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FU CHAL, 2008.
FU CHAL, 2008.
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Í
DICE
Pág.
I TRODUÇÃO ....................................................................................................... 6
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I
DICE DE QUADROS
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CHAVE DE SIGLAS E ABREVIATURAS
FA – Fibrilhação Auricular.
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I
TRODUÇÃO
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De acordo com Roper (1995), a saúde é considerada como um equilíbrio
dinâmico entre factores intrínsecos ao ser humano, de natureza biológica, psico
afectiva e comportamental; e factores extrínsecos, próprios do meio ambiente físico e
relacional que o rodeia. Factores estes que influenciam as actividades de vida. Para
Bernard Honoré (1996), citado por Hesbenn (2001), a saúde é uma realidade presente
em cada um de nos. Faz parte da existência. A saúde não deixa de existir quando surge
a doença. Segundo os Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem (2001), a
saúde, é o estado e, simultaneamente, a representação mental da condição individual,
controlo do sofrimento, o bem-estar físico e o conforto emocional e espiritual. A saúde
deverá ser entendida em termos individuais.
A doença poderá ser considerada como uma limitação, sendo esta uma limitação
do decurso normal da vida, por nós imaginada, sendo muitas vezes uma situação
inevitável. A doença representa uma ameaça para a estabilidade da pessoa e sua família,
uma ruptura de defesas que cria uma necessidade de por de parte a rotina da vida diária,
uma necessidade de fuga, uma procura de protecção e de carinho.
É inquestionável que a transição da saúde para a doença é uma experiência
desagradável e com frequência dolorosa.
A doença, de acordo com Bernardo (1999) revela-nos a vulnerabilidade da vida
humana, a violência do real sofrimento físico, psíquico e do imaginário. É que, através
da doença o nosso mundo simbólico e projectado, é posto em questão.
Deste modo, será fácilmente compreensível percepcionar que o enfermeiro torna-
se a figura central, aquela que com frequência é solicitada continuamente e, por vezes
de forma exigente. A enfermagem existe como resposta a uma necessidade da
sociedade, e contem ideais relacionados com a saúde do indivíduo ao longo da vida.
Mas há situações imprevisíveis, há doenças que nos atingem e que desencadeiam
rupturas que nos marcam muitas vezes negativamente.
A Enfermagem de Reabilitação sempre me despertou grande interesse, dada a sua
especificidade e, é aquela, que na minha opinião, mais se evidencia no actual contexto
das especialidades em enfermagem. A Enfermagem de Reabilitação é abrangente no
âmbito da prestação de cuidados ao longo do ciclo vital, no pólo dependência /
independência, preventivos e / ou curativos.
A prática do exercício profissional do enfermeiro deve basear-se em
conhecimentos científicos válidos e relevantes. O reconhecimento social da profissão da
enfermagem como autónoma e independente, está directamente relacionado com a
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intervenção dos enfermeiros através do seu desempenho profissional competente,
responsável e de qualidade.
Ao Enfermeiro Especialista exige-se a prestação de cuidados de Enfermagem que
requerem um nível mais profundo de conhecimentos e habilidades, actuando
especificamente, junto do utente (individuo, família ou grupos) em situações de crise ou
risco, no âmbito da especialidade que possui – Decreto de lei 437/91, (Capitulo II,
referente ao conteúdo funcional).
Por esta razão, a intervenção do Enfermeiro de Reabilitação é de extrema
importância na detecção, gestão e na eliminação dos obstáculos, reduzindo o grau de
incapacidades (quando prevalecem), proporcionando uma melhor qualidade de vida ao
doente e seus familiares, através da aquisição de um grau máximo de independência.
Segundo Hesbeen (2001), Enfermeiro Especialista em Reabilitação, possui
competências técnicas, cientificas, profissionais e relacionais, distingue-se dos outros,
por actuar na deficiência, incapacidade e desvantagem, os seus objectivos são,
analisar, suprimir, atenuar, ajudar a ultrapassar os obstáculos que a geram.
A reabilitação contempla múltiplas dimensões, compreendida como um processo
que vai além da recuperação de funções perdidas ou alteradas. Trata-se de uma
especialidade, na área de saúde, que aborda o indivíduo em constante interacção com a
sociedade e seu meio ambiente.
O sucesso da recuperação, depende do início da reabilitação na fase aguda, e o seu
seguimento após a alta. Para o sucesso a recuperação, é importante iniciar a reabilitação
logo na fase aguda, mas também é importante a pessoa estar no seu meio natural, ou
seja no seu seio familiar, o que para Martins (2002), depende da continuidade, da
coordenação e inter relação do trabalho desenvolvido por toda uma equipe.
A reabilitação é um processo global e dinâmico orientado para a recuperação
física e psicológica da pessoa portadora de deficiência (da qual resulta uma
incapacidade), tendo em vista a sua reeducação funcional, reinserção social e
reintegração profissional. Está associada a um conceito mais amplo de saúde,
incorporando o bem-estar físico, psíquico e social a que todos os indivíduos têm direito.
Delisa, et al (1992), definem Reabilitação, como o desenvolvimento de uma
pessoa até o mais completo potencial físico, psicológico, profissional e educacional
compatível com o grau de comprometimento fisiológico ou anatómico e limitações
ambientais.
Para Shirley (2002), a Reabilitação baseia-se em fundamentos teóricos e
científicos na medida em que se trabalha com os utentes com o intuito de definir
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objectivos para níveis máximos de independência funcional nas actividades de vida
diária, promover o auto cuidado, prevenir complicações e posterior deficiência, reforçar
comportamentos de adaptação positiva, assegurar a acessibilidade e a continuidade de
serviços e cuidados, advogar uma qualidade de vida óptima, melhorar os resultados
esperados e contribuir para reformas no carácter, estrutura e prestação de cuidados nos
serviços de saúde.
A qualidade dos cuidados de saúde deve ser uma preocupação de todos e uma
responsabilidade partilhada pela comunidade, pelos profissionais, pelas instituições de
saúde e pelos responsáveis políticos devendo ser encarada como uma prática a construir
diariamente. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), qualidade de vida,
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âmbito do AVC. Abordarei a Pessoa com Condição de Saúde AVC e os fenómenos de
enfermagem associados, segundo a metodologia do Processo de Enfermagem e
terminologia CIPE (Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem) versão
1 (2006).
