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A LUTA PELO DIREITO À EDUCAÇÃO FEMININA E A INSERÇÃO DA MULHER NO

MAGISTÉRIO

SANTANNA, Adriene. Aluna da graduação em Pedagogia UNESP/FCT.


adriene.santanna@yahoo.com

O objetivo deste artigo é possibilitar a reflexão, ou fazer a provocação entre os temas


Educação e Feminismo. Qual é o vinculo? Em quais momentos da história esses temas se cruzam?
E por quê? Quais as conseqüências? Por que há a feminização do magistério? O que houve com os
homens que inicialmente exerciam essa profissão? Qual é a relação entre educação, mulher e
direitos humanos?
O que vemos é a história contada pela perspectiva masculina, uma vez que os homens
detinham o conhecimento e, conseqüentemente, o poder para elaborarem a trajetória da história.
Wallter Benjamim já afirmava que era necessário conhecer o posicionamento das minorias, ou seja,
aqueles que há séculos foram excluídos dos escritos oficiais.
A história tradicional, escrita pelos homens, renegou a participação das minorias em sua
formulação, excluindo escravos, negros, pobres e mulheres. Estas escreveram e fizeram parte da
trajetória social de diversos países. Contudo, pouca importância foi dada àquelas que lutaram por
uma sociedade mais justa, pelo desenvolvimento do país e pelo direito de serem tratadas, educadas
e instruídas como seus companheiros e filhos. Como afirma Santos (2008, p. 11): “A história
do mundo pode ser considerada a história da discriminação contra a mulher”.
Por fazer parte da categoria que advém do discurso português, denominada “imbecilitus
sexus” ou seja, sexo imbecil, tolo e frágil, do qual participavam além das mulheres, as crianças e
deficientes físicos e mentais, era vedado às mulheres brasileiras o estudo, pois afetaria sua frágil
constituição e comprometeria sua futura prole.
No Brasil Colônia eram discursados versos contrários à instrução feminina e favoráveis à
superioridade masculina: Ribeiro (1997, p. 2) relata alguns desses versos: "mulher que sabe muito é
mulher atrapalhada, para ser mãe de família, saiba pouco ou saiba nada.’’ e “[...]a mulher honrada
deve ser sempre calada”.
Além do discurso religioso, do final do século XIX, ter afirmado que a mulher deveria
possuir os predicados de Maria de Nazaré, sendo doce, pura e casta, Souza (2008) ainda afirma que
o discurso médico corroborava a submissão e inferioridade feminina. Os médicos tentavam explicar
a necessidade do julgo da mulher ao homem, com o discurso de inferioridade orgânica.
o sistema nervoso (da mulher) muito mais delicado, é envolvido por um tecido
cellular mais humido e frouxo ... é assim que vemos, a doçura a indulgência e a
submissão, serem as virtudes essenciais deste bello e primoroso filho de Deus:
sempre e sempre a intenção do Creador se revelando na organização, nos
instinctos, pensamentos e sentimento da mulher (RIBEIRO 2006, p. 58 APUD
SOUZA, 2008, p. 33)

Grandes filósofos esclareceram a verdadeira função da mulher no seio social, veiculando


preceitos pejorativos e imagens que a desqualifica, e “[...] delimitam seu lugar no mundo, suas
possibilidades e as práticas às quais ela deve se restringir”. (SWAIN, 2001, p. 69). Swain (2001, p.
69) apresenta alguns discursos filosóficos.

