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CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG Os animais venenosos, dos quais
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e fazem parte serpentes, escorpiões, ara-
Zootecnia - FEPMVZ
nhas, sapos e abelhas, produzem ve-
Editor da FEPMVZ Editora:
nenos de variados níveis de toxicidade
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
com as finalidades principais de caça e
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
defesa contra predadores. Serpentes,
Prof. Marcos Bryan Heinemann
escorpiões, aranhas e abelhas são con-
Editor convidado para esta edição:
siderados animais peçonhentos, pois
Prof. Benito Soto Blanco
possuem estrutura para inoculação do
Revisora autônoma:
veneno. Por outro lado, os sapos pro-
Angela Mara Leite Drumond
duzem o veneno, mas sem apresentar
Tiragem desta edição:
alguma estrutura capaz de inocular, por
10.100 exemplares
isso são considerados venenosos e não
Layout e editoração:
peçonhentos. Os acidentes nos animais
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
domésticos ocorrem principalmente
Impressão:
porque foram introduziram no habitat
O Lutador
destes animais venenosos ou porque es-
tes se adaptaram às condições oferecidas
pela ocupação humana. A frequência
dos acidentes em animais domésticos
Permite-se a reprodução total ou parcial, tem apresentado tendência crescente,
sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.
apesar da importância relativa de cada
Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da
espécie de animal peçonhento ser vari-
UFMG) ável de acordo com a localização geo-
N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998. gráfica. A gravidade dos acidentes pode
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e variar desde efeitos leves e espontanea-
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1998-1999
mente reversíveis até o óbito. O correto
v. ilustr. 23cm
diagnóstico dos acidentes é essencial
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1999¬Periodicidade irregular. para o adequado estabelecimento do
1. Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem tratamento específico. A forma específi-
Animal, Tecnologia e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos. ca para o tratamento dos acidentes pela
I. FEP MVZ Editora, ed. maioria dos acidentes por animais vene-
nosos é a soroterapia com o soro especí-
fico, o que muitas vezes não está dispo-
nível para uso em animais. Infelizmente,
a Medicina Veterinária não tem acom-
panhado no mesmo ritmo os avanços Sumário
obtidos no tratamento dos acidentes
em humanos. Este volume do Caderno
Técnico vem preencher a lacuna forma-
da pelo pouca disponibilidade dados 1. Ofidismo......................................................................................................9
sobre o tema. Desta forma, esperamos Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
que as informações aqui contidas sejam Marília Martins Melo - CRMV-MG 2.432
úteis para os profissionais e os estudan- Define de uma forma geral os acidentes com serpentes e suas características
tes da medicina veterinária, zootecnia e gerais
áreas de saúde.
2. Acidente Botrópico...................................................................................15
Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Marília Martins Melo - CRMV-MG 2.432
Aborda as características do acidente com serpentes do gênero Bothrops
(jararacas e urutus)
3. Acidente Crotálico....................................................................................27
Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Marília Martins Melo - CRMV-MG 2.432
Traz as características do acidente com serpentes do gênero Crotalus
(cascavel)
4. Acidente Laquético...................................................................................36
Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Marília Martins Melo - CRMV-MG 2.432
Estabelece as características do acidente com serpentes do gênero Lachesis
(surucuru, pico-de-jaca)
5. Acidente Elapídico....................................................................................39
Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Marília Martins Melo - CRMV-MG 2.432
Aborda as características do acidente com serpentes do gênero Micrurus
(cobra-coral e coral-verdadeira)
8. Araneísmo.................................................................................................63
Guilherme de Caro Martins - CRMV-MG 10.970
Marília Martins Melo - CRMV-MG 2.432
Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Descreve as principais espécies de aranhas que causam acidentes no Brasil
9. Apidismo...................................................................................................73
Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Marília Martins Melo - CRMV-MG 2.432
Apresenta as principais características dos acidentes causados por abelhas
1. Ofidismo
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Diagnóstico
O diagnóstico é feito pela presença
de serpentes no ambiente, ocorrência
de acidentes anteriores, manifestações
clínicas, com destaque para o edema no
local da picada, e os achados laborato-
riais, principalmente o aumento do tem-
po de coagulação ou incoagulabilidade
Figura 5 - Hemorragia subcutânea na região torácica ventral e no membro anterior esquerdo de cão Figura 7 - Necrose muscular como sequela de pi- do sangue, além de aumento de TP e
picado por Bothrops. cadura por Bothrops.
soroterapia deve ser feita sanguínea. Se após tórios é capaz de reduzir 5. FERREIRA, SH. Do fator de potenciação da bra-
15. VIVAS-RUIZ, D.E.; SANDOVAL, G.A.;
MENDOZA, J. et al. Coagulant thrombin-like
por meio de testes para quatro a seis horas o edema provocado pelo
dicinina (BPF) aos inibidores da ECA. HiperAtivo,
v.5, n.1, p. 6-8, 1998.
enzyme (barnettobin) from Bothrops barnetti
avaliação da coagulação da administração do veneno botrópico em ra-
venom: molecular sequence analysis of its cDNA
and biochemical properties. Biochimie, 95, n.7,
6. FERREIRA JÚNIOR, R.S.; BARRAVIERA, B.
sanguínea . Apesar de ser
7 soro antibotrópico, o tos, o que não ocorre em Management of venomous snakebites in dogs and p.1476-1486, 2013.
mais eficiente se for ins- sangue permanecer outras espécies animais7.
cats in Brazil. J. Venom. Anim. Toxins Incl. Trop.
