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Ministério da Educação

Secretaria de Educação Básica


Diretoria de Apoio à Gestão Educacional

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

OS DIFERENTES TEXTOS EM
SALAS DE ALFABETIZAÇÃO

UNIDADE 5 | ANO 1

Brasília
2012
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Sumário
Secretaria da Educação Básica – SEB
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)

OS DIFERENTES TEXTOS EM SALAS DE ALFABETIZAÇÃO

Iniciando a conversa 05

Aprofundando o tema 06
Os diferentes textos a serviço da perspectiva
do alfabetizar letrando  06

Relatando experiências: a diversidade textual em sala de aula 15

Ampliando um pouco mais o trabalho:


os diversos textos e suas relações com as áreas de conhecimento 30

Compartilhando 35
Tiragem 122.102 exemplares
Direitos de aprendizagem no ciclo de alfabetização – Ciências 35
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Direitos de Aprendizagem no ciclo de alfabetização – Geografia 39
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500 Lendo e produzindo verbetes de enciclopédia:
CEP: 70047-900 aprendendo sobre animais 40
Tel: (61)20228318 - 20228320
Aprendendo mais 42
Sugestões de Leitura 42

Sugestões de atividades para os encontros em grupo  44


OS DIFERENTES TEXTOS EM SALAS DE ALFABETIZAÇÃO
Unidade 5 | Ano 1 Iniciando a conversa
Autoras dos textos da seção Aprofundando o tema:
Adriana M. P. da Silva , Ana Beatriz Gomes Carvalho, Ivane Pedrosa de Souza, Leila
Nascimento da Silva, Telma Ferraz Leal, Vera Lúcia Martiniak.

Autoras dos relatos de experiência e depoimentos:


Patrícia Batista Bezerra Ramos, Severina Erika Silva Morais Guerra, Silvia de Sousa Nesta unidade, retomaremos a discussão sobre a importância de se trabalhar textos em
Azevedo Aragão.
sala de aula e de articular esse trabalho com os diferentes eixos relativos ao componente
Leitores críticos e apoio pedagógico:
curricular Língua Portuguesa, principalmente com o processo de alfabetização. Parti-
Adelma Barros-Mendes, Alfredina Nery, Amanda Kelly Ferreira da Silva, Ana Cláudia remos do pressuposto de que, embora a apropriação do sistema alfabético seja o foco
Rodrigues Gonçalves Pessoa, Ana Márcia Luna Monteiro, Erika Souza Vieira, Evani da do trabalho com alunos do primeiro ano, tal como foi discutido na unidade 3, os demais
Silva Vieira, Lygia de Assis Silva, Magda Polyana Nóbrega Tavares, Magna do Carmo Silva eixos devem ser refletidos: leitura, produção de textos e oralidade.
Cruz, Maria Helena Santos Dubeux, Patrícia Batista Bezerra Ramos, Rochelane Vieira de
Santana, Severino Rafael da Silva, Vera Lúcia Martiniak, Yarla Suellen Nascimento Álvares. Tomando por perspectiva um ensino que propicie ao aluno fazer uso da linguagem,
considerando os diferentes contextos de uso da mesma, ou seja, tendo por base a aborda-
Produção dos quadros de direitos de aprendizagem: gem sociointeracionista, é que práticas pedagógicas serão aqui refletidas e analisadas. O
Francimar Martins Teixeira, Ana Beatriz Gomes Carvalho.
trabalho conjunto dos diferentes eixos da língua, por meio do alfabetizar letrando, tem
Revisor:
por finalidade maior que a prática pedagógica possa centrar-se não só na apropriação do
Adriano Dias de Andrade. Sistema de Escrita Alfabética, mas, igualmente, na capacidade de produção e compre-
ensão de textos de gêneros textuais orais e escritos. De igual modo, a integração com os
Projeto gráfico e diagramação: diferentes componentes curriculares propicia a ampliação das possibilidades de inserção
Ana Carla Silva, Luciana Salgado, Susane Batista e Yvana Alencastro das crianças em diferentes espaços sociais de interação. Esperamos que nossas sugestões
Ilustrações: Airton Santos.
ajudem professores e alunos nas aulas, resultando em excelentes produções.

Capa:
Anderson Lopes, Leon Rodrigues, Túlio Couceiro e Ráian Andrade

Desse modo, os objetivos da unidade 5 são:


• entender a concepção de alfabetização na perspectiva do letramento;
• analisar e planejar projetos didáticos para turmas de alfabetização, integrando diferentes
componentes curriculares, e atividades voltadas para o desenvolvimento da oralidade,
leitura e escrita;
• conhecer os recursos didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação e planejar
situações didáticas em que tais materiais sejam usados.
Aprofundando o tema com milhares de pernas, que Há, ainda, outro aspecto a ressaltar quando
parecia um embuá. O fato era o tema é alfabetizar: o descompasso muitas
que Sinhá Gorda operava Mila- vezes existente entre as atividades propos-
gres. (p.17) tas pelos professores e as experiências de
ler e escrever vivenciadas pelas crianças em
Outro exemplo nos é apresentado por casa ou em outro contexto que não a sala de
Os diferentes textos a serviço da Graciliano Ramos, em seu livro “Infância” aula.
(RAMOS, 1995), onde o mesmo refere-se
perspectiva do alfabetizar letrando ao tempo de menino, à educação extre- O rompimento da concepção de língua
mamente rígida a que foi submetido e ao escrita como código para uma concepção da
Ivane Pedrosa de Souza
Telma Ferraz Leal sofrimento de ser alfabetizado em casa: mesma como sistema de notação alfabética,
realizado por meio de diversos estudos,
Meu pai não tinha vocação para entre eles, os de Emília Ferreiro e Ana
o ensino, mas quis meter-me Teberosky (1986), trouxe avanços significa-
o alfabeto na cabeça. Resisti, tivos para o fazer pedagógico. Atrelada a esta
De acordo com os objetivos traçados na bre relatos de escritores sobre como foram ele teimou e o resultado foi um compreensão, veio também a de que é por
seção Iniciando a conversa, focalizare- alfabetizados, nos traz um trecho referente desastre. Cedo revelou impa- meio da interação com os usos e funções da
mos aqui a importância do trabalho com ao escritor brasileiro José Lins do Rego. ciência e assustou-me. Atirava língua escrita que a aprendizagem ocorre.
diferentes textos na sala de aula em uma Das lembranças dos momentos “terríveis” rápido meia dúzia de letras, ia Assim, fica claro não mais haver sentido em
perspectiva de integração entre os compo- que viveu, José Lins do Rego refere-se à sua jogar solo. À tarde pegava um se trabalhar com os alunos os textos “artifi-
nentes curriculares. incapacidade de ler uma frase do fim da côvado, levava-me para a sala de ciais” encontrados em cartilhas.
Autores como Soares (2004) e Morais
cartilha: “A preguiça é a chave da pobreza”. visitas e a lição era tempestuosa.
Para circunstanciar e fundamentar essa
(2005) têm apontado que a ênfase pre-
Foi por meio de uma professora particular, Se não visse o côvado, eu ainda
discussão, mobilizamos também o conhe-
dominante em torno do conceito de
conhecida como Sinhá Gorda, que o mes- poderia dizer qualquer coisa.
mo conseguiu superar a dificuldade: cimento de que as crianças chegam à escola
alfabetização nas décadas finais do século Vendo-o, calava-me. Um pe- com conhecimentos sobre a linguagem
passado voltava-se para uma compreensão Conseguiu Sinhá Gorda, com daço de madeira, negro, pesa- adquirido nas mais diversas situações. Este
da mesma como processo que envolve paciência, empurrar as letras do, da largura de quatro dedos. caráter espontâneo das trocas comunicati-
atividades de codificação e decodificação na minha cabeça (...). Agora já (p.106) vas possibilita às mesmas serem produtoras
da escrita. Relatos autobiográficos diversos sabia ligar as letras e escrever Como podemos constatar, as atividades ativas de enunciados, aspecto que evidencia
têm revelado, confirmando esta perspecti- o abecedário. Gostava do X pela propostas giravam em torno da repetição e que as crianças estão plenamente inseridas
va, o quanto era penoso e massacrante para facilidade de riscar-lhe a grafia. memorização de letras, sílabas, palavras e/ num contexto comunicativo, sendo capa-
uma criança descobrir o que estava escrito Mas havia o L e o N que tanto me ou frases soltas, sendo quase sempre acom- zes de produzir falas e compreender o que
nas páginas de uma cartilha ou de um livro confundia com as pernas, e o M, panhadas de medo e insegurança decor- escutam com certa desenvoltura. No texto
qualquer. Carvalho (2011), refletindo so- rentes das ameaças de castigo caso “erros” Memória de Livros, de João Ubaldo Ribeiro
fossem cometidos na hora de “dizer a lição”. (1995), o mesmo faz um relato interessante:

unidade 05 07
Não sei bem dizer como aprendi à produção e à compreensão de textos orais
usamos como auxílio para organização
práticas que pendem para um dos lados: ou
a ler. A circulação entre os livros e escritos. Por conta disso, enfatizamos e memorização, quando necessário, se realiza um trabalho intenso de apropria-
era livre (tinha que ser, pen- junto aos professores a importância de de informações, tais como anotações, ção do sistema de escrita, ou se realiza um
resumos, esquemas e outros gêneros que
sando bem, porque eles esta- favorecer o contato dos alunos com textos trabalho voltado para a interação por meio
utilizamos para estudar temas diversos;
vam pela casa toda, inclusive na diversos, para que, desta forma, possam não dos textos. O desafio é construir práticas
3) Situações voltadas para autoavaliação
cozinha e no banheiro), de ma- só, conforme distinção de Magda Soares e expressão “para si próprio(a)” de que contemplem as duas dimensões e que,
neira que eu convivia com eles (1998), se “alfabetizarem” – adquirir a tec- sentimentos, desejos, angústias, como na medida do possível, as articulem.
forma de auxílio ao crescimento pessoal e
todas as horas do dia, a ponto de nologia da escrita alfabética, mas também, ao resgate de identidade, assim como ao O estudo realizado por Carvalho (2012)
passar tempos enormes com um tornarem-se “letrados”, ou seja, fazerem próprio ato de investigar-se e resolver seus
mostra que muitos professores interpretam
deles aberto no colo, fingindo uso efetivo e competente desta tecnologia próprios dilemas, com utilização de diários
pessoais, poemas, cartas íntimas, sem que tal articulação se dê a partir de situações
que estava lendo e, na verdade, da escrita em situações reais de leitura e destinatários(as); em que na escrita de textos o professor pro-
produção de textos.
se não me trai a vã memória, de 4) Situações em que a escrita é utilizada voque reflexões sobre o sistema de escrita.
para automonitoração de suas próprias
certa forma lendo, porque quan- Apesar de concordarem com tal pressuposto, ações, para organização do dia-a-dia, para
Nesses casos, geralmente os textos tornam-se
do havia figuras, eu inventava as professores alfabetizadores estão constante- apoio mnemônico, tais como as agendas, o pretextos para o ensino do sistema de escrita.
histórias que elas ilustravam e, mente indagando sobre como fazer com que calendários, os cronogramas e outros. Nesses momentos, via de regra, nem se viabi-
ao olhar para as letras, tinha a alunos que não leem e não escrevem façam liza um trabalho produtivo de reflexão sobre
sensação de que entendia nelas o uso das diferentes finalidades de leitura e de Um trabalho efetivo implica, portanto, na o texto e nem um trabalho suficientemente
realização em sala de aula de atividades,
que inventara. (P.137) escrita em processo de alfabetização. reflexivo sobre o sistema de escrita.
as mais variadas, em torno dos eixos do
Morais e Albuquerque (2004) realçam que Um primeiro desafio é pensar sobre situa- componente curricular Língua Portugue- É preciso, portanto, entender que apenas a
as práticas de leitura e escrita, vivenciadas ções diversificadas de leitura e escrita. Estas sa (oralidade, leitura, produção textual e reflexão em torno dos conhecimentos de-
em situações informais, são inúmeras e ge- situações, segundo Leal e Albuquerque análise linguística). Sem dúvidas que um
ram motivação e oportunidade de reflexão (2005), podem ser agrupadas em quatro foco a ser priorizado nas turmas de primei-
em torno dos diferentes textos que circulam tipos principais: ro ano deve ser a apropriação do Sistema
em nossa sociedade. Informalmente, as de Escrita Alfabética, mas o propósito do
crianças vão descobrindo características 1) Situações de interação, mediadas pela alfabetizar letrando evidencia a necessidade
sobre seus estilos, usos e finalidades. escrita, em que se busca causar algum de uma constante articulação entre tal eixo
efeito sobre interlocutores(as) em
Entretanto, autores como Leal (2005) e e os demais eixos. O que nem sempre é fácil.
diferentes esferas de participação social
Santos (2005) têm enfatizado que o desen- (circulação de informações cotidianas, É comum ouvirmos professores alfabeti-
volvimento das capacidades mais elabora- como textos jornalísticos, epistolares, zadores perguntarem: “Por que, apesar de
científicos, instrucionais, literários,
das, tanto no que se refere à compreensão publicitários, dentre outros); usarmos textos diversos em sala de aula,
e produção de textos orais, como quanto às 2) Situações voltadas para a construção
trabalhando numa perspectiva do letramen-
capacidades de ler e escrever, não ocorrem e sistematização do conhecimento, to, não conseguimos alfabetizar os alunos?
espontaneamente. Portanto, cabe à escola a caracterizadas sobretudo pela leitura e
pela produção de gêneros textuais que Tal questionamento ocorre justamente
sistematização dos conhecimentos relativos
porque, muitas vezes, busca-se construir

08 unidade 05 unidade 05 09
correntes dos usos dos textos na sala de aula se dão em nível interpsíquico antes de se textos é tão importante quanto o planeja-
• compreender textos lidos por outras
não garante, necessariamente, a apropria- pessoas, de diferentes gêneros e com tornarem intrapsíquicos. mento das estratégias de mediação.
ção, pelos alunos, dos princípios que regem diferentes propósitos;
Ainda no primeiro ano, como as crianças Em relação à produção de textos, reflexões
nosso sistema de escrita. Por outro lado, a • antecipar sentidos e ativar
conhecimentos prévios relativos aos estão se apropriando do Sistema de Escrita semelhantes podem ser feitas. Há apren-
reflexão sobre o sistema de escrita não ga- dizagens que podem começar antes que
textos a serem lidos pelos professores ou Alfabética, já podemos estimular situações
rante, necessariamente, o desenvolvimento pelas crianças; as crianças sejam capazes de escrever de
de leitura autônoma. Nesses momentos
das capacidades de compreender e produzir • reconhecer finalidades de textos lidos acordo com os princípios do sistema de
elas aprendem a:
textos. Há conhecimentos e capacidades pelo professor ou pelas crianças;
escrita. Desse modo, é necessário prever
específicos de cada eixo, como está eviden- • localizar informações explícitas em situações compartilhadas de produção de
ciado nos quadros de direitos de aprendi- textos de diferentes gêneros e temáticas,
lidos pelo professor ou outro leitor • ler textos não verbais, com compreensão; textos, em que o professor seja o escriba.
zagem, na unidade 1, os quais dependem, experiente; Essas produções coletivas são ricas, por
• ler textos (poemas, canções, tirinhas,
muitas vezes, de atividades específicas. • realizar inferências em textos de textos de tradição oral, dentre outros), possibilitarem a explicitação de estratégias
diferentes gêneros e temáticas, lidos com autonomia; de escrita. As crianças aprendem sobre a
Podemos desenvolver atividades com foco pelo professor ou outro leitor experiente;
mais claro no desenvolvimento de habi-
• ler em voz alta, com fluência, em linguagem, mas aprendem também sobre
• estabelecer relações lógicas entre diferentes situações;
como planejar, revisar, avaliar textos. Nas
lidades de leitura e produção de textos, partes de textos de diferentes gêneros e • localizar informações explícitas em textos
temáticas, lidos pelo professor ou outro situações compartilhadas de produção de
atividades com foco na aprendizagem do de diferentes gêneros e temáticas, lidos
leitor experiente; com autonomia; textos, as crianças podem aprender a:
sistema de escrita, e atividades em que
• apreender assuntos / temas tratados em • realizar inferências em textos de
as duas dimensões sejam contempladas, textos de diferentes gêneros e temáticas, • refletir sobre o contexto de produção de
diferentes gêneros e temáticas, lidos com
como muitas presentes em livros didáticos lidos pelo professor ou outro leitor autonomia; textos;
com textos de tradição oral, como as par- experiente;
• estabelecer relações lógicas entre • planejar a escrita de textos considerando o
lendas, trava-línguas, dentre outros. • interpretar frases e expressões em textos partes de textos de diferentes gêneros e contexto de produção: organizar roteiros,
de diferentes gêneros e temáticas, lidos temáticas, lidos com autonomia; planos gerais dos textos para atender
Não estamos, com isso, dizendo que ler e pelo professor ou outro leitor experiente; a diferentes finalidades, com ajuda de
• apreender assuntos / temas tratados em escriba;
produzir textos não sejam importantes para o • estabelecer relação de intertextualidade textos de diferentes gêneros e temáticas,
entre textos; lidos com autonomia; • produzir textos de diferentes gêneros,
domínio do sistema de escrita. Essas ativi- atendendo a diferentes finalidades, por
• relacionar textos verbais e não verbais,
dades são, de fato, importantes e propiciam construindo sentidos.
• interpretar frases e expressões em textos meio da atividade de um escriba;
de diferentes gêneros e temáticas, lidos
a consolidação da alfabetização, desenvolvi- com autonomia. • gerar e organizar o conteúdo textual,
mento de fluência de leitura e de escrita, mas estruturando os períodos e utilizando
há aprendizagens que podem ser estimuladas As situações de leitura compartilhada aju- recursos coesivos para articular ideias e
É importante ressaltar que as crianças re- fatos;
para além do domínio do sistema de escrita. dam as crianças a desenvolver conhecimen-
tos sobre a escrita e estratégias de leitura cém alfabetizadas leem com muita dificul- • utilizar vocabulário diversificado e
adequado ao gênero e às finalidades
Assim, o trabalho com textos no primeiro que serão mobilizadas nas situações de lei- dade e ficam cansadas mais rapidamente propostas;
ano do Ensino Fundamental precisa ser tura autônoma, ou seja, aquelas em que elas do que as que já têm maior tempo / expe-
• revisar coletivamente os textos durante o
feito de modo a desenvolver diferentes precisam ler sem ajuda. Este pressuposto riência leitora. Textos longos em situações processo de escrita em que o professor é
capacidades e conhecimentos. As situações é corroborado pelas ideias defendidas por de leitura autônoma podem desencorajar escriba, retomando as partes já escritas e
planejando os trechos seguintes.
em que outras pessoas leem para as crianças Vigotsky (1989, 1994) de que aprendemos as crianças. Desse modo, a escolha dos
são importantes para que elas aprendam a: na interação, ou seja, as nossas apropriações

10 unidade 05 unidade 05 11
Nas situações em que as crianças são (conteúdo do texto), como vai dizer e como
• participar de interações orais em sala de aula (questionando, sugerindo, argumentando e
estimuladas a escrever sozinhas elas registrar no papel. No quadro de direitos respeitando os turnos e a vez de intervir);
mobilizam os conhecimentos e estratégias de aprendizagem destacamos algumas • escutar textos de diferentes gêneros, sobretudo os mais formais, comuns em situações
aprendidos nas situações partilhadas, mas, aprendizagens importantes no primeiro públicas, analisando-os criticamente;

sem dúvidas, há outras aprendizagens em ano do Ensino Fundamental que podem • planejar intervenções orais em situações públicas: exposição oral, debate, contação de
história;
jogo, pois o escritor precisa saber coor- ser introduzidas nas situações de escrita
• produzir textos orais de diferentes gêneros, com diferentes propósitos, sobretudo os mais
denar as ações de definir o que vai dizer pelas próprias crianças: formais comuns em instâncias públicas (debate, entrevista, exposição, notícia, propaganda,
relato de experiências orais, dentre outros);
• analisar a pertinência e a consistência de textos orais, considerando as finalidades e
características dos gêneros;
• refletir sobre o contexto de produção de textos;
• reconhecer a diversidade linguística, valorizando as diferenças culturais entre variedades
• planejar a escrita de textos considerando o contexto de produção: organizar roteiros, planos regionais, sociais, de faixa etária, de gênero dentre outras;
gerais dos textos para atender a diferentes finalidades, com autonomia;
• relacionar fala e escrita, tendo em vista a apropriação do sistema de escrita, as variantes
• produzir textos de diferentes gêneros com autonomia, atendendo a diferentes finalidades; linguísticas e os diferentes gêneros textuais;
• gerar e organizar o conteúdo textual, estruturando os períodos e utilizando recursos coesivos • valorizar os textos de tradição oral, reconhecendo-os como manifestações culturais.
para articular ideias e fatos;
• utilizar vocabulário diversificado e adequado ao gênero e às finalidades propostas;
• revisar autonomamente os textos durante o processo de escrita, retomando as partes já
escritas e planejando os trechos seguintes; Nenhuma dessas aprendizagens são O fundamental, no entanto, é que todas essas
• revisar os textos após diferentes versões, reescrevendo-os de modo a aperfeiçoar sua consolidadas em um ano. No primeiro ano, aprendizagens ocorram em situações signifi-
funcionalidade e adequação aos objetivos, aos leitores, à situação de interlocução (o que
implica rever ortografia, pontuação, sintaxe, coesão, estrutura composicional, coerência,
podemos planejar situações diversificadas, cativas, nas quais as crianças falem, escrevam,
estilo de linguagem, estratégias discursivas). de modo que as crianças ampliem seus escutem, leiam para participar de situações de
conhecimentos e capacidades. interação real e intervirem na sociedade.

