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Em 1984, a direcção da ‘Galeria Nhô Djunga’, espaço

onde foi fundado e o ‘centro vital’ do Festival da Baía


das Gatas, era formada por Daniel Medina, António
Pedro (Kukss) José Barbosa (Tchogass), Vasco Martins e
o assistente Silvestre Morais (Vesstra) que coadjuvava a
direcção artística.

Organizávamos como podíamos, concertos e vários


eventos: seminários de aprendizagem de música,
audições, palestras etc. Para dar uma ideia, eis um dos
programas de uma noite:

Gota d`Ága, humor com Ti Goi, slides de Gaby Évora﴾o


concerto que ele assistiu em Lisboa do Whinton
Marsalis), Travadinha…

Outro exemplo, isso em 1985: quando o compositor


Lela de Maninha, depois de décadas sem vir à sua ilha
chegou de Angola, organizamos um concerto na Galeria
e foi acompanhado, entre outros, por Manuel d`Novas

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no violão: ambos fizeram duos que ainda estão na
memória. A Maria Alice e o Palim ﴾sobrinho do B.Léza)
faziam o coro. De seguida houve uma serenata que
constituiu um acontecimento raro na altura, já que a
tradição, por vários motivos estava diluída.

1984, mês de Junho: estrearam no cinema Éden Park o


célebre filme do festival de música de Woodstock. As
pessoas que dirigiam a Galeria foram assistir à exibição
do filme. Eu não fui porque já o tinha visto em Paris.

Esperei por eles no Quiosque, onde muitas vezes nos


encontrávamos antes e depois das sessões da Galeria.
O Kukss, na sua cadeira de rodas, era um centro
‘gravitacional’ com as suas ideias, o seu amor à música
﴾PinkFloyd! PinkFloyd! Era o seu grupo preferido). E as
ideias transbordavam.

Saíram todos ‘hipnotizados’ do Woodstock e como não


podia deixar de ser, muita conversa se proporcionou.
Discutimos até tarde. As ideias foram surgindo, o
entusiasmo, a poesia criativa…Quem teve a ideia de
fazer um festival parecido﴾de longe! ﴿com o
Woodstock? Não me lembro. Talvez tivesse sido o
Kukss; ou todos nós, na intensidade do entusiasmo.
Mas creio ter sido o Vesstra que apontou para ser feito
na Laginha… Combinamos logo uma reunião na Laginha
no dia seguinte de manhã, para ‘in loco’ continuarmos
a discussão (já se adiantou que era para ser feito na

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Pracinha do ‘Liceu Velho’, o que pode ser provável, mas
não me lembro de tal ideia).

Quando fomos à Laginha algo aconteceu: tivemos a


consciência que estávamos na cidade! A praia era
pequena para os nossos sonhos. Queríamos que as
pessoas saíssem da cidade, queríamos ar fresco,
queríamos um espaço largo. E aí sim, lembro-me, foi o
Kukss que disse: Baía das Gatas! Concordamos, mas o
Daniel Medina, homem mais prático, contrapôs: já
seria um problema organizar um Festival na Laginha,
quanto mais na Baia! Tinha razão. Mas tínhamos a
energia da juventude que ‘dá asas’. E todos então
aceitamos essa ideia.

Á noite a discussão continuou na Galeria. Queríamos


resolver essa questão o quanto antes, porque
pretendíamos organizar o Festival imediatamente,
como mandam as regras da juventude, nesse verão! O
tempo urgia!

Assim, ou nessa noite ou no dia seguinte, fundamos


então, sem escrever atas e papeladas, o Festival da
Baía das Gatas. Fundar no sentido de criar, edificar (ou
ter ideias). Mas fazer é outra coisa.

Pois o nosso entusiasmos e o brinde que fizemos a essa


maravilhosa ideia, foram imediatamente confrontados
com a realidade. Tínhamos as ideias, mas não tínhamos
meios materiais para as realizar. Nem meios logísticos,

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nem financeiros, nem humanos. Teríamos que convidar
pessoas que pudessem ajudar a erguer o festival,
contactar instituições, formar uma comissão
organizadora, fazer movimentar o sistema de
produção, etc.

