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O Uso do Tempo no Discurso Antropológico

A n a L u iz a F a y e t S alla s

A p reocu p ação com o uso da historia pela an trop ologia n ão é


um fen óm en o recente, pois, pelo m enos, há duas décadas que esta
questão vem se delinean do e con stitu in do elem ento de debates e
polêm icas. A abordagem dessa questão tem levado os an trop ólogos
a um a reflexão m ais profu n d a, ta n to de ord em teórica, quanto
m etodológica, origin an d o um inevitável repensar de alguns pressu­
postos fu n dam en tais da própria con stitu içã o da an trop ologia (e tn o -
centrism o, relativism o cu ltu ra l), enquanto um a ciên cia que busca
o en ten d im en to do “ O u tro” nas m an ifestações m ais gerais e m ais
esp ecíficas da cultura hum ana.
F alar em h istória sig n ifica trazer para a pau ta de nossas ques­
tões n oções tem porais e, mais esp ecifica m en te, da m aneira com o
se con solidou o discurso an trop ológ ico com referên cia a um “ O u tro”
(sociedades, culturas, grupos de individuos, classes sociais) e do
tratam en to que a an trop ologia tem lhes dado para a con stitu ição
de seu o b je to de estudo.
Noções tem porais e história co n ju g a m -se , en tão, para ev id en ­
ciar que o discurso a n trop ológico tem seu próp rio desenvolvim ento,
fu n d am en tad o n u m distan ciam en to freqüente, ca ra cteriza d o por
colocar o “ O u tro” (presum ivelm ente nosso o b jeto de estudo) num
outro tem po e n u m ou tro espaço diferen te d o nosso. Esta p rá tica
tem criado alguns problem as e tem nos levado, mais um a vez, a
repensar a nossa disciplina.
Esses p roblem as p od em ser Iden tificados co m a crise em que
a an trop ologia sem pre se en con trou en quan to busca um a m ais a d e­
quada d efin içã o do seu ca m p o d e ação, ta n to co m o um a ciên cia,
quanto com o u m m étodo específico.

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Este é o tem a geral do trabalho de Johannes Fabian, Tim e and
th e Other. H ow A n th rop olog y M akes its O b je ct,* que p erten ce a uma
geração de an tropólogos que têm sido id en tifica d os com o “ os des­
con ten tes” (S cholte, 1971) com os rum os que a an trop ologia tom ou
para con solidar-se com o ciên cia e que buscam , através de um a visão
crítica, estabelecer novas direções, lan çan do propostas con cretas com
um a perspectiva m od ifica d ora da p rática an tropológica.
F abian con cen tra as suas questões na p roblem ática do uso do
tem po no discurso an trop ológico, especialm ente de com o esse dis­
curso se consolidou, co loca n d o, sistem aticam ente, o “ O u tro” num
tem po e num espaço d iferente do nosso. R elem bra o autor que esta
p rática é de natureza p olítica, já que tod o o con h ecim en to a n tro­
pológico se deu por um a relação h istoricam en te estabelecida de poder
e d om in ação entre a sociedade do a n trop ólogo e a que ele estuda.
Dessa m aneira, a con solida çã o in icial d o discurso an trop ológico
ocorreu através de um paradigm a evolu cion ista da con cep çã o do
tem po, que n ão fo i som ente secularizado e naturalizado, m as tam bém
espacializado. A secu larização d o tem po em erge co m o um a con cep çã o
de tem po e espaço nos term os da história da salvação. Já o tem po
naturalizado e espacializado irá dar um sig n ifica d o esp ecífico da
distribuição da h um anidade n o espaço. Daí, a im p ortâ n cia do d ifu -
sionism o com o u m p ro je to de escrever história sem tem po dos povos
sem história, através do estudo da “ im utável” cultura prim itiva, onde
as relações tem porais puderam ser negligen ciadas em fa vor de rela­
ções espaciais.
Os esforços que os a n tropólogos fizeram em estabelecer relações
com o “ O u tro” , por m eio de um dispositivo tem poral, im plicaram
n a afirm açã o con stan te de diferen ças com o distância. Isso acarretou
u m a distorção, já que o a n trop ólogo em seu trabalho de cam p o em ­
prega con cep ções de tem po diferentes daquelas de seus escritos.
A té h oje, argum enta F abian, con ceitos com o civilização, evolu­
ção, desenvolvim ento, aculturação, m od ern ização estão presentes no
discurso an trop ológico, referentes a um a n o çã o de tem po evolu ci-
nário. O con teú d o id eológico desses con ceitos fu n d a m en ta -se num a
evidente superioridade da sociedade ocid en ta l e em con d ições de
p od er e dom inação. É assim que podem os com p reen d er que o “ p ri­
m itivo” se con figu ra den tro dessa lin ha de pen sam en to com o um
con ceito tem poral, com o categoria, e n ão com o ob jeto do pensam ento
oeldental.

