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EXCELÊNCIA EM

gestão Ano IV | nº 05 | Outubro | 2012

geração
educação
preparar agora os talentos
que conduzirão o Brasil no
século 21

1
2
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
3
expediente

Este material foi impresso com papel


oriundo de floresta certificada e outras
fontes controladas, o que demonstra
preocupação e responsabilidade com
o meio ambiente.

Excelência em Gestão
Publicação anual da Fundação
Nacional da Qualidade (FNQ)

Ano IV - Número 5
Outubro de 2012
ISSN 2179-7919

Coordenação Geral
Jairo Martins
Superintendente geral

Coordenação Editorial
Caterine Berganton

Produção
NUVEM DE TAGS DESTA EDIÇÃO Folie Comunicação
A nuvem de tags ou tag cloud identifica as palavras mais
citadas nas matérias desta edição. Para defini-la, utilizamos a Editora
ferramenta Wordle (www.wordle.net). A quantidade de vezes Marisa Meliani - MTb 20435
que a palavra aparece é apresentada proporcionalmente ao
tamanho da fonte. Reportagem e redação
Ana Paula Ramos, Frideriki Karathanos,
Marisa Meliani e Tarcísio Alves

Nossa capa Direção de Arte


É um desejo e um movimento para construir um PaulaLyn de Carvalho
sistema educacional de qualidade em nosso País.
Um trabalho no presente que formará uma futura Fotos
geração de crianças e adolescentes plenamente André Conti e Acervo FNQ
educados para conduzir o Brasil em desenvolvimento.
Geração Educação ou GeraçãoE será a Geração da Ilustração/Capa
Excelência da Educação. iStockPhoto/Chuwy

Ilustrações iStockPhoto
Chuwy | 8, 10, 15, 17, 20, 56,
Nancy Edmonds | 12, 18, 24, 39, 62, 68
patrocínio
Alexvande Hoef | 22
Enjoynz | 74

Impressão
Ajudamos organizações a se tornar classe mundial Margraf
Tiragem: 7 mil exemplares

© 2012 - FNQ. Todos os direitos reservados.


É proibida a reprodução total ou parcial
dos conteúdos desta publicação sem prévia
autorização da FNQ.
www.fnq.org.br
Velocidade e álcool: combinação fatal.

volvo

sEguir a trilha da prOspEridadE


É por isso que o Brasil vai com a Volvo
O Brasil produz cada vez mais. E a Volvo transporta as
riquezas do país pelos caminhos do desenvolvimento.

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ÍNDICE

09 Editorial

Transformação pela
educação

Análise

11 A excelência da
educação

22 Em perspectiva

O uso da tecnologia na
educação
Entrevista
28
Richard Gerver e a
sala de aula do futuro

30 Seminário
20º SEBE - Transformar
pela Educação: o impacto
na competitividade das
organizações

60 Fórum
9º Fórum Empresarial
da FNQ - Evolução da
Gestão: perspectivas e
tendências
Entrevista
72
Humberto Mariotti
fala sobre a gestão da
complexidade
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

80 Artigo

Ricardo Guimarães -
Vítimas ou campeões
da incerteza
6
compumax

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8
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
EDITORIAL
tranSformação pela educação

Em 2012, a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) realizou o


20º Seminário Internacional em Busca da Excelência, com o tema
Transformar pela Educação: o impacto na competitividade das organizações.
Os debates e palestras contaram com as presenças do ex-presidente da
República Fernando Henrique Cardoso, do empresário Jorge Gerdau
Johannpeter, do presidente da Fiat do Brasil, Cledorvino Belini, do
economista Gustavo Ioschpe e do consultor britânico de Políticas
Educacionais, Richard Gerver, entre outras lideranças empresariais e
representantes de instituições civis.
O objetivo do evento foi promover uma análise da educação no Brasil, a fim
de apontar soluções conjuntas e acelerar a busca por melhorias. Ao final, a
maioria do participantes defendeu uma gestão da educação não atrelada à
transitoriedade de governos e sugeriu um fórum permanente, que canalize
e organize as iniciativas de maneira alinhada, planejada e contínua.
Como desdobramento das discussões do 20º Seminário, a FNQ pretende
customizar o Modelo de Excelência da Gestão® (MEG) para a Educação,
contando com o apoio dos setores privado e público, bem como
encaminhar um documento propositivo ao Ministério da Educação com
as sugestões consensuadas no evento.
Temos um enorme desafio pela frente e de longo prazo, mas há alguns
passos imediatos. Profissionalizar a gestão da educação é imprescindível,
para que, em futuro certo, possamos contar com escolas e universidades de
excelência, prontas para formar os talentos que conduzirão o Brasil em sua
vocação de nação desenvolvida.
Nesta edição, você confere, ainda, uma síntese do 9º Fórum Empresarial –
Evolução da Gestão: perspectivas e tendências. A proposta do encontro foi
resgatar um pouco da história da instituição, reunindo alguns protagonistas
na criação da FNQ, e promover uma reflexão sobre os próximos 20 anos.
Essas iniciativas demonstram a disposição da FNQ em debater os
grandes temas do Brasil e participar ativamente como um dos agentes
da construção de uma sociedade cada dia mais forte, justa e com
oportunidades de crescimento para todos.

Boa leitura!

Jairo Martins
Superintendente Geral da FNQ

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EXCELÊNCIA EM GESTÃO

10
ANÁLISE

a excelência
da educação
Uma educação de qualidade é a
principal estratégia para garantir
o desenvolvimento de qualquer
país. Todos sabem disso. Então, por
As soluções para a melhoria da educação no Brasil
que o Brasil caminha a passos não são simples, especialmente porque acabamos
lentos para decolar no setor e de sair de patamares de subdesenvolvimento
ganhar competitividade entre as socioeconômico.
nações emergentes? Somos, atualmente, o 6º maior PIB do mundo, mas
também o 84º IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) no ranking global. Bastam esses números para
demonstrar que a distribuição desigual de renda é um
dos principais entraves ao avanço dos indicadores da
educação no Brasil.
É bom que se diga: não estamos parados. Os números
da área mostram uma evolução contínua, mas em
passos lentos e distantes dos objetivos de uma nação
que pretende ser protagonista no cenário mundial.
No Brasil, a diversidade de contextos e sua dimensão
continental fazem coexistir verdadeiras ilhas de
excelência educacional ao lado de escolas com
infraestrutura totalmente precária, baixa remuneração
e qualificação deficiente de professores, evasão escolar,
falta de vagas e - perplexidade maior - a existência de
bolsões de pobreza em que crianças vão à escola mais
para se alimentar do que para aprender.
Enquanto não resolvemos questões elementares como
essas, o mundo não para e já discute os impactos
que as tecnologias de informação e conectividade
produzirão nos métodos de ensino e até no futuro
formato da sala de aula.

11
ANÁLISE
ANÁLISE

É necessário criar um
plano nacional contínuo e Os números da educação no Brasil são massivos.

responsável, que envolva Segundo o último Censo Escolar da Educação Básica


2011, divulgado pelo Instituto Nacional de Ensino
a sociedade e perdure e Pesquisas (Inep), temos 50,9 milhões de alunos
matriculados, sendo 43 milhões (84,5%) em escolas
mesmo após a troca de públicas e 7,9 milhões (15,5%) em escolas da rede
governos. privada. Já no Censo da Educação Superior 2011, o
número de matriculados totaliza 6,5 milhões, dos quais
6,3 milhões em cursos de graduação e 173 mil na
pós-graduação.
Como se observa, há um grande afunilamento de
vagas no ingresso ao ensino superior, a ser enfrentado
pelo jovem brasileiro que conseguir superar os
obstáculos para concluir a educação básica. É o que
aponta também um estudo da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
com dados do Brasil em 2010: entre pessoas da faixa
etária dos 25 aos 34 anos, apenas 9% concluíram o
ensino superior, número muito distante, por exemplo,
dos 65% na Coreia do Sul.

LINHA DO TEMPO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL


EXCELÊNCIA EM GESTÃO

1932 1934 1948


Lançado o Manifesto dos Constituição cria o primeiro Projeto da Lei de Diretrizes e Bases
Pioneiros da Educação Nova, um Conselho Nacional de Educação, da Educação Nacional (LDB), com
dos primeiros a chamar a atenção determinando a formulação de foco financeiro, dá entrada no
para a necessidade de planejar a um plano nacional, elaborado em Congresso Nacional e tramita por
educação e organizá-la em todo o 1937, mas que não chega a ser 13 anos. Em 1961, a lei é sancionada
território. implantado em razão do golpe do e passa a vigorar no País.
Estado Novo.
12
Em cenário de crise econômica mundial e de
expectativa de crescimento dos países emergentes, os
números da OCDE mostram que o Brasil ainda não está
preparado sequer para atender à sua demanda interna
por maior produtividade, quanto mais para exercer um
papel protagonista no mercado global.
Embora exista a garantia por lei de vagas no ensino
fundamental, o que representa um ganho quantitativo
nos primeiros anos da formação educacional, a Taxas de Atendimento Na
massa de crianças que sai dessa etapa não encontra educação infantil
vagas suficientes no ensino médio ou estímulo para A oferta de vagas gratuitas em creches
prosseguir os estudos e – o que é pior – não conta com e na pré-escola é garantida por lei, e é
uma educação de qualidade nas escolas públicas. responsabilidade dos municípios. Veja alguns
A tendência, para as famílias que podem pagar, é números do atendimento à educação infantil:
recorrer ao ensino particular. Mas também nesse setor ƒƒ De 2010 a 2011: aumento de 3,3% no
há sérios problemas de qualidade, especialmente atendimento da educação infantil, com 11%
quando o foco do negócio deixa de ser a educação a mais de matrículas em creches e -0,2% na
e passa a ser o lucro puro e simples. Em um quadro educação infantil*
como esse, conhecer os problemas do setor e propor ƒƒ Crianças matriculadas em creches e
soluções são medidas urgentes e necessárias para educação infantil: 6,9 milhões
recuperar as décadas de atraso no desenvolvimento ƒƒ Crianças de 4 a 5 anos fora da escola**:
da educação em nosso País. 1,1 milhão ou 18% da faixa etária

* Segundo o INEP, o decréscimo ocorre pela redistribuição


do público no ensino fundamental, que passou a receber
crianças com 6 anos de idade. Fonte: Censo Escolar da
Educação Básica 2011 INEP.
** Unicef aponta 1,4 milhão

1996 2001 2007


Em determinação à Constituição Os dois textos são unificados e o Lançado o Plano de
de 1988, a LDB de 1996 estipula um Plano Nacional de Educação (PNE) Desenvolvimento da Educação
ano para a elaboração de um plano é convertido em lei, com vigência (PDE), uma política pública por
nacional, concebido com a junção até janeiro de 2011. decreto, que não substitui o PNE e
das propostas do governo federal e vigora relacionado ao PAC (Programa
de um grupo de educadores. de Aceleração do Crescimento).

13
ANÁLISE

planos para sair do papel


LDB, PNE, PDE, Ideb, Pronatec, Enem, Enade. A (PDE), que também dá atenção à educação básica,
educação no Brasil tem muitas siglas criadas ao longo mas prevê incentivo à Educação de Jovens e Adultos
do tempo e dos governos, na tentativa de organizar, (EJA) e relaciona algumas iniciativas ao PAC (Programa
avaliar e buscar melhorias na educação. Contudo, de Aceleração do Crescimento), como garantir energia
mesmo com tantas iniciativas, as políticas educacionais elétrica às unidades escolares e transporte escolar na
parecem ser desconectadas entre si e da realidade do zona rural, entre outras.
mundo em transformação. Os dois planos procuram impulsionar melhorias na
As mudanças no mercado, nas relações e no modo de educação, mas não foram suficientes até o momento
adquirir informação e conhecimento avançam de forma para alavancar os indicadores. Um relatório do Unicef
espantosamente veloz, ao passo que a educação no Brasil (Fundo das Nações Unidas para a Infância), divulgado
segue devagar e com metas pouco ambiciosas. em agosto de 2012, mostra que o Brasil possui
Na verdade, temos dois grandes planos para a área. 3,7 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17
O primeiro foi criado em 2001, na gestão Fernando anos fora da escola, com causas identificadas em
Henrique Cardoso, quando o MEC (Ministério da situações de pobreza, algum tipo de deficiência,
Educação) lançou o PNE (Plano Nacional de Educação), falta de interesse, repetência, gravidez precoce e
um conjunto de metas e ações para elevar, até 2022, necessidade de trabalhar. Entre crianças de 4 e 5 anos,
o nível da educação brasileira aos patamares dos o número chega a 1,4 milhão fora da escola (ver pág.
países desenvolvidos. O PNE continua valendo e está, 13), sendo 56% delas negras.
atualmente, na pauta do Congresso Nacional com uma A mesma pesquisa revela que há 1,5 milhão de
proposta de elevação do investimento em educação dos adolescentes, entre 15 e 17 anos, em evasão escolar
atuais 5,5% para 10% do PIB (veja pág. 17). no ensino médio, provavelmente não relacionada à
Em 2007, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o MEC falta de vagas, mas ao desinteresse pela escola e à
lançou o Plano de Desenvolvimento da Educação necessidade de entrar para o mercado de trabalho.

ALFABETIZAÇÃO x DESIGUALDADE
Segundo o Indicador de Analfabetismo Funcional não-governamental AlfaSol. Até 2010, esse programa
(INAF) de 2012, 27% da população brasileira acima de atendeu 5,5 milhões de alunos em 2.205 municípios
15 anos não consegue ler e compreender um texto brasileiros, além de capacitar 257 mil alfabetizadores,
simples. É um número grave, que afeta a qualidade por meio de parcerias com empresas e Instituições
da formação no ensino superior e o desenvolvimento de Ensino Superior (IES). Em 2003, o MEC lançou
dos jovens no mercado de trabalho. Não é incomum o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), voltado a
encontrar estudantes em universidades sem jovens, adultos e idosos e atendimento prioritário a
qualquer domínio de questões simples de gramática 1.928 municípios com taxa de analfabetismo igual
ou matemática. A PNAD 2011 (Pesquisa Nacional por ou superior a 25%. Um dos resultados do PBA foi
Amostra de Domicílio), do IBGE, confirma o índice divulgado na PNAD 2011: o Piauí conseguiu reduzir o
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

do INAF, mas mostra que a taxa de analfabetismo índice de analfabetismo de 30% em 2003, para 17,2%
total no País caiu de 9,6% em 2009, para 8,6% em 2011. Em outra medida, o MEC está lançando, em
em 2011. O analfabetismo tem predomínio nos 2012, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Estados do Norte e Nordeste – o que confirma a Certa, que busca alfabetizar efetivamente todas as
estreita ligação com a desigualdade social – e na crianças ao fim do 3º ano do ensino fundamental,
população acima de 50 anos. Seu combate vem de aos 8 anos de idade (meta do PNE, em tramitação no
longa data. Em 1996, a então primeira-dama Ruth Congresso). Até o momento, 5.182 municípios (93,2%
Cardoso criou o programa Alfabetização Solidária, do total) aderiram ao pacto e receberão material
que posteriormente se tranformou na organização didático e cursos de formação docente.
14
FORÇA DA LEI
Algumas medidas no âmbito da legislação procuram alavancar os
indicadores da educação no País. Em 2009, por meio de emenda
constitucional, a matrícula dos 4 aos 17 anos de idade tornou-se
Tornar a obrigatória e as redes de ensino têm até 2016 para se adaptar à
escola mais nova regra. Poder público e pais que não cumprirem seus deveres,
respectivamente de ofertar a vaga e de matricular a criança, podem
atrativa e ser responsabilizados civil e penalmente.
alinhada à Em outra iniciativa, em agosto de 2012, a presidente Dilma
Rousseff sancionou o projeto de lei que reserva 50% das vagas nas
realidade dos universidades federais a alunos da rede pública. Dessa porcentagem,
jovens é um metade será destinada a estudantes cuja renda familiar é igual ou
inferior a 1,5 salário mínimo por pessoa. Também serão aplicados
dos desafios critérios raciais e a seleção deverá ser feita com base no Exame

das políticas Nacional do Ensino Médio (Enem).


A lei não modifica o sistema de adesão nas universidades estaduais
educacionais. nem nas particulares, que poderão continuar a escolher se adotam ou
não algum sistema de cotas. As universidades federais terão até quatro
anos para se adaptar às novas regras, mas até um ano para adotar ao
menos 25% do que a lei prevê.

ensino superior
A situação do ensino superior é particularmente percentual do PIB gasto com o setor: saltou de 3,5%
agravada, pois afeta diretamente a produtividade e a para 5,5%, entre 2000 e 2009. No entanto, desse total,
competitividade das empresas e do País. De acordo o País investiu em média 0,8% na etapa do ensino
com o MEC, o Brasil tem 17% dos jovens de 18 a 24 superior – o que o coloca em quarto lugar entre os
anos matriculados nas universidades ou já com cursos piores. O investimento brasileiro em universidades
concluídos. Entre 2000 e 2010, o número de matrículas também caiu 2% e não acompanhou o crescimento de
passou de 2,7 milhões para 6,4 milhões, segundo o 67% do número de alunos. Nos resultados em pesquisa
MEC, em razão de programas de bolsas de estudo e e desenvolvimento, o Brasil é o pior de uma lista de 36
financiamento, como o ProUni, Fies e Reuni. países, com 0,4% do PIB investido. A conclusão é que,
Os investimentos públicos na educação, de fato, nessa etapa da educação, estamos longe de reduzir
aumentaram. No ranking geral do relatório da OCDE, o déficit e, principalmente, de mitigar a questão mais
o Brasil ocupa a segunda posição no crescimento do importante: a falta de qualidade no ensino.

