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SYLVIA PADIAL

LEGISLAÇÃO E
CONCEPÇÕES
PEDAGÓGICAS
TEORIA
226 QUESTÕES DE PROVAS DE CONCURSOS GABARITADAS

¾ Teoria e Seleção das Questões:


Î Prof.ª Sylvia Padial

¾ Organização e Diagramação:
Î Mariane dos Reis

1ª Edição
MAR − 2013

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É vedada a reprodução total ou parcial deste material, por qualquer meio ou pro-
cesso. A violação de direitos autorais é punível como crime, com pena de prisão e multa (art. 184 e parágrafos do
Código Penal), conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei nº 9.610, de
19/02/98 – Lei dos Direitos Autorais).

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SUMÁRIO
1. CONCEITOS DE EDUCAÇÃO; PEDAGOGIA; ABORDAGENS PEDAGÓGICAS: psicomotora, construtivista,
desenvolvimentista e críticas.................................................................................................................. 05
1.1 − Conceitos de Educação ...........................................................................................................................05
1.2 − Pedagogia ...............................................................................................................................................06
Questões de Provas de Concursos (1.1 e 1.2) ..................................................................................................... 27
1.3 − Abordagens Pedagógicas: psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e críticas .............................09
Questões de Provas de Concursos ....................................................................................................................... 28

2. FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA: o papel da escola na atualidade; a dimensão político-pedagógica e o compromisso


político do educador.............................................................................................................................. 33
2.1 − O Papel da Escola na Atualidade .............................................................................................................35
Questões de Provas de Concursos (1.1 e 1.2) ..................................................................................................... 54
2.2 − A Dimensão Político-pedagógica e o Compromisso Político do Educador ................................................45
Questões de Provas de Concursos ....................................................................................................................... 54

3. A DIDÁTICA E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO PROFESSOR: objeto de estudo da Didática; Concei-


tos de: Ensino e Aprendizagem............................................................................................................... 57
Questões de Provas de Concursos .................................................................................................................................. 65

4. O PLANEJAMENTO DE ENSINO E SEUS COMPONENTES ............................................................ 67


Questões de Provas de Concursos .................................................................................................................................. 71

5. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL .............................................. 73


Questões de Provas de Concursos .................................................................................................................................. 79

6. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO ........ 85


Questões de Provas de Concursos .................................................................................................................................. 93

7. PROVA BRASIL E PROVINHA BRASIL ............................................................................................ 98


Questões de Provas de Concursos ................................................................................................................................ 103

8. A CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988: da Educação, da Cultura e do


desporto ............................................................................................................................................ 103
Questões de Provas de Concursos ................................................................................................................................ 106

9. A LDB DE 1996; PRINCÍPIOS, ORGANIZAÇÃO DO ENSINO BRASILEIRO; NÍVEIS


ESCOLARES: EDUCAÇÃO BÁSICA: EDUCAÇÃO INFANTIL, FUNDAMENTAL E MÉDIO
E EDUCAÇÃO SUPERIOR. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL........................................................................................................................... 108
Questões de Provas de Concursos ................................................................................................................................ 121

10. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .......................................................................... 128


Questões de Provas de Concursos ................................................................................................................................ 157

GABARITOS ..................................................................................................................................... 159


Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial

LEGISLAÇÃO E CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS

CONCEITOS DE EDUCAÇÃO; PEDAGOGIA;


1
ABORDAGENS PEDAGÓGICAS: psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e críticas.
1.1 − Conceitos de Educação racterísticas de ser humano, ao seu potencial e à sua
participação na sociedade. Isto só é possível no seio de
EDUCAÇÃO: Definições e Funções uma sociedade humana.

Aprender, conhecer, produzir conhecimento é algo A Educação só existe porque existe sociedade. Há
pertinente à natureza humana. uma história que ilustra muito bem isso: na década de
1920, duas meninas foram encontradas no meio de lo-
A aprendizagem ocorre a partir de vivências diver- bos. Não se sabe por que estas crianças viviam com es-
sas, ocasionais ou sistemáticas. Tais vivências, sejam elas tes animais. Não falavam, grunhiam. Andavam de qua-
ocasionais ou sistemáticas, fazem parte do processo e- tro, tinham desenvolvido muito os dentes caninos, pois
ducacional, que apesar de ser eminentemente social é, comiam carne crua. Portanto, a Educação, como pro-
ao mesmo tempo, individual. cesso individual, não ocorreu.

Brandão coloca-se, de uma maneira muito clara, a A Educação pode se processar tanto de forma sistemática
respeito da EDUCAÇÃO: quanto assistemática
Ninguém escapa da Educação. Em casa, na rua, na
igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós A Educação não acontece só na escola, de forma
envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, pa- sistemática, com a vivência de situações planejadas,
ra ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, acompanhadas, avaliadas, mas também de forma assis-
para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida temática, em vários lugares e situações, como em um
com Educação. Com uma ou com várias: Educação, Edu- clube recreativo, na família, através da leitura de jornais,
cações (1981, p. 11).
revistas, em um bate papo com amigos, no cinema, no
teatro, em um desfile de modas etc. A troca com o ou-
EDUCAÇÃO: É um processo ao mesmo tempo social e in- tro sempre implica na descoberta de novos pontos de
dividual vista, outras experiências, maneiras de pensar diferentes,
que vão enriquecendo os indivíduos e efetivando o pro-
A Educação, do ponto de vista social, é a interfe- cesso educativo na sociedade.
rência que a sociedade, com o objetivo de se manter e
reproduzir, exerce no desenvolvimento dos indivíduos e O CONCEITO DE EDUCAÇÃO EM KANT NA OBRA “SOBRE A
dos grupos por meio de um conjunto de estruturas, influ- PEDAGOGIA”
ências, processos, ações.
Para Immanuel Kant (1724-1804), a única criatura a
Por exemplo, estamos hoje muito preocupados com ser educada neste mundo é o ser humano, pois diz ele
a Educação digital porque vivemos numa sociedade que os animas não precisa de coisas a mais do que ali-
informatizada. Independentemente das divergentes opi- mento e cuidado. Em sua obra o filósofo faz a distinção
niões a respeito, se os membros dessa sociedade não se entre disciplina e instrução. Para Kant, a disciplina impe-
adaptarem a ela, correrão o risco de ficar à margem da de o homem de cair em certa selvageria ou, melhor di-
história. zendo, numa animalidade. Mas segundo o filósofo a dis-
ciplina é negativa, pois faz o ser humano a mudar for-
Da mesma forma, por ocasião da Revolução Fran- çadamente, sem o uso de sua razão, ou melhor, dizen-
cesa, houve um cuidado com a “Educação para To- do, uma mudança sem liberdade do indivíduo. Já a ins-
dos”, pois foi um momento de mudança na ordem soci- trução é a parte positiva da educação, pois faz com
al. Passava-se do Feudalismo para o Capitalismo. Foi que o educando perceba as leis morais que o cercam,
preciso que a grande massa, na sua maioria constituída e faz com que se torne interiorizadas, podendo, assim,
de servos, alcançasse a cidadania para garantir a con- tornar-se um ser de caráter ou, melhor dizendo, um ser
solidação do Capitalismo. moral. Mas para chegar ao ponto final da educação é
necessário unir a disciplina, que seria a primeira parte da
Mas, ao mesmo tempo que a Educação tem a fun- educação, com a instrução. No pensamento de Kant, a
ção de manter e reproduzir a sociedade, ela colabora pedagogia ou a educação está dividida em duas par-
com a sua transformação, pois vai permitindo que os in- tes: a física e a prática. A educação física é entendida
divíduos se desenvolvam e ampliem a capacidade de como a aquela parte que o homem tem em comum
pensar e, individualmente ou em grupo, reflitam melhor com os animais, isto é, são os cuidados que indivíduo
sobre a realidade que os cerca e realizem modificações tem com sua vida, enquanto ser constituído de matéria
nessa mesma realidade. corporal. A educação prática ou moral é aquela que diz
respeito à construção do homem, tendo a sua finalida-
Do ponto de vista individual, a Educação é o de- de voltada para o caráter e para que o homem possa
senvolvimento da pessoa no que diz respeito às suas ca- viver como um ser livre, mantendo suas relações de uma

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forma justa com os demais. Essa será a abordagem prin- conduzia os meninos até o paedagogium . No entanto, o
cipal do trabalho a ser realizado tendo em vista sempre termo pedagogia, designante de um fazer escravo na Hé-
a educação como base principal do pensamento kan- lade, somente generalizou-se na acepção de elaboração
tiano. consciente do processo educativo a partir do século
XVIII, na Europa Ocidental.
1.2 − Pedagogia
OBJETO DE ESTUDO E SUJEITO
CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Atualmente, denomina-se pedagogo o profissional
Pedagogia é uma ciência ou disciplina do ensino que cuja formação é a Pedagogia, que no Brasil é uma gradu-
começou a se desenvolver no século XIX. A pedagogia ação e que, por parte do MEC - Ministério da Educação
estuda diversos temas relacionados à educação, tanto e Cultura, é um curso que cuida dos assuntos relaciona-
no aspecto teórico quanto no prático. dos à Educação por excelência, portanto se trata de
uma Licenciatura, cuja grade horário-curricular atual esti-
Pedagogia é a ciência que tem por objeto de estudo pulada pelo MEC confere ao pedagogo, de uma só vez,
as habilitações em educação infantil, ensino fundamen-
a educação.
tal, educação de jovens e adultos, coordenação educa-
cional, gestão escolar, orientação pedagógica, pedago-
A pedagogia tem como objetivo principal a melho-
gia social e supervisão educacional, sendo que o pedagogo
ria no processo de aprendizagem dos indivíduos, através
também pode, em falta de professores, lecionar as disci-
da reflexão, sistematização e produção de conheci-
plinas que fazem parte do Ensino Fundamental e Médio,
mentos. Como ciência social, a pedagogia esta conec-
além se dedicar à área técnica e científica da Educa-
tada com os aspectos da sociedade e também com as
ção, como por exemplo, prestar assessoria educacional.
normas educacionais do país.
Devido a sua abrangência, a Pedagogia engloba diversas
disciplinas, que podem ser reunidas em três grupos básicos:
Temas abordados pela pedagogia:
disciplinas filosóficas, disciplinas científicas e disciplinas
- Aprendizado de conhecimentos; técnico-pedagógicas.
- Métodos e sistemas pedagógicos;
- Dificuldades de aprendizado; O objeto de estudo do pedagogo e da pedagogia
é a EDUCAÇÃO, o Processo Ensino e Aprendizagem, a
- Didáticas e práticas pedagógicas;
ação cultural do educador em intervir e/ou de transmitir
- Conteúdos educacionais; tecnicamente "o conhecimento", de forma sedutora,
- O aluno no processo educativo; significativa e em comunhão com a realidade social, o
- O papel do professor no processo educacional. perfil e a história de vida do educando, o conhecimento
e a informação e a dimensão cognitiva do educando
O pedagogo é o profissional formado para atuar na ao perceber, aprender, apreender e se apropriar de
forma crítico-reflexiva do conhecimento e das informações
área pedagógica. Porém, todos aqueles que atuam nos
transmitidas pela percepção pessoal de observador ou
processos educativos (professores, pais, monitores, orien-
de sujeito da intervenção formativo-educativa da qual
tadores, psicólogos, etc) também devem conhecer os foi sujeito, a sua acomodação junto aos conhecimentos
princípios básicos de pedagogia. anteriormente existentes e sua capacidade de aplicá-los
à realidade social vivido-compartilhada enquanto ser
ORIGEM social e cidadão. Logo, o sujeito da Pedagogia é o ser
humano enquanto educando. O pedagogo não possui
A palavra Pedagogia tem origem na Grécia antiga, quanto ao seu objeto de estudo um conteúdo intrinse-
paidós (criança) e agogé (condução). No decurso da his- camente próprio, mas um domínio próprio (a educação),
tória do Ocidente, a Pedagogia firmou-se como correla- e um enfoque próprio (o educacional), que lhe assegu-
to da educação é a ciência do ensino. Entretanto, a prá- rara seu caráter científico. Como todo cientista da área
tica educativa é um fato social, cuja origem está ligada sócio-humana, o pedagogo se apóia na reflexão e na
à da própria humanidade. A compreensão do fenôme- prática para conhecer o seu objeto de estudo e produzir
no educativo e sua intervenção intencional fez surgir um algo novo na sistemática mesma da Pedagogia. Tem
saber específico que modernamente associa-se ao ter- ele como intuito primordial o refletir acerca dos fins últi-
mo pedagogia. Assim, a indissociabilidade entre a práti- mos do fenômeno educativo e fazer a análise objetiva
ca educativa e a sua teorização elevou o saber peda- das condições existenciais e funcionais desse mesmo fe-
gógico ao nível científico. Com este caráter, o pedago- nômeno. Apesar de o campo educativo ser lato em sua
go passa a ser, de fato e de direito, investido de uma abrangência, estritamente são as práticas escolares que
função reflexiva, investigativa e, portanto, científica do constituem seu enfoque principal no seu olhar epistêmi-
processo educativo. Autoridade que não pode ser de- co, embora a ação não escolar venha ganhando, con-
legada a outro profissional, pois o seu campo de estudos temporaneamente, espaço significativo na ação e atu-
possui uma identidade e uma problemática própria. A ação do pedagogo. O objeto de estudo do pedagogo
história levou séculos para conferir o status de cientifici- compreende os processos formativos que atuam por
dade à atividade dos pedagogos apesar de a proble- meio da comunicação e intercâmbio da experiência
mática pedagógica estar presente em todas as etapas humana acumulada. Estuda a educação como prática
históricas a partir da Antiguidade. O termo pedagogo, humana e social naquilo que modifica os indivíduos e os
como é patente, surgiu na Grécia Clássica, da palavra grupos em seus estados físicos, mentais, espirituais e cul-
παιδαγωγός cujo significado etimológico é preceptor, turais. Portanto, o pedagogo estuda o processo de
mestre, guia, aquele que conduz; era o escravo que transmissão do conteúdo da mediação cultural (ensino)

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que se torna o patrimônio da humanidade e a realização de aluno, etc., como condição básica para transformação
nos sujeitos da humanização plena e o processo pelo social e exercício pleno da cidadania.
qual a apropriação desse conteúdo ocorre (aprendiza- c) A necessidade de superação progressiva da for-
gem). No plano das ideias, o grego Platão (427-347 a.C.) ma de organização do sistema sócio-econômico vigen-
foi de fato o primeiro pedagogo, não só por ter conce- te, respaldada pela concretização e expressão da cons-
bido um sistema educacional para o seu tempo mas, ciência política de professores, alunos, pais, direção, etc.,
principalmente, por tê-lo integrado a uma dimensão éti- decodificada na convergência de interesses por uma
ca e política. Para ele, o objeto da educação era a educação de qualidade, onde as metas sejam:
formação do homem moral, vivendo em um Estado jus-
1. formação do indivíduo comprometido com a
to.
qualidade de vida e construção de uma sociedade jus-
ta e igualitária;
A IMPORTÂNCIA DA PEDAGOGIA PARA A EDUCAÇÃO
2. habilitação e qualificação de professores para a-
Existem muitas abordagens possíveis para propiciar o tendimento de classes especiais, pré-escolar, alfabetização
ato educativo. Na intenção de transmitir informações e e das séries iniciais do 1.º grau, com uma sólida formação
transformá-las em conhecimento, um professor pode op- resultante da articulação entre o técnico, o político, o
tar por diversas maneiras de comunicação com seus cultural, o científico e o humano.
alunos. A pedagogia é a normatização das ações e dos
instrumentos didáticos que devem ser utilizados para qual- Estabelecidas as funções da escola, ao menos sis-
quer nível de educação. tematicamente, e INCORPORADAS COMO PRÁTICA SO-
CIAL, obrigatoriamente elas fazem emergir uma maneira
A definição do conceito de pedagogia passa pelo de reverter a concepção de homem e como esta con-
entendimento de dois outros componentes do ato educativo. cepção se integra na PRÁTICA EDUCATIVA. Então, é im-
O primeiro é a ideia de educação, que é uma situação prescindível entender o HOMEM numa perspectiva dialética,
temporal e espacial determinada em que ocorre a rela- em que não se pode reduzi-lo a um mero instrumento
ção ensino-aprendizagem, seja ela formal ou informal. Em cego de quaisquer forças superiores (terrenas ou extraterre-
outras palavras, trata-se da transmissão de informações pa- nas), mas, ao contrário, é o CRIADOR da História, não ape-
ra que sejam armazenadas e transformadas em conhe- nas no sentido estreito de que o homem cria porque
cimento. age, mas, sobretudo, no sentido de que age conscien-
temente, no sentido de que faz conscientemente a esco-
Didática é a adequação entre os meios e os fins esco- lha entre várias possibilidades. O homem se transforma e
lhidos para o ato educativo. Trata-se da razão instrumental se cria ao modificar as suas condições de existência. Ele
que norteia esse processo, e tem uma importância enor- pode “transformar a natureza e a sociedade, através da
me para a eficiência da transmissão de conhecimento. mediação do trabalho, assim, transforma sua própria na-
Com base nisso, a didática está intrinsecamente ligada tureza, num processo de AUTOTRANSFORMAÇÃO que nun-
à pedagogia, já que depende substancialmente das ca tem fim”.(FRANCO, p. 2-3)
normas e métodos para aplicar esse saber especial.
Compreendê-lo, portanto, significa PARTIR DAS CON-
CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS DIÇÕES REAIS DE SUA EXISTÊNCIA, SEUS LIMITES, SUAS HA-
BILIDADES, SUAS ATITUDES, SUA CULTURA, SUA FORMA DE
A reorganização pedagógica e administrativa da LER O MUNDO E A SI PRÓPRIO, SUAS POSSIBILIDADES, SUA
escola, respaldada por uma concepção progressista, CONDUTA, etc., enfim, tudo o que determina sua vida.
exige, simultaneamente, sistematizar e organizar a diretriz Eis, então o ser CONCRETO.
pedagógica, que seja compatível e coerente com o
momento histórico e com as concepções dos componentes Entendido a essência da natureza do homem, cabe
estruturantes e determinantes do processo educacional então à Escola, a partir desta visão concreta e contex-
e didático. tualizada, delinear a sua escolarização, buscando e re-
clamando uma CONCEPÇÃO DE PROFESSOR que esteja
impreterivelmente comprometido com: o processo de dire-
A concepção de educação, portanto, não pode
cionar e dirigir o ensino e a aprendizagem e com o alu-
estar dissociada da FUNÇÃO DA ESCOLA determinada
no (HOMEM) como ser concreto, que determina e é de-
socialmente, ou seja, assegurar, COM COMPETÊNCIA: terminado pelo social, político, econômico e individual.
a) A difusão, acesso, manipulação e produção de Em suma, o professor que a sociedade e a escola ne-
conteúdos concretos (científicos, sociais, naturais e esté- cessitam emergencialmente, é aquele que considera o
ticos), indissociáveis e ressonantes na realidade social do conhecimento - saber, conteúdo - a ensinar como ativi-
aluno e construídos historicamente. Assim, constitui-se dade social, histórica e constitutiva do homem - aluno -,
como instrumentos de apropriação do saber, ajudando e a si mesmo como partes inseparáveis de um contexto
na minimização da seletividade social e democratiza- historicamente estruturado.
ção do acesso e do saber, como parte integrante do
todo social. Assim, “a educação por ela ofertada, deve Nesta perspectiva fica evidenciado que a construção e
ser uma atividade mediadora no seio da prática social caracterização da concepção pedagógica da escola re-
global, através da intervenção do professor”. (LIBÂNEO, side não mais na descontextualização de um dos seus
p. 17) componentes ou estruturantes, isto é, na priorização de
b) A compreensão ampla (numa perspectiva de um deles em detrimento de outros. Não se aceita mais a
nacionalidade e universalidade) de cultura, saberes, relações concepção de conteúdos que apregoam ser a totali-
sociais, mecanismos de dominação e discriminação, de dade de conhecimentos que o professor transmite ao
mundo, de sociedade, de escola, de professor e educador, aluno, o objeto da aprendizagem, mas a ele se “incor-

