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Resumo
A postura do Estado nacional com relação a uma política linguística tem
sido a de impor, historicamente, o monolinguismo. Com a leva sempre crescente de
refugiados que chegam ao país, buscamos verificar até que ponto o Estado
empreende projeto de atendimento com relação à comunicação linguística a esses
que aqui chegam. Segundo dados divulgados na mídia, o Rio de Janeiro coloca em
prática uma posição pioneira, quando a Secretaria de Estado de Assistência Social
e Direitos Humanos do Rio de Janeiro lançou, em 2014, um plano inédito em todo o
país que permite formalizar políticas de atendimentos a refugiados. Em que
medida nesse plano se prevê uma política linguística? Em que medida o Estado
ignora, ou não, todos os entraves oriundos de uma imposição de uma língua única,
quando não se tem como meta uma integração – e não apenas um acolhimento – na
e pelas línguas? Sabe-se quantas e quais línguas vêm sendo faladas no Estado do
Rio de Janeiro? Com base em pressupostos teóricos da Análise de Discurso,
procuramos refletir sobre questões de ordem jurídica e política que perpassam o
universo de línguas faladas entre nós.
1 Há um movimento atual (por parte das etnias) de recusa à denominação “índio”, vindo o termo a
ser substituído por “indígena”. Entretanto, uma vez que na relação com o urbano vem sendo
constituída a denominação “índios em contexto urbano”, mantivemos a expressão “índio”.
Refúgio e direitos humanos (?)
A ONU considera, hoje em dia, a pior crise migratória nos últimos 70 anos,
no que se refere à necessidade de famílias inteiras serem obrigadas a deixar a sua
pátria. O ano de 2016 bateu um recorde, alcançando um total de 21 milhões de
refugiados que tiveram que deixar o seu país, além de 40 milhões que se
deslocaram em território próprio. São vinte e quatro indivíduos que se deslocam
por minuto. No Brasil, estima-se que haja um total de 9 mil refugiados, a maioria de
Sírios, Angolanos, Colombianos, República do Congo e Palestinos2. Além de 80 mil
haitianos, com visto de permanência (dados do Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Refugiados/ACNUR).
A saída para a crise parece estar no acolhimento. No caso do Brasil, o
ACNUR está desde 1950 auxiliando na reintegração desses necessitados e dá apoio
ao programa de Reassentamento Solidário, desenvolvido em países da América do
Sul, incluindo o Brasil, que prevê três ações: a repatriação voluntária, quando a
segurança não estiver mais em risco; auxílio e colaboração na integração local no
país de refúgio e reassentamento, reenviando o refugiado para um terceiro país,
desde que fique em segurança.3
A formulação dessas três ações nos permite pensar sobre a forma como as
políticas de estado em favor do acolhimento trabalham na individualização dos
sujeitos. Sobre a relação do sujeito com o Estado, podemos destacar um fato
essencial: o poder, o Estado, o direito coagem o sujeito, insinuam-se nele de forma
discreta. Daí resultam claros processos que derivam de uma técnica particular de
poder que Foucault (1984) designa como sendo um “governo pela
individualização”. Uma forma de poder que classifica os indivíduos em categorias,
identifica-os, amarra-os em sua identidade. Trata-se de um mecanismo coercitivo
de individualização, de isolamento. O que leva a pensar que o Estado, sem dúvida,
induz o indivíduo a uma certa “psicologia”. No caso das políticas de acolhimento,
fica claro que se trata de uma acolhida passageira: a “psicologia” do
reassentamento ou do repatriamento já determinam “o desejo” do refugiado (?).
2Tem sido registradas grandes levas de Venezuelanos que chegam ao país, mas como legalmente não podem
ser classificados como refugiados, sua presence não é mencionada em censos e documentos oficiais.
