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Santos, 2011
Roberta de Castro Souza
Banca Examinadora:
Santos, _______________________
AGRADECIMENTOS
É com imensa alegria que hoje chego ao final desta longa jornada, que durante
cinco anos me fez viver momentos intensos, de alegria, de tristeza, de satisfação e de
realização de um sonho que sempre achei distante e quase impossível... hoje, chego aqui com
um sorriso no rosto, e com um sentimento de gratidão que somente palavras não poderão
expressar!
Agradeço primeiramente Aquele que um dia colocou este sonho em meu coração,
e que até aqui tem cuidado de mim, o meu Pai Celestial, DEUS e seu filho JESUS CRISTO
que permaneceram fiéis a mim em todo tempo!
Agradeço aos meus queridos companheiros de classe, que se tornaram meus
grandes amigos, e amigos pra toda vida! Robson Libório, Suellen Carvalho e Paulo Andrade,
obrigada pelo companheirismo, pela ajuda sincera, pelas gargalhadas fantásticas e pelas
viagens inesquecíveis! Em especial, agradeço ao Robson Libório Lemos, por toda a paciência
e incentivo, por acreditar em mim mais do que a mim mesma, meu companheiro de classe,
amigo, confidente, futuro esposo e para sempre o homem da minha vida! Deus fez você pra
mim!
Aos queridos professores da FAUS, que me ensinaram a viver arquitetura!
Agradeço a Mônica A. Viana pela orientação deste trabalho durante os meus últimos meses de
FAUS, agradeço a querida Ana Elena, obrigada pela menor nota que já recebi na vida, e por
despertar em mim um desejo insaciável de ler, interpretar e expressar sem medo tudo que sei e
aprendi, pois o que você me ensinou valeu mais que muitas notas 10! Aos queridos “Mixéu”
Lieders e Marcia Haluli (in memoriam), Profºs Ney Caldatto, David Lopes, Roberto Hage
Chain, Lenimar Rios e José Marques Carriço, a este último, obrigada pelas respostas
imediatas sempre que solicitadas! D.Dirce, Sérgio e Andréia, funcionários queridos da FAUS,
obrigada por tudo!
Não poderia esquecer de agradecer aos meus queridos amigos que não são muitos,
mas que são especiais, aos tios, tias e primos, obrigada pelo incentivo, torcida, orações e por
compreenderem minha ausência e presença rara nestes últimos cinco anos.
Companheiros de trabalho, Engº Felipe Andrade e Engº Luiz Pedro, obrigada pelo
apoio e pela compreensão nos momentos de desespero. Engº Luciano Rodrigues, obrigada por
acreditar em mim desde o começo! Gislaine, Tânia, Juliana e Vinícius, aprendi muito com
vocês, obrigada por tudo!
i
E em especial, meus agradecimentos as pessoas que mais amo nesta vida, que
esperaram por este momento tanto ou até mais do que eu, minha querida e guerreira Mãe
Maria Aparecida de Castro, meu exemplo de mulher, de força e determinação. E a minha Mãe
e Avó, Dolores Custódio, obrigada por sonhar este sonho comigo, obrigada por tudo, desde os
tempos em que penteava meu cabelo para ir para escola, e hoje, por ficar na janela me
abençoando enquanto saio todas as manhãs! Dedico este momento em especial pra você,
vovó!
Mais uma vez, feliz e realizada, agradeço a Deus por este tão sonhado momento, e
que compartilho juntamente com o futuro pai dos meus filhos, o homem que cuidou de mim
durante estes cinco anos de FAUS, Robson Libório, minha alegria, meu sonho, meu futuro e
meu amor!
ii
“Mas, como está escrito:
Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram,
nem jamais penetrou em coração humano
o que Deus tem preparado para aqueles
que o amam.” (I Corintios 2:9)
iii
Lista de Figuras, Fotos e Mapas
Capítulo 2
Figura 2.1 Localização de São Vicente na RMBS e sua relação com o Estado de São
Paulo.................................................................................................................. 21
Figura 2.2 Localização da Área Insular e Continental do Município de São Vicente ....... 22
Figura 2.3 Relação de habitantes no Estado, na RMBS e no Município de São Vicente .. 23
Figura 2.4 Fundação de São Vicente - Quadro de Benedito Calixto, 1900 ....................... 32
Figura 2.5 Orla das Praias: Gonzaguinha e Milionários na década de 1960 ...................... 41
Figura 2.6 Mapa de Evolução Urbana do Município de São Vicente ................................ 42
Figura 2.7 Vista do Morro Voturuá sentido bairro do Itararé na metade do século XX ... 43
Figura 2.8 Linha 1, ferrovia, Centro e primeiros bairros operários.................................... 45
Figura 2.9 Mapa de Evolução dos Assentamentos Precários no Município de São Vicente
.................................................................................................................................................. 47
Capítulo 3
Figura 3.1 Foto aérea do Município destacando a poligonal do Projeto México 70 .......... 73
Figura 3.2 Núcleo CDHU / Av. Brasil 02 .......................................................................... 74
Figura 3.3 Divisão das áreas a serem aforadas junto a Região Denominada México 70 ... 75
Figura 3.4 Projeto de Urbanização México 70 / Núcleo Canal do Meio ........................... 77
Figura 3.5 Área de Assentamento no Conjunto Habitacional Parque Bitarú ..................... 78
Figura 3.6 Núcleo Saquaré / Canal de Drenagem Vila Margarida ..................................... 79
Figura 3.7 Conjunto Habitacional PAR D’Ampezzo ......................................................... 79
Figura 3.8 Conjunto Habitacional Penedo/Primavera ........................................................ 80
Figura 3.9 Intervenções habitacionais constantes no Projeto Jóquei Bairro Cidadão ........ 82
Figura 3.10 Rio D’Avó ......................................................................................................... 84
Figura 3.11 Comeca ............................................................................................................. 84
Figura 3.12 Quarentenário .................................................................................................... 84
Figura 3.13 Ponte Nova ........................................................................................................ 84
Figura 3.14 Rio Branco ........................................................................................................ 85
Capítulo 4
Figura 4.1 Localização do Núcleo Sá Catarina de Moraes no Município de São Vicente. 88
Figura 4.2 Localização do Núcleo Sá Catarina de Moraes em relação ao Golfe Clube e a
Linha Férrea ...................................................................................................... 89
iv
Figura 4.3 Uma vasta área de terreno beneficiada pela retificação dos rios Catarina de
Morais e Sambaiatuba, incluindo terrenos de marinha ..................................... 91
Figura 4.4 Vista aérea do assentamento: evolução de 1958 a 2011 ................................... 92
Figura 4.5 Localização do Núcleo em relação às principais vias de acesso da cidade ...... 94
Figura 4.6 Localização do Núcleo em relação ao Centro Comercial da Cidade de São
Vicente .............................................................................................................. 95
Figura 4.7 Terrenos Vazios próximo ao núcleo Sá Catarina de Moraes .......................... 106
Figura 4.8 Localização do trecho conhecido como “Favela do Sétimo Céu” (foto aérea)
......................................................................................................................... 108
Figura 4.9 Localização dos Equipamentos próximos ao núcleo ...................................... 114
Foto 4.1 Corredores de acesso......................................................................................... 97
Foto 4.2 Corredor acesso coletivo ................................................................................... 97
Foto 4.3 Corredores de acesso......................................................................................... 98
Foto 4.4 Corredores de acesso coletivo ........................................................................... 98
Foto 4.5 Viela Mecanizada............................................................................................ 101
Foto 4.6 Viela Mecanizada............................................................................................ 101
Foto 4.7 Caçambas de Concreto para descarte de lixo .................................................. 101
Foto 4.8 Lixo no canal................................................................................................... 102
Foto 4.9 Lixo escoando no canal ................................................................................... 102
Foto 4.10 Transbordo do Canal ....................................................................................... 103
Foto 4.11 Lixo no canal................................................................................................... 103
Foto 4.12 Canal transbordando ....................................................................................... 103
Foto 4.13 Ruas alagadas .................................................................................................. 103
Foto 4.14 Habitação de madeira e viela de acesso ao Sétimo Céu ................................. 107
Foto 4.15 Habitações em boas condições no núcleo ....................................................... 110
Foto 4.16 Associação de Integração Social e Trabalhista ............................................... 113
Foto 4.17 Campo de futebol ............................................................................................ 113
Foto 4.18 Academia ........................................................................................................ 113
Foto 4.19 Exemplo de ligações diretas, gerando um “emaranhado” de fios ................... 117
Mapa 4.1 Localização do Núcleo e suas áreas Particulares e pertencentes à União......... 96
Mapa 4.2 Mapa do Núcleo com suas Vias de Acesso Principal e Vielas Mecanizadas de
acesso as residências ......................................................................................... 97
v
Mapa 4.3 Mapa de localização da área atingida no último incêndio ocorrido no Núcleo Sá
Catarina de Moraes, em Fevereiro de 2008 ...................................................... 99
Mapa 4.4 Mapa da área SAVI 15 – Sá Catarina de Moraes (PRIMAHD / AGEM) ...... 100
Mapa 4.5 Mapa de localização dos Terrenos Vazios na Área Insular de São Vicente. . 104
Mapa 4.6 Localização do trecho conhecido como “Sétimo Céu” no núcleo Sá Catarina de
Moraes. ............................................................................................................ 107
Mapa 4.7 Mapa do Sá Catarina de Moraes e Favela do Sétimo Céu: metragem quadrada
de cada área e quantidade de domicílios ......................................................... 109
Mapa 4.8 Mapa de Setorização das áreas com características diferentes ....................... 118
Capítulo 5
Figura 5.1 Localização dos terrenos próximos ao núcleo para o reassentamento das
famílias ............................................................................................................ 139
Figura 5.2 Modelos de equipamentos para academia de idosos, deficientes e crianças . 144
Figura 5.3 Detalhe Parede Verde .................................................................................... 145
Figura 5.4 Tipo de piso a ser utilizado nas calçadas do núcleo (Piso Permeável em
Concreto Poroso) ............................................................................................ 146
Figura 5.5 Área para implantação do Projeto Habitacional e de Intervenção ................. 148
Figura 5.6 Área para implantação do Projeto Habitacional e de Intervenção ................. 148
Figura 5.7 Planta dos apartamentos de 2 e 3 dormitórios ............................................... 152
Figura 5.8 Fachada do Edifício com tipologia de 3 dormitórios ..................................... 152
Figura 5.9 Fachada do Edifício com tipologia de 2 dormitórios ..................................... 153
Figura 5.10 Tipo de piso a ser utilizado nas calçadas e acessos na área do novo conjunto
habitacional (Piso Intertravado permeável) .................................................... 155
Figura 5.11 Tipo de piso a ser utilizado nos estacionamentos e acessos na área do novo
conjunto habitacional (Piso Intertravado Permeável) ..................................... 156
Figura 5.12 Projeto Referência: Sobrados construídos com o Sistema Concreto PVC em
São Luiz do Paraitinga/SP .............................................................................. 158
Figura 5.13 Projeto Referência: Casa Térrea construídos com o Sistema Concreto PVC em
São Luiz do Paraitinga/SP............................................................................... 159
vi
Figura 5.14 Prédios de até 5 pavimentos construídos com Concreto PVC ....................... 160
Figura 5.15 Modelo de peças de do sistema Concreto PVC e suas espessuras. ................. 160
Figura 5.18 Projeto Referência: Conjunto Habitacional de Interesse Social (1º lugar no
concurso Público Nacional de Arquitetura para Novas Tipologias de Habitação
de Interesse Social Sustentáveis, 2010)... ....................................................... 167
Capítulo 2
Tabela 2.1 População e taxas de crescimento da população da RMBS entre 2000 e 2010 24
Tabela 2.2 Habitantes por km² em São Vicente e na RMBS .............................................. 26
Tabela 2.3 Amostras satisfatórias do município de São Vicente – 1990 a 2002 ................ 28
Tabela 2.4 Crescimento populacional do município de Santos (1854 a 1913) .................. 36
Tabela 2.5 Distribuição da População Economicamente ativa, por setor da economia, em
São Vicente: 1940 e 1950 ................................................................................. 40
Tabela 2.6 Taxa de crescimento populacional do município de São Vicente .................... 44
Capítulo 3
Tabela 3.1 Municípios com construção de moradia social, estados e tipo de parceria
(Brasil 2007-2008) ........................................................................................... 57
vii
Tabela 3.2 Municípios com realização de programas ou ações na área de habitação - Brasil
2001-2004/2005/2007-2008 .............................................................................. 58
Tabela 3.3 Síntese da Legislação Federal Incidente e Aplicável ........................................ 64
Tabela 3.4 Programas / Projetos de HIS em Andamento no Município de São Vicente.... 70
Tabela 3.5 Favelas e Loteamentos Irregulares no Município de São Vicente .................... 71
Tabela 3.6 Ações previstas no Núcleo México 70.............................................................. 76
Tabela 3.7 Ações Previstas no Projeto Jóquei Bairro Cidadão........................................... 81
Gráfico 3.1 Déficit Habitacional no Brasil (2008) .............................................................. 90
Quadro 3.1 Legislação Urbanística Municipal .................................................................... 62
Capítulo 4
Tabela 4.4 Terrenos Vazios na Área Insular de São Vicente ........................................... 105
Tabela 4.5 Tipo de Construção ......................................................................................... 110
Tabela 4.6 Uso das Edificações ........................................................................................ 111
Tabela 4.7 Forma de Ocupação dos Imóveis ................................................................... 112
Tabela 4.8 Acessibilidade ................................................................................................ 112
Tabela 4.9 Condições Sanitárias ...................................................................................... 115
Tabela 4.10 Condições Sanitárias ...................................................................................... 116
Tabela 4.11 Condições de Saneamento ............................................................................. 116
Tabela 4.12 Fornecimento de Energia Elétrica .................................................................. 117
Tabela 4.13 Tempo de Residência na área ........................................................................ 119
Tabela 4.14 Tabela de Origem da População .................................................................... 120
Tabela 4.15 Faixa Etária da População .............................................................................. 121
Tabela 4.16 Situação Educacional ..................................................................................... 122
Tabela 4.17 Grau de Escolaridade de quem frequenta a escola......................................... 123
Tabela 4.18 Grau de Escolaridade de quem não frequenta a escola ................................... 124
Tabela 4.19 Situação Ocupacional Geral do Núcleo .......................................................... 125
Tabela 4.20 Moradores Maiores de 16 anos que exercem ocupação remunerada .............. 126
Tabela 4.21 Tempo de desemprego dos moradores ............................................................ 126
Tabela 4.22 Ocupação Principal dos Moradores ................................................................ 127
Tabela 4.23 Renda Familiar Total dos Moradores ............................................................. 127
Tabela 4.24 Incidência de Doenças .................................................................................... 128
Gráfico 4.1 Sexo, Cor e Raça da População ...................................................................... 120
viii
Capítulo 5
ix
Lista de abreviaturas e siglas
xi
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1
2.1. A cidade de São Vicente, suas características físico-territoriais e sua relação com a
RMBS ......................................................................................................................... 21
2.2. A Primeira “Cidade” do Brasil e sua Evolução de Vila a Cidade. ............................. 31
2.3. O Trinômio Café x Ferrovia x Porto: Os Impactos no Desenvolvimento do Município
de São Vicente e da RMBS ........................................................................................ 34
2.4. A Industrialização e a Consolidação de São Vicente como “Cidade Dormitório” .... 38
2.5. Três Décadas de Crescimento, Segregação e Precarização: o surgimento dos
assentamentos precários na ilha e no continente ........................................................ 43
xii
4. UM OLHAR SOBRE O NÚCLEO SÁ CATARINA DE MORAES
5. PROPOSTAS E DIRETRIZES
ANEXOS
Anexo I: Carta da 4ª Conferência Municipal de Habitação de São Vicente
Anexo II: Projetos
xiii
Introdução
Fica claro que este déficit está concentrado nas famílias com renda familiar
mensal de zero a três salários mínimos, isto implica, obrigatoriamente, construir uma estreita
articulação entre política urbana e política habitacional nos diferentes níveis de governo,
visando à colocação de terra urbanizada no mercado, a preços compatíveis com a produção
habitacional voltada aos segmentos de menor renda (DENALDI, 2008).
1
convive de forma desigual, habitando em cidades cheias de contrastes, criando barreiras entre
a cidade legal e a ilegal, segregando ainda mais uma população que vive em habitações
precárias, sem o mínimo de habitabilidade necessária para se viver.