A componente prática inclui o estágio Clínico III, em Unidade de Cérebro
Vasculares e Via Verde – INEM (Instituto 3acional de Emergência Médica). A sua
conclusão faz-se pela realização de um Portefólio no referido Ensino Clínico III.
Como quadro conceptual, consultei autores tais como: Margareth Johnstone
(1979, 1986), Berta Bobath (2001), Hoeman (2000), Hesbeen (2001), Delisa (2002),
Martins (2002), Valadas (2007), Kottke / Lehmann (1994), entre outros.
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1. PROJECTO DE AUTO FORMAÇÃO EM E
FERMAGEM DE
REABILITAÇÃO
A PESSOA COM CO
DIÇÃO DE SAUDE AVC
11
Segundo Hernández (1998),
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Um bom planeamento previne as improvisações, constrói um caminho ou
sequencia e conjuga estratégias e recursos. O conteúdo programático deverá ser
preparado de acordo com os destinatários e a importância do tema, não esquecendo a
sua adequação, coerência e clareza.
O resultado de um bom planeamento irá repercutir-se positivamente no futuro.
O tema seleccionado insere-se numa das áreas em que o Enfermeiro Especialista
em Reabilitação, deve continuar a investir no contexto da sua intervenção autónoma,
constituindo uma oportunidade de aperfeiçoar e actualizar conhecimentos, contribuindo
decisivamente para a melhoria da informação, orientação e prevenção dos cuidados no
adulto.
O objectivo do trabalho de projecto é transformar um problema em projecto e
concretiza-lo. O problema será portanto o ponto de partida de qualquer metodologia de
projecto, e as etapas seguintes uma tentativa de solucionar ou, pelo menos, minorar. Um
projecto implica a determinação de objectivos, um cronograma e um planeamento.
Segundo Leite (1989), para se chegar ao resultado desejado, é necessário seguir
uma trajectória, frequentemente longa, que se decompõe numa série de passos ou etapas
que devem ser adequadamente previstos.
Através do projecto de auto formação o indivíduo constrói o seu próprio saber, o
seu processo de aprendizagem desenvolve-se, projectando-se no futuro, Leite (1989).
A mesma autora defende que os indivíduos tornam-se mais atentos, críticos,
confiantes e exigentes em relação a si, aos outros e à realidade envolvente, mais capazes
de intervir socialmente.
Cada projecto é único, no seu tamanho, complexidade e o seu resultado depende
da realização das suas fases, e do grau de envolvimento dos seus intervenientes.
A concepção das fases, a ordem do seu encadeamento lógico e a estimativa da
natureza e quantidade de recursos em cada altura, requerem um conhecimento profundo
das tecnologias que concorrem para o projecto e uma experiência que permita prever e
superar as dificuldades que na prática possam surgir.
No planeamento do projecto é fundamental estabelecer o encaminhamento lógico
e conveniente entre as diversas actividades a realizar. Umas têm carácter prioritário,
outras podem realizar-se em momentos diferentes, de acordo com as conveniências,
outras têm de ser encaminhadas de forma sucessiva.
Para desenvolver a função de planeamento é fundamental que o Enfermeiro de
Reabilitação visualize, nas organizações onde o serviço de Enfermagem está inserido, o
sistema como um todo. Por isso deve conhecer o Sistema Técnico (equipamento,
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instalações, tecnologia e tempo), o Sistema Social (pessoal e sua organização formal e
informal), bem como o conhecimento das fases da metodologia do planeamento, o que
ajudará ao Enfermeiro de Reabilitação a torná-lo um instrumento útil, e não apenas
teórico e inaplicável. Deve contemplar as necessidades de ambos os sistemas, interno e
externo em relação à respectiva organização, a fim de conhecer as influências
provenientes do contexto social, económico, político e cultural, bem como a filosofia
dominante na instituição.
A concretização de um projecto representa o culminar de um desejo, o ultrapassar
de uma barreira e a realização de uma necessidade.
Alguns instrumentos podem ser utilizados para ajudar na sistematização das
acções traçadas num planeamento. Do actual projecto fará apenas parte o cronograma,
pois será o instrumento que será utilizado no planeamento das acções de auto formação,
que servira para relacionar as actividades em função do tempo disponível ou desejável.
1.1. OBJECTIVOS
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1.2. ESTRATEGIAS
➟ Ensino clínico III na Unidade de Cérebro Vascular no Hospital São José, com
um período de observação na Via Verde;
1.3. CONTEXTUALIZAÇÃO
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de, a todo o custo, protelar a deterioração funcional a nível das dimensões humanas:
físicas, psicológicas, emocionais, sociais e espirituais, e de enfatizar, em caso de perda
real ou potencial de capacidades, a intervenção no âmbito da reabilitação preventiva,
como forma de manter ou prevenir o declínio das mesmas. Para tal, é necessário
adequar e responder em tempo útil às diferentes situações que exigem este tipo de
intervenção.
Segundo a OMS, e relativamente às metas da saúde para todos no século XXI,
meta 5, preconiza um envelhecimento saudável, as políticas de saúde devem preparar as
pessoas para um envelhecimento saudável, através da promoção e protecção da saúde,
sistematicamente planeadas ao longo de toda a vida. Segundo a mesma fonte as doenças
cardiovasculares são a primeira causa de morte em praticamente todos os Estados
Membros, sendo assim, para reduzir estes males, é necessária uma abordagem integrada
da promoção da saúde, da prevenção das doenças, do tratamento clínico e da
reabilitação.
O AVC é a primeira causa de incapacitação e redução da qualidade de vida e a
terceira causa de morte no mundo, em países desenvolvidos. A OMS estima que mais
de 5 milhões de pessoas morrem a cada ano por causa do problema.
Os AVC, são uma causa comum de morbilidade e mortalidade na Europa, sendo a
primeira causa de morte em Portugal e a principal causa de incapacidade nas pessoas
idosas (Direcção Geral de Saúde – DGS, 2001).
