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DEBATE DEBATE
O papel da avaliação para a tomada de decisão
na gestão de serviços de saúde

The role of evaluation in decision-making


in the management of health services

Oswaldo Yoshimi Tanaka 1


Edson Mamoru Tamaki 2

Abstract The management of health services is a Resumo A gestão de serviços de saúde é uma prá-
complex administrative practice due to the tica administrativa complexa em função da am-
breadth of the field of health and the need to rec- plitude desse campo e da necessidade de conciliar
oncile individual, corporate and collective inter- interesses individuais, corporativos e coletivos nem
ests that are not always convergent. In this con- sempre convergentes. Nesse contexto, a avaliação
text, the evaluation needs to have specific charac- necessita ter características particulares para po-
teristics in order to fulfill its role. The scope of this
der cumprir com o seu papel. O objetivo deste estu-
study was to establish the characteristics that the
evaluation for the management of health services do foi o de estabelecer as características que a ava-
should have to contribute to decision-making. liação para a gestão de serviços de saúde deve pos-
Usefulness, opportunity, feasibility, reliability, suir para contribuir para a tomada de decisão.
objectivity and directionality represent the set of Utilidade, oportunidade, factibilidade, confiabili-
principles upon which the evaluation should be dade, objetividade e direcionalidade constituem o
based. Evaluations should lead to decisions that conjunto de princípios que deve ancorar essa ava-
guarantee not only their efficiency and effective- liação. Uma avaliação que conduza a decisões que
ness but also their implementation. The evalua- garantam não somente a sua eficiência e eficácia,
tion process should ensure that decisions involve mas também a sua implementação. O processo ava-
all stakeholders in order to render the implemen- liativo deve buscar que as decisões tomadas levem
tation of decisions feasible, and take into account
em consideração as necessidades de saúde da popu-
the health needs of the population and the goals
set for the services. The scope of this article is to lação, as metas definidas pelos serviços e que en-
elicit a debate among different stakeholders in the volvam todos os interessados de forma a tornar
evaluation in the hope that it can contribute to viável a implementação das decisões tomadas. O
the reflection on the real usefulness of evaluations presente artigo tem o propósito de desencadear um
1
in which the political component in management debate entre os distintos interessados em avaliação
Faculdade de Saúde
Pública, Universidade de has been increasingly prevalent. na expectativa de que possam contribuir na refle-
São Paulo. Av. Dr. Arnaldo Key words Evaluation of health services, Man- xão quanto à real utilidade da avaliação em que o
715, Cerqueira César. agement of health services, Decision-making, componente político na gestão tem sido cada vez
01246-904 São Paulo SP. Evaluation process
oytanaka@usp.br mais predominante.
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Departamento de Saúde Palavras-chaves Avaliação de serviços de saúde,
Coletiva, Centro de
Gestão de serviços de saúde, Tomada de decisão,
Ciências Biológicas e da
Saúde, Universidade Federal Processo avaliativo
de Mato Grosso do Sul
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Tanaka OY, Tamaki EM

