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geração
educação
preparar agora os talentos
que conduzirão o Brasil no
século 21
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EXCELÊNCIA EM GESTÃO
3
expediente
Excelência em Gestão
Publicação anual da Fundação
Nacional da Qualidade (FNQ)
Ano IV - Número 5
Outubro de 2012
ISSN 2179-7919
Coordenação Geral
Jairo Martins
Superintendente geral
Coordenação Editorial
Caterine Berganton
Produção
NUVEM DE TAGS DESTA EDIÇÃO Folie Comunicação
A nuvem de tags ou tag cloud identifica as palavras mais
citadas nas matérias desta edição. Para defini-la, utilizamos a Editora
ferramenta Wordle (www.wordle.net). A quantidade de vezes Marisa Meliani - MTb 20435
que a palavra aparece é apresentada proporcionalmente ao
tamanho da fonte. Reportagem e redação
Ana Paula Ramos, Frideriki Karathanos,
Marisa Meliani e Tarcísio Alves
Ilustrações iStockPhoto
Chuwy | 8, 10, 15, 17, 20, 56,
Nancy Edmonds | 12, 18, 24, 39, 62, 68
patrocínio
Alexvande Hoef | 22
Enjoynz | 74
Impressão
Ajudamos organizações a se tornar classe mundial Margraf
Tiragem: 7 mil exemplares
volvo
www.volvo.com.br
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ÍNDICE
09 Editorial
Transformação pela
educação
Análise
11 A excelência da
educação
22 Em perspectiva
O uso da tecnologia na
educação
Entrevista
28
Richard Gerver e a
sala de aula do futuro
30 Seminário
20º SEBE - Transformar
pela Educação: o impacto
na competitividade das
organizações
60 Fórum
9º Fórum Empresarial
da FNQ - Evolução da
Gestão: perspectivas e
tendências
Entrevista
72
Humberto Mariotti
fala sobre a gestão da
complexidade
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
80 Artigo
Ricardo Guimarães -
Vítimas ou campeões
da incerteza
6
compumax
Boa leitura!
Jairo Martins
Superintendente Geral da FNQ
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EXCELÊNCIA EM GESTÃO
10
ANÁLISE
a excelência
da educação
Uma educação de qualidade é a
principal estratégia para garantir
o desenvolvimento de qualquer
país. Todos sabem disso. Então, por
As soluções para a melhoria da educação no Brasil
que o Brasil caminha a passos não são simples, especialmente porque acabamos
lentos para decolar no setor e de sair de patamares de subdesenvolvimento
ganhar competitividade entre as socioeconômico.
nações emergentes? Somos, atualmente, o 6º maior PIB do mundo, mas
também o 84º IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) no ranking global. Bastam esses números para
demonstrar que a distribuição desigual de renda é um
dos principais entraves ao avanço dos indicadores da
educação no Brasil.
É bom que se diga: não estamos parados. Os números
da área mostram uma evolução contínua, mas em
passos lentos e distantes dos objetivos de uma nação
que pretende ser protagonista no cenário mundial.
No Brasil, a diversidade de contextos e sua dimensão
continental fazem coexistir verdadeiras ilhas de
excelência educacional ao lado de escolas com
infraestrutura totalmente precária, baixa remuneração
e qualificação deficiente de professores, evasão escolar,
falta de vagas e - perplexidade maior - a existência de
bolsões de pobreza em que crianças vão à escola mais
para se alimentar do que para aprender.
Enquanto não resolvemos questões elementares como
essas, o mundo não para e já discute os impactos
que as tecnologias de informação e conectividade
produzirão nos métodos de ensino e até no futuro
formato da sala de aula.
11
ANÁLISE
ANÁLISE
É necessário criar um
plano nacional contínuo e Os números da educação no Brasil são massivos.
13
ANÁLISE
ALFABETIZAÇÃO x DESIGUALDADE
Segundo o Indicador de Analfabetismo Funcional não-governamental AlfaSol. Até 2010, esse programa
(INAF) de 2012, 27% da população brasileira acima de atendeu 5,5 milhões de alunos em 2.205 municípios
15 anos não consegue ler e compreender um texto brasileiros, além de capacitar 257 mil alfabetizadores,
simples. É um número grave, que afeta a qualidade por meio de parcerias com empresas e Instituições
da formação no ensino superior e o desenvolvimento de Ensino Superior (IES). Em 2003, o MEC lançou
dos jovens no mercado de trabalho. Não é incomum o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), voltado a
encontrar estudantes em universidades sem jovens, adultos e idosos e atendimento prioritário a
qualquer domínio de questões simples de gramática 1.928 municípios com taxa de analfabetismo igual
ou matemática. A PNAD 2011 (Pesquisa Nacional por ou superior a 25%. Um dos resultados do PBA foi
Amostra de Domicílio), do IBGE, confirma o índice divulgado na PNAD 2011: o Piauí conseguiu reduzir o
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
do INAF, mas mostra que a taxa de analfabetismo índice de analfabetismo de 30% em 2003, para 17,2%
total no País caiu de 9,6% em 2009, para 8,6% em 2011. Em outra medida, o MEC está lançando, em
em 2011. O analfabetismo tem predomínio nos 2012, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Estados do Norte e Nordeste – o que confirma a Certa, que busca alfabetizar efetivamente todas as
estreita ligação com a desigualdade social – e na crianças ao fim do 3º ano do ensino fundamental,
população acima de 50 anos. Seu combate vem de aos 8 anos de idade (meta do PNE, em tramitação no
longa data. Em 1996, a então primeira-dama Ruth Congresso). Até o momento, 5.182 municípios (93,2%
Cardoso criou o programa Alfabetização Solidária, do total) aderiram ao pacto e receberão material
que posteriormente se tranformou na organização didático e cursos de formação docente.
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FORÇA DA LEI
Algumas medidas no âmbito da legislação procuram alavancar os
indicadores da educação no País. Em 2009, por meio de emenda
constitucional, a matrícula dos 4 aos 17 anos de idade tornou-se
Tornar a obrigatória e as redes de ensino têm até 2016 para se adaptar à
escola mais nova regra. Poder público e pais que não cumprirem seus deveres,
respectivamente de ofertar a vaga e de matricular a criança, podem
atrativa e ser responsabilizados civil e penalmente.
alinhada à Em outra iniciativa, em agosto de 2012, a presidente Dilma
Rousseff sancionou o projeto de lei que reserva 50% das vagas nas
realidade dos universidades federais a alunos da rede pública. Dessa porcentagem,
jovens é um metade será destinada a estudantes cuja renda familiar é igual ou
inferior a 1,5 salário mínimo por pessoa. Também serão aplicados
dos desafios critérios raciais e a seleção deverá ser feita com base no Exame
ensino superior
A situação do ensino superior é particularmente percentual do PIB gasto com o setor: saltou de 3,5%
agravada, pois afeta diretamente a produtividade e a para 5,5%, entre 2000 e 2009. No entanto, desse total,
competitividade das empresas e do País. De acordo o País investiu em média 0,8% na etapa do ensino
com o MEC, o Brasil tem 17% dos jovens de 18 a 24 superior – o que o coloca em quarto lugar entre os
anos matriculados nas universidades ou já com cursos piores. O investimento brasileiro em universidades
concluídos. Entre 2000 e 2010, o número de matrículas também caiu 2% e não acompanhou o crescimento de
passou de 2,7 milhões para 6,4 milhões, segundo o 67% do número de alunos. Nos resultados em pesquisa
MEC, em razão de programas de bolsas de estudo e e desenvolvimento, o Brasil é o pior de uma lista de 36
financiamento, como o ProUni, Fies e Reuni. países, com 0,4% do PIB investido. A conclusão é que,
Os investimentos públicos na educação, de fato, nessa etapa da educação, estamos longe de reduzir
aumentaram. No ranking geral do relatório da OCDE, o déficit e, principalmente, de mitigar a questão mais
o Brasil ocupa a segunda posição no crescimento do importante: a falta de qualidade no ensino.
15
ANÁLISE
O empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente partes importantes na formação e desempenho dos
do Conselho de Administração da Gerdau e presidente estudantes”, lembra o professor.
da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho Bertolin salienta que a própria ideia de qualidade varia
e Competitividade do Governo Federal, defende de grupo para grupo. “Avaliar e julgar no campo da
um sistema educacional que prepare profissionais educação é uma das tarefas mais complexas no âmbito
e cidadãos com condições de competir no mundo das políticas públicas. Requer responsabilização,
globalizado. Sugere, igualmente, uma grande respeito à diferença, visão pluralista, responsabilidade
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novo PnE em debate no congresso
No final de 2010, o governo federal enviou ao Congresso
Nacional o novo Plano Nacional de Educação (PNE),
para vigorar de 2011 a 2020, com 10 diretrizes objetivas
e 20 metas em todos os níveis, modalidades e etapas
educacionais. Ainda em tramitação no Congresso, o PNE
pretende envolver a sociedade no monitoramento das
ações e criar estratégias para a inclusão de minorias,
como alunos com deficiência, indígenas, quilombolas,
estudantes do campo e alunos em regime de liberdade
assistida. Confira as principais metas do PNE:
Universalização e ampliação do acesso e atendimento
em todos os níveis educacionais
Incentivo à formação inicial e continuada de
professores e profissionais da educação em geral
Avaliação e acompanhamento periódico e
individualizado de todos os envolvidos na educação
do País – estudantes, professores, profissionais,
gestores e demais profissionais
Estímulo e expansão do estágio
Universalização do ensino de 4 a 17 anos, prevista na
Emenda Constitucional nº 59 de 2009
Expansão da oferta de matrículas gratuitas em
entidades particulares de ensino e do financiamento
estudantil
Aumento da taxa de alfabetização e da escolaridade
média da população
Elaboração de currículos básicos e avançados
em todos os níveis de ensino e diversificação de
conteúdos curriculares
social e comprometimento coletivo”, pondera. Investimento na expansão e na reestruturação das
Com relação à educação superior, o professor redes físicas e em equipamentos educacionais –
acredita que o País ainda precisa criar um sistema de transporte, livros, laboratórios de informática, redes de
indicadores com aspectos de contexto, de entradas, internet de alta velocidade e novas tecnologias
de processo, de saídas e de resultados. Ele explica que
Ampliação progressiva do investimento público em
os indicadores de qualidade, divulgados atualmente
educação até atingir o mínimo de 10%* do Produto
pelo MEC, não estão estruturados como parte de um
Interno Bruto (PIB) do País, com revisão desse
conjunto maior de aspectos que permita uma análise
percentual em 2015
ampla e mais detalhada do desenvolvimento do
sistema da educação superior como um todo. * Este percentual é alvo de controvérsias entre o Congresso e o governo
federal, que estipulara 7% no projeto original
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SAIBA MAIS
18
as siglas da educação no brasil
Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) reincidentes do seguro desemprego. Prevê linhas de crédito
- desde 2004, substituiu o Exame Nacional de Cursos, do BNDES, para o setor empresarial oferecer cursos de
antigo Provão. Avalia o rendimento dos alunos dos cursos formação técnica a seus trabalhadores através do Sistema S.
de graduação, em relação aos conteúdos programáticos. ProUni (Programa Universidade para Todos) - criado em
É obrigatório para os alunos selecionados e condição 2004, tem como finalidade a concessão de bolsas de estudos
indispensável para a emissão do histórico escolar. A integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação e de
periodicidade máxima de avaliação de cada área do cursos sequenciais de formação específica, em instituições
conhecimento é trienal. privadas de educação superior. As instituições que aderem
ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) - criado em ao programa recebem isenção de tributos.
