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HIPÓTESE
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que se encontram associados na hipótese ou, num sentido mais forte, como possibilidade de
construção efetiva do objeto. Esta natureza eminentemente liberal da hipótese-axioma
revelou-se tardiamente na história das Matemáticas quando, após mais de vinte séculos de
esforços para demonstrar «V Postulado» de Euclides, sistemas tão coerentes e fecundos, como
a geometria clássica, foram edificados sobre hipóteses diferentes.O reconhecimento de tal fato
epistemológico, tão escandaloso no seu gênero como a descoberta da irracionalidade de
diagonal do quadrado a longo prazo a concepção das Matemáticas. Mas repercute-se
igualmente sobre a própria idéia que temos dum conhecimento da Natureza, sugerindo que se
deve reexaminar o estatuto das suas hipóteses.
Efetivamente, até que ponto deve uma hipótese das ciências da Natureza ser
interpretada como referindo-se à realidade? Parece claramente impossível que se possa usar
nestas ciências uma liberdade de construção do objeto idêntica à das Matemáticas. Contudo,
se é certo que as hipóteses, bem como qualquer proposição da ciência, visam uma
«representação manipulável» do real, os seus modos de representação e graus de
acoplamento a esta realidade são diversos. O que três exemplos significativamente diferentes
vão mostrar.
I) A hipótese de Maxwell sobre o campo electromagnético. Na seqüência dos trabalhos
experimentais de Faraday, e em oposição às concepções dos cientistas alemães que explicam
os fenômenos eletromagnéticos a partir de uma acção à distância, sobre o modelo da teoria
newtoniana da gravitação, Maxwell propõe uma concepção diferente destas ações mecânicas.
Explicar-se-iam então por um estado do meio intermediário, definido em todos os seus pontos
através de dois seres matemáticos de natureza vectorial, graças aos quais se podem calcular as
forças que aí se exercem sobre uma dada carga elétrica. Formula assim «hipótese de que a
ação mecânica observada entre corpos eletrizados se exerce através do meio e graças a ele,
como nos exemplos familiares da ação de um corpo sobre um outro mediante a tensão de um
cabo e a pressão de uma barra» [1873, trad. it. p.236].
Evidentemente que uma tal hipótese é determinada em termos matemáticos,
constituindo as propriedades formais dos dois vectores do campo as célebres equações de
Marwell, graças às quais é possível deduzir e calcular os efeitos eletromagnéticos. Mas, sob a
forma que o autor lhe confere, trata-se explicitamente de uma hipótese analógica, que fornece
uma imagem sensível da natureza profunda das coisas. Esta imagem sensível serve de ponto
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de partida para a imaginação criadora, ao sugerir-lhe a aplicação, até certo ponto, de métodos
já comprovados em outros domínios; não formulam diretamente qualquer conjetura
relativamente aos fatos, a acontecimentos observáveis. Constituem antes um quadro geral de
representação, sem que, notemo-lo bem, o cientista lhe atribua um valor absoluto. Com efeito,
Maxwell exprime-se com notável moderação a respeito da outra concepção dos fenômenos:
«Eu assumi mais o papel de um advogado do que de um juiz» [ibid, p. 134]. De resto, ele
sublinhou em várias oportunidades no seu Tratado o caráter dominador da estrutura
matemática de uma teoria física em relação aos avatares do fenômeno e, afortiori, às suas
representações.
2) A hipótese da evolução por seleção natural. Elaborada por Darwin entre 1837 e
1859 sob uma forma que pode ser resumida por duas proposições: as espécies não foram
criadas de uma só vez e separadamente; o principal (mas não único) agente da transformação
foi a «seleção natural», ou seja, o predomínio progressivo dos tipos que apresentam
características mais favoráveis para a sobrevivência e o sucesso.
Trata-se neste caso de uma hipótese-conjetura que enuncia fatos e acontecimentos,
observáveis directamente ou através dos seus vestígios. Aliás, ela é sugerida por uma coleta
de fatos que parecem estabelecer a sua validade. Darwin, originariamente adepto do fixismo,
reconhece, no decurso da sua viagem à volta do mundo, o caráter original adquirido pelas
espécies que vivem em ilhas há muito tempo privadas de qualquer contato exterior e
interpreta a diversidade dos seus traços como adaptações seletivas ao meio. O caso da seleção
artificial praticada voluntariamente e com êxito sobre os animais domésticos serve ainda de
caução a esta explicação.
