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E
AUTORIDADE
Reed
Elliot
Nelson10
Introdução
Os
líderes
exercem,
abusam,
resistem,
desgastam,
conservam,
estabelecem,
apreciam
e
trafegam
na
autoridade,
enquanto
os
autores,
sejam
eles
populares
ou
acadêmicos,
não
têm
muito
a
dizer
sobre
liderança
e
autoridade.
Isto
é
irônico,
dado
o
interesse
comparativo,
para
não
dizer
a
fixação,
no
poder,
na
área
de
gestão,
já
que,
diferentemente
da
maioria
dos
outros
meios
de
exercer
poder
e
influência,
autoridade
é
comparativamente
barata
e
aceita
como
ponto
pacífico.
Como
as
experiências
clássicas
de
Milgram
demonstraram,
uma
vez
que
a
autoridade
é
estabelecida
ou
até
mesmo
reivindicada,
as
pessoas
tendem
a
aceitá-‐la.
Na
verdade,
Diamond
(1997)
chega
a
afirmar
que
a
principal
diferença
entre
alguns
pequenos
grupos
tribais
e
grandes
unidades
políticas
é
a
habilidade
dos
segundos
em
propagar
e
empregar
a
autoridade.
Diamond
sugere
que
a
violência
sem
limites
era
a
norma
sempre
que
bandos
de
seres
humanos,
que
não
haviam
sido
criados
juntos,
colidiam
e
que
o
homicídio
era
uma
das
principais
causas
de
morte
em
sociedades
pequenas
e
pré-‐letradas.
De
maneira
quase
mágica,
porém,
assim
que
se
estabelece
algum
tipo
de
autoridade
reconhecida,
normalmente
envolvendo
composições
hereditárias,
marcadas
por
roupas
especiais
e
obrigações
de
lealdade
e
fidelidade,
as
pessoas
passam
a
obedecer
e
parecem
conseguir
dominar
seus
impulsos
homicidas
muito
mais
eficazmente,
permitindo
o
desenvolvimento
e
a
manutenção
de
grandes
organizações
e
unidades
políticas.
Acredito
que
os
tipos
de
autoridade
presentes
em
uma
organização
têm
enormes
consequências
sobre
todos
os
aspectos
de
sua
operação,
mas,
particularmente,
sobre
o
exercício
da
liderança,
o
desenvolvimento
da
cultura
e
as
dinâmicas
de
suas
redes.
Na
verdade,
para
mim,
a
autoridade
é
a
“cola
intelectual”
(conceptual)
que
liga
esses
três
conceitos
e
torna
possível
relacionar
um
ao
outro.
A
agenda
deste
trabalho
é
desvelar,
em
algum
detalhe,
como
a
autoridade
interage
com
essas
forças
e
o
que
essa
interação
significa
para
a
prática
da
liderança.
Os
três
tipos
definidos
por
Weber
Há
pouca
dúvida
de
que
os
pensamentos
mais
importantes
sobre
autoridade
nos
últimos
duzentos
anos
foram
elaborados
por
Max
Weber.
Embora
ele
talvez
seja
mais
conhecido
pelo
seu
trabalho
sobre
protestantismo,
capitalismo
e
burocracia,
seus
pensamentos
sobre
a
autoridade
foram
muito
mais
fundamentais
para
a
sua
contribuição
total,
e
seus
estudos
sobre
burocracia
foram,
na
verdade,
apenas
uma
parte
de
seu
trabalho
sobre
a
autoridade.
Weber
propõe
três
"tipos
puros"
de
autoridade
legítima,
além
de
vários
outros
subtipos,
e
argumentou
que
esses
10
PhD.,
pela
Cornell
University.
Professor
da
Southern
Illinois
University.
Professor
Visitante
da
Fundação
Dom
Cabral.
96
diferentes
tipos
são
acompanhados
por
formas
organizacionais
dramaticamente
diferentes,
assim
como
por
mecanismos
de
governança
e
controle
distintos.
Uma
vez
que
venhamos
a
conhecer
bem
esses
tipos
de
autoridade
e
os
arranjos
institucionais
e
culturais
que
os
acompanham,
várias
outras
observações
de
certa
forma
enigmáticas
sobre
líderes
e
os
seus
papéis
dentro
e
entre
organizações
tendem
a
tornar-‐se
bem
mais
claros.
A
Autoridade
e
suas
Expressões
Institucionais
A
mais
conhecida
das
três
autoridades
de
Weber
é
a
chamada
autoridade
racional
legal,
que
é
também
a
mais
recente
e
a
mais
divorciada
das
origens
humanas
e
tendências
inatas.
A
autoridade
racional
legal,
de
acordo
com
Weber,
baseia-‐se
na
"crença
na
legalidade
dos
padrões
das
regras
normativas
e
no
direito
daqueles
que
foram
elevados
à
condição
de
autoridade
sob
tais
regras
de
darem
ordens"
(WEBER,
1947:3290).
Regras
abstratas
intencionalmente
estabelecidas
e
que
são
universalmente
aplicáveis
tornam
possível
o
exercício
da
autoridade
racional
legal.
Embora
seja
a
mais
recente
a
se
desenvolver,
a
autoridade
racional
legal
é
fundamental
para
as
teorias
da
burocracia
e
do
capitalismo
(PARSONS,
1947;
COLLINS,
1980).
Muitas
das
forças
e
fraquezas
e
também
da
dinâmica
geral
da
autoridade
racional
legal
surgem
da
forma
organizacional
burocrática
que
Weber
insiste
(acredito
que
corretamente)
ser
essencial
para
seu
desempenho.
Os
atributos
da
burocracia
são
bem
conhecidos,
mas
merecem
aqui
uma
cuidadosa
reconsideração
para
que
possam
ser
mais
bem
conectados
à
autoridade
racional
legal
e
para
se
desenvolver
contrastes
adequados
com
as
formas
organizacionais
que
acompanham
os
outros
tipos
de
autoridade
delineados
por
Weber.
Divisão
do
Trabalho
/
Especialização
As
pessoas
que
vivem
em
sociedades
modernas
têm
dificuldade
para
imaginar
um
mundo
onde
não
exista
uma
divisão
formal
do
trabalho.
Entretanto,
por
muito
tempo
durante
a
história
da
raça
humana
era
raro
encontrá-‐la.
Colocando
de
lado
a
divisão
do
trabalho
inerente
às
diferenças
de
sexo
e
idade,
historicamente,
as
pessoas
se
engajavam
em
muitas
atividades
diferentes
por
curtos
períodos,
ao
invés
de
escolher
ou
serem
escolhidas
para
se
engajar
em
menos
tarefas,
permanentemente
ou
por
longos
períodos
de
tempo.
Apesar
de
ser
relativamente
recente
nas
questões
humanas,
a
especialização
tornou-‐se
muito
importante.
Nas
organizações
e
na
sociedade
em
geral
recebemos
uma
grande
parte
de
nossa
identidade
a
partir
da
tarefa
específica,
da
profissão
ou
da
especialidade
que
possuímos.
Desde
Adam
Smith
já
se
sabia
que,
ao
concentrar
esforços
em
poucas
tarefas,
é
possível
aumentar
a
produtividade
em
milhares
de
pontos
percentuais
devido
a
uma
curva
de
aprendizado
mais
curta,
aos
benefícios
da
repetição,
e
porque
focar
uma
atividade
de
escopo
limitado
nos
permite
atingir
um
grau
de
proficiência
muito
maior
em
uma
dada
atividade.
Se
a
divisão
do
trabalho
não
é
muito
"natural"
em
termos
históricos
ou
evolucionários,
a
dominação
não
é
novidade
nas
questões
humanas
e,
embora
o
estabelecimento
inicial
de
dominação
em
um
grupo
e
seus
subsequentes
ajustes
97
sejam
estressantes
para
pessoas
e
sistemas,
eles
não
são
novidade.
Virtualmente
todos
os
estudos
ecológicos
de
animais
sociais
revelam
claras
estruturas
de
dominação
em
suas
comunidades.
Entretanto,
há
importantes
diferenças
entre
animais,
e
mesmo
a
dominação
e
a
hierarquia
burocrática
dos
seres
humanos
primitivos
se
baseavam
na
autoridade
legal
racional.
Duas
delas,
pelo
menos,
merecem
atenção.
O
estabelecimento
de
dominância
em
grupos
animais
normalmente
implica
lutas
físicas
entre
todos
os
pares
de
animais,
um
processo
custoso
cujas
consequências
são
instáveis
e
incertas.
Uma
das
grandes
vantagens
da
burocracia
é
o
fato
de
que
estabelece
não
só
a
ordem
do
poder
como
estipula,
em
detalhes,
os
limites
do
poder
de
cada
ator,
que
se
sujeita
no
exercício
desse
poder
a
uma
revisão
pelo
nível
superior.
Inclui
o
princípio
da
transitividade,
por
meio
do
qual
o
comportamento
de
todos,
menos
os
do
topo
da
organização,
estão
sujeitos
à
fiscalização
e
subordinação
(e
mesmo
o
topo
tende
a
ser
sujeito
a
um
conselho
ou
a
outro
grupo
que
deve
revisar
esse
topo).
Apesar
de
as
pessoas
frequentemente
manipularem
e
contestarem
as
normas
burocráticas
a
seu
favor,
esse
sistema
propicia
muito
mais
estabilidade
e
previsibilidade
que
o
sistema
natural,
que
envolve
um
teste
de
forças
diário,
consumindo
energia
e
gerando
tensão
social
constante.
Além
do
mais,
apesar
de
os
atributos
físicos
serem
salientes
em
todas
as
interações
humanas,
as
regras,
a
hierarquia
e
as
normas
burocráticas
permitem
que,
até
certo
ponto,
critérios
mentais
e
morais
sejam
levados
em
conta
na
determinação
do
sistema
de
dominação
de
uma
comunidade.
Isto
pode
se
constituir
uma
vantagem
significativa
quando
a
tecnologia
se
torna
complexa
e
o
número
de
sutilezas
das
transações
aumenta.
Seleção
e
Promoção
por
Competência
/
Regras
e
Normas
Escritas
Nas
burocracias,
a
seleção
e
a
promoção
são
baseadas
na
competência,
definida
sistemática
e
racionalmente
por
regras
e
normas
escritas.
Nos
termos
de
Weber,
a
burocracia
implica
a
"aplicação
racional
de
regras
e
normas
técnicas"
que
estão
"sujeitas
à
disciplina
estrita
e
sistemática
e
controle
no
desempenho
do
cargo"
(WEBER,
1968:218,
221).
Não
se
levam
em
consideração
a
idade,
o
sexo,
os
laços
familiares,
a
etnia,
o
local
de
nascimento,
a
religião,
a
opinião
política
ou
qualquer
outro
critério
que
não
esteja
claramente
especificado
nas
regras.