1998, avalia o desempenho do estudante no final do ensino Prova Brasil - avalia as competências construídas e
médio. A partir de 2009, passou a ser utilizado também habilidades desenvolvidas nos dois níveis do ensino
como mecanismo de seleção para o ingresso no ensino fundamental, considerando a diversidade e especificidade
superior. Em respeito à autonomia das universidades, das escolas brasileiras. Possibilita detectar dificuldades
os resultados podem servir como fase única de seleção de aprendizagem e adotar medidas de melhoria. Seus
ou combinados com seus próprios processos seletivos. resultados compõem uma das bases do Ideb.
Também é utilizado para o acesso a programas do governo
Provinha Brasil - desde 2011, avalia o nível de alfabetização
federal, a exemplo do ProUni.
das crianças matriculadas no 2º ano das escolas públicas
Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) - brasileiras, a fim de oferecer às redes de ensino um
criado em 2007, é um dos eixos do PDE. Mede a qualidade da diagnóstico da qualidade da alfabetização e colaborar
escola e da rede de ensino a cada dois anos. É calculado com para a melhoria da qualidade de ensino com redução das
base no desempenho do estudante e em taxas de aprovação. desigualdades educacionais.
Para que o Ideb de uma escola ou rede cresça é preciso que
Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula.
Expansão das Universidades Federais) - busca ampliar o
Pais e responsáveis podem acompanhar o desempenho
acesso e a permanência na educação superior, com meta de
da escola de seus filhos, verificando o Ideb da instituição,
dobrar o número de alunos nos cursos de graduação em dez
apresentado numa escala de zero a dez.
anos, a partir de 2008. Todas as universidades federais aderiram
LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) - define e ao programa e apresentaram ao MEC planos de reestruturação.
regulariza o sistema de educação brasileiro com base nos As ações preveem, além do aumento de vagas, medidas como
princípios da Constituição, desde 1934. A primeira LDB foi a ampliação ou abertura de cursos noturnos, o aumento do
criada em 1961, seguida por nova versão em 1971 e da mais número de alunos por professor, a redução do custo por aluno,
recente, em 1996. Baseada no princípio do direito universal a flexibilização de currículos e o combate à evasão.
à educação para todos, a LDB de 1996 incluiu a educação
Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação
infantil (creches e pré-escolas) como a primeira etapa da
Superior) - analisa as instituições, os cursos e o desempenho
educação básica.
dos estudantes, levando em consideração aspectos como
Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico ensino, pesquisa, extensão, responsabilidade social, gestão
e Emprego) - procura expandir a oferta de cursos técnicos e da instituição e corpo docente. O Sinaes reúne informações
profissionais de nível médio, e de cursos de formação inicial do Enade e das avaliações institucionais dos cursos. As
e continuada para trabalhadores. Visa formar mão de obra informações são utilizadas para embasar políticas públicas
qualificada por meio de capacitação técnica e profissional e como referência para estudantes sobre as condições de
de alunos do ensino médio, beneficiários do Bolsa Família e cursos e instituições.
19
ANÁLISE
ANÁLISE
20
No Brasil, a matrícula nos cursos técnicos representa
menos de 10% do total de alunos do ensino médio
regular. Em grande parte dos países da Europa,
atualmente, essa taxa é de 30%.
Profissional, Científica e Tecnológica e no Sistema uma educação humanística. “A educação no Brasil e
S (Senai, Senat, Senar, Senac). No lançamento do no mundo inteiro transformou-se em um negócio,
programa, em 2012, a presidente Dilma Rousseff disse uma commodity e as disciplinas humanistas estão em
que a proposta do governo é vincular parte dos mais segundo plano. Hoje não se educa o indivíduo para a
de 11 milhões de beneficiários do Bolsa Família aos cidadania e sim para competir no mercado”, afirma.
cursos de capacitação por meio do Pronatec. O professor Julio Bertolin vai na mesma direção e
Outro programa federal, o Brasil Profissionalizado, entende que o desenvolvimento da educação não
criado em 2007, já repassou mais de R$ 1,5 bilhão em deve ter como objetivo principal formar “capital
recursos federais para que os Estados invistam em suas humano” para o crescimento da economia. “Esse é
escolas técnicas. apenas um entre tantos outros objetivos. Educar para
educação técnica X educação humanista a vida, desenvolvendo nos alunos a capacidade de
A tese de uma educação voltada ao crescimento aprender sozinhos e de viver em sociedade, bem
econômico do País, com especial foco nos cursos como formar cidadãos com consciência crítica, ética
técnicos e tecnológicos, não atende completamente e responsabilidade social, são mais importantes para
às expectativas de alguns especialistas. O professor o desenvolvimento socioeconômico e cultural de um
Humberto Mariotti, da Business School São Paulo, país do que formar apenas profissionais técnicos, sem
advoga a necessidade de uma educação técnica, visão de mundo e com leitura limitada da conjuntura
pragmática e quantitativa, mas complementada por social, política e ambiental”, defende.
Agência Brasil
Presidente Dilma
Rousseff quer
vincular o Pronatec
a uma parte dos
beneficiados pelo
Bolsa Família
21
EMPERSPECTIVA
O uso da
tecnologia na
Educação
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
22
A discussão sobre o uso
das plataformas digitais no
sistema educacional tem sido
frequente entre educadores,
governos, sociedade civil e setor
empresarial. A preocupação é
que o Brasil não aproveite as
oportunidades do mercado
global em razão de baixos
investimentos em novos talentos
e na gestão de inovação.
23
EMPERSPECTIVA
Novos paradigmas
Economista e pesquisador na área da Educação, o O armazenamento eletrônico das melhores aulas, de
professor Claudio Moura e Castro parte da convicção quem quer que seja, tende a ganhar popularidade,
de que existem maneiras eficazes e criativas de usar mas não destruirá o carisma e o magnetismo de
o computador e outras tecnologias digitais para um bom professor. “No bom ensino, a grande
promover o aprendizado. O problema é onde e quando. mudança é que esse formato (professor falando)
Ele lembra que praticamente todos os experimentos será apenas um segmento de aula. Ela terá muitos
de introduzir a informática nas escolas, em rede, outros componentes, como discussões com ou sem
falharam. Isso porque a sociologia da escola, sua professor, e apoios digitais de imagens.”
organização, seus hábitos e sua rigidez criam barreiras Moura e Castro questiona a ideia de que o professor,
insuperáveis. Quebrar essas barreiras é fundamental. em tempos de alta conectividade, seja apenas um
Mas, de que modo? indutor e não mais o detentor do conhecimento.
Existe mundo afora uma série de teorias e proposições O que muda é a estratégia de ensinar. “O professor
de modelos pedagógicos que vêm sendo testados. pode, de fato, agir como indutor do conhecimento,
Mas, por enquanto, são apenas tendências, observa mas é justamente o saber mais que lhe dá condições
o professor. É possível que os teóricos cheguem a de provocar o aluno com perguntas e, dessa forma,
um modelo ideal, ou que cada país ou região crie o conduzir o seu raciocínio”, diz.
próprio modelo, mais adequado à sua realidade. Nesse Dito isso, ele observa que o chamado desinteresse
momento, marcado pela transição, as tentativas, em dos alunos não é, como alguns apontam, pela aula
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
sua maioria, não têm surtido o resultado esperado, convencional, “mas pelo que o educador Alfred
especialmente quando se pensa no processo North Whitehead chama de conhecimento morto.”
educacional como um todo. Se o assunto é fascinante, não é necessário recorrer à
Para Moura e Castro, não cabe atualmente a máquina para torná-lo mais interessante. “A vida está
proposição de um único desenho de sala de aula, e nas ideias, no uso da inteligência para entender o
sim fórmulas cada vez mais variadas de levar o aluno mundo. Mas, sem dúvida, um bom conteúdo ganha
ao aprendizado. A prática de ter um professor falando mais vida com os recursos oferecidos pelas novas
aos alunos não vai desaparecer, mas a escravidão de tecnologias”, conclui.
repetir a mesma aula, por anos a fio, sim.
24
O poder da curiosidade
É consenso entre os educadores que a chave do conhecimento
está na curiosidade. Um professor, diante de uma lousa ou de um
microcomputador, que sabe como despertar o interesse do aluno, permite
que ele avance em suas pesquisas de forma mais prazerosa e produtiva.
Esse combustível (a curiosidade) foi o mote do experimento Hole in
the wall (buraco no muro), difundido na mídia brasileira por ocasião da
vinda ao Brasil do indiano Sugata Mitra, docente da Universidade de
Newcastle, Inglaterra, e professor visitante do Massachusetts Institute of
Technology (MIT), dos Estados Unidos.
Mitra esteve na 5ª edição da Campus Party para falar de seu experimento,
realizado inicialmente com crianças que vivem nas favelas da Índia, e
reafirmou que a curiosidade continua sendo a mola propulsora do saber.
Ele também sinalizou a necessidade de o professor converter matérias e
assuntos, muitas vezes “maçantes”, em questões interessantes. E deixou
claro que o seu método é eficaz se aplicado a crianças de até 12 anos,
pois até essa idade a curiosidade é inata e elas não têm medo de errar,
lançando-se mais facilmente na busca por respostas e na formulação de
hipóteses, ainda que erradas ou incompletas.
buraco na parede
O projeto Hole in the Wall foi realizado inicialmente em comunidades pobres, existem dois problemas
com crianças das favelas de Nova Déli, na Índia. Sugata a serem resolvidos pelos governantes, no que diz
Mitra e sua equipe de pesquisadores instalaram um respeito à tecnologia na educação.
computador em um muro de uma via pública, que dava O primeiro, que atinge países com grandes
para a parte interna de uma favela. Por meio de câmeras desigualdades como é o caso do Brasil, é a falta do
escondidas, acompanharam a reação das crianças. acesso pleno à educação e aos computadores. E o
Movidas pela curiosidade e sem conhecimento segundo, em países que dispõem desse acesso, é a
anterior, elas passaram a manipular a máquina e ainda abordagem, pelos professores, de temas e conceitos
ensinaram os amigos a utilizá-la. Demonstraram que distantes da realidade.
o computador não representa, para as crianças, um Mitra defende a ideia de que um único computador
“bicho de sete cabeças” e que, além de aprender em sala de aula é capaz de desenvolver o
com a ferramenta, elas são capazes de compartilhar conhecimento, o que significa que não é necessário
intuitivamente o conhecimento com seus pares. fazer grandes investimentos por escolas. Basta
Para Mitra, que há cinco anos corre o mundo oferecer alguns equipamentos para estimular a
disseminando seu experimento e testando a curiosidade das crianças e repensar uma nova
curiosidade e a capacidade das crianças que vivem dinâmica para a sala de aula.
