Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
O diferente quase sempre atrai os olhares para si. Ora, isso nos parece óbvio.
Mas se aquele que se destaca será aclamado ou rejeitado não dá para prever. Isso
dependerá do grupo em que estiver inserido. Será possível dizer que há uma
tendência natural em massacrar o diferente, ou em idolatrá-lo? As duas coisas
podem ser verdadeiras. Na maioria das vezes, o que se vê são pessoas se
anulando em troca de amor e reconhecimento. Ser diferente, ter estilo próprio e
uma maneira de pensar, além de fortalecer a autoestima, enriquece os
relacionamentos. Também devemos nos lembrar dos que conquistam seu
diferencial, pelo viés mais brutal da exclusão, ou seja, através da violência, do
tráfico, da criminalidade. Não se trata somente de atestar esta diferença. Antes é
preciso saber que muitos deles não tiveram liberdade de escolha. A exclusão
para alguns é uma condição.
Nossa sociedade ocidental é organizada por uma concepção de igualdade que, a partir
de um olhar ingênuo, pode representar a noção de democracia e de igualdade de
oportunidades. No entanto o que se percebe ao longo do tempo é que muitas vezes trata-
se de uma pseudoigualdade incrustada e escamoteada numa concepção em que
predomina o individualismo ao invés do reconhecimento e valorização da pessoa. Isto
conduz a um acirramento das disputas entre pessoas e grupos, favorecendo a
demarcação de territórios, a imposição dos “mais fortes” sobre os “mais fracos” e a
desvalorização das diferenças. Daí uma organização econômica, política e social que
aceita e reforça preconceitos e atos discriminatórios como se estes fossem naturais. Para
lembrar alguns: as classes sociais, o racismo, as mais diversas intolerâncias etc.
Entendemos que os fenômenos afetivos, por serem constituintes indissociáveis de nossa
condição de sujeitos partícipes de distintos grupos, fazem parte de nosso cotidiano tanto
nos espaços quanto nos papéis que desempenhamos na sociedade mais ampla. E, por
isso mesmo, a afetividade e as diferenças entre pessoas e grupos favorecem a unidade
entre os grupos, permitindo explicar suas relações, ora de aceitação, ora de rejeição.
COMO ENSINAR: no colégio Santa Maria, em São Paulo, o contato como mundo fora
do trajeto de casa-escola começa na pré-escola. As professoras mostram às crianças de 4
e 5 anos a diferença entre suas casas e as de quem mora na favela. São diversas as
atividades ao longo do ensino fundamental, incluindo viagens ao Vale do Ribeira. No
ensino médio, os alunos podem optar entre reforçar a equipe de uma creche e animar
crianças de um hospital, ambos de bairros pobres.
“Aqui a educação vai além dos muros. Queremos que a realidade seja mostrada pela
experiência”, diz o professor e coordenador do ensino médio Paulo Felipe. É o que
experimentou Lia Spadini da Silva, do 2º ano do ensino médio. Aos 14 anos em vez de
passar as tardes de sexta-feira no shopping com as amigas, ela entrava na favela
Americanópolis para ajudar a cuidar das 80 crianças da creche São Judas. Você entra em
um lugar diferente daquele a que está acostumada”, afirma. A pintura simples e as paredes
enfeitadas com desenhos chamaram a atenção de Lia, habituada às paredes brancas de sua
casa. A estudante diz que aprendeu a valorizar as coisas simples de seu cotidiano ao
observar o cuidado com que as crianças lidavam com seus brinquedos. “A gente sabe que
existe essa outra realidade, mas a sensação é diferente quando você está olhando nos olhos
da criança e ela diz que seu pai foi morto ou está preso”, afirma. “Aquelas crianças foram
os maiores professores que eu p