Segundo Bonita (1990) citado por Oliveira e Candeias (2000), o Acidente
Vascular Cerebral, representa nos países industrializados, uma das principais causas de
morbilidade e mortalidade, ocupando o 3º lugar na maioria deles. Para Rato (2003), a
mortalidade por AVC em Portugal é cerca de três vezes superior à mortalidade devido a
enfarte agudo do miocárdio.
Embora não se verifique alteração significativa na incidência dos AVC, a sua
prevalência, na população, é crescente devido ao aumento da sobrevivência e do
crescimento da população idosa. Como esta patologia aparece, sobretudo, nas idades
mais avançadas e as tendências demográficas caminham no sentido do envelhecimento
da população, é possível que a quantidade e a qualidade de cuidados de saúde sejam
mais necessários. Como tal, absorvem uma considerável proporção dos orçamentos dos
sistemas de saúde nacionais, consequentemente dos cuidados de saúde, o que justifica
uma preocupação crescente dos responsáveis.
Segundo a DGS (Direcção Geral de Saúde, 2001), o impacto do AVC, na
sociedade tem sido crescente, devido à maior sobrevivência e aumento da população
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idosa, e incapacidade que provoca. Estima-se que a sua incidência seja de 1 a 2 por
1.000 habitantes por ano, e que após o AVC, cerca de 70% dos utentes (60 000
indivíduos) apresente incapacidade, dos quais 24% com nível de incapacidade muito
grave, com base no Índice de Barthel (DGS, 2001), com grande impacto nos vários
domínios relativos ao utente.
O AVC, pode ser de vários tipos e multi factorial. Apresenta inúmeras
consequências, sendo o seu prognóstico condicionado por factores fisiológicos,
inerentes à lesão, bem como por características individuais do utente ou factores
externos que directa ou indirectamente estão relacionados com este; e a sua condição
após o AVC, influenciando a sua recuperação.
Margareth Jonhstone (1986), define Acidente Vascular Cerebral, como sendo uma
interrupção do fluxo sanguíneo, em determinada parte do cérebro, que resulta em súbita
lesão da mesma, ocasionando o conjunto de sintomas que caracterizam o AVC.
É frequente o uso de outros nomes para o AVC, tais como: choque, apoplexia,
espasmo cerebral, derrame, trombose cerebral.
A OMS, define AVC, como sendo o desenvolvimento rápido de sinais clínicos de
distúrbios focais (ou globais) da função cerebral, com sintomas que perduram por um
período superior a 24 horas ou conduzem à morte, sem outra causa aparente que a de
origem vascular. São, assim, excluídos os AIT (Acidentes Isquémicos Transitórios), nos
quais os sintomas desaparecem em menos de 24 horas (Mónica, 1988 citado por
Ashburn, 1997, e por Nunes et all, 2005). Foi considerada esta definição por ser a
comummente utilizada para diagnóstico médico e por definir a condição com maior
detalhe, considerando o factor temporal de instalação e duração dos sintomas.
Ainda segundo a EUSI – European Stroke Initiative (2003), o AVC, define-se
como um défice neurológico súbito motivado por isquémia ou hemorragia no sistema
nervoso central.
Em resumo, varias definições de Acidente Vascular Cerebral, em que todas
concordam com os pontos chaves que são: deficit neurológico súbito, causado por falta
de suprimento sanguíneo do tecido cerebral.
O Alto Comissariado da Saúde (2007) define AVC, como sendo um défice
neurológico súbito, motivado por isquémia ou hemorragia no sistema nervoso central.
Assim, qualquer processo que altere a perfusão normal do cérebro pode provocar lesões
celulares e compromisso da função neurológica. Todas as definições encontradas estão
de acordo no que diz respeito ao défice neurológico causado por isquémia ou
hemorragia.
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O AVC agudo é actualmente considerado uma emergência médica sendo o AVC
isquémico responsável por cerca de 75% de todos os casos (Alto Comissariado para a
Saúde, 2007).
Segundo a DGS (2003), o total de óbitos em Portugal por doenças cérebro
vasculares no ano 2000 foi de 20 995, representando 19.8% do total de óbitos, sendo a
segunda causa de morte logo a seguir aos tumores malignos. De facto, morrem mais
pessoas por doenças cérebro vasculares do que por doenças isquémicas cardíacas.
Portugal é o país com maior taxa de mortalidade por doença cérebro vascular,
comparando com outros países da União Europeia. Logo a seguir a Portugal, segue-se a
Grécia, também com uma elevada taxa de mortalidade por doença cérebro vascular.
Por outro lado, para além da problemática da mortalidade, há que analisar a
situação da pessoa com AVC, tendo em vista a incapacidade e desvantagens que daí
resultam.
A incapacidade funcional é uma das sequelas mais importantes após um AVC,
sendo a sua avaliação das mais complexas pois envolve a conjugação de vários factores
como ambientais, recursos económicos e sociais, factores comportamentais e
motivacionais (OMS, 2003). Sabe-se que, em média, as condições clínicas com maior
grau de incapacidade surgem da associação do sexo feminino ao estado de coma, à
paralisia, à afasia, aos problemas de deglutição e à incontinência urinária, sendo estes
factores predicativos de uma maior mortalidade até aos 3 meses após a lesão. Existem,
igualmente, outros factores que, em conjunto com os anteriores, são predicativos de
menores sequelas funcionais, sendo eles a diminuição acentuada ou ausência da
funcionalidade do membro superior, a perda do equilíbrio na posição de sentado, a
hemianópsia, a idade avançada, a diminuição da função cognitiva e sensorial, e da
motivação (Zwecker et al., 2002, Wyller et al., 1997; Glader et al., 2003, citados por
Nunes, 2005). A prevalência da diminuição da função cognitiva após AVC varia entre
11,6% e 56,3%, demonstrando uma forte influência negativa na sobrevivência e
recuperação a longo prazo destes utentes (Patel et al., 2002; Heruti et al., 2002, citados
por Nunes, 2005).
Segundo Azeredo (2003), os deficits apresentados pelos doentes com AVC, estão
dependentes de vários factores, nomeadamente tipo de AVC, território cerebral
atingido, idade da pessoa, e se é o primeiro episódio de AVC, ou se é uma recidiva.