Introdução constatam que elas conferem à avaliação, quer


seja ela administrativa quer seja científica, um
A gestão de serviços de saúde constitui uma prá- objetivo – subsidiar a tomada de decisão. A aplica-
tica administrativa que tem a finalidade de oti- bilidade do ato de avaliar integra o seu conceito.
mizar o funcionamento das organizações de for- A gestão envolve a melhoria do funcionamen-
ma a obter o máximo de eficiência (relação entre to das organizações e para isso ela tem que en-
produtos e recursos empregados), eficácia (atin- contrar a melhor combinação possível dos re-
gir os objetivos estabelecidos) e efetividade (re- cursos disponíveis para atingir os seus objetivos.
solver os problemas identificados). Nesse pro- Encontrada essa combinação, ela é instituciona-
cesso o gestor utiliza conhecimentos, técnicas e lizada através da formalização de estruturas, pro-
procedimentos que lhe permitem conduzir o fun- cessos, rotinas, fluxos e procedimentos.
cionamento dos serviços na direção dos objeti- Toda essa construção é concebida visando
vos definidos. obter um funcionamento otimizado em um con-
A avaliação constitui um instrumento essen- texto complexo, caracterizado pelo conjunto de
cial de apoio à gestão pela sua capacidade de fatores que condicionam a saúde e a doença e
melhorar a qualidade da tomada de decisão. que produz, permanentemente, situações não
Apesar disso, o seu uso ainda é incipiente na ges- previsíveis que exigem a tomada de decisões. Há
tão de serviços de saúde1-3. a necessidade de dar respostas a essas situações a
Um obstáculo para uma utilização mais am- fim de manter o funcionamento ou melhorar os
pla da avaliação na tomada de decisão nos servi- níveis de eficiência e eficácia dos serviços.
ços de saúde é que a sua implementação requer Avaliar consiste fundamentalmente em fazer
recursos e tempo, o que dificulta a sua utilização um julgamento de valor a respeito de uma inter-
para problemas que necessitem de soluções ime- venção ou sobre qualquer um dos seus componen-
diatas. Nessas situações, que são frequentes quan- tes com o objetivo de ajudar na tomada de decisão6.
do se trata da saúde de pessoas e da população, Nesse sentido, o papel da avaliação no processo
somente a existência de um conhecimento acu- de gestão é o de fornecer elementos de conheci-
mulado, decorrente de avaliações passadas ou mento que subsidiem a tomada de decisão, pro-
previamente planejadas, pode contribuir para a piciando o aumento da eficiência, eficácia e efeti-
tomada de decisão. vidade das atividades desenvolvidas pelo serviço
A capacidade da avaliação de contribuir para ou pela organização.
o aperfeiçoamento do processo de decisão na saú- A tomada de decisão é uma responsabilidade
de se confronta com a complexidade do campo, e uma competência formal do gestor que, além
caracterizado pelos múltiplos fatores que condi- das informações obtidas no processo avaliativo,
cionam a saúde e a doença, o que faz com que a utiliza o conhecimento pessoal que possui (refe-
sua construção seja revestida de características e rências técnicas, políticas, institucionais, sociais,
se paute em princípios próprios para produzir os culturais entre outras) ou a percepção que tem
resultados esperados na saúde da população. do problema, forma uma convicção e toma uma
decisão, mobilizando recursos necessários.
Avaliação e o processo de gestão A tomada de decisão na gestão em saúde é
complexa e permeada de subjetividade e incerte-
A avaliação pode ser referida como um co- zas. Paim e Teixeira7, referindo-se à área de polí-
nhecimento produzido no campo teórico-meto- ticas, planejamento e gestão em saúde, ressaltam
dológico aplicável a um objeto quando há a ne- essas características afirmando que: há momen-
cessidade de emitir um julgamento de valor, in- tos em que faltam conhecimentos para a tomada
dependentemente do uso que será feito do seu de decisões, outros em que há conhecimentos sufi-
produto. Essa concepção de avaliação cria um cientes, mas as decisões são adiadas e, ainda, exis-
campo próprio de conhecimento para avaliação, tem aqueles em que as decisões são necessárias mes-
aumentando a sua interface com o campo da mo diante de escassas evidências.
pesquisa4.
No entanto, a maior parte das definições de A Avaliação para a Gestão de Serviços
avaliação se apresenta de forma indissociável ao de Saúde - AGSS
processo de tomada de decisão ou à sua aplica-
ção no campo da gestão. Essa observação é cor- Abordar a gestão de serviços de saúde consti-
roborada por Matida e Camacho5 que, anali- tui um desafio, pois os serviços de saúde são es-
sando o contexto das pesquisas de avaliação, truturas organizacionais complexas extremamen-
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te diversificadas, constituídas por profissionais e a) Utilidade. A avaliação para a gestão de