15
ANÁLISE

qualidade deve ser o foco


Em entrevista à Revista Excelência em Gestão, parceria pelo avanço na educação, com definição
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de metas e amplo debate por meio de uma agenda
afirma que o Brasil precisa encerrar a obsessão pela de reuniões e núcleos de estudo, convocando as
quantidade e sublinhar a qualidade na educação. organizações já envolvidas no tema. “As empresas são
“É bom e necessário ter recursos, mas é preciso saber as mais interessadas, pois só existem produtividade e
como usá-los. Isso implica gestão mais eficiente em competitividade em um país com acesso à educação
todo o mecanismo da educação”, recomenda. em todos os níveis”, assinala o empresário.
FHC conceitua a educação como um processo Envolvimento de todos
encadeado. “Exige currículo renovado e alinhado ao No âmbito do investimento, a educação tem um nível
que os estudantes desejam aprender, treinamento de de retorno demorado, ou seja, os resultados somente se
professores e avaliação de resultados. Outro ponto é manifestam a médio e longo prazo. “Mas, certamente,
mudar a mentalidade e aceitar que a grande tarefa da empenhar gastos com educação é o principal
educação é pública – e deve ser pública. O importante investimento que uma nação deve fazer no contexto
é envolver o setor privado na busca de soluções para da sociedade do conhecimento”, observa o professor
melhorar a eficiência do setor público. Isso pode ser Julio Cesar Godoy Bertolin, doutor em Educação e
feito por meio da transferência do conhecimento e das pesquisador nas áreas de Avaliação e Qualidade da
práticas, em um grande esforço nacional que integre Educação na Universidade de Passo Fundo (RS).
todos os setores da sociedade”, propõe. Para o especialista, integrante da Comissão Especial
O ex-presidente afirma ser impossível desconhecer de Avaliação que elaborou a proposta original do
que a expansão das empresas encontra dificuldades SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação
para obter profissionais qualificados. “Cabe à Superior), a falta de qualidade no setor envolve
organização o aperfeiçoamento de seus profissionais, variáveis e diferentes grupos de interesses. “A escola,
mas a formação é tarefa das escolas. É óbvio que as seus professores e os governos são os sujeitos mais
empresas podem e devem cooperar nesta formação, importantes do debate, mas não são os únicos
seja mantendo escolas para profissionais nas áreas responsáveis pela deterioração do ensino. A família,
de seu interesse, seja ajudando o poder público a o meio social e a própria mídia, que promove
melhorar a gestão e a qualidade do ensino universal e o materialismo exacerbado e o individualismo
técnico”, afirma FHC. extremo em nossas crianças e adolescentes, são
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

O empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente partes importantes na formação e desempenho dos
do Conselho de Administração da Gerdau e presidente estudantes”, lembra o professor.
da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho Bertolin salienta que a própria ideia de qualidade varia
e Competitividade do Governo Federal, defende de grupo para grupo. “Avaliar e julgar no campo da
um sistema educacional que prepare profissionais educação é uma das tarefas mais complexas no âmbito
e cidadãos com condições de competir no mundo das políticas públicas. Requer responsabilização,
globalizado. Sugere, igualmente, uma grande respeito à diferença, visão pluralista, responsabilidade

16
novo PnE em debate no congresso
No final de 2010, o governo federal enviou ao Congresso
Nacional o novo Plano Nacional de Educação (PNE),
para vigorar de 2011 a 2020, com 10 diretrizes objetivas
e 20 metas em todos os níveis, modalidades e etapas
educacionais. Ainda em tramitação no Congresso, o PNE
pretende envolver a sociedade no monitoramento das
ações e criar estratégias para a inclusão de minorias,
como alunos com deficiência, indígenas, quilombolas,
estudantes do campo e alunos em regime de liberdade
assistida. Confira as principais metas do PNE:
ƒƒ Universalização e ampliação do acesso e atendimento
em todos os níveis educacionais
ƒƒ Incentivo à formação inicial e continuada de
professores e profissionais da educação em geral
ƒƒ Avaliação e acompanhamento periódico e
individualizado de todos os envolvidos na educação
do País – estudantes, professores, profissionais,
gestores e demais profissionais
ƒƒ Estímulo e expansão do estágio
ƒƒ Universalização do ensino de 4 a 17 anos, prevista na
Emenda Constitucional nº 59 de 2009
ƒƒ Expansão da oferta de matrículas gratuitas em
entidades particulares de ensino e do financiamento
estudantil
ƒƒ Aumento da taxa de alfabetização e da escolaridade
média da população
ƒƒ Elaboração de currículos básicos e avançados
em todos os níveis de ensino e diversificação de
conteúdos curriculares
social e comprometimento coletivo”, pondera. ƒƒ Investimento na expansão e na reestruturação das
Com relação à educação superior, o professor redes físicas e em equipamentos educacionais –
acredita que o País ainda precisa criar um sistema de transporte, livros, laboratórios de informática, redes de
indicadores com aspectos de contexto, de entradas, internet de alta velocidade e novas tecnologias
de processo, de saídas e de resultados. Ele explica que
ƒƒ Ampliação progressiva do investimento público em
os indicadores de qualidade, divulgados atualmente
educação até atingir o mínimo de 10%* do Produto
pelo MEC, não estão estruturados como parte de um
Interno Bruto (PIB) do País, com revisão desse
conjunto maior de aspectos que permita uma análise
percentual em 2015
ampla e mais detalhada do desenvolvimento do
sistema da educação superior como um todo. * Este percentual é alvo de controvérsias entre o Congresso e o governo
federal, que estipulara 7% no projeto original

17
SAIBA MAIS

indicadores da educação no brasil


Buscar qualidade na educação significa garantir o ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e
ingresso na escola e também a conclusão. A fim de matemática. A proposta será levada para aprovação
diagnosticar esse processo, o PDE instituiu o Ideb do Conselho Nacional de Educação, mas alguns
(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), educadores preveem dificuldades na implementação
que avalia o desempenho de escolas, municípios, devido à formação específica dos professores.
Estados e do País, e define a política de investimento. O PDE pretende confrontar os resultados do Ideb com a
O índice é uma composição do resultado das média dos resultados em matemática, leitura e ciências
avaliações nacionais, como a Prova Brasil e o Sistema obtidos nas provas do Programa Internacional de
de Avaliação do Ensino Básico (Saeb), com as taxas de Avaliação de Alunos (PISA).
aprovação e evasão de cada escola. A vantagem do
indicador, segundo o MEC, é refletir a realidade das Resultados do Ideb 2012
unidades de ensino nos municípios, permitindo a (com escala de avaliação de 1 a 10)
identificação de pontos críticos e adoção de melhoria. Média brasileira do ensino fundamental
Se o argumento é válido, há uma imensa tarefa pela
frente. A meta do PDE é chegar à média 6 em 2021, ou 5 nos anos iniciais (primeiro ao quinto ano)
seja, o Brasil pretende evoluir para o nível educacional
3,9 nos anos finais
que os países desenvolvidos tinham em 2005. ”Isso é
insuficiente para o que precisamos. O mundo não vai 39% dos municípios e 44,2% das escolas estão
esperar o Brasil fazer o seu dever de casa para nos dar abaixo da meta do MEC, com situação agravada
uma chance”, adverte Gustavo Ioshpe, economista nos Estados do Nordeste
especializado em Educação. Meta do PDE: chegar à média 6 em 2021
Diante de resultados ruins no Ideb para os anos finais
do ensino fundamental (ver quadro ao lado), o ministro
da Educação, Aloysio Mercadante, anunciou, em
agosto de 2012, a intenção do governo federal de resultados do PISA
promover uma mudança curricular, distribuindo as Lançado em 1997 pela OCDE, o PISA monitora,
atuais 13 disciplinas sob quatro mais abrangentes: a cada três anos, os sistemas educativos
dos países. O indicador procura medir a
capacidade dos jovens de 15 anos para usar
o conhecimento adquirido nas escolas no
enfrentamento dos desafios da vida real. Na
avaliação geral do período 2000-2009, nas notas
em leitura, matemática e ciências, o Brasil subiu
de 368 para 401 pontos, ficando entre os três
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

países que mais evoluíram, porém ainda abaixo


da média dos países da OCDE, que é de 473
pontos. Uma boa notícia é que, na comparação
entre escolas públicas e privadas, a pontuação
aumentou de 109 para 121 pontos, o que
significa um pequeno avanço na qualidade do
ensino público em relação ao particular.

18
as siglas da educação no brasil
Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) reincidentes do seguro desemprego. Prevê linhas de crédito
- desde 2004, substituiu o Exame Nacional de Cursos, do BNDES, para o setor empresarial oferecer cursos de
antigo Provão. Avalia o rendimento dos alunos dos cursos formação técnica a seus trabalhadores através do Sistema S.
de graduação, em relação aos conteúdos programáticos. ProUni (Programa Universidade para Todos) - criado em
É obrigatório para os alunos selecionados e condição 2004, tem como finalidade a concessão de bolsas de estudos
indispensável para a emissão do histórico escolar. A integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação e de
periodicidade máxima de avaliação de cada área do cursos sequenciais de formação específica, em instituições
conhecimento é trienal. privadas de educação superior. As instituições que aderem
ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) - criado em ao programa recebem isenção de tributos.
1998, avalia o desempenho do estudante no final do ensino Prova Brasil - avalia as competências construídas e
médio. A partir de 2009, passou a ser utilizado também habilidades desenvolvidas nos dois níveis do ensino
como mecanismo de seleção para o ingresso no ensino fundamental, considerando a diversidade e especificidade
superior. Em respeito à autonomia das universidades, das escolas brasileiras. Possibilita detectar dificuldades
os resultados podem servir como fase única de seleção de aprendizagem e adotar medidas de melhoria. Seus
ou combinados com seus próprios processos seletivos. resultados compõem uma das bases do Ideb.
Também é utilizado para o acesso a programas do governo
Provinha Brasil - desde 2011, avalia o nível de alfabetização
federal, a exemplo do ProUni.
das crianças matriculadas no 2º ano das escolas públicas
Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) - brasileiras, a fim de oferecer às redes de ensino um
criado em 2007, é um dos eixos do PDE. Mede a qualidade da diagnóstico da qualidade da alfabetização e colaborar
escola e da rede de ensino a cada dois anos. É calculado com para a melhoria da qualidade de ensino com redução das
base no desempenho do estudante e em taxas de aprovação. desigualdades educacionais.
Para que o Ideb de uma escola ou rede cresça é preciso que
Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula.
Expansão das Universidades Federais) - busca ampliar o
Pais e responsáveis podem acompanhar o desempenho
acesso e a permanência na educação superior, com meta de
da escola de seus filhos, verificando o Ideb da instituição,
dobrar o número de alunos nos cursos de graduação em dez
apresentado numa escala de zero a dez.
anos, a partir de 2008. Todas as universidades federais aderiram
LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) - define e ao programa e apresentaram ao MEC planos de reestruturação.
regulariza o sistema de educação brasileiro com base nos As ações preveem, além do aumento de vagas, medidas como
princípios da Constituição, desde 1934. A primeira LDB foi a ampliação ou abertura de cursos noturnos, o aumento do
criada em 1961, seguida por nova versão em 1971 e da mais número de alunos por professor, a redução do custo por aluno,
recente, em 1996. Baseada no princípio do direito universal a flexibilização de currículos e o combate à evasão.
à educação para todos, a LDB de 1996 incluiu a educação
Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação
infantil (creches e pré-escolas) como a primeira etapa da
Superior) - analisa as instituições, os cursos e o desempenho
educação básica.
dos estudantes, levando em consideração aspectos como
Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico ensino, pesquisa, extensão, responsabilidade social, gestão
e Emprego) - procura expandir a oferta de cursos técnicos e da instituição e corpo docente. O Sinaes reúne informações
profissionais de nível médio, e de cursos de formação inicial do Enade e das avaliações institucionais dos cursos. As
e continuada para trabalhadores. Visa formar mão de obra informações são utilizadas para embasar políticas públicas
qualificada por meio de capacitação técnica e profissional e como referência para estudantes sobre as condições de
de alunos do ensino médio, beneficiários do Bolsa Família e cursos e instituições.

19
ANÁLISE
ANÁLISE

a importância do Ensino técnico


No cenário de retomada de crescimento do mercado
interno no Brasil, há um consenso entre setores
empresariais e organizações de qualificação do
trabalhador sobre um “apagão da mão de obra” e a
baixa qualificação dos profissionais, especialmente pela
falta de investimentos robustos no ensino técnico e
tecnológico. As carências atingem áreas de engenharia
ligadas à infraestrutura, indústria da construção civil
e naval, área tecnológica de prospecção de petróleo,
agricultura empresarial, turismo e gastronomia,
informática e call center, entre outras.
O ensino técnico, que corresponde ao ensino médio,
padece ainda de um preconceito de valor ao ser
comparado ao ensino superior, inclusive entre os
empregadores. No entanto, a formação técnica resolve
a urgência do primeiro emprego, garante os custos
de um curso superior e atende às necessidades do
País por uma mão de obra qualificada e inovação
tecnológica. Vale ressaltar que as escolas técnicas
se sobressaem no ranking do Enem, algumas delas
ocupando os primeiros lugares.
De qualquer forma, os números mostram uma
tendência de crescimento contínuo. Segundo o
Censo da Educação Superior 2012, a quantidade de
matrículas nas instituições federais de educação
tecnológica aumentou 481% no período de 2001 a
2010. Para diminuir o déficit de mão de obra, o MEC
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

lançou, em 2011, o Programa Nacional de Acesso


ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), voltado à
profissionalização dos trabalhadores e à população
jovem desassistida pelas políticas públicas de longo
prazo. Com meta de chegar a 8 milhões de vagas nos
próximos quatro anos, o Pronatec ofereceu 816 mil
em 2012, contando com apoio do programa Bolsa-
Formação para cursos na Rede Federal de Educação

20
No Brasil, a matrícula nos cursos técnicos representa
menos de 10% do total de alunos do ensino médio
regular. Em grande parte dos países da Europa,
atualmente, essa taxa é de 30%.
Profissional, Científica e Tecnológica e no Sistema uma educação humanística. “A educação no Brasil e
S (Senai, Senat, Senar, Senac). No lançamento do no mundo inteiro transformou-se em um negócio,
programa, em 2012, a presidente Dilma Rousseff disse uma commodity e as disciplinas humanistas estão em
que a proposta do governo é vincular parte dos mais segundo plano. Hoje não se educa o indivíduo para a
de 11 milhões de beneficiários do Bolsa Família aos cidadania e sim para competir no mercado”, afirma.
cursos de capacitação por meio do Pronatec. O professor Julio Bertolin vai na mesma direção e
Outro programa federal, o Brasil Profissionalizado, entende que o desenvolvimento da educação não
criado em 2007, já repassou mais de R$ 1,5 bilhão em deve ter como objetivo principal formar “capital
recursos federais para que os Estados invistam em suas humano” para o crescimento da economia. “Esse é
escolas técnicas. apenas um entre tantos outros objetivos. Educar para
educação técnica X educação humanista a vida, desenvolvendo nos alunos a capacidade de
A tese de uma educação voltada ao crescimento aprender sozinhos e de viver em sociedade, bem
econômico do País, com especial foco nos cursos como formar cidadãos com consciência crítica, ética
técnicos e tecnológicos, não atende completamente e responsabilidade social, são mais importantes para
às expectativas de alguns especialistas. O professor o desenvolvimento socioeconômico e cultural de um
Humberto Mariotti, da Business School São Paulo, país do que formar apenas profissionais técnicos, sem
advoga a necessidade de uma educação técnica, visão de mundo e com leitura limitada da conjuntura
pragmática e quantitativa, mas complementada por social, política e ambiental”, defende.
Agência Brasil

Presidente Dilma
Rousseff quer
vincular o Pronatec
a uma parte dos
beneficiados pelo
Bolsa Família

21
EMPERSPECTIVA

O uso da
tecnologia na
Educação
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

22
A discussão sobre o uso
das plataformas digitais no
sistema educacional tem sido
frequente entre educadores,
governos, sociedade civil e setor
empresarial. A preocupação é
que o Brasil não aproveite as
oportunidades do mercado
global em razão de baixos
investimentos em novos talentos
e na gestão de inovação.

A simples presença de computadores nas escolas não


resolve a questão da educação. Por outro lado, o uso
da tecnologia como veículo de acesso, intercâmbio e
disseminação de conhecimento, já faz parte da rotina
diária de grande parte das crianças e jovens brasileiros.
Sem dar a devida importância às novas ferramentas,
o sistema educacional do País corre o risco de ficar
distante da realidade.
Não se pode mais pensar na formação de mão de
obra qualificada e do cidadão sem um projeto que
alie e amplie as possibilidades de adquirir e aprimorar
informação e conhecimento, tornando-os mais
adequados às novas ocupações, que foram e ainda
serão criadas pelo mercado.
O grande desafio está em saber utilizar esses recursos
com criatividade, de forma a instigar no aluno a
vontade de ir além em suas pesquisas e reflexões,
dentro e fora do ambiente escolar. E isso demanda
mudança na estrutura da instituição de ensino, em seu
modelo pedagógico e no papel do professor.

23
EMPERSPECTIVA

Novos paradigmas
Economista e pesquisador na área da Educação, o O armazenamento eletrônico das melhores aulas, de
professor Claudio Moura e Castro parte da convicção quem quer que seja, tende a ganhar popularidade,
de que existem maneiras eficazes e criativas de usar mas não destruirá o carisma e o magnetismo de
o computador e outras tecnologias digitais para um bom professor. “No bom ensino, a grande
promover o aprendizado. O problema é onde e quando. mudança é que esse formato (professor falando)
Ele lembra que praticamente todos os experimentos será apenas um segmento de aula. Ela terá muitos
de introduzir a informática nas escolas, em rede, outros componentes, como discussões com ou sem
falharam. Isso porque a sociologia da escola, sua professor, e apoios digitais de imagens.”
organização, seus hábitos e sua rigidez criam barreiras Moura e Castro questiona a ideia de que o professor,
insuperáveis. Quebrar essas barreiras é fundamental. em tempos de alta conectividade, seja apenas um
Mas, de que modo? indutor e não mais o detentor do conhecimento.
Existe mundo afora uma série de teorias e proposições O que muda é a estratégia de ensinar. “O professor
de modelos pedagógicos que vêm sendo testados. pode, de fato, agir como indutor do conhecimento,
Mas, por enquanto, são apenas tendências, observa mas é justamente o saber mais que lhe dá condições
o professor. É possível que os teóricos cheguem a de provocar o aluno com perguntas e, dessa forma,
um modelo ideal, ou que cada país ou região crie o conduzir o seu raciocínio”, diz.
próprio modelo, mais adequado à sua realidade. Nesse Dito isso, ele observa que o chamado desinteresse
momento, marcado pela transição, as tentativas, em dos alunos não é, como alguns apontam, pela aula
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

sua maioria, não têm surtido o resultado esperado, convencional, “mas pelo que o educador Alfred
especialmente quando se pensa no processo North Whitehead chama de conhecimento morto.”
educacional como um todo. Se o assunto é fascinante, não é necessário recorrer à
Para Moura e Castro, não cabe atualmente a máquina para torná-lo mais interessante. “A vida está
proposição de um único desenho de sala de aula, e nas ideias, no uso da inteligência para entender o
sim fórmulas cada vez mais variadas de levar o aluno mundo. Mas, sem dúvida, um bom conteúdo ganha
ao aprendizado. A prática de ter um professor falando mais vida com os recursos oferecidos pelas novas
aos alunos não vai desaparecer, mas a escravidão de tecnologias”, conclui.
repetir a mesma aula, por anos a fio, sim.

24
O poder da curiosidade
É consenso entre os educadores que a chave do conhecimento
está na curiosidade. Um professor, diante de uma lousa ou de um
microcomputador, que sabe como despertar o interesse do aluno, permite
que ele avance em suas pesquisas de forma mais prazerosa e produtiva.
Esse combustível (a curiosidade) foi o mote do experimento Hole in
the wall (buraco no muro), difundido na mídia brasileira por ocasião da
vinda ao Brasil do indiano Sugata Mitra, docente da Universidade de
Newcastle, Inglaterra, e professor visitante do Massachusetts Institute of
Technology (MIT), dos Estados Unidos.
Mitra esteve na 5ª edição da Campus Party para falar de seu experimento,
realizado inicialmente com crianças que vivem nas favelas da Índia, e
reafirmou que a curiosidade continua sendo a mola propulsora do saber.
Ele também sinalizou a necessidade de o professor converter matérias e
assuntos, muitas vezes “maçantes”, em questões interessantes. E deixou
claro que o seu método é eficaz se aplicado a crianças de até 12 anos,
pois até essa idade a curiosidade é inata e elas não têm medo de errar,
lançando-se mais facilmente na busca por respostas e na formulação de
hipóteses, ainda que erradas ou incompletas.

buraco na parede
O projeto Hole in the Wall foi realizado inicialmente em comunidades pobres, existem dois problemas
com crianças das favelas de Nova Déli, na Índia. Sugata a serem resolvidos pelos governantes, no que diz
Mitra e sua equipe de pesquisadores instalaram um respeito à tecnologia na educação.
computador em um muro de uma via pública, que dava O primeiro, que atinge países com grandes
para a parte interna de uma favela. Por meio de câmeras desigualdades como é o caso do Brasil, é a falta do
escondidas, acompanharam a reação das crianças. acesso pleno à educação e aos computadores. E o
Movidas pela curiosidade e sem conhecimento segundo, em países que dispõem desse acesso, é a
anterior, elas passaram a manipular a máquina e ainda abordagem, pelos professores, de temas e conceitos
ensinaram os amigos a utilizá-la. Demonstraram que distantes da realidade.
o computador não representa, para as crianças, um Mitra defende a ideia de que um único computador
“bicho de sete cabeças” e que, além de aprender em sala de aula é capaz de desenvolver o
com a ferramenta, elas são capazes de compartilhar conhecimento, o que significa que não é necessário
intuitivamente o conhecimento com seus pares. fazer grandes investimentos por escolas. Basta
Para Mitra, que há cinco anos corre o mundo oferecer alguns equipamentos para estimular a
disseminando seu experimento e testando a curiosidade das crianças e repensar uma nova
curiosidade e a capacidade das crianças que vivem dinâmica para a sala de aula.

