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Fred Eggan
) Professor de Antropologia
na Vnlversidade de Chicago
Traduçcio de
)
Natha11ael C. Caixeiro
)
BIBLIOTECAS
PESPSP
FICIIA CATALOGRAFICA
. ) (Preparad4 pelo Centro de Catalogação-na-fonte do
Sindicato Nacional dos EdUores de Livros, GB)
........ ---
têm uma reformulação na qual certos termos são em-
pregados diferentemente do modo como o foram nos
antigos ensaios agor~ rei~prr:ssos. Por . exemplo, no~
primeiros ensaios escritos ha vinte ou_ m!i.s anos, a. ~a ·
lavra «cultura> é empregada com o ~1gnt:1cado admitido
daquela época como termo geral designativo de um. mo- Capitulo l
do de vida inclusive o modo de pensar, de determinado
grupo soci;l localmente definido.
O Irmão da Mãe
na África do Sul '
não fa:z a ciência progredir. O único meio, safü;fatório filho da irmã pode proceder com grande liberdade para
de- desfazer-se de certa hipótese inadequada é descobrir com o innão de sua mãe, e pode tomar a melhor de
urna hipótese melhor. Disponho-me, pois, a submeter- suas reses ou ficar com qualquer dos melhores objetos
vos uma hipótese alternativa, e, se bem sucedido, não que ele possua. Pelo contrário, o irmão da mãe pode
em provar minha hipótese, mas ao mostrar -que ela dá tomar da manada do sobrinho qualquer rês que seja
uma possível explicação dos fatos, terei pelo menos re- deformada ou veiha, e ficar com qualquer objeto velho
futado o parecer do Sr. Junod de que a explicação que e usado que ele possua.
ele admit-e seja a cúnica possível». O que é ~obr~tudo interessante para mim é que na
parte da Polmés1a que melhor conheço, isto é, nas ilhas
Quase não temos dados sobre costumes deste tipo, Friendly (Tonga) e em Fiji, encontramos costumes que
referentes a muitas tribos africanas. Não que esses cos- mostram mu_ita sem~lha_:1ça com os de baThonga. Lá,
tumes não existam, ou que não sejam importantes para
os próprios nativos, mas devido a que o estudo sis-
temático e científico dos nativos dessa região estão ape-
il também, o filho da 1rma tem •o direito de tomar muitas
liberdades com o irmão de sua mãe, e pode retirar qual-
quer das posses do tio. E lá também encontramos o
nas no início. Terei de me referir principalmente, por- seguinte costume: quando o tio faz um sacrifício o
tanto, aos costumes dos baThonga registrados pe~o ~r. filho da irmã pode retirar a melhor parte oferecida 'aos
Junod. Estes dados podem ser encontrados no primeiro deuses e comê-la. Assim, no transcurso desse ensaio fa-
volume da obra há pouco citada (pp. 225 et seq., e pp. rei também eventuais referências aos costumes de Tonga.
253 et seq.). Algumas das mais importantes observa- Es!es !rê~ povos, os_ baThonga, os Nama e os Tonga,
ções pode!-11 ser resumidas como seguem: t!m mstltu1ções patrihneares ou patriarcais; isto é, os
1. o sobrinho por parte de mãe em toda a sua vida é objeto
filhos pertenc~m ao grupo social do pai, e não ao da
de cuidado especial por seu tio;
mãe; a propriedade é herdada na linha masculina, pas-
2. quando o sobrinho fica doente, o irmão da mãe oferece
sando normalmente de pai ao filho. O ponto de vista
um sacrifício em favor dele; que estou contrariando é que os costumes referentes ao
3, muita coisa é licita ao sobrinho em relação ao irmão da irmão da mãe só podem ser explicados supondo-se que,
mãe; por exemplo: ele pode ir à casa do tio e comer a refeição em alguma época passada, esses povos tivessem insti-
que foi preparada para este; tuições matrilineares, encontradas hoje entre outros po-
4. o sobrinho reivindica parte da propriedade do irmão de vos primitivos, onde os filhos pertencem ao grupo so-
sua mãe por morte deste, e às vezes reinvindica uma das cial da mãe, e a propriedade é herdada na linha femi-
viúvas; nina, passando de um homem a seu irmão e aos filhos
5. quando o irmão da mãe oferece um sacrifício a seus an- de sua irmã.
