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ALIENAÇÃO PARENTAL
CURITIBA
2011
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ALIENAÇÃO PARENTAL
CURITIBA
2011
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ALIENAÇÃO PARENTAL
CURITIBA
2011
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TERMO DE APROVAÇÃO
Cristiane Willms Hack
ALIENAÇÃO PARENTAL
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de grau de Bacharel em Direito no Curso de
___________________________
Eduardo de Oliveira Leite
Coordenador do Núcleo de Monografia
Orientador:: ______________________________
Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite
Examinador 1: _____________________________
Prof(a). Dr(a).
Examinador 2: _____________________________
Prof(a). Dr(a).
5
AGRADECIMENTOS
RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
1 DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VÍNCULO CONJUGAL ............................... 9
1.1 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA ..................................... 10
1.2 GUARDA .......................................................................................................... 12
2.3 COMPARAÇÃO ENTRE A GUARDA UNILATERAL E A COMPARTILHADA .. 13
2 ALIENAÇÃO PARENTAL...................................................................................... 15
2.1 DEFINIÇÃO ..................................................................................................... 15
2.2 DIFERENÇA ENTRE SAP E ALIENAÇÃO PARENTAL ................................... 18
2.3 EFEITOS COMUNS ......................................................................................... 19
3 IDENTIFICAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL .................................................. 22
3.1 FALSA ACUSAÇÃO DE ABUSO SEXUAL ....................................................... 24
3.2 IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS ....................................................... 26
3.3 DIFERENÇAS ENTRE O REAL E O FALSO ABUSO ....................................... 28
4 A PERÍCIA NAS VARAS DE FAMÍLIA ................................................................. 30
4.1 PAPEL DO PSICÓLOGO ................................................................................. 30
4.2 PAPEL RELATIVO DOS LAUDOS ................................................................... 31
4.3 PODER DISCRICIONÁRIO DO JUIZ ............................................................... 33
5 MEDIDAS DE PROTEÇÃO E EFETIVIDADE........................................................ 35
5.1 MEDIDAS PREVISTAS NA LEI N° 12.318/2010............................................... 35
5.2 VISITA MONITORADA ..................................................................................... 37
5.3 RELATO DE CASOS ........................................................................................ 38
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 45
8
INTRODUÇÃO
outro, utilizando para isso, os filhos. O cônjuge ressentido passa a plantar nas
existente entre ambos. Para atingir seu objetivo o alienador utiliza-se de diversos
se tornado cada vez mais evidente. Mas apesar desta prática estar cada vez mais
presente no nosso cotidiano, muito pouco ainda se sabe sobre ela. E foi por isso
desse assunto e garantir que o menor tenha preservada sua integridade física e
alienador alcance o seu intento de destruir os laços afetivos entre o filho e o genitor
alienado.
dessa prática e a necessidade de inibi-la, para impedir que pais e filhos sejam
conjugal, quando os pais passam a disputar na justiça a guarda dos filhos e para
conjugal. Para Paulo Nader o vínculo conjugal “é a relação jurídica que se instaura
extinção da sociedade conjugal não extingue o vínculo, que só é extinto pela morte
ou divórcio.1
dissolução do casamento, essa situação permaneceu até que o Código Civil de 1916
a admitir o divórcio.
1
Nader, Paulo. Curso de Direito Civil – Direito de Família, Vol. 5, p. 197.
2
Guazelli, Mônica. A Falsa Denúncia de Abuso Sexual. In: Dias, Maria Berenice. Incesto e alienação
Parental, p. 37.
10
questões referentes à guarda dos filhos menores. Por outro lado, quando se dá por
causado aos filhos é muito maior, pois estes são obrigados a assistir a guerra
travada pelos pais, e muitas vezes são utilizados por eles para ferir o outro.
A relação entre pais e filhos não pode ser abalada pela separação do casal.