25
EMPERSPECTIVA
MEC distribui tablets com vídeoaulas
O MEC está disponibilizando tablets para o ensino público
uma de suas ações para inserir material didático-pedagóg
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no cotidia
escolar. Inicialmente, os tablets serão distribuídos para pro
de escolas de ensino médio localizadas em zona urbana, c
acesso a internet de banda larga e rede sem fio (wi-fi). Tod
os equipamentos serão programados com vídeoaulas da
Metodologia Khan, traduzidas para o português, nas áreas
física, matemática, biologia e química. Em 2012, foram adq
409.793 tablets, que serão repassados aos Estados.
tecnologias ainda são grandes, cabendo ao aluno o Há controvérsias sobre o uso de imagens sem
papel de buscar as informações e introduzir o tema. autorização. Mas não é exatamente essa a grande
Esse novo paradigma tem provocado mudanças discussão que o mundo inteiro faz em relação à
no discurso dos estudantes. Além de clamar por informação que circula na internet? Sinal de que
infraestrutura adequada nas escolas, eles também Isadora está alinhada aos novos tempos.
passaram a exigir qualidade de ensino, via redes
26
s
o, como MEC distribui vídeoaulas
gico das
O MEC está disponibilizando tablets para o ensino
ano
público, como uma de suas ações para inserir material
ofessores
didático tecnológico no cotidiano escolar. Inicialmente,
com
serão distribuídos para professores de escolas de
dos
ensino médio em zona urbana, com acesso a internet
de banda larga e rede sem fio. Todos os tablets terão
s de
vídeoaulas da Metodologia Khan, traduzidas para o
quiridos
português, nas áreas de física, matemática, biologia e
química. Em 2012, foram adquiridos 409.793 tablets,
que serão repassados aos Estados.
27
ENTREVISTA
Excelência em Gestão: Hoje, a educação não orgânico, no qual a tecnologia digital possa
se resume ao sistema formal, e isso inclui desempenhar um papel estimulante nesse processo.
aprendizado através da tecnologia, como a Isso soa mais autêntico para as crianças! O problema
internet. As crianças estão aprendendo sem a é que, quando éramos crianças, nós olhávamos para
supervisão de professores e pais. Como trazer a os professores e pensávamos: “Eles sabem tudo!”
educação informal para o sistema oficial de ensino E, então, nós os respeitávamos. Hoje, as crianças
e contribuir para um ambiente de inovação? sabem que podem obter mais da internet do que
Richard Gerver: A primeira coisa é perceber de seus professores, e não os respeitam como antes.
que a educação digital deve ser vista como algo “Eu não sei tudo, mas vamos começar a aprender
preocupante. Ela precisa ser vista como algo juntos!” Isso é o que os professores têm de dizer. É
perigoso por professores e pais, não só porque os uma questão que envolve a transformação do poder
conteúdos são perigosos, mas também porque nós (dos professores) e da crença (dos alunos).
não entendemos como as crianças estão usando
EG: Então, na realidade, trata-se de um problema
essa tecnologia. Por isso, é preciso que ela esteja
cultural, para além de um problema educacional...
dentro da escola. As crianças usam a tecnologia
melhor que nós, adultos. Na educação tradicional, Gerver: Acredito que sim! Eu penso que muitas
os professores estão na classe para “saber tudo” e dessas coisas envolvem mudança cultural. O mundo
“ensinar as crianças”. A nova tecnologia significa, sempre mudou, mas não em uma escala tão extensa
quanto nos últimos 30 anos. Até antes disso, as
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
28
a interação entre as
crianças e a habilidade
de trabalhar com
pessoas de verdade, em
situações reais, não
devem ser perdidas com
o uso da tecnologia.
EG: Como deve ser a sala de aula do futuro? estatal inglesa. Foram ao Parlamento Inglês, em
Gerver: Em primeiro lugar, mais fluida. As crianças Londres, e os parlamentares deram aula de política
não precisam estar sentadas em fileiras, olhando para para elas. Nós usamos o mundo para ensinar nossas
o professor. Temos de criar oportunidades para elas crianças da forma que precisam ser educadas. A
colaborarem: algumas vezes, sem o professor, usando escola se transforma em um centro, onde as crianças
a tecnologia; outras, trabalhando com diferentes encontram os professores, mas com oportunidades
grupos de crianças, não necessariamente da mesma para aprender além desse centro, junto a pessoas
idade, da mesma classe e com as mesmas habilidades. de diferentes locais da sociedade. Onde vejam e
Então, a sala será plural, com crianças de idades aprendam de verdade, em vez de apenas “ver”
diferentes, trabalhando em momentos diferentes, de acontecimentos nos livros. Isso é autêntico!
formas diferentes. Às vezes, o professor vai ensinar;
EG: Qual é o papel dos BRICs neste novo cenário
em outras, as crianças vão trabalhar em grupos
educacional, como novos líderes mundiais?
colaborativos. Em cada classe, elas poderão usar seus
Gerver: É um papel muito importante, diante da
próprios equipamentos, porque os celulares têm
necessidade de sustentar o crescimento econômico
acesso à internet, câmera, gravador. Vamos incentivar
– e o Brasil teve um desenvolvimento enorme, que
os jovens a usar seus celulares em um ambiente de
atingiu o pico em 2010, quando foi bem-sucedido em
aprendizado hot spot (onde a tecnologia Wi-Fi está
usar recursos para fortalecer suas indústrias, como
disponível). Mas, para isso, a sala de aula não pode ser
fizeram a China, a Índia e a Rússia. Mas a próxima
um lugar estático – ela tem de ser mais fluida!
fase do desenvolvimento econômico vai requerer
EG: E as salas de aula precisam estar nas escolas, das indústrias que elas se superem no caminho da
necessariamente? inovação e da criatividade. É preciso passar de uma
Gerver: Podem estar em empreendimentos sociais, fase industrial para uma fase de inovação, dentro
religiosos, políticos. Quando eu era diretor de escola, do desenvolvimento econômico. E, para fazer essa
frequentemente levávamos as crianças para estudar transição, é preciso educar as crianças para que
fora da escola, com outros experts. Por exemplo, elas pensem de uma forma mais inovadora. Só assim o
foram à BBC (British Broadcasting Corporation) e viram Brasil e os demais BRICs darão continuidade à sua
como se toca um estúdio de TV, segundo a emissora expansão, ao seu crescimento.
29
SEMINÁRIO
rogério assis
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
30
Para continuar na
rota do
Crescimento
O desafio de se firmar entre as maiores economias do mundo a partir
de um modelo competitivo e eficiente, e a necessidade de atender às
demandas da sociedade passam pela criação de políticas públicas
que sustentem a oferta de uma educação de qualidade.
Essa percepção garantiu o consenso do 20º Seminário pela qual merece atenção por parte de empresários,
Internacional em Busca da Excelência, que abordou governantes e sociedade civil.
o tema Transformar pela Educação: o impacto na No decorrer dos debates, os palestrantes apresentaram
competitividade das organizações. Realizado nos dias alguns números que compõem o quadro do sistema
14 e 15 de agosto de 2012, pela Fundação Nacional educacional brasileiro, mostrando que ele avança
da Qualidade (FNQ), em São Paulo, o evento contou de forma constante nos indicadores, mas em ritmo
com as presenças do ex-presidente da República insuficiente para promover o ganho de produtividade,
Fernando Henrique Cardoso, do consultor para competitividade e eficiência que o País necessita para
Políticas Educacionais do governo britânico, Richard concorrer no mercado global.
Gerver, do presidente da Câmara de Políticas de No geral, concluiu-se que o momento é de investir
Gestão, Desempenho e Competitividade do Governo na qualidade do ensino. Na opinião da maioria
Federal, Jorge Gerdau Johannpeter, e do presidente dos participantes, é irrelevante elevar os recursos
da Fiat Brasil, Cledorvino Belini, entre outras lideranças destinados à educação, que hoje estão em 5,5% do
empresariais e representantes de instituições civis. PIB, sem uma reforma estrutural que garanta um nível
Ao dar início aos trabalhos, o presidente do de excelência na formação de professores, uma gestão
Conselho Curador da FNQ e presidente do Grupo eficaz das escolas, métodos eficientes de avaliação e a
CPFL Energia, Wilson Ferreira Junior, destacou a elaboração de um currículo que prepare o jovem para
responsabilidade da FNQ em compartilhar com a o enfrentamento de um mundo e de tecnologias em
sociedade o conhecimento adquirido e, por meio de constante transformação.
suas lideranças, exercer influência sobre as decisões e Alguns exemplos de boas práticas de gestão
programas governamentais. governamental foram lembrados e sugestões
Em seu ponto de vista, as empresas atuam como apresentadas, entre elas a criação de uma agência
orientadoras sociais importantes, tendo papel reguladora que fiscalize e puna escolas particulares que
crucial na disseminação de novas ideias e práticas. mercantilizam a educação em detrimento da qualidade.
Ferreira Junior lembrou que a questão educacional Em seguida, acompanhe um resumo das contribuições
apresenta-se como um dos limitadores de dos convidados ao debate.
desempenho e competitividade das empresas, razão
31
SEMINÁRIO
O primeiro painel de debates reuniu Jorge A possibilidade de levar a tecnologia para dentro das
Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de escolas é vista por ele como positiva para acelerar
Administração da Gerdau e presidente da Câmara de o processo de qualidade. Mas ainda não resolverá
Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade o problema da educação, que é extremamente
do Governo Federal, e Cledorvino Belini, presidente complexo e exige tempo para a geração de resultados.
da Fiat do Brasil. Ao finalizar, Gerdau, um dos primeiros empresários
Gerdau lembrou que, nas últimas décadas, o Brasil brasileiros a levantar a bandeira do movimento
acumulou conquistas políticas, sociais e econômicas, Todos pela Educação, foi enfático ao dizer que o País
saindo da condição de país subdesenvolvido para só conseguirá avançar se investir pesadamente em
o grupo dos emergentes. Para dar continuidade ao três temas: Educação, Logística e Reforma Tributária.
crescimento, disse ele, é necessário redesenhar o E deixou claro que não se trata apenas da oferta
sistema educacional e adequá-lo aos novos desafios e de uma educação técnica, mas de uma educação
mudanças no âmbito dos negócios. com significado, que contribua para a formação de
Uma de suas críticas está relacionada à visão de curto um cidadão pleno e capaz. “Contamos com bons
prazo estabelecida pelos governos. As seguidas exemplos de gestão em algumas regiões, como
crises pelas quais o Brasil passou fizeram os gestores MG, RJ, Porto Alegre e, especialmente, Pernambuco,
públicos perderem a competência de estabelecer que estendeu o conceito de gestão aos campos
estratégias em qualquer campo, adotando como regra da educação, saúde e segurança”, concluiu,
a prática de “apagar incêndios”. Segundo o empresário, acrescentando que 120 escolas pernambucanas já
a exceção é o setor de energia que, após o “apagão”, contam com o sistema de dois turnos completos.
aproximou governo e empresários para criar um plano
nacional consistente – o que explica, em parte, a
posição de algumas companhias de energia alçadas ao
nível de classe mundial.
No entender de Gerdau, qualquer que seja o tema,
deve estar atrelado ao conceito de sistema de gestão,
com atenção especial à governança, definição de
objetivos e estratégias, e realização de check up para
detectar resultados e fazer correções.
