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Musealização e
Arqueologia
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IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Alejandra Saladino1*
Andrea Costa **
Resumo
Diante de um panorama caracterizado pelo aumento no número de atividades educativas
dedicadas à socialização da Arqueologia e das referências patrimoniais arqueológicas,
percebemos a pertinência de realizar levantamentos em distintos níveis para conhecer as
percepções que a sociedade produz e reproduz sobre o passado arqueológico. Por isso
propusemos o desenvolvimento do projeto de pesquisa Conceitos e imagens sobre
Arqueologia e patrimônio Arqueológico: um estudo sobre estratégias de socialização e
preservação a realizar-se em exposições museológicas, atividades de educação museal
e patrimonial (estas últimas vinculadas a projetos no âmbito da Arqueologia de Contrato).
O projeto busca levantar as imagens e representações sobre Arqueologia e Patrimônio
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IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Introdução
A Arqueologia é uma área do conhecimento que versa sobre os processos sociais a partir
do registro arqueológico, independente da cronologia, que há muito faz parte do
imaginário social do Ocidente. Seja atrelada ao fazer científico ou ao espólio de
referências patrimoniais, a Arqueologia suscita nas pessoas reflexões ou, no mínimo,
evocações de imagens e representações, boa parte delas estimulada pelos meios de
comunicação, incluindo a sétima arte.
Observa-se um interesse popular pela área, que é acompanhado, na última década, pelo
incremento da produção científica em contexto brasileiro. Contraditoriamente, parece
haver um cristalino descompasso entre a concepção acadêmica da Arqueologia e as
construções conceituais, cognitivas e imagéticas por parte do público não especialista. Ao
passo que os estudos em Arqueologia caminham em direção a uma abordagem
contextual, ideológica e social, no sentido contrário, não raro, os métodos de extroversão
quedam congelados em vitrines defasadas ou em ações educativas que pouco
contribuem para a expressão individual e coletiva das identidades.
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Por sua vez, o caráter educacional das instituições e processos museais é percebido
mais nitidamente quando faz parte de um projeto político da formação de cidadãos a
partir da consolidação de representações identitárias, do empoderamento de segmentos
específicos e da transformação da sociedade pela via do desenvolvimento sustentável,
por exemplo. A trajetória dos museus no Brasil tem início em 1818, com a criação do
Museu Nacional, a mais antiga instituição científica do país. A dimensão educativa e o
compromisso com a Divulgação Científica o acompanham desde a sua fundação.
Contudo, a criação, em 1927, do Serviço de Assistência ao Ensino do Museu Nacional,
primeiro setor educativo de um museu brasileiro, marca a institucionalização da prática
educativa em museus no país. Deste modo, podemos afirmar que há quase cem anos, o
patrimônio museológico ressignificado é, portanto, instrumento de atividades educativas
em museus.
O potencial pedagógico das referências patrimoniais tem sido cada vez mais explorado, e
não mais apenas nos lugares de memória supracitados. Com o desenvolvimento, nas
últimas décadas, da Arqueologia de Contrato2 (resultante de uma complexa conjuntura da
qual se destaca a Lei nº 3.924/61 – que dispõe sobre a preservação do patrimônio
arqueológico – e a consolidação da legislação ambiental que dispõe sobre o
licenciamento ambiental), as atividades educativas voltadas à preservação, valorização e
ressignificação do patrimônio arqueológico transformaram-se em requisitos previstos nos
dispositivos normativos referentes ao desenvolvimento das pesquisas arqueológicas (em
vigor, a Portaria IPHAN nº7/19883 e a Instrução Normativa IPHAN nº1/154, em
conformidade com a Portaria Interministerial nº 60/15)5.
2
Também denominada como Arqueologia de Salvamento, Arqueologia Preventiva, ou ainda, Arqueologia
Consultiva.
3
Na referida portaria é apontada a necessidade de indicação da utilização futura do material para fins
científicos, culturais e educacionais, assim como dos meios de divulgação das informações científicas.
4
A IN 01/15 indica a necessidade de realização de um Projeto Integrado de Educação Patrimonial, sendo
explicitadas no Capítulo III da referida portaria as características do mesmo. Contudo, importa destacar que a
Portaria 230/02, substituída pela Portaria Interministerial 60/15 e IN 01/15, trouxe pela primeira vez o termo
Educação Patrimonial, indicando a necessidade de ações educativas em todas as fases do projeto de
licenciamento". Vale lembrar que a Portaria IPHAN nº230/02, revogada quando da homologação da IN
nº1/15, foi o primeiro dispositivo legal do país a conter o termo educação patrimonial na legislação e que a
adoção desse termo trouxe um determinado olhar sobre o campo.
5
E devemos considerar, ainda, que o interesse pela apropriação pública da arqueologia tem um lastro mais
longo, se considerarmos as recomendações internacionais. A título de ilustração, destacamos duas
recomendações internacionais. Da Carta de Nova Delhi (UNESCO, 1954) destacamos os seguintes trechos:
Deveria ser criado, junto aos sítios arqueológicos importantes, um pequeno estabelecimento educativo –
eventualmente um museu – “que permita ao visitante compreender melhor o interesse dos vestígios que lhes
são mostrados” e, ainda “a autoridade competente deveria empreender uma ação educativa pra despertar e
desenvolver o respeito e a estima ao passado [...]”. Já da Carta de Lausanne (UNESCO, 1990), destacamos
o Artigo 7º:” A apresentação do patrimônio arqueológico ao grande público é um meio essencial de fazê-lo
acender ao conhecimento das origens e do desenvolvimento das sociedades modernas. Ao mesmo tempo,
constitui o meio mais importante para fazê-lo compreender a necessidade de proteger o patrimônio”.
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Vale ainda ressaltar que as atividades educativas e culturais não são apontadas apenas
pelos dispositivos normativos como estratégias de divulgação do conhecimento
arqueológico e preservação das referências patrimoniais. O Plano Intermediário de
Gestão do Patrimônio Arqueológico (IPHAN, 2010, p.46), compreende tais atividades –
somadas à extroversão do conhecimento produzido, à musealização e ao turismo cultural
– como estratégias eficazes para a socialização do patrimônio arqueológico. Diversos são
os estudos que apontam para o aumento do número de pesquisas arqueológicas
desenvolvidas no país (BRUNO & ZANETTINI, 2007; MORAES WICHERS, 2010). Vários
também são os resultados e desdobramentos desse quadro, onde destacam o
crescimento exponencial dos acervos arqueológicos (com consequências dramáticas
para as instituições de endosso, muitas delas sem capacidade de conduzir um plano de
gestão adequado), a produção de conhecimento e a possibilidade (em realidade,
obrigatoriedade prevista pelas normativas supracitadas) de socializar o patrimônio
arqueológico.