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pora a totalidade das condições e local da escola, as c. Superação: momento em que o professor possibili-
relações humanas, etc. Além disso, o conteúdo da edu- ta alternativas para que o aluno expresse ou manifeste o
cação está submetido ao processo em que ela - edu- SEU conhecimento (momento em que formula: sínteses,
cação - ocorre, é algo dinâmico, histórico (sem contor- reorganizações, críticas, recriações, avaliações, etc., da
nos definidos), variável (não se repete) e só se realiza relação saber versus realidades - ápice da transforma-
parcialmente em cada ato educativo, pois cada ALUNO ção de si próprio e do social).
ABSORVE DIFERENTEMENTE A MATÉRIA DE ENSINO DISTRI-
BUÍDA À CLASSE COMUM - construção do seu - do aluno Nesta dinâmica, fica evidenciado que o saber histo-
- conhecimento. A forma e conteúdo têm relação de ricamente construído (na escola: o conteúdo, matéria de
interdependência e se condicionam um ao outro; são ensino, etc.), para se constituir componente ou estruturante sig-
apenas aspectos - distintos, mas unidos -, de uma mes- nificativo do processo ensino-aprendizagem, ser dinâmico;
ma realidade - ato educacional. apresentar-se tendo como parte o professor, o aluno,
com todas as suas condições pessoais e sociais; não ter
A forma é a FUNÇÃO DE SEUS FINS SOCIAIS. Assim, o contornos definitivos; a ser, principalmente a ferramenta
conteúdo determina a forma de educação na qual é ou instrumento que possibilite leituras, releituras e transformação
ministrada; esta, por sua vez, determina a possibilidade da realidade social e do momento histórico em que é
da variação do conteúdo, aumentando-o, em processos abordado.
sem fim. Por isso, método educacional tem que ser defi-
nido como dependência de seu conteúdo - o significa- É, a partir destes entendimentos, que se poderá en-
do - social, ou seja, o elemento humano ao qual vai ser tender melhor outro componente importante do proces-
aplicado, de quem o deve executar, dos recursos eco- so didático-pedagógico, a interdisciplinaridade. Ela, a
nômicos existentes, das condições concretas nas quais nosso ver, ocorre e se configura a partir do momento e
será levado à prática. (VIEIRA PINTO, p.41-6) das condições em que o saber escolar é objeto de a-
propriação. Isto é, entendendo-se que todo saber tem
Todas estas questões relegam, portanto, as concepções significado e implicações sociais. Não existe por si. De-
clássicas de Método de Ensino. Historicamente, ele sempre pende da própria história do homem, pois é a partir de
foi generalizado através de políticas educacionais de governo. suas necessidades e de sua evolução que ele se estrutu-
O método que se quer hoje depende basicamente do ra (circunstâncias históricas de produção), se transforma
professor em sala de aula, isto porque, como afirma e é usado como instrumento de transformação social, cul-
WACHOWICZ (1991, P.12): tural, econômica, etc. Perceber essência do saber sem
a) Enquanto meio de apropriação do conhecimento, o suas implicações e dimensões é retirá-lo e isolá-lo da rea-
método é uma questão filosófica; lidade do aluno, do professor e do processo ensino-
b) Deve considerar a educação escolar na sua re- aprendizagem, tornando-o estéril e inútil.
lação com as classes sociais;
O trabalho coletivo, a partir de relações humanas
c) O método consiste em elevar-se o pensamento
equilibradas, isenta de preconceitos, elegantes, éticas,
do abstrato para o concreto, e é a maneira que tem o
responsáveis, não egocêntricas, etc., será possível mais
pensamento para apropriar-se do concreto, de o produ-
rapidamente ao professor apropriar-se dos outros elementos
zir como concreto espiritual;
que se somam ao saber escolar e de sua função social,
d) Os nexos internos da realidade precisam ser expli- embutidos no campo de sua atuação. Isto posto, fica
citados para o pensamento, os nós de onde partem to- fácil, então, entender que a interdisciplinaridade objetiva:
das as tramas existenciais e históricas.
a. “a vivência da realidade global que se inscreve
nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do
Em síntese, não mais aceitamos o conceito de mé-
todo que, supostamente, tende a ensinar tudo a todos, povo”(FREIRE, 1991);
mas sim, o de que é a transmissão/assimilação - no sen- b. a eliminação da fragmentação do saber escolar;
tido sócio-histórico e interacionista - do saber sistematiza- c. a relação do aluno e do professor com o mundo;
do que deve nortear a concepção dos métodos e proces-
sos da aprendizagem. d. a realização da unidade do saber nas particularidades
de cada um.
O método é a condição onde o aluno supera a não
apropriação (saber difuso, desarticulado apresentado no Defendendo-se estes pressupostos, acreditando-se
início do processo), para a apropriação - superação neles, estamos dando início a concretização de uma filo-
(saber contextualizado, organizado, etc.), articulado sofia que norteará as ações pedagógicas e administrativas do
com seu desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Ela vai exigir, de
social. Este percurso exige a construção consciente, por todo o seu estafe, o rompimento com velhos padrões e
parte do professor, de condições e alternativas pedagógicas, ações; em especial, permitir a revisão do histórico de
onde ele e o aluno possam, pela relação dialógica, vi- formação e práticas docente e discente. Isto não é fácil.
sualizar três fases importantes: Há toda uma trajetória a ser feita. Pensar que isto é pos-
sível em curto espaço de tempo, é entender que a con-
a. Problematização: momento em que o aluno exte-
cepção de aprendizagem do estímulo resposta é a úni-
rioriza sua percepção e leitura do saber e sua relação ca verdadeira. Cada indivíduo tem seu tempo e ritmo
com o contexto onde ele ocorre; próprios para se superar.
b. Intervenção: momento em que o professor propi-
cia condições - mediação - onde o aluno contata, aces- “Na medida em que se executar uma nova prática
sa, apreende, manipula, compara, relaciona, descobre, for- pedagógica - não reprodutivista -, que os professores se
mula, etc., o saber escolar; descobrirem como equipe no desenvolvimento e execução

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Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial
do projeto pedagógico, onde poder-se-ão identificar-se ideia de que a criança, antes mesmo de ser alfabetiza-
através da interdisciplinaridade, então o papel do pro- da no ambiente escolar, já descobriu como funciona o
fessor como educador colocará em jogo a estrutura do processo de aprendizado do alfabeto, como, por e-
sistema, enfraquecendo-o e possibilitando a reversão e xemplo, ler do lado esquerdo para o direito.
superação do atual ‘status quo’. (MELLO, 1993)
A corrente em questão pressupõe, assim, que se o
1.3 − Abordagens Pedagógicas: aprendiz estiver mergulhado em um meio que lhe pro-
psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e porcione e lhe motive a aquisição da alfabetização, ele
poderá realizar este intento por si mesmo. Conclui-se daí
críticas.
que o estudante pode construir seu conhecimento, atu-
TEORIA CONSTRUTIVISTA ando, executando, gestando, edificando este saber a
partir do ambiente social em que vive e da relação com
O Construtivismo não é um método de ensino, é os professores.
uma teoria do conhecimento que pode auxiliar na ação
pedagógica escolar. O Construtivismo se refere ao pro- Defende-se que o construtivismo educacional é fruto
cesso de aprendizagem que coloca o sujeito da apren- da união das correntes pedagógicas mais recentes,
dizagem como alguém que conhece e que o conheci- uma versão estendida destes métodos. Eles comparti-
mento é algo que se constrói pela ação do sujeito. lham entre si o descontentamento com uma esfera e-
ducacional que insiste em preservar o viés ideológico
Surgiu em meados dos anos 80, a partir de estudos que permeia as escolas tradicionais, as quais continuam
sobre a psicogênese da língua escrita. Enfatiza o conhe- recorrendo aos instrumentos do aprendizado mecaniza-
cimento que a criança já tem antes de ingressar na es-
do, que obriga os alunos a decorarem e repetirem co-
cola e está focado na língua escrita. Existem distorções
mo autômatos o conhecimento que lhes é transmitido.
na aplicação do conceito; uma delas é a de que não se
deve corrigir os erros dos alunos. É confundida com um
método e pode ser aplicada com outras técnicas. A educação, neste método, é tecida em conjunto
por alunos e professores, frente aos exercícios da leitura
Os defensores desta teoria são contra a elaboração e da escrita, exaustivamente praticadas nas aulas. As-
de um material único para ser aplicado a todas as cri- sim, mestres e aprendizes atuam juntos na construção do
anças, como as cartilhas, e rejeitam a prioridade do pro- conhecimento, assessorados pela incidência da pro-
cesso fônico. Utiliza-se de textos e atividades lúdicas que blemática social mais atual e pelo arsenal de saberes já
estejam próximas do universo da criança (aluno). edificados, patrimônio intransferível do ser humano.

CONSTRUTIVISMO A metodologia construtivista conduz, assim, a uma


nova visão de mundo, seja ele o Cosmos ou o universo
Concepção teórica que parte do princípio de que o das interações sociais. Piaget, um dos teóricos mais signi-
desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ficativos deste método, acreditava no potencial da cri-
ações mútuas entre o indivíduo e o meio. A ideia é que ança, no que ela traz em si enquanto herança de sua
o homem não nasce inteligente, mas também não é própria ação e de seu comportamento, o poder nela
passivo sob a influência do meio. Ao contrário, responde interiorizado de absorver asinformações obtidas do mun-
aos estímulos externos agindo sobre eles para construir e do exterior e acomodá-las, isto é, alterar sua forma, para
organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada que assim ela possa entender a realidade na qual está
vez mais elaborada. inserida. Basicamente, o saber é sempre produzido pelo
ato de construção, o qual deve sempre ser estimulado
O Construtivismo parte da crença de que o saber
no aluno.
não é algo que está concluído, terminado, e sim um
processo em incessante construção e criação. Assim, o
conhecimento é um edifício erguido por meio da ação, Na área da pedagogia, a inspiração para o constru-
da elaboração e da geração de um aprendizado que tivismo vem principalmente de Jean Piaget.
é produto da conexão do ser com o contexto material e
social em que vive, com os símbolos produzidos pelo in- JEAN PIAGET
divíduo e o universo das interações vivenciadas na soci- Sua teoria, chamada Epistemologia Genética ou Te-
edade. oria Psicogenética, é a mais conhecida concepção
construtivista da formação da inteligência. Ele explicou
Esta construção é realizada através da ação e não detalhadamente como, desde o nascimento, o indiví-
por dons concedidos anteriormente ao sujeito, presentes duo constrói o conhecimento.
na constituição dos genes ou no ambiente em que ele
cresceu. Assim, este método pressupõe que é a partir da A ideia mais importante da teoria desse psicólogo
atitude que se instituem a mente e a consciência, assim suíço é que a aprendizagem não é um processo passivo.
como os nossos pensamentos. Não nascemos sabendo as coisas e não aprendemos
nos impregnando do mundo. Construímos ativamente
O método construtivista fundamenta-se na escrita, nossos conhecimentos em nossas interações com pesso-
pois acredita que o aluno tem condições de se alfabeti- as e objetos, de acordo com nossas possibilidades e inte-
zar sem a ajuda de cartilhas e mecanismos que o indu- resses. Apesar de todas as suas ramificações, essa é a
zem a decorar, repetir mecanicamente, declamar, ideia central do construtivismo.
transmitir e aprender o que já está acabado. Parte-se da

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As teorias de Piaget vieram reforçar uma corrente organismo (a mente) desiste ou se modifica. Se modifi-
antiga de pensamento pedagógico, que teve em Mon- car, ocorre a acomodação, levando a construção de
taigne (1533-1592) um dos seus primeiros inspiradores. Por novos esquemas de assimilação e resultando no desen-
volta de 1580, ele já escrevia: "Não cessam de nos gritar volvimento cognitivo.
aos ouvidos, como se por meio de um funil, o que nos
querem ensinar, e o nosso trabalho consiste em repetir." Conforme Moreira (2009), na teoria de Piaget, só há
(Montaigne. Ensaios. Rio de Janeiro : Ediouro. p. 144.) aprendizagem quando o esquema de assimilação sofre
acomodação. Portanto, para modificar os esquemas de
No meio educacional, ser construtivista passou a sig- assimilação é necessário propor atividades desafiadoras
nificar ser contra o ensino baseado apenas em aulas que provoquem desequilíbrios e reequilibrações sucessi-
expositivas, repetição e "decoreba". Já que a aprendi- vas, promovendo a descoberta e a construção do co-
zagem não é um processo passivo, é preciso buscar nhecimento.
meios de despertar o interesse dos alunos e dar a eles
um papel mais ativo. Para Ferrari (2008), a pesquisadora Emilia Ferreiro,
apoiada nos pressupostos das descobertas de Piaget,
Em uma verdadeira escola de inspiração construti- enfoca que apenas a capacidade de diferenciar ou re-
vista, há muitos brinquedos, jogos matemáticos, projetos conhecer sons e sinais ou a leitura de palavras simples
de pesquisa, ensino baseado no método das situações- não é capaz modificar o esquema de assimilação das
problema e em temas escolhidos pelos alunos, valoriza- crianças e assim, ocorrer a aprendizagem, é necessário
ção do raciocínio e não apenas da correção das res- que a criança compreenda o sentido do que é feito,
postas, respeito às ideias e aos possíveis erros cometidos que ela experimente e construa seu conhecimento.
pelas crianças, valorização do diálogo e da coopera-
ção entre os alunos. Pinheiro (2002, p. 40) destaca três características im-
portantes do construtivismo:
Na maioria dos casos, a definição dos métodos es- • O conhecimento é construído através de ex-
colares como construtivistas pode não corresponder a periências
nenhuma ou a poucas alterações efetivas nas práticas e
• Aprender é uma interpretação pessoal do
métodos de ensino. Isso porque essa é mais uma palavra
mundo
que acabou sendo muito usada pelos educadores e vi-
rou uma espécie de moda. Escolas que não mudaram • Aprender é um processo ativo no qual o signi-
nada e até mesmo livros didáticos e softwares educa- ficado é desenvolvido com base em experi-
cionais completamente tradicionais passaram a deno- ências
minar-se construtivistas, o que provocou o desgaste de
um conceito que ainda não alterou o cotidiano das es- Nesse sentido, o papel do professor é criar situações
colas como poderia (e deveria). compatíveis com o nível de desenvolvimento da pessoa,
provocar o desequilíbrio no organismo (mente) para que
EMÍLIA FERREIRO o indivíduo, buscando o reequilíbrio e tendo a oportuni-
A psicóloga argentina, que vive no México, foi aluna dade de agir e interagir (trabalho práticos), se reestrutu-
de Piaget e usou sua teoria para pesquisar especifica- re e aprenda. Estando atento que, para um ensino efici-
mente como a criança constrói seu aprendizado da es- ente, a argumentação do professor deve se relacionar
crita e da leitura. No Brasil, é o nome mais ligado ao en- com os esquemas de assimilação do aluno. O professor
sino construtivista. não pode ignorar os esquemas do aluno e simplesmente
adotar os seus os esquemas de assimilação, e quando
houver situações que gere grande desequilíbrio, o pro-
CONSTRUTIVISMO DE JEAN PIAGET E EMILIA FERREIRO
fessor dever adotar passos intermediários para adequá-
la as estruturas do aluno (MOREIRA, 2009).
Segundo Ferrari (2008), as descobertas de Piaget so-
bre os processos de aquisição de conhecimento e sobre
Para Piaget, a pessoa, a todo o momento interage
os mecanismos de aprendizagem da criança, aliada aos
com a realidade, operando ativamente objetos e pes-
estudos e pesquisas de Emilia Ferreiro, que estudou e soas. O conhecimento é construído por informações ad-
trabalhou com Jean Piaget, possibilitaram a descoberta vindas da interação com o ambiente, na medida em
de que as crianças possuem um papel ativo na constru- que o conhecimento não é concebido apenas como
ção de seu conhecimento, surgindo assim a palavra sendo descoberto espontaneamente, nem transmitido
construtivismo. de forma mecânica pelo meio exterior, mas como resul-
tado de uma interação na qual o sujeito é sempre um
Para Moreira (2009), na teoria do pesquisador Pia- elemento ativo na busca ativa de compreender o mun-
get, o desenvolvimento cognitivo se da por assimilação do que o cerca (MOREIRA, 2009).
e acomodação. Quando o organismo assimila, ele in-
corpora a realidade a seus esquemas de ação, impon- Entende-se, então, de acordo com essa teoria, que
do-se ao meio, e no processo de assimilação o organis- o desenvolvimento cognitivo é resultado de situações e
mo (a mente) não se modifica. Por exemplo, quando se experiências desconhecidas advinda da interação com
mede uma distância, usa-se o esquema – conhecimento o meio, onde o sujeito procura compreender e resolver
- “medir” para assimilar, ou compreender, uma situação. as interrogações. Com isso, o aluno exerce um papel a-
Porém, o conhecimento que se tem da realidade, o es- tivo e constrói seu conhecimento, sob orientação do
quema “medir”, não é modificado, a pessoa continua professor, buscando informações, propondo soluções,
com a mesma visão do esquema “medir”. Quando a confrontando-as com as de seus colegas, defendendo-
pessoa não consegue assimilar determinada situação, o as e discutindo. Essa teoria permite utilizar todo o poten-

