Вы находитесь на странице: 1из 4

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000393557

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0008601-


92.2012.8.26.0642, da Comarca de Ubatuba, em que é apelante ALCIDES CARDOSO
FILHO, são apelados VALE DO CUIABA EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS
LTDA, FILINTO CORREA DA COSTA e BENEDITO MAURO TENUTA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 8ª Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores SILVÉRIO DA SILVA


(Presidente sem voto), ALEXANDRE COELHO E CLARA MARIA ARAÚJO XAVIER.

São Paulo, 26 de maio de 2018.

Mônica de Carvalho
Relatora
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

2ª Vara Judicial de Ubatuba

Apelação n. 0008601-92.2012.8.26.0642

Apelante: ALCIDES CARDOSO FILHO

Apelado: VALE DO CUIABÁ EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA.

Interessados: FILINTO CORREA DA COSTA e BENEDITO MAURO TENUTA

Juiz prolator: Fabricio José Pinto Dias

Voto n. 2129

COMPETÊNCIA Exceção Sentença de mérito proferida sem


que se apreciasse o incidente Artigo 62, do CPC - Nulidade da
sentença Possibilidade de aplicação do artigo 1013, § 3º., II, do
CPC, quanto à questão específica da competência - Venda de 73
lotes de terreno entre advogado e imobiliária Venda entre
particulares Natureza civil da matéria Afastamento da
aplicação do CDC Previsão de competência, no contrato
particular, do foro da situação do imóvel, ou possibilidade de
aplicação da regra geral do foro do domicílio do réu, ambos
situados em Cuiabá/MT Acolhimento da exceção Remessa dos
autos à Justiça mato-grossense - Sentença anulada - Recurso
provido.

Vistos.

Trata-se de recurso de apelação interposto para


impugnar a sentença de fls. 131/133, cujo relatório adoto, que reconheceu a
prescrição sobre a pretensão inicial e julgou extinto o processo.

Segundo o apelante-autor, a sentença merece ser


reformada, em síntese, por ser nula, porque havia prévia exceção de
incompetência manejada pelo réu que não foi apreciada, e porque não houve
prescrição, pois a empresa loteadora foi notificada para outorga das escrituras, e
porque o compromisso não se sujeita ao prazo prescricional, além do fato de que
vários lotes foram adquiridos posteriormente (fls. 136/140).

Recurso tempestivo, preparado e com apresentação de


contrarrazões pela apelada (fls. 145/152).

Não houve oposição ao julgamento virtual (fl. 159).

Esse é o relatório.

Passo ao voto.

Apelação nº 0008601-92.2012.8.26.0642 -Voto nº 2129 2


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

O recurso merece ser provido.

No caso concreto, o autor, que é advogado, adquiriu


73 lotes de terreno, em 17.06.1982, pelo valor de Cr$ 73.000,00. Como a ré
outorgou escritura dos imóveis a terceiros, o autor pediu a rescisão do contrato
por inadimplemento, com os consectários legais.

A sentença é nula, porque passou ao mérito antes de


se pronunciar sobre a questão da competência, que foi apresentada em incidente
específico (artigo 62, do CPC). Veja que quem alega este fato é o próprio autor-
apelante, e ele tem razão.

E quanto a essa específica questão é possível a


aplicação do artigo 1013, § 3º., II, do CPC, para que este Tribunal, ante a lacuna
do juízo de primeiro grau, aprecie a questão deixada em aberto.

Anote-se que esta causa não permite a aplicação da


legislação consumerista. Não pelo argumento trazido com a apelação, no sentido
de que o contrato foi firmado antes da edição da lei. Cabe dizer que o Código de
Defesa do Consumidor traz matéria também de cunho processual, e a lei
processual tem aplicação imediata. Mas o fato é que a relação entre as partes
não tem caráter consumerista.

O autor, advogado, adquiriu setenta e três lotes de


terreno. Se a jurisprudência vem reconhecendo o caráter de consumidor quando
de se trata de venda de lote único ou de poucos lotes, não se pode reconhecer a
mesma natureza diante de um empreendimento que envolve tantos lotes e que
certamente ensejaria o repasse para outros. Trata-se de matéria civil,
assemelhada à hipótese de venda entre particulares, como adotado na
jurisprudência.