Se tentarmos imaginar o mecanismo preciso da evolução, não podemos deixar de nos
lançar em hipóteses de um tipo análogo ao do exemplo precedente, pois pretende anunciar um
fato e não apenas um método de representação dos fatos.
3) Indicaremos um último exemplo de hipótese, escolhido em virtude do seu caráter
muito mais «local» e circunstancial. Pasteur, ao constatar que, dos dois isômeros ópticos da
asparagina, somente um tem o gosto açucarado, avança a hipótese que a dissemetria da
molécula na disposição dos átomos em torno do carbono, que permite distinguir os dois
isômeros, tornaria a molécula de aparagina capaz ou não de adaptar, por assim dizer
geometricamente, a um receptor biológico. Em termos mais gerais, Ehrlich (1845-1915) e,
mais recentemente, vários bioquímicos contemporâneos formulam a hipótese de que a
atividade farmacológica de uma molécula depende de determinados traços morfológicos e
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eletroquímicos da sua estrutura. Donde deriva a idéia de fabricar por substituição outras
moléculas conservando esses traços, eventualmente mais eficazes que a molécula de partida.
Trata-se aqui duma hipótese representativa, dependendo de todo um sistema teórico
anterior sobre a natureza dos edifícios moleculares. O seu alcance próprio é, contudo,
relativamente restrito, «local», no conjunto da ciência química, e as suas ligações à
experimentação são perfeitamente imediatas. Uma hipótese como esta serve, sobretudo, pelo
menos à partida, de esquema muito provisório para um conjunto de fenômenos assaz
particulares e de guia heurístico ajustável a uma ação tateante.
A partir destes três exemplos, parece claro que imaginação científica cria hipóteses de
tipos e de funções muito diferentes. No entanto, esta heterogeneidade - que seria ainda melhor
revelada por uma história pormenorizada das ciências - não deve ocultar uma oposição muito
nítida entre dois aspectos fundamentalmente distintos, mesmo que apareçam freqüentemente
como conjugados e particularmente confundidos na prática científica. Por um lado, o aspecto
conjectura de fato, eu conferi à hipótese a aparência de uma antecipação imediata da
experiência; por outro lado, o aspecto modelo abstrato, através do qual a hipótese se apresenta
como edifício conceitual, modo de representação que se não encontra directamente submetido
à experiência.
Ora, à medida que as ciências da Natureza se desenvolvem, o aspecto conjetura fatual
torna-se cada vez menos presente, porque cada vez menos significativo no discurso científico.
Será necessário concluir que a hipótese tem finalmente a contar a uma ligação com a
realidade? A questão da Natureza e limites do arbitrário da hipótese é certamente um dos
problemas mais importantes sobre que se debruçou a filosofia contemporânea da ciência.
2) Hipótese e experiência
que ele concebe como seres físicos contíguos, outros seres cujas rotações contrárias
compensam e anulam os movimentos de arrastamento indesejáveis gerados por esses
contactos. Na outra concepção, que atinge o seu apogeu com Ptolomeu, toda a maquinaria dos
movimentos circulares é puramente matemática. A composição destas rotações tornou-se,
aliás, muito complexa desde que Heráclides e Hiparco tiveram a idéia de descentrar as
trajetórias circulares em relação à terra e de as combinar entre si por meio dos epiciclos.
Compreendeu-se então a equivalência cinemática de várias representações distintas de um
mesmo movimento observado. Para Ptolomeu, a complicação e a irregularidade do fenômeno,
daquilo que é visto da Terra e que é real, explica-se por meio do sistema matemático
puramente representativo, em que se recorre aos princípios metafísicos de uniformidade e de
circularidade dos movimentos. Se, para «salvar os fenômenos», é necessário admitirem-se
rotações não uniformes em determinadas trajetórias, introduzir-se-ão no traçado do
movimento figuras novas, sem qualquer realidade física, em que, indiretamente, se encontra
restabelecida a uniformidade da rotação (teoria do equante). Tal imagem representativa - tal
hipótese - é tanto melhor quanto melhor satisfazer as exigências a priori da metafísica dos
movimentos naturais, que é em termos gerais ainda a de Aristóteles; ao mesmo tempo, ela
permite calcular com maior exatidão a marcha dos movimentos observados.