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cial de interação da internet para criar um ambiente A PEDAGOGIA CONSTRUTIVISTA DE LEV VYGOTSKY (1896-
que gere conhecimento teórico e prático através da 1934)
construção gradual do conhecimento por meio de par-
ticipação ativa. Oferece oportunidade para reflexão. A Lev Vygotsky nasceu, na Bielo-Rússia, em 1896. De-
construção do conhecimento pelos alunos é fruto de pois de receber aulas particulares de Solomon Ashpiz,
sua ação, o que faz com que eles se tornem cada vez frequentou e trabalhou no Instituto de Psicologia de
mais autônomos intelectualmente. Moscovo, entre 1923 e 1934, onde teve oportunidade de
desenvolver as suas teorias sobre o desenvolvimento
QUADRO DE RESUMO cognitivo e a relação entre o pensamento e a lingua-
gem. Viria a morrer, aos 38 anos, de tuberculose. Deixou
Teoria Construtivista uma obra vasta, composta por seis volumes (1), escritos
ao longo de uma carreira curta de apenas dez anos.
- Por meio de experiências, pesquisas e mé-
Métodos
todos de solução de problemas.
Desconhecido no Ocidente, a sua obra foi desco-
- Obtida pelo desequilíbrio do organismo, berta na década de 60 do século passado, graças às
que na busca do equilíbrio reestruture as es- primeiras traduções dos seus livros. O impacto de Vygotsky
truturas cognitivas e aprenda nos meios educacionais ocidentais foi tremendo e talvez
só seja comparável à influência e popularidade de Jean
Aprendizagem - Resultado de uma interação, na qual o su-
Piaget. Juntamente com Jean Piaget, Lawrence Kohlberg
jeito procura ativamente compreender o
e Paulo Freire, Lev Vygostky faz parte de uma galeria de
mundo que o cerca, e que busca resolver os
grurus educacionais com enorme aceitação nas escolas
problemas.
de educação e a sua obra influenciou grandemente as
- Mediador
políticas e orientações educativas, na Europa Ocidental,
Papel do nas últimas três décadas do século passado.
- Criador de conflitos
professor
- Orientador Curiosamente, o pensamento pedagógico de Lev
Vygotsky nunca conheceu tanta influência e populari-
Papel do aluno Ativo dade na União Soviética, onde, apesar da sua ortodoxia
marxista, fora encarado, durante os regimes de Staline,
- Permite utilizar todo o potencial de intera-
Krutchov e Brejnev, como um comunista da ala direita,
ção da internet para criar um ambientes in-
contaminado por um certo idealismo burguês. Prova-
terativo e que gere conhecimento teórico e
velmente, a morte prematura de Lev Vygotsky tê-lo-á
prático através da construção gradual do
poupado às purgas estalinistas que conduziram à morte,
conhecimento por meio de participação a-
por perseguição política, de mais de 20 milhões de pes-
tiva.
soas, de entre as quais muitos milhares intelectuais tão
Contribuições - Oferece oportunidade para reflexão. fiéis ao marxismo e ao comunismo como Vygotsky fora.
para o DI – - A função do professor deve ser a de criar
Cursos virtuais situações favorecedoras de aprendizagem, Embora, a teoria social da aprendizagem de Vygotsky
a construção do conhecimento pelos alunos não introduza nada de radicalmente diferente em rela-
é fruto de sua ação, o que faz com que eles ção à teoria construtivista de Jean Piaget, a sua popula-
se tornem cada vez mais autônomos intelec- ridade nos meios educacionais de esquerda só é com-
tualmente. parável à influência de Paulo Freire. Na verdade, tanto
- O professor passa a ser o mediador, deixa Vygotsky como Piaget partilham a visão construtivista,
de ser aquele que detém os conhecimentos. assente na ideia de que a única aprendizagem significa-
tiva é a que ocorre através da interacção entre o sujei-
O desenvolvimento cognitivo é resultado de to, o objecto e outros sujeitos (colegas ou professores).
situações e experiências desconhecidas ad- As outras formas de aprendizagem, como sejam a imita-
vinda da interação com o meio, onde a pes- ção, a observação, a demonstração, a exemplificação
soa individualmente procura compreender e e a prática dirigida são colocadas em lugar secundário
resolver as interrogações. Nesse sentido, o tanto por Piaget como por Vygotsky. O que verdadei-
professor deve conhecer as estruturas cogni- ramente distingue Vygotsky de Piaget é a descrença do
tivas do aluno e criar atividades desafiadoras primeiro em relação a uma hierarquia de estádios do
e adequadas que provoque desequilíbrios, desenvolvimento cognitivo tão estanque e determinista
para que o aluno procurando o reequilíbrio e como a que Piaget desenvolveu. Vygotsky, à semelhan-
Conclusão tendo a oportunidade de agir se reestruture ça do que mais tarde faria Jerome Bruner, dá, igualmen-
e aprenda. Portanto, é um teoria essencial te, maior relevo aos contextos culturais e ao papel da
em projetos EaD, já que o aluno exercer um linguagem no processo de construção de conhecimen-
papel ativo e constrói seu conhecimento sob to e de desenvolvimento cognitivo. De resto, há muitas
orientação do professor, buscando informa- semelhanças.
ções, propondo soluções, confronta-as com
as de seus colegas, defende-as e as discu- Até mesmo a teoria da zona de desenvolvimento
tindo. Possibilitando criar estratégias para próximo, central na teoria da aprendizagem do peda-
desenvolver um aluno com autonomia, críti- gogo soviético, não é muito diferente das propostas de
co e pesquisador. Piaget ou de Kohlberg sobre as tarefas moderadamente
discrepantes, ou seja, sobre o potencial educativo e de-
senvolvimentista das tarefas de ensino que não sejam

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nem muito difíceis nem muito fáceis para o aluno. Como bre o objeto de conhecimento. As formas de conhecer
é sabido, Piaget defende que as tarefas devem provo- são construídas nas trocas com os objetos, tendo uma
car um desequilíbrio cognitivo moderado que permita melhor organização em momentos sucessivos de adap-
ao aluno passar por um processo de assimilação e de tação ao objeto. A adaptação ocorre através da or-
acomodação que potencie o desenvolvimento dos es- ganização, sendo que o organismo discrimina entre es-
quemas mentais, em direcção a uma nova equilibração tímulos e sensações, selecionando aqueles que irá or-
e por aí adiante. A teoria da zona de desenvolvimento ganizar em alguma forma de estrutura. A adaptação
próximo tem, de facto, grandes semelhanças com a te- possui dois mecanismos opostos, mas complementares,
oria da equilibração de Jean Piaget. A aprendizagem que garantem o processo de desenvolvimento: a assimi-
mais significativa é que se baseia no processo de cons- lação e a acomodação. Segundo Piaget, o conheci-
trução do conhecimento por parte dos alunos. Esse pro- mento é a equilibração/reequilibração entre assimila-
cesso de construção é tanto melhor conduzido quanto ção e acomodação, ou seja, entre os indivíduos e os
melhor o professor for capaz de criar ambientes de a- objetos do mundo.
prendizagem que potenciem a interacção entre alunos
em estádios cognitivos ligeiramente diferentes ou em fa- A assimilação é a incorporação dos dados da rea-
ses de transição de estádio. lidade nos esquemas disponíveis no sujeito, é o processo
pelo qual as ideias, pessoas, costumes são incorporadas
Vygotsky defende que a criança aprende melhor à atividade do sujeito. A criança aprende a língua e as-
quando é confrontada com tarefas que impliquem um simila tudo o que ouve, transformando isso em conhe-
desafio cognitivo não muito discrepante, ou seja, que se
cimento seu. A acomodação é a modificação dos es-
situem naquilo a que o psicólogo soviético chama de
quemas para assimilar os elementos novos, ou seja, a
zona de desenvolvimento próximo. Esta teoria tem impli-
cações importantes no processo de instrução: o profes- criança que ouve e começa a balbuciar em resposta à
sor deve proporcionar aos alunos a oportunidade de conversa ao seu redor gradualmente acomoda os sons
aumentarem as suas competências e conhecimento, que emite àqueles que ouve, passando a falar de for-
partindo daquilo que eles já sabem, levando-os a inte- ma compreensível.
ragir com outros alunos em processos de aprendizagem
cooperativa. Segundo FARIA (1998), os esquemas são uma ne-
cessidade interna do indivíduo. Os esquemas afetivos
Provavelmente, a maior originalidade da teoria de levam à construção do caráter, são modos de sentir
Vygotsky reside na ênfase que ele dá ao papel dos con- que se adquire juntamente às ações exercidas pelo su-
textos culturais e da linguagem no processo de aprendi- jeito sobre pessoas ou objetos. Os esquemas cognitivos
zagem. Jerome Bruner desenvolveu esta ideia e introdu- conduzem à formação da inteligência, tendo a neces-
ziu-a na proposta de currículo em espiral, o qual, no fun- sidade de serem repetidos (a criança pega várias vezes
do, é uma aplicação da teoria da zona de desenvolvi- o mesmo objeto). Outra propriedade do esquema é a
mento próximo. ampliação do campo de aplicação, também chama-
da de assimilação generalizadora (a criança não pega
Vygotsky enfatiza a ligação entre as pessoas e o apenas um objeto, pega outros que estão por perto).
contexto cultural em que vivem e são educadas. De Através da discriminação progressiva dos objetos, da
acordo com ele, as pessoas usam instrumentos que vão capacidade chamada de assimilação recognitiva ou
buscar à cultura onde estão imersas e entre esses instru- reconhecedora, a criança identifica os objetos que po-
mentos tem lugar de destaque a linguagem, a qual é de ou não pegar, que podem ou não dar algum prazer
usada como mediação entre o sujeito e o ambiente so- a ela.
cial. A internalização dessas competências e instrumen-
tos conduz à aquisição de competências de pensamen- FARIA (op.cit.) salienta que os fatores responsáveis
to mais desenvolvidas, constituindo o cerne do processo pelo desenvolvimento, segundo Piaget, são: matura-
de desenvolvimento cognitivo. ção; experiência física e lógico-matemática; transmis-
são ou experiência social; equilibração; motivação; in-
TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE JEAN PIAGET teresses e valores; valores e sentimentos. A aprendiza-
gem é sempre provocada por situações externas ao su-
Formado em Biologia, Piaget especializou-se nos es- jeito, supondo a atuação do sujeito sobre o meio, me-
tudos do conhecimento humano, concluindo que, as- diante experiências. A aprendizagem será a aquisição
sim como os organismos vivos podem adaptar-se gene- que ocorre em função da experiência e que terá cará-
ticamente a um novo meio, existe também uma rela- ter imediato. Ela poderá ser: experiência física - com-
ção evolutiva entre o sujeito e o seu meio, ou seja, a porta ações diferentes em função dos objetos e consis-
criança reconstrói suas ações e ideias quando se rela- te no desenvolvimento de ações sobre esses objetos
ciona com novas experiências ambientais. Para ele, a para descobrir as propriedades que são abstraídas de-
criança constrói sua realidade como um ser humano les próprios, é o produto das ações do sujeito sobre o
singular, situação em que o cognitivo está em supre- objeto; e experiência lógico-matemática – o sujeito age
macia em relação ao social e o afetivo. sobre os objetos de modo a descobrir propriedades e
relações que são abstraídas de suas próprias ações, ou
Na perspectiva construtivista de Piaget, o começo seja, resulta da coordenação das ações que o sujeito
do conhecimento é a ação do sujeito sobre o objeto, exerce sobre os objetos e da tomada de consciência
ou seja, o conhecimento humano se constrói na intera- dessa coordenação. Essas duas experiências estão in-
ção homem-meio, sujeito-objeto. Conhecer consiste em ter-relacionadas, uma é condição para o surgimento
operar sobre o real e transformá-lo a fim de compreen- da outra.
dê-lo, é algo que se dá a partir da ação do sujeito so-