Este processo de urbanização é continuo, até os dias de hoje, mas o seu momento
mais intenso na história da habitação ocorre na segunda metade do século XX, onde a
modernização e a industrialização à baixos salários, juntamente com as normas legais de
ocupação do solo implantada ao longo dos anos, acabaram beneficiando o mercado
imobiliário especulativo, impossibilitando a população de baixa renda ao direito de moradia
dentro do espaço urbano da cidade legal.
2
seus moradores através de uma nova forma de morar, trazendo dignidade e qualidade de vida
para as famílias que ali residem. O núcleo apresenta características que comprovam a
necessidade de requalificação e urbanização do lugar, devido suas deficiências nas questões
mínimas de habitabilidade, sistema viário, equipamentos urbanos, áreas de lazer e recreação,
itens essenciais para se conviver dignamente em sociedade, afastando assim toda segregação e
obtendo uma melhor qualidade de vida.
5
1.1. A Emergência da Cidade Moderna: A Primeira Crise
Habitacional e suas Consequências.
A ruptura da cidade colonial para a cidade moderna traz a tona os problemas sociais e
em especial, habitacional do Brasil. As transformações das cidades e o desenvolvimento urbano
são fortemente marcados pelo período de domínio do café, onde se inicia o crescimento urbano e
industrial. A indústria aos poucos se expande, e as cidades passam a ser, além do local das
atividades administrativas e comerciais (como durante o período colonial) passa a ser o local da
produção (MARICATO, 1997).
6
possibilidade de tornarem-se proprietários de terras, foram levados a habitar em cortiços e vivem
em situações precárias (AGUINA, 2010).
É neste período de 1886 a 19001 que “São Paulo explode” desencadeando sua
primeira crise habitacional, que se agrava com a abolição da escravatura e com as novas
mudanças no sistema político e econômico do país. O início da industrialização, as primeiras
instalações de ferrovias na metade do século XIX (melhorando o transporte e trazendo um aumento
demográfico das cidades), e a mudança de entendimento sobre a posse de terra (cidade colonial x
1
BONDUKI (1998) – afirma que no período de 1886 a 1900 a província de São Paulo recebeu cerca de 900 mil
imigrantes.
7
cidade moderna capitalista) são outros pontos importantes que influenciam este início da crise.
(ROLNIK, 1981).
Uma das conseqüências desta crise habitacional é a rápida expansão de São Paulo
em todas as direções, com o loteamento de fazendas, chácaras e abertura de novos bairros.
Assim os fazendeiros, cansados de verem suas terras ociosas e sofrerem com a redução dos
lucros devido às mudanças no sistema de produção e de mercado de terra, decidem lotear e
vendê-las para a população de baixa renda (REIS FILHO, 1994).
Quanto à especulação destas terras, SINGER (1979, p.23) afirma que “(...) como a
demanda por solo urbano muda frequentemente, dependendo, em última análise, do próprio
processo de ocupação do espaço pela expansão do tecido urbano, o preço de determinada área
deste espaço está sujeito a oscilações violentas, o que torna o mercado imobiliário
essencialmente especulativo”.
Com o crescimento rápido de seus habitantes, São Paulo começa a sofrer com
novas necessidades urbanas, além das questões de transporte, água, esgoto, sofre também com
a falta de calçamento das vias, canalização de córregos, drenagem de brejos, várzeas, controle
de enchentes etc., e os serviços existentes na época não conseguiam acompanhar o rápido
crescimento e as transformações da cidade. (BONDUKI, 1998, p.19).
8
O desinteresse do poder público quanto a estes bairros mais populares passa a
mudar a partir do momento em que os mesmos – com sua grande concentração de moradores
vivendo de forma aglomerada em moradias precárias como cortiços, hotel-cortiço, a casa de
cômodos, os cortiços improvisados e o cortiço-pátio – passam a proliferar doenças e
epidemias devido à falta de higiene nas habitações, trazendo assim grandes problemas para a
cidade de São Paulo, problema este que segundo BONDUKI (1998) não ocorria somente em
São Paulo, mas em várias cidades brasileiras.
2
Georges-Eugène, o “Barão Haussmann” foi prefeito de Siena na França, e foi escolhido pelo Imperador
Napoleão III a iniciar uma séria de reformas urbanísticas em Paris (1853), demolindo grande parte da Paris
antiga, abrindo vias, construindo parques e monumentos na cidade (Kirkman Emilly, 2007).
10
O Estado interfere e nomeia várias comissões para estudarem a questão do
saneamento em Santos, e dentre os projetos apresentados, o escolhido foi o do Engº sanitarista
Francisco Saturnino de Brito. Segundo ANDRADE (1989, p.175), o plano de Saturnino
“previa a divisão da cidade em distritos; o sistema de separador absoluto e o esgotamento dos
despejos pelo sistema de elevação, sendo os morros acompanhados por um canal de contorno;
o destino dos despejos seria fora da ilha, no continente, levados por canos que atravessariam o
mar e chegariam à ponta de Itaipu”3.
Segundo ANDRADE (1989, p.175), “uniam-se, desta forma, três idéias caras à
época: a higiene, o espaço público e a beleza urbana”, mas CARRIÇO (2002, p.45) analisa de
uma forma diferente “...além da força bruta que arrancava famílias de seus lares pela ação da
polícia sanitária, o próprio plano de saneamento e urbanização, a cargo de Saturnino de Brito,
representou um forte fator de exclusão espacial.”
3
Segundo CARRIÇO (2002) “a ponta do Itaipu localiza-se no município de Praia Grande, na divisa com a
área continental do município de São Vicente, próxima ao bairro Japuí, que é ligado à ilha pela Ponte Pênsil,
construída originalmente para a condução, por meio de tubulações, do esgoto ao seu destino final, no oceano.
11
pouco valor. (...) A moradia de madeira, obra de baixo custo e rápida execução, passou a ser a
forma encontrada pelos excluídos para a solução imediata do seu problema”.
4
Na época em que foi inaugurada a Ponte Pensil (1914), Praia Grande ainda pertencia a São Vicente,
desmembrando-se somente em 1964 (VIANA, 2010, p.4).
12
1.2. Período Desenvolvimentista: A institucionalização da
Questão Habitacional no Brasil.
A precariedade das moradias que afligia grande parte dos operários, e os baixos
salários que não supriam suas reais necessidades, segundo BONDUKI (1998) passa a influir
no modo de vida e na transformação ideológica dos trabalhadores.
5
BONDUKI (1998, p.41) “Desde o Império, surgiram incentivos, inclusive isenção de impostos de importação
de materiais, para facilitar sua construção.” (neste caso as construções das vilas operárias e dos demais modelos
de moradia construídas pela iniciativa privada, dentre elas o cortiço-corredor, o cortiço-casa de cômodos, os
vários tipos de vilas e casas geminadas).
13
“A vila operária “funciona como um verdadeiro laboratório de uma
sociedade disciplinar, combinando um saber higienista com um poder que ao
mesmo tempo proíbe, pune, reprime e educa”.
Porém estas leis que favoreciam as construções destas vilas e moradias voltadas
para a população de baixa renda, também tinham o seu lado “rentista” (que desde o inicio da
Republica, desfrutara de regalias fiscais e de ausência de regulamentação em suas relações
com os inquilinos). Segundo BONDUKI (1998, p.48-49), os investidores aproveitam-se dos
estímulos para construir vilas destinadas ao mercado de locação, chamadas de “vila operária
particular”, o que não a diferenciava da chamada “vila operária de empresa” já que ambas
tinham em comum o “aluguel”, diferenciando-se somente em valores (já que a vila de
empresa tinha seu aluguel em um valor inferior por conta da redução de salários e troca de
serviços entre a fábrica e os operários que ali residiam).
Nos anos 30, o governo passa a encarar a questão da habitação de outra forma,
entendendo que a iniciativa privada era incapaz de enfrentar o problema, tornando inevitável a
intervenção do Estado (BONDUKI, 1998, p.78).
Porém para que o Estado garantisse condições dignas de moradia, era preciso
investir recursos públicos e fundos sociais, surgindo assim outra idéia do governo Vargas, a
criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP’s), e a Fundação da Casa Popular
(FCP)6.
Segundo BONDUKI (1998, p.81) foi nesse contexto que, em 1942, o governo
interferiu no mercado de locação, congelando todos os aluguéis por meio da Lei do
Inquilinato7.
6
Tratam-se dos primeiros órgãos de âmbito federal a atuarem no setor habitacional.
7
Esta medida se tratara de um duro golpe contra os proprietários de casas de aluguel, que foi adotada baseada
em vários países europeus e latino-americanos desde a Primeira Guerra Mundial, sendo justificada pelo governo
pela situação de emergência devido a Segunda Guerra Mundial, de forma a evitar os contingentes de sem-tetos
que não tardariam a surgir. Mesmo diante da forte repercussão em todo o território Nacional, a lei foi
amplamente “desrespeitada” (BONDUKI, 2004).
14
Chega-se a conclusão de que o problema da habitação está intimamente ligado a
economia popular e a mudança de mentalidade da população:
Logo, dos serviços públicos que mais agravaram e dificultaram esta “negociação”,
foi a questão do transporte coletivo e seus altos custos.
Trazendo estas questões para a Baixada Santista, a cidade de São Vicente não
seria tão influenciada com estas questões, até que em 1956 com o Código de Obras – primeiro
instrumento no controle do uso e ocupação do solo – que através dos zoneamentos da cidade,
tratava a área continental como “zona rural”, por sua vez, a ilha que já se encontrava bastante
valorizada pelas praias e sua qualidade de vida em geral, acaba impedindo a construção dos
chalés – como já citado anteriormente, uma opção barata de moradia para os menos
favorecidos – intensificando assim o processo de segregação da cidade em relação a sua
população de baixa renda, os expulsando para a área continental a fim de evitar o crescimento
de habitações precárias na ilha – próximo a orla e o centro da cidade (LARA, 2010, p.36).
No entanto, em São Vicente, não foi possível evitar por completo que ocorresse o
crescimento de habitações precárias dentro da malha urbana, no centro da área insular da ilha,
como por exemplo, o núcleo Sá Catarina de Moraes, principal objeto de estudo deste trabalho
de conclusão de curso.
15
Após o período desenvolvimentista, com o golpe militar de 1964 e as mudanças
no contexto político da época, o país inicia uma reversão das propostas das reformas de base,
que ocorriam democraticamente, e ao mesmo tempo ocorre um planejamento urbano de maior
desenvolvimento com o Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU),
desencadeando novas políticas habitacionais no país.
16
1.3. O surgimento de novas políticas habitacionais e seus
reflexos na Baixada Santista:
Durante a Era Vargas, os primeiros passos rumo a uma política habitacional tão
sonhada por seus especialistas, impulsiona as futuras possibilidades de uma política funcional
e não excludente dentro do processo de urbanização do Brasil.
Mas é durante este regime militar que o planejamento urbano conheceu seu
período de maior desenvolvimento que se inicia com a elaboração da PNDU – Política
Nacional de Desenvolvimento Urbano, integrante do II PND – Plano Nacional de
Desenvolvimento, de 1973 (MARICATO, 2002).
Foi com o SFH e o BNH que as cidades brasileiras passaram a ocupar o centro de
uma política destinada a mudar seu padrão de produção (MARICATO, 2002), e através deste,
17
o perfil das grandes cidades passam a mudar com tamanho investimento financeiro no
mercado habitacional, causando também uma explosão imobiliária “privada” com os edifícios
de apartamentos. Mas este financiamento imobiliário não vinha ao encontro com o que foi
proposto pelos arquitetos no Congresso do IAB de 1963, onde a intenção era “impulsionar a
democratização do acesso à terra via instituição da função social da propriedade”
(MARICATO 2002, p.20).
Em se tratando de São Vicente, segundo LARA (2010) pouco se fez pela cidade.
O PLHIS de São Vicente (2009) avaliou que houveram poucos investimentos no período de
1965 a 1992 – ano em que houve a última liberação de recursos do SFH para a habitação. A
COHAB-ST atendeu apenas 11.100 famílias, com exceção do conjunto habitacional Humaitá,
e o outros três8 que foram construídos para receber moradores dos demais municípios
acionistas, em especial da cidade de Santos.
8
O PLHIS São Vicente (2009) cita os três empreendimentos: Jardim Pompeba em 1968; Residencial Tancredo
Neves I em 1992; e Residencial Tancredo Neves II em 1992.
18
No início dos anos 1980, com a recessão econômica que atingiu plenamente a
indústria da construção e o mercado imobiliário, faz com que o Sistema Financeiro de
Habitação que conseguiu se manter de forma razoável enquanto a inflação se manteve baixa
(entre 10 e 20% a.a), entram em colapso quando esta supera os 200% durante o ano de 1983.
(MARICATO, 2002).
Mas essa recessão que perdurou nas décadas de 1980 e 1990, que segundo
MARICATO (2002), passaram a serem conhecidas como “as décadas perdidas”, em um
momento em que as taxas de crescimento demográfico superaram as do crescimento do PIB,
fazendo com que a evolução do PIB per capita fosse negativa, trouxe um forte impacto social
e ambiental, ampliando o universo de desigualdade social, trazendo consigo a concentração da
pobreza urbana:
“Pela primeira vez em sua história, o Brasil tem multidões, que assumem
números inéditos, concentradas em vastas regiões – morros, alagados,
várzeas ou mesmo planícies – marcadas pela pobreza homogênea. Segundo
estudo do IPEA. 33% dos pobres brasileiros se concentram no Sudeste,
predominantemente nas metrópoles” (MARICATO, 2002, p.22).
Situação esta que se agrava pelo fato de São Vicente nesta época já ser
considerada uma “cidade dormitório” onde muitos de seus moradores trabalhavam no setor
fabril e portuário, e mediante ao desemprego gerado pela crise da época, “sofre com o
aprofundamento da exclusão social da região” e “(...) a concentração territorial
homogeneamente pobre (ou segregação espacial), em um município sem recursos, com
economia terciária faz resultar em uma máquina de fazer favelas” (COELHO, 2007, p.10).
19
terra, das favelas, dos cortiços, do sobretrabalho na autoconstrução, do congestionamento
habitacional, da promiscuidade, da insalubridade, etc.”.
20
2.1. A Cidade de São Vicente, suas Características Físico-
Territoriais e sua Relação com a RMBS.
Seu território, com 148,42 km², é extremamente recortado por rios e canais e
dividido em duas porções: a insular (na Ilha de São Vicente, que abriga, também, parte do
município de Santos) e a continental (ver figura 2.2). A região tem como principais
características a conurbação10, a integração das populações, a integração dos mercados, dos
meios de transporte e do estuário que cria uma barreira entre a área insular e continental do
município.
Figura 2.1 – Localização de São Vicente na RMBS e sua relação com o Estado de São
Paulo.
9
A RMBS é formada por nove municípios, ao sul, Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá e Praia Grande; ao norte está
Bertioga; e formando a parte central estão Santos, São Vicente, Cubatão e Guarujá (PLHIS São Vicente, 2009).
10
Este conceito foi criado por Patrick Geddes em 1915, referindo-se à junção de cidades em expansão, mas sem
a predominância de um centro principal, como ocorre na metrópole. A conurbação é constituída pela proliferação
de espaços contínuos, com pouca hierarquização entre eles, e sem qualquer plano conjunto.
21
Figura 2.2 – Localização da Área Insular e Continental do Município de São Vicente.
23
Tabela 2.1 – População e taxas de crescimento da população da RMBS entre 2000 e 2010.
Fonte: IBGE Censo 2010 (Elaborado por Robson Libório Lemos, 2011).
24
O município ocupa um território de 6,12% dos 2.422,78 km² da região
metropolitana, tornando-se a cidade com maior densidade demográfica na região – 2.232,28
hab/km², acima da média regional que é de 691,66 hab/km² (ver tabela 2.2). Diante destes
dados é possível afirmar que esta característica do município de São Vicente condiz com que
Maricato (2002) afirma sobre o processo de desenvolvimento econômico e urbano que atingiu
os principais conglomerados urbanos do país no período de 1940 a 1980 e a Recessão
Econômica nas décadas de 1980 e 1990, as chamadas “décadas perdidas”, onde a cidade
acaba por receber grande parte de trabalhadores e operários desempregados – tanto do porto
quanto da indústria – fazendo de São Vicente uma cidade dormitório.
25
Tabela 2.2 – Habitantes por km² em São Vicente e na RMBS
Fonte: IBGE Censo 2010 (Elaborado por Robson Libório Lemos, 2011).
