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CORFEBOL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA POSSIBILIDADE

DE ESPORTE COLETIVO
Fernando Conselho dos Anjos
Escola Estadual Professora Alice Chuery
professored.fisica@live.com

As Aulas de Educação Física na escola regularmente apresentam desafios


para os professores, pois a prática esportiva tende a excluir alunos de alguma
forma, seja pela questão de gêneros ou por pouca habilidade na prática de
algum esporte. O mais comum é a questão na divisão dos gêneros, já que há
pouca aceitação dos meninos em realizar atividades esportivas com as
meninas. Desta forma elas se acuam aos cantos da quadra, e com isso as
aulas práticas de Educação Física tendem a ser um reduto “masculino”, cujo
único esporte a ser praticado é o futebol, e na maioria das vezes as meninas
participam das aulas jogando voleibol, esporte que culturalmente é destinado
às meninas. O objetivo do trabalho foi entender a relação de gêneros nas aulas
de Educação Física, identificando como as práticas esportivas podem contribuir
e consequentemente unir os alunos (as) das aulas. A pesquisa foi desenvolvida
com 35 alunos, sendo 16 meninas e 19 meninos, com idade entre 14 e 15
anos, do 9° ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professora Alice
Chuery na cidade de Guarulhos, São Paulo. A aplicação do
esporte Corfebol serviu para identificar fatores relevantes que implicam nesta
segregação, uma vez que esta modalidade esportiva tem como principal
objetivo a interação entre os gêneros na prática do esporte. Considerando o
presente estudo, concluímos que a prática do Corfebol favoreceu a interação e
participação igualitária entre os gêneros e que outros fatores puderam ser
observados, tais como: cooperação, socialização e inclusão dos alunos com
pouca habilidade nos esportes coletivos.

Palavras Chaves: Educação Física, Gênero, Corfebol, Socialização.


Introdução
Louro (1997), Altmann (1998), Devide (2005), Junior e Ramos (2005),
Dornelles, et all (2013), são autores que discutem a relação de gênero no
Ambiente Escolar e Sociedade, por sua vez este artigo aborda a questão do
gênero relacionado ao ambiente escolar, mais precisamente nas aulas de
Educação Física. A concepção de gênero nas aulas de Educação Física
sempre foi um fator relevante aos professores, pois as diferenças entre
meninos e meninas podem aparecer pela inabilidade na prática dos esportes
coletivos, práticas individuais ou por construção cultural familiar e religiosa.
As diferenças no ambiente escolar não se resumem apenas ao homem e
mulher, mas sim as diversas situações extirpadas neste ambiente. Inicialmente
a escola era uma instituição de hierarquização e ordenamento, concebida
apenas para alguns e não para todos que ali faziam parte da sociedade.
Porém, com o passar do tempo os menos favorecidos reivindicaram seu direto
de ali poderem estabelecer igualdade com os que inicialmente eram
privilegiados. Assim a escola se tornou uma instituição para todos que
permeavam a sociedade. Com os novos rumos no ambiente escolar as
diferenças começam a aparecer. Onde foram segregados entre pobres e ricos,
católicos e protestantes, meninos e meninas, adultos e crianças (Louro, 1997.
pag. 57). Com isso fomentou as diversas diferenças entre os que frequentavam
este ambiente.
Segundo Devide, 2005 pág. 27 “biologicamente”, a principal distinção entre
homens e mulheres refere-se aos sistemas reprodutivos e que outras
diferenças estão nas características físicas, por muitas vezes homens são mais
altos, fortes e mais velozes, porém podemos encontrar mulheres com as
mesmas descrições relacionadas ao sexo masculino.
Segundo Junior e Ramos (2005 p.05) “Conceito de gênero explicita o ser
homem e o ser mulher como uma construção histórico-social [...] diferenciando-
se, assim, do restrito conceito biológico de sexo”. Gênero não pode ser
entendido como um estado fixo, estável, mas como algo que todo ser humano
constrói, dia a dia no seio de interações sociais Silva e Gomes (2013, pág. 45).
Consequentemente não se tratando de uma condição estável, sem alterações,
aberto as diversas mudanças em loco.