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Para que ocorra uma adaptação ao seu ambiente, específica de interação com o outro, é um desenvolvi-
o indivíduo deverá equilibrar uma descoberta, uma ação mento conflituoso.
com outras ações. A base do processo de equilibração
está na assimilação e na acomodação, isto é, promove No início do desenvolvimento existe uma preponde-
a reversibilidade do pensamento, é um processo ativo rância do biológico e após o social adquire maior força.
de auto-regulação. Piaget afirma que, para a criança Assim como Vygotsky, Wallon acredita que o social é
adquirir pensamento e linguagem, deve passar por vá- imprescindível. A cultura e a linguagem fornecem ao
rias fases de desenvolvimento psicológico, partindo do pensamento os elementos para evoluir, sofisticar. A par-
individual para o social. Segundo ele, o falante passa te cognitiva social é muito flexível, não existindo lineari-
por pensamento autístico, fala egocêntrica para atingir dade no desenvolvimento, sendo este descontínuo e,
o pensamento lógico, sendo o egocentrismo o elo de por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, co-
ligação das operações lógicas da criança. No processo mo um movimento que tende ao crescimento.
de egocentrismo, a criança vê o mundo a partir da
perspectiva pessoal, assimilando tudo para si e ao seu De acordo com GALVÃO (op.cit.), no primeiro ano
próprio ponto de vista, estando o pensamento e a lin- de vida, a criança interage com o meio regida pela a-
guagem centrados na criança. fetividade, isto é, o estágio impulsivo-emocional, defini-
do pela simbiose afetiva da criança em seu meio social.
Para Piaget, o desenvolvimento mental dá-se es- A criança começa a negociar, com seu mundo sócio-
pontaneamente a partir de suas potencialidades e da afetivo, os significados próprios, via expressões tônicas.
sua interação com o meio. O processo de desenvolvi- As emoções intermediam sua relação com o mundo.
mento mental é lento, ocorrendo por meio de gradua-
ções sucessivas através de estágios: período da inteli- Do estágio sensório-motor ao projetivo (1 a 3 anos),
gência sensório-motora; período da inteligência pré- predominam as atividades de investigação, exploração
operatória; período da inteligência operatória-concreta; e e conhecimento do mundo social e físico. No estágio
período da inteligência operatório-formal. sensório-motor, permanece a subordinação a um sin-
cretismo subjetivo (a lógica da criança ainda não está
TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE HENRY WALLON presente). Neste estágio predominam as relações cog-
nitivas da criança com o meio. Wallon identifica o sin-
A criança, para Wallon, é essencialmente emocio- cretismo como sendo a principal característica do pen-
nal e gradualmente vai constituindo-se em um ser sócio- samento infantil. Os fenômenos típicos do pensamento
cognitivo. O autor estudou a criança contextualizada, sincrético são: fabulação, contradição, tautologia e eli-
como uma realidade viva e total no conjunto de seus são.
comportamentos, suas condições de existência.
Na gênese da representação, que emerge da imi-
Segundo GALVÃO (2000), Wallon argumenta que as tação motora-gestual ou motricidade emocional, as
trocas relacionais da criança com os outros são funda- ações da criança não mais precisarão ter origem na
mentais para o desenvolvimento da pessoa. As crianças ação do outro, ela vai “desprender-se” do outro, po-
nascem imersas em um mundo cultural e simbólico, no dendo voltar-se para a imitação de cenas e aconteci-
mentos, tornando-se habilitada à representação da
qual ficarão envolvidas em um "sincretismo subjetivo",
realidade. Este salto qualitativo da passagem do ato
por pelo menos três anos. Durante esse período, de
imitativo concreto e a representação é chamado de
completa indiferenciação entre a criança e o ambiente simulacro. No simulacro, que é a imitação em ato, for-
humano, sua compreensão das coisas dependerá dos ma-se uma ponte entre formas concretas de significar e
outros, que darão às suas ações e movimentos formato representar e níveis semióticos de representação. Essa é
e expressão. a forma pela qual a criança se desloca da inteligência
prática ou das situações para a inteligência verbal ou
Antes do surgimento da linguagem falada, as cri- representativa.
anças comunicam-se e constituem-se como sujeitos
com significado, através da ação e interpretação do Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico, aparece
meio entre humanos, construindo suas próprias emo- a imitação inteligente, a qual constrói os significados dife-
ções, que é seu primeiro sistema de comunicação ex- renciados que a criança dá para a própria ação. Nessa
pressiva. Estes processos comunicativos-expressivos a- fase, a criança está voltada novamente para si própria.
contecem em trocas sociais como a imitação. Imitan- Para isso, a criança coloca-se em oposição ao outro
do, a criança desdobra, lentamente, a nova capaci- num mecanismo de diferenciar-se. A criança, mediada
dade que está a construir (pela participação do outro pela fala e pelo domínio do “meu/minha”, faz com que
ela se diferenciará dos outros) formando sua subjetivi- as ideias atinjam o sentimento de propriedade das coi-
dade. Pela imitação, a criança expressa seus desejos sas. A tarefa central é o processo de formação da per-
de participar e se diferenciar dos outros constituindo-se sonalidade. Aos 6 anos a criança passa ao estágio ca-
em sujeito próprio. tegorial trazendo avanços na inteligência. No estágio
da adolescência, a criança volta-se a questões pesso-
Wallon propõe estágios de desenvolvimento, assim ais, morais, predominando a afetividade. Ainda con-
como Piaget, porém, ele não é adepto da ideia de que forme GALVÃO, é nesse estágio que se intensifica a rea-
a criança cresce de maneira linear. O desenvolvimento lização das diferenciações necessárias à redução do
humano tem momentos de crise, isto é, uma criança ou sincretismo do pensamento. Esta redução do sincretis-
um adulto não são capazes de se desenvolver sem con- mo e o estabelecimento da função categorial depen-
flitos. A criança se desenvolve com seus conflitos inter- dem do meio cultural no qual está inserida a criança.
nos e, para ele, cada estágio estabelece uma forma

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TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE LEV S. VYGOTSKY Como visto, exige-se a utilização de instrumentos
para transformar a natureza e, da mesma forma, exige-
Para Vygotsky, a criança nasce inserida num meio se o planejamento, a ação coletiva, a comunicação
social, que é a família, e é nela que estabelece as pri- social. Pensamento e linguagem associam-se devido à
meiras relações com a linguagem na interação com os necessidade de intercâmbio durante a realização do
outros. Nas interações cotidianas, a mediação (neces- trabalho. Porém, antes dessa associação, a criança tem
sária intervenção de outro entre duas coisas para que a capacidade de resolver problemas práticos (inteli-
uma relação se estabeleça) com o adulto acontece gência prática), de fazer uso de determinados instru-
espontaneamente no processo de utilização da lingua- mentos para alcançar determinados objetivos. Vygotsky
gem, no contexto das situações imediatas. chama isto de fase pré-verbal do desenvolvimento do
pensamento e uma fase pré-intelectual no desenvolvi-
Essa teoria apóia-se na concepção de um sujeito in- mento da linguagem.
terativo que elabora seus conhecimentos sobre os obje-
tos, em um processo mediado pelo outro. O conheci- Por volta dos 2 anos de idade, a fala da criança
mento tem gênese nas relações sociais, sendo produzi- torna-se intelectual, generalizante, com função simbóli-
do na intersubjetividade e marcado por condições cul- ca, e o pensamento torna-se verbal, sempre mediado
turais, sociais e históricas. por significados fornecidos pela linguagem. Esse impulso
é dado pela inserção da criança no meio cultural, ou
Segundo Vygotsky, o homem se produz na e pela
seja, na interação com adultos mais capazes da cultura
linguagem, isto é, é na interação com outros sujeitos
que já dispõe da linguagem estruturada. Vygotsky des-
que formas de pensar são construídas por meio da a-
taca a importância da cultura; para ele, o grupo cultu-
propriação do saber da comunidade em que está inse-
ral fornece ao indivíduo um ambiente estruturado onde
rido o sujeito. A relação entre homem e mundo é uma
os elementos são carregados de significado cultural.
relação mediada, na qual, entre o homem e o mundo
existem elementos que auxiliam a atividade humana.
Os significados das palavras fornecem a mediação
Estes elementos de mediação são os signos e os instru-
simbólica entre o indivíduo e o mundo, ou seja, como
mentos. O trabalho humano, que une a natureza ao
diz VYGOTSKY (1987), é no significado da palavra que a
homem e cria, então, a cultura e a história do homem,
fala e o pensamento se unem em pensamento verbal.
desenvolve a atividade coletiva, as relações sociais e a
Para ele, o pensamento e a linguagem iniciam-se pela
utilização de instrumentos. Os instrumentos são utilizados
fala social, passando pela fala egocêntrica, atingindo a
pelo trabalhador, ampliando as possibilidades de trans-
fala interior que é pensamento reflexivo.
formar a natureza, sendo assim, um objeto social.

Os signos também auxiliam nas ações concretas e A fala egocêntrica emerge quando a criança trans-
nos processos psicológicos, assim como os instrumentos. fere formas sociais e cooperativas de comportamento
A capacidade humana para a linguagem faz com que para a esfera das funções psíquicas interiores e pesso-
as crianças providenciem instrumentos que auxiliem na ais. No início do desenvolvimento, a fala do outro dirige
solução de tarefas difíceis, planejem uma solução para a ação e a atenção da criança. Esta vai usando a fala
um problema e controlem seu comportamento. Signos de forma a afetar a ação do outro. Durante esse pro-
e palavras são para as crianças um meio de contato cesso, ao mesmo tempo que a criança passa a enten-
social com outras pessoas. Para Vygotsky, signos são der a fala do outro e a usar essa fala para regulação do
meios que auxiliam/facilitam uma função psicológica outro, ela começa a falar para si mesma. A fala para si
superior (atenção voluntária, memória lógica, formação mesma assume a função auto-reguladora e, assim, a
de conceitos, etc.), sendo capazes de transformar o criança torna-se capaz de atuar sobre suas próprias
funcionamento mental. Desta maneira, as formas de ações por meio da fala. Para Vygotsky, o surgimento da
mediação permitem ao sujeito realizar operações cada fala egocêntrica indica a trajetória da criança: o pen-
vez mais complexas sobre os objetos. samento vai dos processos socializados para os proces-
sos internos.
Segundo Vygotsky, ocorrem duas mudanças quali-
tativas no uso dos signos: o processo de internalização e A fala interior, ou discurso interior, é a forma de lin-
a utilização de sistemas simbólicos. A internalização é guagem interna, que é dirigida ao sujeito e não a um
relacionada ao recurso da repetição onde a criança interlocutor externo. Esta fala interior, se desenvolve
apropria-se da fala do outro, tornando-a sua. Os siste- mediante um lento acúmulo de mudanças estruturais,
mas simbólicos organizam os signos em estruturas, estas fazendo com que as estruturas de fala que a criança já
são complexas e articuladas. Essas duas mudanças são domina, tornem-se estruturas básicas de seu próprio
essenciais e evidenciam o quanto são importantes as pensamento. A fala interior não tem a finalidade de
relações sociais entre os sujeitos na construção de pro- comunicação com outros, portanto, constitui-se como
cessos psicológicos e no desenvolvimento dos processos
uma espécie de “dialeto pessoal”, sendo fragmentada,
mentais superiores. Os signos internalizados são compar-
abreviada.
tilhados pelo grupo social, permitindo o aprimoramento
da interação social e a comunicação entre os sujeitos.
As funções psicológicas superiores aparecem, no de- A relação entre pensamento e palavra acontece
senvolvimento da criança, duas vezes: primeiro, no nível em forma de processo, constituindo-se em um movi-
social (entre pessoas, no nível interpsicológico) e, de- mento contínuo de vaivém do pensamento para a pa-
pois, no nível individual (no interior da criança, no nível lavra e vice-versa. Esse processo passa por transforma-
intrapsicológico). Sendo assim, o desenvolvimento ca- ções que, em si mesmas, podem ser consideradas um
minha do nível social para o individual. desenvolvimento no sentido funcional. VYGOTSKY
(op.cit.) diz que o pensamento nasce através das pala-

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vras. É apenas pela relação da criança com a fala do A colaboração em um ambiente computacional
outro em situações de interlocução, que a criança se torna-se visível e constante, vinda do ambiente livre e
apropria das palavras, que, no início, são sempre pala- aberto ao diálogo, da troca de ideias, onde a fala tem
vras do outro. Por isso, é fundamental que as práticas papel fundamental na aplicação dos conteúdos. A in-
pedagógicas trabalhem no sentido de esclarecer a im- teração entre o parceiro sentado ao lado, entre o
portância da fala no processo de interação com o ou-
computador, os conhecimentos, os professores que se-
tro.
guem o percurso da construção do conhecimento, e
Segundo VYGOTSKY (1989), a aprendizagem tem até mesmo os outros colegas que, apesar de estarem
um papel fundamental para o desenvolvimento do sa- envolvidos com sua procura, pesquisa, navegação,
ber, do conhecimento. Todo e qualquer processo de prestam atenção ao que acontece em sua volta, gera
aprendizagem é ensino-aprendizagem, incluindo aque- uma grande equipe que busca a produção do conhe-
le que aprende, aquele que ensina e a relação entre cimento constantemente. Através disso tudo a criança
eles. Ele explica esta conexão entre desenvolvimento e ganhará mais confiança para produzir algo, criar mais
aprendizagem através da zona de desenvolvimento livremente, sem medo dos erros que possa cometer,
proximal (distância entre os níveis de desenvolvimento aumentando sua auto-confiança, sua auto-estima, na
potencial e nível de desenvolvimento real), um “espaço aceitação de críticas, discussões de um trabalho feito
dinâmico” entre os problemas que uma criança pode pelos seus próprios pares.
resolver sozinha (nível de desenvolvimento real) e os que
deverá resolver com a ajuda de outro sujeito mais ca- As novas tecnologias não substituem o professor,
paz no momento, para em seguida, chegar a dominá- mas modificam algumas de suas funções. O professor
los por si mesma (nível de desenvolvimento potencial). transforma-se agora no estimulador da curiosidade do
aluno por querer conhecer, por pesquisar, por buscar as
O INTERACIONISMO E A MEDIAÇÃO DAS NOVAS TECNOLO- informações. Ele coordena o processo de apresenta-
GIAS NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO ESCOLAR ção dos resultados pelos alunos, questionando os dados
apresentados, contextualizando os resultados, adaptan-
A integração de novas tecnologias nas escolas preci- do-os para a realidade dos alunos. O professor pode es-
sa dar ênfase na importância do contexto sócio-histórico- tar mais próximo dos alunos, receber mensagens via e-
cultural em que os alunos vivem e a aspectos afetivos mail com dúvidas, passar informações complementares
que suas linguagens representam. O uso de computado- para os alunos, adaptar a aula para o ritmo de cada
res como um meio de interação social, onde o conflito um. Assim sendo, o processo de ensino-aprendizagem
cognitivo, os riscos e desafios e o apoio recíproco entre ganha um dinamismo, inovação e poder de comuni-
pares está presente, é um meio de desenvolver cultu- cação até agora pouco utilizados.
ralmente a linguagem e propiciar que a criança cons-
trua seu próprio conhecimento. Segundo RICHTER (2000), As crianças também podem utilizar o E-mail para
as crianças precisam correr riscos e desafios para serem trocar informações, dúvidas com seus colegas e profes-
bem sucedidas em seu processo de ensino-aprendizagem, sores, tornando o aprendizado mais cooperativo. O uso
produzindo e interpretando a linguagem que está além do correio eletrônico proporciona uma rica estratégia
das certezas que já tem sobre a língua. para aumentar as habilidades de comunicação, forne-
cendo ao aluno oportunidades de acesso a culturas di-
Vygotsky valoriza o trabalho coletivo, cooperativo, versas, aperfeiçoando o aprendizado em várias àreas
ao contrário de Piaget, que considera a criança como do conhecimento.
construtora de seu conhecimento de forma individual.
O ambiente computacional proporciona mudanças O uso da Internet, ou seja, o hiperespaço, é carac-
qualitativas na zona de desenvolvimento proximal do terizado como uma forma de comunicação que propi-
aluno, os quais não acontecem com muita freqüência cia a formação de um contexto coletivizado, resultado
em salas de aula “tradicionais”. A colaboração entre cri- da interação entre participantes. Conectar-se é sinôni-
anças pressupõe um trabalho de parceria conjunta pa- mo de interagir e compartilhar no coletivo. A navega-
ra produzir algo que não poderiam produzir individual- ção em sites transforma-se num jogo discursivo em que
mente. significados, comportamentos e conhecimentos são cri-
ticados, negociados e redefinidos. Este jogo comunica-
A zona de desenvolvimento proximal, comentada tivo tende a reverter o “monopólio” da fala do professor
anteriormente, possibilita a interação entre sujeitos, per- em sala de aula.
meada pela linguagem humana e pela linguagem da
máquina, força o desempenho intelectual porque faz os Desta forma, a implantação de novas tecnologias
sujeitos reconhecerem e coordenarem os conflitos gera- na escola deve ser mediada por atitudes pedagógicas
dos por uma situação problema, construindo um co- que permitam formar o cidadão que ocupará seu lugar
nhecimento novo a partir de seu nível de competência neste novo espaço. As tecnologias, dentro de um proje-
que se desenvolve sob a influência de um determinado to pedagógico inovador, facilitam e estimulam o pro-
contexto sócio-histórico-cultural. Wallon também acre- cesso de ensino-aprendizagem. Neste sentido, a hiper-
dita que o processo de construção do conhecimento mídia introduz a interatividade no aprendizado, propici-
passa por conflitos, momentos de crises e rupturas. ando o diálogo ativo com o mundo do conhecimento,

