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Internacional Pós-Colonialismo,
Pensamento Descolonial e Direitos
Humanos na América Latina
25 e 26 de abril de 2017 – Unisinos, São Leopoldo, RS, Brasil
ISBN 978-85-67270-53-1
CDD: 340
II SEMINÁRIO INTERNACIONAL PÓS-
COLONIALISMO, PENSAMENTO
DESCOLONIAL E DIREITOS HUMANOS
NA AMÉRICA LATINA
Referências:
CURIEL, Ochy. 2007. “La Crítica Poscolonial desde las Prácticas Políticas del Feminismo
Antirracista”, en Colonialidad y Biopolítica en América Latina, Revista NOMADAS. No.
26, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos-Universidad Central, Bogotá, 2007.
Equipe organizadora: Fernanda Frizzo Bragato, Alex Sandro da Silveira Filho, Ana
Carolina Voges de Campos, Aline Andrighetto, Bianka Adamatti, Bruna da Silva
Marques, Helena Kugel Lazzarin, Jaqueline Deuner, Luciana Rabello Justin, Karina
Macedo Fernandes, Marina de Almeida Rosa, Paulo Victor da Silva Schröeder, Pedro
Bigolin Neto.
25/04/2017 (terça-feira)
Horário/Local Atividade Descrição
08h Credenciamento Credenciamento no local do evento
Anfiteatro Pe.Werner
08h30min Cerimônia de abertura
Anfiteatro Pe. Werner
09h Coferência: Oscar Eduardo Guardiola Rivera Oscar Eduardo Guardiola Rivera: The People Are
Anfiteatro Pe.Werner Missing (La gente ha desaparecido)
Moderador: Alfredo Santiago Culleton
10h MESA REDONDA 1: Olhares descoloniais sobre a Élida Lauris: “Novo Constitucionalismo e
Anfiteatro Pe.Werner política e o constitucionalismo na América Latina expansão política do conservadorismo: papel e
importância da vigilância crítica decolonial”
Cesar Ross (USACH): "El Golpe de Estado en Chile
(1973) y la política de la indiferencia: El caso de
Japón.”.
Antonio Carlos Wolkmer (UFSC/Unilasalle):
"Para um Constitucionalismo Latino-americano:
desde um olhar pluralista e descolonial."
Moderador: Enzo Bello
13h Almoço Intervalo para almoço
UNISINOS
14h GT Grupos de Trabalhos (ver abaixo)
UNISINOS
17h Coffee Break
Anfiteatro Pe. Werner
18h MESA REDONDA 2: Direitos humanos, diversidade e Jean-Bosco Kakozi: "Ubuntu, o privilégio branco e
Anfiteatro Pe. Werner pensamento decolonial a problemática da inclusão-exclusão em nossa
América".
Karina Bidaseca: "Feminismo Descolonial”
Jocelyn Getgen Kestenbaum: "Las dimensiones de
género en el genocídio”
Roger Raupp Rios: "Antidiscriminação, diferença e
descolonialidade
Debatedora: Mariam Steffen Vieira
26/04/2017 (quarta-feira)
Horário/Local Atividade Descrição
09h MESA REDONDA 3: Reflexões teóricas sobre pós- Thula Rafaela de Oliveira Pires: "Por uma
Anfiteatro Pe.Werner colonialismo e descolonialidade concepção amefricana de direitos humanos"
Eduardo Devés Valdés: "Una teoría de la
circulación para pensar desde el Sur"
J. M. Barreto: Lo que significa descolonizar los
derechos humanos?
Debatedora: Rosa Maria Zaia Borges
12h Almoço Intervalo para almoço
Almoço
13h30min MESA REDONDA 4: Direito humanos dos povos e das Raquel Yrigoyen Fajardo: "Nações originárias,
Anfiteatro Pe.Werner comunidades tradicionais descolonização e Estado plurinacional no contexto
do bicentenário da fundação dos Estados na
América Latina”
Gersen Baniwa: "Saberes indígenas ainda em
busca de espaço entre as novas epistemes"
Priscila P. Godoy: "O Povo Cigano: racismo e a
emergência de um pensamento descolonial”
Moderador: Paulo C. Leivas
16h30min Coffee Break
Anfiteatro Pe.Werner
17h GT Grupos de Trabalhos (ver abaixo)
Auditório Maurício Berni
20h Plenária Plenária para diálogos de fechamento e
Anfiteatro Pe.Werner encaminhamentos para o futuro
21h Festa de encerramento na Rua Amadeu Rossi nº
Festa de Encerramento 350, em São Leopoldo.
Entrada gratuita para inscritos no evento.
PALESTRANTES
Formado em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS, 1977).
Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela UNISINOS (1980). Mestre em
Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 1983) e Doutor
em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 1992). Professor Titular
Aposentado no Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) e Docente Permanente no Programa de Pós-Graduação em Direito e
Sociedade do UNILASALLE-RS.
Enzo Bello
Professora na Bejamin N. Cardozo School of Law, onde atua no “Cardozo Law Institute
in Holocaust and Human Rights & Human Rights and Atrocity Clinic, na cidade de
Nova York, nos EUA, desde agosto de 2013.
José-Manuel Barreto
Graduação em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1993), mestrado
em Direito (2000) e doutorado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (2004). Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 4 Região. Professor
do Centro Universitário Ritter dos Reis, no Mestrado Stricto Sensu (Direitos Humanos)
e na Graduação.
Rosa Maria Zaia Borges possui graduação em Direito pela Universidade Federal de
Uberlândia (1997), mestrado em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(2001) e doutorado em Filosofia do Direito pela Universidade de São Paulo (2009).
Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal do Pampa, atuando nos
cursos de Direito e Relações Internacionais.
Em “Pele negra, máscaras brancas”, Frantz Fanon finaliza seu livro com o que ele mesmo
denomina de última prece: “Ô meu corpo, faça sempre de mim um homem que questiona!”
(FANON, 2008, p. 191). A afirmação é emblemática da elaboração de uma corpo-política cujo
reconhecimento da indissociabilidade entre corpus e corpo parece fundamental a uma
epistemologia de fronteira, uma em que as marcas da historicidade se tornam a própria
condição de possibilidade de um lugar de enunciação. Ali o gesto de recusa à racialização de
si operada pelos mecanismos de poder colonial inaugura um percurso teórico no qual a
marca ontológica de inferiorização é um dos elementos centrais de uma crítica contundente
aos saberes/poderes constituídos. A existência corporal ex-cêntrica dos “condenados da
terra”, sua localização para fora dos territórios simbolicamente instituídos, retorna e, ao fazê-
lo, revela sua força, sua potência para deslocar a ilusão do uno, as arbitrariedades de seus
limites e suas tentativas de impor domínio simbólico sobre o outro como exterioridade. Nesse
diapasão, Gloria Anzaldúa, em “Borderlands/La frontera: the new mestiza”, diz: “A veces
no soy nada ni nadie. Pero hasta cuando no lo soy, lo soy” (ANZALDÚA, 1987, p. 85). Não
sendo também se é (ou se pode sê-lo), e o existir pelo não-ser significa ameaçar as estruturas
de poder constituídas, tornando possível um constante redimensionamento das relações de
identidade e de diferença no interior das relações culturais, linguísticas e raciais. Essa
“cumplicidade subversiva” (GROSFOGUEL, 2012) para com as normas de inteligibilidade
pelas quais o sujeito se constitui é o que permite o delineamento de um pensamento de
fronteira em Anzaldúa como modo de resistência à negação ontológica segundo os próprios
elementos que orquestram a opressão, desestruturando-os e produzindo entrecruzamentos
de tensão e de conflito. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo refletir sobre as
alternativas epistemológicas abertas pelos dois pensadores da fronteira, destacando os
elementos de seus pensamentos que permitam entrever, no entrecruzamento entre corpus e
corpo, saberes e fazeres fronteiriços com os quais se operam deslocamentos a respeito das
compreensões correntes sobre os lugares de enunciação.
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O APAGAMENTO SOCIAL DAS MULHERES LÉSBICAS: ESTIGMAS,
LUTA E RESISTÊNCIA
18
ESTUDOS EMPÍRICOS SOBRE DISCURSO, RACISMO E SEXISMO
EPISTÊMICO: AS CONTRIBUIÇÕES DE BOURDIEU E GROSFOGUEL
PARA COMPREENSÃO DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
JURÍDICO
19
RACIALIZANDO ABORDAGENS PEDAGÓGICAS: POLÍTICA DE
SALA DE AULA E PRÁXIS DESCOLONIAL
Andréa Gill
20
O REBAIXAMENTO DO GÊNERO FEMININO NAS
UNIVERSIDADES
Desde os tempos bíblicos, as relações entre homens e mulheres são relações de poder,
caracterizadas pela desigualdade que afeta de maneira desproporcional as mulheres.
Nesse sentido, sabe-se que a base conceitual de todo conhecimento ocidentalizado
transmitido nas universidades possui uma estrutura sexista. Portanto, conhecimentos
produzidos à época, pelo gênero feminino, foram exterminados. Embora o
universalismo ainda domine as estruturas da epistemologia ocidental, já existe um
processo de decolonização em andamento, porém com avanços que poderiam ser mais
significativos. Nesse ínterim, as universidades, como espaços públicos de construção de
conhecimento, não poderiam se esquivar das latentes e explícitas opressões de gênero
que ocorrem com frequência. O que se percebe, é que ainda existe espaço para a
discriminação quanto ao gênero feminino, apologias à violência, e ao rebaixamento das
mulheres, que são aceitos como parte de um cotidiano para alguns, e é tratado como
piada, algo engraçado, de forma contínua. Nesse sentido, verifica-se que a própria
universidade é o ambiente onde se propaga uma violência simbólica que naturaliza esses
tipos de comportamentos. Não bastasse o fato de terem sido historicamente vítimas de
violência, modernamente, as agressões, em grande medida, ocorrem não somente no
âmbito físico, mas também, no ambiente acadêmico. As normas de gênero costumam
aparecer numa versão nua e crua da pedagogia do insulto e da desumanização.
Estudantes, professores/as funcionários/as identificados como “não-heterossexuais”
costumam ser degradados à condição de “menos humanos”, como era na época da
colonização. O objetivo da pesquisa é apresentar similaridades e diferenças entre o
período de colonização, que constitui a base teórica das ciências humanas nas
universidades ocidentais dos dias de hoje, e como esse processo ocasionou o
rebaixamento do gênero feminino na produção de conhecimento, até os dias de hoje nas
universidades, onde se prega a decolonização de conhecimentos. Para realizar a
pesquisa foi feita uma análise crítica descritiva, com base em levantamento bibliográfico.
Ao final, espera-se uma reflexão quanto as reiteradas ações de cunho colonial de
rebaixamento do gênero feminino, e a busca pela mudança deste cenário sexista.
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POR UMA ARQUITETURA DECOLONIAL: O CURSO DA UNILA E
A INTEGRAÇÃO PELA HABITAÇÃO SOCIAL, JUSTIÇA
AMBIENTAL E DIREITOS HUMANOS
Andréia Moassab
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RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E AMBIENTE ESCOLAR:
IMPLICAÇÕES DA LEI 11.645/08 NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES
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COLONIALIDADE E A INVISIBILIZAÇÃO DE SABERES:
EXPERIENCIAS COM INDIGENAS EM UMA UNIVERSIDADE
PÚBLICA
Iclícia Viana
Felipe Tonial
Esta proposta faz parte de uma pesquisa mais ampla e tem como objetivo problematizar
a experiência de indígenas no ensino superior. A colonialidade, definida como um
padrão de poder que opera pela construção de imaginários que naturalizam hierarquias
(culturais, raciais, de gênero, epistêmicas) e que tem como referência os saberes e o modo
de vida moderno, tem sido reproduzida nas universidades brasileiras, invisibilizando as
experiências, percepções e modos de vida daqueles/as que são considerados/as
inferiores de uma perspectiva moderno eurocentrada. Os Povos Indígenas encarnam um
destes grupos minoritários que lutam diariamente para serem reconhecidos, inclusive
em suas epistemes. Com as Políticas de Ação Afirmativa e a Lei de Cotas (Lei Nº
12.711/2012), a inserção de indígenas em cursos de graduação tornouse uma política em
resposta a luta dos movimentos sociais e em resposta a acordos e pressões internacionais.
Segundo levantamento do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INEP), em 2015 eram
20.030 indígenas em Instituições de Ensino Superior (IES), sendo aproximadamente
7.000 em IES públicas. Identificaram-se duas principais demandas que influenciaram na
busca por formação universitária entre indígenas: primeiramente, diante da
ressignificação de escolas dentro das Terras Indígenas, surge a necessidade de formação
de professores para atuarem num viés educacional intercultural, bilíngue e diferenciado.
Mais tarde, com a intensa mobilização política e indigenista no país, os/as indígenas
passam a adentrar cada vez mais espaços políticos de disputa e assumir cargos e
lideranças em organizações governamentais e não governamentais. Assim, a formação
em nível superior se torna um instrumento de luta, que capacita para compreensão
dossaberes que orientam as ações do Estado, especialmente diante do desafio de
resistênci territorial legitimada pela Constituição de 1988. Neste cenário, essas/es
estudantes re-existem produzindo fissuras neste meio historicamente branco, fissuras
decoloniais ou de descolonização, pois são também agentes de novas possibilidades de
diálogos interculturais. Assim, propomos um espaço de reflexão que discuta diferentes
perspectivas e contribuições quando pensamos em resistir à colonialidade e seus efeitos
a partir da experiência desses atores no contexto universitário. Como metodologia
usamos da ideia de campo tema, definida pela perspectiva da psicologia social crítica.
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DIREITO, CIÊNCIA E RACISMO: POR UMA EPISTEMOLOGIA DO
SUL
O cientista torna-se uma espécie de oráculo da Modernidade, sua palavra possui força
de lei. A grande maioria dos cientistas do século XVIII e XIX defende algum tipo de
racismo científico. Médicos, químicos, físicos, matemáticos, astrônomos, naturalistas,
como Lavoisier, Fourcroy, Chaptal e Berthollet, Condorcet, Laplace, Saint-Hilaire,
Lamarck, Cuvier, Lacépéde, Bailly, Lalande, Delambre, Borda e Coulomb, todos
assumiram postos políticos e administrativos no período pós-revolucionário. A
modernidade não teria sido construída sem a participação desses homens da ciência. A
tarefa da modernidade era organizar cientificamente a humanidade, tendo como modelo
o homem europeu, cartesiano, iluminista, branco, cientista. Para Buffon – químico,
geólogo, o mais famoso naturalista francês do século XVIII – a mais bela raça da
humanidade encontra-se na Europa. Em 1780, Caspar Lavater apresentou a teoria
fisiognomista, segundo a qual as qualidades do indivíduo podem ser conhecidas pela
fisionomia. A pele escura era sinal do temperamento pervertido e a branca, de nobreza
de caráter. Da mesma forma, o médico austríaco naturalizado francês Franz Josef Gall,
que no início do século XIX criticou a fisiognomia, defendendo a importância da caixa
craniana, pois pelo volume e formato desta, podia explicar e classificar a humanidade.
Willem Vrolik utilizou a mensuração da pelve, para conhecer a superioridade ou
inferioridade racial. Todos esses modelos científicos concluíam a superioridade do
homem branco europeu. Os cientistas, ao lado do missionário, do padre, do militar e do
homem de negócios, tornam-se marqueteiros da expansão ocidental. O pensamento
jurídico moderno tomou caráter de ciência e obedeceu a mesma lógica e racionalidade
instrumental de expansão e consolidação do projeto colonizador, de exploração,
subalternidade e exclusão, formando juristas que reproduzissem os interesses e modelos
da metrópole, das cortes, dos escravagistas, por fim, dos banqueiros e das oligarquias
agrárias e políticas, o que na atualidade pode-se chamar de agronegócio e capital
financeiro. O pensamento jurídico vigente alinha-se à manutenção do colonialismo
interno e das estruturas de colonialidade do ser, do poder e do saber. A pesquisa baseia-
se em fontes bibliográficas, aporte teórico nas teorias decolonialistas, e como objetivos
pensar o Direito nesse processo.
25
SOCIOLOGIA EM “MANGAS DE CAMISAS”: REPRESENTAÇÃO
DO NEGRO BRASILEIRO NOS LIVROS DIDÁTICOS
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LA POLÍTICA DESCOLONIZADORA EN
UBUNTU, EL RACISMO Y LA
DESCOLONIZACIÓN DEL GÉNERO EN ÁFRICA
Y EN SUS DIÁSPORAS
A LITERATURA DE CHINUA ACHEBE COMO FERRAMENTA
PARA A COMPREENSÃO O PROCESSO COLONIAL NA NIGÉRIA
(ÁFRICA OCIDENTAL, SÉCULOS XIX E XX)
Claudia Mortari
Katarina Kristie Martins Lopes Gabilan
Esta comunicação oral tem como objetivo apresentar algumas das ideias discutidas
durante os dois anos da pesquisa “’Modos de Ser, Ver e Viver’: o mundo Igbo a partir
da escrita de Chinua Achebe (África Ocidental, século XX)”, orientada pela Professora
Cláudia Mortari, coordenadora do AYA - Laboratório de estudos Pós-coloniais e
Decoloniais na Universidade do Estado de Santa Catarina. Tal pesquisa se propõe, a
partir de três livros de literatura do escritor nigeriano: “Things Fall Apart/O Mundo se
Despedaça (1959)”, “No Longer At Ease/A paz dura pouco (1960)” e “Arrow Of God/A
flecha de deus (1964)”, compreender o processo de colonização da Nigéria a partir do
lugar de fala de um homem Igbo, e não dos colonizadores ingleses. As reflexões para
esta apresentação giram em torno da discussão da relação entre história e literatura para
a compreensão de processos históricos, em especial o papel da literatura africana
enquanto arcabouço a permitir olhar para as Áfricas a partir de uma perspectiva
endógena ao continente, percebendo que a escrita de Achebe possibilita a compreensão
de processos históricos ocorridos no contexto nigeriano do final do século XIX e ao longo
do XX. Para esta proposta analítica, utilizamos a própria perspectiva do autor a fim de
pensar a contribuição de sua escrita literária articulada com a ideia de “equilíbrio das
histórias” – termo cunhado por Chinua Achebe em suas entrevistas que foram
traduzidas e utilizadas também como fonte. Com isso, o autor quer dizer que todos
temos o direito de contar nossa própria história a partir de nossa vivência,
negligenciando a herança colonial de uma história única - a partir do ponto de vista
europeu. Dessa forma, com a proposta da pesquisa de olhar diretamente para a
literatura, é possível identificar não apenas a perspectiva direta de um sujeito da história,
como também a forma como o mesmo representa sua perspectiva. Isso se deve ao fato
da pesquisa pensar uma lógica de reflexão que se desloque da lógica da colonialidade e
se propor estabelecer uma relação com a literatura, portanto, estudá-la e conhecê-la a
partir das próprias categorias de Achebe.
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A ESCRITA DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHE COMO
CONHECIMENTO E LUTA CONTRA A COLONIALIDADE:
EXPERIÊNCIAS HISTÓRICAS DE MULHERES AFRICANAS
(NIGÉRIA, SÉCULO XX)
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AQUILO QUE UM HOMEM NÃO SABE É MAIOR DO QUE ELE: A
ESCRITA DE ACHEBE COMO CONHECIMENTO E LUTA CONTRA
A COLONIALIDADE
Essa comunicação tem como objetivo apontar algumas evidências acerca da percepção
do escritor nigeriano Chinua Achebe (1930-2013) em relação ao contato dos sujeitos igbos
e o colonizador britânico a partir de questões presentes em sua escrita literária, em
especial na obra Things Fall Apart/O Mundo se Despedaça (1958). Entendemos a
literatura filosófica africana como um conjunto de textos e percebemos a obra literária
enquanto testemunho histórico e de conhecimento que, devidamente problematizadas e
analisadas, possibilitam acessar indícios acerca da visão que o escritor possuía, incutindo
em suas personagens representações em relação ao homem branco em contato com os
costumes e tradições da sociedade igbo e das implicações do projeto colonial britânico
na Nigéria. Os estudos decoloniais são também um “espaço enunciativo” e Achebe, pela
sua trajetória, traz seu testemunho em suas obras. Em uma de suas entrevistas, o autor
explica que entre a Europa e a África se mantêm basicamente a mesma relação de
paternalismo do período colonial, resultando na criação de um imaginário irreal e
provocando a invisibilidade de histórias e experiências locais. É de vital importância a
problematização da produção de conhecimento alicerçada na perspectiva
eurocêntrica/colonial/moderna buscando equilibrar as histórias e trajetórias de grupos
subalternizados pelo colonialismo nas Américas e nas Áfricas. Esta é uma reflexão inicial
realizada a partir das atividades vinculadas ao projeto de pesquisa intitulado “Modos
de ser, ver e viver: o mundo igbo a partir da escrita de Chinua Achebe (África Ocidental,
século XX)”, desenvolvido no decorrer do segundo semestre de 2016. Assim, tentamos
compreender e acessar a visão de Achebe perante o processo de colonização britânica na
Nigéria, percebendo em suas obras a possibilidade de se evidenciar elementos da cultura
e tradição africana em contato com o colonizador durante o processo de colonização e a
percepção dos próprios africanos do que significou esse violento processo.
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JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO E UBUNTU: A ACEITAÇÃO DE
ELEMENTOS TRADICIONAIS, INDÍGENAS E RELIGIOSOS COMO
MEIO DE SUPERAÇÃO
O presente artigo objetiva empreender uma análise dos Princípios de Chicago a partir
do princípio que reza sobre a necessidade de que os Estados devem apoiar e respeitar as
abordagens tradicionais, indígenas e religiosas relativas às violações passadas, a partir
desta questão principiológica, objetivou-se analisar as aplicações destas abordagens já
realizadas nos processos de justiça transicional. Assim, estabeleceu-se uma busca dos
mecanismos de justiça pós-conflito implementados ao redor do mundo na tentativa de
localizar a existência destas abordagens, passando pelas transições realizadas nas
Américas, com maior ênfase da sua parte latina, até as transições empreendidas na África
e na Ásia, sendo que se passa ao estudo específico da experiência sul-africana e a
utilização do elemento tradicional-religioso do ubuntu, filosofia que prega uma ideia
ética, humanista e humanitária, de respeito e valorização dos elementos tradicionais de
religiosidade comunitária e interelação, para o desenvolvimento de práticas públicas de
fraternidade, comunhão e reconciliação, que influenciam na religião, na política e nas
condutas sociais, como prática adotada para a promoção do perdão e de superação das
violências e violações no regime do Apartheid. O artigo promove a análise deste
princípio utilizando do método de abordagem indutivo, pelo uso do procedimento
comparativo e de uma pesquisa bibliográfica, para conectar tais ideias às abordagens
tradições destas populações, demonstrando a importância de suas interações nestes
processos de transição.
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O QUE A LUTA DAS MULHERES NEGRAS NA AMÉRICA LATINA
E CARIBE NOS ENSINA SOBRE DEMOCRACIA?
O objetivo deste trabalho é discutir como nós, mulheres negras, temos desafiado os
conceitos de democracia, a partir da ideia de ubunto. Como “democracia” é um termo
que se refere tanto a uma forma de governo quanto a um imaginário de sociedade ideal,
ele encontra-se em disputa por diferentes correntes teóricas (MIGUEL, 2005). A
participativa, uma das mais radicais, defende a democracia como uma sociedade
baseada no respeito tanto da igualdade quanto da diferença, no qual a política se dê de
baixo para cima, ou seja, de forma participativa (PATEMAN, 1992 [1970];
MACPHERSON, 1978 [1977]). Contudo, nossa organização nos movimentos sociais tem
ido além desta definição. A partir do conceito de ubunto e da prática de nossas lutas
concretas, temos pensado democracia para além de uma forma de governo, e sim como
a resistência dos grupos subalternos, em conexão com o outro e com a natureza.
Portanto, este trabalho consiste na análise do conteúdo produzido pelos movimentos de
mulheres negras. Segue-se, assim, as críticas decoloniais e feministas ao estudo europeus
e norte-americanos dos movimentos sociais, que têm focado em mobilização de recursos,
estruturas de oportunidades e identidades coletivas, mas esquecido de analisar o
conteúdo dos grupos (ESCOBAR, 2010; QUIJANO, 2014; PERRY. 2016). Assim, os
movimentos sociais são entendidos aqui como agentes do saber e se pretende, portanto,
um diálogo/reflexão compartilhada entre a produção deles sobre democracia e a
universitária (WALSH e GARCIA, 2002). Metodologicamente, o trabalho consiste no
mapeamento de movimentos de mulheres negras latino-americanas e caribenhas e na
análise de documentos produzidos por eles sobre a temática abordada.
32
CONSTITUCIONALISMO CRÍTICO LATINO
AMERICANO
EL DISCURSO ANTICOLONIAL ESTRATEGIA DEL
COLONIALISMO INTERNO - EL CASO BOLIVIANO
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POR UM CONSTITUCIONALISMO AMEFRICANO:
CONSIDERAÇÕES EPISTEMOLÓGICAS SOBRE O “LUGAR DO
NEGRO” NO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
Nos últimos anos tem sido rediscutido o papel desempenhado pelas novas Constituições
elaboradas após o processo de redemocratização dos países latino-americanos. A
mobilização social tem levado ao reconhecimento de novos sujeitos coletivos, bem como
o pluralismo jurídico como fator essencial para a democracia. Diante deste contexto,
surge o questionamento da epistemologia eurocêntrica e colonial que marca a história
constitucional da América Latina. Esse movimento pressupõe a necessidade de serem
mobilizados novos conceitos e categorias que possibilitem apreender as especificidades
que conformam a produção jurídica das populações que contribuíram para a formação
dos Estados-nação latinoamericanas. Neste sentido, o presente trabalho discute, a partir
do referencial teórico elaborado por Lélia Gonzalez, e propõe outra chave de análise para
pensar o “lugar de negro” no Constitucionalismo latino-americano. Diante da
reprodução da subalternidade dos povos negros (afrobolivianos, afroequatorianos) nos
recentes processos constituintes, a proposta dialoga com a noção de colonialidade do
poder elaborado por Aníbal Quijano, de racismo epistêmico proposto por Ramón
Grosfoguel e do giro descolonial proposto por MaldonadoTorres. O objetivo do trabalho
é apresentar algumas considerações sobre a produção de normas constitucionais
voltadas às populações afro-latinas a partir do conceito de amefricanidade elaborado por
Lélia Gonzalez. O trabalho apresenta uma análise contextualizada das normas
constitucionais voltadas às populações afro-latinas presentes nas Constituições do Brasil
e Colômbia (representantes da primeira fase do constitucionalismo pluralista), e
Equador e Bolívia (representando a fase do constitucionalismo plurinacional). A
metodologia consiste em uma análise de documentos pautados em uma proposta
interdisciplinar. Nosso intuito é apresentar uma contribuição para ampliar o debate
sobre os direitos conquistados pelas populações afro-latinas desde uma perspectiva
descolonial.
35
AS POTENCIALIDADES DO PLURALISMO JURÍDICO NO
CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO: UMA ANÁLISE
DAS SENTENÇAS PROFERIDAS PELO TRIBUNAL
CONSTITUCIONAL PLURINACIONAL DA BOLÍVIA
36
AS POSSIBILIDADES DE UMA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE
EXCLUSIVA NO E PARA O BRASIL A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS
DO NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
37
TECNOCRACIA JUDICIÁRIA E CONSTITUCIONALISMO
POPULAR
O artigo pretende analisar, por um lado, como e por qual motivo coube às supremas
cortes dar a última palavra sobre a interpretação da Constituição, e por outro lado, por
que a opinião do povo não constitui um elemento sequer a ser considerado neste
processo. Por meio de revisão bibliográfica pertinente, questiona se isso não é tanto
sintoma quanto causa de um déficit democrático, na medida em que se observa um
distanciamento cada vez maior entre as possibilidades de intervenção do povo em geral
(em cujo nome todo o poder emana, inclusive a própria legitimidade da constituição), e
o poder discricionário e sem maior accountabillity com que juízes decidem. Ademais,
pretende criticar a supremacia judicial, criticar o ideário tecnicizante que a fundamenta,
e apontar elementos para uma necessária democratização da forma com que a
interpretação constitucional atualmente é feita.