As doenças cardiovasculares, nomeadamente o Acidente Vascular Cerebral, com
o seu carácter multidimensional e as suas graves consequências, negativas e directas,
para o cidadão, para a sociedade e para o sistema de saúde, determinam que sejam
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encaradas como um dos mais importantes problemas de saúde pública, se não o mais
importante, que urge minorar. Por este facto, a abordagem destas doenças justifica uma
actuação planeada e organizada ao longo de todo o sistema de saúde, através de um
Programa Nacional que tente não apenas evitar estas doenças e reduzir as incapacidades
por elas causadas como prolongar a vida.
As sequelas são frequentes e o seu impacto familiar, social e económico é muito
grande. No estudo levado a efeito pela Direcção-Geral da Saúde em 1996, verificou-se
que 13,8% dos doentes já tinham uma incapacidade muito grave antes do AVC, 59,3%
estavam independentes e 15,0% tinham uma incapacidade ligeira. Três meses após o
AVC constatou-se que 24,0% tinham ficado gravemente incapacitados, 30,8% ficaram
independentes e 18,2% ficaram com incapacidade ligeira.
Para Ramires (1997), citado pela Direcção Gera de Saúde (2001),
80% dos doentes que sofreram um AVC atingem o melhor nível funcional às seis
semanas, 90% atingem-no às 12,5 semanas (3meses). 3ão é de esperar grande melhoria
funcional ou neurológica após os 3 meses, pois só 5% dos doentes farão algum progresso
a partir desta altura. Quando completam o programa de reabilitação, 20% vão ficar com
incapacidade grave, 8% com incapacidade moderada, 26% com ligeira incapacidade e
46% ficam independentes. Uma percentagem próxima dos 50% retomará uma profissão
ou manterá as actividades habituais.
Estes resultados, aparentemente mais favoráveis que os do estudo da DGS,
poderão resultar da base populacional do estudo ser mais selectiva nos doentes que são
seguidos no hospital.
Os resultados do inquérito nacional de saúde realizado em 1995 a 49 718
indivíduos, dos quais 9 551 com mais de 65 anos, mostraram que dos 240 com mais de
dez anos sempre acamados, 85 estavam-no por trombose cerebral; dos 116 sempre
sentados numa cadeira, 27 estavam nessa situação pela trombose, e dos 688 limitados à
sua casa para se movimentar, 105 deviam-no a trombose cerebral (Portugal / INS,
1996).
A DGS, em 2001 estabeleceu que as doenças vasculares constituíam uma
prioridade nas suas linhas de actuação. O Programa de Saúde XXI, determina que todas
as unidades de saúde que recebessem por ano mais de 300 doentes com AVC deveriam
ter um espaço próprio dedicado ao seu tratamento na fase aguda. Estabelecia também
que tal acontecesse até 2006. Assim por despacho do Alto Comissariado para a Saúde
(nº 766/2006) publicado em Diário da Republica II série nº 9, de 12 Janeiro de 2006,
aprovaram-se algumas alterações ao conteúdo do Programa Nacional de Prevenção e
Controlo as Doenças Cardiovasculares, e onde se reforça a prioridade e o esforço
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profundo na reorganização dos serviços de saúde, com vista ao combate eficaz a estas
doenças.
Na Madeira, segundo o Dr. Rafael Freitas (2007), esta taxa de incidência é muito
superior, dado que só no ano passado 2006, deram entrada no serviço de urgência do
Hospital Central do Funchal 1.200 casos de AVC (dados do serviço de estatística do
Hospital Central do Funchal). Nestes números não estão contempladas as pessoas que
faleceram subitamente em casa, que nestas situações não são submetidas a autópsia, não
ficando por isso o registo. Segundo o serviço de estatística do Hospital Central do
Funchal (2007), 894 utentes foram hospitalizados nos serviços de Medicina do Hospital
dos Marmeleiros, sendo que os restantes foram internados em outros serviços,
nomeadamente Neurocirurgia.
Segundo o Dr. Rafael Freitas (2007), 85% são Acidentes Vasculares Cerebrais
isquémicos, ligados à arteriosclerose, sendo que 15% são de origem hemorrágica,
associados à hipertensão.
De acordo com o médico de medicina interna, Dr. Rafael Freitas, (ligado ao
estudo dos AVC, à cerca de 10 anos), que integra um grupo de trabalho que fez um
levantamento sobre os AVC na RAM, o número de casos de derrames cerebrais têm
vindo a aumentar ao longo dos anos.
Em 2002, foram registados 1.035 casos, em 2003 o Hospital internou 1.074
doentes, em 2004 houve uma ligeira descida para os 996 casos de AVC e em 2005
ocorreram 1.223 situações.
Quando os especialistas vão detectar a causa dos “derrames cerebrais”, a
hipertensão está no topo da lista com 74 por cento dos casos, seguindo-se o tabaco com
47 por cento e a diabetes com 13 por cento.
A taxa de mortalidade varia muito e vai desde o 6,3% até aos 12,6%. Segundo o
Dr. Rafael Freitas (Medico Internista do Hospital Central do Funchal), das pessoas que
são internadas nos hospitais, a maior parte tem alta, apesar de muitos necessitarem de
internamento prolongado.
No entanto, os AVC, quando não matam (embora o número de óbitos por AVC
tenha também vindo a aumentar nos últimos anos na Região, dados da Direcção
Regional de Saúde Pública referem que em 2002 houve 307 mortes), uma das grandes
preocupações relacionadas com esta doença têm directamente a ver com os graus de
incapacidade que lhe estão associados. Deixam muitos problemas desde a motricidade,
a fala, as emoções ou a memória. Mas o prognóstico depende do tipo de AVC, da área
cerebral afectada e da extensão das lesões. Daí que seja urgente a assistência a uma
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pessoa com sintomas de AVC, porque por cada hora que um doente passa sem
tratamento o seu cérebro envelhece 3,6 anos. A reabilitação é também importante, logo
que o paciente estabilize.