tecnologias organizados para a atenção à saúde serviços de saúde tem como fundamento central
da população. Por outro lado, os serviços de saú- a sua utilidade no funcionamento dos serviços
de constituem objetos que desafiam categorizações de saúde. Ela tem que subsidiar tomadas de deci-
e dificultam as análises que buscam identificar e são que tragam soluções aos problemas dos ser-
mensurar a sua participação e o seu impacto sobre viços que estão impedindo atingir os objetivos
os problemas de saúde de populações especificadas2. fixados ou que estão dificultando a obtenção de
A gestão dos serviços de saúde tem que levar um maior impacto na saúde da população.
em consideração tanto questões internas – orga- b) Oportunidade. A avaliação tem que ser
nização e funcionamento do serviço – como feita em tempo para que os seus resultados pos-
questões externas – o seu papel no sistema de sam ser utilizados na tomada de decisão, ou seja,
saúde e o impacto na saúde da população. É um o prazo para a sua execução vai ser o tempo exis-
papel próprio da área de políticas, planejamento tente entre a demanda da avaliação e o momento
e gestão que, no âmbito da saúde coletiva, expressa da tomada de decisão.
com mais clareza a dupla dimensão (saber e práti- c) Factibilidade. A avaliação tem que ser não
cas) do campo, ou seja, o fato de que o conheci- somente viável em termos técnicos, econômicos
mento produzido responde a problemas e desafios e políticos, mas também tem que ter a capacida-
colocados pelos sujeitos em sua ação política em de de produzir os efeitos esperados das decisões
determinados contextos históricos7. tomadas, ou seja, tem que ser pragmática em
termos de fazer escolhas viáveis e sobre as quais
Caracterização da Avaliação tenha governabilidade.
para a Gestão de Serviços de Saúde d) Confiabilidade. Como um processo que
A avaliação para a gestão de serviços de saú- visa subsidiar tanto a tomada de decisão como a
de é um processo técnico-administrativo e político sua implementação, a avaliação tem que ser re-
de julgamento do valor ou mérito de algo, para vestida de racionalidade, coerência e consistência
subsidiar a tomada de decisão no cotidiano, o que a fim de que ela possa ser considerada válida e
significa produzir informações capazes de apoiar aceita por todos aqueles que estão envolvidos na
uma intervenção de forma oportuna8. É baseada decisão e na sua execução.
na utilização de métodos e técnicas de pesquisa e) Objetividade. Considerando a existência
na sua concepção, formulação e implementação. de limites para a sua realização, a avaliação para
A AGSS tem origem no momento em que há a a gestão deve buscar o melhor conhecimento e o
identificação de uma situação circunscrita, identifi- maior aprofundamento possível dentro do tem-
cada como problema, a partir da definição do propó- po e dos recursos disponíveis. Isso significa que,
sito. Isto significa que a avaliação deve ser compre- nessas condições, a obtenção da maior contri-
endida como um instrumento ou ferramenta da ges- buição possível para a tomada de decisão é mais
tão para enfrentar e resolver um problema do serviço importante que a busca de uma maior validade
ou do programa de saúde, ou seja, tem por finalidade da avaliação.
propiciar um processo de decisão oportuno no tem- f) Direcionalidade. A avaliação para a ges-
po, com confiabilidade e abrangência de informa- tão de serviços de saúde tem que conduzir, em
ções, segundo objetivos das distintas audiências8. todos os espaços possíveis, as escolhas na dire-
A avaliação deve ter a objetividade necessária ção da resolução dos problemas que deram ori-
para tornar o processo factível dentro do tempo gem ao processo avaliativo, da satisfação das ne-
e dos recursos disponíveis, mesmo que para isso cessidades da população e da implementação das
seja necessário simplificar processos, limitar a políticas do setor.
profundidade do estudo e relativizar a precisão e
abrangência dos resultados, preservando o que Delineamento da Avaliação
lhe é essencial: a contribuição para a tomada de para a Gestão de Serviços de Saúde
decisão e para a sua implementação.
O fornecimento de informação em tempo
Princípios da Avaliação hábil para o gestor é imprescindível para a me-
para a Gestão de Serviços de Saúde lhoria qualitativa das decisões. Se houver um
Para estruturar um processo avaliativo que conhecimento acumulado de pesquisas, estudos
tenha a capacidade de atingir os objetivos da e avaliações passadas, o procedimento adequa-
AGSS é necessário que um conjunto de princípi- do consiste na apropriação desse conhecimento
os seja levado em consideração: e a sua utilização no processo de decisão. Se não
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Tanaka OY, Tamaki EM