38
O REGIME SUI GENERIS E O PLURALISMO JURÍDICO COMO
MEIOS DE PROTEGER OS CONHECIMENTO TRADICIONAIS
ASSOCIADOS À BIODIVERSIDADE: O CAMINHO IDEAL À
BUSCA DE MECANISMOS DE EFETIVAÇÃO
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“AQUELES QUE LUTAM PARA VIVER”: A RE-FUNDAÇÃO DO
ESTADO A PATIR DOS CICLOS CONSTITUCIONAIS
PLURALISTAS
40
NOVOS DESENHOS JURÍDICOS DO SUL: AUTONOMIA E
RESISTÊNCIA EM TERRAS INDÍGENAS NA AMÉRICA LATINA
O presente trabalho visa investigar, em caráter inicial e com fins documentais, os novos
desenhos jurídicos de organização sociopolítica que povos indígenas no Sul Global estão
estabelecendo por meio dos movimentos de resistência descolonial. Para compreender
tais processos, são analisados três estudos de caso no âmbito da América Latina: o
estabelecimento do primeiro governo indígena autônomo no Peru pela nação Wampis,
o estabelecimento do auto-governo da Autonomia Indígena Guaraní Charagua Iyambae
na Bolívia e os movimentos de resistência pelos povos indígenas do Norte de Cauca e
Bogotá na Colômbia. Se por um lado tais experiências colocam-se em sintonia com os
pressupostos mais gerais do chamado “novo constitucionalismo latinoamericano”, por
outro, trazem novas formas de organização política que por ventura contestam e/ou
reconfiguram os próprios sentidos da noção de Estado-Nação, mesmo os plurinacionais.
Além de descrever os movimentos históricos, os atores políticos e os interesses
envolvidos específicos de cada caso, esta pesquisa pretende, em diálogo com a longa
tradição do pluralismo jurídico na América Latina e com a antropologia jurídica crítica,
apontar suas respectivas interações e/ou rupturas com o direito estatal. Com isso,
objetiva compreender se, na crescente busca pela autonomia e pela continuidade dos
seus costumes e cosmovisões, esses povos indígenas lutam dentro de aparatos jurídicos
ou se fazem uma busca contra o Estado (para parafrasear Pierre Clastres). A metodologia
empregada é a de pesquisa bibliográfica com fins exploratórios.
41
A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DOS TRATADOS
INTERNACIONAIS DE DIRITOS HUMANOS NA ARGENTINA E
NO MÉXICO: HERANÇA DE UMA TRADIÇÃO LATINO-
AMERICANA DE REFLEXÃO SOBRE A MATÉRIA?
42
CONSTITUCIONALISMO QUOTIDIANO: ANÁLISE DOS
AVANÇOS TRAZIDOS PELA CONSTITUIÇÃO BOLIVIANA DE 2009
NA SENTENÇA 393/2013 DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL
PLURINACIONAL
43
LA RETÓRICA DISCURSIVA ANTICOLONIAL, SUS EFECTOS EN
LA CONSTITUCIÓN Y SOCIEDAD BOLIVIANA
44
A DEMOCRACIA INTERCULTURAL DO ESTADO
PLURINACIONAL DA BOLÍVIA – A IDEIA DE CIDADANIA
AMPLIADA RELACIONADA À EFETIVAÇÃO DE DIREITOS
HUMANOS
O presente trabalho tem por objeto a análise dos institutos da Democracia Intercultural
na nova Constituição boliviana, como se relacionam e são manejados os institutos da
democracia representativa, participativa e comunitária nesse novo modelo, bem como
se este tem sido capaz de implicar em maior empoderamento popular e efetivação de
direitos, sobretudo, direitos sociais. Foi empreendida a leitura e análise das normas
constitucionais específicas sobre o exercício da democracia intercultural, bem como das
leis que as complementam. Também houve pesquisas bibliográficas, sobretudo, entre
autores latino-americanos, como uma forma de buscar compreender o contexto
histórico, político, social e econômico de criação e materialização das normas em estudo,
através de lentes descoloniais e mais próximas do objeto. A pesquisa bibliográfica se
perfez como fonte primária e, como fontes secundárias, foram utilizados documentos
oficiais, dados estatísticos pretéritos e recentes sobre os índices socioeconômicos do
Estado da Bolívia, como meios para se aferir a efetivação de direitos. A pesquisa partiu
da concepção sobre a inseparabilidade entre democracia e direitos humanos, não se
podendo falar na efetividade de um sem a efetividade do outro. Foi possível constatar
um grande protagonismo dos povos indígenas bolivianos (cerca de 60% da população)
no processo de formulação e de implementação das normas em estudo, bem como, uma
melhora nos indíces socioeconômicos nas últimas décadas. Citamos alguns dados. Do
ano 2000 a 2011, o percentual de pessoas em situação de indigência diminuiu de 38,8%
para 18,7%, a proporção de pessoas com renda inferior a um dólar diminuiu de 26,9%,
em 2000, para 8% em 2012, e a proporção de pessoas formalmente empregadas
aumentou, de 36,9%, em 1990, para 70,3%, em 2011. Do ano 2000 para 2011, a quantidade
de pessoas, entre 20 e 24 anos, com educação secundária completa, subiu de 46,2% para
66,9%. A proporção da população urbana que vive em favelas, diminuiu de 54,3% para
43,5%, entre 2000 e 2014 (CEPAL, 2015).
45
DIREITOS HUMANOS E ATIVISMO JUDICIAL TRANSNACIONAL:
UMA PERSPECTIVA CRÍTICA A PARTIR DOS MOVIMENTOS
SOCIAIS CONTRA-HEGEMÔNICOS
46
O PROCESSO CONSTITUINTE EQUATORIANO DESDE O
PENSAMENTO CRÍTICO LATINO-AMERICANO
47
MECANISMOS DE DIÁLOGO COMO INSTRUMENTOS
DESCOLONIALIZADORES: UMA PROPOSIÇÃO AO BRASIL
48
OS DIREITOS HUMANOS E O PENSAMENTO DESCOLONIAL
LATINO-AMERICANO – A INTERCULTURALIDADE A PARTIR DO
NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
49
FEMINISMOS TRANSNACIONAIS A PARTIR
DO SUL
A APLICAÇÃO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
PREVISTAS NA LEI MARIA DA PENHA PARA ALÉM DA
CATEGORIA JURÍDICA MULHER: UMA ANÁLISE DE JULGADOS
DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS E SÃO PAULO
51
ESPERANÇA DE BAIXO PRA CIMA: HIPÓTESES PARA
ARTICULAR O FEMINISMO E AS EPISTEMOLOGIAS DO SUL.
Vera Martins
Rosane Rosa
Este artigo tem como objetivo realizar uma elaboração teórica sobre a condição das
mulheres em sociedade e suas experiências, partindo do reconhecimento que as marcas
da injustiça, da desigualdade e da violência lhes são um dos traços comuns. Esta reflexão
foi motivada por duas noticias compartilhadas no Facebook no dia 15 de dezembro de
2016: uma sobre a situação das mulheres na cidade síria de Aleepo e outra sobre ameaças
às deputadas gaúchas em seus gabinetes na Assembleia Legislativa. O que aproxima
estas duas realidades tão distantes geograficamente é persistência de uma lógica que
objetifica as mulheres, que atravessa cenários de guerra e paz e atinge seus os corpos,
negando-lhes a dignidade humana. Do ponto de vista teórico buscamos articular
aspectos da teoria feministas, com base em Marcia Tiburi, 2016, com o pensamento de
Alain Touraine (1997) e a abordagem das Epistemologias do Sul (Boaventura de Souza
Santos, 2007 e 2013; José Gandarilla, 2016). A contribuição de Tiburi (2016) vem da
reflexão sobre a cultura do estupro que se manifesta em práticas de sujeitos que odeiam
e agridem, e que não é um sentimento abstrato e nem subsiste sozinho na sociedade, ele
“[...] Precisa do apoio de muita gente. De uma sociedade inteira” (TIBURI, 2016, pg. 105).
Neste cenário de ódio cabe a indagação de Touraine (1997) sobre a produção de
condições para a existência da vida social, do viver juntos e da comunicação entre seres
individual ou coletivamente. Dentre as respostas teóricas e políticas a esta interrogação
do autor, as Epistemologias do Sul tem aportado reflexões relevantes. Santos (2007; 2013)
aposta na desnaturalização da noção de direitos humanos para revelar as marcas do
projeto colonial que ela reproduz. Gandarilla (2016) aponta a necessidade de regatar a
complexidade dos direitos humanos como categoria, para que estes representem a
diversidade humana e assim possam embasar projetos de emancipação social. Como
resultado do estudo, elaborado numa perspectiva exploratória, vislumbramos duas
hipóteses: 1) se relaciona com a potencialidade da interrogação/hermenêutica da
suspeita para combater a naturalização das relações entre mulheres e homens; 2) está
relacionada à possibilidade da negociação intercultural, coletiva e democrática de
categorias que permitam a ressignificação dos direitos humanos. Esta ressignificação
deve incluir a perspectiva feminista como condição para que estes direitos continuem
servindo de roteiro emancipatório de nossa sociedade e suas/seus sujeitos.
52
FEMINISMOS DECOLONIAIS: UM OLHAR SOBRE A AMÉRICA
LATINA
53
CORPOS DESLOCADOS: EFEITOS DE SENTIDO PRODUZIDOS
PELOS PROTESTOS DO GRUPO FEMEN
Fernanda Pereira
54
Palavras-chave: FEMEN; Análise do Discurso de orientação francesa; Feminismo.
55
O PIONEIRISMO DESCOLONIAL DE LÉLIA GONZALEZ: A
RESISTÊNCIA DESDE A ANÁLISE DE PRECONCEPÇÕES DO
FEMININO NEGRO NO BRASIL
Livia Moura
Paulo Weyl
Lélia Gonzalez possui papel emblemático para o feminismo negro no Brasil e, mesmo
sem dialogar diretamente com os autores do coletivo Modernidade/Colonialidade, era,
desde seus escritos da década de oitenta, portadora de atitude descolonial, posto que sua
produção provinha da atuação como “forasteira de dentro” ao questionar as categorias
das ciências sociais e indicar as insuficiências de tais definições, bem como as limitações
dos lugares de fala de onde se originavam as reflexões teóricas. Lélia pugnava por um
ideário que fosse além da reprodução de modelos postos e constituísse um pensamento
próprio. A autora é intelectual diaspórica, aberta a trocas afetivas e culturais com
pensadores da Latino América e promotora da política de tradução de teorias,
direcionada ao desenvolvimento de um pensamento transnacional que explicasse a
formação a dominação matricial na América Latina, sua sustentação no racismo e como
compreender esta realidade poderia servir para nela intervir, não deixando a autora de
preocupar-se com o feminismo e sua leitura conforme teoria e prática atravessassem
fronteiras, passando por latinas, mulheres de cor, pós-coloniais. Lélia denuncia a
condição da mulher negra brasileira, oprimida racialmente, para além de sua opressão
de gênero e classe, e protagonista de lutas muito próprias, inclusive no que se refere à
subordinação legitimada pela colonização que animalizou seu corpo. Gonzalez observa
estereótipos negativos engendrados pelo racismo, os quais evidenciam como tais
representações impactam de forma violenta na vida de mulheres negras. As definições
“mulata”, “doméstica” e “mãe preta” são, então, utilizadas para analisar o mesmo
sujeito; a mulher negra, sempre concebida a partir da distinção que inferioriza e perpetua
as desigualdades de poder em sua vertente econômica, cultural e simbólica. “Mulata” e
“doméstica” são noções saída de um mesmo tronco, qual seja “mucama”, cujo
significado mais recôndito perpetua até hoje a permissão para a exploração sexual, ao
passo em que a mãe preta é a figura representativa da passividade para além da
resignação à violência, remetendo à resistência e a salvaguarda das tradições de seu povo
através do repasse de sua cultura ao brasileiro branco de quem é ama e, em
consequência, à sociedade brasileira.
56
MULHERES TRANSEXUAIS E SEU INGRESSO NO MUNDO DO
TRABALHO: UMA PERSPECTIVA DO FEMINISMO
CONTEMPORÂNEO?
57
PERSPECTIVAS DE RECONHECIMENTOS DE IDENTIDADES
TRANS NA AMÉRICA LATINA
58
DIREITOS HUMANOS. HUMANOS DIREITOS. DIREITOS PARA
QUEM?: UMA BREVE ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA
BRASILEIRA
Entre as décadas de 1940 e 1960 três documentos internacionais foram criados para
pensar sobre os Direitos Humanos: Carta das Nações Unidas (1945), Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948) e Convenção Americana Direitos Humanos São
José (1969). Os pontos traçados por ambos os documentos dizem respeito a cooperação
internacional entre os países membros, no esforço contra qualquer tipo de discriminação
e desigualdade sustentadas por raça, cor, sexo, religião e outras naturezas. Em suas
redações afirmam condições necessárias ao desenvolvimento social, cultural, econômico
e outras formas que concretizem a dignidade humana sem distinções. A partir da
perspectiva humana trabalhada nos documentos, esta proposta de artigo questiona
como esses direitos são direcionados ás mulheres negras, a partir das categorias de
gênero e raça, considerando as diferentes opressões que as atingem. Neste sentido,
pretende compreender qual é a construção de humanidade atribuída a esse grupo social.
Enquanto categorias, gênero e raça, não serão analisados de maneira isolada e sim
entrelaçados. Para tal análise iremos nos apropriar do conceito de interseccionalidade
trabalhado por Kimberlé Creshaw (2002) teórica que discute como diferentes estruturas
de poder atuam sob a vida de grupos marginalizados socialmente tornando visíveis
violências silenciadas. Como demarcador de espaço e tempo discutiremos a situação
detrabalho formal, compreendido aqui como atividade profissional regida por leis
trabalhistas, das mulheres negras no Brasil diante a legislação contemporânea como
garantia de dignidade e direitos humanos deste segmento populacional. Além do
conceito de interseccionalidade faremos uso da concepção de sistema mundo
moderno/colonial analisado por Aníbal Quijano (2000) como colonialidade do poder a
partir da dominação, exploração e conflito da população mundial classificados
socialmente a partir da categoria de raça. Essa colonialidade é trabalhada por María
Lugones (2008) como colonialidade de gênero entendida como “la opresión de género
racializada y capitalista” (LUGONES, 2010, 9.110) dentro do sistema mundo
moderno/colonial. Diante de múltiplos marcadores de violência que se intercruzam a
crítica produzida pelos feminismos latinos americanos, precisamente os feminismos
negros, são pertinentes e se mostram dissidentes ao pensamento do feminismo
hegemônico pautado no binômio eurocentrismo-branquitude que além de isolar as
categorias de opressão, as universaliza.TRICIEL
59
O HOMICÍDIO PASSIONAL PRATICADO CONTRA AS MULHERES
E A INFLUÊNCIA DO SEXISMO COLONIAL NO BRASIL
60
FEMINISMO CONTRA HEGEMÔNICO E O CAMINHO PARA O
DESPATRIARCALISMO SOCIAL: UMA PERSPECTIVA DO
FEMINISMO DESCOLONIAL
61
esses debates são de suma importância para a concretização do pensamento de
igualdade, justiça e democracia.
62
A EDUCAÇÃO NO/DO CORPO: NEGRO E FEMININO
Na maioria das Culturas Africanas o corpo é livre, vivo e se expressa de diversas formas,
as danças tem um balanço todo especial, o movimento dos quadris, seios, coxas,
imprimem muita sensualidade bem diferente das danças de origem européia,
engessadas, limitadas, sem um aparente prazer, um verdadeiro choque cultural.
Podemos perceber que os diferentes tratamentos que se direciona ao corpo,varia de
cultura para cultura. Corpo está longe de ser algo apenas biológico, ele pode ser
discutido também assentado em aspectos da antropologia social, ou seja, “ o corpo é
expressão da Cultura, portanto cada cultura vai expressar diferentes corpos, porque se
expressa diferentemente como cultura (KOFES,1985, apud Daolio, 2006, p. 21). O corpo
aprende e é a sociedade que lhe ensina o que é necessário a cada momento histórico, ele
está inserido e moldado para ela. Podemos observar as representações do corpo da
mulher, e de cada mulher, em diversos momentos na nossa sociedade. Essa comunicação
tem o objetivo pensar os constructos epistêmicos do/sobre o corpo negro feminino
(CARDOZO, 2008); (GONZALES, 2008); (SANTOS, 2009), no Brasil, a escravização
desses corpos físicos, além de provocar uma violência concreta, se desdobrou na
violência simbólica (BOURDIEU, 1989), pois o Brasil tem violado o direito das mulheres
negras utilizando-se de seu trabalho e apropriando-se de seus corpos (SANTOS,
2009:278), além de compreender as diferenças educacionais que as mulheres obtiveram,
e quais foram direcionada aos homens. As desigualdades vivenciadas, construídas social
e historicamente são naturalizadas, sendo assim, as experiências que meninas e meninos
vivenciam desde o nascimento perpassando o período de escolarização, influenciam a
educação de seus corpos em diversos aspectos se levarmos também em consideração
pertencimentos além do gênero como raça/etnia, classe, religião etc., sendo
fundamentada muitas vezes no currículo escolar. Assim, podemos perceber que há uma
legitimidade de violência ao corpo negro-feminino, no âmbito escolar e seu
desdobramento no cotidiano.
63
A MULHER INDÍGENA COMO SUJEITO DE DIREITOS HUMANOS:
REFLEXÕES SOB A ÓTICA DO FEMINISMO DECOLONIAL
LATINO-AMERICANO
64
UMA ABORDAGEM FEMINISTA PÓS-COLONIAL AO TRÁFICO
INTERNACIONAL DE MULHERES NA FRONTEIRA PAN-
AMAZÔNICA
65
MULHER E DEMOCRACIA NO BRASIL: SOBRE OS TRAJETOS DE
COLONIALIDADE, GÊNERO E PATRIARCADO
66
UM OLHAR DESCOLONIAL NA ANÁLISE DA CULTURA DO
ESTUPRO FOMENTADA PELO FUNK NO SUDESTE BRASILEIRO
67
O FEMINISMO DESCOLONIAL E O PENSAMENTO
DESCOLONIAL: DESAFIOS DENTRO DO DIÁLOGO DOS
DIREITOS HUMANOS
68
SOB A PERSPECTIVA DAS VENCIDAS DA HISTÓRIA:
ESCOVANDO A CONTRAPELO AS NARRATIVAS
HISTORIOGRÁFICAS 64-85 NO BRASIL
Os. Eles. Homens. A história, nos livros e no imaginário social, está repleta de
substantivos masculinos representando homens heróis, guerreiros e protagonistas. Por
outro lado, pouco se escreveu e pouco se conhece sobre os substantivos femininos que
protagonizaram lutas e mudanças sociais. Ausente a intenção de desvalidar as
construções teóricas e as conquistas sociais já registradas, não podemos observar tal
discrepância entre o número de personagens masculinos e femininos e inferir ser mera
coincidência. É necessário escovar a história a contrapelo, destrinchando nas lutas sociais
o protagonismo das vencidas da história. Portanto, partindo de um período específico,
é este o problema aqui enfrentado: a invisibilização das mulheres nos processos de lutas
no Sul global, especificamente, durante a ditadura civil-militar no Brasil – momento em
que as resistências femininas muito se destacaram no país, reivindicando questões que
perpassaram desde movimentos contra o custo de vida até as reivindicações por creches,
por liberdade política e pelo direito básico à saúde. Nessa época, as várias organizações
de mulheres deram origem a clubes de mães, associações, comunidades eclesiais de base,
formação estudantil, partidária e sindical, contrariando os estereótipos atribuídos às
mulheres da época: passivas, submissas, donas-de-cozinha.
Tendo em vista o objeto pesquisado, a metodologia consistiu em investigações teóricas,
sob uma perspectiva periférica, a partir da articulação de textos feministas, marxistas,
marxianos e da teoria crítica, objetivando realizar uma contribuição ao pensamento
crítico do Direito.
Feita tal cama empírica a contrapelo do que dizem os vencedores da história (homens,
brancos, heterossexuais, proprietários), pode-se focar na interpretação da dialética de
transformação dessas manifestações em 1960 e 70, que deixaram de vindicar questões
específicas e tornaram-se, em 1980, lutas constitucionais – movimentos de resistência que
buscavam o protagonismo na elaboração da nova Constituição Brasileira. Em vias de
exemplos concretos, estão organizações essenciais no processo de reabertura política,
todos encabeçados por mulheres: Movimento pela Anistia (1978), Luta por Creches
(1979), Congressos da Mulher Paulista (1979, 1980, 1981), cujas decisões subsidiaram o
processo da Constituinte.
Como conclusão, esse breve resgate histórico mostra o quanto é necessário reescrever as
narrativas historiográficas, dando luz a movimentos reais de resistência e luta.
Especificamente sobre o período destacado, tais movimentos foram responsáveis pela
proteção de inúmeros direitos e garantias, e pela formação de uma Constituição
preocupada com questões sociais, civis, comportamentais e individuais que nunca antes
haviam encontrado guarida no Direito brasileiro.
69
MÃE: DE OBJETO A SER LIVRE
70
A VULNERABILIDADE DA MULHER SELECIONADA PELO
SISTEMA PENAL NO BRASIL
71
JUSTIÇA RESTAURATIVA ATRAVÉS DA CRIMINOLOGIA
FEMINISTA
72
OLHARES E EXPERIÊNCIAS DAS TRABALHADORAS DO SEXO
SOBRE O ESTUPRO E SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL EM
FRANCA-SP
73
NATUREZA, TRABALHO E DIREITOS NA
AMÉRICA LATINA: EM BUSCA DE
ALTERNATIVAS
AS PRECARIEDADES SOCIAIS PRODUZIDAS PELO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: O PROTAGONISMO DO
CATADOR DE LIXO NA CONSTRUÇÃO SOCIAL DO DIREITO AO
TRABALHO E AO BEM VIVER
75
processos de lutas, essenciais a novas inspirações e construções coletivas de cidadania.
Em outras palavras, se problematiza como esse trabalhador se percebe e vem transitando
da condição de trabalhador socialmente invisibilizado e economicamente marginal,
agora alçado à condição de cidadão dada a sua “inclusão” na Política Nacional de
Resíduos Sólidos-PNRS (Brasil,2010)? Os arranjos soioeconômicos e políticos
denominados cooperativas de trabalho são, de fato, alternativas à exclusão-inclusão dos
catadores de recicláveis, considerando o atual modelo capitalista de produção?
76
O REPENSAR DA PROTEÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DA
SOCIOBIODIVERSIDADE
77
AS PROMESSAS DO DESENVOLVIMENTO E A REJEIÇÃO À
MINERAÇÃO: A RIO GRANDE MINERAÇÃO EM SÃO JOSÉ DO
NORTE
78
A VIOLÊNCIA EPISTEMIOLÓGICA NA NARRATIVA DO DIREITO
DO TRABALHO: O QUE HÁ POR TRÁS DO DISCURSO?
Sabe-se que nas ciências humanas e sociais, a estrutura da concepção de Estado moderno
se deu sob o prisma europeu, que é essencialmente colonialista. Este ponto de vista
influencia dentre outras coisas na própria narrativa do nascimento e evolução do Direito
do Trabalho. Nesse sentido, o presente trabalho apresenta uma versão crítica tanto da
concepção quanto do desenvolvimento do Direito do Trabalho sob nova perspectiva, na
qual se leva em consideração as particularidades da história de luta e resistência
ocorridas no Brasil. Tal análise é relevante na medida em que possibilita o
reposicionamento do debate sobre a real importância do trabalho na vida das pessoas.
Ademais, oferece instrumentos hábeis para a emancipação de trabalhadores e
trabalhadoras brasileiros. O Direito do Trabalho surgiu, no século XIX, como fruto das
pressões operárias e como mecanismo de regulação de interesses de classes sociais
antagônicas, no sistema capitalista. A justificativa para sua existência no Estado
Moderno se deu pela adoção da narrativa europeia acerca da evolução do trabalho
humano, vinculando o trabalhador assalariado à aspiração de igualdade e liberdade da
Revolução Francesa. Ocorre que a narrativa europeia suprime qualquer outra que tenha
tentado explicar o mesmo fenômeno, de forma que não tem sido possível debater sobre
o que há por trás deste discurso. Ao se apresentar como a última etapa da luta dos
trabalhadores pela conquista de liberdade, tal forma de descrever a evolução mundial
da organização do trabalho oculta o fato de que o trabalho servil, forçado, escravo foi –
e ainda é – um elemento constitutivo do capitalismo. O reflexo desta narrativa no Brasil
se traduz na dificuldade em compreender que o mercado de trabalho foi organizado
social e juridicamente a partir de uma hierarquia racial, na qual negras e negros gozam
de uma tutela trabalhista inferior, se comparada aos trabalhadores brancos. Dessa forma,
por meio de revisão bibliográfica e leitura de autores brasileiros e sul americanos, busca-
se demonstrar a existência de outras narrativas mais próximas à realidade vivida no
Brasil.
79
O CONTEXTO FÁTICO DO TRABALHO FEMININO NO BRASIL:
CONSEQUÊNCIAS GERADAS A PARTIR DO PROCESSO DE
COLONIZAÇÃO
80
DESENVOLVIMENTISMO Y SUS IMPACTOS AMBIENTALES
SOBRE LAS COMUNIDADES INDIGENAS
Diversos han sido las confrontaciones entre las comunidades indígenas y los impactos
socio ambientales en lo que refiere a los grandes obras y a la demarcación de los
territorios indígenas. Innumerable son las obras que vienen agregado al desarrollo
económico en el ámbito local y regional que tiene repercutido directamente en la
configuración de tierras nativas. Los impactos suceden por la carencia del diálogo, de
contratos comerciales oscuros, de la inconsistencia referente a la delimitación y de la
pérdida de los territorios, así como de la violencia simbólica.
Según los datos del Consejo Indigenista Misionario (2015), el estado de Río Grande del
Sur aparece entre las unidades federativas que presenta el número mayor de áreas
indígenas con problemas en el país. El informe demuestra que 17 de los 96 territorios
clasificados en situación de riesgo o conflicto están localizados en el suelo de
riograndense del sur, qué representa 17.7% de las zonas de preocupación en el país.
Dentro de los focos de conflictos en los estados del Sur de Brasil, las causas que mas
resultan en incidentes son la ampliación de carreteras y la instalación de represas – que
pueden resultar en conflicto -, o áreas donde ya hay tensión debido a la disputa de tierra.
El tema que involucra la generación de energía hidroeléctrica en el Sur del Brasil es
compleja debida a los grandes impactos que su instalación causan al medio ambiente
físico, mas principalmente por las grandes mudanzas en el medio socio económico a que
están sujetas las poblaciones afectadas, especialmente las indígenas. La historia parece
indicar que hay in peso mayor sobre la busca de maximización de eficiencia económica
– energética en las decisiones políticas sobre este tema, permaneciendo las cuestiones de
origen socio ambiental como factores limitantes a los desarrollos. No siempre capaces de
promover un cambio, todavía en la etapa de planeamiento. En cuanto al procedimiento
metodológico se utiliza el método bibliográfico investigativo, acompañado de
documentos jurídicos.
81
O LUGAR DO DESCOLONIAL DAS TEORIAS
CRÍTICAS DO DIREITO E O LUGAR DA
TEORIA CRÍTICA NO PENSAMENTO
DESCOLONIAL
CRIMINOLOGIA DA/NA AMÉRICA-LATINA: PERSPECTIVAS
INTERSECCIONAIS NOS DEBATES DO SABER CRIMINOLÓGICO
83
DIREITOS HUMANOS E DECOLONIALIDADE: REVISÕES E
REFUNDAÇÕES DESDE A TEORIA CRÍTICA
Em tempos marcados por uma ordem neoliberal, que redefine e reinventa o Estado e
suas tradicionais instituições, a incapacidade dos dogmas políticos e jurídicos
hegemônicos exige, desde as últimas décadas do século XX, uma cuidadosa e articulada
reinvenção do Direito no sentido de produzir condições de sustentação de novas formas
de controle do mercado e do capital global. Indo em direção oposta e com vistas a
vislumbrar um horizonte libertário e emancipador, o presente trabalho, pretende, desde
uma perspectiva crítica e um olhar latino americano, decolonial e inter-cultural
aprofundar a reflexão acerca de alguns paradoxos e contradições do discurso universal
dos direitos humanos, entendendo-se que este é um dos pontos nucleares para discutir
os fundamentos e elementos que definem o sentido e finalidade de Teoria Crítica e do
próprio Direito. O que se trata é de perguntar-se se os direitos humanos expressam a real
ou falsa ideia de dignidade universal, o que implica pensar se em todas culturas há um
modo concreto e comum de lutar, pensar e garantir espaços de liberdade e dignidade
que possam ser resignificados e complementados com outras formas e processos de
reação, emancipação e libertação; ou se, cada cultura desenvolve em sua particular
historicidade formas de enfrentamento ao excesso de poder. O trabalho discute alguns
“pontos cegos” que o conceito de direitos humanos apresenta como critérios e práticas
universalizantes em relação a inter-culturalidade. Questiona-se se afinal seriam os
direitos humanos valores, princípios, normas e processos de luta a favor da dignidade
ou produto de criação da cultura ocidental moderna e capitalista que se estende pela
humanidade, difundindo e impondo uma versão simplificada e reduzida de direitos
humanos por ser normativista, formalista, estatal e pós-violadora que, através de um
falso discurso protecionista e humanizador mantém e reproduz essa perversa e
predatória ordem neoliberal. Desde tais questões pretende-se repensar a crítica à cultura
jurídica tradicional e discursos como forma de discutir práticas que refundem a política
desde o plural e o libertário.
