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Eu, que estou reproduzindo este artigo de outro autor (vide fonte do artigo no final do texto),
sou luterano, mas como ex-calvinista/batista ainda tenho um particular interesse sobre as
características desse movimento legítimo da cristandade. Reproduzo o artigo com a intenção
de simples informação, não há comentário ou posicionamento meu sobre esse assunto abaixo,
apenas reprodução do artigo original do autor para informação, sem alterações, comentários,
ou acréscimos de minha parte.
Temas sempre debatidos, Calvinismo e Arminianismo fazem parte do debate teológico há cinco
séculos, nesta nomenclatura, e há mais de quinze séculos por meio de outros termos.
É dever do estudioso, a releitura bibliográfica para saber o que já houve, porém faz parte de
seu compromisso, e é um de seus fatores motivacionais, a busca pela contextualização
teológica contemporânea, conhecendo os clássicos, mas não tolindo sua capacidade de
construção teológica contribuição contemporânea, buscando criação, mas sem invencionices.
Calvinismo
O foco neste opúsculo é abordar as perspectivas acerca da eleição nestes sistemas teológicos e
não o sistema teológico como um todo.
A confissão Calvinista foi elaborada no Sínodo de Dort (1618-1619), atribuída a Teodoro Beza
(1519-1605), discípulo de Calvino, em resposta aos seguidores de Jacobus Arminius (1560-
1609) com seu documento Remonstrance de 1610. Percebe-se que foi elaborada após a morte
de Jacobus Arminius.
A perspectiva calvinista clássica acerca da eleição observa-se por meio de cinco itens principais:
Estes cinco itens são apresentados em cinco temas principais: 1) Depravação Total (Ef 2.1, 3; Cl
2.13; Jo 1.12, 3.3, 6, 7, 6.65, 8.44; Rm 3.10, 11, 9.16, 8.7-9; 1Co 2.14; 2Co 3.5; Ti 1.15; Ez 36.26;
Sl 51.5); 2) Eleição Incondicional (Ef 1.5-11; Rm 8.28, 30; 1Co 1.27-29; Mt 11.27, Jo 15.16; 2Ts
2.13); 3) Expiação Limitada (Mt 1.21, Ef 1.4, 5.25; 1Co 15.3, 22; Jo 1.9, 5.21, 17.9; Rm 5.15,
9.11-13; Mc 10.45; 1Pe 3.18); 4) Graça Irresistível (Rm 9.15, 19, 21, 22; Lc 14.23; Jo 6.44) e; 5)
Perseverança dos Santos (Jo 5.24,.6.39, 40, 10.27-29, 17.12; Hb 10.14; Rm 8.16, 29, 30, 35-39;
Ef 1.13, 14; Fp 1.6; 2Tm 1.12, 2.13; 1Pe 1.5; 1Jo 5;.13; Jd 24, 25 ).
Critica-se o fato de que os seguidores de João Calvino que formularam o Calvinismo, pois o
próprio Calvino não advogava uma “Expiação Limitada”, ensinando que Cristo morreu por
todos, os pecados do mundo foram expiados (Comentários de Calvino de Gálatas a
Colossenses), sendo isto uma doutrina de Teodoro Beza.
Arminianismo
Jacobus Arminius (1560-1609), holandês, é considerado como idealizador das reflexões que
consectuaram na elaboração dos pontos que foram redigidos por 46 ministros e leigos
holandeses em um documento chamado Remonstrance que resumia a rejeição, por Armínio e
por eles mesmos, do calvinismo rígido.
Da mesma forma como o Calvinismo, o “Arminianismo” como sistema teológico é bem mais
abrangente do que apenas a perspectiva sobre a eleição, mas costumeiramente, quando se fala
que “fulano é arminiano”, entende-se que diz respeito a sua perspectiva acerca da eleição.