Tais aprendizagens são mais complexas e exigem que o aprendiz já compreenda o Sistema
de Escrita Alfabética. Por isso, tais conhecimentos e habilidades são introduzidos no pri-
meiro ano, mas geralmente não se consolidam nesta etapa de escolarização. Referências
Em relação aos textos orais, também podemos destacar que é relevante promover situa-
ções planejadas de ensino, que possam ajudar as crianças a aprender a:
CARVALHO, Marlene. Tempo de Aprender a Ler: A Alfabetização narrada por escritores.
In: Revista Contemporânea de Educação, Nº 11 – janeiro/julho de 2011, p.8 a 25.
CARVALHO, Edla F.C. As orientações curriculares e suas relações com as práticas de lei-
tura e produção de textos em sala de aula. Dissertação de Mestrado em Educação,
UFPE. Recife: UFPE, 2012.
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1986.

12 unidade 05 unidade 05 13
LEAL, Telma Ferraz. Organização do trabalho escolar e letramento. In: SANTOS, Carmi
Ferraz; MENDONÇA, Márcia. (Org). Alfabetização e Letramento: conceitos e rela-
Relatando experiências:
ções. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. a diversidade textual em sala de aula
LEAL, Telma Ferraz; ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de. Textos que ajudam a Leila Nascimento da Silva
organizar o dia-a-dia. In: BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; ROSA, Ester Calland de Sousa. Vera Lúcia Martiniak
Adriana M. P. da Silva
(Org). Leitura e Produção de Textos na Alfabetização. Belo Horizonte: Autêntica, Ana Beatriz Gomes Carvalho
2005.
MORAIS, Artur Gomes de; ALBUQUERQUE, Eliana Borges; Alfabetização e Letramento: O
que são? Como se relacionam? Como “alfabetizar letrando”? In: ALBUQUERQUE, Eliana Na intenção de aprofundar a reflexão na Escola Municipal Monteiro Lobato, no
Borges; LEAL, Telma Ferraz. (Org). A Alfabetização de Jovens e Adultos - em uma sobre a alfabetização na perspectiva do bairro de Peixinhos. Sua turma era compos- Na unidade 3
são discutidas
perspectiva de letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. letramento, iremos, neste texto, relatar ta por 17 alunos (10 meninos e 07 meninas), as hipóteses de
escrita, fazendo-
MORAIS, Artur Gomes de; Se a escrita alfabética é um sistema notacional (e não um experiências de ensino nas quais foram de hipóteses de escrita bastante variadas. -se referência à
abordagem da
código), que implicações isto tem para a alfabetização? In:MORAIS, Artur Gomes de; ALBU- propostas situações didáticas por meio das Apenas dois alunos já eram alfabéticos. A psicogênese,
QUERQUE, Eliana Borges; LEAL, Telma Ferraz (Org). Alfabetização – apropriação do quais os alunos leram e produziram textos professora Patrícia ensinava na Escola Mu- vinculada às pes-
quisas desenvolvi-
sistema de escrita alfabético. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. diversos (lista, aviso, bilhete, panfleto e nicipal Poeta João Cabral de Melo Neto, no das por Ferreiro e
Teberosky.
carta de reclamação), para atender a dife- bairro do Pina e sua turma era composta por
RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Record,1995, pág.106. rentes propósitos. A escolha dos gêneros 23 alunos, sendo 14 meninos e 9 meninas.
RIBEIRO, João Ubaldo. Memórias de Livros. In: RIBEIRO, João Ubaldo. Um brasileiro decorreu das necessidades de interação Na ocasião da vivência nenhum aluno estava
em Berlim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995, p. 137. geradas nas situações planejadas pelas na hipótese alfabética. As professoras pla-
professoras. Nos momentos em que isso nejaram conjuntamente o Projeto Didático
SANTOS, Carmi Ferraz. Alfabetização e escolarização: a instituição do letramento escolar. foi possível, os alunos também refletiram intitulado “Meu bairro, quantos lugares!”, Na unidade 6 serão
In: SANTOS, Carmi Ferraz; MENDONÇA, M. (Org) Alfabetização e Letramento: con- sobre os princípios do sistema de escrita. na intenção de refletir com os alunos sobre aprofundadas as
reflexões sobre
ceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. os elementos que compõem o bairro onde projetos didáticos.
À medida que formos apresentando as ativi-
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, moram. Com esse trabalho, elas conse-
dades realizadas, discutiremos as possíveis
1998. guiram integrar diversos componentes
aprendizagens dos alunos, tanto referentes
curriculares: Língua Portuguesa, História e
SOARES, Magda. Letramento e Alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de à Língua Portuguesa como também aos
Geografia.
Educação, nº 25, 2004, p. 5-17. demais componentes curriculares.
A escolha do tema bairro possibilita o
VYGOTSKY, Lev Semonovitch. A formação social da mente: o desenvolvimento As experiências foram realizadas no primei-
trabalho com a categoria lugar, uma das três
dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1994. ro semestre de 2012, pelas professoras Se-
categorias essenciais para a compreensão
verina Erika Silva Morais Guerra e Patrícia
VIGOTSKY, Lev Semonovitch. Pensamento e linguagem. 2 ed. São Paulo: Martins do espaço geográfico. As categorias paisa-
Batista Bezerra Ramos. Ambas ensinavam
Fontes, 1989. gem, território e lugar devem ser abordadas
turmas do 1º ano, localizadas no município
nos anos iniciais. A categoria lugar “traduz
de Recife-PE. A professora Érika trabalhava

14 unidade 05 unidade 05 15
os espaços com os quais as pessoas têm ruas possuem elementos comuns e elemen- descreveram os elementos que Por meio dessa atividade, a professora
vínculos mais afetivos e subjetivos que tos diferentes. Após essa conversa inicial, compõe esses bairros. Come- Patrícia realizou atividades que favorecem
racionais e objetivos: uma praça, onde se as professoras incentivaram a construção cei perguntando: ‘O que vocês a apropriação do sistema de escrita, tais
brinca desde menino; a janela de onde se vê coletiva de uma lista dos locais mais comuns encontram na rua onde mo- como: compreender que palavras diferentes
a rua; o alto de uma colina, de onde se avista dos bairros em que os alunos moram. ram?’ E os alunos responde- compartilham certas letras; perceber que
a cidade” (BRASIL, 1997, pág.76). O lugar é ram: ‘PADARIA, tia!’ Busquei palavras diferentes variam quanto ao nú-
Ao trabalhar os elementos comuns e dife-
onde estão as referências pessoais que es- mero, repertório e ordem de letras; contar
rentes nas ruas, as professoras iniciaram o deles a escrita das palavras:
truturam as diferentes formas de perceber e oralmente as sílabas de palavras e compará-
processo de construção dos elementos que ‘Como eu escrevo padaria?
compreender o espaço geográfico. -las quanto ao tamanho, além de dominar
constituem um bairro, como praças, casas, Vamos escrever todos juntos o as correspondências entre letras ou grupos
A intervenção pedagógica foi desenvolvida comércio etc. É importante ressaltar que que se pode encontrar na rua de letras e seu valor sonoro, de modo a ler e
em sete aulas e culminou com uma panfle- os elementos citados são aqueles de obser- onde moram?’ Os alunos foram escrever palavras formadas por diferentes
tagem no entorno da escola, com a finalida- vação mais simples, mas outros elementos ditando letra por letra com o estruturas silábicas (ex: CCV = PRAÇA).
de de conscientizar a comunidade sobre os também poderiam ser incorporados através meu auxílio, refletindo sobre
cuidados que devemos ter com o lugar onde de questionamentos junto aos alunos: a casa as letras que compõe cada pa- Como pode ser visto, a situação didática
moramos. Também neste dia, as crianças de vocês tem água encanada da rua ou é água descrita pode ser dividida em duas fases.
lavra listada: CASA, AVENIDA,
enviaram uma carta de reclamação para de poço? A rua é asfaltada e tem calçadas? Na primeira, que tinha uma relação mais
PRAÇA, PRAIA, RIO. Após a
o Prefeito cobrando melhores condições Todas as pessoas têm luz elétrica? O ponto direta com o projeto, eles sistematizaram
de ônibus é próximo da casa de vocês? Essas
escrita destes nomes, pedi que as informações sobre os equipamentos
para as pessoas que moram no bairro. Essa
proposta está dentro do contexto de leitura questões dizem respeito aos equipamen- as crianças completassem um urbanos do bairro. No segundo momento,
crítica do espaço geográfico que pode ser tos urbanos de uma cidade e também são quadro com a quantidade de foram aproveitadas as mesmas palavras
construída a partir da reflexão sobre o lugar elementos que compõem um bairro. letras e sílabas de cada uma ditas, para a realização de uma atividade
em que vivemos como uma expressão con- destas palavras. Neste momen- de apropriação do Sistema de Escrita
A lista foi escrita em um cartaz e com a to, também fiz uma exploração
creta das desigualdades de nossa sociedade. Alfabética. Tal atividade, sem dúvida,
ajuda das professoras, que atuaram como coletiva das palavras, pergun- não seria necessária para a aprendizagem
Para introduzir a proposta, na primeira escribas das turmas. A professora Patrícia
tando às crianças: ‘Que pala- sobre o bairro e poderia ser realizada com
aula, as professoras resgataram os conhe- nos relata como foi esse momento:
vras começam com a mesma quaisquer palavras. No entanto, a docente
cimentos prévios das crianças sobre o
lugar onde moram por meio das seguintes
letra? Que palavras terminam optou por sequenciar as duas atividades e
Nesse momento, eu tive como com a mesma letra? Qual a o trabalho com as próprias palavras ditadas
perguntas: Alguém da turma mora perto de
objetivo ativar os conhecimen- palavra menor? Qual a palavra pelas crianças pode ter favorecido um
algum colega da sala? O que tem de mais in-
tos prévios das crianças sobre maior?’ Por fim, ainda solici- envolvimento maior delas na atividade.
teressante na rua em que você mora? O que
você mais gosta de fazer? Vocês participam a rua onde moram. As mesmas tei a escrita de duas palavras Em relação à área de história, as professo-
de alguma festa importante no bairro? mostraram muito conheci- que começassem com as letras ras criaram uma situação didática na qual
mento sobre o nome do local iniciais das palavras que escre- os alunos puderam identificar e expressar
As docentes ressaltaram para as crianças
onde moram (Pina e Bode) e vemos (P, R, C, A). (oralmente, através de desenhos ou por
que cada um mora em uma rua e que tais