A
burocracia
não
tem
nada
a
ver
com
quem
você
é,
mas
com
o
que
você
sabe
fazer
e
fará.
Além
do
mais,
não
se
leva
em
consideração
o
que
você
sabe
fazer
ou
já
fez,
exceto
na
medida
em
que
esteja
relacionado
aos
padrões
de
desempenho
especificados
para
seu
cargo
específico.
Se
você
for
recepcionista,
o
fato
de
você
conseguir
datilografar
120
palavras
por
minuto
não
tem
nenhum
interesse.
Se
você
for
piloto,
o
fato
de
você
ser
mecânico
de
estrutura
certificado
também
não
interessa.
Se
você
for
um
atendente
policial,
o
fato
de
também
ser
atirador
perito
não
interessa.
Em
outras
palavras,
a
competência
é
definida
em
termos
estreitos
e
específicos
que
possam
ser
reduzidos
a
documentos
escritos.
Da
mesma
forma,
as
proibições,
as
violações
ou
infrações
só
podem
ser
punidas
se
forem
claramente
especificadas
em
documentos
escritos,
e
as
punições
são
estritamente
limitadas
às
sanções
especificadas
em
tais
documentos.
O
fato
de
o
funcionário
ter
levado
para
casa
o
computador
do
escritório
sem
autorização
provoca
o
mesmo
tipo
de
sanção
se
o
computador
for
usado
para
pedir
contribuições
98
para
um
orfanato
ou
se
tiver
sido
usado
para
baixar
pornografia
da
Internet.
Se
for
exigido
que
os
funcionários
usem
gravatas,
o
funcionário
que
usar
uma
gravata
de
caubói
ou
uma
gravata
de
cor
laranja
não
poderá
ser
punido
ou
forçado
a
mudar
a
não
ser
que
um
adendo
às
regras
especifique
que
tipos
de
gravata
são
aceitáveis.
Regras
gerais,
tais
como
vestimenta
profissional,
respeito
ao
cliente,
ou
tratamento
igualitário,
no
início,
irão
gerar
confusão
até
que,
em
seguida,
regras
adicionais
e
longas
listas
de
itens
específicos
sejam
incorporadas,
após
disputas
e
questionamentos
através
do
sistema.
Separação
entre
Indivíduo
e
Escritório:
Inclusão
Parcial
O
último
atributo
da
burocracia
que
mencionaremos
aqui
foi
chamado
por
Weber
de
"separação
entre
indivíduo
e
escritório".
A
separação
entre
indivíduo
e
escritório
significa
que
os
interesses
e
as
preferências
pessoais
dos
funcionários
não
influenciam
as
ações
oficiais.
A
um
nível
muito
básico,
a
separação
entre
indivíduo
e
escritório
significa
que
eu
não
coloco
o
dinheiro
da
empresa
na
minha
conta
pessoal
e
nem
contrato
alguém
por
ele
ser
um
amigo
ou
parente.
A
um
nível
menos
óbvio,
significa
que
a
organização
não
se
importa
comigo,
exceto
até
o
ponto
em
que
meus
atributos
e
habilidades
preenchem
uma
necessidade
formalmente
especificada
na
divisão
de
trabalho.
Assim,
nem
os
atributos
que
podem
beneficiar
a
organização,
tais
como
iniciativa
pessoal
ou
boas
maneiras
à
mesa,
nem
aqueles
que
possam
ser
negativos,
como
insensibilidade
interpessoal,
importam,
a
não
ser
que
sejam
especificados
em
termos
mensuráveis
nas
descrições
formais
do
cargo.
Como
esse
conceito
vai
além
do
conceito
mais
antigo
de
separação
entre
indivíduo
e
escritório,
adoto
aqui
o
termo
proposto
por
Allport
(...),
"inclusão
parcial".
A
inclusão
parcial,
como
o
termo
sugere,
significa
que
as
burocracias
usam
apenas
parte
dos
indivíduos
que
elas
contratam
e
que
os
regulam
por
meio
da
autoridade
racional
legal.
De
certa
maneira,
a
inclusão
parcial
libera
os
funcionários
para
terem
opiniões
e
seguirem
estilos
pessoais
de
que
seus
superiores
podem,
pessoalmente,
não
gostar.
A
proibição
da
discriminação
por
etnia
ou
orientação
sexual
é
uma
expressão
da
inclusão
parcial.
Por
outro
lado,
a
inclusão
parcial
impede
que
as
burocracias
explorem
(utilizem)
qualidades
dos
funcionários
que
são
difíceis
de
medir
ou
que
não
se
encaixem
nas
descrições
do
cargo
atual,
na
medida
em
que
não
há
mecanismos
para
reconhecer
e
usufruir
de
tais
qualidades.
Os
Sistemas
de
Autoridade
são
Sobredeterminados
O
leitor
provavelmente
já
percebeu
que
as
dimensões
da
burocracia
se
apoiam
mutuamente
e
que
a
eliminação
ou
diluição
de
qualquer
uma
das
dimensões
dificulta
o
funcionamento
das
outras.
Isso
é
verdadeiro
para
as
dimensões
organizacionais
dos
outros
tipos
de
autoridade
definidos
por
Weber
e
representa
um
importante
princípio
com
amplas
implicações
sobre
a
prática
da
liderança
e
da
gestão.
Uma
das
conexões
mais
óbvias
é
a
relação
entre
seleção
e
promoção
por
competência
e
as
regras
e
os
regulamentos
escritos.
Se
não
houver
normas
e
regras
que
definam
o
desempenho
adequado,
a
organização
não
terá
padrões
pelos
quais
selecionar
e
promover
baseado
na
competência.
Aqui
também
vemos
a
conexão
com
a
inclusão
parcial.
Se
não
houvesse
padrões
de
desempenho
escritos,
haveria
uma
forte
tendência
para
se
usar
atributos
individuais
na
seleção
e
promoção
que
seriam
relacionados
com
o
desempenho
no
cargo.
99
Há
outras
conexões
óbvias.
Uma
descrição
formal
da
função
é
necessária
para
estabelecer
a
divisão
do
trabalho
de
modo
que
não
cause
duplicação
ou
confusão,
assim
como
para
definir
as
responsabilidades
e
a
amplitude
da
autonomia
dos
superiores
que
formam
os
diferentes
níveis
hierárquicos.
Resumindo,
se
não
houvesse
padrões
escritos,
a
burocracia
entraria
em
colapso.
Weber
acreditava
que
a
autoridade
racional
legal
e
a
burocracia
que
ela
trazia
não
tinham
competidores
devido
à
sua
capacidade
de
controlar
grandes
números
de
pessoas
e
focar
seus
esforços
coletivos.
Sua
crença
nessa
superioridade
era
tão
forte
que
ele
temia
o
aparecimento
de
um
mundo
burocratizado
onde
não
houvesse
nenhuma
individualidade
e
criatividade.
No
mundo
globalizado
cada
vez
mais
regulado
não
é
difícil
imaginar
que
o
pesadelo
de
Weber
venha
a
se
tornar
uma
realidade,
e
muito
sociólogos
organizacionais
acreditam
que
a
autoridade
racional
legal
é
a
única
fonte
viável
de
autoridade
para
organizações
grandes
e
complexas.
Seja
essa
posição
mais
extrema,
a
correta
ou
não,
há
pouca
dúvida
de
que
a
autoridade
racional
legal
e
a
burocracia
que
a
acompanha
é
uma
força
poderosa
em
nossa
sociedade.
A
Burocracia
Racional
Legal
e
a
Liderança
A
essa
altura
o
leitor
já,
sem
dúvida,
se
perguntou:
"o
que
é
que
isso
tudo
tem
a
ver
com
liderança?"
Alguns
responderiam:
"Nada
mesmo".
É
verdade
que
uma
observação
comum
é
a
de
que
a
burocracia
sufoca
a
verdadeira
liderança
ou
de
que
a
liderança
não
tolera
a
burocracia.
Na
verdade,
o
próprio
Weber
poderia
concordar
pelo
menos
parcialmente
com
tal
afirmativa,
como
veremos
a
seguir.
Entretanto,
o
que
eu
acredito
é
que
há
aqueles
que
conseguiram
atingir
resultados
marcantes
por
meio
da
habilidade
de
liderar
de
uma
maneira
que
seja
largamente
consistente
com
a
prática
da
autoridade
racional
legal,
dentro
de
uma
burocracia.
Um
dos
mais
importantes
desses
é
Abraham
Lincoln,
que
é
sempre
considerado
um
dos
três
melhores
presidentes
que
os
EUA
jamais
tiveram.
(Uma
análise
detalhada
da
liderança
exercida
por
Lincoln
sobre
a
burocracia
patrimonial
dos
EUA
durante
a
guerra
civil
pode
ser
encontrada
em
um
livro
monumental:
A
Team
of
Rivals).
A
seguir
delinearei
algumas
das
táticas
fundamentais
da
liderança
consistentes
com
um
ambiente
burocrático
(e,
não
por
coincidência,
descrevem
muito
bem
o
estilo
de
liderança
de
Lincoln).
1.
O
líder
racional
legal
maximiza
a
amplitude
da
função
para
que
essa
se
encaixe
na
agenda.
Geralmente,
as
burocracias
tomam
muito
cuidado
para
definir
precisamente
as
responsabilidades
e
a
autoridade
de
cada
função
e
de
cada
nível
hierárquico.
Entretanto,
devido
às
inerentes
limitações
de
regras
escritas
e
de
mecanismos
administrativos
formais,
na
verdade
há
uma
boa
amplitude
quanto
à
discrição,
mesmo
quando
se
trata
de
funções
rotineiras.
A
polícia
pode
mandar
um
motorista
parar
por
muitas
razões,
desde
dirigir
um
quilômetro
acima
do
limite
de
velocidade
até
"dirigir
em
ziguezague",
e
pode
escolher
multar
o
motorista
por
uma
infração,
uma
variedade
de
infrações,
apenas
advertir,
ou
não
fazer
nada.
Mesmo
os
gerentes
intermediários
em
uma
burocracia
estatal
têm
mais
discrição
que
os
policiais
nos
EUA,
mas
eles
tendem
a
não
usá-‐la
tão
completa
ou
criativamente.
O
líder
burocrático
eficaz
100
sabe
claramente
o
que
o
poder
formal
permite,
além
do
que
ele
consegue
fazer
sem
chamar
para
si
sanções
formais,
e
assim
emprega
criativamente
todo
o
peso
de
sua
função
na
busca
de
uma
agenda
que
considere
importante.
(Não
é
preciso
dizer
que
líderes
burocráticos
eficazes
selecionam
uma
agenda
que
consideram
genuinamente
importante).
