- O conceito de sociedade: precária articulação de problemas diversos
(p. 08) - A sociedade é cada um dos incontáveis agrupamentos e configurações constituídos para além das formas individuais de existência (p. 11) - O “indivíduo” é um objeto da vivência – a forma pela qual cada um sabe da unidade de si mesmo e do outro EM situação de influência recíproca (p. 12) - O indivíduo apresenta-se como uma composição [Ex. a construção da “história de vida”] de qualidades, destinos, forças e desdobramentos históricos específicos (p. 13) - Indivíduo e sociedade são recortes temáticos. Só os propósitos específicos de pesquisa decidem se a realidade será investigada em um sujeito individual ou coletivo. Ambas são igualmente “pontos de vista” (como modos de observação) (p. 15) - O conceito de sociedade significa a interação psíquica entre indivíduos (p. 15) - Os laços de associação entre os homens são incessantemente feitos e desfeitos, para que então sejam refeitos (marcados pela fluidez e pela pulsação) (p. 17) - A sociedade significa sempre que os indivíduos estão ligados uns aos outros pela influência mútua que exercem entre si e pela determinação recíproca que exercem uns sobre os outros (p. 17) - A sociedade é funcional: é algo que os indivíduos fazem e sofrem ao mesmo tempo (SOCIAÇÃO) – interligação por meio de relações mútuas entre os indivíduos, compondo unidades (p. 18) - A sociedade é um acontecer, que tem uma função pela qual cada um recebe de outrem ou comunica a outrem um destino e uma forma (p. 18) 2
- Objeto de estudo da sociologia: o que ocorre com os seres
humanos e suas regras quando formam grupos e são determinados pela existência em grupo? (p. 19) - Linguagem, religião, estados e cultura material, por exemplo, são criações oriundas das relações recíprocas entre os seres humanos, permanentemente reconstituídas por meio da sucessão de gerações (p. 21) - A sociologia se aclimata a cada campo específico de pesquisa (economia, geografia, história, etc.) – adota o método indutivo em todos os seus problemas (p. 22) - Cada aspecto econômico, político, jurídico, religioso e cultural são simultaneamente atravessados pelo social (determinação tecida no interior de outras determinações de outras áreas) (p. 26) - Os fatos sociais não são somente sociais. Há sempre um conteúdo objetivo de tipo sensorial, espiritual, técnico ou psicológico socialmente corporificado (p. 33) - Apesar das diferenças entre os grupos sociais, existem os mesmos modos formais de comportamento dos indivíduos entre si universalmente: dominação, subordinação, concorrência, imitação, divisão do trabalho, etc. (Presente em comunidades religiosas, políticas, etárias, culturais, etc.) (p. 34) - A sociologia é uma ciência específica em seu modo particular de responder às questões de pesquisa (conceitos, axiomas e procedimentos) (p. 35) 3
Norbert ELIAS. A Sociedade dos Indivíduos (1939)
- Uso indiscriminado da palavra sociedade (p. 13) [Perguntar o que
é sociedade] - As transformações históricas independem das intenções de qualquer pessoa em particular (p. 13) - Adeptos compreensões da relação entre indivíduo e sociedade: 1) Obscura a ligação entre atos e objetivos individuais e as formações sociais; 2) Como vincular as forças produtoras das formações sociais às metas e atos dos indivíduos (p. 15) - O todo é diferente da soma de suas partes: ele incorpora leis de um tipo especial. Dão origem a uma unidade de potência maior, incompreensível quando suas partes estão isoladas, sem relação entre si (p. 16) - Rompimento da visão antitética entre indivíduo e sociedade: nenhum dos dois existe sem o outro – formam um “sistema solar”, ou “sistemas solares que formam a Via-Láctea” (o indivíduo só existe na companhia dos outros e a sociedade só se produz como conjunto de indivíduos) (p. 18) - Pairando sobre a liberdade individual permanece uma ordem oculta e não diretamente perceptível pelos sentidos, mas vivido continuamente (no comportamento cotidiano, nas trocas, nos rituais, no trabalho, etc.) (p. 21) - Laços invisíveis ligam os indivíduos no turbilhão da diversidade: laços de trabalho, propriedade, afetos, etc. (p. 22) - Existem redes de dependência que estruturam, cada uma a seu modo, a forma de associação entre seres humanos (povos caçadores/coletores, comunidades de base agrícola, sociedade industrial de classes, etc.) (p. 22) - Ocorre, portanto, uma ligação funcional preexistente entre as pessoas (p. 22) 4
- Todas as funções interdependentes entre os indivíduos (profissões,
