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UNIDADE I – SENSO COMUM, MITO E FILOSOFIA

“Penso que tudo deve estar integrado, para permitir uma mudança de pen-
samento que concebe tudo de uma maneira fragmentada e dividida e impede
de ver a realidade. Essas visão fragmentada faz com que os problemas per-
maneçam invisíveis para muitos, principalmente para muitos governantes.”
(MORIN, 2011: p. 11 – 12).

Apesar das diferenças existentes entre o senso comum, o mito, a filosofia e a


ciência, eles respondem a necessidade humana de respostas. Eles são, por as-
sim dizer, expressões de uma mesma necessidade básica, a necessidade de
compreender o mundo. Cada um a seu modo, fornece informações sobre a
origem – de onde viemos? –, o sentido – o que estamos fazendo aqui? – e o
fim – para onde vamos? (CAETANO, Marcelo José)

1. CONHECIMENTO

O que é conhecer? Que relações existem entre o conhecimento sobre as


coisas e a aquisição da verdade? O que é a verdade? É possível alcan-
çarmos a verdade plena sobre as coisas que constituem nosso mundo?

“Tenho algumas evidências das quais não posso me separar. O que sei, o
que é certo, o que não posso negar, o que não posso recusar, eis o que
me interessa. Posso negar tudo desta parte de mim que vive de nostalgias
incertas, menos esta unidade, esse apetite de resolver, essa exigência de
clareza e coesão.” (CAMUS, Albert. O mito de Sisifo. Rio de Janeiro:
Bestbolso, 2012. P. 57)

1.1. Repertório de Conhecimentos – é o conjunto dos saberes constituído pelas informações, experi-
ências pessoais e/ou compartilhadas pelos indivíduos ao longo de suas vidas. Ele se define co-
mo uma bússola que influencia e orienta pensamentos, ações e reações dos indivíduos humanos
nas diversas situações que experimentam ao longo de sua existência.
1.2. O conhecimento é uma relação que se estabelece entre um sujeito COGNOSCENTE (ou uma
consciência) e um objeto. Em outras palavras, ele é a apreensão do objeto pelo sujeito.
1.3. Todo conhecimento é relativo, pois supõe um ponto de vista, certos instrumentos (sentido, fer-
ramentas, conceitos etc.) e limites do sujeito que conhece.
1.4. O conhecimento permite o conhecimento maior e melhor ou menor e menos adequado da reali-
dade, pois depende do grau de complexidade das teorias e conceitos utilizados para apreendê-
la.
1.5. O conhecimento é concreto quando se estabelece uma relação com um objeto individual – um
ser humano, ou abstrato quando se estabelece uma relação geral ou universal com o objeto, o
ser humano.
1.6. O conhecimento é um processo dialético, pois implica em um movimento de ida e volta, do
concreto ao abstrato.
1.7. CONHECIMENTO E VERDADE
1.7.1. É errado equiparar, afirma POPPER (1993), a verdade à verdade segura ou certa. Verdade e
certeza devem ser nitidamente distinguidas.
1.7.2. Há graus de certeza, ou seja, existe mais ou menos certeza. A certeza é relativa no sentido de
que ela sempre depende do que está em jogo.
1.7.3. A verdade é algo objetivo e a certeza, algo subjetivo.
1.7.4. Correspondência, revelação, conformidade com uma regra e coerência. Validade ou eficácia
de procedimentos cognoscitivos. Qualidade em virtude da qual um procedimento cognoscitivo
qualquer se torna eficaz ou obtém êxito.
1.7.5. Em sua obra principal (Crítica da Razão Pura), Kant se recusa a dar outra resposta senão que
a verdade é a correspondência do conhecimento com o objeto. Eu diria algo bastante similar:
uma teoria ou proposição é verdadeira se o estado de coisas descrito pela teoria corresponde à
realidade. (POPPER, 1993: p. 15).
1.7.6. MODOS DE CONHECER O MUNDO:
1.7.6.1. Mito – conhecimento mágico;
1.7.6.2. Senso comum – conhecimento espontâneo;
1.7.6.3. Ciência – conhecimento das relações de causa e efeito entre as coisas;
1.7.6.4. Filosofia – A origem e o sentido dos problemas.

2. OS SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO


2.1. CONHECIMENTO E TRADUÇÃO DO REAL – o conhecimento, afirma MORIN (2011),
nunca é um reflexo ou espelho da realidade que se quer descrever. Ele é sempre uma tradução,
seguida de uma reconstrução.
2.1.1. “...tomar a ideia como algo real é confundir o mapa com o terreno.” (MORIN: 2011, p. 1)
2.2. CONHECIMENTO E CONTEXTO – É fundamental que se coloque o conhecimento em seu
contexto. Não é a quantidade de saberes que definem o que se deve aprender, mas a pertinência
do que se conhece e o contexto a que um conhecimento se refere.
2.2.1. O conhecimento deve ser contextualizado, globalizado, multidimensional e complexo:
2.2.1.1. O contexto dá sentido à informação recebida;
2.2.1.2. O global diz respeito às relações entre o todo e as partes;
2.2.1.3. O multidimensional diz respeito ao ser humano (biológica, histórica e culturalmente)
e a sociedade (social, econômica e politicamente)
2.2.1.4. Complexo – o conhecimento é uma totalidade e por isto é constituído por elementos
diferentes e inseparáveis entre si, tecidos de forma interdependente e interativa.
2.3. INDIVÍDUO E SOCIEDADE – Somos indivíduos, isto é, cada um de nós é um fragmento da
sociedade e da espécie homo sapiens. Contudo, nossa estrutura mental faz parte da complexi-
dade humana e nos aproxima a todos como humanidade. Além disto, porque estamos inseridos