houver, faz-se necessário estruturar um proces- aspectos e que direcione as decisões e as ações
so avaliativo o mais consistente possível dentro para propiciar o máximo de benefício à saúde da
do tempo e dos recursos disponíveis. população. Uma tarefa que faz com que cada
Na rotina dos serviços de saúde a necessida- avaliação seja um caso particular que requer cria-
de de resolver problemas de saúde da população tividade por parte do investigador/avaliador na
ou de satisfazer às demandas de usuários limi- formulação da melhor estratégia, na seleção da
tam o tempo para a tomada de decisão, pois é abordagem, na definição de níveis e atributos, bem
necessário dar respostas às situações que já estão como na seleção de critérios, indicadores e padrões9.
sendo vivenciadas pelo gestor. Isso faz com que
as avaliações tendam: a ser executadas com rapi- Formulação do objetivo
dez; a utilizar as informações e os conhecimento e condução da avaliação
já disponíveis; a utilizar instrumentos metodo- Sem uma clara pergunta avaliativa, como pon-
lógicos que se adéquem ao tempo e recursos exis- to de partida, não se produz uma avaliação e sim
tentes; a reduzir e simplificar os elementos a se- um diagnóstico10. No âmbito da AGSS essa afir-
rem estudados; e a utilizar um grau de precisão mação ganha importância, pois a falta de clareza
(nível de confiança) dos resultados suficiente para na formulação da pergunta avaliativa propiciará
a decisão a ser tomada. o acúmulo de dados e de informações que pode-
Ao discutir a avaliação como instrumento de rão melhorar o conhecimento do problema e do
gestão no contexto de programas e serviços de saú- objeto de avaliação, mas não desencadeará uma
de, é preciso definir quem toma decisões. Sem a tomada de decisão que venha alterar a situação
identificação de quem participa do processo deci- de saúde da população.
sório, a avaliação se torna apenas um diagnóstico O conhecimento do contexto da avaliação é
de uma dada situação e não contribuirá para a essencial para estabelecer o seu objetivo, o que re-
modificação da situação avaliada. (...). Nesse sen- quer não apenas a identificação de perguntas e for-
tido, o julgamento de valor resultante da avaliação mulação de hipóteses, mas, antes, a verificação do
deverá ter uma audiência claramente identifica- conjunto de atores envolvidos, dos recursos disponí-
da, pois esta atua como sustentadora (stakehol- veis, do grau de complexidade do problema e das ações
ders) não só do processo de avaliação, como das e, em particular, a concordância de perspectivas en-
decisões que serão modificadas ou mantidas a par- tre quem pleiteia a avaliação e quem a executa5.
tir de tais resultados8. A tomada de decisão não Esse conhecimento é necessário para que a
basta para resolver um problema, pois somente avaliação seja viável e tenha a capacidade de en-
com a execução das ações decorrentes da decisão frentar o que Contandriopoulos cita como o
é que esse objetivo será atingido. grande desafio da avaliação: conseguir incorpo-
O envolvimento da audiência ganha uma rar nas suas estratégias os pontos de vista de atores
importância estratégica. A AGSS deve privilegiar em diferentes posições, a fim de fornecer às instân-
a construção de um processo avaliativo onde cias de decisão as informações de que precisam para
todos aqueles que participam ou que serão afe- fazer um julgamento o mais amplo possível1.
tados pelas ações desencadeadas pela tomada e A avaliação tem que convergir para as neces-
implementação da decisão, tornem-se partícipes sidades da audiência da avaliação, ou seja, não só
e interessados pelos resultados da avaliação. Esse aqueles que são responsáveis pela tomada de de-
interesse será a garantia do uso da avaliação na cisão, mas também aqueles que serão responsá-
gestão dos serviços de saúde que, para evitar dis- veis pela implementação das ações decorrentes da
torções, isenção e aceitação deve ser participati- decisão tomada. Pelo fato de constituir uma ca-
vo, democrático e não hierarquizado1. deia de eventos, se um deles não executar a tarefa
A concepção do processo avaliativo tem que que lhe é devida a ação não será concretizada.
estar sintonizada com o contexto do objeto a ser O produto dos serviços de saúde constitui
avaliado, com as necessidades de saúde da popu- algo que é parte integrante do usuário do serviço
lação, com as escolhas do problema de saúde, de saúde10, ou seja, se não houver a utilização dos
com a identificação dos atores que têm poder de serviços pela população não há a produção de
tomar as decisões, com os que têm a capacidade saúde. Sob essa perspectiva, se evidencia a im-
técnica de implementá-las e com as políticas, es- portância de ir ao encontro das necessidades de
tratégias e prioridades do setor saúde. O avalia- saúde e quem melhor pode expressá-las é a pró-
dor tem de conceber um processo avaliativo atra- pria população. Portanto, cabe ao avaliador a
vés da escolha de metodologias, indicadores e de responsabilidade de incorporar direta ou indire-
parâmetros que contemple essa diversidade de tamente a população-alvo na formulação do pro-
