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ANTROPOLOGIA SOCIAL
Diretor: Gilberto Velho ·~- -PETER FRY
Professor de Antropologia do Instituto
de Ciências Humanas da UN ICAMP

História Social da Criança e da Família (2~ ed.)


Philippe Aries
PARA
Uma Teoria da Ação Coletiva
Howard S. Becker
Carnavais, Malandros e Heróis (3~ ed.)
Roberto Da Matta
Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande
INGLtS
VER
E.E. Evans-Pritchard
Elementos de Organização Social
Raymond Firth
A t nterpretação das Culturas
Clifford Geertz
Estigma: Notas sobre a Manipulação
da Identidade Deteriorada (3~ ed.)
Erving Goffman
IDENTIDADE E POLITICA

O Palácio do Samba
. Maria Júlia Goldwasser
A Sociologia do Brasil Urbano
NA CULTURA BRASILEIRA
Anthony e Elizabeth Leeds
Cultura e Razão Prática
Marshall Sahlins
Movimentos Urbanos no Rio de Janeiro
Carlos NeJson Ferreira dos Santos
Arte e Sociedade
Gilberto Velho
Desvio e Divergência (4~ ed.)
Gilberto Velho
Individual-ismo e Cultura: Not3s para uma
Antropologia da Sociedade Contemporânea
Gilberto Velho .
Guerra de Orixá {2~ ed.) ZAHAR EDITORES .
Yvonne M.A. Velho . RIO DE JANEIRO
46 para inglês ver

Landes, R.
1947 City of Women, Nova York.
Marshall, L.S. i
[s/d] The Development of Publié Opinion in Manchester 1780-1820, Syracuse,
Syracuse U.P.
'\ Mott, Y.T.
197 6 "Caridade e demanda". Dissertação de mestrado, Universidade .Estad uai de capítulo II
'f-. Campinas, mimeo.
Rodrigues, N. FEIJOADA E "SOUL FOOD": NOTAS SOBRE
1935 O Animismo Fetichista dos Negros Baianos, Rio, Civilização Brasileira. A MANIPULAÇÃO DE SIMBOLOS ÉTNICOS E NACIONAIS*
Rio, J. do
'f- 1906 As Religiões do Rio, Rio, Garnier.
Semmel, B.
1974 The Methodist Revolution, Londres, Heinemann.
Schwartz, R.
1977 Ao Vencedor as Batatas, São Paulo.
Skidmore, T.E. Em julho último, em Nova York, decidi oferecer a meus amigos um prato
1967 Politics in Brasil, J 930-1964: An experiment in democracy, Londres, Oxford brasileiro típico. Com muita dificuldade consegui encontrar feijão-preto,
University Press. costeletas de porco defumadas, couve e demais pertences e assim pude pre-
Stigant, P. . . . · ,, parar uma feijoada, que servi com a devida pompa. Foi aí que um de meus
1971 "Wesleyan methodism and working class rad1calism m the North, l 792-1821 , amigos, um preto do Alabama, depois de ter cuidadosamente olhado e
in Northern History, VI.
cheirado a travessa, destruiu todo o suspense observando que se tratava
Thomas, K. . simplesmente da comida à qual estava acostumado desde criança. O que é,
197 3. Religion and t he Decline of Magic, Harmondsworth, Peng um Books.
no Brasil, um prato nacional é, nos Estados Unidos, sou! food.
Thompson, E.P. 8
1967 "Time, work-discipline and the industrial revolution", in Past and Present, 3 , Está claro que a origem do prato é a mesma nos dois países, pois em
pp. 56-97. . ambos este item da cultura culinária foi elaborado pelos escravos utilizan-
1968 The Making of the English Working Class, Harmondsworth, Pelican. do as sobras do porco desprezadas por seus senhores. A diferença está no
Ward, W.R. significado simbólico do prato. Na situação brasileira, a feijoada foi incor-
1972 Religion and Society in Eng/and 1790-1850, Londres, B.T. Batsford. porada como símbolo da nacionalidade, enquanto nos Estados Unidos se
Warner, B.J. tornou símbolo de negritude, no contexto do movimento de liberação
1930 The Wesleyan Movement in the Industrial Revolution. negra. .
Weffort, F.C. ·z· - B ·1 ·
1966 "Raízes sociais do populismo em São Paulo", in Revista Civi izaçxio rasz eira, Mas a feijoada não é o único exemplo de assimilaç1lo , por parte da
2, pp. 39-60. sociedade brasileira em seu conjunto, de itens culturais elaborados pelos
negros. O samba e o candomblé também são, em grau maior ou menor,
Willems, E. · E N B 1k ff
utilizados como símbolos nacionais brasileiros e, como tal, exibidos em
1967 "Religious mass movcments and social change in Brazil", m . . a ano
(org.), New Perspectives of Brazil, Vanderbilt. cartazes e guias turísticos. Além disso, todos esses itens "produzidos" e
Wilson, B. elaborados pelos negros em situaçllo de dominação foram apropriados pe-
1975 Magtc and the Millenium, Londres, Pa.l adin. los "produtores" da "cultura de massas" e incorporados em filmes, long
Vergolino, A. . . plays, livros e revistas.
'< 1975 O Tambor das Flores, dissertação de mestrado, Uruvers1dade Estadual de Cam-
Gilberto Freyre usa esses exemplos, entre outros, para demonstrar
pinas, mimeo.
que a colonizaç1lo foi, no Brasil, um processo essencialmente harmónico,