84
O DIREITO A PARTIR DO SUL: O LUGAR DO DIREITO NA
MODERNIDADE CAPITALISTA
85
POR UMA TEORIA CRÍTICA DESCOLONIAL DO DIREITO
86
CONSTRUÇÃO OCIDENTAL DE
SUBJETIVIDADES NA ORDEM
INTERNACIONAL: DIÁLOGOS CRÍTICOS
SOBRE A PRODUÇÃO DE SUJEITOS,
LEGITIMIDADE POLÍTICA E COLONIALIDADE
HISTÓRIAS DA TERRA E DO MAR: UMA CARTOGRAFIA DAS
NARRATIVAS DO MOVIMENTO PROPOÇO E DA ONG
VELAUMAR SOBRE DIREITO À CIDADE NA COMUNIDADE
POÇO DA DRAGA
Todos os locais têm nomes, lendas, mitos e narrativas. Mas por que algumas histórias
são legitimadas como verídicas e alcançam mais notoriedade do que outras, construindo
representações únicas? Nos dois últimos séculos, dominou uma epistemologia que
eliminou conhecimentos que contrariavam seus interesses socioeconômicos. É neste
cenário de desigualdade epistêmica que a presente pesquisa se insere: a construção de
narrativas sobre o direito à cidade no processo de legitimação de saberes liminares é o
tema abordado e o sujeito analisado é o Poço da Draga, uma comunidade de baixa renda
localizada na cidade de Fortaleza (CE) que sofre constantes ameaças de remoção e é
marginalizada pelo senso comum. ?O artigo tem como objetivo refletir sobre o processo
de subalternização da comunidade mencionada e analisar a importância do
reconhecimento de suas autonarrativas, com ênfase naquelas desenvolvidas por duas
organizações de moradores do Poço da Draga, o Movimento ProPoço e a ONG
Velaumar. Utilizamos, como aporte teórico, conceitos de pesquisadores das
epistemologias do sul, com destaque para as obras Pode o subalterno falar?(1985), da
crítica indiana Gayatri Spivak e Histórias Locais/ Projetos Globais: colonialidades,
saberes subalternos e pensamento liminar, do semiótico argentino Walter Mignolo. A
metodologia de pesquisa utilizada é a cartografia, com auxílio da coleta de dados e da
revisão bibliográfica.
88
A INFLUÊNCIA DE JOSUÉ DE CASTRO PARA A GARANTIA DA
SEGURANÇA ALIMENTAR
Josué de Castro, renomado cientista político e médico brasileiro, foi um dos primeiros
teóricos a debruçar-se sobre o problema social gerado pela fome em nível mundial. Ao
longo do seu trabalho é possível notar o seu esforço para desfazer alguns mitos gerados
pela doutrina (europeia/ocidental) quanto às causas da fome no plano internacional,
rebatendo ainda na década de 1950 o principal argumento tido como absoluto para a
criação de insegurança alimentar, a saber, o aumento populacional. Ao lançar seus
estudos acerca da dimensão biológica, notadamente no que tange os diversos critérios
que podem levar a uma maior ou menor ingestão calórica, bem como da dimensão
econômica, quanto à necessidade de criarem-se meios propícios para o acesso a
alimentos nutritivos para além da renda, inova, tornando-se um dos primeiros autores
do sul global a terem seus estudos alçados ao plano internacional com sucesso. Logo, o
presente texto tem como objetivo debater justamente o controle exercido por autores do
norte/europeus/brancos/bem-nutridos sobre os estudos e a de segurança alimentar,
denotando a importância e o impacto que as obras de Josué de Castro tiveram para a
mudança da percepção da questão alimentar no mundo e para o desenvolvimento de
novas políticas contra-majoritárias de combate a fome, especialmente após os mais
recentes dados informarem que 12% da população mundial, majoritariamente os países
do sul global, ainda sofre com a fome crônica. Ao cabo, o que se percebe, é que Josué de
Castro foi um dos primeiros autores a ter um third world approach ao problema da
insegurança alimentar aceito em nível mundial e que seus estudos parecem, hoje,
influenciar indiretamente a adoção de práticas “do sul e para o sul”, sobre o combate a
fome.
89
O PENSAMENTO DESCOLONIAL NO QUESTIONAMENTO À
ORDEM INTERNACIONAL: UM CONTRAPONTO AO DISCURSO
HEGEMÔNICO PREDOMINANTE NAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS CONTEMPORÂNEAS
90
NO CAMINHO DA DESCONSTRUÇÃO: O DESLOCAMENTO DO
SUJEITO
91
DIFERENÇA COLONIAL E ANTAGONISMO: INVESTIGANDO A
ALTERIDADE DA AMÉRICA LATINA
Esta comunicação visa articular a ideia de “diferença colonial”, pensada por Walter
Mignolo, com o conceito de “antagonismo”, desenvolvido por Ernesto Laclau e Chantal
Mouffe, e reformulado por mim, a partir do conceito de “rede de sentidos”. Segundo
Mignolo, “a diferença colonial é o espaço onde emerge a colonialidade do poder. (...) É
o espaço onde as histórias locais que estão inventando e implementando os projetos
globais encontram aquelas histórias locais que os recebem; é o espaço onde os projetos
globais são forçados a adaptar-se, integrar-se ou onde são adotados, rejeitados ou
ignorados.” A noção de “diferença colonial” exige um “pensamento liminar”, como
reação a ela. Ela “cria condições para situações dialógicas nas quais se encena, do ponto
de vista subalterno, uma enunciação fraturada, como reação ao discurso e à perspectiva
hegemônica”.
Laclau e Mouffe pensaram o antagonismo como o fenômeno pelo qual “a presença do
‘Outro’ me impede de ser plenamente eu mesmo. (...) O antagonismo constitui os limites
de toda objetividade, a qual se revela como objetificação parcial e precária. Se a linguagem
é um sistema de diferenças, o antagonismo é o fracasso da diferença: neste sentido, ele
se situa nos limites da linguagem e só pode existir como uma interrupção desta – ou seja,
como metáfora.”. Em trabalhos próprios, formulei o conceito de antagonismo como os
momentos em que “sujeitos em relação mútua não compartilham a mesma rede de
sentidos em aspectos essenciais, (...), quando as diferenças entre as redes de sentido
propiciam certa inaceitação mútua com relação à rede de sentido do outro (...). De um
modo geral, as relações de antagonismo podem ensejar negociação ou enfrentamento de
sentido, mas também processos de dominação e submissão”.
A pergunta que se impõe e será investigada filosoficamente é: em que medida o
cruzamento desses conceitos (“diferença colonial”, “antagonismo”) nos permite uma
compreensão diferenciada da particularidade da América Latina, pensada como uma
“ideia” inerente ao processo de colonização, como afirmou Mignolo? De que forma a
ambiguidade da nossa constituição nos afeta e nos impõe modos de reação e de
negociação de sentidos?
92
O MIGRANTE NA POLÍTICA MIGRATÓRIA BRASILEIRA
93
“A EMOÇÃO É NEGRA COMO A RAZÃO É GREGA”: PARA UM
GIRO DECOLONIAL DA CONCEPÇÃO DE “DIREITO E ARTE”
DESDE O CARIBE NEGRO
94
CULTURA INDÍGENA E A NECESSIDADE DO DIÁLOGO
TRANSCONSTITUCIONAL NOS CASOS DE INFANTICÍDIO
95
O PENSAMENTO DESCOLONIAL NO QUESTIONAMENTO À
ORDEM INTERNACIONAL: CONTRAPONTO AO DISCURSO
HEGEMÔNICO PREDOMINANTE NAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS CONTEMPORÂNEAS
96
PARTILHA DO SENSÍVEL, DISSENSO E SUBJETIVAÇÃO
POLÍTICA: PROBLEMATIZANDO A COLONIALIDADE E O
DECOLONIAL A PARTIR DE JACQUES RANCIÈRE
Esta proposta faz parte de uma pesquisa mais ampla, ainda em andamento, que visa
aproximar as reflexões de Jacques Rancière, filósofo franco-argelino, da discussão
decolonial. Inspirados no método da pesquisa bibliográfica, buscamos aprofundar
aspectos da colonialidade, indicando possíveis conceitos do autor que possam nos
auxiliar na problematização dos processos subjetivos inerentes ao enfrentamento e/ou
permanência da colonialidade. Para compreender a dinâmica do vínculo social, Rancière
parte da ideia de partilha do sensível. Esta é definida como um “sistema de evidencias
sensíveis” que indica, ao mesmo tempo, a existência de um comum partilhado e as partes
exclusivas direcionadas para cada grupo ou pessoa, estipulando lugares, funções,
identidades e capacidades para cada grupo. A partilha é desigual, hierárquica, e contém
um erro de contagem, um dano: apenas alguns podem falar e pensar por todos/as,
delimitando os regimes de visibilidade e percepção. Estes regimes são mantidos pelo
processo que Rancière denomina de polícia/gestão, que é da ordem do instituído e que
tem por função preservar e sustentar a ordem vigente naturalizada. Nesse sentido, a
colonialidade/modernidade faz parte dos processos da policia, uma vez que
imaginários/hierarquias (raciais, culturais, de gênero, epistêmicas) que se naturalizam,
mantendo os lugares de poder e decisão nas mãos de alguns poucos. Por outro lado, a
política, da ordem do decolonial, se contrapõe a polícia ao buscar reconfigurar e
questionar a partilha. Esse outro processo acontece por atos de desidentificação e
dessimbolização da ordem social, deslocando os sujeitos dos lugares identitários
definidos e instaurando lugares inéditos nos modos de partilha do sensível. Assim,
Rancière entende a política como um movimento ligado a processos de subjetivação, que
identifica o dano presente na distribuição e que promove novos recortes nos tempos e
espaços coletivos. Como assevera, a política opera por dissensos em relação a ordem
consensuada e não é uma mera afirmação identitária ou da diferença de um povo. O
dissenso indica a existência e o desentendimento entre dois mundos antagônicos, duas
visões/projetos de mundo, duas formas diferentes de se relacionar com a realidade: o
mundo daqueles que são contados na partilha e o mundo daqueles/as que não são.
97
IMPOSIÇÕES E TRANSFORMAÇÕES URBANAS EM MANAUS: A
CONSTRUÇÃO DA “PARIS DOS TRÓPICOS”
Rodrigo Capelato
Os problemas de uma cidade não são apenas técnicos ou estéticos. A cidade ou o espaço
urbano são construídos ou destruídos segundo uma política de intervenção que pode
favorecer certos segmentos em detrimento a outros, e a mais singela ou ingênua
intervenção urbana encerra uma intenção política e social, pois influi na vida do cidadão,
no seu cotidiano, no lazer e no trabalho. Influi, enfim, nas relações sociais e na
sociabilidade de cada pessoa. Neste sentido, o referido trabalho pretende analisar as
práticas de higienização, de embelezamento, de progresso e de civilidade, advindas da
Europa e implementadas na segunda metade do século XIX, tendo como lócus de analise
a cidade de Manaus que, com os aumentos sucessivos das exportações, principalmente
da borracha, propiciaram ao Estado uma grande receita, com excessos sempre crescentes
de arrecadações, inspirando assim um dos mais arrojados empreendimentos citadinos
que foram orquestrados pelo poder publico junto a elite local através de decretos, leis e
códigos, utilizados para justificar e viabilizar o controle social, e assim consolidar o
desejo da cidade progressista. É a modernidade que chegava ao “Porto de Lenha”, com
sua visão transformadora, na intenção de se tornar a “Paris dos Trópicos”. Tais medidas
concentraram-se nos chamados Códigos de Posturas Municipais, orientados por
princípios e interesses distantes, que negaram, desprezaram e velaram as especificidades
históricas e geográficas que a região Amazônica e a cidade de Manaus apresentavam.
Em seus inúmeros artigos fica clara a intenção de um modelo de civilização, como
tendência similar às praticas de controle adotadas pelas cortes europeias, onde a
paisagem geográfica e social era um problema a ser combatido. A chamada destruição
criativa não só substituiu a madeira pelo ferro, o barro pela alvenaria, a palha pela telha,
o igarapé pela avenida, a carroça pelos bondes elétricos, a iluminação a gás pela luz
elétrica, mas também transformou a paisagem natural, destruiu costumes e tradições,
“civilizou” as populações tradicionais e, principalmente, foi precursora da segregação
sócio espacial e da periferização, evidenciada até os dias de hoje, tanto em Manaus como
em todas as cidades brasileiras.
98
A VIOLÊNCIA ALTERITÁRIA: A NEGAÇÃO DO OUTRO NO
BRASIL CONTEMPORÂNEO
É por demais sabido que o período de Ano Novo enseja a renovação da esperança, ao
estimular o anseio de que, caso as coisas não melhorem, pelo menos permaneçam como
estão. Até porque a experiência cotidiana demonstra, com toda a evidência, que
determinada situação, por pior que esteja, sempre pode degradar-se, percepção que tem
se generalizado entre os brasileiros, os quais vivenciam uma conjuntura social,
econômica e política cujos efeitos são equiparáveis aos de uma queda num poço sem
fundo. Motivos para a população brasileira esperar épocas mais propícias, na virada de
2016, não faltavam: após um processo de impeachment que destituiu uma mandatária
democraticamente eleita, sem configuração clara de crime de responsabilidade,
seguiram-se medidas que subvertem por completo a essência da Constituição Federal
de 1988, entre as quais a mais emblemática é o congelamento dos gastos governamentais
pelos próximos 20 anos. Porém, nem bem transcorreram os primeiros dias de 2017 e já
se avolumam indícios de que as expectativas de melhora do quadro atual não
apresentam qualquer justificativa – sejam as manifestações de simpatia à carta do técnico
de laboratório, que, nos últimos momentos de 2016, assassinou doze pessoas, em
Campinas, na qual ele vocifera impropérios contra a antiga companheira, em particular,
e contra pautas progressistas, em geral, sejam as comemorações de membros da base
governista às chacinas ocorridas nos presídios de Manaus e Roraima -, inúmeros são os
sinais de deterioração da democracia no Brasil, onde se assiste à substituição paulatina
do Estado de direito pelo de exceção. Pensadores como Bauman e Adorno são criticados
por empregarem demasiada energia na descrição da realidade social e negligenciarem
na proposição de saídas, de modo que cumprem apenas a primeira metade do dístico
gramsciano “pessimismo da inteligência e otimismo da vontade.” Em contraposição a
referido fatalismo, faz-se mister enfrentar o problema do colapso da fundamentação
filosófica, que se encontra nas raízes da crise vigente. Para tanto, propõe-se a retomada
de uma das questões fundantes da filosofia ocidental, sem a qual qualquer debate
político e jurídico afigura-se estéril: o que é o homem?
99
FRANZ FANON E A SUBJETIVAÇÃO DO SUJEITO COLONIZADO E
RACIALIZADO
100
A FRAGILIDADE DO PRINCÍPIO DA AUTODETERMINAÇÃO DOS
POVOS E SUA NATUREZA ETNOCÊNTRICA FACE AO ESTADO
CONTEMPORÂNEO: O CASO DO ESTADO ISLÂMICO (2004-2014)
Gabrieli de Camargo
Hector Cury Soares
101
O IDEAL DE COLONIZAÇÃO JUSTA DE FRANCISCO DE VITORIA
102
LUTAS URBANAS E DIREITO À CIDADE:
EMPIRIA, TEORIA CRÍTICA E PENSAMENTO
DESCOLONIAL
A VOZ DOS REFUGIADOS E SOLICITANTES DE REFÚGIO NA
CIDADE
104
CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS URBANOS E
DESCOLONIALIDADE: A LUTA DA COMUNIDADE DA
SABIAGUABA, EM FORTALEZA-CE
105
NOVAS DINÂMICAS INSTRUMENTAIS DE REIVINDICAÇÃO DO
DIREITO À CIDADE: A LUTA DO MOVIMENTO SOCIAL CONTRA
A COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL PELA DEVOLUTIVA
DAS TERRAS DE VOLTA REDONDA-RJ
1
A referência de bens não-operacionais abrangem territórios dos municípios de Volta Redonda, Pinheiral
e Barra Mansa, estado do Rio de Janeiro-Brasil.
106
significado das articulações dos sujeitos coletivos para a configuração e reconfiguração
das relações sociais em torno da CSN-UPV. Os resultados passaram pela análise e
sistematização de informações relevantes do processo de luta do Coletivo Terras de
Volta; sobretudo, por este se converter numa força de potencialização da resistência do
movimento social em Volta Redonda-RJ.
107
MONUMENTO ÀS BANDEIRAS – REPRESENTAÇÃO E
INVISIBILIDADE
Em outubro de 2013, o Monumento às Bandeiras (SP) foi o local escolhido para diversas
ações de protesto contra a PEC 215 – Proposta de Emenda à Constituição que propõe
transferir ao Congresso a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas, territórios
quilombolas e unidades de conservação no Brasil. O grupo Pixo Manifesto Escrito, do qual
faz parte o pixador Cripta Djan, realizou uma intervenção na escultura de Victor
Brecheret com os dizeres “PEC 215 não” e “bandeirantes assassinos”. Segundo Néstor
García Canclini, “o patrimônio é o lugar onde melhor sobrevive hoje a ideologia dos
setores oligárquicos”, considerando que “a perenidade desses bens leva a imaginar que
seu valor é inquestionável”. O presente trabalho propõe uma leitura alternativa deste
monumento histórico/artístico, impulsionado pela concepção de paradigma indiciário de
Carlo Ginzburg, recorrendo a dados não explícitos de sua materialidade (o monumento
em si), relacionando-os à prática de ressignificação simbólica trazendo o debate sobre
conflitos urbanos no contexto latino-americano. Problematiza os vários níveis de
apagamento social que a sua narrativa oficial promove, trazendo o exemplo da presença
da pixação na cidade de São Paulo como expressão visual da resistência ao modelo de
cidade coorporativa que privatiza os espaços públicos e como reivindicação do direito à
cidade e do direito à existência simbólica.
108
OCUPAÇÕES ESCOLARES E DIREITO À CIDADE: REFLEXÕES
ACERCA DO PAPEL DA UNIVERSIDADE NOS MOVIMENTOS DE
BASE, A PARTIR DA OCUPAÇÃO DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
CRISTÓVÃO DE MENDONZA/RS
Enzo Bello
Renata Piroli Mascarello
Rene José Keller
Com a agenda de corte de direitos por parte do governo ilegítimo de Michel Temer,
somado à ofensiva imperialista de um capitalismo em crise de sobreacumulação, uma
forma de resistência pode ser ensaiada a partir da unidade entre setores da sociedade
civil, numa espécie de sujeito coletivo. O melhor palco para essa resistência é o espaço
urbano e o direito à cidade é um pleito capaz de aglutinar diversos segmentos e lutas.
Entretanto, antes de pensar em unidade, é necessário revisitar métodos de organização,
considerando, entre tantos elementos, as novas formas de mobilização, como as
ocupações em escolas públicas ocorridas em 2016. Por ser uma ação conduzida por
adolescentes, alguns coletivos se aproximaram das escolas para prestar apoio.
Acadêmicos e pesquisadores também se fizeram presentes, para observar e/ou se
integrar ao movimento, proporcionando uma troca de aprendizado entre os ocupantes
(prática; entusiasmo) e os universitários (teoria; experiência). Uma dessas experiências
aconteceu no Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, em Caxias do
Sul/RS. O trabalho realizado por estudantes do ensino superior e da pós-graduação, no
sentido de auxiliar na tomada de decisões quanto aos rumos do movimento, foi
fundamental para que a mencionada ocupação se encerrasse com êxito. Com base nas
premissas, experiências e necessidades apontadas, articuladas com categorias de
Antonio Gramsci, este trabalho tem como objetivo refletir sobre o papel e importância
dos intelectuais dentro das organizações de base, ao mesmo tempo em que busca
problematizar a necessidade e dificuldades de atuação contínua. Sob resguardo do
materialismo histórico dialético, o estudo possui caráter qualitativo, e interdisciplinar e,
aliando o conhecimento teórico com o caso prático, tem como técnicas a pesquisa
bibliográfica e a observação não-participante. As questões a serem respondidas são: (a)
o que é hegemonia? (b) o que é o intelectual orgânico?; (c) como esses conceitos puderam
ser utilizadas na organização da ocupação estudada? Mais do que relatar uma
experiência de luta urbana, pretende-se avaliar como a universidade pode contribuir
para a construção desse sujeito coletivo, objetivando que os jovens das ocupações não se
dispersem e permaneçam mobilizados para enfrentamento dos novos desafios que estão
por vir.
109
OS GRANDES PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO NO RIO DE
JANEIRO: COLONIALIDADE DO PODER E DISPUTAS PELO
TERRITÓRIO
O presente trabalho objetiva analisar as disputas nos territórios, tendo como chave
analítica a categoria “Colonialidade do Poder” (QUIJANO, 2000), no contexto da
implementação dos “Grandes Projetos de Desenvolvimento” no Rio de Janeiro”
(ALENTEJANO, 2012), cujo marco temporal é estabelecido entre os anos de 2007-2016.
Por grandes projetos de desenvolvimento no Rio de Janeiro, compreendemos o processo
de reordenação territorial levado a cabo a partir de dois eixos estruturantes e imbricados
entre si: a consolidação da cidade do Rio de Janeiro enquanto “Cidade Global”
(SANCHEZ, 2001) no contexto de adequação espacial para recepção dos megaeventos
(VAINER, 2013) e a inserção estadual no padrão neoextrativista de acumulação latino-
americano (GUDYNAS, 2009), a partir das grandes obras de infraestrutura ligadas ao
setor de energia (Gás e Petróleo), siderurgia, indústria naval e construção civil
(BARCELOS, 2014).
Os resultados iniciais, até onde é possível aferir, apontam que o padrão hegemônico de
intervenção do capital atua refletindo no espaço as dominações de classe, etnia, gênero
e sexualidade e, por outro lado, a cidadania dos sujeitos coletivos constituem novas
territorialidades nos conflitos incidindo desde abajo no processo de produção do espaço
e na efetivação dos direitos humanos.
Adota-se, para tanto, a metodologia da pesquisa interdisciplinar com orientação
epistemológica na teoria crítica, congregando teoria e práxis, através da conjunção dos
marcos teórico-metodológicos do materialismo histórico e dialético e do pensamento
descolonial. As principais categorias teóricas analisadas na pesquisa são aquelas
referentes ao “direito à cidade”, “movimentos sociais”, “cidadania”, “resistência”,
“território” e “decolonialidade”. Adotam-se, ainda, os raciocínios indutivo e dedutivo,
numa abordagem jurídico-sociológica pelos modos de pesquisa qualitativa e
quantitativa, o que envolve as técnicas de pesquisas de revisão bibliográfica, análise
documental e observação não participante. A realização da pesquisa ocorre no âmbito
do Grupo de Pesquisa Cidadania e Direito no Espaço Urbano, que se insere no Núcleo
de Estudos em Planejamento Habitacional e Urbano (NEPHU-UFF), que congrega
professores doutores e mestres, mestrandos, graduados e graduandos.
110
A CIDADE-SUJEITO: UMA OBSERVAÇÃO MEDIADA PELO
PORTO MARAVILHA
Ao articular uma conversa com o que está fora de suas margens, a presente pesquisa
apresenta-se como ferramenta de observação da subjetividade urbana. Cuida-se de
empreendimento que aparece metodologicamente alicerçado no diálogo da alteridade
revelada no pensamento de Jacques Derrida com uma investigação que se pretende mais
próxima da paisagem urbana, contribuindo para a compreensão da cidade-sujeito, ao
buscar refletir a respeito do movimento de revitalização do Porto do Rio de Janeiro, o
Porto Maravilha. Objetiva-se, assim, pensar sobre os processos de urbanização que dão
fôrma à cidade dentro de uma proposta que desloca a representação subjetiva do plano
da singularidade operante, associando o sujeito a um espaço privilegiado. Observo-o
enquanto categoria que surge em resposta às demandas por uma redoma de proteção,
para além da qual outros são deixados de fora, objetificados. Dentro de uma análise que
parte da percepção do sujeito como lugar, uma comunidade visível e limitada passível
de ser observada, busco trabalhar com o problema que eflui da igualdade produzida por
essa cidade-sujeito e cuja visibilidade ascende quando notamos o que extrapola tal esfera
de coesão, no momento em que percebemos que há heterogeneidades interpelando os
seus limites. Perceber o urbanismo como técnica significa ficar atento aos processos
hegemônicos que concebem a representação desse espaço, colocando a cidade-sujeito e
a cidade-objeto em um processo de retroalimentação. Ela, a cidade-sujeito, só assim se
apresenta porque, antes, é mercadoria, tão logo, o espaço da subjetividade vai mostrando
seus contornos em meio à dinâmica de espoliação dos mais diversos outros pelo capital,
à medida que não estão aptos a consumir a cidade. Tornando-se um bem de consumo a
cidade-objeto é artigo de luxo que só cabe a alguns, aqueles mesmos indivíduos que
ocupam o espaço de privilégio criado nos braços da subjetividade urbana. Observar uma
tendência na configuração do ambiente urbano, o que chamo de cidade-sujeito, ajuda no
enfrentamento da diferença que a confronta e torna possível a ressignificação do espaço,
a sua concepção a partir dos múltiplos eventos, aos quais estão integrados múltiplos
atores e as suas múltiplas vulnerabilidades.
111
DEFESA DOS DIREITOS DE OCUPAÇÕES URBANAS E
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL: AS POTENCIALIDADES DA
EDUCAÇÃO POPULAR EM DIREITOS PARA A APROPRIAÇÃO DO
ESPAÇO E ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA
112
A INFLUÊNCIA DOS MOVIMENTOS DE OCUPAÇÃO NA
TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM BEM COMUM
SOCIAL
113
PARA PENSAR A CONSTRUÇÃO DO ACESSO DESCOLONIAL A
CIDADE: UMA ANÁLISE DA OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS
URBANOS PELOS POVOS ROMANÍ NO RIO GRANDE DO SUL
O presente trabalho tem como objetivo geral identificar, com base na realidade dos
povos Romaní do Rio Grande do Sul, a existência (ou não) de mecanismos legais de
acesso aos espaços urbanos para essas comunidades, capazes de enfrentar a urbanização
capitalista e a matriz colonial de poder. Para tanto, inicialmente, será feita uma análise
do nomadismo e seu início, assim como a trajetória Romaní na Europa e aspectos
históricos e atuais de sua presença no Brasil, e por fim, das leis municipais do Rio Grande
do Sul que tratem da presença dos Romaní em seus territórios. Após isso, serão
analisadas a formação dos espaços urbanos na modernidade, tanto na Europa, quanto
no Brasil, como a lógica da colonialidade interferiu na formação desses espaços na
América Latina. Por fim, serão analisadas alternativas que possam ser feitas a esse
modelo urbano moderno/colonial, como a descolonialidade, a interculturalidade e a
multiterritorialidade, assim como a sua inserção nos marcos legais internos e
internalizados de proteção aos direitos culturais dos ciganos no país, assim como uma
análise comparada do direito colombiano sobre a temática. A pesquisa será de
modalidade científica, de cunho exploratório, mediante análise bibliográfica e
documental dos aspectos concernentes a presença dos povos Romaní na Europa e no
Brasil, de legislações brasileiras internas e internalizadas sobre os ciganos e demais
comunidades tradicionais, dos mecanismos legais dos municípios gaúchos sobre o tema,
assim como de obras que tratem da formação dos espaços urbanos, da lógica da
colonialidade, e das teorias alternativas supramencionadas a esse tema. Os resultados
da pesquisa apontam que a lógica da colonialidade se faz presente nos espaços urbanos
das cidades do Rio Grande do Sul, a medida que as leis municipais que tratam da
ocupação pelos povos Romaní de seus espaços urbanos tendem a limitar, e não a
promover esse direito cultural para as comunidades.
114
A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE INTERESSE SOCIAL
ENQUANTO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO AO DIREITO À
MORADIA DIGNA NO LOTEAMENTO NOVO MILÊNIO -
PELOTAS/RS.