16. FRANCISCHETTI, I.M.; CASTRO, H.C.;
Dis., v.10, n.2, p.112-132, 2004.
tituída o mais precoce- incoagulável, é Apesar de o anti-inflama- ZINGALI, R.B. et al. Bothrops sp. snake venoms:
7. MELO, M.M.; SILVA JÚNIOR, P.G.P.; LAGO, comparison of some biochemical and physico-
mente possível, também indicada nova tório não esteroidal fluni- L.A. et al. Envenenamento botrópico. Cadernos chemical properties and interference in platelet
é indicada para casos com administração do xinameglumina ter sido Técnicos de Veterinária e Zootecnia, n.44, p.59-79, functions. Comp. Biochem. Physiol. C, v.119, n.1,
2004. p.21-29, 1998.
evolução de mais de 24 soro na metade da recomendado como op-
dose inicial. 8. LUNA, K.P.O.; SILVA, M.B.; PEREIRA, V.R.A. 17. AMARAL, C.F.S.; SILVA, O.A.; GODOY, P.;
horas. Se após quatro a ção para o tratamento do Clinical and immunological aspects of envenom- MIRANDA, D. Renal cortical necrosis following
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3. Acidente crotálico 27
torâneas. Os acidentes A ação coagulante
Os acidentes crotálicos
crotálicos geralmente ocorre por ação de al-
geralmente ocorrem nas
ocorrem nas primeiras
primeiras horas da noite, guns compostos com
horas da noite, pois es- atividade similar à
pois estas serpentes saem
tas serpentes saem para
para caçar nesse período. trombina, com trans-
caçar nesse período. formação do fibrinogê-
Por este motivo, é fre- nio sérico em fibrina,
quente que o acidente seja identificado principalmente a giroxina5,6, prolongan-
apenas no dia seguinte1. do o tempo de coagulação ou mesmo
tornando o sangue incoagulável1,4. Além
Veneno crotálico disto, foi verificado que a convulxina au-
O veneno crotálico é uma mistura menta a agregação plaquetária . A ação
7
tica, edematogênica e
hemorrágica. Os sinais clínicos lo- lização, para comprovar sua eficácia7.
Micrurus frontalis: report of two cases. Rev. Inst.
Med. Trop. Sao Paulo, v.38, n.1, p.61-67, 1996.
gal sobre o coração23,24. sedativa, ansiolítica e como relaxan- mecanismo de ação da 5. SAKATE, M. Zootoxinas. In:
SPINOSA, H.S.; GÓRNIAK,
Anti-histamínicos e corticoides po- te muscular21. O pentobarbital sódi- bilirrubina é a redução Geralmente a S.L.; PALERMO NETO, J.
dem ser administrados por reduzirem co (30mg/kg IV) também é utilizado no influxo excessivo de mortalidade dos cães (Eds). Toxicologia Aplicada
à Medicina Veterinária.
o edema perivascular cerebral e os efei- como anticonvulsivante e para facilitar Na+. Por outro lado, o intoxicados por veneno Barueri: Manole, 2008.
tos lesivos da bufotoxina na mucosa a intubação orotraqueal em casos gra- mecanismo protetor da de sapo e tratados p.209-251.
oral. Os corticoides utilizados são a de- ves13. Foi verificado que a utilização do taurina é desconhecido. adequadamente é 6. GADELHA, I.C.N.; SOTO-
BLANCO, B. Intoxicação
xametasona, na dose de 0,5 a 1,0mg/kg pentobarbital aumenta a taxa de so- Entretanto, ainda não é baixa. de cães por sapos do gênero
IV, e a metilprednisolona, na dose de brevivência de cães intoxicados pelos possível afirmar se estas Rhinella (Bufo) - revisão de
literatura. Clínica Veterinária
15 a 30mg/kg IV5,6. A furosemida (1 a sapos. substâncias seriam efica- (São Paulo), v.XVII, n.100,
2mg/kg IV) ou o manitol (0,25 a 1,0g/ O fragmento de anticorpo Fab con- zes contra o veneno de espécies de sapo p.46-54, 2012.
kg por via IV lenta) podem ser utiliza- tra digoxina apresenta potencial para presentes no Brasil nem se haveria eficá- 7. DALY, J.W.; NOIMAI, N.; KONGKATHIP, B. et
cia em animais domésticos. al. Biologically activesubstances from amphibians:
dos para aumentar a excreção urinária uso terapêutico na intoxicação por sa- preliminary studies onanurans from twenty-one
das toxinas, mas são essenciais para o pos. Já foi utilizado com excelentes re- genera of Thailand. Toxicon, v.44, n.8, p.805-815,
tratamento de animais que apresenta- sultados em pacientes humanos27 e ex- Prognóstico 2004.