A identidade de gênero constrói-se a partir da adoção de papéis que
levam a socialização do indivíduo, permeada pelos aspectos
culturais, contudo o fato de existirem papéis indica que há imposição
de condutas e comportamentos considerados adequados para
homens e mulheres. (RAMOS E DEVIDE, 2013 pág. 170).
Antes de nascer à criança é condicionada aos valores culturais vivenciados
pelos familiares, durante a gravidez quando a família tem conhecimento do
sexo da criança criam expectativas diferentes para meninos e meninas, assim
fortalecendo uma construção sociocultural de gênero.
Definindo comportamentos e papéis que a sociedade espera ver
assumidos [...] para as mulheres sinônimo de fragilidade,
passividade, submissão, devendo cuidar da casa, prole e do marido,
ou seja, ser responsável pelo espaço privado. E ser homem é ser
forte, ativo, sustentar a família, ocupar o espaço público ter domínio
e liberdade da situação. (PEREIRA, 2004 pág.12)
Com isso cria-se uma criança moldada às diversas manifestações sociais,
estabelecendo o que é apropriado ou impróprio, para ambos os sexos. Estas
diversas manifestações sobre a construção do gênero antecede o ambiente
escolar. Pois como relatado anteriormente, durante a gravidez e nos primeiros
anos de vida a criança é condicionada pela família a ter comportamentos de
acordo com o seu sexo. Boa parte do comportamento do ser humano é
construída historicamente no ambiente cultural sendo absorvidos,
reconfigurados, recriados. (PEREIRA, 2004 pág. 13).
Com isso podemos afirmar que as diversas manifestações de gênero
antecedem o ambiente escolar, uma vez que estes valores são desenvolvidos
no seio familiar e consequentemente as crianças já têm estabelecidos os
diversos valores relacionados ao ser homem e ser mulher na sociedade em
que vive. O que afirma Junior e Ramos,
Já na família, primeiro momento de sociabilização da criança,
iniciam-se os aprendizados da divisão social do trabalho (meninas
ajudam a mãe nos afazeres domésticos; meninos ajudam o pai nos
pequenos reparos da casa) e das formas de brincar (meninos com
bola e meninas com boneca e fogãozinho).
(JUNIOR E RAMOS, p.05).
Ayoub (2001 pág. 58) relata que as práticas da cultura corporal também são
segregadas no ambiente familiar, pois desde cedo as meninas são
condicionadas a práticas corporais individuais, dança nas diversas situações,
brincadeiras com pouco contato, sem utilização de força. E para os meninos
lutas, atividades em grupo, com contato físico, fortalecendo os diversos
estereótipos presentes nas práticas corporais.
Devide, 2005 descreve que no esporte há estereótipos em algumas práticas
desenvolvidas na sociedade.
“É o caso do futebol, da dança, do levantamento de peso. Em muitas
sociedades, porém, a participação feminina no esporte se modifica,
considerando-se as tradições, sua religião, sua cultura, e seus
costumes” pág. 29.
É neste sentido que podemos afirmar que existe uma construção cultural do
corpo feminino diferente da construção do corpo masculino e que estas
relações não estão relacionadas ao sexo no sentido biológico, mas sim em
outros fatores sociais que afirmam as práticas corporais. São dicotomizadas
por sexo e extirpadas no ambiente escolar.
Estes comportamentos culturais no ambiente escolar podem valorizar a
segregação dos gêneros ou até mesmo agravar uma situação problemática.
“Meninos e meninas estão sujeitos a classificações preconceituosas de acordo
com os condicionantes culturais [...] traduzindo em prestigio social, ou serem
altamente desvalorizados e desprestigiados quando adotarem atitudes e
modos não condizentes” (Junior e Ramos, 2005 pág.06). Os modos não
condizentes estão relacionados aos esportes, por uma construção cultural o
esporte ainda é visto como uma prática relacionada ao gênero masculino ou
feminino.