O Grupo Coordenador da Prevenção e Controlo das Doenças Cardiovasculares do
Serviço Regional de Saúde elaborou um projecto para criar um sistema de registo
informático dos AVC na Região. O especialista em medicina interna e membro do
grupo de trabalho, Dr. Rafael Freitas, explicou que o programa que, neste momento
aguarda a sua informatização, é um manual de boas práticas a nível regional dos AVC,
desde o pré hospitalar, passando pelo hospitalar e as suas fases, o pós hospitalar, isto
tudo até um ano depois de dar o AVC. Quando tudo isto estiver informatizado, o
sistema regional de saúde, que está em rede, terá acesso aos dados do doente, como
também aos procedimentos a ter em caso de AVC.
O grupo de trabalho gostaria que o sistema fosse implementado o mais
rapidamente possível, porque no sistema fica tudo registado numa ficha individual do
doente. É que quanto mais precoce o doente com AVC for assistido, tem melhor
prognóstico, referiu, o Dr. Rafael Freitas.
O especialista explicou que quando um doente sente-se mal em casa e o 112 é
contactado, o hospital é logo informado que está prestes a chegar um doente com
sintomas de AVC. Assim, o serviço de urgência já prepara os exames que devem ser
feitos para confirmar a doença. A rapidez na assistência a este tipo de doentes, fará com
que os estragos no cérebro do doente não sejam maiores.
O recente anúncio da criação de uma Unidade Cérebro Vascular no Hospital
Central do Funchal, surge como uma luz ao fundo do túnel, porque vai permitir um
tratamento mais rápido, diminuindo as taxas de mortalidade e de morbilidade das
pessoas acometidas por AVC.
Esta Unidade Cérebro Vascular, é necessária para fazer tratamentos específicos
aos doentes com AVC, que não podem ser efectuados em enfermarias. Segundo o
médico Rafael Freitas (2007), esta unidade será para fazer tratamento de ponta, que irá
minimizar os estragos já feitos pelo, melhorando a circulação cerebral. Além disso,
com a constituição de uma unidade especial para o tratamento dos casos de AVC, esta
será respeitada e com conhecimentos inquestionáveis na matéria. Também seria uma
hipótese de coordenar tudo isto para não se perder tempo que é prejudicial nestes
doentes, referiu o Dr. Rafael Freitas (2007).
A expressão "Unidade de AVC (UAVC)" designa um sistema de organização de
cuidados prestados aos doentes com AVC numa área geograficamente bem definida. A
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expressão "equipa de AVC" é usada quando há uma equipa móvel no hospital
referenciada aos AVC em diferentes unidades do hospital. Devem considerar-se,
prioritariamente, como Hospitais alvo para estas Unidades os hospitais que tenham, pelo
menos, por ano, entre 300 e 400 AVC. Todo o doente que entra no hospital com
diagnóstico de AVC, sempre que, logisticamente possível, deve ser encaminhado para
esta unidade. Os hospitais com grande volume de AVC, devem ter critérios explícitos
de admissão na Unidade. Simultaneamente devem ser assegurados serviços de Medicina
Física e de Reabilitação nestes hospitais ou realizados protocolos com entidades
privadas para apoio após a alta (para não se perder todo o investimento feito a nível
hospitalar).
A realidade tem demonstrado que os doentes com AVC, dispersos por várias
enfermarias, não usufruem das sinergias que podem resultar de uma intervenção multi
profissional. Perante a proporção de pessoas incapacitadas após o AVC, há necessidade
de equacionar as novas abordagens ao problema que passam por melhores cuidados
durante o internamento, melhor acompanhamento em ambulatório e por imprescindível
articulação com outras instituições públicas ou privadas que dão contributo importante
para assegurar e ou manter uma vida de qualidade. Vários estudos têm demonstrado que
novas formas organizativas dos serviços contribuem para mais ganhos de saúde tais
como menor mortalidade e incapacidade. As UAVC (Unidades de Acidentes Vascular
Cerebral) têm sido apontadas como uma das formas que mais têm contribuído para
esses ganhos (Valadas, 2007).
A finalidade das UAVC, é reduzir o internamento em Hospitais de agudos, a
incapacidade funcional e as complicações pós AVC e o número de doentes que
necessitam de cuidados de enfermagem em casa ou nas Unidades de doentes crónicos,
assim como facilitar o retorno de uma grande proporção de doentes ao seu ambiente
familiar e, tanto quanto possível, ao seu local de trabalho.
O Plano Estratégico da Saúde da Região Autónoma da Madeira foi elaborado na
sequência do Diagnóstico do Sector da Saúde e recorreu a diversas fontes de
informação, na recolha de dados sobre mortalidade e morbilidade.
O Plano de Saúde a ser utilizado como um documento de trabalho pelos serviços
de saúde, propõe metas, objectivos e intervenções estratégicas, de acordo com as
necessidades e problemas identificados.
A identificação dos problemas de saúde, a sua hierarquização e a definição de
intervenções estratégicas tiveram em consideração os critérios de magnitude,
transcendência e vulnerabilidade do problema. Os sistemas de informação actuais não
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disponibilizam indicadores de morbilidade sobre as doenças que não provocam a morte,
embora sejam causa de sofrimento, incapacidade e custos sociais.
Assim o Plano Estratégico da Saúde da Região Autónoma da Madeira (2004), no
ponto 5.1.3, realça a importância da Melhoria da Qualidade dos Cuidados às Doenças
Cardio Cérebro Vasculares.
A melhoria da qualidade e da eficiência dos cuidados prestados perante as
doenças Cardiovasculares, contribui também para a redução da morbilidade e da
mortalidade associada a estas doenças (enfarte, AVC), pelo que os serviços devem
orientar-se no sentido de:
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forma a reduzir as sequelas e os impactos que dai advêm. Para ajudar estes doentes na
sua recuperação e consequentemente integrá-lo na sociedade, é fundamental o
envolvimento da família durante o internamento, prolongando-se no domicílio com os
enfermeiros do Centro de Saúde no sentido da máxima independência.
Reabilitação, significa a reaprendizagem de habilidades antigas, isto implica
muito mais do que reaprender a andar e a vestir-se, ou a transferir-se da cama para a
cadeira de rodas, as actividades que precisam ser reaprendidas abrangem redescobrir
qual o seu papel na família, reformular realisticamente o auto conceito e reaprender a
enfrentar os problemas do quotidiano.