3 In: “História em Foco”, ano 1, no. 1, 2017
A respeito do deslocamento, também pertinente é retomar Bauman (2004,
passim), quando este denuncia a discriminação dos refugiados em contraste com a
elite global: aqueles dependem de uma localização que é “permanentemente
temporária”: ocupam fisicamente um determinado espaço, mas não pertencem a
ele. “Durante os dois séculos da história moderna, as pessoas que não conseguiam
transformar-se em cidadãos — os refugiados, os migrantes voluntários e
involuntários, os "deslocados" ... — foram naturalmente assumidas como um
problema do país hospedeiro e tratadas como tal. Eles são expulsos à força ou
afugentados de seus países nativos, mas sua entrada é recusada em todos os
outros. Não mudam de lugar — perdem seu lugar na terra, catapultados para lugar
algum. Quanto à sua nova localização "permanentemente temporária”, os
refugiados "estão nela, mas não são dela". Não pertencem verdadeiramente ao país
em cujo território foram montadas suas cabanas ou tendas portáteis. São
separados do restante dele por uma cortina de suspeitas e ressentimentos que é
invisível, mas ao mesmo tempo espessa e impenetrável. Estão suspensos num
vácuo espacial em que o tempo foi interrompido. Não se estabeleceram nem estão
em movimento. Não são sedentários nem nômades”. (idem: 115; 117)
Diferente da situação dos imigrantes, cujo deslocamento se dá por gesto
voluntário, para os refugiados não há outra escolha, a não ser abandonar tudo que
têm para lutar por um recomeço. Estes vão ao encontro de um lugar melhor em
que encontrem condições de moradia e cenários melhores para criarem os filhos,
mas não ficam isentos de perseguições, abusos e preconceitos. Nesse sentido, é
importante observar o contraste entre o conceito de desterritorialização sobre as
formas de subjetividade (proposto por Deleuze e Guatarri) e o de desterro. A
desterritorialização pressupõe um recomeço em um território
imaginado/planejado. A reterritorialização não se faz num espaço [social] a mais
que os territórios de origem. O agenciamento de enunciações trabalha os espaços
[físicos], para que os sujeitos “se sintam em casa”. O processo de
reterritorialização, porém, constitui uma possível linha de fuga, de resistência aos
embates do mundo atual. O desterro é não planejado, é a fuga para um lugar
nenhum, para um território outro, um território do outro. O desterro pensado nos
termos de Bauman se define como “a extraterritorialidade em que se fincam as
raízes da atual precarité da condição humana” [grifo nosso] (idem: 117).
Política linguística
Apesar de no Brasil serem faladas mais de 250 variedades de línguas,
considerando-se as línguas indígenas e as línguas de imigração, juridicamente,
através de decretos e leis, somente duas são as línguas oficiais do país: o português
e, bem recentemente, a língua brasileira de sinais, LIBRAS (lei n. º 10.436, de 24 de
abril de 2002). A postura do Estado nacional com relação a uma política linguística
tem sido a de impor, historicamente, o monolinguismo. O fato de se oficializar a
Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS) não interfere na política do monolinguismo.
Um país bilíngue pressupõe práticas bilíngues, a fim de que os falantes da língua de
sinais possam, realmente, estar integrados em âmbito social e político. O domínio
de LIBRAS não pode ficar restrito apenas a um círculo de pessoas que se
interessam pela mesma, além dos próprios falantes. Por outro lado, trata-se de
uma língua de visibilidade, que integra a dimensão espaço-corpo, por isso a
dificuldade de se codificar a mesma em escrita. Logo, um dos critérios de se atestar
um país como bilíngue, que é, sobretudo, a escrita de leis, decretos e da
constituição nas duas línguas oficiais, não deixa de ser alcançado, mantém-se,
assim, o português como língua majoritária.
Desde o século XVIII, com o Diretório do Índio do Marquês de Pombal
(1757) até épocas mais recentes, o monolinguismo tem sido o perfil de uma
política linguística praticada pelo Estado brasileiro. Através do Diretório de
Pombal, proibiu-se o uso da língua geral, de base Tupi, e se impôs como língua
única o português. Foram razões de ordem jurídica, calcadas no Tratado de Madri 4,
de 1750 (SOUZA, 2011), que levaram a Coroa Portuguesa à tal imposição. Já no
Estado Novo (1937-1945), registra-se um dos momentos mais tensos de repressão
às línguas de imigrantes (ou alóctones), através de um plano de “nacionalização do
ensino”, cuja meta foi selar um destino a essas línguas – na forma jurídica de crime
idiomático -, sobretudo em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. (Cf: Oliveira e
Altenhofen, 2011)
Muitos são os sentidos que podem ser atribuídos à noção de política
linguística. Sentidos que se instituem desde a implantação de projetos de política
linguística propriamente ditos, até a observação de processos institucionais,
4O Tratado de Madri vem ao encontro da necessidade de Portugal e Espanha redefinirem os seus territórios,
que toma como critério decisivo a questão do idioma: a América portuguesa vai até onde se falar português.