Caso alguma menina tenha habilidade para desenvolver o futebol
ela sofrerá com os estereótipos de “Sapatão” ou “Machona” 1. Pelo
simples fato de demonstrar destreza no esporte que culturalmente
está relacionado ao gênero masculino. Não sendo diferente quando

1
De acordo com Júnior e Ramos, 2002 pag. 06 Expressões utilizadas para discriminar ou
insinuar uma conduta homossexual masculina no Brasil e em Portugal.
um menino possui habilidade com ballet ou outras danças com
características femininas eles recebem os termos pejorativos de
“Boiola” ou “Paneleiro” 2 (JÚNIOR E RAMOS, 2002 pág. 06).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN´s (1998) relata que a Educação
Física tem como objetivo propor aulas que possam transmitir valores sociais e
culturais dentro das práticas da Cultura Corporal, e onde o aluno possa utilizar
os diversos conteúdos fora do ambiente escolar. Neste contexto as aulas de
Educação Física “Mistas” 3, meninos e meninas na mesma aula prática tem
grande valor, uma vez que possibilita as diversas relações entre os gêneros
nas aulas teóricas e práticas da disciplina, fortalecendo a importância do
gênero oposto na sociedade, assim eliminando alguns estereótipos provocados
pelo gosto da prática.
Trabalhar os esportes coletivos nas aulas de Educação Física desde o início da
escolarização pode oportunizar meninos e meninas a terem as mesmas
habilidades e oportunidades, diminuindo os diversos estereótipos cultuados
pela prática das modalidades. De acordo com os PCN´s (1998) desenvolver os
diversos esportes coletivos nas aulas de Educação Física “Mistas” pode
colaborar aos gêneros se descobrirem, compreender as diferenças e serem
tolerantes nas situações cotidianas.
Com isso o Corfebol4, nascido na Holanda um esporte praticado por ambos os
gêneros, pode auxiliar no desenvolvimento das aulas práticas com esporte
coletivo. Segundo CAHUÊ (2006) o esporte foi desenvolvido pelo professor
Nico Broekhuyesen em 1902, com o objetivo de integrar homens e mulheres na
mesma prática esportiva, oportunizando aos gêneros, igualdade no
desenvolver do jogo. Entre as características do esporte, o atleta não pode
progredir quando está com a posse da bola, o que possibilita maior interação e
troca de passes durante o jogo. Outro fator importante no desenvolvimento é a
marcação, por características e respeito ao gênero, meninos marcam meninos

2
De acordo com Júnior e Ramos, 2002 pág. 06 Expressões utilizadas para discriminar ou
insinuar uma conduta homossexual masculina no Brasil e em Portugal.
3
Segundo os PCN’s 1998. As aulas de Educação Física Mistas com meninos e meninas
possibilita a compreensão das diferenças entre os gêneros, não reproduzindo estereótipos e relações
autoritárias.
4
Corfebol: Grafia utilizada em países de Língua Portuguesa.
e meninas marcam meninas, assim não inibindo os praticantes por questões
físicas.
O esporte oficial é desenvolvido em quadra retangular com dimensões de (40m
x 20m), com dois postes localizados dentro da quadra, cada poste possui 3,5
metros d altura, com dois cestos de forma cilíndrica com dimensões de 39 a 40
cm. Utiliza-se uma bola número 5, similar a uma bola de futebol. Cada equipe
possui oito atletas, quatro homens e quatro mulheres, divididos em ataque e
defesa. No jogo duas mulheres e dois homens dispõem se no campo de defesa
e da mesma forma no campo de ataque.
CAHUÊ, 2006 afirma que trabalhar com o Corfebol nas aulas de Educação
Física tem como objetivo o entendimento dos alunos na prática do esporte
coletivo, possibilitar a união, respeito e trabalho em equipe.
“O caráter misto e coletivo do Corfebol faz com que tanto os homens
quanto as mulheres pensem sobre o seu papel no jogo [...] Uma
turma que joga Corfebol deve ter em mente que, se houver algum
“fominha” no time este terá mais chances de perder, pois a equipe
que entende o espírito coletivo do esporte terá mais facilidade, e
contará sempre com todos os seus jogadores em quadra”. (CAHUÊ,
2006 pág. 21)
Outra importante função do Corfebol no ambiente escolar é relatada por
Fortuna (2008 pág. 15) “Trabalhar com o Corfebol no ambiente escolar, não
apenas por ser um esporte que trabalha a equidade entre os gêneros, mas
também por incluir os diversos alunos que tenham alguma dificuldade em
participar de outros esportes coletivos”. Pois o esporte não requer força ou
tamanho para o seu desenvolvimento.