A convivência entre pais e filhos tem que permanecer mesmo que estes passem a
Para assegurar este e outros direitos dos menores foi adotado pelo
Convenção Internacional dos Direitos da Criança, em seu artigo 3.1. Esse princípio
prevaleçam os interesses dos filhos sobre os dos pais, ou seja, deixa-se de lado a
disputa dos pais, para adotar as medidas que mais beneficiarem a criança. Os filhos
deixam de ser considerados como meros objetos de uma disputa e passam a ser
tratados como sujeitos de direitos que merecem ter respeitada a sua dignidade e o
os pais, ou, como afirma Paulo Lobo “Os pais preservam os respectivos poderes
Paulo Lobo salienta que este princípio “não é uma recomendação ética, mas
diretriz determinante nas relações da criança e do adolescente com seus pais, com
4
Lobo, Paulo. Famílias, p.53.
5
Leite, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. p. 186.
6
Lobo, Paulo. Idem, p. 169.
7
Lobo, Paulo. Idem, p. 55.
12
1.2 GUARDA
Quando é exercida por um dos pais, diz-se unilateral ou exclusiva; quando por
ambos, compartilhada.” 8
menores que, como já vimos pode ser atribuída a apenas um dos pais ou aos dois. A
guarda é regulada pelo Código Civil Brasileiro nos artigos 1583 e 1584.
O ideal é que a guarda seja definida por um acordo dos pais, mas se isso
não for possível, a decisão se dá por determinação judicial. Mas mesmo que os pais
Judiciário para ter a certeza de que a decisão acordada é realmente a que melhor
atende aos interesses da criança. Caso o juiz entenda que o interesse do menor não
genitores, que na grande maioria dos casos é a mãe, porém essa tendência vem
diminuindo, até mesmo por imposição dos pais que hoje são mais participativos e
mais próximos dos filhos, e por isso, não se contentam mais em apenas visitá-los em
A evolução dos costumes, que levou a mulher para fora do lar, convocou o
homem a participar das tarefas domésticas e a assumir o cuidado com a
prole. Assim, quando da separação o pai passou a reivindicar a guarda da
prole, o estabelecimento da guarda conjunta, a flexibilização de horários e a
9
intensificação das visitas.
8
Lobo, Paulo. Obra citada, p. 169.
9
Dias, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental, o que é isso? p.1.
13
conjunta, existe ainda a guarda alternada e a guarda dividida, porém estas últimas
não são muito utilizadas devido a uma série de críticas atribuídas a elas.
o maior envolvimento dos pais com a família e com os filhos, surge a necessidade
encarada com um pouco de receio. Mas apesar das críticas a ela atribuídas, suas
vantagens em relação a guarda unilateral são inegáveis e ela vem ganhando cada
igualitária dentro do casamento com relação aos filhos, não é certo, que após a
excluindo-se o outro genitor, como se este não mais fosse importante na vida do
menor. É imprescindível que tenhamos em mente que o fim do vínculo conjugal não
a guarda dos menores, privando-se os filhos de ter um pai de verdade, pois este
vida dos filhos, cabendo a ele apenas visitas de fim de semana pré agendadas.
14
atuar com pais, ou seja, ambos dividem o poder de decisão sobre questões
relevantes referente aos filhos. Além disso, há o estreitamento dos laços entre pais e
filhos, pois apesar dos menores residirem com apenas um dos pais, o outro passa a
os pais, pois o guardião, detentor de poder ilimitado sobre o menor, acaba sentindo-
genitores, o que facilita a permanência do contato com ambos. Isso representa uma
sobre isso o professor Eduardo Leite, explica que ela pode sim ser aplicada, pois o
Isso nos faz entender porque muitos acreditam que a guarda compartilhada
10
Leite. Eduardo de Oliveira. Obra citada, p. 280 e 283.
15
2 ALIENAÇÃO PARENTAL
2.1 DEFINIÇÃO
cônjuges passa a manipular os filhos como forma de atingir o outro. Inicia-se então
um processo de programação da criança para que esta passe a odiar o outro sem
por sentir-se traído e abandonado pelo outro e por saber que este deseja manter
contato com os filhos, começa a manipulá-los para separá-los do outro pai ou mãe.
O alienador utiliza-se de uma série de artifícios para fazer com que os filhos
acreditem que o outro pai não presta, que ele os traiu, que não os ama mais e não
deseja mais ter contato com eles. Com o tempo os filhos passam a acreditar nessas
11
Dias, Maria Berenice. Alienação Parental: um crime sem punição. In: Incesto e Alienação Parental,
p. 15.
