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Devemos ter sempre em mente que as trilhas não são condutores perfeitos: sua
resistência ôhmica pode ser baixa , mas nunca é nula, e se a trilha for longa, irá
apresentar uma pequena indutância parasita. Em ligações indiretas, por derivações,
ou feitas por trilhas que levam alimentação a vários blocos de circuitos, a resistência
e/ou indutância das trilhas podem causar variações na alimentação ou acoplamento
de sinal entre os componentes.
A corrente consumida pelo estágio amplificador final (mais a corrente que este fornece
ao alto-falante), e que flui para o terminal negativo da alimentação, está indicada pelas
setas vermelhas. Há dois caminhos para esta corrente retornar à fonte de alimentação.
Uma parte vai percorrer o caminho "normal", indo para a direita, e outra parte irá pelo
caminho "alternativo", indo para a esquerda e passando através do chassis. Esta
última vai gerar uma pequena diferença de potencial, sobreposta ao terminal de
aterramento da entrada, e induzir sinal no preamplificador. Se o ganho total dos dois
estágios amplificadores for alto o suficiente, este sinal irá perturbar o funcionamento.
A figura seguinte (B) esquematiza o mesmo amplificador, com a fiação melhorada. As
conexões de alimentação partem e retornam diretamente nos pinos do capacitor de
filtro, e a única conexão com o aterramento parte do terminal negativo deste mesmo
capacitor. O terminal de terra do conector de entrada foi isolado do chassis, e não há
mais caminhos "alternativos" para correntes de retorno indesejadas. As conexões
com o terminal positivo do capacitor também ficaram independentes, para impedir o
acoplamento de sinal pela linha de alimentação: estudaremos este assunto a seguir.
Por conta de detalhes como estes, para ser um bom projetista de circuitos impressos,
não basta conhecer o desenho técnico e mecânico tradicional; é necessário conhecer
também eletricidade e eletrônica básica, e compreender os efeitos que os fenômenos
elétricos terão sobre as trilhas e ilhas.
EXEMPLOS PRÁTICOS DE AMPLIFICADORES DE ÁUDIO
Uma das formas de melhorar este layout consiste em separar as trilhas de alimentação
e retorno do LM 741, levando-as diretamente aos pinos do capacitor eletrolítico, sem
passar pelos pinos do TDA 2003. Com isso, a impedância parasita das trilhas
realçadas em laranja não mais terá influência sobre a tensão que alimenta o LM 741.
Vejamos outro caso. Desta vez,
nosso layouthipotético é de um
amplificador de potência
estereofônico, com dois
circuitos integrados TDA 2003,
mais a respectiva fonte de
alimentação. Em (A), o circuito
simplificado, parcialmente
roteado.
Além disso, a corrente de ripple, que circula entre a ponte retificadora e o capacitor,
compartilha as mesmas trilhas que levam alimentação do capacitor para os CIs. A
impedância destas trilhas irá favorecer a passagem de um pouco do ripple para os CIs.
Em (B), o layoutmelhorado. As
trilhas de alimentação de cada
CI são independentes
(realçadas em verde para um
canal, e em laranja para o outro).
Já que cada CI tem sua própria
linha de alimentação, não
podem interferir um com o
outro. A variação de tensão é
gerada sobre o capacitor
eletrolítico de filtro, que é
justamente o ponto de mais
baixa impedância da linha de alimentação, sendo capaz de absorver da forma mais
eficiente possível as variações sem deixá-las passar de um canal para o outro.
Este mesmo capacitor também trocou de posição com a ponte retificadora, ficando
instalado mais próximo dos circuitos integrados, para diminuir o comprimento das
linhas de alimentação. A corrente de ripple não circula mais sobre a linha de
alimentação dos CIs.
Quatro tipos de filtros de alimentação inter-estágios. (A) Filtro L a resistor. (B) Filtro L a
indutor. (C) Desacoplamento a diodo. (D) Gyrator transistorizado.
Das três resistências parasitas, a que provavelmente terá influência mais prejudicial ao
funcionamento é Rs3, situada entre as entradas inversora e não inversora do
amplificador operacional. Esta resistência irá deixar "vazar" uma pequena parte do
sinal de realimentação para a entrada não inversora, comprometendo o ganho e a
estabilidade do circuito.
ROBUSTEZ MECÂNICA
Uma série de cuidados nos permitem projetar placas de circuito impresso mais
robustas, confiáveis e duráveis, além de aumentar a tolerância a falhas ou deficiências
do processo de fabricação.
Um furo excessivamente estreito para o terminal que irá alojar o componente, irá
tornar o circuito impresso fraco, podendo eventualmente descolar-se a ilha ou
danificar-se a metalização (se for o caso) com sucessivas operações de ressoldagem,
comuns quando há retrabalho ou manutenção.
Via de regra, um furo está bem dimensionado se tiver diâmetro de 0,2 a 0,3mm maior
que o terminal a ser instalado. A menor medida usada, mesmo para os terminais mais
finos, é tipicamente de 0,8mm. Para furos maiores que 2mm (pinos, parafusos e
outros) a folga deverá ser um pouco maior. E, naturalmente, em furos metalizados, o
diâmetro do furo poderá ser reduzido após o processo de metalização, devendo esta
redução ser levada em conta.