8. GOMES, A.; GIRI, B.; SAHA, A. et al. Bioactive
rem sinais de colapso ou coma21,22. perimentalmente em camundongos28. Geralmente a mortalidade dos cães molecules from amphibian skin: their biological
A taquicardia ventricular multifor- Após a administração intravenosa, o intoxicados por veneno de sapo e tratados activities with reference to therapeutic potentials
for possible drug development. Indian J. Exp. Biol.,
me e as arritmias cardíacas podem ser fragmento Fab se liga aos bufadienolí- adequadamente é baixa, embora existam v.45, n.7, p.579-593, 2007.
controladas com a administração de deos e às bufotoxinas livres na circula- relatos de até 100% de mortalidade para 9. JARED, C.; ANTONIAZZI, M.M.; JORDÃO,
propranolol (0,5mg/kg IV e, se neces- ção sanguínea, promovendo a neutra- animais não tratados6. Muitos casos leves A.E.C. et al. Parotoid macroglands in toad (Rhinella
jimi): Their structure and functioning in passive
sário, com repetição a cada 20 minutos lização destes derivados esteroides. No são autolimitantes, e os animais deixam defence. Toxicon, v.54, n.3, p.197-207, 2009.
por até quatro vezes) ou de cloridrato entanto, a administração do Fab é bas- de atacar os sapos (condicionamento 10. GAO, H.; ZEHL, M.; LEITNER, A. et al.
de verapamil (8mg/kg IV, duas a três tante limitada pelo elevado custo e pelo aversivo naturalmente induzido). Comparison of toad venoms from different Bufo
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Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Marília Martins Melo - CRMV-MG 2.432
Laboratório de Toxicologia, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais
E-mail para contato: benito.blanco@pq.cnpq.br
Os escorpiões são artrópodes que- ma). Contam com quatro pares de patas
licerados da ordem Scorpiones, sendo torácicas e um par de palpos, mas não
conhecidos aproximadamente 1.500 possuem antena. Os palpos funcionam
espécies agrupadas em 20 famílias e como pinças, usadas para segurar e do-
165 gêneros, sendo a família Buthidae minar as presas. A parte posterior do
a de maior importância toxicológica. abdômen (metassoma) é a falsa cauda,
Estão distribuídos por todos os conti- terminando no télson, que contém um
nentes, exceto a Antártida, mas a maior par de glândulas de veneno e o aguilhão
concentração está nas regiões tropi- ou acúleo (estrutura oca e muito fina
cais e subtropicais. Habitam diversifi- que inocula a peçonha). A produção
cados ambientes, incluindo desertos, da peçonha pelos escorpiões tem por
cavernas profundas e altitudes supe- objetivo a alimentação (imobilização
riores a 4.200m, como nos Andes e no da presa e início da digestão) e a defe-
Himalaia1. sa. A maioria das espécies
O corpo dos escor- A produção da peçonha possui hábito noturno,
piões é dividido em ce- pelos escorpiões tem por passando o dia escondida
falotórax (prossoma) objetivo a alimentação e em locais escuros1,2.
e abdômen (opistosso- a defesa. As espécies de escor-
7. Escorpionismo 51
piões encontradas no seguido por T. bahiensis e Goiás; T bahiensis, na região Sul e nos Composição e mecanismo
As espécies de interesse
Brasil pertencem a cin- (escorpião-marrom) e T. estados de São Paulo, Minas Gerais, de ação do veneno
toxicológico do país
co gêneros: Isometrus, stigmurus (escorpião-do- Mato Grosso do Sul e Goiás, enquanto
Ananteris, Microtityus,
pertencem ao gênero
-Nordeste)1,2. A maior
escorpiônico
Tityus. T. stigmurus está distribuído pela região
Rhopalurus e Tityus. No frequência dos aciden- Nordeste1. A espécie T. serrulatus tem O número total de diferentes com-
entanto, as espécies de tes ocorre nos estados apresentado expansão na sua distribui- postos presentes no veneno dos escor-
interesse toxicológico do país perten- de Minas Gerais e São Paulo, mas tem ção. Um fator que propicia isto é sua piões foi estimado em 100.000, mas
cem ao gênero Tityus, sendo as de maior sido registrado aumento das notifica- elevada prolificidade pela capacidade apenas 1% é conhecido. Após a cen-
importância T. serrulatus, T. bahien- ções em outros estados. A cidade de
de realizar partenogênese. Assim, uma trifugação, a peçonha apresenta duas
sis, T. costatus, T. fasciolatus (Fig. 1), T. Belo Horizonte está localizada em local
fêmea pode gerar sozinha uma popula- porções, uma insolúvel e outra solúvel.