Ele defendeu a criação de um plano nacional que
direcione recursos e atenção à educação fundamental,
sem desconsiderar a importância dos ensinos médio e
superior. “As demandas das lideranças empresariais, do
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Cledorvino Belini
defendeu um plano
nacional de educação
Os países mais preparados no setor educacional são meados de 1970, a organização teve como missão
também aqueles que mais rapidamente conseguem converter trabalhadores rurais em operários industriais.
ter domínio sobre as novas tecnologias e imprimir Agora, com uma nova planta prevista para a
inovação e ganho de produtividade, em um curto região Nordeste, a Fiat do Brasil encaminhou 40
espaço de tempo. Com essa reflexão, Cledorvino estudantes de engenharia da Universidade Federal
Belini, presidente da Fiat do Brasil, iniciou sua de Pernambuco (UFPE) para concluírem seus estudos
participação no Seminário. em Turim, na Itália. “Os desafios apresentados são
Ele citou como exemplo a Coreia do Sul, que, por cada vez maiores e dispendiosos, grande parte em
30 anos, injetou recursos no sistema educacional decorrência da necessidade de o operário de fábrica
e contratou os melhores engenheiros, biólogos e ter de manusear equipamentos tecnológicos cada dia
profissionais das mais variadas áreas do País, para atuar mais complexos”, assinalou Belini.
como docentes no ensino médio, técnico e superior. Citando dados do World Economic Forum, que, em
A fim de garantir um nível mínimo de competitividade ranking de 142 países, coloca o Brasil na 124ª posição
no Brasil, observou Belini, as empresas nacionais no setor da educação, o executivo afirmou que é
precisam investir na formação e atualização de urgente a necessidade de empresários, governos e
sua mão de obra. “Caso contrário, estaremos fora representantes da sociedade civil sentarem-se à mesa
do mercado”, alertou. Esse princípio norteou os de negociações para criar um plano nacional de
investimentos da Fiat no Brasil. Ao ser transferida de educação, com o objetivo de zerar ou mitigar o déficit
São Paulo para Betim, na Grande Belo Horizonte, em que existe nas empresas por mão de obra qualificada.
33
SEMINÁRIO
parcerias inovadoras
podem melhorar a
educação
O ex-presidente Fernando Henrique lembrou de sua vivência como
professor e gestor. Sociólogo de formação, ele
da República lecionou no Brasil (na USP), no Chile, Argentina, México,
Fernando EUA, França e Inglaterra, o que lhe proporcionou
Henrique Cardoso experiência e interesse pelo setor da educação.
Atualmente, o ex-presidente lidera o Instituto FHC,
realizou uma das
uma organização destinada a debater as questões do
mais esperadas desenvolvimento e da democracia no Brasil, em sua
palestras do relação com o mundo.
20º Seminário Deixando clara a sua crença na educação como
Internacional estratégia para o desenvolvimento, Fernando Henrique
advertiu que as soluções de melhoria são complexas
da FNQ. Ele falou e de longo prazo. “Precisamos compatibilizar as
sobre a educação necessidades de crescimento e de melhores condições
e o papel da de vida com um sistema educacional relativamente
precário desde o passado remoto”, contextualizou.
liderança no
Em sua opinião, o momento não é de discutir
desenvolvimento questões quantitativas, parcialmente resolvidas na
do Brasil. educação básica. “Precisamos priorizar a qualidade
em todos os níveis educacionais”, enfatizou.
Nessa direção, propôs renovação nos currículos
escolares, maior envolvimento de pais, professores
e alunos, avaliação de resultados, gestão eficiente e
parcerias inovadoras entre setores público e privado
que contagiem a sociedade para a busca da excelência
na educação.
A seguir, uma síntese da participação de Fernando
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
34
Ex-presidente da República
Fernando Henrique Cardoso,
um entusiasta da causa da FNQ,
defendeu a gestão profissionalizada
no setor da educação
35
SEMINÁRIO
Getúlio Vargas, resolveu reconstruir lideranças por excelência, mas, na média, a qualidade é baixa. Com
meio de formações específicas e criou, além da isso, voltou a crescer o número de evasão no ensino
USP, algumas instituições livres, como a Escola de médio. Esse é um problema antigo, mas antes ocorria
Sociologia e Política. “O escopo de professores era pela falta de recursos das famílias. Hoje, acontece
tão limitado que, naquela época, as aulas na USP eram pela falta de interesse dos alunos. O que se ensina
dadas em francês. Esse modelo foi satisfatório até certo não é o que se espera aprender, havendo um total
ponto, mas acabou.” Após a Segunda Guerra Mundial, desencontro no currículo.”
36
Na liderança da nação
Quando chegou à presidência da República, Fernando
Não adianta formar pessoas Henrique encontrou uma quantidade de professores
37
SEMINÁRIO
38
As lideranças empresariais profissionais de excelência
Ao falar do “apagão da mão de obra” qualificada no
devem se perguntar Brasil, o ex-presidente lembrou da Petrobras, que está
formando seus próprios técnicos. “Mas nem todas as
como o setor privado empresas podem fazer isso. Num primeiro momento, a
pode ajudar para que solução está em importar mão de obra estrangeira – o
que não é negativo, pois promove uma renovação.
seus processos criativos Contudo, não podemos projetar o futuro assim. Há
e inovativos difundam-se de se fazer um esforço concentrado, planejado e
orientado aos nossos objetivos. Não existe medida
no setor público. milagrosa. Existe uma confluência de várias medidas e
uma continuidade de longo prazo”, afirmou.
O ensino técnico e tecnológico, prosseguiu FHC, tem
um papel importante para o desenvolvimento do País
e deve ser valorizado, mas sem condenar a massa de
estudantes a optar por essa formação, nem separá-la
do ensino no geral. “Hoje as escolas técnicas são as
que oferecem uma educação de melhor qualidade e
acabam formando profissionais melhor remunerados.
Então é natural que haja um deslocamento maior de
estudantes para essa área.”
E como contagiar os estudantes para a melhoria
da educação? Fernando Henrique foi crítico ao
corporativismo do movimento estudantil. “Em vez
de assumir as bandeiras da transformação, assumem
as da repetição do que deu errado. Foram contra o
Provão, são contra a avaliação. Por outro lado, a massa
dos estudantes hoje está desligada do movimento
estudantil. A vanguarda virá da união entre sociedade
civil, professores e gestores que tenham mais visão”,
finalizou o ex-presidente.
39
O economista Gustavo
Ioschpe avaliou o quadro da
educação brasileira como
crise emergencial
“Estamos aqui tentando falar de com uma taxa negativa de retorno ao investimento
das famílias. O cidadão gasta tempo e energia, não
desenvolvimento de habilidades aprende e abandona os estudos. O resultado é um
superiores, formação de senso crítico número muito pequeno de brasileiros que conseguem
e capacidade analítica, requeridas no chegar à universidade”, observou.
mercado de trabalho. Mas a educação Além de influenciar diretamente a vida das pessoas,
os problemas educacionais impactam negativamente
brasileira está muito longe de chegar
a economia e o desenvolvimento do País. No PISA
a esse patamar e, na verdade, estamos 2009, entre os 65 países analisados, o Brasil está em
com uma batalha que alguns países já 53º lugar no ranking de linguagem e ciências, e 57º
conseguiram resolver no século 19, que em matemática, atrás de México, Uruguai e Chile, e
também China e Rússia, nossos competidores diretos.
simplesmente é alfabetizar as crianças.”
avanço gradual e lento
O Brasil está melhorando, porém numa velocidade
Com essa mensagem contundente, Gustavo Ioschpe, lenta, observou o economista. “Só um em cada
economista especializado em Educação, iniciou a sua cinco jovens, de 18 a 24 anos, estão matriculados
palestra, apresentando indicadores nada animadores na universidade. Isso se compara, negativamente,
da educação no Brasil. “Pesquisas do INAF (Instituto com países como Coreia, Finlândia e Estados Unidos
de Analfabetismo Funcional) apontam que 27% que estão chegando perto da universalização do
da população adulta brasileira não é plenamente ensino superior. O Brasil, hoje, está comemorando a
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
alfabetizada. São os chamados analfabetos funcionais, universalização do acesso ao ensino fundamental, mas
incapazes de compreender um texto simples de em breve teremos de competir com uma força de
jornal. Segundo estudo da Unesco de 2005, cerca de trabalho que será quase 100% dotada de diploma de
24% de nossas crianças repetem a 1ª série do ensino ensino superior”, advertiu Ioschpe.
fundamental, “um nível africano”, disse o economista. Se esses dados são esperados diante dos países
Para ele, esses dados mostram a deficiência grave da desenvolvidos, o mesmo se repete no Chile, Venezuela
educação básica brasileira. “É uma bola de neve que e Peru, por exemplo, que têm o dobro de taxa de
começa na primeira série do ensino fundamental, matrícula no ensino superior em relação à nossa. “O
passa pela altíssima taxa de repetência e se conclui Brasil está na frente da Índia e da China, mas são países
40
27% dos brasileiros acima de 15 anos são considerados analfabetos
funcionais, incapazes de compreender um texto simples de jornal. Isso
mostra uma deficiência grave da educação básica no País.
com mais de 1 bilhão de habitantes, o que minimiza os uma educação de qualidade – e não prover soluções
resultados em números absolutos.” ou substituir o poder público. “Basicamente em todo o
Ioschpe ressaltou que o impacto da educação está mundo, educação é tarefa do Estado – diretamente ou
presente na baixa produtividade do trabalhador com subsídios. Não podemos substituí-lo, mas devemos
brasileiro. Segundo a OIT (Organização Internacional deixar claro que a educação precisa dar resultado.”
do Trabalho), dados de 2010 colocam o Brasil no 77º No nível micro, ele recomendou seguir a “literatura
lugar no ranking de produtividade mundial. O estudo clássica” do sistema escolar. Escola tem que ter
mostra ainda que é preciso 4,9 brasileiros para produzir biblioteca, livros para alfabetização, laboratórios
o mesmo que um norte-americano. No quesito e máquina de xerox. Também é preciso um
competitividade, estamos em 56º lugar no ranking do recrutamento seletivo do professor que traga pessoas
Global Competitiveness Index 2009, divulgado no World qualificadas para o sistema, em vez de concursos
Economic Fórum 2010 (WEF 2010). que medem o quanto se conhece da legislação e de
O resultado desse desempenho crítico, salientou teorias pedagógicas.
o economista, é que a diferença social continua Outros tópicos importantes, apresentados por Ioschpe,
aumentando. E as ações não têm sido contundentes foram a prestação de contas das escolas e universidades
como deveriam. Na área da tecnologia da informação, com transparência e redução da burocracia. Como
bastante crítica para o desenvolvimento, o Brasil caiu sugestão, ele citou o projeto Ideb na Escola, que divulga,
de 46º lugar, em 2004, para 61º, em 2010, segundo por meio de uma placa, a nota recebida pela instituição.
o WEF 2010, ficando atrás da Tunísia e de Porto A ação serve para que pais e comunidades saibam qual
Rico. E os índices de investimento em Pesquisa e é o resultado da escola pública onde a criança estuda.
Desenvolvimento (P&D) vêm caindo, em cenário de “Essa tomada de consciência é importante porque
baixa produtividade especialmente nas áreas de ponta. existe um descompasso brutal entre a percepção dos
pais em relação à qualidade da escola do filho e a
100% de crianças alfabetizadas realidade”, concluiu.
É um quadro de crise emergencial, alertou Ioschpe,
lembrando que não dominamos a tecnologia
educacional de sucesso. “É preciso ter engajamento
na área educacional e fazer uma reforma rápida e
significativa para atingir bons resultados. O primeiro
passo é entender os verdadeiros problemas. A questão
mais importante é a qualidade do ensino fundamental.
As crianças precisam ser 100% alfabetizadas no primeiro
ano e zerar o índice de repetência”, ressaltou.