12
Documentário: A Morte Inventada - Alienação Parental. Direção de Alan Minas. Caraminhola
Filmes, 2009.
16
que nem o próprio genitor alienador consiga mais discernir o que é real do que é
Mas a finalidade é uma só: levar o filho a afastar-se de quem o ama. Tal
gera contradição de sentimentos e, muitas vezes, a destruição do vínculo
afetivo. A criança acaba aceitando como verdadeiro tudo que lhe é
informado. Identifica-se com o genitor patológico e torna-se órfã do genitor
alienado, que passa a ser considerado um invasor, um intruso a ser
afastado a qualquer preço. O alienador, ao destruir a relação do filho com o
outro, assume o controle total. Tornam-se os dois unos, inseparáveis. Este
conjunto de manobras confere prazer ao alienador em sua trajetória de
13
promover a destruição do antigo parceiro.
Gardner, por volta de 1985 nos Estados Unidos, que a denominou de Síndrome da
Alienação Parental, definindo-a como “um processo que consiste em programar uma
14
criança para que odeie um de seus genitores sem justificativa.”
François Podevyn que utilizou suas próprias experiências para descrevê-la: “depois
que me separei da mãe de meus 3 filhos, vejo-os afastarem-se de mim cada vez
13
Dias, Maria Berenice. Obra citada, p.16.
14
Podevyn, François. Síndrome da alienação Parental, p.1.
15
Podevyn, François. Idem. Ibidem.
16
Lei nº 12.318/2010
17
cometido contra a criança, pois planta nela a idéia de abandonada pelo genitor, o
que lhe causa muito sofrimento e deixa sequelas para o resto da vida. Pior ainda é
quando ela se apresenta sob a forma de falsas acusações de abuso sexual, pois
A Alienação Parental pode ocorrer sob diversas formas, que vão desde a
residência e até, nos casos mais graves, as falsas acusações de abuso físico ou
17
Guazzelli, Monica. Obra citada, p. 48.
18
É importante frisar que o legislador fez questão de deixar claro que se trata
revelar outras situações que possam ser consideradas como Alienação Parental.
Como vimos o primeiro a tratar do assunto foi o Doutor Richard Gardner que
Doenças Mentais).
18
Lei nº 12.318/2010.
19
Michaelis – Moderno dicionário da Língua Portuguesa
19
variar conforme alguns fatores, como por exemplo: idade, personalidade, intensidade
de alienação é tão extrema que torna-se impossível promover qualquer contato entre
ver o genitor é tão forte que acaba por convencer até o judiciário de que é melhor
de alguns anos. 20
precisa conviver com ambos os pais para crescer saudável e, que a falta de
convivência com um dos dois pode atrapalhar a formação de sua identidade. Pois
necessita da interação com o pai e a mãe (que serão os primeiros modelos para
elas) para formar sua identidade. Nas palavras de Evandro Luiz Silva:
20
Podevyn, François. Obra citada, p.2.
20
por acreditar que está sendo rejeitada, como pela necessidade constante que surge
também pode vir a apresentar outros sintomas como medo, angústia, depressão,
Vimos neste estudo que o menor alienado só consegue perceber que foi
vítima desta prática, depois que atinge certa idade e se afasta do genitor alienador.
Quando isso acontece, ele sente-se muito mal a passa a se culpar por haver
Mas o pior efeito que a Alienação Parental pode gerar sobre uma criança é
materna. Rafaella hoje adulta, afirma ter medo de que algum dia possa vir a
que, para vingar a mãe, passaram a afastar o pai. Neste mesmo documentário, outra
jovem, Daniela, também vítima de Alienação Parental materna, afirma que hoje
21
Silva, Evandro Luiz. Perícias Psicológicas nas Varas de Família, p.61.
21
rejeição. 22
alienado como também o próprio alienador, mas os mais prejudicados serão, sem
22
Documentário: A Morte Inventada - Alienação Parental. Direção de Alan Minas. Caraminhola
Filmes, 2009.