metuendus, T. silvestris, T. stigmurus, T. definido como “solo escorpionífero”, em
ção4. Nos habitats onde aparece T. ser- A porção insolúvel é considerada não
paraensis e T. trivittatus. A maior gravi- especial por causa de T. serrulatus3.
rulatus, há redução das demais espécies tóxica, composta por mucoproteínas
dade e frequência de acidentes ocorrem T. serrulatus é encontrado na região e restos de membranas. A porção so-
com T. serrulatus (escorpião-amarelo), Sudeste e nos estados do Paraná, Bahia por causa da prolificidade e do caniba-
lúvel é composta por proteínas básicas
lismo. Os indivíduos
neurotóxicas, enzimas,
desta espécie geralmen-
te não são encontrados
Os escorpiões se outras substâncias or-
adaptaram muito bem gânicas (lipídeos, car-
sozinhos; há vários em
às condições oferecidas boidratos, nucleosídeos,
locais muito próximos,
pela presença humana. nucleotídeos, peptídeos,
ou até indivíduos com as
aminoácidos livres) e
costas cheias de filhotes.
íons diversos. A composição da peço-
Já a densidade de T. bahiensis é menor nha dos escorpiões é variável entre as
do que a de T. serrulatus2. espécies e também entre os indivíduos
Os escorpiões se adaptaram muito e regiões geográficas, em decorrência
bem às condições oferecidas pela pre- das condições ambientais e do tipo de
sença humana. Neste sentido, lixo, entu- alimentação2,6.
lho, pilhas de tijolos e telhas, e sujeira, A espécie presente no Brasil que
somados à alimentação farta (baratas e teve sua peçonha mais estudada é a T.
outros insetos) e à umidade, criam um serrulatus. Várias toxinas foram isoladas
ambiente perfeito para a fixação dos es- e identificadas. A neurotoxina Ts1, tam-
corpiões. A falta de competidores e de bém conhecida como TsTX-1 ou toxina
predadores, como macacos, quatis, se- γ, é a toxina majoritária da peçonha de
riemas, sapos e rãs, também permite a T. tityus (cerca de 15%). Sua ação ocorre
rápida proliferação dos escorpiões, uma pela ligação da toxina em canais de Na+
vez que esses fatores contribuem deci- pós-ganglionares, promovendo a despo-
sivamente para o controle populacional larização das membranas por influxo do
Figura 1 - Tityus fasciolatus (escorpião-do-cerrado). das espécies2,5. sódio. Outras toxinas que atuam nestes
52 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 75 - dezembro de 2014 7. Escorpionismo 53
canais são Ts2 (TsTX-
A toxina Ts4 ou Toxicocinética arterial, arritmias car-
A adrenalina e
serrulatus induz a libe-
III ou III-8), Ts3 (TsTX díacas, vasoconstrição ração de acetilcolina e
TsTX-VI produz Alguns estudos de a noradrenalina
ou tityustoxina) e Ts5 periférica e, eventual- histamina, aumentan-
reação alérgica, toxicocinética foram são responsáveis
(TsTX-V)2,6. mente, insuficiência do o volume gástrico,
lacrimejamento conduzidos com a Ts3 por aumento da
Outras toxinas es- e liberação dose- cardíaca, edema pul- pressão arterial, a secreção de pepsina
ou tityustoxina. A absor-
corpiônicas atuam em dependente de GABA e ção da toxina do veneno monar agudo e choque. arritmias cardíacas, e a produção de ácidos
canais de K+ pós-gan- ácido glutâmico. A acetilcolina promove vasoconstrição com a consequente re-
após a inoculação é rápi-
glionares, mas com fun- aumento das secreções periférica. dução no pH gástrico.
da. A distribuição da to-
ção bloqueadora, não lacrimal, nasal, salivar, A cimetidina e a atro-
xina do sangue para os tecidos também
permitindo o retorno do K+ para a célu- é rápida, mas não foi detectada no SNC. brônquica, sudorípara pina revertem esses
la, que se acumula no meio extracelular. A excreção é lenta, provavelmente pela e gástrica, tremores, espasmos mus- efeitos . 2,6
Assim, a principal importância destas alta afinidade pelos tecidos. Há impor- culares, mioses e redução da frequên- O veneno dos escorpiões do gêne-
toxinas está em sua ação de forma sinér- tantes diferenças na toxicocinética entre cia cardíaca2,6. ro Tityus deve ser considerado como
gica com toxinas que atuam em canais jovens e adultos: nos jovens a absorção Toxinas do veneno dos escorpiões responsável por moderada toxicidade
também promovem ativação de re- reprodutiva. O veneno de T. serru-
de Na+. Estas toxinas são Ts6 (TsTX- e a distribuição são mais rápidas e a eli-
ceptores de taquicinina NK1. Há ati- latus promoveu contração do útero
IV), Ts7 (TsTX-Kα ou TsII-9), Ts8 minação é mais lenta7.