Nesse sentido, ele apresentou algumas ideias objetivas
em dois níveis. No nível macro, propôs debater com
a sociedade, mostrar que a educação é importante
e que o Brasil não vai bem. Reforçar que a discussão
quantitativa está equivocada e que precisamos falar de A equipe do publicitário Nizan Guanaes criou,
voluntariamente, um modelo de placa com a nota do Ideb
qualificação de professor, prática salarial e formação de para ser exposta em cada escola do País. A ideia é que pais,
dirigentes. No seu entender, o empresariado deve usar professores, alunos e gestores acompanhem o desempenho
seu peso econômico e político para gerar pressão por da escola. Mais informações em www.idebnaescola.org.br
41
SEMINÁRIO
alunos por ano, em concorrido processo seletivo. “São de 4 mil candidatos, a Embraer escolhe 120 para serem
jovens carentes da região, vindos do ensino público bolsistas. Após essa etapa, eles recebem um curso com
e, alguns, sem perspectiva de desenvolvimento”, nível de mestrado, ministrado por professores do ITA
informou Pedro Ferraz, diretor superintendente (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), e, ao final, são
do Instituto Embraer, durante sua participação no convidados a ingressar na companhia.
Seminário da FNQ.
42
ibope organiza curso de pós
De origem nacional, o Ibope é o maior provedor de informações e dados Segundo o diretor, os três
da América Latina, empregando 3.500 colaboradores na região, dos quais programas procuram desenvolver
2 mil no Brasil. Segundo Ivan Corrêa, diretor-executivo do Ibope Educação, nos alunos a capacidade analítica,
a captação de profissionais para uma empresa de prestação de serviços de racionalidade e de ponderação
com mão de obra intensiva é grande e, desse contexto, surgiu a ideia de nas tomadas de decisão.
aproximar a empresa do tema da educação. Isso aconteceu, especialmente
instituto nextel
nos últimos dois anos, por meio de três iniciativas.
Américo Figueiredo, presidente
A primeira foi a criação do Instituto Paulo Montenegro, que atua em
do Instituto Nextel, apresentou o
parceria com outras ONGs na formação e capacitação de crianças e
trabalho que integra a agenda de
adolescentes para o ingresso no mercado de trabalho. Outro programa
responsabilidade social corporativa
surgiu de uma necessidade da área Unidade de Mídia, que mede o índice
da Nextel no Brasil. Em 2007, a
de audiência de veículos de comunicação. Ao longo do tempo, a empresa
empresa criou o Instituto Nextel
percebeu que os softwares e sistemas associados aos índices de audiência
para preparar jovens em situações
eram subutilizados. Para capacitar os usuários desses sistemas, foi
de risco social e inseri-los no
elaborado o programa Mídia Class, cujo certificado passou a ser referência
mercado formal de trabalho.
no currículo de estudantes de Comunicação.
Hoje são sete institutos no Brasil
A terceira vertente é o Ibope Educação, uma oportunidade de mercado
e previsão de mais quatro até o
que derivou de problemas de capacitação interna. Semelhante ao que
final de 2012. “A missão é apoiar
acontece na Embraer, o Ibope depende de profissionais especializados
jovens em situação de risco social,
e também de multiprofissionais, que tenham a capacidade de análise
para que recebam uma formação,
simples e apresentação dos conteúdos que processa. Para formar mão
não só de matemática, português
de obra também em benefício próprio, o Ibope organizou um curso de
ou técnicas de atendimento,
pós-graduação em Inteligência de Mercado, em parceria com a ESPM (Escola
mas sobretudo de cidadania,
Superior de Propaganda e Marketing). “Alguns alunos foram contratados
responsabilidade, direitos e
e outros dirigiram-se ao mercado, disseminando uma capacidade mais
autoestima”, salientou o presidente
elaborada de fazer uso de dados e informações”, afirma Corrêa.
da empresa.
43
SEMINÁRIO
Américo Figueiredo,
presidente do Instituto Nextel,
e Ana Cristina Maia, diretora
de Desenvolvimento de
Mercado da Coca-Cola Brasil
Em parceria com o Instituto Paula Souza e as ETECs com valores alinhados ao objetivo do negócio de
(Escolas de Tecnologia de São Paulo), o Instituto gerar mais receita e mais venda.
Nextel também oferece aos jovens formação para O Coletivo Coca-Cola começou em 2009, com modelo
conhecimento e manuseio em Smartphones, criado em conjunto com a comunidade. São salas
especialmente na tecnologia Android, uma mão de de aula locais, com cursos de dois meses para jovens
obra cada vez mais requisitada. entre 15 e 19 anos, que recebem aulas teóricas e
Outras oportunidades são os cursos de webdesign práticas, sem abdicar do lúdico. O Coletivo Varejo, por
e de atendimento em call centers. Ao final do curso, exemplo, forma jovens para o primeiro emprego em
os jovens passam por processo seletivo e podem ser supermercados e outros estabelecimentos comerciais.
contratados. “Temos uma taxa de empregabilidade e O Coletivo Empreendedorismo treina para a abertura
inserção no mercado de 71%, muito animadora. Mas o de novos negócios, com aulas voltadas às mulheres
melhor resultado é ver o brilho nos olhos dos alunos da comunidade. O Coletivo Reciclagem trabalha com
por um resgate da autoestima e de uma vida mais grupos já formados de artesãs, acrescentando aulas de
digna”, completou Figueiredo. design que tornam o produto mais vendável, inclusive
nas redes de comércio justo. O Coletivo de Logística
coletivo coca-cola está em fase inicial e há planos de um coletivo para a
A diretora de Desenvolvimento de Mercado da Copa do Mundo 2014, patrocinada pela empresa.
Coca-Cola Brasil, Ana Cristina Maia, expôs o projeto
“Nossos modelos pretendem conectar e gerar valor
Coletivo Coca-Cola, criado a partir de uma motivação
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
44
Formação de lideranças para o século 21
45
SEMINÁRIO
EDUCAÇÃO de Lideranças
46
As mudanças climáticas e ambientais e seus impactos na sociedade que precisam ser bem gerenciadas,
também já fazem parte da realidade e se expressam em valores e práticas, porque serão os futuros líderes e
como a atuação das empresas nas comunidades e o cuidado com o irão se relacionar com trabalhadores
meio ambiente. “Alguns dos desafios para as lideranças serão agir como tradicionais. Estão habituadas a
defensores das práticas sustentáveis, pensar de forma mais estratégica e lidar com tecnologia, informação
conceitual, e desenvolver a colaboração interempresarial”, assinalou. rápida e velocidade de resposta.
A contraposição entre individualismo e multiculturalismo, prosseguiu Deverão desenvolver aprendizado
Glaucy, estimulará a criação de grupos heterogêneos e auto-organizados, pela vida toda, realizar networking
além da redefinição do local de trabalho com estruturas planas, e saber liderar as relações remotas.
descentralizadas e em vários países, e uma alta taxa de movimentação Se dá para fazer tudo a distância,
de pessoal, com declínio da lealdade. “Essa megatendência deverá impor por que as pessoas precisam estar
aos líderes a redefinição de lealdade, com maior valorização do trabalho juntas, sendo que isso envolve
coletivo e busca de um senso de equipe.” custos?”, questionou a executiva,
relacionando essa tendência à
O estilo de vida digital lança foco nas novas gerações que já atuam nas
chamada convergência tecnológica,
organizações. Implica divisão indefinida entre vida pública e privada,
que centraliza a conectividade e a
transferência do poder para os “nativos digitais” (geração que nasceu e
informação em um único aparelho.
cresceu no mundo tecnológico), transparência e integridade. “São pessoas
benchmarking de liderança
Com base na opinião de executivos Ao mostrar o segundo estudo, a executiva adiantou que a única forma
de empresas do ranking das de obter sucesso frente a esses desafios é por meio da Inovação. Pesquisa
melhores no desenvolvimento de com 30 Best Companies for Leadership (BCFL), ou as melhores empresas na
líderes, Glaucy sinalizou as cinco formação de líderes, realizada pela Revista Exame (Março/2012) e Global
características principais dos líderes Approach Consulting (GAC), apontou que 76% delas pretendem investir
de amanhã: em Inovação em 2012, e 52% já se beneficiam de incentivos fiscais para
Raciocínio conceitual e pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação. As cinco ações
estratégico que vêm sendo adotadas pelas BCFL para apoiar a inovação e desenvolver
pessoas em seus ambientes são: aprimorar a agilidade de resposta; engajar
Ética: integridade, sinceridade,
e contextualizar; prover ferramentas; incentivar a colaboração; e celebrar os
abertura intelectual
sucessos e aprender com os erros.
Criação de lealdade -
É dessa forma que as BCFL conseguem fazer uma gestão efetiva de
significado para a sua
talentos e sucessores. “Os líderes, que são profissionais mais experientes,
identidade
reservam um tempo para desenvolver pessoas. Isso é fundamental, pois
Liderança de equipes
sabemos que temos um déficit na formação básica. Sem uma liderança
heterogêneas e diversificadas
para ensinar, o investimento é nulo. Junto a isso, a criação de uma
Trabalho em equipe real, com estrutura mais plana e menos burocrática, com pessoas sem medo de
poder compartilhado, dentro e arriscar e errar, facilitará a comunicação e criará espaços para inovar e
fora da organização pensar diferente”, finalizou a executiva.
47
SEMINÁRIO
Essa é a proposta do seriíssimo – mas ainda é – criar lugares irresistíveis, que preparem as
crianças para um futuro incerto”, esclareceu Gerver,
também divertido – especialista em que, hoje, roda o mundo fazendo palestras sobre
educação britânico Richard Gerver educação, e mais especificamente sobre como mudar
para mudar o sistema educacional e o sistema educacional, a exemplo de sua participação
no Seminário Internacional da FNQ.
fomentar a criatividade e a inovação,
Que fique claro, Gerver não tem uma resposta pronta
uma necessidade das empresas no
para a pergunta que fez à sua equipe, mas vem
século 21. obtendo pistas que apontam para um novo modelo
de educação, com “espírito de colaboração” dos
Na primeira reunião como conselheiro para política diversos setores da sociedade e foco no futuro. “Na
de educação do governo de Tony Blair (1997-2007), na Disney, os únicos que reclamam são os adultos. As
Grã Bretanha, Richard Gerver sentou-se diante de 120 crianças amam.”
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
profissionais da área. Era seu staff, ansioso em conhecer Ao deixar o sistema educacional, jovens adultos –
as diretrizes a serem adotadas dali por diante. Gerver sobrecarregados de conhecimento – tentam ingressar
permaneceu em silêncio por algum tempo e, quando no mercado de trabalho e, não raro, dão com a cara
o incômodo tornou-se insuportável, perguntou: “Como na porta. Não porque não aprenderam nada na
podemos transformar nossas escolas numa Disney?”, escola, e sim porque não atendem às demandas do
referindo-se ao maior parque de diversões do mundo. mercado atual, em constante mutação e cada vez mais
“As pessoas riram”, lembrou o inglês, completando sincronizado com a inovação. “Na Espanha, por exemplo,
que elas foram ao encontro esperando por princípios, a taxa de desemprego está em 25% da população, e isso
metas e resultados. “Mas a minha proposta era – e inclui pessoas com curso universitário”, disse.
