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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Cristiane Willms Hack

ALIENAÇÃO PARENTAL

CURITIBA
2011
2

Cristiane Willms Hack

ALIENAÇÃO PARENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Direito da Faculdade de Ciências
Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como
requisito parcial para a obtenção de grau de
Bacharel.
Orientador: Dr. Eduardo de Oliveira Leite

CURITIBA
2011
3

ALIENAÇÃO PARENTAL

CURITIBA
2011
4

TERMO DE APROVAÇÃO
Cristiane Willms Hack

ALIENAÇÃO PARENTAL

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de grau de Bacharel em Direito no Curso de

Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de __________ de 2011.

___________________________
Eduardo de Oliveira Leite
Coordenador do Núcleo de Monografia

Orientador:: ______________________________
Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Examinador 1: _____________________________
Prof(a). Dr(a).

Examinador 2: _____________________________
Prof(a). Dr(a).
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a meu marido Gilberto


e minha filha Gabriela por
compreenderem as muitas
horas de ausência e a
importância que este momento
representa para mim. Agradeço
também ao Professor e
Orientador Dr. Eduardo de
Oliveira Leite pela paciência e
presteza a mim dispensadas.
6

RESUMO

O objetivo deste trabalho é demonstrar que a Alienação Parental consiste em uma


forma grave de abuso cometido contra o menor, que precisa ser prevenida e
combatida com rigor. Pretende também demonstrar as conseqüências nefastas
desta prática, que atinge todos os envolvidos, mas principalmente os menores que
tem seu desenvolvimento psicológico totalmente prejudicado. Discute algumas
questões referentes à lei nº 12.318/2010, que veio com a importante missão de
facilitar a compreensão e a identificação da Alienação Parental e impor medidas de
prevenção e combate a esta prática. Como fonte utiliza basicamente a pesquisa
bibliográfica. Este estudo mostra-se relevante à medida que esclarece a
necessidade de se reconhecer a Alienação Parental, a fim de possibilitar a adoção
de medidas adequadas quando diante de um caso dessa natureza.

Palavras chave: Alienação Parental, falsas memórias, vínculo afetivo, convivência


familiar.
7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
1 DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VÍNCULO CONJUGAL ............................... 9
1.1 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA ..................................... 10
1.2 GUARDA .......................................................................................................... 12
2.3 COMPARAÇÃO ENTRE A GUARDA UNILATERAL E A COMPARTILHADA .. 13
2 ALIENAÇÃO PARENTAL...................................................................................... 15
2.1 DEFINIÇÃO ..................................................................................................... 15
2.2 DIFERENÇA ENTRE SAP E ALIENAÇÃO PARENTAL ................................... 18
2.3 EFEITOS COMUNS ......................................................................................... 19
3 IDENTIFICAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL .................................................. 22
3.1 FALSA ACUSAÇÃO DE ABUSO SEXUAL ....................................................... 24
3.2 IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS ....................................................... 26
3.3 DIFERENÇAS ENTRE O REAL E O FALSO ABUSO ....................................... 28
4 A PERÍCIA NAS VARAS DE FAMÍLIA ................................................................. 30
4.1 PAPEL DO PSICÓLOGO ................................................................................. 30
4.2 PAPEL RELATIVO DOS LAUDOS ................................................................... 31
4.3 PODER DISCRICIONÁRIO DO JUIZ ............................................................... 33
5 MEDIDAS DE PROTEÇÃO E EFETIVIDADE........................................................ 35
5.1 MEDIDAS PREVISTAS NA LEI N° 12.318/2010............................................... 35
5.2 VISITA MONITORADA ..................................................................................... 37
5.3 RELATO DE CASOS ........................................................................................ 38
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 45
8

INTRODUÇÃO

A Alienação Parental geralmente tem início com a separação do casal,

quando um dos cônjuges, por não conseguir superar o sentimento de abandono,

rejeição, traição, passa a sentir uma imensa necessidade de vingança contra o

outro, utilizando para isso, os filhos. O cônjuge ressentido passa a plantar nas

crianças um sentimento de ódio pelo outro, a fim de destruir o vínculo afetivo

existente entre ambos. Para atingir seu objetivo o alienador utiliza-se de diversos

artifícios que vão desde a colocação de obstáculos às visitas até a implantação de

falsas memórias e a falsa acusação de abuso sexual.

A Alienação Parental não é um fenômeno recente, na verdade, essa prática

sempre ocorreu, mas devido ao aumento do numero de separações e divórcios, tem

se tornado cada vez mais evidente. Mas apesar desta prática estar cada vez mais

presente no nosso cotidiano, muito pouco ainda se sabe sobre ela. E foi por isso

que, recentemente, foi publicada a lei n° 12.318/2010, para facilitar a compreensão

desse assunto e garantir que o menor tenha preservada sua integridade física e

psicológica e seu direito de convivência familiar.

