservadores de associar censura Luciana Genro (PSOL) é a única que se democratização e controle social da mídia”,
a regras para o funcionamento do setor. De- compromete textualmente com propostas além do enfrentamento à “descarada espio-
fende a liberdade de expressão, desde que defendidas pelos movimentos, inclusive o nagem estadunidense em nossos países”.
com a garantia da não intervenção governa- novo marco legal da comunicação. “A que- Nos 21 pontos iniciais propostos para uma
mental na mídia. Caso eleito, pretende “res- bra dos oligopólios midiáticos e sua política alternativa socialista para o Brasil, inclui a re-
tringir leis que promovam censura, regulação de voz única terá atenção especial, com ên- versão das privatizações e estatização de se-
ou controle dos meios de comunicação”. fase para o fim da propriedade cruzada dos tores estratégicos, incluindo a comunicação.
O candidato Levy Fidelix (PRTB) passa meios de comunicação. Nosso incentivo será Rui Costa Pimenta (PCO) defende a
tangencialmente pela questão da Internet. para instrumentos de comunicação alternati- igualdade de condições de acesso de todos
“Os serviços de comunicações terão ênfase vos, como rádios e TVs comunitárias, e aos os partidos aos meios de comunicação de
na interação cada vez maior entre o Poder meios públicos de mídia. Além disso, dare- massa e a estatização das grandes empresas
Público concedente e o privado, que deverá mos ênfase a instrumentos de participação privadas do setor cultural. Também propõe
reduzir drasticamente os valores cobrados popular”, afirma seu programa. a construção de uma imprensa independen-
do consumidor/usuário na melhoria dos ser- À Mídia Com Democracia, a candida- te, que se contraponha ao atual modelo “ca-
viços prestados, inclusive à universalização ta elencou como medidas prioritárias a de- pitalista, reacionário e golpista”.
da banda larga em todo o país”, diz o texto. fesa da complementariedade dos sistemas
Já o candidato Eduardo Jorge (PV) pro- público, privado e estatal de comunicação e Poder e medo
põe a extinção do Ministério das Comu- a garantia de avaliações para renovação das Para o professor aposentado de Ciência
nicações, que viria a ser abrangido pelo da concessões de rádio e televisão, para que se- Política e Comunicação da Universidade de
Infraestrutura, mesmo destino das pastas de jam observados os aspectos social, educativo Brasília (UnB), Venício Lima, a inexistência
Transportes e Turismo. Ele também fala em e público, sem incitação de preconceitos ou da pauta da comunicação no debate eleito-
“explorar a possibilidade de consultas por via conteúdo apelativo. Segundo ela, esta última ral revela, por um lado, o imenso poder dos
eletrônica (internética) para agilizar, ampliar medida “é importante também para enfren- poucos grupos que dominam a chamada mí-
e tornar mais sustentáveis do ponto de vista tar o tema das concessões para políticos, que dia tradicional brasileira de interditar uma
orçamentário as consultas e debates popula- se beneficiam com veículos à revelia das leis”. discussão que não lhes interessa e, de outro,
res sobre a cidade”. Nas 19 propostas apresentadas por Zé o medo histórico que os candidatos têm de
Eymael (PSDC) dedica poucas linhas do Maria (PSTU), a comunicação não é contem- enfrentar esses grupos.
seu programa para defender que, na socie- plada. Mas, em entrevista à revista, o candi- “A comunicação tecnologicamente me-
dade do conhecimento, o acesso no plano dato admitiu a importância do tema, embora diada alcança um lugar muito especial nas de-
escolar ao uso de equipamentos de infor- não considere que as propostas defendidas mocracias contemporâneas, porque os gru-
mática, Internet e banda larga será uma das pela sociedade civil sejam suficientes para re- pos que as dominam podem tornar as coisas
suas ações prioritárias. À nossa reportagem, verter a brutal concentração dos meios. Ele públicas valoradas de acordo com seus pró-

6 MÍDIAComDEMOCRACIA
Kauê Scarim Marcelo Camargo/ABr
prios interesses. E, especialmente no caso
brasileiro, os candidatos simplesmente têm
medo de enfrentá-los, porque precisam de
visibilidade positiva. Então, são duas faces de
uma mesma moeda: de um lado o poder; de
outro, o medo”, afirma.
Venício Lima defende um novo marco
regulatório das comunicações como forma
de combater o que classifica como “corrup-
ção permanente da opinião pública”. Segun-
do ele, apesar do advento da Internet, é a
chamada mídia convencional que continua a
pautar o debate público. “Como esses pou-
quíssimos grupos que dominam o que se
chama de mídia tradicional filtram a opor-
tunidade de acesso e de representação do
conjunto da população ao debate público,
o que resulta desse debate é uma opinião
pública que serve a interesses particulares”,
esclarece.
Rosane Bertotti atribui a ausência do Luciana Genro (PSOL) Pastor Everaldo (PSC)
tema no debate eleitora ao fato que, no Bra-
sil, a comunicação não é tratada como um di- o Código Brasileiro de Telecomunicações cem os casos de sublocação de horários e de
reito do cidadão, que precisa ser garantido e de 1962, alterado parcialmente apenas em transferência de concessões de forma irre-
estimulado por políticas públicas adequadas, 1996, no auge do avanço do neoliberalismo gular, sem qualquer debate público. A crítica
mas sim como um espaço de manipulação e no Brasil, para permitir a privatização do sis- se estende ao processo de digitalização da
reafirmação do poder privado dos poucos tema de telefonia. radiodifusão, que está sendo conduzido sem
grupos que detêm as concessões. “A democracia brasileira cresceu muito, a participação social, pautado apenas no inte-
“Pela forma como se organizou a estru- criou vários espaços e instrumentos de cons- resse do mercado.
tura da comunicação no país, mesmo os can- trução de diálogo social e participação em A experiência positiva relatada na carta
didatos que concordam com a importância vários aspectos. Porém, em vários campos do FNDC é a recente aprovação do Marco
deste debate entendem que pautá-lo no mo- não há esta participação, e a comunicação é Civil da Internet, apontado como uma das
mento eleitoral é fazer um enfrentamento um deles. Não há nenhum espaço de partici- legislações mais avançadas do mundo para
que não ajudaria no diálogo com a socieda- pação e influência de fato na política de co- estabelecer os direitos e deveres dos inter-
de. Portanto, esta é mais uma demonstração municação do país”, afirma a coordenadora nautas na rede mundial de computadores.
do quanto o monopólio da comunicação no do FNDC. Tal conquista só foi possível em razão da am-
Brasil e, em tese, o debate sobre a democra- Na carta, as entidades que compõem pla mobilização em torno do tema e porque
tização da mídia interferem na democracia, o Fórum alertam que o cenário atual é de a construção desta proposta se deu de forma
ainda que de forma diversa”, avalia. brutal concentração dos meios, tanto na ra- colaborativa pela Internet e outros mecanis-
Bruno Cruz acrescenta que a agenda da diodifusão quanto na comunicação impressa. mos de participação e ausculta da sociedade,
democratização da comunicação no Brasil é “Não há mecanismos transparentes e demo- como audiências e consultas públicas.
alvo de uma disputa que confunde muitos cráticos para a concessão dos canais de ra- O representante da Fenaj defende os
setores da sociedade. De um lado, os do- diodifusão e não existe uma política explícita mecanismos de participação social como
nos dos veículos classificam como censura no país para garantir a complementaridade caminho imprescindível para democratizar
qualquer tentativa de regulação da mídia e, do sistema, como previsto na Constituição. o sistema midiático. “É necessária a criação
de outro, parte dos movimentos sociais de- Isso faz com que o Brasil não conte com de um Conselho Nacional de Comunicação
fendem para si o “direito” de propagar, na um campo público de comunicação robusto como órgão máximo de um sistema com ca-
mesma amplitude, os mesmos vícios e práti- como outros países, o que aumenta o poder pilaridade em todo país, que seja capaz de
cas, sob a bandeira de uma falsa pluralidade. de mercado do setor privado/comercial”, diz identificar abusos e aplicar sanções contra
o texto. eventuais ataques aos direitos humanos, co-
Os avanços necessários Ressaltam, ainda, que o país só possui letivos ou individuais, a preceitos estabeleci-
No documento que será encaminhado dispositivos de fomento à produção nacio- dos sobre proporcionalidade e conteúdo de
aos/às candidatos/as, o FNDC lembra que, nal, regional e independente para a TV por programação entre outras questões”, acres-
desde a eleição de 1989, que marcou o final assinatura, garantidos pela Lei 12.485/2011. centa Cruz.
de 25 anos de ditadura, o Brasil já foi às urnas Na TV aberta, que é objeto de concessão “A experiência vivenciada neste último
sete vezes para eleger um novo Presiden- e atinge a quase totalidade dos brasileiros, período, para a construção do Marco Civil
te. Nesses 25 anos que se passaram, foram não há obrigação ou contrapartida dos con- da Internet, é uma demonstração de que,
muitas as conquistas na construção da demo- cessionários, prevalecendo a concentração quando se cria instrumentos de participação
cracia brasileira. Mas, no terreno da comu- da produção no eixo Rio/São Paulo. Para social e de democracia, quando há diálogos,
nicação, muito pouco se avançou. O marco agravar, grande parte dos canais exibe mais a política pública sempre sai ganhando”, con-
legal do setor permanece tendo como base produção estrangeira do que nacional, cres- clui Rosane Bertotti.

Os programas de governo dos candidatos/as à Presidência da República foram registrados no TSE no dia 5 de julho de 2014 e podem
ser acessados pela internet no endereço: http://divulgacand2014.tse.jus.br/divulga-cand-2014/eleicao/2014/UF/BR/candidatos/cargo/1.