22
comportamento do alienador.
mas algumas delas são bem conhecidas: apresentar o novo cônjuge como novo pai
cônjuge para os filhos; recusar informações em relação aos filhos (escola, passeios,
aniversários, festas etc.); falar de modo descortês sobre o novo cônjuge do outro
dos filhos; tomar decisões importantes sobre os filhos sem consultar o outro; trocar
sobre os filhos; sair de férias e deixar os filhos com outras pessoas; alegar que o
outro cônjuge não tem disponibilidade para os filhos; falar das roupas que o outro
cônjuge comprou para os filhos ou proibi-los de usá-las; ameaçar punir os filhos caso
23
outro. Além disso, o alienador também pode utilizar-se de falsas denúncias de abuso
contato com o genitor alienado, utilizando para isso desculpas bobas. É comum
grave. No estágio leve, a criança resiste um pouco à troca de genitores, mas quando
existência da alienação parental o mais rápido possível, pois quanto mais avançado
Alienação Parental com os casos de abuso infantil. Pois pode ocorrer que em um
23
Trindade, Jorge. Síndrome da Alienação Parental. In: Dias, Maria Berenice. Incesto e Alienação
Parental, p.27-28. Essas condutas também encontram-se previstas no parágrafo único do artigo 2º da
Lei nº 12.318/2010.
24
Podevyn, François. Obra citada, p.9.
24
Sexual. Esta é, sem dúvida, a forma mais grave de Alienação Parental e a que
Em primeiro lugar, vale lembrar que o abuso sexual infantil existe sim,
inclusive podendo ser praticado dentro de casa por familiares ou pessoas ligadas ao
menor, mas não é esta a abordagem que pretendemos fazer aqui. Nosso objetivo é
tratar das falsas acusações de abuso sexual, utilizadas por um dos genitores como
Quando ocorre uma acusação de abuso sexual, mesmo que esta venha a
ser desmentida posteriormente, certamente restarão várias seqüelas. Pois até que
se demonstre que a acusação era falsa, e que o menor foi manipulado de forma a
acreditar ter sido mesmo abusado, este terá sido submetido a uma série de
25
Lei nº 12.318/2010.
25
menor, as autoridades envolvidas tem uma maior tendência a solicitar que as visitas
genitor acusado, rompendo-se o vínculo existente entre eles. Apesar de que o juiz
pelo genitor alienado, e essa lembrança passa a integrar suas lembranças, como se
ele realmente tivesse vivido aquele fato. Por isso os especialistas afirmam que os
danos para esta criança serão praticamente os mesmos de uma criança realmente
abusada sexualmente.
profissionais não devidamente habilitados, que baseiam seus laudos nas alegações
de apenas uma das partes, não proporcionando a outra parte o direito de defesa.
esse processo pode levar anos para ter uma solução, e ainda resultar inconclusivo,
26
DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental: uma nova lei para um velho problema! p.1.
26
e, como durante todo este período a criança permanece sem contato com o genitor,
ou com contato reduzido, o alienador terá sido vencedor, tendo alcançado finalmente
fato que não ocorreu e passe a acreditar que aquela é uma lembrança verdadeira e
nunca aconteceram”. Além disso, Loftus acrescenta que “as recordações são mais
27
Guazzelli. Monica. Obra citada, p.44.
28
Elizabeth F Loftus foi professora de psicologia e professora auxiliar de direito na Universidade de
Washington e seu artigo foi publicado na Scientific American. In: CALÇADA, Andréia. Falsas
Acusações de Abuso Sexual e a Implantação de Falsas Memórias, p. 35-36
27
falsas na mente de uma criança, tendo em vista que elas são muito sugestionáveis.
criança incorpore essas “lembranças” como sendo suas. Essa situação fica clara no
consegue mais distinguir o que é realidade do que não é. E tanto este como o filho
29
Guazzelli, Monica. Obra citada, p.44-45.
30
Calçada, Andréia. Obra citada, p.40.