25
 
EMPERSPECTIVA
MEC distribui tablets com vídeoaulas
O MEC está disponibilizando tablets para o ensino público
uma de suas ações para inserir material didático-pedagóg
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no cotidia
escolar. Inicialmente, os tablets serão distribuídos para pro
de escolas de ensino médio localizadas em zona urbana, c
acesso a internet de banda larga e rede sem fio (wi-fi). Tod
os equipamentos serão programados com vídeoaulas da
Metodologia Khan, traduzidas para o português, nas áreas
física, matemática, biologia e química. Em 2012, foram adq
409.793 tablets, que serão repassados aos Estados.

novas relações de saber e poder


Um fato interessante e relativamente recente na sociais. É o que aconteceu recentemente em uma
história da educação é a troca de papéis entre alunos escola da rede pública de Florianópolis (SC). Com
e professores. Ainda que o docente seja o detentor apenas 13 anos e muita disposição para “lutar” por
e condutor do conhecimento, hoje é bastante usual uma escola que ofereça instalações adequadas e
o aluno levar para dentro da sala de aula temas que um ensino de qualidade, Isadora Faber criou o seu
estão na mídia e nas redes sociais, mas ainda não Diário de Classe no Facebook, uma página online para
foram inseridos nos livros escolares. denunciar a precariedade dos equipamentos de sua
A recente discussão sobre a partícula de Bóson de escola e a baixa eficiência de alguns professores.
Higgs, a qual os cientistas creditam a capacidade de Isadora posta textos e fotos que mostram portas
fazer com que outras partículas ganhem massa, é deterioradas, falta de papel higiênico, bebedouros
um exemplo. Vários alunos levaram à sala de aula o quebrados e outros itens. Também questiona
tema repercutido nos sites e redes sociais, e deram a discriminação e represália que sofreu, sendo
um “show” de informação para professores que obrigada a comparecer em uma delegacia de polícia
desconheciam o assunto ou não estão conectados. por conta da queixa de uma professora.
A troca de saberes entre alunos e mestres, em O fato é que, em curto prazo, a menina viu a escola
contraposição à tradicional fórmula, na qual o ganhar nova pintura e equipamentos, ao mesmo
professor fala e o aluno apenas escuta, é cada vez mais tempo em que o País inteiro testemunhou uma
estimulada. Mesmo porque a falta de conhecimento revolucionária redistribuição das relações de poder
e a resistência de alguns docentes ao uso das dentro da sala de aula e na escola.
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

tecnologias ainda são grandes, cabendo ao aluno o Há controvérsias sobre o uso de imagens sem
papel de buscar as informações e introduzir o tema. autorização. Mas não é exatamente essa a grande
Esse novo paradigma tem provocado mudanças discussão que o mundo inteiro faz em relação à
no discurso dos estudantes. Além de clamar por informação que circula na internet? Sinal de que
infraestrutura adequada nas escolas, eles também Isadora está alinhada aos novos tempos.
passaram a exigir qualidade de ensino, via redes

26
s
o, como MEC distribui vídeoaulas
gico das
O MEC está disponibilizando tablets para o ensino
ano
público, como uma de suas ações para inserir material
ofessores
didático tecnológico no cotidiano escolar. Inicialmente,
com
serão distribuídos para professores de escolas de
dos
ensino médio em zona urbana, com acesso a internet
de banda larga e rede sem fio. Todos os tablets terão
s de
vídeoaulas da Metodologia Khan, traduzidas para o
quiridos
português, nas áreas de física, matemática, biologia e
química. Em 2012, foram adquiridos 409.793 tablets,
que serão repassados aos Estados.

Khan e QMágico nas escolas da rede municipal


Tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes tem Além das vídeoaulas, a plataforma contempla uma
sido a preocupação de vários professores que utilizam série de outras ferramentas que permitem aos alunos
a tecnologia para explicar raciocínios científicos de realizar exercícios e conferir, na hora, se erraram
forma mais clara e simples. Uma das metodologias ou acertaram. Em caso de acerto, eles recebem
que está ganhando o mundo é o Método Khan, criado incentivos para realizar novos exercícios e avançar no
pelo engenheiro e matemático indiano Salman Khan, aprendizado. Do contrário, são orientados a assistir
que reside nos Estados Unidos. Outra é o QMágico, vídeoaulas que ajudam a compreender onde está o
desenvolvido pelo aluno de Engenharia Mecânica do erro e superar as dificuldades. Essa mesma plataforma,
ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Thiago informa Mizne, oferece uma série de informações para
Feijão, que se inspirou em Khan para dar forma ao o professor, como, por exemplo, saber em que nível
seu projeto para ensinar matemática, química, física e de aprendizagem está cada um dos alunos e, assim,
biologia via vídeoaulas. elaborar planos de aulas individuais.
Os dois projetos contam com o apoio da Fundação
Lemann, que atua em parceria com o Instituto desenvolvido no brasil
Natura e o Instituto Península. O diretor executivo da O QMágico, que possui configuração bastante
organização, Denis Mizne, explica que as iniciativas semelhante ao Método Khan, está sendo aplicado,
pretendem introduzir, em caráter experimental, os também em caráter experimental, em uma escola
materiais de Khan e Feijão em escolas de ensino municipal de São José dos Campos (SP) e envolve 200
fundamental. São vídeos que reproduzem um quadro crianças da mesma faixa etária. O acesso ao conteúdo é
negro, com um narrador-professor explicando de totalmente gratuito (www.qmagico.com.br).
maneira simples as disciplinas dessa etapa da educação. Thiago Feijão conta que os professores do projeto
No site da Fundação (www.fundacaolemann.org.br), estão entusiasmados com as funcionalidades da
já estão disponíveis mais de 400 vídeos com aulas plataforma. “Estamos aprendendo em conjunto.
traduzidas para o português. Com acesso livre aos Fazemos capacitações com troca de aprendizado
estudantes e interessados, o site já foi acessado mais e acompanhamento constante. A receptividade é
de 1,4 milhão de vezes. surpreendente: alunos, professores, diretores e inclusive
Outra iniciativa da Lemann abrange seis escolas os pais demonstram vontade de conhecer todos os
da rede municipal de ensino da Grande São Paulo, recursos disponíveis”, relata.
com crianças de 8 a 11 anos. No total, 1.260 alunos A tecnologia, acredita Feijão, será elemento fundamental
são beneficiados no ensino da matemática básica, para o desenvolvimento da educação. “Os professores
atendendo a uma demanda da educação no Brasil, terão acesso a ‘novos gizes’, instrumentos de extremo
que aponta um maior grau de dificuldade nessa área. valor para a sala de aula”, completa.

27
ENTREVISTA

Os professores não têm que saber tudo:


eles também podem aprender com as crianças

O educador britânico Richard Gerver, ex-consultor para Políticas


Educacionais do governo Tony Blair, esteve no Brasil, em 2012, para
participar do 20º Seminário Internacional em Busca da Excelência
da FNQ. Após sua palestra, Gerver recebeu a Revista Excelência
em Gestão para uma conversa sobre a educação no século 21.
Segundo o educador, a sala de aula deverá ser fluida, capaz de suportar um aprendizado em
que professores e alunos aprendam juntos. Ele alerta que os países do BRIC precisam fazer um
esforço massivo em direção à próxima fase do desenvolvimento econômico, que exigirá muita
inovação e criatividade. Para isso, é preciso que as crianças sejam estimuladas a pensar de forma
mais inovadora. “O Brasil tem de começar a fazer algo já”, afirma Gerver.

Excelência em Gestão: Hoje, a educação não orgânico, no qual a tecnologia digital possa
se resume ao sistema formal, e isso inclui desempenhar um papel estimulante nesse processo.
aprendizado através da tecnologia, como a Isso soa mais autêntico para as crianças! O problema
internet. As crianças estão aprendendo sem a é que, quando éramos crianças, nós olhávamos para
supervisão de professores e pais. Como trazer a os professores e pensávamos: “Eles sabem tudo!”
educação informal para o sistema oficial de ensino E, então, nós os respeitávamos. Hoje, as crianças
e contribuir para um ambiente de inovação? sabem que podem obter mais da internet do que
Richard Gerver: A primeira coisa é perceber de seus professores, e não os respeitam como antes.
que a educação digital deve ser vista como algo “Eu não sei tudo, mas vamos começar a aprender
preocupante. Ela precisa ser vista como algo juntos!” Isso é o que os professores têm de dizer. É
perigoso por professores e pais, não só porque os uma questão que envolve a transformação do poder
conteúdos são perigosos, mas também porque nós (dos professores) e da crença (dos alunos).
não entendemos como as crianças estão usando
EG: Então, na realidade, trata-se de um problema
essa tecnologia. Por isso, é preciso que ela esteja
cultural, para além de um problema educacional...
dentro da escola. As crianças usam a tecnologia
melhor que nós, adultos. Na educação tradicional, Gerver: Acredito que sim! Eu penso que muitas
os professores estão na classe para “saber tudo” e dessas coisas envolvem mudança cultural. O mundo
“ensinar as crianças”. A nova tecnologia significa, sempre mudou, mas não em uma escala tão extensa
quanto nos últimos 30 anos. Até antes disso, as
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

para as crianças, um aprendizado que lhes é


delegado, por se dar através da internet de seus pessoas conseguiam entender como controlar as
próprios celulares. Eles estão no controle. Nós temos mudanças. Agora, elas ocorrem mais rapidamente
de permitir às nossas crianças usar a tecnologia nas do que as pessoas possam controlá-las. E isso deixa
escolas e perceber que os professores não têm mais a nossa geração muito nervosa, muito assustada...
que saber tudo. Devemos permitir que as crianças Mas as crianças não estão nervosas nem assustadas!
tenham algum controle sobre o aprendizado e Portanto, nós precisamos transformar nosso
os professores também possam aprender com entendimento cultural de educação, passando de um
as crianças. Então, criaremos um processo mais estado de controle para um estado de permissão.

28
a interação entre as
crianças e a habilidade
de trabalhar com
pessoas de verdade, em
situações reais, não
devem ser perdidas com
o uso da tecnologia.

EG: Como deve ser a sala de aula do futuro? estatal inglesa. Foram ao Parlamento Inglês, em
Gerver: Em primeiro lugar, mais fluida. As crianças Londres, e os parlamentares deram aula de política
não precisam estar sentadas em fileiras, olhando para para elas. Nós usamos o mundo para ensinar nossas
o professor. Temos de criar oportunidades para elas crianças da forma que precisam ser educadas. A
colaborarem: algumas vezes, sem o professor, usando escola se transforma em um centro, onde as crianças
a tecnologia; outras, trabalhando com diferentes encontram os professores, mas com oportunidades
grupos de crianças, não necessariamente da mesma para aprender além desse centro, junto a pessoas
idade, da mesma classe e com as mesmas habilidades. de diferentes locais da sociedade. Onde vejam e
Então, a sala será plural, com crianças de idades aprendam de verdade, em vez de apenas “ver”
diferentes, trabalhando em momentos diferentes, de acontecimentos nos livros. Isso é autêntico!
formas diferentes. Às vezes, o professor vai ensinar;
EG: Qual é o papel dos BRICs neste novo cenário
em outras, as crianças vão trabalhar em grupos
educacional, como novos líderes mundiais?
colaborativos. Em cada classe, elas poderão usar seus
Gerver: É um papel muito importante, diante da
próprios equipamentos, porque os celulares têm
necessidade de sustentar o crescimento econômico
acesso à internet, câmera, gravador. Vamos incentivar
– e o Brasil teve um desenvolvimento enorme, que
os jovens a usar seus celulares em um ambiente de
atingiu o pico em 2010, quando foi bem-sucedido em
aprendizado hot spot (onde a tecnologia Wi-Fi está
usar recursos para fortalecer suas indústrias, como
disponível). Mas, para isso, a sala de aula não pode ser
fizeram a China, a Índia e a Rússia. Mas a próxima
um lugar estático – ela tem de ser mais fluida!
fase do desenvolvimento econômico vai requerer
EG: E as salas de aula precisam estar nas escolas, das indústrias que elas se superem no caminho da
necessariamente? inovação e da criatividade. É preciso passar de uma
Gerver: Podem estar em empreendimentos sociais, fase industrial para uma fase de inovação, dentro
religiosos, políticos. Quando eu era diretor de escola, do desenvolvimento econômico. E, para fazer essa
frequentemente levávamos as crianças para estudar transição, é preciso educar as crianças para que
fora da escola, com outros experts. Por exemplo, elas pensem de uma forma mais inovadora. Só assim o
foram à BBC (British Broadcasting Corporation) e viram Brasil e os demais BRICs darão continuidade à sua
como se toca um estúdio de TV, segundo a emissora expansão, ao seu crescimento.
29
SEMINÁRIO
rogério assis
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

20º Seminário Internacional


em Busca da Excelência -
Transformar pela Educação:
o impacto na competitividade
das organizações

30
Para continuar na

rota do
Crescimento
O desafio de se firmar entre as maiores economias do mundo a partir
de um modelo competitivo e eficiente, e a necessidade de atender às
demandas da sociedade passam pela criação de políticas públicas
que sustentem a oferta de uma educação de qualidade.

Essa percepção garantiu o consenso do 20º Seminário pela qual merece atenção por parte de empresários,
Internacional em Busca da Excelência, que abordou governantes e sociedade civil.
o tema Transformar pela Educação: o impacto na No decorrer dos debates, os palestrantes apresentaram
competitividade das organizações. Realizado nos dias alguns números que compõem o quadro do sistema
14 e 15 de agosto de 2012, pela Fundação Nacional educacional brasileiro, mostrando que ele avança
da Qualidade (FNQ), em São Paulo, o evento contou de forma constante nos indicadores, mas em ritmo
com as presenças do ex-presidente da República insuficiente para promover o ganho de produtividade,
Fernando Henrique Cardoso, do consultor para competitividade e eficiência que o País necessita para
Políticas Educacionais do governo britânico, Richard concorrer no mercado global.
Gerver, do presidente da Câmara de Políticas de No geral, concluiu-se que o momento é de investir
Gestão, Desempenho e Competitividade do Governo na qualidade do ensino. Na opinião da maioria
Federal, Jorge Gerdau Johannpeter, e do presidente dos participantes, é irrelevante elevar os recursos
da Fiat Brasil, Cledorvino Belini, entre outras lideranças destinados à educação, que hoje estão em 5,5% do
empresariais e representantes de instituições civis. PIB, sem uma reforma estrutural que garanta um nível
Ao dar início aos trabalhos, o presidente do de excelência na formação de professores, uma gestão
Conselho Curador da FNQ e presidente do Grupo eficaz das escolas, métodos eficientes de avaliação e a
CPFL Energia, Wilson Ferreira Junior, destacou a elaboração de um currículo que prepare o jovem para
responsabilidade da FNQ em compartilhar com a o enfrentamento de um mundo e de tecnologias em
sociedade o conhecimento adquirido e, por meio de constante transformação.
suas lideranças, exercer influência sobre as decisões e Alguns exemplos de boas práticas de gestão
programas governamentais. governamental foram lembrados e sugestões
Em seu ponto de vista, as empresas atuam como apresentadas, entre elas a criação de uma agência
orientadoras sociais importantes, tendo papel reguladora que fiscalize e puna escolas particulares que
crucial na disseminação de novas ideias e práticas. mercantilizam a educação em detrimento da qualidade.
Ferreira Junior lembrou que a questão educacional Em seguida, acompanhe um resumo das contribuições
apresenta-se como um dos limitadores de dos convidados ao debate.
desempenho e competitividade das empresas, razão

31
SEMINÁRIO

Educar para transformar: o desafio para um Brasil competitivo

O primeiro painel de debates reuniu Jorge A possibilidade de levar a tecnologia para dentro das
Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de escolas é vista por ele como positiva para acelerar
Administração da Gerdau e presidente da Câmara de o processo de qualidade. Mas ainda não resolverá
Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade o problema da educação, que é extremamente
do Governo Federal, e Cledorvino Belini, presidente complexo e exige tempo para a geração de resultados.
da Fiat do Brasil. Ao finalizar, Gerdau, um dos primeiros empresários
Gerdau lembrou que, nas últimas décadas, o Brasil brasileiros a levantar a bandeira do movimento
acumulou conquistas políticas, sociais e econômicas, Todos pela Educação, foi enfático ao dizer que o País
saindo da condição de país subdesenvolvido para só conseguirá avançar se investir pesadamente em
o grupo dos emergentes. Para dar continuidade ao três temas: Educação, Logística e Reforma Tributária.
crescimento, disse ele, é necessário redesenhar o E deixou claro que não se trata apenas da oferta
sistema educacional e adequá-lo aos novos desafios e de uma educação técnica, mas de uma educação
mudanças no âmbito dos negócios. com significado, que contribua para a formação de
Uma de suas críticas está relacionada à visão de curto um cidadão pleno e capaz. “Contamos com bons
prazo estabelecida pelos governos. As seguidas exemplos de gestão em algumas regiões, como
crises pelas quais o Brasil passou fizeram os gestores MG, RJ, Porto Alegre e, especialmente, Pernambuco,
públicos perderem a competência de estabelecer que estendeu o conceito de gestão aos campos
estratégias em qualquer campo, adotando como regra da educação, saúde e segurança”, concluiu,
a prática de “apagar incêndios”. Segundo o empresário, acrescentando que 120 escolas pernambucanas já
a exceção é o setor de energia que, após o “apagão”, contam com o sistema de dois turnos completos.
aproximou governo e empresários para criar um plano
nacional consistente – o que explica, em parte, a
posição de algumas companhias de energia alçadas ao
nível de classe mundial.
No entender de Gerdau, qualquer que seja o tema,
deve estar atrelado ao conceito de sistema de gestão,
com atenção especial à governança, definição de
objetivos e estratégias, e realização de check up para
detectar resultados e fazer correções.
Ele defendeu a criação de um plano nacional que
direcione recursos e atenção à educação fundamental,
sem desconsiderar a importância dos ensinos médio e
superior. “As demandas das lideranças empresariais, do
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

governo federal e dos grandes municípios brasileiros são


resolvidas com uma nata de profissionais bem formados
por algumas de nossas ilhas de excelência educacional”,
ponderou, reforçando que não haverá competitividade,
eficiência e desenvolvimento sem uma massa de
profissionais capacitados.