MÍDIAComDEMOCRACIA 7
MOVIMENTO SOCIAL

Reformar a política e
democratizar a mídia:
necessidades da
democracia brasileira
Na simbiose formada entre políticos conservadores e do-
nos da mídia, uns defendem com unhas e dentes os inte-
resses dos outros, e vice-versa. Assim, parlamentares são
contra a reforma da mídia e a mídia é contra a reforma po-
lítica. Saem perdendo o povo e a democracia brasileira.
Por Paulo Victor Melo* ta olhar para a composição do Congresso
Nacional para compreender o tamanho da
Os milhões de brasileiros e brasilei- distância entre o conjunto da população
ras que foram às ruas em junho de 2013 brasileira e aqueles que, historicamente,
denunciaram em alto e bom tom o fosso comandam a política no país. Segundo da-
existente entre o povo e as diferentes ins- dos do Diap (Departamento Intersindical
tituições que comandam o país – do Con- de Assessoria Parlamentar):
gresso Nacional aos Poderes Executivos, - mais de 70% dos parlamentares
em seus mais diferentes níveis, passando são fazendeiros e empresários (da educa-
também pelo Judiciário. Nos cartazes e ção, da saúde, industriais, etc), sendo que
faixas, jovens disseram: “essa política não maioria da população é composta de tra-
nos representa”. balhadores e camponeses.
Não é difícil entender por que. Bas- - somente 9% são mulheres, sendo
que elas correspondem a mais da metade
da população.
- 8,5% são negros, sendo que 51%
dos brasileiros se autodeclaram negros.
- menos de 3% são jovens, sendo que
a população de 16 a 35 anos corresponde
a 40% do eleitorado do Brasil.
Ou seja, o resultado do sistema elei-
toral hoje em funcionamento é um quadro
marcado por uma profunda distorção da re-
alidade do país. Mudar este cenário exigiria
a realização de uma das reformas mais es-
truturantes em nossa sociedade, a Reforma
Política, que até hoje não saiu efetivamente
do papel porque aqueles que, historicamen-
te, comandam política e economicamente o
país querem que tudo continue como está.
Afinal, mudar as regras do jogo atingiria di- projetos de iniciativa popular, assim como financiaram as campanhas”, explica Renata
retamente a seus interesses. o aperfeiçoamento de instrumentos de Mielli, do Centro de Estudos da Mídia Al-
Reconhecendo este obstáculo, cente- democracia participativa e controle social. ternativa Barão de Itararé e integrante da
nas de movimentos sociais e organizações Executiva do Fórum Nacional pela Demo-
da sociedade civil lançaram uma campa- Debate interditado cratização da Comunicação (FNDC).
nha por um Plebiscito Popular que luta Mesmo com uma ampla mobilização Compreendendo a importância da
por uma Assembleia Constituinte, eleita social em torno desta pauta, a principal relação entre a Reforma Política e a de-
exclusivamente para mudar o sistema po- dificuldade na ampliação da discussão so- mocratização dos meios de comunicação,
lítico brasileiro. A Presidenta Dilma Rous- bre o Plebiscito Popular foi o bloqueio o FNDC aprovou, em sua última Plenária
seff chegou a defender uma Constituinte imposto pelos meios de comunicação à Nacional, em abril deste ano, uma articu-
exclusiva para fazer a Reforma Política iniciativa. lação entre a coleta de assinaturas para
como resposta às demandas de junho de “A grande mídia simplesmente igno- o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da
2013. Mas rapidamente a proposta foi re- rou esta campanha e todas as ações que Mídia Democrática e as mobilizações em
chaçada pelos setores mais conservado- realizamos, como cursos, atos políticos torno do Plebiscito Popular – que neste
res, incluindo parcela da mídia comercial, e mobilizações de rua. Em junho, come- momento enfrentam desafios semelhan-
e a iniciativa não avançou. çamos a receber ataques da revista Veja tes para alcançar o conjunto da população
Por isso, entre os dias 1 e 7 de se- e de seu colunista Rodrigo Constantino, brasileira.
tembro deste ano, a campanha por um que escreveu artigos, divulgou vídeos na “Os meios de comunicação tentam
Plebiscito Popular consultará a população internet e propagandeou nas redes sociais taxar a luta pela democratização da mídia
brasileira com a seguinte pergunta: “Você que o plebiscito é um ‘Projeto Golpista de como a ‘escalada contra a liberdade de
é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Constituinte Popular’”, conta Paola Estra- expressão’ ou como o ‘fantasma da censu-
Soberana do Sistema Político?”. da, integrante da Articulação Bolivariana ra’”, explica Renata. “No caso da Reforma
De acordo com informações da Se- das Américas-Movimentos (ALBA Movi- Política, o discurso é o da demonização
cretaria Operativa Nacional do Plebiscito, mentos), que faz parte da campanha do dos partidos e dos políticos, de que a re-
já existem mais de 800 comitês populares Plebiscito Popular. forma só ampliaria os privilégios dos cor-
estaduais, municipais e de base, que serão Tal postura não chega a ser uma sur- ruptos. Então, a nossa luta é quase uma
responsáveis pela organização e coorde- presa. Historicamente, existe uma pro- luta para desfazer o senso comum”, acres-
nação da votação em setembro. Atual- ximidade muito grande entre os setores centa. “São duas reformas indispensáveis
mente, esta é a principal bandeira de luta político e midiático no âmbito do atendi- para que possamos avançar na democracia
unitária de centrais sindicais, movimentos mento aos interesses da elite brasileira e brasileira”, completa.
sociais, juventude, entidades de direitos na perpetuação da ausência de participa- Não à toa, as vozes das ruas em junho
humanos, partidos progressistas e organi- ção social nesses espaços. de 2013 também criticaram duramente os
zações populares. Com o resultado da vo- “De um lado, a mídia atua como um meios de comunicação de massa. “A ver-
tação, os movimentos esperam conseguir partido político conservador na socieda- dade é dura, a Rede Globo apoiou a dita-
pressionar o poder público pela realização de, como porta-voz dos interesses da elite dura!” foi uma das palavras de ordem mais
da Constituinte exclusiva, alterando final- econômica no país. De outro lado, o nosso ouvidas nos protestos.
mente as regras do sistema político brasi- sistema político, baseado na democracia re-
leiro, de forma a democratizá-lo. presentativa, está cada vez mais dependen- Ausência de
Entre as mudanças propostas pelas te do poder econômico, já que o financia- participação popular
organizações que integram a campanha mento privado das campanhas é, no fundo, Na avaliação do filósofo e coordena-
do Plebiscito Popular pela Constituinte do uma maneira de comprometer candidatos e dor do Instituto de Estudos Socioeconô-
Sistema Político estão: futuros gestores/as públicos/as e parlamen- micos (INESC), José Moroni, a insatisfação
- enfrentar o poder econômico que tares com os interesses econômicos que comum com a mídia e o com o sistema
controla as eleições, defendendo o finan-
ciamento público das campanhas eleito-
rais. Em 2012, 95% dos recursos totais
da campanha eleitoral foram doados por
empresas.
- garantir a representação popular,
acabando com a votação nominal nas elei-
ções proporcionais e defendendo o voto
em lista, elaborada a partir de um progra-
ma partidário.
- combater a sub-representação da
mulher, com a adoção de listas com pari-
dade e alternância de sexo.
- combater a sub-representação da
população negra, criando mecanismos
para se alcançar a paridade entre negros
e brancos. A mesma preocupação é válida
para a representação dos indígenas.
- fortalecer a democracia direta, com
o incentivo aos mecanismos de democra-
cia direta como plebiscitos, referendos e

MÍDIAComDEMOCRACIA 9
político expressa nas ruas se deve à au- sionárias de rádio e TV, sistematizados no programas de seus veículos, podendo prio-
sência histórica de participação social nos estudo Donos da Mídia em 2010, aponta- rizar uma ou outra questão que represente
dois ambientes. “Temos de conjunto um vam mais de 270 prefeitos, governadores, mais seus próprios interesses ou dos seto-
sistema político e um sistema de comuni- senadores, deputados estaduais e federais res que eles representam. Esse fato, por si
cação altamente elitizados e voltados para como sócios ou diretores de emissoras de só, gera uma relação desigual, tanto com
atender aos interesses desta elite. São radiodifusão. outros políticos quanto com a população
modelos em que não cabe a participação Uma ação proposta pelo Intervozes com em geral, que participa do processo elei-
popular, porque a concepção é justamen- base no artigo 54 da Constituição Federal, toral somente através do voto e não pode
te outra”, acredita Moroni. que proíbe o controle de empresas conces- pautar suas demandas em nenhum grande
Para Renata, este é um dos fatores sionárias por detentores de cargos eletivos, meio de comunicação”, explica Paola.
que reforçam a simbiose de interesses en- pede que o Supremo Tribunal Federal cance- Para ela, se os parlamentares são be-
tre a mídia e o que há de mais conserva- le as outorgas controladas por 40 deputados neficiários do atual sistema de concessão
dor na política. “Isso amplia a cumplicida- federais e senadores da atual legislatura. de rádio e televisão, que lhes proporciona
de entre os donos da mídia e os políticos “O problema é que essas emissoras lucros e votos, nunca terão interesse em
e vice-versa. Um defendendo com unhas funcionam permanentemente como instru- alterar este sistema – da mesma forma que
e dentes os interesses dos outros, que, mento de propaganda de seus donos e de o atual Congresso Nacional não mudará as
no fim, são os mesmos. Os parlamentares difamação dos adversários, tornando as dis- regras de funcionamento do sistema po-
são contra a reforma da mídia e a mídia é putas eleitorais mais desiguais ainda. Além lítico. “Não jogarão contra si próprios e
contra a Reforma Política”, afirma Renata. disso, um meio de comunicação se torna contra seus interesses, ou melhor, contra
Outro fator que contribui para que um instrumento poderoso de chantagem, seus privilégios”, critica. Cabe ao povo,
parcela significativa dos parlamentares seja manipulações e bajulações, o que fortalece portanto, se organizar para transformar
contra a adoção de uma regulação demo- a formação das oligarquias, tanto as rurais duplamente esta realidade.
crática da mídia é o controle de meios de quanto as urbanas”, ressalta José Moroni.
comunicação de massa diretamente por “É inegável que, ao serem concessio- * Com informações da campanha por um
políticos. Os dados mais recentes relati- nários destes meios, estes políticos terão Plebiscito Popular pela Constituinte Exclusiva
vos à propriedade de empresas conces- poder de decisão na definição da pauta dos e Soberana do Sistema Político.

Para saber mais sobre o Projeto de Lei da Mídia Democrática, visite: www.paraexpressaraliberdade.org.br
Para saber mais sobre o Plebiscito Popular pela Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político, visite: www.plebiscitoconstituinte.org.br

10 MÍDIAComDEMOCRACIA
FNDC

Nova gestão do Fórum (leia texto na pág.4).


Outros temas prioritários também serão
tratados neste biênio, entre eles: a) o fortale-

reforça unidade do cimento da comunicação pública; b) a defesa


de uma Internet livre e democrática; c) a im-

movimento na luta por um


plantação e consolidação dos Conselhos de
Comunicação; d) a luta por uma radiodifusão
comunitária forte e democrática; e) por um

novo marco regulatório jornalismo de qualidade, com profissionalis-


mo, ética e responsabilidade; f) a qualidade
do conteúdo na mídia brasileira; g) e o apoio a
Eleita para o biênio 2014-2015, gestão do Fórum Nacio- todas as formas de mídias livres e alternativas.

nal pela Democratização da Comunicação reúne novas Renovação e unidade


Durante a plenária, foram eleitas a nova
entidades comprometidas com esta agenda e reafirma: Coordenação Executiva e os novos Conselhos
aprovação de um novo marco regulatório para o setor é Deliberativo e Fiscal. As entidades organiza-
ram-se em chapa única, eleita pela unanimida-
urgente para a democracia brasileira. de dos delegados.
A Coordenação Geral do Fórum continua
Entre os dias 24 e 27 de abril, 80 repre- prioritárias da I Conferência Nacional de Co- a cargo da Central Única dos Trabalhadores
sentantes de movimentos sociais e organiza- municação, o projeto expressa neste momen- (CUT). As demais entidades escolhidas foram:
ções da sociedade civil se reuniram na XVIII to a etapa de unidade possível dentro do mo- Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão
Plenária Nacional do Fórum Nacional pela vimento. de Itararé, Conselho Federal de Psicologia
Democratização da Comunicação (FNDC). “A democratização da comunicação está (CFP), Associação das Rádios Públicas do Bra-
O encontro aconteceu na Escola Nacional na trincheira da luta pela democracia na nossa sil (Arpub), Intervozes, Federação Nacional
Florestan Fernandes, em Guararema/SP, e foi sociedade. Temos que construir o nosso pro- dos Jornalistas (Fenaj) e Federação Interesta-
marcado por duas questões centrais: a reafir- jeto de Lei da Mídia Democrática e fazer dele dual dos Trabalhadores em Empresas de Ra-
mação do compromisso do Fórum com a luta um instrumento de debate, conscientização e diodifusão e Televisão (Fitert).
por um novo marco regulatório para as comu- formação política”, avalia a coordenadora ge- Além das entidades da Coordenação Exe-
nicações no Brasil e a importância da unidade ral do FNDC reeleita para este biênio, Rosane cutiva, o Conselho Deliberativo passou a ser
dos mais diferentes setores em torno desta Bertotti. formado pelas seguintes organizações: Asso-
agenda. Ao mesmo tempo, o Fórum continuará ciação Brasileira de Radiodifusão Comunitária
A partir da análise das teses de conjuntura pressionando e cobrando o governo federal (Abraço), Associação Brasileira das Emissoras
e de balanço da última gestão do Fórum, os a publicização de uma proposta de um novo Públicas, Educativas e Culturais (Abepec), Fe-
participantes aprovaram um plano de ações marco regulatório pelo Executivo. Para isso, deração Interestadual dos Trabalhadores em
do FNDC para o próximo período que tem buscará agendar a pauta da democratização Telecomunicações (FITTEL), Clube de Enge-
na coleta de assinaturas para o Projeto de Lei da mídia no processo eleitoral deste ano, nharia, União de Negros pela Igualdade (Une-
de Iniciativa Popular da Mídia Democrática apresentando aos/às candidatos/as à Presi- gro), Confederação Nacional dos Trabalha-
uma de suas principais estratégias. Construí- dência da República um documento sobre dores em Seguridade Social (CNTSS), União
do com intensa participação das organizações o tema. A ideia é sensibilizá-los/as a assumir Nacional dos Estudantes (UNE), Associação
integrantes do FNDC, a partir das resoluções um compromisso explícito com esta pauta Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc) e
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras
do Brasil (CTB), além dos comitês regionais
do FNDC no Pará, Distrito Federal, Pernam-
buco, Santa Catarina e Minas Gerais.
Também foram escolhidas três organiza-
ções titulares do Conselho Fiscal: Confedera-
ção Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Comi-
tê Regional da Bahia e os comitês regionais do
Paraná e Rio Grande do Sul (em revezamen-
to). O Comitê Regional do Rio de Janeiro e
a União Brasileira de Mulheres (UBM) serão
suplentes na instância.
Nos dias 15 e 16 de agosto, acontece a
primeira reunião do novo Conselho Delibe-
rativo. Será um momento estratégico para
o planejamento da execução das ações do
Fórum no próximo período, aprovadas na
Nova Coordenação Executiva do FNDC, eleita para o biênio 2014-2015 plenária de abril.

