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AS DIMENSÕES ANALÍTICAS DO ATO SUICIDA

Fernanda Bastos¹, Luana Lima² e Caio Tavares³


¹Graduanda em Psicologia pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e em História pela UFBA (bastosnanda@hotmail.com)
² Graduanda em Psicologia e Bacharel Interdisciplinar em Humanidades pela UFBA (luanalima.sc@outlook.com))
³Psicólogo graduado pela UFBA e voluntário do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD-Ba) (caiomt@gmail.com)

Introdução
O suicídio, em seu processo histórico e como expressão singular de um ato humano exclusivo, é um fenômeno que desperta o interesse de diferentes campos e práticas
do saber. A tentativa de compreensão sobre o que leva um sujeito, frente à perda do sentido da sua existência, a abrir mão da própria vida corrobora o argumento
defendido por muitos estudiosos desse tema, de que o suicídio apresenta uma etiologia multifatorial (BERTOLOTE e FLEISCHMANN, 2002). De fato, a complexidade dessa
manifestação aponta para um enigma que talvez jamais seja solucionado; mas ,afinal, por que as pessoas se matam?
Há em Freud, de acordo com Carvalho (2011) duas teorias a respeito do suicídio. Uma prevê tal fenômeno como uma saída, um fim definitivo para os conflitos psíquicos
e a outra estaria ligada ao conceito de pulsão de morte, para o qual, em um última instância, a repetição, busca retornar ao estado inorgânico, ao inanimado.
O ato de tirar a própria vida provoca, no outro, um efeito de divisão, anunciando o próprio paradigma do ato. No registro da ação, esse fenômeno, pode indicar para o
sujeito, um possível rompimento com a sua angústia. Através da experiência teórica e clínica, a pluralidade de perfis dos pacientes que tentam o suicídio indica a
dimensão transestrutural deste fenômeno.
Na contemporaneidade, é cada vez maior o número de sujeitos que chegam à clínica apresentando discursos que apontam uma precarização do registro do simbólico. A
tentativa de suicídio, enquanto recurso último de apelo ao outro, denuncia um desafio, atual e emergencial, ao dispositivo analítico.

Objetivo Geral:
Discutir os desafios do dispositivo analítico diante das dimensões de ato que atravessam a clínica do suicídio.
Objetivos Específicos:
Diferenciar suicídio por acting out e por passagem ao ato.
Discutir o manejo transferencial na clínica com pacientes que lançam mão de tentativas suicídio por acting out.
Considerar a vinculação do acting out e da passagem ao ato enquanto ato suicida.