Para além dos dispositivos legais e recomendações, que, a bem da verdade, nem
sempre encontram eco no cotidiano das instituições, há uma questão que parece
fundante: os esforços e recursos investidos em pesquisas arqueológicas, que,
invariavelmente são dispendiosas e agenciadas com verba pública, devem ter como
destino a apropriação pública do patrimônio. Os processos de patrimonialização não são,
e nisto precisamos insistir, um fim em si mesmo; a preservação encontra sentido quando
os referenciais de patrimônio são apropriados e usados socialmente. Desenhar os
contornos das imagens projetadas pelo senso comum sobre a arqueologia é, portanto,
fundamental, especialmente porque serve de termômetro para compreender como a
arqueologia é representada publicamente, ao passo que abre caminho para criar uma
moldura mais fidedigna por onde a sociedade observa e interpreta a Arqueologia, e a si
própria.
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Diante do panorama delineado, concordamos com Zapatero (2012:65) quando alerta para
a necessidade de realizar levantamentos em distintos níveis para conhecer as
percepções sobre o passado arqueológico que a sociedade produz e reproduz. E por isso
propusemos o projeto de pesquisa cujos primeiros resultados são aqui apresentados.
O recorte da investigação foi definido com vistas a garantir uma abrangência nacional e
escapar do tom regionalista dos resultados alcançados, ainda que a partir de uma
pequena amostragem (a ser ampliada com a possível renovação do projeto de
pesquisa)7.
6
O coordenador do grupo de pesquisa é o Prof. Dr. Ivan Coelho de Sá (DEPM/CCHS/UNIRIO).
7
Para lograr tal intento, foram convidados professores dos cursos de Museologia da Universidade Federal de
Pelotas e da Universidade Federal de Goiás – nomeadamente o Prof. Dr. Diego Lemos Ribeiro, e a Profa.
Dra. Camila de Azevedo Moraes Wichers – para realizar o levantamento das imagens e representações
sobre a Arqueologia e o patrimônio arqueológico nas atividades de educação museal e patrimonial
desenvolvidas em seus locais de atuação. Vale ainda dizer que a inclusão dos referidos professores é
justificada pela respectiva produção acadêmica, que se coaduna com a proposta aqui apresentada. A título
de ilustração destacamos o projeto de pesquisa coordenado, desde 2015, pela Profa. Dra. Moraes Wichers,
intitulado Prática arqueológica, horizontes políticos e a construção de narrativas patrimoniais no Centro-Oeste
do Brasil e a comunicação apresentada pelo Prof. Dr. Diego Lemos Ribeiro e pela Profa. Dra. Alejandra
Saladino no XVI Congresso Nacional da SAB, intitulado Arqueologia Pública e Museologia Social: conceitos e
práticas.
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Entretanto, uma vez que se tenciona realizar uma investigação de fôlego e por um tempo
estendido (o permitido nas renovações previstas em editais), interessa-nos refletir sobre
os conceitos e imagens transmitidos nos discursos expográficos e atividades
educacionais relacionados a temas de interesse na atualidade, como a questão de
gênero e a diversidade cultural, apenas para citar alguns.
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Compreende-se que isto não se trata de uma proposição utópica, pois há diversas
experiências realizadas no âmbito de práticas arqueológicas pautadas na participação
ativa das comunidades, como a Arqueologia Pública (MERRIMAN, 2004), na Arqueologia
Etnográfica (BEZERRA, 2011), na Arqueologia Comunitária (FERREIRA, 2008), na
Arqueologia Colaborativa (SILVA, 2011) e, ainda, nas exposições museológicas. A título
de ilustração, destacamos o estudo de Guimarães (2014) sobre a inserção das
comunidades tradicionais e membros de grupos indígenas nos processos museológicos,
precisamente os projetos expográficos, realizados pelo Museu de Arqueologia e
Etnologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
São aplicados métodos para o desenvolvimento de uma análise qualitativa, uma vez que
se pretende identificar significados, valores e crenças. As incursões no campo têm sido
feitas de acordo com os protocolos da observação assistemática, para coletar e registrar
fatos sem utilizar meios técnicos específicos, ou seja, sem planejar e/ou controlar
(LAKATOS & MARCONI, 1996, p.79). A escolha por esta técnica se justifica pela
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IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
concordância com Zapatero (2012, p.62), para quem “a observação anônima do que
dizem e fazem os visitantes permite capturar mais genuinamente o que realmente
pensam”, sem a preocupação de parecerem mais “cultos” ou “politicamente corretos”.
A coleta direta das imagens e representações que o público participante tem sobre
Arqueologia e patrimônio arqueológico é feita por meio de questionário, com perguntas
fechadas e algumas abertas. A forma de coleta tem variado: em algumas situações, os
entrevistados preenchem o questionário, em outras esse instrumento é auto-
administrado. A escolha por ambas as formas de coleta vem no sentido de respeitar a
dinâmica e especificidades dos grupos abordados.
8
Espera-se que, ao longo do desenvolvimento da pesquisa, outros locais sejam incorporados à lista original.
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9
Em Pelotas, não foram identificadas pesquisas de Arqueologia de Contrato.
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- 94,4% dos entrevistados são do sexo masculino (apenas uma entrevistada do gênero
feminino);
- 11,11% do total da amostra têm entre 20 e 29 anos, 44,44% têm entre 30 e 39 anos,
11,11% têm entre 40 e 49 anos, 16,66% têm entre 50 e 59 anos, 5,37% têm mais de 60
anos e, finalmente, 11,11% dos entrevistados não declarou a idade;
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Um olhar mais detido sobre os termos utilizados pelas pessoas entrevistadas para definir
arquelogia e patrimônio arqueológico nos provoca uma reflexão: as pessoas envolvidas
com arqueologia de contrato definem a disciplina e compreendem suas práticas a partir
da lógica de mercado. Em outras palavras, as pesquisas arqueológicas têm sentido nas
ações de valorização e restauração de bens imóveis, inclusive são percebidas como
etapas importantes para garantir a segurança no canteiro de obras. Poderíamos
interpretar esses dados como evidências de que as atividades educacionais não
alcançaram os principais objetivos (de esclarecer sobre as especificidades da ciência
arqueológica e da preservação dos bens culturais). Sem embargo, esses mesmos dados
são por nós tomados como indicativos da complexidade da Arqueologia do século XXI,
uma ciência atrelada aos empreendimentos urbanísticos e de infra-estrutura.
Além disso, vale lembrar, a arqueologia, como de costume, está vinculada ao passado
remoto, ao outro. São raros os discursos que se apropriam da Arqueologia para pensar o
presente. Destarte, tal como nos séculos pregressos, esse campo científico serviria mais
ao afã colecionista e à acumulação do que propriamente à sua dimensão social. O
tempo passa, mas os hábitos permanecem, mesmo que com uma nova roupagem.