Montaigne (Apud Groult, 1993: 83): “A mais útil e honrada ciência e ocupação
para mulher é a ciência da limpeza”; Diderot (apud Groult, 1993: 89): “A mulher
tem em seu interior um órgão suscetível de espasmos terríveis que dela dispõem e
suscitam em sua imaginação fantasmas de toda espécie”; Schopenhauer (apud
Groult, 1993: 93) “Não deveria existir no mundo senão mulheres de interior,
dedicadas à casa, e jovens aspirando a isto e que formaríamos não à arrogância,
mas ao trabalho e à submissão”.E ainda: “A mulher (...) permanece toda sua vida
uma criança grande, uma espécie de intermediária entre a criança e o homem, este
o verdadeiro ser humano” (...) Nietzsche (apud Groult, 1993: 102):” O homem
inteligente deve considerar a mulher como uma propriedade, um bem conservado
sob chave, um ser feito para a domesticidade e que só chega ä sua perfeição em
situação subalterna”.

Assim, a construção de um ideário de inferioridade biológica e intelectual, pautado na


diferença sexual entre homens e mulheres, possui como alicerces afirmações de cunho religioso,
histórico-filosófico e clínico. Dessa forma, torna-se natural a sujeição feminina e sua ausência nas
decisões tanto no espaço privado quanto público. Como afirma Swain (2001, p. 69)

[...] no Ocidente as representações das mulheres vêm sendo diabolizadas ou


santificadas [...] Assim, a sedução perversa, a inferioridade física e social, a
incapacidade intelectual, a dependência de seu corpo e de seu sexo, a passividade
vêm sendo reafirmada em imagens e palavras que povoam o imaginário social.

