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Um babalaô me contou:
Desde os primórdios, os humanos cultuam as divindades a fim de assegurar o equilíbrio das forças vitais do
universo. Junto com poderes, os orixás receberam tarefas. Exu, Ogum e Oxóssi, por exemplo, atuam como
guardiões. Alguns reinam sobre as águas, como Iemanjá e Oxum. Iemanjá também está vinculada à infância e à
maternidade, assim como Ibeji. Ossaim e Oxumarê são as entidades da natureza. O ambiente de Xangô é regido
pelo fogo. Já Omolu e Nanã atuam sobre a saúde da humanidade, o que implica, muitas vezes, na doença e na
morte.
Exu, o princípio dinâmico que rege a vida, e Ifá, encarregado de transmitir os propósitos dos orixás aos homens, são
as duas divindades que aparecem com destaque nos rituais afro-brasileiros. A casa de Exu fica próxima à entrada
dos terreiros com o objetivo de proteger o espaço sagrado. Muitas vezes confundido com o conceito cristão de
demônio, Exu é, na verdade, uma força que possibilita a ligação entre este mundo físico, Aiyê, e aquele habitado
pelas divindades, Orum.
Muniz Sodré – escritor
“As divindades do panteão negro são princípios cosmológicos, ou seja, a explicação de como e por que o homem foi
instalado no mundo. Isso ocorre com Xangô, Ogum e todos os orixás. Cada um é dotado de preceitos explicativos
acerca dos humanos. Exu é visto como perigoso porque traz o que é instável. É ele quem transporta a fala, o
fundamento da comunicação, e também está relacionado à sexualidade, que, em movimento, é considerada
perigosa.
Quando os antropólogos anglicanos chegaram à África e estudaram o sistema nagô, encontraram o Exu e toda a
simbologia que há por trás desta divindade. Então, pensaram ‘se é tão livre sexualmente, se não tem fixidez, é o
diabo’. Foi assim que Exu passou a ser representado para o ocidente como o demônio. Claro que os próprios cultos
afro-brasileiros assumiram esta definição e, por influência do catolicismo, apresentam o Exu com aqueles chifres.
No culto negro não existe, sequer, diabo. E todo princípio cosmológico em toda a divindade é ambivalente, com
aspectos sexuais, de perigo, de luta, de guerra e de ciúme porque tudo isso é constitutivo da humanidade. Só que
Exu é o motor do sistema, é ele quem transporta as mensagens, é ele quem constitui a individualidade do sujeito”.
Rafael Zamora, babalaô
“O culto a Ifá se originou no antigo Egito, depois migrou para a África, onde se desenvolveu e, com o tráfico de
escravos, chegou ao Brasil e em Cuba. Hoje em dia está no mundo inteiro. O oráculo de adivinhação de Ifá, formado
por 256 hinos, é muito certeiro e revela passado, presente e futuro dos homens. Trata-se de uma cultura iorubá sobre
as energias do mar, da terra, dos ventos, dos rios e funciona como a base do que conhecemos como Candomblé”.
O babalaô ocupa uma importante posição nos terreiros de Candomblé. É aquele que se dedica ao culto do Ifá,
também conhecido como Orunmilá, a divindade que tem livre acesso a todos os segredos. O babalaô usa búzios e
caroços de dendê para descobrir como foi o passado e lançar previsões sobre o futuro, transmitindo a vontade de
Olorum, o deus supremo. O babalaô está acima ao babalorixá.
Pai Bira de Xangô (Ilê Axé Oba Ogodô)
“O babalorixá é o sacerdote detentor dos conhecimentos a respeito do zelo e do culto aos orixás. Ele passa por
diversos estágios de formação. Ainda na fase de abiã, quando chega à casa de culto, recebe o fio-de-conta, sua
insígnia inicial. Em seguida, faz a primeira obrigação e vira um iaô, quando desposar o orixá. Depois ele aprofunda
seus conhecimentos numa etapa que dura a vida inteira. E após sete anos de obrigações gradativas, ele recebe um
axé que lhe garante o posto de babalorixá ou ialorixá, no caso das mulheres. Ou seja, alguém preparado para iniciar
outras pessoas ao sacerdócio”.
O pernambucano Felipe Sabino da Costa, o Pai Adão, foi um dos babalorixás mais respeitados do seu tempo. Ele
exercia suas funções sacerdotais no terreiro do Sítio da Água Fria, aberto em 1893. Em um de seus artigos, Nei
Lopes revela que Pai Adão dominava a língua ioruba e se relacionava em pé de igualdade com cientistas e
pesquisadores. Faleceu em 1936, aos 59 anos, mas ainda hoje é considerado a maior personalidade da história do
‘Xangô’, como é chamado o Candomblé no Recife.
Manoel ‘Papai’ Nascimento – babalorixá pernambucano
“É inegável a contribuição que Pai Adão deu ao Xangô do Recife. Pelo que encontro hoje, e isso já foi dito por
Gilberto Freyre em um de seus trabalhos, ele tornou-se uma figura representativa até entre católicos e políticos.
Freyre diz que muitos ricos e pobres passavam pelo terreiro para tomar benção a Pai Adão porque sabiam que
aquele seria um dia iluminado”.