Metodologia
O trabalho se estruturou no método de ensino Inclusivo, proposto por Gozzi e
Ruete (2006) e Krug (2009) a partir de escritos sobre Muska Mosston
pesquisador da área da Educação Física que desenvolveu o Spectrum de
Estilos de Ensino (1990).
O método inclusivo tem como objetivo possibilitar a participação de todos os
alunos na prática esportiva, sem que haja exclusão por falta de habilidade.
Neste estilo de ensino são planejadas ações com a intenção de incluir todos os
alunos na atividade de acordo com a possibilidade de cada um (Gozzi e Ruete,
2006 pág. 124).
A amostra foi composta por 35 alunos, sendo 16 meninas e 19 meninos do 9º
Ano do Ensino Fundamental, antiga 8ª Série, com idade entre 14 e 15 anos,
em uma escola Estadual na cidade de Guarulhos, São Paulo.
As aulas foram aplicadas duas vezes por semana, durante o Segundo
Semestre de 2014. Entre aplicação da prática do Corfebol e observação dos
alunos durante as aulas de Educação Física, os dados foram colhidos a partir
de observação, filmagens, fotos e perguntas abertas para os alunos.
Resultados
As diferenças entre os gêneros nas aulas de Educação Física, revelam alguns
questionamentos sobre a prática dos esportes coletivos. Engajados em
entender este universo, muitos autores e autoras discutem o gênero no
ambiente escolar. Diante desta problemática, este artigo buscou trabalhar um
esporte coletivo não conhecido pelos alunos e alunas. O Corfebol que na sua
ideologia é proporcionar a prática coletiva entre meninas e meninos, podendo
diminuir os diversos resquícios de estereótipos presentes nas diversas práticas
esportivas desenvolvidas no ambiente escolar. As Orientações de Produção
Didáticas - Pedagógico do Paraná (2012 pág.13) salienta que “A prática do
Corfebol pretende contribuir para a formação integral do indivíduo, propiciando
vivências onde ele possa desenvolver suas habilidades corporais, num
ambiente onde a convivência com os demais possa levar a descoberta das
diferenças como algo natural e pertinente para a sua vida social”.
Nas mais diversas quadras poliesportivas dentro de escolas ou colégios,
podemos observar uma maior participação dos meninos nas aulas de
Educação Física, visto que a frequência é maior na prática de esportes
coletivos. Já as meninas ficam restritas aos cantos da quadra, ou em muitas
situações nas arquibancadas, banheiros e vestiários.
Gonçalves e Fraga (2005) descrevem esta relação de poder no ambiente
escolar, quando relatam que os meninos utilizavam uma maior parte da quadra
e as meninas ficavam restritas aos cantos da quadra, onde não é de
exclusividade, pois com certa frequência os meninos invadiam o espaço
utilizado pelas meninas.
Numa das observações de campo realizadas nesta escola, a
distribuição e a movimentação de meninos e meninas neste espaço
chamava a atenção. Eles ocupavam praticamente a quadra inteira
correndo de um lado para o outro. As meninas por sua vez, não
corriam tanto e restringiam suas brincadeiras a um dos cantos,
frequentemente “invadido” pela brincadeira dos meninos. Ao ser
perguntado sobre os motivos desse “desequilíbrio territorial”, um dos
que participava da “correria” respondeu sem hesitar:
- “Ah, as meninas não precisam mais que um canto”.
Gonçalves e Fraga (2005, pag. 01).
O fato dos meninos estarem mais presentes na quadra é motivado por vários
fatores, entre eles o fato de algumas meninas não terem habilidade motora
para participar das mesmas atividades que os meninos, por sentirem incapazes
de participar das atividades. O mesmo acontece com os meninos que não
tenham destreza para tal prática como relatado por Pereira, 2004 pág. 40.