A mesma autora assegura que atualmente há um discurso médico que reafirma a


inferioridade da natureza feminina. A TPM (tensão pré-menstrual) e a menopausa são exemplos
constituintes dessa condição. A autora (2001, p. 70) acrescenta a seguinte questão: “como se pode
confiar no julgamento, na palavra e no raciocínio de um ser subjugado periodicamente por
nervosismo ou calores?” A partir disso pergunto: Não seria essa visão, presente na sociedade atual,
um dos fatores responsáveis pela posição inferior das mulheres no mercado de trabalho?
Na história, a mulher foi vista ora como pecadora, sedutora e perversa a qual era capaz de
retirar a inocência de diversos homens, e ora como doce, pura, benevolente, que deveria sentir-se
honrada em servir a família, preservando e defendendo “[...] os valores sociais na educação dos
filhos e em sua atividade domestica exemplar” (COBRA, 2005, p. 2).
O positivismo proporcionou a consolidação das concepções de masculino e feminino. Ao
homem, cabia o espaço público, o poder diretivo, proteção, e provento das necessidades de sua
família. Já à mulher, cabia a educação dos filhos, os cuidados com o marido e o espaço privado. A
mulher no início do século XX era concebida pelo ideário positivista burguês como “a rainha do ar”
o “anjo tutelar”.
A missão da mulher era, então formar o caráter do homem, educar as virtudes de seus filhos,
sendo esse papel de mãe civilizadora o suficiente para torna-se a rainha absoluta. (ABRANDES,
2006, p. 7)
Para tanto, a educação feminina se resguardava aos limites domésticos isto é, bordar, coser,
tocar piano, etc. O conhecimento das necessidades dos filhos e marido era o suficiente e, para tal a
participação da mulher na vida política seria desnecessária, uma vez que esse mundo poderia
desvirtuar sua moral.
Quando pensamos em direitos humanos, vemos que foi negado às mulheres muitos direitos,
como a educação, a liberdade básica de todo os indivíduos. Como vemos, muito antes da
constituição da Declaração Universal dos Direitos Humanos havia o desrespeito a liberdade de
pensamento de grandes mulheres, que lutaram para serem ativas na sociedade, mas foram barradas
pela ignorância e o machismo preponderante em nossa sociedade, tanto antiga, quanto
contemporânea.
Contudo, com o desenvolvimento tecnológico, o avanço do capitalismo e as pretensões
brasileiras de progresso exigiram a formação e capacitação da população para o desenvolvimento
sócio-econômico, e para tal a educação tornou-se fundamental. A mulher passa a ser vista, segundo
o ideário republicano, como formadora de pessoas. Assim, a visão da mulher inculta e ignorante é
substituída pela mulher educada que “[...] era o esteio da família, o alicerce da pátria, reprodutora
das raças e formadora de futuros cidadãos [...]” (ALMEIDA, 2000, p. 6).
Ao final do século XIX e início do século XX, juntamente com o avanço da urbanização e
maior inserção da mulher no mercado de trabalho, surgem os movimentos feministas sufragistas,
defensores da maior participação feminina na vida pública, exigindo além do direito ao voto, a
educação, a profissionalização e a igualdade.
O movimento feminista tinha como carro-chefe, além do sufrágio universal o acesso à
educação. Mais do que o voto, a educação possibilitou que as mulheres reconhecessem a opressão
que atingiu inúmeras gerações e quebrassem os grilhões da dominação masculina, e com isso,
ocupassem os espaços públicos.
Para as feministas, tanto inglesas como brasileiras, a educação era a forma de conscientizar
as mulheres da subjugação masculina. Esse era o caminho para a liberdade e autonomia, uma vez