tepassados, o filho da irmã furta e consome a parte de· carne
E' engano supor que podemos compreender as insti-
ou bebida oferecidos aos <leuses.
tuições da sociedade, estudando-as isoladas, sem consi-
Não se deve supor que esses costumes sejam pecu- derar as demais instituições com as quais elas coexistem
liares aos baThonga. Há provas de que costumes se- e com as quais podem estar relacionadas, e desejo
melhantes podem ser encontrados entre outras tribos c?amar a atenção para uma correlação que parece exis-
africanas, e sabemos da existência de costumes seme- tir entre costumes referentes ao irmã-o da mãe e os cos-
lhantes em outros povos em várias partes do mundo. tumes referentes à irmã do pai. Tanto quanto ·nos per-
Na própria Africa do Sul costumes deste tipo foram des- mitem os dados disponíveis no momento onde desco-
cobertos pela Sra. Hoernle entre os hotentotes nama. O brimos a importância do irmão da mãe, ta~bém achamos
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que a irmã dD pai é igualmente importante, embora todas as sociedades, ou em todas as que apresentam
de maneira diferente. O costume de deixar o_ filho da certo tipo. São essas tendências gerais que incumbe de
irmã tomar liberdades com o irmão de. sua_ mae parece modo especial à antropologia social descobrir e explicar.
ser em geral acompanhado de uma obngaç~o Je deter: Uma vez que começamos a reconstituir relacionamen-
tos em qualquer distância oonsiderável, é muito grande
minado respeito e obediência .Pªr! com ~ irm~ do Pª1•
Junod pouco fala acerca da 1rma do pa1 entre os ba- o. número das diferentes espécies de parentes que é lo-
Thonga. Ao falar da conduta do homem para com esta gicamente possivel distinguir. Esta dificuldade é evita-
parenta (sua rarana) diz apenas: «_M~tra para com ela da na sociedade primitiva por um sistema de classifi-
grande respeito. No entanto, ela nao e de modo algum cação, através do qual os parentes do que poderia coe-
uma mãe (mamana)> (op. cit., p. 223). So~re os ~o- rentemente considerar-se como grupos diferentes são
tentotcs nama, temos dados melhores: a .irma do pai. é classificados num número limitado de grupos. O prin-
objeto do maior respeito por parte do filho de seu ir- cípio de classificação mais comumente adotado na so-
mão. Em Tonga este costume estã muito . clar_a.mente ciedade primitiva pode ser enunciado como o da equi-
definido. A irmã do pai de um homem esta acm:a de valência de irmãos. Em outras palavras se me coloco
todos os demais parentes a quem ele deve respeitar e em determinada relação com um home~, considero-mé
obedecer. Se ela escolhe uma esposa para ele, cabe-lhe ~om_o na mesma espécie geral de relação para com seu
casar-se com ela sem mesmo atrever-se a fazer reservas 1rmao; e, de modo análogo com uma mulher e sua irmã.
ou levantar objeção alguma;. e ~ mesm~ em tudo o que
Deste modo o irmão do pai vem a ser considerado co-
diga r,espeito à sua vida. A 1rma do pat é sagrada para mo uma espécie de pai, e seus filhos são, portanto
ele; sua palavra é lei; e uma das maiores falt~s de que parentes da mesma espécie como irmãos. Do mesm~
possa ser inculpado seria mostrar-se desrespeitoso para modo, a irmã da mãe é considerada como outra mãe e
com ela. Ora, esta correlação ( que não se . ad~tnnge, seus filhos são, portanto, irmãos e irmãs. Tal siste~1a
evidentemente, aos três exemplos que menc1one1, mas encontra-se entre as tribos bantu da .Africa do Sul, en-
parece como disse, ser geral) deve ser tomada em con- tre os hotentotes nama e também nas ilhas Friendly.
