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2 “For example, if FGM/C is related to the importance of virginity and fidelity, an uncut girl may be seen as a worse
marriage prospect, with serious negative consequences for her and her family.” BICCHIERI, MARINI, 2015, 5.
3 “We tend to copy those who strike us especially successful or who have high prestige: seeing the way they do
things, most of us easily imitate their actions ¾ without much causal understanding of what is going on. Henrich
(2016: 165) echoes Hayek: ‘in many cases people don’t understand how or why their norms work or that their
norms are even ‘doing’ anything.’” GAUS, 23.
diretamente relacionado com o bem-estar do outro e da sociedade em geral; na prática isso significa
que o aumento do bem-estar de um indivíduo é o aumento do bem-estar dos outros, mesmo que a
curto prazo uma das partes perca alguns privilégios4.
Partimos da premissa utilitarista de busca da promoção da felicidade através do seguinte
cálculo: a boa vida humana, ou o que é o mesmo, a conquista do bem-estar para todos, apenas pode
ser conseguida através da maximização do prazer e diminuição da dor. Nesse sentido, é preciso
considerar que há uma diversidade de maneiras de ser humano, e que as sociedades humanas muitas
das vezes estão divididas em diversos grupos menores, e portanto assim o sendo é preciso perguntar
a essas pessoas o que para elas é bom e o que é ruim. É dessa maneira que chegamos em uma
constatação muito importante: a maior parte das mulheres que sofreram mutilação genital na
literatura explorada não gostariam de ter sido mutiladas e acham aquilo ruim, porém o fizeram
porque há uma expectativa social mais forte que seus desejos individual e socialmente
compartilhado por outras mulheres que também foram submetidas à mesma prática. Os motivos são
diversos: desde a percepção que as mulheres submetidas a esse procedimento são socialmente
consideradas mais bonitas, até crenças religiosas em determinados padrões de pureza exclusivos
para as mulheres. Ou seja, o que estamos falando aqui no fim das contas está relacionado com a
inserção da mulher em sociedades patriarcais onde, portanto, as relações de poder são desfavoráveis
a esse grupo social. Percebamos que os motivos elencados são todos produto da dominação da
mulher pelo patriarcado, e que na prática significa o exercício de poder da masculinidade
hegemônica sobre as feminilidades.
Dessa maneira, já tendo constatado que a mutilação genital feminina é sentida pela mulher
como sendo algo para ela nocivo, afirmamos, apoiados na tese utilitarista da maximização do bem-
estar social através da potencialização do bem-estar de todos os grupos e indivíduos (o bem-estar de
um diz respeito não apenas a esse um, mas a todos os outros), que essa norma social é nociva
porque a abolição dela levaria ao ganho de bem-estar de toda a coletividade, visto que beneficiaria
imediatamente um grupo pertencente a ela (TORRES, 2016). Assim o sendo, é evidente que as
sociedades estudadas por Bicchieri e Marini (2015) estariam bem melhor sem ela do que
continuando a praticá-la.
5 “The data clearly show that the countries where FGM/C is not practiced are better off
than countries where FGM/C is a common practice.” BICCHIERI, MARINI, 2015, 7.
6 BICCHIERI, MARINI, 2015, 1.
7 BICCHIERI, 2005.
mutilação genital sobre elas; incentivar que as famílias falem abertamente sobre o assunto, bem
como sobre assuntos relacionados (por exemplo: relações de gênero e sexualidade), tanto entre seus
membros como entre as diferentes famílias. Os exemplos de atuação de base no sentido de mudar
essa norma social nociva conhecida por “mutilação genital feminina” podem ser vários porque as
possibilidades são diversas, dada a diversidade cultural do ser humano.
Conclusão
Como conclusão afirma-se ainda dois pontos fundamentais: primeiro, a norma social aqui
trabalhada apenas pode ser erradicada através de uma inserção social de base que busque alertar a
população para a nocividade da mutilação do genital das mulheres, bem como abrir caminho para o
surgimento de normas sociais benéficas porque agem segundo o princípio utilitarista da
maximização do bem-estar comum; segundo, a erradicação desse tipo de prática tem como objetivo
fundante possibilitar a construção de relações sociais em que as mulheres tenham mais poder e,
portanto, mais uma vez maximize o bem-estar comum.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BICCHIERI, Cristina; MARINI, Annalisa. (2015). Female genital mutilation: fundamentals, social
expectations and change. MPRA Paper.
BICCHIERI, Cristina (2005). The grammar of society: The nature and dynamics of social norms.
Cambridge University Press.
GAUS, Gerald. It can’t be rational choice all the way down: comprehensive Hobbesianism and the
origin of the moral order. Disponível na página do autor.
TORRES, André Castelo Branco Alves. O Utilitarismo é um ascetismo. Recife: Universidade
Federal da Paraíba, Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, 2016.