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[Abstract]
“Since the 1990’s and early 2000’s, a new form of epistemology and metaphysics focused on
the objects themselves began to emerge This post aims to present some of the most important
moments in the formation of this philosophical movement – known as Speculative Realism – as
well as the positions relative to the choice of its name by the various authors who initially
formed the movement, showing their differences and their common denominator in criticizing
correlacionism or the so called philosophies of access, and towards the development of an
object oriented ontology (OOO).”
Desde a década de 1990 e início dos anos 2000, uma nova forma de epistemologia e
metafísica voltada para os existentes em si mesmos começou a emergir; mais tarde, ela viria a
se autodenominar Speculative Realism, nome “potente” mas “controverso” (cf. NÖTH, 2016).
Os momentos mais relevantes para a formação desse movimento filosófico são relatados por
Graham Harman, filósofo e professor na Universidade Americana do Cairo, em seu livro
Quentin Meillassoux: Philosophy in the Making, sobre a obra do jovem filósofo francês,
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lançado em 2011 e que recentemente em 2015 recebeu sua segunda edição. Como o próprio
Harman (2011, p. 77) afirma, “não é exagero dizer que o Realismo Especulativo tem sido até
agora o mais visível dos movimentos na filosofia continental no século XXI”.
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Assim, durante o evento, não foi anunciada uma nova doutrina ou escola, mas sim, foram
apresentados em conjunto quatro projetos filosóficos cujo objetivo era problematizar as bases
subjetivistas e antropocêntricas da filosofia continental (cf. BRASSIER et al., 2007, p. 307),
termo usado para referir-se às várias tradições filosóficas do continente europeu,
especialmente àquelas provenientes da França e da Alemanha. Esse inimigo comum havia
recebido de Meillassoux o nome de correlacionismo, advindo da filosofia de Kant, sua
recepção e conseqüências para o desenvolvimento do pensamento filosófico e às quais
Harman denominava “filosofias do acesso”. Cada um dos quatro autores propôs formas
diferentes de enfrentar a questão, tornando o diálogo enriquecedor. Como observa Harman
(2011, p. 77), o realismo tem servido como ponto de convergência, ajudando a focar a filosofia
continental no debate realismo versus anti-realismo, considerado um pseudo-problema pelos
discípulos de Husserl – que foi professor de Heiddegger – e do próprio Heidegger, uma vez
que, para eles, “nós não podemos pensar sobre os humanos sem o mundo ou o mundo sem
humanos, mas somente sobre uma primitiva correlação ou conexão entre os dois” (HARMAN,
2013: 23).
Como frisa Harman (2011, p. 77), o Realismo Especulativo “foi o evento decisivo na recepção
da filosofia de Meillassoux no mundo anglófono, no qual, até o momento, tem sido mais
difundido do que em sua França natal”. A filosofia de Meillassoux está exposta em seu livro,
lançado em 2006 na França e traduzido ao inglês por Ray Brassier em 2009, com o título After
Finitude: An essay on the necessity of contingency. Nesse livro, Meillassoux institui o termo
correlacionismo para designar a filosofia kantiana, criticada por ele, bem como daqueles que
tendem ao kantismo, ainda que não o admitam explicitamente. Para Meillassoux, o
correlacionismo pode ser entendido como “a ideia segundo a qual nós sempre e somente
temos acesso à correlação entre pensamento e ser e nunca a cada um dos termos
considerados separadamente um do outro” (MEILLASSOUX, 2009, p. 5). Dessa forma,
segundo o correlacionismo, as questões do pensar e do ser estão indissoluvelmente
correlacionadas, não sendo possível considerar subjetividade e objetividade
independentemente uma da outra, levando a uma forma de circularidade toda vez que se
pensa o “em si mesmo” (ibid.).