Nesse sentido:

“DUPLO APELO CÍVEL. AÇÃO DE RESCISÃO


CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO E DEVOLUÇÃO DE QUANTIAS PAGAS.
PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO.
COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL ENTRE PARTICULARES.
INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ATRASO NA
ENTREGA DO IMÓVEL. CULPA RECÍPROCA EVIDENCIADA. RESCISÃO
CONTRATUAL. RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS. DEVOLUÇÃO EM DOBRO.
AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ. I- Desde que não se vislumbre, no caso concreto, prejuízo a
alguma das partes, é de se reconhecer como válida sentença proferida por juiz que
não presidiu a instrução, desde que respeitado os princípios do contraditório e da
ampla defesa. É o que se chama de flexibilização do princípio da identidade física
do juiz. II- O vínculo negocial estabelecido entre particulares, na celebração de
contrato de compromisso de compra e venda de imóvel, não é o de relação de
consumo, mas o de situação jurídica de natureza civil, daí serem aplicáveis as
disposições do Código Civil, ao caso em tela, e não as do Código de Defesa do
Consumidor. III- Rescindido o contrato de promessa de compra e venda de imóvel,
por culpa recíproca das partes, ante a simultaneidade da mora, inevitável que as
partes retornem o status quo ante, com a devolução das parcelas já pagas pelo
comprador, sem que seja devido, em razão desse fato, qualquer tipo de
indenização. IV- No caso, restando comprovada a existência de culpa recíproca
Apelação nº 0008601-92.2012.8.26.0642 -Voto nº 2129 3
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

das partes envolvidas, resta desautorizado a cobrança/retenção de qualquer


valor a título de compensação por uma ou outra parte na rescisão do contrato. V- A
repetição em dobro de valores pelo devedor exige a comprovação da má-fé
praticada pelo credor, fato inocorrente na espécie. APELOS CONHECIDOS E
DESPROVIDOS” (TJ-GO - APELACAO CIVEL AC 02430651720108090024 - Data
de publicação: 28/07/2016).

Como adverte o Ministro Herman Benjamin do


Superior Tribunal de Justiça (um dos autores do anteprojeto do CDC), a
vulnerabilidade contratual é essencial para que se reconheça que determinada
relação jurídica tem caráter consumerista:

“[...] quando falamos em contratos no Código de Defesa


do Consumidor estamos, efetivamente, cuidando de contrato de consumo. E
quando estudamos os contratos de consumo ou sobre eles legislamos assim o
fazemos em razão de algo que poderíamos denominar de vulnerabilidade
contratual do consumidor. É esse fenômeno jurídico mas também econômico e
social que leva o legislador a buscar formas de proteger o consumidor. [...] No
plano da teoria do contrato, proteger o consumidor é, antes de mais nada, um
esforço da pesquisa da tipologia dessa vulnerabilidade de resto conhecida ope
legis (CDC, art. 4o, I)” (Trecho extraído da apresentação do livro “Contratos no
Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais“, de
Cláudia Lima Marques, Revista dos Tribunais, 5a edição, 2005, p. 9).

Não se pode dizer que, no caso concreto, o autor fosse


dotado da vulnerabilidade. Assim, a questão deverá ser dirimida pelas regras
civis, e não consumeristas, o que afasta a aplicação do foro do domicílio do
autor.

Ademais, o contrato particular firmado entre as partes


estabelece com precisão que eventuais questões seriam dirimidas no foro da
situação dos imóveis, ou seja, na Comarca de Cuiabá/MT (fl. 8), onde inclusive
se situa a sede da ré, o que ensejaria, na sequência, a aplicação do critério geral
para estabelecimento da competência.

Não há, portanto, motivo, para que esta lide seja


julgada perante a Comarca de Ubatuba, neste Estado da Federação, pelo que a
aplicação do artigo 1013, § 3º., II, do CPC somente pode se estender até a
questão da competência territorial.

A sentença, portanto, deve ser anulada, e deve ser


reconhecida a incompetência desta Justiça Estadual para apreciação da lide.

Posto isso, dou provimento ao recurso para anular a


sentença proferida, reconhecer a incompetência territorial da Comarca de
Ubatuba/SP e determinar a remessa dos autos à Comarca de Cuiabá/MT.

MÔNICA DE CARVALHO

Relatora

Apelação nº 0008601-92.2012.8.26.0642 -Voto nº 2129 4

Вам также может понравиться