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apresentando informações através de um contínuo ca- ABORDAGENS TRADICIONAL E CONSTRUTIVISTA DA
nal de escolhas individuais. Ela nos permite navegar e APRENDIZAGEM
determinar os caminhos a seguir de acordo com nossos
interesses e nosso próprio ritmo. Enfim, é descoberta, é ABORDAGEM TRADICIONAL ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA
pesquisa, é conhecimento, é participação, sensibilizan- Enfoque no professor Enfoque no aluno
do assim, para novos assuntos, novas informações, dimi-
Enfoque na construção indi-
nuindo a rotina e nos ligando com o mundo, trocando Enfoque no conteúdo
vidual de significados
experiências entre si, conhecendo-se, comunicando-se,
A aprendizagem é uma
enfim, educando-se. A mente do aluno funciona
construção do aluno sobre
como uma “tabula rasa”
conhecimentos prévios
RICHTER (op.cit.), ao referir-se ao interacionismo, ob-
serva a necessidade de se dar ênfase à interação con- O aluno é receptor passivo Ênfase no controle do aluno
de conhecimento sobre sua aprendizagem
versacional entre as crianças, para terem, com isso, aces-
so a input significativo e compreensivo (agir sobre uma Habilidades e conhecimen-
Memorização de conheci-
mensagem para verificar o que entendeu sobre deter- to são desenvolvidos no con-
mento
texto onde serão utilizados
minado assunto), com vistas à chegarem à negociação
de sentidos (expressar e esclarecer intenções, pensa-
RESUMO − CONSTRUTIVISMO
mentos, opiniões). Através dessa negociação de senti-
dos, a criança poderá produzir uma nova mensagem Quem de-
sobre o que realmente entendeu (output). senvolveu a O biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980).
ideia
Portanto, é no ensino fundamental que deve co-
Segundo Piaget, o pensamento infantil
meçar o processo de conscientização de professores e passa por quatro estágios, desde o nasci-
alunos no sentido de buscar e usar a informação, na di- mento até o início da adolescência,
reção do enriquecimento intelectual, na auto-instrução. quando a capacidade plena de raciocí-
Isso significa que não podemos admitir, nos tempos de nio é atingida. Assim, a criança constrói o
hoje, um professor que seja um mero repassador de in- conhecimento a partir de suas descober-
tas, quando em contato com o mundo e
formações. O que se exige, é que ele seja um criador
com os objetos. Por isso, não adianta ensi-
de ambientes de aprendizagem, parceiro e colabora- O que diz nar a um aluno algo que ele ainda não
dor no processo de construção do conhecimento, que tem condições intelectuais de absorver.
se atualize continuamente. Ou seja, o trabalho de educar não deve
se limitar a transmitir conteúdos, mas a fa-
APRENDENDO UM POUCO MAIS vorecer a atividade mental do aluno. Por
isso, importante é não apenas assimilar con-
Em um curso de especialização na modalidade a ceitos, mas também gerar questionamentos,
ampliar as ideias.
distância, a melhor abordagem pedagógica é a cons-
trutivista. De acordo com essa abordagem, o aluno é Onde está o
No aluno e em suas operações mentais.
construtor de seu próprio conhecimento. foco
Observar o aluno, investigar quais são os
Construtivismo em EAD significa proporcionar ao es- seus conhecimentos prévios, seus interes-
Qual é o pa- ses e, a partir dessa bagagem, procurar
tudante, profissional, criança ou adulto, um ambiente
pel do pro- apresentar diversos elementos para que o
totalmente favorável aos objetivos a que se propõe, a- aluno construa seu conhecimento. O pro-
fessor
presentando uma razoabilidade concreta do método. fessor cria situações para que o aluno
chegue ao conhecimento.
O professor mantém uma postura de mediador, pre- Como se a-
Experimentando, vivenciando.
sente virtualmente, interagindo com seus alunos, exer- prende
cendo o papel de facilitador da construção do conhe- Para falar em multiplicação, por exemplo,
cimento do outro (WAISMANN, 2002), respeitando seus in- o professor pode apresentar uma seqüên-
teresses, necessidades, estilo e ritmo de aprendizagem. Como se in- cia de somas, até que o aluno chegue ao
conceito da multiplicação. Nada de de-
troduz um
No construtivismo, o sujeito da aprendizagem é aque- corar tabuada. Ou, para apresentar for-
novo concei- mas geométricas, o professor dará aos a-
le que elabora seu próprio conhecimento. Ele aprende to lunos vários materiais, eles farão desenhos
pensando, compreendendo ativamente, agindo sobre e observarão figuras até perceberem o
seu objeto de conhecimento. círculo, o quadrado, o triângulo, etc.
Há menos interferência do professor, que
É verdade, como bem ressaltou Paulo Freire, que respeita as fases do aluno e procura cor-
ninguém nos ensina a fazer essas coisas – mas também responder aos seus interesses. As salas têm
Quais são os
não aprendemos a fazê-las sozinhos, aprendemos a fa- mais objetos para manusear, mais material,
reflexos na como blocos lógicos, figuras, etc. As corre-
zê-las interagindo uns com os outros. Os pais podem in-
sala de aula ções não acontecem de modo imediato,
centivar as crianças e ajudá-las a aprender, apoiando-as.
pois os erros são considerados parte do
Mas quem aprende é a criança – e o faz.
processo de aprendizagem.

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Que tipo de Pessoas com autonomia. Gente que inte- lhes o exercício de um poder real, ainda que limitado
indivíduo rage com o meio, que tem ideias próprias (SAVIANI, 2007, p. 31).
espera-se e é capaz de criar, com uma visão parti-
formar cular do mundo. Desse modo, a educação deve nos subsidiar para
alcançarmos a autonomia, a independência. É através
A ABORDAGEM HISTÓRICO-CRÍTICA NA FORMAÇÃO da educação que conseguiremos a transformação so-
DOCENTE cial. Por isso partimos do pressuposto que uma teoria crí-
tica da educação poderá nos dar suporte teórico para
A educação, mais do que nunca, alcançou um progredirmos nos nossos estudos. E é por isso que de-
grau de importância que outrora nunca pensávamos fenderemos nesse artigo esta concepção de educa-
que poderia alcançar. Sua sistematização contribui pa- ção.
ra o enriquecimento humano, para o desenvolvimento
da cultura, no discernimento entre o espaço e o tem- A Pedagogia Histórico-Crítica: um novo paradigma em e-
po... Podemos, então, afirmar que a educação formal,
ducação
[...] contribui decisivamente para a formação cultural
do indivíduo e da coletividade, compreendendo as con-
Na pedagogia histórico-crítica (a teoria crítica da
dições de transformação da população em povo, sen-
educação) a escola ganha grande destaque. Na ver-
do este uma coletividade de cidadãos; todos seres so-
dade ela recebe o dever de "propiciar a aquisição dos
ciais em condições de se inserirem nas mais diversas
instrumentos que possibilitem o acesso ao saber elabo-
formas de sociabilidade e nos mais diversos jogos de
rado (ciência), bem como o próprio acesso aos rudi-
forças sociais (IANNI, 2005, p. 32).
mentos desse saber [...]" (SAVIANI, 2008, p. 15). Mas o
que vem ser esse saber elaborado? Como ele se mani-
Desse modo a educação é uma categoria do tra-
festa? Este saber elaborado é o conhecimento constru-
balho não material e sua matéria prima é o saber que
ído historicamente pelos homens e desse modo não se
os seres humanos produzem historicamente em socie-
confunde com algo que a natureza nos proporciona.
dade (SAVIANI, 2008). Por isso ela é tão importante para
Ele é o trabalho não-material. Ele é o clássico, ou seja,
todos nós. Caso não haja ampla valorização e apreen-
"[...] é aquilo que se firmou como fundamental, como
são dos conhecimentos que durante o processo de edu-
essencial [...]" (ibidem, p. 14).
cação o ser humano produz, a comunidade reprimida,
escravizada, posta à margem, intelectualmente, jamais
Podemos corroborar que o clássico não está asso-
conseguirá conquistas de cunho socioeconômico e cul-
ciado a "conteúdos", ou seja, não estamos caminhando
tural.
nos trilhos da pedagogia tradicional, pois este entendi-
mento de tradicionalismo empregado nesta corrente
Saviani (2007), que depois de muitos estudos sobre
pedagógica não é o mesmo na pedagogia histórico-
as teorias da educação, organiza-as em três grandes
crítica, pois nesta abordagem temos o clássico como
teorias: as teorias não-críticas, as teorias crítico-reprodutivistas
sinônimo de tradicional. Pois se apropriando dos co-
e a teoria crítica.
nhecimentos, dos clássicos, o dominado terá condições
de se libertar das amarras dominantes, caso contrário
Para o estudioso, a composição das teorias não-
"[...] o dominado não se liberta se ele não vier a domi-
críticas é feita pela pedagogia tradicional, a pedago-
nar aquilo que os dominantes dominam. Então, dominar
gia da escola nova e a pedagogia tecnicista; já as teo-
o que os dominantes dominam é condição de liberta-
rias crítico-reprodutivistas são a teoria do sistema de en-
ção" (SAVIANI, 2007, p. 55).
sino como violência simbólica, teoria da escola como
aparelho ideológico de Estado e a teoria da escola du-
Para a escola conseguir realizar esta transmissão-
alista; a última, a teoria crítica que está sendo aperfei-
assimilação do saber sistematizado não basta sua exis-
çoada, nos remete à mudança de paradigmas. Não é
tência, pois se isto bastasse não necessitaríamos desse
nosso foco, neste trabalho, discorremos acerca das três
ambiente sistematizado do ensino, mas como isso não é
concepções definidas pelo estudioso. Buscaremos, em
suficiente, a escola tem de possibilitar as condições pa-
linhas gerais, expor e discutir a importância da teoria crí-
ra que haja a transmissão e a assimilação dos conheci-
tica, pois esta é defendida e comungada durante todo
mentos construídos historicamente. Para tanto, Saviani
este texto.
(2008, p. 18) afirma que a instituição escolar deverá "[...]
dosá-lo e seqüenciá-lo de modo que a criança passe
Em virtude do exposto, segundo a teoria crítica, não
gradativamente do seu não-domínio ao seu domínio".
devemos encarar a educação como uma missão, tão Desse modo, "[...] pela mediação da escola, acontece
pouco como um dom e sim como um elemento cons- a passagem do saber espontâneo ao saber sistemati-
truído historicamente pelos Homens e para os mesmos. zado, da cultura popular à cultura erudita" (ibidem, p.
Pois a educação não é um poder ilusório, nem deve ser 21). E assim, o dominado saindo dessa condição social,
vista como uma impotência, mas deve ser concebida passa a dominar aquilo que o dominante também do-
como um poder real, mesmo que limitado. Para tanto, o mina.
próprio autor nos esclarece estas diferenças.
Visualizamos o papel da escola na pedagogia histó-
Uma teoria do tipo acima enunciada impõe-se a rico-crítica, contudo, não temos ainda o percurso histó-
tarefa de superar tanto o poder ilusório (que caracteriza rico que constitui essa linha pedagógica. Visando a su-
as teorias não-críticas) como a impotência (decorrente perar esse hiato vamos, em poucas linhas, conhecer as
das teorias crítico-reprodutivistas), colocando nas mãos origens da Pedagogia Histórico-Crítica.
dos educadores uma arma de luta capaz de permitir-

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EXEMPLO DE APLICAÇÃO DAS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS A principal vantagem desta abordagem é que ela
possibilitou uma maior integração com a proposta pe-
ALGUMAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA dagógica ampla e integrada da Educação Física nos
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR primeiros anos de educação formal. Porém, representou
o abandono do que era específico da Educação Física,
Em oposição à vertente mais tecnicista, esportivista como se o conhecimento do esporte, da dança, da gi-
e biologicista surgem novas abordagens na Educação nástica e dos jogos fosse, em si, inadequado para os a-
Física escolar a partir do final da década de 70, inspira- lunos.
das no momento histórico social pelo qual passou o pa-
ís, nas novas tendências da educação de uma maneira ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA
geral, além de questões específicas da própria Educa-
ção Física. É preciso lembrar que, no âmbito da Educação Físi-
ca, a psicomotricidade influenciou a perspectiva cons-
Atualmente coexistem na área várias concepções, trutivista-interacionista na questão da busca da forma-
todas elas tendo em comum a tentativa de romper ção integral, com a inclusão das dimensões afetivas e
com o modelo anterior, fruto de uma etapa recente da cognitivas ao movimento humano. Na discussão do ob-
Educação Física. jeto da Educação Física escolar, ambas trazem uma
proposta de ensino para a área que abrange princi-
Essas abordagens resultam da articulação de dife- palmente crianças na faixa etária até os 10-11 anos.
rentes teorias psicológicas, sociológicas e concepções
filosóficas. Todas essas correntes têm ampliado os cam- Na perspectiva construtivista, a intenção é a cons-
pos de ação e reflexão para a área, o que a aproxima trução do conhecimento a partir da interação do sujei-
das ciências humanas. Embora contenham enfoques to com o mundo, e para cada criança a construção
desse conhecimento exige elaboração, ou seja, uma
diferenciados entre si, com pontos muitas vezes diver-
ação sobre o mundo. Nesta concepção, a aquisição
gentes, têm em comum a busca de uma Educação Fí-
do conhecimento é um processo construído pelo indiví-
sica que articule as múltiplas dimensões do ser humano. duo durante toda a sua vida, não estando pronto ao
nascer nem sendo adquirido passivamente de acordo
As abordagens que tiveram maior impacto a partir com as pressões do meio. Conhecer é sempre uma a-
de meados da década de 70 são comumente denomi- ção que implica esquemas de assimilação e acomo-
nadas de psicomotora, construtivista e desenvolvimen- dação num processo de constante reorganização.
tista com enfoques da psicologia crítica, com enfoque
sociopolítico, embora outras transitem pelos meios aca- A meta da construção do conhecimento é eviden-
dêmico e profissional, como, por exemplo, a sociológi- te quando alguns autores propõem como objetivo da
ca-sistêmica e a antropológica-cultural. Educação Física respeitar o universo cultural dos alunos,
explorar a gama múltipla de possibilidades educativas
ABORDAGEM PSICOMOTORA de sua atividade lúdica e, gradativamente, propor tare-
fas cada vez mais complexas e desafiadoras com vista
A psicomotricidade é o primeiro movimento mais ar- à construção do conhecimento.
ticulado que aparece a partir da década de 70 em
contraposição aos modelos anteriores. Nele, o envolvi- A proposta teve o mérito de levantar a questão da
mento da Educação Física é com o desenvolvimento importância de se considerar o conhecimento que a
da criança, com o ato de aprender, com os processos criança já possui na Educação Física escolar, incluindo
cognitivos, afetivos e psicomotores, ou seja, buscando os conhecimentos prévios dos alunos no processo de
garantir a formação integral do aluno. A Educação Físi- ensino e aprendizagem. Essa perspectiva também pro-
ca é, assim, apenas um meio para ensinar Matemática, curou alertar os professores sobre a importância da par-
Língua Portuguesa, sociabilização... Para este modelo, a ticipação ativa dos alunos na solução de problemas.
Educação Física não tem um conteúdo próprio, mas é
ABORDAGEM DESENVOLVIMENTISTA
um conjunto de meios para a reabilitação, readapta-
ção e integração, substituindo o conteúdo que até en- A abordagem desenvolvimentista é dirigida especi-
tão era predominantemente esportivo, o qual valoriza- ficamente para a faixa etária até 14 anos e busca nos
va a aquisição do esquema motor, lateralidade, cons- processos de aprendizagem e desenvolvimento uma
ciência corporal e coordenação viso-motora. fundamentação para a Educação Física escolar. É uma
tentativa de caracterizar a progressão normal do cres-
Este discurso penetrou no contexto escolar, tendo cimento físico, do desenvolvimento motor e da aprendi-
sido aceito pelos diferentes segmentos que o com- zagem motora em relação à faixa etária e, em função
põem, como diretores, coordenadores e professores. O dessas características, sugerir aspectos ou elementos
discurso e a prática da Educação Física sob a influência relevantes à estruturação de um programa para a Edu-
da psicomotricidade conduzem à necessidade de o cação Física na escola.
professor de Educação Física sentir-se um professor com
responsabilidades escolares e pedagógicas. Buscam A abordagem defende a ideia de que o movimen-
desatrelar sua atuação na escola dos pressupostos da to é o principal meio e fim da Educação Física, propug-
instituição desportiva, valorizando o processo de aprendi- nando a especificidade do seu objeto. Sua função não
zagem e não mais a execução de um gesto técnico iso- é desenvolver capacidades que auxiliem a alfabetiza-
lado. ção e o pensamento lógico-matemático, embora tal
possa ocorrer como um subproduto da prática motora.

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Em suma, uma aula de Educação Física deve privilegiar tórico. Busca possibilitar a compreensão, por parte do
a aprendizagem do movimento, conquanto possam es- aluno, de que a produção cultural da humanidade ex-
tar ocorrendo outras aprendizagens, de ordem afetivo- pressa uma determinada fase e que houve mudanças
social e cognitiva, em decorrência da prática das habi- ao longo do tempo. Essa reflexão pedagógica é com-
lidades motoras. preendida como sendo um projeto político-pedagógico.
Político porque encaminha propostas de intervenção
Grande parte do modelo conceitual desta abor- em determinada direção, e pedagógico porque pro-
dagem relaciona-se com o conceito de habilidade mo- põe uma reflexão sobre a ação dos homens na reali-
tora, pois é por meio dela que os seres humanos se a- dade, explicitando suas determinações.
daptam aos problemas do cotidiano. Como as habili-
dades mudam ao longo da vida do indivíduo, desde a Quanto à seleção de conteúdos para as aulas de
concepção até a morte, constituíram-se numa área de Educação Física, sugere que se considere a sua rele-
conhecimento da Educação Física — o Desenvolvimen- vância social, sua contemporaneidade e sua adequa-
to Motor. Ao mesmo tempo, estruturou-se também uma ção às características sociocognitivas dos alunos. Em
outra área em torno da questão de como os seres hu- relação à organização do currículo, ressalta que é pre-
manos aprendem as habilidades motoras — a Aprendi- ciso fazer o aluno confrontar os conhecimentos do sen-
zagem Motora. so comum com o conhecimento científico,para ampliar
o seu acervo.
Para a abordagem desenvolvimentista, a Educa-
ção Física deve proporcionar ao aluno condições para Além disso, sugere que os conteúdos selecionados
que seu comportamento motor seja desenvolvido pela para as aulas de Educação Física devem propiciar uma
interação entre o aumento da diversificação e a com- melhor leitura da realidade pelos alunos e possibilitar,
plexidade dos movimentos. Assim, o principal objetivo assim, sua inserção transformadora nessa realidade.
da Educação Física é oferecer experiências de movi-
mento adequadas ao seu nível de crescimento e de- A Educação Física é entendida como uma área
senvolvimento, a fim de que a aprendizagem das habi- que trata de um tipo de conhecimento, denominado
lidades motoras seja alcançada. A criança deve a- cultura corporal de movimento, que tem como temas o
prender a se movimentar para adaptar-se às deman- jogo, a ginástica, o esporte, a dança, a capoeira e ou-
das e às exigências do cotidiano, ou seja, corresponder tras temáticas que apresentarem relações com os prin-
aos desafios motores. cipais problemas dessa cultura corporal de movimento
e o contexto histórico-social dos alunos.
A partir dessa perspectiva passou a ser extrema-
mente difundida a questão da adequação dos conte- Em resumo, a introdução das abordagens psicomo-
údos ao longo das faixas etárias. A exemplo do domínio tora, construtivista, desenvolvimentista, e críticas no es-
cognitivo, foi proposta uma taxionomia para o desen- paço do debate da Educação Física proporcionou
volvimento motor, ou seja, uma classificação hierárqui- uma ampliação da visão da área, tanto no que diz res-
ca dos movimentos dos seres humanos. peito à natureza de seus conteúdos quanto no que re-
fere aos seus pressupostos pedagógicos de ensino e a-
ABORDAGENS CRÍTICAS prendizagem. Reavaliaram-se e enfatizaram-se as di-
mensões psicológicas, sociais, cognitivas, afetivas e polí-
Com apoio nas discussões que vinham ocorrendo ticas, concebendo o aluno como ser humano integral.
nas áreas educacionais e na tentativa de romper com Além disso, foram englobados objetivos educacionais
o modelo hegemônico do esporte praticado nas aulas mais amplos, não apenas voltados para a formação de
de Educação Física, a partir da década de 80 são ela- físico que pudesse sustentar a atividade intelectual, e
borados os primeiros pressupostos teóricos num referen- conteúdos mais diversificados, não só restritos a exercí-
cial crítico, com fundamento no materialismo histórico e cios ginásticos e esportes.
dialético.
QUADRO ATUAL
As abordagens críticas passaram a questionar o ca-
ráter alienante da Educação Física na escola, propon- Na atualidade, as quatro grandes tendências apon-
do um modelo de superação das contradições e injus- tadas têm se desdobrado em novas propostas peda-
tiças sociais. Assim, uma Educação Física crítica estaria gógicas, em função do avanço da pesquisa e da refle-
atrelada às transformações sociais, econômicas e polí- xão teórica específicas da área e da educação escolar
ticas, tendo em vista a superação das desigualdades de forma geral, e da sistematização decorrente da re-
sociais. 1 flexão sobre a prática pedagógica concreta de escolas
e professores, que, muitas vezes dentro de situações
Esta abordagem levanta questões de poder, inte- desfavoráveis, seguem inovando. Ao mesmo tempo,
resse e contestação. Acredita que qualquer considera- infelizmente, encontra-se ainda, em muitos contextos, a
ção sobre a pedagogia mais apropriada deve versar prática de propostas de ensino pautadas em concep-
não somente sobre como se ensinam e como se apren- ções ultrapassadas, que não suprem as necessidades e
dem esses conhecimentos, mas também sobre as suas as possibilidades da educação contemporânea.
implicações valorativas e ideológicas, valorizando a
questão da contextualização dos fatos e do resgate his- Nesse contexto, instala-se um novo ordenamento
legal na proposição da atual Lei de Diretrizes e Bases,
1 que orienta para a integração da Educação Física na
É importante ressaltar que mesmo dentro da Educação Física surgiram
alguns desdobramentos da abordagem crítica, com posições nem sempre proposta pedagógica da escola. Ao delegar autono-
convergentes, mas que não serão discutidas neste texto. mia para a construção de uma proposta pedagógica