Copérnico, ao retornar a hipótese de Aristarco, muito embora se continue a apoiar no
esquema geométrico muito mais apurado de Ptolomeu, vai redescrever o sistema do mundo,
tomando o Sol e não a Terra como ponto de referência imóvel. A hipótese de mobilidade da
Terra opõe-se manifestamente à experiência imediata. Tratar-se-à assim de uma hipótese
puramente matemática - como sugerirão aqueles que, mais tarde, tentarão salvar Galileu da
condenação papal - ou de uma hipótese de facto? Copérnico, que conserva os princípios
aristotélicos de circularidade e de uniformidade do movimento, bem como da geometria
ptolomaica dos epiciclos, excêntricos e equantes, é, contudo, decididamente realista. Mas
faltam-lhe provas empíricas convincentes que possam contrabalançar com sucesso a aparente
evidência da imobilidade da Terra. Encontra-se, portanto, como mais tarde Kepler, na difícil
situação de manter como hipótese de fato uma proposição que apenas pode justificar através
de considerações de ordem conceptual. E será necessário esperar que Kepler, cortando enfim
com os princípios de Aristóteles, tenha a idéia das trajetórias elípticas para que a hipótese
heliocêntrica produza verdadeiramente uma simplificação decisiva da imagem representativa
do universo e permita efetuar a economia do arsenal ptolomaico. A convicção de Kepler não
podia fundar-se solidamente em dados empíricos; estes evidenciar-se-ão e serão
convenientemente interpretados só no interior do sistema newtoniano da dinâmica
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(diminuição dos pesos no equador devido à força centrífuga [1679] e desvio do pêndulo de
Foucault pela aceleração de Coriolis [1851]) e graças ao aperfeiçoamento da instrumentação
(paralaxe das estrelas fixas [1837]). No entanto, a revolução «coperniciana» é tanto mais o
triunfo da hipótese realista quanto as hipóteses conceituais se encontram por assim dizer
recalcadas, em Kepler, no domínio duma imaginação pitagórica quase mística (por exemplo, a
idéia de que as distâncias dos planetas seriam proporcionais aos raios das esferas inscritas e
circunscritas aos cinco poliedros regulares sucessivamente encaixados ... Por outro lado, a
relação entre a velocidade angular de um planeta no afélio e no periélio é interpretada por
Kepler como um intervalo musical, de modo que o sistema do mundo pode ser descrito como
«harmonia das esferas»).
Foi sem dúvida Galileu quem resolveu a crise da hipótese ao associar conscientemente
a conjectura de fato, por princípio empiricamente verificável - tal como o movimento da
Terra-, e as hipóteses conceptuais que são os esquemas matemáticos a que ele pretende
reduzir a explicação dos fenômenos. Compreende-se assim eu tenha podido, sem ser
platônico, proclamar no Saggiotore, que as leis da Natureza estão escritas em linguagem
matemática. A experiência sensível dá-nos de fato uma primeira representação da realidade,
mas mediatizada pelas reações do nosso corpo, como o ensina, um pouco mais tarde e
independentemente dele, o seu contemporâneo Descartes. Ela constitui seguramente o critério
último de verificação das hipóteses de fato que se formulam na sua linguagem; mas não
devemos deter-nos no seu conflito aparente com o edifício conceptual das hipóteses que
permitem dar dela uma representação mediata racional. É neste sentido que Galileu marca
verdadeiramente o início da idéia moderna de uma ciência da Natureza.