Ao
mesmo
tempo,
ele
pode
negligenciar,
por
bem
ou
mal,
responsabilidades
a
mais
da
função,
que
considere
periférica
ou
contra
a
sua
agenda.
2.
O
líder
racional
legal
facilita
negociações
entre
partes
diversas.
A
especialização
e
a
hierarquia
das
burocracias
causam
diferenças
nas
perspectivas
e
nos
interesses,
o
que
resulta
em
[todo
tipo
de]
barreiras
internas.
Se
juntarmos
isso
à
discrição
mencionada
no
item
1,
poderá
ser
difícil
implementar
mudança
ou
até
mesmo
completar
transações
comuns.
O
líder
burocrático
eficaz
aprende
a
ser
um
intermediário
entre
especializações,
departamentos,
níveis
hierárquicos
e
facções.
Essa
habilidade
de
agir
como
facilitador
é
usada
para
levar
adiante
a
agenda
que
mencionamos
no
item
1,
assim
como
para
ajudar
a
conseguir
que
coisas
sejam
feitas
que,
de
outra
forma,
não
aconteceriam
ou
aconteceriam
vagarosamente
e
de
modo
ineficaz.
O
líder
racional
legal
compreende
as
regras
e
como
elas
são
aplicadas.
Líderes
burocráticos
eficazes
compreendem
que,
embora
a
maioria
dos
seres
humanos
responda
muito
melhor
aos
estímulos
verbais
do
que
aos
escritos,
no
final
das
contas
a
burocracia
perde
todas
as
coisas
que
não
forem
escritas.
Dessa
forma,
o
controle
sobre
o
texto
e
a
interpretação
de
documentos
formais
pode
ter
importante
impacto
no
funcionamento
das
organizações
e
no
bem-‐estar
de
seus
membros.
Eles
são
mestres
do
protocolo,
preparando
documentos
e
memorandos,
estruturando
e
defendendo
linguajar
e
argumentos
que
atingirão
os
fins
desejados.
O
líder
racional
legal
resolve
os
problemas
das
pessoas
trabalhando
as
coisas
no
sistema.
Quando
alguém
na
auditoria
não
aceita
uma
despesa
baseada
na
regra
xii
do
artigo
vii,
o
líder
burocrático
eficaz
produzirá
documentos
demonstrando
que,
sob
certas
condições
descritas
no
memorando
viii
8-‐8-‐1989,
essa
regra
pode
ser
colocada
de
lado.
Quando
o
departamento
de
pagamentos
explicar
que
o
pagamento
antecipado
em
dinheiro
não
pode
ser
feito
para
quantias
acima
de
US$500,
o
líder
burocrático
eficaz
descobrirá
uma
pessoa
que
viaja
frequentemente
e
que
poderá
então
receber
dinheiro
adiantado
em
relação
a
uma
viagem
que
será
feita
e
aí
emprestar
ao
funcionário,
que
precisa
pagar
em
dinheiro
uma
licença
de
US$1.000
num
país
estrangeiro.
Essa
capacidade
e
disposição
tornam
o
líder
conhecido,
procurado
e
conhecedor
das
atividades
e
preocupações
que
permeiam
a
organização.
Também
cria
obrigações
recíprocas
que
o
líder
usa
em
busca
de
avançar
a
sua
agenda.
O
líder
racional
legal
é
cortês,
imperturbável,
inescrutável
e
justo.
O
líder
burocrático
eficaz
depende
muito
da
natureza
formal
das
burocracias
e
da
inclusão
parcial
para
manter
uma
reputação
por
imparcialidade
e
evitar
se
comprometer
com
pessoas
e
causas
que
não
levem
adiante
a
sua
agenda.
Embora
se
concentre
na
busca
de
sua
agenda,
ele
não
manipula
os
critérios
burocráticos
em
seu
benefício
pessoal.
Assim,
vemos
que
há
um
estilo
de
liderança
dentro
das
burocracias
que
vai
acima
e
101
além
das
intervenções
simples
e
lineares
do
"gerente"
para
se
exercer
o
papel
de
"liderança",
para
fazer
com
que
um
sistema
administrativo
eficiente,
embora
talvez
não
natural,
se
torne
mais
suportável
e
mais
funcional.
As
Autoridades
Não
Racionais
de
Weber
Se
a
burocracia
é,
provavelmente,
a
forma
dominante
nas
grandes
organizações,
ainda
assim
ela
não
aboliu
todas
as
outras
formas
de
autoridade,
mesmo
na
era
moderna.
O
segundo
tipo
de
autoridade
de
Weber
é
a
"autoridade
tradicional".
Enquanto
a
autoridade
racional
legal
se
baseia
na
lei
e
se
apoia
na
racionalidade,
a
autoridade
tradicional
justifica-‐se
pelo
mero
fato
de
que
a
prática
advém
do
passado.
Quanto
mais
tempo
uma
dada
prática
ou
instituição
social
tiver
existido,
maior
sua
legitimidade.
Nos
termos
de
Weber,
a
autoridade
tradicional
baseia-‐se
na
"santidade
da
ordem
e
nos
consequentes
poderes
de
controle
que
lhe
foram
dados
a
partir
do
passado"
(Weber,
1947:334).
Para
aqueles
acostumados
com
a
tendência
moderna
e
pós-‐moderna
de
que
questionar
e
desafiar
qualquer
coisa
que
não
tenha
uma
explicação
racional
explícita
e
clara,
obedecer
a
um
costume
simplesmente
porque
foi
seguido
no
passado
pode
parecer
insano.
Entretanto,
há
boas
razões
para
se
respeitar
um
costume
aceito.
Duas
das
principais
razões
são
relacionadas
entre
si.
Primeiramente,
como
a
grande
maioria
das
tentativas
de
inovação
fracassa,
é
mais
eficiente
continuar
as
práticas
do
passado
porque,
se
elas
ainda
estão
sendo
usadas,
provavelmente
é
porque
foram
selecionadas
dentre
muitas
alternativas,
pois
funcionarão
enquanto
que
as
alternativas
ou
não
funcionaram
ou
não
funcionaram
tão
bem.
Em
segundo
lugar,
um
fenômeno
ou
prática
frequentemente
pode
ser
apoiado
por
mais
de
uma
afirmação
racional,
das
quais
uma
ou
nenhuma
esteja
correta.
A
não
ser
que
uma
pessoa
tenha
certeza
absoluta
da
explicação
causal
de
um
fenômeno
(algo
que
nem
sempre
é
o
caso
mesmo
para
um
fenômeno
simples),
é
melhor
não
mudar
uma
prática
que
parece
estar
funcionando.
Podemos
ilustrar
essa
ideia
pensando
na
prática
da
caça
aos
cogumelos.
Existem
milhares
de
fungos
que
crescem
nas
florestas
do
mundo.
Alguns
são
deliciosos
e
nutritivos
e
outros
são
deliciosos
e
mortíferos.
Um
perito
pode
(ou
não)
conseguir
diferenciar
as
espécies
comestíveis
e
venenosas,
desde
que
tenha
uma
noção
racional
da
relação
entre
a
morfologia
visível
e
a
cor
dos
cogumelos
e
a
bioquímica.
Aqueles
que
não
tiverem
tanta
certeza
de
suas
habilidades
racionais
deverão
se
familiarizar
com
os
costumes
locais
para
identificar
as
espécies
comestíveis
na
base
do
fato
de
que
as
pessoas
daquela
região
já
consomem
fungos
de
certa
aparência
e
de
certos
locais
por
gerações
sem
nenhum
efeito
maléfico
evidente.
Um
recurso
puro
à
racionalidade
pode
ser
perigoso
e
ineficiente
quando
lidamos
com
fenômenos
cuja
natureza
não
se
compreenda
totalmente.
A
autoridade
tradicional,
que
é
exatamente
o
contrário
da
autoridade
legal
racional,
não
é
facilmente
transportável
e
nem
pode
ser
escrita
ou
sujeita
a
uma
abstração
formal.
Ela
precisa
ser
aprendida
vagarosamente
dentro
de
um
contexto
local.
Por
exemplo,
o
conceito
de
"roubo"
é
desenvolvido
e
explicitado
em
vários
estatutos
de
códigos
que
podem
identificar
os
comportamentos
específicos
que
constituem
o
roubo
e
que
são
apoiados
e
interpretados
por
teorias
jurídicas
abstratas.
O
conceito
102
de
"cortesia",
por
outro
lado,
depende
quase
totalmente
da
tradição.
Não
há
categoria
legal
de
"lei
da
cortesia"
como
há
de
"lei
da
propriedade"
ou
"lei
criminal"
ou
"lei
dos
contratos".
Em
uma
dada
situação,
as
pessoas
que
seguem
o
tradicional
sabem
que
alguém
já
foi
descortês,
mas
os
comportamentos
específicos
(ou
a
ausência
deles)
que
constituem
a
cortesia
ou
a
falta
de
cortesia
não
são
facilmente
redutíveis
a
regras
ou
normas
lógicas.
A
Autoridade
Tradicional
e
a
Forma
Organizacional
Assim
como
a
autoridade
racional
legal
é
expressa
em
uma
forma
organizacional
previsível
e
consistente,
a
autoridade
tradicional
gravita
em
direção
a
arranjos
administrativos
reconhecíveis
e
estáveis.
Essas
podem
variar
mais
do
que
a
burocracia
já
que,
de
acordo
com
Weber,
existe
uma
quantidade
diferente
de
subtipos
de
autoridade
tradicional.
Porém,
para
nossos
propósitos,
a
mais
importante
delas
é
a
gerontocracia,
ou
como
Ouchi
a
chama,
o
clã,
que,
na
maioria
de
seus
atributos,
é
a
imagem
inversa
da
burocracia.
Nos
ambientes
de
negócio
modernos,
as
organizações
que
se
assemelham
a
clãs
têm
sido
observadas
mais
frequentemente
no
Japão,
onde
a
transição
de
uma
sociedade
feudal
tradicional
para
uma
economia
industrial
aconteceu
muito
rapidamente
por
decreto
do
governo
(ordem),
deixando
intactos
muitos
dos
costumes
e
das
instituições
tradicionais.
Generalização
e
Rotatividade
ao
Invés
de
Especialização
O
exercício
da
autoridade
tradicional
raramente
especifica
os
papéis
dos
trabalhadores
com
o
grau
de
precisão
e
inflexibilidade
da
burocracia.
Ao
invés
disso,
a
autoridade
tradicional
identifica
amplas
categorias
sociais
baseadas
no
sexo,
idade,
relação
familiar,
tribo
ou
casta
e,
dentro
de
tais
categorias,
permite
o
desenvolvimento
de
certa
quantia
de
identidade
pessoal
que,
apesar
de
tudo,
é
limitada
e
moldada
por
normas
tradicionais.