A ênfase no desempenho das práticas corporais é excludente. Os
meninos não querem jogar com as meninas nem com os menos
habilidosos, e estes, por sua vez acabam se autoexcluindo para não
ficarem expostos a situações desagradáveis ou se sentirem
humilhados.
Encontramos, também, meninos, e, sobretudo meninas, que se
excluem ou se sentem incapazes de assumir determinadas atitudes,
se autodesqualificando ou autorotulando de incapazes ou
despreparados. A autoexclusão é um comportamento vivenciado por
muitas meninas que, com esta atitude, acabam por se manter e
conservar a valorização da capacidade masculina na sociedade.
Antes de aplicar a prática do Corfebol foi possível perceber que as meninas
não ocupam a quadra, elas ao descerem para a quadra durante as aulas de
Educação Física dirigiam se diretamente para a arquibancada, localizada na
lateral da quadra poliesportiva, exceto algumas meninas que participavam das
aulas junto com meninos.
Quando questionadas o porquê de não participarem das aulas práticas, as
respostas eram dadas de forma bem sucinta:
- “Os meninos não deixam ou não gosto de futebol”.
Assim elas passavam 50 minutos da aula sentados, conversando ou escutando
músicas em seus aparelhos eletrônicos.
Quando foi levada a prática do Corfebol para o ambiente escolar, todos os
alunos participaram das atividades propostas, inicialmente foi desenvolvido um
jogo próximo ao Corfebol, os alunos separados em equipes “mistas” tinham
como objetivo passar a bola entre os componentes do grupo, quando
chegavam a dez passes a equipe marcava um ponto. A atividade proposta foi
baseada no estilo de ensino Inclusão proposto por Krug, 2009. Elaborar
práticas de ensino, para que todos os alunos tenham a possibilidade de obter
sucesso e se sentirem incluídos na prática. Durante a aplicação constatei que
as meninas pouco pegavam na bola. Ao final da partida abrimos uma roda
conversa para eles explicarem como foi o jogo e quais as maiores dificuldades
enfrentadas durante a atividade.
As meninas comentaram que os meninos passavam a bola apenas para os
meninos, que elas pouco pegavam na bola.
- “Professor os meninos não tocam a bola, a gente fica de um lado
para o outro, mas eles só tocam entre eles”. Aluna Kimberly Bianca.
- “É bem difícil participar com os meninos, porque eles pensam que
só eles estão jogando”. Aluna Juliana Rezende
Porém os meninos se justificavam dizendo que as meninas não se “mexiam” na
quadra ou não pedia a bola.
- Mas, professor elas não pedem a bola, é ficam paradas, assim fica
difícil de passar a bola para elas. Toda vez que tento tocar tem
alguém do time adversário marcando para pegar a bola. Aluno
Matheus Leal.
Durante uma pesquisa de campo Altmann, 1998 pág. 45 relata o mesmo
problema enfrentado por ela durante uma aula de Educação Física:
Carla abandonou um jogo reclamando: ‘Homem brincar com mulher
não dá certo, não!’ Carolina, em uma entrevista, também se queixou:
‘Quando a gente joga com os meninos, parece que eles nem
conhecem a gente. Ficam brincando só eles e não jogam a bola para
gente!’.
Estes relatos demostram que os meninos se sentem mais participativos, por
isso eles tocam a bola entre eles. Por outro lado as meninas demonstram
vontade em participar das aulas junto com os meninos, mas esbarram nas
dificuldades de entender a lógica do jogo coletivo.
Quando perguntados como era trabalhar com o sexo oposto as respostas
foram:
Bianca: Por um lado é bom, porque eu posso jogar, é eu amo jogar.
E por um lado é ruim porque no começo eles não deixava eu jogar
porque não sabia jogar. E hoje em dia eu faço falta para eles no
time.
Davi Mariano: jogar com as meninas é tranquilo, pois tem menina
que jogam “calmas”, ou, seja para se divertir e tem meninas que
resolve tudo na gritaria. Fora isso é uma tranquilidade participar das
atividades com as meninas.
Com o início do esporte coletivo Corfebol, meninos e meninas puderam
vivenciar um esporte pouco conhecido por eles, e consequentemente entender
o papel do gênero na prática esportiva. Pelo fato do jogo ter regras
estabelecidas favoreceu a prática para ambos, pois os times se dividiam entre
ataque e defesa, não podendo o ataque voltar para a defesa e vice versa.