(Souza, 2011: 243)
menos evidentes, inscritos de forma implícita nos usos diferenciados (e muitas
vezes, diferenciadores) das línguas. Não há como fugir ao político, quando se fala
em política linguística, como discutem Gadet e Pêcheux (1981[2004]) - “A questão
da língua é pois uma questão do Estado, com uma política de invasão, absorção e
de anulação de diferenças, que supõe antes de tudo que estas sejam reconhecidas:
a alteridade constitui, na sociedade burguesa, um estado de natureza quase
biológico: a ser transformado politicamente”. (idem: 37)
Política linguística, por sua vez, segundo Orlandi (2007) se diferencia de
uma Política de línguas. “Em geral, quando se fala em política linguística, já se dão
como pressupostos as teorias e também a existência da língua como tal. E pensa-se
na relação entre elas, as línguas, e nos sentidos que são postos nessas relações
como se fossem inerentes à essência das línguas e das teorias. Fica implícito que
podemos “manipular” como queremos a política linguística. Outras vezes, fala-se
em política linguística, de organizar-se a relação entre línguas, em função da
escrita, de práticas escolares, do uso em situações planificadas.” (idem: 7)
Dentro da discussão sobre Política Linguística, outras definições vêm sendo
pensadas, como é o caso, por exemplo, da divisão de políticas linguísticas em
programas: línguas indígenas (autóctones), línguas alóctones ou de
imigração/herança, ensino de português, de línguas estrangerias, caso das políticas
linguísticas internas, e Mercosul e lusofonia, que estariam no campo de uma
política externa.
No âmbito do que Hamel (1988) denomina de Política Linguística Interna,
pode-se falar, ainda, em políticas linguísticas in vivo (CALVET, 1996). Nesse caso
podemos tomar como exemplo a inserção das línguas indígenas na Constituição e a
elaboração de um plano de Educação Indígena. Foi um dos primeiros passos que o
Estado nacional deu em relação a um possível plurilinguismo. Com a perspectiva
moderna dos direitos linguísticos em voga, os artigos 210 e 230 da Constituição
Federal de 1988 reconheceu a necessidade da criação de “uma modalidade de
ensino pautada pela interculturalidade, uso das línguas maternas e participação
comunitária” (Cf: Oliveira e Altenhofen, 2011). Com isso, temos o ingresso da
comunidade indígena ao ensino, como também, a promoção, sistematização e
educação das línguas indígenas, que até então estavam fora do âmbito de interesse
do Estado.
Assim, é possível dar lugar à cooficialização, em âmbito municipal, de
línguas originárias do Brasil: desde 2002 até agora, há seis leis e um projeto de lei
voltados para a cooficializaçao das línguas nheengatu, tukano, baniwa, wapixana,
macuxi e guarani (MS) (cf: Baalbaki e Andrade, 2016: 80). Não só línguas indígenas
estão sendo cooficializadas, mas também línguas de imigração, ou de herança, o
que abre novas perspectivas para o debate e o reconhecimento dessas
modalidades de língua como línguas brasileiras.
A (co)oficialização de línguas traz implicações diversas, garantidas por lei,
mas nem sempre cumpridas, tais como o ensino básico em língua materna, a
escrita de leis, decretos e documentos oficiais em duas línguas, etc. Entretanto,
com relação às línguas indígenas, a cooficialização é um ganho político importante,
não só no reconhecimento de um pertencimento histórico dessas línguas com o
Estado nacional, como também num investimento em uma política linguística de
salvaguarda de todo um saber imaterial inscrito na materialidade de tais línguas. É
sempre bom lembrar que as línguas indígenas faladas em nosso território
somavam em torno de 1100 línguas, hoje há em torno de 180. Além de um
processo constante de silenciamento dessas línguas.