Além
dessa
identidade
pessoal,
os
membros
de
uma
classe,
categoria
ou
papel
são
mais
ou
menos
intercambiáveis
e
qualquer
divisão
do
trabalho
é
ampla
e
fluida.
Assim,
o
mestre-‐de-‐obras
ou
o
cozinheiro-‐chefe
são
responsáveis
por
um
produto
ou
serviço
completo,
e
determinadas
tarefas
são
feitas
por
seus
subordinados
de
acordo
com
a
maturidade
ou
capacidade
de
cada
um,
comparados
com
as
necessidades
do
trabalho
a
ser
feito.
À
medida
que
os
aprendizes
aprendem
e
amadurecem,
o
mestre
aumenta
a
amplitude
das
responsabilidades
dos
subordinados
até
que
eles
consigam
fazer
a
maioria
das
tarefas
sem
a
presença
do
mestre
e,
então,
ao
final,
passam
a
fazer
seus
próprios
projetos.
A
ampla
orientação
e
a
lógica
emergente
e
de
longo
termo
do
clã
são,
obviamente,
bem
diferentes
da
burocracia
que
busca
empregar
especialistas
bem
treinados
e
certificados
para
desempenhar
responsabilidades
técnicas
complexas
ou
dividir
tarefas
em
partes
pequenas
para
que
até
mesmo
os
funcionários
relativamente
não
capacitados
possam
aprender
suas
tarefas
rapidamente
e
executá-‐las
com
facilidade
e
velocidade
relativas,
desde
que
suas
responsabilidades
não
se
modifiquem.
Outra
diferença
está
no
sentido
que
se
espera
de
que
os
membros
de
um
clã
permaneçam
na
organização
por
um
longo
tempo
e
se
engajem
em
uma
variedade
de
tarefas
à
medida
que
as
necessidades
surjam,
enquanto
a
burocracia
exige
desempenho
apenas
dentro
da
especialidade
definida
na
descrição
da
função
e
procura
ajustar
103
pessoas
às
responsabilidades
buscando
no
mercado
de
trabalho
externo
e
promovendo
apenas
os
funcionários
de
qualidade
superior
para
a
amplitude
de
responsabilidade
requerida
à
medida
que
a
pessoa
galga
os
degraus
da
hierarquia.
Colocado
de
forma
diferente,
os
clãs
desenvolvem
os
funcionários
contratando-‐os
enquanto
são
jovens
e
sujeitando-‐os
a
uma
experiência
ampla,
enquanto
as
burocracias
tentam
comprar
funcionários
já
prontos
no
mercado
de
trabalho
externo.
Consenso
ao
Invés
de
Hierarquia
Ao
invés
de
degraus
de
hierarquia
com
autoridade
e
responsabilidade
cuidadosamente
definidos
para
cada
função
em
cada
nível,
o
clã
depende
de
um
processo
muito
mais
orgânico
de
tomada
de
decisão
e
atividade
coordenada.
Na
burocracia,
uma
vez
que
o
funcionário
seja
treinado
e
informado
das
práticas
e
dos
padrões
de
desempenho
aceitos,
espera-‐se
que
ele
desempenhe
suas
responsabilidades
com
um
mínimo
de
consultas,
a
não
ser
que
algo
excepcional
aconteça
que
não
esteja
coberto
por
seu
treinamento
ou
previsto
nas
regras
organizacionais.
O
membro
de
um
clã
recebe
pouca
orientação
formal
sobre
a
forma
de
padrões
de
escritos
ou
claras
descrições
de
função
sobre
seu
papel.
Tal
orientação
provém
de
um
contato
mais
ou
menos
constante
com
seus
pares
ou
com
seus
colegas
mais
antigos
que
já
têm
experiência
com
a
maioria
das
situações
que
ele
enfrentará.
Como
parte
de
sua
rotina,
ele
consultará
tais
pares
sobre
como
trabalhar
e
como
coordenar
seus
esforços
com
os
outros.
Devido
às
amplas
responsabilidades
gerais
do
trabalho
e
à
rotatividade,
ele
observará
as
respostas
de
seus
pares
e
superiores
em
relação
a
uma
variedade
de
situações.
À
medida
que
ganhar
mais
experiência
e
amadurecer,
ele
passará
menos
tempo
pedindo
conselhos
e,
vagarosamente,
começará
a
dar
conselhos
à
medida
que
adquirir
a
sabedoria
coletiva
do
grupo.
Se
um
problema
importante
surgir,
ou
se
uma
decisão
importante
que
envolva
a
organização
como
um
todo
precisar
ser
tomada,
é
posto
em
marcha
um
processo
de
certa
forma
ritualístico
de
se
reunir
todo
o
corpo
ou
o
conselho
dos
mais
antigos
e
superiores
para
que
uma
deliberação
formal
aconteça.
Tal
deliberação
formal
pode
submeter
suas
recomendações
à
aprovação
de
um
chefe
ou
de
um
colegiado,
mas
o
trabalho
verdadeiro
do
conselho
invariavelmente
implica
escutar
as
percepções
e
opiniões
de
uma
ampla
seção
do
clã
para
então
chegar
a
um
consenso.
Tradição,
Socialização
e
Pressão
dos
Pares
Na
burocracia
os
funcionários
sabem
o
que
fazer,
pois
suas
responsabilidades
estão
registradas
por
escrito
em
descrições
de
função,
incluindo
padrões
de
desempenho
que
localizam
o
indivíduo
dentro
da
divisão
do
trabalho
da
organização.
Eles
também
podem
ter
recebido
treinamento
especializado
antes
de
iniciar
seu
trabalho
na
firma,
e
podem
ter
sido
inseridos
na
divisão
do
trabalho
de
acordo
com
critérios
educacionais
formais.
A
certeza
de
que
o
funcionário
está
cumprindo
com
suas
responsabilidades
formais
provém
de
seu
superior,
que
avalia
o
trabalho
baseado
em
critérios
escritos
e
administra
a
recompensa
ou
punição
pelo
cumprimento
de
tais
critérios.
Uma
destas
recompensas
é
a
possibilidade
de
avanço
dentro
da
hierarquia
organizacional.
104
No
clã,
o
conhecimento
do
dever
da
pessoa,
a
supervisão
e
as
sanções
são
feitas
de
maneira
bem
diferente.
Devido
à
ausência
de
regras
e
regulamentos
escritos,
os
funcionários
buscam
seus
pares
para
receber
orientação
verbal
baseada
na
tradição.
Como
a
tradição
é
retirada
da
experiência
passada,
presume-‐se
que
aqueles
que
são
mais
antigos
na
firma
conhecem
melhor
os
comportamentos
apropriados
e
recebem
a
deferência
dos
mais
novos.
Diferentemente
das
posições
da
hierarquia,
que
são
determinadas
formalmente
pela
burocracia
de
acordo
com
critérios
racionais,
a
distribuição
da
antiguidade
dentro
do
clã
é
uma
função
da
demografia
organizacional
e
não
pode
ser
precisamente
(determinada)
gerenciada
da
mesma
forma
que
o
número
de
superiores
por
subordinados
e
o
número
de
camadas
na
hierarquia.
Assim,
o
status
ou
o
respeito
atribuídos
devido
ao
tempo
de
casa
é
distribuído
de
uma
maneira
geral,
e
cada
membro
do
clã
possui
um
senso
de
antiguidade
e
dignidade
comparativos.
E
como
a
tradição
não
é
destilada
e
bem
codificada
em
regras
não
ambíguas,
é
necessária
uma
exposição
repetida
à
ação
das
tradições
antes
que
o
comportamento
apropriado
seja
conhecido
e
dominado,
e
o
aprendizado
mais
importante
ocorre
através
do
contato
próximo
e
do
observar
os
pares.
O
processo
de
aprender
o
comportamento
apropriado
através
de
contrato
contínuo
com
os
pares
e
com
os
mais
antigos
na
casa
chama-‐se
socialização,
e
uma
socialização
completa
e
eficaz
demanda
tempo
e
interação
frequentes
entre
um
número
substancial
de
funcionários.
Essa
frequente
interação
fornece
tanto
a
liga
emocional
quanto
a
oportunidade
de
monitorar
e
corrigir
comportamentos
desviantes
através
da
pressão
dos
pares,
que
substitui
o
gerenciamento
formal
pelo
superior
imediato
que
acontece
na
burocracia.
Inclusão
Total
ao
Invés
de
Inclusão
Parcial,
Ser
versus
Fazer
Enquanto
a
burocracia
traça
limites
claros
entre
a
vida
pessoal
e
a
vida
organizacional,
necessitando
apenas
do
estrito
cumprimento
das
desmandas
de
uma
função
especializada,
o
clã
exige
lealdade
e
olha
o
indivíduo
de
maneira
muito
mais
ampla.
Por
outro
lado,
oferece
emprego
seguro
de
longa
duração,
identidade
social,
relacionamento
próximo
no
trabalho
e
atividades
mais
variadas.
Nas
burocracias,
a
seleção
e
a
promoção
por
competência
e
a
separação
entre
indivíduo
e
trabalho
resulta
numa
ênfase
maior
no
fazer
as
coisas
e
em
provar
que
elas
foram
feitas.
As
pessoas
são
selecionadas
após
uma
avaliação
cuidadosa
do
que
são
capazes
de
fazer
numa
dada
função
e
a
promoção,
supostamente,
apenas
acontece
após
provas
(documentadas)
serem
fornecidas
demonstrando
o
que
o
funcionário
conseguiu
fazer.
Quem
é
o
funcionário
-‐
gostos,
preferências,
atributos
pessoais
e
trajetória
anterior
interessam
muito
pouco.
Em
contraste,
a
autoridade
tradicional
foca
menos
no
fazer
que
no
ser.
Embora
o
que
a
pessoa
faz
e
o
que
a
pessoa
é
seja
menos
separável
em
um
ambiente
de
clã
que
requer
um
trabalho
em
grupo
mais
intenso
e
interação
social
mais
frequente,
a
ênfase
tende
a
recair
mais
no
ser.
As
organizações
do
tipo
clã
são
conhecidas
por
usar
critérios
ascritivos
(inatos
ao
indivíduo)
ao
contratar
e
promover.
As
firmas
japonesas
tendem
a
empregar
funcionários
das
mesmas
regiões
e
universidades,
trazer
novos
funcionários
em
grupos,
e
promovê-‐los
por
tempo
de
casa.
Aumentos
de
salário
e
de
responsabilidade
tendem
a
ser
automáticos
para
todos
dentro
de
um
mesmo
grupo.
Historicamente,
as
mulheres
são
vistas
apenas
como
trabalho
temporário
que
deve
casar
e
deixar
a
firma,
e
os
estrangeiros
não
são
considerados
membros
genuínos
da
organização.