Na altura era a JAAC-CV que organizava a maior parte


dos eventos musicais ou culturais, sobretudo o “Todo o
Mundo Canta”. Mas não queríamos concursos,
queríamos um Festival onde muitos estilos de música
tivessem representação, pelo menos aqueles com
quem podíamos contar. Éramos um tanto distanciados
da JAAC-CV e estávamos cansados que todos os
eventos emanassem de uma juventude politizada
‘partidariamente’, que fizeram no entanto o que
podiam fazer no contexto da época.

É de adiantar que tinha nascido uma espécie de


‘movimento’, creio com o nome genérico de ‘ A nova
geração’, com o Vlú, inclinado para novas formas de
canção (com a sua talentosa veia melódica), com o
Dany Mariano, este sobretudo propenso para a morna
e a coladeira (com outra ‘roupagem’, muito original) e
com o grupo Gota d`Aga que estava inclinado para o
Jazz-Rock (grupo instrumental). Muitas vezes
tocávamos na Galeria, mas também, por exemplo na
Praça Estrela onde havia um recinto com plateia.

Necessário dizer que era um ‘movimento’ único, mas


com três personalidades independentes. Mexemos de

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facto com a música em S.Vicente, criamos rumos e
nova estética, inspiramos jovens músicos. Foi um
momento feliz, embora de curta duração. O primeiro
grupo Gota d’Aga era formado pelos seguintes
elementos: Vasco Martins nos teclados, Voginha na
guitarra, Lúcio Vieira no baixo e Blimundo na bateria.
Depois houve várias formações.

Abro aqui uma espécie de parêntesis, para escrever o


seguinte: existe ainda a ideia que o Festival foi criado
por jovens estarolas (‘hippies’, como na altura certos
conservadores nos chamavam﴿, que não tinham
precisamente a ideia do que ia acontecer ou a
dimensão que o Festival ia tomar. Nada mais errado!
Desde o princípio das nossas discussões, houve a
consciência de que construíamos algo novo e forte,
produto de energias da juventude sem dúvida
(estávamos todos entre os 27/30 anos﴿, mas
consequentes visionários e realistas. Retornarei a este
assunto mais à frente.

Começamos com uma deslocação à Baia das Gatas para


fazer o ‘spacing’. Lembro-me das discussões geradas a
propósito do posicionamento do palco, dos meios
logísticos, etc. Mas todos fascinados pelo fantástico
lugar que é a Baía.

Depois contactamos algumas pessoas (inclusive alguns


músicos), mas estas, no princípio não acreditaram no
projecto por acharem que era fantasioso, megalómano

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e impraticável. Mas a maior parte acabou por aderir
quando viram, e com razão, que as coisas avançavam.

Umas das entidades que contactámos foram as FARP. E


porquê as Forças Armadas? Por três razões:

primeiro porque as FARP em Vicente tinham um


conjunto musical com bons aparelhos para época e
tínhamos uma boa relação com eles, através do
Augusto Neves, encarregado do grupo e organista, que
nos emprestava aparelhos para os nossos concertos na
galeria e algures. Durante muito tempo usei teclados
emprestados generosamente pelo Augusto
﴾actualmente é o Presidente da Câmara Municipal de S.
Vicente). Portanto tínhamos que contar com eles.
Segundo, porque um dos comandantes das FARP em S.
Vicente, na altura era um jovem homem dinâmico, o
Tenente Nuno Duarte. Mantínhamos com ele também
boas relações, pois era um frequentador da Galeria. A
terceira razão: como na Baía das Gatas não havia ainda
energia eléctrica pública, teríamos que contar com um
gerador poderoso. Era também as FARP que nos
forneceram segurança, transporte, gasóleo para o
motor, tendas etc.

Já tínhamos alinhavado a Comissão Organizadora e


começamos as primeiras reuniões na Galeria Nhô
Djunga. Foi então que apareceu uma personagem
importante para o processo do Festival, o Engenheiro

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Gabriel Évora, ﴾Gaby﴿: quando estávamos numa
reunião, assomou à meia-porta da Galeria e disse:

‘ Ouvi dizer que estão a organizar um Festival na Baía


das Gatas. O que posso fazer?’. Dissemos logo: ‘Entra!’.