vação de nervos sensitivos por ação de ratas não prenhas, provavelmente
(TsTX-Kβ ou TsK2), Ts9 (Ts κ), Ts15
em canais para Na+, com liberação por meio de liberação de acetilcolina
e Ts162,6. Fisiopatologia do
de neuropeptídeos, especialmente a e estimulação de receptores musca-
A toxina Ts4 ou TsTX-VI produz escorpionismo
substância P, agente sensibilizador de rínicos9. Assim, é possível que este
reação alérgica, lacrimejamento e li- A peçonha dos escorpiões promo- outras terminações nervosas afasta- veneno possa favorecer a ocorrência
beração dose-dependente de GABA e ve a despolarização da membrana e a
das do local lesionado. A ativação dos de abortamentos. Também foram re-
ácido glutâmico. Foram liberação de catecola- receptores NK1 resulta em contração alizados diversos estudos avaliando a
isolados peptídeos que A peçonha dos minas (noradrenalina da musculatura lisa intestinal e infla- embriotoxicidade do veneno dos es-
potencializam a ação da escorpiões promove e adrenalina) e ace- mação. Os receptores NK1 presen- corpiões. Em ratos, foi verificado que
bradicinina. O peptí- a despolarização da tilcolina pelas termi- tes em mastócitos, quando ativados, a aplicação do veneno de T. serrulatus
deo Ts10 (ou peptídeo membrana e a liberação nações neuronais nas promovem liberação de mediadores no décimo dia de gestação produziu
T) inibe a hidrólise da de catecolaminas sinapses pós-ganglio- do processo inflamatório, incluindo efeitos embriotóxicos, evidenciados
bradicinina pela enzima (noradrenalina nares por ativação de o fator ativador de plaquetas (PAF), por aumento da perda pós-implanta-
conversora da angioten- e adrenalina) e canais de Na+ no siste- interleucinas IL-1, IL-2, IL-6 e IL-10 ção e fetos com ossificação incomple-
sina e a conversão da acetilcolina. ma nervoso periférico. e leucotrienos. Estes mediadores po- ta do crânio e maior peso hepático,
angiotensina I em an- Dependendo do neu- dem ser responsáveis por edema pul- mas nenhuma alteração foi encon-
giotensina II pela cinase II tecidual. As rotransmissor liberado monar, em decorrência do aumento trada quando a aplicação ocorreu no
hipotensinas 1, 2, 3 e 4 potencializam e da fibra nervosa, os efeitos podem da permeabilidade capilar pulmonar, quinto dia de gestação10. Por outro
os efeitos hipotensores da bradicinina e ser adrenérgicos ou colinérgicos. A além das alterações hemodinâmicas lado, nenhum efeito teratogênico foi
induzem a vasodilatação, mas sem inibir adrenalina e a noradrenalina são res- produzidas pela hipertensão2,6,8. observado em outro estudo similar,
a enzima conversora da angiotensina2,6. ponsáveis por aumento da pressão No estômago, a peçonha de T. apenas maior peso dos fetos e pla-
54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 75 - dezembro de 2014 7. Escorpionismo 55
centas. O veneno de T. minância dos efeitos moderada apenas de o local da picada,
Uma característica Além da dor local intensa,
bahiensis administrado (simpáticos ou paras- no local, ou muito que pode apresentar
comum do outros sinais clínicos nos
no quinto ou no déci- simpáticos), peso e intensa, irradiando discreto edema local;
escorpionismo é o casos moderados incluem
mo dias de gestação de para todo o mem- mesmo assim, o pon-
rápido início dos sinais idade da vítima, jovens náuseas, vômitos, sialorreia,
ratas resultou em maior e idosos são mais sen- bro acometido to exato da picada ge-
clínicos após a picada. agitação ou sonolência,
peso dos fetos e das pla- síveis, e variação indi- (Fig. 2). O animal ralmente não pode ser
taquicardia, taquipneia e
centas no dia 21 da ges- vidual2,12,13. Em ratos, geralmente lambe visualizado. Por cau-
picos hipertensivos.
tação, e a aplicação apenas no quinto foi observada maior sensibilidade nos ou mesmo mor- sa da dor, o animal se
dia promoveu aumento da perda pré- machos do que nas fêmeas, mas não se locomove sem apoiar
-implantação11. Como estes estudos sabe se isto ocorre em outras espécies. o membro afetado,
foram realizados pelos mesmos gru- Os casos podem ser classificados em que se torna hiper-
pos de pesquisadores, empregando leves, moderados e graves (Quadro sensível, e pode apre-
a mesma metodologia experimental, 1)12–15. Uma característica comum do sentar vocalizações,
a variação na composição do veneno escorpionismo é o rápido início dos inquietação ou até
devem ter sido a responsável pela va- sinais clínicos após a picada, por causa agressividade12–14,16,17.