Saiba mais sobre o FNDC em www.fndc.org.br. Redes sociais: Facebook: fndc.br Twitter: @fndc_brv

MÍDIAComDEMOCRACIA 11
Regulamentação do Marco Civil da
Internet é chave para consolidar
direitos garantidos na lei
A manutenção da conquista de direitos como a privacidade e a neutralidade da rede,
obtidos pela aprovação e sanção do Marco Civil, depende agora da regulamentação da
nova legislação. Ministério da Justiça pretende concluir neste ano, via consulta pública,
o decreto presidencial que detalhará diferentes aspectos da lei.
Por Deborah Moreira segundo momento, o MJ deverá compilar as ABC e especialista do setor, Sérgio Amadeu,
informações e elaborar uma minuta de decre- é mais pessimista. Para ele, o governo não
O que mudou no funcionamento da rede to, que também será submetida à apreciação conseguirá submeter um decreto à consulta
desde que o Marco Civil da Internet (MCI) pública. O prazo para lançamento da consulta pública a tempo de garantir um debate ra-
passou a vigorar, em 23 de junho de 2014? pública ainda não foi definido, mas cada etapa zoável, que alcance as redes sociais. “Acho
Muito pouco. Foi justamente para manter a deve durar pelo menos 30 dias. difícil sair antes do fim das eleições. Mesmo
rede como ela é que o dispositivo legal foi de- “Será uma nova construção colaborativa, porque, nesse processo misturado à dispu-
batido e construído colaborativamente entre para coletar sugestões sobre os pontos passí- ta eleitoral, o poder econômico que financia
os diversos setores da sociedade civil, até ser veis de regulamentação. Não será um posicio- campanhas políticas acaba se sobrepondo.
aprovado pelo Congresso e sancionado pela namento do Ministério, mas sim um debate Neste quadro, grupos que olhariam a con-
Presidenta Dilma Rousseff. amplo e aberto a todos os brasileiros”, explica sulta pública com mais racionalidade e pode-
No entanto, para que os usuários tenham Marcio Freitas, assessor especial do ministro riam ter uma posição mais alinhada aos ativis-
uma navegação democrática e segura, com pri- José Eduardo Cardozo e um dos responsáveis tas, podem se colocar contra alguns debates
vacidade e liberdade de expressão plenamen- pelo processo de regulamentação. por conta do processo eleitoral”, acredita.
te garantidas, alguns artigos da lei 12.965/2014 Criador do Partido Pirata do Brasil e ati- O que deve ser regulamentado
ainda carecem de regulamentação. A perspec- vista do Movimento Mega Não, que participou A maior parte do Marco Civil da Internet
tiva do Ministério da Justiça (MJ), encarregado ativamente das mobilizações em prol da apro- estabelece direitos dos usuários e aspectos
da tarefa dentro do governo, é que o decreto vação do MCI, Paulo Rená avalia que o início para o funcionamento da rede no Brasil que
presidencial regulamentando o MCI seja publi- da consulta pública dependerá muito da con- já estão em vigor desde junho passado, deven-
cado até o final do ano, após a realização de juntura política. do, portanto, ser respeitados desde já pelas
uma nova consulta pública, com ampla parti- “Há a expectativa de que ela seja lançada empresas. Um exemplo é a questão da autori-
cipação social. em um curto prazo, até para que possamos zação para coleta e armazenamento de dados
De acordo com o Ministério, tal consulta ter mais tempo para os debates e o aprimo- pessoais.
ocorrerá nos moldes da construção colabo- ramento da regulamentação. Mas, em um ce- “O Marco Civil define que o usuário deve
rativa do texto do Marco Civil, que recebeu nário eleitoral favorável à reeleição de Dilma, firmar um termo de autorização separado
mais de duas mil contribuições ao longo de é possível que a consulta não seja aberta em para isso. Os provedores tiveram 60 dias para
sua elaboração. Todos os setores da socieda- um primeiro momento. Por outro lado, não se adequar e encontrar o modelo de autori-
de serão convidados a debater e a contribuir se pode esperar muito. Após o término do zação que melhor lhes parece”, explica Veri-
com a construção do decreto, que deve se processo eleitoral, restarão apenas dois meses diana Alimonti, advogada e pesquisadora do
dar em duas etapas. Na primeira, um texto para o fim do mandato da Presidenta Dilma, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
base elencando os temas que necessitam de que foi quem promoveu este debate”, avalia (Idec). Segundo ela, a definição sobre como
regulamentação será disponibilizado para co- Rená. será este termo cabe às empresas e não re-
mentários em uma plataforma digital. Num O professor da Universidade Federal do quer regulamentação específica, e por isso a

12 MÍDIAComDEMOCRACIA
prática deve ser cumprida desde já. liberdade na rede é o artigo 15, que determi- Quem fiscaliza?
Já o artigo 9o, que define a neutralidade na a obrigatoriedade da guarda de dados dos Os artigos 30 e 31 do MCI estabelecem
de rede, é um dos passíveis de regulamenta- usuários por provedores de aplicação (como que a defesa dos interesses e dos direitos con-
ção. Ele prevê que serão admitidas exceções Google e Facebook) por seis meses. Incluído tidos na lei poderão ser reclamados individual
à regra e que, em alguns casos, a neutralidade no texto a partir de uma demanda da Polícia ou coletivamente, na forma das leis brasileiras
poderá ser quebrada, havendo “discriminação Federal e de setores do Ministério Público, o e em órgãos como o Ministério Público, os jui-
ou degradação do tráfego”. artigo, na avaliação de especialistas, abre mar- zados especiais cíveis e os Procons. O desafio
Sergio Amadeu alerta que, no momento gem para a vigilância em massa na Internet. é preparar esses órgãos para a garantia dos
da regulamentação, as operadoras de teleco- Na União Europeia, o Tribunal de Justi- novos direitos estabelecidos no Marco Civil.
municações, que sempre foram contrárias à ça chegou a declarar a ilegalidade da retenção Veridiana Alimonti acredita que eles pre-
neutralidade de rede, pressionarão para am- de dados em ocasiões que não sejam estrita- cisarão de alguma preparação para atuar em
pliar as possibilidades de exceção a serem mente necessárias. O argumento da decisão questões mais técnicas. “Esse suporte pode vir
definidas. Se não se sentirem contempladas, foi que a medida representa uma grave inter- a ser dado pela Secretaria Nacional do Consu-
elas poderão, inclusive, chegar aos tribunais, ferência no direito fundamental à privacidade. midor, ligada ao Ministério da Justiça”, suge-
movendo ações contra a neutralidade pre- No Brasil, dezenas de organizações chegaram re. Mas Márcio Freitas lembra que os órgãos
vista no MCI. “O princípio está claro na lei: a pedir o veto da Presidenta Dilma ao artigo 15 de defesa do consumidor já prestam atendi-
não pode haver discriminação de pacotes por antes da sanção do MCI, mas ele não ocorreu. mentos relacionados à Internet e provedores.
motivo econômico, político, cultural, religioso Agora, esperam minimizar seu impacto na pri- “Competências específicas podem ser criadas,
ou comercial. Esse segmento empresarial não vacidade dos usuários com a regulamentação mas, inicialmente, não há necessidade. A Ana-
respeita lei, mas estamos bem calçados e ins- da lei, que precisará definir, por exemplo, em tel é quem cumpre hoje esse papel de receber
trumentalizados para travar essa luta”, afirma. que tipo de ambiente e sob quais mecanismos reclamações das operadoras de telefonia”,
A regulamentação do Marco Civil tam- de segurança esses dados deverão ser manti- explica.
bém deve abarcar o detalhamento das po- dos em sigilo. O mesmo deve ocorrer com o
líticas públicas a serem adotadas pela União, artigo 13, que impõe a guarda de registros de Debates futuros
estados e municípios no desenvolvimento da conexão por um ano. Após a regulamentação do MCI, será pre-
Internet no Brasil, previstas nos artigos 24 a 28 Para além da ameaça à privacidade dos in- ciso avançar em outros aspectos da regulação
da lei. Assim, será preciso estabelecer como o ternautas, os dois artigos resultarão em custos da Internet e de assuntos correlatos, como a
Executivo deverá agir ou o que deverá priori- extras de coleta e armazenamento de dados questão da proteção de dados. Uma proposta
zar para melhorar o funcionamento da rede, para inúmeros sites cujo modelo de negócios do Executivo para uma nova lei nesta área já
desde a realização de estudos periódicos so- não prevê a guarda de dados dos usuários. O está em elaboração.
bre o uso e desenvolvimento da Internet no financiamento de tais custos pode impulsionar “É uma lei mais ampla e que pisa no calo
país até a adequação da educação para que um mercado de venda de dados, com danos de muita gente grande, como as financeiras, as
exista capacitação técnica para o setor. ainda maiores para a privacidade da população. operadoras de cartão de crédito e empresas
“Neste sentido, é importante destacar Para evitar tais riscos e também que o que trabalham com cadastros. Todas serão
que o Marco Civil reconhece, em lei, algo que lobby das operadoras de telecomunicações afetadas e esta será uma briga pesada no futu-
as organizações da sociedade civil já vêm di- resulte em retrocessos na regulamentação do ro”, avalia Rená.
zendo há muito tempo: a essencialidade do texto, as organizações da sociedade civil que Outro tema é a reforma da Lei de Direi-
acesso à Internet para o exercício da cida- trabalharam pela aprovação do MCI alertam: é tos Autorais, que em breve poderá ocupar a
dania. E, quando um serviço de telecomuni- preciso que a população participe ativamente agenda do Parlamento brasileiro. “Mas são
cações é considerado essencial, ele deve ser da regulamentação do MCI. assuntos que ainda não têm apelo público.
prestado com obrigações de universalização, “A consulta pública deve reforçar o que A falta de informação pode ser uma barreira
de qualidade e de modicidade tarifária, como a sociedade civil deseja: as liberdades funda- para a popularização do tema”, pondera o re-
hoje a telefonia fixa é”, destaca a pesquisadora mentais e a neutralidade da rede. E também presentante do Partido Pirada do Brasil, que
do Idec. retirar o impacto negativo em alguns pontos, aposta que o debate ainda vai evoluir muito
como o artigo 15, que prejudica o próprio nos próximos anos. Sergio Amadeu também
A regulamentação estado geral do Marco Civil”, enfatiza Ama- tem a expectativa de que a internet ganhará
da privacidade deu. “Do projeto original à versão aprovada mais espaço nas rodas de debate. “Nós mal
Um dos pontos da regulamentação do no Congresso, houve mudanças que teremos começamos a briga para manter a internet
MCI mais aguardados por ativistas e orga- mais dificuldade de reverter. Mas precisamos livre, aberta e diversificada. Temos que con-
nizações da sociedade civil que defendem a agir”, afirma. tinuar”, alerta.