16 unidade 05 unidade 05 17
escrito) as características (individuais os alunos dos elementos de um bairro, a de leitura são procedimentos de A atividade com o livro “A rua de Marcelo” foi
e coletivas) comuns a um dos grupos de etapa seguinte foi trabalhar a localização ordem elevada que envolvem o uma estratégia interessante, pois a categoria
convívio dos quais elas participam: suas do lugar (casa e rua) no contexto do bairro. cognitivo e o metacognitivo, no lugar só fará sentido no processo de leitura do
comunidades de residência, seus bairros. A estratégia para iniciar a orientação e ensino podem ser tratadas como espaço geográfico se o aluno puder compa-
localização foi utilizar o ende- técnicas precisas, receitas infa- rar a sua realidade com outras realidades
Dando continuidade ao projeto, na segun-
reço dos alunos. A leitura do líveis ou habilidades específicas. possíveis. Ao perceber que a configuração
da aula, as docentes prosseguiram com a
livro “A Rua do Marcelo”, de O que caracteriza a mentalidade do espaço geográfico pode assumir diversas
exploração dos elementos que compõem
Ruth Rocha, motivou esse estratégica é sua capacidade de realidades, o aluno passa a refletir sobre
as ruas e também focaram na questão dos
momento. representar e analisar os pro- as razões das diferenças no modo como as
endereços. Após a construção inicial com Obras
complementares
blemas e a flexibilidade para pessoas vivem.
encontrar soluções. Por isso, ao No livro, o personagem principal, Marcelo,
A Rua do Marcelo
Autora: Ruth Rocha ensinar estratégias de compre- chama a atenção para a questão dos ende-
Ilustração: Adalberto Cornavaca ensão leitora, entre os alunos reços e que todas as casas tinham números.
Editora: Salamandra, 2001.
deve predominar a construção e Nesse momento, as professoras aproveita-
A Rua do Marcelo conta a história de Marcelo, um menino
que mora em rua com prédios e casas. Ao longo da história,
o uso de procedimentos de tipo ram para conversar com as crianças sobre
o personagem apresenta as características de sua rua. Como geral, que possam ser transfe- a importância do endereço (O que é um
qual o tipo de calçamento utilizado: asfalto, pedras ou de terra.
Os tipos de moradias: casas térreas, sobrados e/ ou prédios.
ridos sem maiores dificuldades endereço? Vocês sabem o endereço? E para
Serviços de iluminação das ruas, coleta de lixo, entrega de para situações de leitura múlti- que serve?) e solicitou como tarefa de casa
água, o carteiro, vendedores de frutas. De maneira clara e
divertida, Marcelo também chama a atenção para o cuidado plas e variadas. que todos pesquisassem seu endereço junto
que devemos ter quando estamos na rua, como não empinar aos pais e/ou responsáveis.
papagaio/pipa por causa dos fios de eletricidade. No final da Após a leitura, os alunos puderam confrontar
obra, encontramos brincadeiras, jogos e desenhos abordando Para garantir que todos os pais colaborassem
a temática da rua.
suas hipóteses sobre o texto e muitas destas
foram confirmadas. Os alunos das professo- nesta tarefa, Patrícia e Érika combinaram
ras Érika e Patrícia, por meio da mediação de escrever com a turma um texto para eles,
A partir da leitura, as professoras busca- [...] se as estratégias de leitura docente, conseguiram entender bem o solicitando o registro dos endereços. Nova-
ram desenvolver a capacidade dos alunos são procedimentos e os procedi- conteúdo do livro. Foi lançado também o se- mente a escrita foi coletiva e as professoras
de compreender textos lidos por outras mentos são conteúdos de ensino, guinte questionamento para as crianças: Que assumiram o papel de escribas. No caso da
pessoas. Também estavam ensinando al- então é preciso ensinar estraté- elementos têm em comum na Rua do Marcelo professora Érika, a turma optou pela escrita
gumas estratégias de leitura fundamentais gias para a compreensão de tex- e a lista que fizemos sobre o bairro onde vocês de um aviso para os pais, informando-os
para que essa compreensão acontecesse: tos. Estas não amadurecem, nem moram? As crianças puderam retomar o car- sobre o trabalho realizado em sala e pedindo
antecipação de sentidos do texto, elabora- se desenvolvem, nem emergem, taz com a lista, fizeram uma leitura coletiva do o endereço. A docente colocou no quadro o
ção de inferências, localização de informa- nem aparecem. Ensinam-se – ou que haviam escrito e compararam. Um aspec- início do texto e questionou os alunos como
ções, dentre outras. não se ensinam – e se aprendem to percebido pelas duas turmas foi a presença devia continuá-lo. Já a professora Patrícia,
– ou não se aprendem. Se con- de prédios na rua de Marcelo, elemento que combinou com a turma a escrita de um bilhe-
De acordo com Solé (1998, p. 70),
siderarmos que as estratégias não aparece nas ruas das crianças. te para as mães.

18 unidade 05 unidade 05 19
A estratégia de atuar como escriba e tam- que é ditado, o professor estará explicitan- A caminho da escola.
Texto: Fabia Terni
bém como leitor mais experiente permite do aos alunos os comportamentos próprios lustrações: Michele Lacocca.
ao professor a realização das atividades de quem escreve e estará problematizando
Editora: Studio Nobel, 1997. Você já andou de voadeira,
de leitura e produção de texto mesmo em a produção, ajudando-os a observarem o charrete ou bondinho? As crianças desse livro já. Aliás, esses
turmas com muitos alunos não alfabéticos. que ainda não conseguem perceber sozi- são os meios de transporte que elas usam para chegar até a
escola. Com a leitura da obra “A caminho da escola!”, teremos
Não há porque esperar que eles entendam nhos. De acordo com o Referencial Cur- a oportunidade de conhecer diversas paisagens típicas das
a lógica do Sistema de Escrita Alfabética e ricular Nacional para a Educação Infantil regiões do Brasil e veremos que, independente da distância
e do meio de transporte adotado, todas as crianças vão para
escrevam convencionalmente para inseri- (1998), ao participar de atividades con- a escola.
-los em situações de leitura e escrita de juntas de escrita a criança aprende, entre
textos variados. Ao escrever no quadro o outros aspectos, a:
O livro explora os diferentes meios de formas (barco, trem, charrete, avião etc.) e
transporte usados por crianças para chegar com diferentes objetivos (escola, trabalho,
• diferenciar as atividades de contar uma história, por exemplo, da atividade de ditá-la para
à escola (voadeira, charrete, bondinho). viagem, mudança etc).
o professor, percebendo, portanto, que não se diz as mesmas coisas nem da mesma forma
quando se fala e quando se escreve; Por meio das ilustrações, os alunos também
Com os alunos motivados pela leitura do
• retomar o texto escrito pelo professor, a fim de saber o que já está escrito e o que ainda falta percebem as diferentes paisagens, típicas de
livro, as professoras perguntaram quais
escrever; regiões e locais diferentes. A apresentação de
meios de transporte usavam para ir à esco-
• considerar o destinatário ausente e a necessidade da clareza do texto para que ele possa lugares e paisagens diferentes para os alunos
compreender a mensagem; la e os convidaram a desenhar o caminho
é muito importante para trabalhar a dicoto-
• diferenciar entre o que o texto diz e a intenção que se teve antes de escrever;
percorrido de suas casas até lá. Os dese-
mia entre o local- global, elemento essencial
nhos ficaram muito interessantes e vários
• realizar várias versões do texto sobre o qual se trabalha, produzindo alterações que podem para que o aluno compreenda que os fenô-
afetar tanto o conteúdo como a forma em que foi escrito. apresentaram uma riqueza de detalhes.
menos locais estão inseridos em um contexto
global que por sua vez também influencia a Na mesma aula, as professoras retomaram a
realidade local. Para verificar a compreen- questão dos endereços. Numa roda de con-
Ao longo da experiência que estamos re- nos elementos essenciais para a represen- são dos alunos após a leitura, as professoras versa, as crianças socializaram seus endere-
latando, veremos, por mais de uma vez, as tação cartográfica: vizinhança, separação, fizeram perguntas sobre o conteúdo do livro e ços. Este foi um momento importante, pois
professoras Érika e Patrícia adotando essa ordem, envolvimento e continuidade. buscaram perceber se os alunos entenderam as crianças fizeram um esforço para ler o que
estratégia com suas turmas. Segundo Almeida e Passini (2002), essas que o tema principal do livro era os diferen- foi escrito por seus pais e com isso puderam
relações topológicas começam a ser esta- tes meios de transporte e a relação desses desenvolver um pouco mais a fluência de lei-
Depois, os alunos foram convidados a de-
belecidas desde o nascimento e tornam- meios com o local em que moramos (ex: os tura. Ler em voz alta com fluência se constitui
senhar a rua onde moravam e a socializar
-se a base para a construção de relações alunos ribeirinhos geralmente vão à escola como um dos direitos de aprendizagem. Tal
seus desenhos para os colegas da turma.
espaciais mais complexas. de barco). O trabalho com este conteúdo é habilidade está intrinsecamente relacionada
A estratégia com desenho é essencial para
alcançar os objetivos dos conteúdos de Na terceira etapa do proje- fundamental para que os alunos percebam à compreensão textual, uma vez que lemos
Geografia. Ao elaborar um desenho do to, Patrícia e Érika leram que as pessoas se deslocam em diferentes muito melhor um texto, em voz alta, quando
lugar onde vive, a criança reflete sobre o para sua turma o livro “A fluxos e que existe uma dinâmica no desloca- o compreendemos. Para os alunos que ainda
que costuma observar e terá que pensar caminho da escola”. Obras mento que pode ser realizado de diferentes não liam convencionalmente, as professoras
complementares

20 unidade 05 unidade 05 21
assumiram o papel de leitor mais experiente. Compreender a escrita como Nesse momento, tinha como vel e se envolvem na atividade.
As professoras ainda copiaram o endereço de o resultado do pensamento objetivo trabalhar com ativi- Circulei pela sala durante a
cada criança no quadro e realizaram a leitura elaborado particularmente dades voltadas para o sistema produção das palavras pelos
coletiva. por cada pessoa é diferente de de apropriação do Sistema alunos com o alfabeto móvel.
Após essa socialização, os alunos identifi- simplesmente escrever copian- de Escrita Alfabética. Resolvi Os alunos escreveram as se-
caram no quadro quais os endereços que do. E aprender a representar o trabalhar com o nome do bair- guintes palavras: pato, Pedro
se pareciam, quem morava na mesma rua e espaço é muito mais que sim- ro em que a maioria dos alunos (nome de um aluno da sala),
no mesmo bairro. As professoras pediram plesmente olhar um mapa, uma morava, Peixinhos. Perguntei pá, pavão, porta, pulo, pé, pipa,
ajuda dos alunos para registrar os nomes de planta cartográfica. Saber como aos alunos qual era a primeira Peixinhos, pipoca, prato, pei-
quem morava na mesma rua e os aspectos fazer a representação gráfica letra do nome do bairro? E os xe, passarinho, pedra, poeira,
semelhantes e diferentes dos endereços. significa compreender que no mesmos responderam P. De- praia, pai e papagaio. Após
percurso do processo da repre- pois, escrevi o nome Peixinhos esse momento, solicitei que os
Em outro dia de vivência do projeto, as alunos lessem em voz alta as
sentação, ao se fazerem esco- no quadro e perguntei qual
professoras exploraram com as crianças
lhas, definem-se as distorções. era a última letra? E os alunos palavras com a minha ajuda e
o conceito de bairro e buscaram delas
As formas de projeção carto- responderam S. Em seguida, escrevi no quadro para traba-
uma primeira definição. Os conceitos
gráfica e o lugar de onde se olha realizei a contagem de letras e lhar individualmente com eles
relacionados com o espaço geográfico são
o espaço para representar não sílabas. Após esse momento, a quantidade de letras e síla-
bastante abstratos para as crianças mais
novas e a estratégia utilizada foi bastante
são neutros, nem aleatórios. entreguei o alfabeto móvel para bas, letra inicial e letra final.
interessante. Ao construir com os alunos
cada aluno e solicitei que eles
o conceito de bairro, as docentes pos- escrevessem cinco palavras que
Após esse momento, as docentes pediram Mais uma vez, observamos uma situação
sibilitaram que os alunos realizassem a aos seus alunos que escrevessem os nomes
iniciassem com a mesma letra em que os conceitos que estavam sendo
sua própria leitura do espaço geográfico, dos bairros que apareceram. Com a escrita do nome do bairro P. Após a trabalhados foram suspensos e a docente
especificamente na categoria lugar. A asso- desses nomes, aproveitaram para reali- montagem da palavra os alunos criou uma situação com o foco específico
ciação entre o processo de apropriação da zar atividades de apropriação do Sistema deveriam registrar a mesma no na apropriação do sistema de escrita. O
leitura das palavras e da leitura de mundo de Escrita Alfabética, destacando a letra seu caderno. Quando os alunos único vínculo com o projeto é a utilização de
abre um leque de possibilidades. Como inicial -do bairro. A professora Erika relata montavam a palavra eu ia até a palavras que tinham sido listadas em decor-
afirma Callai (2005, p. 233): como foi vivenciado este momento: sua banca para verificar jun- rência do tema trabalhado no projeto. No
to com eles se a palavra estava entanto, como já foi dito, a análise acerca do
escrita corretamente, sempre funcionamento do sistema de escrita é im-
solicitando que o aluno reali- portante para garantir que muitas crianças
zasse a leitura e questionando se alfabetizem e a organização sequencial
se estava faltando alguma letra. da aula, em que há algum vínculo entre uma
Os alunos gostam bastante de atividade e outra pode dar mais sentido à
trabalhar com o alfabeto mó- aprendizagem da criança.