riação nos resultados. da rápida distribuição dos componen- Além da dor local
tes do veneno inoculado, e a gravidade intensa, outros sinais
Sinais clínicos pode ser determinada em uma a duas clínicos nos casos
A gravidade do acidente varia de horas após o acidente12. A maioria moderados incluem
acordo com a quantidade de peçonha dos acidentes escorpiônicos no Brasil náuseas, vômitos, sia-
aplicada, espécie do escorpião, sendo apresenta gravidade leve12,13. lorreia, agitação ou
que é o T. serrulatus que promove os Há dor no local da picada, a qual sonolência, taquicar-
quadros mais graves, condições do inicia imediatamente após a picada, dia, taquipneia e pi-
télson, número de ferroadas, predo- e essa dor pode ser de intensidade cos hipertensivos. Nos
casos graves, também
Quadro 1: Classificação da gravidade do acidente podem ser observados
escorpiônico de acordo com os sinais clínicos observados.
vômitos profusos, hi-
potermia hipermotili-
Classificação Sinais clínicos
dade gastrintestinal,
Leve Dor e parestesia locais desorientação, hipera-
tividade, taquicardia
Dor local intensa, náuseas, vômitos, sialorreia, agitação, taquicardia, sinusal ou bradicardia,
Moderado
taquipneia arritmias cardíacas,
extrassístoles, taquip-
Sinais da forma moderada associados a algum dos seguintes sinais: vômitos
neia, hiperpneia, ou
Grave profusos, prostração, convulsões, bradicardia, insuficiência cardíaca con-
gestiva, arritmias cardíacas, edema pulmonar, choque, coma Figura 2 - Cão picado por T. serrulatus apresentando dor no membro bradipneia, hiperten-
picado. são ou hipotensão
56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 75 - dezembro de 2014 7. Escorpionismo 57
arterial, insuficiência cardíaca, rinor- comprometimento da perfusão coro- proteinúria e cetonúria. A trombose in- Diagnóstico
reia (Fig. 3), choque e, às vezes, con- nariana miocárdica. travascular e a coagulação intravascular
vulsões12-14,16,17. A morte geralmente disseminada (CID) também podem Foi desenvolvido teste ELISA para
Podem-se encontrar hiperglicemia,
ocorre por colapso cardiovascular, hipocalemia, aumento das atividades estar presentes, provavelmente por detectar antígenos circulantes do vene-
mas também pode ocorrer em decor- ação das catecolaminas. no em pacientes picados
séricas de amilase, creatinoquina-
rência do edema pulmonar16. Pode-se achar alcalose O tratamento por T. serrulatus22, mas
se (CK), creatinoquinase fração MB
(CK-MB), aspartato aminotransferase metabólica compensa- específico é com o soro atualmente esse teste
Exames complementares (AST) e lactato desidrogenase (LDH), tória à liberação de HCl antiescorpiônico ou não é utilizado rotinei-
e aumento sérico de troponina I, corti- estomacal ou acidose o soro antiaracnídeo ramente em veterinária.
O exame eletrocardiográfico pode polivalente, que é Ele é eficaz apenas em
revelar taquicardia sinusal com com- sol e insulina18. Por outro lado, não há respiratória promovida
alterações significantes nos níveis séri- pelo edema pulmonar. ideal para os casos casos moderados e gra-
plexos ventriculares prematuros, mar- moderados a graves. ves, pois possui sensibi-
ca-passo migratório, depressão do seg- cos de proteínas totais, albumina e fra-
Lesões lidade insuficiente para
mento ST e bloqueio atrioventricular. ções de globulinas19. No hemograma,
detectar os antígenos em
Ao exame ecocardiográfico, podem se podem ser observados aumento no he- patológicas casos leves, com apenas dor no local da
verificar alterações da função ventri- matócrito, concentração de hemoglo- Os achados macroscópicos in- picada.