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integrada, a nova lei responsabiliza a própria escola e o 2. Pedagogia Nova (Escolanovismo): Educação co-
professor pela adaptação da ação educativa escolar mo corretora da marginalização; ajusta e a-
às diferentes realidades e demandas sociais. dapta os indivíduos à sociedade. Sob inspira-
ção biológica e psicológica, propunha ser
É importante ressaltar que essa autonomia deve fundamental “aprender a aprender”.
pressupor a valorização do professor e da instituição es-
colar, criando condições concretas e objetivas para o Houve deslocamento dos “eixos” do processo
exercício produtivo dessa responsabilidade, pois a pos- educativo:
sibilidade de construção deve gerar um avanço em di- f Do intelecto para o sentimento.
reção ao exercício pleno da cidadania, garantindo a f Do lógico para o psicólogo.
todos os alunos o acesso aos conhecimentos da cultura
f Do conteúdo para o método.
corporal de movimento. Por outro lado, interesses políti-
cos e econômicos escusos podem, a partir de uma in- f Do esforço para o interesse.
terpretação distorcida da lei, legitimar a descaracteri- f Da disciplina para a espontaneidade.
zação da Educação Física escolar, tornando-a mera f Da quantidade para a qualidade.
área técnica ou recreativa, desprovida de função no
processo educativo pleno. Papel do Professor: Estimulador do processo.

É fundamental, portanto, que a escola, a comuni-


Consequências:
dade de pais e alunos e principalmente o professor va- f Afrouxamento da questão disciplinar
lorizem-se e sejam valorizados, assumindo a responsabi- com oferecimento de ensino de baixa
lidade da integração desta área de conhecimento qualidade para as camadas popula-
humano ao projeto pedagógico de cada escola, exi- res; aprimoramento da qualidade do
gindo plenas condições para o exercício de seu traba- ensino destinado às elites.
lho, garantindo para o aluno a manutenção de número f Agravod o problema da marginalida-
adequado de aulas e de condições efetivas para a a- de.
prendizagem.
f Difundi o técnico-pedagógico como
Os Parâmetros Curriculares Nacionais se propõem a fundamental.
contribuir nessa construção, fornecendo subsídios para f Reforça a ideia: é melhor uma escola
a discussão e concretização da proposta curricular de para poucos que uma escola diferen-
cada escola. te para muitos.

PRINCIPAIS CORRENTES DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 3 Pedagogia Tecnicista: Tomou como modelo a


relação empresarial: organização, divisão do
A − Teorias não-críticas: trabalho, mecanização do processo e opera-
1. Pedagogia tradicional; cionalização de objetivos. Introduziu as técni-
cas e os instrumental técnico, dando primazia
2. Pedagogia nova;
ao processo. Marginal: é o incompetente, ine-
3. Pedagogia tecnicista. ficiente e improdutivo.
Característica Geral: Papel do Professor: É o processo que define o
Visão da educação como instrumento de equaliza- que os professores e os alunos farão, e ainda
ção social, portanto, de superação da marginalida- como e quando. Não há independência na
de. A sociedade é concebida como essencialmente relação ensino-aprendizagem, o professor é
harmônica, tendendo a integração de seus mem- mero reprodutor do que está contido nos ma-
bros. Marginalidade: distorção acidental que deve nuais. A questão é aprender a fazer, sendo o
ser corrigida através da educação, tendo esta, por- controle feito através de formulários a serem
tanto, ampla margem de autonomia em face da preenchidos.
sociedade. Essas teorias são denominadas “não-
críticas” porque desconhecem as determinantes so- Consequências: Conteúdos rarefeitos e irrele-
ciais do fenômeno educativo. vante ampliação de vaga em face aos índi-
ces de evasão e repetência.
Representantes:
1. Pedagogia Tradicional: Inspiradas no ideário da B − As teorias “crítico-reprodutivistas”:
Revolução Francesa “Educação como direito 1. Teoria do ensino enquanto violência simbólica;
de todos”, tinham o objetivo de consolidar a 2. Teoria da escola enquanto aparelho ideológico
democracia, transformar súditos em cidadãos, de Estado (A .I.E.);
como antídoto à ignorância.
3. Teoria da escola dualista.
Papel do Professor: Escola centrada no profes-
sor, necessitando que este seja eficiente, vi- Característica Geral:
sando a transmissão de conhecimentos. Visão da educação como instrumento de discrimi-
nação social logo fator de marginalização. Visão da
Consequências: Não foi bem sucedida, pois sociedade dividida em classes antagônicas, e da
não conseguiu universalizar o conhecimento e marginalidade como fenômeno inerente a própria
nem todos aqueles que foram bem sucedidos estrutura da sociedade. A Educação seria inteira-
conseguiram se ajustar na sociedade. mente dependente da estrutura social, geradora da

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marginalidade, com função de reforçar e legitimar a C − Teoria crítica-social dos conteúdos:
marginalização. postulam não ser possível compre- 1. Pedagogia revolucionária.
ender a educação senão a partir de seus condicio-
namentos sociais. Explicam o fracasso de todas as Característica Geral:
propostas anteriormente citadas porque o papel da
A escola como instrumento capaz de contribuir para
escola era (é) reproduzir a sociedade de classes e
o problema de marginalização deverá ser formula-
reforçar o modo de produção capitalista (Bourdieu
da do ponto de vista dos interesses do dominado.
e Passeron).
Precisará superar tanto o poder ilusório (próprio das
1. Teoria do sistema de ensino enquanto violência teorias não críticas) quanto à impotência (própria
simbólica: A função da educação é a de re- das teorias crítico-reprodutivista). Colocará nas
produção das classes sociais; pela reprodu- mãos dos educadores uma arma de luta capaz de
ção cultural ela contribui para a reprodução permitir o exercício de poder real, ainda que limpo.
social. Através da reprodução são dissimula- O papel da teoria crítica é dar substância concreta
das as relações de força existentes (ocorre a essa bandeira de luta de modo a evitar que ela
também através de jornais, igrejas, moda, seja apropriada e articulada com os interesses das
propagandas, diferentes formas de educação classes dominantes.
familiar, etc.). Pedagogia Revolucionária: situa-se para além das pe-
Marginalizados: são os grupos, as classes do- dagogias da essência; e da existência; supera-se,
minadas, socialmente, porque não possuem incorporando suas críticas recíprocas numa propos-
ta radicalmente nova. É crítica, e assim, sabe-se
força simbólica. São os grupos dominados so-
condicionada, ainda que elemento determinado,
cialmente porque não possuem força materi-
não deixa de influenciar o determinante, ainda que
al; culturalmente porque não possuem força secundário, não deixa de ser importante e por vezes
simbólica. decisivo no processo de transformação da socieda-
2. Teoria da Escola enquanto Aparelho Ideológico do de.
Estado (A.I.E.): O A .I. E. escolar contribui um Centra-se na igualdade essencial entre os homens,
mecanismo construído pela burguesia para em termos reais e não apenas formais: transforma-
garantir e perpetuar seus interesses. Segundo ção dos conteúdos formais, fixos abstratos em con-
Althusser existe a luta de classes mesmo no A teúdos reais, dinâmicos e completos; considera-se
.I. E. escolar, embora seja praticamente diluí- difusão de conteúdos sérios e atualizados – uma das
da. A escola se constitui no instrumento mais tarefas primordiais do processo educativo em geral
e da escola em particular.
“acabado” de reprodução das relações de
produção tipo capitalista. Em breve discutiremos mais sobre outros assuntos.
Bons Estudos!
Marginalizados: classe trabalhadora (proletá-
rios do campo e da cidade). Bibliografia de Referência:
3. Teoria da Escola Dualista: Proposta por Baudelot PLANCHARD, Émile. A pedagogia contemporânea, Coimbra Editora: Co-
imbra, 1975.
e Establete, diz que: “a escola, em pese a a-
SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. São Paulo: Cortez, 1983.
parência humanitária e unificadora, é dividida
GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. São Paulo: Ática,
em duas grandes redes, as quais correspon- 1988.
dem a divisão da sociedade capitalista com
suas duas classes fundamentais: burguesia e TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS BRASILEIRAS
os trabalhadores assalariados.
Marginalizados: Qualifica o trabalho intelectu-
al e desqualifica o manual, logo os que reali-
zam tarefas manuais (braçais) são marginali-
zados.
Escola: reforça e legitima a marginalização, impe-
dindo o desenvolvimento da ideologia do proleta-
riado (pois contribui para a formação da força de
trabalho e vinculação da ideologia burguesa) e
da luta revolucionária; sendo assim, age dupla-
mente como fator de marginalização.
O professor não deve usar apenas uma tendência pedagógica isoladamente, mas se a-
propriar de todas para saber qual será a mais eficaz de acordo com cada situação e
Consequências e teorias: colocaram em evidência o para uma melhor qualidade de atuação.

comprometimento da educação com os interes-


As tendências pedagógicas brasileiras foram muito
ses dominantes e disseminaram entre os educado-
influenciadas pelo momento cultural e político da socie-
res desânimo e educação com os interesses do-
dade, pois foram levadas à luz graças aos movimentos
minantes e disseminaram entre os educadores de- sociais e filosóficos. Essas formaram a prática pedagógi-
sânimo e pessimismo. ca do país.

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Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) pro- No ensino tradicional, o ensino é centralizado no
põem a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mos- professor e os alunos são receptores.
trando que as principais tendências pedagógicas usadas
na educação brasileira se dividem em duas grandes li- 1.1) Tradicional − Foi a primeira a ser instituída
nhas de pensamento pedagógico. Elas são: Tendências no Brasil por motivos históricos. Nesta ten-
Liberais e Tendências Progressistas. dência o professor é a figura central e o
aluno é um receptor passivo dos conhe-
cimentos considerados como verdades
absolutas. Há repetição de exercícios com
exigência de memorização.
1.2) Renovadora Progressiva − Por razões de re-
composição da hegemonia da burguesia,
esta foi a próxima tendência a aparecer
no cenário da educação brasileira. Ca-
racteriza-se por centralizar no aluno, con-
siderado como ser ativo e curioso. Dispõe
da ideia que ele “só irá aprender fazen-
do”, valorizam-se as tentativas experimen-
tais, a pesquisa, a descoberta, o estudo
do meio natural e social. Aprender se tor-
na uma atividade de descoberta, é uma
autoaprendizagem. O professor é um faci-
litador.
1.3) Renovadora não diretiva (Escola Nova) − Anísio
Teixeira foi o grande pioneiro da Escola
Nova no Brasil.É um método centrado no
aluno. A escola tem o papel de formado-
ra de atitudes, preocupando-se mais com
a parte psicológica do que com a social
ou pedagógica. E para aprender tem que
Os professores devem estudar e se apropriar dessas estar significativamente ligado com suas
tendências, que servem de apoio para a sua prática percepções, modificando-as.
pedagógica. Não se deve usar uma delas de forma iso-
lada em toda a sua docência. Mas, deve-se procurar 1.4) Tecnicista – Skinner foi o expoente principal
analisar cada uma e ver a que melhor convém ao seu
dessa corrente psicológica, também co-
desempenho acadêmico, com maior eficiência e quali-
nhecida como behaviorista. Neste méto-
dade de atuação. De acordo com cada nova situação
do de ensino o aluno é visto como deposi-
que surge, usa-se a tendência mais adequada. E obser-
tário passivo dos conhecimentos, que de-
va-se que hoje, na prática docente, há uma mistura des-
vem ser acumulados na mente através de
sas tendências.
associações. O professor é quem deposita
os conhecimentos, pois ele é visto como
Deste modo, seguem as explicações das caracterís-
um especialista na aplicação de manuais;
ticas de cada uma dessas formas de ensino. Porém, ao
sendo sua prática extremamente contro-
analisá-las, deve-se ter em mente que uma tendência
lada. Articula-se diretamente com o siste-
não substitui totalmente a anterior, mas ambas convive-
ma produtivo, com o objetivo de aperfei-
ram e convivem com a prática escolar.
çoar a ordem social vigente, que é o ca-
pitalismo, formando mão de obra espe-
1) Tendências Liberais − Liberal não tem a ver com cializada para o mercado de trabalho.
algo aberto ou democrático, mas com uma ins-
tigação da sociedade capitalista ou sociedade 2) Tendências Progressistas − Partem de uma análise
de classes, que sustenta a ideia de que o aluno
crítica das realidades sociais, sustentam implici-
deve ser preparado para papéis sociais de a-
tamente as finalidades sociopolíticas da educa-
cordo com as suas aptidões, aprendendo a vi-
ver em harmonia com as normas desse tipo de ção e é uma tendência que condiz com as i-
sociedade, tendo uma cultura individual. deias implantadas pelo capitalismo. O desen-
volvimento e popularização da análise marxista
da sociedade possibilitou o desenvolvimento da
tendência progressista, que se ramifica em três
correntes:

2.1) Libertadora − Também conhecida como a


pedagogia de Paulo Freire, essa tendên-
cia vincula a educação à luta e organi-
zação de classe do oprimido. Onde, para
esse, o saber mais importante é a de que
ele é oprimido, ou seja, ter uma consciên-