Jorge Gerdau Johannpeter: é necessário redesenhar o sistema


educacional e adequá-lo às mudanças no âmbito dos negócios
32
“países que formam cidadãos com forte capacidade de
raciocínio e síntese estão mais preparados para competir
no mercado mundial.” Cledorvino Belini, presidente da Fiat do Brasil

Cledorvino Belini
defendeu um plano
nacional de educação

fiat do brasil capacita parte de sua força de trabalho

Os países mais preparados no setor educacional são meados de 1970, a organização teve como missão
também aqueles que mais rapidamente conseguem converter trabalhadores rurais em operários industriais.
ter domínio sobre as novas tecnologias e imprimir Agora, com uma nova planta prevista para a
inovação e ganho de produtividade, em um curto região Nordeste, a Fiat do Brasil encaminhou 40
espaço de tempo. Com essa reflexão, Cledorvino estudantes de engenharia da Universidade Federal
Belini, presidente da Fiat do Brasil, iniciou sua de Pernambuco (UFPE) para concluírem seus estudos
participação no Seminário. em Turim, na Itália. “Os desafios apresentados são
Ele citou como exemplo a Coreia do Sul, que, por cada vez maiores e dispendiosos, grande parte em
30 anos, injetou recursos no sistema educacional decorrência da necessidade de o operário de fábrica
e contratou os melhores engenheiros, biólogos e ter de manusear equipamentos tecnológicos cada dia
profissionais das mais variadas áreas do País, para atuar mais complexos”, assinalou Belini.
como docentes no ensino médio, técnico e superior. Citando dados do World Economic Forum, que, em
A fim de garantir um nível mínimo de competitividade ranking de 142 países, coloca o Brasil na 124ª posição
no Brasil, observou Belini, as empresas nacionais no setor da educação, o executivo afirmou que é
precisam investir na formação e atualização de urgente a necessidade de empresários, governos e
sua mão de obra. “Caso contrário, estaremos fora representantes da sociedade civil sentarem-se à mesa
do mercado”, alertou. Esse princípio norteou os de negociações para criar um plano nacional de
investimentos da Fiat no Brasil. Ao ser transferida de educação, com o objetivo de zerar ou mitigar o déficit
São Paulo para Betim, na Grande Belo Horizonte, em que existe nas empresas por mão de obra qualificada.

33
SEMINÁRIO

parcerias inovadoras
podem melhorar a
educação
O ex-presidente Fernando Henrique lembrou de sua vivência como
professor e gestor. Sociólogo de formação, ele
da República lecionou no Brasil (na USP), no Chile, Argentina, México,
Fernando EUA, França e Inglaterra, o que lhe proporcionou
Henrique Cardoso experiência e interesse pelo setor da educação.
Atualmente, o ex-presidente lidera o Instituto FHC,
realizou uma das
uma organização destinada a debater as questões do
mais esperadas desenvolvimento e da democracia no Brasil, em sua
palestras do relação com o mundo.
20º Seminário Deixando clara a sua crença na educação como
Internacional estratégia para o desenvolvimento, Fernando Henrique
advertiu que as soluções de melhoria são complexas
da FNQ. Ele falou e de longo prazo. “Precisamos compatibilizar as
sobre a educação necessidades de crescimento e de melhores condições
e o papel da de vida com um sistema educacional relativamente
precário desde o passado remoto”, contextualizou.
liderança no
Em sua opinião, o momento não é de discutir
desenvolvimento questões quantitativas, parcialmente resolvidas na
do Brasil. educação básica. “Precisamos priorizar a qualidade
em todos os níveis educacionais”, enfatizou.
Nessa direção, propôs renovação nos currículos
escolares, maior envolvimento de pais, professores
e alunos, avaliação de resultados, gestão eficiente e
parcerias inovadoras entre setores público e privado
que contagiem a sociedade para a busca da excelência
na educação.
A seguir, uma síntese da participação de Fernando
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

Henrique Cardoso no evento.

34
Ex-presidente da República
Fernando Henrique Cardoso,
um entusiasta da causa da FNQ,
defendeu a gestão profissionalizada
no setor da educação

35
SEMINÁRIO

Ao contextualizar o tema, Fernando Henrique com o processo de urbanização, migração interna e


resgatou um pouco da história do sistema educacional massificação, todo o sistema educacional estruturado
brasileiro, dividindo-o em duas fases: antes e depois tornou-se pequeno e a questão fundamental passou
da sociedade de massa. Quando a população a ser como reorganizar a educação para atender à
brasileira não era tão numerosa, tornava-se mais fácil massa, e não mais a um grupo pequeno de pessoas.
criar soluções e oferecer um ensino de qualidade. Nessa nova realidade, foi preciso improvisar na
“Investia-se em algumas escolas de exceção (ilhas de profissionalização de professores.
excelência), no ensino superior e no secundário, para
preparar profissionais e avançar nos objetivos, que qualidade no ensino médio
eram limitados a uma economia que se expandia Fernando Henrique reforçou que um dos desafios
em sociedade menos populosa. A teoria era que atuais é o aumento de vagas no ensino médio.
uma pequena parcela da população, bem treinada, “Estamos em um momento difícil, em que precisamos
conseguiria levar o País adiante. Escolas tradicionais atender a massa que sai do básico, criando novas
como a Caetano de Campos e Dom Pedro II, entre vagas, inclusive no ensino técnico, mas com qualidade.
outras, atendiam a um grupo pequeno para formar a É preciso reconhecer que a escola não tem sido capaz
elite dirigente. O mesmo se observava nas escolas de de formar os jovens. E se algumas obtêm sucesso, às
ensino superior, como a Politécnica”, exemplificou. vezes dá a impressão de que há melhora mais pelas
A criação das universidades foi tardia. A elite paulista, buscas pessoais, de troca de informação, do que
que havia perdido algumas guerras políticas para por uma ação planejada. Ainda existem escolas de
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

Getúlio Vargas, resolveu reconstruir lideranças por excelência, mas, na média, a qualidade é baixa. Com
meio de formações específicas e criou, além da isso, voltou a crescer o número de evasão no ensino
USP, algumas instituições livres, como a Escola de médio. Esse é um problema antigo, mas antes ocorria
Sociologia e Política. “O escopo de professores era pela falta de recursos das famílias. Hoje, acontece
tão limitado que, naquela época, as aulas na USP eram pela falta de interesse dos alunos. O que se ensina
dadas em francês. Esse modelo foi satisfatório até certo não é o que se espera aprender, havendo um total
ponto, mas acabou.” Após a Segunda Guerra Mundial, desencontro no currículo.”

36
Na liderança da nação
Quando chegou à presidência da República, Fernando
Não adianta formar pessoas Henrique encontrou uma quantidade de professores

muito especializadas leigos no antigo ensino primário de cerca de 30%.


Os desafios foram formar professores e ampliar o
em uma área porque a acesso. “E isso vem sendo feito. Hoje, no ensino
fundamental, praticamente todas as crianças em
velocidade das mudanças idade escolar estão estudando. Mas, para isso, foi
é muito grande, e o aluno preciso mudar a Constituição. O Paulo Renato de
Souza, ministro da Educação na época, enfrentou
precisa saber se ajustar às resistência dos governos estaduais para que o governo
situações novas. federal investisse recursos no ensino fundamental nos
municípios, principalmente no Nordeste.”
Ainda no balanço de seu governo, o ex-presidente
citou a melhoria na qualificação dos professores, com
No exercício da presidência, Fernando Henrique vetou a exigência de mestrado, por exemplo, mas lamentou
o ingresso da disciplina de Sociologia nas escolas de alguns planos não realizados. “O aluno ainda continua
ensino básico e foi questionado por isso. Para justificar apenas quatro horas na escola, enquanto na China,
sua decisão, disse que não há professores qualificados na Coreia do Sul e no Japão a criança fica full time
para lecionar a disciplina e nem acha necessário. na escola. A competição entre as famílias na China,
Para ele, o importante é o ensino da matemática, do para que o filho se dedique aos estudos e entre
português, da história e da geografia, e não outras na universidade, é imensa, faz parte da cultura do
matérias que “podem distrair o estudante antes de mandarinato. Lá existem cotas para cada província,
adquirir uma capacidade reflexiva”. as famílias são envolvidas no processo e fazem
No ensino superior, o ex-presidente percebe uma pressão para que seus filhos avancem no estudo. Na
situação mais dramática, pela rigidez do sistema, que Coreia, a carga em cima do aluno é enorme, a ponto
considera incompatível com o mundo atual. Criticou, de as crianças não terem motivação para outras
por exemplo, a falta de flexibilidade na opção de áreas de estudo que não sejam aquelas focadas no
um adolescente por um curso e posterior desejo de desenvolvimento da nação. Nem tanto ao mar, nem
mudança, sendo obrigado a prestar novo vestibular. tanto à terra”, ponderou Fernando Henrique.
Também citou a falta de renovação curricular. Ao comparar o sistema desses países ao do Brasil, ele
“O mundo mudou, as técnicas de ensino são argumentou que, aqui, as famílias não dão suporte à
diferentes, mas as disciplinas são tradicionais. Não continuidade dos filhos na escola. “A família brasileira
adianta formar pessoas muito especializadas em uma não tem instrumentos culturais para pressionar pelo
área porque a velocidade das mudanças é muito estudo ou complementar o que foi aprendido na
grande e o aluno precisa saber se ajustar às situações escola. Como o tempo de permanência na instituição
novas. Assim como não adianta insistir em currículos é pequeno, é difícil que as crianças aprendam algo de
rígidos que não permitem adaptação.” mais relevância”, observou, relacionando essa situação
ao grande número de analfabetos funcionais no País.

37
SEMINÁRIO

o papel das empresas na educação


O ex-presidente defendeu uma gestão profissionalizada empresariais devem se perguntar como o setor
nas instituições de ensino, não necessariamente privado pode ajudar para que seus processos criativos
liderada por professores, mas por especialistas em e inovativos difundam-se no setor público”, disse,
administração. “Temos 98% dos jovens na escola, mas lembrando que cerca de 98% dos alunos do ensino
o que se ensina? Se é para a massa, precisamos ter fundamental vão para a escola pública e não para a
padronizações e módulos cientificamente organizados, particular. “É preciso criar parcerias e fazer esse fluxo
e avaliação – nem precisa ser aluno por aluno, mas por entre governos, empresas e universidades, respeitando
escola”, declarou, esclarecendo que, ao criar um ranking a especificidade de cada setor e contaminando a
de escolas, há uma certa competição e motivação para administração pública de valores empresariais, não no
a melhoria. sentido do lucro, mas da criatividade e organização”,
Se o desafio é passar da quantidade para a qualidade, defendeu o ex-presidente.
FHC defende eficiência na gestão. Em nossas Outro desafio apontado foi a preocupação excessiva
universidades, a gestão é dos professores e, no em se criar universidades em cada cidade do País, sem
entender do ex-presidente, “em sua maioria, é um análise e planejamento, o que gera desperdício de
desastre, diferentemente das universidades americanas dinheiro público. Da mesma forma, criticou a obsessão
e inglesas, em que as pessoas são treinadas na pelo aumento de recursos para a educação, como os
administração”. Ele destacou avanços na organização 10% do PIB em aprovação no Congresso (ver pág. 17).
do ensino público em Minas Gerais, Paraná e São “A educação depende, prioritariamente, da relação direta
Paulo, mas reconheceu a necessidade de buscar do professor com o seu aluno, e não de recursos. Vem da
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

excelência continuamente. vontade do professor de ensinar e do interesse do aluno


Nesse processo, ele ressaltou o papel do setor em aprender”, resumiu.
privado, que, no aprendizado da responsabilidade Para ele, o futuro depende de competência técnica,
social, já percebeu que o calcanhar de Aquiles da vontade e inovação, até mesmo para suprir deficiências.
competitividade e da produtividade é a educação. “Nos EUA, recruta-se profissionais aposentados do
“Faltam técnicos e profissionais capacitados em setor privado para dar aulas, às vezes gratuitamente,
várias áreas, e isso impacta no Custo Brasil. Em vez como forma de servir a comunidade. Esse tipo de ação
de criar escolas, intra ou extra muros, as lideranças contagia as pessoas para a educação.”

38
As lideranças empresariais profissionais de excelência
Ao falar do “apagão da mão de obra” qualificada no
devem se perguntar Brasil, o ex-presidente lembrou da Petrobras, que está
formando seus próprios técnicos. “Mas nem todas as
como o setor privado empresas podem fazer isso. Num primeiro momento, a
pode ajudar para que solução está em importar mão de obra estrangeira – o
que não é negativo, pois promove uma renovação.
seus processos criativos Contudo, não podemos projetar o futuro assim. Há
e inovativos difundam-se de se fazer um esforço concentrado, planejado e
orientado aos nossos objetivos. Não existe medida
no setor público. milagrosa. Existe uma confluência de várias medidas e
uma continuidade de longo prazo”, afirmou.
O ensino técnico e tecnológico, prosseguiu FHC, tem
um papel importante para o desenvolvimento do País
e deve ser valorizado, mas sem condenar a massa de
estudantes a optar por essa formação, nem separá-la
do ensino no geral. “Hoje as escolas técnicas são as
que oferecem uma educação de melhor qualidade e
acabam formando profissionais melhor remunerados.
Então é natural que haja um deslocamento maior de
estudantes para essa área.”
E como contagiar os estudantes para a melhoria
da educação? Fernando Henrique foi crítico ao
corporativismo do movimento estudantil. “Em vez
de assumir as bandeiras da transformação, assumem
as da repetição do que deu errado. Foram contra o
Provão, são contra a avaliação. Por outro lado, a massa
dos estudantes hoje está desligada do movimento
estudantil. A vanguarda virá da união entre sociedade
civil, professores e gestores que tenham mais visão”,
finalizou o ex-presidente.

39
O economista Gustavo
Ioschpe avaliou o quadro da
educação brasileira como
crise emergencial

educação para o desenvolvimento

“Estamos aqui tentando falar de com uma taxa negativa de retorno ao investimento
das famílias. O cidadão gasta tempo e energia, não
desenvolvimento de habilidades aprende e abandona os estudos. O resultado é um
superiores, formação de senso crítico número muito pequeno de brasileiros que conseguem
e capacidade analítica, requeridas no chegar à universidade”, observou.
mercado de trabalho. Mas a educação Além de influenciar diretamente a vida das pessoas,
os problemas educacionais impactam negativamente
brasileira está muito longe de chegar
a economia e o desenvolvimento do País. No PISA
a esse patamar e, na verdade, estamos 2009, entre os 65 países analisados, o Brasil está em
com uma batalha que alguns países já 53º lugar no ranking de linguagem e ciências, e 57º
conseguiram resolver no século 19, que em matemática, atrás de México, Uruguai e Chile, e
também China e Rússia, nossos competidores diretos.
simplesmente é alfabetizar as crianças.”
avanço gradual e lento
O Brasil está melhorando, porém numa velocidade
Com essa mensagem contundente, Gustavo Ioschpe, lenta, observou o economista. “Só um em cada
economista especializado em Educação, iniciou a sua cinco jovens, de 18 a 24 anos, estão matriculados
palestra, apresentando indicadores nada animadores na universidade. Isso se compara, negativamente,
da educação no Brasil. “Pesquisas do INAF (Instituto com países como Coreia, Finlândia e Estados Unidos
de Analfabetismo Funcional) apontam que 27% que estão chegando perto da universalização do
da população adulta brasileira não é plenamente ensino superior. O Brasil, hoje, está comemorando a
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

alfabetizada. São os chamados analfabetos funcionais, universalização do acesso ao ensino fundamental, mas
incapazes de compreender um texto simples de em breve teremos de competir com uma força de
jornal. Segundo estudo da Unesco de 2005, cerca de trabalho que será quase 100% dotada de diploma de
24% de nossas crianças repetem a 1ª série do ensino ensino superior”, advertiu Ioschpe.
fundamental, “um nível africano”, disse o economista. Se esses dados são esperados diante dos países
Para ele, esses dados mostram a deficiência grave da desenvolvidos, o mesmo se repete no Chile, Venezuela
educação básica brasileira. “É uma bola de neve que e Peru, por exemplo, que têm o dobro de taxa de
começa na primeira série do ensino fundamental, matrícula no ensino superior em relação à nossa. “O
passa pela altíssima taxa de repetência e se conclui Brasil está na frente da Índia e da China, mas são países
40
27% dos brasileiros acima de 15 anos são considerados analfabetos
funcionais, incapazes de compreender um texto simples de jornal. Isso
mostra uma deficiência grave da educação básica no País.

com mais de 1 bilhão de habitantes, o que minimiza os uma educação de qualidade – e não prover soluções
resultados em números absolutos.” ou substituir o poder público. “Basicamente em todo o
Ioschpe ressaltou que o impacto da educação está mundo, educação é tarefa do Estado – diretamente ou
presente na baixa produtividade do trabalhador com subsídios. Não podemos substituí-lo, mas devemos
brasileiro. Segundo a OIT (Organização Internacional deixar claro que a educação precisa dar resultado.”
do Trabalho), dados de 2010 colocam o Brasil no 77º No nível micro, ele recomendou seguir a “literatura
lugar no ranking de produtividade mundial. O estudo clássica” do sistema escolar. Escola tem que ter
mostra ainda que é preciso 4,9 brasileiros para produzir biblioteca, livros para alfabetização, laboratórios
o mesmo que um norte-americano. No quesito e máquina de xerox. Também é preciso um
competitividade, estamos em 56º lugar no ranking do recrutamento seletivo do professor que traga pessoas
Global Competitiveness Index 2009, divulgado no World qualificadas para o sistema, em vez de concursos
Economic Fórum 2010 (WEF 2010). que medem o quanto se conhece da legislação e de
O resultado desse desempenho crítico, salientou teorias pedagógicas.
o economista, é que a diferença social continua Outros tópicos importantes, apresentados por Ioschpe,
aumentando. E as ações não têm sido contundentes foram a prestação de contas das escolas e universidades
como deveriam. Na área da tecnologia da informação, com transparência e redução da burocracia. Como
bastante crítica para o desenvolvimento, o Brasil caiu sugestão, ele citou o projeto Ideb na Escola, que divulga,
de 46º lugar, em 2004, para 61º, em 2010, segundo por meio de uma placa, a nota recebida pela instituição.
o WEF 2010, ficando atrás da Tunísia e de Porto A ação serve para que pais e comunidades saibam qual
Rico. E os índices de investimento em Pesquisa e é o resultado da escola pública onde a criança estuda.
Desenvolvimento (P&D) vêm caindo, em cenário de “Essa tomada de consciência é importante porque
baixa produtividade especialmente nas áreas de ponta. existe um descompasso brutal entre a percepção dos
pais em relação à qualidade da escola do filho e a
100% de crianças alfabetizadas realidade”, concluiu.
É um quadro de crise emergencial, alertou Ioschpe,
lembrando que não dominamos a tecnologia
educacional de sucesso. “É preciso ter engajamento
na área educacional e fazer uma reforma rápida e
significativa para atingir bons resultados. O primeiro
passo é entender os verdadeiros problemas. A questão
mais importante é a qualidade do ensino fundamental.
As crianças precisam ser 100% alfabetizadas no primeiro
ano e zerar o índice de repetência”, ressaltou.
Nesse sentido, ele apresentou algumas ideias objetivas
em dois níveis. No nível macro, propôs debater com
a sociedade, mostrar que a educação é importante
e que o Brasil não vai bem. Reforçar que a discussão
quantitativa está equivocada e que precisamos falar de A equipe do publicitário Nizan Guanaes criou,
voluntariamente, um modelo de placa com a nota do Ideb
qualificação de professor, prática salarial e formação de para ser exposta em cada escola do País. A ideia é que pais,
dirigentes. No seu entender, o empresariado deve usar professores, alunos e gestores acompanhem o desempenho
seu peso econômico e político para gerar pressão por da escola. Mais informações em www.idebnaescola.org.br

41
SEMINÁRIO

Pedro Ferraz, diretor


superintendente do
Instituto Embraer

O desafio do desenvolvimento de profissionais

No 20º Seminário Internacional, a Em 2010, o Colégio obteve a 30ª posição no Enem e o


presença de lideranças de quatro 4º lugar entre as instituições de ensino de São Paulo. A
cada 200 alunos da instituição que prestam o vestibular,
grandes organizações no Brasil: 160 conseguem ser aprovados em universidades
Embraer, Ibope, Nextel e Coca-Cola, de renome no País. “É um trabalho social, sem o
todas com projetos educacionais. compromisso de contratar os jovens para trabalhar na
Embraer”, esclareceu Ferraz.
Em 2001, a Embraer decidiu enfrentar de frente a Com 17 mil colaboradores no mundo, 90% deles no
carência da educação brasileira e também a falta de Brasil, dos quais 3.5 mil são engenheiros que trabalham
mão de obra qualificada para atender à sua demanda no desenvolvimento de tecnologias e projetos, a
interna. Uma de suas principais ações foi a criação do Embraer também procura suprir a sua necessidade por
Instituto Embraer, um projeto educacional no âmbito profissionais qualificados na área da Aeronáutica, por
da ação social. meio da capacitação.
Em 2002, o Instituto fundou o Colégio Embraer Juarez Anualmente, a empresa contrata 250 novos engenheiros
Wanderley, uma escola de ensino médio, em São José para compor o quadro profissional. O processo não
dos Campos (SP), que hoje atende 600 alunos, nas três é simples, pois não há no mercado engenheiros
séries e em regime integral de 10 horas por dia. Oito aeronáuticos qualificados que supram a necessidade da
turmas já se formaram e o Colégio recebe 200 novos empresa. Por meio de um processo seletivo com cerca
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

alunos por ano, em concorrido processo seletivo. “São de 4 mil candidatos, a Embraer escolhe 120 para serem
jovens carentes da região, vindos do ensino público bolsistas. Após essa etapa, eles recebem um curso com
e, alguns, sem perspectiva de desenvolvimento”, nível de mestrado, ministrado por professores do ITA
informou Pedro Ferraz, diretor superintendente (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), e, ao final, são
do Instituto Embraer, durante sua participação no convidados a ingressar na companhia.
Seminário da FNQ.

