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Bourdieu: Provavelmente, nfo é por acaso que o momento em que fui nomeado para o Collége de France coincidiu com todo um trabalho sobre 0 que chamo de efeito de consagraglo ¢ sobre 08 ritos de gto. Por qué? Porque, tendo refletido sobre o que € uma igo €, em especial, uma instituigdo escolar, eu ndo podia deixar de saber o que implicava o fato de ser assim consagrado. Portanto, a0 fazer uma reflexto sobre 0 que acontecia comigo, procurava uma liberdade em relagio ao que me acontecia. Fazer a sociologia dos intelectaais, fazer a sociologiado College de France, fazer a sociologia. do que é dar ma aula inaugural no College de France é, no momento mesmo em que se 6 pego pelo jogo, assinalar que podemos tentar ser livres. Para mim, a sociologia desempenhou o papel de uma espécie fe socioandlise, que me compreender e suportar coisas que achava insuportaveis, Para voltar, entdo, ao Collége de France, jé que foi de lé que parti, se tenho alguma chance de que a consagrago nfo acabe comigo, é talvez porque tentei anatisar a consagraco, ¢ creio até que poderei me valer da autoridade que me é dada por essa consagragio para dar mais forga & minha anélise dos efeitos da avtoridade e da consagragho. JEXHDS E ENTRSVETAL Cf PERE Berane i UNS, Dariel. erg). © Carino Econs macs, Grupos 40: Rapniee 2000 1 Barevi 4 OQUEBFALAR?! Baudouin: Seu esforgo ismos sociais de dissimmtlagio a verdade sox simbélicas. E desta vez, seu objeto de estudo & de partida de Ce que parler ve estrutural ©, em particular, da oposig#o com a qual Ferdinand de ‘Saussure findou essa linguistica, Pierre Bourdieu: A jntermédio da antropologia estratural te, em determinado momento de men treb: ‘mesmo tempo 0 que me parece’sér 0 modelo impl estruturalista e 0 modelo que, a meu ver, deve ser contraposto a Este .s0 ato de fala. Aoretomar aexpressd popular francesa ce que parler inacecade Cue perterwa lve ravi Magi de Slenees unas, RT, em 14 daveb de 1982 veutdire” quis insistirnofato de que compreendero que fazemos quando falamos 6 compreender o ato de falar e no simplesmente a lingua, Poder.se-ia pensar que se trata apenas de: uma troca de palavras; na verilade, acho que 0 que esté em jogo é importante, pois a estrutural ¢, depois dela, a antropologia ‘esinitural.cut a semiologia y. Solocanse diante dos fendmenos simbélicos numa atitude que é a do receptor de urna lingua mor se ir océdigo,acitra, lic, a mea ver, uma tori a G0; gos como se 0s © quis estender essa critica até o préprio coragao das téorias do simblico que se impuseram as ciéncias sociais, ito & aos fen6menos de linguagem, iro ponto de vista da lingua pelo pontio de vista do falar dizer due nfo podemos compreender o que 6 falac sem fazer intervir nic s6 & competéncialingtistica do locutor, éclaro, com Chomsky ¢ mas também uma outre forma de as que o importaalé Ho aj Jinguagem é o aprendizado do momento oportun 4o oportuno; que pouco importa o que se diz se nfo for di hamente. Falar é teruma competéncia constituldo, ssa competéncia é o conhecimento da situaedo, 0 con im, do que é oportuno, competéncia € adquirida ao mesm ropriamente lingtfstica. No podemos aprender ume lingua sem ‘iprender ao" miestiiO “einpo tdo 0 que se aprende por meio das condigéies de aprendizagem. Toda essa ciéncia da relagZo entre a ituago € logo incorporada ao que chamo de habitus ou sefa, esse sistema de disposigbes que permitern falar indada no corte, como se pode "uito bem ver ém Saussure, entre a ingua eas condigdes socials em , que ela € produzida © nas quais € utilizada, a seg zeintroduglo do.que chamel nfo de situag Antes de mim -, mas sim de'mereado, ¢ is ta analog eondica MBaudouin: Sim, Quem diz mercado, diz capital, nesse caso scot ‘anda falamos, produzimos um produto, um produto gue, em certo aspecto, um produto como outro qualquer, portanto, dest ‘nado a estar sujeito nfo s6 & intezpretagdio, mas também A avaliagao. E Se ¢ preciso fazer voltar a intervir essa avaliaglo de que depende {odo produto corre porque a antecipago do prego vai receber vai intervir no nivel da produgto. Concte- jea que, quando produzo um determinado discurso, Preocupo-me mais ow menos com oefeito que ele vai prodizirnaguele a quem o'dirijo. A