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1. Intróito
O Brasil, como não poderia deixar de ser, não ficou alheio a todo esse processo de
mudança, vindo a empreender, ao longo do século passado, algumas alterações fundamentais no
modo de se estruturar, o que culminou, em meados da década de 90, com a implantação de um
novo modelo de administrar, a saber, a administração gerencial.
O presente estudo se propõe a desenhar todo o quadro histórico desse processo cíclico
de evolução estatal, avaliando os fatores determinantes dos movimentos reformistas das duas
últimas décadas do século XX, no intuito de extrair as bases do novo modelo de Estado.
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mercado livre e a inexistência de uma política social levaram as economias capitalistas à
insuficiência de demanda agregada, ensejando uma crise generalizada que abriu espaço para a
emergência do Estado Social-Burocrático, de cunho intervencionista.
A nova visão do Estado reconhecia seu papel complementar nos âmbitos econômico e
social. Isso significava, para o Estado intervencionista, a assunção da prestação de serviços
sociais fundamentais, além do disciplinamento da ordem econômica, seja para limitá-la e permitir
sua compatibilização com o interesse coletivo, seja para estimulá-la através da concessão de
apoio financeiro, creditício e de infra-estrutura, ou ainda, através de sua atuação direta na
prestação de atividades econômicas.
Surgiram, nessa nova realidade, o Estado do Bem-Estar Social (Welfare State), nos
países desenvolvidos, em especial na Europa; o Estado Desenvolvimentista e protecionista nos
países em desenvolvimento do chamado Terceiro Mundo; e os Estados Comunistas do bloco
soviético.
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tecnológico e pela redução dos custos de transportes e comunicações, fatos que conduziram a
uma nova dinâmica do capitalismo internacional, correspondente à globalização, com a
conseqüente integração das economias e dos mercados, rompimento de barreiras e acirramento
da competição.
A globalização impôs uma dupla pressão sobre os Estados: por um lado cresceu o
desafio estatal em proteger os seus cidadãos, dado que a lógica do mercado, privilegiado pela
economia neoliberal, é favorável aos mais fortes e capazes e induz ao aumento da concentração
de renda; de outro, exigiu do Estado maior eficiência na realização das tarefas públicas, de modo
a aliviar as pressões sobre as empresas nacionais e facilitar sua concorrência frente ao mercado
internacional.
Assim, o Estado Intervencionista, que no início do século passado foi apontado como
fator de desenvolvimento, transformou-se em obstáculo ao crescimento econômico e social, e
toda a crise estrutural descrita acabou por demandar imediatas alterações no seu modelo. Tal
fato conduziu, na década de 80, a um movimento geral de reformas do Estado.
3. A Reforma do Estado
Destarte, o Estado, nessa nova ótica, reduz seu papel de executor ou prestador direto de
serviços para assumir o caráter de regulador, indutor e mobilizador dos agentes econômicos e
sociais, cuja principal função seria simplesmente promover a coordenação estratégica do
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desenvolvimento, da integração regional e da inserção no mercado internacional, evitando, assim,
a precarização dos serviços públicos e uma maior exclusão social.
Nesse sentido, uma das primeiras alternativas apontadas para a superação da crise do
Estado Intervencionista foi o estabelecimento de parcerias entre o setor público e o privado, o
que conduz ao crescimento do chamado setor público não-estatal.
Outro ponto que deve ser levado em conta, quando se fala em Reforma do Estado,é o
anacronismo existente entre o Estado centralizador, produtor, prestador de serviços e
excessivamente burocratizado, e a nova dinâmica do capitalismo internacional. De fato, em
termos jurídico-institucionais, não se pode negar a premência de se adaptar o arcabouço
normativo então em vigor à nova realidade.
Daí porque, segundo Bresser Perreira (4), outra forma de conceber a reforma do Estado
é entendê-la como um processo de criação e transformação de instituições com o intuito de
solucionar os problemas de governabilidade e governança, dois conceitos de extrema
importância dentro da lógica da reforma, uma vez que correspondem às dimensões política e
administrativa da mesma.
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público (cultura do rent-seeking, ou busca pelo lucro).
A crise fiscal dos anos 70 e 80, caracterizada pela incapacidade do Estado em superar o
problema da poupança pública negativa e pela falta de recursos para a introdução e
desenvolvimento de novas políticas governamentais, nada mais representou senão uma crise de
governança, na medida em que imobilizava o Poder Público, obstando-o de cumprir seus
deveres sociais e contribuindo ainda mais para a precarização dos serviços públicos.
Algum tempo depois, o mesmo sistema que apareceu como resposta à ineficiência
burocrática acaba por resvalar para a criação de privilégios corporativistas, favorecimento,
clientelismo e corrupção. Assim é que renasce novamente, em face desse quadro, a proposta
tradicional e centralizadora, subjugando o modelo anterior, sob o argumento da restauração da
moralidade e probidade administrativas.