115
A CIDADE DE NITERÓI/RJ À VENDA NO MERCADO DE CIDADES
116
VILA AUTÓDROMO - CONFLITOS SOCIOPOLÍTICOS E LUTA
URBANA
117
ALTERIDADE, ESTIGMA E DESCOLONIZAÇÃO
NA AMÉRICA LATINA
ALTERIDADE SURDA E AGENCIAMENTO DECOLONIAL: POR
UMA COMUNICAÇÃO PEDAGÓGICA DA EXISTÊNCIA SOCIAL
DE DIREITOS
119
A BUSCA PELA EFETIVAÇÃO DA CIDADANIA DE MULHERES
PERIFÉRICAS: REFLEXÕES A PARTIR DOS CURSOS DO
PROGRAMA “MULHERES MIL”, REALIZADOS NAS CIDADES DE
BELO HORIZONTE E DE OURO VERDE DE MINAS
O presente trabalho visa realizar uma análise crítica sobre o processo de formação da
cidadania de mulheres perifericas, em situação de vulnerabilidade social, que
participaram dos cursos de capacitação profissional ofertados pelo programa do
governo federal “Mulheres Mil”, executado pela Fundação de Educação para o Trabalho
de Minas Gerais – Utramig, no Estado de Minas Gerais. Os cursos foram oferecidos a
mulheres da Ocupação Rosa Leão na cidade Belo Horizonte e da comunidade
quilombola Santa Cruz no município de Ouro Verde de Minas. As bases teóricas
utilizadas, para realizar a análise da construção da cidadania dessas mulheres, foram a
teoria da colonialidade de poder de Aníbal Quijano, Ramón Grosfoguel e Walter
Mignolo, alem do pensamento de Jesse Souza sobre a pluralidade de habitus,
caracterizando os tipos de cidadania existentes em uma sociedade periferica. E, para isso,
partimos do pressuposto de que as mulheres participantes dos cursos partilham de um
status de subcidadania, por incorporarem um habitus precário, e, tambem, por estarem
inseridas num contexto social marcado pelas estruturas de dominação da colonialidade
de poder, que ainda se presente na sociedade brasileira. É a partir desse cenário de
exclusões e de desigualdades sociais que se pretende desenvolver este artigo,
procurando demonstrar a influência dos eixos de poder da colonialidade na estruturação
social e no desenvolvimento das pre-condições sociais, culturais e econômicas das
mulheres perifericas, os quais ensejam a formação de desclassificadas sociais. Para
enfim, chegar a conclusão de que os cursos oferecidos pelo programa “Mulheres Mil”
são contribuições importantes para o empoderamento das mulheres em situação de
vulnerabilidade social, atuando no fortalecimento da autoestima delas, alem de
incentivar e capacitar à geração de renda por elas próprias, a fim de que tenham acesso
aos capitais cultural e econômico, de forma que possam superar a subalternidade, e,
assim, alcançar o patamar da cidadania plena.
120
DESCOLONIZAÇÃO OU NEOCOLONIZAÇÃO DO TERRITÓRIO
NA REGIÃO ANDINO-AMAZÔNICA? DISPUTA PELA
PLURINACIONALIDADE E O VIVIR BIEN NA BOLÍVIA
121
POR UMA DESCOLONIALIDADE DO PODER A PARTIR DE
ENRIQUE DUSSEL
122
DECOLONIZAR O PENSAMENTO AMOROSO
Mônica Barbosa
123
AUTONOMIA INDÍGENA E DECOLONIALIDADE: PROCESSOS DE
RESISTÊNCIA DOS POVOS INDÍGENAS À IMPLANTAÇÃO DE
PROJETOS EXTRATIVOS NO BRASIL
124
INCULTURAÇÃO VERSUS INTERCULTURALIDADE, OS
CAMINHOS DA FÉ CRISTÃ NA AMÉRICA LATINA
OBJETIVO:
PROBLEMA:
METODOLOGIA:
125
DIREITOS HUMANOS E ESTUDOS DO
DISCURSO
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A TERRA INDÍGENA
RAPOSA SERRA DO SOL – DESVENDANDO A
(DE)COLONIALIDADE DO SABER JURÍDICO BRASILEIRO PELO
ESTUDO DE CASO
127
LINGUAGEM DE DIREITOS E PROPRIEDADE INDÍGENA: O JOGO
DE LINGUAGEM DOS DIREITOS E SUA DEPENDÊNCIA COM
RELAÇÃO A UMA FORMA DE VIDA.
A pergunta central deste estudo consiste em saber se a linguagem de direitos pode ser
considerada um fator instransponível de limitação para solução de conflitos sociais
acerca do direito de propriedade no caso de incomensurabilidade entre culturas, em
especial, povos indígenas. Nesse sentido, as categorias de jogo de linguagem e forma de
vida serão utilizadas com objetivo de esclarecer os pressupostos da pergunta. O conceito
de forma de vida é compreendido como o pano de fundo comum ou sistema necessário
que permite, em última instância, o entendimento entre as pessoas. Toda forma de vida
pressupõe diversos jogos de linguagem, que são conjuntos de regras para determinação
do significado de assertivas. O direito pode ser caracterizado como um jogo de
linguagem que pressupõe (a) a utilização dos conceitos de pretensão, obrigação,
faculdade, não-direito, poder, sujeição, imunidade e inabilidade, (b) apresentando
necessariamente a pretensão de influenciar comportamentos intencionais humanos (c)
com objetivo de solucionar conflitos sociais (d) a partir da referência a um fato social.
Uma primeira resposta à pergunta central do estudo seria, portanto, positiva: a
linguagem caracteriza a prática do direito e impõe, dessa forma, limites, os quais não
podem ser ultrapassados sob pena de abandono do próprio jogo de linguagem jurídico.
Num segundo momento do estudo, porém, a tese da incomensurabilidade entre o jogo
de linguagem dos direitos e pretensões de grupos indígenas à propriedade será
analisada. Os problemas criteriais e científicos para o reconhecimento da propriedade
indígena serão apresentados a partir dos estudos de Jeremy Waldron sobre o uso da
linguagem de direitos a partir de uma posição contraturalista e Justin Evans a partir da
crítica de Derrida à linguagem de direitos. Ao cabo, no entanto, o estudo conclui que a
linguagem de direito per se não é o fator determinante para a impossibilidade da solução
de conflitos, conquanto seja um horizonte limitador para tanto.
128
APRENDENDO SOBRE RAÇA COM A REVISTA YOUNG ALLIES
No início dos anos 1940, uma das maiores editoras de histórias em quadrinhos dos
Estados Unidos, a Timely Comics, promovia em suas publicações uma campanha
incentivando o apoio popular à participação do país na Segunda Guerra Mundial. As
histórias em quadrinhos haviam ganhado grande espaço entre o público estadunidense
desde a depressão, nos anos 1930, pois se tratava de um meio de entretenimento barato
e de fácil acesso. No final dos anos 1930 surgiu um novo gênero de histórias em
quadrinhos, os super-heróis. Alçando um grande sucesso, as histórias de heróis com
habilidades especiais se multiplicaram entre as editoras, sendo um gênero consagrado
nos anos 1940. O dono da editora Timely, Martin Goodman, havia encomendado a dois
de seus funcionários o desenvolvimento de um personagem patriótico, daí a origem do
Capitão América. Entretanto, o enfoque deste trabalho é uma outra revista publicada
pela editora durante o mesmo período, a revista Young Allies. A Young Allies era
basicamente uma revista reunindo os sidekicks dos principais super-heróis da editora,
Capitão América e Tocha Humana, e mais alguns personagens, todos adolescentes.
Nessas histórias o jovem grupo enfrentava nazistas e, após o ataque a Pearl Harbor em
dezembro de 1941, passou a enfrentar inimigos japoneses também. O objetivo desta
pesquisa é analisar as maneiras pelas quais o discurso nessas histórias constrói
identidades raciais e de que formas essas identidades são articuladas para moldar as
concepções de “nós” e de “eles”. Trata-se de uma experimentação com o intuito de traçar
possíveis relações entre o discurso patriótico da Timely e a raça. Por fim, o arcabouço
teórico-metodológico desta pesquisa se alicerça nos estudos de mídias desenvolvidos
por Douglas Kellner e na análise crítica do discurso desenvolvido por Norman
Fairclough.
129
DISCURSO JURÍDICO E REGULAÇÃO DE CORPOS
“DESVIANTES”: O CASO YY V. TURQUIA
Este ensaio pretende explicitar a participação do discurso jurídico dos direitos humanos
no estabelecimento de um regime de visibilidade e inteligibilidade sobre corpos
comumente entendidos como “desviantes” – como testemunha, a título de exemplo, a
patologização da chamada “disforia de gênero”. Isso será feito com recurso a uma
recente decisão da Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH), nomeadamente, o
veredito do caso Y.Y. c. Turquia (2015), no qual se estabeleceu a obrigatoriedade de
assegurar critérios justos e proporcionais na legislação pertinente à permissão ou não de
intervenções cirúrgicas e hormonais para pessoas transgênero, assim como das
condições necessárias para o reconhecimento jurídico da transição sexual e de gênero
dessas pessoas. Trata-se de um caso complexo, no qual um amplo espectro de fatores foi
considerado. Nele, fica patente a intensidade do controle social exercido sobre os corpos
transgênero que desejam realizar operações de transição sexual. Não se pretende, claro,
diminuir a expressividade da atuação da CEDH e do regime de direitos humanos em
geral para a garantia dos direitos LGBTQ, mas ressaltar a necessidade de uma crítica à
modernidade, que abra espaço para a relativa flexibilização dos termos das subjetivações
possíveis sob um tal regime discursivo e regulatório. Faz-se necessário, então, expor a
construção retórica de uma ficção narrativa mediante a qual o sujeito dos direitos
humanos, marcado pela ruptura de uma inteireza pressuposta, sempre no horizonte (a
harmonia entre morfologia e pensamento, res extensa e res cogitans), (re)adquire essa
mesma completude, ao submeter-se à regulação médica, científica e jurídica de seu
corpo. O argumento central, aqui, é que esse processo se opera discursivamente como
tentativa de atribuir uma tal inteireza mediante o estabelecimento de um corpus de
saberes, constituído pela performance de uma congruência fictícia entre o litigante Y.Y.
(e, por extensão, a todo corpo similarmente posicionado como desviante, segundo a
matriz heterossexista) e o ideal regulatório do gênero e da sexualidade prescritos a um
indivíduo “normal” – congruência essa que é inevitavelmente mediada por um regime
inescapável de visibilidade e de inteligibilidade.
130
ENTRE DISCURSOS E ARGUMENTAÇÕES – O CASO DAS
ANISTIA NO STF E NA CORTE IDH
131
ARQUIVO, MEMÓRIA E DIREITOS HUMANOS
Este trabalho tem como objetivo discutir a relação existente entre o arquivo repressivo -
produzido dentro de contexto repressivo – a memória resultante destes acontecimentos
e os direitos humanos. Bem como, ressaltar que a efetiva preservação destes documentos
é capaz de contar a história de uma pessoa, de uma sociedade, de um tempo no seu
momento presente ou décadas depois; é capaz de garantir os direitos de uma pessoa, de
uma sociedade. Para melhor contextualizar o trabalho, será utilizado como “pano e
fundo”, a ditadura militar brasileira para servir como exemplo da análise pretendida. A
metodologia consiste em uma revisão bibliográfica a fim de apresentar os principais
conceitos que embasam e justificam a importância da relação - consciente - entre
Arquivo, Memória e Direitos Humanos, dentro do contexto da ditadura militar
brasileira. Pretende-se elucidar e ratificar a relevância da existência documental
completa dentro de um arquivo repressivo visando à preservação de informações
pertinentes. Serão estas que contarão não apenas a história de um momento histórico,
mas dos seus atores (vítimas e algozes), o que ocorreu com eles, onde estão e o porquê
de todos os atos sofridos. Conclue-se sugerindo novos olhares, novos pensamentos,
novas medidas através de conscientização da importância da informação contida nos
arquivos para preservação da memória e principalmente para a aplicação dos direitos
humanos.
132
A ARGUMENTAÇÃO E AS FALÁCIAS JURÍDICAS WARATIANAS
NO DISCURSO DE FUNDAMENTAÇÃO NAS DECISÕES DO STF
SOBRE A MULHER
133
EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS DO ENSINO
NA UNIVERSIDADE
Fernanda Martins
Augusto Jobim do Amaral
134
AS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES SOBRE OS RITUAIS
ANTROPOFÁGICOS DESCRITOS EM DUAS VIAGENS AO BRASIL
E I-JUCA PIRAMA À LUZ DO PENSAMENTO DESCOLONIAL
135
ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO JURÍDICO NA
FUNDAMENTAÇÃO DA ADPF 186 DO STF SOBRE OS DIREITOS
DOS NEGROS
Este trabalho consiste em uma análise crítica do voto de Lewandowski na ADPF 186, se
valendo dos modos de operação da ideologia de Thompson, do tridimensionalismo de
Fairglough e do pensamento descolonial, com o fulcro de tentar elucidar os melindres
da fundamentação jurídica do STF. A análise foi feita identificando os modos de
operação da ideologia, que são: legitimação, dissimulação, unificação, padronização,
reificação e seus derivados; as três dimensões do discurso, sendo elas: textual, prática
discursiva e prática social e a descolonialidade, que se trata do estudo do discurso
dominante(colonial) e seus contrapontos, propondo uma desconstrução dos conceitos
tradicionais que são prejudiciais as minorias. Neste trabalho temos uma importante
intersecção entre os estudos de direito e linguística, que objetivam elucidar os métodos
que sustentam a construção textual do voto em análise, e, ademais, alcançar as ideias de
quem constrói o discurso, pois o relator deste voto integra a mais alta corte de
julgamento do país, e ter acesso as suas posturas ideológicas e mecanismos de discurso
é também, ter o vislumbre do que pode vir a surgir em novas decisões da Corte. Como
resultado deste trabalho, tem-se que o voto de Lewandowski, que responde a ação
impetrada pelo partido DEM, interpreta a constituição com o escopo de deslindar se a
reserva de vagas a uma minoria étnico-racial feriria os princípios da carta política ou
contribuiria para a eficácia destes princípios. O voto, com o uso recorrente do discurso
descolonial, fazendo uso de estratégias típicas, como as frequentes “fragmentação” e
“universalização”, pode ser considerado como um verdadeiro marco na ainda tímida
construção de uma sociedade justa e igualitária, trazendo a tona a discussão acerca do
racismo da sociedade brasileira e ratificando as cotas raciais como, neste momento,
necessárias para a eficácia do princípio da isonomia, postulado pela Carta Magna de
1988.
136
DIREITOS DAS MINORIAS E GRUPOS VULNERÁVEIS: UMA
ANÁLISE DO DISCURSO DE FUNDAMENTAÇÃO NAS DECISÕES
DO STF
Jaqueline Deuner
Bruna Marques
137
ADOLESCENTES NA CRIMINALIDADE E O DISCURSO DA
REVISTA VEJA: NOVOS DIZERES, MESMO SENTIDO.
A criminalidade na adolescência é uma questão que vem ganhando dimensões cada vez
maiores no cenário brasileiro. O modelo de produção capitalista é atravessado por
profundas contradições em suas características mais desiguais e excludentes. Alguns
jovens, marcados pelas rígidas desigualdades sociais e pela alienação do mundo do
capital, encontram na violência uma maneira individual de fazer parte do sistema, o que
gera a sua associação direta à criminalidade. Como consequência, os adolescentes que
cometem ato infracional (ACAI) são estigmatizados e sua imagem banalizada através da
grande imprensa que tem o poder de construir sentidos positivos ou negativos acerca
deles, além de mobilizar pré-conceitos dando determinada ênfase à matérias sobre
crimes cometidos por adolescentes. Quando se fala em mídia, é preciso lembrar que ela
representa uma das instituições que influenciam na formulação de modos de ver e
interpretar a realidade, pois se fazendo presente em todos os lugares e momentos da
vida dos indivíduos, sob a forma dos veículos de comunicação e do discurso jornalístico
(DJ), ela circula opiniões, impressões, conceitos e julgamentos, neste caso, sobre os ACAI,
que agem sobre o imaginário social, construindo um efeito de verdade, que leva os
indivíduos a pensar de determinada maneira, como se as informações veiculadas
representassem a realidade. Outras vezes, ela busca criar uma realidade à parte,
apontando formas de viver e pensar. Os veículos midiáticos têm, com frequência,
emitido juízos sobre a questão da criminalidade na adolescência, seja apontando
soluções para o problema, ou condenando a ‘impunidade’ em se encontram os ACAI.
Refletir sobre essa questão é o fator que impulsiona esta pesquisa que se propõe a
investigar quais efeitos de sentido emergem do discurso da revista Veja sobre estes
adolescentes. O corpus desse trabalho é composto pela análise de sequências discursivas
(SDs) extraídas da matéria O dever de reagir, publicada na edição nº 2318, veiculada
pela revista em 24 de abril 2013 que aborda a temática da criminalidade na adolescência.
Entende-se que é por meio da materialidade discursiva que serão encontrados os
vestígios do processo de produção do discurso da Veja e os efeitos de sentido
produzidos por ela. Ressalta-se que a escolha da Veja ocorre por sua representatividade
nacional, pois é a revista mais vendida no Brasil com uma tiragem superior a um milhão
de cópias semanais, fator que justifica sua escolha como objeto de estudo. Para fornecer
as bases para a análise, tomou-se como perspectiva teórica a corrente francesa da Análise
de Discurso (AD), partindo, sobretudo, de Pêcheux (1990) (1995) (1999) (2014). Acredita-
se que elucidar as práticas discursivas e, sobretudo, o processo de construção e de
reprodução dos discursos hegemônicos sobre o crime e o ato infracional é um passo
fundamental na elaboração e difusão de um discurso alternativo, contra-hegemônico e a
construção de um olhar generoso sobre os ACAI no que tange às suas trajetórias de risco,
sofrimento e descaso social.
138
Palavras-chave: Análise de discurso; Adolescente que pratica ato infracional; Efeitos de
sentido; Revista Veja.
139
O DISCURSO COLONIAL DAS LEIS DE NÜREMBERG DE 1935
Bianka Adamatti
140
DE WODAK A MIGNOLO: PONTES ENTRE A ANÁLISE CRÍTICA
DO DISCURSO E A EPISTEMOLOGIA DECOLONIAL NO
PROBLEMA DO ÓDIO
Lizandro Mello
141
MODOS DE OPERAÇÃO DA IDEOLOGIA NA PETIÇÃO 3.388 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E SUA RELAÇÃO COM O
DIREITO INDÍGENA
142
GÊNERO, DISCURSO E COLONIALIDADE: UMA ANÁLISE DO
DISCURSO DE FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO DO STF
ACERCA DE DIREITO DAS MULHERES
143
O DISCURSO RACISTA COMO DESAFIO PARA OS DIREITOS
HUMANOS
Aline Andrighetto
144
"DISCURSOS QUE MATAM": ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
DE PROCESSOS CRIMINAIS DE PRESOS MORTOS NO
COMPLEXO PENITENCIÁRIO DE PEDRINHAS – SÃO LUÍS /
MARANHÃO
145
Palavras-chave: Pedrinhas; Mortes; Análise do discurso crítica; Sistema penal;
necropolítica.
146
IMIGRAÇÃO: OS DIREITOS HUMANOS LINGUÍSTICOS
147
A REDUÇÃO DA IDADE PENAL NO DISCURSO JORNALÍSTICO:
PROPOSIÇÕES PARA ALÉM DOS ESTEREÓTIPOS CRIMINAIS E
DA NATURALIZAÇÃO DOS LUGARES COMUNS SOBRE CRIME E
SISTEMA PENAL NO DEBATE DA SEGURANÇA PÚBLICA PELO
JORNALISMO
148
EDUCAÇÃO NA AMÉRICA LATINA:
PENSAMENTO DESCOLONIAL E
INTERCULTURALIDADE
A EDUCAÇÃO NA AMÉRICA LATINA NO CONTEXTO DAS
FORMAS DE COLONIZAÇÃO MODERNAS: A RACIONALIDADE
EUROPEIA E A NEGAÇÃO DA DIVERSIDADE NA PRODUÇÃO DO
SABER
150
A INTERCULTURALIDADE COMO ESTRATÉGIA PARA
APROXIMAÇÃO ENTRE PESQUISADORES BRASILEIROS E
HISPANPO-AMERICANOS NA PERSPECTIVA DA
DESCOLONIZAÇÃO
151
DESCOLONIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NA AMÉRICA
LATINA: O DIÁLOGO INTERCULTURAL E INTER-EPISTÊMICO
Manuel Tavares
Sandra Gomes
152
A HISTÓRIA DA ESCOLA ESTADUAL COMUNITÁRIA RURAL DE
COLATINA RELATOS DE PROTAGONISTAS
O objeto deste estudo foi a Escola Estadual Comunitária Rural Colatina – EECOR, enfoca
a Educação Popular e a Educação do Campo caracterizada na Pedagogia da Alternância
em sua vinculação com o Estado, busca descortinar possibilidades e entraves nesta
intersecção, em processos educativos que remetam a uma proposta de transformação
social, registrando as vozes de sujeitos inseridos em práticas de educação do campo, por
meio de uma pesquisa participativa com as epistemologias surgidas no Sul como
experiências, métodos e pedagogias que se comprometem e valorizam “outro
conhecimento” ante a colonialidade imposta pelo Norte. A pesquisa se pautou na
metodologia de pesquisa qualitativa por meio de entrevistas narrativas com sujeitos
protagonistas no processo de construção da referida escola e com análise de documentos.
O problema da pesquisa residiu na função da educação na emancipação humana.
O caráter público da EECOR engendra um questionamento sobre a possibilidade de
acesso e universalização de propostas educativas contra-hemônicas no seio do Estado
hegemônico. A pesquisa aponta que a Educação do Campo após anos sendo relegada,
pode, por meio da Pedagogia da Alternância, contribuir como objeto de estudos e de
políticas públicas no Brasil, apresentando práticas de resistência contra o projeto
neoliberal e inserindo-se no movimento de educação popular que se espalha pelo
mundo.
153
LITERATURA AFRICANA NA INFÂNCIA: MOMENTO DE
INTERCULTURALIZAR PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
154
DESCOLONIZANDO A EDUCAÇÃO COM O COLETIVO FANON:
ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E EUROCENTRISMO
155
A DESCOLONIALIDADE DOS SABERES DA JUVENTUDE
CAMPONESA ATRAVÉS DA ESCOLA FAMILIA AGRICOLA DOM
FRAGOSO NO CEARÁ
156
REVISANDO CONCEITOS: OS LIVROS DIDÁTICOS ENQUANTO
DIFUSORES DO DISCURSO DE NARRATIVA ÚNICA
157
ETNONTOLOGIAS E CONSTRUÇÃO EPISTEMOLÓGICA DOS
SABERES
158
CONHECIMENTO, PODER E IDEOLOGIA: UMA CONCEPÇÃO DE
EPISTEMOLOGIA DESCOLONIAL E LOCAL E SUA RELAÇÃO
COM A EDUCAÇÃO
159
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA NO RIO DE JANEIRO: ESPAÇO
DE DECOLONIALIDADE?
O único povo indígena que vive no Rio de Janeiro são os Guarani Mbya, atualmente
existem sete aldeias Guarani Mbya. Para atender a demanda de educação há apenas uma
escola indígena com três salas de extensão. Esse povo trava uma luta histórica por um
projeto de educação escolar que garanta o respeito a sua cultura, seu modo de vida.
A presente pesquisa pretende analisar a implementação dos anos finais do Ensino
Fundamental e a proposta curricular, buscando em quais momentos esse currículo se
constitui como decolonial ou colonizador.
A história da implementação da educação escolar indígena no Rio de Janeiro inicia-se na
década de 90 por iniciativa dos próprios Guarani. Eles defendiam os princípios de uma
educação diferenciada, específica, intercultural e bilingue. Em 2003, o governo do estado
institucionalizou a Escola Indígena e manteve a oferta para os anos iniciais do Ensino
Fundamental. Somente no ano de 2015, a escola é transformada em Colégio e inicia a
oferta dos anos finais do Ensino Fundamental.
Para ministrarem as aulas dos anos finais do Ensino Fundamental, foram selecionados
professores não indígenas da rede estadual de ensino. Esses professores estão passando
por um curso de formação no qual devem elaborar uma proposta curricular para os anos
finais do Ensino Fundamental.
Para tentar responder aos questionamentos apontados nos parágrafos acima
utilizaremos a metodologia qualitativa, por acreditamos que ela abarca mais elementos
que nos ajudam a entender nosso objeto que é tão multifacetado e utilizaremos alguns
procedimentos metodológicos que nos auxiliarão no processo investigativo, tais como:
entrevista e observação participante.
Toda pesquisa será embasada no arcabouço teórico do grupo
Modernidade/Colonialidade por acreditarmos que a discussão travada por esse grupo
seja de fundamental importância para o entendimento do nosso objeto de estudo.
Não temos resultados conclusivos da pesquisa, pois ela está em andamento, na fase de
análise dos dados coletados, contudo podemos observar que apesar de toda opressão e
descaso estatal, há práticas decoloniais ocorrendo naquele espaço escolar.
160
URGÊNCIA, CONSCIÊNCIA E EMERGÊNCIA: A INVISÍVEL ARTE
NEGRA DO RIO GRANDE DO SUL
O governo federal brasileiro conseguiu criar, nos últimos doze anos, uma série de
políticas públicas que visam diminuir as desigualdades provocadas pela forma como os
descendentes de africanos foram deixados após o fim da escravidão de seus
antepassados. Tais políticas, além de favorecerem a população negra com editais
específicos, evidenciam a anterior indiferença dos governos em relação a essa população
e o racismo institucionalizado que permeia as diversas instâncias da sociedade brasileira,
como a cultura e a educação. O presente artigo propõe algumas reflexões sobre o
contexto e as conseqüências das políticas públicas afirmativas para a arte e a educação,
praticadas no Brasil no século XXI, tomando como ponto de partida o Projeto Casa
Grande, um dos vencedores do Prêmio Funarte de Arte Negra 2012. À luz de autores
como Milton Santos, Ricardo Aleixo, Didi-Huberman e Carl Einstein, buscamos
estabelecer um discurso autoral verbal escrito que dialogue com nossa experiência
recente e com nossa própria obra constituída a partir do projeto supracitado.
Palavras-chave: Arte Negra; Políticas Públicas; Ações Afirmativas; Projeto Casa Grande;
Rio Grande do Sul.
161
LEI 10.639/03: UMA POSSIBILIDADE PEDAGÓGICA PARA A
EMANCIPAÇÃO HUMANA
162
DESCOLONIZANDO A EDUCAÇÃO: O CASO DO INDÍGENA
MATHIAS JOSÉ DOS SANTOS
Ricardo de Oliveira
163
A VIOLÊNCIA NA BASE DA REPRODUÇÃO DA COLONIALIDADE
NOS PAÍSES DO SUL
164
OUTRAS VOZES, CORPOS E NARRATIVAS: POSSIBILIDADES
DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE SOCIOLOGIA NA
EDUCAÇÃO BÁSICA
165
“NO REINO DAS ÁGUAS SÁBIAS”: UMA EXPERIÊNCIA
INTERCULTURAL E DE DESCONSTRUÇÃO DO COLONIALISMO
NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE
166
A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DE CRIANÇAS DO CAMPO NAS
CIRANDAS INFANTIS DO MST COMO LUGAR-OUTRO DE
RESISTÊNCIA CONTRA HEGEMÔNICA À COLONIALIDADE
167
ARTE, SABERES TRADICIONAIS E ENCONTROS EPISTÊMICOS:
CONSTRUINDO UMA CRÍTICA DECOLONIAL NO CONTEXTO DA
FORMAÇÃO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE
Fran Demétrio
Ticiana Osvald Ramos
Luciana Alaíde Alves Santana
168
MURAL ‘RAÍZES RECÔNCAVAS’: A ARTE COMO CONTRIBUIÇÃO
À DECOLONIZAÇÃO DO PENSAMENTO E À
TRANSDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE
Fran Demétrio
Ticiana Osvald Ramos
169
PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DA REALIDADE: FORMAÇÃO
DESCOLONIAL A PARTIR DE UM COMPONENTE CURRICULAR
MODULAR
170
EDUCAÇÃO INDÍGENA NO BRASIL: A CONQUISTA DA ESCOLA
DIFERENCIADA
Telmo Adams
Marina da Rocha
171
DESCOLONIALIDADE E INTERCULTURALIDADE A PARTIR DE
PREMISSAS PARA UMA EDUCAÇÃO NA AMÉRICA LATINA
172
DECOLONIZAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE,
INTERCULTURALIDADE: OPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS PARA
APROXIMAÇÃO DO IMAGINÁRIO JUVENIL
173
ENTRE EXPERIÊNCIAS E NARRATIVAS DE VIDA: VIOLAÇÃO DO
DIREITO À EDUCAÇÃO NAS ENTRELINHAS DO CONTEXTO
ESCOLAR
174
BRASIL, QUE SABES DA AMÉRICA LATINA?