Mobilizações no Senado e na Câmara dos Deputados


foram fundamentais para a aprovação de uma das
leis mais avançadas sobre Internet do mundo
Lidyane Ponciano
Campanha cobra do
Brasil concessão de
asilo para Snowden
Organizações nacionais e internacionais entregam carta ao governo brasileiro pedindo
uma resposta à solicitação de asilo político feita pelo ex-funcionário da Agência Nacional
de Segurança norte-americana.
Por Najla Passos brasileira e a estatal Petrobrás (veja quadro). mundial, recusou-se a ser recebida com hon-
Recebidos pelo Secretário-Executivo do ras de chefe de Estado em Washington pelo
Enquanto a Presidenta Dilma Rousseff re- MJ, Marivaldo Pereira, eles explicaram por Presidente Barak Obama.
cebia outros chefes de Estado para a 6ª Cúpu- que a questão era tão urgente: o visto provi- A ativista argumentou que, devido às
la do BRICS, no Palácio do Itamaraty, em Bra- sório concedido ao ativista pelo governo russo mobilizações e campanhas que sucederam o
sília, no último dia 16 de julho, do outro lado venceria em 15 dias, e o Brasil, cuja tradição escândalo, o Congresso brasileiro conseguiu
da Esplanada, no Ministério da Justiça (MJ), em conceder asilo é reconhecida internacio- aprovar o Marco Civil da Internet, um dos
representantes de mais de 70 organizações nalmente, ainda não havia se pronunciado so- textos mais avançados do mundo no que diz
nacionais e internacionais – entre elas o Fórum bre o pedido, encaminhado ao país há cerca respeito às garantias e direitos dos usuários
Nacional pela Democratização da Comunica- de um ano. na rede. A legislação, construída com partici-
ção (FNDC) – protocolavam uma carta en- Diretora no Brasil da Internet Sans Fron- pação social e defendida pelo governo com o
dereçada a ela cobrando um posicionamento tières, Florence Poznanski alegou que, desde apoio de organizações de defesa da liberdade
oficial do governo brasileiro sobre o pedido de que as revelações de Snowden vieram a públi- de expressão, tornou-se referência global.
asilo político feito pelo ativista norte-america- co, o Brasil tomou a frente no combate à es- “Agora, essas 70 entidades consideram que
no Edward Snowden. Em junho de 2013, Sno- pionagem ilegal norte-americana. A Presidenta o Brasil deve dar asilo à pessoa que desenca-
wden, ex-funcionário da Agência Nacional de Dilma Rousseff discursou na Organização das deou todo esse processo”, cobrou Florence.
Segurança (NSA) norte-americana, denunciou Nações Unidas (ONU) contra a prática, em
ao mundo a espionagem ilegal praticada pelos setembro de 2013, propondo novos termos Mistério burocrático
Estados Unidos contra governos e cidadãos de para o debate sobre a governança mundial da Na carta endereçada à Presidenta, as or-
vários países, incluindo a própria presidenta Internet. E, em desagravo à maior potência ganizações lembram que, durante o NETMun-

14 MÍDIAComDEMOCRACIA
Antônio Jacinto Índio
Com o passaporte suspenso, o ativista
chegou a ficar retido na área de trânsito do
aeroporto Sheremetyevo, em Moscou, por
quase um mês. De lá, encaminhou pedido de
asilo para 20 países, incluindo o Brasil. Rece-
beu retorno negativo da maioria. Acabou con-
seguindo um visto provisório para passar um
ano na Rússia, onde se encontra no momento.
No início de agosto, após o vencimento
da autorização temporária, em 31 de julho, a
imprensa internacional divulgou que a Rússia
concedeu agora a Snowden um visto de três
anos, que permitirá ao norte-americano tra-
balhar e, inclusive, viajar para fora do país. No
entanto, ameaçado de morte, Snowden vive
em endereço desconhecido até mesmo pelos
amigos mais próximos. E já manifestou reite-
radas vezes que preferiria viver no Brasil.
dial – Encontro Multissetorial Global Sobre o Acionados, via Lei de Acesso à Informa-
Futuro da Governança da Internet, realizado ção, pelas entidades que participam da cam-
no Brasil em abril deste ano, até mesmo o mi- panha em apoio ao asilo de Snowden, o Itama-
Direitos Humanos
nistro-chefe da Secretaria-Geral da Presidên- raty e o Ministério da Justiça reafirmaram as e soberania
cia da República, Gilberto Carvalho, reconhe- declarações dos ministros formalmente: nunca Membro da Comissão de Relações Exte-
ceu a importância do ativista norte-americano receberam um pedido oficial de Snowden – o riores, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP),
na nova discussão acerca da governança da que gera um mistério burocrático na questão. que participou da entrega à carta ao Minis-
internet. “Se não fosse nosso amigo Snowden O consenso entre as entidades é que, ainda tério da Justiça, avaliou que, além de ter tra-
e todo o processo desencadeado a partir da que o pedido de Snowden não tenha chegado dição em conceder asilo, o Brasil precisa de-
denúncia que ele fez, certamente não estarí- às autoridades brasileiras devido a algum erro fender sua soberania. “O governo brasileiro
amos aqui neste momento”, afirmou à época. de formalização, a questão agora é política. já deu uma resposta dura do ponto de vista
Contraditoriamente, a resposta do gover- Pela legislação brasileira, a concessão do das relações internacionais, mas ela precisa
no brasileiro ao pedido tem sido uma sucessão asilo a perseguidos políticos é prerrogativa do ter consequências concretas”, afirmou. Ele
de evasivas, ressaltaram as entidades. Os mi- Presidente da República. E Snowden atende ressaltou que o Congresso brasileiro apro-
nistros das Relações Exteriores, Luiz Alberto aos requisitos previstos na Declaração Uni- vou a ida de uma comissão de parlamentares
Figueiredo, e da Justiça, José Eduardo Cardo- versal dos Direitos Humanos, da qual o Bra- à Rússia para verificar as condições de vida
zo, têm declarado que o país jamais recebeu sil é signatário: após revelar ao mundo como de Snowden, além de interpelá-lo sobre o
um pedido de asilo formal do ativista, embora funciona o esquema secreto da espionagem pedido de asilo feito ao Brasil. “Só estamos
o próprio Snowden e seus interlocutores te- norte-americana, foi apontado como inimigo aguardando o aval da Embaixada da Rússia
nham reafirmado seu encaminhamento e já te- público número 1 pelo seu país. Washington, para embarcarmos”, disse.
nham se prontificado a corrigir eventuais erros inclusive, confirmou a intenção de processá-lo Seu colega de bancada, o deputado Chico
burocráticos que venham a ser apontados. por traição. Alencar (PSOL-RJ), acrescentou que a falta de
um posicionamento sobre o pedido é um ce-
nário muito ruim. Segundo ele, “há um amplo

Quem é Edward apoio popular à Snowden, que virou o herói


dos povos espionados”.

Snowden
Florence Poznanski também avaliou que a
concessão do asilo será uma medida altamen-
te popular para o Brasil. Segundo ela, além do
Ex-analista da CIA e da NSA, o norte-americano Edward apoio oficial das 70 entidades, a iniciativa ga-
Snowden se tornou conhecido internacionalmente em ju- nhou a simpatia de mais de um milhão de pes-
nho de 2013, quando decidiu denunciar a espionagem ilegal soas que, no início do ano, assinaram petição
praticada pelos Estados Unidos contra países e cidadãos do no site da Avaaz, um dos principais canais de
mundo todo. Ciente das represálias que viria a sofrer por re- mobilização social pela Internet do mundo. A
velar segredos de Estado espinhosos da potência mais influen- petição, entregue ao Itamaraty, afirmava que
te do mundo, contatou o jornalista inglês, radicado no Brasil, “como líder de um movimento global pela
Glenn Greenwald e, durante encontro em Hong Kong, repassou liberdade na Internet e pela privacidade, o
a ele os milhares de documentos comprobatórios. Brasil é o lar perfeito para um homem que sa-
De imediato, os Estados Unidos apresentaram uma denúncia formal contra ele crificou sua vida para divulgar a invasiva e ilegal
por vazamento de informações secretas, cancelaram seu passaporte e solicitaram espionagem dos EUA”.
sua extradição. No dia 23 de junho, Snowden embarcou em voo comercial de “Neste momento, este quadro de inde-
Hong Kong para Moscou. Acabou retido na área de trânsito do Aeroporto Inter- finição, somado a uma eventual negativa do
nacional Sheremetyevo, na capital russa, até 1º de agosto, quando conseguiu asilo governo brasileiro em acolhê-lo, pode afetar a
político provisório naquele país. Pelos serviços prestados à luta pelos direitos hu- própria credibilidade do país em relação a suas
manos e à defesa da soberania dos países, Snowden foi indicado ao Nobel da Paz e ações futuras no âmbito da governança da In-
recebeu vários outros prêmios internacionais. ternet. Seria lamentável”, concluiu a diretora
da Internet Sans Frontières.

MÍDIAComDEMOCRACIA 15
INTERNET

Expansão da banda larga


virá sem obrigações e com
prejuízo para a TVs públicas
Leilão da faixa de 700 MHz, que passará a ser usada leilão da faixa de 700 MHz é o desperdício de
uma grande oportunidade para estabelecer
para a tecnologia de Internet 4G, tem como objetivo prin- obrigações às prestadoras no sentido de am-
pliar a cobertura do serviço móvel, melhorar
cipal arrecadar recursos para o caixa do Tesouro Nacio- sua qualidade onde ele já seja oferecido ou
nal. Em função desta prioridade, ao contrário de leilões mesmo reduzir os preços dos pacotes de
banda larga móvel, em especial os de franquia
anteriores, quem sair vencedor na compra do espectro de dados mais elevadas”, critica a represen-
não terá obrigações de investimento em cobertura e quali- tante do Idec.