42
ibope organiza curso de pós
De origem nacional, o Ibope é o maior provedor de informações e dados Segundo o diretor, os três
da América Latina, empregando 3.500 colaboradores na região, dos quais programas procuram desenvolver
2 mil no Brasil. Segundo Ivan Corrêa, diretor-executivo do Ibope Educação, nos alunos a capacidade analítica,
a captação de profissionais para uma empresa de prestação de serviços de racionalidade e de ponderação
com mão de obra intensiva é grande e, desse contexto, surgiu a ideia de nas tomadas de decisão.
aproximar a empresa do tema da educação. Isso aconteceu, especialmente
instituto nextel
nos últimos dois anos, por meio de três iniciativas.
Américo Figueiredo, presidente
A primeira foi a criação do Instituto Paulo Montenegro, que atua em
do Instituto Nextel, apresentou o
parceria com outras ONGs na formação e capacitação de crianças e
trabalho que integra a agenda de
adolescentes para o ingresso no mercado de trabalho. Outro programa
responsabilidade social corporativa
surgiu de uma necessidade da área Unidade de Mídia, que mede o índice
da Nextel no Brasil. Em 2007, a
de audiência de veículos de comunicação. Ao longo do tempo, a empresa
empresa criou o Instituto Nextel
percebeu que os softwares e sistemas associados aos índices de audiência
para preparar jovens em situações
eram subutilizados. Para capacitar os usuários desses sistemas, foi
de risco social e inseri-los no
elaborado o programa Mídia Class, cujo certificado passou a ser referência
mercado formal de trabalho.
no currículo de estudantes de Comunicação.
Hoje são sete institutos no Brasil
A terceira vertente é o Ibope Educação, uma oportunidade de mercado
e previsão de mais quatro até o
que derivou de problemas de capacitação interna. Semelhante ao que
final de 2012. “A missão é apoiar
acontece na Embraer, o Ibope depende de profissionais especializados
jovens em situação de risco social,
e também de multiprofissionais, que tenham a capacidade de análise
para que recebam uma formação,
simples e apresentação dos conteúdos que processa. Para formar mão
não só de matemática, português
de obra também em benefício próprio, o Ibope organizou um curso de
ou técnicas de atendimento,
pós-graduação em Inteligência de Mercado, em parceria com a ESPM (Escola
mas sobretudo de cidadania,
Superior de Propaganda e Marketing). “Alguns alunos foram contratados
responsabilidade, direitos e
e outros dirigiram-se ao mercado, disseminando uma capacidade mais
autoestima”, salientou o presidente
elaborada de fazer uso de dados e informações”, afirma Corrêa.
da empresa.

Ivan Corrêa, diretor-executivo


do Ibope Educação

43
SEMINÁRIO

Américo Figueiredo,
presidente do Instituto Nextel,
e Ana Cristina Maia, diretora
de Desenvolvimento de
Mercado da Coca-Cola Brasil

Em parceria com o Instituto Paula Souza e as ETECs com valores alinhados ao objetivo do negócio de
(Escolas de Tecnologia de São Paulo), o Instituto gerar mais receita e mais venda.
Nextel também oferece aos jovens formação para O Coletivo Coca-Cola começou em 2009, com modelo
conhecimento e manuseio em Smartphones, criado em conjunto com a comunidade. São salas
especialmente na tecnologia Android, uma mão de de aula locais, com cursos de dois meses para jovens
obra cada vez mais requisitada. entre 15 e 19 anos, que recebem aulas teóricas e
Outras oportunidades são os cursos de webdesign práticas, sem abdicar do lúdico. O Coletivo Varejo, por
e de atendimento em call centers. Ao final do curso, exemplo, forma jovens para o primeiro emprego em
os jovens passam por processo seletivo e podem ser supermercados e outros estabelecimentos comerciais.
contratados. “Temos uma taxa de empregabilidade e O Coletivo Empreendedorismo treina para a abertura
inserção no mercado de 71%, muito animadora. Mas o de novos negócios, com aulas voltadas às mulheres
melhor resultado é ver o brilho nos olhos dos alunos da comunidade. O Coletivo Reciclagem trabalha com
por um resgate da autoestima e de uma vida mais grupos já formados de artesãs, acrescentando aulas de
digna”, completou Figueiredo. design que tornam o produto mais vendável, inclusive
nas redes de comércio justo. O Coletivo de Logística
coletivo coca-cola está em fase inicial e há planos de um coletivo para a
A diretora de Desenvolvimento de Mercado da Copa do Mundo 2014, patrocinada pela empresa.
Coca-Cola Brasil, Ana Cristina Maia, expôs o projeto
“Nossos modelos pretendem conectar e gerar valor
Coletivo Coca-Cola, criado a partir de uma motivação
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

para todos os stakeholders do negócio. Começamos


de negócio. Em 2008, com a ascensão da classe C, a
com cinco unidades, fecharemos 2012 com mais
companhia projetou um crescimento ainda maior,
de 125 salas, 125 mil jovens formados e 7,5 mil
especialmente no público de adolescentes. Ao visitar
empregados em parcerias com McDonalds, Carrefour e
as comunidades do projeto, detectou oportunidades
Pão de Açúcar. Hoje, temos 30% de empregabilidade,
que, segundo a diretora, podem ser resumidas em
mas a meta é chegar em 70%. Duas vezes por
uma frase dita por jovens dos grupos de trabalho:
ano, medimos o Índice de Confiança no Futuro,
“Nós temos sede de muitas coisas.” O projeto foi
para garantir que o projeto traz resultados para a
ampliado e transformou-se em uma plataforma social,
autoestima dos alunos”, finalizou Ana Cristina.

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Formação de lideranças para o século 21

No segundo dia do Seminário Internacional, Ricardo Corrêa Martins, diretor


institucional da FNQ, lembrou que o nosso sistema educacional e o próprio País
são muito jovens. Quando a coroa portuguesa veio para o Brasil, em 1808, não
tínhamos universidade e nem imprensa. “Nossa sociedade surgiu de um sistema
de capitanias hereditárias e, pelo menos até antes da independência, a língua
mais falada era o Tupi Guarani”, observou.
O evento da FNQ, segundo Corrêa Martins, foi
planejado para pensar o futuro e, ao mesmo tempo,
preservar valores culturais importantes como os
que temos em nosso País. “Isso só será possível por
meio de uma educação com excelência”, afirmou. Ele
também destacou que o Brasil precisa acompanhar
as mudanças globais. “Em 10 mil anos, a humanidade
chegou aonde estamos e, hoje, precisamos repensar
o sistema que gerou impactos sociais, econômicos
e ambientais insuportáveis em nosso planeta. A
FNQ está fazendo a sua parte e convida a todos
para debater a educação e a formação de lideranças
como respostas aos desafios da sustentabilidade e da
Ricardo Corrêa Martins, competitividade no mundo em transformação.”
diretor institucional da FNQ
A seguir, uma síntese dos painéis do segundo dia.

45
SEMINÁRIO

Glaucy Bocci: os futuros líderes


deverão desenvolver aprendizado
pela vida toda, realizar networking
e coordenar relações remotas

EDUCAÇÃO de Lideranças

No segundo dia do 20º Seminário, a Hay Group mostrou estudos


Palestra da Hay Group
relacionados ao desenvolvimento de lideranças: um associado ao futuro e
apresentou as tendências outro à vida real. O primeiro abordou o conceito de megatendências, que
na formação das são processos de transformação de longo prazo, em escala global e com
lideranças nas um escopo amplo e dramático. Elas podem ser projetadas pelo menos 15
anos no futuro, afetando todas as regiões e partes interessadas, incluindo
organizações e as governos, pessoas e empresas, e mudando políticas, sociedade e economia.
melhores práticas, que Com esse recorte, a Hay Group conduziu, em parceria com a consultoria
podem ser aproveitadas Z-Punkt, uma pesquisa de âmbito global com 7 mil executivos de diversas
por pequenas, médias ou organizações ao redor do mundo. O objetivo foi identificar o impacto no
comportamento humano dentro das organizações e saber o que mudaria
grandes empresas.
na vida dos líderes. “As seis megatendências identificadas no estudo
foram: globalização, individualismo versus valorização do pluralismo,
mudanças demográficas, mudanças climáticas e ambientais, estilo de
vida digital e convergência tecnológica”, pontuou Glaucy Bocci, líder da
Prática de Liderança para América Latina da Hay Group.

Desafios aos líderes


EXCELÊNCIA EM GESTÃO

Segundo Glaucy, a globalização já traz uma abertura de mercado muito


maior para pequenas, médias e grandes empresas no Brasil. Outra mudança
foi o deslocamento do centro do poder, antes na Europa e EUA, para outras
regiões do planeta, com a ascensão dos países emergentes. “Diante desse
cenário, uma tendência detectada é a preparação de lideranças com
perspicácia cultural, que coordenem equipes heterogêneas e busquem
lealdade pessoal nos vínculos profissionais com a empresa”, afirmou.

46
As mudanças climáticas e ambientais e seus impactos na sociedade que precisam ser bem gerenciadas,
também já fazem parte da realidade e se expressam em valores e práticas, porque serão os futuros líderes e
como a atuação das empresas nas comunidades e o cuidado com o irão se relacionar com trabalhadores
meio ambiente. “Alguns dos desafios para as lideranças serão agir como tradicionais. Estão habituadas a
defensores das práticas sustentáveis, pensar de forma mais estratégica e lidar com tecnologia, informação
conceitual, e desenvolver a colaboração interempresarial”, assinalou. rápida e velocidade de resposta.
A contraposição entre individualismo e multiculturalismo, prosseguiu Deverão desenvolver aprendizado
Glaucy, estimulará a criação de grupos heterogêneos e auto-organizados, pela vida toda, realizar networking
além da redefinição do local de trabalho com estruturas planas, e saber liderar as relações remotas.
descentralizadas e em vários países, e uma alta taxa de movimentação Se dá para fazer tudo a distância,
de pessoal, com declínio da lealdade. “Essa megatendência deverá impor por que as pessoas precisam estar
aos líderes a redefinição de lealdade, com maior valorização do trabalho juntas, sendo que isso envolve
coletivo e busca de um senso de equipe.” custos?”, questionou a executiva,
relacionando essa tendência à
O estilo de vida digital lança foco nas novas gerações que já atuam nas
chamada convergência tecnológica,
organizações. Implica divisão indefinida entre vida pública e privada,
que centraliza a conectividade e a
transferência do poder para os “nativos digitais” (geração que nasceu e
informação em um único aparelho.
cresceu no mundo tecnológico), transparência e integridade. “São pessoas

Entender que o mundo se ampliou e que existem culturas e pessoas


diferentes trabalhando juntas é uma das competências que precisam
ser estimuladas nas lideranças do futuro.

benchmarking de liderança
Com base na opinião de executivos Ao mostrar o segundo estudo, a executiva adiantou que a única forma
de empresas do ranking das de obter sucesso frente a esses desafios é por meio da Inovação. Pesquisa
melhores no desenvolvimento de com 30 Best Companies for Leadership (BCFL), ou as melhores empresas na
líderes, Glaucy sinalizou as cinco formação de líderes, realizada pela Revista Exame (Março/2012) e Global
características principais dos líderes Approach Consulting (GAC), apontou que 76% delas pretendem investir
de amanhã: em Inovação em 2012, e 52% já se beneficiam de incentivos fiscais para
ƒƒ Raciocínio conceitual e pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação. As cinco ações
estratégico que vêm sendo adotadas pelas BCFL para apoiar a inovação e desenvolver
pessoas em seus ambientes são: aprimorar a agilidade de resposta; engajar
ƒƒ Ética: integridade, sinceridade,
e contextualizar; prover ferramentas; incentivar a colaboração; e celebrar os
abertura intelectual
sucessos e aprender com os erros.
ƒƒ Criação de lealdade -
É dessa forma que as BCFL conseguem fazer uma gestão efetiva de
significado para a sua
talentos e sucessores. “Os líderes, que são profissionais mais experientes,
identidade
reservam um tempo para desenvolver pessoas. Isso é fundamental, pois
ƒƒ Liderança de equipes
sabemos que temos um déficit na formação básica. Sem uma liderança
heterogêneas e diversificadas
para ensinar, o investimento é nulo. Junto a isso, a criação de uma
ƒƒ Trabalho em equipe real, com estrutura mais plana e menos burocrática, com pessoas sem medo de
poder compartilhado, dentro e arriscar e errar, facilitará a comunicação e criará espaços para inovar e
fora da organização pensar diferente”, finalizou a executiva.

47
SEMINÁRIO

Precisamos transformar nossas escolas numa Disney

Essa é a proposta do seriíssimo – mas ainda é – criar lugares irresistíveis, que preparem as
crianças para um futuro incerto”, esclareceu Gerver,
também divertido – especialista em que, hoje, roda o mundo fazendo palestras sobre
educação britânico Richard Gerver educação, e mais especificamente sobre como mudar
para mudar o sistema educacional e o sistema educacional, a exemplo de sua participação
no Seminário Internacional da FNQ.
fomentar a criatividade e a inovação,
Que fique claro, Gerver não tem uma resposta pronta
uma necessidade das empresas no
para a pergunta que fez à sua equipe, mas vem
século 21. obtendo pistas que apontam para um novo modelo
de educação, com “espírito de colaboração” dos
Na primeira reunião como conselheiro para política diversos setores da sociedade e foco no futuro. “Na
de educação do governo de Tony Blair (1997-2007), na Disney, os únicos que reclamam são os adultos. As
Grã Bretanha, Richard Gerver sentou-se diante de 120 crianças amam.”
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

profissionais da área. Era seu staff, ansioso em conhecer Ao deixar o sistema educacional, jovens adultos –
as diretrizes a serem adotadas dali por diante. Gerver sobrecarregados de conhecimento – tentam ingressar
permaneceu em silêncio por algum tempo e, quando no mercado de trabalho e, não raro, dão com a cara
o incômodo tornou-se insuportável, perguntou: “Como na porta. Não porque não aprenderam nada na
podemos transformar nossas escolas numa Disney?”, escola, e sim porque não atendem às demandas do
referindo-se ao maior parque de diversões do mundo. mercado atual, em constante mutação e cada vez mais
“As pessoas riram”, lembrou o inglês, completando sincronizado com a inovação. “Na Espanha, por exemplo,
que elas foram ao encontro esperando por princípios, a taxa de desemprego está em 25% da população, e isso
metas e resultados. “Mas a minha proposta era – e inclui pessoas com curso universitário”, disse.

48
o sonho da educação
Gerver não é apenas um estudioso do tema. Começou a Pai de dois adolescentes (sua filha tem 16 anos e o
dar aulas em 1992 e, em 1997, já era um dos professores filho, 11), ele vivencia dentro de casa a falta de sintonia
mais comentados na Inglaterra. Em 2005, foi laureado entre o velho modelo escolar e uma nova geração
com o prêmio de diretor escolar do ano, pela sua que não ambiciona seguir carreiras tradicionais, dentro
extraordinária capacidade de inovar, pois defende de um mercado de trabalho mutante. “Minha filha
um aprendizado vivo, que envolve experiências quer ser uma designer de moda e ele, um tenista.”
para os alunos dentro e fora da escola. Tendo sido Como se vê, a menção à Disney não foi uma piada
homenageado também pela Unesco, no ano seguinte, para descontrair o ambiente. No entender de Richard
foi dar palestras em Xangai, polo educacional chinês, a Gerver, os sonhos são fundamentais na construção de
convite do governo local. Escreve artigos para a mídia um modelo educacional revolucionário e, ao mesmo
inglesa, lançou um livro intitulado “Criando as Escolas tempo, eficiente, que possa suprir as necessidades das
do Amanhã Hoje” (2009, não lançado no Brasil) e, organizações no século 21. “A gente tem de parar de
atualmente, é também consultor empresarial, atendendo pensar que as pessoas vão para as empresas apenas
a companhias como Google, em temas relacionados ao para fazer o trabalho delas.”
desenvolvimento humano, transformação organizacional
e cultural, liderança, criatividade e inovação – estas duas
últimas são suas grandes bandeiras.