que estariam preparadas para o mercado de trabalho. Essa profissionalização, por elas exigidas,
promoveria uma independência financeira e assim, a possibilidade de saírem do julgo dos maridos.
Como explicita Almeida (2001, p. 7): “Através da educação, alcançariam, a liberdade, os direitos
sociais e políticos, a profissionalização e até o poder econômico que proporcionaria uma relativa
autonomia.”
Assim, vemos que a educação, além do direito ao voto, tornou-se uma referência para os
movimentos feministas de todo o mundo, pois, como afirma Almeida (2001, p. 06)
Para as feministas somente através da conscientização, proporcionada pelo conhecimento da
opressão e dominação a que eram submetidas, poderiam organizar-se, resistir e lutar para escaparem
do julgo masculino e das regras sociais injustas.
Contudo, os movimentos feministas inglesas e norte-americanas se diferenciaram dos
portugueses e brasileiros, uma vez que as primeiras realizavam grandes movimentações em busca
da participação feminina nos espaços públicos através do voto. Como informa Almeida (2000, p. 6):
“As feministas inglesas e norte-americanas promoveram verdadeiras batalhas urbanas pela
conquista do voto. O mesmo não ocorreu, por exemplo, com as portuguesas e brasileiras que
adotariam um discurso emancipatório ameno [...]”. O direito ao voto feminino no Brasil só ocorreu
na década de 30, apesar deste projeto ter sido discutido no final do século XIX.
As brasileiras alinharam seus discursos ao ideário republicano, no qual a mulher deveria ser
instruída para a formação de cidadãos responsáveis pelo desenvolvimento nacional. Assim, ao
contrário dos confrontos ingleses, as feministas do Brasil argumentaram e convenceram homens e
mulheres que a educação feminina só traria benefícios à sociedade, uma vez que não seriam mais
reprodutoras incultas e sim, “alicerces confiáveis do lar cristão e patriótico, responsáveis pela
segurança, harmonia e perenidade” (ALMEIDA, 2000, p. 7). Apesar de ter sido considerado ameno,
o movimento nacional também confrontou a estrutura social vigente, possibilitando modificações na
forma de pensar da população e o cumprimento de suas reivindicações.
As feministas letradas, originárias da classe dominante, e com acesso a imprensa,
denunciavam a dominação sofrida por mulheres e divulgavam seus direitos, expondo assim, uma
nova maneira de pensar. Dessa maneira, a subjugação feminina saiu do anonimato, tomando conta
de jornais e periódicos destinados à população. Um exemplo foi Nísia Floresta Brasileira Augusta
(1810 – 1885), que trouxe os clamores dos movimentos europeus situando a mulher brasileira nessa
esfera reivindicatória. Esta teria sido uma das primeiras mulheres a publicar artigos em jornais de
grande circulação. Além disso, publicou o livro Direito das mulheres e injustiça dos homens em
1832. Segundo Duarte (2003, p. 153) este livro [...] é também o primeiro no Brasil a tratar do direito
das mulheres à instrução e ao trabalho, e a exigir que elas fossem consideradas inteligentes e
merecedoras de respeito. [...] deve, ainda assim, ser considerado o texto fundante do feminismo
brasileiro[...] (grifo da autora).
Nísia Floresta já considerava que a ideia de superioridade masculina possuía um vínculo
com a educação e as conjunturas da vida. Compreendia também que as diferenças entre os sexos
são construções sociais e que não justificam a desigualdade. Assim, antecipa “a noção de gênero
como uma construção sociocultural”. (DUARTE, 2003, p. 153).
Bertha Lutz (1894-1976) foi outra personagem social que utilizou o espaço de revistas e