* FABIAN, Johannes. Time and Other. How Anthropology Makes its


Object. Nova Iorque: Columbia University Press, 1983, 205 pp.

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C onsiderando o tem po um a dim ensão chave, através da qual nós
con ceitu alizam os relações com os “ O u tros” , F abian ch am a a aten ção
p ara a ausência de “ coeta n eid a d e” na p rática a n trop ológica. P or
“ coeta n eid a d e” F abian entende algo que deva ser criado, já que a
com u n ica ção h um ana refere-se à cria çã o de um tem po p a rtilh ado.
E nfatiza a persistência n o discurso a n trop ológico da n eg a çã o da
coeta n eid a d e, isto é, a n egação de um tem po p artilh ado, pelo a n tro ­
p ólogo e pela sociedade que ele estuda. T ra ta -se, p ortan to, da p ró ­
pria exp eriên cia vivida.

“ No discurso antropológico em formas de descrições, análises


e conclusões teóricas, o mesmo etnógrafo pode sempre esque­
cer as suas experiências de ‘coetaneidade' com as pessoas que
ele estudou. Ele pode falar de suas experiências afastando-
as com invocações ritualistas como ‘observação participante’
‘presente etnográfico’. Organiza seus escritos em termos de
categorias como tempo fisico ou tipológico, somente com medo
de que seus escritos sejam qualificados como poesia, ficção,
ou propaganda politica” (:33).

P ara Fabian, a an tropologia em ergiu e estabeleceu-se co m o um a


ciên cia de u m outro hom em , em ou tro tem po. As relações entre
an trop ologia e seu ob je to caracterizam -se, p ortan to, com o sendo de
natureza política. Nesse con texto, a n eg a çã o da coetan eidade n ão é
apenas u m fa to do discurso a n trop ológ ico, mas, na realidade, um
ato p olítico, n a m edida em que vem fa v orecen d o a d om in a çã o e a
m ercan tilização d o con h ecim en to cien tífico.
A co-tem p ora lid a d e é a con d içã o para um a verdadeira c o n fr o n ­
tação d ialética entre pessoas e sociedades. Esta co n fro n ta çã o não
deve ap arecer som ente pelo recon h ecim en to da relação de op osiçã o
ou co n flito entre um a m esm a sociedade, em d iferentes estágios de
desenvolvim ento, mas sim , entre d iferentes sociedades c o n fr o n ta n -
d o-se um as com as outras num m esm o tem po (c f.: 155).
F abian critica, especialm ente, duas ten dên cias teóricas dentro
da a n trop ologia : o relativism o cultural e o estruturalism o. P ara ele.
am bos fora m incapazes de perceber a sig n ifica çã o do tem po, da e x ­
periên cia h u m an a d o tem po com o com p on en te de um a determ inada
con fig u ra çã o cultural.
O relativism o cultural, que representou durante m uito tem po um
con ceito e um a postura m etodológica servindo com o um a saída para
o etn ocen trism o, é critica d o por F abian co m o m ais u m instru m en to
de d om in a ção colon ial, de m a n ip u la çã o e con trole de outras socie­
dades. Na sua aplicação, pode ser id e n tifica d o com o o “ la issez-fa ire”