O Gaby trabalhava nas Obras Públicas. E sem as Obras


Públicas o Festival dificilmente seria feito. Ele e o Kikas
resolveram situações práticas importantes. O Gaby,
que na altura tocava trompete, participou também
como músico no grupo ‘Alegoria do Mindelo’.

As primeiras discussões foram, como não podia deixar


de ser, sobre a data do Festival. Estávamos já em Julho.
Uns apontavam para o princípio de Agosto, outros para
a metade. Não tínhamos tempo. Foi o Gaby Évora que
sugeriu que o Festival fosse na Lua Cheia, não só pelo
romantismo, mas para dar segurança, pois na baía
ainda não havia luz eléctrica pública, como já disse.
Mas a Lua Cheia de Agosto de 1984 foi no dia 11, o que
não nos facultava tempo. De resto, a notícia começou
imediatamente a correr e muitos emigrantes
começaram a pedir que fosse na metade do mês de
Agosto, na altura em que estariam de férias.

Assim, embora já se tenha lido e ouvido mil vezes que o


1º Festival da Baía das Gatas foi com a Lua Cheia, tenho
aqui o ingrato papel de negar. Era essa a ideia, mas por
questões práticas não podia ser. Nos seguintes festivais
sim. Ou pelo menos mais coincidentes com a Lua Cheia.

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No dia 18 de Agosto de 1984, a Lua estava na fase de
meia-lua decrescente e só apareceu a Este por volta da
meia-noite.

(…)>

A Comissão Organizadora:

Havia, até há muito pouco tempo, uma ‘nuvem’ que


escurecia ‘quem foi quem’, pois o livro de actas das
reuniões infelizmente desapareceu. E comecei a sentir
algumas inconsistências junto a certas pessoas que
contactei, como também na leitura de documentos na
Net ou em livros e revistas.

Fui reunindo as peças do ‘puzzle’, aquelas que eu


duvidava. Finalmente o Daniel Medina e o Tchogass,
que vivem na cidade da Praia, abriram há poucos dias
‘as nuvens da memória’ com um e-mail decisivo! E tudo
enfim se tornou mais claro.

Posso adiantar, tendo em conta uma ou outra reserva,


que a primeira Comissão Organizadora do Festival era
formada pelos seguintes elementos:

Daniel Medina (que tinha tido uma boa experiência na


organização do Carnaval e por isso o chamamos), foi o
Presidente da Comissão, Vasco Martins, Director
Artístico, José Barbosa (Tchogas), responsável pela
Área Logística, António Pedro (Kukss), Tesoureiro e o

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Silvestre Morais (Vesstra), assumiu o Expediente Geral
da Comissão.

Os colaboradores activos foram o Gaby Évora


(importante elemento, como á foi dito, apoio na
Logística Geral), a Rosa (dos TACV) e a Maria Alice no
apoio e contactos com as casas comerciais para a
angariação de fundos, o Rui Uipidu (apoio na Logística),
o Tuguei (apoio na Logística), o Anildo (pintura de
Cartazes) o Tenente Nuno Duarte (apoio importante na
Logística). É de apontar os valiosos e elegantes apoios,
sobretudo na logística e relações públicas, das
Senhoras Ingrid, Maria José e Bia (da Ribeira Bote).

(…)>

Uma das aspirações subjacentes ao Festival, foi ter um


ambiente natural propício para fazer música e uma
lufada de ar fresco em relação à parcimónia instalada
tanto socialmente como artisticamente na cidade do
Mindelo. Quanto à estética musical: apresentar,
sempre que possível, novos trabalhos. Os músicos só
teriam direito de subir ao palco nos posteriores
festivais ﴾músicos locais﴿, depois de terem criado coisas
novas, pelo menos parcialmente. Abranger todos os
estilos de música, desde a música tradicional de Cabo
Verde, Jazz e mesmo a chamada música clássica... Por
exemplo, o Cubala, músico de Santiago que estudou
guitarra clássica em Cuba, participou no 1º Festival,
tocando a solo temas clássicos. De facto, nos

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posteriores festivais veio-se a assistir à vinda de grupos
ou músicos de Jazz. Mas depois este ideal de “música
livre” dilui-se, como se sabe. Mas progrediu em muitos
outros aspectos.