A Enfermagem de Reabilitação pretende contribuir no tratamento e atenuar as
incapacidades causadas por doenças agudas e crónicas, sequelas neurológicas (ex.
AVC) ou lesões derivadas da gestação e do parto, acidentes de trânsito e de trabalho.
Segundo a CIPE (Versão 1, 2006), incapacidade é, fenómeno de enfermagem com as
características específicas, perda ou ausência de uma aptidão física ou mental,
observável e mensurável, ou incapacidade física ou mental.
Sryker (1977) citado por Shirley (2002), definiu Enfermagem de Reabilitação
como sendo um processo criativo, que se inicia nos cuidados preventivos imediatos no
primeiro estadio da doença ou acidente, continuando na fase de recuperação e
implicando a adaptação à nova vida.
Segundo Hesbeen (2001), a reabilitação não pode ser definida segundo o modelo
clássico das especialidades médica, embora seja uma delas nem limitar-se à descrição
das suas características técnicas. O que distingue a acção dos reabilitadores não é tanto a
sofisticação técnica, mas sim o espírito que anima todo o processo da reabilitação. Este
espírito para além de uma mais valia, é igualmente uma característica especial que
permite ao profissional, mudar a sua visão dos factos, ajustá-la para tentar ver e analisar
melhor, tendo em vista agir adequadamente perante as situações humanas que se lhe
apresentam. Este espírito é ainda, sinónimo de um interesse autêntico pela pessoa, sem a
reduzir à sua doença ou às suas características, como nos recorda Pierre Houssa (1944),
citado por Hesbeen (2001):
é o espírito que nos leva a preparar uma mulher, um homem ou uma criança para
a melhor qualidade de vida possível, mesmo quando as capacidades que lhe
restam são extremamente reduzidas ou quando o horizonte que se lhes mostra não
é muito alegre. É ainda este espírito que fará com que as acções propostas e os
gestos executados sejam sensatos, isto é, que façam sentido para a pessoa a que
se dirigem, que respeitem a sua vontade, os seus limites e os seus recursos “
(p.35).
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A Reabilitação pode ser definida, como a forma de prevenir incapacidades e
desenvolver, atenuar, recuperar, estimular até ao máximo os potenciais físico,
psicológico, social, espiritual, profissional e educacional, compatível com o grau de
comprometimento fisiológico ou anatómico e limitações ambientais. Reabilitação é a
arte da gestão dos obstáculos potencialmente geradores de desvantagem.
A reabilitação é definida pela OMS (2001) como
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compreender o funcionamento da instituição, pode na maioria dos casos, não ser
satisfeita dada a quantidade de atenção que lhe é dispensada.
Martocchino referenciado por Wochva (1997), citados por Martins (2000),
identifica dois papéis distintos, mas simultâneos, dos familiares dos doentes. Eles são
receptores de cuidados e ao mesmo tempo parceiros do cuidar. Como parceiros do
cuidar, os familiares poderão ter um papel activo na prestação de cuidados, assim como
na tomada de decisão do cuidado ao doente. No que se refere aos familiares como
receptores de cuidados, elas requerem informação e acompanhamento por parte dos
profissionais, de forma a reunirem as melhores condições para lidarem com a situação
e/ou problema.
Um maior envolvimento dos familiares, durante a situação de internamento,
arredando-os do papel de meros espectadores, ajuda a manter o lugar do doente na
família promovendo a continuidade entre o meio psicossocial e o meio hospitalar. Para
muitos familiares, poder participar e sentirem-se incluídos, aumenta o sentimento de
utilidade, podendo atenuar a ansiedade muito constante na família, proporcionada
particularmente, entre outras situações, pela situação clínica, mas também pela
separação.
É muito importante que os profissionais tenham a sensibilidade necessária para
incluir nos cuidados os familiares, mas não partindo do pressuposto de que todos os
familiares estão preparados para o fazerem de uma forma profunda, pois poderá ser um
erro em que se pode cair.
Para Brunner e Sunddarth (1995), é importante compreender que a família
necessita de tempo para lidar com a sensação de impotência, com a ambivalência e com
a culpa que costuma acompanhar estes processos. Deste modo, os familiares devem ser
orientados sobre os cuidados à pessoa, sobre a natureza da disfunção neurológica e
sobre o significado das prováveis alterações presentes e futuras.
Gerir um maior envolvimento dos familiares no cuidado ao familiar doente é
complicado necessitando de experiência e sensibilidade por parte de quem o faz. O
papel da equipa de saúde é determinante. Envolver a família no cuidado ao doente
durante o internamento exige mudança de atitudes e sobretudo encarar a família,
também como receptora de cuidados. Salt (1991) citado por Martins (2000), refere que,
se a equipa não desenvolver um bom trabalho, com boa resposta e relações de suporte
com os familiares, pode resultar o caos, mal entendidos e os conflitos, que afectarão
negativamente o doente.
26
A família representa um papel fundamental durante a fase de recuperação,
principalmente no regresso do doente a casa. Esta deve partilhar responsabilidades no
processo de recuperação, especialmente a longo prazo, contribuindo para o se bem-estar
do doente.
O apoio à família é de extrema importância para que esta, por sua vez, possa
ajudar o indivíduo a aceitar as suas limitações e para que juntos sintam o apoio e a
motivação para se dar início ao processo de reabilitação. A família é de primordial
importância, pois permite-lhe manter as ligações interpessoais, contribuindo para uma
rápida melhoria clínica, aumenta a segurança e a capacidade de adaptação, eleva a
qualidade dos cuidados, diminui as demoras médias de internamento e facilita o êxito na
reinserção em casa. Martins (2000) refere que a família assume papeis distintos mas
simultâneos. Podem ser receptores de cuidados e ao mesmo tempo parceiros no cuidar.
Como receptores precisam de informação e acompanhamento por parte dos
profissionais de forma a serem capazes de assumir o papel activo na prestação de
cuidados à pessoa, assim como na tomada de decisões em relação ao cuidado à pessoa.