2
em culturas diversas nos diferenciamos uns dos outros segundo a realidade de nossas assinatu-
ras culturais.
2.4. A COMPREENSÃO HUMANA – É preciso que compreendamos o que somos e o que são os
outros, isto é, que entendamos que existem diversas possibilidades de se conhecer o que quer
que seja. Devemos procurar nos afastar dos riscos do egocentrismos e da presunção a fim de
compreender o que são os seres humanos no mundo.
2.4.1. O REAL E A COMPLEXIDADE DOS SABERES – Segundo ORTEGA Y GASSET (op.
cit. MORIN: 2011, p. 10), é necessário uma certa distância em relação à realidade vivida para
que possamos compreendê-la. Além disto, deve-se considerar a diversidade e a complexidade
dos saberes a fim de se entender o que as coisas, o real são.
2.4.2. “é necessário ensinar que não é suficiente reduzir a um só a complexidade dos problemas
importantes do planeta como a demografia, ou a escassez de alimentos, ou a bomba atômica
ou a ecologia.” (MORIN, P. 11)
2.5. A INCERTEZA - É necessário, afirma MORIN (2011: p. 9), “tomar consciência de que as
futuras decisões devem ser tomadas contando com o risco do erro e estabelecer estratégias que
possam ser corrigidas no processo da ação, a partir dos imprevistos e das informações que se
tem.” (p. 10).
2.6. A ANTROPO-ÉTICA – a ética que corresponde ao ser humano desenvolver e ao mesmo tem-
po, uma autonomia pessoal - as nossas responsabilidades pessoais - e desenvolver uma partici-
pação social - as responsabilidades sociais - e a nossa participação no gênero humano, pois
compartilhamos um destino comum (MORIN: 2011, p. 11).

3. SENSO COMUM
3.1. Nossas perguntas e as respostas que elaboramos fazem parte de um repertório de saberes que
nos permitem conviver com as pessoas e as coisas. Ele define nosso entendimento e nossa fa-
culdade de tecer juízos diversos. Como uma bússola, ele nos possibilita reconhecer objetos e
pessoas, instituições, valores e princípios, ou seja, tudo o que faz parte de nossa realidade. Re-
conhecemos as coisas e lidamos com elas. Temos crenças e interesses. Acreditamos nas insti-
tuições que fazem parte de nosso cotidiano. Nós possuímos acepções que têm um caráter práti-
co e que nos permitem agir no mundo. É o nosso senso comum. Segundo ABBAGNANO
(1998), o senso comum se relaciona ou se identifica com as interações entre os seres vivos e o
meio ambiente e tem o fim de realizar objetos de uso e de fruição. Para ele, os símbolos empre-
gados são determinados pela cultura corrente de um grupo e formam um sistema de conheci-
mento. Este sistema é constituído por tradições, profissões, técnicas, interesses e instituições
estabelecidas no grupo. Ele é regulado pelas circunstâncias, valores, emoções e opiniões de
quem os produz. Entretanto, fica no imediato das coisas e não tem como exigência para o seu
funcionamento a necessidade de ser objetivo ou ser antecedido pelo questionamento ou pela in-
vestigação. (CAETANO: 2009, p. 1).
3.2. CARACTERÍSTICAS DO SENSO COMUM
3.2.1. Segundo ABBAGNANO (1998), o SENSO COMUM se relaciona ou se identifica com as
interações entre os seres vivos e o meio ambiente e tem o fim de realizar objetos de uso e de
fruição.

3
3.2.2. É constituído por tradições, profissões, técnicas, interesses e instituições estabelecidas por
um grupo.
3.3. É regulado pelas circunstâncias, valores, emoções e opiniões de quem os produz.
3.4. Fica no imediato das coisas e não tem como exigência para o seu funcionamento a necessidade
de ser objetivo ou ser antecedido pelo questionamento ou pela investigação.

4. MITO (MITHOI, MITHOS):


4.1. A palavra mito, conforme CHAUÍ (2005: p. 35), vem do grego, mythos, e deriva de dois ver-
bos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (con-
versar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou
proferido para ouvintes que recebem a narrativa como verdadeira porque confiam naquele que
narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e na confiabilidade da
pessoa do narrador. E essa autoridade vem do fato de que o narrador ou testemunhou direta-
mente o que está narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos nar-
rados.
4.2. BORBA (2004)1, em seu Dicionário UNESP do Português Contemporâneo, registra mito (do
lat. mythus derivado do gr. mýthos) como uma “...interpretação do mundo e do homem”,
“...relato fantástico de seres e coisas que encarnam a forças da natureza” e, ainda, “...como va-
lor social ou moral considerado decisivo para o comportamento dos grupos humanos em de-
terminada época”. CUNHA (1996), define mito como “narrativa, geralmente de origem po-
pular, sobre seres que encarnam simbolicamente as forças da natureza, aspectos da condição
humana”.
4.3. O mito pode ser compreendido como uma leitura especial do que funda a realidade e é funda-
mental para o estabelecimento dos valores que sustentam as relações que os indivíduos huma-
nos mantêm entre si no grupo social e com todas as coisas de seu mundo. Confirmando isto,
GLEISER (1997: p. 23) nos conta que os mitos “são histórias que procuram viabilizar ou rea-
firmar sistemas de valores que não só dão sentido à nossa existência como também servem de
instrumento no estudo de determinada cultura”. Através dos relatos míticos, segundo ele, po-
demos compreender o que são os povos que o tomam como “bússola” que guia sua ação no
mundo e que lhes permite compreender o que são as coisas e qual é o seu papel na realidade em
que estão inseridos.
4.4. OS MITOS E OS ACONTECIMENTOS PRIMORDIAIS:
4.4.1. O mito conta uma história sagrada, quer dizer um acontecimento primordial que teve lugar
no começo do Tempo, ab initio. Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um mi-
nistério, porque as personagens do mito não são seres humanos: são deuses ou heróis civili-
zadores, e por esta razão as suas gestas constituem mistérios: o homem não poderia conhece-
los se lhes não revelassem. O mito é pois a história do que passou in illo tempore, a narração

