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SIMPLESMENTE PALAVRAS

UMA NOVELA DE

THIAGO DOS SANTOS

EMISSORA

TV NOVELAS

DIREÇÃO GERAL
THIAGO DOS SANTOS

CAPÍTULO 1

== FLASH-FOWARD ==

CENA 01. EXT. MANAUS/ AMAZONAS. FLORESTA. DIA.

VISÃO AÉREA DA FLORESTA MOSTRANDO AVES SOBREVOANDO-A, cortando


para/

Close no rosto de um Adolescente (18 anos, pele branca, olhos


azuis, loiro) correndo desesperado, com uma arma na mão direita.
Suas roupas estão encardidas.

Ele encosta-se a uma árvore, descendo ao encontro do chão,


cansado.

ADOLESCENTE- (OFEGANTE) Eu não vou ser preso.


Ele segura na arma mais firme, colocando-a perto de sua cabeça.
OUVIMOS o engatilhar da arma. Deixa escapar uma lágrima dos
olhos. Escuta-se o disparo da arma.

Nos olhos dele ainda abertos.

Na arma caindo de sua mão.

== FIM DO FLASH-FOWARD ==

FADE TO BLACK:

LEGENDA SURGE NA TELA: ALGUNS MESES ANTES.

CENA 02 - INT. APARTAMENTO DE ALAN. SALA. NOITE.

Um copo de uísque sobre um balcão de mármore.

VOZ FEMININA- (O.S.) Eu não quero ser traída, Alan! Não quero
ser chacota de ninguém!

ALAN (40 anos, pele parda, olhos castanhos) usando calça jeans e
uma camisa de manga comprida. Ele pega o copo de cima do balcão
e bebe o líquido em um gole.

ALAN- Eu não estou te traindo, Josiele. Esses comentários que


você ouve desses fofoqueiros são mentiras, entende isso.
E Alan vira-se e vê Josiele (35 anos, pele branca, olhos
castanhos, cabelo longo solto). Ela anda até ele, apontando o
dedo em seu rosto.

JOSIELE- Não vou aceitar você me trair com a


Márcia!(PAUSA/SORRI) Como eu sou boba. Esse relacionamento já
existe há um bom tempo, não é? Fala, Alan!

ALAN- (ABRAÇA ELA) Esquece isso, Josiele. Eu te amo. Não tenho


nada com ninguém a não ser com você.

JOSIELE- Será que devo acreditar nisso?

ALAN- Claro! Quem anda metendo esse tipo de coisa na sua cabeça,
hein?

JOSIELE- (TEMPO) O Luan. Ele me falou/

ALAN- (CORTANDO) Como pode acreditar nele? Ele me odeia! Claro


que inventaria qualquer coisa desse tipo para me vê longe.

JOSIELE- Ele é meu filho, Alan. (SOLTA-O) E SEU também. E eu


juro que estou quase acreditando nele.

ALAN- Sei que ele é meu filho. Mas inventar uma situação dessas,
como assim? Meu Deus! Ele tá falando mentiras pra você! Poxa,
Josiele!
JOSIELE- Você o ignora, Alan! Ele saiu de casa e até agora não
voltou. Tudo isso por quê? Por causa dessas discussões entre ele
e você. Ele namora a Carla, procura entender isso!

ALAN- Ela não é mulher pra ele, não é! E não sou só eu que sou
contra, mas a mãe dela também.

JOSIELE- E por que ela não é mulher pra ele? Por quê?

ALAN- Porque ela é filha da Paula e vamos esquecer isso. Você


tem uma apresentação no teatro ainda hoje e não podemos nos
atrasar.

JOSIELE- (DESISTINDO) Tudo bem. Vamos.

EM ALAN.

CENA 03 - EXT. PRAÇA QUALQUER. NOITE.

O Adolescente (CENA 01) está sentado na grama próximo de uma


árvore. A praça é rodeada de mangueiras, bancos, um pequeno lago
no centro. Os ventos tocam a folhagem das árvores, balançando-
as.

Ele segura na mão esquerda uma pedra pequena e a ARREMESSA para


longe. Olha para os lados e não vê ninguém e, então, se levanta.
Quando se vira vê uma Jovem de 16 anos, pele morena, olhos
pretos. Ela se aproxima.

ADOLESCENTE- Pensei que não iria vim mais Carla.


CARLA- Desculpa, mas é que tinha algumas coisas para fazer. E o
que houve dessa vez entre você e o seu pai?

ADOLESCENTE- Não é exatamente sobre mim e o meu pai, mas da


relação dele com a minha mãe. Cê sabe que eles vivem brigando.
Só queria que eles se dessem bem, ficassem em paz, entende?

CARLA- É claro, Luan. E o motivo foi àquela mulher, a Márcia?

LUAN- O pivô da briga sempre é ela. Custa ela se afastar do meu


pai?Deixar que ele viva a vida dele com a minha mãe? Ela quer
ser feliz a custa dos outros, mas não vai ser!

CARLA- Acho que não deveria se meter nisso. É o relacionamento


deles, não o seu. Sei que o Alan e você não têm um
relacionamento amigável, mas é melhor você ficar na sua. (PAUSA)
E ainda evita problemas pra você.

LUAN- Não posso ficar parado vendo tudo acontecer, olhando tudo
do alto como se nada fosse comigo. (TEMPO) Carla, eu acho melhor
eu ir para o teatro, hoje é a primeira apresentação da minha
mãe, aqui na cidade.

CARLA- (DESANIMADA) Tudo bem. Também tenho que ir pra casa.

LUAN- Me desculpa. Eu não queria trazer os meus problemas de


casa para o nosso relacionamento.
CARLA- A verdade é que não é só você quem faz esse tipo de
coisa, eu também.

LUAN- Você quer ir comigo no teatro?

CARLA- Se você quiser me levar.

LUAN- Claro que eu quero. Vamos.

Luan segura na mão de Carla e seguem andando de mãos dadas.

CÂMERA sobe mostrando um porte com a luz acesa. Desce para a


sombra de um homem, feita no chão de uma calçada.

Nas mãos dele um celular. Os seus dedos discam um número na


tela.

HOMEM-(O.S.) Eles acabaram de sair daqui.

VOZ MASCULINA- (V.O) O resto do plano já vai ser executado.

Ouvimos o bip da chamada encerrada.

CORTA PARA:

CENA 04 - INT.TEATRO AMAZONAS. CAMARIM. NOITE.


MÚSICA SOBE: NOSSA CANÇÃO- VANESSA DA MATA.

Por um grande espelho, o rosto de Josiele refletido. O cabelo


está preso em um coque, a maquiagem está concentrada nas
pálpebras (cores pretas e azuis fortes). Ela está sozinha no
ambiente. Olha para baixo e, logo depois,levanta, chorando.

JOSIELE- Não deveria te cobrar nada Alan. Nada.

FUNDE COM/

===== FLASHBACK =====

Em Josiele deitada sobre o peitoral cabeludo de um homem. Ela


está de olhos fechados.

VOZ MASCULINA- (O.S.) Acorda meu amor. Josi levanta. Tem que ir
para a casa.