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Além disso, vale lembrar, na Ciência da Informação há um elemento que atravessa toda
a questão comunicativa: a relevância. Se não é relevante, e isso independe dos
acadêmicos e de outros atores sociais do campo do patrimônio cultural, não é
informação. Partimos da premissa que a arqueologia deveria interessar a todos, mas não
interessa. Assim sendo, depararmo-nos com essa realidade é salutar e fundamental para
dessencializar e descolonizar nossos discursos e nossas práticas enquanto agentes do
patrimônio.
Todavia, essa é ainda uma leitura superficial dos efeitos que a lógica e as pressões do
campo econômico têm sobre a prática arqueológica – que hoje, indiscutivelmente,
relaciona-se à socialização do patrimônio arqueológico. É possível interpretar os dados
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A interpretação dos dados obtidos até o momento nos faz pensar sobre um panorama
empiricamente conhecido por parte dos pesquisadores da investigação aqui apresentada
mas tema de estudo recentemente realizado no âmbito do Mestrado Profissional em
Preservação do Patrimônio Cultural do IPHAN/MinC, a saber: as especificidades e os
desafios das atividades de educação patrimonial realizadas na Arqueologia de Contrato.
Carlucio Baima (2014) analisou os programas de educação patrimonial enviados ao
IPHAN pelos coordenadores de projetos arqueológicos entre os anos de 2003 a 2013.
Seus estudos estatísticos coincidem com a reflexão crítica de Marcia Bezerra sobre a
educação patrimonial praticada nas pesquisas arqueológicas realizadas na Amazônia
(BEZERRA, 2010), principalmente no tocante “a um contentamento simplista na
execução de atividades de cunho lúdico e no padrão comportamental dos arqueólogos
não compartilharem experiências” (BAIMA, 2016:97) e divulgarem resultados das
atividades de educação patrimonial.
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Um bem difuso se caracteriza pela relevância à sociedade, um bem do qual um indivíduo não poderia dele
dispor sem afetar a coletividade.
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Faz-se mister ainda ressaltar a influência da lógica do mercado sobre a elaboração dos
projetos arqueológicos, à custa da qualidade dos programas de educação patrimonial,
muitas vezes reduzidos à realização de palestras pontuais entre segmentos da sociedade
diretamente impactada, designadamente os operários dos canteiros de obras e os
escolares das comunidades do entorno. Isto resulta na difusão de conceitos vagos ou
pouco profundos quanto ao valor do Patrimônio Arqueológico.
Agradecimentos
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Referências
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http://pendientedemigracion.ucm.es/info/arqueoweb/pdf/8-1/almansa.pdf>. Acesso em: 05
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BAIMA, C. B.. A educação patrimonial nos projetos de Arqueologia de Contrato:reflexões
e contribuições. Dissertacao (Mestrado), Mestrado em Presevação do Patrimônio
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BEZERRA, M.. “As moedas dos índios”: um estudo de caso sobre os significados do
patrimônio arqueológico para os moradores da Vila de Joanes, ilha de Marajó, Brasil.
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2011. Disponível em:
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BRUNO, Maria Cristina de Oliveira. Museologia: algumas ideias para sua organização
disciplinar. Cadernos de Sociomuseologia, Lisboa, n.9, p.09-33, 1996.
BRUNO, Maria Cristina de Oliveira. Arqueologia e Antropofagia: a musealização de sítios
arqueológicos. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n.31,
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BRUNO, Maria Cristina de Oliveira; ZANETTINI, P. Relatório do Simpósio O futuro dos
acervos. XIV Encontro Nacional da Sociedade de Arqueologia Braisleira. Florianópolis,
UFSC, 2007.
CALIPPO, G. M. V. T.. Arqueologia em notícia: pesquisas impressas, sentidos circulantes
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Divulgação Científica e Cultural. Campinas: UNICAMP, 2012, 199p.
CURY, Marília Xavier. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo:
Annablume, 2005.
DARWILL, T.. Public Archaeology: a European Perspective. En: BINTLIFF, J. (Ed.), A
Companion to Archaeology. Malden: Blackwell Publishing, 2006. p.409-434.
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Outras Fontes
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<http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/INSTRUCAO_NORMATIVA_001_DE_25_D
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Resumo
A proposta deste artigo é refletir sobre os museus enquanto importantes espaços de
comunicação e estudo para a Arqueologia e apresentar alguns resultados da pesquisa de
pós-doutoramento vinculada ao Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, sob
supervisão da professora Drª. Marília Xavier Cury, com o auxílio financeiro da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O estudo denominado “Os
Museus de Arqueologia e a Arqueologia nos Museus: análise de exposições museais no
oeste de São Paulo e norte do Paraná” tem como objetivo analisar como a Arqueologia e
o patrimônio arqueológico indígena são evidenciados em exposições museais nestas
duas regiões. Até o momento foram realizadas visitas técnicas em 44 instituições
localizadas em municípios paulistas e paranaenses. Para a coleta de informações
durante as visitas técnicas foi preenchido um roteiro em todas as instituições e
exposições visitadas. Especificamente, foi analisada a presença ou não de vestígios
arqueológicos indígenas e de referências à Arqueologia nos espaços expositivos. Como
resultado, está sendo elaborado um banco de dados que contemplará a análise de cinco
temas diferentes: o museu, a exposição, a arqueologia, o patrimônio arqueológico
indígena e a experiência da visita. A partir desta base de dados serão produzidos
relatórios comparativos que permitirão uma visão mais ampla das propostas
comunicacionais que foram estudadas. Em particular, a respeito do patrimônio
arqueológico relacionado às populações indígenas, a análise permitirá compreender os
tipos de vestígios arqueológicos que cada instituição apresenta, a procedência, os
espaços ocupados nas exposições e sua localização, a forma em que estão
acomodados, como são apresentados, quais os recursos expográficos usados junto aos
objetos, como colaboram com o recorte temático proposto etc. Toda esta análise ajudará
a pensar certos padrões em exposições e, mais do que isso, se os objetos arqueológicos
indígenas são elementos comuns nestas propostas comunicacionais que têm função
essencial na memória coletiva.
*
Pesquisadora de pós-doutorado vinculada ao Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, São Paulo. Possui
Doutorado e Mestrado pela mesma Universidade. Possui graduação em História (Licenciatura e Bacharelado)
pela Universidade Estadual de Londrina. Interessa-se nas discussões sobre Arqueologia Pública, Museus,
Educação Patrimonial e estudos de público, desenvolvidos em ambientes de educação formal e não formal.