1
BORBA, Francisco S. (org.). Dicionário UNESP do Português Contemporâneo. São Paulo: Edito-
ra UNESP, 2004.

4
daquilo que os deuses ou os Seres divinos fizeram no começo do Tempo. “Dizer” um mito, é
proclamar o que se passou ab origine. (ELIADE2, s/d: p. 107).
4.4.2. O mito nos diz como, “graças aos feitos sobrenaturais dos seres sobrenaturais, uma reali-
dade passou a existir, quer seja uma realidade total, o Cosmos, quer apenas um fragmento:
uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição” (ELIADE, 1989:
p. 12-13). Ele é uma narrativa reconhecida como verdadeira por aqueles que a entendem como
explicação para sua existência e para a existência de todas as coisas. Os que acreditam no que
é narrado se submetem a esta explicação. No entanto, não se reconhecem como autores daqui-
lo que explicam, pois aquilo que é dito é entendido como revelação.
4.5. CARACTERÍSTICAS DOS MITOS
4.5.1. Do ponto de vista estrutural, independentemente das variações que se podem verificar nos
relatos míticos de cada povo, os mitos podem ser compreendidos como:
4.5.2. Os mitos são entendidos como história de seres sobrenaturais, pois aqueles que fundam o
mundo dos homens e das coisas da ordem natural são de outra dimensão. Eles são deuses e de
sua ação nasce o próprio tempo.
4.5.3. Os mitos são histórias sagradas e verdadeiras. Como resultado da ação de seres sobrenatu-
rais eles são sagrados. Os deuses dão sentido às coisas que constituem e neste processo elas
são sacralizadas e se traduzem como verdade que ultrapassa a dimensão humana, pois maiores
e mais importantes que os meros relatos humanos. Em razão disto, não se reconhecem para os
relatos míticos uma autoria humana. Eles são revelados a indivíduos humanos especiais que os
repassam aos outros seres humanos.
4.5.4. A ação dos seres sobrenaturais é sempre fundadora de alguma coisa. Os deuses criam o
mundo. Por isto, os mitos são cosmogônicos, ou seja, eles narram o ordenamento do caos e
descrevem uma ordem. Ao fazerem isto, permitem que os homens e mulheres dominem e ma-
nipulem a realidade que é narrada. Ao mesmo tempo permitem que a força sagrada e exaltante
dos acontecimentos seja revivida.
4.5.5. Os mitos criam o sentido de duração, marcando a passagem de uma ordem temporal ordiná-
ria para um tempo sagrado. Este tempo sagrado estabelece o sentido de continuidade além do
instante, do vazio, do nonsense e torna o mundo humano algo significativo. Em outras pala-
vras, os mitos oferecem um parâmetro, um sistema de valores que permite aos homens se ocu-
parem de seu mundo, dominando e manipulando as coisas de sua realidade e se relacionando
uns com outros. (CAETANO: 2009)

2
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Lisboa: Livros do Brasil, s/d. p. 107

5
Existe uma grande diferença entre as certezas cotidianas e o co-
nhecimento filosófico e científico. O senso comum fica no imediato
das coisas e se caracteriza por sua subjetividade. Ele é regulado
pelas circunstâncias, opiniões, emoções e valores de quem o pro-
duz. A filosofia e a ciência, ao contrário, são caracterizadas por
sua objetividade, pelo questionamento e pela investigação. (CAE-
TANO, Marcelo José)