28
influenciá-lo.
mente aberta, sem formar juízos anteriores e que procurem analisar todos os
dos fatos for conduzida de maneira adequada, com certeza, muitas injustiças serão
evitadas.
sexual contra o filho, o outro genitor defende-se acusando aquele de estar utilizando
uma falsa acusação de abuso com a intenção de separá-lo do filho, constituindo ato
de Alienação Parental.
uma tarefa muito difícil. Em primeiro lugar é preciso muito cuidado para colher o
depoimento do menor, o que somente deve ser feito por um profissional habilitado e
tomando o máximo de cuidado para não induzi-lo a respostas que não são suas.
presença do alienador “os filhos dão versões diferentes. Quando interrogados juntos,
sexuais impróprios para sua idade, como ereção, ejaculação, sabor do sêmen, além
disso, elas passam a desenvolver condutas voltadas ao sexo como, por exemplo,
a sua idade, pois nos casos de Alienação Parental é comum a criança utilizar-se de
palavras ditadas por adultos, outro detalhe importante é que a criança também deve
com o sofrimento do filho, podendo ele também ter sido vítima de abusos, além
31
Gardner, Richard. In: CALÇADA, Andréia. Obra citada, p. 33
32
Aguilar, Jose Manoel. Comparação dos sintomas da alienação parental com os sintomas de abuso
sexual. Disponível em: HTTP://www.apase.org.br.
33
Aguilar, Jose Manoel. Idem. Ibidem
30
problemas que lhe são apresentados. O Direito de Família, por exemplo, com
Porém é preciso que o psicólogo tenha em mente que seu papel é distinto
do papel do juiz, enquanto este tem como função julgar e decidir os casos, ao
psicólogo não cabe emitir juízo de valor, este somente tem como função descrever
características psicológicas para que de posse destas o juiz possa decidir qual a
psicólogo:
na maioria das vezes, o juiz não tem como apurar os fatos apontados, e precisa
34
Silva, Evandro Luiz. Obra citada, p.12.
31
menores devem ficar. Deixam-se comover pelo provável abuso sofrido pelos
menores e com base somente no relato do guardião, decidem que a melhor solução
é o afastamento do acusado, sem que seja feita uma perícia psicológica adequada.
Isso não quer dizer que o psicólogo não possa, em seus laudos, apontar
alternativas para o caso. Muito pelo contrário, ele deve apontar alternativas de
convivência com a família. Assim, se, por exemplo, o juiz ao apreciar um laudo
psicológico entender que um dos pais não apresenta condições para ser detentor da
que este progenitor possa superar as dificuldades e recuperar o mais rápido possível
salienta Elizio Luiz Perez “a necessidade da perícia, evidentemente, não pode ser
35
Silva, Evandro Luiz. Obra citada, p.12.
36
Silva, Evandro Luiz. Idem. P.15.
37
Perez, Elizio Luiz. Breves Comentários acerca da Lei da Alienação Parental. In: Dias, Maria
Berenice. Incesto e Alienação Parental, p.72.
32
Isso significa que, em casos nos quais fica evidente se tratar de ato de
com a relatividade das informações que possam advir desses laudos. Essa
preocupação é válida, pois como temos visto, não são raros os casos em que o juiz
pelas perícias.
33
discricionário do juiz. Mas podemos concluir que este refere-se à liberdade que o juiz
como formas de alienação parental, outros atos percebidos por este, tanto no
permitindo que o juiz utilize o seu poder discricionário para intervir em qualquer
o
Art. 4 Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de
ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou
incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará,
com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias
necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou
viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.
38
Lei nº 12.318/2010.
34
vivo o vínculo entre o menor e o genitor alienado, mesmo que minimamente por
meio de visitas monitoradas, o que somente não será admitido quando representar
iminente risco a integridade do menor. Para isso, pode o juiz agir liminarmente ou de
A lei 12.318, portanto inovou quando colocou como regra aproximar pais e
filhos e não mais afastá-los como vinha acontecendo até então. Agora é preciso ter
mais que enquanto haja dúvidas quanto ao ocorrido o contato entre ambos seja
rompido.
39
Duarte, Marcos. Alienação Parental: Comentários Iniciais à Lei 12.318/2010. Disponível em:
http://www.ibdfam.org.br.