Ela abre os olhos e passa a mão no rosto. Vê um homem de 41


anos, olhos azuis, pele branca. Ele sorri.

JOSIELE- Que bom que me acordou André.

ANDRÉ- Nós poderíamos acordar todos os dias dessa forma,


juntinhos.
JOSIELE- Também desejo a mesma coisa, mas a vida é feita de
escolhas. Escolhi o Alan como marido e você como amante.

ANDRÉ- Não quero ficar com você só quando o Alan te despachar.

JOSIELE- Eu e ele só discutimos. (TEMPO) E não entendo por que


se sente tão ofendido, afinal sempre foi assim.

ANDRÉ- (LEVANTA DA CAMA) O que quer dizer com isso? Que eu fico
sempre com o resto?O que o Alan deixa para trás, é?

JOSIELE-Não quis dizer isso.

ANDRÉ- (PAUSA) É melhor você ir para casa, depois nos falamos.

CORTA PARA:

===== FIM DO FLASHBACK =====

Josiele enxuga as lágrimas, maquiando-se novamente. A porta abre


e Alan entra, caminhando até ela. Ele a beija na bochecha.

ALAN- Você me perdoa?

JOSIELE- Te perdoar por quê?

ALAN- Se eu não puder ver a peça hoje?


JOSIELE- O que houve?

ALAN- Tenho que resolver alguns problemas da companhia, com os


patrocinadores.

JOSIELE- Não estava tudo certo?

ALAN- Na verdade tá tudo certo. Mas sabe como é patrocinador.

JOSIELE- Não demora. Eu quero você aqui, pelo menos antes de


terminar a apresentação.

ALAN- Eu vou estar.

Alan beija Josiele. Ele sai em seguida.

MÚSICA CESSA. CORTA PARA:

CENA 05 - INT. BECO QUALQUER. NOITE.

MARCELO (30 anos, pele branca, olhos castanhos) acende um


cigarro de cocaína na boca. Ele olha para os lados, apreensivo.
Ambiente mal iluminado. A fumaça sai do cigarro que, aos poucos,
é corroído pelo fogo. ESCUTAMOS tossidas.

Os olhos de Marcelo são tomados por uma vermelhidão. Ele passa a


mão no rosto suado e acende outro cigarro. Volta a TOSSIR.
CORTE DESCONTÍNUO PARA/

Pés masculinos caminham cambaleantes no beco. É Marcelo. Ele


olha zonzo para os lados e apoia uma das mãos na parede. Uma
SOMBRA masculina passa correndo diante dos olhos dele. Ele se
assusta.

MARCELO- (TOM) Some daqui! Me deixa em paz, some!

Ele se apoia na parede e cai no chão. Esgueira-se de joelhos até


a SAÍDA do beco. OUVIMOS o som de chocalhos e tambores.

VOZ MASCULINA- (V.O) Vem até mim, vem!

Batuques AUMENTAM. Uma neblina cobre o lugar. Marcelo se levanta


do chão e sai do beco.

Nele apressando os passos na rua. Sonoplastia dos batuques, off.

Marcelo anda na rua, apressado, e vê um carro dobrar na esquina.


O automóvel AUMENTA a luz do farol. Marcelo fecha os olhos.

CORTA PARA:

CENA 06 - INT. CASA DE ALDEÃ. TERREIRO. NOITE.


ABRE na imagem de Iemanjá sobre uma mesinha com cestas de frutas
ao redor.

PLANO SEQUÊNCIA:

1. Imagem de Olodum.

2. Velas vermelhas, brancas e azuis acesas.

3. Algumas garrafas com líquidos misturados a ervas.

4. Incenso aceso dentro de uma meia garrafa.

De costas, um homem, fala baixinho algumas palavras que não


entendemos. Uma mão feminina se coloca no ombro dele.

HOMEM- Fique calma, minha filha. Vá se arrumar, porque ele já


está chegando. Ele é seu.

Os joelhos da mulher curvam-se e chegam ao chão.

MULHER- (O.S) Obrigada meu pai.

Ela se levanta e sai do local. Ele levanta as mãos para CIMA e


reverencia ao alto.

HOMEM- O entregue aos pés dela, minha santa.


E ele pega no chão uma faca pequena. Desliza no dedo indicador
da mão esquerda e corta a pele. O sangue escorre e PINGA no
chão. O homem fecha os olhos e, satisfeito, sorri. Na imagem de
Iemanjá.

FUSÃO PARA:

CENA 07 - INT. CASA DE ALDEÃ. SALA. NOITE.

Na TV vemos um desenho animado sendo exibido.

Um Garoto (9 anos, pele parda, olhos castanhos), está coberto


por um lençol. Ele ri assistindo a TV.

VOZ FEMININA- (O.S) Você tem que trocar de roupa, Lucas. O seu
pai já está vindo.

Ele olha para o lado e vê a Mulher (CENA 06) encostada na


parede. Ela se desencosta e vai até ele. Puxa o lençol.

LUCAS- Por que não podemos ficar em casa?

MULHER- Porque o seu pai quer passear com a gente hoje. Faz dois
dias que ele não vem aqui. Ele tá com saudade de você.

LUCAS- Eu acho que não. Ele tem outro filho com aquela atriz, a
Josiele. Nem deve sentir falta de mim.
MULHER- Como não? Ele é seu pai também. Ele gosta de vocês dois.

LUCAS- (RINDO) Se a senhora tá dizendo.

Ela fica pensativa, enquanto Lucas se diverte vendo TV. OUVIMOS


a buzina de um carro.

MULHER- É ele, filho.

ALAN- (OFF) Abre aqui, Márcia!

MÁRCIA- Já estou indo!

Márcia se levanta do sofá e caminha até a porta. Lucas pega o


controle debaixo de uma almofada e troca de canal.

MÁRCIA- (O.S) Ainda bem que você veio.

Alan abraça Márcia, ela fecha a porta e eles se dirigem até o


sofá. Alan se senta no sofá e pega na mão de Lucas.

ALAN- Tudo bem com você?

Lucas faz que sim, sem olhar para Alan.


ALAN- Vamos passear hoje?

LUCAS- O senhor tem outra família, não é?

Alan fica calado e encara Márcia. Lucas percebe os olhares.

LUCAS- Eu sei que tem! Tem um filho! Uma esposa!

MÁRCIA- Filho, por favor!

ALAN- Quem te contou esse tipo de coisa?

LUCAS- Os meus amigos da escola. Um deles viu você com a sua


mulher. É verdade?

MÁRCIA- É claro que/

ALAN- (CORTANDO) É verdade. Mas eu amo você e a sua mãe.

LUCAS- (LEVANTANDO-SE) Não quero falar com você!

Ele sai correndo pelo corredor. OUVIMOS a porta batendo.

MÁRCIA- Você não deveria ter falado a verdade.

ALAN- Do que adiantaria mentir?


MÁRCIA- Vou falar com ele e depois vamos ok?

ALAN- Tá.

EM ALAN.

CENA 08 - EXT. RUA QUALQUER. NOITE.

MÚSICA SOBE: CONDINOME BEIJA-FLOR - CAZUZA.