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cesso avaliativo, particularmente nas fases de iden- d) ter a capacidade de mobilizar recursos, ou
tificação dos problemas de saúde, de formula- seja, sem esse atributo o indicador não terá o
ção da pergunta avaliativa e na definição dos in- efeito de mobilizar aqueles que têm o poder de
dicadores e parâmetros a serem utilizados. decidir e implementar as ações;
O papel principal do avaliador será o de im- e) constituir um conjunto limitado de indi-
primir uma direcionalidade à decisão e de cons- cadores (03 a 05 indicadores para cada pergunta
truir a viabilidade da sua implementação. Na vi- avaliativa) a fim de viabilizar a sua obtenção, a
abilização da implementação da decisão a direci- análise e a compreensão pelos gestores e demais
onalidade poderá ser dada por meio do envolvi- interessados na avaliação;
mento não somente dos que tomam as decisões f) ter aceitabilidade pela audiência a fim de que
mas também dos que as implementam e dos que os seus resultados sejam legitimados e utilizados
são beneficiados por essas decisões. pelos gestores e técnicos envolvidos na ação; e
g) possuir uma parâmetro correspondente
Estabelecimento de indicadores pois para se chegar ao juízo de valor, que é o pres-
e parâmetros suposto da avaliação, é imprescindível a compara-
Os indicadores são variáveis que visam for- ção com parâmetros definidos. Para isso é necessá-
necer a melhor imagem possível de um objeto, rio que, ao escolher os indicadores, se defina clara-
no entanto, considerando as inúmeras facetas mente com quê estes serão comparados13.
com que ele pode ser observado, podem existir O conjunto de indicadores escolhidos deverá
inúmeros conjunto de indicadores que poderão refletir fidedignamente o objeto e contemplar
formar essa imagem. Em face desse rol de possi- adequadamente a finalidade e os objetivos da
bilidades, a escolha dos indicadores que serão avaliação.
utilizados em uma avaliação constitui uma das O campo da avaliação em saúde conta com
tarefas críticas do avaliador. referenciais teórico-metodológicos e instrumen-
Segundo a Organização Mundial da Saúde11, tais de pesquisa que, como em qualquer outro
na escolha de um indicador deve ser levada em campo de conhecimento, são passiveis de direci-
consideração a sua validade (medir efetivamente onamentos intencionais. Moraes, citado por San-
o que pretende medir), a sua fiabilidade (apre- tos-Filho14 ressalta que os indicadores refletem o
sentar o mesmo resultado mesmo que seja utili- sistema de valores do profissional que os constrói, o
zado por pessoas ou em circunstâncias diferen- que implica em que formule certas hipóteses e per-
tes), a sua sensibilidade (capacidade de captar guntas e não outras. Nesse sentido, cabe ao avali-
mudanças na situação ou no objeto estudado), e ador fazer com que as políticas, os princípios e as
sua especificidade (refletir mudanças apenas no estratégias institucionais (em contraposição aos
objeto que está sendo estudado). Em função da pessoais) sejam contemplados no momento da
aplicação que será feita dos indicadores, a esses concepção do processo avaliativo.
atributos podem ser agregados outros como os O poder de escolha dos critérios, parâmetros
citados pela RIPSA (Rede Interagencial de Infor- e indicadores de avaliação faculta ao avaliador
mações para a Saúde)12: mensurabilidade (base- uma capacidade de direcionar o processo avalia-
ar-se em dados disponíveis ou fáceis de conse- tivo para decisões que garantam não somente a
guir); relevância (responder a prioridades de saú- pertinência, a coerência e a consistência da avalia-
de); e custo-efetividade (os resultados justificam ção, mas também a sua aderência às necessidades
o investimento de tempo e recursos). da população. Ao escolher os indicadores de re-
Para atingir os objetivos estabelecidos, os in- sultado sobre o nível de saúde da população, ao
dicadores a serem utilizados na AGSS também invés dos indicadores de processo, o avaliador
requererem alguns requisitos particulares: estará contemplando a atenção às necessidades
a) ter a capacidade de dar resposta à pergun- de saúde e não a oferta de serviços de saúde.
ta avaliativa; Na avaliação, o julgamento de valor ocorre
b) ter um poder de síntese, isto é, ... a maior no momento em que é feita uma comparação
capacidade possível de descrever e permitir a aná- entre o conhecimento obtido do objeto e os valo-
lise do fenômeno, ou das relações deste com os ou- res de referência estabelecidos. Há uma interde-
tros eventos do serviço ou do programa de saúde8; pendência, portanto, entre um indicador e o seu
c) ser factível, ou seja, passível de ser obtido respectivo parâmetro de forma que a inexistência
em tempo para subsidiar o processo de decisão, de um invalida a utilização do outro. A escolha
respeitadas as limitações de tempo e recursos prévia do parâmetro direcionará o detalhamento
existentes para esse fim; necessário para a construção do indicador, pois per-
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Tanaka OY, Tamaki EM

