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Sugestão de título: Entenda estética do Butoh e sua influência

em tipos diferentes de artes

João Butoh – Entrevista


Contexto Histórico: A Rosa de Hiroshima

O surgimento do Butoh está ligado diretamente a passagem histórica da Segunda Guerra


Mundial quando houve a destruição das cidades de Hiroshima e Nagasaki por meio do
bombardeio americano com duas bombas nucleares, dando fim a seis meses de intenso
bombardeio em 67 outras cidades japonesas.

Este fato histórico é recheado de um montante de detalhes que levaram ao detonamento


destas armas nucleares.

Em um discurso em rádio nacional no dia 15 de agosto de 1945, o Imperador Hirohito


anunciou a rendição do povo japonês. Curiosamente, esta foi a primeira vez que os japoneses
ouviram a voz de seu Imperador.

Com a rendição do Japão, assinada em 2 de setembro de 1945 por Mamoru Shigemitsu,


Ministro das Relações Exteriores do Japão, a bordo do USS Missouri, o Japão entraria em um
período conhecido como Ocupação do Japão, que se seguiu após a guerra, liderado em grande
parte por Douglas MacArthur, General do Exército dos Estados Unidos, a fim de revisar a
constituição japonesa e desmilitarizar o Japão.

A ocupação americana, com a assistência econômica e política para reconstrução do país,


continuou até a década de 1950. As forças aliadas ordenaram ao Japão a abolição da
Constituição Meiji e a promulgação da Constituição do Japão e, então, renomearam o Império
japonês para Japão, em 3 de maio de 1947. O país adotou um sistema político baseado no
parlamentarismo, enquanto o Imperador passou a ter um status apenas simbólico.

Origem do Butoh: Dança das Trevas

Paralelo a isso, Tatsumi Hijikata, criava e desenvolvia ações teatrais e performáticas, na década
de 1940, em pleno período de guerra.

Quando o Japão do pós-guerra no período da ocupação sofreu uma invasão cultural por parte
do ocidente - o rock and roll, a Coca-Cola e o vestuário - foi um momento de ruptura ao
pensamento de ocidentalização do país. Hijikata e seus seguidores (poetas, artistas plásticos,
escritores e arquitetos) se lançaram a espaços marginais e pelas ruas do submundo de Tóquio
em manifesto que condenava a ocupação americana e a perda dos valores nacionalistas.
Já no final da década de 1950, quando também se findava a ocupação, essa forma marginal de
expressão, como era considerada, já era conhecida como “Ankoku Butoh” (dança das trevas).
Resumido-se, com o passar do tempo para “Butoh”.

Influência do Expressionismo

O Expressionismo foi uma forte influência no butoh. O que podemos observar em várias obras
cinematográficas alemãs, é que elas têm como regra a maneira exagerada na representação
dos atores, um mundo idílico e sombrio da alma que se estende aos cenários e o duelo entre
as trevas e a luz, representado pelo contraste e a fotografia recortada. Buscavam a
representação interior humana, suas angústias, sonhos e fantasias. Esses elementos tinham
maior importância do que os apresentados na realidade objetiva. E podemos ver isso em obras
de dois grandes representantes deste período e que influenciaram o mundo na década de
1930 - Robert Wiene e Fritz Lang.

Tatsumi Hijikata imputiu em sua estética esta maneira exagerada de representar, trágica,
sombria, dramática e subjetiva. A performance propunha uma ruptura com toda a elegância,
refinamento e delicadeza da arte tradicional milenar japonesa.

Sabemos também que Hijikata recebeu enorme influência de Antonin Artaud por meio de sua
obra literária “Le Théâtre et son Double”.

Os sobreviventes do bombardeio sobre Hiroshima e Nagasaki são chamados de hibakusha,


uma palavra japonesa que é traduzida literalmente por "pessoas afetadas por bomba". O
sofrimento causado pelo bombardeamento foi a raiz do pacifismo japonês do pós-guerra e foi
também uma das pilastras sob a qual foi construída a estética do Butoh. Os corpos decrépitos,
a maquiagem melancólica e empalidecida, a ausência dos pelos, tudo lembra os hibakushas e
as vítimas desta tragédia.

A Aurora de João Butoh: Depoimento

Comecei a trabalhar com o butoh em 1983, mas tenho formação eclética, não uso só o butoh
como expressão do corpo, trabalho com teatro de dança e como artista me envolvo em outras
técnicas e artes, não só com as artes cênicas, estou sempre procurando aprender novas
técnicas não importa em que área de atuação das artes.