Luan e Carla caminham de mãos dadas. Os dois param diante da


entrada de uma sorveteria.

CARLA- Você sabe que eu gosto de sorvete, não sabe?

LUAN- (REPARA NA SORVETERIA) Então vamos?

CARLA- Oba!

Carla puxa Luan para DENTRO DO AMBIENTE.

MUSIC FADE.

CORTA PARA O INTERIOR DA SORVETERIA:


Luan está sentado em uma cadeira e, ao lado, está Carla.

LUAN- Tenho um presente pra você.

CARLA- Que tipo de presente?

LUAN- Veja com seus próprios olhos.

Ele afasta a cadeira e fica de pé. Retira um cordão do bolso.


CÂMERA DETALHA o pingente com a letra C.

Carla sorri para Luan, que se senta novamente na cadeira,


chegando-a para próximo da garota.

LUAN- O que acha?

CARLA- É lindo. Mas tem um problema.

LUAN- Qual?

CARLA- Eu não posso chegar com ele em casa. Você entende, não é?

LUAN- Por causa da sua mãe? (PAUSA) E sim eu entendo.

CARLA- Gostei muito do presente. Ele é muito importante.


Luan sorri, com certo desgosto.

CARLA- Você não vai ficar com raiva?

LUAN- Sei como é a dona Paula. E eu te amo.

CLOSE EM CARLA.

VOLTA À CENA.

CLOSE em pés masculinos andando no asfalto. CÂMERA ABRE e mostra


Marcelo andando apressado pela rua. Ele olha, nervoso, para
trás.

CORTA PARA:

CENA 09 - INT.TEATRO AMAZONAS. PALCO. NOITE.

CÂMERA gira mostrando o teatro por inteiro, as cabines, as


pinturas nas paredes, as colunas. Para mostrando as pessoas
acomodadas nos seus assentos.

A cortina vermelha abre-se. As pessoas APLAUDEM, e a CÂMERA


CORTA para Josiele entrando no palco. A luz se apaga, e somente
um feixe ilumina Josiele no centro. Uma neblina artificial
invade o palco. Instrumental de harmonia. Ela começa a fazer
movimentos com as mãos para o alto.
JOSIELE- (CLOSE) O amor é uma das mais potentes armas do mundo.
É capaz de nos fazer cometer os mais bárbaros crimes, nos
tornando seres eloquentes. É isso que nos diferencia das simples
máquinas, incapazes de sentir o amor que corre nas nossas veias.

Ela rodopia no centro do palco e para bem na frente de braços


abertos. Instrumental out. CORTA para um celular sendo segurado
por mãos masculinas, até revelar um Homem (30 anos, pele parda,
olhos pretos)sentado em um dos bancos. No visor do celular lê-
se: Já pode começar.

MÚSICA SOBE: NOSSA CANÇÃO- VANESSA DA MATA.

Ele se ajeita na cadeira e coloca o celular no bolso, retirando


uma arma da cintura. Olha para os lados. Levanta o dedo
indicador e dá sinal para outros dois homens sentados próximos.

FADE OUT

FADE IN no cano da arma sendo apontada na direção do palco.


OUVIMOS o engatilhar. CORTA para mãos masculinas puxando o
gatilho, atirando.

SUPER ZOOM na trajetória da bala até o lado esquerdo do pulmão


de Josiele ser perfurado.

SLOW MOTION nela caindo no chão do palco. As pessoas levantam-se


das cadeiras, assustadas, e saem correndo do ambiente.

OUVIMOS outro tiro.


Um homem caído no chão.

VOZ MASCULINA- (O.S) Chamem a polícia! Avise aos bombeiros!


Socorro!

CÂMERA acompanha em TRAVELLING pés masculinos calçados por


sapatos pretos aproximando-se de Josiele caída no chão. Da boca
dela sai sangue. CÂMERA sobe pela perna direita e mostra na mão
do homem uma arma e, logo depois, GIRA pelas costas e mostra o
homem de frente. Ele está usando uma máscara de lobo.

JOSIELE- (VOZ EMBARGADA) Quem é você?

HOMEM- Não é por você.

Ele solta o gatilho da arma e a bala crava na cabeça de Josiele.

MUSIC FADE

CORTA PARA:

CENA 10 - INT. CASA DE ALDEÃ. COZINHA. NOITE.

Uma garrafa de café é aberta por mãos masculinas, até revelar


Homem (CENA 06) colocando o líquido dentro de uma xícara. A
porta da cozinha está aberta. Ele caminha até a mesma sentando-
se no chão e bebe um gole do café.
Logo atrás, Márcia se aproxima do Homem.

MÁRCIA- Pai eu vou ter que sair e o Lucas vai ficar, tudo bem?

HOMEM- Tudo bem. Pode ir, filha.

ALAN- (O.S) Boa noite, senhor Aldeã.

Aldeã se levanta e vê Alan.

ALDEÃ- Bom rapaz. (OFERECE) Quer tomar um cafezinho?

ALAN- Obrigada, mas nós vamos sair pra tomar um sorvete.

ALDEÃ- E por que o Lucas não vai com vocês?

MÁRCIA- É que.../

ALAN- (POR CIMA) Ele sabe que eu tenho outra família e ficou
chateado.

ALDEÃ- Ele merecia saber há muito tempo. Ele é um bom garoto e


gosta muito de você.

ALAN- Eu sei.
ALDEÃ- E o seu outro filho? Ele sabe que tem um irmão?

ALAN- Desconfia. (P/ MÁRCIA) Acho melhor nós irmos. (P/ ALDEÃ)
Depois conversamos.

ALDEÃ- Tudo bem.

MÁRCIA- Tchau, pai.

Alan e Márcia saem da cozinha. Aldeã puxa uma cadeira da mesa e


se senta. Pensa em algo e rapidamente levanta-se. Ele vai até o
guarda-louça e abre uma das portas. Lá dentro há algumas panelas
e ele pega a última. Tira de dentro um álbum e o joga na mesa.
Senta e o folhe-a. Deixa uma lágrima cair numa foto e a CAM
revela uma mulher morena, que está grávida e sorridente.

ALDEÃ- Deveria ter feito alguma coisa pra te salvar.

FLASHBACK PARA:

OUVIMOS as sirenes da polícia. De costas um homem usando preto


segura uma arma prateada e a aponta para Aldeã (Mais novo), este
encostado na parede.

ALDEÃ- Não faz isso com ela, por favor! Não mata ela!

HOMEM- Se ela não ficar comigo com mais ninguém irá ficar!
E o homem se vira apontando a arma para uma mulher morena. Ela
se desespera e começa a chorar.

MULHER- Não, por favor! Não!

HOMEM- Morre sua rapariga!

E ele solta o gatilho e o tiro acerta na mulher, ela despenca no


chão, MORTA.

FIM DO FLASHBACK.

Com uma mistura de dor e ódio, Aldeã joga a garrafa de café no


chão e chora.

ALDEÃ- (TOM) Eu fui um FRACO! Deixei ela morrer! (BATE EM SI)


FRACO! FRACO!

CORTA PARA:

CENA 11 - EXT. RUA. NOITE.