22 unidade 05 unidade 05 23
A partir das atividades de apropriação do as docentes trouxeram vários materiais e No quinto momento do projeto, as professoras leram para suas turmas o
sistema, os alunos dessa turma puderam as crianças foram convidadas a pesquisar livro “Na venda de Vera”.
desenvolver um pouco mais as diferentes fotografias de seus bairros para ilustrar o
habilidades. Ao perguntar, por exemplo, texto escrito. Na venda de Vera
com qual letra começa o nome do bairro Autoras: Graça Lima e Hebe Coimbra Obras
Por fim, os alunos foram convidados a fazer Ilustrações: Graça Lima.
complementares
em que as crianças moram, a docente
um desenho de como seria o bairro dos Editora: MANATI, 2008.
trabalhou o reconhecimento das letras do
seus sonhos. Por meio dos desenhos, as
alfabeto por seus nomes; ao desenvolver A leitura da obra Na venda de Vera levará o leitor a um lugar acon-
crianças também mostraram suas insatis-
a atividade de contagem das letras e das chegante, onde conhecerá, em versos, a história de Vera, de sua
fações, pois representavam como bairro venda e de seus ventos guardados nos vidros. Sabe o que acon-
sílabas, explorou a percepção das crian- teceu um dia? Um menino resolveu abrir um dos vidros e soltar
ideal justamente aquilo que sentiam
ças para o fato de que palavras diferentes o vento violento, que fez todo o povoado voar. O livro torna-se atra-
falta em seu bairro. A professora Patrícia tivo para o público infantil por se utilizar de rimas e de situações
variam quanto ao número, repertório e inusitadas para desenvolver o tema proposto.
comentou essa atividade:
ordem de letras e também a habilidade
de contar oralmente as sílabas. Quando Com suas falas pude perceber
solicitou a escrita de cinco palavras que co- o que os alunos sentem e como Após a leitura da obra, foi perguntado às Será que estão preservados, limpos? O que
meçam com a letra P, acabou explorando a percebem o bairro. Com isso, se crianças: O que era vendido na venda de vocês mudariam no bairro em relação a
compreensão das crianças de que palavras sentem participantes do local Vera? No bairro onde moram tem algum isso? Os alunos foram estimulados a darem
diferentes compartilham certas letras e a onde moram propondo soluções lugar onde vocês compram coisas variadas? suas opiniões e justificarem. A turma de
necessidade delas estabelecerem, a todo significativas não só para eles Elas não tiveram dificuldades de responder, Patrícia demonstrou o quanto conhece o
o tempo, as correspondências entre letras inclusive um aluno da professora Érika fez bairro onde mora e seus problemas. Entre
como crianças, mas para toda a
ou grupos de letras e seu valor sonoro, de questão de explicar a diferença entre venda os aspectos citados comentou: a presença
comunidade, pois os desenhos
modo a ler e escrever palavras formadas e barraca na sua comunidade. Segundo ele, de lixo espalhado pelas ruas, muitas vezes
demonstraram um bairro ideal
por diferentes estruturas silábicas. barraca vende apenas bebidas, já na ven- depositados pelos próprios moradores do
para todos e não só para as crian-
da encontramos uma variedade de coisas bairro e a questão da falta de saneamento
Após essa etapa do projeto, os alunos ças, como se podia esperar dada (comida, produtos de limpeza, miudezas básico, pois os esgotos ficam a céu aberto,
relataram oralmente os seus sentimentos a idade das mesmas. O que foi em geral). Após essa conversa, as docentes causando doenças e mau cheiro.
em relação ao bairro onde moram: quais bastante evidenciado nas falas e solicitaram que os alunos retomassem a
atividades gostam de fazer, quais lugares desenhos das crianças foi o dese- lista dos locais mais comuns dos bairros em
Essa capacidade de argumentar (expor
gostam de frequentar, o que gostariam que jo por um lugar mais seguro com pontos de vista e defendê-los) é muito
que moram para complementá-la. Ao lado
tivesse em seu bairro. policiamento e sem drogas mos- importante para os sujeitos, como salienta
dos nomes desses locais, os alunos teriam
trando a maturidade e o grau de Leal e Morais (2006, p. 8): “argumentar é
Os relatos orais culminaram na produção também de descrever o que se faz em cada
observação das mesmas. Também uma atividade social especialmente rele-
de um texto escrito em que as crianças um destes. Os alunos ditavam e as professo-
pediram mais árvores, brinque- vante, que permeia a vida dos indivíduos
puderam registrar suas impressões. A ras escreviam para eles.
dos na praça e ruas sem lixo. Es- em todas as esferas da sociedade, pois a
escrita novamente foi coletiva e teve a pro- A aula terminou com uma discussão sobre defesa de pontos de vista é fundamental
fessora da turma como escriba. Feito isso, tou muito feliz com o resultado!
o estado de conservação desses lugares: para que se conquiste espaço social e

24 unidade 05 unidade 05 25
autonomia”. É papel da escola promover adequada aos gêneros. Acreditamos que, esse momento, conversei com
Profª: Quem nós procuramos para
situações significativas nas quais os alunos para garantir que nossas crianças produ- os alunos explicando que o dizer que a nossa praça está suja?
possam exercitar esta habilidade e, mais zam e leiam textos de diferentes gêneros panfleto é um texto que serve
ainda, possam refletir de forma sistemáti- com autonomia, atendendo a diferentes para informar ou fazer alguma Alunos: A Prefeitura, tia!
ca sobre as estratégias argumentativas em finalidades (um dos principais direitos de propaganda. Perguntei se eles Profª: Mas quem na prefeitura?
diferentes gêneros textuais”. aprendizagem), não basta proporcionar- achavam o panfleto parecido Alunos: O prefeito!
mos apenas um contato delas com essa com alguns dos gêneros que já
Na sexta aula, como uma forma de intervir na Profª: E o que vamos colocar? Vamos
diversidade textual. Os alunos precisam havíamos trabalhado (poema,
realidade, as professoras lançaram para a tur- fazer juntos uma carta para o Prefeito
vivenciar atividades escolares organiza- cantiga ou bilhete) e os alunos
ma a proposta da escrita de um panfleto com reclamando e pedindo as melhorias no
das, de maneira sistemática, em torno do responderam que não. Então
a finalidade de conscientizar a comunidade nosso bairro?
gênero textual seja ele oral ou escrito. chamei a atenção dos alunos
sobre os cuidados que devemos ter com o
lugar onde moramos e também de uma carta Em um dos momentos de aprendizagem do que no panfleto temos que es-
crever pouco, pois geralmente É preciso salientar que a escrita de uma
para o Prefeito cobrando melhores condições gênero panfleto, por exemplo, a professora
precisamos usar imagens para carta de reclamação, diferentemente de
para as pessoas que moram no bairro. Erika realizou uma atividade de exploração do
uma carta pessoal, se configura como uma
gênero. Ela nos conta como foi esta vivência: chamar a atenção das pessoas
Os gêneros textuais escolhidos para esse situação de interação mais formal. Segun-
que iriam receber o panfleto.
momento são eminentemente argumenta- do Leal (2003, p. 33),
Nesse momento, apresentei Após essas reflexões, informei
tivos. A carta de reclamação, por exemplo,
para os alunos um panfleto que aos alunos que iríamos produzir
é destinada à pessoa ou instituições res- [...] uma carta de reclamação
apresentava as atrações juninas um panfleto para conscientizar
ponsável pelo problema. O autor da carta pode se constituir de sequên-
apresenta o objeto alvo da reclamação e do centro cultural do bairro, a comunidade da importância
cia argumentativa, como tipo
justifica o porquê do referido problema o Nascedouro. Cada aluno re- do cuidado que devemos ter
principal, e de sequências
estar lhe prejudicando. No caso do panfle- cebeu um panfleto e realizei a com o nosso bairro.
narrativas e/ou descritivas, su-
to, também está presente a persuasão, mas leitura do mesmo e, em seguida,
bordinadas ao tipo principal,
os destinatários são múltiplos. solicitei que os alunos relatas- Já para lançar a proposta de escrita da
articuladas por encaixamen-
sem o que havia no panfleto. carta de reclamação, a professora Patrícia
Para ajudar os alunos a escreverem da to ou fusão. Essas sequências
Alguns alunos disseram que primeiramente conversou com os alunos
melhor forma esses textos, as professo- narrativas podem ser usadas
estava falando de uma festa de sobre os problemas do bairro. Ela nos
ras realizaram antes algumas atividades como estratégia para corrobo-
São João. Então, perguntei aos relata que esse momento foi muito inte-
explorando as características dos gêneros ressante, pois, ao citar o lixo, a água parada rar um determinado argumen-
alunos para que servia aquele
textuais. Em diferentes momentos, foram e o esgoto como os principais problemas to através de um exemplo que
panfleto? Alguns disseram que
Nos cadernos exploradas, principalmente, a represen- enfrentados, as crianças mostraram o comprove a tese defendida e
dos anos 2 e 3 da servia para as pessoas saberem
tação da situação de comunicação (fina- quanto conheciam o lugar onde moravam. as sequências descritivas para
unidade 5 são re-
da festa. Outros falaram que
alizadas reflexões
lidade, interlocutor, sua própria posição Depois dessa conversa inicial, a docente apresentar uma cena que evi-
sobre os gêneros era para mostrar as fotos que
textuais na escola. como autor e o gênero), os aspectos motivou a escrita: dencie a gravidade de um de-
apareciam no panfleto. Após
composicionais e o tipo de linguagem terminado problema.