Brasil. E-mail: leilaneplima@gmail.com
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Introdução
É evidente que a Arqueologia passa por um novo momento, caracterizado pela ampla
circulação de conhecimento e pela multiplicidade de grupos sociais interessados e
envolvidos nas interpretações e nos vestígios do passado. Tais grupos buscam expandir
sua participação na produção e na gestão do conhecimento e do patrimônio arqueológico
e, ao mesmo, apropriam-se deste patrimônio e o ativam para fins políticos, econômicos,
sociais, culturais, educacionais entre outros (SALERNO, 2012, p. 192).
2
Ver discussão mais ampla em (LIMA, 2014).
200
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Os museus são instituições culturais cujas tarefas principais são adquirir, pesquisar,
documentar, conservar e comunicar o patrimônio cultural que está sob sua guarda, sendo
que a completude de todas estas ações compõe seu compromisso principal com a
sociedade: a preservação do patrimônio cultural musealizado, seja ele material ou
imaterial.
3
A respeito das atividades de salvaguarda e comunicação em museus, consultar os parâmetros técnicos
para as instituições museais do estado de São Paulo. Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.
Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico. Grupo Técnico de Coordenação do SISEM-SP.
Cadastro Estadual de Museus de São Paulo, 2016. Disponível em: <http://www.sisemsp.org.br/>. Acesso em:
jul. 2016.
201
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parte do emissor para ser discutida com o receptor. Ainda, esta mensagem não é única,
fechada e isolada, mas precisa estar aberta a interpretações diferentes por parte do
público, o receptor. Sendo assim, a comunicação no museu deveria ser plural e
polissêmica, entendendo que o público não é passivo no processo, mas pode ser ativo e
também construtor de sua própria experiência (CURY, 2004, p. 91; CURY, 2012a, p. 51).
É válido dizer que na exposição tais escolhas podem ser reveladas com maior clareza,
uma vez que este é o mais importante produto comunicacional de um museu, a ponte
entre o público, o patrimônio cultural musealizado e o processo museológico. Dito de
outra forma, as exposições legitimam e caracterizam as instituições museais como tal,
pois na ausência delas os museus seriam importantes reservas técnicas, expressivas
coleções, centros de documentação ou arquivos (SCHEINER, 2003).
202
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Apresentação da Pesquisa
Tabela 1 - Municípios e instituições onde foram realizadas as visitas técnicas. Autoria: Leilane
Patricia de Lima
Estado de São Paulo
Municípios Instituições
Assis Museu e Arquivo Histórico de Assis – Casa de Taipa “José de
Freitas Garcez” e Anexo “José Giorgi”
Museu Ferroviário Agenor Francisco Felizardo
Paraguaçu Paulista Museu e Arquivo Histórico Jornalista José Jorge Júnior
Iepê Museu de Arqueologia de Iepê
Museu Histórico da Igreja Presbiteriana Independente de Iepê
Pedrinhas Paulista Centro Cultural (Museu dos Pioneiros)
Gália Centro Cultural (Museu Municipal de Gália)
Garça Museu Histórico e Pedagógico de Garça
Marília Museu Histórico e Pedagógico Embaixador Hélio Antônio
Scarabôtollo
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204
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Metodologia da Pesquisa
Para a coleta de informações durante as visitas técnicas foi elaborado um roteiro5. Este
instrumento foi preenchido em todas as instituições e exposições visitadas. Nele foram
anotados os dados institucionais e operacionais, as características geográficas, físicas e
arquitetônicas da instituição-sede, os elementos referentes à infraestrutura e dados
relacionados às exposições estudadas: acervo exposto, recursos expográficos,
mobiliário, temas propostos etc. Em específico, foi indicada a presença ou não de
vestígios arqueológicos indígenas e de referências à Arqueologia nos espaços
expositivos.
4
A pesquisa de pós-doutorado está vinculada ao projeto “Análise de Exposições Antropológicas”,
coordenado pela professora Dra. Marília Xavier Cury, do MAE-USP, e financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Segundo Cury, a proposta é “levantar dados para
subsidiar a proposição de categorias que possam sustentar modelos expográficos, parte substantiva da
discussão para uma crítica de exposições museológicas” (CURY, 2012b, p. 2). Ainda, como objetivos
específicos o referido projeto procura entender processos expográficos – condições de produção, resultado
formal e recepção – para compreensão de metodologias, construção de retóricas, análise da forma/design e
apreensão dos usos públicos, e colaborar para uma crítica de exposição, levantando pontos de (des)
construção da linguagem expositiva (CURY, 2012b, p. 4).
5
Este roteiro é uma adaptação do “Roteiro de Observação para Visita a Museus”, elaborado pela professora
Dra. Marília Xavier Cury e utilizado durante a disciplina de graduação “Exposições Antropológicas”, no ano de
2013.
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A - MUSEU
I – Sobre a identidade do museu pesquisado
1 - Categoria Institucional
2 - Natureza Administrativa
3 - Tipologia de Acervo
II – Sobre os “pontos” de encontro com o público
4 - Atendimento Telefônico
5 - Atendimento Eletrônico
6 - Atendimento Presencial
III - Sobre o espaço geográfico e físico
7 - Localização
8 - Equipamentos culturais próximos
9 - Circulação no entorno
10 - Entorno imediato da instituição museal
11 - Uso do espaço externo (arredores do edifício)
IV - Sobre a comunicação visual
12 - Comunicação Externa
13 - Comunicação Interna
V - Sobre o acesso à instituição
14 - Meios
15 - Formas
16 - Pisos
17 - Entrada
18 - Potenciais barreiras de acesso
VI - Sobre o espaço arquitetônico
19 - Tipo de imóvel
20 - Funções do imóvel
6
(LIMA, 2016) (no prelo).
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IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
21 - Formas de institucionalização
22 - Infraestrutura de uso interno
23 - Infraestrutura e equipamentos de uso externo (público)
24 - Segurança
25 - Segurança contra incêndio
VII - Sobre a organização espacial
26 - Setor Expositivo
27 - Setor Técnico
28 - Setor Administrativo
VIII - Sobre o relacionamento com o público
29 - Controle de visitas (quantitativo)
33 - Ficha técnica
34 - Tomada de decisão
X - Concepção museológica
35 - Título
36 - Tipo de exposição
37 - Narrativa
38 - Temas
39 - Recorte Conceitual
40 - Desenvolvimento conceitual
41 - Acervo exposto
42 - Orientações para o público
43 - Elementos de atração
44 - Trajeto
45 - Circulação interna
46 - Pontos do percurso
47 - Acessibilidade na exposição
XI - Concepção expográfica
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IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
48 - Recursos expográficos
49 - Mobiliário que dá suporte ao acervo exposto
50 - Vitrines
51 - Cores
52 - Iluminação
53 - Textos verbais
54 - Expografia
55 - Controle ambiental do acervo exposto
56 - Segurança da exposição
C - ARQUEOLOGIA
XII - Arqueologia na exposição
57 - Formas de apresentação
58 - Representação
59 - Localização
D - PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO
XIII – Patrimônio Arqueológico Indígena na Exposição
60 - Procedência
61 - Espaços ocupados
62 - Acomodação
63 - Apresentação
64 - Localização
65 - Recursos expográficos
E - EXPERIÊNCIA
208
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
No que se refere à procedência das peças arqueológicas, foi identificada uma variedade
de categorias até o momento: local e/ou regional, de outros municípios, de outros
estados, de outros países e não indicada.