dade do serviço ofertado. Espaço para a expansão do sis- Interferência


tema público de televisão também não está garantido nos sinais de TV
Já engenheiros do setor apontam outro
Por Jonas Valente disponível em 700 MHz e as condições de problema no leilão, que deve ser sanado an-
propagação não são adequadas para a espe- tes da destinação da faixa de 700 MHz para a
Em outdoors e na TV, pipocam comer- rada supervelocidade do 4G. O que a Anatel Internet 4G: as interferências entre sinais dos
ciais de serviços da Internet com tecnologia pretende, de fato, é que as operadoras usem serviços de banda larga móvel e televisão que
4G. A nova geração da web móvel teve sua a mesma tecnologia no 4G, chamada LTE, que devem ocorrer enquanto a faixa for ocupada
implantação iniciada no Brasil com a licitação apresenta desempenho melhor do que o 3G, simultaneamente pelos dois tipos de comu-
da faixa de espectro de 2,5 GHz, em 2012. mas não o 4G em si”, rebate. nicação. Ainda não há uma definição clara da
Mas a aposta para a expansão dessa tecnologia Para além da divergência em relação ao Anatel acerca do cronograma geral para a
em todo o país está no leilão da faixa de 700 padrão tecnológico, especialistas apontam desocupação da faixa pelos canais de TV, que
MHz, atualmente ocupada pelos canais de TV que, por trás da suposta boa intenção da deve se dar de maneira gradativa até 2018.
52 a 68 do UHF. A Agência Nacional de Tele- expansão dos acessos à Internet no Brasil, “De acordo com especialistas, não foram
comunicações (Anatel) já finalizou a consulta está na verdade o objetivo de arrecadar re- realizados estudos suficientes que possam ga-
pública em torno da proposta de edital para cursos para o Tesouro com o leilão da faixa rantir que o rearranjo das frequências dos 700
o leilão, e acerta agora os últimos detalhes da de 700 MHz – algo que impacta a lógica e o MHz, hoje ocupadas pelos radiodifusores, não
iniciativa com o Tribunal de Contas da União. formato previsto para o leilão. A previsão é causará problemas técnicos de interferência
A previsão, divulgada até o fechamento desta que a venda destine mais de R$ 8 bilhões aos entre os serviços de telecomunicações e ra-
edição, era a de realização do leilão no mês de cofres públicos. diodifusão, o que reforça a precipitação do
setembro. “O leilão está seguindo viés claramente leilão”, alerta Flavia Lefévre.
Segundo a Anatel, a escolha da faixa de arrecadatório”, afirma a advogada Flavia Lefé- Durante a consulta pública e nas audiên-
700 MHz para a internet 4G segue padrões da vre, ex-integrante do Conselho Consultivo da cias realizadas pela Anatel para discutir o edi-
União Internacional de Telecomunicações: ela Anatel e representante do Instituto Proteste, tal do leilão e o regulamento de convivência
“permitirá ganhos de escala em equipamentos especializado em direito do consumidor. No dos dois serviços, este risco foi apresentado
de rede e terminais para usuários de serviços afã de obter receitas, sustenta a advogada, de forma enfática por representantes da As-
de telecomunicações, e possibilitará redução o governo se precipitou para vender a faixa, sociação Brasileira de Emissoras de Rádio e
de custos”. Segundo a proposta preliminar uma vez que mais de um terço dos municípios TV (Abert) e da Sociedade de Engenharia de
apresentada pela agência, a faixa será leiloada sequer são atendidos pela tecnologia da gera- Televisão (SET). Em maio deste ano, a SET
em 18 lotes, divididos em quatro áreas geo- ção anterior, a internet 3G. emitiu comunicado alertando que os testes
gráficas. Para Veridiana Alimonti, do Instituto Bra- feitos pela Anatel possuem falhas, que os me-
“Na faixa de 700 MHz, o atendimento sileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o canismos para evitar interferências previstos
é muito favorável para maiores áreas geo- foco na arrecadação financeira fez com que na resolução da agência são insuficientes e
gráficas, levando o serviço a áreas periféricas governo e Anatel deixassem de incluir novas que, em razão deste problema, milhões de
das cidades ou mesmo a cidades com menor obrigações de cobertura e qualidade do ser- telespectadores seriam obrigados a trocar as
densidade demográfica”, explica Edison Lima, viço ofertado aos vencedores do futuro leilão. antenas de seus equipamentos.
dirigente da Federação Interestadual dos Tra- Assim, quem levar os lotes poderá, inclusive,
balhadores em Telecomunicações (Fittel). usar a nova faixa dos 700 MHz para concluir as Prejuízo para
No entanto, para o engenheiro Takashi exigências de cobertura previstas na licitação emissoras públicas
Tome, especialista em telecomunicações, a anterior, da faixa de 2,5 GHz, que ocorreu há O prejuízo para as emissoras públicas, no
propaganda feita em torno da faixa dos 700 dois anos. entanto, pode ir muito além do impacto na
MHz não se sustenta. “A largura de banda “A inexistência de metas obrigatórias no qualidade do sinal de TV. Desde 2009, a por-

16 MÍDIAComDEMOCRACIA
à diretriz estabelecida no Artigo 223 da Cons-
tituição Federal, que determina a complemen-
taridade entre os sistemas público, privado e
estatal.
Em cidades onde não já não há canais dis-
poníveis, além da dificuldade de se encontrar
espaço para as emissoras já em operação, será
bloqueada qualquer possibilidade de expansão
da rede pública. Assim, inviabiliza-se o cresci-
mento da Rede Nacional de TV Pública e da
Rede Legislativa de TV, assim como a criação
de novos canais públicos e comunitários pre-
vistos no Decreto 5.820/2006, que implantou
a TV Digital no Brasil. “As emissoras que ainda
não estão em operação, mas que estão previs-
tas no decreto, sem dúvida enfrentarão dificul-
dades decorrentes da redução do espectro e a
consequente redução dos canais disponíveis”,
avalia Armando Bulcão, da Associação Brasilei-
ra de Televisão Universitária (ABTU).
“O maior prejuízo é o fato de não ter ha-
vido uma reserva de canais para as emissoras
públicas. Em dezenas de capitais, no interior
de São Paulo, no entorno de Belo Horizon-
te, por exemplo, o espectro está totalmente
tomado por emissoras comerciais. Não há
hipótese de canais para ‘novos entrantes’.
Ou seja, a janela de oportunidade que se
abriu com a adoção do padrão de TV digital
no Brasil já se fechou, e quem não entrou no
espectro agora não entra mais”, reforça Eve-
lin Maciel, da Associação Brasileira de Televi-
sões e Rádios Legislativas (Astral).
O presidente da Empresa Brasil de Co-
municação (EBC), Nelson Breve, lembra que
a expansão do 4G não resolverá o desafio do
acesso ao conhecimento e às tecnologias da
informação da população. Neste sentido, a TV
digital (em especial, funcionalidades como a in-
teratividade permitidas pela nova tecnologia)
deve ser explorada para beneficiar quem terá
dificuldades para adquirir um serviço de aces-
taria no 24 do Ministério das Comunicações “para o fim da fila” no processo de realoca- so à Internet.
reservou uma parte significativa da faixa dos ção, atrás até mesmo de serviços auxiliares “A prioridade da banda larga não pode
700 MHz para as emissoras públicas e estatais: de radiodifusão, que não envolvem a geração excluir a prioridade da comunicação pública,
os canais 60 a 68. Com a desocupação da fai- de conteúdo, como links entre antenas. Sem pois ainda há um segmento muito grande da
xa para a Internet 4G, todos os canais de TV espaço, algumas TVs públicas foram “empur- população que não terá acesso à banda larga
precisarão ser realocados em outra faixa do radas” a buscar uma solução na faixa do VHF, por muitos anos. E, se quisermos reduzir a
espectro. A promessa é que as emissoras re- atualmente usada pela TV aberta analógica, assimetria de acesso ao conhecimento, pre-
cebam outro canal e estrutura de transmissão mas ainda em teste para a transmissão do si- cisaremos pensar nas duas pontas: no avanço
semelhante à hoje instalada por elas. Este pro- nal digital. Foi o que aconteceu, por exemplo, tecnológico da banda larga e no avanço tecno-
cesso de migração e ressarcimento será feito com a TV Brasil em Campinas, cidade do in- lógico da radiodifusão”, afirma Breve.
por uma Entidade Administradora (EAD), e terior de São Paulo. Alice Campos, da Frente de Valorização
pago com os recursos arrecadados no leilão. “Não é uma mera mudança de espaço. das TVs do Campo Público (Frenavatec), lem-
Com eles, também serão adquiridos e forne- É um desmonte”, critica a jornalista Rita Frei- bra que são decisões políticas como esta que
cidos receptores de TV Digital para famílias re, vice-presidente do Conselho Curador da reforçam a condição marginal das emissoras
inscritas no cadastro de programas sociais do Empresa Brasil de Comunicação, responsável públicas e dificultam que esses veículos mos-
Governo Federal. pela TV Brasil, única emissora pública de al- trem seu potencial à população brasileira, e se
No entanto, como em diversas capitais cance nacional. constituam como alternativa cultural e esté-
e nas maiores cidades do país o espectro já Na avaliação do Fórum Nacional pela tica. “Se continuarmos assim, continuaremos
está congestionado, havendo dificuldades Democratização da Comunicação (FNDC), o com baixa audiência, conteúdos medíocres,
para encontrar espaço para novos canais, as tratamento dado às emissoras do campo pú- pouca acessibilidade para a população em ge-
emissoras do sistema público foram jogadas blico nessa proposta da Anatel vai de encontro ral”, destaca.

MÍDIAComDEMOCRACIA 17
DEMOCRATIZAÇÃO

País vai ganhar mais de 200


TVs públicas com Canal da
Cidadania

Previsto no decreto que definiu as regras para implantação da TV Digital no país, o Canal
da Cidadania vem para ampliar o espaço da comunicação pública nos municípios brasilei-
ros. A faixa pode ser usada para transmitir até quatro programações simultâneas e será
usada prioritariamente pelas TVs comunitárias
Por Mônica Mourão nição acabou reduzindo o espaço para a mul- mações simultaneamente (ver quadro sobre a
tiplicação de canais na TV aberta, o decreto multiprogramação): uma para o poder público
A esperança parece vir, finalmente, pelas 5820/2006 previu a criação, nos municípios, municipal, outra para o poder público estadual
antenas de TV. Ao menos no que diz respeito do Canal da Cidadania. e duas para a sociedade civil. Assim, as TVs co-
a iniciativas de ampliar a pluralidade de visões Destinado à transmissão de programa- munitárias, hoje restritas na maior parte das ci-
de mundo que circulam por esse meio de co- ções das comunidades locais, bem como à di- dades a quem tem acesso à TV por assinatura,
municação. Apesar das críticas do movimen- vulgação de atos, trabalhos, projetos, sessões poderão ser sintonizadas pela TV aberta. Da
to pela democratização da comunicação ao e eventos dos poderes públicos estadual e mu- mesma forma, novos canais públicos poderão
padrão de TV Digital escolhido para o Brasil, nicipal, o Canal da Cidadania poderá veicular, ser criados.
que, ao priorizar as transmissões em alta defi- com a digitalização do sinal, até quatro progra- Até o fechamento desta edição, segundo