De acordo com a CIPE – Versão 1.0 (2006), a família é classificada como
“Cliente”, ou seja, a quem o diagnóstico se refere ou beneficiário da intervenção de
enfermagem, sendo por isso um cuidado do enfermeiro, o seu acompanhamento. Desta
forma, a família deveria ser encarada como um elemento importante da equipe
multidisciplinar, sendo fundamental compreender toda a dinâmica do seu processo
adaptativo, para poder compreende-la nesta situação de crise.
A família é uma rede complexa de relações e emoções e não poderá ser estudada
nos indivíduos isoladamente, mas, deve ser entendida como um sistema, um todo, uma
globalidade, e é nesta perspectiva holística que poderá ser compreendida (Relvas, 2000).
A avaliação familiar deverá centrar-se mais na interacção entre as pessoas do que nas
próprias pessoas.
Cada família é una e única, e ao longo da sua existência percorre um caminho
tendo um objectivo comum. É importante como profissional de saúde, conhecer este
percurso, denominado por Ciclo Vital, de forma a poder identificar a etapa em que a
família se encontra, com o intuito de exercer uma intervenção terapêutica eficaz.
Ao longo do ciclo de vida da família, há períodos de equilíbrio/desequilíbrio,
adaptação e ajustamento às novas tarefas e funções, próprias de cada etapa. É necessário
atender à capacidade de expansão, contracção e realinhamento dos relacionamentos
aquando entrada, saída e desenvolvimento dos membros da família.
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Precisamos, aprender a lidar com as respostas dramáticas da família que se vêm
apresentando enquanto grupo (relações conflituosas e destrutivas) e por intermédio dos
seus elementos individuais e assim estabelecer processos de atenção á família,
auxiliando-as a enfrentar desafios e que proponham novas articulações visando uma
condição humana melhor.
28
uma lesão na metade direita do cérebro pode causar paralisia do lado esquerdo,
enquanto que uma lesão da metade esquerda do cérebro pode causar paralisia do lado
direito. As lesões da metade esquerda do cérebro podem dar origem a perturbações da
fala e levar o doente a perder a percepção do lado direito do corpo ou do ambiente que o
rodeia. (DGS, 2000).
Mausner (1999) citado por Nobre (2004), refere que a expressão AVC é um
complexo de sintomas de deficiência neurológica, durando pelo menos vinte e quatro
horas e resultantes de lesões cerebrais provocadas por alterações da irrigação sanguínea.
Estas lesões cerebrais são provocadas por um enfarte, devido a isquémia ou
hemorragia, de que resulta o comprometimento da função cerebral. Este acontecimento
pode ocorrer de forma ictiforme (súbito), devido à presença de factores de risco vascular
ou por defeito neurológico focal (aneurisma).
A presença de danos nas funções neurológicas origina deficits a nível das funções
motoras, sensoriais, comportamentais, perceptivas e da linguagem. Os deficits motores
são caracterizados por paralisias completas (hemiplegia) ou parciais / incompletas
(hemiparésia) no hemicorpo oposto ao local da lesão que ocorreu no cérebro.
A localização e extensão exactas da lesão provocada pelo AVC, determinam o
quadro neurológico apresentado por cada utente e, o seu aparecimento é normalmente
repentino, oscilando entre leves ou graves, podendo ser temporários ou permanentes.
Segundo Morse e Harkreader (1998), a localização e tamanho da artéria cerebral
envolvida determinam o local e envolvimento da perda sensorial ou motora.
Segundo Nobre (2004), a prevalência, vai depender de múltiplos factores,
nomeadamente da capacidade de resposta de reabilitação na fase sub aguda. Não existe
número fidedigno em Portugal.
À medida que aumenta a quantidade de pessoas com 65 anos ou mais, pode-se ter
a expectativa de um aumento na incidência da doença cérebro vascular. Os dados
actuais da mortalidade mostram uma maior frequência de AVC entre os homens, sendo
que a frequência é maior entre a população não branca. A incidência de hipertensão e
arteriosclerose evidencia uma relação directa com a incidência de doença cérebro
vascular. Os factores socio-económicos que afectam a população não branca e os idosos
podem contribuir para a falta de um atendimento médico precoce e adequado, em casos
de hipertensão, desta forma acelerando a ocorrência de AVC (Hood e Dincher, 1995).
Os factores de risco aumentam a probabilidade de um acidente vascular cerebral,
mas, muitos deles, podem atenuar-se com tratamento médico ou mudança nos estilos de
vida.
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Os principais factores de risco de AVC são:
➟ Arteriosclerose;
➟ Hipertensão arterial;
➟ Tabagismo;
➟ Diabetes Mellitus;
➟ Obesidade;
➟ Arritmias cardíacas;
➟ Hereditariedade;
➟ Sedentarismo;
Existem outras causas menos frequentes de AVC como doenças inflamatórias das
artérias, alguns tipos de reumatismo, uso de drogas como a cocaína, doenças do sangue
e da coagulação sanguínea. Finalmente, a presença de AIT’s é um factor de risco
extremamente importante visto que cerca de 1/3 dos indivíduos que sofrem AIT’s,
acabarão por sofrer um AVC dentro de cinco anos (Toole, 1979, citado por Nobre
2004).
O Grupo de Estudos das Doenças Cérebro vasculares da Sociedade Portuguesa de
Neurologia, define factor de risco como característica ou estilo de vida num individuo,
ou numa população, que indica que esse individuo ou essa população tem uma
probabilidade aumentada para o AVC quando comparado com um individuo, ou essa
população, sem essa característica. Este grupo classifica da seguinte forma os factores
de risco:
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➟ Factores de Risco Prováveis: Lípidos; Fibrinogénios e Hematócrito;
Obesidade; Hormonas Sexuais Femininas; Sedentarismo.
Antunes e Ferro (1986) citado por Martins (2002) referem ainda que, a estação do
ano tem uma relação com a ocorrência de AVC, pois é maior nos períodos de
temperaturas extremas (altas ou baixas). Outros autores são da opinião que os meses de
Inverno são os mais propensos ao aparecimento de AVC.