As
105
associações
profissionais
e
os
sindicatos
também
tendem
a
contratar
e
promover
por
idade,
distinguindo
as
pessoas
mais
pelo
tempo
de
casa
que
pelos
atributos
pessoais
e
a
capacidade.
Assim,
entre
categorias
há
uma
considerável
desigualdade
e
mudar
de
uma
categoria
para
outra
quase
nunca
é
possível,
embora
dentro
das
categorias
haja
bastante
igualdade.
Assim
como
os
componentes
da
burocracia
racional
se
reforçam
mutuamente,
os
atributos
das
organizações
baseadas
na
autoridade
tradicional
também
se
reforçam,
já
que,
se
um
elemento
for
enfraquecido,
os
outros
também
o
serão.
Essa
mesma
interdependência
também
predispõe
as
organizações
a
favorecer
apenas
um
tipo
de
autoridade
em
suas
estruturas
e
torna
difícil
a
coexistência
de
mais
de
um
tipo
de
autoridade
numa
organização.
Qualquer
par
de
elementos
do
clã
pode
ser
usado
para
ilustrar
essa
ideia,
mas
a
relação
entre
o
consenso
e
os
outros
elementos
é
particularmente
sugestiva.
A
rotatividade
das
responsabilidades
e
a
tendência
em
direção
à
generalização
tornam
a
criação
de
consenso
mais
fácil
no
clã,
pois
impedem
o
desenvolvimento
de
barreiras
internas
à
comunicação,
rivalidades
interdepartamentais
ou
interfuncionais,
ciúmes
e
políticas,
que
são
o
resultado
da
minuciosa
divisão
do
trabalho
na
burocracia.
Vocabulários
departamentais
esotéricos
ou
exclusivos
não
são
desenvolvidos,
assim
como
não
se
desenvolvem
interesses
pessoais
associados
com
uma
dada
disciplina,
função
ou
localização
geográfica.
A
migração
interna
que
resulta
da
frequente
rotatividade
das
responsabilidades
também
facilita
o
consenso,
já
que
unidades
diversas
normalmente
contêm
pelo
menos
algumas
poucas
pessoas
que
já
trabalharam
juntas
em
algum
ponto
de
suas
carreiras.
Esses
relacionamentos
interiores
facilitam
a
comunicação
e
a
concordância.
A
preferência
pelos
critérios
ascritivos
(ser)
ao
invés
da
competência
(fazer)
para
a
distribuição
de
recompensas
e
promoções
facilita
a
construção
do
consenso,
já
que
as
decisões
normalmente
não
favorecerão
a
sorte
de
certos
indivíduos
ou
unidades
de
trabalho.
O
consenso,
por
sua
vez,
apoia
outros
atributos
da
organização
do
tipo
clã.
As
intensas
deliberações
que
são
necessárias
para
o
processo
de
construção
do
consenso
sem
dúvida
ajudam
a
comunicar,
consolidar,
ajustar
e
interpretar
tradições
e
socializar
os
membros.
Tal
processo
facilita
a
rotatividade
e
a
generalização
ao
juntar
pessoas
de
todas
as
partes
da
organização
para
compartilhar
informações
e
deliberar.
Ele
justifica
e
fortalece
a
pressão
dos
pares
contra
desvios,
pois
todos
conseguem
ser
ouvidos
antes
de
a
decisão
ser
tomada,
e
porque
todos
concordam
em
apoiar
a
decisão
antes
da
organização
continuar
seu
caminho.
Ele
diminui
a
distinção
entre
identidade
individual
e
coletiva,
aumentando
a
inclusão
dos
membros
da
organização.
O
Líder
Tradicional
Eficaz
Se
parece
que
a
burocracia
sufoca
a
liderança,
a
organização
do
tipo
clã
parece
quase
dispensá-‐la,
ou
pelo
menos
se
recusar
a
concentrar
o
papel
de
líder
em
uma
pessoa.
Ainda
assim,
eu
comentaria
que
existem
indivíduos
em
clãs
que
são
especialmente
eficazes
na
reafirmação
de
suas
identidades
e
até
mesmo
conseguem
levá-‐las
adiante
sem
violar
de
maneira
explícita
o
paradigma
tradicional
dentro
do
qual
funcionam.
Não
é
surpresa
que
a
tática
deles
seja
bem
diferente
daquelas
dos
líderes
que
operam
106
dentro
da
rigidez
burocrática.
1.
O
Líder
Tradicional
eficaz
é
um
contador
de
histórias.
Devido
à
ausência
da
memória
escrita
da
burocracia,
o
clã
depende
da
tradição
oral
para
guiar
seu
comportamento.
Além
das
rimas
e
dos
rituais,
que
são
extensamente
usados
para
guardar
e
transmitir
a
informação
em
sociedades
tradicionais
(pré-‐letradas),
um
amplo
e
variado
inventário
de
histórias
que
expressam
princípios
e
valores
importantes
é
um
dos
mais
importantes
bens
culturais
da
organização
que
se
baseia
na
tradição.
Isso
significa
que
os
líderes
tradicionais
eficazes
precisam
ser
mestres
dos
contos.
Quando
um
grupo
está
tentando
chegar
a
uma
decisão
de
consenso
que
seja
consistente
com
as
tradições
da
organização,
uma
história
sobre
como
um
dos
fundadores
lidou
com
uma
decisão
semelhante
pode
frequentemente
fechar
o
negócio.
Quando
o
recém-‐chegado
estiver
tendo
problemas
para
compreender
como
se
comportar
dentro
da
organização
tipo
clã
sem
manuais
e
sem
orientação
para
novos
funcionários,
as
histórias
contadas
por
um
mentor
com
mais
tempo
de
casa
possuem
valor
didático
e
de
memória,
além
de
serem
reconfortantes.
O
líder
que
tiver
amplo
comando
das
histórias
organizacionais
comandará
um
recurso
que
é
importante
para
a
perpetuação
da
organização
tradicional
e
para
o
bem-‐estar
de
seus
membros.
Esse
líder
que
tiver
tanto
um
amplo
comando
das
histórias
e
a
capacidade
de,
criativamente,
aplicar
tais
histórias
às
questões
e
aos
desafios
do
momento,
possui
uma
capacidade
desproporcional
de
influenciar
o
curso
da
organização
tradicional.
2.
O
Líder
Tradicional
Eficaz
compreende
os
rituais.
Na
ausência
de
uma
memória
organizacional
escrita
e
de
superiores
que
periodicamente
verifiquem
o
trabalho
dos
subordinados
usando
critérios
formais
e
escritos,
partes
da
organização
ou
até
a
organização
como
um
todo
pode
se
afastar
dos
valores
centrais
e
das
compreensões
compartilhadas.
Uma
maneira
através
da
qual
as
sociedades
tradicionais
combatem
tal
tendência
é
através
de
rituais
que
são
normalmente
repetidos
a
intervalos
previsíveis.
Os
rituais
consistem
de
conjuntos
de
atividades
simbólicas,
símbolos
e
papéis
que
celebram
e
reafirmam
a
identidade
e
os
valores
coletivos.
Todas
as
sociedades
possuem
rituais
de
um
tipo
ou
de
outro,
não
importando
se
elas
estão
ou
não
conscientes
da
função
ritual
dos
eventos,
e
as
sociedades
tradicionais
dedicam
consideráveis
recursos
às
comemorações
dos
rituais.
Em
ambientes
tradicionais
que
não
estejam
impregnados
de
um
fluxo
constante
das
imagens
e
dramas
calculados
que
são
encontrados
nas
sociedades
modernas,
os
rituais
podem
estar
entre
os
mais
memoráveis
eventos
nas
vidas
das
pessoas.
Mesmo
nos
ambientes
modernos
eles
também
podem
ser
poderosos.
Embora
todas
as
organizações
apresentem
rituais,
eles
são
muito
mais
centrais
à
existência
e
à
manutenção
das
organizações
do
tipo
clã.
Os
líderes
tradicionais
eficazes
intuitiva
ou
explicitamente
compreendem
a
importância
dos
rituais
e
os
promovem
ativamente
enquanto,
ao
mesmo
tempo,
os
moldam
aos
seus
propósitos.
107
3.
O
Líder
Tradicional
Eficaz
é
um
mentor.
As
burocracias
são
projetadas
e
estabelecidas
explicitamente
para
selecionarem,
reconhecerem
e
recompensarem,
se
não
cultivarem,
o
talento
individual.
Além
da
seleção
muito
cuidadosa,
as
organizações
tipo
clã
não
possuem
tais
mecanismos
específicos.
O
ambiente
intensivamente
orientado
pelos
pares
trata
os
funcionários
coletivamente
por
grupos
de
idade,
e
aqueles
grupos
de
idade
mais
avançada
tendem
a
não
diferenciar
aqueles
de
grupos
de
idade
mais
baixa.
Acredito
que
os
líderes
tradicionais
eficazes
de
certa
forma
contrabalançam
isto
ao
se
tornarem
mentores
dos
recém-‐chegados
mais
promissores,
enquanto
seguem
a
carreira
deles
mais
de
perto
do
que
as
dos
outros
(reconhecer
e
cultivar
o
talento
é
mais
importante
do
que
numa
burocracia,
em
que
há
mecanismos
mais
explícitos
para
separar
as
pessoas).
4.
O
Líder
Tradicional
Eficaz
percebe
para
onde
a
organização
caminha.
As
organizações
do
tipo
clã
não
mudam
da
mesma
maneira
que
os
outros
tipos
de
organizações.
Elas
tendem
a
ter
uma
considerável
inércia
cultural
com
a
qual
é
preciso
lidar
antes
que
qualquer
mudança
significativa
possa
ocorrer,
e
elas
tendem
a
resistir
a
apelos
diretos
por
mudanças
e
argumentos
lógicos
que
justifiquem
a
mudança.
É
raro
que
elas
respondam
a
iniciativas
individuais
por
mudança,
não
importa
a
condição
do
indivíduo
que
proponha
a
mudança.
Os
clãs
são
especialmente
resistentes
em
adotar
mudanças
que
partam
de
fora
da
organização.
Os
líderes
eficazes
das
organizações
tradicionais
compreendem
tal
inércia,
mas
também
compreendem
as
correntes
de
mudança
que
os
outros
não
percebem,
e
então
se
engajam
em
comportamentos
sutis
para
provocar
as
mudanças
que
consideram
importantes.
Eles
também
são
bons
em
adaptar
inovações
que
vêm
de
fora
da
organização
de
maneira
que
sejam
consistentes
com
as
práticas
internas.
O
líder
tradicional
eficaz
fica
mais
feliz
quando
consegue
que
a
mudança
aconteça
tão
transparentemente
que
ele
nem
receba
crédito
por
ela.