* Publicado originalmente cm Ensaios de Opinião, Vol. 4, 1977. A tradução é de


Eunice Ribeiro Durham.

47
para inglês ver feijoada e "sou/ food" 49

marcado pela ausência de preconceito racial. Tratando a cultura como se giosa na· qual divindades africanas podiam se esconder atrás de máscaras de
fosse transmissível geneticamente, Freyre opõe a experiência colonial por- santos católicos. Mas, desde o início, o candomblé foi reprimido pela elite
tuguesa à francesa, inglesa e alemã, as quais, por motivos culturais, seriam dirigente. Todos os autores mais antigos que escreveram sobre o assunto
mais contaminadas pelo preconceito racial. Esse argumento alcança seu li- enfatizam a violência da repress/fo policial e o fato de que os centros de
mite em A Integração Portuguesa nos Trópicos, de 1961. Nesse livro se culto estavam escondidos em "lugares ermos e de difícil acesso" (Rodri-
desculpam quaisquer práticas racistas porventura existentes em Moçambi- gues, 1935: 63). Mas a situação não era simplesmente a de uma oposição
que como sendo "erros lamentáveis", decorrentes de uma imitação do total, uma vez que os ogãs dos centros de culto, posições honoríficas que
"arianismo" em voga entre outros povos, inclusive entre os sul-africanos da conferiam certos direitos e privilégios, eram geralmente recrutados entre
facção bôer-calvinista mais etnocêntrica (Freyre, 1961: 36), como se os a própria elite repressora. Esses ogãs ofereciam sua proteção e recebiam,
portugueses tivessem sido atacados por uma doença contagiosa, conforme em troca, votos e outros serviços. Já nessa época o candomblé, embora
a imagem utilizada por Eunice Durham. produzido pelos negros, dependia para sua existência, pelo menos em certa
medida, da elite branca.
\l Como se sabe, a ausência aparente das práticas racistas em Moçambi-
que era ilusória. O maior grau de miscigenação, por exemplo, foi mais um Situação semelhante existia no Rio de Janeiro no final do século
produto da falta de mulheres brancas portuguesas e da necessidade de esta- passado. João do Rio descreve os centros de culto nos morros e mostra
belecer alianças com os potentados negros locais do que resultado de pre- também como muitos freqüentadores eram membros da elite branca que
1 tensos traços culturais não racistas dos quais os portugueses pudessem ser buscavam comprar serviços mágicos a fim de derrubar rivais políticos ou
portadores. Gilberto Freyre comete o erro imperdoável de considerar os conseguir amantes. Ele descreve metaforicamente essa relação nos seguin-
traços culturais como variáveis independentes, abandonando a análise da tes tennos: "Somos nós que Uies asseguramos a existência, com o carinho
!
.1 situação na qual se desenvolvem. É muito significativo que essa análise de um negociante por uma amante atriz" (Rio, 1906: 26). Mais uma vez, os
pseudocientífica da colonização portuguesa tenha sido incorporadâ na ideo- cultos, embora estigmatizados pela classe dominante, eram usados por ela