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da an tropologia, cristalizado nos estudos de “ caráter n a cio n a l” d e­
senvolvidos pela an trop ologia am ericana. A possibilidade de d om in a -
ç&o p olitica, servindo a interesses estratégicos e de defesa n acion al.
A an tropologia, que durante m uito tem po serviu a esses p rop ó­
sitos, en con tra-se, no m om ento, com p elid a a sair de um a posição
con tem plativa d ecorren te da postura relativista. F abian argum enta
que é necessário, nesse sentido, que o a n trop ólogo assuma, de fato,
um papel mais ativo em seus trabalhos de cam po, para não só
adquirir o sen tid o da vida dos povos que ele estuda, mas tam bém
para se coloca r d en tro d esse sen tid o.
P ond o em fo c o a questão do estruturalism o na discussão, surge,
nesse particular, a visão que Lévi-Strauss tem da p róp ria a n tro p o lo ­
gia e da in flu ên cia disso em toda ten dên cia de análise an tropológica.
Para Lévi-Strauss, a an trop ologia con sa g ra -se com o um a ciên cia da
cultura, esta sendo para ele o estudo das relações entre culturas
isoladas e as regras que governam essas relações. Com o base da
análise estruturalista, e n con tra -se um a d escrição ta xon óm ica que
organiza, de m aneira binária, o con h ecim en to. A utilização de sis­
tem as sem iológicos, nesse tipo de análise, elim ina o tem po e, por
im p licação, qualquer n o çã o de processo, gênese, em ergência, p r o ­
dução e outros con ceitos que con stroem o corp o da “ h istória” .
Fabian critica o estruturalism o por este rem over o tem po da
realidade da prática cultural, co loca n d o em seu lugar form as lógicas
puras. Aqui, o tem po é naturalizado através do deslocam ento da
esfera da con sciên cia para a p rodu ção cultural. O p roblem a do
estruturalism o em relação ao tem po é recon h ecid o com o sendo, em
vários sentidos, ligad o à relu tân cia em ad m itir con sciên cia , Inten­
ção, ou m esm o atividade subjetiva, com o fo n te de con h ecim en to
n ativo ou an trop ológ ico (c f. :6 0 ).
Para que se tom e a questão da tem poralização com o um o b je to
de investigação, F abian d efen d e a prop osição de que ela n ão pode
ser definida axiom áticam en te, já que con ota outras in stân cias de
en ten d im en to: lingüísticam ente, referin d o-se aos vários m eios de
a linguagem expressar relações tem porais; sem ioticam ente, desig­
n an d o o estabelecim en to de relações de signos com referen tes tem ­
porais; e, ideologicam en te, ao se coloca r um o b je to do discurso
den tro de estruturas cosm ológicas, de tal m odo que as relações
tem porais torn a m -se centrais e tópicas. A tem poralização não se
con stitui num a propriedade in ciden tal do discurso h istórico; fo rm a -
se através de um sistem a sem iótico, proven do-se, tanto de sig n ifi­
cante, quanto de sign ificado.

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Nesse sentido, a relação entre um determ in ado tipo de discurso
tem poral e seus referentes, assim com o a relação entre operações
tem porais esp ecíficas e seus sign ifican tes, estão, raram ente, n um
p lan o referen cial. Q uando n os referim os ao term o “ p rim itivo” , ou
“ selvageria” , eles ap arecem com o term os chaves n o discurso tem ­
poral, p ressu p on d o-os co m o representantes de um a seqüência e v o -
lucionária, um a rtifício para o estabelecim en to de distância tem poral.
Ao id en tifica r a prática freqü en te d o discurso an trop ológ ico
de n egação da coetaneidade, F abian sustenta sua argu m en tação
através da teoria literária, onde, ao n ível dos textos, en con tra rá
exem plos sem ânticos, sin táticos e estilísticos da questão d a tein -
p o ra lid a d e.
Cham a a aten çã o, especificam en te, p a ra o que os a n trop ólogos
con sideram seu “ presente e tn o g rá fico ” , analisando, assim, o p ró ­
p rio ato de escrever etnografías. O presen te e tn og rá fico, com o p rá ­
tica de se coloca r a n a rra çã o sobre ou tras cu ltu ras e sociedades
n o tem po presente, im p lica n a p rod u çã o de escritos que “ con g ela m ”
as práticas culturais, n ã o abrindo, den tro do discurso, a possibili­
dade de m u d an ça e a din â m ica da p róp ria sociedade.

“ O uso do tempo presente no discurso antropológico marca


não somente um gênero literário (etnografía) através da
atividade locuclonária do discurso/comentário, como também
revela uma postura cognitiva especifica com relação ao ob­
jeto, o monde oommenté (de Weinrich). pressupõe que o que
é dado como objeto da antropologia é algo a ser observado.
O tempo presente é um signo que identifica um discurso como
sendo a linguagem do observador" (:86. Grifo no original).