26 unidade 05 unidade 05 27
A autora chama a atenção para o fato das da etapa inicial de planejamento até a CALLAI, Helena C. Aprendendo a Ler o Mundo: A Geografia nos Anos Iniciais do Ensino
cartas de reclamação serem usadas em etapa final, em que os produtos do traba- Fundamental. In: Caderno Cedes, Campinas, vol. 25, nº. 66, maio/ago, 2005, p. 227-
situações de interação em que há tensões lho foram destinados aos interlocutores 247.
nas relações entre os interlocutores, pois pretendidos. Eles tiveram a oportunidade
LEAL, Telma Ferraz. Produção de textos na escola: a argumentação em textos escritos por
há um processo de responsabilização de de ler e produzir textos diversos, com
crianças. Tese de Doutorado. Recife: UFPE, Pós-graduação em Psicologia Cognitiva,
alguém ou alguma instituição acerca de finalidades claras e reais, além de estudar
2003.
um problema causado por essa pessoa ou conceitos referentes a outras áreas de
instituição. Diferentes estratégias são conhecimento. LEAL, Telma Ferraz e MORAIS, Artur Gomes. A argumentação em textos escritos:
utilizadas pelos autores para convencer os a criança e a escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
Trazer para a sala de aula diferentes tex-
leitores a atenderem à sua solicitação: são
tos, em diversos suportes, possibilitou aos SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.
inseridos os argumentos e dependendo
alunos compreenderem a função social da
das relações estabelecidas, uma maior ou
escrita e uma ampliação dos conhecimentos
menor polidez do discurso. As ameaças
que possuíam acerca da realidade. A seleção
também aparecem no gênero em foco.
de um gênero a ser explorado deve levar em
No último dia do projeto, os alunos conta os objetivos didáticos que se deseja
fizeram a mobilização para a entrega dos alcançar, bem como, o projeto de comuni-
panfletos no entorno da comunidade e cação que a turma está envolvida. Assim, as
também enviaram a carta de reclamação práticas relatadas pelas professoras Érika e
para o prefeito da cidade. Como pudemos Patrícia permitiram que os alunos partici-
acompanhar, os alunos se envolveram passem de diversas possibilidades de usos
bastante no desenvolvimento do projeto, e funções sociais da leitura e da escrita.

Referências

ALMEIDA, Rosângela e PASSINI, Elsa. O espaço geográfico: ensino e representa-


ção. São Paulo: Contexto, 2002. Coleção Repensando o Ensino.
BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - Volume 3
/ Conhecimento do Mundo. Brasília: MEC/ SEF, 1998.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacio-
nais: história, geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997.

28 unidade 05 unidade 05 29
Ampliando um pouco mais o trabalho: em processo de alfabetização e é possível
realizá-las com toda a turma ao mesmo
sidade da escrita e da socialização do texto,
pois isso só terá sentido para os alunos quan-
os diversos textos e suas relações tempo, mas, claro, dando desafios diferentes do outra pessoa vai recebê-la. Essa proposta
para cada grupo de alunos. de ampliação de atividades pode integrar
com as áreas de conhecimento Em relação ao trabalho com o gênero carta
as turmas e escolas do bairro ou da região
por meio da correspondência interséries ou
Leila Nascimento da Silva de reclamação, uma atividade interessante e
Vera Lúcia Martiniak entre escolas, tendo como ponto principal
Adriana M. P. da Silva
que poderia ter sido acrescentada ao plane-
de discussão as necessidades do bairro ou da
Ana Beatriz Gomes Carvalho jamento era a análise de diferentes cartas,
localidade.
visando identificar a finalidade dos textos, os
interlocutores, o objeto alvo da reclamação. Outra sugestão seria a apresentação das
A atividade poderia ser feita coletivamente cartas que aparecem em outros suportes
em turmas com muitos alunos ainda não como livros e jornais. Para os alunos dos
alfabéticos. Nas turmas que tiverem um anos iniciais (1, 2 e 3), a professora poderia
No texto 2 deste caderno (Relatando ex- O objetivo deste texto é pensar adequa-
grupo de alunos dominando o sistema de es- apresentar o livro “A bolsa amarela” de Lygia
periências: a diversidade textual em sala ções e outras sugestões de atividades
crita, a atividade pode ser feita em pequenos Bojunga, que narra a história de
de aula), expusemos as experiências das que poderiam ser vivenciadas a partir da
grupos, deixando para estes a tarefa de ser o uma menina sonhadora e que
professoras Severina e Patrícia, que de- experiência das referidas professoras, não
leitor do grupo. no decorrer da sua história re-
senvolveram um trabalho na perspectiva apenas pensando nos alunos do primeiro
cebe várias cartas e bilhetes.
do alfabetizar letrando, em turmas do ano ano, mas também dos do segundo e do O professor não pode esquecer que o traba-
1, tendo textos como foco de trabalho. terceiro anos, do Ensino Fundamental. lho com o gênero carta demanda a neces- PNBE

Nessa experiência pedagógica, os alunos Para enriquecer ainda mais o trabalho reali-
foram convidados a ler e produzir textos zado, as professoras poderiam, por exemplo,
diversos, mas também vivenciaram mo- ter feito cruzadinhas e caça-palavras com os A bolsa amarela.
mentos para refletir sobre os princípios nomes dos locais mais comuns dos bairros Autora: Lygia Bojunga Nunes
Editora: Objetiva, 2002.
do Sistema de Escrita Alfabética. Confor- citados pelas crianças (ex: padaria, lojinha,
me se relatou na discussão anterior deste praça, etc). No caso da cruzadinha, para “A bolsa amarela” conta a história de uma menina chamada Raquel
que tinha três grandes vontades (escondidas numa bolsa amarela):
caderno, as professoras planejaram juntas os alunos na etapa inicial de alfabetização, a de crescer, a de ser menino e a de tornar-se escritora. No decor-
o Projeto Didático, intitulado “Meu bairro, poderia ser disponibilizado um banco de rer de sua história, essa menina imaginativa e sensível nos conta o
seu dia-a-dia, juntando fatos reais com aqueles inventados por sua
quantos lugares!”, na intenção de refletir palavras que serviria para consulta; e, para imaginação.
com os alunos sobre os elementos que os alunos silábicos, a cruzadinha poderia ser
compõem o bairro onde eles moram. Com antes preenchida apenas com as vogais para
esse trabalho, elas conseguiram integrar eles colocarem as consoantes (pois esta é,
as atividades relativas ao componente comumente, a maior dificuldade dos alunos Já no que tange o trabalho com o gênero panfleto, para explorar um pouco mais suas
curricular Língua Portuguesa a outros nesta fase). As atividades de cruzadinhas e características, as professoras poderiam, por exemplo, levar para a sala de aula vários
componentes (História e Geografia). caça-palavras se adequam a todas as turmas panfletos e perguntar aos alunos qual seria o assunto de cada um destes. Os alunos

30 unidade 05 unidade 05 31
precisam perceber que há uma variedade ensão do espaço geográfico. A sequência 4) Pedir aos alunos para localizar a escola possam comparar suas condições atuais de
de assuntos e, logo, de finalidades. linear de níveis do espaço geográfico que no bairro; 5) Perguntar o nome dos bairros vida, com as de outras crianças, de outros
podem ser apresentados aos alunos (rua, localizados ao redor. bairros, atualmente e em outros tempos.
Há panfletos, por exemplo, direcionados a
bairro, cidade, etc.) não é suficiente para a
uma reivindicação de um determinado grupo Estas atividades consolidam o conceito de Conforme propôs Carretero (1997), o ensi-
complexidade da realidade e a dinâmica do
social; outros são destinados à prevenção de bairro como um recorte de um determinado no de história só se efetiva quando o profes-
espaço geográfico. Isso não significa que o
uma doença, e há até panfletos veiculando local do espaço geográfico com elementos sor estabelece pontes entre o que foi e o que
bairro não possa ser o ponto de partida do
propagandas de candidatos a cargos políticos. em comum, que tem vizinhança, continui- é, entre o passado e o presente, estimulando
conhecimento geográfico nos anos ini-
dade, ordem e diferenças de outros lugares. o estudante a problematizar (sempre e
Os alunos poderiam também ter explorado os ciais, mas ele precisa sempre ser compre-
Após a vivência destas reflexões, é interes- mais) a sua realidade, o seu próprio tempo.
mesmos panfletos e ter feito um cartaz siste- endido dentro de um contexto mais amplo
sante mostrar aos alunos que o bairro está
matizador das características comuns a estes, e analisado em suas diferentes dimensões. De acordo com a maturidade das turmas e
localizado dentro de uma cidade, que por
tais como: são textos curtos; são normalmen- É exatamente isso que as docentes fazem com o perfil dos bairros, os docentes podem
sua vez está dentro de um estado que se
te escritos com frases simples; geralmente ao inserir outras questões da leitura do propor um levantamento das placas, das
localiza em um país chamado Brasil. A im-
apresentam imagens; possuem diferentes espaço geográfico pelo aluno. propagandas e dos outdoors nos quais se
portância de nunca se mostrar as categorias
tipos e tamanhos de letras. E como se trata de anunciam os serviços existentes nos bairros
Uma questão importante quando são geográficas de forma isolada está na neces-
um texto curto, as professoras podem estimu- das crianças e em diferentes bairros. Este
apresentados conteúdos relacionados com sidade de levar o aluno a compreender que
lar a leitura pelos alunos de alguns trechos ou levantamento pode ser orientado tendo em
as categorias do espaço geográfico (lugar, não existe o “nada” no espaço geográfico,
de alguma palavra que está em destaque. vista a identificação de casas comerciais; de
paisagem, território e região), é a neces- todas as coisas estão localizadas em algum
espaços de cultura e lazer; de bens patri-
Em relação à área de Geografia é necessá- sidade de indicar os limites do conjunto lugar. Se o bairro for apresentado aos alunos
moniais; de serviços públicos; de espaços
rio que as atividades sobre o bairro extra- que está sendo apresentado. No caso do nos anos iniciais como algo isolado, as
religiosos; indústrias, etc. Também serviria
polem o modelo de Círculos Concêntricos bairro, é necessário mostrar aos alunos crianças não compreenderão o princípio da
para as crianças refletirem sobre quais tipos
da Geografia tradicional que utiliza o bair- quais são os limites geográficos do bairro. interioridade, ou seja, uma área está sempre
de serviços existem ou não em seus bairros,
ro como a realidade mais próxima do aluno Ao finalizar a construção do conceito de dentro de outra área e outros conceitos
quais os usos sociais destes espaços, quem
e como única possibilidade de compre- bairro, os alunos concluíram que o bairro é essenciais, como exterioridade, intersecção,
tem ou não tem acesso a eles, e qual sua im-
um conjunto de determinados elementos continuidade e exterioridade.
portância tanto para os indivíduos quanto
(casas, ruas, praças, comércio etc.). Todo
No que se refere à área de História, pres- para a coletividade.
conjunto precisa ser fechado e separado
supondo que uma de suas funções funda-
dos demais elementos, sendo assim, o Outra atividade interessante seria pesquisar
mentais nas séries iniciais é favorecer a
bairro tem limites geográficos definidos nos anúncios de jornais, os anunciantes
construção das noções de indivíduo, comu-
que podem ser apresentados aos alunos que são do bairro (se trata ou não de alguém
nidade, coletividade e humanidade, seria
com as seguintes propostas de atividades: conhecido?), os tipos de serviços ou produtos
importante propiciar a troca dos materiais
1) Apresentar o mapa do bairro aos alunos; anunciados, aonde se localizam, o formato
produzidos por crianças de diferentes
2) Solicitar aos alunos que pintem a área dos anúncios – o que é um indicativo do seu
bairros e cidades. Importa também criar
correspondente ao bairro; 3) Pedir aos alu- preço e, por conseguinte, do nível social do
situações didáticas nas quais os pequenos
nos para marcar algumas ruas do bairro; anunciante –, se há ou não qualidade no item