logia oficial, pois "provando" desse modo que a colonização portuguesa e se tornaram, de certo modo, dependentes dela. Sinto-me tentado a inter-
era intrinsecamente diferente das demais, podia-se manter o argumento de pretar essa relação em termos da teoria de Mary Douglas sobre poluição e
que os territórios portugueses ultramarinos eram províncias da metrópole. sujeira. Mary Douglas observa que as partes da sociedade e da natureza que
Neste breve artigo, gostaria de examinar mais de perto o candomblé são classificadas como estando fora da estrutura formal de poder são con-
e o samba. Tomo como ponto de partida a observação de Eunice Durham sideradas como sujas e poluidoras. Ao mesmo tempo, entretanto, são dota-
de que "o grupo que reelabora e utiliza o p_roduto cultural _acabado_te~de das necessariamente de certos poderes e cercadas de perigos. Sugiro, por-
a ser dependente daquele que o produziu. Estando a distinção entre 12rodu- tanto, que o poder mágico atribuído à macumba e ao candomblé é um
tores e consumidores de cultura presa a uma distin5ão de classe, a re)ação corolário da posição socialmente marginal de seus produtores.
entre eles assume necessariamente uma con~tação _política, isto é,. ela tem A situação obvia-mente mudou desde essa época: muitos centros de
implicação em termos de poder." culto emergiram de seus esconderijos em "lugares ermos e de difícil aces-
No caso dos traços culturais que mencionei, os produtores originais so" para exibir-se sob os holofotes das máquinas fotográficas de turistas e
foram os grupos dominados. Será interessante, portanto, examinar o modo diretores de filme, incorporando-se à literatura popular e erudita. Há pou-
pelo qual foram assimilados, reelaborados ou rejeitados pelos outros gru- cos meses, a Igreja católica abriu suas portas à comunidade do candomblé
pos sociais, tendo em vista a sugestão de Eunice Durham de que ''as dife- baiano e a notícia foi devidamente transmitida pelas revistas de luxo. Agora
renças culturais aparecem, nllo como simples expressão de particularidades_ não é ma_is perigoso entrar para o candomblé - é chique. O que parece ter
\ do modo de vida, mas como manifesta~es_de_oposições ou aceitações q-µe acontecido é que alguns dos mais conhecidos e tradicionais terreiros foram
j 1 implicam um constante reposicionamento dos grupos sociais _na dinâmica absorvidos, não apenas pelos produtores da "cultura de massa", mas pelos
l ] das relações de classe". intelectuais, especialmente pelos antropólogos, que foram os responsáveis,
em grande parte, pela glorificaçll.O dos cultos de origem ioruba, em detri-
mento dos de proveniência "banto" e daqueles que adotaram práticas ri-
CANDOMBLÉ
tuais da umbanda em expansão. Desde o início do estudo científico sobre
Como todos sabem, o candomblé nasceu da escravidão negra. Proibidos de os candomblés, os antropólogos com tendências a explicações em termos
praticar sua religilio tradicional, os escravos desenvolveram uma fom1a reli- de genética cultural classificaram os terreiros de suposta origem ioruba co-
50 para inglês ver feijoada e "sou/ foód " 51