A herança da Revolução Industrial é um atraso


De acordo com Richard Gerver, o sistema Nesse sentido, o sistema educacional deveria mirar o
educacional ainda em voga foi forjado na Revolução próximo estágio – a inovação. Para exemplificar sua
Industrial, no Reino Unido, durante os séculos 18 tese, Gerver recorreu ao índice de empreendedorismo
e 19, e, depois, aprimorado com o taylorismo, nos da The Global Entrepreneurship and Development
Estados Unidos, no século 20. “A fórmula era simples: Institute (GEDI). O índice leva em conta, sobretudo, a
produtividade, eficiência e lucro”, enumerou o capacidade das nações em incentivar o lançamento
teórico, destacando que esse modelo funcionou de novas empresas e produtos. Os EUA, terra não
muito bem por um longo tempo. No taylorismo, só da Apple, mas também do Google, da Dell e de
todo mundo faz a mesma coisa e, assim, se evitam os outras companhias digitais, aparece em primeiro
conflitos. “Só que você não cria nada novo se todo lugar, seguidos por Suécia e Austrália. O Brasil ocupa
mundo pensa igual. O problema é que o sistema uma modesta 56ª posição. Ainda assim, supera três
educacional atual está baseado nos mesmos moldes componentes dos BRICs (China, 58ª; Rússia, 62ª; e
do taylorismo, mas o mundo mudou”, concluiu Índia, 74ª), perdendo para a África do Sul (45ª). “Nações
Gerver, exemplificando o novo cenário com um caso que focam apenas o desenvolvimento industrial
corporativo. “Basta a Apple (gigante de informática estão em baixa”, afirmou o pesquisador. “Além de
norte-americana) anunciar o lançamento da sua produtividade e eficiência, precisamos de inovação.
quinta geração do iPhone e as pessoas ficam loucas, É para esse ponto que os governantes têm de olhar”,
como se não estivessem satisfeitas com a quarta alertou. “Os políticos deveriam entender a educação
geração”, pontuou ele, lembrando que a Apple faz como o sangue de uma nação, e as empresas têm o
isso ao se reinventar constantemente. papel de exigir isso deles.”
49
SEMINÁRIO

Espírito colaborativo é força


motriz da mudança

Sim, os governos (e políticos) têm, talvez, a principal responsabilidade de


mudar esse quadro. As empresas não ficam atrás. Mas o fato é que professores,
pais e a sociedade de forma geral não estão isentos da tarefa. “Temos de criar
um ambiente de colaboração, como nas Olimpíadas”, indicou Gerver. “Nas
Olimpíadas de Londres, fiquei maravilhado com o espírito de colaboração entre
as pessoas. Os profissionais que fazem a educação deveriam ter esse espírito
também”, disse. Por colaboração entenda-se, também, conflito. Um conflito
construtivo, que conduza à inovação. “Veja o exemplo dos Beatles: eles odiavam
uns aos outros. No entanto, criaram uma música poderosamente inovadora”,
elogiou. Transferindo essa análise para o ambiente corporativo, o estudioso
ressaltou a importância da convivência entre pessoas de diferentes gerações.
Richard Gerver contou que, nos dez anos do governo de Tony Blair, foram
implementadas cerca de 700 iniciativas no âmbito da educação. “Nenhuma
funcionou, porque tudo sempre é feito de uma forma rápida demais”, criticou
o estudioso. “Quando os educadores começam a entender uma diretriz,
logo vem uma nova e eles têm de mudar de novo”, prosseguiu. Então, a
saída seria reunir os já citados setores da sociedade para dialogar e discutir “o
que o sistema educacional precisa ser”. Com uma ressalva importante: “Essa
discussão não pode ser pautada por índices de mensuração”, opinou.
Por ocasião da passagem do educador pelo Brasil, havia sido divulgado o Ideb,
segundo o qual houve piora do ensino médio em nove estados brasileiros, na
comparação com 2009. Questionado sobre o indicador, Gerver não quis emitir
opinião. Coerentemente, disse que não julga importante discutir índices, e sim
políticas de educação de longo prazo. “Na Inglaterra é a mesma coisa.”
Além do comprometimento de todos, o sonho olímpico de reformular a
educação de Gerver envolve a revisão de alguns conceitos que, na visão dele,
estão sendo confundidos. “Criatividade não significa produzir mais: ela é parte
fundamental da inteligência. Da mesma forma, aprender não é só acertar, mas
errar e ver que aquilo não serve. É risco”, comparou. Por isso, três aspectos
devem ser observados:
1 – Vivência: Educação tem tudo a ver com vida. Os estudantes precisam
ter espaço para expressar suas visões pessoais e, a partir delas, buscar
oportunidades e a realização de suas aspirações. O foco deve ser o indivíduo, e
não a massa estudantil.
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

2 – Aprendizado: O desenvolvimento dos indivíduos deve estar voltado para o


futuro, mas ele começa agora. Muitos têm um hobby ou vontade de desenvolver
uma determinada habilidade, como aprender a tocar um instrumento musical.
Como isso não se encaixa no modelo educacional, logo se pensa que o hobby
não é importante e, portanto, deve ser jogado para o futuro. Isso é um erro.
3 – Rir: “Educação não é frivolidade, mas por que tem que ser algo tão sério?”,
questionou Gerver. Na visão dele, os melhores alunos e professores estão em
escolas onde é permitido... sorrir!

50
A excelência DA
gestão está EM foco
Na sua empresa?

A Autoavaliação Assistida da FNQ é um programa


de capacitação que forma multiplicadores nas
organizações para realizar avaliações internas,
utilizando como referência o Modelo de Excelência
da Gestão® (MEG). É indicada para organizações que:
ƒƒ utilizam ou pretendem utilizar o Modelo como
estímulo à evolução da gestão
ƒƒ já conduzem o processo de autoavaliação
e desejam realizar essa atividade com o

fnq
acompanhamento da FNQ
ƒƒ querem comparar a aderência ao MEG com
organizações Classe Mundial
ƒƒ apoiam a melhoria da gestão de fornecedores
e/ou associados, podendo contratar o produto

Merzavka | pixdeluxe/ istockphoto


para um conjunto de organizações
Ao final do processo, a organização recebe
um Relatório de Autoavaliação, construído e
compartilhado pela equipe, com pontos fortes e
oportunidades de melhoria.

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relacionamento no telefone 11 5509-7700 ou
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SEMINÁRIO

Da esq. p/a dir., Thaís Junqueira,


diretora-executiva da Fundação
Estudar, Colin Butterfield,
presidente da Cosan Alimentos,
Rodolfo Coelho, sub-secretário
de Gente e Gestão da Prefeitura
do Rio de Janeiro, e Ricardo
Corrêa Martins, diretor
institucional da FNQ

O desafio da formação de líderes

A formação educacional não O comportamento ético e a liderança pelo exemplo


são fatores fundamentais para inspirar e moldar
se esgota com a conquista do as novas gerações. Essa conclusão foi unânime no
diploma. O aprendizado deve ser painel que debateu os desafios para a formação de
constantemente estimulado e novos líderes, composto pelo presidente da Cosan
Alimentos Colin Butterfield, o sub-secretário de
aprimorado ao longo da vida.
Gente e Gestão da Prefeitura do Rio de Janeiro,
Rodolfo Coelho, e a diretora-executiva da Fundação
Estudar, Thaís Junqueira.
Colin Butterfield lembrou que muito se fala sobre
a ansiedade, a falta de comprometimento e a
infidelidade dos jovens que compõem a Geração Y.
Por outro lado, a maioria das áreas de RH não tem
estrutura para lidar com esse novo perfil, que requer
uma análise mais criteriosa para extrair dos jovens o
que têm de melhor. Esse hiato ocorre por conta do
descompasso entre o discurso e a prática, mantido
pela maioria das organizações e suas lideranças.
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

“Essa é uma geração que não ouve e não treina, se não


for inspirada. Se não esclarecermos quais são os limites
e a direção que devem seguir, além de colocá-los
na zona de desconforto, eles não respondem
adequadamente”, observou Butterfield. “A melhor
maneira de fazê-los compreender o que se quer deles
é dando o exemplo”, complementou Rodolfo Coelho.

52
Infelizmente, ainda são poucas as organizações que oportunidade de fazer diferente. “E de se surpreender
percebem que a figura do líder não pode ser mais com os resultados que eles são capazes de gerar e as
construída a partir de ações autoritárias, calcadas na melhorias que conseguem implantar. Além de ser uma
hierarquia verticalizada. “Venho de uma companhia forma de checar o caráter do profissional”, enfatizou.
onde tive a felicidade de contar com líderes que Naturalmente, por trás da possibilidade de
souberam direcionar, reconhecer e manter a equipe experimentar novas formas de atuar e empreender
motivada”, observou Coelho, ao informar que a sua está todo o conhecimento adquirido pelos
formação foi forjada no dia a dia da empresa, a partir profissionais desde a infância. Hoje se sabe que a
do exemplo dos líderes, com um modelo que agora formação educacional é algo que não se esgota com
tenta implementar na Prefeitura do Rio de Janeiro. a conquista do diploma. O aprendizado deve ser
Outro aspecto destacado pelos participantes diz constantemente estimulado e aprimorado ao longo
respeito ao erro. A punição é um dos maiores equívocos da vida. Ele se dá de diferentes formas e em diversos
cometidos pelas empresas, na opinião de Butterfield. ambientes, que não o espaço escolar ou corporativo.
Ele sinaliza que nos EUA, por exemplo, a maioria das Ao apoiar o jovem em seu processo de aprendizagem
pessoas que recebem apoio para empreender, dentro e desenvolvimento, a partir da oferta de bolsas de
ou fora da organização, são aquelas que já fracassaram estudos de graduação e pós-graduação nas melhores
em ocasiões anteriores. Isso porque o apoiador acredita instituições de ensino superior do País e do exterior,
que o erro honesto, aquele que você comete não por a Fundação Estudar tem contribuído para a formação
negligência, mas tentando acertar, é uma importante desses novos líderes, que têm características e
fonte de aprendizado. “Aqui, se você erra uma única vez expectativas bem diferentes das gerações anteriores,
é considerado um fracassado”, observou. mas que podem alavancar o crescimento das
Ao dosar autonomia e responsabilidade, disse organizações. Cabe a elas criar o espaço para que eles
Thaís Junqueira, damos ao jovem profissional a possam se aprimorar e inspirar as suas equipes.

53
SEMINÁRIO

Da esq. p/a dir., Francisco


Saboya, diretor-presidente do
Porto Digital, Jairo Martins,
superintendente geral da FNQ,
e Juliano Seabra, diretor de
Educação e Pesquisa do Instituto
Endeavor

educação empreendedora e o futuro da economia

O Brasil precisa de um programa O quarto e último painel do 20º Seminário


Internacional discutiu a educação empreendedora
educacional voltado à formação de
e o futuro da economia, tendo como participantes
empreendedores, que proporcione Francisco Saboya, diretor-presidente do Porto Digital,
incentivo e infraestrutura necessária um dos principais polos de tecnologia do País, e
para que as empresas brasileiras Juliano Seabra, diretor de Educação e Pesquisa do
Instituto Endeavor, organização internacional que
possam crescer, investir e competir apoia o empreendedorismo.
de igual para igual em relação às Em suas exposições, os painelistas traçaram um
concorrentes estrangeiras. panorama do empreendedorismo no Brasil e
apontaram os principais gargalos que impedem o
crescimento sustentável das empresas, entre eles a
falta de um programa educacional voltado à formação
de empreendedores, e o distanciamento que existe
entre a academia e o mercado. Eles também narraram
suas experiências à frente do Porto Digital e do
Instituto Endeavor.
Criado há 10 anos, o Porto Digital abriga cerca de 250
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

empresas de tecnologia e economia criativa, gerando


emprego para 7 mil pessoas e um faturamento
próximo a R$ 1 bilhão. Trata-se de uma iniciativa que
conseguiu contornar as restrições impostas pelo
Estado e criar um ecossistema vigoroso capaz de gerar,
a cada 18 meses, 30 novos empreendimentos. “Nós
nos convertemos em uma fábrica de novos negócios,
oferecendo oportunidades concretas aos jovens”,
informou Francisco Saboya.

54
Além de estabelecer uma conexão direta entre a empreendedores. De modo geral, os que possuem
academia e o mercado, o espaço conta com um melhor nível de escolaridade conseguem identificar
programa de capacitação complementar que auxilia oportunidades reais de negócios e contam com
o empreendedor no planejamento do seu negócio. maior estrutura para romper as barreiras burocráticas
Também possui uma incubadora e aceleradora e se firmar no mercado. O impacto que geram na
de negócios para receber novas iniciativas, com economia é significativo, seja pela oferta de emprego
financiamentos obtidos a partir de fundos de ou pela oferta de produtos e serviços inovadores.
investimentos públicos e privados. Mas essa não é a realidade na maioria dos negócios.
Boa parcela dos empreendedores brasileiros investe
apoio ao epreendedorismo
por necessidade e isso explica, em parte, o baixo
O Instituto Endeavor foi criado em 1997, nos EUA, e
desempenho. Do total de empresas existentes no País,
há 12 opera no Brasil na identificação e apoio aos
apenas 30 mil conseguem crescer a uma taxa de 20%
empreendedores que apresentam grande potencial
ao ano, por três anos seguidos.
de crescimento. Atualmente, oferece apoio direto a
57 empresas, cuja taxa média de crescimento gira em A inexistência de um programa educacional voltado à
torno de 30% ao ano, que empregam 25 mil pessoas e formação de empreendedores está entre os principais
geram um impacto no PIB da ordem de R$ 2,5 bilhões. entraves para o avanço do País. Segundo Seabra,
o Brasil figura entre os países com menor acesso à
Ao considerar a cifra de empresas oficialmente
educação empreendedora: cerca de 9% da população
registradas no Brasil (em torno de 5 milhões),
adulta teve acesso a cursos ou metodologias para se
é demasiadamente restrito o número de
capacitar melhor e montar um plano de negócios.
empreendimentos que conseguem sobreviver ao
Comparativamente, esse acesso foi de 40% no Chile,
longo do tempo. Dados do Sebrae indicam que entre
35% na Colômbia, 20% na Argentina e 15% na Bolívia.
28% e 30% das empresas abertas não sobrevivem aos
dois primeiros anos, e cerca de 60% se mantêm ativas Na opinião de Saboya, se não houver uma forte
apenas por quatro anos. Juliano Seabra sustentou que pressão das lideranças empresariais e da sociedade
existe uma relação direta entre o nível de desempenho civil, isso pouco deve mudar. “O Plano Nacional para
das empresas e o nível de escolaridade dos a Educação (PNE) prevê colocar o Brasil, em 2021, na

55
SEMINÁRIO

condição em que os países desenvolvidos estavam


em 2005. Ou seja, nosso projeto é ser 15 anos
atrasados”, questionou.
Além da questão educacional, Saboya enumera outros
gargalos que prejudicam a ação empreendedora
e condenam o Brasil a prosseguir com uma baixa
dinâmica econômica. Entre eles, o distanciamento
entre a academia e o mercado; o excesso de
burocracia e custos para produzir; uma legislação
anacrônica que penaliza o empregador; e a falta de
políticas públicas de longo prazo que pavimentem o
terreno para o florescimento do empreendedorismo.
Ao final do painel, os palestrantes registraram suas
recomendações. “Para a esfera pública, sugiro que
limpe o terreno e saia da frente”, disse Saboya.
“O setor público deve estar à frente, e não na
frente, proporcionando a infraestrutura necessária
para que as empresas brasileiras possam crescer,
investir e competir de igual para igual em relação às
concorrentes estrangeiras. Que sirva, enfim, de indutor
da atividade produtiva.”
Citando o educador Edgar Morin, Saboya
complementou afirmando que é preciso aprender,
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

desaprender e reaprender. “É necessário se capacitar,


experimentar e não ter medo de errar. Ninguém é
bem-sucedido só porque tem boas ideias. O sucesso
decorre do aprendizado e do esforço”, observou.
Seabra dirigiu a sua recomendação ao MEC. “Que ele
incorpore um programa de educação empreendedora
efetivo, com professores que tenham experiência de
mercado e possam contribuir para a formação de
jovens empreendedores”, ressaltou.

56
Conclusões e
desdobramentos
do 20º Seminário
internacional da fnq

algumas propostas de consenso entre os


participantes do seminário foram destacadas
pela fnq ao final dos trabalhos. Como um
dos desdobramentos, a fundação anunciou
a sua disposição de construir um modelo
de excelência da Gestão® (MEG) customizado
para o setor educacional.

Ao fazer um balanço do 20º Seminário Internacional em Busca da


Excelência, o superintendente geral da FNQ, Jairo Martins, contextualizou
o desenvolvimento econômico do Brasil e seu papel relevante no
mercado mundial. Mas advertiu que, para garantir a produtividade
e a competitividade de nossas empresas e da economia como um
todo, torna-se urgente investir fortemente em educação. “Trata-se do
principal ativo estratégico de uma nação que deseja vencer no cenário
global. Por isso, precisamos agir imediatamente na busca de soluções e
melhorias no sistema educacional, em todos os níveis de ensino”, frisou o
superintendente.
Martins sublinhou o paradoxo do pleno emprego e o déficit importante
de profissionais capacitados para assumir alguns postos no mercado.
“É uma situação derivada da falta de políticas educacionais contínuas e
da desatenção com a qualidade do ensino oferecido às nossas crianças e
jovens”, disse.
Para ele, alguns indicadores apresentados no evento são alarmantes,
como os 27% de brasileiros que não conseguem interpretar e entender
um texto simples, os chamados analfabetos funcionais. “Percebemos isso
no dia a dia das empresas, em que nos deparamos com jovens saídos
de universidades sem qualquer preparo para lidar com conteúdos e
processos um pouco mais complexos.”

57
SEMINÁRIO

Um consenso entre os participantes foi a necessidade


de disseminar no setor público as boas práticas
de gestão, já experimentadas no setor privado e
reconhecidas pela sociedade. Desse modo, a FNQ
manifestou a sua disposição de elaborar um Modelo
de Excelência da Gestão® (MEG) de forma customizada,
para atender ao setor educacional.
O MEG é uma metodologia de avaliação, autoavaliação
e reconhecimento da gestão, estruturado em
fundamentos e critérios, dentro dos modernos
princípios da identidade empresarial e do atual
cenário do mercado. “A criação de um Modelo para
a educação pode representar uma contribuição de
grande valor da FNQ, para que as instituições de
ensino se profissionalizem e façam avançar a qualidade
Diagrama do Modelo de Excelência da da educação de maneira mais veloz e efetiva”, concluiu
Gestão® (MEG) que será customizado o superintendente.
para a área educacional

sumário propositivo para a educação no brasil


Confira uma síntese das propostas apresentadas pelos participantes do 20º Seminário Internacional da FNQ.

ƒƒ Criação de uma grande parceria entre setores ƒƒ Utilização dos indicadores de forma criativa, a fim
privado e público, para promover melhorias no de que alunos, pais, professores e gestores possam
sistema educacional brasileiro, com trocas de obter uma noção real da classificação da escola, seus
experiências e cooperação criativa; pontos críticos e as ações de melhoria;
ƒƒ Elaboração de um plano nacional para a educação, ƒƒ Criar um vínculo maior entre as universidades e as
de caráter suprapartidário e que perdure em empresas, para aproximar os currículos da realidade
execução mesmo após a mudança de governos; do mercado e das transformações no mundo;
ƒƒ Participação da sociedade civil nos debates e ações ƒƒ Repensar a sala de aula, que deve estar mais aberta
de melhoria na educação, com envolvimento de pais, à autocapacitação dos alunos, a um relacionamento
familiares ou responsáveis nos processos de busca da mais horizontalizado e ao estímulo da criatividade;
qualidade e avaliação do ensino oferecido nas escolas; ƒƒ Reformulação dos currículos, considerando a vida
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

ƒƒ Criação de uma agência reguladora para fiscalizar e real dos estudantes, seus desejos e necessidades;
punir escolas particulares que não cumpram com ƒƒ Rever os conceitos do ensino em sala de aula e
qualidade os serviços oferecidos à população; adotar novas ferramentas, inclusive inovações
ƒƒ Adoção de gestão profissionalizada nas escolas, tecnológicas, preparando um cenário de transição
com atuação de profissionais especializados em para integrar professores com conhecimento
administração; tradicional e alunos nativos digitais.
ƒƒ Na gestão profissionalizada, controlar processos,
fixar metas, organizar avaliações e indicadores de
qualidade;
58
9º FÓRUM EMPRESARIAL
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

60
ontem e hoje:
os desafios
da gestão
Em 2011, como parte da celebração dos 20 anos da FNQ, alguns de
seus eventos foram dedicados à reflexão de sua história e ao futuro de
sua causa e sua Missão. O 9º Fórum Empresarial, realizado anualmente
pela Fundação, aconteceu em 27 de outubro do ano passado, em São
Paulo, com o tema Evolução da Gestão: perspectivas e tendências.
A proposta foi resgatar parte da história da instituição, reunindo
alguns protagonistas na criação da FNQ, e promover uma reflexão
sobre os próximos 20 anos, contando com a presença de lideranças
empresariais e especialistas da área da gestão.
O primeiro painel reuniu Dorothea Werneck, secretária de
Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais e
ex-ministra do Trabalho; Edson Vaz Musa, presidente do Conselho
de Administração da Caloi; Elcio Aníbal de Lucca, presidente do
Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC); e Mauro
Figueiredo, diretor da Bradesco Seguros e então presidente do
Conselho Curador da FNQ. Eles traçaram um panorama do Brasil à
época da criação da Fundação e os desafios enfrentados para que se
colocasse na pauta das empresas a questão da Qualidade.
Na sequência, o professor Humberto Mariotti, da Business School
São Paulo, apresentou uma palestra sobre a Teoria da Complexidade
e defendeu a necessidade de mudanças na forma como enxergamos
e atuamos no mundo.
Como encerramento, os empresários Guilherme Leal, co-presidente
do Conselho de Administração da Natura Cosméticos; Aluizio Byrro,
chairman América Latina da Nokia Siemens Networks; Wilson Ferreira
Junior, presidente do grupo CPFL Energia e atual presidente do Conselho
Curador da FNQ; e Ricardo Guimarães, presidente da Thymus Branding,
9º Fórum Empresarial – discutiram os desafios da gestão nas perspectivas da escassez de recursos
Evolução da Gestão: naturais, formação de novas lideranças, crise econômica e urgência na
perspectivas e tomada de decisões.
tendências Confira os melhores momentos do 9º Fórum Empresarial.