5. FILOSOFIA (amor pelo saber):


5.1. No dia-a-dia, fazemos afirmações, negamos, aceitamos ou recusamos muitas coisas. Avaliamos
coisas e pessoas. Dizemos que algo é verdadeiro ou o consideramos como erro ou engano. A-
firmamos a verdade e julgamos como errado e/ou ilusão muitas coisas que fogem aos nossos
parâmetros do que é certo e digno de nossa confiança. A partir dos princípios, ou seja, daquilo
que entendemos como aceitável, certo e bom, refletimos, nos relacionamos com as pessoas, nos
entendemos e compreendemos nosso mundo. Nossas concepções sobre o que somos e o que é
o nosso mundo e as pessoas com as quais convivemos formam um conjunto de idéias que ori-
entam nossa presença e as relações que estabelecemos uns com os outros. Este conjunto de i-
déias pode ser designado, no sentido amplo da acepção, como filosófico. Grosso modo, todas
as vezes que pensamos sobre alguma coisa estamos filosofando. Contudo, o que designamos,
em seu sentido mais estrito, FILOSOFIA (Φιλοσοφία) é a investigação racional e crítica dos
princípios primeiros. Sua etimologia philos (amor) + sophia ( sabedoria) implica não a sabedo-
ria, mas um processo em que se tem o saber como meta, ou melhor, em que o propósito é a
busca pelo conhecimento. Este saber tem características especiais e um modus operanti que
lhes são próprio. Para CHAUÍ (2005 : p. 10), “a primeira característica da atitude filosófica é
negativa, isto é, um dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às
idéias da experiência cotidiana, ao que ‘diz e pensa’, ao estabelecido”. Como afirma a filóso-
fa, diferentemente de outras formas ou sistemas de conhecimento – o senso comum e, especi-
almente, as representações míticas, a Filosofia se preocupa em explicar como e porque as coi-
sas são como são, mas não admitindo contradições – como o fabuloso e o incompreensível, e-
xigindo uma explicação coerente, lógica e racional. Aquele que filosofa deve procurar ir à raiz
das coisas a fim de explicitar os conceitos utilizados nos vários campos do saber e do agir. A-
lém disto, deve evitar ambiguidades e investigar os problemas sob a perspectiva de conjunto,
relacionando-os entre si. Segundo JASPERS, citado por ARANHA; MARTINS (1993: p. 78),
quem “se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele
faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do des-
tino comum da humanidade”. Em outras palavras, deve ocupar-se com as questões que envol-
vem o homem, aprendendo a problematizar, a buscar respostas às suas indagações cotidianas e
às perguntas que transcendem a realidade imediata, o dia-a-dia. Ghiraldelli Jr (2005: p. 9), a-
firma que “filosofia é uma conversação – nada além” e que o filosófo conversa sobre as coisas
banais, sobre o que normalmente não damos importância, problematizando as coisas comuns –

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desbanalizando o que é banal. A filosofia e o filósofo devem aguçar a curiosidade do homem
comum, provocando-o a não aceitar com o que está estabelecido sem argumentação, sem pro-
blematização. (CAETANO: 2009)
5.2. O ADVENTO DA FILOSOFIA:
5.2.1. “Os gregos não se limitaram a uma atividade prática ou a um comportamento religioso; ao
lado disso, souberam assumir um comportamento propriamente filosófico: a pergunta filosófi-
ca exige uma postura mais puramente intelectual. Sem esta maior autonomia do comportamen-
to racional, não se poderia compreender o surto da filosofia grega. Por isto, em seu sentido for-
te e específico, a filosofia é um produto original da cultura grega. Cremos que Nietzsche re-
sumiu o problema através de uma frase famosa: “Outros povos nos deram santos, os gregos
nos deram sábios”. (BORNHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1993.
p. 9).
5.2.2. CONDIÇÕES OBJETIVAS PARA O ADVENTO DA FILOSOFIA
5.2.2.1. As viagens marítimas que produziram o desencantamento (desmitificação) do mun-
do;
5.2.2.2. A invenção do calendário que permitiu uma percepção do tempo como algo natural e
não como um poder divino incompreensível;
5.2.2.3. A invenção da moeda que permite uma nova capacidade de abstração e generalização
(troca abstrata – uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes);
5.2.2.4. A vida urbana que cria um ambiente para o surgimento da filosofia, pois nos centros
urbanos a busca do prestígio se dá com o patrocínio e estímulo às artes, ás técnicas e aos co-
nhecimentos;
5.2.2.5. A invenção da escrita alfabética – abstração/generalização/ideia;
5.2.2.6. A invenção da política que valoriza o pensamento, a discussão, a persuasão e a deci-
são racional.
5.2.3. CONDIÇÃO PARA O FILOSOFAR:
5.2.3.1. “Para Platão, a primeira virtude do filósofo é admirar-se. A admiração é a condição
de onde deriva a capacidade de problematizar, o que marca a filosofia não como posse da
verdade, mas como sua busca” (ARANHA; MARTINS, 1993: p. 72)
5.2.4. CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA
5.2.4.1. Radical – A filosofia procura ir à raiz das coisas, buscando explicitar os conceitos
utilizados nos vários campos do saber e do agir;
5.2.4.2. Rigorosa – O pensar filosófico busca evitar as ambigüidades das expressões cotidia-
nas. Nesse sentido, é rigoroso, coerente, crítico e metódico;
5.2.4.3. De conjunto – A filosofia é globalizante, pois investiga os problemas sob a perspec-
tiva de conjunto, procurando relaciona-los entre si. (Cf. SAVIANI op. cit. ARRUDA; MAR-
TINS, 1993: P. 74)
5.2.5. PERÍODOS DA FILOSOFIA:
5.2.5.1. ANTIGO: do surgimento da argumentação filosófica e seu desenvolvimento na Gré-
cia e em Roma. Fazem parte dela o período socrático e o pós-socrático. Corresponde ao perí-
odo entre os séculos VI a.C. e V a.C. Nesta fase, destacam-se os seguintes pensadores: Herá-
clito de Éfeso, Parmênides de Eléia, Platão e Aristóteles. A passagem desta etapa para o pe-
ríodo medieval coincide, aproximadamente, com a queda do império romano.

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5.2.5.2. MEDIEVAL: fase da história do pensamento ocidental que está, grosso modo, su-
bordinada ao pensamento cristão e ao pensamento de dois filósofos muito importantes neste
período: Santo Agostinho (Patrística) e São Tomás de Aquino (Escolástica). Ele se estende
até o século XVI, quando ocorrre o que se denomina Renascença.
5.2.5.3. MODERNO: Este período vai do final da Idade Média até fins do século XIX. Al-
guns estudiosos o dividem em Renascença e Filosofia Moderna. Na Renascença destacam-se
estudos sobre textos até então desconhecidos de Platão e Aristóteles. Na fase moderna pre-
dominam a ideia de conquista científica e técnica, segundo uma explicação mais mecânica e
matematizável do Universo. Neste período, os pensadores mais importantes são Copérnico,
Galileu, Bacon, Descartes, Hume e Kant.
5.2.5.4. CONTEMPORÂNEO: Estende-se de meados do século XIX até os dias atuais. É um
período difícil de definir, pois está em construção e não possuímos o distanciamento necessá-
rio para classificá-lo.