Todo esse panorama vem sublinhar questões postas pelo aumento das
línguas faladas em território nacional, em conflito com a política do
monolinguismo adotada pelo Estado brasileiro. Sobre este conflito, Orlandi (1998:
8) tece várias considerações, quando observa que “a relação língua e nação não é
direta, nem automática, nem evidente”, levando a explicitar várias situações de
usos linguísticos, que, ao final, culminam com a evidência da relação “entre o
português do Brasil, afetado por todos esses processos identitários nessas
configurações históricas da língua, e o português de Portugal, língua de
colonização.”
O que, de imediato, nosso trabalho busca focar, porém, é a questão em
torno das várias e numerosas línguas que vêm sendo faladas no Rio de Janeiro, a
partir da presença não só de índios e imigrantes, mas também da presença de
refugiados oriundos de vários lugares.
Afluência de imigrantes ao Rio de Janeiro
As primeiras levas de imigrantes, excetuando-se os colonizadores, começam
a chegar no Brasil no século XIX. “A “inauguração” da imigração europeia é
atribuída à colônia suíça de Nova Friburgo [Rio de Janeiro], cuja instituição é
sucedida pouco depois pela de Leopoldina [Bahia], entre 1819 e 1820, mas o caso de
Nova Friburgo introduziu uma inovação: é a primeira vez, de fato, que uma
empresa colonial é contratada diretamente pelo governo português junto a um
governo estrangeiro. Em 1818, uma série de medidas concretizou os acordos com a
Suíça, e em 1819 desembarcaram no Rio de Janeiro os primeiros colonos”. (CROCI,
2011: 75)
Desde então, o fluxo de imigrantes foi constante até os dias de hoje. Pelo
censo de 2000/2010 do IBGE, constata-se que os estados de São Paulo, Paraná e
Minas Gerais, juntos, receberam mais da metade dos imigrantes internacionais do
período, seguidas de Rio de Janeiro e Goiás. No Censo Demográfico 2000, as
principais Unidades da Federação de destino dos imigrantes internacionais eram
São Paulo e Paraná, seguidas de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do
Sul. A Região Sudeste, muito embora tenha sido o espaço onde a mobilidade foi a
mais intensa, seguiu sua trajetória de diminuição no volume de imigrantes e
emigrantes, situação que foi observada em todas as suas Unidades da Federação.
Minas Gerais, apesar de ter permanecido como área de rotatividade migratória,
apresentou saldo migratório ligeiramente negativo, enquanto o Rio de Janeiro
permaneceu na categoria rotatividade migratória, com pequeno saldo migratório
positivo e o estado de São Paulo aparece com declínio no saldo migratório, mas
mantendo-se como área de baixa absorção migratória.
Por esses dados observa-se que o estado do Rio de Janeiro continua sendo
um polo de recepção de línguas alóctones, o que contribui massivamente para um
conjunto de línguas cada vez mais diversificado.
5 Dados com base nos resultados da amostra dos Censos de 1991 e 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística [IBGE]. A população indígena urbana atual deve ser bem maior, estimada em 30000 indivíduos
entre 15 a 65 anos.
6 Fundação Nacional do Índio: www.funai.gov.br.
7 Denominação de cinco grandes favelas do Rio de Janeiro.
candidatas a processo de cooficialização municipal, nos faz assinalar a falta de uma
referência: qual o estatuto das línguas crioulas, faladas em várias regiões do Brasil,
incluindo o Rio de Janeiro? São modalidades de língua pouco estudadas e não
rastreadas pelos censos oficiais. Tem-se aí um tipo de discriminação dessas
línguas pelo silenciamento. Uma condição bem diferenciada das línguas de
imigração.