Luan segura uma sacola com sorvete e sorri para Carla, ao lado.

LUAN- Eu sempre me perguntei o porquê da sua mãe ter raiva de


mim. Juro que não entendo.
CARLA- Também não. No começo eu pensava que era pelo fato de ser
a filha, entende? Mas acho que não. Deveria ser só uma
implicância passageira, mas não é.

LUAN- (Ri) Engraçado que o Alan também não apoia o nosso


relacionamento. (P) Mas, pensando bem, eles não precisam apoiar
nada, nós sabemos o que queremos.

CARLA- E parece que com o tempo tudo está se firmando.

Luan para e olha para Carla, abraçando-a. Logo depois, beijam-


se.

Eles continuam a caminhar na calçada. Uma ambulância em alta


velocidade vem pela rua, cantando pneu, seguida de dois carros
de polícia. Luan e Carla encaram os três veículos passando por
eles.

LUAN- Pra onde será que estão indo?

CARLA- Não sei, mas tomará que não tenha acontecido nada grave.

Os dois andam a passos ágeis e chegam PRÓXIMO ao teatro. OUVIMOS


as sirenes. Luan olha para Carla, nervoso.

LUAN- (ALTO) O som das sirenas estão vindo do teatro! Aconteceu


alguma coisa lá!
Luan solta a mão de Carla e corre desesperado pela rua.

CARLA- (GRITA) Me espera! Luan volta aqui!

CÂMERA acompanha Luan em VISÃO AÉREA, ele se aproxima da frente


do Teatro. Carla, logo atrás.

Um pano branco é colocado sobre o corpo de Josiele, numa maca.


Há vários curiosos em volta. Fotógrafos registram a cena.

Apavorado, Luan vê a cena. Ele chora desesperado.

LUAN- (GRITA) Cadê a minha mãe? Diz onde ela tá!

Ele corre até a maca e puxa o pano de cima do corpo de Josiele,


com sangue escorrendo a face dela.

LUAN- (ATERRORIZADO) Mãe! Não pode ser!

CORTA PARA:

CENA 12 - INT. CASA DE ALDEÃ. SALA. NOITE.

Aldeã cochila. A luz da televisão ilumina o recinto. OUVIMOS um


barulho vindo da cozinha.Ele se espanta e levanta-se.
ALDEÃ- (ATORDOADO) O que foi?(ESFREGANDO A MÃO NOS OLHOS) Quem
tá aí?

Ele caminha pelo CORREDOR e vê a porta da cozinha aberta. Ele


apressa os passos e

ENTRA na COZINHA.

O vento forte entra na casa e balança as panelas que estão na


parede. Aldeã segura na porta e a empurra para fechar.

VOZ MASCULINA- (O.S.) Onde está o garoto, Aldeã?

Aldeã se vira e vê André, segurando uma arma.

ALDEÃ- O que você quer com o Lucas?

ANDRÉ- Não sou eu que quero, mas sim a Facção.

ALDEÃ- (TOM) Ninguém vai levá-lo daqui!

ANDRÉ- Não me obrigue a usar a arma. Eu não quero matar ninguém.

ALDEÃ- E não vai por que você vai embora daqui!Anda, sai!

DISSOLVE EM ALDEÃ.
CENA 13 - INT. SORVETERIA. NOITE.

MÚSICA SOBE: OCEANO- DJAVAN.

Alan e Márcia sentados numa mesa tomando sorvete. Ele coloca uma
colher de sorvete na boca e olha firme ao léu. Márcia o observa.

MUSIC FADE

MÁRCIA- Tá pensando ainda no que aconteceu lá em casa?

ALAN- Nós não deveríamos ter vindo pelo menos não sem ele.

MÁRCIA- Eu sei. Esse tipo de situação vai ser inevitável e você


sabe disso.

ALAN- Tenho pena dele. (Faz uma longa pausa) Vamos embora? Ainda
preciso ir ao teatro.

MÁRCIA- Claro, vamos.

Eles se levantam das cadeiras e saem.

CORTA PARA - CARRO DE ALAN.


MÁRCIA coloca o cinto e cruza os braços. Abaixa o vidro, olhando
da janela. Alan coloca a mão sobre a perna dela.

ALAN- Desculpa acabar com o seu dia.

MÁRCIA- Vamos passar na frente do teatro?

ALAN- (RETIRANDO A MÃO DA PERNA DELA) Não. Vou dá a ré e seguir


estrada por essa rua mesmo.

MÁRCIA- (FALANDO BAIXO) Qual a estabilidade que eu tenho em está


com você? Vendo agora, eu acho que nem uma.

ALAN- Quando nos envolvemos você sabia que eu tinha uma família.

MÁRCIA- Na época vocês estavam brigados. Pensei... Talvez, eu


tivesse pensado rápido demais. Se pudesse voltar atrás.

ALAN- Acho que você faria a mesma coisa, porque gosta de mim.

MÁRCIA- E desde quando gostar é segurança de alguma coisa? Você


sabe que há muitos comentários a respeito da paternidade do
Luan, não sabe?

ALAN- Eu não quero falar sobre isso.


MÁRCIA- Mas eu quero! A sua mulher, a maioral, a digníssima
Josiele, talvez tenha pulado a cerca. (SORRI) Não uma vez, mas
sim várias.

ALAN- Ela não seria capaz de tanto. Ela não é igual/

MÁRCIA- (CORTANDO) Igual a mim? Se fosse, com certeza esses


comentários não existiriam. (P) Você sabia que é de um puta que
se faz uma senhora e de uma senhora, se faz uma puta?

ALAN- Vamos embora.

MÁRCIA- Tá fugindo do assunto, por quê? Tu tá vendo que ela não


é o que parece e muito menos é o que você pensa.

ALAN- Cê tá com raiva de mim?

MÁRCIA- (CHORANDO) Você passou dois dias sem aparecer em casa.


Eu queria alguém presente na minha vida, nada mais.

ALAN- Desculpa. Juro que... Não é hora de jurar, não é?

MÁRCIA- Não. Só quero que tenha a consciência que tem um filho e


que ele precisa de você.

EM MÁRCIA.

CENA 14 - EXT. FRENTE DO TEATRO. NOITE.


Luan chora em cima do corpo de Josiele. Um bombeiro tenta contê-
lo, mas ele o empurra.

FUNDE COM/

== FLASHBACK ==

LEGENDA: Alguns anos atrás.

De costas, um garoto abraça uma mulher, com o rosto DESFOCADO.


Ele se vira, revelando Luan, com seus 10 anos, usando uma
bermuda jeans, camisa da seleção brasileira. Ele desce do colo
da mulher, e o rosto dela DESFOCA, revelando Josiele (Com seus
28 anos), usando uma calça jeans e uma camiseta verde.

LUAN- (VOZ DE CRIANÇA) Mãe eu quero ter uma coisa sua e outra do
meu pai.

JOSIELE- (O.S) Quais são elas, filho?

LUAN- Da senhora, a dignidade, e do meu pai, a honestidade.

(V.O) Risadas de Josiele e Luan.

== FIM DO FLASHBACK ==

Luan ergue o rosto sujo de sangue e enxuga as lágrimas.