OBSERVAÇÕES
 Para aprofundar os estudos sobre o tema dessa unidade de ensino, leia CAETANO, Marcelo
José. Senso comum, mito e Filosofia. Belo Horizonte: PUC Minas, 2009. (texto policopiado).
 Faça um levantamento dos conceitos-chave da unidade. Se houver alguma dificuldade em com-
preender um ou outro termo, entre em contato conosco a fim de esclarecer suas dúvidas.

REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência (Introdução ao jogo e suas regras). São Paulo: Loyola, 2000.
P. 13 – 14.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando Introdução à filo-
sofia. 2.ed. (rev. e ampl.), São Paulo: Moderna, 1993.
BORBA, Francisco S. (org.). Dicionário UNESP do Português Contemporâneo. São Paulo: Editora
UNESP, 2004.
BORNHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1993. p. 9
BRANDÃO, Junito. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1997. v. 1
BUZZI, Arcângelo. Introdução ao pensar (o ser, o conhecimento, a linguagem). 24 ed., Petrópolis:
Vozes, 1997. p. 79 – 98.
CAETANO, Marcelo José. Senso comum, mito e Filosofia. Belo Horizonte: PUC Minas, 2009.
(texto policopiado).
CAMUS, Albert. O mito de Sisifo. Rio de Janeiro: Bestbolso, 2012. P. 57
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2005.
CUNHA, Antonio Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. 2.ed., São Paulo:
Nova Fronteira, 1996.
ELIADE, Mircea. Aspectos do mito. Lisboa: Ed. 70, 1989.
ELIADE, Mircea. Mito e realidade. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1989.
ELIADE, Mircea. Sagrado e profano. Lisboa: livros do Brasil, s/d.
GHIRALDELLI JR., Paulo. Caminhos da filosofia. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
GLEISER, Marcelo. A dança do universo. São Paulo: Cia das Letras, 1997.

8
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. In:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EdgarMorin.pdf, acesso em 10 de abril de 2011.
PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulben-
kian, 1989. (Livro VII, A alegoria da caverna).
POOPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1993
REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia (filosofia pagã antiga). São Paulo: Paulus: 2003.
ROCHA, Everardo P. G. O que é mito. São Paulo: Brasiliense, 1985. (Col. Primeiros Passos).

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O SENSO COMUM, O MITO E A FILOSOFIA

Prof. Marcelo José Caetano

INTRODUÇÃO:
Aristóteles, em sua Metafísica (I, 1), afirma que “no vigor de sua constituição ontológica, o ho-
mem deseja ardentemente conhecer”. Para este filósofo, a “natureza” humana é regulada por este
desejo ardente. Contudo, o que é conhecer? Que relações existem entre o conhecimento que obte-
mos (ou construímos) sobre as coisas e a aquisição da verdade? O que é a verdade? É possível al-
cançarmos a verdade plena sobre as coisas que constituem nosso mundo?
Segundo BUZZI (1997), o início do processo de conhecimento está na intuição sensível. Para
ele, “ tudo o que se dá na intuição deve ser simplesmente recebido e trabalhado no interior dos
limites de nossas possibilidades” (1997, p. 82);. Do que afirma o filósofo, podemos dizer que aquilo
que conhecemos sobre as coisas é apreendido, inicialmente, por nossos órgãos sensoriais. Em outras
palavras, nosso primeiro contato com o mundo e com as coisas é proporcionado pelos sentidos e
depende de nossas vivências, do que somos frente ao mundo e aos outros homens e mulheres.
Depois da intuição sensível existe a memória que conserva e lembra o que foi alcançado pelos
sentidos. A memória, como afirmava São Tomás de Aquino, “é o tesouro e o lugar de conservação
das imagens”. Através dela as coisas são “experimentadas na lembrança e nas representações afins
da lembrança” (Husserl).
Finalmente, o terceiro passo constituinte do conhecimento: a experiência. Ela é a síntese orde-
nada do material das intuições sensíveis e da memória e ponto de partida para conhecimentos mais
elaborados, como são as artes e as ciências.
Quando podemos dizer que conhecemos alguma coisa? O que é conhecer?
Qual é o papel dos órgãos sensoriais na relação sujeito/objeto? E da razão? Que relações exis-
tem entre o conhecimento que obtemos (ou construímos) sobre as coisas e a aquisição da verdade?
O que é a verdade? É possível alcançarmos a verdade plena sobre as coisas que constituem nosso
mundo?

O QUE É SENSO COMUM


É certo que não conheceremos o real em sua totalidade. E é provável que já tenhamos nos
enganado e que nossos juízos, vez ou outra, tenham nos levado a equívocos sobre o significado de
muitas coisas. Não somos infalíveis. Não alcançaremos ou não conheceremos a verdade absoluta.