175
POLÍTICAS EDUCACIONAIS E SOCIOEDUCAÇÃO: ENTRE
(IN)JUSTIÇAS E (DES)IGUALDADES
176
“EU TÔ OUVINDO ALGUÉM ME CHAMAR”: A DENÚNCIA DA
MÚSICA RAP BRASILEIRA POR UMA NOVA FILOSOFIA DA
EDUCAÇÃO
O Brasil, importante destino de negros africanos que serviam de mão de obra escrava
nas minas de ouro e nos latifúndios rurais, conheceu a figura do negro como aquele que,
dotado de aptidão para o trabalho braçal, vivia isolado do branco que não via nele traços
de semelhança suficientes para tê-lo como sujeito de direitos. Ainda hoje, grande parte
daqueles que vivem nas favelas ou em bairros de periferia são negros que sofrem os
efeitos do preconceito oriundo da forma como foram conhecidos pela sociedade
brasileira. Mesmo depois de adquirir a condição formal de sujeitos de direito, o negro
brasileiro encontra enormes dificuldades para expressar suas formas de vida e saberes
culturalmente manifestados por gerações. Nesse contexto, o processo de educação
formal deveria ser um importante instrumento de reconhecimento da figura do negro
no Brasil, porém acaba por reforçar a discriminação racial na medida em que reproduz
apenas o capital cultural que lhe é estranho. Esse é o motivo pelo qual milhares de
indivíduos não prosseguem no ambiente escolar, restando silenciados pela baixa
autoestima que os intimida diante de uma sociedade que conserva valores coloniais, ou
pela depreciação dos meios de divulgação de seus saberes e formas de vida, como a
música RAP. Mais do que estilo musical, o RAP é importante instrumento de
disseminação de informação e manifestação do pensamento. Como fio condutor desta
pesquisa, utiliza-se a música “tô ouvindo alguém me chamar”, (Mano Brown/Racionais
MC’s), com o objetivo de demonstrar a visão do negro de periferia a respeito da formação
universitária diante da alternativa da vida no crime, perguntando: como fazer do
ambiente escolar um local acolhedor ao negro, capaz de transformar o seu capital
cultural em autoestima? A pesquisa se encontra em fase inicial e apoia-se em revisão
bibliográfica, utilizando-se o método dedutivo para as devidas conclusões. Como
hipótese, a impressão é de que as ideias coloniais, intrínsecas ao Estado moderno, estão
fora de lugar, e por isso o negro ocupa uma posição marginalizada no âmbito escolar, o
que clama por uma nova matriz epistêmica que valorize a pluralidade de ideias num
ambiente dialógico, não competitivo.
177
PEDAGOGIA DESCOLONIAL E PEDAGOGIA QUEER:
DESCONSTRUÇÕES DO FAZER PEDAGÓGICO
Eliana Quartiero
178
A REPRESSÃO DA MULHER NA EDUCAÇÃO CRISTÃ EUROPEIA E
SEU TRANSPLANTE PARA A COLÔNIA
Busca-se associar a invasão da América do Sul pelas forças luso-espanholas, que trouxe
à colônia as missões religiosas, à influência recebida na educação e repressão,
especificamente pela mulher. Assim é que notadamente a partir dos jesuítas, em 1549, a
instituição Igreja, com seu sólido repertório educacional, fundado na pedagogia do
castigo (GENTIL, 2009), estabelece-se como referência na formação da identidade
daquela sociedade que povoa a colônia e servirá, dócil, à predação do invasor. O padrão
comportamental difundido com os rigores do método escolástico – da escola da aldeia
indígena ao púlpito que fala aos abastados –, foi o de uma sociedade cindida em classes
e também numa divisão sexual de papéis, destinado à mulher o de produtora de prole e
cuidadora de uma família regida pelo homem, dono de poder absoluto e único titular
do direito à propriedade. O universo da mulher é exclusivamente o lar e lhe são
interditadas funções fora dos seus limites. Os herdeiros garantirão a continuação da
propriedade e o chefe da família deve, assim, ter a certeza da paternidade, o que
teoricamente lhe asseguram a monogamia feminina e, até o casamento, a virgindade da
mulher. Sendo a única função que lhe compete, a maternidade é exaltada como desejo
natural da mulher "normal", excluídas alternativas. Objetiva-se relacionar que a
reprodução desse paradigma se faz, em grande dose, intermediada pela educação cristã
e sob o signo do temor ao castigo divino, aos quais se associam o pecado e o diabolos (o
que divide). Tornam-se frequentes reproduções da imagem feminina com casco e chifres,
numa dupla incriminação: algoz do homem, pois seduz e afasta do trabalho (e do
divino), e ser desprezível, imerecedor de confiança.
Como escapar desse destino é a reflexão que se tenciona propor, pontuando-se que
somente a compreensão das raízes profundas da sociedade de classes possibilitará o
início dessa marcha.
A pesquisa é bibliográfica; vale-se também de pinturas no interior da igreja de São José,
em Itajobi-SP, retratando o antagonismo entre virtude e pecado, este materializado na
figura feminina.
179
PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA DIVERSIDADE
ÉTNICO-RACIAL : OS DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM
CONHECIMENTO DE FATO NÃO COLONIZADO
Esta comunicação tem como objetivo relatar o trabalho realizado no projeto de extensão
desenvolvido no Laboratório de estudos pós-coloniais e decoloniais (AYA-FAED-
UDESC), que teve como propósito construir materiais didáticos que colaborem com a
implementação das Leis Federais 10.639/03 e 11.645/08. Identificou-se, inicialmente, as
dificuldades encontradas pelos professores e movimentos sociais em trabalhar ou
mesmo encontrar material específico sobre diversidade étnico-racial que seja destinado
ao público infantil. Nesse sentido, a produção de um livro ilustrado (que se tornará uma
coleção) pretendeu abordar os temas da diversidade em uma perspectiva
descolonizadora, não apenas em seu conteúdo mas também em sua forma de
apresentação. Buscou-se contemplar as diferenças étnico-raciais através da visão de que
o aluno, enquanto sujeito histórico, faz parte da sociedade e contribui com ela. Dessa
forma, buscamos reinterpretar o lugar de subalternidade que muitos alunos de escolas
públicas se encontram, afirmando que estes têm história e que suas trajetórias e
memórias fazem parte da nossa construção social, tanto material, quanto simbólica. Para
tal optamos pelo formato de material paradidático em livro de história ilustrada, pois
este ajuda a ultrapassar os limites do livro didático, apresentando um formato lúdico
que também pode servir para aprender, ensinar e construir conhecimento junto com seus
interlocutores. O livro foi criado em grupo, de forma colaborativa, em reuniões semanais
e nele são desenvolvido através de 5 personagens características que contemplam a
diversidade étnico-racial brasileira. Na elaboração deste material percebemos que há
um desafio para o projeto, mas também para o pensamento anti-colonial e sua
apropriação no campo da educação, que se impõe pelo conflito entre conteúdo e forma.
Coube-nos perguntar como fazer para descolonizar não apenas os olhares e os
estereótipos sobre os grupos “minoritários”, mas também como transmitir este
conhecimento de forma em que a relação com o saber também seja libertadora.
180
EM BUSCA DE POSSIBILIDADES OUTRAS: DIÁLOGOS
PROPOSTOS PARA A DISCIPLINA CULTURA BRASILEIRA E
HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES NO
CURRÍCULO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE
SÁ- CAMPUS QUEIMADOS/RJ
O presente artigo retoma aspectos das discussões que foram propostas ao longo do ciclo
de estudos realizado no primeiro semestre letivo de 2016 para alunos do curso de
Pedagogia da Universidade Estácio de Sá _ campus Queimados/RJ como requisito
complementar a ementa da disciplina Cultura Brasileira e História dos Povos Indígenas
e Afrodescendentes. A oferta da disciplina tem por objetivo não apenas atender ao
requisito legal referente às Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das
Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e
Indígena mas principalmente contribuir com a tarefa da promoção de um diálogo
intercultural crítico para a formação docente de futuros professores, tendo por
referencial o pensamento/abordagens decoloniais. O caminho metodológico proposto
incluiu o acompanhamento das aulas previstas para o semestre letivo, a proposição de
palestras temáticas que apresentaram aos discentes o contexto de marginalização social
que historicamente acomete as populações indígenas e afro-brasileiras além da aplicação
de questionário e analise dos dados coletados. Este estudo nos permitiu perceber que os
discentes chegam á universidade com uma lacuna significativa em sua formação no
tocante a percepção do caráter pluricultural que delineia a sociedade brasileira, fato
que evidencia a hegemonia da perspectiva eurocêntrica de construção do conhecimento
histórico e social na educação escolar. Ratificamos que a transformação dos espaços
acadêmicos para que novas possibilidades epistemológicas possam operar se constitui
em tarefa árdua e urgente, dada a operacionalidade do paradigma moderno
impregnado das marcas da colonialidade no contexto da educação para as relações
étnico raciais no Brasil.
181
O PROJETO DE LITERATURA MILITANTE DE LIMA BARRETO:
ATITUDE DESCOLONIAL NA PRIMEIRA REPÚBLICA DO BRASIL
182
Y YO, TAMBIÉN PUEDO? UMA ALTERNATIVA POPULAR PARA A
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS IMIGRANTES HISPANO-
AMERICANOS NO BRASIL
O crescimento dos fluxos migratórios oriundos do Sul Global para o Brasil tem trazido
novos desafios para a compreensão teórica da mobilidade humana em um "mundo
acelerado". Esse novo movimento sul-sul apresenta-se menos como resultado linear da
globalização do que como uma nova configuração de sujeitos que se forma às margens
dos grandes centros da modernidade ocidental. Nesse contexto, a educação de jovens e
adultos, como forma de integração dos imigrantes às dinâmicas de trabalho na sociedade
destino, pode tanto servir de instrumento para a intensificação dos processos de
"comodificação" dos trabalhadores em trânsito, quanto para a emancipação desses
sujeitos e transformação da realidade na qual se inserem. Este trabalho trata da Educação
de jovens e adultos imigrantes hispano-americanos em São Paulo. Realizamos o estudo
de caso de um coletivo organizado por imigrantes, “Sí, yo Puedo!”, o qual está centrado
no acesso e permanência desta população à Educação, especialmente nas modalidades
de ensino técnico e tecnológico. A partir da sociologia da Educação e do enfoque teórico
decolonial, propõe-se a discussão de suas atividades e perspectivas com relação as
estratégias de mobilidade social e emancipação de tais sujeitos, considerando as
especificidades da comunidade na qual se inserem, buscando analisar como se constrói
uma alternativa popular às formas de assimilação de imigrantes organizada pelo Estado
e pelo mercado.
183
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA AMÉRICA LATINA: UM
ESTUDO DAS POLÍTICAS À LUZ DA DESCOLONIZAÇÃO
184
UMA ALTERNATIVA ANTIRRACISTA: PRÁTICAS DE
RESISTÊNCIAS NEGRAS NA ESCOLA
Este trabalho objetiva não mais pontuar o racismo na sociedade brasileira e sim salientar
práticas de resistências realizadas nas escolas para erradicação do preconceito, do
racismo (negrofobia) = doença social (FANON). Vem apontar ações positivas de
superação do preconceito, analisando a presença destas práticas no interior das escolas,
assim como a influência da lei 10.639. Esta pesquisa vem sendo realizada no PPGE da
UFSC, na linha de Sociologia e História da Educação, na construção de uma tese de
doutorado. Sendo a sociedade brasileira racista e consequentemente as normas da escola,
o racismo é uma doença social, o antídoto, para a cura desta doença, são as práticas de
resistências negras na sala de aula, a qual ao inverso de uma doença física, a cura se dará
por meio do contágio aos pares, (educadores, educandos, famílias, comunidades...). A
escola é uma oportunidade de abrir outros olhares e saberes para quem a ela tem acesso
(CANDAU). Metodologicamente refletimos com o educador Paulo Freire os conceitos
denúncia/anúncio, denunciando uma sociedade racista e anunciando possibilidades de
transformação da realidade. Ainda apoiados neste educador analisando as situações
limites que levam a inéditos viáveis, ou seja, da experiência do racismo, constrói-se
soluções, que dão outra forma de estar no mundo. E estes sujeitos narram suas
memórias, deixam seus rastros, criam e recriam, destroem e constroem ao mesmo tempo
suas percepções do mundo que o cercam. Ao rememorar o sujeito resignifica o vivido,
lembrando do passado, no presente, construindo o futuro, instrumentaliza sua ação,
sendo assim vai construindo resistência visualizando o não visto, criando
deslocamentos. Quem narra cria a possibilidade de contar sua experiência, dar
conselhos, revisitar o seu passado, resignificando o seu presente, para construir seu
futuro, possibilitando o sujeito a ver caminhos entre as brechas, analisar os rastros, para
se posicionar contra a opressão, uma educação a contrapelo (BENJAMIN). Trabalhando
assim a interculturalidade e a valorização de diversos saberes. (QUIJANO; DUSSEL;
MIGNOLO; WALSH; BOAVENTURA). Como resultado buscamos, o diálogo e a
divulgação na academia e na sociedade acerca da importância destas ações, a
visualização do problema social e a possibilidade de transformação.
185
AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL NO
CONTEXTO DA INTERCULTURALIDADE: A BUSCA POR
PRÁTICAS DESCOLONIZADORAS
186
DESCOLONIZAÇÃO E OUTRAS FORMAS DE APRENDIZAGEM:
EXPERIÊNCIAS NO SEMINÁRIO LIVRE EM SOCIOLOGIA
O presente trabalho tem como objetivo analisar a experiência vivenciada por estudantes
de graduação em uma disciplina intitulada “Descolonização e Outras formas de
aprendizagem”, oferecida por meio de um Seminário Livre em Sociologia no segundo
semestre do ano de 2015 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A disciplina foi
elaborada de forma coletiva por graduandas e graduandos que tem o entendimento de
que os conhecimentos sociológicos, bem como a abordagem pedagógica no curso de
Ciências Sociais/UFRGS, precisam ser ampliados. Nesse sentido, partindo de uma
análise decolonial, este trabalho leva em consideração as práticas pedagógicas e
discussões construídas antes, durante e depois do oferecimento da disciplina, indicando
possíveis caminhos para construção de uma Universidade menos ocidentalizada. Para
tanto, o texto estrutura-se em dois eixos: epistemológico e pedagógico. Epistemológico
por contestar o eurocentrismo dominante na área das Ciências Sociais e pedagógico por
defender métodos e práticas de ensino-aprendizagem ancorados em saberes e
conhecimentos não hegemônicos. De forma prática, essa pesquisa parte do meu trabalho
de campo, realizado como participante discente/docente da disciplina e um dos
integrantes que planejaram a mesma. Em um segundo momento, foram realizadas
entrevistas com participantes da disciplina que, para fins de análise, são enquadradas
em três categorias, a saber: Grupo de Trabalho Discente, Convidadas e Estudantes. Por
fim, argumenta-se que a descolonização da Universidade passa pela
transdisciplinaridade e transculturalidade. Todavia, além dessas intervenções teórico-
políticas, defende-se que a autonomia estudantil, aliada ao trabalho do corpo docente e
integração de outros agentes e lógicas de construção e transmissão de saberes e
conhecimentos no ambiente acadêmico, são fatores determinantes para a concretização
de ações dessa natureza.
187
O DIREITO HUMANO À EDUCAÇÃO NA DESCOLONIZAÇÃO: A
LIBERTAÇÃO
Patricia Noll
Rubiane Galiotto
188
TEOLOGIA DE(S)COLONIAL: REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO
ENTRE DIREITOS HUMANOS E TEOLOGIA CRISTÃ
No livro “Se Deus fosse um ativista dos direitos humanos”, Boaventura de Sousa Santos
defende a ideia de que o diálogo entre os direitos humanos e as teologias progressistas
é uma boa possibilidade para o desenvolvimento de práticas interculturais e
emancipadoras (2014, p.113). Como a teologia pode contribuir para a reconstrução da
humanidade dos direitos humanos? A contemporaneidade com toda a sua
complexidade reclama a construção de uma teologia consciente da pluralidade cultural
e religiosa capaz de abraçar dentro de seu horizonte as experiências sócio-religiosas do
conjunto da humanidade. A tarefa de descolonizar a teologia, e/ou de recriar seu
conteúdo, não implica apenas uma novidade no objeto, mas exige também uma
novidade no sujeito, ou seja, faz-se necessário um novo tipo de teólogo, com um novo
tipo de consciência e postura diante da atualidade. Na busca por respostas
aproximativas, esta comunicação busca fazer apontamentos sobre o processo necessário
de descolonização da teologia cristã em busca de uma intelecção da fé que seja pública e
engajada nas causas do mundo e do humano.
189
O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL ATRAVÉS DO
TRABALHO DOCENTE NA PERSPECTIVA DA DESCOLONIZAÇÃO
DO CURRÍCULO
190
REPENSANDO AS FUNDAÇÕES COLONIAIS
DOS DIREITOS HUMANOS INTERNACIONAIS
SUJEITO E CIDADANIA: A QUEDA DO HOMEM ABSTRATO DA
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO
A filosofia de Alain Badiou (1995) critica o Homem da “Declaração dos Direitos Homem
e do Cidadão”, de 1789, por ser o homem abstrato desenvolvido por Kant (Homem
Moral fundado a partir de um princípio universal formal, baseado na Razão e na
Liberdade), que serve como principio funcional aos interesses burgueses que se
consolidavam e passavam a ser designados como interesse universal de todos os
homens.
Nessa perspectiva, os direitos humanos entendem o Homem como identificado ao mal
que lhe é feito, como uma vítima, sempre ameaçado por um outro imaginário, marcado
pelo imperativo que opera sobre ele, e também a tudo o que possa proteger o Homem
do Mal, impedindo-o de ser maltratado, de ser ofendido, de ser humilhado em relação
ao seu corpo, à sua identidade, à sua vida. Por conseguinte, a definição do Bem que dá
lastro aos direitos do homem é construída a partir de uma dada concepção do Mal, e, da
noção do negativo se delineia o positivo.
Nesse rumo, Badiou propõe abrir mão dessa noção abstrata e universal de Homem, bem
como das apropriações ideológicas dela decorrentes, para se entender o que faz os
homens realmente humanos, a fim de sustentar a universalidade dos direitos humanos
como fundamento de práticas sociais, que teriam que ser concebidas como um processo
que não se fecha em saberes prévios e que comporia um sujeito como negação de
qualquer qualidade prescritiva e imperativa, já existente.
Assim, este texto pretende sustentar essa perspectiva, através da análise do trabalho de
Garcia (2011) sobre vários sujeitos (portador de sofrimento mental, catador de lixo,
jovem infrator, construtor de barraco, agente comunitário de saúde, jovens negros
admitidos na Universidade pelas quotas especiais) que vão afirmar sua condição de
cidadão além da estruturação jurídico-formal dos direitos e da provisão estatal de bens
e serviços, isto é, quando marcam, com sua singularidade, o espaço comum, e, ao mesmo
tempo, conseguem construir uma saída que extrapole o que lhe foi previamente
determinado.
192
ELES DERAM UM GRANDE EXEMPLO? REFLEXÕES SOBRE A
HISTÓRIA E OS FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS
193
DIREITOS HUMANOS EM PRETUGUÊS: AMEFRICANIZANDO O
DEBATE PARA ALÉM DOS UNIVERSALISMOS E RELATIVISMOS
Thula Pires
Andréa Gill
Para além da denúncia da falência dos direitos humanos e da sua crença como
mecanismo abstrato de proteção da dignidade, a proposta do trabalho é a de carregar a
noção de direitos humanos de uma abordagem que seja ao mesmo tempo afrocentrada
e baseada na experiência brasileira. Objetiva-se, com essa leitura, renovar a aposta na
potência de sua dimensão intercultural e na permanente disputa política por seu
significado.
Trata-se, assim, de um trabalho que dialoga diretamente com a concepção hegemônica
de direitos humanos (assentada na defesa de sua universalidade), com teorias críticas
acerca dos direitos humanos de matriz eurocêntrica, bem como com as contribuições dos
estudos descoloniais sobre o tema. Para além da interlocução com essas perspectivas
teóricas, traz-se o conceito de amefricanidade, desenvolvido por Lélia Gonzalez para
aduzir novos elementos a uma categorização dos direitos humanos que possa ser
apreensível em pretuguês e em conversas com outras epistemologias coloridas.
Ao colocar a constituição do regime internacional de direitos humanos em contexto
histórico, torna-se evidente o que está em jogo em sua disputa contemporânea. Para
compreender a lógica operacional dos direitos humanos, busca-se traçar uma breve
história do racismo moderno que, em suas articulações científicas, tanto biológicas
quanto culturalistas, transpõe questões teológicas que por muito tempo
(des)qualificavam almas para fixar corpos em uma hierarquia racializada, delineando o
que Fanon descreve como a zona do ser e a zona do não ser.
Será colocada em perspectiva a consagração contemporânea inter-nacional dos direitos
humanos pela declaração da ONU. Sendo pensada como resposta ao holocausto no
continente europeu, interessa destacar a definição de genocídio moderno, construído
como crise humanitária (e não crise política, econômica, cultural, etc.), que nega o
reconhecimento de genocídios de populações não-europeias e não-brancas.
Na conversa entre conjunturas históricas e contemporâneas, pretende-se imprimir uma
concepção de direitos humanos capaz de enfrentar a perpetuação do genocídio do povo
negro no Brasil e de pôr em relevo essas disputas com as múltiplas formas de ser humano
que por aqui são experimentadas e igualmente negligenciadas.
194
TEORIAS CRÍTICAS COMO ABORDAGENS DESCOLONIAIS DOS
DIREITOS HUMANOS: OS DESAFIOS EPISTEMOLÓGICOS À
POLITIZAÇÃO DA DISCIPLINA E DA PRÁXIS
195
POR QUEM OS SINOS DOBRAM: UM OLHAR CRÍTICO PARA O
DISCURSO DAS OPERAÇÕES DE PAZ E A PROMOÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS NO MUNDO PÓS-COLONIAL
Este trabalho tem como finalidade apresentar como a ideia de direitos humanos, visto
como um preceito universal, encontra-se relacionada à trajetória histórica política
ocidental e como os esforços para a implementação deles, via operações de paz, usam
um discurso, a favor da construção unidades políticas democráticas liberais, que na
verdade mascara formas de ações imperialistas. Sendo baseado no título do sermão de
John Donne; Por quem os sinos dobram, este estudo pretende familiarizar o leitor com
um discurso que será problematizado durante este artigo, que tem como objetivo usar o
trecho que o inicia como metáfora para a argumentação usada em prol dos direitos
humanos, mas que em seu cerne carrega discriminações em relação a áreas pós-coloniais
que vivenciam diferentes concepções de política. Através de uma ampla revisão da
literatura pós-colonial e sobre direitos humanos, buscou-se, na primeira parte, olhar para
a construção dos direitos humanos como fruto da história ocidental e como as operações
de paz da Organização das Nações Unidas trabalham para levar a regiões pós-coloniais
sistemas políticos liberais, uma vez que há a construção de um discurso, na qual tais
sistemas são despontados como aqueles capazes de evitar conflitos. Por fim, mostra-se
como a edificação dos direitos humanos foi pontual a um momento específico da
história, o pós-Segunda Guerra, colocando em xeque a concepção universal de tais
direitos e sua abordagem dentro das áreas pós-coloniais. Concluímos, deste modo, que
os sinos se dizem dobrar por uma causa aparentemente universal, coerente com o
discurso “solidarista” de defesa dos direitos humanos, mas, de fato, continuam
dobrando com o impulso e na direção de uma parte privilegiada e circunscrita do
mundo, que continua ditando os critérios - liberais, democráticos e de respeito aos
direitos humanos - para outra parte que continua desprovida de voz e de agência.
196
PERSPECTIVISMO DESCOLONIAL E DIREITO INTERNACIONAL
DOS DIREITOS HUMANOS
197
A (IN)ADEQUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS COMO
CONTEÚDO MÍNIMO DA BIOÉTICA GLOBAL
198
A DECLARAÇÃO SOBRE O DIREITO AO DESENVOLVIMENTO
POR OLHARES LATINO-AMERICANOS NUMA PERSPECTIVA
PÓS-COLONIAL
Em 1986, a Organização das Nações Unidas adotou a resolução que vinculava o direito
ao desenvolvimento como um direito humano. Tanto o desenvolvimento quanto os
direitos humanos são temas que suas origens remetem ao pensamento ocidental e
eurocêntrico, ainda que se proponham muitas vezes como universal, esse discurso acaba
deixando nebulosa a atenção para populações e regiões com características que
divergem das dos Estados no centro do poder internacional. Neste sentido, propõe-se
aqui uma reflexão sobre a proposição da Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento
a partir dos olhares latino-americanos de autores como Walter Mignolo pela
colonialidade do saber e a retórica do desenvolvimento, Aníbal Quijano e a colonialidade
do poder em relação ao fantasma do desenvolvimento, Enrique Dussel e a filosofia da
libertação e Arturo Escobar com o conceito de pós-desenvolvimento. Para tanto,
apresentar-se-ão as principais contribuições destes autores que permitem tensionar a
proposta de universalidade do desenvolvimento como apresentado na declaração e as
lacunas desta em relação à realidade dos povos da América Latina, sendo assim uma
pesquisa documental com base na declaração, mas também do contexto em que a mesma
é criada, assim como literaturas afins com a temática. Destarte, é possível observar que
apesar da declaração apontar preocupação com o racismo e o neocolonialismo, a própria
elaboração e implementação desta acaba, assim como sua premissa de origem, sendo
permeada por elementos de imposição e parâmetros universais ditados a partir da
experiência do Norte global ocidental. Dito isto, é possível pensar para a América Latina
novos modelos de desenvolvimento, mas faz-se necessário rever, primeiramente, as
origens do discurso desenvolvimentista e suas heranças coloniais e hegemônicas
enraizadas nas relações internacionais da região na contemporaneidade.
199
DIREITOS HUMANOS COMO RESISTENCIA À DOMINAÇÃO E À
OPRESSÃO: CONTRIBUIÇÕES DA CORTE INTERAMERICANA
PARA A EFETIVAÇÃO DA IGUALDADE NO SUL
200
A EXPERIÊNCIA DA ALTERIDADE NA
AMÉRICA LATINA
PENSANDO O FUNDAMENTO DOS DIREITOS HUMANOS DESDE
A AMÉRICA LATINA: A ALTERIDADE DE UMA SIMBÓLICA DO
MAL
Paulo Weyl
Livia Moura
202
EXPERIÊNCIA HERMENÊUTICA DAS MULHERES LATINO-
AMERICANAS: AS OUTRAS QUE INTERPELAM
203
A QUESTÃO DOS REFUGIADOS A PARTIR DA ALTERIDADE: A
LEI BRASILEIRA DE REFUGIADOS COMO EXEMPLO NA
AMÉRICA LATINA.
204
DILEMAS E PERSPECTIVAS DO NOVO
CONSTITUCIONALISMO LATINO-
AMERICANO
CONSTITUCIONALISMO LATINO AMERICANO: PERSPECTIVAS
SOBRE A PARTICIPAÇÃO POPULAR
A América Latina, desde seus primórdios, teve em seus sistemas jurídicos pátrios,
valores alienígenas, que não representavam realidades nacionais. Isso aconteceu devido
à influência dos colonizadores europeus, que enraizaram valores calcados no liberalismo
e individualismo característicos do constitucionalismo antigo, pois os textos jurídicos
refletiam a vontade das elites dominantes. No dizer de GARGARELLA (2010, p.88) “La
mayoría de nuestras Constituciones fundacionales –las que sentaron las bases de las actuales
instituciones– fueron producto de un pacto entre elites liberales y conservadoras que organizaron
una estructura de poder contramayoritaria, claramente opuesta a la intervención masiva de la
ciudadanía en política.” Entretanto, nas últimas décadas surge um movimento
constitucional na América Latina, que se convencionou chamar de “Novo
Constitucionalismo Latino Americano”, sedimentado em ideais descolonizadores
constantes nos textos constitucionais da Venezuela (1999), Equador (2008) e Bolívia
(2009) (MELO, 2010). O trabalho em questão busca investigar sobre o mecanismo de
ativação dos textos constitucionais e alteração de tais mecanismos, mediante a
participação popular, centrando o estudo nas três constituições supracitadas. Nesta
linha de raciocínio, nasce as seguintes indagações: Qual a diferença entre o
constitucionalismo antigo e o novo constitucionalismo Latino Americano? A
participação popular no momento da ativação dos novos textos, bem como a
obrigatoriedade de aprovação de eventuais reformas (consulta popular) podem ser
observadas em quais Estados da América Latina? Conclui-se que os textos
constitucionais são elaborados por assembleias constituintes participativas, sendo
posteriormente objetos de aprovação popular por meio de referendum (MELO, 2010,
p.114), o que amplia e fortalece a democracia, sendo meio para que haja a interligação
dialógica entre sociedade, equidade e justiça (LAMBURTUCCI, 2009, p.71). A
Constituição tem que ser a norma suprema do ordenamento jurídico, tem que ser capaz
de limitar os poderes, e só será legítima se o texto originário e as eventuais alterações
foram aprovada pelo povo (VICIANO; DALMAU, 2010, p.31). Concernente ao tipo de
pesquisa, quanto aos objetivos, utilizou-se ao longo desse trabalho a pesquisa
exploratória. Quanto aos procedimentos técnicos, adotou-se a pesquisa bibliográfica e
documental. O método de abordagem utilizado é o dialético.