O Dany Mariano, o Vlú, o Carlos de Castro, o Pinúria, o


Bulimundo, o Voginha, o Lúcio, são exemplos dos
músicos que muitas energias deram á construção do
Festival, independentemente de ‘subirem’ ao palco.
Foram também, importantes as acções práticas do José
Pedro Rosário (Djô Papinha), do José Moreira (Adega
do Leão), na cedência de bebidas a consignação para
angariação de fundos e do bar para a Baía das Gatas,
do Djon d’ Tevec na cobertura integral de todo o
Festival, do Nelson Atanásio, na altura Secretário
Administrativo de S.Vicente e da ‘Rádio Voz de
S.Vicente’ cujos jornalistas e técnicos incansavelmente
transmitiram o Festival.

Sublinho a participação relevante do Vlú na cedência


dos instrumentos para os ensaios e no apoio e
consolidação do Festival. Do Manú Rasta, do Ró e do
Nandim do Sr. Crisanto… Se esqueço algum nome, peço
sinceras desculpas. Tenham em conta que já
decorreram 30 anos. E era tanta gente à volta que nos
lembramos de uns e esquecemos de outros.

(…)>

Não podemos deixar de sorrir dos “slogans” um tanto


‘naïfs’ do Festival:

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1º Festival de Música da Baia das Gatas.
A arte musical em festa.
Maratona de música
Solidariedade e Paz num encontro de música livre

Sábado 18 de Agosto
18 Horas abertura do Festival com o Hino da Baia das
Gatas.

Músicos/ Grupos:

Gota d` Aga
Gotinha
Jon Lino
Sana Peppers
Adão Fidalgo
Lázaro
Vlú
Júlio Silva
Panai
Djô Cabel
Hakan
Kings
Dany Mariano
Cubala
Vikings
Cesária Évora
Deolinda
Wings

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Acompanhamento do Grupo de Frank Cavaquinho
(Cavaquim)

Domingo 19 de Agosto
11 Horas: Alvorada. Continuação do Festival da Baia da
Gatas

Músicos/ Grupos:

Vlú
Djô Pedro
Lucas
Carlos Castro
Pinúria
Júlio Silva
Alegoria do Mindelo ﴾grupo de música experimental
escola de Samba﴿
Zeca e Zequinha
Arco Iris
Progresso
Gaiatos
Djô d`Iloy
Kings
Gota d`Aga

Na contracapa do Programa:

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Iniciativa da Galeria Nhô Djunga
Agradecemos às entidades e pessoas que garantiram a
realização do 1º Festival da Baia das Gatas:
Secretariado Administrativo de SV
FARP
MHOP
Casas Comerciais e Empresas de S. V.
Rádio Voz de S. Vicente
TVEC
JAAC-CV
Músicos Participantes
Juventude Mindelense

O Grupo de Frank Cavaquim acompanhou a maior


parte dos cantores de música tradicional, o grupo Gota
d`Aga acompanhou o Dany Mariano, o Vlú e o Pinúria e
grupos restantes formados ‘ad hoc’, muitas vezes no
instante, acompanharam outros músicos e cantores.

Necessário dizer que a completa improvisação era a


regra máxima do Festival: não podia ser de outra
maneira, dado que não tínhamos meios, nem
experiência, nem tão pouco a disponibilidade de
material necessário para o ‘desenrascanço’. Somente o
ideal, a energia da juventude, nunca é demais repetir,
pois nesta época em que muitos falam de perda de
valores e da procura angustiante do sucesso e do
consumo, vale a pena falar desses tempos “idealistas”

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que alguns, não poucos, nostalgicamente ainda têm no
coração.

Quando foi anunciado o Festival, a juventude acorreu à


Galeria. Muitos já a frequentavam assiduamente e
também contribuíram para a promoção do Festival.

(…)>

O Rui Uipidu era um dos encarregados de entregar as


cartas de pedido de apoio financeiro junto às casas
comerciais do Mindelo. A maior parte delas não
contribuiu. Somente uma meia dúzia o fez. Se bem me
lembro o Festival teve um ‘budget’ de 180 contos.
Contactamos entidades oficiais que arrastavam as
decisões. Há uma ‘famosa’ frase que paira ainda na
memória: ‘não emprestamos, não cedemos e nem
colaboramos’.