sideração em qualquer explicação de costumes ~eferen- .\ Graças a esse princípio, as sociedades primitivas são
tes ao irmão da mãe, porque os co~tu1;1e~ _rela~1onados
i capazes de chegar a tipos definidos de conduta para
são, caso eu esteja com razão, não inshtmçoes m~epen~ com tios e tias e primos de certos grupos. A conduta
dentes mas parte de um sistema; e nenhuma exphcação de um homem para com o irmão de seu pai deve ser do
de un:a parte do sistema será satisfatória, a menos que mesmo grupo geral que sua conduta para com seu pró-
se encaixe numa anãlise do sistema como um todo, prio pai e ele deve proceder para com a irmã de sua
Na maioria das sociedades primitivas as relações so- mãe de acordo com o mesmo tipo em relação à sua
ciais dos indivíduos são amplamente reguladas_ com base mãe. Os filhos do irmão de seu pai ou da irmã
no parentesco. Isto é ocasionado pela forma~ª? de pa- da mãe devem ser tratados quase exatamente como ir-
drões de conduta fixos e mais ou menos def1~1dos para. mãos e irmãs.
cada um dos tipos reconhecidos de relacionamento. Este princípio, porém, não nos dá imediatamente qual-
Existe, por exemplo, um padrão especial de co~du~a quer p~drão nem para o irmão da mãe nem para a irmã
para O filho em relação ao pai, e outro para. _um 1rmao do pa1. Seria possível, sem dúvida, tratar o primeiro
mais novo em relação ao mais velho. Determinados pa- co1;10 a um pai e a última como semelhante a uma mãe,
drões variam de uma sociedade a outra; mas há certos e 1~to, de fato, parece ter sido adotado numas poucas
princípios fundamentais ou tendências que aparecem em sociedades. Certa tendência neste sentido encontra-se
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._§ vez, mais seguro, se acompanharmos a definição desses
em algumas regiões da Airica e c~rtas partes da _Po- esquemas conforme a obra de Junod, visto que suas
linésia. Mas é característico de sociedades nas quais o observações não terão sido influenciadas pela hipótese
sistema classificatório de parentesco ou não está plena- que estamos tentando demonstrar.
mente . desenvolvido ou foi em parte desfeito. A relação para com o pai, diz ele, «implica respeito
Apa'ftce outra tendência onde o sistema classi~icat6- e mesmo temor. O pai, embora não se incomode ·muito
rio de . parentesco atinge alto grau de desenvolvimento com os filhos, é, porém, seu instrutor, aquele que repre-
ou elaboração: a tendência a revelar. esquemas quant:° ende e castiga. O mesmo fazem os irmãos do pai~
ao irmão da mãe e irmã do pai, considerando-se o pri- (op. cit., p. 222). Da própria mãe, diz ele: «ela é sua
meiro como uma espécie de mãe masculina e a se?unda verdadeira mamana, e esta relação é muito profunda e
como uma espécie de pai ieminino. E_sta tendên~1a re- terna, combinando respeito com amor. O amor, porém,
vela-se, por vezes, na linguagem. Asstm, !1ª AirtC':_ do em geral, excede o respeito» (op. cit., p. 224). Quanto
Sul o termo comum para designar o irmao da mae é à relação da mãe para com seus filhos, verificamos que
malume ou umalume, que é um composto formado a «Ela é geralmente fraca para 00111 eles e frequentemente
partir da raiz ma para «mãe» e um _suf!_Xo que _significa acusada pelo pai de os estragar».
«masculino». Entre os baThonga a irma do pa1 é cha- Há certo risco em fórmulas condensadas, mas penso
mada rarana, termo que o Sr. Junod explica como ~ig- que não estaríamos muito errados ao dizer que numa
nificando «pai feminino». Em certas li~guas su!-afr1ca- sociedade fortemente patriarcal, tal como encontramos
nas não existe termo especial para designar a irmã do na Afríca do Sul, o pai é aquele que deve ser respeitado
pai; assim, em Xosa, ela é designada por um te~mo e obedecido, e à mãe cabe ternura e indulgência. Pode-
descritivo: udade bo bawo, que literalmente quer dizer ria eu, se necessário, demonstrar-lhes que o mesmo
«irmã do pai>. No zulu ela pode ser denominada por acontece com a vida familiar dos habitantes das ilhas
termo igualmente descritivo .ou pode ser chamada ape- Friendly.