mitirá que a seleção de indicadores tenha a abran- disponível ou exigido para a sua utilização, ou
gência necessária para a emissão do juízo de valor8. seja, A avaliação deve fornecer as respostas aos to-
Na AGSS os parâmetros são índices quanti- madores de decisão em tempo para que elas sejam
tativos ou qualitativos estabelecidos como refe- levadas em conta em suas decisões. Uma informa-
rência para serem alcançados com os esforços ção perfeita de uma avaliação ideal é inútil se ela
empreendidos para esse fim. Eles devem ser esta- chega depois que a decisão já tenha sido tomada,
belecidos nas condições reais em que as ações uma situação muito frequente3.
são desenvolvidas. Um parâmetro se diferencia, Nessas condições, deve-se buscar a utilização
portanto, de um padrão pelo fato de que este se de pressupostos, metodologias e instrumentos os
refere a um índice estabelecido em condições ide- mais apropriados aos fins da avaliação, ou seja,
ais. A utilização de padrões como parâmetros utilizar desenhos relativamente abertos e específi-
trazem vieses na avaliação dos serviços de saúde, cos para cada tipo de aproximação e apreensão da
pois, considerando que condições ideais no cam- realidade buscada15 e utilizar níveis de confiança
po da saúde são raras, essa utilização poderia mais flexíveis, mas que sejam suficientes para tra-
conduzir a juízos de valor desfavoráveis a uma zer melhorias na tomada de decisão. Nesse últi-
adequada tomada de decisão. mo aspecto, Habicht et al. são enfáticos: Em qual-
Assim como para os indicadores, o estabele- quer situação o sacrossanto limite de significância
cimento de parâmetros também constitui uma de 5% precisa ser questionado antes de ser aceito
atividade crítica, pois o julgamento de valor emi- automaticamente. [...]. Explicitar os níveis do per-
tido na avaliação depende de sua adequada ins- centual de erro que são apropriados para o tomador
tauração. Entende-se por adequado aquele parâ- de decisão é, de fato, mais científico do que ir acei-
metro que: tenha correspondência com o indica- tando cegamente os níveis convencionais3.
dor escolhido; considere os recursos disponíveis A utilização de dados secundários para a
e/ou passíveis de serem mobilizados; seja aceito AGSS, particularmente os proporcionados pelas
pelos gestores, técnicos e por outros interessados bases de dados sobre informações de saúde exis-
na avaliação; e seja factível de ser atingido com os tentes no país, constitui uma vertente importan-
esforços empreendidos para esse fim no contexto te nos estudos avaliativos. Essa alternativa mere-
real em que a ação é desenvolvida. É o parâmetro ce ser fortemente encorajada pela disponibilida-
que permite comparar os resultados obtidos e que de de informações, de custo, de rapidez na ob-
assegura a distinção essencial entre a avaliação e a tenção de resultados e de potencial de impacto
mera análise de situação. Se a definição do parâme- nos serviços de saúde.