antecipagéo do prego que meu discurso receberd ira forma eo contétido dele, que serd mais ou menos nso, mais ou menos censured, ds vezes até ponto de ser analado ~ 6 9 siléncio da intimidagao, Semen discurso pode receber um prego, isso ocorre porqui falo, efeitos sobre a produgiio do diseurso di antecipada do prego ‘que odiscurso receberd. A nogiio de “act lade” que encontramos ‘entre 03 chomskianos € uma nogo muito interessante, mas que, pelo menos no que posso jllgé-Ia, nao desempenha nenhum papel real na teoria chomskiana, Ora, essa nogio de aceitabilidade é extremamente, Importante, pois pelo senso da aceitabilidade social, 0 sentido do que pode ou no pode ser dito em determinada situagao, 0 senso do que é Conveniente ou inconveniente etc, por meio desse senso que femos em estado prético, exerce-se uma censura extrdordindtia, Por éxem- plo, todos 8m uma competéncia Linguistica, todos podem falar — a 1a € 0 tinico terreno sobre © qual o desapossamento nunca & ~aconteve que certas categorias de locutores se véem como que desapossados dessa competéncia em determinadas situagées, ¢ notam esse desapossamento, como aquele que, para explicar por que nem sequer pensou em di o cargo de prefeito de uma cidadezinha, Se é assim, é porque essa competéncia minima em sua propria lingua imo serdsituada objetivamente em relagio a um universo de competéncias concorrentes, que definirio ivamente 0 valor que Ihe seré atribufdo: Com isso, 0 que o lista como lingtlsta deve descrever como coripeténcia normal (nfo hd lingua inferior) funcionaré no uso social com um estigma de que usa jargilo, algaravia, giria ou, como se diz. expresso que ndo quer dizer giande coisa, !agem popular” seré desqualificado e poderé ser condenado ao Em outeas palavras, essa competéacia lingtifstica que os imente. Saussure diz.que ingua é um “tesouro” e descreve a relagio dos individuos com a ipagio no tesauro comum. O que chamo de ilusio do comunismo Tinglstico € a ilusio de que-todos Participem da lingua como. do sol ou da dgua, numa palavra, que a ua nio é um bem rato. Na verdade, a participagao é totalmente esigual, e essa competénsia teoricamente universal monopolizada por alguns, B as desi festam-se no mercado das trocas 10 detentores do mono- 32, falam no’ sé em favor fo terreno pol polio do acess Bourdieu: Outros o disseram antes de mim, a Iingua de que falam os lingtistas nfo € aquele tesoure-comum de que todos umariefato hist6rico, ou seja,o prod trabalho s Pela conjungéo de um conjunto de agentes (eviden descrever esses agentes como inspirados port vontade mquiavélica de impedir aos dominados o acesso 8 linguagem’ ésse'€ tim enorme perigo da Ieitura ingénua do disgurso sociol6gico, ele’é retraduzido 4m termos de vontade, de compl). ‘M Baudouin: Nao se impde a lingua legitima por decreto... ‘mecanismos exiremamente complexos em que intervém grandes 35 quantidades de agentes. Dito isso, nfo deixa de ser verdade que a In, como é ensinada, o que é chamado de Ifngua francesa, 0 que muita gente considera a tinica lingua digna de ser falada e fora da ual nao ha salvago, essa lingua é um astefato produzido, como a maior parte dos produtos culturais, na_eoncoméngia: concariéiicia 9s escritores e os graméticos estes tiltimos denunciando as liberdades que os escritores tomam coma gramétice, ¢ os escritores denunciando o lado pedante e absurdo dos graméticos) etc. E nessas lutas entre gram#ticos ¢ escritores, entre, escritores de vanguarda e escritores de retaguarda, produz-se no s6 a lingua legitima, aquela que € recensea i lainho: pap,.ou fam. (fami- rios, e a8 pessoas que querem m dicionérios com base no mas nos quais registcam apenas 0 que 0s dicionérios legitimos excluem. Falar, como Cellard e Rey, de no-convencional ja¢ melhor, pois a, pelo menos, adefinigéo negativa se declara como tal, Os fendmenos de dominagio podem ainda exercer-se por certa e canonizagdo das Iinguas dominadas, Por exemplo, fazer um nétio do francés nfo-convencional é, a0 mesmo tempo, romper uma censura ao fazer aparece: montes de palavras reprimidas ow usos reprimidos das palavras aneamente, & de certa ma- gilfstico que deixa aos dominantes o monopélio da lingua dominante e dos efeitos de domi- ¢nagdo por is as situacdes oficiais Jexeluem