nas de ubaba, «pai», exatamente como os irmãos do . Se, agora, aplicamos o princípio que, como sugeri,
pai. Nas ilhas Priendly, o irmão da mãe pode ser ch!- vigora nesses povos, a conseqilência é que a irmã do
mado por um termo especial, tuasirra, ou pela expr~ssao pai é aquela a quem se deve obedecer e tratar com
fde tangata, que significa, literalmente, «mãe 1:1asc_uhna__», respeito, enquanto do irmão da mãe deve-se esperar in-
Esta semelhança entre Africa do Sul e Pohnésta nao dulgência e carinho. Mas a questão é complicada por
pode segundo penso, ser considerada acidental; contu- um outro fator. Se consideramos a relação de um so-
do ~ão há conexão possível entre as línguas poliné- brinho para oom seu tio e tia, surge a questão do sexo.
sl;s e as bantu, e acho muito diflcil conceber que as Nas sociedades primitivas existe assinalada diferença na
duas regiões tenham adotado o costume de chamar o conduta de um homem para com outros homens · e na
irmão da mãe por um termo que signifique «mãe mas- conduta para com as mulheres. Correndo mais uma vez
culina>, por influência de uma na outra ou de uma ori- o risco de uma fórmula, podemos dizer que certo grau
gem .comum. consid~rãvel de familiaridade é, em geral, apenas per-
Vejamos agora se podemos deduzi~ o_ que dev:m ser mitido numa sociedade como a baThonga entre pessoas
os padrões de conduta para com o 1rmao da mae e a do mesmo sexo. O homem deve tratar seus parentes fe-
irmã do pai numa sociedade patrilinear com base no mmmos com maior respeito do que seus parentes mas-
principio ou tendência que acabamos de sugerir. Para culinos. Em conseqüência, o sobrinho deve tratar a irmã
isto, devemos primeiro conhecer os esquem:15 quanto ao de seu pai com muito maior respeito do que a seu pró-
pai e à mãe, respectivamente, e acho que isto será, tal- r:strutura e ••. E23l6 - 2 33
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prio pai. (Do mesmo modo, devido a-o principio do res- lizmente, não hã quase dado algum sobre esse assunto
peito por idade ou hierarquia, um homem deve tratar referente à África, e muito pouco com referência a ou-
o irmão mais velho de seu pai com mais respeito que tras partes do mundo. Ademais, existem certas idéias
a seu próprio pai). Reciprocamen1e, um homem pode falsas relacionadas com esta distinção de sociedades em
tratar o irmão de sua mãe, que é de sexo igual ao seu, matriarcais e patriarcais, que é necessário desfazer an-
com uraa de familiaridade que não seria possível com tes de tentarmos ir mais longe.
qua!g~er mulher, mesmo sua própria mãe. A influência Em todas as sociedades, primitivas ou adiantadas, o
do sexo na conduta de parentesco é mais bem perce- parentesco é necessariamente bilateral. O indivíduo é re-
bida nas relações de irmão e irmã. Nas ilhas Friendly lacionado a certas pessoas através de seu pai ou para
e entre os nama um homem pode devotar grande res- com outros através de sua mãe, e o sistema de paren-
peito a sua irmã, sobretudo se irmã mais velha, e ja- tesco da sociedade revela o que seria o caráter de seu
mais pode permitir-se quaisquer familiaridades com ela. trato com os parentes paternos e maternos respectiva-
O mesmo é certo, penso, quanto ao bantu sul-africano. mente. Mas a sociedade tende a dividir-se em segmen-
Em muitas sociedades primitivas a irmã do pai e as ir- tos (grupos locais, linhagens, clãs, etc.) e quando o
mãs mais velhas são objetos do mesmo tipo geral de princípio da hereditariedade é admitido, como · o é no
conduta, e cm algumas dessas os dois tipos de parentes mais das vezes, como o meio de determinar a comuni-
são classificados juntos e designados pelo mesmo nome. dade de um segmento, então é preciso escolher entre
Do princípio hipotético deduzimos certo esquema de descendência materna ou paterna. Quando uma socieda-
conduta para com a irmã do pai e para com o irmão da de é dividida em grupos com uma norma de que ·os
mãe. Ora, esses padrões são exatamente os que encon- filhos pertencem ao grupo do pai temos a descendência
tramos entre os baThonga, entre os hotentotes e nas patrilinear, ao passo que, se os filhos sempre pertencem
ilhas Friendly. A irmã do pai deve, acima de todos os ao grupo da mãe, a descendência é matrilinear.