61
9º FÓRUM EMPRESARIAL

Resgatar a história para avançar


Ao dar início ao 9º Fórum Empresarial, Jairo Martins, superintendente
geral da FNQ, lembrou os 20 anos de existência da Fundação e observou
que, em 1991, quando a instituição foi criada, o tema da globalização já
dominava o cenário mundial. Para responder à nova realidade, teve início o
Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), uma iniciativa do
governo federal que contou com o apoio das empresas no Brasil.
O objetivo foi fomentar a utilização de técnicas de qualidade nas empresas
visando aumentar a produtividade, reduzindo os custos e tornando-as
competitivas em relação ao mercado internacional. No decorrer da busca
pela Qualidade Total na indústria brasileira, a FNQ apresentou o seu
primeiro Modelo de Gestão, que contribuiu com a evolução dos processos
adotados dentro das organizações.
Segundo o superintendente, a iniciativa foi aperfeiçoada ao longo do
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

tempo, envolvendo um número cada dia maior de empresas, parceiros,


juízes e examinadores voluntários, até ser estruturado o Modelo de
Excelência da Gestão® (MEG) da FNQ, hoje amplamente adotado pelas
organizações no Brasil. “O cenário atual é de instabilidade econômica e
caos ambiental. Estamos diante de um grande desafio, talvez o maior deles.
Precisamos reavivar a nossa história e repensar a gestão das empresas
em novos patamares para os próximos 20 anos”, disse Jairo Martins,
sintetizando os painéis que viriam a seguir durante o Fórum Empresarial.

62
Os 20 anos da FNQ

A ex-ministra Dorothea Werneck abordou trechos


da história do Movimento da Qualidade, no início
da década de 1990. “Um marco foi a criação
do PBQP (Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade) e a principal missão do grupo
envolvido era mudar mentalidades”, disse,
referindo-se às necessidades de mudança na
visão das lideranças empresariais e de modernizar
o parque industrial nacional. Não foi tarefa
fácil, pois se atuava dentro de um cenário de
economia fechada. Após várias reuniões e visitas
à Confederação Nacional das Indústrias (CNI),
foi possível firmar as bases do Programa, criar a
então Fundação Prêmio Nacional da Qualidade
(nome anterior ao da FNQ) e estabelecer o
primeiro Prêmio Nacional da Qualidade® (PNQ).
“Esse trabalho tinha três palavrinhas de ordem:
conscientização, sensibilização e motivação
rumo à busca da competitividade em nossas
organizações”, afirmou Dorothea.
Dorothea Werneck, Na opinião da ex-ministra, o fato de o Brasil não
secretária de possuir um modelo único de fazer as coisas, de certa
Desenvolvimento
Econômico do Estado de forma contribuiu para que as empresas abrissem
Minas Gerais suas portas ao novo. “Ainda em 1991, fui procurada
pelo senador Albano Franco, na época presidente da
CNI, que mostrou grande interesse pela causa e logo
instituiu uma premiação interna para as organizações
filiadas à instituição”, contou.
Outro nome que ela destacou foi o de Antonio
Maciel Neto, hoje presidente da Suzano Papel
e Celulose, a quem atribuiu a estruturação do
movimento no âmbito nacional. No processo de
convencer as pessoas, as subsidiárias das empresas
multinacionais no Brasil introduziram a gestão da
qualidade em tempo mais rápido e com melhores
Participantes: Dorothea resultados, transformando-se em benchmarks do
Werneck, Edson Vaz grupo no mundo. “Estou falando de Fiat, Rhodia,
Musa, Elcio Aníbal Philips, IBM, Xerox do Brasil e tantas outras. O avanço
de Lucca e Mauro foi tão rápido e tão extraordinário que a planta da
Figueiredo fábrica da Fiat Automóveis do Brasil, por exemplo, foi
considerada a mais inovadora e eficiente do mundo,
ultrapassando a planta-sede em Turim, na Itália.”

63
9º FÓRUM EMPRESARIAL

“Dizem que o brasileiro não tem memória do passado. Talvez, por isso,
temos uma grande abertura para a mudança e o futuro.”
Dorothea Werneck, secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais

A ex-ministra ressaltou que a Fundação, na época, A Rhodia percebeu já naquela época que não deveria
foi buscar inspiração nos critérios do Prêmio Malcom abordar a gestão por partes, e sim como um todo.
Baldridge no início e, hoje, já influencia o prêmio norte- “Descobrimos a visão sistêmica e que não poderíamos
americano. Disse, ainda que a ideia do Movimento alterar o produto sem alterar o processo. Deveríamos
da Qualidade contou com o apoio de três lideranças planejar, controlar e ter constância de propósitos em
que trabalharam próximos ao governo federal: nossas ações. Enfim, aprendemos que não saberíamos
Hermann Wever, Egon José da Silva e Jorge Gerdau gerenciar se não pudéssemos medir os resultados – e
Johannpeter. Reunimos também consultorias, públicas isso representou a nossa contribuição para a reunião de
e privadas, como a Fundação Vanzolini e a Fundação lideranças empresariais e a criação da FNQ”, disse.
Christiano Ottoni, esta do atuante Vicente Falconi. Musa foi presidente do Conselho Curador da FNQ,
Para concluir sua fala, a ex-ministra relacionou as na gestão 2001-2003, e é Membro do Conselho de
diferenças entre a fase inicial da FNQ e a atualidade. Notáveis da instituição. Ele contou que a Fundação
“Antes, trabalhávamos centrados nos resultados fez modificações em sua Missão, com o objetivo de
positivos. Hoje, ao ser introduzida a questão da imprimir mais inovação nos conceitos e promover mais
sustentabilidade, precisamos aprender a valorizar fortemente as ações de comunicação e educação.
também as ações de recuperação ambiental, Para ele, a FNQ tem um privilégio grande, comparado
identificar as iniciativas positivas e premiar os a outras organizações da sociedade. “O nível dos
resultados. Com relação ao setor público, há um integrantes de seu Conselho de Administração é
entrave de natureza estrutural, que é a instabilidade da elevadíssimo. Olhando para trás, percebemos o
gestão, com a troca periódica de governos. Esses são quanto avançamos. Mas o Brasil ainda é um País de
os maiores desafios que temos pela frente”, finalizou. baixa produtividade e capacitação tecnológica, além
deScobrindo a visão sistêmica de grandes índices de desperdício. Portanto, temos
Edson Vaz Musa resgatou o cenário histórico do final muitas ações a fazer, entre elas investir ainda mais em
dos anos 1980. A Guerra Fria imperava nas relações inovação e arregimentar organizações para a causa da
entre os países, o Brasil ainda vivia sob um regime excelência da gestão”, concluiu o executivo.
político-econômico centralizador. “Tínhamos uma
competitividade extremamente baixa e não sabíamos o
que iria acontecer. Na época, eu era executivo da Rhodia
e sentia-me preocupado com a situação”, relatou.
Em 1991, a globalização começou a tornar-se
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

realidade e havia consciência na Rhodia sobre a


pouca competitividade e necessidade de buscar
soluções mais sólidas e duradouras, a fim de não
sucumbir diante do novo cenário do mercado mundial.
“Passamos a repensar os processos, com a participação
de toda a força de trabalho, e trocar experiências
com outras organizações que também perseguiam
a excelência da gestão”, contou o atual presidente do
Conselho de Administração da Caloi.

64
Da esq. p/a dir., Mauro
Figueiredo, Elcio Aníbal de
Lucca e Edson Vaz Musa

A disseminação da causa
Elcio Aníbal de Lucca, ex-presidente do Conselho empresa brasileira alcançara essa distinção. Um ano
Curador da FNQ nas gestões 1997-1998 e 2003-2005, depois, a Serasa foi Premiada, conquistando a mais
contextualizou o cenário econômico do final da década alta categoria do PNQ, feito que se repetiu por mais
de 1980 e início dos 90, quando era gestor da Serasa. duas vezes, tornando-a a primeira a ser tricampeã no
Disse que o Brasil passava por um momento de inflação prêmio”, destacou o empresário.
alta e pouquíssimos investimentos em produção. Lucca lembrou que, hoje, a FNQ tem milhares de
Interessava mais aos investidores aplicar o dinheiro no examinadores e juízes voluntários, mas no começo
mercado financeiro do que nas indústrias. Razão pela eram poucos pioneiros, “extremamente responsáveis e
qual pouco se pensava em qualidade e processos. “Sabia devotados à missão de tirar o Brasil da inércia”. Com o
que precisava buscar novas referências e, por indicações, tempo, em razão de seu envolvimento, ele foi escolhido
procurei a FNQ, onde fui recebido pelo saudoso Carlos como presidente do Conselho Curador da FNQ, quando
de Mathias Martins, superintendente na época. Ele foi teve a oportunidade de contribuir com a expansão da
um dos alicerces da Fundação e, a partir da confiança causa e o envolvimento maior das organizações.
estabelecida, comecei a participar das reuniões e abracei “Se o Brasil não tivesse passado por essa experiência
a causa da excelência da gestão”, relatou. da excelência da gestão e disseminado o MEG, não só
Na esteira do novo pensamento disseminado para quem já conhece a causa, mas para MPEs (Micro
pela FNQ, a Serasa deu seu grande salto e passou e Pequenas Empresas), prêmios regionais e setoriais,
de média empresa para a maior organização do não estaríamos no patamar de desenvolvimento que
segmento no mundo. “Ao atuar sob os preceitos da estamos hoje. As pesquisas da própria Serasa Experian
qualidade, tivemos um retorno muito rápido. Em comprovam que as empresas que adotam o MEG
1994, chegamos a Finalista do Prêmio Nacional da são mais competitivas, mais eficientes e possuem
Qualidade® (PNQ). Fiz um anúncio de página inteira melhores resultados do que as outras”, finalizou.
e divulguei amplamente que, pela primeira vez, uma

65
9º FÓRUM EMPRESARIAL

“A FNQ pode se orgulhar de ter cumprido o


seu papel de agente de transformação em
busca da melhoria da competitividade nas
organizações.”
Mauro Figueiredo, ex-presidente do Conselho Curador da FNQ

solidez do MEG hoje e no futuro


Mauro Figueiredo, ex-presidente do Conselho
Curador da FNQ, destacou a importância do trabalho
e das reflexões de seus colegas para estruturar e
disseminar a causa da excelência da gestão nas
diversas fases do País e da FNQ. “Atualmente já está
consolidada a noção de que investir em gestão é
positivo e traz resultados para empresas de qualquer
porte e setor. Esse trabalho foi feito com sucesso pelos
diferentes agentes, e a FNQ foi um deles”, afirmou.
Mauro Figueiredo, diretor do Bradesco Figueiredo citou a metodologia sólida do MEG, que
Seguros e ex-presidente do Conselho permite não só a aplicação de Critérios de Excelência
Curador da FNQ muito bem estruturados, como ajustes ao longo do
tempo para serem aplicados em MPEs e empresas
públicas, por exemplo. Para o futuro, um dos desafios
de natureza interna da FNQ é definir como aprimorar
ainda mais o Modelo, considerando a velocidade das
transformações nas empresas e na sociedade. “Se no
início dos anos 1990, tínhamos um viés mais fabril, hoje
precisamos pensar nas empresas de conhecimento e
em formato de redes”, sublinhou o executivo.
No âmbito externo, segundo Figueiredo, a FNQ
precisa concentrar esforços na tarefa de disseminação
da causa, buscando impregnar toda a sociedade. “O
Prêmio MPE Brasil é um sucesso, com mais de 100
mil inscrições e 22 mil autoavaliações. Esse resultado
comparado com o mundo é surpreendente, mas
temos um universo de mais de 5 milhões de empresas
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

em 5 mil municípios no País, que podem se beneficiar


do MEG. Como podemos alcançar essas organizações
em todos os setores? Como chegar ao setor público?
Esses talvez sejam os grandes desafios que constituem
a missão da FNQ para os próximos vinte anos. Acredito
que é uma nova fase que exige reflexão, e que já tem
sido alvo do trabalho dos conselheiros, parceiros e
colaboradores da Fundação”, concluiu.

66
9º FÓRUM EMPRESARIAL
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

68
Palestra

O Futuro da
Gestão: Pensando
Diferente
Pesquisador em Ciências da
Complexidade e professor da Business
School São Paulo, Humberto Mariotti
participou do 9º Fórum Empresarial
para falar da gestão das empresas em
uma era de incertezas.

A fim de alcançar um novo patamar na configuração


Humberto Mariotti, em palestra no social e empresarial, e obter resultados positivos,
Fórum Empresarial da FNQ
é necessário enxergar o mundo sob uma nova
perspectiva. Essa mudança só será possível se
mudarmos a forma de agir, pensar e de gerir as
empresas. Essa reflexão do professor Humberto
Mariotti pontuou sua palestra sobre a gestão da
complexidade nas organizações, apresentada no
9º Fórum Empresarial da FNQ.
Para o professor, as palavras-chave que marcam
o contexto atual são: Globalização, Revolução
Tecnológica, Rapidez das Mudanças, Mercado de
Grandes Inovações, Diversidade, Aumento das
Interações e Impacto nas Carreiras. “Será que estamos
preparados para isso? Estamos desenvolvendo a nossa
percepção de mundo?”, questiona Mariotti. Ele relaciona
ainda cinco fatores que definirão os próximos 20 anos:
rapidez, complexidade, riscos, mudanças e surpresas.

69
9º FÓRUM EMPRESARIAL

A busca das
certezas, o
conservadorismo,
a baixa inovação
e os núcleos
isolados de
criação serão
substituídos pelo
reconhecimento
das incertezas,
o reformismo,
muita inovação e
a cocriação.

“Todos sempre existiram, mas estão se avolumando entre o ‘8 e o 80’ há uma infinidade de números, que
e crescendo em escala quase exponencial. E nós não podem se combinar”, afirmou.
acompanhamos porque estamos vivendo em plena Para exemplificar as opiniões antagônicas, Mariotti
transição”, advertiu. valeu-se do debate que divide a comunidade científica
Segundo ele, a chamada Modernidade, que vai do com relação ao aquecimento global e a intervenção
século 17 ao 20, caracterizou-se pela Revolução do homem nesse processo. Ele reforçou que é preciso
Industrial, por grandes iniciativas da gestão e também analisar, ponderar e coletar dados que levem à
pelo pensamento ou visão sistêmica. Esse paradigma reflexão, lembrando que, talvez, a resposta não aponte
predominou na gestão das grandes empresas desde para a absolvição ou a condenação do homem. Mas
1950, chegando um pouco mais tarde ao Brasil. demonstre que, associado ao fenômeno natural, pode
Hoje, com a passagem para a Pós-Modernidade ou existir sim a ação do homem. O consenso em torno
Modernidade Tardia, começa-se a compreender que dessa ou de outras questões não necessariamente leva
o pensamento sistêmico é necessário, mas não é a uma resposta, mas à possibilidade de múltiplas e
suficiente para entender a complexidade do mundo. complexas ações que podem resultar em reparo. Fato
Se antes se acreditava que as mudanças eram que exige do homem um olhar caleidoscópico.
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

constantes – e para melhor, graças aos benefícios da Crise sempre existiu, observou Mariotti. E propôs uma
ciência e da tecnologia –, agora percebemos que elas reflexão: por que a gestão tradicional funcionava
permanecem constantes, mas nem sempre são para bem? “Porque a economia era mais estável, o mercado
melhor, principalmente nas áreas da educação, da não era tão globalizado, a população mundial era
saúde e dos negócios. “Estamos presos ao chamado menor, os recursos naturais pareciam inesgotáveis, as
raciocínio binário: ou é bom ou mal, ou contra ou a regulações governamentais permitiam monopólios e a
favor. Ainda não temos refinamento para perceber que força de trabalho não era tão diversificada.

70
As comunicações e os fluxos de informação não
eram tão rápidos e abundantes”, respondeu. Com
esse cenário, a gestão tradicional permitia uma visão
linear, que pode ser comparada com a gestão da
complexidade (ver quadro).
Mariotti salientou que a gestão da complexidade não
exclui a visão linear (ver entrevista na pág. 72). “É fazer as
duas coisas ao mesmo tempo, usando a visão linear e
a complexa de acordo com as demandas, o contexto,
o momento e a necessidade. Gestão da complexidade
é uma habilidade, uma mudança de atitude do gestor
para perceber o momento em que uma forma de
Gestão linear Gestão não linear gestão ou outra deve predominar. Numa mesma
Organização vista Organização vista empresa, existem áreas que funcionam melhor por
como uma máquina como um organismo meio da visão linear e outras, mais criativas e inovadoras,
Linear Não linear que exigem a visão complexa”, explicou.
Previsível Surpreendente Com relação ao universo da economia e das finanças, ele
Contém ordem Contém padrões apresentou duas visões que coexistem. Quando aplicada
Comando e Controle Adaptabilidade nos momentos e contextos adequados, a metodologia
Projetada Emergente Business as Usual (Melhores Práticas) é imbatível. Quando
se entra em contato com a incerteza e a complexidade
do mundo, ela não é suficiente e se faz necessária a
metodologia Business Design (Práticas Emergentes).
“A gestão pós-moderna caminha para descobrir
que dentro do yang há um pedacinho do yin e
Melhores Business by Design vice-versa. É uma metáfora que funciona há
Práticas
milênios”, exemplificou.
Finanças
A união do pensamento linear e
Marketing do pensamento sistêmico é o que
Práticas
Vendas emergentes gera o pensamento complexo.
Planos e Metas Criar valor/ Complexidade não significa
cultura de marca complicação. Complexidade vem do
Operações
Inovação latim complexus, que significa aquilo
Processos que está tecido junto. E o que está
Oportunidades
Job Descriptions tecido junto? Tudo. Os stakeholders, os
Agir como uma
Tarefas equipe de design fornecedores, os clientes, os credores
e o mercado. Todos fazem parte desse
Projetos
tecido. “Todos estão conectados. Fazer
Business as Usual Experimentação a gestão da complexidade é, portanto,
gerir a empresa a partir do ponto de vista de
todos os envolvidos. A complexidade sempre
existiu, mas só agora ela se tornou visível aos
nossos olhos”, finalizou.

71
ENTREVISTA

realidade
incerta Nesta entrevista, Humberto
Mariotti fala sobre a gestão da
complexidade como estratégia
para vencer no século 21.

Segundo Mariotti, fazer a gestão da complexidade é saber lidar com um nível de incerteza inerente ao negócio
e que não pode ser eliminado por meio de métodos, mensurações, cálculos, mapas e sistemas fechados.