Seus itens principais reunidos no Remonstrance (1610), um ano após a morte de Arminius,
foram os seguintes:
Cristo morreu por todos os homens (Rm 5.6, 15; Is 53.12; Mc 14.24; Hb 5.9; Gl 5.12; Jo 1.29,
3.16, 17, 12.47; 1Jo 2.2);
O ser humano não possui graça salvadora por si mesmo, nem do seu livre-arbítrio pode fazer
qualquer coisa boa, mas é necessário que ele seja nascido de novo por meio de Cristo;
A graça pode ser resistida, ou seja, o homem pode rejeitar a graça que lhe é oferecida;
Os que foram incorporados a Cristo podem ser destituídos da graça (Mt 7.22-23; 2Pe 2.22; Ap
3.5, 22.19);
Dentre arminianos famosos encontram-se John Wesley, Dwight Lyman Moody e Stanley
Horton. Contemporaneamente, este sistema teológico presentifica-se nas Igrejas Assembleias
de Deus, Metodistas, Deus é Amor, Evangelho Quadrangular, Igreja do Nazareno, dentre outras.
Críticas em Geral
Os mesmos textos bíblicos que dão subsídios teológicos-reflexivos para uma perspectiva muitas
vezes também o fazem para outra. Assim sendo, é possível encontrar calvinistas e arminianos
defendendo, a partir do mesmo texto, suas perspectivas, mudando, apenas, a abordagem. Um
exemplo clássico é João 3.16. Enquanto o arminiano, a partir do texto bíblico, defende a
expiação universal, afirmando que Cristo morreu por todos, citando: “Deus amou o mundo”, o
calvinista lê o texto e afirma que “o mundo”, referido no texto bíblico, aponta para “os eleitos”.
Constantemente as maiores críticas ao Calvinismo giram em torno da Expiação Limitada (no
caso do Calvinismo Clássico) e da Dupla Predestinação (no caso do Hipercalvinismo).[5]
Alguns chamam o Calvinismo Clássico, com seus cinco pontos principais, de Calvinismo
Extremado, pois advogariam que o próprio João Calvino não era Calvinista (em relação à todos
os cinco pontos) por não defender a Expiação Limitada.
Afirma-se ainda que a graça é irresistível apenas para aquele que a aceita. Todos os Calvinistas
crêem na Perseverança dos Santos.
Variantes Calvinistas
Calvinismo Moderado – Acredita que a imagem de Deus foi manchada pela queda, mas não
apagada, assim sendo, o homem teria a capacidade rejeitar a oferta de salvação (Mt 23.37, Jo
1.12, Dt 30.19, Js 24.15, 2Sm 24.12, Jo 8.24, 6.69, 9.36, 38, 10.25). A salvação é oferecida para
todos e não apenas para os eleitos, assim sendo, acredita na expiação ilimitada (Jo 8.34,
12.37). Uma pessoa não pode crer sem a ajuda da graça de Deus (Fp 2.13-13). Diferencia-se do
Arminianismo, principalmente, por afirmar que Deus não apenas antevê as circunstâncias, mas
as determina (At 2.23, 4.27-28; Jo 6.44, 10.17-18, Lc 22.22; 1Pe 2.8; Gn 45.8, 50.20; Rm 10.13).
Deus viu o uso de nossa liberdade, e, vendo, determinou, sempre de acordo com sua
presciência. É considerado um Arminianismo enrustido por grande parte dos Calvinistas.[6]
Barthianismo – Afirma que em Cristo está a Eleição e a Reprovação, o sim e o não. Destarte, se
Ele leva a reprovação da humanidade sobre Ele e Ele foi aprovado por Deus, logo, nEle, a
Humanidade encontra a aprovação. Karl Barth é acusado por muitos como Universalista
(perspectiva que afirma que no final de todas as coisas, todos herdarão à salvação; semelhante
à doutrina da apokatástasis (¢pokat£stasij), que, baseando-se, principalmente, em At 3.21,
afirma que, no final, todas as coisas, até o diabo e seus anjos, serão restaurados; defendida por
Orígenes).