209
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Para a localização dos objetos dentro das exposições foram considerados a entrada, o
meio e o fim dos percursos expositivos.
Como o banco de dados está sendo alimentado com as informações coletadas durante
as visitas técnicas, serão apresentadas, mais detalhadamente e a título de exemplos,
duas instituições no estado de São Paulo que apresentam vestígios arqueológicos em
seus espaços expositivos: Museu e Arquivo Histórico Jornalista José Jorge Júnior, em
Paraguaçu Paulista, e Museu Histórico Regional Saburo Yamanaka, em Bastos.
O Museu e Arquivo Histórico Jornalista José Jorge Júnior foi fundado no ano de 2004 nas
dependências do antigo mercado municipal da cidade. É um museu histórico, cuja
natureza administrativa é pública municipal local. A tipologia do acervo é variada e inclui
peças da Antropologia e Etnografia, da Arqueologia, das Artes Visuais, da Ciência e
Tecnologia, da História, de Imagem e Som, Biblioteconômico e Documental. Não há
atendimentos telefônico e eletrônico, somente presencial.
Não há informações na fachada do edifício que indiquem que ali é o museu histórico da
cidade (Imagem 1). No entanto, à entrada da instituição há uma placa que se refere à
data inaugural do museu naquele espaço: 08/05/04. A comunicação interna também é
bastante limitada. Não há símbolos internacionais de acesso, rotas e direções, mapa para
210
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Os meios de acesso à instituição são variados. O visitante pode chegar de ônibus, carro,
moto, bicicleta, a pé. A entrada é gratuita e a instituição é aberta ao público de terça a
sexta-feira, no horário de funcionamento da prefeitura.
O imóvel onde está localizada a instituição é histórico não tombado. O edifício teve seus
espaços adaptados para se transformar em museu. Como infraestrutura externa (de uso
do público), o museu oferece área de descanso, bebedouro e banheiros (não acessíveis).
Há também o estacionamento da praça, que pode ser utilizado tanto pelos funcionários
quanto pelo público, mas sem exclusividade.
A respeito da exposição de longa duração, esta não tem título e nem ficha técnica. Foi
organizada por alguns funcionários municipais e apresenta como tema principal a história
do município. O trajeto expositivo é sugerido a partir de algumas portas de acesso
fechadas e outras abertas, mas a circulação interna no espaço expositivo é livre.
No que se refere à temática indígena, esta foi abordada a partir de objetos arqueológicos
e etnográficos, em uma sala/seção do espaço expositivo que se encontra logo à entrada
da exposição (Imagem 2). O patrimônio arqueológico exposto é composto por artefatos
211
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
A respeito da procedência das peças arqueológicas, foi possível identificar que algumas
são locais/regionais e outras são do Paraná (fragmentos de telhas), mas a maioria das
peças arqueológicas em exposição não tem sua procedência informada. A informação
repassada na instituição é que as peças foram coletadas pelo jornalista e historiador que
dá nome ao museu, José Jorge Júnior.
De um modo geral, com a visita técnica foi possível perceber que a temática indígena foi
apresentada no desenvolvimento conceitual e na narrativa da exposição, tanto a partir de
objetos que ilustram populações contemporâneas, quanto a partir de vestígios de
sociedades mais antigas. No entanto, estas diferenciações não estão claramente
definidas e nem foram discutidas para o público da exposição. Dito de outra forma, os
objetos indígenas foram usados para fazer referência ao índio – não necessariamente
local - mas genérico, algo que pode colaborar para o reforço de estereótipos, sem
diferenciações, discussões, explicações complementares, apenas para apresentar um
passado antes da colonização da região feita pelos pioneiros. Temas como processos de
ocupação humana local, diversidade, cotidiano, crenças e rituais etc. não foram
abordados.
212
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Imagem 1 - Fachada do Museu e Arquivo Histórico Jornalista José Jorge Júnior, Paraguaçu
Paulista-SP. Foto: Leilane Patricia de Lima, 2016.
Imagem 2 - Sala/Seção Indígena, Museu e Arquivo Histórico Jornalista José Jorge Júnior,
Paraguaçu Paulista-SP. Foto: Leilane Patricia de Lima, 2016
213
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
O Museu Histórico Regional Saburo Yamanaka foi fundado no ano de 1975 nas
dependências do primeiro hospital da região. Encontra-se dentro de um complexo com
um jardim japonês (Jardim da Amizade, inaugurado em 1995 para celebrar os 100 anos
de amizade entre Brasil e Japão). Neste jardim há monumentos, marcos, placas
comemorativas, lago (desativado), ponte, uma sala de recepção para receber autoridades
(hoje usada como depósito de jardinagem) e núcleos expositivos. A instituição foi
reformada e reinaugurada em 08/02/2012. As Secretarias Municipais de Educação e
Esportes estão compartilhando o espaço do museu temporariamente.
Não há informações na fachada do edifício que indiquem que ali é o museu histórico da
cidade (Imagem 3). No entanto, na área interna da instituição – mais precisamente em
seu setor expositivo - há uma placa que indica sua reinauguração, datada de 08/02/2012.
Os meios de acesso à instituição são variados. O visitante pode chegar de ônibus, carro,
moto, bicicleta, a pé. A entrada é gratuita e a instituição é aberta ao público todos os dias,
sendo que aos finais de semana o horário de atendimento é reduzido.
O imóvel onde está localizada a instituição é histórico não tombado. O edifício teve seus
espaços adaptados para se transformar em museu. Como infraestrutura externa (de uso
do público), o museu oferece recepção, área de descanso, bebedouro e banheiros
acessíveis.
214
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
A respeito da exposição de longa duração, esta não tem título e nem ficha técnica. Foi
organizada pelo fundador que dá o nome à instituição, Sr. Saburo Yamanaka, com a
ajuda de funcionários e colegas. O trajeto expositivo é fechado, obedecendo a
organização arquitetônica do edifício-sede, porém a circulação interna no espaço
expositivo é livre (Imagem 4).