cular e da fração de ejeção, hipocinesia bina e número de eritrócitos, mas sem cluem áreas de petéquias e equi-
ventricular (graus variáveis), seme- alteração nos índices hematimétricos, moses difusamente distribuídas Tratamento
lhante ao que ocorre na cardiomiopa- o que caracteriza policitemia relativa. pela superfície dos
tia dilatada. Pode haver vasoconstrição Essa policitemia provavelmente é cau- O tratamento espe-
pulmões e coração
coronariana por ação das catecolami- sada por contração esplênica por ação A dor local provocada cífico é com o soro an-
com área de colora-
nas (liberação maciça), propiciando o das catecolaminas, mas a desidratação pela picada é combatida tiescorpiônico ou o soro
ção mais clara, em
pode contribuir. com anestésicos locais antiaracnídeo poliva-
formato de cunha no
Outro achado he- sem vasoconstritor, lente (possui uma parte
ápice, sugestiva de in-
matológico é a
como a lidocaína. de anticorpos contra a
farto. As lesões histo-
peçonha de escorpiões),
leucocitose por patológicas descritas
que é ideal para os casos
neutrofilia, atribu- incluem alterações degenerativas
moderados a graves12,13. No entanto,
ída à recirculação das fibras musculares cardíacas,
estes soros não estão disponíveis para
dos neutrófilos do áreas necróticas com infiltração
uso em animais. Atualmente, há uma
compar timento de polimorfonucleares, lesões he-
grande dificuldade na produção do soro
marginal para o cir- morrágicas em subendocárdio, su-
antiescorpiônico porque é necessário
culante, por ação bepicárdio e pulmonares, e micro-
um grande número de escorpiões para
das catecolaminas trombos em capilares decorrentes
a obtenção da peçonha em quantidade
e de citocinas pró- da CID. Nos pulmões, pode haver
suficiente para depois se produzir o soro
-inf lamatór ias 20 . edema; no pâncreas, degeneração
em equino ou caprino. Assim, é neces-
Também pode citoplasmática em células acinares
sária uma grande estrutura para pro-
haver, em casos e pancreatite hemorrágica
duções dos escorpiões, o que inclui a
Figura 3 - Rinorreia em cão picado por T. serrulatus. graves, glicosúria, aguda 12,16,21.
58 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 75 - dezembro de 2014 7. Escorpionismo 59
produção de seu alimen- queio atrioventricular tando seu contato com o produto5. No 5. ALBUQUERQUE, C.M.R.; BARBOSA, M.O.;
O prognóstico do IANNUZZI, L. Tityus stigmurus (Thorell,
to, baratas. No entanto, total. Não é recomenda- entanto, alguns cuidados podem ajudar
envenenamento 1876) (Scorpiones; Buthidae): response to
há a expectativa futura da a administração de di- a combater os escorpiões e, consequen- chemical control and understanding of scor-
escorpiônico quase pionism among the population. Rev. Soc. Bras.
para produção do soro gitálicos ou betabloquea- temente, prevenir a ocorrência de aci-
sempre é bom, exceto Med. Trop., v.42, n.3, p.255-259, 2009.
utilizando-se proteínas dores, pois o uso desses dentes, incluindo:
nos quadros de 6. COLOGNA, C.T.; MARCUSSI, S.; GIGLIO,
recombinantes deriva- medicamentos pode • manter limpos os jardins, quintais e
intoxicações graves, J.R. et al. Tityus serrulatus scorpion venom and
das do veneno, com ca- resultar em insuficiên- terrenos baldios;
principalmente em toxins: an overview. Protein Pept. Lett., v.16,
pacidade imunogênica cia cardíaca e bloqueio • eliminar baratas e cupins (alimentos n.8, p.920-932, 2009.
filhotes.
mas com baixa toxici- atrioventricular12,13. dos escorpiões); 7. NUNAN, E.A.; ARYA, V.; HOCHHAUS, G. et
dade. A administração Va s o d i l a t a d o r e s , • manter plantas distantes das paredes al. Age effects on the pharmacokinetics of tity-
anticolinérgicos, antieméticos, corti- ustoxin from Tityus serrulatus scorpion venom
do soro antiescorpiônico deve ser por e, de preferência, em suportes de ferro in rats. Braz. J. Med. Biol. Res., v.37, n.3, p.385-
via intravenosa. Deve ser feita o mais costeroides e anticonvulsivantes são que elevem os vasos do chão; 390, 2004.
precocemente possível, pois a presença indicados de acordo com o quadro clí- • preservar os inimigos naturais dos es- 8. PETRICEVICH, V.L.; REYNAUD, E.; CRUZ,
de hialuronidases na peçonha torna a nico apresentado pelo animal. Todos corpiões, como lagartos, galinhas, se- A.H.; POSSANI, L.D. Macrophage activation,
absorção das toxinas bastante rápida. O os casos considerados graves requerem riemas, corujas e lagartixas. Os sapos phagocytosis and intracellular calcium oscilla-
tions induced by scorpion toxins from Tityus
uso do soro antiescorpiônico é seguro, monitoração do paciente quanto às fre- se alimentam de escorpiões e também serrulatus. Clin. Exp. Immunol., v.154, n.3,
sendo pequena a frequência e a gravi- quências cardíaca e respiratória, pressão apresentam hábitos noturnos, mas p.415-423, 2008.
dade das reações de hipersensibilidade arterial, oxigenação, estado de hidrata- podem causar acidentes, principal- 9. MENDONÇA, M.; DA LUZ, M.M.P.;
precoce2. ção e equilíbrio hidroeletrolítico. O ele- mente em cães. FREIRE-MAIA, L.; CUNHA-MELO, J.R.