A revista Ponto & Virgula editou um número dedicado


ao Festival da Baia das Gatas ﴾nºs 10 e 11﴿, o qual
intitulou ‘Baia das Gatas, ‘dossier Juventude’.
Escreveram uma singela reportagem, não sem um erro
de ‘paralaxe’ ﴾ou talvez houve falta de revisão do
texto﴿: fala de “mais de um milhar de pessoas”, quando
sabemos que foram cerca de duas dezenas de milhares
ou mais, durante os dois dias. Uma equipa de inquérito
da revista entrevistou alguns jovens, entre eles, dois
músicos na altura já bastante conhecidos: o Dany
Mariano que frisou ‘ falha na organização’ e ‘ a livre

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comunicação com o público, sem intuitos comerciais’, e
o Zequinha Magra que comentou que foi ‘ uma boa
iniciativa no que respeita ao intercâmbio de músicos’.
Outras entrevistas interessantes se sucederam com
jovens. É um indispensável e raro documento histórico
sobre o Festival.

Fizemos várias vezes, como já disse, o “spacing” do


local onde montar o palco. A Baia das Gatas pode ter
um forte vento de Nordeste mesmo no mês de Agosto
e previmos também a chuva que felizmente não caiu.
Porque se a chuva caísse, o toldo que improvisamos
para proteger de uma hipotética chuva tudo o que
tínhamos em cima do palco não funcionaria. Foi o
Manuel Cabral, creio, que nos emprestou uma grande
vela para cobrir o palco.

A Baia das Gatas é um dos locais mais lindos da ilha de


S. Vicente e de Cabo Verde: é um grande espaço
aberto, com uma visão circundante de 360º. A enorme
piscina que faz da Baia um ícone, é protegida pelos
corais e por pedras vulcânicas. O mar é azul, azul-
turquesa, azul-ultramarino, com tons de verde. A areia
que circunda quase toda a ‘piscina’ é formada por
pedaços de conchas e corais. Pode-se ver o Monte
Verde, toda a extensão que vai até à Praia Grande e aos
vulcões do Calhau, o Pico Vermelho e o Monte da
Salamansa, como também os quatro ou cinco
pequenos vulcões da Baía e o grande Oceano Atlântico!

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Tendo em conta o vento predominante no sentido
Nordeste-Sudeste pusemos o palco também nessa
posição, que é a posição que agora ocupa﴾pois em
1993, creio, foi modificada, sem terem em conta o
vento).

(…)>

Alguns dados que me parecem curiosos sobre o 1º


Festival da Baia das Gatas, em 1984:

- Levou sensivelmente um mês e uns dias para ser


organizado.

- O primeiro Hino do Festival foi instrumental,


composto por mim e tocado pelo grupo Gota d`Aga.
Mas a canção ‘Um Data Magna’ do Vlú ficou
decisivamente como o ‘hino de alegria’ do Festival.

- A aparelhagem do grupo “ Grito do Mindelo” (e


outros grupos, Wings por exemplo) tinha um impacto
acústico de 750 watts. No fim do festival, no Domingo,
devia ter uns 100 watts﴾50?﴿ com os ‘agudos’
arrebentados. O dono da aparelhagem no princípio
aflito, resolveu marimbar-se e “curtir” o Festival.

- O baterista Blimundo tocou horas sem parar, à base


de grogue e água, sandes de vez em quanto e
espetadas de carne de porco que ele adorava.

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- O palco foi feito por todo o tipo de material:
andaimes, pranchas de ‘bidon’ e madeira, todo o tipo
de panos, arames, pregos enferrujados, etc.

- O motor, como já tinha dito, era um enorme motor


russo de cor amarelo-sol, que precisava de descanso de
3 em 3 horas. O sargento Futche era o responsável pelo
motor. Alguém despejou água do mar no motor e o
Festival esteve parado horas à espera que o Futche
limpasse o sal que se tinha entranhado no motor.

- Dois ou três dias que antecederam o Festival, um


emigrante em férias alugou um carro, foi à Baia ver os
preparativos e no regresso teve um acidente no qual
veio a falecer. No dia seguinte houve uma pequena
manifestação em frente à Galeria Nhô Djunga por parte
dos familiares e amigos do pobre homem, solicitando
que parássemos o Festival. Fui eu próprio dialogar com
eles. Depois silenciosamente dispersaram-se.