A posição de Newton, embora possa parecer ambígua, constitui o seu remate. No
célebre penúltimo parágrafo do Schlium gnerale que conclui os Principia [1687], Isaac
Newton escreve: «Não consegui até este momento, partindo dos fenômenos, descobrir a causa
destas propriedades da gravidade e não imagino hipóteses, pois tudo o que não é deduzido dos
fenômenos deve ser chamado hipótese e as hipóteses, quer metafísicas, quer físicas,
introduzindo qualidades ocultas ou mecânicas, não têm lugar na filosofia experimental [1713,
trad. it. pp.795-96]. No entanto, na sua Optica [1794], admirável monumento de física
matemática e experimental, propõe uma explicação dos fenômenos por meio de hipóteses
sobre a natureza da luz. O conjunto da sua obra permite, com efeito, dar um sentido mais
matizado e fecundo ao anátema lançado pelos Principia: I) todo o conhecimento da Natureza
deve partir absolutamente da experiência; só esta permite «estabelecer as propriedades das
coisas e procurar depois hipóteses para as explicar» [carta a Oldenburg, 1672]; 2) a ciência
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3. Hipóteses e convenções
Embora desde então formas de hipóteses tenham efetivamente exercido esse papel a
diferentes níveis do edifício científico, grande é para o filósofo a tentação de considerar
aquelas que parecem totalmente irredutíveis a conjecturas factuais como puras e simples
convenções. Trata-se, evidentemente, de hipóteses fundamentais, denominadas com
freqüência «princípios», como em física a hipótese da conservação da energia. Enunciada
inicialmente da consideração dos movimentos (energia cinética, energia potencial) essa
hipótese é mantida nos casos em que a experiência e a teoria parecem pô-la em xeque graças a
uma extensão da definição do termo (energia térmica, energia química, energia do campo
electromagnético e, por fim, assimilação da massa a uma energia). Será que essas hipóteses
valem, portanto, da massa a uma energia). Será que essas hipóteses valem, portanto, apenas
porque regem a gramática da linguagem científica, por serem apenas «definições
disfarçadas»?
A tese radical defendida por Edouard Le Roy considera que a ciência não é mais do
que a expressão numa determinada linguagem, dum conjunto de regras de ação e que essas
regras de ação são, em larga medida, convencionais. São, é certo, convenções que «têm
êxito», e compreende-se bem que toda a questão reside na natureza, extensão e razão deste
êxito. Poincaré [1904], cuja filosofia é com freqüência qualificada de «convencionalismo»,
criticou com grande lucidez esta forma extrema de nominalismo e de anti-intelectualismo
significa apenas, segundo afirma [La valeur de la science,1905], que a linguagem em que
referenciamos e descrevemos os fatos permanece uma criação provisória do pensamento.
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conjectura exigiria assim que se recenseassem todos os casos individuais de realização desse
fato. O movimento indutivo decide que a observação dum número finito de casos é suficiente
para fundar a hipótese. Uma atitude mais radical e mais formal consiste em não reconhecer
como plenamente válida senão a argumentação inversa: para a refutação duma hipótese basta
estabelecer um único contra-exemplo; mas a sua verificação através de casos favoráveis
nunca é senão plausível. Popper [1959] extraiu desta observação um critério de
admissibilidade: para eu um enunciado seja admissível como cientifico, é necessário que se
possa conceber uma experiência suscetível de fornecer um seu contra-exemplo, ele deve ser
acessível à refutação. O que se aplica seguramente e sem restrições às hipóteses factuais; no
que se refere às hipóteses conceituais, voltaremos à questão para introduzir algumas restrições
a esta tese.
Se a hipótese factual genérica não pode ser, em rigor, estabelecida pela experiência,
esta não deixa de poder fundar a sua plausibilidade. As teorias da indução, partidas de
considerações lógicas com Stuart Mill, desenvolveram-se posteriormente sob a forma de
construções lógico-matemáticas utilizando o cálculo das probabilidades e a teoria dos jogos.
Baseiam-se na idéia duma estratégia das opções entre várias hipóteses, fundada na atribuição
de «valores» e de «custos» aos sucessos e aos erros, e sobre a definição de regras de decisão
que maximizam um critério ligado aos resultados aleatórios da conjectura. O recurso a testes
estatísticos é, evidentemente, essencial para a estimulação do valor dos parâmetros e das
constantes em todos os domínios. Mas a sua extensão parece ser tanta mais lata - se não tanto
mais segura - quanto se trate de partes da ciência ainda mal desenvolvidas, em particular nas
ciências do homem. Um processo de validação deste tipo assume mais o aspecto de
procedimento heurístico, pois as hipóteses, mesmo factuais, da ciência são sempre
virtualmente o ponto de partida duma elaboração que as relaciona com estruturas fortemente
conceitualizadas, cujo tipo de validade, embora menos imediato, é o único capaz de satisfazer
completamente um ideal racional. A hipótese - factual, no entanto - do duplo movimento na
hipótese conceitual de uma teoria da gravitação.