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Contudo, temos uma compreensão do que é real e do que é ilusório, isto é, possuímos uma compre-
ensão, uma faculdade de apreciar e conhecer nosso mundo e a nós mesmos. É o que se pode deno-
minar conhecimento. Nossas perguntas e as respostas que elaboramos fazem parte de um repertório
de saberes que nos permite conviver com as pessoas e as coisas. Ele define nosso entendimento e
nossa faculdade de tecer juízos diversos. Como uma bússola, ele nos possibilita reconhecer objetos
e pessoas, instituições, valores e princípios, ou seja, tudo o que faz parte de nossa realidade.
Reconhecemos as coisas e lidamos com elas. Temos crenças e interesses. Acreditamos nas
instituições que fazem parte de nosso cotidiano. Nós possuímos acepções que têm um caráter práti-
co e que nos permitem agir no mundo. É o nosso senso comum. Segundo ABBAGNANO (1998),
o senso comum se relaciona ou se identifica com as interações entre os seres vivos e o meio ambi-
ente e tem o fim de realizar objetos de uso e de fruição. Para ele, os símbolos empregados são de-
terminados pela cultura corrente de um grupo e formam um sistema de conhecimento. Este sistema
é constituído por tradições, profissões, técnicas, interesses e instituições estabelecidas no grupo.
Ele é regulado pelas circunstâncias, valores, emoções e opiniões de quem os produz. Entretanto,
fica no imediato das coisas e não tem como exigência para o seu funcionamento a necessidade de
ser objetivo ou ser antecedido pelo questionamento ou pela investigação.
Vamos pensar, como nos convida Rubem Alves, em uma pessoa comum. Alguém que não
passou por um treinamento científico:
Ela é uma dona de casa. Pega o dinheiro e vai à feira. Não se formou em coisa alguma.
Quando tem de preencher formulários, diante da informação “profissão” ela escreve
“prendas domésticas” ou “do lar”. Uma pessoa comum como milhares de outras. Vamos
pensar em como ela funciona, lá na feira, de barraca em barraca. Seu senso comum traba-
lha com problemas econômicos: como adequar os recursos de que dispõe, em dinheiro, às
necessidades de sua família, em comida. E para isso ela tem de processar uma série de in-
formações. Os alimentos são classificados em indispensáveis, desejáveis e supérfluos. Os
preços são comparados. A estação dos produtos é verificada: produtos fora d estação são
mais caros. Seu senso econômico, por sua vez, está acoplado a outras ciências. Ciências
humanas, por exemplo. Ela sabe que alimentos não são apenas alimentos. Sem nunca haver
lido Veblen ou Lévi-Strauss, ela sabe do valor simbólico dos alimentos. Uma refeição é uma
dádiva da dona de casa, um presente. Com a refeição ela diz algo. Oferecer chouriço para
um marido da religião adventista, ou feijoada para um sogra que tem úlceras, é romper cla-
ramente com uma política de convivência pacífica. A escolha dos alimentos, aqui, não é re-
gulada apenas por fatores econômicos, mas por fatores simbólicos, sociais e políticos. Além

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disto, a economia e a política devem lugar ao estético: o gostoso, o cheiroso, o bonito. E
para o dietético. Assim, ela junta o bom para comprar, como bom para dar, como bom para
ver, cheirar e comer, com o bom para viver. É senso comum? É. A dona de casa não traba-
lha com aqueles instrumentos que a ciência definiu como científico. É comportamento in-
gênuo, simplista, pouco inteligente? De forma alguma. (ALVES, 2000. P. 13 – 14)

Podemos dizer, a partir do exemplo acima que o conhecimento e o comportamento de uma dona de
casa não são simplistas e tampouco ignorantes ou ingênuos. Contudo, não podemos afirmar que
sejam filosóficos ou científicos, pois não exigem uma forma mais elaborada ou mais crítica de sa-
ber. É conhecimento prático, não demandam, necessariamente, princípios ou critérios mais com-
plexos. Eles são expressão de uma necessidade básica, quer dizer, a necessidade de compreender o
mundo, a fim de viver melhor e sobreviver (ALVES, 2000: P. 13).
O QUE É O MITO?

Não raramente, somos tentados a pensar que as representações míticas são mera ilusão de
povos atrasados. Pensamos que são fruto de uma mentalidade aprisionada nas fantasias e em forças
supostamente mágicas. Contudo, é necessário ir além do que pensa o senso comum sobre as expli-
cações míticas. É preciso romper com os nossos preconceitos sobre os que elas são ou significam
àqueles que confiam em seu conteúdo. É preciso que entendamos que existem verdades distintas
daquelas que assumimos como a explicação aceitável para o que somos, para o que é o nosso mun-
do e todas as coisas que nos cercam e com as quais convivemos. Evidentemente, não temos que
aceitar os mitos como verdade, mas precisamos reconhecer que eles são explicações satisfatórias
para aqueles que os tomam como sistema de conhecimento do mundo em que vivem e sobre si
mesmos.
Em primeiro lugar, é importante que nos atenhamos às questões que inquietam os homens e
os fazem buscar respostas e sentidos à sua existência. São perguntas cruciais que colocam a vida
humana como uma grande interrogação. Como se formou o Universo? De onde provém a terra? De
onde viemos? O que estamos fazendo aqui? Para onde vamos? A resposta a estas perguntas funda-
mentais conferem sentido a vida humana e a todas as coisas do mundo humano e ao mundo além do
homem. Contudo, não nos apressemos. Vamos buscar algumas explicações conceituais para depois
falarmos sobre as representações míticas.