Se o en con tro etn og rá fico é u m diálogo, en tão o que deve ser


critica m en te in vestigado é a in cidên cia p ecu liar de m odos atem ­
p orais de expressão n um discurso, que é, co m o um todo, claram ente
tem poralizado. F abian cita o ensato de E. B enveniste, o rig in a lm en ­
te p u blicado em 1956, que con tém observações sobre as relações
en tre pessoas de verbo e a su bjetividade n a linguagem , para d e­
m onstrar com o a n arra çã o etn og rá fica d o discurso an trop ológ ico
co n fro n ta nós co m u m p a ra d ox o n a fo rm a de u m a associação a n ô ­
m a la do tem po presente e da terceira pessoa — Eles. Nesse sen tido,
assinala que a terceira pessoa n ão é a “ pessoa” , é, de fa to , um a
form a verbal c u ja fu n çã o é expressar a “ n ão pessoa” . O uso da
terceira pessoa m a rca o discurso a n trop ológ ico n os term os de u m a
“ correlação de p erson alidade” (pessoa versus n ão p e sso a ). “ Que o
O u tro d ialógico (segunda pessoa, o ou tro an trop ólogo, a com u n i­

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dade cien tífica ) é m a rca d o pelo tem po presente; p ron om es e fo r ­
m as verbais na terceira pessoa m arcam um “ O u tro” fora do d iá ­
lo g o ” (:8 5 ).
Em suma, o con h ecim en to a n trop ológico realizou-se, tanto na
form a do presente e tn og rá fico, com o no passado do a u tobiográfico.
D e um a m aneira geral, o “ O u tro” , com o o b je to de con hecim en to,
teve que ser, sistem aticam ente, separado, distinto e, p referen cia l­
m ente, distanciado d o an tropólogo. Nesse sentido, nós n ão e n con ­
tram os a selvageria no selvagem , ou a prim ltividade n o prim itivo,
n ós os colocam os lá. A an trop ologia tem usado de vários m eca n is­
m os para m an ter distância, na m aior parte das vezes, m anipu lan do
a coexistência tem poral através da n egação da coetaneidade.
Em vista disso, o sen tido m aterialista e processual da teoria que
Fabiam propõe pode ser agora m elh or en ten dido, n o sentido m a r­
xista do term o, fu n d a m en ta n do-se, em p rin cíp io, com o um a res­
posta a o evolucionism o, on de o p resen te n ão é con ceb id o com o um
p on to no tem po nem co m o um a m odalidade da linguagem , mas
com o a co-p resen ça de atos básicos de p rod u çã o e reprodução.
Podem os agora pensar qual o sig n ifica d o disso em term os de um a
saída para a con tra d içã o prática entre pesquisa de ca m p o (co e ­
tán ea) e escritos an trop ológicos (n eg a çã o d a coeta n eid a d e).
C om o pudem os ver até agora, a base de sustentação de tod o
o argum ento de F abian ap oia-se, por um lado, n a questão da lin ­
guagem e, p or outro, na natureza da próp ria pesquisa de cam po.
A poiado na teoria m aterialista do con h ecim en to, ele acredita ser
possível um a solução, pelo m enos, ao n ível teórico. Em que con sis­
tiria isso? P ara ele, a teoria m aterialista d o con h ecim en to tom a a
possibilidade de cria çã o da con sciên cia individual ou coletiv a com o
p on to de partida. Isso sign ificaria, a um p rim eiro nível, ver a p ro ­
dução d o con h ecim en to com o en volven do u m trabalh o de tra n sfor­
m ação, através da relação entre “ co n h e ce d or” e “ co n h e cid o ” , com o
constitutiva da con sciên cia. Num segundo nível, é que esta relação
se constituiria co m o represen tacion al (sign ificativa, s im b ó lic a ), ou
n o sen tido de se torn a r u m Instrum ento d e In form ação.
F abian utiliza-se, tam bém , da herm en êutica para considerar as
distâncias tem porais num sentido mais con creto. P ara ele, a her­
m en êu tica sig n ifica a a u to-com preen sã o da an trop ologia com o ciê n ­
cia interpretativa. T od a experiên cia pessoal é produzida sobre co n ­
dições históricas, em con textos históricos. A in stân cia h erm en êu ­
tica pressupõe um grau de distância, um a ob je tiv a çã o de nossa ex ­
periência. O fa to de que as nossas experiên cias co m o “ O u tro” sãc.