qualquer outra linguagem que no sea a linguagem ly | Da‘ o problema dos poria-vozes das classes doininadas, que nfo tém " escolha senio se exprimir na linguagem dominante, ao prego de toda espécie. de custos, em especial os politicos. O fato de © mercado politico excluir as commperencias Wegiimas faz com que grandes quantidades de coisas nfo possam nele ser ditas.e que haja um monopélio dos porta-vozes, Mi Baudouin: Os signos nif sio s6 signos de comunicagio, sto também signos deriqueza, signos de autoridade, O que esté em jogoéa questo do poder e do poder simbélico. Mas 0 que faz com que as palavras possani agir e tenham uma eficécia? Bourdiew: Por meio do problema dos porta-vozes, a questo jéficaem Parte colocada, Gragas aos filésofos da linguagem, Austin em espe- ial, 0s linguistas vieram a se perguntar o que faz com que as palavras mo € que, quando digo a alguém “sbra a janela”, em certas condigdes, essa pessoa a abra, E até, sc cu for um i 160 seu jomnal no Titi de semana, posso « John, no acha que esté um pouco frio?”,¢ John fecha a janela. Em ras, Como é que.as p luzem efeitos? Isso é uma uments espantosa quando refletimos sobre ela, Trata-se do magia: ¢ para dar conta dessa acto a distin no caso da magia, segundo Marcel Mauss, econstruir todo o espago social em que so geradas as dispo- sigbes e as erengus que tormam possfvel a eficdcia magica. 5 : O FETICHISMO POLITICO (OU DESVENDAR 0S MOTORES DO PODER! WD. Eribon: © que me impressionou em Ce que parler veut dire € que, na verdado, ele € atravessado de ponta a ponta pela questo do poder @da dominagio, Bourdieu: Seja qual for o discurso, ele € 0 produto do encontro entre 0, Ou seja, uma competéncia inseparavel 'éenica e social (ao mesmo tempo a capacidade de falar ea capacidade de falar de certa maneira, socialmente marcada), e um mercado, ou seja, um sistema de formagio dos pregos que vai contribuir para orientar de antemao a produgio lin Por ocasito do ‘enfrentamento de um piiblico, no discurso elevado das ocasises off= mostrar a respeito de idegger. Ora, todas essas relagdes de comunicagdo sio também, salvo convengao especial, relagdes de poder, eo mercado lingilfstico ‘também tem seus monopélios, quer se trate das Iinguas s |, Entrevista aD. Brito respi ce Cee parler neue, Liter, 1 oaabr do 198. M Eribon: Mais profundamente, porém, tem-se a impzessiio de que, nesse. ivro, delineia-se em filigrana uma teoria geral do poder e até do Politico, sobretudo pelo viés da nogo de “poder simbélico”. u outro) que est em condigdes de se fazer reconhecer, de obter 0 reconhecimento, ou seja, de se fazer ignorar em sua verdade de poder, de violenciaarbitréria, A eficécia propria desse poder exerce-se nono plano . mas sim no plano do sentido do conhecimento. Por bre, segundo o latin, é um nobitis, um homem “conheci- i880, tio logo se escapa do fisicismo das roduzir as relag6es simblicas de conhecimen- igntérias faz com que tenliamos todas a8 io da flosofia do sujeito, da consciéncia, ¢ de pensar esses atos de reconhecimento como atos livres de submisslo e de cumplicidade. Ora, sentido © conhecimento néo implicam de modo ‘algun conscigncia, ¢ € preciso buscar numa’ dirego completamente ‘oposta,alindicada pelo thtimo Heidegger e porMerlea socials ¢ os préprios dominados esto unis aomu 20 mnais repugnante ¢ revoltante) por uma relagtio de cum padecida que faz.com que certos aspectos deste mundo estejam sempre além ou aquém do questioname >. por intexmédio dessa relagao Obscura de adesdo quase corporal que. se exercem os efeitos do poder simbélico, A submissto poltica est inserita nas postures, nas dabres do ‘corpo e nos automatismos do cérebro. O vocabulétio da dominagao esté cheiode metéforas corporais: “curvar-se” “ficar de oelhos”,“mostrar-se maledvel”, “dobrar’, “deitar-se” ete. B sexuais também, € claro, As palavras 86 dizem tio bem a gindstica politica da dominago ou da submissio porque slo, com o corpo, o suporte das montagens profanda- ‘mente ocultes em que uma ordem social se inscreve de modo duradouro, WEribon; O senhor considera, entto, que a linguagem deveria estar no centro de toda andlise da politica? Bourdieu: Tamibém nesse caso, temos de evitar as alternatives co- mmilns. Ou falamos da linguagem como se ela s6 tivesse