26
Além da questão da migração entre as cidades da região, outro fator relevante que
também ocorre com a cidade de São Vicente é o intenso fluxo do sistema viário que é
altamente utilizado e, muitas vezes saturado pelo movimento pendular. Isso se dá porque o
município de São Vicente, em sua parte insular, faz fronteira com a malha urbana de Santos –
onde ocorre a conurbação – de alta importância não apenas para as duas cidades envolvidas
como também para a região, uma vez que Santos abriga o maior porto da América Latina e
concentra uma diversificada rede de serviços e comércios. São Vicente com tais impactos
sofre, já que o sistema viário da cidade está na rota da população de Praia Grande e demais
municípios do litoral sul, saturando assim o sistema viário através do movimento pendular.
Quanto às questões econômicas, a cidade de São Vicente também sofre com sua
localização e história, em especial quanto ao porto, que segundo CARRIÇO (2002) devido a
um problema de formação de seu estuário comportava somente embarcações de pequeno
porte, fazendo com que o porto de Santos – após sua fundação em 1545 – absorvesse todas as
embarcações de grande porte, tornando o porto de São Vicente obsoleto dificultando ainda
mais o progresso da vila, estagnando o crescimento da cidade por quase 300 anos.
27
Outra questão considerada problemática é a balneabilidade das praias de São Vicente.
Segundo pesquisas realizadas por Kátia Simões Parente11, o tratamento de esgoto do
município até o final do século 19, era feita individualmente por cada residência, em sistemas
de fossas, ou apenas lançavam in natura nos córregos e rios da região. Com isso houve
problemas de saúde da população e casos de óbito por doenças de veiculação hídrica. O
sistema de tratamento de esgoto dos municípios de Santos e São Vicente na década de 70, era
efetuado por disposição oceânica por meio do emissário da Ponta de Itaipu, na Praia Grande.
Embora essa fosse considerada uma excelente obra da engenharia sanitária, com o
crescimento urbano da região e o aumento do número de habitantes, não era mais um sistema
de tratamento de esgotos adequado (PARENTE, 2005).
As praias mais fechadas, como dos Milionários e Gonzaguinha, obtinham
resultados com elevado número de coliformes, demonstrando a ineficiência do sistema de
disposição de efluentes utilizado. Avaliando as condições atuais das praias do município de
São Vicente em comparação com os anos anteriores, a Praia de Itararé apresenta resultados
satisfatórios, o que não ocorre nas praias dos Milionários e Gonzaguinha (ver tabela 2.3).
11
Kátia Simões Parente é Engenheira química pela Faculdade de Engenharia Industrial – FEI, especialista em
engenharia de saneamento básico e mestre em saúde ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP.
28
A partir destes dados de balneabilidade, é possível concluir que o município de
São Vicente ainda necessita de algumas obras para melhorar suas condições sanitárias. Este
assunto está extremamente relacionado com a questão habitacional da cidade, já que para a
melhoria das condições sanitárias é necessário a erradicação de famílias que moram sobre
palafitas nos mangues, pois além de ser uma condição de vida inaceitável, também é uma das
fontes de poluição das praias locais.
Conforme citado no capítulo anterior, a forte segregação social foi causada por
leis urbanísticas do próprio município, que contribuíram ainda mais para o aumento dos
problemas habitacionais. Em especial no momento em que ocorrem as ocupações na orla da
praia com o processo de verticalização e valorização, expulsando habitantes de baixa renda
para as áreas afastadas da orla da praia. Desta forma, operários e trabalhadores de renda
menor tiveram que buscar moradias próximas a linha férrea, iniciando assim vários focos de
12
Estas ações também alcançam a cidade de Santos, que também sofre com a questão de balneabilidade e com
habitações subnormais sobre os mangues da cidade.
29
assentamentos irregulares e com a expansão da cidade para áreas periféricas. Desta forma dá-
se origem ao início de diversos assentamentos precários na cidade, como por exemplo, o
núcleo México 70, Vila Margarida (reconhecida pela SEHAB como Núcleo Saquaré –
somente a área ainda irregular). Este processo de segregação poderá ser observado nos
próximos itens deste capítulo, onde a cidade de São Vicente desde sua fundação até os dias de
hoje, apresenta dificuldades em se libertar destas questões problemáticas de segregação sócio
espacial e de ser reconhecida como cidade dormitório.
30
2.2. A Primeira “cidade” do Brasil e sua evolução de Vila à
Cidade.
A Vila de São Vicente foi oficialmente fundada em 1532, por Martim Afonso de
Sousa, mas segundo os historiadores e alguns documentos encontrados que compravam este
fato, a vila começou a ser povoada em 1502, sendo um lugar de passagem de descanso das
embarcações portuguesas que por aqui passavam na intenção da extração do pau-brasil (ver
figura 2.4).
São Vicente, não diferente de Santos – que só viera a ser fundada treze anos
depois – segundo o PLHIS São Vicente (2009) sofria com um território dominado por brejos,
manguezais, encostas de morros, serras e praias, “a situação se agravava com as condições do
clima marcado por intensa pluviosidade, altas temperaturas e elevada umidade do ar, fatores
que associados às características do terreno recortado por extensas áreas alagadiças, tornavam
o ambiente extremamente insalubre, pouco propício não somente ao desenvolvimento
agrícola, mas também à fixação de população” pág.24).
13
O interesse dos colonizadores se fez real, fazendo de São Vicente uma cidade de ligação com o planalto, de
forma a idealizar os desejos dos desbravadores portugueses de lucrar com todo tipo de riqueza que pudessem
encontrar.
31
Devido a estes acontecimentos, a cidade permaneceu por mais de 300 anos após
sua fundação mantendo níveis de desenvolvimentos modestos com uma população que mal
fazia o número de mil habitantes (PLHIS São Vicente, 2009).
32
A expansão territorial e o desenvolvimento do município de São Vicente vêm com
o surgimento da produção açucareira. Nos primeiros séculos da colonização, a atividade
econômica da região baseou-se na agricultura, sobretudo na exploração da cana de açúcar e na
mineração. Durante os séculos XVI ao XVIII, com o desenvolvimento da cultura da cana de
açúcar, na capitania de São Vicente, o porto de Santos era a porta de saída do açúcar. Neste
período, a Baixada Santista era composta apenas pelas vilas de Santos, São Vicente e
Itanhaém (CARRIÇO, 2002). Com a abertura dos portos às nações amigas em 1808 por
D.João VI, ano da transferência da Corte para o Brasil, e com o desenvolvimento do ciclo do
café, intensifica-se a relação entre o planalto e a baixada, trazendo grandes mudanças para
São Vicente, Santos e região.
14
Carlos Guilherme Mota é professor-honorário do IEA-USP, titular de História Contemporânea da FFLCH-
USP e professor na Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
33
2.1. O trinômio Café x Ferrovia x Porto: os impactos no
desenvolvimento do município de São Vicente e da
RMBS:
Era metade do século XIX, e o grande protagonista desta época que alavanca a
economia brasileira, o “café”, traz grandes mudanças para a cidade de Santos e região. Santos
em especial devido a outro protagonista, o “porto”, do qual era o responsável em escoar este
produto tão valioso para o mundo, sente os impactos deste crescimento avassalador e que atrai
milhares de imigrantes e trabalhadores em busca de uma oportunidade de emprego. Estes que
vieram suprir a mão de obra antes atendida pelos escravos, já que a “abolição da escravatura
deu condições para entrada da mão de obra assalariada no sistema produtivo tanto no campo,
na incipiente indústria e na circulação de mercadorias” (VIANA, 2010 p.105).
Até 1850, as terras no Brasil eram transferidas, por doações, do Estado aos
proprietários e dos proprietários aos parentes. A Lei de Terras estabelecia que as posses
deveriam ser legalizadas e só poderiam ser transferidas por meio de contratos de compra e
venda (o que não era simples nem barato). Segundo Roberson Oliveira15, tais exigências
visavam dificultar o acesso à propriedade da terra, induzindo o trabalhador livre imigrante a,
necessariamente, empregar-se num latifúndio. Na prática, a lei impedia o surgimento de
pequenos proprietários e garantia oferta de mão de obra livre à aristocracia, reafirmando o
poder da grande propriedade, situação que permanece até hoje na nossa estrutura agrária.
15
Roberson Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora
FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC. O texto citado foi retirado da
reportagem especial para a Folha do Estado de São Paulo, site da UOL, acesso em 18/06/2011.
34
da lucratividade com o cultivo das terras mais férteis do interior, a adoção de técnicas de
cultivo e o beneficiamento mais eficazes, com o uso de trabalhadores assalariados e a redução
dos custos de transporte asseguraram a ampliação quase contínua do sistema, nas duas últimas
décadas do Império e ao longo de toda a Primeira República”, conforme citado por REIS
FILHO (1994, p.28) fortalecendo decisivamente o papel do eixo Santos – São Paulo –
Campinas16.
Em 1888, a Lei Áurea é assinada, e com a abolição da escravatura, vem uma forte
mudança no sistema de produção, favorecendo um modelo econômico que já vinha sendo
aceito mundialmente, o sistema capitalista, preocupando momentaneamente os fazendeiros e
Senhores do Café, que com esta mudança, teriam que pagar pelo trabalho do qual antes era
antes feito pelos escravos, comprometendo assim sua lucratividade. Logo foram beneficiados
com a onda de imigrantes que invadiram o Brasil em busca de uma nova oportunidade de
vida, e que se sujeitariam a trabalhar por baixos salários, favorecendo ainda mais os senhores
do café. (LARA, 2010, p.22).
16
Este eixo é fortalecido devido ao fato de ampliar o escoamento do café do planalto para o Porto de Santos,
tornando o principal porto do Brasil, e que segundo VIANA (2010, p.8), “com a decadência de vários portos
(Parati, Angra dos Reis, Ubatuba, São Sebastião e Cananéia) o volume de cargas vai se concentrar em Santos”,
deslocando assim o eixo econômico do país do Rio de Janeiro para São Paulo-Santos.
35
do Estado é assumido pelas elites agrárias de Minas e de São Paulo”, mais conhecidos como
os Senhores do Café.
Diante de tantos acontecimentos neste final do século XIX, que traziam ainda
mais crescimento para Santos e seu porto, um grave problema se apresenta trazendo o medo e
o caos para o porto, podendo assim prejudicar seu ótimo momento e toda a lucratividade
oferecida pelo café. Problema este causado pelos terrenos altamente insalubres da cidade, com
mangues espalhados por todos os lados e as águas que não escoavam para o mar, edificações
que sofriam com a falta de higiene sanitária como os cortiços, atraindo assim todo tipo de
doença e epidemias – principalmente a febre amarela – tornando-se um grande obstáculo para
o desenvolvimento da cidade. Diante desta situação, o governo do Estado – pressionado pelos
órgãos representativos do grupo cafeeiro e pela opinião pública – decide providenciar o
saneamento de seu principal porto (ANDRADE, 1989, p.172).
Diante desta calamidade pública – o problema das epidemias deixa ser local na
medida em que afeta também o interior do estado – o Estado desenvolve algumas ações para
tentar amenizar a situação. Foi somente com o Plano de Saturnino de Brito que Santos pode
finalmente se ver livre de todas estas doenças e epidemias. Junto ao plano de Saturnino,
36
Santos ganha a oportunidade de alterar sua imagem como cidade colonial, insalubre, deixando
de ser negada por sua falta de higienização, ganhando assim um novo ar de modernidade.
Com este plano também foi possível a expansão da ocupação no sentido das
praias, que até então era impossível pela alta concentração de vegetação e extensas áreas
alagadiças. Segundo VIANA (2010, p.16) “ampliou de forma expressiva o mercado de terras
da cidade, valorizando quilômetros de áreas livres, antes terrenos alagadiços, que após 1913
foram saneados e incorporados pela especulação imobiliária na cidade”, e que a partir deste
momento era possível “observar a ruptura entre o porto e a cidade quando um passa a dar as
costas para o outro”.
Neste mesmo período na cidade de São Vicente, ainda havia certo conforto quanto
à qualidade do espaço urbano, e a riqueza do café fez com que seus senhores utilizassem a
parte vicentina da Ilha para o lazer e socialização (LARA, 2010, p.23).
Porém São Vicente no final do século XIX acaba sofrendo ao absorver da cidade
de Santos seus moradores de baixa renda – imigrantes estrangeiros, migrantes rurais e de
outros estados, trabalhadores e famílias – que são expulsos dos cortiços e das áreas saneadas e
valorizadas favorecendo somente as famílias de alta renda, devido ao plano de higienização
implantado, iniciando assim, o papel de “cidade dormitório”.
37
2.4. A Industrialização e a consolidação de São Vicente como
“cidade dormitório”.
Mas por outro lado, foi graças ao processo de industrialização que a região retoma
seu desenvolvimento econômico, até porque segundo VIANA (2010, p.18) “os efeitos da crise
de 1929, das revoluções da década de 1930 e da 2ª guerra mundial foram prejudiciais para a
economia nacional, principalmente a exportadora”, já que o café, antes a espinha dorsal da
economia nacional, inicia um momento de declínio em sua exportação, em especial pelo porto
de Santos, influenciando os senhores do café a procurar investimentos mais seguros e menos
dependentes da exportação para aplicar seus capitais acumulados durante a excelente fase do
café (COELHO, 2007).
Mesmo diante das dificuldades, o Brasil – em especial São Paulo – conseguiu dar
continuidade a algumas políticas de expansão, como a criação da linha Santos-Juquiá18 em
1930, além de compreender no período entre guerras a necessidade de obter indústrias no
território nacional para a redução das importações e aumento da produção e o consumo
interno, que seria uma grande oportunidade para a rigidez da economia nacional (LARA,
2010).
38
nova conjuntura política. O país passou a importar bens industriais,
possibilitando a introdução do setor de bens de produção (Singer,
1968). Nas décadas posteriores, consolida-se a política de substituição
das importações, com a implementação do Plano de Metas, do
governo de Jucelino Kubitschek, com a entrada de indústrias
multinacionais de bens de capital e de consumo duráveis. Este
processo intensifica-se no período da ditadura militar, com a
continuidade do “desenvolvimentismo” e o “milagre brasileiro”,
quando o país apresentava altas taxas de crescimento econômico, mas
através de um modelo perverso de distribuição de renda que acirra as
desigualdades regionais.”
Nesta mesma década, os terrenos da orla das praias de São Vicente – Itararé,
Milionários e Gonzaguinha – também ganham sua parcela de valorização, sendo esta
intensificada com o aumento do turismo balneário da cidade. Este aumento do turismo pode
ser considerado pela intensificação do transporte rodoviário, com a inauguração da Via
Anchieta em 1947, e com a consolidação da indústria automobilística que trouxe
desdobramentos significativos: o acesso ao litoral tornou-se mais acessível para as classes
baixa, média e alta, incrementando-se a tendência ao desenvolvimento do lazer e turismo na
19
Esta saturação era devido aos operários portuários que moravam em cortiços e casarões abandonados pela elite
santista, apesar da área noroeste de Santos ter absorvido alta parcela dessa população, não foi o suficiente para
abrigar também os operários e siderúrgicos (LARA, 2010).
20
Para VILLAÇA (1986, p.41) “A COSIPA – Companhia Siderúrgica Paulista, em Piassaguera, não construiu
qualquer vila operária, pois disso não tinha necessidade. Santos, Cubatão e São Vicente eram mais que
suficientes para alojar seus milhares de empregados”, mostrando desta forma a falta de preocupação da
Siderúrgica com seus operários, saturando assim as cidades ao redor que absorvem estes operários.
21
As principais avenidas de conexão entre o centro da cidade e o morro do Itararé eram as mais visadas pela
população de baixa renda, principalmente ao longo da Avenida Antonio Emmerick (São Vicente) e NSª de
Fátima (Santos).
39
cidade. A intensificação da atividade turística ampliou a demanda por bens e serviços em
Santos e São Vicente, que sofreram um acentuado processo de expansão urbana, em parte
fruto da desenfreada especulação imobiliária (COELHO, 2007).
O município de São Vicente ainda tinha uma área a ser explorada: a área
continental, por toda a extensão da planície do Samaritá, onde nasceram seus primeiros
bairros. Segundo LARA (2010) o primeiro núcleo, o bairro Samaritá, surgiu na década de
1930 durante a construção da linha férrea Santos-Juquiá. Porém foi em 1970, com a abertura
da rodovia Pedro Taques22 e a instalação de indústrias na região que a ocupação na área
continental se disseminou.
22
Atual Rodovia Padre Manuel da Nóbrega, que liga Cubatão ao litoral sul.
40
Em resumo, podemos dizer que São Vicente desempenhou ao longo do período as
funções de cidade turística e fronteira de expansão residencial23 requerida pelo
desenvolvimento regional, o que se intensificará após os anos 1950 (ver figura 2.5).