Assim,
o
líder
do
clã
sutilmente
guia
o
fluxo
de
informação
dentro
da
organização
para
reforçar
sua
cultura,
enquanto
que,
ao
mesmo
tempo,
cutuca
uma
organização
recalcitrante
na
direção
que
ele
acredita
que
ela
deva
ir.
Carisma:
A
Autoridade
Mais
Efêmera
Da
mesma
forma
que
os
outros
dois
tipos
de
autoridade
sobre
as
quais
já
falamos,
a
forma
organizacional
associada
com
as
organizações
carismáticas
parecem
surgir
da
natureza
da
autoridade
carismática.
Weber
definiu
carisma
como
algo
"baseado
na
devoção
à
específica
e
excepcional
santidade,
heroísmo
ou
caráter
exemplar
de
um
indivíduo,
e
aos
padrões
normativos
ou
ordens
reveladas
ou
ordenadas
por
ele"
(WEBER,
1947:329).
Note
aqui
que
a
autoridade
surge
sem
ambiguidades
a
partir
da
única
pessoa
que
inspira
devoção
inquestionável
por
parte
de
seus
seguidores,
e
quem,
sozinha,
é
a
responsável
pela
origem
de
quaisquer
"padrões
normativos
ou
ordens".
Tal
dependência
nos
dons
de
uma
pessoa
deixa
pouco
ou
nenhum
espaço
108
para
as
considerações
de
práticas
passadas
ou
tradições,
e
nem
para
argumento
racional
formal
e
exegese
que
possa
limitar
ou
contradizer
os
"padrões
normativos
ou
ordens
reveladas
ou
ordenadas"
pelo
líder
carismático.
Se
o
carisma,
claramente,
não
é
tradicional
e
nem
racional,
também
não
é
muito
claro
o
que
seja.
É
algo
de
alguma
forma
"excepcional"
ou
extraordinário
e
está
ligado
ao
caráter
ou
aos
atributos
de
uma
pessoa,
embora
Weber
não
defina
formalmente
o
que
constitui
tal
excepcionalidade
ou
quais
sejam
as
características
de
caráter
que
seriam
carismáticas.
Ele
parece
indicar
que
o
carisma
pode
ser
expresso
em
diferentes
esferas
de
atividades,
inclusive
a
artística,
a
religiosa,
a
militar,
e
também
a
política.
Também
não
há
muito
consenso
na
literatura
subsequente
sobre
a
natureza
do
carisma.
De
fato,
uma
crítica
recente
sobre
o
conceito
argumenta
que
o
carisma
é
um
construto
que
tem
pouca
utilidade,
porque
já
se
tornou
um
lugar
comum
de
qualquer
coisa
que
seja
relacionada
a
uma
pessoa
e
que
seja
digna
de
nota
ou
diferente.
Apesar
dessa
ambiguidade,
acredito
que
duas
características
gerais
identificam
as
pessoas
que
são
reconhecidas
como
carismáticas,
e
que
tais
características
influenciam
a
estrutura
e
o
funcionamento
das
unidades
sociais
criadas
(e
que
se
formam)
em
torno
de
líderes
(figuras)
carismáticos.
São
elas
a
visão
(única)
e
a
força
de
vontade.
O
carismático
propõe
uma
abordagem
única
e
diferente
para
uma
questão
que
é
considerada
importante
por
seus
seguidores
e
defende
(busca)
essa
visão
com
uma
tremenda
insistência
e
força
de
vontade.
Na
maioria
das
vezes,
a
particularidade
da
visão
do
carismático
não
é
uma
função
dos
atributos
racionais
ou
explícitos
de
sua
verdade,
mas
surge
a
partir
de
um
estilo,
de
uma
expressão
e
de
uma
perspectiva
únicas
que
entram
em
sintonia,
mas
que
não
são
facilmente
explicadas
ou
replicadas.
A
visão
do
líder
carismático
está
quase
sempre
interligada
com
sua
identidade
e
experiência
pessoal,
e
é
raro,
se
é
que
acontece,
que
surja
de
um
estudo
formal
ou
da
lógica.
M.
L.
King
e
Mahatma
Ghandi
pregaram
a
mensagem
da
libertação
da
opressão
que
claramente
surgiu
de
suas
experiências
pessoais
com
a
intolerância
e
a
discriminação.
Tanto
Norman
Schartzkopf
quanto
George
Patton
acreditavam
que
eram
divinamente
predestinados
a
comandar
nas
guerras
que
lutaram.
Henry
Ford
sentia,
desde
tenra
idade,
que
o
trabalho
de
sua
vida
era
o
de
melhorar
as
condições
de
vida
das
pessoas
comuns,
fornecendo-‐lhes
transporte
e
implementos
agrícolas
motorizados
baratos
e
confiáveis.
Na
maioria
das
vezes,
a
existência
de
tal
abordagem
ou
visão
se
traduz
em
sucesso
notável
como
comunicador.
Jesus
de
Nazaré
era
um
comunicador
tão
irresistível
que
houve
ocasião
em
que
seus
ouvintes
simplesmente
se
esqueceram
de
se
alimentar
até
o
pôr-‐do-‐sol.
Da
mesma
forma,
multidões
esperavam
o
dia
inteiro
para
ouvir
um
discurso
de
Adolf
Hitler,
e
os
filmes
de
seus
discursos
ainda
mesmerizam
mesmo
aqueles
que
não
sabem
falar
o
alemão.
Do
fundador
da
religião
Mormon,
Joseph
Smith,
dizia-‐se
que
deixava
seus
ouvintes
chorando
em
dado
momento
e
rindo
no
outro,
e
ele
conseguia
convencer
seus
mais
ferrenhos
inimigos
se
conseguisse
falar
com
eles
pessoalmente.
Os
sermões
televisivos
de
Jim
Baker
estimularam
contribuições
à
distância
de
milhões
de
dólares,
e
quando
ele
chorava
em
frente
às
câmeras,
isso
facilmente
dobrava
as
oferendas
do
dia.
O
que
essas
pessoas
também
têm
em
comum
é
uma
extraordinária
força
de
vontade,
109
coragem
e
confiança
que
vão
muito
além
do
que
normalmente
é
visto
na
população
em
geral.
Esse
atributo
normalmente
aparece
cedo
na
vida.
Steve
Jobs
fez
uma
campanha
bem-‐sucedida
junto
a
seus
pais
para
vender
a
casa
da
família
e
se
mudar
para
um
bairro
onde
ele
queria
frequentar
o
curso
secundário.
Jim
Baker,
o
tele-‐
evangelista,
uma
vez
persuadiu
seus
pais
a
pintar
a
casa
deles
de
roxo.
Quando
tinha
mais
ou
menos
12
anos
de
idade,
Jesus
deixou
sua
família,
que
estava
visitando
Jerusalém,
para
debater
teologia
com
os
anciãos
do
templo
judaico.
Um
de
seus
primeiros
atos
públicos
foi
o
de
destruir,
sozinho,
as
bancas
do
mesmo
templo
e
expulsar
os
vendedores.
Na
Primeira
Guerra
Mundial,
Hitler
recebeu
duas
condecorações
Cruz
de
Ferro,
sendo
uma
delas
por
capturar,
sozinho,
três
soldados
franceses.
Certa
vez
Steve
Jobs
conseguiu
os
serviços
do
maior
publicitário
de
Hollywood
porque
foi
ao
seu
escritório
sem
ser
anunciado
e
se
recusou
a
ir
embora.
Os
Líderes
Carismáticos
e
Seus
Discípulos
À
medida
que
a
figura
carismática
prega
sua
verdade,
as
pessoas
que
estão
desencantadas
com
as
soluções
racionais
ou
tradicionais
oferecidas
podem
responder
à
energia
e
à
certeza
expostas
pelo
novo
líder,
e
o
núcleo
de
um
movimento
carismático
é
assim
formado.
Esses
discípulos
não
são
tranquilos.
Os
líderes
carismáticos
geram
reações
extremadas
-‐
tanto
positivas
quanto
negativas
-‐
e
a
paixão
e
a
disposição
deles
implicam
pesadas
demandas
em
seus
seguidores.
Aqueles
que
ficam
no
movimento,
especialmente
no
início,
idolatram
o
líder
e
necessitam
da
atenção
e
da
aprovação
dele.
Por
seu
turno,
o
líder
gosta
da
atenção
e
da
adulação
e
passa
a
maior
parte
do
tempo
disponível
com
o
seu
grupo
de
discípulos
que
o
adoram.
A
discrição
ilimitada
do
líder
e
a
atração
dos
seguidores
levam
a
um
conjunto
de
fenômenos
característicos
se
o
movimento
crescer
e
começar
a
adquirir
recursos.
A
rejeição
(insistência
em
controle
pessoal)
pelo
líder
ao
controle
burocrático
ou
de
clã
significa
que,
no
final
das
cotas,
a
maioria
dos
detalhes
operacionais
da
organização
que
cresce
será
delegada
aos
membros
do
círculo
íntimo,
e
há
muito
pouca
esperança
de
que
exista
uma
supervisão
consistente
e
sistemática.
O
principal
critério
para
tal
delegação
é
a
proximidade
ou
a
quantidade
de
tempo
gasto
pelos
membros
em
interações
pessoais
entre
o
círculo
íntimo
e
o
líder.
Quando
a
organização
ou
movimento
é
pequeno,
o
líder
pode
se
dar
ao
luxo
de
verificar
pessoalmente
pelo
menos
um
subconjunto
das
verdadeiras
atividades
de
seus
seguidores,
mas
com
o
crescimento
ele
tem
que
depender
mais
e
mais
de
sua
impressão
geral
sobre
cada
seguidor.
Sem
dispor
do
benefício
dos
mecanismos
de
relato
burocráticos,
essas
impressões
são,
evidentemente,
sujeitas
a
três
fatores
além
de
qualquer
avaliação
válida
de
desempenho:
1.
Compatibilidade
do
subordinado
para
com
o
líder;
2.
o
grau
até
o
qual
o
subordinado
se
diferencia
dos
outros
ao
fazer
coisas
memoráveis;
3.
e
talvez
o
mais
importante,
a
quantidade
de
tempo
que
o
subordinado
passa
interagindo
pessoalmente
com
o
líder.
Esses
três
fatores
são
intrinsecamente
inter-‐relacionados.
Como
todas
as
outras
pessoas,
o
líder
prefere
passar
tempo
com
as
pessoas
de
que
ele
gosta,
e
a
ausência
de
uma
estrutura
burocrática
que
exija
um
contato
entre
diversos
membros
da
organização,
a
preferência
e
a
compatibilidade
superam
a
necessidade
funcional
ou
racional.