Relacionada a dança, já passei pelo flamenco, jazz dance, moderno, ballet clássico, folclore.
Tenho uma inquietude interior que não me deixa ficar parado nenhum momento do meu dia e
noite, estou sempre estudando, pesquisando nas mais diversificadas áreas e vertentes. O que
vem obviamente a dar mais suporte para as respostas que eu tenho para apresentar por meio
da minha arte.

Aprendi teatro observando meu pai - que foi ator, palhaço de circo e radialista - e aprendi a
costurar com a minha mãe. Aos sete anos eu já fazia teatro e dança e “produzia” meus
próprios espetáculos. Acredite, reunia os amigos na rua de casa e fazíamos encenações sobre
vários temas, chamávamos de “cirquinho” e o ingresso era um palito de fósforo.

Na escola não era diferente, estava sempre ausente da sala aprontando alguma encenação
para festividades cívicas. Sempre fui um bom aluno, mas a arte tirava o meu foco dos estudos
convencionais. Não sei se isso foi um problema na escola, mas terminei o Ensino Médio
fazendo exatamente o que fazia no Parque Infantil - projeto educacional que se espalhou pelo
Estado de São Paulo com concepção pedagógica de educação infantil desenvolvida por Mário
de Andrade.

Meu período no Parque Infantil da minha cidade me propôs a experiência de experimentação


em diversas artes: dança, teatro, música, pintura etc. Essas experiências colocavam as crianças
sempre como protagonistas.

O Teatro e a dança sempre foram meus companheiros inseparáveis, já fazendo Universidade,


apresentei uma obra que fez a abertura da exposição “Hiroshima Paz” em Presidente Prudente
no início da década de 1980, a cidade recebeu um vasto acervo do Museu da Paz de Hiroshima
e dentre vários técnicos que vieram para a montagem, uma senhora japonesa após assistir a
apresentação me perguntou onde eu prendera o butoh.

Foi o ponto de partida para uma verdadeira ilíada, por sorte havia parentes morando no Japão,
a quem recorri e recebi as primeiras informações versionadas para o português. Fiquei
obcecado por isso.

Essas informações que chegavam por carta, foram alimentando uma imaginação onde as
imagens das fotografias induziam as formas corporais dos nossos primeiros trabalhos. Na
tentativa de compreender isso, fiz uma viagem histórica a cerca de Kazuo Ohno, após tê-lo
visto em um filme, ainda no início dos anos 1980, sobre o Festival Internacional de Nancy.

A identificação foi instantânea, eu sabia que aquele senhor era Kazuo Ohno. Eu tentei passar
pelas mesmas experiências que ele para compreender aquele corpo que eu avistei pela
primeira vez com movimento. Estudante de Educação Física da UNESP na época, eu continuava
cercado por pessoas que adoravam as artes cênicas, fora e dentro da Universidade. Na mão
manuscritos e cartas de incentivo e apoio.

Aiar Butoh: O Butoh Brasileiro

Foi por este motivo que surgiu a necessidade de uma unificação estética para os corpos em
cena, mesmo sendo estudantes de educação física, nossas experiências derivavam das mais
diferentes áreas e atividades.
Eu sou formado em dança acadêmica e foi por meio dela que pensei e desenvolvi este método
que nada mais é do que ferramentas corporais para qualificar esteticamente os atores e
bailarinos para as obras correográficas que se desenvolveram desde então.

A estrutura física corporal humana, voltada para este trabalho muscular, visava por meio de
jogos buscar a utilização dos meios de expressão do corpo e do movimento para práticas
coreográficas.

Os exercícios se desenvolveram buscando então vários elementos e ensinamentos de diversas


áreas para o desenvolvimento da consciência - trabalho da imagem - força e flexibilidade -
mente e corpo - alinhamento - energia dinâmica - coordenação - precisão - concentração -
gravidade – respiração etc.

Essas experimentações receberam o nome de Aiar Butoh. Aiar do tupi guarani que quer dizer –
“colher sementes para plantar depois”.

Temos além da nossa cultura outro processo físico corporal a oferecer: esse é o nosso butoh,
que vem a ser uma releitura do mesmo, uma vez que trabalhamos sobre a essência deste e
respeitamos as nossas verdades interiores, que vem a ser as nossas experiências de vida. Não
basta pintar o corpo de branco.

Cada intérprete do butoh o tem como uma verdade única, conforme o que queria dizer o
Mestre Kazuo Ohno. Ele nos ensinou que: “a performance mesmo sendo improvisação pode ter
muita verdade. E é tão valiosa como um espetáculo concebido e trabalhado detalhadamente”.
Ele fazia isso com mestria, usava toda a sua informação acumulada de uma vida toda.