35
A lei n° 12.318, em seu artigo 4°, prevê que quando forem declarados
juiz adotar medidas de cautela a fim de proteger o menor e assegurar seu direito de
para evitar que a demora na apuração das alegações acabe por piorar a situação de
medidas de proteção direta, que estão elencadas no artigo 6° da lei. Cabe ressaltar
o
Art. 6 Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer
conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor,
em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não,
sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla
utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus
efeitos, segundo a gravidade do caso:
É importante também frisar que essas medidas não tem a intenção de punir
o alienador, mas sim de proteger a criança e o adolescente. Isso pode ser verificado
caso concreto.
Parental. Isso deriva do fato de que a guarda compartilhada, como já nos referimos
Segundo Elizio Luiz Perez, as medidas previstas na nova lei não diferem
muito das que já vinham sendo aplicadas pelos tribunais, estando de acordo com as
40
Lei n ° 12.318/2010.
41
Perez, Elizio Luiz. Obra citada. P.81.
37
Também já vimos que a lei que trata da Alienação Parental propõe que se
busque sempre a preservação do convívio entre pais e filhos, a menos que isso
represente risco de dano a integridade do menor. Para isso a lei prevê, como forma
Tutelar. 42
porque os locais escolhidos não são apropriados para crianças, pois no Fórum a
Conselho Tutelar não tem como atribuição presidir encontros de pais e filhos.
42
Azambuja, Maria Regina Fay de. A criança vítima de violência sexual intrafamiliar: como
operacionalizar as visitas? In: Dias, Maria Berenice. Incesto e Alienação Parental, p.311.
38
o genitor sente-se vigiado pois essa terceira pessoa acaba servindo de informante
43
do outro genitor, acirrando ainda mais os ânimos.
encontros “no ambiente terapêutico da criança”, para que o profissional que a atende
44
possa auxiliar a ambos, evitando assim mais traumas e danos ao menor.
Depois de uma separação conflituosa a mãe que era a guardiã das filhas
proibiu o pai de vê-las. Este fez várias tentativas de contato, recorrendo inclusive ao
judiciário, mas nem assim obteve êxito. Para as filhas a mãe contava que o pai
abandonou a família e que não queria mais contato com elas, e descrevia o pai
como um bandido, que a traiu, agrediu e tentou matá-la. As filhas não sabiam nem
qual era o nome do pai, pois era proibido mencioná-lo, nem tinham fotos dele.
O pai só pode ver as filhas quando a mãe precisou falar com ele e teve que
ceder. Durante o encontro as filhas permaneceram acuadas diante do pai, que era
como um estranho, sobre o qual pairavam uma série de histórias ruins. Marcaram
um jantar para o dia seguinte, as filhas aguardaram, em casa, ansiosamente pelo pai
e este não apareceu, a mãe então disse a elas que o pai não apareceu porque não
43
Azambuja, Maria Regina Fay de. Obra citada.p.312
44
Azambuja, Maria Regina Fay de. Idem. Ibidem.
45
Documentário: A morte Inventada – Alienação Parental. Direção de Alan Minas. Caraminhola
Filmes, 2009.
39
queria vê-las e que elas teriam que se contentar em ter como pai o padrasto. Porém
o que ocorreu foi que a mãe combinou com o pai que seria um passeio a praia e que
esse deveria aguardar em outro local, ele esperou por horas e depois ligou para a
mãe que disse que as meninas estavam muito abaladas pelo encontro no dia
anterior e que seria melhor que eles não se vissem mais. O pai desistiu de procurar
as filhas e mudou-se com sua nova família para outro país. Elas somente
descobriram a verdade quando Karla, aos 19 anos, brigou com a mãe e saiu de
casa. A mãe então precisou ligar para o pai, para solicitar que este desse
autorização para um processo judicial que a forçasse a voltar para casa. O pai se
negou e ligou para a filha, convidando-a para conhecê-lo. Karla foi primeiro e depois
E apesar de hoje elas se relacionarem bem com o pai, Daniela ressalta que
a relação nunca mais será a mesma e que os danos são irreparáveis, sendo que ela
Após a separação a mãe ficou com a guarda dos filhos. O pai, que já tinha
crianças morarem a fim de que eles ficassem mais próximos. A mãe provavelmente
para lá. Após três meses quando a mãe se deu conta de que não haveria a
reconciliação, fugiu com os filhos para o Rio de Janeiro. O pai ainda continuou a
canalha, um monstro, que a tinha enganado e traído e trocado sua família por outra.