De um modo geral, é possível dizer que há duas exposições que ocupam o setor
expositivo de longa duração do Museu de Bastos. De um lado, uma tem narrativa
classificatória e apresenta elementos da história natural (rochas, minerais, fauna e flora).
De outro, a narrativa é cronológica e temática e trata da história da imigração japonesa
na região, apresentando cronologicamente a formação e desenvolvimento do município.
Sobre os objetos arqueológicos, estes são apresentados nos dois salões expositivos
principais, sempre associados e misturados aos exemplares de fauna, flora, cristais,
rochas e minerais. Ou seja, não participam da área expositiva onde são apresentadas
informações históricas sobre a ocupação humana local, mas estão nos setores
específicos que tratam do patrimônio relacionado às ciências e à história natural.
7
Tal seção apresenta a ossada de uma baleia da espécie Balenóptero, popularmente conhecida por Minke.
O mamífero, na orla litorânea da Paraíba, media 9,50m de comprimento, 6,65m de diâmetro, 2m de altura e
pesava mais de 10 toneladas. A ossada foi montada e doada pelo Departamento de Oceanografia e Linologia
do Instituto de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
215
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Imagem 3 - Fachada do Museu Histórico Regional Saburo Yamanaka, Bastos-SP. Foto: Leilane
Patricia de Lima, 2016.
216
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Imagem 4 - Setor expositivo, Museu Histórico Regional Saburo Yamanaka, Bastos-SP. Foto:
Leilane Patricia de Lima, 2016.
Considerações Finais
A proposta deste artigo foi apresentar alguns elementos de reflexão para a compreensão
dos museus como espaços de salvaguarda e comunicação do patrimônio arqueológico,
mas também como potencial “lugar” metodológico para os profissionais que atuam na
área da Arqueologia Pública, especialmente a partir do estudo empírico do seu principal
produto comunicacional: a exposição.
217
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Referências
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Revista de Arqueologia, v.24, n.1, p.74-85, 2012,. Disponível em:
<http://sabnet.com.br/revista/artigos/SAB_Revista_V24-02_PgSimples.pdf>. Acesso em:
19 out. 2016.
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cultura material e do Museu. Musas: Revista Brasileira de Museus e Museologia, n.1, p.
86-106, 2004.
CURY, Marília Xavier. Reflexões sobre a importância pública das exposições
antropológicas. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, Suplemento 7, p.77-87,
2008,
CURY, Marília Xavier. Educação em museus, cultura e comunicação. CUNHA, Ana Maria
de Oliveira et al. (Orgs.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho
docente. Coleção didática e prática de ensino, nº 5. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p.
357-369.
CURY, Marília Xavier. Museologia, comunicação museológica e narrativa indígena: a
experiência do Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre. Museologia &
Interdisciplinaridade, v.1, n.1, p.49-76, 2012a. Disponível em:
<http://periodicos.unb.br/index.php/museologia/article/view/6842/5514>. Acesso em: jan.
2016.
CURY, Marília Xavier. Análise de Exposições Antropológicas - Subsídios para uma
Crítica. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, XIII, 2012b,
ENANCIB, 2012. Anais... Rio de Janeiro: ANCIB, 2012b. p.1-20. Disponível em:
<http://www.eventosecongressos.com.br/metodo/enancib2012/arearestrita/pdfs/19360.pdf
>. Acesso em: 19 out. 2016.
218
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
219
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Resumo
Observando a conjuntura atual das políticas públicas de gestão e preservação do
patrimônio arqueológico brasileiro, com destaque para a formação de acervos
provenientes dos processos de licenciamento ambiental, o presente ensaio expõe alguns
apontamentos que vêm sendo discutidos entre os pesquisadores do Laboratório de
Pesquisas em Arqueologia, Patrimônio e Processos Museológicos Comunitários –
LAPACOM – do Departamento de Museologia da Universidade Federal de Ouro Preto. A
reflexão parte dos resultados preliminares de um estudo em andamento que busca
relacionar as demandas de salvaguarda e difusão dos acervos arqueológicos, frente às
exigências e instrumentos legais de proteção patrimonial e ao potencial de vinculação
social que estes adquirem no encadeamento dos processos de musealização do
patrimônio cultural.
Palavras-chave: Arqueologia; Museologia; Patrimônio Arqueológico; Gestão; Coleções.
Introdução
*
Pesquisador do Laboratório de Pesquisas em Arqueologia, Patrimônio e Processos Museológicos
Comunitários, Bacharelando em Museologia da Universidade Federal de Ouro Preto,
Prédio da Escola de
Direito, Turismo e Museologia,
Campus Morro do Cruzeiro, Ouro Preto - MG, Brasil
**
Prof. Dra. do Departamento de Museologia da Universidade Federal de Ouro Preto; Laboratório de
Pesquisas em Arqueologia, Patrimônio e Processos Museológicos Comunitários, Prédio da Escola de Direito
Turismo e Museologia, Campus Morro do Cruzeiro,Ouro Preto - MG, Brasil.
220
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
221
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Nessa discussão, o tratamento legal dado aos bens arqueológicos classifica-os como
bens públicos e, principalmente, como de interesse público, o que faz com que esta
abordagem modifique, segundo Soares (2007), a própria relação entre o bem e o Poder
Público responsável por sua preservação. Ao se estabelecer a previsão constitucional de
titularidade por parte da União para os bens de natureza arqueológica, a consequência
direta é a finalidade e a gestão pública desses bens. Assim, o patrimônio arqueológico,
mesmo sendo um recurso cultural que possua intrinsecamente um valor econômico,
serve predominantemente à produção de conhecimento para a compreensão da
existência humana (SOARES, 2007, p.57).
222
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
223
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
que apoia o projeto, apresentando a declaração de endosso institucional (art. 5º, inciso
VII). Como apontam Santos Costa e Comerlato (2013), de acordo com o Código Civil (Lei
federal nº 10.46/2002), o endosso corresponde a uma atividade solidária e unilateral,
onde um indivíduo ou entidade transfere a responsabilidade sobre algo a um terceiro.
224
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
225
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
os domínios de atuação destas áreas compreendam a cultura material para além dos
procedimentos técnicos de preservação, reconhecendo e inserindo estes vestígios nos
sistemas que operam os mecanismos da memória.
226
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Diante das inúmeras coleções que se encontram atualmente depositadas nas reservas
técnicas ou nos corredores institucionais de centros de pesquisa e museus brasileiros,
além de procedimentos estruturais urgentes e necessários ao manejo e preservação
deste patrimônio, destacamos também a necessidade da execução de ações que
efetivem o reconhecimento do contexto arqueológico no âmbito das relações sociais,
pensando sua inserção em uma lógica territorial que explicite as dinâmicas de sua
formação. De acordo com Silva (2013) a Arqueologia busca, entre vários objetivos,
“compreender o modo como as populações humanas exploram, transformam e
gerenciam as paisagens e os seus recursos e, simultaneamente, verificar como tais
comportamentos resultam na formação dos registros materiais” (SILVA, 2013, p.30).