O Butoh é uma grande parte de mim, que inclui físico, mente e espírito. Perdi o meu nome
para a minha dança, ninguém mais me conhece pelo meu nome de batismo e sim por João
Butoh.

Kazuo Ohno & Ogawa Butoh Center

Em 1997 fundei a Ogawa Butoh Center uma associação cultural que abarca todos os processos
criativos e projetos culturais e sociais por meio da arte.

Minha grande influência no butoh vem do Mestre Kazuo Ohno que conheci por meio da minha
professora de figurinos em Berlin na Alemanha. Ela havia morado no Japão e o conhecia de lá,
quando o mesmo veio se apresentar em Berlin e ela foi sua cicerone (uma designação antiga
para “guia turístico”, que inclui um viés cultural nos passeios do visitante). Eu estava
hospedado em sua casa e pude compartilhar bons momentos.

Ele sempre falou em um volume baixinho e extremamente generoso. Nunca deixou de


responder a nenhuma pergunta de ninguém e, muitas vezes, em aula falava em seu ouvido
pequenas frases que mais pareciam um haikai. Desenvolvi uma paixão e uma admiração por
ele e vou continuar desenvolvendo por toda a minha vida. Uma mescla de respeito e
responsabilidade bem grande dentro do meu coração. Ambos eu espelho em minha arte, nas
obras que me inspiram e desenvolvo.

Por exemplo, tenho obras que apresento em qualquer lugar: rua ou teatro e eu busco atingir
qualquer tipo de pessoa. O que eu espero é só que se emocionem e não façam por meio da
obra uma dissertação acadêmica. Cada coisa em seu devido lugar.

Eu prezo o público, sou contra levar um processo de pesquisa ou um work in progress para
uma audiência em forma de espetáculo. Esse respeito eu levo como mote de vida o qual
aprendi com meus pais. Sou uma pessoa simples e as coisas que eu faço também são, mas com
acabamento e propósitos definidos.

Busco uma outra potência, usar o meu corpo sem ser usado por ele, pois os gestos estão
concentrados em atingir a sensibilidade e não o intelecto das pessoas. Acredito numa
linguagem plástica onde o teatro é visual, composto por forma e ação, onde ambos se
completam. Tento fazer uma fusão de tudo: mímica, teatro, dança (as mais variadas técnicas)
artes plásticas, figurinos etc.

Meu processo de criação tem a ver com as verdades que me habitam e as minhas inquietações
como ser humano e artista. Eu me debruço sobre causas que dizem respeito à melhoria do ser
humano e a sociedade em que vivemos.

E, a partir daí, os temas vão aparecendo e vão diretamente para o papel. Faço o registro de
tudo em uma espécie de agenda artística. A ordem destes temas e espetáculos vão de
encontro às possibilidades que a vida me apresenta. Seja uma viagem para um determinado
país, o contato com um artista específico, enfim.

Eu detenho muitos anos de estudo sobre os temas que desenvolvo, vou recolhendo material
até mesmo depois que a obra já estreou, os espetáculos ficam em repertório e sempre me dou
a possibilidade de me estruturar melhor para fazer um discurso sobre qualquer dos temas em
questão nas obras.

Essa pesquisa está inclusa desde o figurino, a luz, as músicas, coreografia, tudo. A obra fica
pronta na minha cabeça e vou amadurecendo ao longo do tempo. E faço isso com muitas
coisas ao mesmo tempo. Sou muito detalhista.

Arte Imortal

Podemos ver por meio da história da humanidade que a arte é imortal, ela se renova. O Butoh
teve seu discurso de finitude com a morte de Kazuo Ohno, em 01 de junho de 2010. Após a
morte do Mestre só teremos, de fato, releituras de butoh.
Kazuo Ohno nos instigou por meio de seus discursos e exemplo de vida, que devemos
alimentar a verdade que existe dentro de nós, a verdade essencial da vida, da arte, que
transforma o ser humano para algo melhor.

É como que, se em meio a este memento mori (expressão em Latim que significa “lembre-se
que você morrerá”), pudéssemos ter o controle de nossas vidas para que pudéssemos parar o
tempo e tivéssemos suficientes oportunidades aqui neste “plano” para concretizar esse
aprendizado mesmo com todos os nossos erros como seres humanos. Mas isso não acontece.
A arte nos possibilita isso!

Como o desenho do Ensō e pintado aberto (desenho budista que se trata de um “círculo” cujo
significado é iluminação, elegância, força, universo e o vazio), permitindo-nos uma infinidade
de possibilidades, mesmo com imperfeições que é um aspecto essencial e inerente da
existência.

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