Como
George
Homans
observou
há
mais
de
50
anos,
nossa
tendência
é
a
de
110
desenvolver
afeição
pelas
pessoas
com
quem
passamos
nosso
tempo,
e
então
o
subordinado
que,
por
qualquer
que
seja
a
razão,
consiga
passar
tempo
com
o
líder,
terá
mais
possibilidades
de
conseguir
seus
favores
que
aquele
que
não
passa
esse
tempo.
A
única
alternativa
às
impressões
pessoais
do
líder
aparece
na
forma
de
comentários,
solicitados
ou
não,
de
subordinados
sobre
subordinados.
Entretanto,
como
veremos
a
seguir,
a
avaliação
feita
por
pares
dentro
de
um
movimento
carismático
não
é
tão
homogêneo
ou
útil
quanto,
por
exemplo,
aquela
feita
dentro
de
um
ambiente
de
clã.
O
efeito
líquido
descrito
da
maneira
de
avaliar
subordinados
é
criar
uma
enorme
competição
entre
os
subordinados
pela
atenção
do
líder.
A
natureza
do
carisma
torna
o
acesso
ao
líder
carismático
desejável
por
si
só,
mas
a
concentração
irrestrita
da
tomada
de
decisão
e
da
alocação
de
recursos
nas
mãos
de
uma
pessoa
torna
a
exposição
àquela
pessoa
desejável
por
razões
de
auto-‐interesse.
Colocado
de
maneira
bem
simples,
quanto
mais
tempo
se
passa
com
o
líder,
tanto
mais
influência,
poder
e
recursos
físicos
o
subordinado
conseguirá.
Entretanto,
o
tempo
do
líder
é
finito,
e
quanto
maior
for
a
organização,
maior
será
o
número
de
subordinados
buscando
acesso
ao
líder.
Assim,
os
subordinados
são
motivados
a
maximizar
o
tempo
que
passam
junto
ao
líder
enquanto
fazem
todo
o
possível
para
reduzir
a
credibilidade
de
outros
subordinados
e
o
tempo
que
passam
em
contato
pessoal
com
o
líder.
A
Organização
do
Carisma
Independentemente
de
suas
motivações
e
origens,
a
combinação
de
uma
visão
única
e
irresistível
somada
ao
absoluto
controle
(e
um
pequeno
círculo
íntimo
de
discípulos
competitivos)
leva
a
muitas
consequências
organizacionais
características.
A
autoridade
carismática
obtém
sucesso
ao
ultrapassar
o
modelo
de
dominância
por
torneios,
demorado
e
volátil,
encontrado
entre
os
primatas,
já
que
submete
todos
dentro
do
movimento
à
vontade
de
um
único
líder.
Entretanto,
esse
modelo
não
consegue
gerar
a
hierarquia
coordenada
passo
a
passo
de
uma
burocracia.
Nem
o
líder
nem
os
seus
seguidores
aceitam
a
colocação
do
comando
dentro
de
uma
cadeia
de
intermediários.
O
líder
não
aceita
uma
hierarquia
ordenada,
com
apelações,
pois
esta
dilui
o
controle
dele
e
diminui
a
sua
capacidade
de
intervir
direta
e
pessoalmente
na
execução
de
sua
visão.
Os
membros
do
círculo
íntimo
também
rejeitam
os
princípios
hierárquicos,
já
que
a
aderência
a
estes
também
diluiu
as
prerrogativas
tão
duramente
conquistadas
em
suas
batalhas
para
obter
tempo
na
presença
do
líder.
No
lugar
de
uma
hierarquia
passo
a
passo,
encontramos
uma
rede
social
semelhante
a
uma
roda,
na
qual
o
líder
é
o
centro
e
o
círculo
íntimo
é
o
aro.
Diferentemente
das
rodas
normais
(bicicleta
ou
carroça),
entretanto,
o
aro
da
roda
carismática
é
bastante
irregular,
já
que
o
comprimento
dos
raios
é
determinado
pela
quantidade
de
tempo
(e,
por
associação,
influência)
que
cada
membro
do
círculo
íntimo
passa
com
o
líder.
Os
membros
do
círculo
íntimo
podem,
por
seu
turno,
criar
seus
próprios
círculos
de
seguidores,
mas
esses
círculos
menores
são
muito
mais
fracos
e
menos
significativos,
já
que
os
membros
desses
círculos
periféricos
podem
ter
contato
direto
com
um
líder,
tornando-‐se
candidatos
ao
círculo
íntimo.
Eles
são
também
menos
significativos
por
não
haver
uma
força
carismática
e
irresistível
que
garanta
a
111
lealdade
desses
membros
dos
círculos
secundários
–
conscientemente,
os
líderes
carismáticos
nunca
escolhem
outros
líderes
carismáticos
como
subordinados
diretos.
Assim,
não
há
nenhum
mecanismo
formal
ou
informal
para
garantir
a
ordem
em
qualquer
grupo
secundário
sob
um
subordinado
direto,
e
a
espionagem,
a
delação
e
a
mudança
para
outro
grupo
de
subordinados
são
preocupações
importantes.
A
Divisão
do
Trabalho
Na
burocracia
há
uma
clara
divisão
do
trabalho,
em
descrições
formais
e
escritas
da
função.
Normalmente,
a
divisão
do
trabalho
apenas
muda
após
uma
cuidadosa
análise
das
necessidades
das
organizações,
e
então
as
pessoas
são
passadas
de
uma
função
a
outra
apenas
após
uma
cuidadosa
análise
de
suas
qualificações
e
de
como
elas
se
encaixam
nas
exigências
de
uma
dada
função.
Nas
organizações
do
tipo
clã,
as
posições
não
são
tão
diferenciadas
e
os
funcionários
migram
frequentemente
e
com
relativa
facilidade
de
uma
parte
da
organização
para
outra,
promovendo
um
grau
de
trocas
e
coesão
por
toda
a
organização.
O
domínio
sobre
a
organização
que
é
exercido
por
um
líder
carismático
não
implica
nem
a
cuidadosa
construção
de
uma
divisão
do
trabalho
racional
nem
a
facilidade
de
movimento
e
coordenação
entre
as
unidades
que
acontece
na
organização
do
tipo
clã.
A
distribuição
de
responsabilidades
segue
as
dinâmicas
do
relacionamento
entre
o
líder
e
seus
discípulos.
À
medida
que
o
discípulo
obtém
sucesso
em
cultivar
o
favor
do
líder,
ele
acumula
responsabilidades,
normalmente
à
custa
de
outro
subordinado
direto.
A
lógica
dessa
aquisição
não
é
a
do
agrupamento
relacionado
às
atividades
em
conjunto
ou
à
maximização
do
encaixe
entre
qualificações
pessoais
e
as
necessidades
da
função.
Na
verdade,
é
a
lógica
de
quem
está
mais
perto
do
líder
quando
certa
necessidade
surgir.
Controle
Social
Nas
organizações
burocráticas,
existem
regras
escritas
que
especificam
o
desempenho
desejado
e
proíbem
infrações,
além
de
uma
hierarquia
que
interpreta
e
faz
cumprir
as
regras
que
definem
os
comportamentos
aceitáveis.
Numa
organização
do
tipo
clã,
o
controle
social
é
assegurado
através
das
tradições
que
são
transmitidas
pela
socialização
e
que
são
cumpridas
através
da
pressão
dos
pares,
que
punem
com
o
ostracismo
coletivo
aqueles
que
se
desviam
da
conduta.
Na
ausência
de
tais
mecanismos,
as
organizações
carismáticas
não
conseguem
obter
o
mesmo
grau
de
controle
social
quanto
as
organizações
tipo
clã
ou
as
burocracias,
e
dessa
forma
elas
são
muito
mais
caóticas
e
muito
menos
ordenadas.
Entretanto,
elas
possuem
alguns
tipos
de
controle,
todos
emanados
do
líder,
de
uma
forma
ou
de
outra.
A
pessoa
e
a
visão
do
líder
fornecem
uma
direção
geral,
mas
sem
a
especificidade
de
regras
burocráticas
ou
a
estabilidade
e
sutileza
das
tradições
dos
clãs.
Os
seguidores
farão
o
máximo
possível
para
cumprirem
a
visão
do
líder,
mesmo
se
for
apenas
imitando
o
estilo
pessoal
dele
ou
tentando
adivinhar
o
que
ele
faria
numa
dada
situação.
A
tendência
do
líder
de
microgerenciar
e
a
ausência
de
mecanismos
que
restrinjam
a
interferência
dele
asseguram
que
pelo
menos
alguns
aspectos
da
visão
do
líder
serão
expressos
fielmente
em
alguns
projetos
ou
iniciativas.
A
competição
entre
os
discípulos
também
fornece
algum
grau
de
supervisão,
já
que
os
rivais
fazem
fofocas
ou
falam
sobre
seus
rivais
sempre
que
lhes
for
dada
uma
chance.
Essas
chances
são
limitadas,
porém,
pela
ausência
de
exigências
sistemáticas
de
relatórios
ou
de
112
normas
de
comportamento
testadas,
e,
acima
de
tudo,
pelo
poder
e
o
favoritismo
do
líder
e
as
limitações
inerentes
ao
controle
personalista.
Via
de
regra,
se
um
discípulo
for
favorecido
pelo
líder
e
mantiver
suas
operações
longe
do
olhar
de
seus
rivais,
ele
pode
basicamente
agir
como
quiser.
Em
relação
a
isso,
os
subordinados
diretos
do
carismático
não
são
diferentes
dos
lordes
feudais,
que
tinham
bastante
autonomia
dentro
de
seus
feudos
enquanto
se
mantivessem
nas
boas
graças
do
rei.
Seleção
e
Promoção
Na
burocracia,
a
seleção
e
a
promoção
são
feitas
por
meios
universalistas,
que
envolvem
uma
cuidadosa
especificação
formal
das
necessidades
da
função
e
uma
avaliação
das
qualificações
e
do
desempenho
dos
candidatos
à
função.
Nos
clãs,
a
seleção
inicial
é
baseada
no
potencial
percebido
do
candidato
e
seu
provável
encaixe
na
cultura
da
organização.
As
promoções
subsequentes
dependem
principalmente
da
idade,
sexo
e,
às
vezes,
de
critérios
ascritivos.
No
movimento
carismático,
o
recrutamento,
de
acordo
com
Weber,
é
uma
resposta
do
indivíduo
à
"chamada"
do
líder
carismático.
À
medida
que
um
líder
se
engaja
numa
encenação
provocante
que
chama
atenção
para
sua
visão
de
um
futuro
que
transcende
a
racionalidade
e
a
tradição,
alguns
subgrupos
e
sua
audiência
são
influenciados
positivamente
e
então
buscam
o
líder
ou
seus
seguidores.