18 MÍDIAComDEMOCRACIA
dados do governo federal, 202 municípios ha- tos que já se engajam nesta luta há um longo Indicação Legislativa da Câmara Municipal do
viam entrado com o pedido de autorização, tempo”, avalia Bruno Marinoni, doutor em Rio de Janeiro. A Lei do Orçamento para 2014
junto ao Ministério das Comunicações, para Sociologia e integrante do Intervozes, uma das também já destina recursos da Prefeitura para
instalar o Canal da Cidadania. O número de entidades que tem participado dos debates o canal e o conselho.
solicitações, no entanto, pode ser maior e sobre a criação do Canal da Cidadania no Rio A questão do financiamento, inclusive,
ainda crescer. “Isso porque várias prefeituras de Janeiro. é um dos principais desafios para o sucesso
fizeram a solicitação no dia 18 de junho, data Além do Rio, segundo o Ministério das das iniciativas de Canal da Cidadania. A imen-
limite para o envio de pedidos pelo poder pú- Comunicações, apenas duas outras capitais sa maioria das prefeituras que já solicitaram
blico municipal. A partir desta data, governos solicitaram autorização para o Canal da Ci- autorização para operar o canal é de peque-
estaduais e instituições vinculadas (como uni- dadania: Salvador e Distrito Federal. No caso no ou médio porte e pode ter dificuldades
versidades estaduais) também podem solicitar do DF, haverá apenas um canal para o poder para criar e manter as emissoras. A preocu-
o Canal para suas cidades”, explicou Arthur público e três para as TVs comunitárias. Em pação esteve presente entre vários dos cem
William, analista de Novos Negócios da As- Salvador, o pedido foi feito pelo Instituto de representantes do poder público municipal
sociação de Comunicação Educativa Roquete Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb). Uma que participaram dos cursos realizados pela
Pinto (Acerp), que tem oferecido cursos de portaria do Ministério autoriza que TVs edu- Acerp sobre o canal.
formação sobre o tema. cativas estaduais e municipais já em operação Segundo o engenheiro da Acerp, Luiz Mu-
Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, é possam passar a funcionar como o Canal da cio, o custo para a implantação do canal, in-
uma dessas cidades que ainda não consta na Cidadania local, sem prejuízo para transmissão cluindo equipamentos de transmissão e de es-
lista oficial do Ministério das Comunicações, das quatro faixas de multiprogramação. túdio, varia entre R$ 450 mil e R$ 1,6 milhão.
mas que já fez o seu pedido. “Depois da ar- “Imaginar que temas locais de todas as es- A manutenção mensal dependerá da realidade
ticulação e pressão dos movimentos de luta feras poderão ganhar protagonismo diário em de cada município, já que inclui o pagamento
pela democratização sobre o poder munici- entrevistas e debates será um salto quantitati- de pisos e acordos salariais locais.
pal, o prefeito Rodrigo Neves encaminhou a vo e qualitativo em relação ao que se pratica Algumas alternativas estão sendo pen-
solicitação do Canal da Cidadania no último hoje. O mesmo pode se dar no escoamento sadas para enfrentar tal dificuldade. O Banco
dia do prazo. Agora, estamos nos organizan- da produção audiovisual, que hoje não encon- Nacional de Desenvolvimento Econômico e
do para que o governo acelere a viabilização tra espaço em emissoras locais”, comemora Social (BNDES) possui uma linha de apoio à
da infraestrutura para o canal”, afirmou Rafael José Araripe, diretor geral do Irdeb. O edital implantação do Sistema Brasileiro de TV Di-
Duarte D’Oliveira, jornalista e integrante da para as faixas comunitárias do canal em Salva- gital, que pode ser acionada para a compra de
TV Comunitária de Niterói, que realizará um dor já está em curso e o Irdeb vai realizar en- equipamentos. Outra possibilidade é a veicula-
seminário para debater a ocupação popular do contros para explicar o processo e estimular a ção de apoio cultural, publicidade institucional
canal na cidade. inscrição das entidades. e patrocínio pelos novos canais.
Porém, assim como a maioria das TVs Por fim, a reunião de pequenos municí-
comunitárias do país, a niteroiense ainda não Oportunidade de pios de uma mesma região em torno de um
se adequou às regras exigidas para que possa participação social e operador de rede pode reduzir os gastos com
pleitear uma das faixas do Canal da Cidadania. desafiode financiamento a transmissão do sinal por meio do compar-
A portaria 489 de 2012, do Ministério das Co- Outra exigência do Ministério das Comu- tilhamento da infraestrutura de distribuição.
municações, estabelece, entre vários outros nicações é a instituição de um conselho local, Para Caio Leboutte, diretor de Negócios e
pontos, que as entidades associativas ou co- para zelar pelo cumprimento das finalidades Inovação da Acerp, do ponto de vista tecno-
munitárias interessadas deverão prever, em da programação, pela entidade autorizada a lógico e econômico, o regime de consórcio
seu Estatuto Social, a finalidade de programar explorar o canal. Para organizações do mo- de prefeituras dilui custos entre os agentes e
faixa do Canal da Cidadania. O estatuto da en- vimento pela democratização, é fundamental faz todo o sentido. “Respeitando as limitações
tidade também deve assegurar, como associa- aproveitar a oportunidade para incentivar a técnicas, a torre pode abrigar mais de uma an-
do, o ingresso gratuito de qualquer cidadão/ã criação de conselhos municipais de comuni- tena”, explica.
ou entidades associativas ou comunitárias à cação, com atribuição para discutir também As programações, contudo, devem ser
TV. E prever o limite máximo de quatro anos outras questões de relevância para as cidades municipais. “Esse é o único meio viável de
de mandato para sua diretoria. neste campo. comunicação para atender às necessidades
Ou seja, todas as TVs comunitárias que “Sempre defendemos a criação de conse- locais”, defende Salvador Carreiro, diretor de
já existiam antes da normatização do Canal lhos de comunicação democraticamente elei- operações da TVE Bahia.
da Cidadania precisarão passar por ajustes tos. Por que não fazer convergir as demandas
se quiserem concorrer a uma das duas vagas e instalar um órgão único, que possa ter uma
reservadas para a sociedade civil em cada compreensão ampla e global da pauta das po-
município. líticas de comunicação, incluindo a do funcio- Multiprogramação é a tecnolo-
No Rio de Janeiro, o objetivo de um con- namento do Canal da Cidadania?”, questiona gia que permite transmitir diferentes
junto de organizações da sociedade civil é ga- Marinoni. faixas de programação num mesmo
rantir que uma das faixas seja ocupada pela TV No Rio de Janeiro, o vereador Reimont canal de TV. Ao contrário da TV ana-
Comunitária que já existe, e a outra, por uma Santa Barbara (PT) apresentou à Mesa Direto- lógica, em que cada canal correspon-
entidade ainda a ser criada, já nos moldes pre- ra da Câmara proposta para que o Executivo de a uma faixa de programação, com
vistos na legislação do canal. crie o Conselho Municipal de Comunicação a compressão de dados, na TV digital,
“É importante favorecer um processo Social. Segundo a assessoria do vereador, a no mesmo espaço de um canal ante-
amplamente democrático que, por um lado, proposta, construída coletivamente por um rior é possível ter faixas distintas. É
englobe uma proposta ousada, inovadora, afi- grupo de trabalho formado por entidades que como se houvesse, por exemplo, TV
nada com o desafio de ter pela primeira vez integram a Frente Parlamentar pela Democra- Brasil 1, TV Brasil 2, TV Brasil 3 e TV
uma TV Comunitária em sinal aberto e, por tização da Comunicação e da Cultura, já foi Brasil 4 onde antes só havia TV Brasil.
outro, fortaleça e valorize aqueles movimen- encaminhada ao prefeito Eduardo Paes, como

MÍDIAComDEMOCRACIA 19
PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Movimento defende critérios


para escolha da representação
da sociedade no CCS
Conselho de Comunicação Social, órgão consultivo do Congresso Nacional, tem cinco
vagas para representação da sociedade civil. Assentos, no entanto, são ocupados por
nomes definidos pelo Parlamento, sem transparência ou critérios públicos. Processo de
renovação em curso pode repetir o problema.
Por Mayrá Lima profissionais do audiovisual); uma para um do Laboratório de Políticas de Comuni-
engenheiro com notórios conhecimentos na cação da Universidade de Brasília (UnB),
Uma nova gestão do Conselho de Co- área de comunicação social; e cinco para a Murilo César Ramos, a proposta original do
municação Social (CCS), órgão consultivo sociedade civil. Conselho de Comunicação Social foi espe-
do Congresso Nacional para temas relativos Com o processo de indicações cen- lhada no modelo estadunidense da Federal
ao setor, deve ser empossada em breve. tralizado nas mãos do presidente do Con- Communications Commission (FFC), órgão
No dia 6 de agosto, encerrou-se a terceira gresso, sem o estabelecimento de critérios regulador da área de telecomunicações e
gestão do CCS, e uma nova será indicada claros e transparentes para a representação radiodifusão dos Estados Unidos, criado
nos próximos meses pela Mesa Diretora do da sociedade civil, nas três gestões passadas ainda em 1934.
Congresso, submetida então à aprovação assentos do setor chegaram a ser ocupados “O CCS era para ser um órgão regula-
de deputados e senadores. por radiodifusores. É o caso, por exemplo, dor, com atribuições regulatórias e de fis-
Previsto na Constituição de 1988 e ins- de João Monteiro Filho, presidente da Rede calização, com funções de políticas públicas,
tituído pela Lei 8389 de 1991, o CCS é for- Vida de Televisão, que até agosto detinha mas com adaptações à sociedade brasileira.
mado por 13 representantes das empresas uma das vagas da sociedade civil. Enquanto Entre elas, a de trazer para dentro do Con-
de comunicação, dos trabalhadores do se- isso, setores sociais que lutam pela demo- selho uma maioria da sociedade civil não
tor e de entidades da sociedade civil. Três cratização da comunicação têm permaneci- vinculada ao governo ou ao empresariado”,
vagas são destinadas ao empresariado do fora do CCS. explica.
do rádio, televisão e imprensa escri- “Tem mais empresários no bloco da As atribuições do CCS estão des-
ta; quatro para os trabalhadores sociedade civil que realmente cidadãos e ci- critas na Constituição Federal. No
(jornalistas, radialistas, artistas e dadãs que não sejam empresários do setor entanto, o desprezo com o qual o
de mídia”, relata a deputada federal Luíza Conselho foi tratado pelo Po-
Erundina (PSB-SP), coordenadora da Frente der Legislativo e o bloqueio
Parlamentar pela Liberdade de Expressão e do empresariado da co-
o Direito à Comunicação com Participação
Popular (FrenteCom), que tem promovido
uma série de iniciativas para debater o fun-
cionamento do Conselho.
De acordo com o professor

20 MÍDIAComDEMOCRACIA
municação aos poderes que o órgão pode- blica que a FrenteCom promoveu sobre o des nacionais dá a essas indicações força po-
ria ter impactaram significativamente no seu Conselho no último dia 1º de julho. Na oca- lítica e qualidade para essa representação”.
funcionamento. sião, as entidades que integram a coordena- Em 2012, a FrenteCom também indicou no-
Orlando Guilhon, representante da As- ção da Frente Parlamentar apresentaram um mes para o CCS, mas nenhum deles figurou
sociação das Rádios Públicas do Brasil (Ar- documento que, além de trazer um diagnós- na lista votada naquele ano pelo Congresso.
pub) na Executiva do Fórum Nacional pela tico das limitações para o funcionamento do
Democratização da Comunicação (FNDC), CCS, apontam critérios que poderiam ser Desafio para a
lembra que o CCS passou anos em comple- utilizados pela Mesa do Congresso Nacional nova gestão
ta inoperância. “Apesar de regulamentado para formar a lista de conselheiros a ser sub- Durante a audiência pública, também foi
em 1991, ele só foi, de fato, implementado metida aos parlamentares. debatida a necessidade de criação, no âmbito
em 2002, pois os setores conservadores e Entre eles, possuir um histórico de do Congresso, de um grupo de trabalho, com
empresariais da mídia privada não queriam relação com a luta pela democratização representantes da sociedade civil, para pro-
que ele funcionasse”, lembra. da comunicação; representar instituições, mover a atualização da Lei nº 8389/1991 e do
“O empresariado só concordou com o meios comunitários, universitários, públi- regimento interno do Conselho. O objetivo,
funcionamento do Conselho como parte do cos e organizações atuantes no tema das além de dar transparência ao processo de in-
acordo feito com a esquerda no Congresso comunicações; e dialogar com movimentos dicação e nomeação dos conselheiros, seria o
Nacional, para alterar o artigo 222 da Cons- de diferentes áreas do conhecimento, como de garantir uma representação mais condizen-
tituição e permitir que até 30% do capital cultura, defesa do consumidor e academia. te com o novo cenário das comunicações no
das empresas de radiodifusão e jornalísticas Dialogando com esses critérios, a Fren- Brasil, a exemplo da destinação de uma vaga
pudesse ser estrangeiro”, acrescenta Murilo teCom fez indicações, encaminhadas ao para a comunicação pública no colegiado e da
Ramos. presidente do Congresso, Renan Calheiros representação de setores como Internet e te-
O órgão funcionou então até 2006, fi- (PMDB-AL), de nomes de possíveis repre- lecomunicações.
cando depois desativado até 2012. A última sentantes da sociedade civil na nova com- “A reestruturação do CCS é ponto funda-
gestão concentrou sua atuação na elabora- posição do Conselho. “Descobrimos que o mental. O sistema de comunicação no Brasil
ção de pareceres sobre projetos de lei em Congresso já estava fazendo consultas para sofreu impactos com as inovações tecnológi-
tramitação na Câmara e no Senado e deba- indicações para a renovação do órgão e que, cas e novas plataformas, que hoje estão na es-
teu temas como a violência contra profissio- novamente, esta consulta estava sendo feita trutura do sistema de comunicação, mas não
nais da comunicação, o leilão da faixa de 700 num universo limitado de cerca de 70 or- são expressas pelo Conselho”, avalia Erundina.
MHz para a tecnologia 4G da Internet e a ganizações, das quais 90% eram entidades Como agenda de atuação, os nomes
flexibilização da Voz do Brasil. patronais de comunicação”, afirma Guilhon. indicados pela FrenteCom se comprome-
Apesar das demandas apresentadas O FNDC deve agora dialogar com in- teram a estimular a reflexão do Conselho
pela sociedade civil, uma reformulação no tegrantes da Mesa do Congresso e líderes sobre temas considerados estratégicos para
processo de indicação dos representantes partidários para reforçar a importância da a sociedade civil. “Nos organizamos pra
da população brasileira não fez parte da presença de setores que defendem a demo- fazer a disputa política deste espaço pú-
agenda do CCS nos últimos dois anos. cratização das comunicações no Conselho. blico. Houve avanços, mas, de fato, o
A deputada Luiza Erundina explica por CCS continua se furtando a enfrentar
Mais transparência que a FrenteCom decidiu apresentar nomes o principal debate da atualidade: a
A ausência de critérios para renovação ao processo: “É preciso dar legitimidade a necessidade de um novo marco
da composição do CCS foi a principal quem se propõe a representar a sociedade regulatório para a comuni-
preocupação manifestada pelos civil. O fato de serem pessoas indicadas por cação em nosso país”,
participantes da audiência pú- uma Frente formada por mais de 50 entida- aponta Guilhon.