parentes, ser respeitada e ·obedecida. O irmão da mãe Há, infelizmente, grande liberdade no emprego dos
é aquele parente de quem sobretudo se deve esperar termos matriarca! e patriarcal, e, por este motivo, mui-
indulgência, com quem podemos ser familiares e tomar tos antropólogos recusam-se a empregá-los. Se não po-
liberdades. Eis aqui, pois, uma alternativa de «possível demos absolutamente passar sem eles, devemos em pri-
explicação» dos costumes referentes ao irmão da mãe, meiro lugar dar definições exatas. Uma sociedade pode
e ela tem a vantagem sobre a teoria de Junod de tam- ser chamada patriarcal, quando a descendência é pa-
bém explicar os costumes correlatos referentes à irmã trilinear (isto é, os filhos pertencem ao grupo do pai);
do pai. Isto, porém, não conclui, mas apenas inicia nos- o casamento é patri!ocal (isto é, a mulher muda-se para
sa investigação. E' muito fácil inventar hipóteses. O o grupo local do marido) ; a herança ( ou propriedade)
trabalho importante e difícil começa, quando começamos e a sucessão (hierárquica) são em linha masculina, e
a verificá-las. Seria impossível para mim, no curto tem- a família é patripotestal (isto é, a autoridade sobre os
po disponível, fazer qualquer tentativa de verificar a membros da família está nas mãos do pai ou seus pa-
hipótese que acabei de expor. Tudo o que poss.o fa:er rentes). Por outro lado, uma sociedade pode ser cha-
é assinalar certas linhas do estudo que proporcionarao, mada matriarca!, quando a descendência, herança e su-
segundo penso, aquela verificação. cessão estão na linha feminina, quando o casamento é
A primeira coisa e a mais óbvia é estudar em por- matrHocal ( o marido muda-se para a casa de sua mu-
menor a conduta do filho da irmã e do irmão da mãe lher), e quando a autoridade sobre os filhos é exercida
um para com o outro nas sociedades matriarcais. Infe- pelos parentes da mãe.
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Se aceita esta definição de termos contrários, é ime- tintamente matriarcal o pai e seus afins são !3empre de
diatamente óbvto que grande número de sociedades pri- importância na vida do indivíduo.
mitivas não são matriarcaís nem patriarcais, embora al- No sudeste da África temos um grupo de tribos que
gumas possam inclinar-se mais para um lado e outras se inclina vigorosamente para o patriarcado, a tal ponto,
para o inverso. Assim, se examinamos as tribos da Aus- de fato, que poderíamos talvez, com razão, falar deles
trália oriental, que às vezes são chamadas matriarcais, como patriarcais. A descendência do grupo social, he-
descobrimos que o casamento é patrilocal, de modo que rança da propriedade, sucessão da chefia, tudo isto está
a comunidade do grnpo local é herdada na linha mas- na linha masculina; o casamento é patrilocal, e a auto-
culina, a autoridade sobre os filhos está princípalmcnt~ ridade na familla é acentuadamente patrlpotestal. No
nas mãos do p-ai e seus irmã·os, que a propriedade (o norte da Africa, no Kenya e regiões circunvizinhas, há
que há de propriedade) é sobretudo herdada na linha outro grupo de povos marcadamente patriarcais, alguns
1i deles de fala bantu, ao passo que outros são de fala
masculina, enquanto que, na medida que a hierarquia é .•_.,,-_
1
; .'
2. isto por vezes está associado com uma organização seg- rnento do gado ditsoa ao irmão da mãe de uma noiva
mentária da sociedade, isto f, com uma condiçíi.o na quat _foda não era legal, mas apenas obrigação moral. Tanto quan-
a sociedade é <lividida em certo número de segmenios (linha- to me sinta capaz de formar uma opinião, diria eu que
gens, clãs);
o julgamento estava certo.