tro se dá depois da utilização dos indicadores, isto se A existência de um problema e a necessidade
constitui apenas numa análise em que procura en- de compreender e buscar soluções para resolvê-
tender o que foi observado através dos indicadores8. lo em um contexto multifacetado, multiprofissi-
Na gestão de serviços de saúde os parâme- onal e interdisciplinar fornece à AGSS um con-
tros mais comumente utilizados são aqueles es- junto de características que, na perspectiva de
tabelecidos como objetivos ou metas nos planos, Creswell16, caracterizam um conjunto de alega-
nos programas ou nos pactos. As áreas técnicas ções de conhecimento pragmático, ou seja: que elas
de organismos internacionais, nacionais, estadu- surgem a partir de ações, de situações e de conse-
ais, municipais, os órgãos representativos de clas- quências; que há uma preocupação com as apli-
se e de especialidades da área da saúde também cações e as soluções aos problemas; que estes são
constituem importantes fontes de parâmetros mais importantes que os métodos; e que é neces-
utilizáveis para a avaliação. sário utilizar todos os meios para entender o pro-
blema. Essas alegações levam à adoção de méto-
Abordagem e técnicas de pesquisa dos pluralistas e mistos de pesquisa, que utilizam
O processo avaliativo deve ser construído em tanto técnicas quantitativas como qualitativas.
bases lógicas, coerentes e racionais, utilizando O que torna científica uma avaliação não é a
mecanismos e instrumentos de pesquisa existen- descoberta de uma única verdade, e sim o esforço
tes de forma a garantir a sua consistência e vali- para verificar observações e validar o seu signifi-
dade, e dar confiabilidade aos atores envolvidos cado ou seus diferentes significados17. Esse aspecto
na utilização dos seus resultados e na implemen- é reafirmado por Tanaka e Melo ao explicitar que
tação da tomada de decisão. a abordagem quantitativa permite revelar aspec-
Apesar da permanente busca de dar raciona- tos gerais do fenômeno avaliado e a abordagem
lidade e cientificidade ao processo de avaliação, qualitativa centra-se na explicação de aspectos do
ela deve ser realizada dentro do limite de tempo mesmo fenômeno10 e acrescentam que, conside-
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rando a heterogeneidade e complexidade dos ser- utilização da margem de poder que cada ator
viços de saúde é aconselhável que o desenho da possui em favor da concretização da ação consti-
avaliação utilize uma mescla das abordagens me- tui uma tarefa que exige sensibilidade, pois é ne-
todológicas qualitativas e quantitativas. Isto por- cessário que os seus resultados permitam aos di-
que, ao mesmo tempo em que se complementam, ferentes atores envolvidos, que podem ter campos
permitem avaliar diferentes facetas de um mesmo de julgamento diferentes, se posicionarem e cons-
fenômeno e, dessa maneira, possibilita uma res- truírem (individual ou coletivamente) um julga-
posta mais adequada à pergunta avaliativa10. mento capaz de se traduzir em ação1.