Veremos que a maior dificuldade está em se apurar se o caso é realmente

de Alienação Parental, principalmente quando este envolve denúncia de abuso

sexual, e de se fazer essa averiguação em tempo hábil, a fim de evitar que o

alienador alcance o seu intento de destruir os laços afetivos entre o filho e o genitor

alienado.

Neste breve estudo pretendemos demonstrar a gravidade das conseqüências

dessa prática e a necessidade de inibi-la, para impedir que pais e filhos sejam

injustamente privados do seu direito à continuidade de convivência.


9

1 DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VÍNCULO CONJUGAL

A Alienação Parental geralmente tem início com a ruptura da relação

conjugal, quando os pais passam a disputar na justiça a guarda dos filhos e para

consegui-la fazem uma campanha de desmoralização do outro cônjuge.

Antes de iniciarmos o assunto vejamos a diferença entre sociedade e vínculo

conjugal. Para Paulo Nader o vínculo conjugal “é a relação jurídica que se instaura

entre os cônjuges, enquanto a sociedade é o compromisso de comunhão de vida.”

Portanto, a dissolução do vínculo conjugal extingue a sociedade conjugal, mas a

extinção da sociedade conjugal não extingue o vínculo, que só é extinto pela morte

ou divórcio.1

Inicialmente a legislação brasileira não previa nenhuma hipótese de

dissolução do casamento, essa situação permaneceu até que o Código Civil de 1916

trouxe a possibilidade do desquite e posteriormente, em 1977, a Lei nº 6.515 passou

a admitir o divórcio.

A separação pode se dar de forma consensual ou litigiosa, mas

independente de como a separação ocorra é certo que todos os membros da família

terão suas vidas transformadas, conforme observa Mônica Guazelli:

Quando o vínculo conjugal se desfaz, necessariamente, todos os membros


da família precisarão se adaptar a uma situação nova e inédita em suas
vidas, e terão de viver dentro de um novo formato e esquema familiar.
Essas transformações e mudanças na vida de cada um implicam perdas e,
mesmo que em médio prazo venham se mostrar benéficas, quase sempre
são rejeitadas num primeiro momento.2

1
Nader, Paulo. Curso de Direito Civil – Direito de Família, Vol. 5, p. 197.
2
Guazelli, Mônica. A Falsa Denúncia de Abuso Sexual. In: Dias, Maria Berenice. Incesto e alienação
Parental, p. 37.
10

Quando a separação ocorre de forma consensual, há menos trauma aos

filhos, pois há maior probabilidade de se chegar a um acordo principalmente nas

questões referentes à guarda dos filhos menores. Por outro lado, quando se dá por

litígio, por existir muita mágoa e ressentimento entre os ex-cônjuges, o sofrimento

causado aos filhos é muito maior, pois estes são obrigados a assistir a guerra

travada pelos pais, e muitas vezes são utilizados por eles para ferir o outro.

Muitas vezes, porém, além dos normais “problemas” decorrentes de uma


separação, os adultos não conseguem diferenciar seu papel de
companheiros/cônjuges do papel parental. Nesse caso as dificuldades são
ainda mais graves, porque os litigantes fazem o rompimento ser ainda mais
destrutivo, a si e ao grupo, e usam de todas as armas possíveis para ir
contra o “ex”. Não é raro que nessas situações os filhos sejam as vítimas
das manipulações de um dos separandos com o fito de atingir o outro
cônjuge/companheiro.3

A prática da alienação parental pode ocorrer ainda durante o período de vida

em comum, porém ela se intensifica a partir da separação do casal, quando o fim do

sonho de amor eterno dá lugar à raiva e ao desejo de vingança contra o outro.

1.1 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA

A relação entre pais e filhos não pode ser abalada pela separação do casal.

A convivência entre pais e filhos tem que permanecer mesmo que estes passem a

não viver mais sob o mesmo teto.

Para assegurar este e outros direitos dos menores foi adotado pelo

ordenamento jurídico brasileiro o princípio do melhor interesse da criança, que

fundamenta-se essencialmente no artigo 227 da Constituição Brasileira e na

Convenção Internacional dos Direitos da Criança, em seu artigo 3.1. Esse princípio

também está previsto nos artigos 4º e 6º do Estatuto da Criança e do Adolescente.