48
o sonho da educação
Gerver não é apenas um estudioso do tema. Começou a Pai de dois adolescentes (sua filha tem 16 anos e o
dar aulas em 1992 e, em 1997, já era um dos professores filho, 11), ele vivencia dentro de casa a falta de sintonia
mais comentados na Inglaterra. Em 2005, foi laureado entre o velho modelo escolar e uma nova geração
com o prêmio de diretor escolar do ano, pela sua que não ambiciona seguir carreiras tradicionais, dentro
extraordinária capacidade de inovar, pois defende de um mercado de trabalho mutante. “Minha filha
um aprendizado vivo, que envolve experiências quer ser uma designer de moda e ele, um tenista.”
para os alunos dentro e fora da escola. Tendo sido Como se vê, a menção à Disney não foi uma piada
homenageado também pela Unesco, no ano seguinte, para descontrair o ambiente. No entender de Richard
foi dar palestras em Xangai, polo educacional chinês, a Gerver, os sonhos são fundamentais na construção de
convite do governo local. Escreve artigos para a mídia um modelo educacional revolucionário e, ao mesmo
inglesa, lançou um livro intitulado “Criando as Escolas tempo, eficiente, que possa suprir as necessidades das
do Amanhã Hoje” (2009, não lançado no Brasil) e, organizações no século 21. “A gente tem de parar de
atualmente, é também consultor empresarial, atendendo pensar que as pessoas vão para as empresas apenas
a companhias como Google, em temas relacionados ao para fazer o trabalho delas.”
desenvolvimento humano, transformação organizacional
e cultural, liderança, criatividade e inovação – estas duas
últimas são suas grandes bandeiras.
50
A excelência DA
gestão está EM foco
Na sua empresa?
fnq
acompanhamento da FNQ
querem comparar a aderência ao MEG com
organizações Classe Mundial
apoiam a melhoria da gestão de fornecedores
e/ou associados, podendo contratar o produto
folie comunicação
52
Infelizmente, ainda são poucas as organizações que oportunidade de fazer diferente. “E de se surpreender
percebem que a figura do líder não pode ser mais com os resultados que eles são capazes de gerar e as
construída a partir de ações autoritárias, calcadas na melhorias que conseguem implantar. Além de ser uma
hierarquia verticalizada. “Venho de uma companhia forma de checar o caráter do profissional”, enfatizou.
onde tive a felicidade de contar com líderes que Naturalmente, por trás da possibilidade de
souberam direcionar, reconhecer e manter a equipe experimentar novas formas de atuar e empreender
motivada”, observou Coelho, ao informar que a sua está todo o conhecimento adquirido pelos
formação foi forjada no dia a dia da empresa, a partir profissionais desde a infância. Hoje se sabe que a
do exemplo dos líderes, com um modelo que agora formação educacional é algo que não se esgota com
tenta implementar na Prefeitura do Rio de Janeiro. a conquista do diploma. O aprendizado deve ser
Outro aspecto destacado pelos participantes diz constantemente estimulado e aprimorado ao longo
respeito ao erro. A punição é um dos maiores equívocos da vida. Ele se dá de diferentes formas e em diversos
cometidos pelas empresas, na opinião de Butterfield. ambientes, que não o espaço escolar ou corporativo.
Ele sinaliza que nos EUA, por exemplo, a maioria das Ao apoiar o jovem em seu processo de aprendizagem
pessoas que recebem apoio para empreender, dentro e desenvolvimento, a partir da oferta de bolsas de
ou fora da organização, são aquelas que já fracassaram estudos de graduação e pós-graduação nas melhores
em ocasiões anteriores. Isso porque o apoiador acredita instituições de ensino superior do País e do exterior,
que o erro honesto, aquele que você comete não por a Fundação Estudar tem contribuído para a formação
negligência, mas tentando acertar, é uma importante desses novos líderes, que têm características e
fonte de aprendizado. “Aqui, se você erra uma única vez expectativas bem diferentes das gerações anteriores,
é considerado um fracassado”, observou. mas que podem alavancar o crescimento das
Ao dosar autonomia e responsabilidade, disse organizações. Cabe a elas criar o espaço para que eles
Thaís Junqueira, damos ao jovem profissional a possam se aprimorar e inspirar as suas equipes.
53
SEMINÁRIO
54
Além de estabelecer uma conexão direta entre a empreendedores. De modo geral, os que possuem
academia e o mercado, o espaço conta com um melhor nível de escolaridade conseguem identificar
programa de capacitação complementar que auxilia oportunidades reais de negócios e contam com
o empreendedor no planejamento do seu negócio. maior estrutura para romper as barreiras burocráticas
Também possui uma incubadora e aceleradora e se firmar no mercado. O impacto que geram na
de negócios para receber novas iniciativas, com economia é significativo, seja pela oferta de emprego
financiamentos obtidos a partir de fundos de ou pela oferta de produtos e serviços inovadores.
investimentos públicos e privados. Mas essa não é a realidade na maioria dos negócios.
Boa parcela dos empreendedores brasileiros investe
apoio ao epreendedorismo
por necessidade e isso explica, em parte, o baixo
O Instituto Endeavor foi criado em 1997, nos EUA, e
desempenho. Do total de empresas existentes no País,
há 12 opera no Brasil na identificação e apoio aos
apenas 30 mil conseguem crescer a uma taxa de 20%
empreendedores que apresentam grande potencial
ao ano, por três anos seguidos.
de crescimento. Atualmente, oferece apoio direto a
57 empresas, cuja taxa média de crescimento gira em A inexistência de um programa educacional voltado à
torno de 30% ao ano, que empregam 25 mil pessoas e formação de empreendedores está entre os principais
geram um impacto no PIB da ordem de R$ 2,5 bilhões. entraves para o avanço do País. Segundo Seabra,
o Brasil figura entre os países com menor acesso à
Ao considerar a cifra de empresas oficialmente
educação empreendedora: cerca de 9% da população
registradas no Brasil (em torno de 5 milhões),
adulta teve acesso a cursos ou metodologias para se
é demasiadamente restrito o número de
capacitar melhor e montar um plano de negócios.
empreendimentos que conseguem sobreviver ao
Comparativamente, esse acesso foi de 40% no Chile,
longo do tempo. Dados do Sebrae indicam que entre
35% na Colômbia, 20% na Argentina e 15% na Bolívia.
28% e 30% das empresas abertas não sobrevivem aos
dois primeiros anos, e cerca de 60% se mantêm ativas Na opinião de Saboya, se não houver uma forte
apenas por quatro anos. Juliano Seabra sustentou que pressão das lideranças empresariais e da sociedade
existe uma relação direta entre o nível de desempenho civil, isso pouco deve mudar. “O Plano Nacional para
das empresas e o nível de escolaridade dos a Educação (PNE) prevê colocar o Brasil, em 2021, na
55
SEMINÁRIO
56
Conclusões e
desdobramentos
do 20º Seminário
internacional da fnq
57
SEMINÁRIO
Criação de uma grande parceria entre setores Utilização dos indicadores de forma criativa, a fim
privado e público, para promover melhorias no de que alunos, pais, professores e gestores possam
sistema educacional brasileiro, com trocas de obter uma noção real da classificação da escola, seus
experiências e cooperação criativa; pontos críticos e as ações de melhoria;
Elaboração de um plano nacional para a educação, Criar um vínculo maior entre as universidades e as
de caráter suprapartidário e que perdure em empresas, para aproximar os currículos da realidade
execução mesmo após a mudança de governos; do mercado e das transformações no mundo;
Participação da sociedade civil nos debates e ações Repensar a sala de aula, que deve estar mais aberta
de melhoria na educação, com envolvimento de pais, à autocapacitação dos alunos, a um relacionamento
familiares ou responsáveis nos processos de busca da mais horizontalizado e ao estímulo da criatividade;
qualidade e avaliação do ensino oferecido nas escolas; Reformulação dos currículos, considerando a vida
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Criação de uma agência reguladora para fiscalizar e real dos estudantes, seus desejos e necessidades;
punir escolas particulares que não cumpram com Rever os conceitos do ensino em sala de aula e
qualidade os serviços oferecidos à população; adotar novas ferramentas, inclusive inovações
Adoção de gestão profissionalizada nas escolas, tecnológicas, preparando um cenário de transição
com atuação de profissionais especializados em para integrar professores com conhecimento
administração; tradicional e alunos nativos digitais.
Na gestão profissionalizada, controlar processos,
fixar metas, organizar avaliações e indicadores de
qualidade;
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9º FÓRUM EMPRESARIAL
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
60
ontem e hoje:
os desafios
da gestão
Em 2011, como parte da celebração dos 20 anos da FNQ, alguns de
seus eventos foram dedicados à reflexão de sua história e ao futuro de
sua causa e sua Missão. O 9º Fórum Empresarial, realizado anualmente
pela Fundação, aconteceu em 27 de outubro do ano passado, em São
Paulo, com o tema Evolução da Gestão: perspectivas e tendências.
A proposta foi resgatar parte da história da instituição, reunindo
alguns protagonistas na criação da FNQ, e promover uma reflexão
sobre os próximos 20 anos, contando com a presença de lideranças
empresariais e especialistas da área da gestão.
O primeiro painel reuniu Dorothea Werneck, secretária de
Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais e
ex-ministra do Trabalho; Edson Vaz Musa, presidente do Conselho
de Administração da Caloi; Elcio Aníbal de Lucca, presidente do
Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC); e Mauro
Figueiredo, diretor da Bradesco Seguros e então presidente do
Conselho Curador da FNQ. Eles traçaram um panorama do Brasil à
época da criação da Fundação e os desafios enfrentados para que se
colocasse na pauta das empresas a questão da Qualidade.
Na sequência, o professor Humberto Mariotti, da Business School
São Paulo, apresentou uma palestra sobre a Teoria da Complexidade
e defendeu a necessidade de mudanças na forma como enxergamos
e atuamos no mundo.
Como encerramento, os empresários Guilherme Leal, co-presidente
do Conselho de Administração da Natura Cosméticos; Aluizio Byrro,
chairman América Latina da Nokia Siemens Networks; Wilson Ferreira
Junior, presidente do grupo CPFL Energia e atual presidente do Conselho
Curador da FNQ; e Ricardo Guimarães, presidente da Thymus Branding,
9º Fórum Empresarial – discutiram os desafios da gestão nas perspectivas da escassez de recursos
Evolução da Gestão: naturais, formação de novas lideranças, crise econômica e urgência na
perspectivas e tomada de decisões.
tendências Confira os melhores momentos do 9º Fórum Empresarial.
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9º FÓRUM EMPRESARIAL
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Os 20 anos da FNQ
63
9º FÓRUM EMPRESARIAL
“Dizem que o brasileiro não tem memória do passado. Talvez, por isso,
temos uma grande abertura para a mudança e o futuro.”
Dorothea Werneck, secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais
A ex-ministra ressaltou que a Fundação, na época, A Rhodia percebeu já naquela época que não deveria
foi buscar inspiração nos critérios do Prêmio Malcom abordar a gestão por partes, e sim como um todo.
Baldridge no início e, hoje, já influencia o prêmio norte- “Descobrimos a visão sistêmica e que não poderíamos
americano. Disse, ainda que a ideia do Movimento alterar o produto sem alterar o processo. Deveríamos
da Qualidade contou com o apoio de três lideranças planejar, controlar e ter constância de propósitos em
que trabalharam próximos ao governo federal: nossas ações. Enfim, aprendemos que não saberíamos
Hermann Wever, Egon José da Silva e Jorge Gerdau gerenciar se não pudéssemos medir os resultados – e
Johannpeter. Reunimos também consultorias, públicas isso representou a nossa contribuição para a reunião de
e privadas, como a Fundação Vanzolini e a Fundação lideranças empresariais e a criação da FNQ”, disse.