Revista Excelência em Gestão - Até que ponto é impossível prever por causa da incerteza que
o pensamento complexo é uma alternativa está presente no simples fato de estarmos vivos.
inovadora para a gestão das empresas? Para prever o comportamento de um sistema
Humberto Mariotti - O pensamento linear é vivo, econômico ou político, é necessário definir
sequencial, cartesiano, divide as coisas em partes a complexidade desse sistema – e quanto mais
e lida com elas separadamente. O pensamento complexo, maior o grau de incerteza.
sistêmico consiste em tomar essas partes e
REG - Como se diminui a incerteza?
juntá-las, formando um sistema. O problema é
que o pensamento sistêmico é tão mecanicista Mariotti - Como disse anteriormente, existe um grau
quanto o linear, porque o seu principal objetivo é de incerteza que é inerente à condição de estarmos
construir modelos na realidade, fazer mapas e querer vivos. Gestão da complexidade é lidar com esse nível
colocar tudo nesses mapas. Acontece que o mapa de incerteza que não pode ser eliminado por meio
ou modelo linear não é o território. É apenas uma de métodos, mensurações, cálculos, representações,
representação. E quando o território muda e o mapa mapas, sistemas fechados. Gestão da complexidade
permanece o mesmo – o que é muito frequente –, é diferente da gestão de risco, que pode ser, até
a representatividade não é legitima. Trabalha-se certo ponto, calculado. Por exemplo, as companhias
com modelos, imaginando que são a realidade. Não de trânsito dizem que é cinco vezes mais perigoso
surpreendentemente, os resultados não batem. Esse andar na cidade de moto do que de automóvel.
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

é o grande problema da gestão atual. Então, quando se sai para andar de moto, há um
risco impossível de remover e que é confirmado pela
REG - Qual é a limitação da visão sistêmica? observação diária e por estatísticas.
Mariotti - Atualmente muitas empresas não
REG - Como aplicar a complexidade na prática da
entenderam que trabalhar com modelos sistêmicos
gestão?
não é trabalhar com a realidade, e sim com modelos
estáticos dela. A realidade muda constantemente Mariotti - Primeiro, conscientizar-se da relatividade
e, nessa instabilidade, ela só pode ser prevista das métricas e das representações sistêmicas dos
em uma minoria dos casos. Na maioria das vezes modelos. A atual crise financeira no mundo inteiro,
principalmente na Europa, nos dá um exemplo,
72
pois tem passado ao largo de todos os modelos
matemáticos desenhados para explicá-la ou lidar
com seus efeitos. O movimento da sustentabilidade
também exige pensamento complexo. A maioria das
conferênciais internacionais sobre o tema abordam o
que se quer fazer para diminuir as alterações climáticas,
mas o que realmente é feito possui uma enorme
distância. Quando se admite a existência da incerteza
surge a consciência da complexidade. Embora ela não
possa ser eliminada totalmente, podemos admiti-la,
aprender a ter cuidado com ela e considerá-la
em todas as nossas ações, principalmente nos
planejamentos estratégicos das organizações. Só
assim é possível avançar nas soluções.

REG - O pensamento complexo tornou-se uma


metodologia própria do mundo atual ou serviria
para qualquer outro momento da história?
Mariotti - É muito mais importante hoje em dia,
diante das transformações globais. Um estudo
realizado em 2010, pela IBM, fez a seguinte pergunta
a mais de 1.500 CEOs do mundo inteiro: qual é o
maior desafio de gestão do século 21? 79% dos
entrevistados responderam: “entender e aprender a
lidar com a complexidade”. Em outra questão, 51%
dos CEOs admitiram que não sabiam lidar com a
complexidade e os 49% restantes simplesmente não
quiseram falar do assunto.
73
9º FÓRUM EMPRESARIAL

A Gestão e os Desafios
da Próxima Década
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

74
O 9º Fórum Empresarial propôs
aos convidados uma reflexão sobre
os desafios futuros e as principais
competências que devem ser
desenvolvidas para uma boa gestão.
O co-presidente do Conselho de
Administração da Natura Cosméticos,
Guilherme Leal, abordou o tema
fazendo um paralelo com o que era a
Natura em 1991: a empresa acabara de
Guilherme Leal: empresas são organizações passar por um processo de fusão. Uma
vivas e interdependentes ação marcante que não apenas moldou
o jeito de ser da companhia como a
ajudou a entender que as empresas são
organizações vivas e interdependentes,
passando a assumir um compromisso
com a sustentabilidade.
“Luiz Seabra, presidente-fundador da Natura, sempre nos lembra a frase de Plotino, que
o inspirou e mudou a sua forma de ver a vida: o Uno está no Todo e o Todo está no Uno.
Uma frase que resume bem a ideia de complexidade e interdependência existente na
vida e nas organizações, e que nos impeliu a moldar as bases, os pilares e as crenças da
Natura já em 1991”, informou Leal.
“Definida a empresa que queríamos ser, partimos em busca de bons parceiros e nos inserimos
em importantes redes de relacionamento, da qual a FNQ faz parte. Com eles, adquirimos
novas competências e buscamos a concretude de nossas crenças, passando a atuar como
agentes de transformação e a promover o bem-estar das pessoas”, disse o empresário.

75
9º FÓRUM EMPRESARIAL

“As empresas com dificuldades de rever a gestão para


dialogar com as redes sociais não irão sobreviver, pois
a conectividade é um dado inexorável.”
Guilherme Leal, co-presidente do Conselho de Administração da Natura

Leal acredita que a principal característica do século 21 é o


desenvolvimento exponencial da tecnologia. “Crescemos para 7 bilhões
de pessoas no planeta, com uma conectividade impressionante e um
impacto sobre os recursos naturais inquestionável. No entanto, o que nos
falta não é mais tecnologia e sim um novo modelo mental”, defendeu.
E propôs uma ação mais colaborativa e menos competitiva entre as
organizações para a construção de um mundo sustentável, criando um
neologismo – “cooperatividade”, uma junção de cooperação e competição.
Para o executivo da Natura, é fundamental o diálogo entre as empresas
e os vários atores e setores, a fim de buscar a arquitetura de uma nova
sociedade, que se dê tanto em nível local quanto global. “Organizações com
dificuldades de rever a sua gestão para dialogar com as redes sociais não
irão sobreviver, pois a conectividade é um dado inexorável. É necessário que
as empresas e os países atuem de forma mais colaborativa e em bases mais
sólidas e fundamentadas na ética”, afirmou, acrescentando que indivíduos e
empresas são agentes do que se pretende moldar para o futuro.
Na sequência, Aluizio Byrro, chairman América Latina da Nokia Siemens
Networks, observou que 70% da produção da empresa são serviços
Aluizio Byrro: empresas e (software) e não hardware. Uma inversão do que ocorria há 10 anos.
países precisam atuar de A partir dessa mudança, ele acredita que a comunicação nas empresas
forma mais colaborativa continuará a ser um grande desafio no século 21, especialmente porque
a mobilidade no trabalho já é realidade e pelo menos 35% da força de
trabalho atuará a distância, em home office e na tela de um computador.
Byrro destacou três aspectos que precisam ser observados para que
as empresas e o País avancem. O primeiro, que ainda persiste como
exigência extrema dentro das organizações, é a formação de novas
lideranças. Uma liderança comprometida consegue contagiar toda a
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

equipe e atuar no sentido da mudança. O segundo aspecto diz respeito


à educação, e o terceiro, que resulta da falta de investimentos nos dois
pontos anteriores, é o baixo valor agregado dos produtos.
“Embora o número de jovens entre 20 e 24 anos cursando faculdade
tenha aumentado no Brasil, o número de universitários é ainda muito
baixo. Eles representam apenas 12% da população, enquanto na Coreia
do Sul eles chegam a mais de 60% da população. A baixa escolaridade e
falta de expertise nos condena a ser um País fornecedor de commodities.
Possuímos montadoras de hardware, quando deveríamos almejar o posto
de fabricantes de software”, avaliou.
76
“Vivemos uma crise de excessos. E é sobre os excessos, em
todos os aspectos e setores, que devemos refletir.”
Wilson Ferreira Junior, presidente do Conselho Curador da FNQ

educação é palavra-chave
Wilson Ferreira Junior, presidente do Grupo CPFL Energia e presidente
do Conselho Curador da FNQ, chamou atenção para o que considera ser a
principal característica da transição do capitalismo vigente para um novo
modelo de capitalismo. Em sua opinião, não vivemos uma crise financeira.
Vivemos uma crise de excessos. E é sobre os excessos, em todos os
aspectos e setores, que devemos refletir.
“O Brasil vive um momento muito particular de crescimento econômico,
com maior acesso aos bens de consumo. Consumimos e desperdiçamos
excessivamente. Não é um problema apenas do Brasil, mas do mundo
atual. É chegado o momento de aprendermos a consumir de forma mais
ponderada e sermos mais eficientes para evitar o desperdício,” ponderou.
O executivo lembrou que por ocasião do “apagão” de energia elétrica, o
Brasil precisou adequar-se e melhorar a sua eficiência tanto na produção
quanto no uso do ativo. Em seis meses, foi feito um ajuste e passamos a
economizar 20% de energia. “A eficiência é crucial para a sustentabilidade.
Temos a vantagem de possuir uma das matrizes de energia mais limpas
do mundo, mas esse é apenas um aspecto. Nos demais, como já foi dito
pelos que me antecederam, precisamos avançar”, disse.
Ferreira Junior reiterou a fala de Aluízio Byrro, apontando a melhoria da Wilson Ferreira Junior: a
educação, quantitativa e qualitativamente, e a inovação como questões- eficiência é crucial para a
chave para o século 21. “Na avaliação da OCDE, o Brasil está na 53ª sustentabilidade
posição entre os 65 países avaliados em relação ao investimento em
pesquisa e desenvolvimento. Outro dado é que 25% das crianças que
concluem o 5º ano do Ensino Fundamental I não sabem ler e escrever
adequadamente; 71% dos que concluem o Ensino Médio continuam
a apresentar sérias deficiências em Português e 89% não sabem
suficientemente a Matemática. Não se trata apenas de falta de recursos,
mas de boas iniciativas, e as empresas podem contribuir muito com a
formação dos cidadãos”, enfatizou.
A falta de preparo leva, naturalmente, à falta de inovação. “Estamos na
47ª posição no Índice Global de Inovação 2011 do INSEAD The Business
School for the World, apesar de sermos a 6ª maior economia do mundo.
No entanto, somos um país conectado, embora em baixa velocidade.
Temos um sistema de votação eletrônica e de apuração de votos
invejável, portanto, temos capacidade. Precisamos utilizar as ferramentas
tecnológicas para dar um salto de qualidade na educação e, dessa maneira,
garantir a inovação”, defendeu o presidente do Conselho Curador da FNQ.
77
9º FÓRUM EMPRESARIAL

Ricardo Guimarães:
estamos na era do
pragmatismo científico

O poder da cooperação
Ricardo Guimarães usou de provocações para planeta. “O momento é de incertezas. E as empresas
movimentar o debate (leia artigo na pág. 80). Em precisam se adaptar. Precisam encontrar saídas rápidas.
uma de suas declarações disse que a ética teve a sua A tomada de decisão deve ser realizada no tempo
vez. Agora o momento é da Ciência e ela vem com que nos é dado, e não mais no tempo escolhido pelas
respostas. “Estamos na era do pragmatismo científico e lideranças”, afirmou.
exemplifico: a ocitocina é um hormônio que predispõe Para Guimarães, a interdependência deixou de ser uma
o indivíduo a cooperar e a criar vínculos. Em pesquisas, crença para se tornar um princípio organizador de
descobriu-se que as tribos que produziam mais sistemas vivos. “Sistema é um conjunto de elementos
ocitocina cooperavam mais entre os elementos da tribo que trabalham de forma interdependente com um
e entre tribos. Essas sobreviveram e evoluíram. As que propósito comum. O nosso corpo é assim. Um sistema
tinham menos competiam mais e extinguiram-se”, disse. organizado no qual todos os órgãos trabalham de
De acordo com Guimarães, a pesquisa demonstrou forma interdependente e equilibrada, com o propósito
que a competição é contrária ao ambiente que muda. de nos manter vivos”, explicou.
“Sabemos que, nas grandes mudanças, é preciso um Essa mesma lógica vale para as empresas. As
tempo ótimo para sobreviver e a cooperação produz organizações precisam abandonar a burocracia e
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

um conhecimento mais veloz e preciso, o que facilita passar a atuar de maneira ainda mais sincronizada.
a adaptação ao novo ambiente. Os que competem Responder mais rapidamente às demandas e, para
permanecem com um conhecimento mais pobre e não tanto, é preciso dar sentido às normas para que
conseguem se desenvolver e se adaptar. É claro que é o colaborador as entenda e as aplique de forma
preciso competir, mas o princípio da sobrevivência e do consciente. Só assim será capaz de identificar riscos
aprendizado é a cooperação”, afirmou. e buscar soluções. “O que determina a perenidade
O publicitário argumentou, ainda, que não cabe mais de uma empresa é a sua capacidade de gerenciar
às empresas e à sociedade discutir sobre escolhas significados, e não normas. Esse é um desafio que se
éticas, pois vivemos no limiar da sobrevivência do inicia no nosso modelo mental”, finalizou.

78
ARTIGO

vítimas ou
campeões DA
incerteza ?
por Ricardo Guimarães

A incerteza quanto ao futuro talvez Segundo os meus registros, foi em 2008 que o mundo
reconheceu oficialmente sua ignorância quanto às
seja a única unanimidade entre os novas dinâmicas da sociedade, quando o G20 se reuniu
diversos analistas de cenário, de em Washington para fazer um diagnóstico da crise e
esquerda e direita, do mais otimista concluiu que era – “Mau dimensionamento dos riscos”.
ao mais pessimista. Esta certeza da Para mim, mau dimensionamento de riscos significa
que estamos mal informados sobre a realidade na
incerteza nos diz que perdemos a
qual atuamos. Ou não sabemos como o sistema
intimidade com as atuais dinâmicas funciona ou, embora conhecedores do sistema, não
da sociedade e do mercado e, sabemos a quantas ele anda. Parece que o G20 se
consequentemente, perdemos referia a ambos os casos.
Este diagnóstico só confirmou a resposta que Alain
também o controle das suas variáveis.
Greenspan deu semanas antes para o jornalista
Isto é, o mundo está funcionando de que cobrou do todo poderoso e bem informado
um jeito que não conhecemos. presidente do Federal Reserve Bank:
— “Por que o senhor não fez nada?” ao que o
humildemente exasperado Greenspan respondeu:
— “Como eu podia fazer alguma coisa?! Eu não tinha
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

ideia do que estava acontecendo!”


Confesso que fiquei aliviado quando li a resposta do
Greenspan e mais satisfeito ainda quando conheci
o diagnóstico do G20, porque, como dizia meu avô,
“reconhecer a ignorância é o primeiro passo para a
sabedoria”. Sim, um novo mundo estava emergindo
e era desconhecido da gestão que fez sucesso no
previsível século 20.

80
O maior desafio para fazer a passagem
do estágio da empresa-máquina para a
empresa-sistema vivo não está na organização,
mas na cabeça de quem vive a organização.

A incerteza veio para ficar


Para quem acompanha e festeja a evolução da Sociedade Industrial para Daí a oportuníssima recomendação
a Sociedade do Conhecimento, o diagnóstico do G20 não foi novidade. da FNQ para se tratar a empresa
Porque uma das alterações que a tecnologia de informação e comunicação como “sistema vivo integrante
faz com sua velocíssima e cada vez mais acessível conectividade, é evidenciar de ecossistemas complexos
a sensibilidade biológica do tecido social, fazendo com que suas dinâmicas com os quais interage e dos
sejam muito mais semelhantes às dos sistemas vivos e menos parecidas com quais depende”. Porque essas
o lento, mecânico e controlável mundo antes do celular e da internet. Saímos serão as empresas campeãs da
da estável sociedade vertical piramidal para entrar na “caótica” e horizontal incerteza, pois saberão utilizar
sociedade em rede, rica em emergências. a interação permanente com o
A melhor compreensão deste processo nos diz que a incerteza não é fruto seu ecossistema para aprender
apenas de uma momentânea perda de controle, mas uma característica e influenciar, tirando partido de
da nova sociedade que está se instalando. sua ágil adaptação ao ambiente
O filósofo e economista Eduardo Giannetti da Fonseca explicou a crise imprevisto.
não como consequência de um fato novo, mas como o simples “aumento Vítimas serão as empresas-
da interdependência e complexidade já existentes”. máquinas que se gerenciam como
Com seu brilho didático de sempre, em poucas palavras, Giannetti sistemas fechados, hierárquicos e
nos passou a lição de casa. Ou aprendemos a lidar com as crescentes fragmentados, apoiados no maior
interdependência e a complexidade que são características dos sistemas controle e comando sobre as
vivos ou não sobreviveremos. variáveis para fazer sua escolhas
estratégicas e gestão. Essas não
Acho prudente colocar o desafio nos termos de evolução darwiniana
terão time to market na velocidade
porque não precisamos da adaptabilidade apenas para passar pela crise,
necessária para evoluir e serão
mas como competência definitiva para fazer da incerteza dos novos tempos
extintas pelo ambiente.
um fator de sucesso e não uma ameaça.

81
ARTIGO

Mais ciência, por favor


O maior desafio para fazer a passagem do estágio os princípios da biologia que regem a organização
da empresa-máquina para a empresa-sistema vivo e o funcionamento dos surpreendentes, plásticos e
não está na organização, mas na cabeça de quem criativos sistemas vivos.
vive a organização. Os sistemas vivos pedem mais ciência na sua gestão
Porque a empresa-máquina, por sua lentidão e sob o risco de desequilíbrios graves e doenças fatais.
simplicidade, dá muito espaço para o jogo político e Com menos espaço para política e egos, os sistemas
para a manipulação, favorecendo gestão e pessoas vivos pedem mais ciência e pragmatismo na sua gestão,
que nem sempre primam pela eficiência de sua como na natureza. Um pragmatismo científico, eu diria.
operação e satisfação de seus relacionamentos. Quem Por exemplo, a eficiência das soluções da natureza
está no poder dessas organizações sabe lidar com é total, não existe lixo nem desperdício porque a
esses aspectos do mundo corporativo do século 20 e, integração dos elementos e dos sistemas é absoluta.
de certa forma, se sente seguro e confortável com eles. Outro exemplo, muitos dos valores morais e crenças
Por isso se sentem muito ameaçados com o advento que eram tidos como opção do ser e do conviver
da empresa-sistema vivo revelando dificuldade para civilizado, na natureza é imperativo de sobrevivência.
compreender o novo fenômeno e habilidade para Como aprendemos na recente descoberta que foi a
sabotar sua instalação. cooperação entre tribos e indivíduos de tribos que
A empresa que evolui para funcionar como um garantiu melhor condição de aprendizado sobre
sistema vivo vai desenvolver uma complexidade e uma mudanças no ambiente, permitindo a adaptação e
velocidade que lhe deem a necessária adaptabilidade evolução da espécie. O que não aconteceu com as tribos
andré conti

ao imprevisto e incerto. Reverá o design de sua onde a competição, mais do que a cooperação, definia o
estrutura, de seus contratos, suas interfaces e tom das relações. O que determinava o comportamento
relações internas e externas. Funcionará segundo mais cooperativo das tribos que sobreviveram era a
presença significativa de ocitocina no seu organismo,
um hormônio que predispõe o indivíduo a colaborar e
criar vínculos. (para saber mais veja livros recentes sobre
neurociência. Um bom ponto de partida é The Science of
Good and Evil, de Michael Shermer.)
Ironicamente, a ciência e a tecnologia, que um dia
foram vistas como desumanizadoras da sociedade, vêm
mostrar que as leis da selva são mais civilizadoras do que
nossa arrogante ignorância do século 20 imaginava.
A incerteza não vem para nos fazer vítimas. Vem para
subir o sarrafo da competência dos humanos para
tornar suas empresas mais sistemas vivos e menos
EXCELÊNCIA EM GESTÃO

máquinas e nos fazer mais humanos e menos peças


de engrenagem.
Pode crer. A incerteza veio para nos melhorar e
valorizar o humano. Quem viver verá.

Ricardo Guimarães é
presidente da Thymus
Branding e conselheiro
da FNQ

82
Excelência
da gestão:
estratégia para
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desafios globais

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