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Anglicismos... ou talvez não - Jornal Tornado http://www.jornaltornado.

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Anglicismos… ou talvez não


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March 19, 2016

Os anglicismos perseguem-nos e já fazem parte do nosso linguajar diário.

Quem usa computador não diz «carrega na tecla do


apagar», mas sim «carrega na tecla do delete» (e lemos
com pronúncia inglesa, «dilite»). Os filmes de cowboys
nunca serão de vaqueiros. E se o mouse lá conseguiu ser
rato e os links cada vez mais se tornam ligações, já os
bifes (de beef, carne de vaca na língua inglesa) ou o
futebol (football) já ninguém nos tira, pois que até os
incluímos nos nossos dicionários.

Adriana Freire Nogueira

Os exemplos são inúmeros. Não vale a pena enumerar mais, pois todos os
conhecemos.
Não se pense, porém, que em Inglês não há lusitanismos.

Comprei um dicionário etimológico daquela língua para oferecer a um amigo e andei por lá a
bisbilhotar antes de lho oferecer. Foi nessas andanças que encontrei a marmelada. A nossa é
feita de marmelos, que só servem para isso mesmo (também servem para a geleia, claro), de tão
duros que são. A marmelade deles é usada para designar o que chamamos genericamente
«doce de qualquer coisa». Apesar de ter havido hesitações entre origem francesa ou
portuguesa, marmelade está atestada desde 1480 e é aceite como sendo de origem lusitana.
Parece que as nossas exportações para Inglaterra seriam de tal monta que, em 1495, até foi
criado um imposto específico para este produto. Apesar de a forma ser igual à francesa
marmelade, essa etimologia não vingou, visto só quase um século mais tarde, em 1573, se ter
encontrado referências documentais ao termo.

Voltando ao início deste texto (não se diz que as palavras são como as cerejas? Vêm umas atrás
das outras…), um dos exemplos que indiquei, curiosamente, não é de uma palavra inglesa do
ramo germânico da língua, mas sim uma palavra latina, deletare, com o mesmo significado.
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Era sobre este tipo de suposição etimológica (falsas etimologias, como por vezes
são chamadas) que queria tratar hoje.
Surpreendeu-me, há uns tempos, uma reportagem de um telejornal sobre o uso de palavras
estrangeiras na nossa língua. A jornalista alargou o tema e tratou mais concretamente os
anglicismos (palavras de língua inglesa introduzidas em Português). Foi nesse contexto que
entrevistaram uma professora da Universidade Nova de Lisboa, com a qual tenho de discordar
(coisa que detesto fazer). Mas… paciência.

A propósito de «paciente», com o sentido de «doente», afirmando que os médicos não têm
pacientes, mas doentes, disse a referida professora que esta palavra vinha do inglês pacient e
que, por isso, seria de evitar.

Não é bem verdade. Isto é, é de evitar estar doente, claro, mas não há razão para evitar o uso
do vocábulo.

Como adjectivo, paciente significa «o que sabe esperar», único sentido que lhe foi atribuído
naquela reportagem. Como substantivo, além de «indivíduo que espera calmamente» (veja-se a
definição no dicionário de António Houaiss, por exemplo), significa também «aquele que está
doente».

Paciente vem directamente do particípio presente do verbo depoente (um verbo depoente é um
verbo que tem forma passiva – em Latim a voz passiva tinha uma morfologia própria – mas
sentido activo) latino patior, que significa «sofrer». Portanto, paciente é aquele que sofre. O
mesmo se passa com o seu cognato, o nome paixão (passio, passionis), na acepção que
encontramos quando falamos da paixão de Jesus Cristo.

Neste contexto, não nos estamos a referir a nenhum amor, mas, sim, à expressão do seu
sofrimento; também o nome passos é da família de patior, num mesmo contexto religioso, na
expressão Senhor dos Passos. Não se chama assim à imagem de Cristo que passeia ou que dá
passos (pois assim seria do nome latino passus, passus), mas sim ao Cristo que sofre, dado que
passus, passa, passum é o particípio passado do mesmo verbo patior.

O que acontece, infelizmente, na maior parte das vezes, é termos de ser pacientes quando
somos pacientes de alguns médicos…

* Doutorada na área dos Estudos Clássicos, é professora na Universidade do Algarve e,


actualmente, também directora da Biblioteca.Traduziu diálogos de Platão, escreveu livros de
aventuras para jovens (sobre as aventuras do Hércules) e variados artigos na sua área de
investigação. Escreve regularmente na imprensa daquela região.
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