mo sendo, de algum modo, mais "puros" que os de origem banto (aliás, a Entretanto, apesar da oposição que ainda possa existir em relaça:o
própria categoria . banto não tem nenhum sentido neste contexto, pois aos cultos ( e que não deve ser subestimada, pois os cultos são ainda severa-
refere-se a um grupo lingüístico e não cultural). Os que tinham absorvido mente estigmatizados), está claro que o que era originalmente província
práticas não ioruba foram classificados como "impuros ou deturpados" dos negros de classe baixa foi transformado, em parte, pelos membros
(para uma discussão deste probiema consulte-se Velho, 1975). Não queren- brancos das classes médias e superiores. Os produtores originais deste item
do entrar em detalhes, acredito ser razoável afirmar que QS escritores, can- cultural foram, em certa medida, desapropriados de seu papel de liderança
tores e intelectuais contribuíram muito parn afetar o desenvolvimento e relegados à posição de "extras" adicionais.
desses centros de culto, cujos nomes é desnecessário mencionar, por serem
sobejamente conhecidos ( o que, em si, já é bastante significativo). Desse
modo, nesses centros o controle absoluto exercido por seus "produtores"
Í- SAMBA
originais foi reduzido e esses candomblés não são mais expressão de peque- t
nos grupos localizados, mas de uma verdadeira cultura nacional. f Não sou de modo nenhum um entendido em matéria de samba e sei que
Em São Paulo e no Rio de Janeiro a história é um pouco diferente. estou me arriscando a ferir sensibilidades~ Entretanto, os dados apresenta-
Aí também os cultos foram reprimidos e estigmatizados e tendiam a se dos por Maria Júlia Goldwasser em seu recente livro sobre a Mangueira
localizar em fundos de quintal de subúrbios periféricos. Em São Paulo (Goldwasser, 1976) parecem-me suficientes para os objetivos deste arti-
havia um pelotão policial especial, ligado à Delegacia de Costumes, encar- go. Golàwasser mostra a estreita relação que existe entre samba e candom-
regado da repressão do "baixo espiritismo" (Mattos, 1938). Entretanto, blé. Originalmente, quando o samba era produzido e consumido pelo povo
como mostrou Diana Brown (Brown, 1974), no Rio de Janeiro ( e penso do morro, era severamente reprimido pelo polícia e forçado a se esconder
que também em São Paulo) os cultos que "saíram dos esconderijos" foram no candomblé, então considerado ligeiramente mais aceitável. Com o tem-
aquel~s que possuíam uma forte liderança de classe média e que tinham po, entretanto, a importância crescente do carnaval provocou a transfor-
adotado medidas para "purificar" o culto de seus aspectos "africanos" mais mação da repressão em apoio manifesto. As escolas de samba desceram
óbvios. Esses líderes formaram federações que lhes permitiram eleger-se para as avenidas legitimamente e o samba passou a ser consumido por uma
deputados e senadores durante a fase populista da política brasileira. É população que ultrapassava de muito as fronteiras do morro, do Rio de
interessante notar que em São Paulo e no Rio de Janeiro (e provavelmente Janeiro ou mesmo do Brasil. O carnaval se tornou uma atração turística
em outras cidades também) as variedades de cultos afro-brasileiros aceitá- lucrativa. Goldwasser acredita que, apesar de tudo isso, a escola de samba
veis e aceitas eram justamente aquelas que eram inaceitáveis na Bahia. A da Mangueira ainda é produzida pelos mangueírenses. Entretanto, os dados
Bahia optou pela "pureza" da tradição africana, enquanto as cidades do que ela apresenta sugerem outra interpretação. Durante o período populis-
Sul escolheram a "pureza" das inovações de classe média. ta, a Mangueira ganhou um terreno onde podia realizar os ensaios. Mais
Novas mudanças se produziram depois dos acontecimentos de mar- tarde, esse terreno foi vendido à escola que, assim, endividou-se com o
1
,· capital. Mais tarde, a Mangueira decidiu construir seu Palácio do Samba. O
ço de 1964. Mas é interessante notar que um dos meios de que o governo
de São Paulo lançou· mão para adquirir uma certa legitimidade post hoc foi projeto foi desenhado, financiado e executado pela "zona sul". Desde en-
promover festivais de umbanda. Isto ocorreu particularmente durante o tão, a Mangueira tem se preocupado tanto com o pagamento de suas pres-
governo de Laudo Natel, quando os órgãos oficiais providenciaram acomo- tações como com a produçao de um desfile de carnaval vitorioso. Agora,
dações públicas para os festivais em honra de Ogum (São Jorge) e Oxossi o antigo período de "entressafra", entre um carnaval e outro, está todo
(São Sebastião). Mas, se o governo favorecia essa estratégia, o mesmo não tomado com "ensaios" que atraem "turistas" da zona sul, os quais, por sua
acontecia com outros setores da população. O jornal O Estado de São Pau- vez, fornecem o dinheiro necessário ao pagamento da dívida contraída
lo, representante da respeitabilidade burguesa, sentiu-se no dever de publi- com a zona sul. A autonomia da Mangueira como ·produtora de sambas e
car veementes editoriais que denunciavam o escândalo representado pelo desfiles foi portanto afetada pelos produtores da "cultura de massa" que,
apoio do governo estadual a esse "fenômeno brasileiro de regressão cultu- talvez sem querer, usaram seus recursos financeiros para assegurar que o
ral". O mesmo jornal manifestava igualmente seu desprezo por certos "si- samba seja produzido do modo que desejam, quando desejam. Goldwasser
muladores da cultura, quase sempre 'intelectuais de esquerda' que tentam insiste que os mangueirenses ainda são "donos de si próprios", mas eu te-
para estas manifestações de primarismo ousadas explicações sociológicas" nho a impressão de que se trata de uma ilusão. A interpretaça:o que me
1 parece mais adequada é a de que, embora a gente da Mangueira ainda apa-