papeis familiares, vínculos religiosos, etc.) são funções que uma pessoa exerce para as outras (um indivíduo para outros indivíduos) – funções ao mesmo tempo relacionadas com terceiros (p. 23) - Cada pessoa singular está presa por viver em permanente dependência funcional das outras (ela é um elo nas cadeias que ligam outras pessoas) (p. 23) - Não são cadeias visíveis e tangíveis, MAS sim elásticas, variáveis e mutáveis. Trata-se de uma rede de funções, que as pessoas desempenham umas em relação a outras (o que é a própria sociedade) (p. 23) - Estruturas sociais: leis autônomas das relações entre as pessoas individualmente consideradas (p. 23) - A estrutura não é outra coisa senão a das relações entre as diferentes partes (indivíduos, grupos e instituições). Para compreendê-la deve-se pensar em termos de relações e funções (p. 25) - O modo como os indivíduos se portam é determinado por suas relações passadas ou presentes com outras pessoas (ex. gestos relacionados com os outros – interação) (p. 26) - A propriedade relacional por meio da sociedade é uma condição fundamental da existência humana (presença de diversas pessoas inter-relacionadas) (p. 27) - É apenas na sociedade que a criança pequena se transforma num ser mais complexo (forma pela qual se reproduzem as relações estruturais ao longo do processo histórico – mudança – sociedades frias e sociedades quentes) (p. 27) (p. 42) - A própria condição da “individualidade” só é possível para a pessoa que cresce num grupo, numa sociedade (p. 27) - As pessoas mudam sempre em relação umas às outras, moldando- se e remoldando-se em relação umas às outras (fenômeno reticular, em rede, interação, relação recíproca) (p. 29) - A sociedade é uma rede, em que o indivíduo precisa ser adaptado ao outro e vice-versa (p. 30) 5
- Os indivíduos ocupam lugares socialmente designados, moldados
pela estrutura específica da rede social (p. 31) - O indivíduo sempre existe, no nível mais fundamental, na relação com os outros (p. 31) - Quanto mais individualista, mais é estruturalmente complexa é a sociedade (p. 32) - A individualidade se processa no contexto da competição e das tensões entre os vários grupos sociais (p. 33) - As propriedades psíquicas e orgânicas dos seres humanos assumem seu caráter individual EXATAMENTE dentro e através de relações com os outros (p. 35) - As funções psicológicas (como o inconsciente) são formas particulares de auto-regulação da pessoa em relação a outras pessoas e coisas (moldagem sociogênica – ex. a fala) (p. 36) - Os indivíduos partem de uma rede de pessoas que existem antes dele, para uma rede que ele ajuda a formar (p. 35) - Cada pessoa só é capaz de dizer “eu” se e porque pode, ao mesmo tempo, dizer “nós”. Até mesmo a ideia “eu sou” e “eu penso” pressupõe a existência de outras pessoas e um convívio com elas (p. 57) - Ideias, convicções, afetos, necessidades e traços de caráter produzem-se no indivíduo mediante a interação com os outros (p. 36) - É esse entrelaçamento incessante, mutável, maleável e sem começo que determina a natureza e a forma do ser humano individual (p. 36) - Psique, sociedade e história são complementares, só podendo ser estudadas em conjunto (p. 38) - Os seres humanos são parte de uma ordem natural e de uma ordem social (formação do homo sapiens) (p. 41) - O que molda e compromete o indivíduo com a sociedade é a vinculação dos seus desejos e comportamentos com os das outras pessoas, dos vivos, dos mortos e dos que ainda não nasceram – ou seja, a dependência dos outros e a dependência que os outros têm dele (p. 43) 6
- Característica da vinculação do indivíduo à sociedade: formas de
divisão entre as pessoas (p. 44) - As forças que impelem às redes sociais alteraram a forma e a qualidade do comportamento humano, impelindo os homens em direção à civilização (ambiente que as pessoas formam umas para as outras) (p. 45) - Forma-se, desse modo, um continuum de seres humanos interdependentes num movimento próprio e mutante (p. 46) - História: sistema de pressões exercidas por pessoas vivas sobre pessoas vivas (p. 47) - Os indivíduos isolados não têm como transgredir as leis autônomas da rede social, das quais provêm seus atos e para qual eles são dirigidos (sua margem de decisão depende da estrutura e da constelação histórica da sociedade) (p. 48) (p. 49) - Poder – extensão especial da margem individual de ação associada a certas posições sociais, i.e., oportunidade social ampla de influenciar a auto-regulação e o destino de outras pessoas (p. 50) - O indivíduo é, ao mesmo tempo, moeda e matriz da sociedade (auto-regulação e regulação dos outros) (p. 52) - A sociedade não apenas produz o semelhante e o típico, mas também o individual (o grau variável de individuação entre os membros de grupos e camadas diferentes) (p. 56) - O entrelaçamento das necessidades e intenções de muitas pessoas sujeita, cada uma delas individualmente a compulsões (imposição interna) que nenhuma pretendeu (p. 58).