Assim, a paisagem aqui trabalhada não se refere aos territórios estanques ou à
cristalização dos lugares, mas sim, como coloca Mattos (2006), às transformações do
espaço que “adquirem valor de referência, passando a significar identidade, exprimir
laços afetivos e sentimentos de pertencimento” àqueles que ali coexistem (MATTOS,
2006, p.05).
227
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Considerações Finais
228
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Desse modo, as questões que envolvem os usos e interpretações simbólicas das coisas
e dos lugares exigem um olhar mais atento ao papel da arqueologia como fonte de
informação para construção e compreensão dos processos históricos de nosso território
(BRUNO, 1999). Trata-se de processos que, nas chamadas Arqueologias Pós-
Processuais, promovem uma nova relação de contato com a materialidade. E na
Museologia Comunitária, nos advertem para o potencial da construção coletiva dos
discursos sobre as produções materiais.
Referências
BEZERRA, Márcia. Os Sentidos Contemporâneos das Coisas do Passado: reflexões a
partir da Amazônia. Revista de Arqueologia Pública. Campinas, n.07, p.107-122, 2013.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição [da] Republica Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado Federal.
BRASIL. Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do
patrimônio histórico e artístico nacional. Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil.
Brasília, DF, 06 dez., 1937.
BRASIL. Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961. Dispõe sobre os monumentos
arqueológicos e pré-históricos. Brasília, DF: Senado Federal, 1961.
229
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
230
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
IPHAN. Ordem de Serviço nº 02, de 20 de maio de 2016. Diário Oficial [da] Republica
Federativa do Brasil. Brasília, DF, 2016.
IPHAN. Portaria nº 07, de 01 de dezembro de 1988. Diário Oficial [da] Republica
Federativa do Brasil. Brasília, DF, 15 dez., 1988.
IPHAN. Portaria nº 195, de 18 de maio de 2016. Diário Oficial [da] Republica Federativa
do Brasil. Brasília, DF, 2016.
IPHAN. Portaria nº 196, de 18 de maio de 2016. Diário Oficial [da] Republica Federativa
do Brasil. Brasília, DF, 2016.
IPHAN. Portaria nº 197, de 18 de maio de 2016. Diário Oficial [da] Republica Federativa
do Brasil. Brasília, DF, 2016.
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2007. 228p.
231
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
232
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Resumo
O Museu Bi Moreira (MBM) tutelado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), foi
criado em 1983, e salvaguarda um acervo diversificado, composto por cerca de 5.000
ítens, que se relacionam com a história, a memória e o ensino superior da região do Sul
de Minas Gerais. No ano de 2000, o MBM conferiu endosso institucional para trabalho de
arqueologia desenvolvido no âmbito do licenciamento ambiental, se tornando o
responsável pelo material coletado no “Programa de Resgate Sítios Arqueológicos Monte
Alegre e Cacho de Ouro” (município de Ribeirão Vermelho - MG). No entanto, esses
vestígios só vieram a se tornar foco de interesse a partir do ano de 2014, ocasião em que
começaram a ser problematizados pelo viés da museologia e da conservação. Por meio
dessa perspectiva, um desafio passou a confrontar os pesquisadores: como preservar e
comunicar essa coleção arqueológica, tendo em vista a sua inserção em um espaço
museológico que se caracteriza por seu acervo diversificado. Nessa conjuntura, o
objetivo do presente trabalho é apresentar reflexões sobre as potencialidades da
museologia para a preservação da coleção arqueológica do MBM. Para todos os efeitos,
parte-se da premissa que o estudo sobre a circulação dos vestígios arqueológicos e a
inserção dos mesmos em museus fomenta as relações dialógicas entre a museologia e
arqueologia, e ao mesmo tempo contribui para as discussões sobre as teorias e práticas
da conservação.
Palavras-chave: Patrimônio Arqueológico; Museus Universitários; Musealização.
*
Universidade Federal de Lavras (UFLA), Campus Universitário, Lavras, MG, Brasil. CEP: 37200000;
patricia.mendes@proec.ufla.br. Museóloga, UFLA.
*
Universidad SEK (USEK), Av. Catedral 1712, Santiago, Chile; rodrigo.rojas.es@gmail.com. Arqueólogo.
*
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Campus São Raimundo Nonato, São
Raimundo Nonato, Brasil; leandromageste@gmail.com. Professor Assistente A, Nível 1 do Colegiado de
Arqueologia e Preservação Patrimonial
233
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Introdução
Esse acervo foi incorporado a ESAL no inicio da década de 1980 e passou a ocupar o
prédio Álvaro Botelho1, que se encontrava vazio desde a transferência da Escola para o
novo Campus. Atualmente o MBM salvaguarda cerca de 5000 documentos
tridimensionais e bidimensionais, associados em grande parte a história e cultura local.
Destacam-se coleções de ciência e tecnologia (C&T), imagem e som, ciências médicas,
utensílios doméstico, etnográficas; e claro, arqueológica, foco do presente trabalho. Vale
ressaltar que a importância do acervo museológico do MBM é consonante com a
relevância da edificação que o salvaguarda, haja vista que o prédio do Museu, por meio
do decreto municipal nº 6.671/ 2006 foi tombado pelo Conselho Municipal do Patrimônio
Cultural de Lavras (CMPC), integrando assim, o conjunto de bens imóveis significativos
para a preservação da memória e da história do município.
Para os fins deste trabalho, será apresentada uma discussão em torno da coleção
arqueológica oriunda da coleta realizada pelo Programa de Resgate - Sítios
Arqueológicos Monte Alegre e Cacho de Ouro (Ribeirão Vermelho-MG). Esta coleção foi
integrada pelo MBM em 2003, a partir de um trabalho arqueológico que consistiu em
salvaguardar esse material. Em 2014 iniciou-se um processo de ressignificação dessa
coleção arqueológica, que se encontrava incompreendida e isolada em uma área de
exposição do MBM intitulada “Sala de Antropologia”.
1
Esse foi o primeiro prédio inaugurado na antiga ESAL em 1922.
234
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
O MBM salvaguarda uma coleção arqueológica com cerca de 400 artefatos, dentre os
quais se insere o material relativo à escavação arqueológica dos Sítios Monte Alegre e
Cacho de Ouro, município de Ribeirão Vermelho/ MG. O Diagnóstico Arqueológico que
originou esta última coleção foi iniciado em 1992, quando diversos sítios arqueológicos
foram identificados no processo de duplicação da Rodovia BR 381.