A cidade de São Vicente, nas próximas décadas (1950-1980) sofre uma expansão
residencial e turística passando a ser a segunda cidade da região com a maior população,
consolidando-se como “cidade dormitório”. Este período dá início a um processo de
segregação e precarização da cidade, devido ao adensamento populacional e a necessidade
desta população por uma moradia a baixo custo. Nascem assim, os primeiros bairros operários
e os assentamentos precários de São Vicente, tanto na ilha, quanto no continente (ver Figura
2.6)
23
Conforme citado pelo PLHIS São Vicente (2009) a evidência da expansão residencial turística da cidade é o
Edifício Gáudio, de 1946, primeira edificação vertical construída no município, destinada à residência de
turistas, cuja construção se antecipou à inauguração da Anchieta e ao crescente movimento de procura pelas
praias vicentinas nas décadas seguintes.
41
Figura 2.6 – Mapa de Evolução Urbana do Município de São Vicente.
Figura 2.7 – Vista do Morro Voturuá sentido bairro do Itararé na metade do século XX.
Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/sv/svf019.htm,
http://www.novomilenio.inf.br/sv/svf019 acesso
cesso em 03/04/2011.
Na década de 1960,
19 daa linha férrea em direção ao norte e ao oeste, em terrenos
baixos e alagadiços, foram se formando os bairros operários, em parte pela migração de
43
moradores de baixa renda de Santos. “Os bairros populares surgiram em torno do eixo
popularmente conhecido como “Linha 1” – formado pelas avenidas Nossa Senhora de Fátima,
em Santos, e Antonio Emerich, em São Vicente –, porque por ele passava o “Bonde 1”,
ligando o centro de Santos ao centro de São Vicente. Em torno da “Linha 1” se constituíram
os bairros de Vila Melo, Vila São Jorge, Jardim Guassu, Jardim Paraíso, Vila Valença,
Voturuá, Jardim Independência, Vila Cascatinha, Catiapoã, Parque Bitaru e, mais para a
periferia, a Vila Jóquei Clube” (PLHIS São Vicente 2009, p.27).
24
A construção do dique visava a utilização da área para atividades agrícolas, o que não se concretizou, de
maneira que vários assentamentos precários foram se formando no bairro.
44
municipal como forma de acabar com as ruas de terra e com as valas (PLHIS São Vicente,
2009).
45
sobre o estuário de São Vicente, disseminando a construção sobre palafitas, própria para áreas
sujeitas às oscilações de marés (PLHIS São Vicente 2009).
A partir de 1980 abriu-se um período de crise, que atravessou toda a década de 90,
marcada pela perda da importância da Baixada em relação a outras regiões do Estado de São
Paulo25. Várias causas influenciaram o declínio econômico da Baixada Santista no período: a
crise do petróleo, a crise de exportações, a privatização da COSIPA, e a modernização dos
portos.
25
Perda de importância indicada pela redução da participação relativa da Baixada no valor adicionado do Estado
de São Paulo, no período de 81 a 91, que caiu de 4,23% para 3,88% (PLHIS São Vicente, 2009)
46
Figura 2.9 – Mapa de Evolução dos Assentamentos Precários no Município de São Vicente.
Esta crise – até o final do século XX - levou a uma grande expansão das áreas
ocupadas por favelas em São Vicente e nos municípios centrais da RMBS26. Estudos da
Secretaria de Planejamento de São Vicente, realizados com base nos Censos Demográficos de
1980 e 1991, mostram que o município foi o que mais absorveu o crescimento demográfico
da Baixada naquele período: dos 215.226 novos habitantes da região, 32,5%, ou 75.728
habitantes, residiam em São Vicente27.
26
SERRANO 1991 apud PLHIS São Vicente 2009.
27
PMSV 1995 apud PLHIS São Vicente 2009.
48
3.1. O surgimento de novos planos e instrumentos: em busca
de uma política urbana inclusiva.
Com o final da ditadura militar, e a crise que perdurou por quase vinte anos nas
décadas de 80 e 90 do século XX, a política habitacional sofreu um retrocesso impedindo a
continuidade da busca pela habitação social para a população de baixa renda. No entanto, a
reformulação das políticas habitacionais tornou-se um dos principais temas do governo
brasileiro no início do século XXI – e também dos demais países desenvolvidos, em especial
os emergentes – trazendo assim para o Brasil uma nova esperança de que o problema da
habitação poderia ganhar novos rumos. (LARA, 2010).
28
O estudo sobre o Déficit Habitacional no Brasil vem sendo elaborado anualmente pelo Centro de Estatística e
Informações da Fundação João Pinheiro (CEI/ FJP), para a Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das
Cidades.
49
áreas urbanas, e a “coabitação familiar” aparece como o segundo fator mais relevante no
Sudeste (Ministério das Cidades, 2010).
50
O Estatuto da Cidade e seus instrumentos além de viabilizar e facilitar a obtenção
de recursos federais para programas habitacionais ajuda a quebrar uma série de dificuldades
em áreas como a de natureza urbanística voltados para induzir – mais do que normatizar – as
formas de uso ocupação do solo; possibilita uma nova estratégia de gestão que incorpora a
idéia de participação direta do cidadão em processos decisórios sobre o destino da cidade e a
ampliação das possibilidades de regularização das posses urbanas, até hoje situadas na
ambígua fronteira entre o legal e o ilegal. Porém, mesmo o Estatuto abrindo uma nova
possibilidade de prática, apresentando uma nova concepção de planejamento urbano, boa
parte dos instrumentos, sobretudo urbanísticos, depende dos Planos Diretores; outros de
legislação municipal específica que aplique o dispositivo na cidade (ROLNIK, 2006).
51
que este instrumento possibilita o proprietário urbano conceder a outra pessoa o direito de
superfície do seu terreno, por tempo determinado ou indeterminado, mediante escritura
pública registrada no cartório de registro de imóveis. Para que se possa garantir este direito, o
morador deverá ter mais de cinco anos de posse, o terreno deverá ser de até 250m² e ser
utilizado para moradia e o morador não pode ser proprietário de outro imóvel. Um detalhe
importante é que se perde o direito a CUEM quem adquirir outro imóvel (Estatuto da Cidade,
2001 e Cartilha de Regularização Fundiária de São Vicente – SEHAB, 2011).
29
A CDRU foi instituída no ano de 1967 pelo Decreto 271/67, nos Artigos 7 e 8, podendo ser aplicada tanto em
terras públicas quanto privadas, sendo o uso da CDRU em terras públicas, o objeto de estudo neste trabalho.
52
– através da criação de novos instrumentos e simplificação de procedimentos – que ainda
impedem a facilitação da regularização fundiária, criou através da Secretaria Nacional de
Programas Urbanos o Programa “Papel Passado” (Política nacional de regularização fundiária
urbana sustentável), que objetiva construir condições para que os processos de regularização
fundiária possam acontecer com segurança e agilidade.
O Governo destaca como remoção de obstáculos legais em nível Federal, leis que
foram aprovadas ou alteradas para aperfeiçoar e ou ampliar os mecanismos de regularização
fundiária (como exemplo a Lei Federal nº. 11.977/09 – regularização fundiária de
assentamentos urbanos), enfatiza também a compatibilização legal entre a questão ambiental e
a regularização fundiária urbana, os novos instrumentos que empoderam o Poder Executivo
na condução das ações de regularização e as legislações específicas de estados e municípios.
Dentre tantos projetos, o mais atual e mais popular é o Programa “Minha Casa
Minha Vida”, que o governo federal lançou em 2009, com objetivo de atender as necessidades
de habitação da população de baixa renda nas áreas urbanas, garantindo o acesso à moradia
digna com padrões mínimos de sustentabilidade, segurança e habitabilidade.
53
O PMCMV em municípios com população de até cinquenta mil habitantes tem
por objetivo apoiar estados e municípios no desenvolvimento de ações integradas e
articuladas que facilitem o acesso à moradia digna, voltadas ao atendimento de beneficiários
com renda familiar até R$ 1.395,00 – de 0 a 3 salários – , por meio de instituições financeiras
autorizadas pelo Banco Central do Brasil ou agentes financeiros do Sistema Financeiro da
Habitação – SFH definidos pela Resolução no 3.768, de 29 de julho de 2009, do Conselho
Monetário Nacional (Portaria interministerial nº 484 de 28 de setembro de 2009).
Segundo ROLNIK (2010) o que está acontecendo é que, em São Paulo e nas
demais capitais e regiões metropolitanas onde realmente está concentrada a demanda da faixa
de renda entre 0 e 3 salários mínimos, as construtoras estão encontrando muita dificuldade de
produzir para o Minha Casa, Minha Vida em função do preço dos terrenos, levando as
construtoras a reclamar que o preço do terreno está muito caro.
54
dos grandes desafios deste programa, para que o direito a moradia digna chegue finalmente
aos braços da população de baixa renda.
30
O FNHIS, de natureza orçamentária, tem por objetivo centralizar e gerenciar recursos orçamentários para os
programas estruturados no âmbito do SNHIS de forma a garantir a implantação descentralizada da Política
Nacional de Habitação, os recursos do FNHIS serão repassados para os governos locais que aderirem ao Plano
Nacional de Habitação. Para tanto os municípios deverão elaborar o Plano Municipal de Habitação de Interesse
Social – PLHIS – Plano Local. (COELHO, 2008).
55
O programa tem como objetivo beneficiar proprietários de imóveis construídos
em loteamentos ou empreendimentos irregulares. O decreto nº 52.052 estabelece as
atribuições do Estado e das prefeituras. Para promover a regularização fundiária dessas áreas,
um comitê instituído e vinculado à Secretaria Estadual da Habitação celebrará convênios com
os municípios. Após a assinatura desses termos de cooperação técnica, as prefeituras
recebem orientação e apoio técnico da Secretaria para proceder à regularização. Cabe aos
municípios promover a regularização dos parcelamentos de solo, de conjuntos
habitacionais, condomínios residenciais e a reurbanização de assentamentos precários e
favelas. Nesse sentido, os municípios deverão integrar as secretarias e órgãos municipais
envolvidos na aprovação, fornecer toda a documentação necessária à regularização e obter
anuência dos órgãos federais e estaduais, quando for o caso.
56
considerarmos a política urbana que tem as competências constitucionais
distribuídas pelos municípios, governos estaduais
estaduais e governo federal. A
participação da sociedade civil por meio da representação de interesses
diversos tem o papel de garantir, em primeiro lugar a inclusão, no debate
democrático, daqueles que estiveram historicamente alijados das discussões
sobre os rumos
rumos do país e em segundo lugar fazer aflorar os conflitos de
interesses e dar a eles um tratamento democrático o que é inédito em nossa
sociedade, na escala considerada”.
considerada
Tabela 3.1 - Municípios com construção de moradia social, estados e tipo de parceria
(Brasil 2007-2008).
Todos os planos e ações aqui citados, só serão realizados de forma clara e objetiva
a partir do momento em que exista por parte do estado e município interesse em realizá-los e
em aproveitá-los na tentativa de reduzir os problemas habitacionais e sociais seja do estado ou
do município em si. É necessária uma união de interesses – em especial vontade política –
para que muitos destes instrumentos entrem em ação. Outro ponto fundamental é o
envolvimento da população – em especial a de baixa renda – a participar, cobrar e exigir seus
direitos dados pela Constituição.
A cidade ilegal, hoje, diante desta busca de políticas habitacionais que lutam para
reduzir – e por que não acabar – com o déficit habitacional, pode tornar-se legal, reduzindo
assim um dos grandes problemas deste país, desde o início de seu processo de urbanização – a
segregação social - trazendo a oportunidade de agregar de forma digna populações que um dia
foram impedidas de terem a oportunidade de habitar na tal considerada cidade legal.
São Vicente, em busca desta cidade legal, tem investido de forma expressiva,
utilizando os planos, ações e instrumentos aqui citados, a fim de conseguir convênios junto ao
Ministério das Cidades, para a realização de um sonho de muitos municípios: a erradicação
dos assentamentos precários, irregulares e da cidade ilegal.
59
3.2. São Vicente: Recursos, Legislações e Instrumentos
Utilizados em Busca da Cidade Legal.
Este Código vigorou por quase 30 anos e na década de 1970 já não respondia a
inúmeras questões colocadas pelo avanço da ocupação do município, algumas delas de
interesse do capital imobiliário e dos proprietários de grandes glebas de terra. A mais evidente
era a falta de definição de regras para parcelamento do solo na área continental num momento
de pressão cada vez maior pela ocupação desse território, fato que originou inúmeras
irregularidades. Somente após a Lei Federal de Parcelamento do Solo, Lei 6.766/1979, foi que
o Município passou a ter alguns parâmetros para tentar organizar a ocupação, mas por tratar-
32
Este crescimento da cidade está vinculado ao processo de industrialização na Baixada e a consolidação do
polo industrial de Cubatão, juntamente com o Porto e ao setor terciário, onde seus trabalhadores “migrantes”
de diversos estados do país não tiveram outra chance a não ser migrar para cidades como São Vicente e
Guarujá, já que Santos já sofria com o processo de valorização imobiliária.
60
se de Lei Federal, muitas lacunas e problemas locais não foram contemplados pela lei.
(LARA, 2010).
Diante dos fatos acima, fica evidente que no século XX a legislação urbanística de
São Vicente teve papel importante no reforço da segregação sócio espacial ao contribuir para
a valorização de áreas de interesse do capital imobiliário, ao afirmar os movimentos
especulativos, e ao omitir-se na definição de padrões de ocupação que pudessem ser atendidos
pela população de menor renda. Como conseqüência, contribuiu para expulsar essas famílias
para áreas cada vez mais periféricas, com a proliferação de situações irregulares e os custos
sociais e financeiros que isso acarreta (PLHIS, 2009).
62
O zoneamento especial para HIS foi disciplinado na Lei de Uso e Ocupação do
Solo (Lei Complementar Nº 271/1999), que cria as Zonas Habitacionais de Interesse Social
(ZHIS), sendo estas definidas pelo PLHIS São Vicente (2009, p.37) como “(...) áreas
ocupadas irregularmente com habitações de população de baixa renda, em condições precárias
e / ou insalubres, ou que serão destinadas para assentamentos de novas habitações, também
para a população de baixa renda, que devem ser objeto de legalização da ocupação do solo e
regularização específica da urbanização existente, bem como para implantação prioritária de
infra-estrutura, equipamentos urbanos e comunitários, visando à melhoria das condições de
vida”.
Diante desta definição, para a aplicação da ZHIS inferem-se duas perspectivas: (I)
a urbanização e regularização fundiária de assentamentos precários e (II) a produção de novas
moradias destinadas à população de baixa renda. À definição das ZHIS, a Lei de Uso e
Ocupação do Solo vicentina acrescentou sua demarcação no território municipal, conforme
mapa em anexo (Zoneamento do Município de São Vicente – Uso e Ocupação do Solo).
O PLHIS São Vicente (2009) aponta outros instrumentos necessários para que o
planejamento urbano da cidade se concretize e que a busca pela cidade legal seja uma
realidade, como a Legislação Ambiental (Lei Federal Nº 6.938/81), que está disciplinado pela
Resolução Nº 237/97 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Este prevê a
competência do órgão ambiental estadual para proceder ao licenciamento de situações cujo
impacto tenha repercussão regional, sendo este o caso dos empreendimentos habitacionais em
São Vicente.
63
Outro instrumento utilizado é a legislação federal para aprovação de
empreendimentos habitacionais (Lei Federal Nº 6.766/79)35, que em seu artigo 13, prevê a
necessidade de anuência36 prévia nos empreendimentos habitacionais implantados em regiões
metropolitanas e aglomerados urbanos. A seguir, tabela 3.3 com as legislações incidentes e
aplicáveis em âmbito municipal:
Lei Federal 10.257/01 - Regulamenta os artigos 182 e 183 da CF dispondo sobre os princípios,
Estatuto da Cidade diretrizes e instrumentos para o desenvolvimento da política urbana.
Cria e dispõe sobre a Concessão de Uso Especial para fins de Moradia,
Medida Provisória
trata-se da garantia ao direito de segurança na posse para os ocupantes de
2.220/2001
áreas públicas.
A Lei Federal 6766/79 que dispõe sobre as normas gerais do
Lei Federal 6766/79
parcelamento do solo urbano, estabelece que a legislação municipal, no
com alterações da Lei
âmbito de programas habitacionais promovidos pelo poder público para a
9785/99
faixa de baixa renda, bem como para os projetos de urbanização e
regularização, fixará parâmetros especiais.
Lei Federal 4.771/65 -
Principal normativo da proteção ambiental trata das formas de vegetação
Código Florestal
natural que são consideradas de preservação permanente.