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cia da realidade em que vive. Além da presente estudo, tendo em vista que o modo como os
busca pela transformação social, a con- professores realizam o seu trabalho na escola tem a ver
dição de se libertar através da elabora- com esses pressupostos teóricos, explícita ou implicita-
ção da consciência crítica passo a passo mente.
com sua organização de classe. Centrali-
za-se na discussão de temas sociais e polí- Embora se reconheçam as dificuldades do estabe-
ticos; o professor coordena atividades e lecimento de uma síntese dessas diferentes tendências
atua juntamente com os alunos. pedagógicas, cujas influências se refletem no ecletismo
do ensino atual, emprega-se, neste estudo, a teoria de
2.2) Libertária – Procura a transformação da José Carlos Libâneo, que as classifica em dois grupos:
personalidade num sentido libertário e au-
“liberais” e “progressistas”. No primeiro grupo, estão incluí-
togestionário. Parte do pressuposto de
das a tendência “tradicional”, a “renovada progressivis-
que somente o vivido pelo educando é
ta”, a “renovada não-diretiva” e a “tecnicista”. No segun-
incorporado e utilizado em situações no-
do, a tendência “libertadora”, a “libertária” e a “crítico-
vas, por isso o saber sistematizado só terá
social dos conteúdos”.
relevância se for possível seu uso prático.
Enfoca a livre expressão, o contexto cultu-
Justifica-se, também, este trabalho pelo fato de que
ral, a educação estética. Os conteúdos,
novos avanços no campo da Psicologia da Aprendiza-
apesar de disponibilizados, não são exigi-
gem, bem como a revalorização das ideias de psicólo-
dos pelos alunos e o professor é tido como
gos interacionistas, como Piaget, Vygotsky e Wallon, e a
um conselheiro à disposição do aluno.
autonomia da escola na construção de sua Proposta
2.3) "Crítico-social dos conteúdos” ou "Histórico- Pedagógica, a partir da LDB 9.394/96, exigem uma atua-
Crítica" − Tendência que apareceu no Bra- lização constante do professor. Através do conhecimen-
sil nos fins dos anos 70, acentua a priori- to dessas tendências pedagógicas e dos seus pressupos-
dade de focar os conteúdos no seu con- tos de aprendizagem, o professor terá condições de a-
fronto com as realidades sociais, é neces- valiar os fundamentos teóricos empregados na sua prá-
sário enfatizar o conhecimento histórico. tica em sala de aula.
Prepara o aluno para o mundo adulto,
com participação organizada e ativa na No aspecto teórico-prático, ou seja, nas manifesta-
democratização da sociedade; por meio ções na prática escolar das diversas tendências educa-
da aquisição de conteúdos e da sociali- cionais, será dado ênfase ao ensino da Língua Portugue-
zação. É o mediador entre conteúdos e sa, considerando-se as diferentes concepções de lin-
alunos. O ensino/aprendizagem tem co- guagem que perpassam esses períodos do pensamento
mo centro o aluno. Os conhecimentos são pedagógico brasileiro.
construídos pela experiência pessoal e
subjetiva. 2. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS

Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sus-
Nacional (LDB 9.394/96), ideias como de Piaget, tenta a ideia de que a escola tem por função preparar
Vygotsky e Wallon foram muito difundidas, tendo os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de
uma perspectiva sócio-histórica e são interacio- acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que
nistas, isto é, acreditam que o conhecimento se o indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vi-
dá pela interação entre o sujeito e um objeto. gentes na sociedade de classe, através do desenvolvi-
mento da cultura individual. Devido a essa ênfase no
Por Jennifer Fogaça aspecto cultural, as diferenças entre as classes sociais
Graduada em Química
Equipe Brasil Escola.
não são consideradas, pois, embora a escola passe a
difundir a ideia de igualdade de oportunidades, não le-
va em conta a desigualdade de condições.
AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA
ESCOLAR BRASILEIRA E SEUS PRESSUPOSTOS DE APREN- 2.1. TENDÊNCIA LIBERAL TRADICIONAL
DIZAGEM
Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal
Delcio Barros da Silva tradicional se caracteriza por acentuar o ensino huma-
nístico, de cultura geral. De acordo com essa escola
1. INTRODUÇÃO
tradicional, o aluno é educado para atingir sua plena
realização através de seu próprio esforço. Sendo assim,
O objetivo deste artigo é verificar os pressupostos de
as diferenças de classe social não são consideradas e
aprendizagem empregados pelas diferentes tendências
pedagógicas na prática escolar brasileira, numa tentati- toda a prática escolar não tem nenhuma relação com
va de contribuir, teoricamente, para a formação conti- o cotidiano do aluno.
nuada de professores.
Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condi- de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos
cionantes de ordem sociopolítica que implicam diferen- para o espírito da criança é acompanhada de outra: a
tes concepções de homem e de sociedade e, conse- de que a capacidade de assimilação da criança é i-
qüentemente, diferentes pressupostos sobre o papel da dêntica à do adulto, sem levar em conta as característi-
escola e da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o cas próprias de cada idade. A criança é vista, assim,

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como um adulto em miniatura, apenas menos desenvol- Aprender é modificar suas próprias percepções. A-
vida. penas se aprende o que estiver significativamente rela-
cionado com essas percepções. A retenção se dá pela
No ensino da língua portuguesa, parte-se da con- relevância do aprendido em relação ao “eu”, o que torna
cepção que considera a linguagem como expressão do a avaliação escolar sem sentido, privilegiando-se a au-
pensamento. Os seguidores dessa corrente lingüística, to-avaliação. Trata-se de um ensino centrado no aluno,
em razão disso, preocupam-se com a organização lógi- sendo o professor apenas um facilitador. No ensino da
ca do pensamento, o que presume a necessidade de língua, tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as
regras do bem falar e do bem escrever. Segundo essa ideias da escola renovada não-diretiva, embora muito
concepção de linguagem, a Gramática Tradicional ou difundidas, encontraram, também, uma barreira na prá-
Normativa se constitui no núcleo dessa visão do ensino tica da tendência liberal tradicional.
da língua, pois vê nessa gramática uma perspectiva de
normatização lingüística, tomando como modelo de 2.4. TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA
norma culta as obras dos nossos grandes escritores clás-
sicos. Portanto, saber gramática, teoria gramatical, é a A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento
garantia de se chegar ao domínio da língua oral ou es- da ordem social vigente (o sistema capitalista), articu-
crita. lando-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto,
emprega a ciência da mudança de comportamento,
Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o en-
ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse prin-
sino da gramática pela gramática, com ênfase nos e-
cipal é, portanto, produzir indivíduos “competentes” pa-
xercícios repetitivos e de recapitulação da matéria, exi-
gindo uma atitude receptiva e mecânica do aluno. Os ra o mercado de trabalho, não se preocupando com as
conteúdos são organizados pelo professor, numa se- mudanças sociais.
qüência lógica, e a avaliação é realizada através de
provas escritas e exercícios de casa. Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, basea-
da na teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como
2.2. TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSIVISTA depositário passivo dos conhecimentos, que devem ser
acumulados na mente através de associações. Skinner
Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a foi o expoente principal dessa corrente psicológica,
tendência liberal renovada (ou pragmatista) acentua o também conhecida como behaviorista. Segundo RICH-
sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões TER (2000), a visão behaviorista acredita que adquirimos
individuais. uma língua por meio de imitação e formação de hábi-
tos, por isso a ênfase na repetição, nos drills, na instrução
A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno programada, para que o aluno for me “hábitos” do uso
para assumir seu papel na sociedade, adaptando as correto da linguagem.
necessidades do educando ao meio social, por isso ela
deve imitar a vida. Se, na tendência liberal tradicional, a A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71,
atividade pedagógica estava centrada no professor, na que implantou a escola tecnicista no Brasil, prepondera-
escola renovada progressivista, defende-se a ideia de ram as influências do estruturalismo lingüístico e a con-
“aprender fazendo”, portanto centrada no aluno, valori- cepção de linguagem como instrumento de comunica-
zando as tentativas experimentais, a pesquisa, a desco- ção. A língua – como diz TRAVAGLIA (1998) – é vista co-
berta, o estudo do meio natural e social, etc, levando mo um código, ou seja, um conjunto de signos que se
em conta os interesses do aluno. combinam segundo regras e que é capaz de transmitir
uma mensagem, informações de um emissor a um re-
Como pressupostos de aprendizagem, aprender se ceptor. Portanto, para os estruturalistas, saber a língua é,
torna uma atividade de descoberta, é uma auto- sobretudo, dominar o código.
aprendizagem, sendo o ambiente apenas um meio es-
timulador. Só é retido aquilo que se incorpora à ativida- No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa con-
de do aluno, através da descoberta pessoal; o que é in- cepção de linguagem, o trabalho com as estruturas lin-
corporado passa a compor a estrutura cognitiva para güísticas, separadas do homem no seu contexto social,
ser empregado em novas situações. É a tomada de é visto como possibilidade de desenvolver a expressão
consciência, segundo Piaget. oral e escrita. A tendência tecnicista é, de certa forma,
uma modernização da escola tradicional e, apesar das
No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não contribuições teóricas do estruturalismo, não conseguiu
superar os equívocos apresentados pelo ensino da lín-
trouxeram maiores consequencias, pois esbarraram na
gua centrado na gramática normativa. Em parte, esses
prática da tendência liberal tradicional.
problemas ocorreram devido às dificuldades de o pro-
fessor assimilar as novas teorias sobre o ensino da língua
2.3. TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA NÃO DIRETIVA materna.

Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na 3. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS


formação de atitudes, razão pela qual deve estar mais
preocupada com os problemas psicológicos do que Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa
com os pedagógicos ou sociais. Todo o esforço deve vi- as tendências que, partindo de uma análise crítica das
sar a uma mudança dentro do indivíduo, ou seja, a uma realidades sociais, sustentam implicitamente as finalida-
adequação pessoal às solicitações do ambiente. des sociopolíticas da educação.

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3.1. TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental,
por meio da aquisição de conteúdos e da socialização,
As tendências progressistas libertadora e libertária para uma participação organizada e ativa na democra-
têm, em comum, a defesa da autogestão pedagógica tização da sociedade.
e o antiautoritarismo. A escola libertadora, também co-
nhecida como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o
educação à luta e organização de classe do oprimido. princípio da aprendizagem significativa, partindo do que
Segundo GADOTTI (1988), Paulo Freire não considera o o aluno já sabe. A transferência da aprendizagem só se
papel informativo, o ato de conhecimento na relação realiza no momento da síntese, isto é, quando o aluno
educativa, mas insiste que o conhecimento não é sufici- supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão
ente se, ao lado e junto deste, não se elabora uma nova mais clara e unificadora.
teoria do conhecimento e se os oprimidos não podem
adquirir uma nova estrutura do conhecimento que lhes 4. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PÓS-LDB 9.394/96
permita reelaborar e reordenar seus próprios conheci-
mentos e apropriar-se de outros. Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
nal de n.º 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget,
Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de clas- Vygotsky e Wallon. Um dos pontos em comum entre es-
ses, o saber mais importante para o oprimido é a desco- ses psicólogos é o fato de serem interacionistas, porque
berta da sua situação de oprimido, a condição para se concebem o conhecimento como resultado da ação
libertar da exploração política e econômica, através da que se passa entre o sujeito e um objeto. De acordo
elaboração da consciência crítica passo a passo com com ARANHA (1998), o conhecimento não está, então,
sua organização de classe. Por isso, a pedagogia liber- no sujeito, como queriam os inatistas, nem no objeto,
tadora ultrapassa os limites da pedagogia, situando-se como diziam os empiristas, mas resulta da interação en-
também no campo da economia, da política e das ci- tre ambos.
ências sociais, conforme Gadotti.
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo
Como pressuposto de aprendizagem, a força moti- essa perspectiva interacionista, a leitura como processo
vadora deve decorrer da codificação de uma situação- permite a possibilidade de negociação de sentidos em
problema que será analisada criticamente, envolvendo sala de aula. O processo de leitura, portanto, não é cen-
o exercício da abstração, pelo qual se procura alcan- trado no texto, ascendente, bottom-up, como queriam
çar, por meio de representações da realidade concreta, os empiristas, nem no receptor, descendente, top-down,
a razão de ser dos fatos. Assim, como afirma Libâneo, segundo os inatistas, mas ascendente/descendente, ou
aprender é um ato de conhecimento da realidade con- seja, a partir de uma negociação de sentido entre e-
creta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só nunciador e receptor. Assim, nessa abordagem intera-
tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa cionista, o receptor é retirado da sua condição de mero
realidade. Portanto o conhecimento que o educando objeto do sentido do texto, de alguém que estava ali
transfere representa uma resposta à situação de opres- para decifrá-lo, decodificá-lo, como ocorria, tradicio-
são a que se chega pelo processo de compreensão, re- nalmente, no ensino da leitura.
flexão e crítica.
As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao
No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista, encontro da concepção que considera a linguagem
sintetiza sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto cari- como forma de atuação sobre o homem e o mundo e
nhosamente. De modo geral, simbolicamente, eu puxo das modernas teorias sobre os estudos do texto, como a
uma cadeira e convido o autor, não importa qual, a tra- Lingüística Textual, a Análise do Discurso, a Semântica
var um diálogo comigo”. Argumentativa e a Pragmática, entre outros.

3.2. TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola progressista libertária parte do pressuposto De acordo com esse quadro teórico de José Carlos
de que somente o vivido pelo educando é incorporado Libâneo, deduz-se que as tendências pedagógicas libe-
e utilizado em situações novas, por isso o saber sistemati- rais, ou seja, a tradicional, a renovada e a tecnicista, por
zado só terá relevância se for possível seu uso prático. A se declararem neutras, nunca assumiram compromisso
ênfase na aprendizagem informal, via grupo, e a nega- com as transformações da sociedade, embora, na prá-
ção de toda forma de repressão, visam a favorecer o tica, procurassem legitimar a ordem econômica e social
desenvolvimento de pessoas mais livres. No ensino da do sistema capitalista. No ensino da língua, predomina-
língua, procura valorizar o texto produzido pelo aluno, ram os métodos de base ora empirista, ora inatista, com
além da negociação de sentidos na leitura. ensino da gramática tradicional, ou sob algumas as in-
fluências teóricas do estruturalismo e do gerativismo, a
3.3. TENDÊNCIA PROGRESSISTA CRÍTICO-SOCIAL DOS partir da Lei 5.692/71, da Reforma do Ensino.
CONTEÚDOS
Já as tendências pedagógicas progressistas, em o-
Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico- posição às liberais, têm em comum a análise crítica do
social dos conteúdos, diferentemente da libertadora e sistema capitalista. De base empirista (Paulo Freire se
libertária, acentua a primazia dos conteúdos no seu con- proclamava um deles) e marxista (com as ideias de
fronto com as realidades sociais. A atuação da escola Gramsci), essas tendências, no ensino da língua, valori-
consiste na preparação do aluno para o mundo adulto zam o texto produzido pelo aluno, a partir do seu co-

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nhecimento de mundo, assim como a possibilidade de BIBLIOGRAFIA
negociação de sentido na leitura. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Edito-
ra Moderna, 1998.
COSTA, Marisa Vorraber et al. O Currículo nos Limiares do Contemporâ-
A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as difu-
neo. Rio de Janeiro: DP&A editora, 1999.
são das ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa pers- GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. São Paulo: Ática,
pectiva sócio-histórica, essas teorias buscam uma apro- 1988.
ximação com modernas correntes do ensino da língua LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. São Paulo :
que consideram a linguagem como forma de atuação Loyola, 1990.

sobre o homem e o mundo, ou seja, como processo de MATUI, Jiron. Construtivismo. São Paulo: Editora Moderna, 1998.
RICHTER, Marcos Gustavo. Ensino do Português e Interatividade. Santa
interação verbal, que constitui a sua realidade funda-
Maria: Editora da UFSM, 2000.
mental. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação. São Paulo: Cortez, 1998.

QUADRO SÍNTESE DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

Nome da Professor
Tendência Papel da Escola Conteúdos Métodos X Aprendizagem Manifestações
Pedagógica Aluno

São conhecimen- A aprendiza-


tos e valores soci- Exposição e gem é recepti- Nas escolas
Preparação inte- Autoridade do
ais acumulados demonstra- va e mecâni- que adotam
Pedagogia lectual e moral dos professor que
por meio dos tem- ção verbal da ca, sem se filosofias hu-
Liberal Tradi- alunos para assu- exige atitude
pos e repassados matéria e / ou considerar as manistas clás-
cional. mir seu papel na receptiva do
aos alunos como por meios de características sicas ou cientí-
sociedade. aluno.
verdades absolu- modelos. próprias de ficas.
tas. cada idade.

Os conteúdos são
Por meio de
estabelecidos a O professor é Montessori,
Tendência A escola deve a- experiências, É baseada na
partir das experi- auxiliador no Decroly, De-
Liberal Reno- dequar as necessi- pesquisas e motivação e
ências vividas pe- desenvolvi- wey, Piaget e
vadora Pro- dades individuais método de na estimulação
los alunos frente às mento livre da Lauro de Olivei-
gressiva. ao meio social. solução de de problemas.
situações proble- criança. ra Lima.
problemas.
mas.

Educação
Tendência centralizada no
Baseia-se na bus- Método ba- Aprender é Carl Rogers,
Liberal Reno- aluno e o pro-
Formação de ati- ca dos conheci- seado na fa- modificar as “Sumermerhill”
vadora não- fessor é quem
tudes. mentos pelos pró- cilitação da percepções da – Escola de A.
diretiva (Es- garantirá um
prios alunos. aprendizagem. realidade. Neill.
cola Nova). relacionamento
de respeito.

Relação obje-
Procedimen-
É modeladora do tiva onde o
São informações tos e técnicas
Tendência comportamento professor Aprendizagem
ordenadas numa para a trans- Leis 5.540/68 e
Liberal Tecni- humano através transmite in- baseada no
seqüência lógica missão e re- 5.692/71.
cista. de técnicas espe- formações e o desempenho.
e psicológica. cepção de
cíficas. aluno vai fixá-
informações.
las.

Não atua em esco-


las, porém visa le-
var professores e
alunos a atingir um A relação é de
Tendência Resolução da
nível de consciên- Grupos de igual para i-
Progressista Temas geradores. situação pro- Paulo Freire.
cia da realidade discussão. gual, horizon-
Libertadora blema.
em que vivem na talmente.
busca da transfor-
mação
social.

Transformação da Vivência gru- É não diretiva,


Tendência As matérias são Aprendizagem C. Freinet, Mi-
personalidade num pal na forma o professor é
Progressista colocadas mas informal, via guel Gonzales
sentido libertário e de auto- orientador e os
Libertária. não exigidas. grupo. Arroyo.
autogestionário. gestão. alunos livres.