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necessariam ente, parte de nosso passado, pode se tran sform ar, n ão
em um im pedim en to, mas em con d içã o necessária para um approach
in terpretativo (cf. :8 9 ). Na a n tropologia, ressalta Fabian, a sub­
jetivid ad e n ão pode ser coloca d a em reposição à objetivid ad e, jà
que o con h ecim en to etn og rá fico tem sem pre um referen cial au­
tobiográfico.
O an trop ólogo e seu in terlocu tor con seguirão am pliar o “ c o ­
n h ecim en to” som ente a partir d o m om en to em que eles se e n co n ­
trarem um com o outro n o m esm o tem po. P rivilegian do a pesquisa
de cam po nessas con dições, F abian acredita ser possível a supe­
ração do p roblem a da questão de tem poralidade na p rática a n tro­
pológica.
Fundam entais para ele serão, n a realidade, dois con ceitos c h a ­
ves: con sciên cia e produção. A con sciên cia, p ara ele, em erge, ju s ­
tam ente, na pesquisa de cam po, n o co n fro n to de nosso arsenal
teórico m etod ológico com a realidade em pírica, dentro de um tem po
com p artilh ad o (ou que deva se r ). A prod u ção aparece mais num
sentido m arxista, pela criação de va lor que será apropriado pela
linguagem , n ão pela sim ples d efin içã o de um a relação que assuma
a coetan eidade, mas com o, fu n dam en talm ente, um a prática política
Creio que a validade das questões que F abian levanta em re­
lação ao uso d o tem po n o discurso an trop ológ ico pode ser lida em
dois sentidos. P or u m lado, ao se assum ir a coetan eidade com o uma
prática política, o an trop ólogo terá a possibilidade de en ten der a
sua relação com o “ ou tro” na form a de um a relação política. Num
ou tro sentido, ao se negar a coetan eidade, n eg a -se esta relação
p olítica e, p or conseqüência, evid en cia-se a natureza de d om in a çã o
do con h ecim en to cien tífico ao tratar de outras soicedades ou grupos
sociais que, de m aneira geral, têm ocu p a d o um a posição h iera r­
quicam ente “ in ferior” à nossa.
F abian tam bém assume a necessidade de um a abordagem h u -
m an lsta-h istórica, bu scan do resgatar a n oçã o de “ totalid ad e” com o
um m eio de se rom per um círcu lo vicioso que se con cretiza na
m edida em que existe um a descon tin u idade entre a experiên cia
existencial e a realidade objetiva. Nesse sentido, h á toda um a c r í­
tica à abordagem cien tificista, que acabaria p or tran sform ar, tan to
observador, quanto observado em objetos, em “ coisas” , pela ca p a ­
cidade de alienar o pesquisador de sua própria hum anidade.
Um a crítica possível a F abian é que, apesar de id en tifica r
m uito claram en te o problem a do uso do tem po no discurso a n tro­
pológico, ele n ão in d ica a solução de m aneira m uito explícita, d e­

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corrên cia, talvez, do fa to d e assum ir um a p erspectiva m ais teórica
d o que prática. O seu m érito é ter trazido p a ra o cen tro das dis­
cussões — através da questão d o uso d o tem po e da natureza p olí­
tica da atividade do a n trop ólog o — o sig n ifica d o da pesquisa de
ca m p o e da próp ria fin alid ad e dos dados etn ográ ficos, n um a visão
bastante fecu n d a da relação entre teoria e política, co m o um cam po
a ser exp lorad o de form a m ais sistem ática pelos cientistas sociais.
Creio que a n o çã o de u m tem po com p a rtilh a d o, prop osta por
F abian, n ão elim inará, p or si só, as con tra d ições que se con fig u ra m
n o m om en to da pesquisa d e cam po. Na realidade, à m edida em
que tom arm os co n sciên cia dessas con tra d ições, é im prescindível
que saibam os trabalhar sobre elas. Isso será possível n o m om ento
em que a in serção d o an trop ólog o em d eterm in ada realidade social
o corra n u m a perspectiva em que ele tam bém se enquadre com o
a to r do en con tro etn ográ fico.

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BIBLIOGRAFIA

FABIAN Johannes. Time anã the Other. How Anthropology Makes its
Object. Nova Iorque: Columbia University Press, 1983.
SCHOLTE, B. Discontents in Anthropology. Social Research, vol. 38, n.° 4,
1971.

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