206
DIREITO DE RESISTÊNCIA E APROFUNDAMENTO
DEMOCRÁTICO: DESAFIOS INSTITUCIONAIS DO NOVO
CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
207
CRIAÇÃO DE AMBIENTES DE
PENSAMENTO/AÇÃO HUMANOS
SUSTENTÁVEIS
O PROJETO CHIMARRÃO FILOSÓFICO ENQUANTO
POSSIBILIDADE DE DIÁLOGO EMANCIPATÓRIO
Cícera Michel
Cláudia Battestin
209
MULTIGRAPHIAS - CRIAÇÃO COLABORATIVA E
SENSIBILIDADES COMPARTILHADAS
210
PRÁTICA ARTÍSTICA COMO LUGAR DE ENUNCIAÇÃO PARA
DECOLONIAL SELVES
211
FUNDAMENTOS DO ESTADO
PLURINACIONAL E PENSAMENTO
DE(S)COLONIAL
KALUNGA E O DIREITO A EMERGÊNCIA DE UM DIREITO
INSPIRADO NA ÉTICA AFRO-BRASILEIRA
213
A DESCOLONIZAÇÃO DO TERRITÓRIO COMO ALICERCE PARA
A RECONSTRUÇÃO DO ESTADO
Este trabalho tem como objetivo destacar a dimensão territorial dos processos de
constituição dos Estados Plurinacionais, em especial no que diz respeito ao
reconhecimento das territorialidades originárias existentes e vigentes dentro dos marcos
fronteiriços dos Estados latino-americanos. Partindo-se do acompanhamento das
primeiras mobilizações pela convocação a uma Assembleia Constituinte na Bolívia e
passando pelo acompanhamento do próprio processo de elaboração da nova Carta
Magna do país, destaca-se a participação dos povos originários organizados em torno a
suas estruturas sócio-espaciais exigindo o reconhecimento destas na nova estrutura
territorial dos Estados. Essa trajetória nos permite reconhecer o conflito de
territorialidades existente na América Latina, opondo distintas leituras dos fins e dos
meios para os quais os espaços são (ou devem ser) apropriados/dominados: o território
colonial, alvo de exploração e espoliação, ou a pluralidade de territórios que é o correlato
espacial da plurinacionalidade. O reconhecimento da importância fundamental da
Descolonização do Território enquanto base para a reconstrução dos Estados se
configura em ferramenta essencial para a compreensão do conflito social na América
Latina, visto que a dominação dos territórios com fins extrativistas é hoje o principal
causador de conflitos ao longo e ao largo do continente. Este trabalho sintetiza a
experiência de uma década de acompanhamento de movimentos sociais na América
Latina, desde os movimentos de povos originários na Bolívia e Equador até o movimento
Zapatista no México, a partir de uma metodologia de observação participante,
debatendo-a à luz dos referenciais teóricos da Geografia e do Pensamento Decolonial.
Debate-se, por fim, quais as reais possibilidades de reconstrução do Estado caso não haja
o reconhecimento da dimensão primordial da descolonização do território.
214
O ESTADO PLURINACIONAL: AS POTENCIALIDADES DE
REFUNDAÇÃO DO ESTADO MODERNO A PARTIR DA
CONSTITUIÇÃO BOLIVIANA DE 2009
Este trabalho traz em seu cerne o Estado plurinacional e o Estado moderno no processo
colonizador. Compreender estes fenômenos auxiliará na percepção da demanda dos
povos originários e as potencialidades de inovação do Estado plurinacional a partir
constituição boliviana de 2009. Desta forma, pontualmente, estudar-se-á, utilizando-se o
método dedutivo baseado em pesquisas bibliográficas, o pluralismo jurídico pré-
moderno, bem como a unificação e formação do Estado homogeneizador, para então
compreender a capacidade da plurinacionalidade de se apresentar como modelo contra
hegemônico do poder.
Esta forma surge dentro do “Constitucionalismo latino-americano” que busca a
legitimação do Estado Plurinacional, um modelo que reconhece a necessidade de
refundação do Estado moderno a partir da interculturalidade e compreensão às
opressões sofridas pelas populações indígenas e campesinas tendo como um dos seus
princípios a autodeterminação dos povos criando uma atmosfera mais democrática.A
partir destas reivindicações a Bolívia superou o Estado-nação e passou a se reconhecer
plurinacional desde sua constituição de 2009. Junto com este reconhecimento vários
institutos foram criados para que se pudessem garantir aos povos originários a sua real
autonomia dentro do Estado boliviano. No entanto o que muitos grupos indígenas
percebem que todas estas mudanças não significaram, de fato, uma mudança, mas sim
uma nova forma de colonizar já que essas reformas foram realizadas ainda dentro do
âmbito hegemônico estatal, o que continua favorecendo as elites.Embora o Estado
plurinacional ainda precise de várias mudanças e tenha inúmeras críticas, inclusive dos
setores de esquerda, ele possui uma distinção fundamental do Estado homogêneo que é
a sua mutabilidade; seu intuito não é ser rígido e fixo baseado nas leis, mas sim atender
a anseios democráticos e não possui por si só o intuito de resolver todos os problemas
sociais, tratando-se de um Estado flexível e adaptável às necessidades, o que neste
momento significa uma grande mudança aos povos bolivianos e, também, aos demais
grupos suprimidos e ocultados de toda a América Latina, constituindo uma nova e
alcançável forma de democracia.
215
DIREITO, SUBALTERNIDADE E
DECOLONIALIDADE
O CONCEITO JURÍDICO DE PRETO E PARDO NAS COTAS
RACIAIS: INTERPRETAÇÃO, JURISPRUDÊNCIA E PRECEDENTES
ADMINISTRATIVOS
217
O DIREITO HUMANO COMO DESENVOLVIMENTO:
PERSPECTIVAS TEÓRICAS DO SUL PARA COMBATER A
INSEGURANÇA A ALIMENTAR.
218
CÂNHAMO INDUSTRIAL: COLONIALISMO E PROIBICIONISMO
NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL
A planta cannabis sativa pode ser utilizada para fins recreativos, medicinais e
industriais. No entanto, o sistema internacional de controle sobre drogas impede a
exploração para usos industriais do cânhamo derivado da cannabis sativa – um mercado
que consiste em mais de 25 mil produtos, dividido em nove segmentos: agrícola, têxtil,
reciclagem, automotivo, moveleiro, alimentício, papel, construção civil e
cosméticos/cuidados pessoais. No Brasil, estudos do senado federal em 2014,
identificaram que não há nenhuma força política opondo-se a exploração industrial da
planta, contudo este uso ainda continua ilegal, mesmo não representando nenhum risco
para a saúde humana. Nesse rumo, o objetivo do texto é demonstrar como a política
sobre drogas no Brasil se insere dentro de um discurso colonial proibicionista que
advoga a proibição pelo Estado do comércio de certas mercadorias, cujo locus de
enunciação privilegiado é as Nações Unidas, e que tem sido usado para afirmar e
consolidar o poder político e econômico dos Estados Unidos. Desse modo, analisa-se.
através de pesquisa bibliográfica e comparativa, o surgimento da doutrina proibicionista
neste país e a mundialização dessa tendência no plano internacional, em especial nas
chamadas Convenções-Irmãs da ONU [Convencão Única sobre Estupefacientes (1961),
Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas (1971), Convenção das Nações Unidas contra
o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas (1988)], bem como suas
influencias na legislação brasileira, inclusive na produção de violações aos Direitos
Humanos ao desenvolvimento.
219
A COLONIALIDADE DO PODER E O ESTADO DE EXCEÇÃO EM
BELO MONTE
A luta dos povos indígenas na Constituinte de 1987 pela afirmação do direito originário
dos territórios que ocupam é um marco regulatório de direitos antes não reconhecidos e
a demarcação da plurietnicidade da Constituição. No entanto, prevalece no poder
judiciário uma visão monista, eurocêntrica e privatística que não observa o caráter
constitucional e de direito fundamental que deve ser aplicado a esses povos. A ausência
de alteridade reflete a não superação de um padrão de poder fundado na colonialidade do
poder. O espaço-tempo de permanência desse padrão de poder ainda não cessou, vige
em nossa sociedade mesmo depois do fim do colonialismo clássico. Esse novo padrão de
poder estabelecido a partir da formação da América e do desenvolvimento do
capitalismo é hegemônico e justificado na ideia de superioridade de uma raça sobre as
demais, os brancos dominam e controlam índios, negros e mestiços, explicitado pelos
binômios colonizador/colonizado, dominador/dominado. No Brasil, os reflexos
da colonialidade do poderperpassam a análise do Estado de Direito, da norma posta, dos
discursos produzidos pelo direito e seus reflexos na vida social. Os povos indígenas
foram sistematicamente invisibilizados e subalternizados e travam até hoje uma luta
histórica para efetivação de seus direitos. Caso exemplar é o da construção da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte/Pará, em que o direito positivo é relativizado com a
anuência do judiciário. A megaobra, controversa sob vários aspectos, inclusive o da
viabilidade energética, revela que existe o não-direito e o não-lugar desses povos mesmo
dentro do Estado Democrático de Direito, caracterizando-se hoje em verdadeiro estado
de exceção. Verifica-se na judicialização do conflito em Belo Monte que primeiro o
judiciário ratifica a não participação dos indígenas nos processos de consulta e decisão
sobre a usina à revelia da Constituição e da Convenção 169/IT, em segundo, o não
cumprimento das condicionantes da obra não impedem a concessão das licenças de
instalação e operação, ocasionando a flexibilização judicial do licenciamento ambiental.
As demandas econômicas sobre as terras indígenas promovem a hierarquização dos
espaços, retoma a hierarquização historicamente protagonizada pelos europeus e
subalterniza os povos indígenas com a suspensão de seus direitos.
220
POLÍTICAS PÚBLICAS AOS IMIGRANTES SENEGALESES EM
PELOTAS E SEUS DISCURSOS COLONIAIS
221
DECOLONIALIDADE, GÊNERO E ENSINO JURÍDICO: PARA
ONDE CAMINHA O DIREITO?
222
PREFIGURAÇÕES DE DIFERENÇA PELA CRÍTICA DECOLONIAL:
O CORPO NEGRO E A ESPETACULARIZAÇÃO MIDIÁTICA DO
RISO
223
DESCOLONIZAR A ARTE PARA TRANSFORMAR REALIDADES:
ARTE E DIREITOS HUMANOS COMO MEIOS DE REAÇÃO
CULTURAL
224
SOCIOBIODIVERSIDADE: MERCANTILIZAÇÃO DOS
CONHECIMENTOS TRADICIONAIS
225
A RELAÇÃO DA MULHER E O TRÁFICO DE DROGAS À LUZ DA
COLONIALIDADE
226
PODE O REFUGIADO FALAR?
Grazielle Pereira
Aline Hadam
227
FEMINISMOS E PODER PUNITIVO: PODE A SUBALTERNA
FALAR?
Fernanda Martins
A famosa obra de Gayatri Spivak que questiona se pode o subalterno falar? serve de
propulsão a presente pesquisa na medida em que se visa refletir sobre o papel das
chamadas “minorias” na construção do pensamento criminológico, em especial, a partir
de olhares possivelmente abolicionistas. Se os movimentos sociais – entre eles alguns
feminismos - reivindicam o direito penal como forma de tutela e garantia de direitos,
indaga-se como e se é possível pensar o(s) abolicionismo(s) criminológico(s) assinalados
pela interseccionalidade, cujas leituras fundantes se constituam a partir de certos olhares
feministas em que as categorias de raça e classe estejam permanentemente presentes ao
se abordar a violência que perpassa o sistema penal desde uma formulação teórica que
se recuse a negociar com a estrutura verticalizadora e falocêntrica do poder punitivo.
Busca-se, dessa forma, uma tentativa de pensamento que se arrisque para além dos
abolicionismos arquitetados sob os privilégios em que a criminologia é pensada e
produzida por a racionalidade masculina, colonialista, racista, heternormativa e
burguesa. Nesse sentido, apresenta-se este trabalho com ares de convocação àquilo que,
como flor no asfalto, urge da (auto)crítica para fazer surgir uma potente construção
transformadora de criminologias e feminismos radicalmente plurais na luta pela
desconstrução das antigas estruturas que fazem com que permaneça tecendo histórias
de identidades como mecanismos de “tutela de direito”. Enfim, propõe-se, portanto,
com o presente trabalho incipiente ouvir os fantasmas daquilo que sequer se re-conhece, e
garantir que a subversão ao patriarcado tenha como parceira contundente a resistência
completa ao poder punitivo, compreendidos, pois, como amarras inseparáveis de um
mesmo nó.
228
O VEGANISMO COMO DISCURSO DECOLONIAL INSURGENTE:
ARGUMENTOS PELA DERROCADA DA IDEOLOGIA CARNISTA
Bianca Pazzini
229
MULHER (ES) NO CONTEXTO LATINO-AMERICANO: ENTRE
ENCOBRIMENTOS E RUPTURAS
O presente artigo tem como ponto de partida o debate acerca da categoria do “Outro”
latino-americano, oprimido, em especial, as mulheres nativas do terceiro mundo, tendo
como marco de referência a obra 1492 El encubrimiento del otro: Hacia el origen del mito
de la modernidade de Enrique Dussel, além de outras obras deste autor e contribuições
do pensamento feminista, com o objetivo de analisar as narrativas em torno da
objetificação do sujeito feminino o qual foi construído discursivamente desde a
perspectiva eurocêntrica como inferior e sem racionalidade. O problema que ora se
impõe pretende revelar até onde este processo de alienação e encobrimento atuou como
mecanismo normalizador da violência na hora de intervir nos corpos das primeiras
habitantes da América Latina, em matéria de dominação e exploração sexual e quais as
permanências desses discursos ainda se apresentam nos dias atuais. O projeto
colonizador na América latina é encobridor da alteridade feminina porque a tornava
coisa, totalizada como ente dominado. A esta totalidade totalmente totalizada,
simbolizada na conquista como dominação e alienação do outro, fez do “bárbaro”
(podendo, aqui, ser considerada a mulher indígena) o não-ser. A mulher, no projeto do
colonizador, era algo sobre o que se tinha “direito de conquista”, algo “à mão” para
saciar a pulsão em termos sexuais e de dominação. Finalmente, pode-se afirmar que esta
leitura amplia a compreensão de que a hegemonia do sistema-mundo engendrou –
também- o domínio entre os gêneros existentes, pois foi responsável por estabelecer uma
relação assimétrica onde o “mundo do outro”, é excluído de toda a racionalidade, de tal
maneira que, sobre as mulheres, esta alienação pesou duplamente: pela sua condição
nativa, “de selvagem” somada ao fato de ser mulher. Acredita-se que a autonomia e
emancipação política das mulheres de hoje, bem como o reconhecimento de seus
direitos, dependem do desvelar e da superação das narrativas responsáveis por gerar
opressão, estigma e desumanização das mulheres, pois há tempos conformam
racionalidades encobridoras.
230
CONSTITUCIONALISMO PLURINACIONAL E INTERCULTURAL
BOLIVIANO: MOVIMENTOS SOCIAIS INDÍGENAS E
CAMPESINOS E O EMPODERAMENTO DOS POVOS
ORIGINÁRIOS NA AMÉRICA LATINA
231
COLONIALIDADE E A PERSPECTIVA GERACIONAL:
IMPLICAÇÕES NOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E DOS JOVENS
232
DIREITO E COLONIALIDADE: A INSERÇÃO DO FEMINICÍDIO NO
UNIVERSO JURÍDICO BRASILEIRO
Em 2012 o Brasil era considerado como 7º país com mais mortes violentas de mulheres,
dentre 84 nações. Em 2015, com a promulgação da Lei nº 13.104, o termo feminicídio
insere-se no universo jurídico brasileiro. A referida lei destinou-se a alterar o art. 121 do
Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/40), estabelecendo o feminicídio como circunstância
agravante de homicídio, e alterar o artigo 1º da Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº
8.072/1990), classificando o feminicídio como crime hediondo. Em 2016, passou para 5º
lugar em feminicídios. A Lei do Feminicídio foi um avanço, pois trouxe esta categoria ao
direito pátrio, porém é preciso avaliar a questão detidamente, eis que ainda não logrou
os efeitos pretendidos. O Direito tem demonstrado seu potencial de manutenção da
colonialidade, inclusive no que tange à colonialidade do gênero, pois foi forjado dentro
de concepções que reproduzem a matriz colonial de poder/saber/ser, subalternizando
as mulheres por muito tempo e contribuindo para a perpetuação da violência de gênero.
A problemática que se insurgiu foi no sentido de verificar que medidas foram adotadas
diante do aumento nas taxas de feminicídio. O objetivo geral foi pesquisar que medidas
foram adotadas diante do aumento nas taxas de feminicídios. Como objetivos
específicos, identificou o momento da inserção da questão do feminicídio na legislação
pátria; observou os significados atribuídos ao feminicídio enquanto categoria; pontuou
as origens coloniais da violência; analisou o texto da Lei 13.104/2015 no que se refere ao
discurso colonial empregado na sua constituição. Como resultado, verificou-se que, em
2016 foi produzida cartilha institucional, voltada aos/às profissionais do judiciário e
polícia para capacitá-los/as no que tange às questões relacionadas ao feminicídio, mas a
discussão não se estendeu à sociedade. Permanece ignorada a colonialidade que permeia
a legislação antifeminicida. Efeitos pretendidos pela legislação ainda não foram
alcançados, não foi registrada queda nas taxas de feminicídios até o momento. A
metodologia envolve análises a partir dos Estudos Decoloniais, rompendo com a
colonialidade epistêmica, utilizando-se da técnica de pesquisa documental e
bibliográfica.
233
O DIREITO MODERNO NA PERPETUAÇÃO DA COLONIALIDADE
DE GÊNERO, A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA MARXISTA
234
O BRASIL SOB O FOCO DECOLONIAL: AS DEFICIÊNCIAS DE UM
ORDENAMENTO JURÍDICO MONOLINGUISTA
Há mais de 500 anos, antes do Brasil passar pelo processo colonizatório, estima-se que
eram faladas em todo território cerca de 1.078 línguas nativas. Hoje, de acordo com o
último (2010) Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são faladas
274 línguas indígenas, uma redução que se deu a partir de uma intervenção luso-
portuguesa com caráter nitidamente predatório. Ainda que restem evidentes ao longo
da história do país as tentativas de homogeneizar a linguagem, uma grande quantidade
dessas sobreviveu, e a tendência frente aos novos fluxos globais é de aumentar o número
de pessoas residentes no Brasil que não têm o português como sua língua materna.O
direito, como ciência social e prática ordenadora da sociedade, positivou a instituição do
português como língua oficial no Brasil. Com isso, legitimou um ordenamento jurídico
monolinguista, o qual respalda, por sua vez, a hegemonia de uma imposição linguística
colonial e contempla pouco a diversidade cultural do país. Lembre-se que a linguagem
é um processo essencial de produção e manutenção dos significados na realidade social,
o qual funciona por meio de sistemas de representação do mundo. Por isso, vale alertar
que uma vez que se prestigia absolutamente uma língua, está-se a valorizar uma forma
de representação e organização da realidade em detrimento de outras.Dessa forma,
pretende-se apresentar a forma com que o sujeito não falante de português, ou, ainda,
aquele que não o tem como língua principal, fica como subalterno frente ao ordenamento
jurídico posto. A partir disso, com base nas experiências atuais de países como Bolívia e
Equador, que se reconheceram como plurinacionais e, por consequência, plurilíngues,
será demonstrada a maneira com que a decolonialidade pode orientar os processos de
ressignificação das línguas faladas em seu território. Dentre as significativas mudanças
possíveis, destaca-se, no ramo do acesso à informação, que migrantes ou pessoas que
não têm o português como língua-mãe poderão obter documentos traduzidos, o que, de
forma direta, afeta positiva e inclusivamente os processos democráticos do país.
235
OUTRIDADE E OPRESSÃO E “AS VEIAS ABERTAS DE AMOR”: A
RUPTURA DO NÃO RECONHECIMENTO DO OUTRO
236
O CONCEITO COLONIAL DE CIDADANIA BRASILEIRO E AS
SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A POPULAÇÃO IMIGRANTE
237
CONSIDERAÇÕES SOBRE A ALIMENTAÇÃO SAGRADA NOS
RITUAIS RELIGIOSOS DE MATRIZ AFRICANA E OS
PRESSUPOSTOS DA LAICIDADE ESTATAL
238
MULHERES E SILENCIAMENTO: A INFLUÊNCIA MARCANTE DO
PATRIARCADO COLONIAL
Este trabalho aborda a invenção e conquista da América, um dos mais intensos processos
de confrontação de identidades e história, a partir do estudo e questionamento das
feministas latino-americanas quanto ao patriarcado colonial, que não possibilita a
paridade entre homens e mulheres. As devastadoras consequências da colonização
ultrapassam o âmbito econômico, cultural e político, pois ao se apresentar como missão
civilizatória carrega profundas implicações epistemológicas. Desse modo, o objetivo
principal é compreender o encobrimento e silenciamento das línguas e das mulheres
desde a problematização do colonialismo, que está entrelaçado com outras formas de
poder, como o patriarcado e o sexismo, e das noções político-analíticas de gênero e
cultura, com a intenção de proporcionar a reflexão dos conhecimentos que emergem
desde a América Latina e que incluem o feminino em suas lutas.O trabalho identifica o
colonial como um cenário que define o lugar material e intelectual das mulheres,
principalmente indígenas, uma vez que a narrativa etnocêntrica não se reduz apenas a
uma dominação ou exclusão étnica, mas que também se baseia em sexo, classe ou
sexualidade. Destaca-se a necessidade do recorte cultural de ser mulher e ser indígena
na sociedade patriarcal colonialista, pois a imposição estratégica de uma só linha de
pensamento não dá a liberdade e a possibilidade para que essas mulheres sejam vistas
de forma heterogênica. Assim, analisar formas de pensar relações de poder e dominação
e, consequentemente, construir sociedade, deve considerar que o sistema patriarcal e
colonial se reproduz a partir da exploração dos corpos e da força de trabalho das
mulheres indígenas, as quais sofreram a imposição do arquétipo da mulher
branca/europeia e colonizadora e as consequentes opressões da drástica mudança na
organização das sociedades agrícolas e do surgimento da família moderna, que além de
estabelecer uma divisão sexual para o trabalho, utilizou dos âmbitos de ação, como o
público destinado aos homens e o privado às mulheres, fortalecendo relações de
subordinação e desigualdade entre sexos. O método de abordagem utilizado é o
dialético, a técnica de pesquisa utilizada é a pesquisa bibliográfica.
239
O DIREITO DE IGUALDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Rubiane Galiotto
Patrícia Noll
240
DESCULPA ESFARRAPADA: O VETO DO ARTIGO 79-A DA LEI
10.639
Lizandro Mello
PROBLEMA
O que se revela quando se avalia o veto presidencial ao artigo 79-A da Lei 10.639 a partir
da decolonialidade?
OBJETIVO
Descrever como o veto ao artigo 79-A da Lei 10.639, de sua motivação aos efeitos, está
imerso na lógica colonial, aprofundando o epistemicídio sobre as histórias e as culturas
afro-brasileiras e indígenas.
TEORIAS / METODOLOGIA
241
O DISCURSO DECOLONIAL E A PRÁTICA FEMINISTA
242
A TUTELA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA MULHER
INDÍGENA: EMPODERAMENTO E IDENTIDADE
243
GÊNERO E SUBALTERNIDADE: A INTOLERÂNCIA DIANTE DA
DIVERSIDADE
Este trabalho aborda a ausência de legislação vigente no Brasil que garanta segurança
àqueles discriminados por sua identidade de gênero e também identidade
sexual, resultado de práticas e discursos coloniais. Analisa, também, as possíveis
violações aos princípios constitucionais básicos de defesa dos direitos humanos e
direitos fundamentais de cidadania dentro do país. O principal objetivo deste trabalho é
discutir a discriminação de gênero no Brasil e a necessidade de mudanças significativas
na atual situação dos sujeitos subalternizados pela indiferença e pela ausência de
proteção jurídica. Demonstra, assim, a necessidadede análise da história da
discriminação sobre gênero no Brasil, buscando compreender através da composição de
leis e medidas políticas, soluções para acabar com a intolerância diante da diversidade
existente. A metodologia adotada privilegia a reflexão, por isso a opção pelo método de
abordagem dialético, a técnica de pesquisa adotada é meramente bibliográfica e o tipo
de pesquisa descritiva, exploratória.Por fim, o trabalho apresenta uma reflexãoa partir
da ótica dos direitos humanos e direitos fundamentais como fonte legitima e
emancipadora a esses sujeitos e os principais desafios e perspectivas para o direito ao
respeito, a tolerância e à diferença.
244
DECOLONIALIDADE E CULTURA CRÍTICA JURÍDICA
245
“INFANTICÍDIO” INDÍGENA: DO EXTERMÍNIO DA DOMINAÇÃO
CIVILIZATÓRIA AO DIÁLOGO DOS DIREITOS HUMANOS
246
ANTIDISCRIMINAÇÃO E TRAVESTILIDADE NO BRASIL:
PROTEÇÃO JURÍDICA OU SUBALTERNIZAÇÃO?
247
A UNIVERSALIZAÇÃO DE SINGULARIDADES CULTURAIS
COMO IMPEDITIVO A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Há uma linha tênue que separa a recepção de outras culturas e a descaracterização das
mesmas com a imposição de discursos universais hegemônicos. Objetiva-se, neste
trabalho, analisar a universalização de singularidades culturais que dificulta a afirmação
do indivíduo em relação a própria identidade. A partir disso, busca-se ampliar os
horizontes acerca do diálogo intercultural, atendendo o interesse não só da cultura
privilegiada, mas sim do outro historicamente subalternizado que permanece em busca
da identidade. A pesquisa está sendo elaborada a partir de uma abordagem
metodológica decolonial. Parte-se do princípio que é necessária uma ruptura com as
ideologias hegemônicas para criação de alternativas para além do que foi imposto. A
partir disso, almeja-se obter o conhecimento necessário para transformar a realidade
marcada pela subalternização do outro. Não obstante o estudo ainda esteja em fase
inicial, percebe-se que a dignidade da pessoa humana resta ameaçada ante ao não
reconhecimento das diferentes culturas, fato este que tem a aculturação como
consequência. Sendo assim, tem-se por necessária a reflexão acerca da afirmação das
culturas subalternizadas para que o indivíduo encontre sua identidade sem a
interferência marcada pelo poder. Afinal, desconsiderar as diferentes culturas é regredir
tão cegamente a ponto de rasgar todos os dispositivos que salvaguardam a dignidade
da pessoa humana.
248
A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO HISTÓRICO DE GÊNERO NOS
CÓDIGOS CIVIL E PENAL BRASILEIRO: A SUBALTERNIDADE
FEMININA
O presente trabalho tem por objetivo, analisar o discurso jurídico presente nos códigos
civil e penal, sobretudo a partir dos anos de 1940, perpassando pelo período da ditadura
civil-militar (1964-1985), e pelos anos da década de 90 do século XX, com enfoque nos
casos jurídicos tramitados durante esse período, nos quais a honra e a dignidade
feminina era questionada ou garantida dentro de uma conjuntura moral, de perspectiva
masculina e conservadora, que insiste em resistir e se reafirmar no corpo textual dos
códigos atuais. A reivindicação da igualdade de gênero é uma luta antiga das mulheres
e que hoje é tema recorrente de debates políticos e sociais na sociedade e também no
meio acadêmico. A subjugação feminina foi validada juridicamente em nossos códigos,
através de leis que tinham como objetivo garantir a honra das mulheres dentro da
perspectiva de honra feminina daquela época. Nesse sentido, estavam presentes os
crimes de defloramento e de sedução, que se apresentavam como mecanismos de
“limpeza” da dignidade feminina. Sendo assim, o intuito do trabalho é analisar a
construção dos discursos histórico-jurídicos e entender a caminhada das mulheres rumo
a garantia de seus direitos, de forma consoante com o seu entendimento de sua própria
realidade. A pesquisa discorrerá sobre a subjugação da mulher na legislação brasileira,
em uma perspectiva histórica da epistemologia jurídica brasileira. Alguns artigos a
serem analisados serão os artigos 217, 267, 268 do Código Penal de 1890 e também, o art.
108 do Código penal de 1940. Sem dúvidas tais artigos já foram revogados, mas
persistiram por muito tempo no ordenamento jurídico brasileiro, tendo o artigo 108
supracitado sido revogado somente em 2005. Para o desenvolvimento do trabalho será
adotado o método dialético e a técnica de pesquisa será bibliográfica e documental sobre
o tema.