Variantes Arminianas
Arminianismo Extremo / Teísmo Aberto – Norman Geisler designa o Teísmo Aberto como
“Arminianismo Extremo”. Clarck Pinnock, John Sanders, John Cobb, Greggory Body, David
Basinger são nomes alinhavados nesta perspectiva. O Teísmo Aberto/Arminianismo Extremado
(também chamado de Teologia Relacional ou Neoteísmo) afirma que o amor é o principal
atributo de Deus, sobreposto aos demais. Destarte, por amar as Suas criaturas, para que elas
sejam verdadeiramente livres, Ele se autolimita a determinar suas escolhas. Ademais, o futuro
não existe. Como Deus conhece apenas o que é existente, Deus não conhece o futuro, pois ele
ainda não existe. Deus conhece apenas o que Ele determina que acontecerá. Assim também,
Deus muda. Vai de encontro a Sl 147.5; Is 46.10; Sl 139.1-6; Ef 1.4; Rm 8.29; 1Pe 1.2; At 1.20.[7]
Além das variantes de cada uma das abordagens, existem outros termos muito utilizados
dentro das perspectivas e de suas variantes que vale a pena salientar para melhor
compreensão:
Supralapsarianismo (ou Supralapsorianismo) – Termo ligado ao Calvinismo. Perspectiva que
afirma que o homem foi eleito antes da Queda. Deus cria uns para serem salvos e outros para
serem perdidos; Teodoro Beza (1519-1605) defendia este posicionamento; associado ao
Calvinismo Extremo.
Monergismo – junção dos termos gregos mónos + érgon + ismós(mÒnoj + œrgon +„smÒj),
“sistema do trabalho de um”, ou seja, apenas Deus age no processo de salvação. Termo
utilizado, constantemente, para o Calvinismo Clássico.
Sinergismo – junção dos termos gregos sýn + érgon + ismós(sÚn + œrgon +„smÒj), “sistema do
trabalho em conjunto”, ou seja, há uma ação conjunta no processo de salvação. O homem dá
um passo em direção a Deus e Deus dá um passo em direção ao homem. Utilizado, geralmente,
para o Arminianismo e Calvinismo Moderado.
Graça Preveniente – Graça que Deus oferece e concede a todas as pessoas de alguma forma e é
absolutamente necessária para que os pecadores caídos – mortos em pecados e escravos da
vontade – creiam e sejam salvos. É a graça sobrenatural, auxiliadora e outorgante de Jesus
Cristo. Mas por ser preveniente (acontece antes), pode ser resistida. Se o homem aceitar esta
graça e permitir que ela opere em sua vida pela fé, ela se tornará justificadora, eficaz. Esta
perspectiva é Arminiana e Sinérgica, na qual, o homem coopera com sua vontade com esta
graça para a conversão.
Graça Especial – Graça pela qual Deus redime, santifica e glorifica seu povo. Ao contrário da
graça comum, que é dada universalmente, a graça especial é outorgada somente àqueles que
Deus elege À vida eterna, mediante Seu Filho, Jesus Cristo.
Graça Suficiente – Tipo e grau de influência do Espírito que é suficiente para levar os seres
humanos ao arrependimento, à fé e a uma vida santa.
Graça Eficaz – Influência do Espírito que é eficaz para produzir a regeneração e a conversão. É
eficaz porque é produzida por Deus e nada do que Deus faz falha.
Graça Cooperante – Influência do Espírito que ajuda o povo de Deus em todos os exercícios da
vida divina.
Graça Habitual – O Espírito Santo habitando os crentes; ou aquele estado mental permanente,
imanente, em virtude de sua presença e poder permanentes.
Deterministas – Aqueles que negam que, nas decisões morais, somos livres para fazer algo
diferente daquilo que fazemos. O determinista em oposição ao auto-determinista, crê que
nossos atos morais não são causados por nós mesmos, mas por alguma outra pessoa ou coisa.
Pelagianismo – Entende que nenhuma força externa, graça divina, é necessária para influenciar
o homem para aceitar a salvação de Deus. Nisto difere-se do Arminianismo, pois não advoga
uma graça preveniente.
Conforme é perceptível, há termos que são correlatos, apesar de terem uma nomenclatura
diferenciada. A graça salvadora, a graça eficaz, a graça irresistível, a graça especial querem dizer
respeito, dependendo da denominação, ao mesmo conceito: o favor de Deus outorgado para
operar a salvação.