Uma faixa interdita à entrada no teatro. Alguns policiais fazem
a segurança em volta, para que o bloqueio não seja furado. Luan
corre desesperado e passa por baixo da faixa.

Carla corre tentando alcançá-lo e deixa cair a sacola do


sorvete. Dois policiais seguem atrás deles.

CORTA PARA O INTERIOR DO TEATRO.

Luan corre e para na entrada para o palco. Vê uma poça de sangue


no chão. Ele apressa o passo, chorando. Vai até o
centro,ajoelha-se, e abaixa a cabeça. Ele berra fazendo com que
ECOE pelo ambiente.

OUVIMOS passos se aproximando dele.

Ele se vira e vê Carla, ela chega mais perto e senta ao lado.

LUAN-(SOLUÇANDO) Quem poderia ter feito isso? Quem! A minha mãe


sempre foi boa para todas as pessoas, sempre as ajudou. Eu não
me conformo, não mesmo!

CARLA- Não sei nem o que dizer, mas vai dá tudo certo.

LUAN- Meu pai. Onde ele tá?

CARLA- Não o vi quando cheguei aqui.


LUAN- Ele deve está com ela, com a Márcia! Com a vagabunda
daquela mulher! Eu a odeio!

CARLA- Nós temos que avisar para ele.

LUAN- Não! Ele vai chegar em casa e eu vou dá a notícia.

CARLA- Precisamos sair daqui. Tem algumas coisas para serem


feitas. Vamos.

Ele se apoia no corpo de Carla, levantando-se. Um policial entra


no palco e a ajuda a levar Luan.

CENA 15 - EXT. FRENTE DO TEATRO. NOITE.

Carla, Luan e o policial saem do teatro.

Muita movimentação entorno do lugar, alguns repórteres,


policiais, bombeiros, as vítimas.

Um repórter segura um gravador e passa por baixo da faixa de


interdição. Corre até Luan.

REPÓRTER- Luan Alves!Você suspeita de quem tenha cometido esse


crime bárbaro contra a sua mãe, Josiele?

LUAN- Não quero falar com ninguém.


REPÓRTER- Só uma declaração.

O policial aproxima-se e puxa o repórter, empurrando-o. Ele cai.

POLICIAL- Você ouviu ele, some!

O repórter se levanta e, intimidado, pelo policial vai embora.

Carla abraça Luan.

CARLA- Pra onde cê vai?

LUAN- Pra qualquer lugar, mas que seja longe daqui.

CARLA- Quero ir com você.

LUAN- Cê tem que ir pra casa, não quero que tenha problemas por
minha causa.

CARLA- Os meus problemas são pequenos perto dos seus.

LUAN- (INSISTE) Boa noite.

Ele aproxima-se dela e toca com a ponta do dedo o rosto de Carla


e o aproxima do seu, beijando-a.
CORTA PARA:

CENA 16 - EXT. CASA DE VALÉRIA. NOITE.

Marcelo bate na porta de uma casa humilde, pintada de azul. Ele


bate insistente. Até que OUVIMOS o barulho de uma chave sendo
colocada na fechadura. Ele se afasta da porta e ela se abre.

MARCELO- (CLOSE) Me ajuda. Me ajuda Valéria, por favor!

Valéria (28 anos, pele morena, olhos castanhos, cabelo longo


preso) abre a porta e se aproxima de Marcelo. Ele a abraça.

VALÉRIA- Entra Marcelo.

MARCELO- (CHORANDO) Eu não quero mais isso. Eu não quero! Esse


vício tá me consumindo. Não consigo mais parar!

Ele solta Valéria e senta no chão perto da porta.

MARCELO- Me ajuda minha irmã, por favor! É só isso que eu te


peço.

VALÉRIA- (EMOCIONADA) Eu vou te ajudar e você vai sair desse


vício.

CORTA PARA:
CENA 17 - INT. CASA DE ALDEÃ. COZINHA. NOITE.

Continuação da cena 12. André aponta a arma para Aldeã e


aproxima-se do senhor.

ANDRÉ- (TOM) Ele tá no quarto, não é? Chama ele!Chama! (CHAMA


ALTO) Lucas! Lucas!

ALDEÃ- Deixa ele em paz, André! O que você quer com ele? O que a
facção quer com o meu neto?

ANDRÉ- Ele não é seu neto Aldeã. É neto do Miguel, o verdadeiro


pai da Léia.

ALDEÃ- (TOM/FIRME) Fique calado, seu maldito! Você vai pagar


caro por tudo que tá fazendo.

ANDRÉ- Tá me ameaçando Aldeã? Com as suas bruxarias, é? Eu vou


queimar o seu terreiro, seu macumbeiro!(CHAMA ALTO) Lucas!
Lucas!

Aldeã começa a falar algumas coisas em tupi-guarani e, aos


poucos, CRESCE a voz.

ANDRÉ- (ESTRESSADO) Cala a boca seu venho imprestável! Cala a


boca!
ALDEÃ- Que os deuses do candomblé me protejam. Me guarde
iemanjá.

ANDRÉ- Filho do demônio! Arda no inferno!

André puxa o gatilho e atira contra a cabeça de Aldeã. Ele CAI


morto no chão.

André se aproxima do corpo e pisa na cabeça do morto.

ANDRÉ- Você mereceu.

Ele segura a arma para o alto e segue pelo CORREDOR.

André chega até a porta do QUARTO DE LUCAS. Ele empurra a porta


e a abre. André

ENTRA NO QUARTO.

Lucas está deitado na cama, enrolado dos pés à cabeça. André


caminha até a cama e puxa a coberta. Lucas se espanta e olha
para André, com a arma apontada para ele.

ANDRÉ- (RÍSPIDO) Anda garoto! Levanta!

Lucas se senta na cama,assustado.


LUCAS- (CHOROSO) Onde tá a minha mãe? Cadê meu vovô?

ANDRÉ- O seu avô foi fazer uma viagem só de ida para o inferno.
E você vem comigo.

LUCAS- Você matou o meu avô?

ANDRÉ- Matei! E Deus deve me agradecer por isso.

Lucas levanta rapidamente da cama e bate em André, que abaixa a


arma. Lucas dá vários socos na barriga dele. André não revida
até que Lucas para, chorando.

LUCAS- (TOM) Assassino! (SEM FORÇAS) Assassino! Você matou o meu


avô.

ANDRÉ- Por mim mataria todos vocês.

Ele segura no cabelo de Lucas e o arrasta para

FORA DO QUARTO.

LUCAS- Me solta, por favor! Me larga!

André joga brutalmente Lucas no chão do CORREDOR. Ele ri


debilmente do garoto. Lucas chora sem consegui se levantar.
ANDRÉ- (RINDO) Foi sem querer garoto.

LUCAS- Por que tá fazendo isso comigo? Por que matou o meu avô?

ANDRÉ- Você vai ter todas essas respostas, mas no momento certo.

Escuta-se o frear de um carro.

André se agacha perante Lucas e roça a arma na cabeça do garoto.

ANDRÉ- Eles chegaram. Você vai fazer silêncio e caminhar para o


quintal. Vai garoto! Levanta!