Brasileiro
Resolução CONAMA Dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social
369, de 28 de março de ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão
2006 de vegetação em Área de Preservação Permanente.
Lei Federal Tem como objetivo principal implementar políticas e programas que
11.124/2005 - Sistema promovam o acesso à moradia digna para a população de baixa renda.
Nacional de Habitação Esse Sistema objetiva centralizar todos os programas e projetos
de Interesse Social destinados à habitação de interesse social.
Assegura o direito às famílias de baixa renda (até 3 salários mínimos) à
Lei Federal 11.888/08
assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de
– Assistência Técnica
habitação de interesse social (para sua própria moradia), como parte
integrante do direito social à moradia previsto no artigo 6º da CF.
Institui o Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV 2. Trata sobre a
Lei Federal 12.424/11 Regularização Fundiária de Assentamentos Urbanos instituindo os
– Minha Casa Minha instrumentos de demarcação urbanística e legitimação de posse.
Vida (conversão da Recepciona os princípios e condições emanadas pela Resolução
MP 514, de 2010) CONAMA 369 no que tange à Regularização Fundiária Sustentável em
áreas de proteção ambiental.
Fonte: Oficina de Projetos e Estudos da Cidade – URBIS, 2011.
35
Lei com alterações da Lei 9785/99 e Medida Provisória 514, de 2010, que incide sobre o capítulo IV art.22º,
parágrafo único: “Na hipótese de parcelamento do solo implantado e não registrado, o Município poderá
requerer, por meio da apresentação de planta de parcelamento elaborada pelo loteador ou aprovada pelo
Município e de declaração de que o parcelamento se encontra implantado, o registro das áreas destinadas a uso
público, que passarão dessa forma a integrar o seu domínio.”
36
DICIONÁRIO AURÉLIO: s.f.: Consentimento que implica aprovação.
64
Também cabe ao Município a utilização do Programa Estadual de Regularização
de Núcleos Habitacionais – “Cidade Legal” (programa do governo do estado). Este referido
programa sucede o Programa PROLAR, cujo convênio foi firmado entre o Município de São
Vicente e o Governo estadual, cujos termos garantem ao ente municipal serviços de
assistência técnica e assessoramento, conforme Decreto Estadual Nº 52.05237. Sua disciplina
normativa não configura, no entanto, instância necessária de aprovação ou licenciamento de
intervenções urbanísticas ou de regularização fundiária de assentamentos. Neste caso, entra
em ação outro programa, o Papel Passado38, tratando da regularização de todas as áreas
irregulares da cidade (PLHIS São Vicente, 2009).
Para que possamos compreender melhor o fato da área onde se encontra o núcleo
Sá Catarina de Morares ser considerada irregular, é necessário saber sobre os denominados
terrenos de marinha e seus acrescidos39, que constituem significativas porções do espaço
urbano em São Vicente. A delimitação desses terrenos, definida pelo Decreto - Lei Nº
9.760/46, que disciplina uma faixa de 33 metros da linha de preamar média (LPM) fez-se em
1.831. Tal LPM, cuja definição é precedida de homologação pela União, encontra-se
definitivamente delimitada para o Município de São Vicente. Aterros situados sobre aquilo
que a LPM definia como mar, em 1831, são caracterizados como acrescidos de marinha,
justamente o caso do núcleo em estudo.
37
Decreto de 13/08/2007 que Institui o Programa Estadual de Regularização de Núcleos Habitacionais - Cidade
Legal.
38
Este programa está vinculado com ações junto ao Governo Federal.
39
Bens da União conforme prescrição do artigo 20, inciso VII da Constituição Federal.
65
previstas a venda, a permuta e a doação. Mas tais formas de transferência de
domínio pleno são expressamente preteridas pela lei, que prevê, entre as
modalidades de transferência de domínio útil (suficiente para assegurar o
uso), a inscrição de ocupação, o aforamento, a cessão sob a forma de
concessão de direito real de uso e a concessão de uso especial para fins de
moradia”.
40
A lei que criou a UEM prevê sua extinção quando da conclusão do Projeto Habitar - Brasil/BID –
criado no período do Governo FHC, através da Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano, lembrando que
o projeto de requalificação do núcleo Sambaiatuba é do Projeto Habitar – Brasil/BID.
66
Conforme citado por COELHO (2007) a ”4ª Conferência foi um sucesso,
atingindo todas as metas propostas. Com o tema: “A cidade é a nossa casa”, mobilizou 4445
pessoas em 30 pré-conferências, que elegeram 445 delegados”. Os temas discutidos nesta
conferência foram especificamente sobre as questões voltadas para a Regularização Fundiária
e Urbanização; Desfavelamento, Controle de Ocupações e Fiscalização; Programas
Habitacionais, Produção Habitacional, Financiamento e Estatutos da Cidade, Plano Diretor;
Participação e Controle Social, Fundo Municipal de Habitação e Conselho Municipal de
Habitação. O resultado final dos trabalhos foi relatado na “Carta da 4ª Conferência Municipal
da Habitação” (ver anexo), que é o roteiro programático que está orientando toda política
municipal de habitação, sendo que muitos dos pontos abordados nesta conferência, já estão
sendo implementados e que o fio condutor da política urbana de São Vicente, foi traçado
nesse momento rico da participação popular (COELHO, 2007).
Por fim, deve ser mencionado um ator de peso inegável – a Câmara Municipal –,
que participa do Conselho Municipal de Habitação e exerce um papel especial no contexto do
planejamento urbano e habitacional em qualquer localidade.
Portando, é possível perceber a quantidade de recursos, instrumentos e legislações
que possibilitam – dependendo da força e vontade política do município – a realização da
regularização de áreas e alcançar a tal cidade legal. Porém para que isto ocorra em São
Vicente, seria interessante buscar caminhos que possam facilitar esse conjunto de ações, como
41
Destaca-se a Associação dos Moradores e Trabalhadores da Região da Baixada Santista, por seu caráter de
representação mais abrangente, o que a faz participar do Conselho Municipal de Habitação, este criado em 1993.
67
uma nova proposta de um Plano Diretor, já que o vigente já tem 10 anos. Este deve ser
renovado e reavaliado em conformidade com o Estatuto da Cidade, de forma a atender melhor
as questões habitacionais da população vicentina que ainda sofre em habitar em áreas de risco,
irregulares, etc. Vale ressaltar a importância de se pensar na questão habitacional no âmbito
regional para trocar diretrizes gerais e ações complementares na resolução dos problemas,
considerando que se trata de uma região conurbada e com alta densidade demográfica nos
municípios centrais da RMBS. Esta revisão do plano diretor seria uma grande oportunidade,
já que o município se mostra predisposto a fazer valer a busca pela erradicação dos
assentamentos precários na cidade, através de projetos já em andamento atualmente na cidade,
como iremos apresentar no próximo capítulo.
68
3.3. Projetos realizados e em andamento na cidade.
Nos últimos anos o atendimento à população de menor renda que mora em favelas
e outros assentamentos precários passou a ser uma prioridade efetiva da administração
municipal, cuja atuação vem se desenvolvendo em torno de duas grandes linhas programáticas
complementares:
42
Lembrando que dos projetos propostos para o núcleo Sá Catarina de Moraes, somente o de drenagem,
calçamento das vias e o “Programa Papel Passado” (em partes) foram realizados na área.
70
Tabela 3.5 – Favelas e Loteamentos Irregulares no Município de São Vicente.
Década N. Total
Poligonal Quant. Assentamento Precário Origem de de
Ocupação Domicilios
Área Insular
Sub-Total 23 16.031
71
Área Continental
Sub-Total 15 11.084
TOTAL
38 27.115
72
motivo pelo qual estes projetos de urbanização e regularização fundiária são extremamente
necessários para o município de São Vicente.
Um dos motivos pelos quais estes projetos ganham vida e saem do papel é o
convênio entre a Prefeitura de São Vicente e o Ministério das Cidades, que disponibilizou
verba para iniciar os estudos e levantamentos necessários para que estas áreas pudessem em
fim serem regularizadas e ou reurbanizadas (COELHO, 2007).
Iniciando pelo “Projeto Mexico 70” (ver figura 3.1), gerenciado pela SEURB
(atual SEHAB), abrange quatro áreas de intervenção: Núcleo Canal do Meio / Av. Brasil 01;
Núcleo CDHU / Av. Brasil 02; Núcleo Saquaré / Canal de Drenagem e Núcleo Saquaré / Área
de Consolidação. A primeira dessas quatro áreas de intervenção tem como fontes de recursos
o FNHIS (aproximadamente 9,5 milhões de reais), além da contrapartida municipal, da ordem
de 5,7 milhões. As três demais áreas de intervenção contam com recursos aportados pelo
PAC, que totalizam R$ 41.300 milhões, aos quais se somarão R$ 10.325 milhões do
orçamento municipal, atendendo 2.676 famílias (PLHIS São Vicente, 2009).
Figura 3.1 - Foto aérea do Município destacando a poligonal do Projeto México 70.
73
A área é um imóvel da União – terreno de marinha e acrescidos, com área total de
1.066.189,41 m2, situada nas extremidades da Vila Margarida, Matteo Bei e Planalto Bela
Vista, entre as pontes dos Barreiros e do Mar Pequeno (ver figura 3.2). Devido as
peculiaridades e características de cada núcleo, a área foi subdividida em cinco núcleos, onde
cada um receberia um Registro Imobiliário Patrimonial – RIP.
Núcleo
México 70
74
Figura 3.3 - Divisão das áreas a serem aforadas junto a Região Denominada México 70.
76
Figura 3.4 - Projeto de Urbanização México 70 / Núcleo Canal do Meio
43
O PLHIS São Vicente (2009) informa que este projeto e os demais aqui citados serão finalizados até o final de
2012. Portanto, não entram no cálculo de demanda futura para novas habitações.
77
Figura 3.5 – Área de Assentamento no Conjunto Habitacional Parque Bitarú.
Núcleo Saquaré
80
O Projeto Jóquei Bairro Cidadão, gerenciado pela UEM44, agrupa os núcleos, por
sua similaridade e proximidade, em quatro áreas de intervenção: Sambaiatuba (1ª e 2ª etapa),
Batuíra e Charme, Bugre, Bugre (Lixão, Penedo e Charme 2), conforme tabela 3.7 abaixo:
44
Unidade Executora Municipal (PLHIS São Vicente, 2009).
81
O complexo formado por essas áreas localiza-se junto ao limites de São Vicente
com Santos e Cubatão, tendo como divisores, respectivamente, o Rio do Bugre e o Casqueiro.
A etapa 1 do núcleo Sambaiatuba teve início em 2001 sendo concluída em 2005,
já a etapa 2 do núcleo teve início em 2005 com término em 2009 (ver figura 3.9).
As áreas que fazem frente para Avenida Sambaiatuba serão dotadas de redes de coleta de
esgoto e abastecimento de água e poderão contar com a regularização dos serviços de
fornecimento de energia elétrica. Toda a área de abrangência do projeto passará regularização
fundiária. No local antes ocupado por palafitas será implantada uma via margeando o Rio
Casqueiro, efetuando-se a recuperação da vegetação de mangue (PLHIS São Vicente, 2009).
46
Esta retificação executada pelo DNOS na década de 1950 deu início ao núcleo Sá Catarina de Moraes, objeto
de estudo deste trabalho.
83
Os objetivos do Programa de Regularização Fundiária Sustentável são a garantia
do acesso à moradia, a regularização da posse e a melhoria do padrão urbanístico. Nele, a
tônica da intervenção está colocada na resolução do problema fundiário.
85
Segundo entrevista realizada com o vereador de São Vicente e também líder da
comunidade do núcleo Sá Catarina de Moraes, o Sr. Juracy Francisco (Jura), este alega que a
prefeitura diz não ter terrenos disponíveis na cidade para habitação social e nem ao menos
para projetos de inclusão social. Cita como exemplo o interesse do grupo SENAI em investir
na cidade de São Vicente, construindo uma unidade, sendo necessário por parte da prefeitura
somente a doação de um terreno para a implantação do projeto.
86
suas potencialidades é de proporcionar melhor qualidade de vida e moradia para estas
famílias, respeitando sua identidade, e elevando o núcleo as condições de bairro, deixando de
ser mais um assentamento precário, mais um número a constar no déficit habitacional da
cidade.
87
4.1. De Seu Surgimento à sua Consolidação.
Fonte: Foto aérea: SEURB / PMSV, 2008 (Elaboração da autora (Imagem Google Earth, acesso em
10/04/11).
Durante as décadas de 1930 e 1940 o bairro do Catiapoã contava com apenas uma
rua central, a Tenente Durval do Amaral, que se estendia até os limites da rua Aleixo Garcia,
na época apenas um areão. Nesse período foi realizada a drenagem do bairro, com a abertura
do canal que drenou o grande alagadiço da rua Mota Lima. Esta drenagem também foi
realizada pelo Departamento Nacional de Obras Sanitárias (DNOS), com a intenção de criar
um sistema de controle das cheias provocadas pelo Rio dos Bugres nos bairros que atingiam
São Vicente e Santos. Porém, esta drenagem foi um “atrativo” para as famílias de baixa renda
se instalar próximo aos diques , nascendo assim, o núcleo Sá Catarina de Moraes, entre tantos
outros, atingindo também a região de Santos, dando origem a um dos núcleos mais adensados
do município, a Vila Gilda.
88
O loteamento denominado “Sá Catarina de Moraes” pertencente ao bairro do
Catiapoã, teve o início da sua ocupação em 1950. Sua explosão demográfica ocorreu
principalmente no final da década de 1950, com a pavimentação das ruas Tenente Durval do
Amaral, Rua Martins Fontes e a Rua Mota Lima quando algumas famílias buscaram o leito do
extinto rio Catarina de Moraes e seus arredores, um local para construírem suas moradias,
dando origem a este núcleo habitacional.
O núcleo tem como limite ao leste o muro do Santos São Vicente Golfe Clube e a
Rua Travessa do Parque, ao norte com a Avenida Penedo, e a oeste e sul com o canal de
drenagem das águas pluviais junto a Avenida Lourival Moreira do Amaral. A princípio o
bairro era habitado principalmente por imigrantes portugueses e seus descendentes e pessoas
que trabalhavam na empresa Ferroviária, devido à proximidade do local a linha férrea -
FEPASA (ver figura 4.2).
89
“ (...) A negligência das autoridades competentes, entretanto, deixou que a
posse de tais áreas passasse ao domínio de particulares, que com tais terrenos
estão fazendo verdadeiros "negócios da China". Grandes fortunas estão
sendo feitas com o loteamento e venda de terrenos de marinha,
particularmente em S. Vicente, onde tudo está aforado. Os concessionários
de tais aforamentos receberam de mão beijada valiosos patrimônios,
representados por valor que em breve se elevará a bilhões de cruzeiros.
E como se não bastasse essa valorização natural, ainda se beneficiaram com
obras realizadas pelo Governo Federal, nas quais foram gastas dezenas de
milhões de cruzeiros. Em Santos, praticamente nada ainda foi feito nesse
sentido, mas a vizinha cidade de S. Vicente, ou melhor, meia dúzia de
latifundiários de áreas urbanas, têm sido largamente contemplados, com as
obras de saneamento representadas pelas retificações dos rios da Avó, das
Cachetas, Catarina de Morais, Sambaiatuba etc., construção de diques e
formação de alodiais.
Grandes áreas de mangues e pântanos ficaram, assim, drenadas e enxutas,
prontas para receber edificação, com uma quantidade de aterro relativamente
pequena. Como a Prefeitura não reclamou a tempo os seus direitos, tais áreas
passaram naturalmente à posse dos proprietários dos terrenos adjacentes aos
referidos mangues, que outra coisa não fazem a não ser lotear e vender, uma
vez que lhe seja deferido o aforamento requerido, de conformidade com o
decreto n. 9.760, de 5 de setembro de 1946”
“(...) O problema tem, portanto, diversos aspectos, alguns dos quais tomam
caráter legal. É o que aconteceu no Parque Bitaru, cujo proprietário requereu
o aforamento de vasta área de mangues, em torno do Rio da Avó, que
também foi beneficiado pela retificação. Foi-lhe, finalmente, concedido o
aforamento.
A esse tempo, porém, já cerca de 200 pessoas, na sua quase totalidade
operários pobres, construíram seus "barracos" em diversos pontos dessa área
principalmente junto ao dique construído pelo Departamento de Obras de
Saneamento, apesar da proibição de construir a menos de 10 metros de
distância do referido dique.