Christiano Ottoni, esta do atuante Vicente Falconi. Musa foi presidente do Conselho Curador da FNQ,
Para concluir sua fala, a ex-ministra relacionou as na gestão 2001-2003, e é Membro do Conselho de
diferenças entre a fase inicial da FNQ e a atualidade. Notáveis da instituição. Ele contou que a Fundação
“Antes, trabalhávamos centrados nos resultados fez modificações em sua Missão, com o objetivo de
positivos. Hoje, ao ser introduzida a questão da imprimir mais inovação nos conceitos e promover mais
sustentabilidade, precisamos aprender a valorizar fortemente as ações de comunicação e educação.
também as ações de recuperação ambiental, Para ele, a FNQ tem um privilégio grande, comparado
identificar as iniciativas positivas e premiar os a outras organizações da sociedade. “O nível dos
resultados. Com relação ao setor público, há um integrantes de seu Conselho de Administração é
entrave de natureza estrutural, que é a instabilidade da elevadíssimo. Olhando para trás, percebemos o
gestão, com a troca periódica de governos. Esses são quanto avançamos. Mas o Brasil ainda é um País de
os maiores desafios que temos pela frente”, finalizou. baixa produtividade e capacitação tecnológica, além
deScobrindo a visão sistêmica de grandes índices de desperdício. Portanto, temos
Edson Vaz Musa resgatou o cenário histórico do final muitas ações a fazer, entre elas investir ainda mais em
dos anos 1980. A Guerra Fria imperava nas relações inovação e arregimentar organizações para a causa da
entre os países, o Brasil ainda vivia sob um regime excelência da gestão”, concluiu o executivo.
político-econômico centralizador. “Tínhamos uma
competitividade extremamente baixa e não sabíamos o
que iria acontecer. Na época, eu era executivo da Rhodia
e sentia-me preocupado com a situação”, relatou.
Em 1991, a globalização começou a tornar-se
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
64
Da esq. p/a dir., Mauro
Figueiredo, Elcio Aníbal de
Lucca e Edson Vaz Musa
A disseminação da causa
Elcio Aníbal de Lucca, ex-presidente do Conselho empresa brasileira alcançara essa distinção. Um ano
Curador da FNQ nas gestões 1997-1998 e 2003-2005, depois, a Serasa foi Premiada, conquistando a mais
contextualizou o cenário econômico do final da década alta categoria do PNQ, feito que se repetiu por mais
de 1980 e início dos 90, quando era gestor da Serasa. duas vezes, tornando-a a primeira a ser tricampeã no
Disse que o Brasil passava por um momento de inflação prêmio”, destacou o empresário.
alta e pouquíssimos investimentos em produção. Lucca lembrou que, hoje, a FNQ tem milhares de
Interessava mais aos investidores aplicar o dinheiro no examinadores e juízes voluntários, mas no começo
mercado financeiro do que nas indústrias. Razão pela eram poucos pioneiros, “extremamente responsáveis e
qual pouco se pensava em qualidade e processos. “Sabia devotados à missão de tirar o Brasil da inércia”. Com o
que precisava buscar novas referências e, por indicações, tempo, em razão de seu envolvimento, ele foi escolhido
procurei a FNQ, onde fui recebido pelo saudoso Carlos como presidente do Conselho Curador da FNQ, quando
de Mathias Martins, superintendente na época. Ele foi teve a oportunidade de contribuir com a expansão da
um dos alicerces da Fundação e, a partir da confiança causa e o envolvimento maior das organizações.
estabelecida, comecei a participar das reuniões e abracei “Se o Brasil não tivesse passado por essa experiência
a causa da excelência da gestão”, relatou. da excelência da gestão e disseminado o MEG, não só
Na esteira do novo pensamento disseminado para quem já conhece a causa, mas para MPEs (Micro
pela FNQ, a Serasa deu seu grande salto e passou e Pequenas Empresas), prêmios regionais e setoriais,
de média empresa para a maior organização do não estaríamos no patamar de desenvolvimento que
segmento no mundo. “Ao atuar sob os preceitos da estamos hoje. As pesquisas da própria Serasa Experian
qualidade, tivemos um retorno muito rápido. Em comprovam que as empresas que adotam o MEG
1994, chegamos a Finalista do Prêmio Nacional da são mais competitivas, mais eficientes e possuem
Qualidade® (PNQ). Fiz um anúncio de página inteira melhores resultados do que as outras”, finalizou.
e divulguei amplamente que, pela primeira vez, uma
65
9º FÓRUM EMPRESARIAL
66
9º FÓRUM EMPRESARIAL
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
68
Palestra
O Futuro da
Gestão: Pensando
Diferente
Pesquisador em Ciências da
Complexidade e professor da Business
School São Paulo, Humberto Mariotti
participou do 9º Fórum Empresarial
para falar da gestão das empresas em
uma era de incertezas.
69
9º FÓRUM EMPRESARIAL
A busca das
certezas, o
conservadorismo,
a baixa inovação
e os núcleos
isolados de
criação serão
substituídos pelo
reconhecimento
das incertezas,
o reformismo,
muita inovação e
a cocriação.
“Todos sempre existiram, mas estão se avolumando entre o ‘8 e o 80’ há uma infinidade de números, que
e crescendo em escala quase exponencial. E nós não podem se combinar”, afirmou.
acompanhamos porque estamos vivendo em plena Para exemplificar as opiniões antagônicas, Mariotti
transição”, advertiu. valeu-se do debate que divide a comunidade científica
Segundo ele, a chamada Modernidade, que vai do com relação ao aquecimento global e a intervenção
século 17 ao 20, caracterizou-se pela Revolução do homem nesse processo. Ele reforçou que é preciso
Industrial, por grandes iniciativas da gestão e também analisar, ponderar e coletar dados que levem à
pelo pensamento ou visão sistêmica. Esse paradigma reflexão, lembrando que, talvez, a resposta não aponte
predominou na gestão das grandes empresas desde para a absolvição ou a condenação do homem. Mas
1950, chegando um pouco mais tarde ao Brasil. demonstre que, associado ao fenômeno natural, pode
Hoje, com a passagem para a Pós-Modernidade ou existir sim a ação do homem. O consenso em torno
Modernidade Tardia, começa-se a compreender que dessa ou de outras questões não necessariamente leva
o pensamento sistêmico é necessário, mas não é a uma resposta, mas à possibilidade de múltiplas e
suficiente para entender a complexidade do mundo. complexas ações que podem resultar em reparo. Fato
Se antes se acreditava que as mudanças eram que exige do homem um olhar caleidoscópico.
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
constantes – e para melhor, graças aos benefícios da Crise sempre existiu, observou Mariotti. E propôs uma
ciência e da tecnologia –, agora percebemos que elas reflexão: por que a gestão tradicional funcionava
permanecem constantes, mas nem sempre são para bem? “Porque a economia era mais estável, o mercado
melhor, principalmente nas áreas da educação, da não era tão globalizado, a população mundial era
saúde e dos negócios. “Estamos presos ao chamado menor, os recursos naturais pareciam inesgotáveis, as
raciocínio binário: ou é bom ou mal, ou contra ou a regulações governamentais permitiam monopólios e a
favor. Ainda não temos refinamento para perceber que força de trabalho não era tão diversificada.
70
As comunicações e os fluxos de informação não
eram tão rápidos e abundantes”, respondeu. Com
esse cenário, a gestão tradicional permitia uma visão
linear, que pode ser comparada com a gestão da
complexidade (ver quadro).
Mariotti salientou que a gestão da complexidade não
exclui a visão linear (ver entrevista na pág. 72). “É fazer as
duas coisas ao mesmo tempo, usando a visão linear e
a complexa de acordo com as demandas, o contexto,
o momento e a necessidade. Gestão da complexidade
é uma habilidade, uma mudança de atitude do gestor
para perceber o momento em que uma forma de
Gestão linear Gestão não linear gestão ou outra deve predominar. Numa mesma
Organização vista Organização vista empresa, existem áreas que funcionam melhor por
como uma máquina como um organismo meio da visão linear e outras, mais criativas e inovadoras,
Linear Não linear que exigem a visão complexa”, explicou.
Previsível Surpreendente Com relação ao universo da economia e das finanças, ele
Contém ordem Contém padrões apresentou duas visões que coexistem. Quando aplicada
Comando e Controle Adaptabilidade nos momentos e contextos adequados, a metodologia
Projetada Emergente Business as Usual (Melhores Práticas) é imbatível. Quando
se entra em contato com a incerteza e a complexidade
do mundo, ela não é suficiente e se faz necessária a
metodologia Business Design (Práticas Emergentes).
“A gestão pós-moderna caminha para descobrir
que dentro do yang há um pedacinho do yin e
Melhores Business by Design vice-versa. É uma metáfora que funciona há
Práticas
milênios”, exemplificou.
Finanças
A união do pensamento linear e
Marketing do pensamento sistêmico é o que
Práticas
Vendas emergentes gera o pensamento complexo.
Planos e Metas Criar valor/ Complexidade não significa
cultura de marca complicação. Complexidade vem do
Operações
Inovação latim complexus, que significa aquilo
Processos que está tecido junto. E o que está
Oportunidades
Job Descriptions tecido junto? Tudo. Os stakeholders, os
Agir como uma
Tarefas equipe de design fornecedores, os clientes, os credores
e o mercado. Todos fazem parte desse
Projetos
tecido. “Todos estão conectados. Fazer
Business as Usual Experimentação a gestão da complexidade é, portanto,
gerir a empresa a partir do ponto de vista de
todos os envolvidos. A complexidade sempre
existiu, mas só agora ela se tornou visível aos
nossos olhos”, finalizou.
71
ENTREVISTA
realidade
incerta Nesta entrevista, Humberto
Mariotti fala sobre a gestão da
complexidade como estratégia
para vencer no século 21.
Segundo Mariotti, fazer a gestão da complexidade é saber lidar com um nível de incerteza inerente ao negócio
e que não pode ser eliminado por meio de métodos, mensurações, cálculos, mapas e sistemas fechados.
Revista Excelência em Gestão - Até que ponto é impossível prever por causa da incerteza que
o pensamento complexo é uma alternativa está presente no simples fato de estarmos vivos.
inovadora para a gestão das empresas? Para prever o comportamento de um sistema
Humberto Mariotti - O pensamento linear é vivo, econômico ou político, é necessário definir
sequencial, cartesiano, divide as coisas em partes a complexidade desse sistema – e quanto mais
e lida com elas separadamente. O pensamento complexo, maior o grau de incerteza.
sistêmico consiste em tomar essas partes e
REG - Como se diminui a incerteza?
juntá-las, formando um sistema. O problema é
que o pensamento sistêmico é tão mecanicista Mariotti - Como disse anteriormente, existe um grau
quanto o linear, porque o seu principal objetivo é de incerteza que é inerente à condição de estarmos
construir modelos na realidade, fazer mapas e querer vivos. Gestão da complexidade é lidar com esse nível
colocar tudo nesses mapas. Acontece que o mapa de incerteza que não pode ser eliminado por meio
ou modelo linear não é o território. É apenas uma de métodos, mensurações, cálculos, representações,
representação. E quando o território muda e o mapa mapas, sistemas fechados. Gestão da complexidade
permanece o mesmo – o que é muito frequente –, é diferente da gestão de risco, que pode ser, até
a representatividade não é legitima. Trabalha-se certo ponto, calculado. Por exemplo, as companhias
com modelos, imaginando que são a realidade. Não de trânsito dizem que é cinco vezes mais perigoso
surpreendentemente, os resultados não batem. Esse andar na cidade de moto do que de automóvel.