Com relação às línguas de imigração, ou línguas de herança, pode-se falar
que estas têm uma certa autonomia linguística. Os imigrantes, em grande maioria,
agrupam-se em colônias, com uma gestão própria, administrando escolas com
currículos bilíngues, voltadas para atender os descendentes por um lado, e por
outro, se empenham na manutenção de uma memória da língua de origem. De
onde também decorre a manutenção de práticas culturais, religiosas, valores éticos
e morais, etc. Práticas políticas de gestão de uma identidade histórica, muitas das
quais atestadas também nas comunidades de descendência africana, mas com
status - igualmente histórico - bem diferenciado.
8Casa de Apoio em paróquia de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, abriga nove sírios. Padre Alex diz que é
chamado de pai pelos refugiados. Ele estuda árabe, o que facilita o contato e a comunicação com o grupo. Ele conta
que a ideia de criar o centro foi a guerra na Síria. "Fiquei sensibilizado com a guerra e abri a casa. Procurei a Cáritas e
disse que tinha o espaço. Comecei com um quarto e tive que ampliar porque começaram a chegar mais sírios no Rio".
(http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015)
Há, claramente, um jogo contraditório entre o acolhimento juridicamente
autorizado e a absorção politicamente negociada da diversidade, quando se elegem
“refugiados quaisquer com domínio de português”. O acolhimento jurídico, por sua
vez, não prevê o acolhimento físico. Mas por que aqui chegam?
A resposta pode estar num dos últimos trabalhos de Foucault (1984).
Deslocando o poder como objeto de reflexão, o autor busca entender como o
homem se constitui em sujeito, afirmando que tal processo não se dá por vontade
própria, mas sim pelas muitas formas de relação com o poder. A partir daí
podemos pensar, pelas formas de relação com o poder, como se chega à forma-
sujeito-refugiado: (i) por uma questão de contingência – a guerra e (ii) pela
necessidade de fuga para um não-lugar.
Um não-lugar que, como já observamos acima, está sempre prestes a se
desterritorializar, já que cada país que recebe refugiados espera pela repatriação
voluntária, pelo auxílio e colaboração na integração local no país de refúgio e
reassentamento, reenviando o refugiado para um terceiro país, desde que fique em
segurança.
E como chegar a esse não-lugar?
Como diz Foucault, pelas lutas transversais, enfrentando embates,
obstáculos e até a morte. São essas as condições que determinam uma posição
discursiva de ser sempre refugiado. O acolhimento, em verdade, se institui como
prática assistencialista (cf: nota 8), forjada por um complexo de técnicas
individualizantes. O que não é mais do que: “o poder do Estado ocidental moderno
integrou sob um nova forma política, uma velha técnica de poder que nasceu nas
instituições cristãs, a chamamos de o poder pastoral9.” ( idem: 304).
Conclusão
Tomamos a palavra “acolhimento” como base para nossa reflexão e
chegamos ao conflito. Por ora, não temos como responder que línguas são faladas
no Rio de Janeiro, levando em conta as línguas dos milhares refugiados. Temos,
apenas, os dados censitários: no Rio de Janeiro, são faladas, além da língua
9Tradução nossa. “l’État occidental modern a integré, sous une forme politique nouvelle, une vieille technique
de pouvoir qui était née dans les instituitions chrétiennes. Cette technique de pouvoir, appelons-la le pouvoir
pastoral”.
indígena guarani mbyá, as línguas de 25000 índios em contexto urbano, as
modalidades de línguas de herança, faladas por portugueses, alemães, suíços,
italianos, finlandeses, japoneses, e tantos outros.
A consecução plena deste trabalho estará investindo numa política de
línguas em sentido amplo, e colocará em xeque diversos aspectos no que se refere
ao tratamento dado às línguas: o aspecto da unidade linguística, pensado como
princípio de organização da nação; as formas de poder em relação com outros
idiomas, definido como princípio básico ao acolhimento e, por fim, a possibilidade
de dar a conhecer a diversidade (por oposição à unidade) de línguas que afetam o
português, deixando aqui traços de herança.
Enfim, esbarraremos em questões forjadas pelo aumento de línguas faladas
em território nacional em confronto com uma política em prol do monolinguismo
adotada pelo Estado brasileiro.
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