Lucas se apoia na parede e levanta. O rosto está ferido e


sangra. André segura no braço dele e o puxa pelo corredor.

CENA 18 - INT. CASA DE ALDEÃ. COZINHA. NOITE.

O corpo de Aldeã está estirado no chão, com o crânio perfurado.


CÂMERA em PLANO DETALHE da arma sendo segurada por André, que
está apontada para a cabeça de Lucas. Ele percebe o avô, Aldeã
no chão e, com força, puxa o braço da mão de André. Abaixa-se
perante Aldeã.

LUCAS- (Chorando) Vô! Fala comigo!

ANDRÉ- Vamos garoto! Larga esse velho!


André segura no braço de Lucas, puxando-o de cima do corpo de
Aldeã. Os dois vãos para o QUINTAL.

CENA 19 - INT. FRENTE DA CASA DE ALDEÃ. NOITE.

Márcia fecha a porta do carro e acena para Alan, que retribui


sério.

MÁRCIA- Boa noite.

O carro sai em alta velocidade. Márcia fica ali por um tempo


vendo o carro tomar distância. Depois se volta para a entrada da
casa e retira uma chave do bolso. Abre a porta e entra.

CENA 20 - INT. CASA DE ALDEÃ. COZINHA. NOITE.

A porta da cozinha está escancarada. Logo em frente, o corpo de


Aldeã.

MÁRCIA- (OFF) Pai?

No corpo de Aldeã. CÂMERA mostra em SEGUNDO PLANO, Márcia


entrando na cozinha. Olha para baixo e vê Aldeã morto. Ela corre
desesperada e abaixa-se, chorando, diante do pai morto.

MÁRCIA- (CHORANDO) Pai! Fala comigo! Pai acorda! (OLHA PARA OS


LADOS) Cadê o meu filho? Lucas? Cadê você?
Márcia se levanta e fita a porta escancarada. Vê André com a
arma apontada para a cabeça de Lucas em frente ao terreiro.

MÁRCIA- (GRITA) Meu filho!

CÂMERA dá um CLOSE nos pés dela correndo sobre a areia fina do


QUINTAL.

Os olhos dela percorrem ansioso o lugar escuro. Uma lágrima


escorre a face. CORTA para o dedo de André engatilhando a arma.

As mãos de Lucas tremem.

MÁRCIA- (O.S) O que você quer?

André aponta a arma para Márcia, que não para de se aproximar.

ANDRÉ- Fica longe! Se não eu mato o seu filho.

LUCAS- Mãe me tira daqui!

Márcia para diante da arma, pressionando o cano contra a roupa.


O suor escorre o rosto e mistura-se com as lágrimas. Clima de
tensão.

Lucas agarra a perna de Márcia, apoiando-se nela até consegui se


levantar. Eles se abraçam.
A arma treme na mão de André.

MÁRCIA- O que você ganha com isso André? Você é um delegado.

ANDRÉ- A facção quer você e o garoto.

MÁRCIA- Pra quê?

ANDRÉ- (TOM) Que inferno! (BALANÇA A ARMA) Fica calada, Márcia!


Entra pra esse terreiro. Agora!

André afasta e aproxima-se de Márcia. A empurra para a entrada


do terreiro. Ela continua a abraçar Lucas.

ANDRÉ- Entra!

CENA 21 - EXT. RUA. NOITE.

O carro de Alan segue pela rua, sem muito movimento.

CORTA PARA- CARRO DE ALAN.

Alan gira o volante do carro e dobra uma esquina. O celular dele


começa a tocar. Ele pega o aparelho do bolso e na tela: Número
restrito. Ele atende.

ALAN- Alô, quem tá falando?


VOZ MASCULINA- (V.O) Boa noite, Alan. Como está sendo o seu dia?

ALAN- Não muito bom. Mas quem tá falando?

VOZ MASCULINA- (V.O) Não lembra de mim?

ALAN- Não eu não lembro. Trata de dizer logo seu nome, senão eu
vou desligar.

VOZ MASCULINA- (V.O) Por que a pressa? Já que foi graças a mim
que conheceu a Josiele. No Rio de Janeiro, assim que saiu do
presídio. Acusado de quê mesmo? (P) Roubo, não foi? Tempos de
fome eram aqueles né Alan?

ALAN- Como sabe de tudo isso?

VOZ MASCULINA- Eu sei de mais. Sei até que você deixou a amante
agora a pouco na casa do pai dela, e que a Josiele está morta.

ALAN- (TOM) Você tá blefando!

VOZ MASCULINA- Será mesmo? (P) O seu filho Lucas está nas mãos
de um bandido, junto a mãe dele.

ALAN- (FIRME) O que você quer comigo?

VOZ MASCULINA- Quero que você volte para a Facção.


ALAN- Eu nunca vou voltar! Nunca!

VOZ MASCULINA- Vou te dá só uma chance: Volta para a Facção e eu


não mando matar o seu filho.

Alan joga o celular no banco de trás, enfurecido.

ALAN- Eu não posso acreditar em nada do que ele falou, não


posso! (CHORANDO) O meu filho! A Josiele! Meu Deus!

Ele bate com força no volante. Alan passa a marcha.

VOLTA À CENA.

ÂNGULO AÉREO do carro que rodopia na rua e faz a curva em alta


velocidade. O veículo passa por uma lombada sem frear.

CORTA PARA:

CENA 22. CASA DA FAMÍLIA SANTOS. SALA. INT. NOITE.

Carla entra pela porta da sala e a fecha em seguida. Ela anda


até um sofá no centro do recinto e acomoda-se ali.

O ambiente é composto de móveis de madeira antigos,


provavelmente herdados dos antepassados, prateleiras com
porcelanas em forma de jarros pintados a mão, pinturas
marajoaras em louças na parede. Um abajur sobre uma mesinha.

VOZ FEMININA- (O.S) Como foi a noite, Carla?

Carla olha pra trás e vê uma mulher de 42 anos, pele morena,


olhos castanhos, usando uma roupa de dormir. Ela desce a
escadaria. Carla se levanta.

MULHER- Eu aposto que tava com aquele garoto. O filho da


Josiele.

CARLA- Estava com ele sim.

MULHER- Você é uma sem vergonha! Não sei como Deus me deu uma
filha igual a você. Sabe que não gosto daquele garoto.

CARLA- Mas eu gosto! E isso já basta pra mim. Aliás, sempre quis
saber o que a senhora tem contra o Luan.

MULHER- Não tenha nada contra ele. Só não quero que fique com
nenhum garoto, porque todos vão te fazer sofrer. E
principalmente o filho da Josiele.

CARLA- A senhora não suporta a Josiele, não é? (P) Não se


preocupe, pois ela foi assassinada!

Close na Mulher, surpresa. Ela caminha até Carla, encarando-a.


MULHER- Como assim a Josiele foi assassinada?

CARLA- Ela foi morta durante a apresentação de estréia dela no


teatro. E parece que foi algo armado pra ela morrer.

MULHER- E o Alan? Ele sabe que ela morreu?

CARLA- Ele não sabe. Ele não estava lá na hora que tudo
aconteceu. Você não precisa mais se importar com a Josiele. Boa
noite, dona Paula.