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
é o grande problema da gestão atual. Então, quando se sai para andar de moto, há um
risco impossível de remover e que é confirmado pela
REG - Qual é a limitação da visão sistêmica? observação diária e por estatísticas.
Mariotti - Atualmente muitas empresas não
REG - Como aplicar a complexidade na prática da
entenderam que trabalhar com modelos sistêmicos
gestão?
não é trabalhar com a realidade, e sim com modelos
estáticos dela. A realidade muda constantemente Mariotti - Primeiro, conscientizar-se da relatividade
e, nessa instabilidade, ela só pode ser prevista das métricas e das representações sistêmicas dos
em uma minoria dos casos. Na maioria das vezes modelos. A atual crise financeira no mundo inteiro,
principalmente na Europa, nos dá um exemplo,
72
pois tem passado ao largo de todos os modelos
matemáticos desenhados para explicá-la ou lidar
com seus efeitos. O movimento da sustentabilidade
também exige pensamento complexo. A maioria das
conferênciais internacionais sobre o tema abordam o
que se quer fazer para diminuir as alterações climáticas,
mas o que realmente é feito possui uma enorme
distância. Quando se admite a existência da incerteza
surge a consciência da complexidade. Embora ela não
possa ser eliminada totalmente, podemos admiti-la,
aprender a ter cuidado com ela e considerá-la
em todas as nossas ações, principalmente nos
planejamentos estratégicos das organizações. Só
assim é possível avançar nas soluções.
A Gestão e os Desafios
da Próxima Década
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
74
O 9º Fórum Empresarial propôs
aos convidados uma reflexão sobre
os desafios futuros e as principais
competências que devem ser
desenvolvidas para uma boa gestão.
O co-presidente do Conselho de
Administração da Natura Cosméticos,
Guilherme Leal, abordou o tema
fazendo um paralelo com o que era a
Natura em 1991: a empresa acabara de
Guilherme Leal: empresas são organizações passar por um processo de fusão. Uma
vivas e interdependentes ação marcante que não apenas moldou
o jeito de ser da companhia como a
ajudou a entender que as empresas são
organizações vivas e interdependentes,
passando a assumir um compromisso
com a sustentabilidade.
“Luiz Seabra, presidente-fundador da Natura, sempre nos lembra a frase de Plotino, que
o inspirou e mudou a sua forma de ver a vida: o Uno está no Todo e o Todo está no Uno.
Uma frase que resume bem a ideia de complexidade e interdependência existente na
vida e nas organizações, e que nos impeliu a moldar as bases, os pilares e as crenças da
Natura já em 1991”, informou Leal.
“Definida a empresa que queríamos ser, partimos em busca de bons parceiros e nos inserimos
em importantes redes de relacionamento, da qual a FNQ faz parte. Com eles, adquirimos
novas competências e buscamos a concretude de nossas crenças, passando a atuar como
agentes de transformação e a promover o bem-estar das pessoas”, disse o empresário.
75
9º FÓRUM EMPRESARIAL
educação é palavra-chave
Wilson Ferreira Junior, presidente do Grupo CPFL Energia e presidente
do Conselho Curador da FNQ, chamou atenção para o que considera ser a
principal característica da transição do capitalismo vigente para um novo
modelo de capitalismo. Em sua opinião, não vivemos uma crise financeira.
Vivemos uma crise de excessos. E é sobre os excessos, em todos os
aspectos e setores, que devemos refletir.
“O Brasil vive um momento muito particular de crescimento econômico,
com maior acesso aos bens de consumo. Consumimos e desperdiçamos
excessivamente. Não é um problema apenas do Brasil, mas do mundo
atual. É chegado o momento de aprendermos a consumir de forma mais
ponderada e sermos mais eficientes para evitar o desperdício,” ponderou.
O executivo lembrou que por ocasião do “apagão” de energia elétrica, o
Brasil precisou adequar-se e melhorar a sua eficiência tanto na produção
quanto no uso do ativo. Em seis meses, foi feito um ajuste e passamos a
economizar 20% de energia. “A eficiência é crucial para a sustentabilidade.
Temos a vantagem de possuir uma das matrizes de energia mais limpas
do mundo, mas esse é apenas um aspecto. Nos demais, como já foi dito
pelos que me antecederam, precisamos avançar”, disse.
Ferreira Junior reiterou a fala de Aluízio Byrro, apontando a melhoria da Wilson Ferreira Junior: a
educação, quantitativa e qualitativamente, e a inovação como questões- eficiência é crucial para a
chave para o século 21. “Na avaliação da OCDE, o Brasil está na 53ª sustentabilidade
posição entre os 65 países avaliados em relação ao investimento em
pesquisa e desenvolvimento. Outro dado é que 25% das crianças que
concluem o 5º ano do Ensino Fundamental I não sabem ler e escrever
adequadamente; 71% dos que concluem o Ensino Médio continuam
a apresentar sérias deficiências em Português e 89% não sabem
suficientemente a Matemática. Não se trata apenas de falta de recursos,
mas de boas iniciativas, e as empresas podem contribuir muito com a
formação dos cidadãos”, enfatizou.
A falta de preparo leva, naturalmente, à falta de inovação. “Estamos na
47ª posição no Índice Global de Inovação 2011 do INSEAD The Business
School for the World, apesar de sermos a 6ª maior economia do mundo.
No entanto, somos um país conectado, embora em baixa velocidade.
Temos um sistema de votação eletrônica e de apuração de votos
invejável, portanto, temos capacidade. Precisamos utilizar as ferramentas
tecnológicas para dar um salto de qualidade na educação e, dessa maneira,
garantir a inovação”, defendeu o presidente do Conselho Curador da FNQ.
77
9º FÓRUM EMPRESARIAL
Ricardo Guimarães:
estamos na era do
pragmatismo científico
O poder da cooperação
Ricardo Guimarães usou de provocações para planeta. “O momento é de incertezas. E as empresas
movimentar o debate (leia artigo na pág. 80). Em precisam se adaptar. Precisam encontrar saídas rápidas.
uma de suas declarações disse que a ética teve a sua A tomada de decisão deve ser realizada no tempo
vez. Agora o momento é da Ciência e ela vem com que nos é dado, e não mais no tempo escolhido pelas
respostas. “Estamos na era do pragmatismo científico e lideranças”, afirmou.
exemplifico: a ocitocina é um hormônio que predispõe Para Guimarães, a interdependência deixou de ser uma
o indivíduo a cooperar e a criar vínculos. Em pesquisas, crença para se tornar um princípio organizador de
descobriu-se que as tribos que produziam mais sistemas vivos. “Sistema é um conjunto de elementos
ocitocina cooperavam mais entre os elementos da tribo que trabalham de forma interdependente com um
e entre tribos. Essas sobreviveram e evoluíram. As que propósito comum. O nosso corpo é assim. Um sistema
tinham menos competiam mais e extinguiram-se”, disse. organizado no qual todos os órgãos trabalham de
De acordo com Guimarães, a pesquisa demonstrou forma interdependente e equilibrada, com o propósito
que a competição é contrária ao ambiente que muda. de nos manter vivos”, explicou.
“Sabemos que, nas grandes mudanças, é preciso um Essa mesma lógica vale para as empresas. As
tempo ótimo para sobreviver e a cooperação produz organizações precisam abandonar a burocracia e
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
um conhecimento mais veloz e preciso, o que facilita passar a atuar de maneira ainda mais sincronizada.
a adaptação ao novo ambiente. Os que competem Responder mais rapidamente às demandas e, para
permanecem com um conhecimento mais pobre e não tanto, é preciso dar sentido às normas para que
conseguem se desenvolver e se adaptar. É claro que é o colaborador as entenda e as aplique de forma
preciso competir, mas o princípio da sobrevivência e do consciente. Só assim será capaz de identificar riscos
aprendizado é a cooperação”, afirmou. e buscar soluções. “O que determina a perenidade
O publicitário argumentou, ainda, que não cabe mais de uma empresa é a sua capacidade de gerenciar
às empresas e à sociedade discutir sobre escolhas significados, e não normas. Esse é um desafio que se
éticas, pois vivemos no limiar da sobrevivência do inicia no nosso modelo mental”, finalizou.
78
ARTIGO
vítimas ou
campeões DA
incerteza ?
por Ricardo Guimarães
A incerteza quanto ao futuro talvez Segundo os meus registros, foi em 2008 que o mundo
reconheceu oficialmente sua ignorância quanto às
seja a única unanimidade entre os novas dinâmicas da sociedade, quando o G20 se reuniu
diversos analistas de cenário, de em Washington para fazer um diagnóstico da crise e
esquerda e direita, do mais otimista concluiu que era – “Mau dimensionamento dos riscos”.
ao mais pessimista. Esta certeza da Para mim, mau dimensionamento de riscos significa
que estamos mal informados sobre a realidade na
incerteza nos diz que perdemos a
qual atuamos. Ou não sabemos como o sistema
intimidade com as atuais dinâmicas funciona ou, embora conhecedores do sistema, não
da sociedade e do mercado e, sabemos a quantas ele anda. Parece que o G20 se
consequentemente, perdemos referia a ambos os casos.
Este diagnóstico só confirmou a resposta que Alain
também o controle das suas variáveis.
Greenspan deu semanas antes para o jornalista
Isto é, o mundo está funcionando de que cobrou do todo poderoso e bem informado
um jeito que não conhecemos. presidente do Federal Reserve Bank:
— “Por que o senhor não fez nada?” ao que o
humildemente exasperado Greenspan respondeu:
— “Como eu podia fazer alguma coisa?! Eu não tinha
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
80
O maior desafio para fazer a passagem
do estágio da empresa-máquina para a
empresa-sistema vivo não está na organização,
mas na cabeça de quem vive a organização.
81
ARTIGO
ao imprevisto e incerto. Reverá o design de sua onde a competição, mais do que a cooperação, definia o
estrutura, de seus contratos, suas interfaces e tom das relações. O que determinava o comportamento
relações internas e externas. Funcionará segundo mais cooperativo das tribos que sobreviveram era a
presença significativa de ocitocina no seu organismo,
um hormônio que predispõe o indivíduo a colaborar e
criar vínculos. (para saber mais veja livros recentes sobre
neurociência. Um bom ponto de partida é The Science of
Good and Evil, de Michael Shermer.)
Ironicamente, a ciência e a tecnologia, que um dia
foram vistas como desumanizadoras da sociedade, vêm
mostrar que as leis da selva são mais civilizadoras do que
nossa arrogante ignorância do século 20 imaginava.
A incerteza não vem para nos fazer vítimas. Vem para
subir o sarrafo da competência dos humanos para
tornar suas empresas mais sistemas vivos e menos
EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Ricardo Guimarães é
presidente da Thymus
Branding e conselheiro
da FNQ
82
Excelência
da gestão:
estratégia para
responder aos
desafios globais
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