12
BORBA (2004)3, em seu Dicionário UNESP do Português Contemporâneo, registra mito
(do lat. mythus derivado do gr. mýthos) como uma “...interpretação do mundo e do homem”,
“...relato fantástico de seres e coisas que encarnam a forças da natureza” e, ainda, “...como valor
social ou moral considerado decisivo para o comportamento dos grupos humanos em determinada
época”. CUNHA (1996), define mito como “narrativa, geralmente de origem popular, sobre se-
res que encarnam simbolicamente as forças da natureza, aspectos da condição humana”.
O mito pode ser compreendido como uma leitura especial do que funda a realidade e é fun-
damental para o estabelecimento dos valores que sustentam as relações que os indivíduos humanos
mantêm entre si no grupo social e com todas as coisas de seu mundo. Confirmando isto, Gleiser nos
conta que os mitos “são histórias que procuram viabilizar ou reafirmar sistemas de valores que não
só dão sentido à nossa existência como também servem de instrumento no estudo de determinada
cultura”. Através dos relatos míticos, segundo ele, podemos compreender o que são os povos que o
tomam como “bússola” que guia sua ação no mundo e que lhes permite compreender o que são as
coisas e qual é o seu papel na realidade em que estão inseridos.
O mito responde a uma profunda necessidade e se define como um sistema de conhecimento
que responde as questões fundamentais do ser humano. Ele não é uma mera fantasia de mentalida-
des primitivas atrasadas e/ou ignorantes.
O mito é uma narrativa. É Palavra – mithoi – que afirma a existência de algo. Esta palavra
ou explicação diz que alguma coisa passou a existir e que sua existência se deve a intervenção de
seres sobrenaturais em uma ordem natural que passa a existir a partir desta ação.
O mito conta uma história sagrada, quer dizer um acontecimento primordial que teve lugar
no começo do Tempo, ab initio. Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um
ministério, porque as personagens do mito não são seres humanos: são deuses ou heróis
civilizadores, e por esta razão as suas gestas constituem mistérios: o homem não poderia
conhece-los se lhos não revelassem. O mito é pois a história do que passou in illo tempore,
a narração daquilo que os deuses ou os Seres divinos fizeram no começo do Tempo.
“Dizer” um mito, é proclamar o que se passou ab origine. (ELIADE4, s/d: p. 107)).

3
BORBA, Francisco S. (org.). Dicionário UNESP do Português Contemporâneo. São Paulo: Edito-
ra UNESP, 2004.

4
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Lisboa: Livros do Brasil, s/d. p. 107

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O mito nos diz como, “graças aos feitos sobrenaturais dos seres sobrenaturais, uma reali-
dade passou a existir, quer seja uma realidade total, o Cosmos, quer apenas um fragmento: uma
ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição” (ELIADE, 1989: p. 12-13).
Ele é uma narrativa reconhecida como verdadeira por aqueles que a entendem como explicação para
sua existência e para a existência de todas as coisas. Os que acreditam no que é narrado se subme-
tem a esta explicação. No entanto, não se reconhecem como autores daquilo que explicam, pois
aquilo que é dito é entendido como revelação. Para ABBAGNANO (1998, p. 674),
“O mito não é uma simples narrativa, nem uma forma de ciência, nem um ramo de arte ou
de história, nem uma narração explicativa. Cumpre uma função sui generis, intimamente li-
gada à natureza da tradição, à continuidade da cultura, à relação entre maturidade e juven-
tude e à atitude humana em relação ao passado. A função do M. é, em resumo, reforçar a
tradição e dar-lhe maior valor e prestígio, vinculando-a a mais elevada, melhor e mais so-
brenatural realidade dos acontecimentos iniciais”.
Do ponto de vista estrutural, independentemente das variações que se podem verificar nos
relatos míticos de cada povo, os mitos podem ser compreendidos como:
 Histórias dos atos de seres sobrenaturais;
 Histórias verdadeiras e sagradas;
 Referem-se a uma criação (criação ou cosmogonia)
 Dizem a origem e permitem a dominação e manipulação daquilo que é narrado;
 Permitem reviver a força sagrada e exaltante dos acontecimentos que narram.
Os mitos são entendidos como história de seres sobrenaturais, pois aqueles que fundam a or-
dem natural, isto é, o mundo dos homens e das coisas não pertencem a ele. Podem ser chamados de
deuses e sua ação resulta em acontecimento histórico, no nascimento do próprio tempo.
Os mitos são histórias sagradas e verdadeiras. Como resultado da ação de seres sobrenatu-
rais eles são sagrados. Os deuses dão sentido às coisas que constituem e neste processo elas são
sacralizadas e se traduzem como verdade que ultrapassa a dimensão humana, pois maiores e mais
importantes que os meros relatos humanos. Em razão disto, não se reconhecem para os relatos míti-
cos uma autoria humana. Eles são revelados a indivíduos humanos especiais que os repassam aos
outros seres humanos.
A ação dos seres sobrenaturais é sempre fundadora de alguma coisa. Os deuses criam o
mundo. Por isto, os mitos são cosmogônicos, ou seja, eles narram o ordenamento do caos e descre-
vem uma ordem. Ao fazerem isto, permitem que os homens e mulheres dominem e manipulem a

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realidade que é narrada. Ao mesmo tempo permitem que a força sagrada e exaltante dos aconteci-
mentos seja revivida.
Os mitos criam o sentido de duração, marcando a passagem de uma ordem temporal ordiná-
ria para um tempo sagrado. Este tempo sagrado estabelece o sentido de continuidade além do ins-
tante, do vazio, do sem sentido e torna o mundo humano algo significativo. Em outras palavras, os
mitos oferecem um parâmetro, um sistema de valores que permite aos homens se ocuparem de seu
mundo, dominando e manipulando as coisas de sua realidade e se relacionando uns com outros.