Método
Esse trabalho é um recorte de uma pesquisa bibliográfica, fruto de investigações teórico-clínicas, orientadas pela psicanálise, surgidas a partir da
experiência com pacientes que tentaram o suicídio e que foram atendidos em um centro de referência estadual.
Resultados e Discussão
Ao se falar de ato suicida, é preciso reconhecer as diferentes perspectivas
epistemológicos que envolvem a dimensão de “ato”. A perspectiva
filosófica, em linhas gerais, ao apresentar a discussão do ato humano,
envolvendo conceitos como ética, vontade, autonomia e intencionalidade,
despertou em Freud o interesse em investigar o pensamento de autores
como Arisóteles, Kant e Schopenhauer, para suas formulações iniciais a
respeito do agir. Nesse sentido, suas pesquisas formularam os conceitos de
ação específica, ato falho, e acting-out. Para a psicanálise, dois conceitos
específicos – acting out e passagem ao ato – se apresentam indispensáveis
à clínica do suicídio. Não há, na obra de Freud, referência à passagem ao
ato como conceito. Segundo Torres (2010), passagem ao ato é uma
expressão originada na psiquiatria e criminologia francesa, ligada
geralmente à categoria da psicopatia. De acordo com Lacan (1962), a Considerações Finais
passagem ao ato se configura como a saída da cadeia de significante, pois o Uma das possíveis formas encontradas pelos sujeitos para fazer acting é a tentativa de
sujeito apresentaria uma inscrição comprometida, ou mesmo a sua suicídio, entretanto, com esse ato específico; diante do registro do impossível, a tentativa
impossibilidade de se inscrever no desejo do outro. para além de ser, também, mais um ato falho, pode, quando levada a termo, findar toda e
Ainda Segundo Lacan (1967/68), o ato possui três características principais, qualquer possibilidade de retificação subjetiva. As dimensões que situam a diferença entre
as quais: 1. todo ato apresenta uma dimensão de linguagem; 2. o ato acting out e passagem ao ato, de acordo com Dunker (2007), determinam a existência de
promove, no sujeito, um ultrapassamento, provocando uma mudança uma transferência sem análise no primeiro e “um movimento de destituição e re-
radical, pois com o ato é impossível se voltar atrás; 3. o ato é acéfalo, o instituição” no segundo.
sujeito não se reconhece no ato, ele é agido. Ao voltar aos objetivos norteadores do trabalho, é pertinente afirmar que, frente à urgência
É possível sistematizar, didaticamente, o ato suicida em dois fenômenos. de uma sutura do simbólico, à psicanálise se imprime uma demanda de reinvenção, a qual
(CARVALHO, 2011). O suicídio por acting-out se configura por ser uma seja capaz de se haver com as diversas formas se sintomas atuais, com as diversas
forma de apelo ao Outro, um ato direcionado ao Outro, no qual o sujeito modalidades de atuações que os sujeitos lançam mão para lidar com esses sintomas. No
cria uma cena e ao atuar nessa cena, coloca em risco a própria vida. E o atendimento a pacientes que tentaram o suicídio, a ética do bem dizer do desejo e do gozo,
suicídio por passagem ao ato compreende o tipo de suicídio no qual o revalida a aposta na substituição do atuar pelo falar. Entretanto, é de fundamental
sujeito se identifica com o nada, com o resto, e não podendo se manter na importância ter a ciência de que o primeiro passo com esses sujeitos é o acolhimento,
cena na condição de sujeito historizado, não há mais elemento de mostra diante das dimensões de indeterminação do ato e do não reconhecimento do próprio ato
ao outro. pelo sujeito. A tentativa precoce de implicação do sujeito em face da sua posição,
Ainda de acordo com Carvalho (2011), é possível identificar tipos de considerando a precipitação envolvida um ato suicida, pode se constituir um grave risco no
suicídio a partir da estrutura do sujeito; neste sentido, configuram-se o manejo clínico.
suicídio neurótico, o suicídio melancólico e o suicídio psicótico.
Através da experiência de atendimento clínico, em um centro de referência, Referências
a pacientes que tentaram o suicídio, observei uma maior proporção de BERTOLOTE, J.M.; FLEISCHMANN, A. Suicide and pychiatric diagnosis: a worldwide perspective. World Psychiatry. 2002,
I (3), p. 181-185.
tentativas por acting out. A partir desse dado e ao fazer a leitura do
BOTEGA, N. J.; RAPELI, C. B. ; FREITAS, G. V. S. . Perspectiva psiquiátrica. In: Blanca Guevara Werlang; Neury Jose
seminário da Angústia (1962), no qual Lacan apresenta a grade dos afetos e Botega. (Org.). Comportamento Suicida. 1 ed. Porto Alegre: Artmed Editora S.A., 2004, v. 1, p. 17-204
discorre sobre o acting out como uma forma de evitação da angústia, que CARVALHO, S. Clínica psicanalítica do suicídio: limites e possibilidades – Trabalho apresentado no Congresso da ULAPSI
se dá “a partir de uma relação que se estabelece com o Outro na tentativa – Montevideo, UR., 2011.
CARVALHO, S. Na clínica do suicídio a resposta do analista é orientada por que ética?. 7º Encontro internacional da IF
de sustentar a fantasia por sua atualização” (LACAN, 1962/2005), é –EPFCL, 2012.
pertinente afirmar que nessa modalidade de ato, encenada em uma DUNKER, C. Estrutura e Constituição da clínica psicanalítica. Livre-Docência, Instituto de Psicologia – Universidade de
tentativa de suicídio, há uma fragilidade simbólica que causa tanta dor que São Paulo, 2007.
FREUD, S. Inibição, Sintoma e Angústia. In: Obras Completas, vol.17. (1926-129). Trad. Paulo César de Souza. 1ªed. –
o sujeito acredita mesmo querer se matar.
São Paulo, Cia das Letras , 2014.
Considerando a retificação feita por Lacan (1974) a respeito do suicídio, ao FREUD, Recordar, Repetir e Elaborar. (Edição Standart – Obras Completas, vol. 12). Rio de Janeiro: Imago, 1914/1987.
afirmar que na realidade, este não seria o único ato bem sucedido do ser LACAN, J. O seminário – livro 10 – A Angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1962/2005
humano, mas sim um ato falho, como todos os outros atos, a tentativa do LACAN, J. Seminário 15 - O ato analítico, Inédito,1967
LACAN, J. Televisão. Versão Brasileira: Antonio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar: 1974/1993.
suicídio seria também um ato falho? TORRES, R. As dimensões do ato em psicanálise. São Paulo: AnnaBlume, 2010

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