O que nos remete para o problema da validação deste último tipo de hipóteses. A
maior parte das vezes apresenta-se sob a forma complexa de «teorias» e não podem ser
formuladas como enunciados isolados. E, caso o fossem, tratar-se-ia duma simplificação só
aparente, pois o aparelho conceptual sem o qual esta formulação não teria sentido
permaneceria subentendido. É o que acontece, por exemplo, com o seguinte enunciado: «a
entropia dum sistema isolado não pode decrescer.» O que se pede a tais hipóteses não é tanto
serem directamente confirmadas por resultados experimentais, mas permitirem deduções
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longínquas, explicando de modo coerente fenômenos novos. Einstein, a partir das hipóteses
da relatividade geral, verifica a anomalia (na hipótese newtoniana) do movimento do periélio
de Mercúrio. Não é, pois possível dizer que essas hipóteses são verificadas pela experiência
enquanto proposições isoladas. Duhem [1906] já o tinha assinalado quando notava que é o
«sistema em que se integram» que é submetido em bloco ao controle experimental. Quine
[1960] irá mais longe, ao sustentar que os próprios sistemas teóricos se encontram largamente
subdeterminados em relação a qualquer observação possível, e que vários conjuntos de
hipóteses logicamente incompatíveis poderiam, contudo ser empiricamente equivalentes. Mas
nos exemplos em que se poderia pensar - como as duas teorias da emissão e da ondulação
para o fenômeno luminoso e a sua «síntese» em mecânica quântica - só seria possível falar de
incompatibilidade lógica se se afirmasse que um objeto é simultaneamente uma onda e um
corpúsculo; ora trata-se de dois meios de representação constituindo universos conceituais
diferentes, e não de propriedades perceptíveis de objetos; não são, por exemplo, mais
incompatíveis logicamente do que a teoria métrica apoloniana das cônicas e a teoria projetiva.
Por outro lado, não é totalmente exato que os dois sistemas sejam empiricamente
equivalentes: os seus poderes explicativos são complementares e só em parte se recobrem. A
história das ciências mostra-nos que, quando se retém uma das hipóteses concorrentes, ela se
revela sempre mais poderosa, quer pela amplitude dos resultados que permite abarcar, quer
pela interpretação que sugere dos aspectos positivos e negativos das hipóteses que elimina.
Mas, em contrapartida, é sempre verdade, como Popper assinalou com vigor, que o
sucesso de uma hipótese só tem valor se for formulável em termos tais que a experiência a
possa refutar. Sem o que a informação que fornece seria nula, vista que compatível com
qualquer dada pela Natureza às questões que seria possível por-lhe. No entanto, a experiência
não pode levar-nos a rejeitar uma hipótese conceptual tão claramente como uma conjectura de
fato. Neste último caso, é possível dizer-se que a experiência responde sim ou não ou, pelo
menos, caso se trate dum dado estatístico, que nos fornece o meio de escolher calculando os
riscos de erro. Tal não e verifica no caso da hipótese conceitual, que pode sempre ser
«imunizada», segundo a expressão de Popper [1959]. É uma questão de imaginação e de
engenho. A história dos sistemas geocêntricos é disso um excelente exemplo: são salvos
através da invenção dos excêntricos e dos epiciclos para corrigirem os desvios entre os
movimentos observados e os movimentos representados. Do mesmo modo, em concorrência
com a relatividade restrita, há físicos que imaginam hipóteses sobre o comportamento do éter
que permitem explicar a constância da velocidade da luz e imunizam aparentemente a
hipótese clássica do éter contra o resultado negativo da experiência de Michelson e de Morley.
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É certo que se trata de exemplos negativos, pois que, em ambos os casos, uma nova hipótese
virá a ser decididamente adaptada. Mas pode-se citar casos positivos, dos quais o mais
conhecido será talvez a descoberta de Neptuno. As hipóteses newtonianas da mecânica celeste
não conseguem aparentemente calcular a órbita observada de Urano; poderia concluir-se que
por isso se encontravam refutadas. Mas Le Verrier tenta mantê-las, graças a uma conjectura de
fato: a presença dum objeto perturbador desconhecido, cuja órbita pode justamente ser
calculada pelas hipóteses newtonianas. Hipótese de fato introduzida como complemento do
domínio experimental em que surgiu a hipótese conceitual e que releva naturalmente de uma
verificação empírica e decisiva: Le Verrier designa o local do céu e o momento em que o
telescópio de Gall devia descobrir o planeta Neptuno.
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