Carla passa por Paula e sobe lentamente os degraus da escada.


Paula ainda surpresa.

CORTA PARA:

CENA 23. CASA DE ALDEÃ. TERREIRO. INT. NOITE.

CÂMERA na chama de uma vela acesa. Afasta-se e mostra por trás


da vela, Márcia e Lucas encolhidos em um canto, abraçados. André
passa a frente dos dois, segurando um celular discando um
número, ligando.

ANDRÉ- Tá tudo certo com a van? Ela já tá chegando? (T) Vou


levá-los para entrada da casa. (ENCERRA A LIGAÇÃO) O transporte
de vocês dois já está vindo.

André anda até a imagem de Iemanjá, com a arma apontada para a


representação. Ele olha para trás e ri para Márcia. Ele se vira
e puxa o gatilho, atirando. A porcelana se estoura, quebrando-se
em mil pedaços e CAI no chão do local.

ANDRÉ- (TOM) Se levantem! Agora!

Márcia levanta junto a Lucas, ele chora muito assustado. André


pega um isqueiro no bolso e vai até a vela, colocando-a deitada
sobre a mesa, e o isqueiro próximo. Ele se afasta e aponta a
arma para a cabeça de Márcia, guiando-os para FORA DO TERREIRO.

VOLTA em CLOSE na chama da vela derretendo o plástico do


isqueiro, aos poucos. Ao pé da mesa, uma garrafa de álcool.

CENA 24 - INT. CASA DE ALDEÃ. QUINTAL. NOITE.

André puxa pelo braço de Márcia, que está abraçada com Lucas.
Ele EMPURRA os dois no chão do quintal. André vira-se para o
terreiro com a arma balançando na mão.

ANDRÉ- (GRITA) Explode! Centro do inferno!

SOBE INSTRUMENTAL DA MÚSICA CASTLE OF GLASS- LINK PARK.

PLANO GERAL. Márcia abraçada junto a Lucas no chão. O terreiro


se EXPLODE e faz um ESTRONDOSO BARULHO. A fumaça toma conta do
quintal.

MUSIC FADE
CORTA PARA:

CENA 25 - EXT. INT. COMPILAÇÃO DE CENAS. NOITE.

INSTRUMENTAL DE AÇÃO.

1. CARRO DE ALAN. INT.

O celular está sobre o banco do carona, vibrando. CÂMERA foca na


tela e lê-se: Número restrito.

Alan dirige atento, mas desvia o olhar e vê o aparelho vibrando.


Ele pega o celular e atende a ligação. Cena alterna entre Alan
dirigindo e um Homem, de costas para a câmera, em um ambiente
mal iluminado.

ALAN- (ESTRESSADO) O que você quer? Se for me deixar louco tá


conseguindo!

HOMEM- Está aflito, Alan? Se fosse você pisaria fundo nesse


acelerador, porque a Márcia e o Lucas estão sendo levados da
casa do Aldeã.

ALAN- Seu maldito! O que você quer com eles?

HOMEM- Você é quem eu quero Alan. Você é o causador de tudo


isso. Foi você quem fugiu da Facção. Nos passou a perna.
ALAN- Você me usou! Usou todos que estavam lá. Viu que eu estava
fraco, preso naquele presídio sozinho e usou disso para me
transformar num matador de aluguel.

HOMEM- (TOM) E é isso que você é! Um matador a preço fixo! Sujou


as mãos de sangue muitas vezes, viu crianças pedindo socorro
rente a você e o que fez? As matou! Com um tiro certeiro na
cabeça delas.

ALAN- Vai pro inferno!

HOMEM- (off) Corre Alan, corre! Senão não irá chegar a tempo na
casa da sua amante.

Corta antes para/

2. FRENTE DA CASA DE ALDEÃ. EXT.

Cláudio (Alto, branco, 25 anos) abre a porta traseira da van.


Olha para trás e vê André com a arma apontada para a cabeça de
Márcia e Lucas.

ANDRÉ- Entrem na van.

Márcia encara Cláudio, que desvia o olhar para o chão. Ela ajuda
Lucas a entrar na van e sobe logo depois. Cláudio fecha a porta.
André abaixa a arma e aproxima-se de Cláudio.

ANDRÉ- O Junior tá aí dentro?


CLÁUDIO- Tá sim. Você vai para o galpão?

ANDRÉ- Não. Tenho que ir para a delegacia.

EM ANDRÉ.

3. Manaus. Ext.

ÂNGULO AÉREO dos principais pontos turísticos da cidade, como:


Praças, monumentos, ruas, a floresta.

Instrumental off.

FUNDE COM:

== FLASHBACK ==

A fotografia da cena é em tons brancos que remetem à flashback.

CENA 26 - INT. RIO DE JANEIRO. APTO DE ALAN. QUARTO. DIA.

LEGENDA SURGE NA TELA: RIO DE JANEIRO, ano 2000.

CÂMERA em uma fotografia com duas meninas, uma loira e uma ruiva
que riem abraçadas e de canto, um menino moreno que ri
discretamente. Uma caneta vermelha sendo segurada por mãos
masculinas risca um "x" na foto.

CÂMERA abre revelando Alan (Com seus 25 anos), sem camisa


somente com uma calça jeans. Ele joga a caneta no chão do
quarto.

O ambiente é pequeno, paredes mal acabadas, cama em baixo de uma


janela, um mural com muitas fotos coladas, quarto bagunçado.

No mural com fotos de várias pessoas, em diversos lugares,


algumas riscadas com um "x".

ALAN- (O.S) Todos mortos, todos!

VOZ DE CRIANÇA- (V.O) Não faz isso comigo, por favor!

(V.O) O som de um tiro sendo efetuado.

ÂNGULO ALTO da porta abrindo-se e vemos Josiele (Com seus 18


anos), usando uma calça jeans e uma blusa justa azul.

JOSIELE- Oi, meu amor.

Ela entra e fecha a porta. Joga-se nos braços de Alan. Ele ri.

ALAN- Quero você.


JOSIELE- Eu também.

Alan pega Josiele no colo e a coloca sobre a cama. De costas,


ele tira a blusa dela e a beija.

FUNDE COM:

== FIM DO FLASHBACK ==

CENA 27 - INT. CASA DE ALDEÃ. COZINHA. NOITE.

Alan adentra desesperado a cozinha, chorando muito. Ele fica


parado quando vê o corpo de Aldeã no chão.

ALAN- Vou vingar a sua morte Aldeã!

Ele se vira e vai para o

CORREDOR.

Chama pelo nome de Márcia e Lucas.

ALAN- Meu filho! Cadê você? (BERRA/ OLHANDO PARA O ALTO) Por que
tá fazendo isso comigo, por quê?

CENA 28. CARRO DE ALAN. INT. NOITE.


O celular vibra no banco. Alan o encara nervoso. Até que pega o
aparelho e atende.

ALAN- Cadê eles? Cadê o meu filho? Onde eles estão?

HOMEM- (V.O) Estão comigo, Alan. E para que eu não os mate, o


melhor é que você venha até mim. Mas só os entregarei se você
trabalhar de novo na facção.