Uma
vez
dentro
do
movimento,
se
este
subordinado
obtiver
sucesso
em
conseguir
a
atenção
e
os
favores
do
líder,
ele
será
promovido
na
proporção
de
seu
sucesso
em
neutralizar
os
rivais
e
em
aprofundar
seu
relacionamento
com
o
líder,
adquirindo
assim
responsabilidades
dependendo
das
necessidades
do
momento
e
das
tarefas
e
recursos
disponíveis.
Inclusão
Total
A
autoridade
legal
racional
necessita
de
uma
clara
distinção
entre
o
indivíduo
e
a
função.
Assim
como
são
proibidas
as
preferências
e
as
inclinações
egoístas,
as
habilidades
pessoais
que
não
se
encaixarem
às
necessidades
formais
da
função
ocupada
num
dado
momento
são
ignoradas,
não
importa
o
quanto
sejam
úteis.
Sob
a
autoridade
tradicional,
a
vida
pessoal
do
funcionário
está
intimamente
ligada
à
vida
coletiva
da
organização.
A
identidade
individual
reflete
os
valores
e
a
cultura
da
organização,
e
a
vida
social
do
indivíduo
não
se
distingue
da
vida
social
da
organização.
O
funcionário
deve
lealdade
absoluta
à
organização
e,
por
seu
turno,
a
organização
assume
um
compromisso
de
longo
prazo
para
com
o
funcionário,
se
não
para
a
vida
toda.
Na
organização
carismática,
o
membro
é
também
totalmente
incluído
na
organização,
mas
sua
lealdade
concentra-‐se
no
líder
e
não
na
organização.
Se
um
líder
for
embora,
assim
também
acontece
com
a
lealdade
do
membro.
O
exemplo
da
Alemanha
pode
ser
extremo,
mas
é
instrutivo.
Como
em
todos
os
países,
os
recrutas
do
exército
alemão
juravam
fidelidade
ao
país.
Após
Hitler
assumir
o
poder,
ele
mudou
o
juramento
de
fidelidade
à
Alemanha
para
fidelidade
pessoal
a
Hitler.
O
Subordinado
Direto
Eficaz
A
maneira
como
uma
pessoa
se
torna
um
líder
carismático
é
um
processo
de
certa
forma
misterioso,
que
parece
desafiar
a
instrução
sistemática.
A
frequência
de
líderes
carismáticos
que
são
bem-‐sucedidos
em
atrair
seguidores
também
parece
ser
113
perenemente
baixa.
Mais
que
isso,
diversos
autores
muito
capazes
tiveram
dificuldades
com
a
questão
de
como
os
líderes
carismáticos
adquirem
e
administram
seus
impérios
personalistas
(LINDHOLM).
Por
tais
razões,
não
tentarei
aqui
identificar
os
elementos
da
liderança
carismática
bem-‐sucedida.
O
que
parece
ser
muito
mais
prático
e
útil
aqui
é
identificar
as
táticas
dos
membros
bem-‐sucedidos
do
círculo
íntimo
do
líder
carismático.
Embora
os
líderes
carismáticos
sejam
conhecidos
por,
frequentemente,
atrair
subordinados
diretos
muito
talentosos,
a
sorte
desses
membros
do
círculo
íntimo
varia
tremendamente.
Alguns
parecem
fazer
contribuições
próprias
consideráveis,
enquanto
outros
não
conseguem
aguentar
a
pressão.
Embora
a
sorte
e
os
caprichos
do
líder
carismático
provavelmente
tenham
grande
influência
no
sucesso
de
seus
subordinados
diretos,
também
parece
haver
alguns
princípios
que
favorecem
alguns
subordinados
diretos
em
relação
a
outros:
1.
O
subordinado
direto
eficaz
busca
novidades.
Uma
das
poucas
maneiras
certeiras
de
conseguir
atrair
a
atenção
do
líder
carismático
e
ocupar
espaço
na
memória
dele
é
fazer
ou
apresentar
algo
novo.
Na
ausência
de
relatórios
escritos
e
de
avaliações
formais
para
avaliar
seus
subordinados,
o
líder
depende
de
suas
impressões
e
de
sua
memória,
sendo
que
ambos
são
não-‐sistemáticos
e
instáveis
e
também
suscetíveis
à
novidade,
especialmente
se
a
novidade
vai
de
encontro
aos
interesses
e
gostos
do
líder.
O
subordinado
direto
que
apresentar
ao
líder
uma
novidade
chamativa
não
só
será
lembrado
e
conseguirá
mais
interação
e
tempo
de
relacionamento
pessoal,
mas,
se
a
novidade
for
valiosa
como
um
novo
produto
ou
iniciativa,
ele
provavelmente
acabará
sendo
responsável
por
desenvolver
a
novidade,
o
que,
por
seu
turno,
aumentará
a
amplitude
de
sua
responsabilidade
e
a
quantidade
de
recursos
e
influência
dele.
2.
O
subordinado
direto
eficaz
sabe
escolher
a
fofoca.
A
fofoca
pode
ser
encontrada
em
todas
as
organizações,
é
claro,
mas
é
muito
mais
importante
para
o
destino
dos
membros
de
uma
organização
carismática
do
que
para
as
burocracias
ou
para
os
clãs.
A
inclusão
parcial
das
burocracias
limita
à
utilidade
da
fofoca
para
autopromoção
ou
para
atacar
os
rivais
e,
nos
clãs,
a
comunicação
é
tão
generalizada
que
a
fofoca
tende
a
ser
mais
perigosa
para
a
pessoa
que
a
faz
do
que
para
a
vítima.
Porém,
esses
controles
não
existem
nas
organizações
carismáticas,
e
a
competição
e
a
rivalidade
entre
os
membros
do
círculo
íntimo
significa
que
essa
é
uma
das
poucas
maneiras
de
se
descobrir
o
que
está
acontecendo
com
o
que
não
esteja
diretamente
ligado
ao
seu
grupo
de
trabalho.
Como
a
fofoca
dentro
de
uma
organização
carismática
normalmente
não
é
desinteressada,
o
bom
ouvido
para
a
fofoca
também
deve
incluir
o
dom
de
detectar
mentiras
e
a
intenção
não
óbvia
de
quem
faz
a
fofoca,
assim
como
também
para
prever
qual
será
a
reação
do
líder
carismático.
3.
O
subordinado
direto
eficaz
cultiva
visibilidade,
mas
também
sabe
como
e
quando
se
esconder.
Como
mencionado
no
item
1,
na
ausência
de
padrões
escritos
ou
consenso
sobre
os
comportamentos
aceitáveis,
a
exposição
ao
líder
carismático
e
a
gestão
bem-‐sucedida
de
imagem
114
são
importantes
para
o
subordinado
direto.
A
exposição
e
a
gestão
da
imagem
se
beneficiam
do
fazer
coisas
que
são
geralmente
bem
disseminadas
e
visíveis,
para
que
elas
cheguem
aos
ouvidos
do
líder
carismático.
Ao
mesmo
tempo,
quanto
mais
visíveis
forem
as
ações
do
subordinado
direto
tanto
mais
estará
ele
sujeito
ao
escrutínio,
e
mais
perigoso
será
que
suas
ações
gerem
fofocas.
O
subordinado
direto
bem-‐sucedido,
portanto,
caminha
numa
corda
bamba
entre
disseminar
seus
sucessos
e
iniciativas
e
dar
aos
rivais
material
para
fofoca
ou
alertá-‐los
para
a
melhoria
de
sua
posição.
Ele
também
caminha
numa
corda
bamba
entre
minar
ou
se
opor
aos
programas
dos
rivais
que
estão
levando
a
cabo
projetos
favorecidos
pelo
líder
e
apoiar
programas
que
aumentarão
a
estatura
de
seus
rivais
e
diminuirão
a
sua
própria.
4.
O
subordinado
direto
eficaz
sabe
como
dizer
"Não
vejo
por
que
não".
Na
burocracia
os
funcionários
normalmente
ocupam
posições
especializadas
com
claras
descrições
sobre
suas
funções
e
acesso
aos
superiores,
assim
como
um
sistema
de
apelação
que
assume
a
responsabilidade
pelas
questões
difíceis.
No
clã,
a
generalização
e
a
rotatividade
significam
que
um
grande
número
de
pessoas
em
toda
a
organização
tem
experiência
e
conhece
os
detalhes
operacionais
das
funções
da
maioria
dos
funcionários
a
cada
dado
momento.
Na
organização
carismática,
o
subordinado
direto
bem-‐sucedido
adquire
diversas
responsabilidades,
frequentemente,
a
partir
de
rivais
que
não
têm
muita
propensão
para
ensinar
aqueles
que
os
substituem.
A
capacidade
e
a
disposição
dos
subordinados
diretos
de
aceitar
lidar
com
um
portfólio
variado
de
funções
que,
às
vezes,
não
são
relacionadas
pode
ser
muito
importante
para
determinar
sua
posição
relativa
dentro
do
círculo
íntimo.
Aqueles
que
conseguem,
como
Albert
Speer
no
gabinete
de
Hitler,
obter
sucesso
ao
desempenhar
diversas
funções
simultaneamente
possuem
uma
poderosa
vantagem
sobre
seus
colegas
que
não
conseguem
agir
assim.
Resumindo
A
autoridade
não
é,
obviamente,
a
única
força
que
impacta
o
exercício
da
liderança
nas
organizações.
A
ética
da
cultura
ambiente
e
dos
indivíduos
dentro
de
uma
organização
pode
variar
tremendamente
dentro
dos
tipos
de
autoridade,
influenciando
profundamente
o
comportamento
dos
líderes
e
dos
seguidores.
A
qualidade
intelectual
dos
recursos
humanos,
o
grau
de
intensidade
do
capital,
a
presença
de
ameaça
ou
volatilidade
externa,
a
sofisticação
da
tecnologia
empregada,
o
sistema
político
e
regulatório
e
outros
fatores
exercem
seus
papéis
para
contribuir
para
a
cultura
única
da
organização,
a
configuração
de
suas
redes
sociais
e
estratégias,
e
as
táticas
e
estilos
pessoais
que
caracterizam
aqueles
que
exercem
influência
formal
e
informal.
Ainda
assim,
acredito
que
as
organizações
não
existem
por
longos
períodos
de
tempo
sem
o
exercício
de
algum
tipo
de
autoridade,
e
nem
os
líderes
conseguem
atrair
e
influenciar
seguidores
sem
recorrerem
à
autoridade.
Este
artigo
foi
um
esforço
preliminar
para
enfrentar
esse
fato
de
frente.
Ele
terá
cumprido
seu
propósito
se
provocar
outras
pessoas
a
refletir
mais
sobre
o
papel
da
autoridade
115
no
exercício
da
liderança.
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