A história natural da doença diz-nos que muitos dos factores de risco são
identificáveis já em idades jovens e que influenciam a probabilidade de ocorrência da
doença anos mais tarde. Sendo assim é possível reduzir a incidência de AVC reduzindo
a prevalência dos factores de risco na população, identificando os indivíduos com alto
risco, os quais podem ser tratados (Oliveira e Candeias, 2000).
Quanto maior for o número de factores de riscos identificados no indivíduo, maior
será a probabilidade de ocorrência de AVC.
SISTEMA ERVOSO
O SNC recebe, analisa e integra informações. É o local onde ocorre a tomada de decisões
e o envio de ordens. O SNP carrega informações dos órgãos sensoriais para o sistema nervoso
central e do sistema nervoso central para os órgãos efectores (músculos e glândulas).
O TELENCÉFALO
O encéfalo humano contém cerca de 35 bilhões de neurônios e pesa
aproximadamente 1,4 kg. O telencéfalo ou cérebro é dividido em dois hemisférios
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cerebrais bastante desenvolvidos. Nestes, situam-se as sedes da memória e dos nervos
sensitivos e motores. Entre os hemisférios, estão os ventrículos cerebrais (ventrículos
laterais e terceiro ventrículo); contamos ainda com um quarto ventrículo, localizado
mais abaixo, ao nível do tronco encefálico. São reservatórios do líquido céfalo-
raquidiano, (Líquor), participando na nutrição, protecção e excreção do sistema
nervoso.
Ao longo do seu desenvolvimento, o córtex ganha diversos sulcos para permitir
que o cérebro esteja suficientemente compacto para caber na calote craniana, que não
acompanha o seu crescimento. Por isso, no cérebro adulto, apenas 1/3 da sua superfície
fica "exposta", o restante permanece por entre os sulcos.
O córtex cerebral está dividido em mais de quarenta áreas funcionalmente
distintas, sendo a maioria pertencente ao chamado neocórtex.
Cada uma das áreas do córtex cerebral controla uma actividade específica.
➟ Hipocampo: região do córtex que está dobrada sobre si e possui apenas três
camadas celulares; localiza-se mediamente ao ventrículo lateral;
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Evidências indicam que a via motora directa funciona para facilitar a iniciação de
movimentos voluntários por meio dos gânglios da base. Essa via origina-se com uma
conexão excitatória do córtex para as células do putamen. Estas células estabelecem
sinapses inibitórias em neurónios do globo pálido, que, por sua vez, faz conexões
inibitórias com células do tálamo (núcleo ventrolateral). A conexão do tálamo com a
área motora do córtex é excitatória. Ela facilita o disparo de células relacionadas a
movimentos na área motora do córtex. Portanto, a consequência funcional da activação
cortical do putâmen é a excitação da área motora do córtex pelo núcleo ventrolateral do
tálamo.
O TRONCO CEREBRAL
O tronco cerebral interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se
ventralmente ao cerebelo. Possui três funções gerais;
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➟ Recebe informações sensitivas de estruturas cranianas e controla os músculos
da cabeça;
➟ Controle da respiração;
➟ Controle do equilíbrio;
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(estereognosia, grafestesia, descriminação de dois pontos, palestesia, tato
discriminativo, barestesia, barognosia...)
Vias Extrapiramidais:
Vias Piramidais:
➟ Córtico-espinhal: Principal via motora, após deixar o córtex este feixe passa
através do ramo posterior da cápsula interna (entre o núcleo caudado e
putâmen dos núcleos da base) e corre depois para baixo pelo tronco cerebral.
A grande maioria das fibras piramidais cruzam nas pirâmides bulbares, então,
para o lado oposto descem nos feixes corticoespinhais laterais da medula.
Algumas das fibras não cruzam para o lado oposto do bulbo, mas descem
lateralmente ao longo da medula nos feixes corticoespinhais ventrais, mas
muitas dessas fibras também cruzam para o lado oposto da medula na altura do
pescoço ou na região torácica superior. Daqui resulta o que a lesão cerebral a
esquerda apresenta sintomatologia no hemicorpo oposto ao lado cerebral, ou
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seja, lesão cerebral esquerda apresenta hemiparesia ou hemiplegia a direita, e
lesão cerebral a direita com hemiparesia ou hemiplegia a esquerda.
O CEREBELO
Situado atrás do cérebro está o cerebelo, que é primariamente um centro para o
controle dos movimentos iniciados pelo córtex motor (possui extensivas conexões com
o cérebro e a medula espinhal). Como o cérebro, também está dividido em dois
hemisférios. Porém, ao contrário dos hemisférios cerebrais, o lado esquerdo do cerebelo
está relacionado com os movimentos do lado esquerdo do corpo, enquanto o lado
direito, com os movimentos do lado direito do corpo.
O cerebelo recebe informações do córtex motor e dos gânglios basais de todos os
estímulos enviados aos músculos. A partir das informações do córtex motor sobre os
movimentos musculares que pretende executar e de informações proprioceptivas que
recebe directamente do corpo (articulações, músculos, áreas de pressão do corpo,
aparelho vestibular e olhos), avalia o movimento realmente executado. Após a
comparação entre desempenho e aquilo que se teve em vista realizar, estímulos
correctivos são enviados de volta ao córtex para que o desempenho real seja igual ao
pretendido. Dessa forma, o cerebelo relaciona-se com os ajustes dos movimentos,
equilíbrio, postura e tónus muscular.
Segundo Fraporti (2004), mesmo sem ter a capacidade directa de causar
contracção muscular, é um órgão muito importante, ajuda a sequenciar as actividades
motoras e também monitorar, faz ajustes correctivos nas actividades motoras do corpo
de modo que atendam aos sinais motores dirigidos pelo córtex motor e por outras partes
do cérebro.
O CÓRTEX MOTOR
A porção do córtex anterior ao sulco central constitui a metade posterior do lobo
frontal é devotada quase que inteiramente ao controle dos músculos e dos movimentos
corporais. Os sinais motores são transmitidos do córtex para a medula espinhal pela via
corticoespinhal e, indirectamente por múltiplas vias acessórias que compreendem os
gânglios da base, cerebelo, e núcleos do tronco cerebral.
O Córtex motor é dividido adicionalmente em três subáreas, cada uma tendo sua
representação de grupos musculares e funções motoras específicas do corpo:
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