3
Guazelli, Mônica. Obra citada, p. 37-38
11

Para Paulo Lobo, o princípio do melhor interesse da criança significa que:

...a criança – incluído o adolescente, segundo a Convenção Internacional


dos Direitos da Criança – deve ter seus interesses tratados com prioridade,
pelo Estado, pela sociedade e pela família, tanto na elaboração quanto na
aplicação dos direitos que lhe digam respeito, notadamente nas relações
familiares, como pessoa em desenvolvimento e dotada de dignidade.4

O princípio do melhor interesse da criança veio para garantir que

prevaleçam os interesses dos filhos sobre os dos pais, ou seja, deixa-se de lado a

disputa dos pais, para adotar as medidas que mais beneficiarem a criança. Os filhos

deixam de ser considerados como meros objetos de uma disputa e passam a ser

tratados como sujeitos de direitos que merecem ter respeitada a sua dignidade e o

direito a convivência familiar.

O Estado, no seu próprio interesse (num primeiro momento) e no interesse


da família, propriamente dita, interfere, via Judiciário, na expectativa de
contornar ou tornar menos dolorosas as situações de crise. E esta
intervenção é necessária, sempre que o interesse maior dos filhos está em
jogo.5

Há uma inversão dos interesses protegidos. Mais do que discutir a guarda

dos filhos, discute-se o seu direito à continuidade de convivência ou de contato com

os pais, ou, como afirma Paulo Lobo “Os pais preservam os respectivos poderes

familiares em relação aos filhos, com a separação, e os filhos preservam o direito de


6
acesso a eles e ao compartilhamento recíproco de sua formação.”

Paulo Lobo salienta que este princípio “não é uma recomendação ética, mas

diretriz determinante nas relações da criança e do adolescente com seus pais, com

suas famílias, com a sociedade e com o Estado.” 7

4
Lobo, Paulo. Famílias, p.53.
5
Leite, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. p. 186.
6
Lobo, Paulo. Idem, p. 169.
7
Lobo, Paulo. Idem, p. 55.
12

1.2 GUARDA

Segundo Paulo Lobo “a guarda consiste na atribuição a um dos pais

separados ou a ambos dos encargos de cuidado, proteção, zelo e custódia do filho.

Quando é exercida por um dos pais, diz-se unilateral ou exclusiva; quando por

ambos, compartilhada.” 8

Após a separação do casal inicia-se a disputa pela guarda dos filhos

menores que, como já vimos pode ser atribuída a apenas um dos pais ou aos dois. A

guarda é regulada pelo Código Civil Brasileiro nos artigos 1583 e 1584.

O ideal é que a guarda seja definida por um acordo dos pais, mas se isso

não for possível, a decisão se dá por determinação judicial. Mas mesmo que os pais

entrem em acordo, há necessidade de se submeter essa decisão ao crivo do

Judiciário para ter a certeza de que a decisão acordada é realmente a que melhor

atende aos interesses da criança. Caso o juiz entenda que o interesse do menor não

foi respeitado, ele pode se negar a homologar o acordo.

Os Tribunais sempre tenderam a atribuir a guarda exclusivamente a um dos

genitores, que na grande maioria dos casos é a mãe, porém essa tendência vem

diminuindo, até mesmo por imposição dos pais que hoje são mais participativos e

mais próximos dos filhos, e por isso, não se contentam mais em apenas visitá-los em

dias pré determinados.

Maria Berenice Dias ao comentar essa tendência diz que:

A evolução dos costumes, que levou a mulher para fora do lar, convocou o
homem a participar das tarefas domésticas e a assumir o cuidado com a
prole. Assim, quando da separação o pai passou a reivindicar a guarda da
prole, o estabelecimento da guarda conjunta, a flexibilização de horários e a
9
intensificação das visitas.

8
Lobo, Paulo. Obra citada, p. 169.
9
Dias, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental, o que é isso? p.1.
13

Além da guarda unilateral ou exclusiva e da guarda compartilhada ou

conjunta, existe ainda a guarda alternada e a guarda dividida, porém estas últimas

não são muito utilizadas devido a uma série de críticas atribuídas a elas.

2.3 COMPARAÇÃO ENTRE A GUARDA UNILATERAL E A COMPARTILHADA

Como já comentamos anteriormente, com a mudança de comportamentos e

o maior envolvimento dos pais com a família e com os filhos, surge a necessidade

de uma repartição mais equitativa da autoridade parental após a ruptura conjugal,

como solução para esse problema foi instituída a guarda compartilhada

A guarda compartilhada é um instituto muito recente e por isso ainda é

encarada com um pouco de receio. Mas apesar das críticas a ela atribuídas, suas

vantagens em relação a guarda unilateral são inegáveis e ela vem ganhando cada

vez mais espaço.