audiências parlamentares para defender a igualdade, o direito ao voto e a educação. Criou, com
outras adeptas, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Duarte, 2003, p 160).
Elisabeth Sousa Abrantes realizou um estudo com periódicos e jornais femininos brasileiros
veiculados na virada do século XIX. Considerou os debates realizados em torno da educação
feminina, analisando os discursos feminista e antifeminista presentes naquela época.
Abrantes (2006) e Almeida (2000) afirmam que as reivindicações femininas não foram
aceitas espontaneamente. Houve resistência tanto de mulheres quanto de homens que idealizavam o
‘bello sexo’. Ao mesmo tempo, surgiam artigos que criticavam as feministas revolucionárias
(inglesas e norte-americanas) e defendiam o feminismo libertário, que via a mulher educada como
uma peça fundamental ao progresso social, contribuindo dessa forma para o aperfeiçoamento moral
dos indivíduos e consequentemente da sociedade. Era, portanto, a representação do ideal de “mãe
civilizadora” (Abrantes, 2006, p. 5).
Às femininas radicais foram escritas críticas aos hábitos adotados, como “[...] o uso de
calças, o corte dos cabelos à ‘la garçonne’, o hábito de fumar” (Abrandes, 2006, p. 3). A essas
mulheres haviam associações com o lesbianismo e o estereótipo de mal-amadas e feias.
A associação da figura da feminista com o lesbianismo, a histeria, o ‘furor uterino’, a
incapacidade de ser amada por um homem, o tipo físico característico, enfim, com todas as
misóginas concepções vitorianas sobre a sexualidade feminina marca profundamente a referência
através da qual se lida com o fenômeno (Rago, 1996, p. 11, apud Abrandes, 2006, p. 4).
Contudo, essas revistas defendiam a educação feminina, não com o intuito de exibir
erudição ou competir com os homens. Ao contrário, deveria auxiliar na grande obra de elevação
social, na qual homens e mulheres estariam juntos neste propósito.
Com a união do movimento feminista brasileiro a esse ideário de “mãe civilizadora” muitos
homens aderiram ao movimento, defendendo os direitos femininos, desde que as mulheres não se
esquecessem de seus papéis dentro do lar. Assim, o movimento não ameaçou a hegemonia do sexo
masculino e, portanto, a “ordem social”.
Algumas feministas antecipando represálias, nas quais homens e mulheres acreditavam que
o acesso e o excesso de conhecimento atrapalhariam a missão feminina, logo declaram: “não haja
temores vãos: a mulher ficará no lar, sempre que possa fazê-lo, porque é essa a sua tendência
natural” declarava Emília de Sousa Costa (Almeida, 2000, p. 6).
Deste modo, as feministas defendiam que as mulheres continuariam cumprindo seus papéis
de esposa e mãe, ao mesmo tempo em que possuíam uma profissão. Muitos intelectuais,
influenciados pelo ideário positivista e liberalista, viam a educação como fator de resolução dos
problemas sociais e, portanto, uma forma de modificar a sociedade com resquícios monarquistas.
Dessa forma, defenderam a bandeira da educação feminina, tendo em vista principalmente a
formação da boa esposa e boa mãe (Almeida, 2000).
Com a expansão do sistema escolar a partir da República há a necessidade de formação dos
professores. Em meados do século XIX, surge a primeira Escola Normal, inicialmente direcionada
aos homens. Assim, além de escolas primárias direcionadas ao sexo feminino, é criada em 1847 a
Escola Normal Feminina no Seminário das Educandas, que insere mulheres que não tiveram
possibilidade de conseguir um bom casamento, e, portanto, precisariam se sustentar. Para as
mulheres da classe dominante a profissionalização era mal vista, como afirma Magaldi (1992, p. 68)
apud Almeida (1998, p. 61):