A dor local provocada pela pica- trocardiograma é uma importante ferra- Effect of scorpion toxin from tityus serrulatus
on the contraction of the isolated rat uterus.
da é combatida com anestésicos locais menta para o monitoramento cardíaco Referências Toxicon, v.33, n.3, v.355-361, 1995.
sem vasoconstritor, como a lidocaína a do paciente .
12,13
prazosina não produz taquicardia refle- O combate aos escorpiões com 13. SAKATE, M. Zootoxinas. In: SPINOSA, H.S.;
4. LOURENÇO, W.R. Parthenogenesis in scor- GÓRNIAK, S.L.; PALERMO NETO, J. (Eds).
xa. A atropina deve ser utilizada apenas praguicidas é pouco eficaz, pois eles se pions: some history - new data. J. Venom. Anim. Toxicologia aplicada à medicina veterinária.
em casos de bradicardia grave ou blo- escondem em buracos e frestas, dificul- Toxins Incl. Trop. Dis., v.14, n.1, p.19-44, 2008. Barueri: Manole, 2008. p.209-251.
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que de grande número de abelhas4. ser liberado em consequência do dano edema, que podem persistir por algu-
celular3–5. A apamina, outro peptídeo mas horas ou, eventualmente, dias4,12. Achados laboratoriais
Composição do veneno presente no veneno das abelhas, afeta Os cães e gatos apresentam, em geral, Os achados de patologia clínica de
O veneno das abelhas é composto os sistemas nervosos central e periféri- edema nas regiões facial, periorbital e/ cães com reação tóxica sistêmica in-
pelas enzimas fosfolipase A2 e hialuro- co por meio da ativação dos receptores ou auricular. Foi relata- cluem anemia regenera-
nidase, pelos peptídeos melitina, apami- muscarínicos inibitórios M2 e do blo-
9
do que um cão sensível As alterações clínicas tiva com hemoglobine-
na, pelo peptídeo degranulador de mas- queio dos canais de potássio ativados morreu após a picada de incluem apatia, mia, hemoglobinúria13,16,
tócitos (PDM), entre outros peptídeos, por cálcio , mas sua importância clínica
10
uma única abelha4. anorexia, icterícia, aumento sérico de ureia
e aminas biogênicas3–5. A concentração ainda é incerta .
5
A reação tóxica sis- hemoglobinúria, e de alanina aminotrans-
O PDM atua sobre mastócitos e ba-
dos diferentes componentes do veneno têmica é resultado de vômitos, diarreia, ferase e coagulação intra-
é diretamente influenciada pela idade da sófilos, promovendo a liberação de his- muitas ferroadas. As al- dispneia, convulsões, vascular disseminada4.
tamina, serotonina, produtos da quebra
abelha6,7. terações clínicas incluem depressão do sistema Um cão atacado por cer-
A fosfolipase A2 promove a deses- do ácido araquidônico e fatores com apatia, anorexia, icterí- nervoso central, ca de 300 abelhas desen-
truturação da membrana citoplasmática ação em plaquetas e eosinófilos. Os pep- cia, hemoglobinúria, vô- hipertermia e choque. volveu trombocitopenia
generalizada da carcaça, fígado de co- mas ainda não foi testado em animais
C.R. et al. Apamin reduces neuromuscular
transmission by activating inhibitory muscarinic
loração alaranjada e rins escurecidos. domésticos. O tratamento das reações M2 receptors on motor nerve terminals. Eur. J.
Pharmacol., v.626, n.2-3, p.239-243, 2010.
Microscopicamente, podem ser obser- anafiláticas deve ser feito com adrenali-
vadas necrose de hepatócitos centrolo- na, corticosteroides, anti-histamínicos e 10. LAMY, C.; GOODCHILD, S.J.;
bular e nefrose hemoglobinúrica13. suporte cardiorrespiratório .
12 WEATHERALL, K.L. et al. Allosteric block of
KCa2 channels by apamin. J. Biol. Chem., v.285,
n.35, p.27067-27077, 2010.
Diagnóstico Referências
11. OWEN, M.D. Venom replenishment, as indi-
1. STORT, A.C.; GONÇALVES, L.S. A africaniza- cated by histamine, in honey bee (Apis mellifera)
O diagnóstico geralmente é feito ção das abelhas Apis mellifera nas Américas - I. venom. J. Insect Physiol., v.24, n.5, p.433-437,
com o histórico do paciente12. Podem In: BARRAVIERA, B. (Ed). Venenos: aspectos 1978.
ser encontrados os ferrões e até abelhas clínicos e terapêuticos dos acidentes por ani-
mais peçonhentos. Rio de Janeiro: EPUB, 1999. 12. SILVA JÚNIOR, P.G.P.; MELO, M.M.;
mortas no pelo do animal13. p.33-47.