O QUE É FILOSOFIA?
No dia-a-dia, fazemos afirmações, negamos, aceitamos ou recusamos muitas coisas. Avali-
amos coisas e pessoas. Dizemos que algo é verdadeiro ou o consideramos como erro ou engano.
Afirmamos a verdade e julgamos como errado e/ou ilusão muitas coisas que fogem aos nossos pa-
râmetros do que é certo e digno de nossa confiança. A partir dos princípios, ou seja, daquilo que
entendemos como aceitável, certo e bom, refletimos, nos relacionamos com as pessoas, nos enten-
demos e compreendemos nosso mundo.
Nossas concepções sobre o que somos e o que é o nosso mundo e as pessoas com as quais
convivemos formam um conjunto de idéias que orientam nossa presença e as relações que estabele-
cemos uns com os outros. Este conjunto de idéias pode ser designado, no sentido amplo da acep-
ção, como filosófico. Grosso modo, todas as vezes que pensamos sobre alguma coisa estamos filo-
sofando. Contudo, o que designamos, em seu sentido mais estrito, FILOSOFIA (Φιλοσοφία) é a
investigação racional e crítica dos princípios primeiros. Sua etimologia philos (amor) + sophia (
sabedoria) implica não a sabedoria, mas um processo em que se tem o saber como meta, ou melhor,
em que o propósito é a busca pelo conhecimento. Este saber tem características especiais e um mo-
dus operanti que lhes são próprio.
Para CHAUÍ (2007 : p. 10), “a primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto
é, um dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às idéias da experi-
ência cotidiana, ao que ‘diz e pensa’, ao estabelecido”. Como afirma a filósofa, diferentemente de
outras formas ou sistemas de conhecimento – o senso comum e, especialmente, as representações
míticas, a Filosofia se preocupa em explicar como e porque as coisas são como são, mas não admi-
tindo contradições – como o fabuloso e o incompreensível, exigindo uma explicação coerente, lógi-
ca e racional. Aquele que filosofa deve procurar ir à raiz das coisas a fim de explicitar os conceitos
utilizados nos vários campos do saber e do agir. Além disto, deve evitar ambiguidades e investigar
os problemas sob a perspectiva de conjunto, relacionando-os entre si.

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Segundo Jaspers, citado por ARANHA; MARTINS (1993: p. 78), quem “se dedica à filoso-
fia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua
palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do destino comum da humanidade”.
Em outras palavras, deve ocupar-se com as questões que envolvem o homem, aprendendo a pro-
blematizar, a buscar respostas às suas indagações cotidianas e às perguntas que transcendem a reali-
dade imediata, o dia-a-dia.
GHIRALDELLI Jr (2005: p. 9), afirma que “filosofia é uma conversação – nada além” e
que o filosófo conversa sobre as coisas banais, sobre o que normalmente não damos importância,
problematizando as coisas comuns – desbanalizando o que é banal. A filosofia e o filósofo devem
aguçar a curiosidade do homem comum, provocando-o a não aceitar com o que está estabelecido
sem argumentação, sem problematização.
PLATÃO, em seu diálogo socrático “A República”, Livro VII, pensa a filosofia como um
movimento ascensional em que se alcança uma compreensão menos limitada sobre a realidade.
Para ele é preciso ir além da banalidade do mundo sensível a fim de entendermos o real em uma
perspectiva mais essencial e, por isto mesmo, mais verdadeira.
A narrativa socrático-platônica nos apresenta homens acorrentados e limitados a vislumbra-
rem a parede oposta à saída de uma sombria caverna. A única luz, tênue iluminação, provinha de
uma fogueira em um degrau acima e anterior ao lugar onde cumpriam sua triste sina. Esta luz proje-
tava o mundo exterior na parede à frente dos infelizes prisioneiros. Diversas coisas, objetos e gentes
apareciam-lhes e desenhavam suas sombras. Nada conheciam senão as referidas sombras. Assim,
aprenderam a nomeá-las e a partir delas conceberam, de um modo que lhes pareceu o único possí-
vel, sua realidade. Um daqueles homens, percebendo que se afrouxaram os grilhões que o prendiam,
se liberta e se lança à saída da escura caverna. Seus olhos acostumados com a escuridão, cegos pelo
excesso de luz, não conseguem ver. No entanto, aos poucos, começa a vislumbrar o que até então
não poderia conceber como possível. Sente o calor do sol, percebe os cheiros, vê as cores, aprende
seus nomes. Fica extasiado com este novo mundo. De volta à caverna, conta aos seus antigos com-
panheiros sobre as belezas, odores e cores do mundo. Entretanto, eles riem, zombam ou o tomam
como louco. Não entendem e não aceitam a realidade que lhes contara existir além da lúgubre ca-
verna. Sufocado pelo riso estridente da multidão, aprisionada nas sombras e em suas meras opini-
ões, deixa a caverna convencido de que há outra realidade, além das sombras, esperando para ser
descoberta: o mundo da luz.
Somos diariamente bombardeados por incontáveis informações. De uma certa forma, poder-
se-ia dizer que estamos acorrentados à caverna platônica. Para sair dela precisamos saber distinguir

16
o que é a realidade e o que é não é real. Contudo, é muito difícil separarmos o joio do trigo, isto é, a
boa informação da notícia banal. Neste contexto, filosofar significa ascender a um conhecimento
mais rigoroso e mais crítico sobre o mundo, o homem e as coisas que os envolvem. A tarefa do filó-
sofo – e o objeto da filosofia – é ensinar a ver além das sombras, a entender a realidade além das
meras opiniões.

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