40
cúmplices. Tanto que, quando saíam com o pai faziam questão de não mostrar
interesse por nenhuma atividade e de tratá-lo mal. Ela conta ainda que quando
retornavam das visitas, para agradar a mãe, não podiam demonstrar nenhum
entusiasmo pelo passeio, então já entravam em casa reclamando de como era ruim
sair com o pai. Ela lembra ainda que em determinado momento passou a procurar o
pai apenas para pedir dinheiro e diz que sentia satisfação em fazer isso,
principalmente por ver o contentamento da mãe com sua atitude. Depois que ela
completou 15 anos, o pai acabou desistindo de procurá-los e eles ficaram onze anos
sem se ver. Até que Rafaella, já adulta, começou a fazer terapia e sentiu a
necessidade de buscar saber qual era a verdade de tudo aquilo, e foi ao encontro do
pai. Ela precisou romper com a mãe para descobrir a verdade e o irmão,
Rafaella lembra que a mãe sempre foi muito dedicada e carinhosa com os
filhos, mas ela lembra também que foi a mãe a responsável por atrapalhar a relação
dos filhos com o pai. Porém a mãe não admite em hipótese alguma que teve
qualquer responsabilidade pelo rompimento dos filhos com o pai. Hoje Rafaella se
culpa por ter participado da campanha contra o pai e teme que algum dia possa vir a
companheiro.
neta, que já estava separada de seu filho, havia dado início a um processo judicial
na vara da Infância e Juventude, alegando que a filha havia sido vítima de violência
psicóloga da FIA do Rio de Janeiro, que afirmava que a menina havia sido abusada
Caso 4: “A”
“A” viveu com sua companheira até a filha do casal completar um ano e três
meses, até que um dia a mãe simplesmente foi embora levando consigo a filha.
Após algum tempo ele conseguiu localizar as duas e passou a visitar a criança,
porém as visitas foram ficando cada vez mais difíceis, pois a mãe colocava todo tipo
durante o qual a mãe alegou que não permitia as visitas devido a criança haver
sofrido abuso sexual por parte do pai. A psicóloga responsável pela avaliação
atestou, em uma declaração escrita em poucas linhas, que existiam indícios físicos
judiciário, que afirmou que a mãe deveria receber tratamento psicológico. Apesar de
estar muito revoltado, o pai afirma que não vai desistir da filha.
42
CONSIDERAÇÕES FINAIS
da família, especialmente a dos filhos. Muitas vezes, os pais ficam tão preocupados
conseguem distinguir o que é melhor para os filhos, tratando-os como meros objetos
de uma disputa. Nestas situações cabe ao Estado intervir para assegurar que esses
contato com os pais é a instituição da guarda compartilhada, que por assegurar uma
consegue fazer com ela acredite em todas as histórias inventadas por ele.
psicológico cometido contra o menor e que deixa uma série de seqüelas neste,
o mais rápido possível, é uma necessidade, pois quanto mais tempo a criança
permanecer submetida a esta prática nociva, mais difícil será para reverter o quadro.
E como essa identificação não é uma tarefa simples, faz-se necessário que os
esta prática para que quando se deparem com um caso desta natureza tenham
Vimos nos casos relatados que algumas vezes o Judiciário acabava atuando
possível, fazendo com que a criança se desligasse totalmente do genitor, sem que
Foi para evitar que injustiças como essas continuassem a ser cometidas que
da Alienação Parental e a adoção de medidas, pelo juiz, para inibir esta prática.
como ocorre tal prática, além de direcionar o poder discricionário do juiz para a
mesmo durante as investigações, nem que seja de forma reduzida, por meio de
visitas monitoradas, a não ser que isto represente risco de dano ao menor.
que incluem, entre outras, entrevistas com todos os envolvidos, análise do histórico
44
manifesta acerca da eventual acusação contra o genitor. A lei exigiu ainda que o
Esperamos que a lei, que veio em tão boa hora, consiga alcançar seu
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
31/11/2010.
AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. A criança vítima de violência sexual intrafamiliar:
alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2.ed. São Paulo,
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm. Acesso
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