Obtendo o aforamento, o proprietário requereu a posse dos terrenos, que lhe
passaram a pertencer por direito. E em conseqüência criou-se um grave
problema de caráter social. Cerca de 200 famílias terão de ser desalojadas,
não tendo para onde transferir suas pobres vivendas. Isto não teria
acontecido se a Prefeitura de S. Vicente tivesse oportunamente se antecipado
à iniciativa particular.
Dessa maneira, criou-se em São Vicente um grave problema que toma
aspectos sociais de mais alta relevância” (ver figura 4.3).
90
Figura 4.3 – Uma vasta área de terreno beneficiada pela retificação dos rios Catarina de
Morais e Sambaiatuba, incluindo terrenos de marinha.
Na virada dos anos 1960, a energia elétrica e a água encanada começaram a ser
expandidas. A comunidade do Catiapoã sofria dificuldades pela carência em infra-estrutura,
que foram sendo sanadas com o desenvolvimento dos últimos 40 anos. O assentamento esta
inserido sobre o leito do extinto Rio Catarina de Moraes e seus arredores. A área esta
classificada como non aedificandi e inclusa no perímetro da linha limite de preamar média do
ano de 1831. Em virtude dessas peculiaridades, tais terras foram excluídas do processo de
formação do tecido urbano formal da cidade (SEURB, 2006).
91
A evolução de tal processo, atualmente, transformou a maioria desses espaços nos
reconhecidos assentamentos precários, as ditas favelas, que se tornaram a alternativa de
moradia para população pobre, desprovida de poder aquisitivo, que se via excluída do
mercado habitacional formal, devido o alto valor das unidades habitacionais, dos terrenos e
mesmo dos alugueis. A população mais pobre é levada a ocupar as áreas que não são
interessantes ou não estão disponíveis para o mercado imobiliário, como as áreas localizadas
ao longo de rios e córregos, de alta declividade ou destinadas ao uso institucional ou
recreativo.
Fonte: Vista aérea 1958 – SEHAB, 2006; Vista aérea 2011 - Elaborado pela autora (Imagem Google
Earth, acesso em 15/05/11).
92
O núcleo Sá Catarina de Moraes começou a entrar nos planos de urbanização e
regularização fundiária somente a partir de 200547, quando a SEURB (atual SEHAB) iniciou
um processo de junto ao Ministério das Cidades de implantação do Programa Papel Passado
para a regularização fundiária de núcleos como o México 70, Saquaré e Canal do Meio. O Sá
Catarina de Moraes foi declarado de interesse do serviço público pela Portaria 161 da
Secretaria do Patrimônio da União, de 3 de Julho de 2006, para fins de execução de projeto
social de regularização urbanística e fundiária. Este visa o saneamento da área
ambientalmente sensível bem como o assentamento das famílias lá existentes, que utilizam o
local para fim de moradia. Para tal regularização a prefeitura pretendia adotar o instrumento
previsto no Estatuto da Cidade através da Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia –
CUEM (COELHO, 2007 p.60).
47
Vale reforçar que em 2005, com a criação da nova Política Nacional de Habitação (PNH), o SNH (Sistema
Nacional de Habitação) e FNHIS (Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social) o progresso dos municípios
em relação a regularização fundiária passa ocorrer em âmbito nacional, conforme já citado no capítulo 3.
93
4.2. Análise das Problemáticas e Potencialidades do Núcleo
Para que seja possível fazer um melhor reconhecimento do objeto final de estudo
– o núcleo Sá Catarina de Moraes – serão evidenciadas suas problemáticas e potencialidades,
a fim de compreender melhor o núcleo e suas necessidades, podendo assim avançar nas
diretrizes e propostas para a melhoria do lugar.
Fonte: Elaborado pela autora (imagem: Google Earth, 2010. Acesso em 16/04/2011).
94
melhor análise no momento da definição das diretrizes deste projeto, já que a remoção destas
famílias para um lugar muito distante do núcleo traria rejeição por parte dos moradores.
Fonte: Elaborado pela autora (imagem: Google Earth, 2010. Acesso em 16/04/2011).
O rio Catarina de Moraes era o eixo natural que demarcava o limite das terras de
algumas propriedades da área. Ao lado esquerdo, a oeste, do rio encontravam-se as terras em
nome da Sociedade Civil Parque São Vicente e do Sr. Dr. João Carlos de Azevedo. Ao lado
direito, a leste, tinham-se demarcadas áreas da União, junto à margem do rio e mais adiante
terras em nome do Santos - São Vicente Golfe Clube e da Ferrovia Paulista S.A – FEPASA.
Assim, a área se torna irregular por estar em área da União – Marinha e Acrescidos –
apresentando através desta condição uma problemática para a solução deste assentamento
precário (ver mapa 4.1).
Devido a essa localização, mesmo estando próxima das principais vias da cidade e
com o centro comercial, o núcleo encontra-se comprimido e fisicamente isolado do restante
da cidade. O isolamento ocorre devido ao terreno limítrofe do Santos São Vicente Golfe
Clube agir como barreira física para o crescimento espacial e não apresentar contato ou
ligação com o núcleo e também, pelas poucas pontes existentes no Canal da Avenida Lourival
Moreira do Amaral, que são inadequadas para o acesso ao outro lado da Cidade.
95
O acesso principal ao núcleo se dá pela Av. Lourival Moreira do Amaral e pela
Rua Travessa do Parque. Estas, por sua vez, são interligadas por diversas vielas estreitas
chamadas pela Prefeitura de “mecanizadas” (ver mapa 4.2), que cortam o núcleo e dão acesso
aos lotes e edifícios. Todavia, somente uma viela mecanizada possui largura que permite o
acesso de veículos e corta no sentido transversal o núcleo, interligando as duas vias principais.
Devido à precariedade do sistema viário, o acesso aos serviços públicos de emergência, como
bombeiros, ambulâncias, policiamento etc, torna-se totalmente deficiente (SEURB, 2006),
trazendo riscos a essas famílias.
97
Foto 4.3 - Corredores de acesso Foto 4.4 - Corredores de acesso coletivo
98
Mapa 4.3 - Mapa de localização da área atingida no último incêndio ocorrido no Núcleo
Sá Catarina de Moraes, em Fevereiro de 2008.
99
A Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM) denomina a área do
núcleo Sá Catarina de Moraes como SAVI 15 (ver mapa 4.4), dentro do Programa Regional
de Identificação e Monitoramento de Áreas de Habitações Desconformes (PRIMAHD). Os
levantamentos da AGEM – realizados em 2005) apresentam uma área desconforme somente
pelo fato de estar localizada em terra particular e pública. Também apresenta uma situação
diferente da encontrada hoje, afirmando que o núcleo tem como predominância construções
de alvenaria, é provida de água, energia elétrica, iluminação pública, transporte público e
coleta de lixo. Os levantamentos apresentados neste estudo de caso comprovam outra
realidade do núcleo.
Quanto aos serviços de coleta de lixo, o núcleo também sofre neste quesito devido
aos problemas de acesso, pois as vielas conhecidas como “mecanizadas” não possibilitam a
entrada de caminhões para a coleta de lixo (ver fotos 4.5 e 4.6). Assim, a própria população
fica encarregada de levar seu lixo até a avenida principal de acesso ao núcleo, a Ver. Lourival
Moreira do Amaral, onde também se encontra o canal de drenagem, tendo ali algumas
“caçambas” de concreto (construídas no canteiro do canal pela própria Prefeitura) para
depósito do lixo (ver foto 4.7).
100
Foto 4.5 – Viela Mecanizada Foto 4.6 – Viela Mecanizada
101
mais e entupindo as comportas, colaborando com as enchentes que ainda ocorrem na área (ver
fotos 4.8 a 4.9). Estas enchentes não ocorrem somente pela precariedade da coleta de lixo,
mas também está associada à falta de esgotamento e as vias com sistema de drenagem
incompleto, o que culmina em ruas alagadas além no período de chuva, também durante os
ciclos das altas da maré (ver fotos 4.10 a e 4.13).
O canal de drenagem do Sá Catarina de Moraes que se estende por toda a Av. Ver.
Lourival Moreira do Amaral até a Avenida Penedo e que deságua no rio do Bugre tem projeto
já aprovado e verba liberada para receber o aprofundamento do leito, alargamento das
margens, gabião e bomba de drenagem. Porém as obras ainda não foram iniciadas, mas em
março de 2010, um convênio de R$ 13,540.000,00 foi celebrado com o Ministério das
Cidades, referente ao Programa Drenagem Urbana Sustentável, com recursos do PAC
(Programa de Aceleração de Crescimento), para obras de drenagem e urbanização do canal da
Drº Alcides de Araújo e do canal do Sá Catarina de Moraes. Com a implantação deste projeto,
a SEHAB estima que sejam beneficiadas aproximadamente 3000 (três mil) famílias e outros
bairros no entorno como o Catiapoã, Vila Cascatinha , Jardim Guassú e Jardim Nosso Lar.
102
Foto 4.10 – Transbordo do Canal Foto 4.11 – Lixo no canal
48
Laércio S. dos Santos é um internauta morador de São Vicente (SP), que participou do vc repórter, canal de
jornalismo participativo do site Terra (www.terra.com.br/vcreporter), denunciando as más condições do canal e a
falta de coleta de lixo no local, agravando ainda mais nos dias de chuva e maré alta, colaborando com o
transbordo do canal de drenagem. (reportagem acessada em 23/05/11).
103
destinar 30% à HIS. Terrenos considerados apta 02 e 03 são encontrados somente na Área
Continental da cidade (ver mapa 4.5 e tabela 4.4).
Mapa 4.5 - Mapa de localização dos Terrenos Vazios na Área Insular de São Vicente.
104
Tabela 4.4 – Terrenos Vazios na Área Insular de São Vicente.
Área Insular
Apta 01 - em terrenos de ate 2.000 m² destinar 100% para Habitação de Interesse Social e em terrenos maiores que 2.000
m² destinar 80% a Habitação de Interesse Social 105
Fonte: SEHAB, 2008.
Os valores apresentados na tabela anterior mostram o quanto a cidade ainda fica
devendo em questões de áreas voltadas para HIS, sendo que os 280 mil m² de área
considerada apta 1 representa apenas 0,28 km² dos 18km² existentes na área insular, ou seja,
1,55% da área insular da cidade. Diante destes números é possível avaliar as dificuldades do
município de reduzir o déficit habitacional.
Estes terrenos vazios (ver figura 4.7) podem auxiliar nas propostas e diretrizes
para a requalificação do núcleo devido à necessidade de abertura de espaços para áreas
verdes, lazer, recreação e vias, que exigirá um projeto de remanejamento de algumas famílias.
Este é um fator que certamente trará aceitação ao projeto, a possibilidade de relocação destas
famílias para áreas não tão distantes do núcleo.
106
Mapa 4.6 – Localização do trecho conhecido como “Sétimo Céu” no núcleo Sá Catarina
de Moraes.
Trata-se de uma área onde vivem muitas famílias que não conseguem sustentar o
preço dos aluguéis e acabam por comprar terrenos ainda não ocupados, de pequenos
mandatários do local, construindo assim seus próprios barracos. Este trecho do núcleo é muito
mais crítico que os demais, devido a sua localização e a falta de vias de acesso a grande parte
dos barracos ali construídos – barracos porque grande parte das habitações neste trecho é
realmente de madeira – agravando ainda mais a precariedade do núcleo e reforçando a
necessidade de melhorias no local.
107
Além das dificuldades de acesso a este trecho do núcleo, um dos problemas
graves é a questão do tráfico de drogas, já que se trata de um lugar excluído e de difícil
acesso, facilitando assim a operação e domínio dos traficantes neste trecho. Esta área se
encontra no limite do terreno do Golfe Clube (ver figura 4.8), ocupando uma parte de um
terreno particular e outra parte da área da União, Marinha e Acrescidos.
Figura 4.8 – Localização do trecho conhecido como “Favela do Sétimo Céu” (foto aérea)
108
A Favela do Sétimo Céu é uma área extremamente adensada conforme dados da
figura acima (4.2.2.22), como podemos perceber a favela abriga 174 domicílios em uma área
de 14.661,51m² (0,014km²), mantendo uma densidade demográfica de 43.516,81 habitantes
por km². A área do Catarina de Moraes abriga 989 domicílios49 em uma área de 99.984,62m²
(0,099km²), mantendo uma densidade demográfica de 31.672,16 habitantes por km² (ver
mapa 4.7)
49
Os números de domicílios estão baseados no último diagnóstico realizado pela SEURB em 2006, já que
atualmente não houve uma atualização nos dados, a prefeitura estima que o núcleo hoje abrigue 1.500 famílias.
109
Tabela 4.5 – Tipo de Construção:
Fonte: Tânia Mangolini Carvalho, 2006 (Diagnóstico realizado pela SEURB, 2005-2006)
110
O grande problema são os acessos a estas residências, sendo que as consideradas
de melhor qualidade estão de fronte com as principais vias do núcleo, que são asfaltadas e tem
largura para passagem de carros e motos. As residências que se encontram ao centro do
núcleo são as que apresentam piores condições, sendo construídas muito próximas uma das
outras, não obtendo corredores e recuos laterais.
Fonte: Tânia Mangolini Carvalho, 2006 (Diagnóstico realizado pela SEURB, 2005-2006)
50
Programa “Papel Passado” de regularização fundiária de áreas como o núcleo Sá Catarina de Moraes, que em
grande parte está localizada sobre área de Marinha e Acrescidos, em outra parte menor sobre área particular.
111
cadastradas e residem na área. Porém destas famílias cadastradas, somente 54 receberam o
título de concessão, conforme citado anteriormente.
Fonte: Tânia Mangolini Carvalho, 2006 (Diagnóstico realizado pela SEURB, 2005-2006)
Fonte: Tânia Mangolini Carvalho, 2006 (Diagnóstico realizado pela SEURB, 2005-2006)
112
O núcleo conta com uma Associação Fundada em 1996, presidida pelo Vereador
Juracy Francisco de Jesus – conhecido como “Jura”. Trata-se de uma entidade sem fins
lucrativos e que tem como objetivo a integração de crianças, jovens e idosos a sociedade,
através de atividades esportivas, educacionais e culturais. A entidade atende
aproximadamente 1000 pessoas nas áreas de educação com os cursos de alfabetização de
jovens, adultos e idosos, inglês e espanhol. Na área do esporte com aulas de capoeira, karatê,
futebol de campo, ginástica localizada, ginástica especializada em diabetes e hipertensão. Na
área da saúde mantém plantões com equipe de enfermagem, orientação alimentar e também
mutirões de saúde em locais públicos. E na formação profissional com os cursos de manicure
e cabeleireiro (ver fotos 4.16 a 4.18).
113
Nas proximidades do Núcleo Sá Catarina de Moraes, existe: 01 creche
comunitária em parceria com a Prefeitura com capacidade de atender aproximadamente 80
crianças, 01 Escola Estadual de 1º grau com 1600 mil e seiscentas vagas para o ensino
fundamental e atividades abertas às crianças com aula de dança, capoeira, futebol de salão,
entre outras. O atendimento de saúde aos moradores da área é realizado através da Unidade
Básica de Saúde do bairro vizinho (ver figura 4.10). A população da área tem acesso a:
transporte coletivo, supermercados, feiras-livres, drogaria, padaria, entre outros serviços
comerciais, situados nas proximidades (SEURB, 2006).
114
Em relação à situação das instalações sanitárias no núcleo, a maioria das moradias
possui banheiro exclusivo, somente 08 moradias não possuem esse tipo de instalação 28
fazem uso coletivo de banheiro (SEURB 2006). A maioria das moradias também é provida de
vasos sanitários, descarga, chuveiro e pia nas instalações sanitárias, conforme tabela 4.9
abaixo:
Fonte: Tânia Mangolini Carvalho, 2006 (Diagnóstico realizado pela SEURB, 2005-2006)
Apesar de o núcleo estar situado no bairro do Catiapoã que conta com provimento
de infra-estrutura, o esgotamento sanitário é interrompido em parte do perímetro da área de
intervenção. De acordo com os dados fornecidos pela SEURB (2006), 346 moradias sofrem
algum tipo de alagamento, agravando as condições de saneamento no local e no entorno com
os períodos de maré alta e chuvas fortes (ver tabela 4.10). Com o projeto de urbanização, o
acesso ao sistema de esgotamento sanitário poderá abranger todo o núcleo. A coleta de lixo é
feita pela Prefeitura Municipal e abrange a totalidade da área, desde que o lixo seja levado
pelos moradores aos pontos de coleta que se encontram de fronte ao canal de drenagem,
conforme citado anteriormente.