O caráter racional apontado por Weber se consubstanciava na escolha dos meios mais
adequados (ou eficientes) para a realização dos fins visados. O legalismo, por sua vez, ficava
consignado na medida em que a escolha desses meios e fins era pautada rigidamente em regras,
estatutos, regulamentos, enfim, na lei em sentido lato.
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Destarte, se no sistema anterior a avaliação do servidores integrantes da burocracia
estatal privilegiava critérios como assiduidade, disciplina e tempo de serviço, em detrimento do
efetivo atendimento das necessidades sociais, no novo sistema esse tipo de conduta é inaceitável.
Paralela a essa nova visão de interesse público, está a derrocada do sistema de controles
formais e legais, típicos da administração burocrática, e a ascensão dos controles de
produtividade, economicidade e eficiência, vale dizer, do controle a posteriori de resultados.
Entre essas providências, podem ser citadas: a transferência de funções do poder central
para entes intermediários e locais, o fortalecimento de técnicas de coordenação de serviços e
atividades entre as diferentes esferas políticas (como consórcios intergovernamentais, acordos-
programas e convênios), o aumento da autonomia de entidades da administração indireta, a
capacitação dos dirigentes e a criação de carreiras específicas para os altos gestores, além da
valorização do servidor, visando a criar condições objetivas para o desenvolvimento dos
responsáveis em pôr em prática a reforma planejada.
Em conformidade com todas essas mudanças, algumas das atividades estatais (de cunho
não monopolista e caráter competitivo, a exemplo dos serviços de saúde, educação, pesquisa,
limpeza urbana, entre outros), passam a ser compartilhadas com a sociedade civil, para garantir a
melhor prestação dos serviços públicos.
O modelo gerencial consagra ainda, nesse último ponto, relativo à maior participação
dos agentes privados e/ou da sociedade civil na prestação dos serviços públicos, o princípio da
competição administrativa, citado por Marcos Alonso Nunes (5).
Tecidas essas considerações, é possível relacionar aquelas que, segundo Bresser Pereira
(6) são as principais características do modelo de administração gerencial:
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públicos.
Essas falhas do sistema introduzido pelo mencionado diploma legislativo foram postas em
discussão na década de 80, diante da crise que tomava o país e do processo de
redemocratização.
Tal empreendimento foi apontado pelo PDRE como um retrocesso burocrático (7),
promovendo um engessamento do aparelho estatal, com o retorno a muitos dos paradigmas do
modelo de administração burocrática, a exemplo do controle rígido de processos, dificuldades
na contratação de pessoal, na execução de compras e manejo dos recursos orçamentários.
Dado esse diagnóstico, a partir de 1995, começou a se defender uma nova reforma da
administração pública brasileira, integrada a um abrangente processo de Reforma do Estado. Em
decorrência disso, transformou-se a então Secretaria da Administração Federal - SAF - no novo
Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado - MARE.
O MARE passou a desenvolver uma nova política de organização do Estado, que pode
ser identificada em oito princípios fundamentais: 1)desburocratização (por meio de flexibilização
administrativa e eliminação de procedimentos operacionais desnecessários); 2)descentralização
(delegação de competências dentro da estrutura do Estado e estabelecimento de parcerias com
a sociedade); 3)transparência (maior publicidade das ações governamentais, possibilitando o
controle social); 4)accountability; 5)ética; 6)profissionalismo; 7)competitividade; e 8)enfoque
no cidadão (como principal usuário dos serviços públicos) (8).
6. Conclusão
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do final do século XX, de diretrizes fundamentais para sua estruturação. Em síntese apertada,
são essas as novas bases estruturantes do Estado Contemporâneo:
a)delimitação das funções do Estado, com a redução do seu tamanho por meio,
principalmente, de programas de privatização, terceirização e publicização;
7. Bibiografia
CASTOR, Belmiro Valverde Jobim, JOSÉ, Herbert Antonio Age. Reforma e Contra-
Reforma: A perversa Dinâmica da Administração Pública Brasileira. Revista de
Administração Pública. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, v. 32, n. 6, p. 97-111,
nov./dez. 1998.
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 4 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2000.
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PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A reforma do Estado dos Anos 90: Lógica e
Mecanismos de Controle. Brasília: Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado,
1997, 58 p.
Notas
1. PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A Reforma do Estado dos anos 90: Lógica e
Mecanismos de Controle. Brasília: Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado,
1997. p.11.
Sobre a autora
Maria Carolina Miranda Juc á
E-mail: Entre em contato
Sobre o texto:
Texto inserido no Jus Navigandi nº61 (01.2003)
Elaborado em 08.2002.
Informações bibliográficas:
C onforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado
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C onforme a NBR 6023:2000 da Associação - Doutrina
Brasileira - Crise
de Normas e refo…(ABNT), este texto científico publicado
Técnicas
em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
JUCÁ, Maria Carolina Miranda. Crise e reforma do Estado: as bases estruturantes do novo modelo.
Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 61, jan. 2003. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3598>. Ac esso em: 17 set. 2010.
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