Julgamento de valor, tomada


e implementação de decisão Conclusão
Ao longo do processo avaliativo são levanta-
dos elementos que aumentam o conhecimento A AGSS tem um compromisso com a melhoria
do objeto, das suas diversas facetas e do contex- dos níveis de saúde da população através do de-
to onde ele se situa, no entanto, na leitura e inter- senvolvimento de processos avaliativos partici-
pretação dos dados (indicadores), há que se cuidar pativos que levem em consideração tanto os ob-
para assegurar coerência de análises contextuali- jetivos dos serviços de saúde quanto as necessi-
zadas, ultrapassando o olhar sobre as estatísticas dades de saúde da população.
como resultados finais, isolados, neutros, e dialo- É uma forma de contribuir para a obtenção
gando com as interpretações dos sujeitos envolvi- de resultados concretos na saúde dos usuários
dos, à luz das lógicas culturais, relações institucio- dos serviços de saúde, portanto, para subsidiar
nais e estruturas sociais14. o processo de tomada de decisão, a avaliação deve
A subjetividade presente na avaliação pode ser ser direcionada tecnicamente para as principais
reduzida, mas jamais eliminada, pois na emissão necessidades de saúde, respeitando os princípios
do julgamento final, além dos dados objetivos ob- constitucionais da política de saúde do país, e de
tidos no processo avaliativo, é necessário levar em conduzir o seu desenvolvimento de forma a cons-
conta a influência dos valores próprios do avalia- truir a viabilidade da implementação das ações
dor, os seus princípios, crenças e convicções. Como resultantes das decisões tomadas.
ela não pode ser evitada, não se deve buscar anular Utilidade, oportunidade, factibilidade, confia-
ou esconder esta subjetividade, mas torná-la a mais bilidade, objetividade e direcionalidade constituem
explícita possível8. A clareza do alcance e dos limites o conjunto de princípios que permitem a estrutu-
contribui para a confiabilidade de uma avaliação. ração de processos avaliativos na lógica da AGSS,
Os resultados da avaliação têm que respon- ou seja, processos potencialmente capazes de pro-
der à questão que o gestor se coloca. Eles não se piciar impactos efetivos na saúde da população.
traduzem automaticamente em uma decisão, mas A dinâmica dos serviços de saúde dificulta a
espera-se que as informações produzidas contribu- realização de avaliações em função da necessida-
am para o julgamento de uma determinada situa- de de se tomar decisões no momento em que os
ção com maior validade, influenciando positiva- problemas acontecem ou são identificados. Nes-
mente as decisões, para isso ela tem que ser perti- se contexto, para que a AGSS possa atingir os
nente, ter fundamentação teórica e credibilidade1. seus objetivos, ela terá que se tornar em uma
A tomada de decisão é o momento em que o ação permanente na prática dos serviços.
gestor recebe os resultados da avaliação e decide A incorporação da lógica da avaliação no co-
sobre as ações a serem empreendidas para solu- tidiano de todos aqueles que têm o poder de deci-
cionar o problema que lhe deu origem. Esse mo- dir e de implementar ações será condição essenci-
mento também é revestido de subjetividade, pois al para a institucionalização da avaliação na ges-
o gestor tem que contextualizar os resultados da tão dos serviços de saúde. No entanto, algumas
avaliação dentro dos vários cenários e fatores questões precisam ser exploradas no campo da
que lhe são próprios: questões estratégicas, polí- avaliação para a implementação desta estratégia:
ticas, econômicas, circunstanciais (oportunida- - Qual a possibilidade real de que a avaliação
des), enfim, os diversos fatores que afetam a ges- seja utilizada e valorizada como um instrumento
tão de um serviço, e formar uma convicção que racionalizador da tomada de decisão na gestão
lhe permitirá tomar a decisão. em saúde?
Para que o problema seja efetivamente resol- - Como contemplar na avaliação da gestão
vido é necessário que todos os atores envolvidos as contradições existentes no processo de cons-
na execução da decisão realizem a sua parte. A trução do SUS?
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Tanaka OY, Tamaki EM

- Quais os cuidados necessários para que a


avaliação da gestão seja concluída no tempo po-
litico da decisão sem que haja perda da confiabi-
lidade das informações apresentadas?
- Será possível a avaliação da gestão com pou-
cos indicadores?
As questões apresentadas merecem um pro-
cesso de reflexão que possibilite identificar os li-
mites e alcances da presente proposta de avalia-
ção da gestão.

Colaboradores

OY Tanaka e EM Tamaki participaram igualmen-


te de todas as etapas de elaboração do artigo.

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