Quando divididos em equipes compostas por oito componentes, sendo Quatro
meninas e Quatro meninos eles se organizaram entre ataque e defesa por
conta própria, demostrando autonomia nas escolhas das funções durante a
prática. Já que na Educação Física o aluno deve se apropriar da construção do
conhecimento e construir uma possibilidade autônoma de utilização do seu
potencial (PCN’s 1998 pág. 27).
As reclamações sobre as oportunidades de pegar na bola foram diminuindo
com o passar do tempo, pois se viam obrigados a tocar a bola para todos da
equipe, já que tanto no ataque, quanto na defesa havia uma igualdade de
componentes do mesmo gênero. Fazendo com que eles precisassem trabalhar
juntos para pontuar. Não existindo um jogador individualista que queira resolver
tudo sozinho, assim trabalhando o espírito de cooperação entre membros da
equipe (FORTUNA, 2008 pág. 13).
O respeito na prática era mútuo, pois com a marcação entre os gêneros não
havia qualquer tipo de contato mais agressivo por parte dos meninos, em
relação às meninas, sendo assim, não inibindo a participação das meninas na
prática do esporte.
Com o passar das aulas, constatei que muitas meninas tinham a mesma
vontade que os meninos, e que com o passar do tempo os meninos
começaram a orientar as meninas dentro da quadra. Assim incluindo as
meninas na prática, sem qualquer distinção pelo gênero, habilidade ou
quaisquer estereótipos cultuados pela sociedade.
É de grande importância trabalhar o esporte de forma educacional, uma
perspectiva proposta por TUBINO (1992), no qual o esporte é desenvolvido de
acordo com as necessidades do ambiente escolar, não reproduzindo o esporte
de performance ou alto rendimento.
A prática educativa deve fornecer a educação social aos alunos, propiciando o
desenvolvimento de suas potencialidades, uma participação autêntica com
possibilidades de intervenção, de tomar decisão e atuar na comunidade; no
plano psicomotor com oportunidades de participação que atendam às
necessidades de movimento, desenvolvendo o juízo crítico, sem descriminação
de qualquer tipo. Paraná (2012 pág. 12).
Com isso, possibilitar ao aluno uma participação de forma igualitária, sem a
competição exacerbada ou na busca de futuros atletas dentro do ambiente
escolar, diminuindo a exclusão ou não participação dos menos habilidosos ou
segregar os gêneros em uma construção de valores culturais.

Conclusão
Podemos verificar que a prática do Corfebol no ambiente escolar pode
favorecer o professor a trabalhar um esporte que possa integrar os gêneros
nas aulas de Educação Física, porém vale ressaltar que este esporte é apenas
uma das diversas ferramentas, cabendo ao professor verificar as múltiplas
possibilidades de trabalhar outras práticas no ambiente escolar, já que não
existe uma prática relacionada a algum gênero especifico.
O Corfebol além de trabalhar a interação dos gêneros, o professor pode chegar
a outros objetivos tais como; cooperação, socialização e inclusão, uma vez que
o esporte não privilegia os alunos mais habilidosos, mas sim aqueles que
entendem a necessidade de trabalhar em equipe e a importância das relações
na prática do esporte. O que não podemos pensar é que apenas o Corfebol
trata-se de um esporte para a interação dos gêneros ou fazer deste esporte um
novo integrante do quarteto fantástico: Basquete, Futsal, Handebol e Voleibol.
Para que isso não aconteça, Paraná (2012 pág. 17) enfatiza: “A formação de
professores é essencial para compreender que o ato de educar é uma forma de
intervenção na realidade dos alunos, não é só transmitir conteúdos, mas dar
uma nova significação”.
Fica aberto a oportunidade de novos estudos sobre o Corfebol no ambiente
escolar, desta forma a gama de conhecimento poderia elevar a desconstrução
dos paradigmas sobre a prática de esportes coletivos no ambiente escolar e a
segregação dos gêneros nas aulas de Educação Física e sociedade.

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