MÍDIAComDEMOCRACIA 21
OPINIÃO

A Copa, os 7 a 1 e o que a
mídia tem a ver com isso
Por Glauco Faria e Renato Rovai* especial levando-se em conta a queda contí- do mesmo da mídia tradicional: cobre-se o
nua de sua audiência. fato, faz-se a alusão política que interessa no
No dia 9 de julho, parte dos brasileiros Mas não foi só o grupo da família Mari- momento, mas não se discute ou mesmo se
acordou com uma sensação de ressaca que nho que lucrou. Mesmo quem não partilhou divulga aquilo que os movimentos ou mani-
não era necessariamente associada ao con- os direitos de transmissão adquiridos pela festantes pregam. O viés durante a Copa foi
sumo exagerado de álcool. Na véspera, a emissora na TV aberta, caso da Rede Ban- o mesmo de sempre, mas os questionamen-
seleção brasileira havia sofrido a pior derro- deirantes, teve a oportunidade de fazer pa- tos ficaram ainda mais submersos.
ta de sua história, um inapelável 7 a 1 para cotes para anunciantes vendendo cobertu-
a Alemanha, e a partir daquele momento a ras especiais em todos os meios. A Record, Globo, a dona da bola
mídia começava a discutir os possíveis efei- que não transmitiu o evento, anunciava ao Os interesses comerciais e o indis-
tos da derrota. Nascia o debate sobre o que mercado no início do ano cotas de patrocí- farçável corporativismo talvez justifiquem
fazer diante daquela tragédia esportiva, que nio no valor de R$ 47 milhões2. também a falta de debate sobre o papel da
apontava para uma evidente necessidade de Isso talvez explique também a pouca mídia no cenário do futebol, que seria um
mudanças no futebol brasileiro. ênfase dada aos protestos que ocorreram dos pontos fundamentais a ser tratado após
No entanto, boa parte do que se viu durante o Mundial, assim como às prisões o duelo contra a seleção alemã. Se os direi-
e ouviu foi uma continuação da cobertura arbitrárias e táticas repressivas utilizadas pe- tos de transmissão são um negócio obscuro
midiática que já vinha sendo feita antes e las polícias – o que, aliás, representa o mais para a Fifa na negociação do Mundial, não
durante a Copa do Mundo. Mesmo emisso-
ras de TV fechada que costumam ser críti-
cas oscilavam entre a construção de novos
“Barbosas” – no caso, o técnico Felipão,
seu auxiliar Carlos Alberto Parreira ou um
ou outro jogador. Ou centravam fogo na
avaliação do trabalho da Confederação Bra-
sileira de Futebol (CBF), sem dúvida uma
das maiores responsáveis pela situação algo
calamitosa do futebol nacional, construí-
da muito antes da goleada. Mas não se viu
uma reflexão fundamental: qual o papel dos
próprios meios de comunicação nessa quase
tragédia futebolística?
Por exemplo, não se sabe quanto a Glo-
bo lucrou de forma direta e indireta com o
Mundial. Estima-se que só com o dinheiro
vindo de patrocinadores, o faturamento te-
nha chegado a R$ 1,4 bilhão1. Nada mal, em

22 MÍDIAComDEMOCRACIA
mordial nas discussões sobre o que mudar

Fernando Frazão/ABr
no esporte daqui em diante.
Não deixa de ser irônico, por exem-
plo, ver comentaristas tecerem críticas à
situação fiscal dos clubes de futebol quan-
do todos sabem que a saúde financeira de
algumas emissoras e seus débitos com o
fisco não são exatamente exemplo de boa
gestão, vide o processo da Receita Federal
contra a Globo, em decorrência justamen-
te de possível sonegação na compra dos
direitos de transmissão relativos à Copa de
20025, assunto ignorado pela mídia tradi-
cional. E, nesse caso, não é só o corporati-
vismo que explica.
Quem sabe um dos legados da Copa
Protestos durante a Copa: assim como as prisões arbitrárias e as táticas repressivas utilizadas pelas não seja uma reflexão de diversos setores
polícias, manifestações tiveram cobertura superficial e parcial dos grandes meios de comunicação a respeito do papel da mídia na organiza-
ção do nosso futebol, mas não só dele. De
são mais transparentes quando voltamos os esporte mais popular do Brasil, seguem-se como a concentração midiática tem feito
olhos para o nosso quintal. Jornalistas espor- outras mazelas. A transmissão excessiva de muito mal ao desenvolvimento de várias
tivos sérios garantem que a CBF ganha, pro- jogos de clubes mais populares, em especial áreas no país.
porcionalmente, mais do que os clubes. Mas Flamengo e Corinthians, para a maioria das A responsabilidade pelos 7 a 1 também
quanto ganha a Globo, por exemplo? praças, contribuiu para a desvalorização do é da Globo e de outras emissoras que se
E a bem da verdade, não só ela, ainda futebol como um todo e, embora possa pa- associam às suas práticas. Como também
que seja a principal detentora dos direitos recer que seja mais benéfico para ambos, muito das nossas carências na área de cul-
de transmissão dos principais torneios do o que geraria vantagens desportivas mais tura, entretenimento, educação etc. Um
Brasil. No total, são sete emissoras que divi- adiante, trata-se de um jogo em que todos modelo menos concentrador e mais demo-
dem tais direitos nas principais competições perdem, porque o esporte em si se desgasta crático na comunicação seria muito bem-
nacionais, a maior parte delas na TV fecha- e cansa o telespectador. vindo para o país como um todo. Também
da3 . Assim, é de se esperar que o debate Um exemplo é que foi justamente a para o futebol.
sobre a participação da televisão no futebol transmissão de uma partida do Corinthians
seja mais restrito nesses canais, mas impres- contra o Coritiba, no dia 3 de agosto, a pior
siona a falta da discussão em outros meios audiência da emissora em jogos do campe- 1
www.fndc.org.br/noticias/fndc-divulga-panfle-
como a mídia impressa e a internet. onato brasileiro em 20144. O que parece to-sobre-copa-e-midia-924418/
Quando houve uma disputa entre Glo- bom a curto prazo não se sustenta ao longo 2
http://www.meioemensagem.com.br/home/mi-
bo e Record pela transmissão do campeo- do tempo.
dia/noticias/2014/03/11/Record-sem-Copa-mas-
nato brasileiro, em 2011, com uma oferta Outro fato que prejudica o fute- -com-plano.html
muito mais generosa do grupo de Edir Ma- bol mesmo como produto, mas também
cedo para o Clube dos Treze, associação como patrimônio cultural, é a forma como
3
http://trivela.uol.com.br/veja-quem-tem-os-di-
reitos-de-transmissao-dos-principais-torneios-
dos principais times do Brasil que gerenciava os direitos de transmissão são distribuídos
-de-futebol/
a venda de direitos de transmissão, um ce- entre os clubes. Se a estrutura entre os
nário de dependência financeira do futebol doze maiores permaneceu quase inaltera-
4
http://maquinadoesporte.uol.com.br/artigo/
brasileiro se desnudou. O duelo entre as da proporcionalmente mesmo com o fim com-corinthians-campeonato-brasileiro-amarga-
-sua-pior-audiencia-em-2014_26899.html
duas gigantes fez não só com que o Clube do Clube dos Treze, tendo aumentado de
dos Treze se desmanchasse como também forma geral a receita para todos, o fosso
5
http://www.revistaforum.com.br/blogdoro-
aumentou o poder da Vênus Platinada sobre entre estes e os demais times do país se vai/2014/07/16/sonegacao-da-globo/
o mundo da bola. amplia. Sem introduzir o mérito técnico
Naquele momento, já era possível per- (ou seja, o desempenho de uma equipe
ceber que o poder da emissora para causar em uma competição) como fator que in-
tal mudança advinha dos seus cofres. Mesmo fluencie a distribuição desses recursos, à
que quisessem, alguns clubes não poderiam semelhança do que acontece em ligas de
sair debaixo de suas asas porque a Globo outros países, os clubes menores ficam à
tem por hábito adiantar o valor de cotas de míngua, tornando-se menos competitivos
direitos de transmissão de anos vindouros. e servindo muitas vezes de “barriga de
Ou seja, algumas equipes devem para a Glo- aluguel” de empresários. O próprio sen-
bo até 2016 ou mais. É algo bastante similar tido de competição é esvaziado pela força
a outro hábito monopolista da emissora, o do dinheiro.
BV (Bonificação por Volume) que é pago às É essa discussão sobre a relação entre
agências de publicidade e que faz com que poderosos meios de comunicação e a in- Glauco Faria é Renato Rovai
os recursos do mercado publicitário se con- capacidade de fazer uma autocrítica de sua jornalista formado é professor da
centrem nas mãos de poucos. Ou seja, uma participação no caos do futebol escancarado pela ECA-USP e Faculdade Cásper
forma de corrupção legalizada. nos 7 a 1 que não ocorreu durante a Copa – editor executivo Líbero, doutorando
Dessa ingerência quase que absoluta no e que ainda não aparece como questão pri- da Revista Fórum. pela UFABC e editor
da Revista

MÍDIAComDEMOCRACIA 23
COMUNICAÇÃO PÚBLICA

Fórum Brasil de Comunicação


Pública deve rearticular
politicamente o setor
Encontro acontece em novembro e, além de debater os principais desafios da conjuntura
para as emissoras do campo público de comunicação, também pretende ser um espaço
para a rearticulação política entre as entidades representativas do setor e organizações
da sociedade civil.
Por Jonas Valente ciedade civil da área da comunicação e com segmento da comunicação pública, das rádios,
entidades representativas das emissoras do TVs e novas mídias, no âmbito dos meios esta-
No final de 2006, emissoras do campo pú- campo público em sua coordenação. Assim, tais, educativos, universitários e comunitários,
blico de televisão e o Ministério da Cultura, na no âmbito da FrenteCom, está sendo organi- para que a política seja definida de forma am-
época comandado por Gilberto Gil, tiveram a zado o Fórum Brasil de Comunicação Pública, pla”, destaca. “Será um momento importante
iniciativa de promover uma série de debates que será realizado em novembro, em Brasília. para a articulação da sociedade civil no campo
sobre como fortalecer o setor. Começou, as- A iniciativa tem como objetivo fomentar da comunicação pública”, reforça Rita Freire,
sim, a construção do I Fórum Nacional de TVs a discussão acerca dos temas centrais para o jornalista responsável pela Ciranda Interna-
Públicas. As organizações representativas da campo e, a partir das demandas de cada seg- cional da Comunicação Compartilhada e vice-
área haviam acabado de passar pela dura dis- mento, construir uma agenda unitária com -presidente do Conselho Curador da EBC.
puta da definição do padrão de TV Digital para propostas de políticas públicas e regulação Na avaliação de Evelin Maciel, da TV Câ-
o Brasil, que acabou beneficiando os radiodi- para fortalecer o setor. Além de reunir os mara e representante da Associação Brasileira
fusores comerciais e desperdiçando oportu- diversos atores envolvidos e interessados na de Televisões e Rádios Legislativas (Astral) na
nidades para impulsionar as mídias públicas. comunicação pública, o Fórum contará com organização do Fórum, o evento também será
Após meses de debates em grupos de traba- presença dos mais variados agentes públicos uma oportunidade de apresentar a autorida-
lho e uma etapa nacional realizada em maio de que têm relação com este debate, como os des e à sociedade os problemas enfrentados
2007, o Fórum se mostrou um espaço funda- governos federal, estaduais e municipais, os pelo campo, para engajá-los no apoio a esta
mental para alinhar uma agenda para o campo legislativos federal, estaduais e municipais e as pauta. “Será um momento de reflexão sobre a
e fortalecer a luta pela criação de “uma nova agências reguladoras. fragilidade atual das emissoras públicas e a ne-
TV pública” no país. Resultou deste processo Para Alice Campos, da Frente Nacional cessidade de se conquistar aliados para a sua
a criação da Empresa Brasil de Comunicação pela Valorização das TVs do Campo Público própria existência”, avalia.
(EBC) e da TV Brasil, primeira emissora públi- (Frenavatec), o Fórum já é um marco por A data para a realização do Fórum não foi
ca de televisão de alcance nacional. abranger todos os atores do setor. “Pela pri- escolhida por acaso. Durante o encontro em
Naquele mesmo ano, as rádios públicas meira vez, estamos unificando a agenda do Brasília, um documento com propostas de po-
também realizaram seu fórum nacional. E, em FNDC
2009, uma nova edição do Fórum de TVs Pú-
blicas debateu como ir além da EBC e fortale-
cer a comunicação pública como um todo. As
resoluções do encontro apontaram para a ne-
cessidade de uma regulamentação integral do
setor, de um modelo de financiamento mais
robusto e de mais apoio para a produção de
conteúdos de qualidade. Em 2012, um semi-
nário internacional sobre a regulamentação do
campo público apontou, entre suas recomen-
dações, a importância de se realizar um novo
espaço de reunião dos veículos e atores envol-
vidos no setor, agregando, desta vez, rádios e
TVs, e também o conjunto de organizações da
sociedade civil interessadas no tema.
A tarefa foi abraçada então pela Frente
Parlamentar pela Liberdade de Expressão e
o Direito à Comunicação com Participação
Popular (FrenteCom) da Câmara dos De-
putados, que conta com organizações da so-