32 unidade 05 unidade 05 33
ou no serviço anunciado (propaganda confi- de organizar as fotos no painel ou no mural o
Compartilhando
ável e propaganda enganosa) e etc. Podemos professor solicitará aos alunos que observem
dividir os anúncios em vários setores, de as características e especificidades de cada
acordo com as práticas estabelecidas local- imagem e escrevam uma legenda para cada
mente ou de acordo com a divisão encontra- foto. Este trabalho pode ser desenvolvido
da, por exemplo, nos catálogos de endereços
e serviços das cidades. Aliás, os catálogos
em duplas para os alunos do ano 1, na qual
professor atua como escriba transcrevendo Direitos de aprendizagem no ciclo de
também são muito úteis para a realização do
mapeamento socioeconômico dos bairros, e
no quadro o texto e depois registrando na foto
selecionada. Já para os alunos que dominam
alfabetização – Ciências
por seu intermédio, podemos comparar um o Sistema de Escrita Alfabética poderá ser
pequeno universo (apenas dos anunciantes, feito individualmente, não se esquecendo de
O ensino das ciências é um direito das crianças previsto na lei das diretrizes e bases da
é claro) de cada um dos diferentes bairros fazer a reescrita do texto. Deve-se lembrar,
educação nacional, no Art. 16 onde registra: A Resolução no 7, de
sem sairmos da nossa sala de aula. Com estes ainda, que o trabalho de escrita de legendas 14 de dezembro de
2010, do Conse-
materiais as crianças podem ser convidadas a deve fazer com que o aluno perceba que o lho Nacional de
identificar atividades comerciais que existem texto é descritivo e curto. Por isso, o professor Artigo 16 Educação, que fixa
Diretrizes Curricula-
há muito tempo (restaurantes, farmácias, pode apresentar outros suportes de textos § 1º. Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo res Nacionais para o
da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da Ensino Fundamental
lojas de materiais de construção, armarinhos, que contenham fotos e legendas para que os realidade social e política, especialmente do Brasil. de 9 (nove) anos
etc), com outras que são muito recentes, alunos possam conhecer e comparar. Há, ainda, outras referências a esse direito. No Art. 32, podemos ler:
pode ser lida no
caderno do ano 1,
como as lan houses, por exemplo. Unidade 8.
É fundamental, enfim, oferecer aos peque- O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola
pública, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:
Ainda por meio da atividade de reconheci- nos, desde o início do processo de alfabeti-
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno
mento dos pontos de referência do bairro zação, a oportunidade de identificar, ana-
domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
ou da região em que o aluno mora, pode-se lisar e comparar as práticas sociais (locais
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes
desenvolver um trabalho com a fotografia. A e regionais, no mínimo) atuais e passadas, e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
partir de imagens selecionadas pelas crianças expressas por meio dos gêneros textuais
de lugares importantes do bairro, o professor com os quais eles entram em contato. Trata-
poderá organizar um Painel de Fotos. Depois -se de mais um direito de aprendizagem. fazer uso das compreensões sobre o mundo
Considerando tal direito, a escola deve
oferecer condições: (1) que permitam a para estabelecer a relação entre os conheci-
elaboração de compreensões sobre o mundo mentos que se produzem sobre este mundo
Referências condizentes com as perspectivas atuais da e as aplicações e produtos que tais
comunidade científica, (2) de entendimen- conhecimentos possibilitam gerar,
to de que as compreensões sobre o mundo quanto dos efeitos de ambos, compre-
CARRETERO, Mário. Construir e ensinar as ciências sociais e a história. são produções humanas, criadas e influen- ensões e produtos, para a vida social e
Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. ciadas por um contexto histórico, (3) de se política dos cidadãos.

34 unidade 05
Estas três condições que a escola deve ofe- a ser desenvolvido em sala de aula, para Direitos Direitos
Gerais de Eixos de Ensino
recer favorecem a garantia dos direitos de práticas que possibilitem o reconhecimen- Específicos de
Aprendizagem das Ciências Ano 1 Ano 2 Ano 3
Aprendizagem em
aprendizagem que estão diretamente rela- to da ciência como atividade humana. Dito em Ciências Naturais Ciências Naturais
Naturais
cionados a eixos estruturantes, norteado- em outras palavras, visa-se a construção
Elaborar Compreensão - Aprender como a ciência I I/A I/A/C
res específicos da ação pedagógica na área da ideia de que o conhecimento científico compreensões conceitual e constrói conhecimento sobre
sobre o mundo procedimental os fenômenos naturais
do ensino das ciências. Nomeadamente é feito por pessoas que organizam ideias e condizentes da ciência - Entender conceitos básicos
estes eixos são: 1) compreensão conceitual desenvolvem técnicas a serem utilizadas com perspec- das ciências
tivas atuais da
e procedimental da ciência, 2) compre- na busca de elementos para construção comunidade - Ler e escrever textos em que o
científica. vocabulário da ciência é usado
ensão sociocultural, política e econômica do entendimento acerca do que estudam. - Interpretar textos científicos
dos processos e produtos da ciência, 3) Ao se conceber a ciência como atividade sobre a história e a filosofia da
ciência
compreensão das relações entre ciência, humana, assume-se que fatores sociais, - Perceber as relações existen-
sociedade, tecnologia e meio ambiente. culturais, políticos e econômicos interfe- tes entre as informações e os
experimentos adquiridos e de-
rem no processo de construção de conhe- senvolvidos por cientistas e o
O primeiro eixo estruturante ‘compreen- estabelecimento de conceitos
cimento. O terceiro eixo estruturante do e teorias
são conceitual e procedimental da ciência’
ensino das ciências é a ‘compreensão das - Relacionar as informações
refere-se à obrigatoriedade da escola científicas lidas com conheci-
relações entre ciência, sociedade, tec- mentos anteriores
proporcionar aos estudantes entendimen-
nologia e meio ambiente’ e diz respeito à - Possuir conhecimentos so-
to de conhecimentos científicos básicos bre os processos e ações que
utilização do conhecimento cientifico e aos fazem das ciências um modo
e mostrar como tais conhecimentos peculiar de se construir conhe-
desencadeamentos que o uso deste traz.
foram construídos. Portanto, envolve cimento sobre o mundo
- Identificar as fontes válidas
tanto a compreensão de conceitos quanto Para a realização de práticas pedagógicas de informações científicas e
a compreensão das diversas maneiras estruturadas sob tais eixos é relevante termos tecnológicas e saber recorrer
a elas
como tais conceitos foram produzidos. O clareza dos direitos de aprendizagem especi- - Aprender a tecer relações e
segundo eixo é constituído da ‘compreen- ficamente relacionados a cada um deles, nos implicações entre argumentos
e evidencias
são sociocultural, política e econômica dos três primeiros anos do ensino fundamental. - Aprender a planejar modos
processos da produção do conhecimento Neste sentido, apresentamos a seguir quadro de colocar conhecimentos
científicos já produzidos e
cientifico’.Remete-se, assim, ao trabalho com a exposição de tais direitos. ideias próprias como suposi-
ções a serem avaliadas (hipó-
teses a serem exploradas)
- Desenvolver raciocínio lógico
e proporcional
- Aprender a seriar, organizar e
classificar informações
- Elaborar perguntas e apren-
der como encontrar conheci-
mentos científicos já produzi-
dos sobre o tema em questão
- Estimular o exercício
intelectual

36 unidade 05 unidade 05 37
Entender que as
compreensões
Compreensão
sociocultu-
- Diferenciar ciência de
tecnologia
I I/A I/A/C Direitos de Aprendizagem no ciclo de
alfabetização – Geografia
sobre o mundo ral, política - Perceber o papel das ci-
são produções e econômica ências e das tecnologias
humanas, dos processos na vida cotidiana
criadas e in- e produtos da
fluenciadas por ciência. - Compreender a ética que
seus contextos monitora a produção do
conhecimento cientifico
históricos, Na lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no Art. 16, registra-se que todas as
- Considerar o impacto do
progresso promovido pelo áreas de conhecimento constituem direitos de aprendizagem das crianças:
conhecimento científico e
suas aplicações na vida, na
sociedade e na cultura de
cada pessoa Artigo 16
- Compreender que o sa- § 1º. Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da
ber científico é provisório, Língua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade
sujeito a mudanças. social e política, especialmente do Brasil.
- Utilizar o conhecimento
científico para tomar deci-
sões no dia-a-dia.
- Desenvolver posição
Nesse sentido, a Geografia, como componente curricular, colabora para a garantia do
critica com o objetivo de acesso aos conhecimentos do mundo físico e natural e da realidade social e política.
identificar benefícios e
malefícios provenientes
das inovações científicas e
tecnológicas.
- Compreender a maneira Direitos gerais de aprendizagem: Geografia Ano 1 Ano 2 Ano 3
como as ciências e as tec-
nologias foram produzidas Reconhecer a relação entre sociedade e natureza na dinâmica do
seu cotidiano e na paisagem local, bem como as mudanças ao lon- I I/A/C I/A/C
go do tempo.
Fazer uso da Compreensão - Conhecer a natureza da I I/A I/A/C
compreensão das relações ciência entendendo como Descrever as características da paisagem local e compará-las com
sobre o mundo entre ciência, os conhecimentos são pro- as de outras paisagens. I/A A/C A/C
para estabele- sociedade, tec- duzidos e suas implicações
cer a relação nologia e meio para a humanidade e o Conhecer e valorizar as relações entre as pessoas e o lugar: os ele-
entre o conhe- ambiente. meio ambiente. mentos da cultura, as relações afetivas e de identidade com o lugar I/A A/C A/C
cimento que se - Considerar como a ciên- onde vivem.
produz sobre cia e a tecnologia afetam
este mundo e o bem estar, o desenvolvi- Ler, interpretar e representar o espaço por meio de mapas simples. I I/A/C I/A/C
as aplicações e mento econômico e o pro-
produtos que tal gresso das sociedades. Reconhecer os problemas ambientais existentes em sua comuni-
conhecimento dade e as ações básicas para a proteção e preservação do ambiente I I/A/C I/A/C
possibilita gerar, - Reconhecer os limites da
utilidade das ciências e das e sua relação com a qualidade de vida e saúde.
quanto dos efei-
tos de ambos tecnologias para a promo-
ção do bem estar humano Produzir mapas, croquis ou roteiros utilizando os elementos da lin-
compreensão e guagem cartográfica (orientação, escala, cores e legendas). I I/A/C I/A/C
produtos, para e para os impactos sobre o
a vida social meio ambiente.
- Participar de situações em Ler o espaço geográfico de forma crítica através das categorias lu-
e política dos
gar, território, paisagem e região. I I/A I/A/C
cidadãos. que os conceitos e proce-
dimentos científicos, jun-
tamente com as reflexões Identificar as razões e os processos pelos quais os grupos locais e a
sobre a natureza ética da sociedade transformam a natureza ao longo do tempo, observando I I/A I/A/C
ciência são mobilizados as técnicas e as formas de apropriação da natureza e seus recursos.
para direcionar tomadas de I – Introduzir; A – Aprofundar; C - Consolidar.
posição acerca de situações
sociais atuais e relevantes.