Ele põe o telefone no banco, pensando em algo. Pega o aparelho


novamente.

ALAN- Eu vou para a facção.

HOMEM- (V.O) Perfeito! Você é um homem esperto, Alan. Muito


esperto.

ALAN- Diz logo onde eles estão?

HOMEM- (V.O) Na Zona franca da cidade em um galpão abandonado,


antes usado como montadora de motos. O nome é São Lourenço.

Alan encerra a ligação e coloca o celular no bolso. Ele põe a


chave na ignição, ligando o carro.

CORTA PARA:
CENA 29 - INT. APARTAMENTO DE ALAN. SALA. NOITE.

MÚSICA SOBE: CONDINOME BEIJA-FLOR- CAZUZA.

Luan sentado no sofá, apertando os joelhos contra o peito,


chorando muito. Ele fecha os olhos.

* INSERIR FLASHBACK DO CAPÍTULO 1, CENA 11 *

LUAN- (GRITA) Cadê a minha mãe? Diz onde ela tá!

Ele corre até a maca, puxando o pano de cima do corpo de


Josiele, com sangue escorrendo a face dela.

LUAN- (ATERRORIZADO) Mãe! Não pode ser.

* FIM DO FLASHBACK *

Ele abre os olhos, ajeitando-se no móvel. Música off. De


repente, ele OUVE a campainha tocar.

ANDRÉ- (OFF) Luan? Cê tá aí? Sou eu, André! Quero falar com
você.

Luan levanta-se e vai até a porta. Quando ele a abre,


surpreende-se ao ver André, que o abraça.
ANDRÉ- Eu soube de tudo e sinto muito. A Josiele era muito
querida por todos. Meus pêsames, Luan.

LUAN- Obrigado pela solidariedade, André. Você e minha mãe se


davam muito bem e isso fez com que me aproximasse de você.

ANDRÉ- Sua mãe era uma pessoa muito especial. (SOLTA LUAN) E o
seu pai?

LUAN- Ele não tá. (PAUSA) Pra falar a verdade, ele não estava no
teatro quando eu cheguei. (Respira fundo) Não o vejo desde a
hora que sair de casa e era de manhã.

ANDRÉ- Então, o seu pai não sabe da morte da Josiele?

LUAN- Provavelmente não. Você quer entrar?

ANDRÉ- Não, não. Eu tenho que voltar para a delegacia, mas fique
sabendo que vou fazer o possível para colocar atrás das grades o
assassino da sua mãe. Ah, e se você precisar de alguma coisa,
seja ela qual for, pode me procurar tudo bem?

LUAN- Mesmo se for de uma casa?

ANDRÉ- E por que precisaria de uma casa? (TEMPO) Tem alguma


coisa haver com o seu pai?

LUAN- Não tenho um bom relacionamento com ele, na verdade nunca


tive. Talvez, eu e ele, sejamos muito orgulhosos. Bom, mas isso
não importa.
ANDRÉ- Como não? Mas não vou me meter nisso, apesar de que sinta
muito. Mas se você precisar de um abrigo, a minha casa pode ser
ele.

LUAN- Muito obrigado.

ANDRÉ- Pode aparecer em casa, qualquer hora, não se sinta


intimidado. Tchau.

LUAN- Tchau.

André sai e dá tchau. Luan fecha a porta.

CORTA PARA:

CENA 30. FÁBRICA SÃO LOURENÇO. INT. NOITE.

Instrumental de suspense.

Do alto, uma van parada no meio do ambiente. Márcia e Lucas


descem do veículo. Cláudio segura pelos braços de Junior (40
anos, pele morena, alto) de cabeça baixa.

Há uma mesa no ambiente e atrás dela está sentado um Homem (56


anos, pele parda, olhos castanhos), usando terno preto, rindo.
CÂMERA gira pelas costas dele e ele levanta-se do móvel. Sai de
trás da mesa e aproxima-se de Márcia e Lucas. Instrumental off.
HOMEM- Como está, (pausa) minha filha?

FADE OUT

FADE IN

CENA 31. CONT.

Márcia dá um passo à frente e solta Lucas, que fica próximo. O


Homem se mantém onde está.

MÁRCIA- Quem é você?

HOMEM- Sou seu pai, Márcia. Seu único pai, o Miguel.

MÁRCIA- (close) Não! Eu só tenho um pai e o nome dele é Aldeã. E


essa quadrilha de MALDITOS acabou matando ele!

MIGUEL- (PARA SI) Aldeã? Foi o escolhido da sua mãe. (ENCARANDO-


A) Aldeã criou você, mas ele sabia que eu era seu pai. Ele amava
a sua mãe, mas ela me amava!

MÁRCIA- (TRISTE) Não a conheci.

MIGUEL- Ela foi morta, Márcia. Tirei a vida dela. Se ela não
ficasse comigo, com mais ninguém ficaria.
MÁRCIA- (TOM) Você é um miserável!

MIGUEL- (POR CIMA) Miserável, mas seu pai!

MÁRCIA- (CHORANDO) Você não é meu pai, nunca vai ser! O único
homem que considero como pai é o Aldeã.

MIGUEL- Às suas considerações não me importam.

MÁRCIA- O que você quer comigo? O que quer com o meu filho?

MIGUEL- Não quero nada da criança. Quero de você e do Alan,


afinal é por causa dele que está acontecendo tudo isso.

Lucas vai até Márcia, abraçando-a.

LUCAS- O que o meu tem a haver com isso, mãe?

MÁRCIA- Nada filho. É só uma mentira desse homem.

Miguel sorri, faz que não e vai até Lucas. Agacha-se perante o
garoto.

MIGUEL- Tudo é verdade garoto, seu pai é o grande culpado de


tudo. Ele não passa de um matador de aluguel. E você sabe o que
isso significa?
LUCAS- Não! Eu não sei!

MIGUEL- (LEVANTANDO-SE) Significa que ele, o seu pai, recebe


dinheiro para matar outras pessoas. Se deleitando diante do
sofrimento alheio.

MÁRCIA- (TOM) Para! Não fala esse tipo de coisa pra ele. (P/
LUCAS) Não acredita em nada do que ele disse, em nada.

Cláudio aproxima-se de Márcia.

VINÍCIUS- O Junior acordou Miguel. O que eu devo fazer?

MIGUEL- Traga-o para cá. Quero reunir todos, todos os meus


futuros criminosos.

Cláudio entra na van.

MIGUEL- Ele é a prova viva do que o seu pai, o Alan, é capaz de


fazer.

Miguel abre os braços, sorrindo.

Junior anda cambaleante sendo escoltado por Cláudio. Ele ergue a


cabeça e passa as mãos no cabelo.
Márcia se vira para Junior, logo atrás. Surpresa, ela se volta
para Miguel.

MÁRCIA- Quem é ele?

MIGUEL- Ele é... Na verdade foi o primeiro. (TOM) O primeiro a


ter a família dizimada pelo seu amante, o Alan.

JUNIOR- Onde eu to? (GRITA) Onde?

A imagem congela e duas fitas de cor azul e rosa invadem a tela.

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