- No Domingo, já a noite ia avançada, quando o último


músico a actuar foi o Tolas ﴾que não estava no
programa pois o fecho era para ser feito pelo Gota
d`Aga), que interpretou em trio - com o jovem Djimmy
no baixo, e o Bulimundo na bateria - alguns temas de
Jimmy Hendrix, com os amplificadores no volume
máximo. Mas o Toi Hippie subiu ao palco, pegou num
microfone e começou a cantar uma canção do grupo
britânico de rock ‘Genesis’.

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-Assim com a confusão que o Toi Hippie gerou e toda a
gente cansada, o Festival acabou abruptamente com
um ‘power off’ na mesa de mistura “Lem” que ficava
mesmo junto ao palco e todos enfim foram descansar,
felizes e realizados. Muitos dormiram debaixo do palco,
para guardar os materiais que teriam que ser entregues
na segunda-feira de manhã.

(…)>

Dou por terminada esta breve história do Festival da


Baia das Gatas, marco maior na música de Cabo Verde
e que todos os anos põe em movimento artístico,
económico, humano e festivo, a ilha de S.Vicente. Só
em 1995 não foi realizado devido à epidemia de cólera
que alastrava no país.

Posso acrescentar que o Festival da Baía das Gatas foi


desde o princípio uma ‘luz estelar’ dos que tiveram a
ideia e avançaram, dos membros e apoiantes seguros,
da primeira Comissão Organizadora, dos músicos, dos
artistas plásticos, dos entusiastas, dos colaboradores,
de todo o povo de Vicente e das outras ilhas que
ampararam de uma maneira ou de outra este
acontecimento que é hoje uma lenda.

E foi em tom profético, quando na segunda-feira, na


caixa de um velho camião ‘Bedford’, de regresso ao
Mindelo, deitados extenuados em cima dos colchões
que a Cruz Vermelha nos tinha posto à disposição, o

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Kukss o Vesstra e o Tchogass declararam felizes:
’Missão cumprida! Este Festival será para sempre!’.

Trinta anos depois, ei-lo ainda vivo, encantando todas


as gerações.

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Acréscimo

Para escrever este breve historial sobre a génese do Festival


da Baía das Gatas (que não considero decisivo), tive em
conta a memória, as conversas com pessoas estreitamente
envolvidas com o Festival de 1984 e a pesquisa documental
que é muito parca. Diligenciei consultar o ‘Voz di Povo’, o
único jornal semanal da altura, mas tive tantas dificuldades
que desisti. Pode ficar para os estudiosos.

Separar ‘o trigo do joio’, passados 30 anos, não é fácil.


Mesmo se este relato poderá ter lacunas, tentei ser
concordante. Podem e devem possivelmente existir outras
adendas. O tempo o dirá.

No entanto dei a ler as várias versões que fui escrevendo


(conforme ia ‘mexendo aqui e ali), a algumas pessoas que
intervieram activamente na edificação do Festival, de modo
a tentar cometer menos erros possíveis e ter uma espécie de
consenso, se porventura existisse. A maior parte das
posições foram amigas e elegantes, mas houve quem não
aprovasse.

Mas no fundo, o que é essencial e verdadeiramente


importante, foi que todos construímos uma das maiores
festas de Cabo Verde com o ‘idealismo mágico’ em que a
Música foi o eixo transcendente.

No princípio dos anos noventa o Kukss esteve de férias em


S.Vicente e resolvemos, os fundadores (creio que o Daniel
Medina encontrava-se em Portugal e assinaria depois o
documento), oficializar o Festival junto ao Notariado. Tal não

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foi possível por vários motivos. O Kukss, veio a falecer
tragicamente pouco tempo depois, longe da sua querida ilha.

Aproveito para lembrar que a ‘Galeria Nhô Djunga’, era o


espaço fotográfico do famoso João Cleofas Martins, (Nhô
Djunga), fotógrafo, correspondente e representante da
‘National Geographic’, filósofo, satírico político (a sua obra-
prima, por exemplo, ‘Roupa de Pipi) e humanista.

Sarvamangalam
(que todos sejam felizes)

Vasco Martins
13 De Julho de 2014

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