a profissionalização da mulher proveniente dos segmentos sociais médios e


dominantes, representada principalmente pela função de professora, era, naquele
contexto social, uma hipótese remota, apenas admitida como solução em um caso
de extrema necessidade muito imperiosa e, mesmo assim, significando quase que
uma vergonha para a mulher ou a família que a adotasse.
Assim, cursar o Magistério despontou para algumas mulheres como a única alternativa para
que, não se tornassem um peso para a sociedade ou necessitassem de auxílios constantes. O
Magistério se adequou às exigências da sociedade, a qual defendia a restrição da mulher aos
cuidados domésticos e maternos. A profissão docente, segundo Almeida (1998) “[...] representava
um prolongamento das funções maternas e instruir e educar criança era considerado aceitável para
as mulheres”.
Para aquelas que desejavam ingressar no marcado de trabalho o Magistério foi um dos
poucos caminhos, além da enfermagem , visto que era negado suas entradas em cursos de nível
superior. Essas duas profissões eram socialmente aceitáveis, pois estava incutida em seus cernes a
benevolência, paciência, docilidade entre outras qualidades atribuídas à essência feminina. Como
certifica Santos (2008, p. 41) muitas mulheres “[...] viam no magistério a possibilidade de sair da
esfera doméstica e fugir das normas tradicionais que permeavam a sociedade daquele período”.
Após 1908 as mulheres eram maioria nos cursos de formação. A feminização do magistério,
principalmente no ensino fundamental, foi um fenômeno rápido e que perdura até os dias atuais e
vem se estendendo aos demais níveis. Para Almeida (1998) o magistério passa a ser compreendido
como um meio de aliar o trabalho doméstico e a maternidade. E foi o exercício do magistério que
possibilitou às mulheres alcançarem novas carreiras profissionais.
Com o feminismo há o surgimento do conceito de Gênero. De acordo com Santos (2008) o
movimento feminista admitia inicialmente, a desigualdade entre homens e mulheres. Com o
progresso de ideias há uma mudança nessa concepção. Passa-se a compreender a existência
diferenças biológicas entre os sexos, contudo não consistem em agentes de desigualdade. Dessa
forma, esse determinismo biológico implícito legitima o poder e a desigualdade.
Somente na década de 70, com a participação ativa das mulheres no cenário sociopolítico e
econômico que o conceito de gênero é incorporado como categoria científica, uma vez que as
teorias em voga não conseguiam explicar “o confronto entre o feminismo e os mecanismos de
dominação e subordinação” (Almeida, 2000, p10), bem como as relações que permeiam o trabalho
docente e as mulheres.
Assim, muito antes de se considerar exaustiva e recorrentes as menções de gênero como
categoria de análise do trabalho de professoras e professores, é preciso entender que enfocá-lo sob
esta perspectiva não é simplesmente uma questão de opção; parece que o estado atual de discussão
aponta para uma impossibilidade radical de compreendê-lo fora desse quadro. (COSTA, 1995,
p.157).
Portanto, entendemos o conceito de gênero como uma categoria que visa compreender as
relações decorrentes das diferenças entre os sexos, concebendo o modo de ser destes como uma
construção social. Portanto, são construções históricas, socioculturais a respeito das diferenças
sociais (Santos, 2008, p. 27). Utilizar esse conceito implica em rejeitar as diferenças instituídas
simplesmente no aspecto biológico e ao mesmo tempo, recusar a naturalização da submissão e
inferioridade feminina. Como afirma Scott (1990 apud Costa 1995, p. 158) “gênero é um elemento
constitutivo das relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero
é o primeiro modo de dar significado às relações de poder”.
Por fim, o estudo de gênero na história busca resgatar a participação feminina, uma vez que
sua atuação na sociedade fora reprimida ou “esquecida” pelos livros tradicionais de história.
Retomando o questionamento inicial: O que ocorreu para o magistério ter se feminizado
desde do início do século XX e se perdurar até hoje? Os homens que eram a maioria no magistério
foram se afastando desse campo. O que levou a esse ocorrido?
A presença maciça de mulheres no magistério, em especial no primário, como foi
apresentado, vem da possibilidade de aliar a vocação feminina, isto é, a maternagem, com uma
profissão que exige a educação de cidadãos. Assim, aceitar esse discurso, é acreditar que a educação
de crianças é a continuidade da formação dos filhos, exigindo a mesma dedicação e amor. Portanto,
o magistério seria uma continuação do trabalho doméstico, já que a mulher não sairia do reduto de
controle masculino, tanto de sua autonomia, quanto de sua sexualidade. Dessa forma, é entendido
como natural a participação majoritária da mulher na educação primária e nas demais etapas
escolares.
Um segundo motivo para a feminização da profissão docente, segundo Costa (1995) deve-se
a natureza quantitativa, ou seja, ao grande número de mulheres que procuraram a docência como
meio de participação pública, e como foi dito, era uma das profissões mais aceitas. A legislação
educacional do final do século XIX e início do século XX vedava a inserção feminina nas
faculdades, permitindo apenas o magistério em nível médio. Dessa maneira, muitas delas, para
darem continuidade a seus estudos, optaram pelo magistério. Assim, elas não ocupavam profissões
que exigiam alta formação.
Atrelado a esse estado há o afastamento dos homens do magistério. Um dos motivos ligados
a esse fato refere-se ao acesso a novas carreiras profissionais ocasionadas pelo desenvolvimento do
capitalismo e a urbanização, dando melhores oportunidades e remunerações. No início do século
XX o governo amplia a rede de ensino, diminuindo os ganhos e ao mesmo tempo aumentando o
controle da escola pelo Estado. Os homens simpatizantes da docência por sua “liberdade” rumaram
para outras profissões.
A escola, necessitando de professores devido a expansão educacional, aproxima as mulheres
ao seu interior, visto que elas desejavam trabalhar e por isso aceitaram o emprego mal remunerado.
Outro possível motivo para o afastamento dos homens do magistério se deve ao aumento
dos anos de formação, que inicialmente eram três passando para quatro anos. Por que dedicariam
tempo de estudo por uma baixa remuneração?
A maior participação feminina no magistério culminou em desprestígio da carreira e baixa
remuneração. Como afirma Costa (1995, p. 167) “A presença da mulher na profissão docente
contribuiu para o rebaixamento salarial, como também ajudou a sedimentar a ideia de que o
trabalho realizado pelas mulheres é menos qualificado e competente”.
A partir do exposto, podemos concluir que a presença maciça das mulheres na educação está
vinculada a fatores de ordem sociopolítico, econômico e pessoal, uma vez que não podemos
descartar a participação do indivíduo em suas escolhas, mesmo que seus sentimentos não possam
ser mensuráveis. O que se vê, é uma intensa luta pela participação nas questões de cunho doméstico
e público, relevando e legitimando o conceito de cidadania. Dessa forma, o feminismo surge
quebrando preconceitos, e rompendo barreiras impostas às mulheres há séculos, expondo as
desigualdades e exigindo os mesmos direitos, compreendendo que se pode ser igual na diferença.

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