ILHAS OBLONGAS
Se for inevitável abordar a ilha pelo ponto de menor diâmetro, deve-se prever um
reforço ou alargamento da pista junto à ilha, como visto em (C).
FIXAÇÃO MECÂNICA
Sempre devemos incluir os furos para fixação e montagem da placa. É um erro muito
comum não prevê-los; este erro é observado com frequência, tanto em placas
amadorísticas, quanto em layouts publicados por revistas técnicas. A montagem pode
ser feita por parafusos e buchas espaçadoras, rebites, pinos denylon, ou outros
métodos. O diâmetro dos furos deve ser apropriado ao parafuso ou pino usado. A
quantidade de furos de montagem deve ser compatível com o tamanho da placa: uma
placa grande e pesada, fixada por poucos parafusos, poderá se quebrar facilmente.
Mesmo quando os furos para fixação não fazem nenhum contato elétrico, é praxe
posicioná-los numa ilha sem conexão, que funciona como uma fina arruela colada à
placa, e melhora a rigidez. Arruelas normais também podem ser usadas, conforme a
necessidade:
Quando a placa vai ser instalada em uma caixa ou gabinete metálico, buchas
espaçadoras metálicas podem servir de conexão para aterramento do gabinete. Os
furos deverão ficar em ilhas conectadas ao terra do circuito, devidamente previstas
para este fim. O conhecido fenômeno de ground loop não deve ser negligenciado.
Capacitor eletrolítico e fiação, fixados por cola; indutor num núcleo articulado de
ferrite, fixado por abraçadeiras.
Transistor em encapsulamento TO-220 e um termistor limitador de corrente
deinrush de uma fonte de alimentação, fixados por uma "saia" plástica e cola.
MARCAS DE FURAÇÃO
As placas podem ser furadas por processo automático, usando uma furadeira CNC,
ou, como é muito frequente, por processo manual, usando uma furadeira de coluna.
Nos furos para inserção de componentes, tipicamente de 1mm, a própria ilha serve
para indicar o ponto exato de furação. Mas em furos maiores, é preciso incluir uma
indicação clara de onde fica o centro do furo. Sem essa indicação, o operador da
furadeira não pode fazer nada melhor que usar o "olhômetro", e a furação tende a ficar
cheia de erros posicionais.
Dependendo do estilo de layout adotado, a área a ser decapada pode ser maior ou
menor. Observe as duas placas da figura abaixo: na primeira (A), a área a ser
decapada é de 77% , enquanto que na segunda (B), é de apenas 18% (valores
aproximados, obtidos com a função Histograma do Photoshop). Chamamos a
proporção entre a área total e a área cobreada, de taxa de cobertura.
Uma menor área a ser decapada significa menor consumo do percloreto de ferro (ou
outro agente químico corrosivo), bem como uma corrosão mais rápida. Em algumas
placas, observa-se a preocupação do projetista em manter uma taxa de cobertura
elevada, por questão de economia.
Além da economia, que se consegue com uma taxa de cobertura elevada, a corrosão
mais rápida diminui o risco de o banho corrosivo começar a atacar as áreas cobertas,
o que pode causar defeitos. Quando o processo de corrosão não é muito bem
controlado, ou quando a tinta usada na impressão não resiste bem ao banho
corrosivo, manter uma taxa de cobertura elevada (digamos, superior a 50% ) ajuda a
melhorar a qualidade final da placa e minimizar as perdas de material e o retrabalho.
A figura a seguir é um exemplo: Nestas placas de fontes de alimentação, que eram
vendidas em kit pela revista Nova Eletrônica, optou-se por evitar as grandes áreas
descobertas, mantendo uma taxa de cobertura próxima a 70% . Várias das trilhas
conduzem elevadas intensidades de corrente; mas mesmo as trilhas para baixas
correntes foram mantidas largas.
A propósito, repare nos pontos de conexão do LED, no lado direito da placa menor.
Você consegue descrever o que está inadequado neste layout? (uma dica: reveja a
seção onde estudamos as áreas de blindagem.)
EVITANDO DESPERDÍCIOS
Em (A), um erro muito comum. Os contatos do conector são interligados por uma trilha
grossa. Sendo esta trilha descartável, o ouro consumido em sua douração será
desperdiçado.
Em (B), os contatos são interligados por trilhas bem finas, minimizando o desperdício
de material. O orçamento para produção desta placa provavelmente ficará um pouco
mais em conta. Além disso, a trilha curto-circuitante fica um ou dois milímetros
afastada da linha de corte final; com isso, mesmo se houver um pequeno erro
posicional ao cortar a placa, ainda assim os contatos do conector serão separados,
dispensando necessidade de retrabalho. O processo de corte se torna menos crítico.
Verde: trilhas da face cobreada. Vermelho: trilhas revestidas pelo banho de ouro, e
que formam o conector edge board. Linha contínua: primeiro corte da placa. Linha
tracejada: corte final, que dá forma ao conector. Área cinzenta, entre o primeiro corte e
o corte final: área descartável, eliminada após o banho de douração.