Em sua declaração de fé, artigo IV, os Batistas da Convenção Batista Brasileira, dizem:
Eleição é a escolha feita por Deus, em Cristo, desde a eternidade, de pessoas para a vida
eterna, não por qualquer mérito, mas segundo a riqueza da Sua graça. Antes da Criação do
mundo, Deus, no exercício da Sua Soberania Divina e à luz de todas as coisas, elegeu, chamou,
predestinou, justificou e glorificou aqueles que, no correr dos tempos, aceitariam livremente o
dom da salvação (Gn 12.1-3; Ex 19.5-6; Ez 36.22, 23, 32; 1Pe 1.2; Rm 9.22-24; 1Ts 1.4). Ainda
que baseada na soberania de Deus, essa eleição está em perfeita consonância com o livre
arbítrio de cada um e todos os homens (Rm 8.28-30; Ef 1.3-14; 2Ts 2.13-14). A salvação do
crente é eterna. Os salvos perseveram em Cristo e estão guardados pelo poder de Deus (Dt
30.15-20; Jô 15.16; Rm 8.35-39; 1Pe 5.10). Nenhuma força ou circunstância tem poder para
separar o crente do amor de Deus em Cristo Jesus (Jo 3.16, 36, 10.28; 1Jo 2.19). O novo
nascimento, o perdão, a justificação, a adoração como filhos de Deus, a eleição e o dom do
Espírito Santo asseguram aos salvos a permanência na graça da salvação (Jo 10.28; Rm 8.35-39;
Jd 2.4; Ef 4.30).[8]
Os batistas têm seus “princípios batistas”, que identificam esta denominação e, em cada
convenção (brasileira, nacional, regular, etc.) as “doutrinas batistas”.
Conclusão:
Soberania e livre-arbítrio não são incompatíveis, porém a maneira como abordarmos o assunto
será determinante para o resultado teológico que obteremos. O homem é livre e Deus é
Soberano. Deus não escraviza o homem e mantém Sua Soberania. O homem exerce seu livre-
arbítrio, mas não incorre em um Humanismo exacerbado. Interessante é ressaltar também que
tanto o Arminianismo Clássico, quanto o Calvinismo Clássico enfatizam a responsabilidade
humana e sua necessidade de expressar uma vida santa e reta como evidência de sua eleição.
É dever do cristão examinar as Escrituras e buscar aquilo o que elas trazem. Nem sempre as
respostas podem coadunar-se a um sistema teológico previamente estabelecido. Destarte,
devemos estar abertos ao diálogo e a considerações diferentes da nossa, pois na mesma Bíblia,
dependendo da abordagem, pressupostos, espaço-tempo e subjetivismo, interpretações
diferentes podem surgir.
Não devemos considerar o diferente, errado, mas apenas diferente, aprendendo a viver e
conviver fraternalmente buscando o alvo que é viver Cristo e fazê-lo conhecido.
[1] Como, por exemplo, no caso do “TULIP” acerca da eleição, nem todos os itens eram
defendidos por Calvino, conforme veremos adiante.
[4] Pelágio, monge britânico do século IV, entendia que nenhuma força externa, graça divina,
seria necessária para influenciar o homem para aceitar a salvação de Deus. Nisto difere-se do
Arminianismo, pois não advoga uma graça preveniente.
[6] Apresentado detalhadamente por Geisler, em: GEISLER, Norman. Eleitos, mas livres: uma
perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre arbítrio.São Paulo: Vida, 2006.
Resumidamente, esta perspectiva pode ser encontrada em: HOUSE, Wayne. Teologia Cristã em
Quadros. São Paulo: Vida, 1999, p. 106.
[7] Já existem diversas obras em língua portuguesa que combatem o ensinamento deformado
desta perspectiva. Dentre elas, citamos: PIPER, John, TAYLOR, Justin, HELSETH, Paul K.
(orgs.) Teísmo Aberto: Uma Teologia além dos limites bíblicos.São Paulo: Vida, 2006; LOPES,
Augustus Nicodemus. Teologia Relacional: suas origens, seus ensinos, suas conseqüências. São
Paulo: PES, 2008; WARE, Bruce. Teísmo Aberto: A Teologia de um Deus limitado. São Paulo:
Vida Nova, 2010.
[9] Para maior detalhamento, indicamos a excelente obra de OLIVEIRA, Zaqueu Moreira
de. Um povo chamado batista: história e princípios. Recife: Kairós Editora, 2010.