De acordo como o relatório da Brandt Meio Ambiente LTDA. (2000), nesse ínterim de
dois anos entre a realização das etapas de Supervisão Ambiental e Resgate, tanto o sítio
235
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Cacho de Ouro como o Monte Alegre, sofreram “ações degradantes de alta magnitude
que comprometeram as suas estruturas remanescentes” (p.8). Ou seja, foi constatado “o
registro de ausência de evidências arqueológicas em superfície outrora abundantes,
sugerindo a possibilidade de uma coleta indiscriminada de peças por parte de
particulares” (p.8).
O material coletado nesses dois sítios, por meio do resgate amostral, buscou reconstituir
parcialmente os padrões de ocupação humana considerando a coleção de artefatos e os
demais vestígios levantados nesse contexto regional arqueológico (Brandt Meio Ambiente
LTDA., 2000). Em 2003, este material foi encaminhado ao Museu Bi Moreira da UFLA,
visando o seu retorno à região de origem.
Essa constatação levantada por Bruno (2009) é fundamental para se refletir sobre dois
aspectos, a saber: os impactos verificados nesses dois sítios (Monte Alegre e Cacho de
Ouro) deste sua identificação, em um empreendimento de licenciamento ambiental, até o
salvamento; e as possibilidades e desafios da inserção dessa coleção em uma instituição
museal, o MBM.
Para efeito desse trabalho, as considerações que serão apresentadas abaixo focaram
principalmente no segundo aspecto.
O MBM, no decorrer desses mais de 30 anos, vem representando para Lavras e região,
um locus de memória e comunicação do patrimônio local, possuindo um significado
236
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Salienta-se ainda, que a formação do acervo do MBM, foi caracterizada, em parte, por
doações de moradores e personalidades do município e adjacências. Esse aspecto
contribuiu, a nosso ver, para se estreitar os vínculos afetivos entre a comunidade e o
Museu, uma vez que este espaço museal é identificado pela população como o local de
guarda da memória e da história de Lavras.
Durante o período de 2011 e meados de 2014, o MBM foi totalmente fechado para
visitação, tendo em vista as condições de conservação do acervo e questões de
segurança.
2
Projeto “Museu Bi Moreira: diagnóstico do acervo e elaboração de projeto arquitetônico para Centro de
Documentação e Reserva Técnica”, 2013.
237
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Esses novos olhares para esta coleção, até então, a nosso ver, incompreendida por parte
do corpo técnico e administrativo do museu, foram fundamentais para se despertar outras
potencialidades para a musealização e comunicação do material arqueológico buscando
sua inserção efetiva em um acervo tão fragmentado como o do Museu Bi Moreira. Ao
mesmo tempo, evidenciou-se o desafio institucional para se ultrapassar ações pontuais e
de fato fomentar que esses bens patrimoniais sejam apropriados pela comunidade.
Observa-se também, que além das discussões sobre aspectos museais, iniciaram-se
reflexões sobre a potencialidade de pesquisas mais específicas envolvendo
principalmente a coleção proveniente de Ribeirão Vermelho.
Vale ressaltar que de acordo com Bruno (2009), as relações de cumplicidade entre os
estudos sobre cultura material e as coleções museológicas possibilitam “que os museus
desempenhem uma função social com desdobramentos educacionais, científicos,
econômicos e culturais e reivindiquem um certo protagonismo sobre o destino das coisas”
(p.25). Desse modo, pode-se inferir que as coleções arqueológicas ao adentrarem na
conjuntura museal adquirem novas potencialidades permeadas pela cadeia operatória da
museologia. Ou seja, passa a comunicar informações, instigar apropriações, fomentar
relações dialógicas para com os diversos públicos que visitam o museu.
3
A concepção dessa exposição teve como museóloga responsável Patrícia Muniz, ingressa no corpo técnico
da UFLA no final de 2013.
4
Na ocasião da programação para a Semana Nacional de Museu, o arqueólogo Leandro Mageste
(UNIVASF) conferiu na UFLA uma palestra para o público geral e realizou (em conjunto com a equipe do
MBM), uma oficina de preservação para o patrimônio arqueológico. Essas ações foram fundamentais para
despertar novos olhares para essa coleção, tanto no corpo técnico do Museu como no público em geral.
238
IV Seminário de Preservação de Patrimônio Arqueológico
Ao mesmo tempo, como bem aponta Bruno (2009), os processos curatoriais intrínsecos a
cultura material apresentam algumas exigências e desafios para que de fato os artefatos
musealizados possam possibilitar noções de pertencimento, inclusão social, entre outros.
Pode-se pontuar segundo a autora: a necessidade de revisões curriculares referentes à
formação profissional; elaboração de projetos de pesquisas referentes a nomenclaturas,
tesauros; ampliação da legislação voltada para os aspectos curatoriais dos bens
arqueológicos e etnográficos visando fiscalizar instituições museais; aproximação entre
profissionais que se debruçam em estudos sobre patrimônio material e imaterial visando
caminhos alternativos para a preservação patrimonial; desenvolvimento de trabalhos em
redes para superação de dificuldades curatoriais (p.24).
Essa breve contextualização sobre a situação atual do MBM, imersa nas possibilidades
contemporâneas dos espaços museais e nos desafios curatoriais da cultura material,
abre caminhos para novas reflexões sobre a musealização da arqueologia no MBM
inseridas no processo mais amplo de requalificação desta instituição museal.
Considerações Finais
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Museu universitário é aqui entendido como aquele que está parcial ou totalmente sob responsabilidade de
uma universidade nos seus aspectos da gestão, salvaguarda do acervo, recursos humanos, espaço físico.
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Observa-se que por ser um museu universitário , o MBM apresenta algumas dificuldades
na gestão museal também verificadas em outras instituições, como bem aponta Marques
e Silva (2011): dificuldades financeiras; falta de autonomia; abandono das coleções; falta
de espaço para armazenamento e para a exposição; carência de uma equipe de
profissionais especializados em atividades museológicas; acúmulo de função por parte
dos dirigentes.
Em suma, como foi possível observar, o MBM esta passando por um processo de
requalificação que envolve desde ações estruturais, como a elaboração de um projeto
arquitetônico de restauração e adaptação na edificação; quanto à implantação de um
projeto museográfico consonante com uma museologia contemporânea e que abarque a
diversidade do acervo salvaguardado pela instituição. Nessa perspectiva, a coleção
arqueológica salvaguardada pela Instituição faz parte de todo esse processo de gestão
museológica, que visa articular os múltiplos discursos do MBM, conservar o acervo
museológico da UFLA e comunicar de forma inclusiva, reflexiva e polifônica a cultura
material inserida no universo museal e universitário.
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