115
Tabela 4.10 – Condições Sanitárias
Fonte: Tânia Mangolini Carvalho, 2006 (Diagnóstico realizado pela SEURB, 2005-2006)
Fonte: Tânia Mangolini Carvalho, 2006 (Diagnóstico realizado pela SEURB, 2005-2006)
116
Tabela 4.12 – Fornecimento de Energia Elétrica
Fonte: Tânia Mangolini Carvalho, 2006 (Diagnóstico realizado pela SEURB, 2005-2006)
Com os dados apresentados até aqui, foi possível setorizar a área, demarcando
alguns pontos do núcleo conforme sua caracterização, auxiliando futuramente na apresentação
das propostas e diretrizes deste projeto (ver mapa 4.8).
117
Mapa 4.8 – Mapa de Setorização das áreas com características diferentes
118
4.3. Perfil Socioeconômico da População.
Os dados da tabela acima afirmam que o núcleo não se trata mais de uma área em
situação provisória, mas sim definitiva, já que existem moradores que vivem no núcleo há
mais de 20 anos.
119
Tabela 4.14 – Tabela de Origem da População
A distribuição dos moradores por sexo é bastante equilibrada (ver gráfico 4.1),
com 50,59 % (2165 pessoas) do sexo feminino e 49.40 % (2114 pessoas) do sexo masculino.
No tocante a cor/raça a predominância da população residente no local se declara parda e
negra, perfazendo um total de 59.50% (692 pessoas). Os que se consideram brancos somam
37.23% (433 pessoas), se declararam da raça Amarela 0.08 % (01 pessoa). Da raça Indígena
0.34% (4 pessoas) e 2.84% (33 pessoas) não declarou (SEURB, 2006).
Fonte: Tânia Mangolini Carvalho, 2006 (Diagnóstico realizado pela SEURB, 2005-2006)
120
Analisando a tabela 4.15 de distribuição etária dos moradores, observa-se que a
maioria da população tem menos de 40 anos (jovens e adultos). O contingente de crianças e
adolescentes com idade até 15 anos atinge 24.40% (1044 crianças/adolescentes) ,quase um
quarto da população. O percentual de jovens, moradores de até 16 a 25 anos na área também é
bastante significativo, representando 20.45% (875 jovens),já o percentual de crianças até 10
anos somam 21.52% (921 crianças) do total da população.
121
Tabela 4.16 – Situação Educacional
Estes números serão de extrema importância para definir os rumos dos estudos
para a criação de projetos sociais para a inclusão destes moradores no mercado de trabalho,
para que os mesmos se interessem e tenham a oportunidade de avançar nos estudos e crescer
profissionalmente, gerando oportunidades de melhoria de renda, de forma a manter estas
famílias no núcleo após as propostas de requalificação inclusão e requalificação da área.
122
Tabela 4.17 – Grau de Escolaridade de quem frequenta a escola.
123
Fonte: Tânia Mangolini Carvalho, 2006.
124
O cadastramento sócio-econômico da SEURB (2006) também levantou
informações de todos os membros das famílias, em relação à situação ocupacional. Neste item
foram levantadas também, informações sobre o tempo de desemprego, dos que declararam
esta situação, a profissão e quem está exercendo a função como ocupação principal. A tabela
4.19 demonstra o universo geral da população em relação à situação ocupacional.
125
Tabela 4.20 – Moradores Maiores de 16 anos que exercem ocupação remunerada.
126
Tabela 4.22 – Ocupação Principal dos Moradores.
Quanto a composição da renda familiar, cabe esclarecer que para todos os dados
desse item a SEURB (2006) considerou o salário mínimo vigente até fevereiro de 2006 no
valor de R$ 350,00.
A totalização dos rendimentos, dos membros das famílias, respondem pelos gastos
mensais de manutenção da unidade familiar, do total de famílias com renda até 03 salários
mínimos, conforme composição abaixo colocada (tabela 4.23):
127
A Soma dos rendimentos dos moradores, dividida pelo número de famílias51
atinge o valor de R$ 861,50 (Oitocentos e sessenta e um reais e cinquenta centavos), que
representa uma renda média familiar de 2.46% salários mínimos. Estes níveis de renda
reafirmam a necessidade de se investir na criação de alternativas que melhorem a renda
familiar e justifiquem os investimentos públicos que possibilitam o rompimento com a
pobreza e a exclusão social do núcleo.
51
O número médio de pessoas por família é de 3,68 (PLHIS São Vicente, 2009).
128
Diante das problemáticas e potencialidades aqui apresentadas, dos estudos
socioeconômicos da população do núcleo, possibilitando o reconhecimento das reais
necessidades e suas fragilidades, será possível iniciar um estudo de diretrizes e propostas para
a requalificação do Núcleo Sá Catarina de Moraes, de forma a atender a população que habita
em condições precárias, mesmo diante da posição da Prefeitura do Município de não focar a
requalificação da área antes de propor a regularização fundiária da mesma.
129
5.1. Plano de Urbanização e Requalificação do Núcleo Sá
Catarina de Moraes.
b) Viabilizar solução habitacional adequada para cada família, seja por meio da consolidação
ou por reassentamento, em unidades produzidas em área próxima ao núcleo;
130
c) Priorizar a urbanização da área como estratégia de preservar o acervo popular e o
investimento da população, sempre que possível, assegurando o reassentamento de
unidades a partir de critérios claros e viabilizando condições sócio-ambientais compatíveis
com a condição de bairro, especialmente com a eliminação de todas as situações de risco
identificadas e o atendimento integral de todas as unidades habitacionais (consolidadas ou
reassentadas) com os itens essenciais de infra-estrutura urbana;
g) Buscar sempre que possível, nos setores de urbanização com consolidação de moradias, o
alargamento das vias de modo a permitir a circulação de veículos de emergência no viário
terciário;
52
Conforme Instrução Normativa nº 46, de 29/09/2009 (em conformidade com a Lei nº 11.124, de 16 de junho
de 2005, e com a Lei nº 11.888, de 24 de dezembro de 2008). Este manual tem como “objetivo a ação de
Prestação de Serviços de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social a transferência de recursos para
estados, Distrito Federal, municípios e entidades privadas sem fins lucrativos para prestação de serviços de
assistência técnica buscando atender a elevada parcela da produção de habitações que ocorre no mercado
informal, sem qualquer tipo de apoio técnico que permita atingir padrões mínimos de qualidade, de
produtividade e de segurança” (MCidades, 2009).
131
k) Trabalhar com a participação da população, na obtenção da sua adesão e no
estabelecimento de compromissos mútuos claros, desde o início do Projeto;
n) Prover solução física e assistência técnica para permitir que as famílias cuja atividade
econômica seja afetada tenham a possibilidade de restabelecer no mínimo sua condição
anterior de geração de renda;
o) Possibilitar que as famílias tenham possibilidade de ser inseridas nos Postos de Trabalho
gerados pelas obras de reassentamento e urbanização;
p) Articular as ações com uma política de promoção dos direitos sociais e civis (acesso à
moradia, saneamento, saúde, educação, saneamento, legalidade) e combate aos itens
especificos necessários para a inclusão social da população residente no núcleo.
Com base nas diretrizes definidas, e no diagnóstico do núcleo, foi possível reunir
um conjunto de prioridades e chegar a uma síntese de propostas a fim de alcançar os objetivos
deste estudo: a urbanização e requalificação do Sá Catarina de Moraes, conforme itens a
seguir:
132
Para a integração deste núcleo à cidade é necessário propor melhorias das suas
condições de habitabilidade, erradicando riscos e ampliando a mobilidade urbana visando à
inclusão sócio-espacial e à integração dos assentamentos ao tecido urbano da cidade, de forma
a efetivar o acesso e o direito a cidade sustentável e à moradia adequada (Cadernos
MCidades, Habitação 4, 2004, p.38).
133
A definição destas áreas e o mapeamento das mesmas ocorreram através do
diagnóstico e das visitas ao núcleo, onde foram detectados os pontos críticos, os que
necessitam de melhorias e os que podem ser considerado consolidado (ver mapa 5.1).
134
Mapa 5.1 – Mapa de Intervenção no Núcleo: Área com Habitações Consolidadas,
Consolidáveis, Não Consolidável e Passível de Melhorias.
135
O mapa acima apresenta a área em que as habitações serão totalmente removidas,
para que no mesmo local sejam construídos equipamentos urbanos e novas habitações. Neste
ponto do núcleo, serão removidas 174 famílias para áreas próximas ao núcleo. As condições
de habitabilidade nesta área são extremamente críticas (ver fotos 5.1 e 5.2)
136
Fotos 5.3 e 5.4 – Habitações consideradas “Consolidadas”.
137
Neste ponto da área será necessária a abertura do viário, espaços de lazer e área
verde, criando assim um projeto que atenda as necessidades do núcleo na questão ambiental e
de sustentabilidade. Para a realização de melhorias também será necessário a relocação de
algumas famílias para a organização do espaço e a melhoria na infraestrutura deste ponto do
núcleo em questão.
A área para o reassentamento das famílias já está definida, sendo que esta se
encontra próxima ao núcleo. Trata-se de um terreno já considerado pelo PLHIS de São
Vicente (2009) como apta 1 (destinar até 80% da área para HIS) e no mapa de uso e ocupação
do solo é apresentado como ZHIS. A situação do terreno é a mesma do núcleo, já que ambos
pertencem à União. Hoje o terreno é utilizado como campo de futebol para lazer dos
moradores do núcleo, e outra parte destinada para uma creche municipal (ver fotos 5.7, 5.8 e
figura 5.1). As obras desta creche foram paralisadas em 2008, e com o abandono, fez do local
um ponto de usuário de drogas e acúmulo de lixo. Segundo reportagem vinculada pelo Jornal
A Tribuna em 01/06/11, o coordenador da SPU (Superintendência do Patrimônio da União)
em Santos, o Sr. Sergio Martins de Assis, o terreno será repassado para o município para que
as obras da creche sejam retomadas.
Fotos 5.7 e 5.8 – Terreno próximo ao núcleo para o reassentamento das famílias.
138
Figura 5.1 – Localização dos terrenos próximos ao núcleo para oreassentamento das
famílias.
A proposta inclui esta ação considerando sua grande importância para que a
requalificação do núcleo seja possível e se torne um trabalho bem sucedido junto à população
residente. Conforme diagnóstico, a população apresenta um perfil de baixa renda (78% de 0 a
3 salários mínimos), onde muitos não tiveram oportunidades de estudo e profissionalização.
Isto está apresentado de forma clara no diagnóstico, já que há um grande número de jovens
entre 19 a 30 anos que não concluíram o ensino médio. Estes dados tornam imprescindíveis
ações e estratégias que visem desenvolver um perfil de profissionalização e
empreendedorismo na população com a geração de emprego e renda.
140
Para a realização destas ações, será importante buscar parcerias junto a empresas
localizadas próximas ao núcleo, como o Golfe Clube, empresas de ônibus e terminais de
containers. Esta parceria poderá ocorrer tanto para financiamento de espaços de lazer e áreas
verdes no núcleo, como promover cursos profissionalizantes do interesse das empresas, na
utilização de mão de obra especializada vindo da própria comunidade. Sem dúvida este tipo
de ação traz um bom relacionamento entre a empresa e a comunidade que vive próxima uma
das outras. A proposta também irá prever espaços comunitários a fim de atrair a população
tanto para o lazer quanto para a profissionalização e realização de atividades econômicas.
142
5.2. Projeto de Intervenção na área do núcleo.
A área considerada como não consolidada (Sétimo Céu) foi melhor avaliada em
relação as diretrizes propostas na etapa anterior do trabalho (item 5.1 do capítulo 5), de forma
que fosse possível remover somente os domicílios que segundo o socioeconômico, estavam
em situação precária e que não apresentavam condições mínimas de habitabilidade (casas
aglomeradas e com maior dificuldade de passagem de luz e ventilação). Desta forma, o
número de domicílios a serem removidos desta área reduziu de 174 para 132 domicílios.
Neste ponto do núcleo, foi necessário a abertura de vias para que veículos de
passeio e motocicletas tenham acesso ao centro desta área, e em caso de emergência, será
possível a entrada de ambulâncias, bombeiros e policiais, proporcionando melhor segurança
para a população. Também foi proposto a criação de uma grande praça entre as duas novas
quadras, contendo equipamentos de lazer como playground, academia ao ar livre para idosos,
deficientes e crianças (ver figura 5.2), área de convivência com bancos e mesas, e ainda uma
área verde e arborizada. Esta proposta também contempla uma área destinada a implantação
de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) e mais uma creche para atender as crianças que irão
permanecer no núcleo.
143
Figura 5.2 – Modelos de equipamentos para academia de idosos, deficientes e crianças
144
No geral, a adequação do sistema viário do núcleo foi proposto de forma a
respeitar seu traçado orgânico, com linhas curvas, preservando assim a história do núcleo
conforme sua identidade e formação. As vias foram alargadas (5 metros de leito carroçavel)
nos pontos em que já existiam vielas e ou ruas mecanizadas, sendo estas consideradas as vias
arteriais, que irão cortar o núcleo até encontrar as vias coletoras (Av. Ver. Loureval Moreira
do Amaral e Rua da Travessa) já existentes, porém adequadas ao novo sistema viário.
A via principal do núcleo hoje existente, a Rua da Travessa, foi extendida por toda
a divisa entre a área do núcleo e o Golfe Clube, e para que o muro de divisa entre ambos não
se tornasse um “canto abandonado”, foi proposto uma ciclovia que corta todo o núcleo, até o
terreno onde será implantado as novas unidades habitacionais para receber as famílias
removidas. Este muro, será uma grande “parede verde” (ver figura 5.3), onde serão plantadas
trepadeiras no muro e plantado pequenos arbustos arborizando ainda mais esta área do núcleo.
Junto a abertura das vias, também foram projetadas as calçadas das quadras (com
2 metros de largura), para que também haja área de passeio para atender aos pedestres. Será
utilizado nas calçadas um piso drenante (ver figura 5.4) para melhor escoamento da água
colaborando assim com o meio ambiente.
145
Figura 5.4 – Tipo de piso a ser utilizado nas calçadas do núcleo (Piso Permeável em
Concreto Poroso):
146
Será acrescentado a esta proposta existente, a organização e plantio de árvores ao
longo do canal, criando calçada para pedestre e um talude com grama no talado lateral para
melhor absorção da água e criação de áreas verdes em toda a extensão do canal.
Para que fosse possível todas as intervenções aqui propostas, foram necessárias as
remoções de habitações, como também foram removidos as habitações que se encontram em
condições precárias, como os de madeira e mista, conforme quadro 5.2.1 a seguir:
147
5.3. Projeto da Nova Unidade Habitacional
148
O terreno possui no total 67.140,05m² (equivalente a 6.71 h.a), e a quantidade de
unidades habitacionais implatadas neste loteamento foi definida através de estudos de
densidade53, considerando alguns critérios de conforto e qualidade urbanística, ao qual foi
utilizada uma densidade líquida54 de 309,09 hab/ha e uma densidade bruta55 de 1.031,84
hab/ha, totalizando a implantação de 576 unidades habitacionais.
53
Relação entre a população residente na zo na urbana e a sua superfície total, em hab/km² ou hab/ha.
Trata-se de uma densidade média e bruta. Co mo , em geral, a zona urbanizada (cidade
propriamente dita) é menor que a zona urbana, a densidade da zona urbanizada é maior que a da zona
urbana, definida em lei. (FERRARI, 2004, p. 111).
54
Relação entre a população que habita um espaço urbano e sua área residencial líquida, ou seja, a soma da área
ocupada pelos lotes residenciais com área de acesso aos lotes residenciais e de estacionamento residencial. O
mesmo que densidade habitacional líquida (FERRARI, 2004).
55
Relação entre a população que habita um espaço urbano e sua área residencial bruta, ou seja, a soma de: área
ocupada pelos lotes residenciais; área das ruas de acesso aos lotes residenciais e estacionamento residencial; área
das escolas e do comércio diário ou local, área das instituições de freqüentação diária (praça, jardins, creches
etc.); metade da área das vias limítrofes desse espaço. O mesmo que densidade habitacional bruta. (FERRARI,
2004).
149
As unidades habitacionais foram projetadas baseadas nas novas leis e normas para
as habitações de interesse social, com a Lei 12.424 de 16 de Junho de 2011 (A MP 514 de
2010 foi convertida para esta nova lei), que define as regras da segunda fase do programa
federal “Minha Casa, Minha Vida”, passou a incluir dois itens que contemplam a
acessibilidade para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida no programa de habitação
social. Agora, o conceito do Desenho Universal deverá ser colocado em prática nas moradias
populares. O primeiro item proposto foi para que as famílias nas quais existam pessoas com
deficiência tenham prioridade no cadastro do programa Minha Casa Minha Vida. A segunda
modificação dispõe que na ausência de legislação municipal ou estadual acerca das condições
de acessibilidade, 3% das unidades habitacionais construídas sejam adaptadas às pessoas com
deficiência, lembrando que o estatudo do idoso também prevê estes mesmos 3% de reserva.