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O método
parte de uma
Makarenko, B.
relação direta Papel do aluno
Charlot
da experiên- como partici- Baseadas nas
Tendência Conteúdos cultu- Suchodoski,
cia do aluno pador e do estruturas cog-
Progressista rais universais que Manacorda G.
Difusão dos conte- confrontada professor como nitivas já estru-
“crítico social são incorporados Snyders,
údos. Papel autô- com o saber mediador entre turadas nos
dos conteú- pela humanidade Demerval
nomo sistematizado. o saber e o a- alunos. Intera-
dos ou “histó- frente à realidade Saviani. LDB
Considerar as luno. Professor ção entre sujei-
rico-crítica” social. 9394/96. Piaget
diferentes constantemen- to e objeto.
/ Vygotsky /
concepções te atualizado.
Wallon.
de linguagem

QUESTÕES DE PROVAS DE CONCURSOS


Conceitos de Educação; Pedagogia a) a educação propõe desvendar as contradições da
sociedade para trabalhá-las realisticamente, recusando
1. [Professor-(Conhec. Gerais)-(Todas Disciplinas)-SAEB- tanto o otimismo ilusório quanto o pessimismo imobilizador.
BA/2011-UnB].(Q.17) A tarefa do educador, então, é a de b) a educação deve ser crítica em relação à compreensão
problematizar aos educandos o conteúdo que os medi- do seu papel na sociedade e preconizar a submissão do
atiza, não a de dissertar sobre ele, de dá-lo, de estendê- processo educativo a seus condicionantes.
lo, de entregá-lo, como se se tratasse de algo já feito, c) a educação tem o dever de ser otimista com relação
elaborado, acabado, terminado. Nesse ato de proble- ao seu poder de transformar a sociedade e de curá-la
matizar os educandos, o professor se encontra igualmen- de suas mazelas.
te problematizado. d) a educação deve reforçar os laços sociais, promover
a coesão social e garantir a integração de todos os indi-
Paulo Freire. Extensão ou comunicação? 2.ª ed. Rio de Janeiro:
Paz & Terra, 1975, p. 81 (com adaptações).
víduos no corpo social.

Considerando-se as informações do texto, é correto a- 3. [Professor-(Conhec. Gerais)-(Todas Disciplinas)-SAEB-


firmar, com relação aos conteúdos escolares, que cons- BA/2011-UnB].(Q.20) Adotar o trabalho como princípio
titui papel do professor educativo implica entendê-lo como

a) dar prioridade, no trabalho em sala de aula, aos conteúdos a) atividade escolar atrelada aos processos de produção
mais próximos da realidade do estudante, visto que o capitalista, consumo e cultura para dar significado aos
domínio desses conteúdos favorece a transformação conteúdos de estudo.
das condições de vida do estudante, conduzindo-o ao b) princípio ético e político de provimento da subsistência
progresso científico, social e econômico. humana e de outras esferas da vida.
b) privilegiar o acesso dos estudantes a conteúdos e va- c) técnica didática ou metodológica do processo de
lores sociais acumulados ao longo dos tempos, visto tra- aprendizagem.
tar-se de conteúdos já consagrados no âmbito educacional d) tarefa que, de forma natural, prepara crianças e jovens
em razão de sua universalidade, devendo o professor para atuarem no competitivo mercado de trabalho.
apenas preocupar-se com a utilização de técnicas didá-
ticas adequadas de transmissão de conhecimento.
4. [Prof.-(Educ. Infantil)-(NS)-(CP05)-Pref. Palhoça-SC/2011.1-
c) relacionar os conteúdos às vivências dos alunos, traduzindo
FEPESE].(Q.8) Tomando como referência estudos realiza-
a linguagem científica para uma linguagem que permita
aos estudantes a sua apropriação, de forma significativa. dos, assinale a alternativa que apresenta o conceito de
d) escolher preferencialmente os conteúdos com base interdisciplinaridade:
nas experiências vividas pelos estudantes, visto que
compete ao professor prepará-los para enfrentar os de- a) a interdisciplinaridade se caracteriza por uma soma-
safios imediatos que lhes impõe o cotidiano. tória desconexa de disciplinas em torno de uma temáti-
ca comum.
2. [Professor-(Conhec. Gerais)-(Todas Disciplinas)-SAEB- b) a interdisciplinaridade supõe a integração global,
BA/2011-UnB].(Q.18) No campo da educação, não há dentro de um sistema totalizador dos conhecimentos.
proposta pedagógica que esteja isenta de pressupostos c) a interdisciplinaridade representa uma espécie de coor-
filosóficos e políticos. A adoção de um desses pressupostos denação de todas as disciplinas do sistema de ensino
relaciona-se a determinada concepção de mundo e de num contexto mais amplo e geral, gerando uma inter-
sociedade. Identificam-se três entendimentos distintos acerca pretação mais holística dos fatos e fenômenos.
do papel da educação na sociedade: a educação d) a interdisciplinaridade exige que os conteúdos sejam
como redenção, a educação como reprodução e a apresentados por matérias independentes umas das ou-
educação como meio de transformação da sociedade. tras.
e) a interdisciplinaridade supõe um eixo integrador e se
Assinale a opção em que se identifica a concepção de trata de uma ação coordenada. na interdisciplinaridade
educação como meio de transformação da sociedade. há cooperação e diálogo entre as disciplinas.

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5. O pedagogo não possui quanto ao seu objeto de es- 9. [Professor-(Conhec. Gerais)-(Todas Disciplinas)-SAEB-
tudo um conteúdo intrinsecamente próprio, mas um BA/2011-UnB].(Q.10) A história da educação no Brasil foi
domínio próprio (a educação), e um enfoque próprio (o marcada por duas grandes correntes pedagógicas: a
educacional), que lhe assegurara seu caráter científico. liberal e a progressista. Assinale a opção correspondente
Esta afirmativa é: às tendências identificadas com a corrente pedagógica
liberal.
( ) verdadeira
( ) falsa
a) histórico-crítica, tecnicista, renovada não diretiva e
6. Como todo cientista da área sócio humana, o pedagogo libertária.
se apoia na reflexão e na prática para conhecer o seu b) tradicional, renovada progressivista, renovada não dire-
objeto de estudo e produzir algo novo na sistemática tiva e tecnicista.
mesma da Pedagogia. Tem ele como intuito primordial o c) tradicional, tecnicista, libertadora e renovada não di-
refletir acerca dos fins últimos do fenômeno educativo e retiva.
fazer a análise objetiva das condições existenciais e fun- d) renovada progressivista, tradicional, libertária e reno-
cionais desse mesmo fenômeno. Esta afirmativa é: vada não diretiva.

( ) verdadeira
10. [Professor-(Conhec. Gerais)-(Todas Disciplinas)-SAEB-
( ) falsa BA/2011-UnB].(Q.19) Em relação às tendências pedagó-
gicas, assinale a opção correta.
Abordagens e Teorias Pedagógicas
a) a pedagogia da Escola Nova, nascida e sistematiza-
7. [Professor-(Conhec. Bás. e Compl.)-(NS)-(M)-SEDU-ES- da no contexto da Revolução Francesa, de perspectiva
/2012-UnB] Em relação às ideias de Jean Piaget e Vigotsky, política, destina-se à equalização social, por meio da
julgue os itens de 1 a 3. formação de indivíduos em condições iguais, de forma
que possam lutar por seus direitos na sociedade.
1) (I.35) De acordo com a concepção de Vigotsky, o de-
b) de acordo com a pedagogia crítico-social dos con-
senvolvimento biológico é parte essencial no desenvol-
vimento cognitivo; segundo esse autor, a capacidade teúdos, o conteúdo da prática educativa deve ser a re-
adquirida da fala é mais importante que a complexida- flexão coletiva, dialogada e consciente sobre a cultura
de da ação para o alcance de determinado objetivo. cotidiana do povo, tendo como objetivo político a e-
mancipação organizada das camadas populares.
2) (I.36) Segundo Jean Piaget, o aspecto mais importan-
te para o desenvolvimento cognitivo da criança, enten- c) a pedagogia libertária tem como objetivo político
dida por ele como recipiente passivo das influências do formar as crianças e os jovens para a autogestão indivi-
meio, é sua maturação biológica e natural. dual e coletiva e, para tanto, importa uma permanente
3) (I.38) De acordo com a perspectiva sociocultural de aprendizagem da supressão da autoridade, seja no gru-
Vigotsky, a influência do meio e as experiências sociais po seja na sociedade, sendo o conteúdo que atende a
são aspectos essenciais a serem considerados no pro- esse objetivo o interesse e a decisão do grupo.
cesso de aprendizagem. d) a pedagogia libertadora tem por finalidade contribuir
para a formação da cidadania, garantindo a todos os
8. [Pedagogo-(C15)-IFB/2011-UnB] Nas décadas de vinte educandos condições de criticidade e, para tanto, con-
e de trinta do século passado, foram férteis as discussões sidera que, em determinadas condições sócio-históricas,
sobre educação e pedagogia, culminando no estabe- os conteúdos escolares são os que decorrem das ciên-
lecimento de duas vertentes: a dos liberais e a dos con- cias, podendo e devendo ser transmitidos pelo professor
servadores. Com relação a essas duas correntes do pen- e assimilados pelos alunos de forma crítica.
samento pedagógico, julgue os itens a seguir.
11. [Prof.-(Educ. Especial)-(NS)-(CP04)-Pref. Palhoça-SC/2011.1-
1) (I.55) Foram a expressão do conservadorismo e do FEPESE].(Q.9) A análise das tendências pedagógicas no
tradicionalismo as reformas na educação promovidas Brasil mostra a influência dos grandes movimentos edu-
por Lourenço Filho no Ceará em 1923, as propostas por cacionais internacionais, da mesma forma que expressa
Anísio Teixeira na Bahia em 1925 e as de Francisco Cam-
as especificidades da história política, social e cultural
pos em Minas Gerais em 1927.
de nosso país. Vários pesquisadores identificam, na tra-
2) (I.56) O movimento do escolanovismo foi fortemente dição pedagógica brasileira, a presença de grandes
influenciado pela filosofia pragmatista, amplamente di-
tendências:
vulgada entre educadores brasileiros.
3) (I.57) Os movimentos o Entusiasmo pela Educação e o a) a tradicional e a crítica dos conteúdos.
Otimismo Pedagógico não são considerados movimentos
b) a tradicional, a renovada e a cientificista.
escolanovistas.
c) a tradicional, a tecnicista e a construtivista.
4) (I.58) Os conservadores eram representados pelos ca- d) a tradicional, a renovada, a tecnicista e as marcadas
tólicos defensores da pedagogia tradicional.
centralmente por preocupações sociais e políticas.
5) (I.59) Os simpatizantes da Escola Nova propunham e) a tradicional, a construtivista e as marcadas central-
democratizar e transformar a escola por meio da própria mente por preocupações sociais e políticas.
escola.

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12. [Prof.-(Educ. Infantil)-(NS)-(CP16)-Pref. Palhoça-SC/2011.1- 16. “Não se planejar a ação, porque o planejamento é
FEPESE].(Q.27) Sobre o uso das novas tecnologias no cam- autoritário; não controlar, porque quem deve assumir é
po educacional, é correto afirmar: o grupo, maximizar os objetivos em relação aos meios, à
ação” são algumas das consequências constatadas no
a) a utilização da tecnologia no ambiente escolar exige seio da Escola, decorrentes do:
uma nova postura do professor e da escola, e a urgente
necessidade de reavaliação das formas de ensinar, do
a) democratismo.
papel do professor e do estudante.
b) os recursos tecnológicos devem servir para serem utili- b) psicologismo.
zados esporadicamente, pois é fundamental dar prefe- c) reformismo pedagógico.
rência às aulas expositivas nas quais o conteúdo curricu- d) cinismo pedagógico.
lar deve vir em primeiro lugar.
c) a incorporação das tecnologias da comunicação e 17. Surge na época do grande avanço do Sistema In-
da informação na escola favorece a aplicação de a- dústria; está, portanto, ligada à questão da automação
bordagens de ensino e estratégias pedagógicas meca- e da divisão do trabalho. Trata-se da Tendência:
nicistas.
d) o professor não precisa estar preparado para atuar
a) Nova
pedagogicamente com as novas tecnologias na escola,
pois os estudantes já a conhecem. b) Tradicional
e) a escola não é responsável pela inserção dos estu- c) Tecnicista
dantes no uso das novas tecnologias, pois historicamen- d) Progressista.
te se limita a transmitir os conteúdos escolares.
18. O educador não pode ser visto como mero executor
13. [Professor-(CC)-(NV)-(CA01)-(T1)-Pref. Teresina-SEMEC- de diretrizes advindas de centros de poder, mas como
PI/2010-FCC].(Q.21) As tendências pedagógicas críticas construtor de um projeto histórico de desenvolvimento
e progressistas, apoiadas na crença de que é possível de um povo. As ideias contidas nesse trecho baseiam-se
reverter a dominação ideológica e a opressão política na Tendência Pedagógica
da ditadura do capital, bem como na tese de que a es-
cola, se não pode tudo, pode, no entanto, muito, atri- a) Crítico-Social dos conteúdos
buem à educação o papel de b) Renovada Não-Diretiva
c) Tecnicista
a) treinar mão de obra sob a lógica da produção em
massa e padronizada. d) Nova
b) transmitir o produto final do saber científico e univer-
sal. 19. Numere a 2ª coluna de acordo com a 1ª, relacio-
c) contribuir para a formação da personalidade e para nando a Tendência Pedagógica à forma como os con-
a realização pessoal. teúdos de ensino são tratados:
d) contribuir para o processo de transformação social.
e) preparar o aluno para assumir sua posição na socie- 1 - Liberal Tradicional
dade.
2 - Progressista Libertadora
14. [Pedagogo-(CC)-(NV)-(CB02)-(T1)-Pref. Teresina-SEMEC- 3 - Progressista Crítico-Social dos Conteúdos
PI/2010-FCC].(Q.41) Os teóricos da escola nova se opõem
4 - Progressista Libertária
à escola tradicional ao

a) rejeitar toda e qualquer autoridade externa bem co- ( ) Resultam de necessidades e interesses manifesta-
mo mecanismos de controle coercitivos. dos pelo grupo e não necessariamente as matérias de
b) pregar a obediência e a submissão dos alunos como estudo
condições ideais para aprendizagem.
( ) Conhecimentos e valores sociais acumulados pelas
c) questionar as raízes das desigualdades sociais como
entraves à escolarização democrática. gerações adultas e repassados aos alunos como verda-
d) entender que a formação moral corresponde à aqui- des
sição de hábitos adequados a regras e padrões. ( ) Denominados “Temas geradores”, são extraídos da
e) propor a aprendizagem por meio da atividade do a-
problematização da prática de vida dos educandos
luno e valorizar a iniciativa e a cooperação.
( ) Ligam-se de forma indissociável à sua significação
15. “Integrar os aspectos material/formal do ensino e, ao humana e social e devem ser bem ensinados.
mesmo tempo, articula-los com os movimentos concre-
tos tendentes à transformação da Sociedade” são os A sequência correta é:
propósitos da Pedagogia:
a) 4, 1, 2, 3
a) Renovada Progressivista
b) 1, 4, 3, 2
b) Liberal Tradicional
c) Liberal Progressista c) 3, 1, 2, 4
d) Crítico-Social dos Conteúdos d) 2, 3, 4, 1

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GABARITOS (226 QUESTÕES)

CONCEITOS DE EDUCAÇÃO; PEDAGOGIA;


1
ABORDAGENS PEDAGÓGICAS: psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e críticas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
C A B E V V EEC ECECC B C D A D E D A C A A A A
22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42
B B A A B B A A A D C B C A A C C D C A D
43 44
D B

2 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA:


o papel da escola na atualidade; a dimensão político-pedagógica e o compromisso político do educador.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
E EC D E B C D C C D A D A A A D E

3 A DIDÁTICA E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO PROFESSOR:


objeto de estudo da Didática; Conceitos de: Ensino e Aprendizagem.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
CCCC ECECC E C E B E D A EECCC

4 O PLANEJAMENTO DE ENSINO E SEUS COMPONENTES


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
B D D D A D C B E D A B D D A E A B C A

5 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
ECECE ECC EEC ECCEC A C E D A B B C B C C B
17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
D B D A A A D E D D A C E E B ECCEC
33 34 35 36
D B A E

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL E


6
MÉDIO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
A C ECECECEE EECCC EECC C A A A D C D C B A A C E
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29
C E A B D C B C A B A

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7 PROVA BRASIL E PROVINHA BRASIL


1 2
EE D

8 A CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988:


da Educação, da Cultura e do desporto.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
C A B EECEC CEECC B C CEEEEE CEECC CEECE

A LDB DE 1996; PRINCÍPIOS, ORGANIZAÇÃO DO ENSINO BRASILEIRO;


NÍVEIS ESCOLARES: EDUCAÇÃO BÁSICA: EDUCAÇÃO INFANTIL,
9
FUNDAMENTAL E MÉDIO E EDUCAÇÃO SUPERIOR.
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
EEECE CEECCECCE CEECCE C B E B B D E B B E B E A D
18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34
E B D E C A C D A A C D E B A B C
35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45
B A C D B B B B B E A

10 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
CEC CECCEE C B C D E B C E A A D

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