a fungio de Comunicar, ou tratamos de procurat nas palavras o prinefpio do poder {que se exerce, em certos casos, através delas (tenho em mente, por ‘exemplo, as orcens ou as palavras de ordem). Narealidade, as palavras exércem um poder tipicamente mégico: fazem ver, fazem crer, fazer agit. Mas, coms no caso da magia, é preciso perguntar-se onde reside © principio dessa ago ou, mais exatamente, quais so as condigdes sociais que tornam possivel a eficdcia mégica das palavres. O poder as palavras s6 se exeice sobre aqueles que estao dispostos @ ouvi-las © wescuté-las, em suma, a cret nelas. Em dialeto do Béam, obedecer sediz.crede, que também quer dizer crer.K toda a primeira educagio, no sentido mais amplo, que deposita em cada um as molas que as palavias Cama bula papal, uma palavra de ordem de partido, uma fala de psicana- lista, um parecer técnico de psioslogo num julgamento de divércio ete.) Poderfo, num ou noutro dia, desencadear. O princfpio do poder das ‘alavras reside na cumplicidade que se estabelece, por ‘mi corpo social ico, 0 do porta-voz antori- 2ado, ¢ corpos biolégicos socialmente moldados para reconhecer suas (rdens, mas também suas exortagdes, suas insinuagies ou suasinjungdes, € que sho 0s “sujeitos falados”, os fis, os erentes, MW Eribon: Mas existem mesmo efeitos eeficdcia préprios da linguagem? Bourdieu: &, de fato, espantoso que aqueles que niio se cansaram de falar da lingua e da fala, ou até da “orga ilocut fenham colocado a 5 quanto’ ao essencial, sobre as palavras, é porque as alavras ajudam a fazer o mundo social, Basta pensar nas intmeras Circunlocugses, perifrases ou eufemismos que foram inventados 20 longo de toda a guerra da Argélia para evitar conceder o reconheci- ado no fato de chamar as coisas por seu nome, em Vee de negd-las pelo enfemismo. Na politica, nada é mais realista do que, as brigas de palaveas, Usar uma palavra no lugar de outra mudar a .comisso, contribuir para transformé-lo, Falar de classe operdria, fazer falar a classe opertcia (falando por ela), , € fazer exi 8 outros, 0 grupo q) anulam simbolicamente (os ‘aneés médio” ou, em alguns sociélogos, as “categorias )..O paradoxo do marxismo é que ele nlo englobou em sua teoria das classes 0 efeito de teoria que produziu a teoria marxista das classes ¢ que ajudou a fazer com que exista hoje algo como classes, No que se refere ao mundo social, a teoria neokantiafa que confere & Jinguagem e, de um modo mais geral, as representagSes uma eficdeia propriamente simbdlica de construgiio da re fundamentada. Os grupos (em particular as classes sociais) sto sem- Pre, por um lado, 3s: so © produto da I6gica da representagiio, 10 biolégico ou a um pequeno némero de 108 biolSgicos, o scoretério-geral ou o comité central, papa e » falar em nome de todo o grupo, fazer o grupo falar € caminhar “como um s6 homem”, fazer crer ~ e em primeito lugar 0 po que eles representam ~q ‘ porta-voz encar que & um grupo; ele tira os membros do grupo do estado de simples agregado de individuos sepatados, permitindo-lhes agit e falar com de agir ® de falar em nome do grupo, de se tomar pelo grupo que encarna (a Franga, 0 povo), de se identificar com a fungo a que se entrega de Corpo ealma, dando assim um corpo bioldgico a um corpo constitutdo, A l6gica da politica é a da magia ou, se preferitem, a do fet da tua”, 0 1 Esibon: O senhor considera seu trabalho um questionamento radical a politica? logia assemelha-se & comédia, que desvela os mecanismos propulsores da autoridade. Pelo disf ca), pela parddia (0 gue permite produzir os imidaglo, os truques e as portantes de todos os los escolares, efeitos simbélivos de imposigio ou de it trucagens que fazem 03 poderasos € os tudo o Afinal, o que é um papa, um presidente ou um seeretério-geral, sento alguém que se toma por um papa ou um secretévio-geral ou, mais exatamente, pela Igreja, pelo Estado, pelo partido ou pela nagio? A Sinica eoisa que a distingue do personagem de comédia ou do mega- Jomano é que geralmente ele & levado a sério e Ihe é reconhecido 0 como diz. Austin. é,€ bastante comico. Mas ja se disse muitas vezes que © cmico é vizinho do {tdgico. E mais ou menos como um Pascal encenado por Moliére,

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