56
Com a inclusão do desenho universal, os dados de áreas médias das edificações, conforme a tipologia adotada,
aumentaram de 52,50m² para 58m² no caso de apartamentos com 2 dormitórios, e nos apartamentos com 3
dormitórios o aumento foi de 65m² para 68m², sendo o pé direito mínimo de 2,60m de altura (Manual do
Desenho Universal para Habitação de Interesse Social, Sehab/CDHU São Paulo, 2010).
150
O projeto final das unidades habitacionais, propoem uma metragem quadrada (ver
quadro 5.3) que atendam os limites de valores dos financiamentos destinados a faixa de renda
de 0 a 3 salários mínimos, em conformidade com a capacidade de endividamento das famílias,
onde, o valor da prestação habitacional não deve ultrapassar 10% de sua renda mensal bruta.
A fachada dos edifícios proporciona um ritmo diferenciado para que não haja monotonia
no conjunto, onde as sacadas do edifício de 3 dormitórios, sendo 01 sacada por apartamento
(ver figura 5.8) pode ser deslocado conforme o andar trazendo ritmo e diferentes
possibilidades de fachada. Já o edifício com 2 dormitórios (ver figura 5.9) tem uma varanda
embutida na sala, trazendo leveza ao visual da fachada. Ao redor dos edifícios, no intuito de
trazer um pouco mais de privacidade para os moradores do piso térreo, foi projetada uma
faixa verde com 1,00m de gramado e pequenos arbustos afastando os transeuntes das janelas
dos apartamentos térreos.
151
Os edifícios foram implantados com uma distância mínima de 10,00m entre eles,
proporcionando boa ventilação e iluminação levando aos moradores de todos os andares o
direito de uma habitação que proporcione conforto ambiental. (VER ANEXO 2 -
PROJETOS).
152
Figura 5.9 – Fachada do Edifício com tipologia de 2 dormitórios
Projeto Urbanístico
O projeto urbanístico do condomínio teve como partido inicial sua linearidade que
converge para o núcleo em questão, enfatizando sua ligação e aproximação a área de
intervenção. Esta característica do terreno induz a criação de um condomínio com espaços
que permitem a relação público e privado, através de áreas livres de uso interno ao edifício e
praças abertas de uso público, possibilitando maior relação com o entorno. Para enfatizar
153
ainda este partido, foi implantado em uma das faces do terreno, quatro edifícios que no piso
térreo, foram projetadas salas para comércio e serviço, valorizando ainda mais o local e
proporcionando aos próprios moradores a oportunidade de terem seu próprio negócio.
Figura 5.10 – Tipo de piso a ser utilizado nas calçadas e acessos na área do novo
conjunto habitacional (Piso Intertravado permeável):
155
Figura 5.11 – Tipo de piso a ser utilizado nos estacionamentos e acessos na área do novo
conjunto habitacional (Piso Intertravado Permeável):
156
Sistema Construtivo das Unidades Habitacionais
Este novo método construtivo, chamado de Concreto PVC57, tem sido utilizado
em alguns projetos de habitação de interesse social no Brasil, dentro do programa Minha Casa
Minha Vida, e pela própria CDHU do Estado de São Paulo.
O projeto referência trata-se das novas casas e sobrados (ver figuras 5.12 e 5.13)
que foram construídos para as famílias vítimas da enchente de 2010 em São Luiz do
Paraitinga, localizada na região do Vale Paraíba, onde mais de 2.000 pessoas ficaram
desabrigadas. Segundo o Secretário de Estado da Habitação e presidente da CDHU Lair
Krahenbuhl este sistema construtivo foi escolhido por conferir mais rapidez que o método
construtivo tradicional na edificação de casas. Foram construídos 45 casas térreas e 106
sobrados em 225 dias, já que o sistema permite a construção de uma casa com 65m² em
apenas 11 dias (Reportagem extraída da Revista Nossa Cidade, Edição Especial São Luiz do
Paraitinga, 2011).
57
O Concreto PVC é um sistema que foi desenvolvido no Canadá e agora está sendo utilizado no Brasil, é
totalmente industrializado e compatível com qualquer projeto. Os principais fornecedores deste sistema no
Brasil são: Royal do Brasil Technologies (concreto PVC = Royal Building Sistems), Vepal Plásticos Revestimentos
e Sistemas Construtivos (concreto PVC = Casa Forte) e Global Housing International (sistema construtivo
Concreto PVC). As resinas de PVC, matéria prima básica para a fabricação dos perfis, são fornecidas pela
BRASKEM, atual líder no mercado brasileiro no seguimento PVC (Catálogo Sistema Construtivo Concreto PVC
Braskem, 2007, extraído do site www.projetandocompvc.com.br).
157
Figura 5.12 – Projeto Referência: Sobrados construídos com o Sistema Concreto PVC
em São Luiz do Paraitinga/SP.
158
Figura 5.13 – Projeto Referência: Casa Térrea construída com o Sistema Concreto PVC
em São Luiz do Paraitinga/SP.
159
O método é utilizado para construção de casas em diversos padrões, prédios
industriais, prédios residenciais em até cinco pavimentos (ver figura 5.14) e comerciais,
como escolas, hospitais e postos de combustíveis.
160
Como o sistema dispensa custos com revestimentos das paredes, já que o próprio
PVC faz esta função de acabamento, o custo da construção das casas pode ser reduzido. O
custo de uma residência térrea construída com o sistema construtivo fica em torno de R$
550,00/m2 de obra pronta, já incluído o custo do kit de PVC para as paredes, que deve
representar em torno de 40% do valor citado. Para sobrados ou prédios de até quatro
pavimentos, o custo estimado para os projetos fica entre R$ 600,00 e R$ 700,00/m2. Os
valores citados consideram: kit de PVC Royal + materiais complementares (concreto, aço,
hidráulica e elétrica) + mão de obra, sem BDI. Outro fator de alteração do custo final do
prédio são as soluções de arquitetura adotadas em cada região (pé-direito, tipo de cobertura,
acabamentos, aberturas etc.). O valor do custo do kit de PVC pode variar entre 35% e 45% do
custo de material e mão de obra de um projeto. Em resumo, os valores informados são do
custo do metro quadrado de casa pronta, (materiais + mão de obra), sem BDI do construtor58.
58
Valores do concreto PVC extraídos do site da Revista Téchne:
http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/152/imprime156966.asp (acesso em 09/09/2011 as 20:15h).
59
Significado da sigla Fck: resistência característica do concreto à compressão.
60
Reportagem extraída do site http://www.infraestruturaurbana.com.br/solucoes-tecnicas/4/artigo220437-1.asp
acesso em 08/09/2011 as 21:43h).
161
Sustentabilidade
Economia
Construção Industrializada
Aplicação prática
Particularidades do PVC
Pontos de destaque
163
Indicadores ambientais
164
Figura 5.17 – Sequência de concretagem do sistema Concreto PVC.
165
Vale ressaltar que, devido ao edifício ser de 4 andares, ao fim da concretagem
conforme citado na figura anterior, as barras de aço que virão desde o piso, deverão ser
prolongadas para que possam ser dobradas e engastadas na laje61 que será instalada. Este
sistema, por se tratar de paredes autoportantes (concreto armado), não é necessária a
utilização de vigas e pilares, já que as próprias paredes fazem a função destes elementos por
serem autoportantes.
61
O Sistema CONCRETO-PVC da Royal do Brasil Technologies obteve, no Brasil, os laudos adequados para a
construção de edifícios de 5 andares (1+4), sem colunas nem vigamentos. Os painéis preenchidos com concreto
da planta de baixo são o suporte dos próximos andares. A resistência mecânica linear das paredes de 100 e
150mm são suficientemente fortes para suportar os andares restantes. Para lajes cheias, pré-moldadas ou
treliçadas, o apoio é simples e de contato direto com o topo da parede de PVC já preenchida anteriormente. A
estrutura de aço proveniente da planta de baixo, mais alta que o pé direito do PVC, é dobrada acima da laje,
conseguindo-se a vinculação estrutural. Como acabamentos ficarão bordas sobressaindo das faces das paredes de
PVC entre cada andar que podem ser acabadas com reboco ou peças do próprio Sistema da Royal (informações
extraídas do site http://www.royalbrasil.com.br/faqs_rbs.htm).
62
Monica Drucker é formada pela FAU-USP em 1986, atualmente é associado ao arquiteto Ruben Carlos Otero,
doutor pela Universidade Politécnica da Catalunha. A parceria rendeu prêmios em concursos, como o "Habitação
para todos" em 2010 de moradias populares, e uma para o "Renova SP", de urbanização de áreas de risco em
2011, ambos em São Paulo (http://www.monicadrucker.com.br/#!escritório acesso em 07/12/11 as 17:13h).
166
Figura 5.18 – Projeto Referência: Conjunto Habitacional de Interesse Social (1º lugar no
concurso Público Nacional de Arquitetura para Novas Tipologias de Habitação de
Interesse Social Sustentáveis, 2010).
167
reais e dezenove centavos). Os cálculos das unidades estão detalhados na tabela 5.3.1, a
seguir:
Tabela 5.1 – Cálculo das Unidades Habitacionais
VALOR
ITEM 2 UNID. QTD VALOR TOTAL
UNITÁRIO
Kit Concreto PVC de paredes + infraestrutura para
a construção de 01 unidade habitacional de 03 m² 71,45 700,00 50.015,00
dormitórios com 71,45m²
BDI para obras de baixo padrão (10% sobre o valor unid. 700,00 0,10 70,00
do material)
Total por unidade 50.085,00
Fonte: Elaborado pela autora, 2011 (valores retirados da tabela PINI, 2011 e Revista Techné, 2011).
168
Abaixo, segue algumas observações relacionadas à tabela 5.1:
63
Portaria 465 03/10/2011- Fundo de Arrendamento Residencial (FAR): Valor estipulado para os municípios
integrantes das regiões metropolitanas do Estado de São Paulo, municípios de Jundiaí/SP, São José dos
Campos/SP, Jacareí/SP e DF.
64
Reportagem disponível
http://www.habitacao.sp.gov.br/noticias/index.asp?Destino=VW&Id=65657164I8&Idioma=PO&Area=Noticias
(acesso em 07/12/11 as 20:54h).
169
Considerações finais
Com todos os estudos realizados durante este ano, foi possível compreender a raiz
do problema habitacional do Brasil. Este problema, que se arrasta há décadas, hoje, devido a
nossa política atual de habitação, encontra melhores oportunidades para a realização de
projetos que possibilitem a redução da exclusão social e atenda a uma demanda de famílias
que habitam de forma precária e desumana.
Com o passar dos anos, a habitação social no Brasil tornou-se uma das principais
questões para os governantes, que traçam planos e metas em busca desta realização. Porém, a
faixa da população mais necessitada – de 0 à 3 salários mínimos – continua a aguardar a sua
vez no que se diz respeito ao direito a casa própria. O valor das terras, a alta especulação do
uso do solo urbano, trata-se de um dos grandes vilões desta população de baixa renda. O
governo, apesar de tantos programas voltados para habitação, ainda não conseguiu alcançar
esta população de baixa renda, em especial nas capitais e regiões metropolitanas, como São
Paulo, onde o valor dos terrenos são altamente especulativo. Portanto, existe uma urgência em
obter meios para combater a especulação imobiliária e intervir na valorização da terra urbana.
Mas apesar de tanto obstáculos, os programas como “Minha Casa e Minha Vida”
e o “Papel Passado” de regularização fundiária, tem ganhado força em muitos municípios
brasileiros. Projetos de requalificação urbana, hoje são possíveis devido aos instrumentos e
legislações atuantes neste assunto, em especial, o Estatuto da Cidade.
Neste ano, o Programa Minha Casa Minha Vida sofreu mudanças em suas regras,
e com a nova exigência de que as unidades sejam projetadas com as normas técnicas que trata
170
do desenho universal, os novos projetos habitacionais sofrerão um aumento significativo em
sua metragem quadrada, e que consequentemente irá elevar os custos das unidades. Apesar de
a nova regra promover o aumento da inserção de deficientes e pessoas com mobilidade
reduzida nos projetos de habitação social e na sociedade no geral, alguns especialistas critica
o fato de que o valor estabelecido pelo programa, de até R$65 mil reais neste caso, para a
Região Metropolitana de São Paulo, pode não arcar com os custos de um projeto “universal”.
Segundo Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP (Sindicato da Habitação), garante
que este valor torna-se impraticável em determinadas regiões do Brasil, onde essa realidade se
torna ainda mais cruel quando se tem conhecimento de que as empresas pequenas e médias
foram as responsáveis por 86% das contratações de empreendimentos voltados às famílias
com renda de até três salários mínimos na fase inicial do Minha Casa, Minha Vida, conforme
apresentado pelo Governo Federal65.
Além da busca por um projeto com baixos custos, outras questões também foram
analisadas, como as que envolvem um projeto de requalificação, principalmente os que
prevêem processos de remoção, onde é primordial a transparência, o diálogo prévio e a
participação da população atingida. As propostas aqui apresentadas, buscam alcançar este
objetivo.
65
Depoimento extraído do site: http://www.guarulhosweb.com.br/noticia.php?nr=43624 (acesso em 07/12/11 as
19:15h)
171
O projeto, as propostas e as diretrizes buscam alternativas para a organização e
urbanização do núcleo, por isso, a idéia é de solucionar o problema pontualmente nas áreas
caracterizadas como “consolidáveis e não consolidáveis”, evitando a retirada de famílias em
áreas passíveis de consolidação, reassentando somente as que vivem em extrema
precariedade, além da necessidade de remoção para a urbanização do núcleo, como abertura
do viário, áreas de lazer, recreação e áreas verdes.
Por fim, é possível acreditar que projetos como este aqui proposto, capaz de
elevar a auto estima de tantas famílias, proporcionando uma forma justa e digna de morar,
auxiliando e capacitando esta população para melhorar seu padrão de vida através de projetos
e investimentos de formação profissional, traz o sentimento e a esperança de que é possível
fazer acontecer uma cidade legal, justa e inclusiva para todos.
66
Reportagem extraída da Revista AU – Fato e Opinião: “Desapropriação e revitalização urbana, como fazer”.
Acesso ao site da AU em 19/06/2011 (http://www.revistaau.com.br//arquitetura-urbanismo/207/artigo219446-
1.asp).
172
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SITIOLOGIA
177
ENTREVISTAS
178
Carta da 4ª Conferência Municipal de Habitação
(Conferência realizada na cidade de São Vicente em Dezembro de 2005).
I – Regularização Fundiária/Urbanização
1 – Aplicar o Programa Papel Passado – Regularização em todas as áreas irregulares da
cidade.
2 - Criação das Comissões de Urbanização e Legalização em todas as áreas irregulares do
município, que acompanharão todas as fases da aplicação do Programa Papel Passado.
3 – Estabelecer convênios como o Governo Federal, Cartórios de Registro de Imóveis,
visando a gratuidade do primeiro registro dos imóveis regularizados através do Programa
Papel Passado.
4 – Ampliação e/ou instalação de equipamentos sociais (escolas, creches, unidades básicas de
saúde, áreas de lazer etc), prioritariamente nas áreas em que o Programa Papel Passado já
esteja sendo aplicado.
5 – Estabelecer junto ao IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, convênio para obtenção de
laudo das áreas ocupadas no Morro do Itararé e Voturuá, objetos de aluguel de chão pela
Santa Casa de Misericórdia de Santos.
6 – Urbanização de todos os assentamentos precários, estabelecendo critérios de prioridades
através do Conselho Municipal de Habitação.
7 – A urbanização de todos os assentamentos precários, estabelecendo critérios de prioridades
através do Conselho Municipal de Habitação.
8 – Todos os projetos de urbanização de assentamentos precários serão dotados de rede de
esgoto, da pavimentação do viário e do sistema de macro-drenagem.
9 – Investir na limpeza, desassoreamento, aprofundamento e revestimento dos canais e na
melhora do sistema de comportas.
10 – Adotar o mutirão como modelo de participação da comunidade nos programas de
urbanização dos assentamentos precários.
11 – Garantir em todos os assentamentos irregulares os serviços de coleta de lixo, iluminação
pública, código de endereçamento postal – CEP e abastecimento de água tratada pela Sabesp.