Para Harman (2011, p. 80), o motivo pelo qual o termo correlacionismo foi capaz de catalisar
todo um movimento deve-se à sua adequação perfeita “ao problema básico de toda a filosofia
continental (e muito da filosofia analítica) desde Kant”. Para sustentar sua posição,
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Meillassoux aponta para as respostas mais comuns daqueles que negam ser correlacionistas
ou idealistas:
Kant não é um idealista porque ele refuta o idealismo na Crítica da Razão Pura,
a fenomenologia não é idealismo porque a intencionalidade aponta para um
objeto fora de si mesmo, Heidegger não é um idealista porque o Dasein está
sempre já imerso no mundo. O ponto é que mesmo essas posições: ‘não
podem negar, sem auto-refutação, que a exterioridade que elas elaboram é
essencialmente relativa: relativa à consciência, à linguagem, ao Dasein, etc.
Nenhum objeto, nenhum ser, nenhum evento, ou lei que não seja sempre e
desde já correlacionada a um ponto de vista, a um acesso subjetivo – essa é a
tese de qualquer correlacionismo’. (cf. HARMAN, 2011: 80; BRASSIER et al.
2007, p. 409)
Esses são os argumentos que levaram a considerar o debate entre realismo e anti-realismo
como um pseudo-problema, “especialmente na escola fenomenológica que estabeleceu a
agenda durante quase um século da filosofia continental” (cf. HARMAN, 2013, p. 22); a
ausência desse debate, agora retomado, mostra justamente o quão correlacionista tem sido a
filosofia continental (ibid.). Entretanto, com observa Harman (2011, p. 80; 2013, p. 22), muitos
têm saído em defesa de seus heróis filosóficos, argumentando que Kant, Husserl, Heidegger,
e até Derrida foram “realistas” em suas abordagens. Dessa forma, a base comum dos filósofos
especulativos-realistas é a rejeição a todas as posições correlacionistas.
Dessa forma, o termo “realismo especulativo” serviu inicialmente como uma denominação
abrangente para as quatro posições marcadamente diferentes que o compuseram na sua
origem em 2007, a saber: a ontologia orientada aos objetos de Harman, o nihilismo eliminativo
de Brassier, o ciber-vitalismo de Grant, e o materialismo especulativo de Meillassoux (cf.
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HARMAN 2010, p. 1) – posições essas que não serão abordadas aqui. Posteriormente, outros
filósofos foram identificados com essa corrente, essa nova forma de realismo. Ligados a essa
virada especulativa, é possível encontrar os nomes de filósofos como: Bruno Latour, Lee
Braver, Steven Shaviro, Levi Bryant, Ian Bogost, Nick Srnicek, Timothy Morton, Manuel
DeLanda, entre outros. Apesar da diversidade de propostas conceituais e teóricas dos
diversos filósofos que atualmente estão ligados de alguma forma ao movimento realista
especulativo, o que suas propostas têm em comum parte dessa crítica ao correlacionismo que
tem predominado na filosofia continental – diferentemente da filosofia analítica para a qual a
questão do realismo nunca esteve totalmente ausente.
Nessa busca especulativa pelos objetos em si mesmos, evidencia-se outro fator comum às
especulações dos realistas contemporâneos, como bem frisa Santaella (2014): uma
convergência “rumo a um horizonte comum: desenvolver uma Ontologia Orientada aos
Objetos (OOO)”, no esteio da proposta original de Harman.
Referências
BRYANT, Levi; SRNICEK, Nick; HARMAN, Graham. The speculative turn: Continental
Materialism and Realism. Melbourne, Australia: re.press, 2011. Disponível em (acesso em
22/07/2016): http://www.re-press.org/book-
files/OA_Version_Speculative_Turn_9780980668346.pdf
HARMAN, Graham. Towards Speculative Realism: Essays and Lectures. Winchester, UK:
Zero Books, 2010.
HARMAN, Graham. The current state of speculative realism. In: Speculations: A Journal of
Speculative Realism, nº IV, p. 22 – 28, 2013. Disponível em: http://speculations-journal.org
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SANTAELLA. Lucia. Breve acerto de contas com a ontologia. Post publicado no Blog
Transobjeto, em 15/10/2014. Disponível
em: https://transobjeto.wordpress.com/2014/10/15/breve-acerto-de-contas-com-a-ontologia/
NÖTH, Winfried. Speculative Realism and New Materialism alla tedesca. Post publicado no
Blog Transobjeto em 29/02/2016. Disponível
em: https://transobjeto.wordpress.com/2016/02/29/speculative-realism-and-new-materialism/
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