38 unidade 05 unidade 05 39
Lendo e produzindo verbetes de de alguns animais ameaçados de extinção com reflexão sobre a
composição das palavras (número de sílabas; comparação do nú-
enciclopédia: aprendendo sobre mero de sílabas; identificação e comparação considerando a síla-
ba e a letra inicial); cruzadinha a partir de desenhos de animais;
animais preparação da fala para apresentação considerando a postura,
elementos disponíveis para dar suporte à fala. Houve apresenta-
Professora: Silvia de Sousa Azevedo Aragão
Escola Municipal Engenheiro Umberto Gondin – Recife/PE ção de um grupo para o outro e para a supervisora (antes da feira
Turma: 1º ano. de conhecimentos); produção de maquete com massa de mode-
lar representando o habitat natural da arara azul.
Houve um bom envolvimento das famílias e de todos que estive-
ram presentes na culminância. Uma mãe relatou que nem sabia
o que era uma arara azul e que a filha havia lhe ensinado bastan-
O interesse pela temática do projeto surgiu depois que os alunos te. Por fim, os resultados mostraram que é possível promover
leram um verbete sobre o mico leão dourado. Eles ficaram empol- aprendizagem significativa a partir do prazer e da ludicidade,
gados para conhecer outros animais. Desde o começo participa- aliando o processo de alfabetização à prática de letramento.
ram ativamente das atividades, planejaram com minha ajuda cada
etapa do projeto; elaboraram coletivamente o cronograma e toma-
ram juntas as decisões para os encaminhamentos. Foi combinado
que o produto final seria a escrita de um livro contendo verbetes e
a construção de uma maquete sobre a arara azul, que foi apresen-
tada na feira de conhecimentos da escola.
Dentre as atividades desenvolvidas, podemos destacar: leitura em
dupla de verbetes e produção de fichas técnicas sobre diferentes
animais ameaçados de extinção; leitura de diferentes verbetes,
em diferentes suportes, sobre a arara azul; apresentação de
vídeos informativos e de filme de animação sobre a arara azul;
visita ao zoológico para a apreciação dos animais e obtenção de
informações por meio da leitura de placas; comparação do gênero
verbete com outros gêneros como contos de fada e cantigas de
roda, considerando a finalidade e composição; produção de cartaz
com características do gênero verbete; produção e revisão de ver-
betes em trio; reescrita dos textos; produção de desenhos a partir
de recortes de imagens; composição dos nomes dos animais com
uso do alfabeto móvel; produção de lista coletiva com os nomes

40 unidade 05 unidade 05 41
Aprendendo mais
3.
Falar, ler e escrever em sala de aula:
do período pós-alfabetização ao 5º ano.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris; SOUSA, Maria Alice Fernandes de. Falar, ler e
escrever em sala de aula: do período pós-alfabetização ao 5º ano. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008. (Acervo PNBE do professor/2010)

1.
Você ainda tem dúvidas sobre a apropriação do Sistema de Escrita Alfabética? Leia esta obra
Tijolo por tijolo: Prática de Ensino de Língua Portuguesa. que auxiliará na compreensão desse objeto de ensino, além de trazer atividades comentadas
NASPOLINI, Ana Tereza. Tijolo por tijolo: Prática de Ensino de Língua Portuguesa. para reflexão e pesquisa do professor para seu trabalho em sala de aula. A obra apresenta uma
São Paulo: FTD, 2010. (Acervo PNBE do professor 2010)
base teórica escrita de forma acessível e prazerosa aos professores, procurando fornecer subsí-
Este volume é uma obra de apoio e orientação para o trabalho do professor. O livro apre- dios metodológicos que auxiliam a desenvolver as capacidades linguísticas nos alunos.
senta alternativas metodológicas e fornece subsídios para que o docente possa construir
seu próprio percurso. O destaque para essa obra está na apresentação de exemplos, de

4.
atividades didático-pedagógicas e da articulação entre teoria e prática. O professor en- Ensino de Geografia: Práticas e textualizações no cotidiano.
contrará, ainda, aporte teórico, textos de apoio, anexo com sugestões de planejamento do CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos. (Org.). Ensino de Geografia: Práticas e textual-
izações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000.
trabalho didático e uma série de recursos para redimensionar o trabalho docente. (Acervo PNBE do professor/2010)

O livro tem como foco as relações espaciais (topológicas, projetivas e euclidianas) que

2.
podem ser trabalhadas com os alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O autor
Para Ensinar e Aprender Geografia. mostra a importância da percepção dos alunos nas relações de vizinhança, separação,
PONTUSCHKA, Nídia Nacib; PAGANELLI Tomoko Iyda; CACETE Núria Hanglei. Para
Ensinar e Aprender Geografia. 1ª ed. São Paulo: Cortez, 2007. ordem, continuidade, envolvimento e como construir as noções básicas na representação
(Acervo PNBE do professor/2010)
gráfica a partir do espaço físico vivido. O autor define as possibilidades de percepção do
espaço e suas representações de acordo com a faixa etária das crianças, indicando ao pro-
Professor, você tem interesse em aprofundar e conhecer mais sobre o ensino da Geogra- fessor que tarefas são possíveis de desenvolver dependendo da idade da criança. O livro
fia? Esse livro irá auxiliá-lo a compreender a geografia como ciência e disciplina escolar. aborda a compreensão do espaço geográfico da criança a partir da descentralização de
As autoras discutem, ainda, o ensino e a aprendizagem da geografia e as práticas discipli- sua projeção egocêntrica (eu) e a transposição para outros espaços que permite a leitura
nares, interdisciplinares e transversais no Ensino Fundamental. Como você observou no do seu entorno e, finalmente, a sua própria leitura de mundo. O texto apresenta vários
relato da prática pedagógica, as professoras favoreceram o contato dos alunos a diversos exemplos que podem servir como referência para o professor com sugestões diversas
textos e materiais gráficos, que associados ao conteúdo do projeto auxiliaram na compre- para a construção de conceitos fundamentais para o domínio dos alunos na represen-
ensão do espaço geográfico e de entendimento do mundo. Esta obra se propõe a discutir tação cartográfica e orientação. O autor propõe exercícios com materiais pouco usuais,
a Geografia como componente curricular e assim, possibilitar a construção do conheci- construção de maquetes, trabalhos com mapas, leitura de jornais, entre outros elemen-
mento científico com base nos conhecimentos produzidos na academia e nos conheci- tos que estimulem o desenvolvimento da leitura crítica do espaço geográfico. O professor
mentos prévios trazidos pelos alunos para a escola. dos anos iniciais da Educação Básica encontrará no livro não apenas ótimas sugestões
para o seu trabalho, mas também o fio condutor de uma proposta crítica para o desen-
volvimento de habilidades e competências fundamentais para propiciar a alfabetização
cartográfica dos seus alunos.

unidade 05 43
Sugestões de atividades para os 2 – Ler o texto 2 (Relatando experiências: a diversidade textual em
sala de aula), em pequenos grupos, visando responder as seguin-
encontros em grupo: tes questões: Quais áreas de conhecimento foram contempladas
na experiência? Quais gêneros textuais foram abordados? O que
os alunos puderam aprender com essa experiência? Socializar as
1º momento (4 horas) reflexões de todos os grupos.
3 - Socializar, em pequenos grupos, os quadros de acompanha-
1 – Ler texto para deleite: O sabido sem estudo, de Manoel Camilo mento das crianças; identificar quais foram os avanços, quais são
dos Santos (Disponível em: http://www.ablc.com.br/cordeis.html). as dificuldades e quais estratégias podem ser tomadas para ajudar
2 - Discutir sobre as questões do grupo relativas à obra da seção os alunos a progredir.
“Sugestões de Leitura” da unidade 3.
3 – Socializar as experiências vivenciadas com base no planejamen- 4 – Ler os quadros de direitos de aprendizagem, em
to elaborado na unidade 4. pequenos grupos: metade da turma lê o de Geografia e a
outra metade, o de Ciências; planejar um projeto didá-
4 – Ler a seção “Iniciando a conversa”.
tico ou sequência de atividades que contemple conhe-
5 – Discutir em grande grupo as seguintes questões e registrar as cimentos e habilidades citados nos quadros de direitos
opiniões no quadro: O que você entende por alfabetizar letrando? de aprendizagem de Geografia ou Ciências, e Língua
Você acha possível trabalhar a leitura e a produção de diversos tex- Portuguesa, considerando os resultados da avaliação das
tos em turmas de alunos ainda não alfabéticos? Se sim, como este turmas; utilizar o livro didático e alguma obra do acervo
trabalho poderia acontecer? do PNLD - Obras Complementares.
6 – Ler o texto 1 (Os diferentes textos a serviço da perspectiva do
alfabetizar letrando), em pequenos grupos; relacionar com as res-
postas às questões. Tarefas (para casa e escola):
- Desenvolver a sequência didática ou projeto.
- Ler um dos textos da seção Aprendendo mais, elaborar uma ques-
2º momento (4 horas) tão para discussão no encontro seguinte (decidir coletivamente
qual texto será discutido).

1 – Ler texto para deleite: Na venda de Vera, de autoria


de Graça Lima e Hebe Coimbra.

44 unidade 05 unidade 05 45
3º momento (4 horas)

1 – Ler texto para deleite: As casas de ontem e de hoje, de


Carlos Reviejo.

2 - Socializar as atividades realizadas na sequência planejada no


encontro anterior.
3 – Ler o texto 3 (Ampliando um pouco mais o trabalho: os diversos
textos e suas relações com as áreas de conhecimento) e listar outras
sugestões a serem enviadas para as professoras que produziram os
relatos.
4 - Ler, em pequenos grupos, o relato: “Lendo e produzindo Verbe-
tes de enciclopédia: aprendendo sobre animais”; listar as possíveis
aprendizagens favorecidas.
5 - Discutir sobre os textos da seção Sugestões de leitura, com base
nas questões do grupo.
6 - Assistir ao programa Para ser cidadão da cultura letrada. (Série
Letra Viva; 07) (Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/
pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=47208).

46 unidade 05

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