249
A INSURGÊNCIA DECOLONIAL FRENTE A NEGAÇÃO DO
DIFERENTE: A (RE)CONSTITUIÇÃO DE UM NOVO DIREITO A
PARTIR DA EMERSÃO DAS CAMADAS SOCIAIS
MARGINALIZADAS
250
POVOS INDÍGENAS/TRADICIONAIS E
DECOLONIALIDADE: NOVAS PERSPECTIVAS
CÓDICES E PRÁTICAS SOBRE A QUESTÃO INDÍGENA NO
BRASIL
252
ENSAIOS E PRÁTICAS INSTITUCIONAIS DE BEM VIVER NOS
ANDES DA AMÉRICA DO SUL
Walmir Pereira
253
COLONIALIDADE E DESENVOLVIMENTO: O IMPACTO SOBRE
OS POVOS INDÍGENAS
Na história do Brasil, a tendência tem sido desconsiderar a vontade dos povos nativos,
sobressaindo-se o interesse da sociedade envolvente, que buscava dominar tudo e todos,
em especial, minorias. Isso desencadeou um pensamento colonialista que perdura na
atualidade, muitas vezes tendo o Estado como promotor e grande responsável pela sua
manutenção. Uma das faces dessepensamento é a implementação de grandes
empreendimentos, tal como as usinas hidrelétricas e o agronegócio, onde a natureza é
vista apenas como um meio para alcançar o desenvolvimento, sem observar os impactos
ambientais que geram transformações sociais que afetam vários grupos humanos, dentre
eles encontramse os povos indígenas, em especial, devido sua íntima relação com a
natureza, base de sua vida e cultura. Para compreender como os grandes
empreendimentos afetam os povos indígenas dos locais onde são projetados, através de
um estudo hipotético dedutivo, a pesquisa busca analisar como a transformação do
espaço físico natural transforma a vida dos povos impactados por tais projetos e como
o Estado tem se comportado diante desse panorama. Constata-se que, ao se transformar
a natureza transforma-se também o modo de viver dos povos indígenas, podendo,
inclusive, comprometer a existência física e cultural deles. Por fim, observa-se que a
iniciativa privada e poder público, intentam sobrepujar anatureza e, por consequência,
os povos indígenas, com obras construídas sob o discurso da necessidade
de desenvolvimento do país, menosprezando quaisquer manifestações que contrariem seus
interesses. Assim, resta, aos grupos impactados e aos simpatizantes de suas lutas, a
resistência diante desse projeto de destruição da natureza e da cultura dos povos
indígenas e pensar uma novarelação entre seres opressores/superiores e seres
oprimidos/inferiores, além de novas formas de expressão para que possam se fazer
ouvir e respeitar seus direitos e interesses.
254
CULTURAS E DIREITO EM CONFLITO: CONTRIBUIÇÕES E
LIMITES DA TEORIA DA TRANSCONSTITUCIONALIDADE
FRENTE AO DEBATE DA TERRITORIALIDADE DE POVOS
INDÍGENAS
Os colonizadores do Novo Mundo imprimiram uma cultura diferente que impactava com
a forma de viver dos povos originários desse território, criando uma relação de poder
díspar: iniciou-se um processo para civilizar os povos locais, tendo como marco fundante
a religião católica. As terras ocupadas pelos povos originários foram usurpadas e
distribuídas conforme interesses da Coroa Portuguesa. Por conseguinte, desde a
colonização do território brasileiro, trava-se uma luta cultural e jurídica, por vezes
silenciosa ou silenciada, envolvendo o espaço territorial ocupado pelos colonizadores,
seus descendentes e os povos que foram despossados de suas terras. Para compreender
melhor os conflitos que seguem em torno de aspectos culturais e jurídicos, através de
um estudo hipotético dedutivo, baseado em aspectos histórico-culturais e leituras
jurídicas, analisa-se qual é a influência da cultura colonizadora europeia nas relações
sociais e nas disputas territoriais e de uso e acesso a bens naturais pelos povos indígenas.
O estudo remete a algumas constatações: a) a ideologia colonizadora e discriminatória
contra os povos indígenas segue no imaginário e nas ações no Brasil, renegando uma
postura diacrônica frente a história; b) as legislações brasileiras têm sido, em sua maioria,
integracionistas, desrespeitando povos indígenas e afastando a possibilidade de um
tranquilo convívio social c) a cosmovisão indígena acerca da territorialidade e do uso
dos recursos naturais foge das perspectivas liberais de propriedade, gerando muitos
conflitos, como os ocorridos com o povo Mb’ya-Guarani da Tekoa Koenju, do Município
de São Miguel das Missões/RS, e os proprietários lindeiros destas terras, pois os
primeiros não reconhecendo limites territoriais, adentram nas propriedades dos
lindeiros para buscar matéria prima para seus artesanatos. É fato que os conflitos
culturais e jurídicos são eminentes e o direito não tem logrado dirimi-los de forma
adequada. Atualmente a teoria da transconstitucionalidade tem se demonstrado uma
alternativa para a construção de um diálogo intercultural, dando uma atenção especial
para culturas que se encontram à margem do próprio constitucionalismo, como a dos
povos indígenas, buscando pontos de encontro entre ordens normativas diferentes, por
meios extrajudiciais. Porém, como limite e desafio a esta teoria encontram-se as relações
díspares de poder num possível diálogo.
255
PERFURANDO O SISTEMA: LUTAS INDÍGENAS NA AMÉRICA
LATINA E INSTITUCIONALIDADES INTERCULTURAIS
SUBALTERNAS
Maurício Hashizume
256
SAÚDE INDÍGENA E DIREITOS HUMANOS
Priscila de Aguiar
Mirian Vergueiro
Roseni Mariano
257
RECONHECIMENTO JURÍDICO DAS TERRITORIALIDADES
ESPECÍFICAS DOS POVOS TRADICIONAIS COMO
PROPRIEDADES: APLICAÇÃO EM CONFLITOS
SOCIOAMBIENTAIS
258
SABERES INDÍGENAS NA ESCOLA: FORMAÇÃO E
INTERCULTURALIDADE
259
A COLONIZAÇÃO E A PERDA LINGUÍSTICA DOS POVOS
INDÍGENAS NO SUL DO BRASIL DESDE O SÉCULO XVI
260
CONHECIMENTOS TRADICIONAIS KAINGANG NAS TERRAS
INDÍGENAS JAMÃ TŸ TÃHN/ESTRELA, PÓ NÃN MÁG E KA
MÁG/FARROUPILHA, RIO GRANDE DO SUL/BRASIL:
PERMANÊNCIAS E (RE)SIGNIFICAÇÕES NOS FIOS DOS TEMPOS
261
POVOS INDÍGENAS: RELATIVISMO CULTURAL E DIREITOS
HUMANOS
Rodrigo Mariano
Janaína Soares Schorr
262
COSMOVISÕES E TERRITÓRIOS EM DISPUTA: UMA ANÁLISE
DOS CONFLITOS ENTRE OS GUARANI E KAIOWÁ E
LATIFUNDIÁRIOS NO MATO GROSSO DO SUL
263
INFORMAÇÃO AMBIENTAL SUSTENTÁVEL COMO
ALTERNATIVA PARA A PROTEÇÃO DOS CONHECIMENTOS
TRADICIONAIS: OS PROTOCOLOS BIOCULTURAIS
COMUNITÁRIOS E OS BANCOS DE SABERES LATINO
AMERICANOS
Em um cenário marcado por inquietudes, pelo avanço da tecnologia e por novos meios
de apropriação do conhecimento, a área compreendida pelo Sul Social, por apresentar
rica biodiversidade, caracteriza-se por apresentar campos de disputa de ordem não
somente jurídica, mas também econômica. Diversas legislações, Tratados e Acordos
possuem como objeto de seu texto normativo, a biodiversidade. No entanto, inúmeros
são os desafios para que os instrumentos jurídicos existentes sejam adequados e efetivos,
em virtude das lacunas criadas através de interesses econômicos que acabam por deixar
a biodiversidade em condição vulnerável. Organizações Civis e Não Governamentais,
Comunidades Tradicionais diante da insegurança legislativa buscam por alternativas de
proteção para os saberes tradicionais. Desta forma o trabalho tem o intuito de buscar
alternativas para a pretendida emancipação através da informação ambiental, se
utilizando de alguns mecanismos de informação participativa geradora da participação
informada. Assim, através de alternativas transitórias de proteção aos conhecimentos,
tais como o banco de saberes e os protocolos bioculturais comunitários, a informação
como ferramenta de emancipação possibilita aos povos indígenas e comunidades
tradicionais, uma ampliação de sua participação, provocando um diálogo
intercultural. Como resultados, constatou-se que a informação ambiental sustentável é
instrumento essencial para que exista a possibilidade de emancipação dos povos
tradicionais e a proteção de seus saberes; as alternativas para que a reapropriação do
saber se concretize como meio de resistência e empoderamento consiste em realizar de
modo comunitário, ou seja, da comunidade para a comunidade tradicional, a criação de
bancos de saberes e protocolos bioculturais comunitários. Estas alternativas atuariam
como ferramentas protetivas do saber tradicional, da cultura e do direito a diferença dos
povos e comunidades tradicionais.
264
ESTUDOS DECOLONIAIS IMERSOS NAS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS DA CIDADE DE PIRATINI-RS
Nathércia Pedott
Jefferson Soares Galvão
Nara Beatriz Matias Soares
265
O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA INDÍGENA NOS CURSOS
DE HISTÓRIA DAS UNIVERSIDADES DO ESTADO DE SANTA
CATARINA
Após a outorga da Lei Federal 11.645 em 10 de março do ano de 2008, que incluiu e
tornou obrigatório no currículo das escolas brasileiras o ensino da temática indígena,
tornou-se necessária para a formação adequada de professores uma adaptação do
currículo pedagógico dos cursos de licenciatura, visando abordar aspectos da história,
cultura e luta das populações originárias.Nesse sentido, a pesquisa intitulada “Ensino
de História Indígena: realidade, desafios e possibilidades” tem como objetivo investigar
os conhecimentos relacionados à temática indígena presentes nos componentes
curriculares dos cursos de História das Instituições de Ensino Superior do Estado de
Santa Catarina. O escopo é compreender como a História Indígena tem sido (ou não)
trabalhada a partir da Lei Federal 11.645 nas universidades públicas, comunitárias e
privadas catarinenses, tendo em vista a responsabilidade das IES em formar
profissionais que atuarão na Educação Básica. Para realizar a análise, as universidades
do estado foram catalogadas e identificadas separadamente por disciplinas diretamente
relacionadas à temática, como História Indígena, Cultura Indígena no Brasil e
Arqueologia Pré-histórica. Em seguida foram analisados os projetos pedagógicos dos
cursos de História, disponibilizados pelas diferentes instituições, e a formação, produção
e atuação dos(as) professores(as) que lecionam a disciplina.Qual é a área dos(as)
professores(as) universitários que ministram disciplinas relacionadas à temática
indígena, quais são os conteúdos trabalhados em sala-de-aula, quais são os desafios e as
perspectivas desse campo de ensino, quais as implicações da referida lei para o ensino
superior? Estas são algumas das questões que esta pesquisa investiga. Esta apresentação
estará centrada nos resultados da análise dos planos de ensino e da bibliografia utilizada
nas disciplinas de História Indígena (e afins) e produzida pelos professores(as). Será
analisado especificamente o uso de materiais específicos produzidos pelos próprios
indígenas nas disciplinas, entendendo que o conhecimento de narrativas indígenas
diversas colabora com a construção de uma visão decolonial da história do Brasil.
266
O QUILOMBOLA COMO SUJEITO DE DIREITO: ENTRE A
PECULIAR ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA COMUNIDADE E A
ADEQUAÇÃO INSTITUCIONAL ÀS REGRAS DO ESTADO
267
A MONITORIA INDÍGENA NA UFRGS: SEGUNDO LUGAR DE
FORMAÇÃO E TROCAS INTERCULTURAIS
O trabalho faz parte dos registros das múltiplas vivências e aprendizagens que
ocorreram desde a entrada dos alunos indígenas, a partir de 2008, com monitores que
acolheram os mesmos, dentro do curso de Pedagogia quando foi implantado o programa
de cotas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. arte dos próprios registros da
autora, que faz do seu diário de campo (2012), uma ampliação para que outros monitores
e indígenas contem suas trajetórias de ensino e aprendizagem mútuas dentro da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A questão de pesquisa é: Como a monitoria
indígena passa a ser um lugar de trocas interculturais dentro do curso de Pedagogia da
UFRGS, levando em consideração os saberes envolvidos entre indígenas e não
indígenas? O objetivo principal é analisar a relevância da monitoria indígena como um
lugar de trocas interculturais e de formação, estabelecendo um novo espaço de diálogo
dentro da universidade, fazendo que estas narrativas de aprendizagem possam ser
ouvidas, discutidas e registradas. Metodologia: Pesquisa qualitativa, escrita
autobiográfica com coleta de dados através do diário de campo. Embasamento teórico:
Betancourt (2005) interculturalidade, Menezes (2011) trocas interculturais e Freire (1997)
conhecimento. Dessa maneira pretendo enfatizar que :O protagonismo indígena que
ocupa nossos espaços educacionais precisa e deve fazer parte de um novo olhar,
suscitando um novo sistema de valores em que todos os envolvidos aprendam juntos
construindo um novo espaço de trocas, partilhando caminhos comuns: a melhoria da
educação.
268
O STF E A COLONIALIDADE NA FUNDAMENTAÇÃO DA TESE
DO MARCO TEMPORAL DA DEMARCAÇÃO DE TERRAS
INDÍGENAS
269
CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVENÇÃO Nº 169 DA
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO E O
PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL
O presente artigo tem como objetivo apresentar três breves considerações sobre a
Convenção nº 169, da Organização Internacional do Trabalho – OIT, que trata de povos
indígenas e tribais, analisando seus potenciais avanços e retrocessos no Brasil. A
primeira consideração diz respeito à implementação histórico-normativa da Convenção
na América Latina e, em especial, no Brasil, destacando seus avanços de cunho jurídico
e político, baseado em autores como Baldi e Ribeiro (2015) e Courtis (2009). Dessa
maneira, pretende-se analisar a implementação da Convenção 169 em nossa região
relatando os fatores comuns que explicam a tendência preponderante da aceitação da
Convenção.Já a segunda consideração abarca retrocessos sociais que fragilizam a
efetivação da Convenção no território brasileiro, prejudicando, dessa forma, os povos
indígenas e tribais. Analisa-se como retrocessos a Portaria nº 303, de 16 de julho de 2002,
da Advocacia Geral da União (AGU) e a tentativa de revogação da Convenção nº 169 da
OIT, por meio de denúncia proposta pela Comissão de Agricultura, Pecuária,
Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados no ano de 2014.E,
por fim, na terceira consideração, discute-se o princípio constitucional da proibição do
retrocesso social como instrumento de ratificação da Convenção nº 169 da OIT em nossa
conjuntura. Baseado em Derbli (2007) e Miozzo (2012), assim como em jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, sistematiza-se o desenvolvimento desse princípio, desde
seu surgimento no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(PIDESC), passando pela Europa e sua receptividade em nosso país.Para a consecução
do objetivo delineado, utiliza-se a metodologia da revisão de literatura de tipo narrativa,
em que consiste relatar publicações amplas, apropriadas para descrever e discutir o
desenvolvimento ou o ‘estado da arte’ de um determinado assunto, sob ponto de vista
teórico ou contextual (ROTHER, 2007). Nesta revisão narrativa, utiliza-se artigos
científicos, doutrina, jurisprudência e um conjunto de normativos, além de alguns
documentos jurídicos, sempre em uma tentativa de análise crítica pessoal do autor.
270
JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA
LATINA E OS HORIZONTES AUTORITÁRIOS
DO SÉCULO XXI
HISTÓRIA E JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO: A REDEMOCRATIZAÇÃO
CHILENA À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS
Em se tratando das experiências dos regimes militares na América Latina, o caso chileno
se destaca entre um dos processos de maior violência no continente. Pautado pela
doutrina de segurança nacional, o regime recorreu à práticas de terror como política de
Estado, cometendo, sistematicamente, graves violações a direitos humanos. Os
resultados das duas comissões da verdade, instaladas no Chile, apontam para cerca de
40 mil o número total de vítimas do regime durante os 17 anos, entre 1973 e 1990. Os
efeitos desse período marcaram profundamente a memória, as identidades e a política
institucional de redemocratização do país. Nossa proposta de pesquisa que se inicia, visa
compreender esse processo de transição vivenciado no Chile pós ditadura, em que
diferentes forças sociais se confrontaram em nome das narrativas e de disputas políticas
que caracterizaram o processo de reconciliação do país. De toda forma, a transição
chilena foi marcada por uma via pactuada, com a preservação de práticas e estruturas
institucionais arraigadas na ordem militar e econômica neoliberal, como se a experiência
autoritária se apresentasse como uma nova roupagem do tradicional colonialismo
hegemônico. Pretendemos lançar um olhar interdisciplinar, relacionando a história e o
campo do direito a partir do conceito de justiça de transição, investigando esse tema e
os seus desdobramentos sócio históricos para uma proposta de transição política. Para
tanto, entre as fontes selecionadas, recorreremos ao acervo documental disponibilizado
pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACS) do Chile; aos dos dois
relatórios produzidos pelas duas Comissões da Verdade, além de demais obras
relacionadas ao tema: justiça de transição. Por fim, é importante destacar que não existe
um único modelo para que um Estado se redemocratize, cada sociedade desenvolve
procedimentos de acordo com sua realidade e conjuntura sociopolítica. De toda forma,
justiça transicional baseia-se na primazia dos direitos humanos, as comissões da verdade
almejam o esclarecimento dos fatos e representam o ponto de partida para a justiça de
transição, como uma referência no longo caminho da reconciliação histórica.
272
JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO E O
Objetivo: Este trabalho tem por objetivo discutir sobre a atuação do Movimento
Indígena de Mato Grosso do Sul durante a ditadura civil-militar (1964-1985) e no período
pós-autoritário. Problema: Desde a colonização eurocêntrica e a intrusão de seus
territórios os povos indígenas são alvo de ações de extermínio, exploração, escravidão,
expulsão e remoção forçadas, tortura, entre outras formas de violações de direitos
humanos e negação de seus costumes, línguas e crenças. No estado de Mato Grosso do
Sul (MS) a realidade não foi e não é diferente, essas violações foram intensificadas no
regime autoritário e ainda persistem no regime democrático, conforme se observa no
Relatório Figueiredo (1968), no texto da Comissão Nacional da Verdade sobre Violações
de Direitos Humanos dos Povos Indígenas (2014) e no Relatório da Missão ao Brasil da
Organização das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas
(2016). Metodologia: a pesquisa foi desenvolvida empregando o método exploratório
bibliográfico e o método etnográfico, além da análise de documentos enquanto técnica
de pesquisa. O referencial teórico utilizado é o da Justiça de Transição de Baixo, campo
de investigação centrado no estudo de grupos específicos de sociedades pós-conflito ou
em conflito que enfrentaram/enfrentam violações de direitos humanos. Resultados da
pesquisa: a atuação do Movimento Indígena de MS, atualmente organizado através do
Conselho e da Assembleia Aty Guassu, Conselho e Assembleia Terena e Assembleia
Kinikinau, pode ser vislumbrado em três momentos, o primeiro é caracterizado pela
resistência durante a década de 1960 diante das violações de direitos humanos, o
segundo momento é marcado pela ampla mobilização viabilizada com a abertura
política (1974) até a atuação decisiva na Constituinte de 1987, o terceiro é
consubstanciado na luta pela efetivação da Constituição Federal de 1988.
273
PORQUE SABEMOS A VERDADE, TEMOS MEMÓRIA, EXIGIMOS
JUSTIÇA. A TRAJETÓRIA DA ASOCIACIÓN DE EX DETENIDOS-
DESAPARECIDOS (1984-2014)
Marcos Tolentino
274
O PODER JUDICIÁRIO E A PRÁTICA JUSTRANSICIONAL NA
EMANCIAPAÇÃO DA AMÉRICA LATINA: O CONTRASSENSO DO
CASO BRASILEIRO FRENTE À SUPERAÇÃO DAS
(AUTO)ANISTIAS NOS PAÍSES DO MERCOSUL
275
A EXPERIÊNCIA DA PESQUISA SOBRE O DESAPARECIMENTO
FORÇADO NOS PAÍSES QUE COMPÕE A REDE LATINO
AMERICANA DE JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO (RLAJT): O CASO DE
EL SALVADOR
276
A LUTA FUNDAMENTAL PELA AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS: A EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO EM DIREITOS
HUMANOS DA UFSM
277
TRANSNACIONALIDADE, AMÉRICA LATINA E JUSTIÇA DE
TRANSIÇÃO - ESFORÇOS DE INTEGRAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS NO ÂMBITO DO MERCOSUL
278
O PASSADO QUE NÃO PASSA: ELEMENTOS PARA PENSAR A
JUSTIÇA TRANSICIONAL NO CENÁRIO LATINO-AMERICANO
O presente trabalho tem por finalidade analisar o processo transicional vivido no Brasil
por meio do estudo das medidas adotadas pelo Estado no seu processo de
redemocratização, especialmente quando em comparação com outros países latino-
americanos que também passaram por períodos de exceção, tais como a Argentina, o
Chile e o Uruguai. Para tanto, procedeu-se ao estudo acerca da justiça de transição, a fim
de melhor entender sua origem, finalidade e a forma como deve ser conduzida. Objetiva-
se, portanto, compreender mais profundamente a forma com que cada um dos países
em análise lidou com a superação de um período violento de sua história. A partir da
análise desenvolvida, buscou-se reconhecer os aspectos positivos e negativos do
processo de transição brasileiro, identificando-se, ainda, de que forma a incompletude
da justiça transicional brasileira influencia na democracia e na persistência de um cenário
de violência no país. Na metodologia utilizou-se pesquisa bibliográfica e documental
numa abordagem qualitativa, abrangendo a leitura e análise de obras doutrinárias,
artigos e jurisprudência. Os resultados do trabalho apontam que medidas adotadas pelo
Brasil, apesar de relevantes, ainda são insuficientes para a consolidação de uma cultura
democrática e de respeito aos direitos humanos no país, impondo-se, nesse contexto, a
implementação da justiça transicional em todos os seus aspectos.
279
O PÓS-COLONIAL E A REPRESENTAÇÃO DE
SUBALTERNIDADES NA AMÉRICA-LATINA
MILTON HATOUM E GABRIEL GARCÍA MARQUEZ: REFLEXÕES
SOBRE O PÓS-COLONIAL NA AMÉRICA LATINA
Telma Borges
Este trabalho objetiva refletir sobre a América Latina a partir dos romances Dois irmãos,
de Milton Hatoum e Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, analisando os filhos
bastardos dessas narrativas. Sua atuação ajuda a pensar o modo como suas identidades
podem ser compreendidas como uma alegoria da América Latina - Brasil e Colômbia -
em contraponto àquela imposta pelo colonizador. No emaranhado das culturas
brasileira, indígena e árabe, nasce Nael, personagem-narrador de Dois irmãos, que busca
a identidade paterna, negada pela mãe e, posteriormente, por ele também. Esse curumim
herda o nome árabe do bisavô paterno, mas opta por sua condição bastarda, fazendo seu
relato nascer como um discurso não legitimado, sem a assinatura do pai. A falta dessa
letra legitimadora é uma das marcas peculiares a esse narrador que, para contar sua
história, precisa apoiar-se em relatos outros, ora saídos da boca de seu avô Halim e de
sua mãe Domingas, ora observados pelas frestas e fendas de sua história familiar e
concomitantemente da cidade de Manaus. Em Cem anos de solidão é a bastardia que
condiciona o aparecimento de pergaminhos escritos em línguas impenetráveis, somente
decifrados por aquele que, colocado à margem, busca algum sinal que possa indicá-lo
como agente de uma história que deseja ver recontada e na qual não esteja relegado ao
porão, devendo figurar, portanto, no mesmo plano dos “donos” da História. Nessa
perspectiva, a voz do bastardo emerge como um suplemento da voz oficial com a qual
contaram sua história. A partir dessas vozes pretende-se problematizar quando foi e se
existiu o pós-colonial na América Latina.
281
IMPOSIÇÕES E TRANSFORMAÇÕES URBANAS EM MANAUS: A
CONSTRUÇÃO DA “PARIS DOS TRÓPICOS”
Rodrigo Capelato
Os problemas de uma cidade não são apenas técnicos ou estéticos. A cidade ou o espaço
urbano são construídos ou destruídos segundo uma política de intervenção que pode
favorecer certos segmentos em detrimento a outros, e a mais singela ou ingênua
intervenção urbana encerra uma intenção política e social, pois influi na vida do cidadão,
no seu cotidiano, no lazer e no trabalho. Influi, enfim, nas relações sociais e na
sociabilidade de cada pessoa. Neste sentido, o referido trabalho pretende analisar as
práticas de higienização, de embelezamento, de progresso e de civilidade, advindas da
Europa e implementadas na segunda metade do século XIX, tendo como lócus de analise
a cidade de Manaus que, com os aumentos sucessivos das exportações, principalmente
da borracha, propiciaram ao Estado uma grande receita, com excessos sempre crescentes
de arrecadações, inspirando assim um dos mais arrojados empreendimentos citadinos
que foram orquestrados pelo poder publico junto a elite local através de decretos, leis e
códigos, utilizados para justificar e viabilizar o controle social, e assim consolidar o
desejo da cidade progressista. É a modernidade que chegava ao “Porto de Lenha”, com
sua visão transformadora, na intenção de se tornar a “Paris dos Trópicos”. Tais medidas
concentraram-se nos chamados Códigos de Posturas Municipais, orientados por
princípios e interesses distantes, que negaram, desprezaram e velaram as especificidades
históricas e geográficas que a região Amazônica e a cidade de Manaus apresentavam.
Em seus inúmeros artigos fica clara a intenção de um modelo de civilização, como
tendência similar às praticas de controle adotadas pelas cortes europeias, onde a
paisagem geográfica e social era um problema a ser combatido. A chamada destruição
criativa não só substituiu a madeira pelo ferro, o barro pela alvenaria, a palha pela telha,
o igarapé pela avenida, a carroça pelos bondes elétricos, a iluminação a gás pela luz
elétrica, mas também transformou a paisagem natural, destruiu costumes e tradições,
“civilizou” as populações tradicionais e, principalmente, foi precursora da segregação
sócio espacial e da periferização, evidenciada até os dias de hoje, tanto em Manaus como
em todas as cidades brasileiras.
282
“COMO SE FAZ UM GUERRILHEIRO?” - (CON)FORMAÇÕES
IDENTITÁRIAS NA REPRESENTAÇÃO DA AMAZÔNIA
PARAENSE NA OBRA DE BENEDICTO MONTEIRO COMO PARTE
DOS PROCESSOS DE CONSTITUIÇÃO DA SUBALTERNIDADES
NA AMÉRICA LATINA
283
REPRESENTAÇÕES DO NAVIO NEGREIRO NA LITERATURA
AFRO-BRASILEIRA: MAPAS DA VIOLÊNCIA E DA RESISTÊNCIA
284
ENUNCIAÇÃO DE SUJEITAS NEGRAS EM NOSSAS TEORIAS DA
LITERATURA
Mediante sua noção de ancestra, Yolanda Arroyo Pizarro, em seu ensaio "Hablar de las
ancestras: hacia una nueva literatura insurgente de la afrodescendencia", discute, de
modo interseccional, a centralidade da memória às construções identitárias negras
percebendo, contudo, dificuldades inerentes à legitimação de mulheres negras seja na
historiografia portorriquenha, seja em uma história possível das literaturas negras
femininas – projeto levado a cabo por Arroyo Pizarro, ficcionalmente, em las
Negras (2012). Yuderkis Espinosa Miñoso, em seus artigos “Etnocentrismo y colonialidad
em los feminismos latinoamericanos: complicidades y consolidacion de las hegemonias
feminsitas em el espacio transnacional” e “La academia feminista y su rol en el cambio
socio cultural en América Latina: hacia la complejización del entramado de poder”,
desde um lugar de feminismo negro decolonial, nos assevera o risco de que nossas
pesquisas, buscando compreender as literaturas em-subalternidade (ou, em outra
palavra, as literaturas de nossos Outros), por vezes, "se asientan sobre las mismas bases
que las operaciones de dominio" de tal modo a corroborar "la reafirmación de una
diferencia específica (naturalizada) de los grupos subordinados en relación al sujeto
hegemónico", quando naturalizamos os sujeitos, assim como seus discursos que
buscamos compreender. Visando a avançar sobre comunicações recentemente
apresentadas no III Simpósio Internacional de Literaturas Negras Ibero-americanas, na
Universidade Federal do Paraná, assim como nas VII Jornadas Caribeñistas, na
Universidad de Chile, o presente estudo examina algumas contribuições críticas que
um corpus de feminismo negro americano decolonial, nos ensaios presentes em Tejiendo
de otro modo (2014), pode trazer ao estudo de literaturas negras femininas americanas
contemporâneas, no atual estado do campo dos Estudos Literários, no Brasil. Este
trabalho é tributário do Projeto de Pesquisa Teseu, o labirinto e seu nome, desenvolvido
na Universidade Federal do Piauí; e, neste evento, será apresentado no simpósio "O pós-
colonial e a representação de subalternidades na América Latina", no qual estou um dos
três coordenadores.
285
IDENTIDADE E DIFERENÇA NA CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DA
AMÉRICA LATINA E BRASIL: MANOEL BOMFIM E SUA CRÍTICA
“PÓS-COLONIAL” FUNDAMENTADA NO “PARASITISMO
SOCIAL” E NA “PLASTICIDADE CULTURAL”.