,~\
(O Estado de São Paulo: O1/04/73).
ff ~ ~ -::, pa,a ;ng!ê, ~,
feijoada e "sou/ food" 53

UI rentemente produza seu próprio samba e desfile, essa produção se faz no apenas oculta uma situação de dominação racial mas torna muito mais diff-
•, interesse de outro grupo, que denominei, metaforicamente , de "zona sul". cil ·a tarefa de denunciá-la. Quando se convertem símbolos de "fronteiras"
Como ocorreu com o candomblé na Bahia, o samba não é mais simples- étnicas em símbolos que afirmam os limites da nacionalidade, converte-se
mente a expressão cultural de um pequeno grupo localizado. Transformou- o que era originalmente perigoso em algo "limpo", "seguro" e "domesti-
se num símbolo nacional e isto não apenas pela infiltração da zona sul em cado". Agora que o candomblé e o samba são considerados chiques e res-
atividades puramente culturais, mas pela sut il manipulação do capital. peitáveis, perd'eram o poder que antes possuíam. Não existe sou! food no
Quem está endividado financei ramente torna-se dependente politicamente.
Brasil.
O que fiz até agora foi enfatizai deliberadamente um lado da moeda.

'
Tentei mostrar de modo muito esquemático como dois itens culturais, pro-
duzidos originalmente por negros, foram sutilmente apropriados pela bur- REFERÊNCIAS
guesia branca e t ransformados em instituições nacionais lucrativas (tanto 1
econômica quanto politicamente). Sugeri que os produtores originais des- Brown, D.
ses itens culturais se transfomrnram, de certo modo, em .empregados dos
novqs produtores e estimuladores da "cultura de massa". Naturalmente, 1 1974 Umbanda: Politics of an Urban Religious Movement. Tese de doutorament o
inédita, Columbia University.
Douglas, M.
reconheço que esta visão simplificada não faz justiça a uma realidade que é f 1976 Pureza e Perigo, São Paulo, Perspectiva.
muito mais complexa. Nem todos os candomblés da Bahia estão sob as lu- J Freyre, G.
zes da publicidade - na verdade, a maioria continua a funcionar sem o i' 1961 Portuguese Integration in the Tropics, Lisboa. Sem editor.
conhecimento (e o reconhecimento) da elite cultural baiana e dos turistas Goldwasscr, M.J.
- e o samba ainda é produzido localmente, sem interesses financeiros dire- 1976 O Palácio do Samba, Rio, Zahar.
tos de fora. Além do mais, e nisso concordo com Goldwasser, seria ingênuo Rio, J. do
'r 1906 As Religiões no Rio, Rio, Garnier.
assumir que o povo da Mangueira perdeu toda sua autonomia política e
Rodrigues, N.
artística. · -+. 1935 O Animismo Fetichista dos Negros Baianos, Rio, Civilização Brasileira.
Voltando agora à anedota que contei no início deste artigo, cabe per- Velho, Y.M.
guntar por que é que no Brasil os produtores de símbolos nacionais e da f 197 5 Guerra de Orixá, Rio, Zahar. ·
cultura de massa escolheram itens culturais produzidos originalmente por
grupos dominados? E por que isto não ocorreu nos EUA e em outras socie-
dades capitalistas? Os símbolos nacionais da Inglaterra não se originaram
na cultura das classes populares e na Rodésia não foram os brancos que
adotaram o Zimbabwe como seu símbolo cultural nacional.
Para falar a verdade, acho difícil responder a estas questões. Uma
possibilidade é que tanto o candomblé como o samba constituíam os pro-
dutos culturais mais originais no Brasil e eram"_portanto, capazes de dj~tin;
guir simbolicamente o Brasil de outras na_ções latino-americanas e do mll!J.:
do desenvolvido. Outra interpretação possível, e a que realmen!~~_füq, -~
que a adoção de tais símbolos era politicamente conveniente, u~n _instru-
!!!~!l!.Q_Qara assegurar a domÍJ!~çlio masca!~.!!Q9·ª -~22..2_Ut!º--!!º !'!!~- Assim,
o casamento entre colonizadorés'portugueses e princesas negras em Moçam-
bique, uma sagaz manobra política, foi interpretado pelos apologistas do
colonialismo português como prova da ausência de preconceitos racistas.
Gilberto Freyre, o supremo expoente da lusotropsicologia, deduz da troca
aparentemente livre de traços culturais entre vários grupos étnicos a natu-
reza essencialmente democrática da estrutura social brasileira. Pen~ ao
contrário, gue a conversão de símbolos étnicos em símbolos nacionais nã9

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