24 MÍDIAComDEMOCRACIA
Rodolfo Stuckert/Câmara dos Deputados

Seminário Internacional sobre Regulação do Campo Público, em 2006: dis-


cussões na Câmara dos Deputados recomendaram realização de um novo
encontro nacional para articular os mais diferentes setores interessados
no fortalecimento da comunicação pública no país.

líticas públicas para o fortalecimento do cam- toricamente, não tem nas políticas de comuni- Frenavatec.
po será entregue à candidatura vencedora das cação um de seus assuntos centrais. Para que o campo público possa cumprir
eleições presidenciais. Os organizadores espe- “Com os fóruns preparatórios, estamos esse objetivo, é preciso garantir a autonomia
ram, com isso, iniciar um processo de diálogo amadurecendo o debate sobre diferentes as- política e editorial de suas emissoras. “Este é
constante com a futura gestão do Executivo pectos do sistema público de comunicação no um bem social, que não pode ter dono, por-
Federal, de forma a garantir uma maior parti- Brasil. E agora pretendemos contar com os que sua função, além do fomento à produção
cipação social e dos representantes diretos das candidatos para discutir com eles essa ques- jornalística e audiovisual, tem como perspec-
emissoras do campo público na formulação e tão”, explica a deputada Luiza Erundina (PSB- tiva a garantia de um espaço plural e indepen-
implementação de iniciativas que ampliem e -SP), coordenadora da FrenteCom. dente, que não seja refém de uma gestão, de
consolidem esta forma de comunicação no condições do mercado ou de políticas locais”,
país. Afinal, apesar de a Constituição Federal Temas em debate destaca Alice.
de 1988 prever que o sistema de comunicação Como dito, a Constituição Federal prevê, Tal autonomia presume a regulamenta-
no Brasil deve ser formado pela complemen- em seu Artigo 223, que as emissoras de rádio ção do Artigo 223 da Constituição, efetivada
taridade entre os sistemas público, privado e e TV se dividam em três sistemas: privado, pú- apenas parcialmente com a criação da EBC. O
estatal, a mídia brasileira hoje é dominada pe- blico e estatal. No entanto, o sistema privado, restante do campo segue com regras precá-
las empresas comerciais com fins lucrativos. na sua modalidade com fins lucrativos, possui rias de funcionamento, que em geral colocam
Para qualificar a discussão até novembro, número de emissoras muito maior, 90% dos a gestão dos veículos como refém da admi-
as entidades responsáveis pela organização recursos disponibilizados para financiamento nistração local e sem estrutura suficiente para
do Fórum lançaram etapas preparatórias de e, historicamente, vem sendo privilegiado pelo produzir conteúdo de qualidade, que possa se
debate, chamadas de Pré-Fóruns. O primeiro poder público em termos das políticas desen- constituir como alternativa real aos meios co-
ocorreu em abril deste ano, em Brasília, fo- volvidas no âmbito do Executivo. Já os siste- merciais junto à população.
cado no tema da digitalização do rádio e da mas público e estatal contam com quantidade Tudo isso não se faz sem recursos. “Não
TV. Um dos assuntos debatidos foi o impacto, muito inferior de veículos, volume menor ain- se pode querer produzir programação de qua-
para os canais públicos, do leilão da faixa de da de recursos e sempre foram marginalizadas lidade, com profissionalismo e tecnologia, sem
700 MHz do espectro para a prestação de ser- nas decisões de legisladores e governos. um aporte que a viabilize”, explica Rogério
viços de banda larga móvel por meio da tecno- O Fórum abordará a importância de se Oliveira, vice-presidente do Conselho Federal
logia 4G. A iniciativa do leilão se insere dentro reconhecer o papel central do campo pú- de Psicologia (CFP) e integrante da Executiva
do processo de digitalização da televisão no blico midiático para a democracia brasileira. do Fórum Nacional pela Democratização da
país (veja reportagem específica sobre o tema “O Estado Democrático de Direito deve ser Comunicação (FNDC).
nesta edição). construído na pluralidade. Não é possível pen- Para Rita Freire, o modelo de financia-
O segundo Pré-Fórum, previsto para se- sar qualquer espaço público sem participação mento do campo público é uma das priorida-
tembro, promoverá um debate entre as can- social. E a comunicação pública é a garantia des a ser debatida no Fórum. Em especial, o
didaturas à Presidência da República sobre as real da valorização das diversas vozes e da encontro deve discutir o que será feito com
comunicações no Brasil. O objetivo é pautar promoção dos direitos do cidadão na socie- os recursos da Contribuição para o Fomento
este tema na campanha presidencial, que, his- dade brasileira”, argumenta Alice Campos, da à Radiodifusão Pública, prevista na lei de cria-

MÍDIAComDEMOCRACIA 25
Viola Jr/Câmara dos Deputados Agencia Brasil

Deputada Luiza
Erundina,
coordenadora
da FrenteCom

Conselho Curador da EBC: tema de debate

ção da EBC. Trata-se de uma taxa cobrada das alguma reserva de canais, de TV e rádio, para de ser incentivado, enfrenta inúmeros obs-
operadoras de telecomunicações como forma emissoras públicas neste processo de digita- táculos para se estabelecer. No caso das rá-
de financiar meios públicos, mas que não vinha lização”, defende. dios, a demora na autorização das outorgas
sendo repassada ao Estado em função de um Outro problema é como será montada a deixa um universo enorme de emissoras sem
questionamento das empresas privadas sobre infraestrutura de transmissão no sinal digital. condições de funcionar, enquanto a Anatel
a cobrança na Justiça. Atualmente, a quase totalidade das antenas faz uma fiscalização violenta e fecha aquelas
A partir de 2013, algumas operadoras é analógica, e o custo da transição é grande. não possuem esta licença.
aceitaram o pagamento e o montante a ser Luiza Erundina lembra do projeto de implan- “O marco legal desses veículos está ab-
recolhido chegou a cerca de R$ 500 milhões. tação de uma estrutura compartilhada de solutamente obsoleto. Além da demora nas
O governo federal tem usado parte deste transmissão digital entre os canais públicos, autorizações, o limite para o alcance de si-
recurso para financiar o funcionamento da chamada de operador de rede. Ela precisa nal e para a potência das comunitárias, por
EBC, substituindo receitas do Tesouro an- ser retomada, acredita a parlamentar. “O exemplo, são dois aspectos que precisam
teriormente previstas no orçamento da em- operador de rede é providência indispensá- mudar”, destaca Erundina. A Lei 9.612/1998
presa pública. Além da defesa de que estes vel. Em uma audiência na Câmara dos Depu- determina que as rádios comunitárias só po-
recursos sejam tratados como acréscimo tados, o ministro das Comunicações, Paulo dem transmitir programação num raio de
ao orçamento inicial da EBC, como meio Bernardo, chegou a afirmar que o leilão da um quilômetro de alcance e seu transmissor
de fortalecer as emissoras geridas pela em- faixa de 700 MHz geraria recursos para fi- não pode ultrapassar 25 Watts de potência.
presa, o Fórum deve discutir uma proposta nanciar a implantação do operador de rede Na avaliação da parlamentar paulista, a
de regulamentação para a Contribuição, que digital do campo público. Mas isso ficou só questão do financiamento dos canais comu-
não deve ser destinada integralmente, como na afirmação teórica e verbal, sem nenhuma nitários também é um gargalo. “Se não há
ocorre hoje, somente para a Empresa Bra- consequência”, lamentou. condições de ter receitas com publicidade,
sil de Comunicação, devendo ser revertida A EBC vem tentando sensibilizar o go- também proibidas pela lei, como é que as
também a outros veículos do campo público. verno federal para a relevância da instalação estações vão sobreviver?”, questiona.
desta estrutura, destacando que as emisso- Everaldo Monteiro, diretor da Fede-
Digitalização ras públicas podem explorar o potencial da ração dos Trabalhadores em Empresas de
Outra preocupação a ser tratada no TV Digital para prestar serviços de governo Rádio e TV (Fitert), defende que o Fórum
Fórum é como garantir o reconhecimento eletrônico. Um projeto neste sentido, intitu- também deva se preocupar com as emisso-
dado à importância do sistema público pela lado Brasil 4D, foi testado com algumas cen- ras estaduais, como forma de desconcentrar
Constituição Federal assegurando condi- tenas de famílias no país. “Mas, infelizmente, a produção audiovisual brasileira, localizada
ções de entrada dessas emissoras no novo até agora não conseguimos o eco necessário nos grandes centros. “Temos um foco muito
cenário de comunicação digital. É algo que dentro do governo para que ele ganhe larga grande na esfera federal, mas é preciso olhar
envolve, em primeiro lugar, a garantia de escala”, explica Nelson Breve, presidente da os estados. A produção audiovisual está pre-
canais e infraestrutura de transmissão digital EBC. sa às grandes redes no Rio de Janeiro e em
para o campo. Apesar da falta de perspectiva de um São Paulo e, de forma miúda, em algumas
“Com o leilão da faixa de 700 MHz, as projeto para a instalação da infraestrutura de regiões como o Distrito Federal, a Bahia e
TVs públicas estão correndo o risco de per- transmissão, Breve acredita que é possível o Ceará. Só que as emissoras públicas têm
der o espaço – já pequeno – que ocupam. É garantir a difusão por meio de empresas que a responsabilidade de traduzir a diversidade
uma discussão travestida de técnica, oculta- prestam o serviço de distribuição de sinal de da sociedade”, pondera.
da pelos meios de comunicação em função televisão. “O melhor modelo seria o setor Para fomentar tal descentralização,
dos interesses que estes mesmos meios público fazer uma licitação e se integrar a apoiar as emissoras estaduais e fiscalizar o
têm em interditá-la, mas que interessa ao isso”, afirma. que é acontece nos estados, Monteiro pro-
povo brasileiro, e não apenas a um punhado põe a implantação de conselhos de comuni-
de empresas de telecomunicações”, criti- Comunicação comunitária cação estaduais e também de conselhos nas
ca Rogério Oliveira, do CFP. Evelin Maciel e veículos estaduais emissoras públicas. “Os conselhos seriam
acredita que o Fórum deve formular uma Há ainda uma demanda de que o Fórum um espaço fundamental das cobranças e
saída para essa questão. “Espero que do Brasil de Comunicação Pública direcione construção deste projeto”, completa. Mais
evento saia um Projeto de Lei ou Proposta uma atenção específica à comunicação co- um tema para o Fórum Brasil de Comunica-
de Emenda à Constituição para garantirmos munitária, segmento do setor que, em vez ção Pública se debruçar em novembro.

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