3. enquanto o parentesco é sempre e ~ec:es~arlamente ~ilate-
ral, ou cognado, a organização _segmenlár1a e:uge a :icto~a? do Toda a questão do pagamento por ocasião do casa-
prilicípio unilinear, e deve ser te1ta uma opção entre inshtmções mento (lobola) é de considerável Importância prática no
patrlti.neares e matrlllneares; momcnro para missionários e magistrados, e para os pró-
4. em sociedades patri!ineares de certo_ tipo, ~ e~quema es- prios nativos. Ora, o estudo da exata situação em que
pecial de conduta entre um filho da irm~ e o 1tmao da mã: uma pessoa se encontra para com seus parentes mater-
decorre do padrão de conduta entre .º Mho e -~ mãe, qu~ e
~m si produto da vlda social no seio <la familia no sentido nos é de molde a que sem ele seria impossível chegar
restrito; a uma compreensão totalmente acurada dos costumes de
5. esta mesma espécie de conduta tende a estender-se a to- lobo/a. Uma das principais funções do lobo/a é fixar a
dos os parentes maternos, isto é, a toda familia ou grupo a posição social do filho do casamento. Se o pagamento
que o irmão da mãe pertença '; adequado for feito por uma família, no caso os filhos
6. nas sociedades com adoração de antepassados patrilinear da mulher que venha a ela em troca de gado pertencem
(como a baThonga e os insulares do arquipélago Friendly) o àquela família, e os deuses dela são seus deuses. Os
mesmo tipo de conduta pode também ser estendido aos deuses
da familia da mãe: nativos consideram que o mais forte dos laços sociais é
7. o tipo especial de conduta para com os parentes maternos
o do filho e sua mãe, e portanto, pela extensão que
(vivos e mortos) ou para com o grup? ~atern~ ~ seus deuses inevitavelmente ocorre há um laço muito forte entre o
e relíquias exprime-se em costumes ntua1s deltmdos, sendo a filho e a família de sua mãe. A função do pagamento
iunção ritual, no caso, como em out~a p_arte, fixar. e perpetuar lobo/a não é destruir, mas modificar esse vínculo, e si-
certos tipos <te conduta, com as obrigaçoes e sentimentos nele tuar os filhos definitivamente na familia ou grupo do pai
lmplicados.
para todas as questões relacionadas não apenas com a
Concluindo, permitam-me observar que escolhi o tema vida social, mas religiosa da tribo. Se não for pago
de. minha contribuição neste encontro, porque é não ape- lobokl algum a criança inevitavelmente pertence à fa-
nas te6rfoo como de interesse prático. Por exemplo, há mília da mãe, embora sua situação seja então irregular.
a questão quanto a se a Corte de Apelação Nativa es- Mas a mulher por quem o lobo/a é pago não se converte
-táva realmente certa em seu julgamento de que o paga- em membro da família do marido; os deuses da família
não são os deuses dela; e aquele é o teste final.
Disse o bastante, espero, para demonstrar que a com-
• Esta extensão a partir do lrmão da mãe a outros parentes maternos
·ê demonstrada na tribo baThonga através da terminologia do parentesco. preensão adequada dos costumes referentes ao irmão da
-O termo matume, primeiramente aplicado ao Irmão da mãe, é estendido
.llos filhos daqueles homens, que são também malume. Se os lrmlios de mãe. seja uma premissa necessária para qualquer teoria
minha mlle estão mortos cabe a seus filhos oferecer o sacrlflclo a meu
Javor aos ,nli!us antepassados maternos. Na parte norte da tribo, o termo
final do /abola.
matume caiu em desuso, e o pai da mãe, o Irmão da mãe, e os filhos
11omens do Irmão da mãe são todos chamados kok111a11a (avó). Embora
pareça absurdo para nós chamar um filho do Irmão da mãe, que pode
ser na verdade mais jovem do que o falante, por uma palavra que sig-
nifique "avó",. o argumento deste ensaio nos permitirá perceber algo
.do seu significado. A pessoa que deve fa2er o saerlflclo em meu favo,r
aos meus antepassados maternos é primeiramente o pai de minha mãe, e
4epols, se · ele ettlver morto, o Irmão de minha mãe, e depois da morte
deste último, seu filho, que pode ser mais Jovem do que eu. Há seme-
lhança de· futt'Çll.ó nesses três relacionamentos; um 11ntco esquema geral de
.conduta lnlnha para com todos eles e Isto · é de. novo semelhante em geral
quanto ao& avós. A nomenclatura é, pois, adequada.
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