286
PÓS-COLONIALISMO E REPRESENTAÇÃO DE
SUBALTERNIDADES NA AMÉRICA-LATINA
Representar e. em especial, representar a si mesmo, falar por si, implica uma ação
política; pressupõe acesso a esferas de poder que só ocorre com o empoderamento
identitário. Nesse sentido, as teorias e práticas pós-coloniais têm o mérito de propiciar a
grupos marginalizados pela empreitada colonial europeia voz e visibilidade social.
Grupos sociais provenientes dos mais diversos pontos da grande área do globo que
sofreu com a violência da colonização finalmente conseguem se manifestar,
apresentando suas próprias versões de si e do outro, assim como suas próprias
interpretações do percurso histórico, em processo tão bem captado por Salman Rushdie
no intertexto “the empire writes back”. A investigação da (in)capacidade de representação
por parte de subalternidades na América-Latina, contudo, demanda observações mais
pontuais, que se debrucem sobre especificidades típicas da região. Antes de tudo, não se
pode considerar a América-Latina um todo uniforme e homogêneo. A região é
constituída por diferentes países e povos que passaram por diferentes experiências
históricas de colonização. Ressalte-se que as teorias e práticas pós-coloniais são exercidas
nas (ou em diálogo com) línguas europeias, em especial o inglês, espanhol, português e
francês, restando pouco espaço de manifestação para as identidades que se manifestam
através de línguas autóctones. Assim sendo, minha apresentação preocupa-se bastante
em ressaltar o que chamo de margem da margem, ou seja, aquelas identidades que na
margem pós-colonial não se expressão através de línguas europeias, enfatizando que
para essas identidades as teorias e práticas pós-coloniais pouco ajudam no que diz
respeito a dotá-las de voz ou de visibilidade política.
287
RESISTÊNCIA E AÇÃO COLETIVA EM TEMPOS
DE EXCEÇÃO: ESTADO, PODER, VIOLÊNCIA E
CONSTRUÇÃO DE ALTERNATIVAS NAS
SOCIEDADES PÓS-COLONIAIS
RESISTÊNCIA SOCIAL EM FERNANDO DE NORONHA
289
O LEGADO GURVITCHIANO DE DIREITO SOCIAL COMO
ABORDAGEM DE ANÁLISE PARA POLÍTICAS PÚBLICAS
DESTINADAS A GRUPOS MINORITÁRIOS
290
AS LUTAS ESPECÍFICAS PELOS DIREITOS HUMANOS E AS
ESTRATÉGIAS DE GOVERNO
Edson Teles
291
PÓS-COLONIALIDADE E VIOLÊNCIA NA AMÉRICA LATINA: UM
OLHAR SOBRE AS MARAS CENTRO-AMERICANAS E AS
SOCIABILIDADES DELITIVAS DE PORTO ALEGRE
Esta comunicação visa apresentar uma discussão temática voltada para o projeto de tese
intitulado Pós-colonialidade e violência: um olhar sobre os bondes de Porto Alegre e as
maras hondurenhas. A proposta desse projeto é discutir os elementos da crítica pós-
colonial e utilizá-los como aporte de análise a um fenômeno da violência, noção que
guarda fundamental relação com a pós-colonialidade. A pesquisa tem como tema a
análise das ações e representações dos jovens (compreendidos entre os 15 e 24 anos)
através de manifestações de caráter híbrido ou mestiço que reúnem elementos culturais
e violência. Inicialmente se estabelece uma comparação entre as maras centro-
americanas (gangues centro-americanas de atuação transnacional) e os bondes ou
gangues de Porto Alegre, os quais têm ampliado sua atuação na disputa e controle do
tráfico na capital e arredores. Tais sociabilidades possuem grande diferença em termos
de número de integrantes e de escala de atuação, mas é possível estabelecer uma
homologia com base na gênese desses dois grupos e seu posterior desenvolvimento.
Logo, o tema envolve a análise empírica das ações dos jovens desses grupos, mas tem
como eixo central a discussão da possível emergência de uma discursividade de caráter
pós-colonial nas projeções dessas sociabilidades na América Latina. Assim, se atenta
para as diferentes formas em que os sujeitos buscam romper os binarismos que os
colocam como subalternos pela sua territorialização da periferia, projetando novos
signos e significados através de combinações de categorias que atravessam suas
identidades como raça, gênero, pertença local e gostos culturais. A hipótese de pesquisa
é a de que se possa ver aspectos da gênese e do desenvolvimento das maras presentes
nas socinabilidades delitivas de Porto Alegre no que diz respeito tanto à organização
quanto à estética. Assim como as maras, a pertença aos bondes nasce da necessidade
prática de se amparar em um grupo homogêneo da periferia como forma de
enfrentamento à estigmatização e à criminalização. No entanto, pela forma como as
políticas de segurança e controle social têm se desenvolvido tanto nos países centro-
americanos quanto na cidade de Porto Alegre, maras e bondes têm apresentado um
intensificação do uso da violência.
292
IMIGRAÇÃO FRENTE ÀS TEORIAS DE SECURITIZAÇÃO E
UNIVERSALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: CRÍTICAS E
REFLEXÕES SOBRE A ATUAL CONJECTURA DE SEGURANÇA E
IMPLEMENTADO PELO ESTADO DE EXCEÇÃO PERMANENTE
293
IGUALDADE RACIAL NO BRASIL: ANTECEDENTES, POLÍTICAS
PÚBLICAS E DESAFIOS
294
DIREITOS HUMANOS EM CHIAPAS, MÉXICO: RELATO DE UMA
EXPERIÊNCIA COM O FRAYBA
295
ESTADO-IMPÉRIO E ESTADO-COLÔNIA, CIDADANIA-IMPÉRIO E
CIDADANIA-COLÔNIA: PRODUÇÃO ATIVA DA NÃO-
EXISTÊNCIA DA VIOLÊNCIA PARA O BEM-ESTAR
Maurício Hashizume
A arquitetura da hegemonia moderna ocidental tem como base uma aparente e funcional
copresença sustentada por uma concreta e profunda abissalidade. O pensamento abissal,
conforme formulado por Boaventura de Sousa Santos, sustenta e viabiliza uma operação
de cisão funcional e fundacional de uma mesma matriz de formas de opressão
(capitalismo, colonialismo e patriarcado) em duas partes distintas. Uma delas é
apresentada como ilustrada, científica, fundamentada em valores como liberdade e
igualdade, em suma, portadora do Espírito superior hegeliano e destinada a garantir o
progresso técnico e a justiça social; é o espaço da vida de bem-estar em que se dá a
disputa entre regulação e emancipação. A segunda é produzida como uma antípoda da
primeira (como o “Outro” encoberto, conforme Dussel): é o território de violência e
apropriação repleto de crenças e de rituais do passado, envolto em escuridão e preso às
trevas, que a ciência e o direito modernos do “desencantamento do mundo” (Weber)
vieram a combater; conforme Marx e Engels, o avanço burguês desmancharia tudo o que
é sólido no ar. Os esforços gerais da humanidade deveriam, portanto, serem todos
canalizados para a transição de um antes marcado pelo sofrimento da “violência e
apropriação” do “lado de lá da linha abissal” ao depois do mundo da “regulação e
emancipação” do “lado de cá da linha abissal”. Ocorre que essa co-presença entre
subdesenvolvimento e desenvolvimento (para retomar as contribuições da teoria da
dependência latino-americana) não é linear e nem se explica apenas pelas virtudes e
pelos vícios tanto das sociedades que gozam atualmente de privilégios quanto das que
padecem como “atrasadas”. A relação causal (abissalmente) não admitida é a de que o
Estado-Império só foi possível em termos de recursos materiais e não-materiais graças à
espoliação do EstadoColônia. A violência e a apropriação que determina a Cidadania-
Colônia são, portanto, ativamente produzidas como não-existentes para a construção do
bem-estar capitalistacolonial-patriarcal da Cidadania-Império. As condições materiais e
simbólicas disponíveis para as invenções das nações (Anderson) a partir da condição de
Estado-Império (como relação social, na linha de Poulantzas) são completamente
díspares daquelas que sobraram como migalhas ao investimento social no Estado-
Colônia.
296
PODERIA TER SIDO VOCÊ – VÍNCULOS SOCIAIS E SIMBÓLICOS
NO PROCESSO COMUNICACIONAL A PARTIR DA EXPERIÊNCIA
AUDIOVISUAL DO COLETIVO TELA FIRME, DE BELÉM (PA)
297
MOVIMENTOS SOCIAIS E DIREITO: O GT JURIDICO DENTRO DA
OCUPAÇÃO DA CÂMARA DE VEREADORES DE PORTO ALEGRE
EM 2013
Fiammetta Bonfigli
298
A CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL
PÓS-GOLPE: A RADICALIZAÇÃO DE UM MÉTODO
299
DIREITO AO NOME: AS AÇÕES DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO
CIVIL DE TRAVESTIS E PESSOAS TRANSEXUAIS E A QUESTÃO
DA REGULAÇÃO DO GÊNERO PELO DIREITO
Meu objetivo é partir de um referencial teórico descolonial de gênero para analisar sua
regulação pelo direito e, simultaneamente, o uso da gramática jurídica pelas travestis e
pessoas transexuais nas demandas identitárias. Apresento sua experiência de resistência
pelo acesso à justiça e identifico a ambiguidade desse processo. Compreendo gênero a
partir de uma matriz teórica não-essencialista, pela qual o corpo é produtor e produto
de significados sociais marcados pela cisnormatividade, conjunto de preceitos
normativos e colonizadores responsável por “formações corporais e identidades de
gênero naturalizadas e idealizadas” (SIMAKAWA, 2015, p. 44). Trabalho com a
identificação de duas gramáticas do estado de direito, a tradicional gramática da
regulação estatal, mas também a gramática da regulação social (RODRIGUEZ, 2014),
pela qual é possível conceber um projeto de direito não-assimilacionista das demandas
de gênero, um uso da gramática jurídica em que “a sociedade pode reivindicar o direito
para regular diretamente sua conduta ou para facilitar a regulação social autônoma”
(RODRIGUEZ, 2014, p. 138). No estudo das demandas por retificação de nome e gênero,
enfrento o uso do direito para a afirmação de uma identidade de gênero. O nome,
símbolo de identificação pessoal, no direito, é a consagração da personalidade jurídica.
O trabalho, portanto, enfrenta a tensão entre as funções de representatividade jurídica e
de caracterização identitária, analisa uma luta política diante do direito, uma tensão
entre regras (leis do Estado) e desejo dos sujeitos (práticas sociais). Considero a
existência de uma tensão entre obediência e rebeldia em relação às normas dos espaços
simbólicos de pertinência pessoal e identitária (GREGORI, 2016). Um processo ambíguo,
em que as identidades de gênero das travestis e pessoas transexuais, na demanda
jurídica de retificação, estão implicadas no próprio poder a que se opõem (BUTLER,
2014). Há uma “possibilidade política que emerge quando os limites da representação e
da representabilidade são expostos” (BUTLER, 2014, p. 18). As travestis e pessoas
transexuais não poderiam fazer sua reinvindicação fora da linguagem (cis)normativa do
Estado, porém, sua reivindicação tampouco pode ser plenamente assimilada por ele. Há
uma contestação da identidade de gênero dentro da gramática jurídica, sem, entretanto,
tê-la absorvida pelo direito.
300
OCARA: PENSAR A CIDADE E A DEMOCRACIA A PARTIR DO
SUL
301
A TENSA RELAÇÃO ENTRE ESTADO E SOCIEDADE: UMA
ANÁLISE A PARTIR DA ECONOMIA SOLIDÁRIA
302
ATORES SOCIAIS E MECANISMOS DE
RESPONSABILIZAÇÃO DE EMPRESAS POR
VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
EMPRESAS TRANSNACIONAIS E (DE)COLONIALIDADE NA
AMÉRICA LATINA: A COOPERAÇÃO JURÍDICA
INTERNACIONAL NO CASO CHEVRON
304
COLONIALIDADE E IMPUNIDADE: ANÁLISE SOBRE PROJETOS
DE REGULAMENTAÇÃO DE EMPRESAS POR VIOLAÇÕES DE
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
305
UNEARTHING POWER: A DECOLONIAL ANALYSIS OF THE
SAMARCO MINE DISASTER AND THE BRAZILIAN MINING
INDUSTRY
The November 2015 Samarco mine tailings dam break that killed 19 people and
destroyed the Rio Doce river basin is being called Brazil’s worst-ever socio-
environmental disaster. In the year following the disaster, conflict has arisen between
the mine company, government authorities, and affected community members as to how
to adequately repair the damage and justly compensate victims of the tragedy. The paper
will employ a decolonial theoretical framework to analyze this conflict and discuss what
decolonizing Brazilian mining development might look like. Brazil’s mining regime is
deeply engrained with its colonial history and therefore, taking a broad, historical and
critical decolonial approach will be important for considering the socio-political, cultural
and economic dimensions of the Samarco dam disaster, as well as how the case fits into
the Brazilian mining industry in greater context. The methodology uses primary data
from 20 interviews conducted in July and August 2016, as well as a critical analysis of
relevant laws regulating the sector. Themes from interviewees answers to a set of almost
identical questions across groups are compared and analyzed within the context of
participants’ varying and sometimes competing power positions and interests. The
decolonial strategy of epistemological disobedience will be carried forward by
privileging subaltern voices of those excluded from the type of development imposed
by mining activity and by challenging the narratives of the benefits of mining
development as it has played out in Brazil. The overall objective of the paper is to apply
a decolonial lens on corporate culture and public policy in the mining sector and to
extract the community organizing lessons that can be learned from the Samarco case to
enable decolonial healing, and infuse greater social and environmental corporate
responsibility and preventative principles into mining practices in Brazil.
306
COLONIALISMO E PÓS-COLONIALISMO SOB ASPECTO DO
EXTRATIVISMO
307
A POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO JURÍDICA DE
EMPRESAS TRANSNACIONAIS PELA VIOLAÇÃO DE DIREITOS
HUMANOS DE POVOS INDÍGENAS
308
A ELABORAÇÃO DO TRATADO SOBRE DIREITOS HUMANOS E
EMPRESAS A PARTIR DA PERSPECTIVA NEOLIBERAL
EUROCÊNTRICA
309
A LÓGICA DA COLONIALIDADE COMO FATOR DE NEGAÇÃO
DE DIREITOS TERRITORIAIS AOS POVOS INDÍGENAS DO
BRASIL: UMA ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA, DO
MILHO E DA CARNE BOVINA NO ESTADO DO MATO GROSSO
DO SUL
310
TENSÕES ENTRE MODELOS E MODOS SOCIOECONÔMICOS NA
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: UMA PROBLEMATIZAÇÃO DO
CRIME AMBIENTAL NA BACIA DO RIO DOCE
O artigo tem como objetivo problematizar algumas relações estabelecidas entre o modelo
econômico desenvolvimentista/produtivista com diferentes lógicas que escapam às
imposições hegemônicas de mercado. Coloca em discussão a própria noção de
desenvolvimento presente hoje na maioria das sociedades contemporâneas. Levanta a
possibilidade e necessidade de potencializar diferentes racionalidades e modos de
existências plurais que não estejam conformados com a lógica instrumental, linear e
reducionista baseada num modelo que se percebe unilateral e homogeneizante cujo
padrão estabelecido a priori é impositivo e excludente. Para exemplificar essas relações
nos envolveremos com o maior crime ambiental brasileiro, ocorrido na bacia
hidrográfica do rio Doce, localizada nos territórios de Minas Gerais e do Espírito Santo.
A escolha da problemática se dá pelas experiências que foram e estão sendo
compartilhadas e vivenciadas cotidianamente desde o crime ambiental ocorrido em
Marina – MG. A tensão presente entre os diferentes modelos socioeconômicos
evidenciada pelo crime socioambiental, se mostrou assimétrica, ou seja, a força do
mercado, com seu discurso desenvolvimentista, mascarou a realidade ao se mostrar
imprescindível para o desenvolvimento da sociedade, como também, massacrou
determinados modos de vida que estabeleciam intrínsecas relações com o rio. Nesse
processo, a metodologia não foi uma escolha, mas emergiu a partir das circunstâncias na
qual estivemos/estamos imersos. Mesmo reconhecendo a incompletude de qualquer
metodologia, além de nossa experiência empírica, lançamos mão de alguns
procedimentos, tais como: a escuta sensível, a observação, as produções narrativas
engendradas durante o processo, dentre outros. Nessa rede de experiências e vivências
compartilhadas percebemos que o medo, a angústia e a insegurança, que se instalou
desde os primeiros dias do crime ambiental, ainda persiste. Além desses sentimentos,
todas as perdas afetivas e materiais que se fizeram presente na vida de ribeirinhos,
pescadores, indígenas, agricultores, comunidades urbanas, dentre outros, não foram
consideradas nas negociações engendradas pela empresa responsável pelo crime.
311
ETNOGRAFIAS DAS
INTERSECCIONALIDADES: RAÇA E GÊNERO
NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E
DA JUSTIÇA
DESIGUALDADES SOCIAIS E DEMANDAS POR IGUALDADE DE
GÊNERO EM CABO VERDE DESDE MULHERES CHEFES DE
FAMÍLIA
313
AS PRÁTICAS DAS PROMOTORAS LEGAIS POPULARES: UMA
VISÃO INTERSECCIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS MULHERES
314
GÊNERO, RAÇA E IDENTIDADE NA RELAÇÃO ENTRE ESTADO E
SOCIEDADE: O ACESSO AOS SERVIÇOS PÚBLICOS PELAS
IMIGRANTES HAITIANAS NO BRASIL
Carla Ricci
315
MOVIMENTO LGBT NEGRO: UM BREVE RELATO SOBRE
MARCADORES DE EXCLUSÃO E MEIO EDUCACIONAL
Negros, gays e pobres, sobretudo com essas características combinadas, estão sujeitos a
diversos tipos de segregação, devido a heteronormatividade, preconceito racial e social
existente na sociedade brasileira. As instituições educacionais refletem atitudes que
permeiam na sociedade. Neste contexto, este estudo visa responder o seguinte problema
de pesquisa: Como os negros (as) LGBT’s e pobres de Rio Grande/RS percebem suas
experiências no ambiente escolar? Tendo como objetivos específicos: identificar
situações de discriminação nos ambientes educacionais e; expor subjetividades nas quais
se enquadram esses indivíduos, quanto ao acesso ao meio educacional. A metodologia
norteadora dessa pesquisa é a etnografia com o uso da História oral com grupos LGBT’s
da cidade de Rio Grande/RS com abordagem qualitativa. No intuito de compreender as
vivências e lutas dos mesmos, sendo esses, protagonistas das suas narrativas, trazendo
a ótica e perspectiva enquanto negros, LGBT’s e pobres. A intolerância no Brasil tem um
forte viés histórico com relação a população negra, devido ao passado escravista, onde
o negro sequer era percebido como um ser humano. Essa exclusão tomou novas formas
e proporções, expondo os indivíduos a situações nas quais tendem a ser tratados como
coadjuvantes. Expressando assim um forte determinismo biológico. Quanto ao público
LGBT, o modelo de sociedade heteronormativa segrega esses sujeitos dos espaços
refletindo no meio educacional. Pensando sobre formas de exclusão, o público LGBT,
mas, sobretudo pobres e não brancos, tendem a liderar as piores estatísticas, como a
população negra. Ou seja, os preconceitos são combinados e intensificados dificultando
a ascensão social a essas pessoas perpetuando assim tal ciclo vicioso. As instituições
escolares, reproduzem diversos preconceitos, provocando uma desumanização dessas
pessoas que passam a ser percebidos como seres abjetos. Na maioria das vezes, pode-se
dizer que esse processo de marginalização ocorre devido a condição étnico-racial que
apresentam. Perceber quais são as demandas desses grupos e possíveis preconceitos
sofridos, contribui para uma maior visibilidade das peculiaridades que esses sujeitos
enfrentam na sociedade e no meio educacional, possibilitando políticas públicas visando
a equidade e justiça social.
316
EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NA AMAZÔNIA:
COLONIALIDADE, INTERSECÇÕES E DIVERSIDADES
317
PÓS/DESCOLONIALISMO E O CAMPO DO
DIREITO INTERNACIONAL ECONÔMICO NA
AMÉRICA LATINA
TEORIA QUEER E DIREITO INTERNACIONAL: POSSIBILIDADES
PÓS-COLONIAIS
319
MACUNAÍMA EM BUSCA DE UM LUGAR NAS SAVANAS
AFRICANAS: O QUE ESTÁ POR TRÁS DA REGULAÇÃO DE
INVESTIMENTOS ENTRE BRASIL E ANGOLA?
Os fluxos econômicos entre Brasil e Angola quadruplicaram nos últimos dez anos,
tornando Angola um dos principais parceiros de comércio e investimento na África e
um dos quais o Brasil mais aumentou seus fluxos econômicos nos últimos tempos.
Críticos tem qualificado a aproximação do Brasil com a África como “apenas um outro
país do BRICS buscando recursos naturais” e taxaram essas relações como sub-
imperialismo. Neste artigo, nós exploramos o histórico das relações entre Brasil e Angola
para argumentar que as explicações existentes simplificam a natureza das relações
Brasil-África, subvalorizam séculos de laços culturais e socioeconômicos entre Brasil e
África, e muito rapidamente tentam enquadrar essas relações às categorias criadas para
explicar interações Norte-Sul. O artigo está dividido em duas partes e examina a relação
entre Brasil e Angola. A primeira parte explora o histórico das relações Brasil-Angola,
que datam do século XV, quando o intenso fluxo de comércio transatlântico de escravos
definiram as relações entre essas duas colônias portuguesas, mas mais importante
moldaram a identidade mestiça brasileira, com impactos duradouros nas suas relações
bilaterais. A segunda parte do artigo contextualiza as relações Brasil-Angola no âmbito
do recém-assinado Acordo de Cooperação e Promoção de Investimentos (ACFI).
Tradicionalmente concebido como um regime assimétrico, o ACFI Brasil-Angola
contesta as bases da regulação de investimento ao desenhar regras enraizadas em
cooperação e coordenação horizontal, alinhada à tradição centenária de suas relações
bilaterais. Esta pesquisa está fundada em métodos de pesquisa empírica – incluindo
análise de dados agregados, documentos primários e secundários, e entrevistas com
oficiais de governo e representantes do setor privado.
320
DIREITO INTERNACIONAL AO DESENVOLVIMENTO E
SEGURANÇA INTERNACIONAL ECONÔMICA: AS DUAS FACES
DE UMA MESMA MOEDA
Douglas de Castro
321
PROPRIEDADE INTELECTUAL INDÍGENA NA AMÉRICA LATINA:
ENTRE INDIGENIZAÇÃO DO DIREITO OCIDENTAL E
MERCANTILIZAÇÃO DE CULTURAS
322
LEITURAS SOBRE O DIREITO INTERNACIONAL ECONÔMICO
NO ÂMBITO DAS CONTRIBUIÇÕES DAS ABORDAGENS DE
TERCEIRO MUNDO AO DIREITO INTERNACIONAL (TWAIL)
O direito internacional é uma das principais linguagens nas quais a dominação está
sendo expressa na era da globalização, deslocando os sistemas legais domésticos em sua
importância, com um impacto sem precedentes sobre as vidas dos cidadãos comuns. No
centro do projeto globalizante está a criação de um espaço econômico global unificado,
onde o direito internacional vem definindo o significado de ‘estado democrático’ e
realocando poderes econômicos soberanos em instituições internacionais. Assim, o
direito internacional articula regras que procuram transcender o fenômeno do
desenvolvimento global desigual e envolvem padrões globais uniformes para facilitar a
mobilidade e operação do capital transnacional. Não é deixado espaço ao
reconhecimento das preocupações dos países e das pessoas sujeitas às regras coloniais
há muito impostas. A linguagem do direito desempenhou um papel significativo no
processo de legitimar ideias dominantes em um discurso que procura-se associar com
racionalidade, neutralidade, objetividade e justiça. Particularmente, no campo do direito
internacional econômico, um espaço econômico global unificado é construído por meio
de instrumentos internacionais como aqueles consolidados nos textos da OMC e nas
políticas prescritas pelas instituições financeiras internacionais. Os padrões mínimos
estabelecidos a partir daí se refletem também na emergência da internacionalização da
forma e substância dos direitos de propriedade, com a privatização da propriedade, das
utilidades e dos serviços públicos. Nesse contexto, as abordagens de TWAIL são
fundamentais ao apresentarem uma crítica ao direito internacional globalizante e
proporem estratégias direcionadas à criação de uma ordem mundial baseada na justiça
social. Enquanto abordagem, TWAIL se recusa a tratar como sagrada qualquer norma,
processo ou instituição, seja ela doméstica ou internacional. Todos os fatores que criam,
incentivam, legitimam e mantêm hierarquias prejudiciais e opressões devem ser
revisadas e alteradas. Sendo assim, o presente trabalho se propõem a mapear e analisar
as contribuições de TWAIL no campo do direito internacional econômico. Procura-se
levar em consideração contribuições que permitam desafiar um modelo particular, uma
ideia particular de economia, que vêm garantido que as pessoas e os países em
desenvolvimento permaneçam em uma posição de subordinação econômica.
323
AS EMPRESAS TRANSNACIONAIS E OS CÓDIGOS DE
CONDUTA: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PLURALISMO
JURÍDICO
324
COERCION OF THE STATE – A TWAIL CRITIQUE
In this brief writing, I will sketch a TWAIL critique of how the Vienna Convention on
the Law of Treaties regards the coercion of the State. The article is divided in four parts.
Firstly, I will describe and analyze the drafting history of article 52 of the 1969 Vienna
Convention on the Law of Treaties, in the sessions of the International Law Commission
(ILC) and in the 1968/1969 Vienna Conference on the Law of Treaties. Afterwards, I will
point out how the choice between codification and progressive development stands out
as a political choice, with political consequences. Later on, I will link my previous
analysis to a TWAIL critique of the pervading colonialism in international law. Finally,
I will suggest some concluding remarks, and point out a leeway for change.
325
O LEGADO IMPERIALISTA DO DIREITO INTERNACIONAL
ECONÔMICO: COMÉRCIO, SOBERANIA E A LEGITIMAÇÃO
JURÍDICA DA DESIGUALDADE
326
DISPARIDADES E PERPETUAÇÕES HISTÓRICAS DE
EXPLORAÇÃO DA AMÉRICA LATINA NO ÂMBITO DO CIRDI
327
SOBERANIA E TERRITÓRIO EM PROCESSOS DE (DES)
CONSTRUÇÃO: CAMINHOS PARA A JUSTIÇA NO SÉCULO XX EM
TERMOS DE ESCALA GLOBAL
A atividade de gestão estatal dos conflitos, na forma como se conhece hoje, estaria em
crise, mas prefere-se a denominação, processo de reorganização. Considera-se que toda
sociedade tem meios de promover a ‘justiça’, pois se considera que da mesma forma que
o conflito faz parte da vida humana e comunidade, os meios de ‘solucioná-lo’ também
existem. Não se trata a partir de um ponto vista antropológico da vida comunitária, de
classificar as melhores práticas e sistemas de resolução, mas de entender que, em cada
época e lugar, se desenvolve um sistema de resolução de conflitos capazes, até certo
ponto, de manter a estabilização das relações sociais básicas. Considera-se que não
existem modelos e práticas ideais de resolução de conflitos, mas formas de gestão dos
litígios histórica e socialmente construídas. Assim, um modelo necessariamente será
superado por outro, mudando-se as condições objetivas que determinaram sua
emergência.Parte-se da premissa que o sistema econômico globalizado requer um novo
modelo (ainda em desenvolvimento) de gestão dos conflitos, ou seja, desterritorializado,
global e em rede. As inferências propostas nos tópicos seguintes, que seguem a
metodologia e escrita de um ensaio, abordarão as transformações do capitalismo, a
caracterização de um modelo de tutela estatal em declínio, e se propugna a emergência
de um modelo policontextual de produção do discurso jurídico.Serão utilizados
referenciais teóricos variados para compor o marco teórico da análise. Em especial: o
trabalho de Hardt e Negri sobre a dialética da soberania no sistema capitalista como
articulação necessária; a abordagem da teoria do sistema para explicar a relação entre
direito e os outros sistemas sociais na sociedade complexa, incluindo a o discurso
policontextual, destacando a proposta de uma sociedade civil mundial, na formulação
proposta por Teubner a partir do texto amplamente conhecido, A Bukowina Global sobre
a emergência de um pluralismo jurídico transnacional. Pretende-se sugerir que os caminhos
da justiça no séc. XXI não é mais centralizado na figura do Estado – Juiz, mas seria
produzido o direito em vários contextos sociais, ancorados na autonomia do sujeito e na
privatização da administração de grande parte dos conflitos.
328
A PERPETUAÇÃO DA EXTREMA POBREZA COMO FACETA DO
DESIGN ESTRUTURAL GLOBAL
329
A PROTEÇÃO DO CONHECIMENTO TRADICIONAL NO REGIME
DOS TRIPS, NA CDB E NA LEI N. 13.123/15: ENTRE OS INTERESSES
TRANSNACIONAIS, ESTATAIS E DA COMUNIDADES LOCAIS
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