Levando-se em conta que hoje os dois cônjuges têm atuado de forma

igualitária dentro do casamento com relação aos filhos, não é certo, que após a

ruptura do mesmo, somente um conserve o poder de decisão sobre os filhos,

excluindo-se o outro genitor, como se este não mais fosse importante na vida do

menor. É imprescindível que tenhamos em mente que o fim do vínculo conjugal não

significa o fim do vínculo parental.

Na guarda unilateral, na grande maioria dos casos, a mãe é beneficiada com

a guarda dos menores, privando-se os filhos de ter um pai de verdade, pois este

transforma-se em mero expectador, não tendo direito a participar efetivamente da

vida dos filhos, cabendo a ele apenas visitas de fim de semana pré agendadas.
14

Resumindo, o guardião (geralmente a mãe) adquire direito soberano de decisão

sobre a vida dos filhos.

Já a guarda compartilhada traz a possibilidade de os pais exercerem

conjuntamente a autoridade parental, possibilitando que ambos possam continuar a

atuar com pais, ou seja, ambos dividem o poder de decisão sobre questões

relevantes referente aos filhos. Além disso, há o estreitamento dos laços entre pais e

filhos, pois apesar dos menores residirem com apenas um dos pais, o outro passa a

ser uma figura presente (ativa) na vida dos mesmos.

A guarda unilateral também acaba facilitando a ocorrência de conflitos entre

os pais, pois o guardião, detentor de poder ilimitado sobre o menor, acaba sentindo-

se dono da criança ou adolescente, o que pode resultar na tentativa de afastamento

do não-guardião. Na guarda compartilhada, o poder é dividido igualmente entre os

genitores, o que facilita a permanência do contato com ambos. Isso representa uma

tentativa de minorar o sofrimento causado pelo rompimento conjugal, pois a criança

terá os dois pais participando juntos de sua vida.

A principal dúvida sobre a atribuição da guarda compartilhada diz respeito à

possibilidade ou não de sua aplicação nos casos de conflito entre os ex-cônjuges,

sobre isso o professor Eduardo Leite, explica que ela pode sim ser aplicada, pois o

risco de conflitos existe igualmente em relação à guarda exclusiva e, inclusive, em


10
relação a pais não divorciados. Para ele, a guarda compartilhada é “conciliadora.”

Isso nos faz entender porque muitos acreditam que a guarda compartilhada

é a solução para o problema da Alienação Parental.

10
Leite. Eduardo de Oliveira. Obra citada, p. 280 e 283.
15

2 ALIENAÇÃO PARENTAL

2.1 DEFINIÇÃO

A Alienação Parental é um problema muito antigo, mas que só recentemente

passou a receber a devida atenção. Ela manifesta-se geralmente após a separação

do casal, mais especificamente no momento da disputa pela guarda, quando um dos

cônjuges passa a manipular os filhos como forma de atingir o outro. Inicia-se então

um processo de programação da criança para que esta passe a odiar o outro sem

motivo aparente. Maria Berenice Dias explica como isso acontece:

Com a dissolução da união, os filhos ficam fragilizados, com sentimento de


orfandade psicológica. Este é um terreno fértil para plantar a idéia de
abandonada pelo genitor. Acaba o guardião convencendo o filho de que o
outro genitor não lhe ama. Faz com que acredite em fatos que não
11
ocorreram com o só intuito de levá-lo a afastar-se do pai.

Trata-se de uma forma de vingança adotada por um dos ex-cônjuges, que

por sentir-se traído e abandonado pelo outro e por saber que este deseja manter

contato com os filhos, começa a manipulá-los para separá-los do outro pai ou mãe.

Nas palavras de Andréia Calçada: “é um genitor fazer alterar a percepção da


12
criança sobre o outro genitor, e, em alterando essa percepção ele faz odiar.”

O alienador utiliza-se de uma série de artifícios para fazer com que os filhos

acreditem que o outro pai não presta, que ele os traiu, que não os ama mais e não

deseja mais ter contato com eles. Com o tempo os filhos passam a acreditar nessas

histórias e a repeti-las insistentemente, como se realmente tivessem ocorrido, até

11
Dias, Maria Berenice. Alienação Parental: um crime sem punição. In: Incesto e Alienação Parental,
p. 15.
12
Documentário: A Morte Inventada - Alienação Parental. Direção de Alan Minas. Caraminhola
Filmes, 2009.
16

que nem o próprio genitor alienador consiga mais discernir o que é real do que é

falso passando a acreditar na própria mentira.

Maria Berenice Dias corrobora esse entendimento no trecho a seguir:

Mas a finalidade é uma só: levar o filho a afastar-se de quem o ama. Tal
gera contradição de sentimentos e, muitas vezes, a destruição do vínculo
afetivo. A criança acaba aceitando como verdadeiro tudo que lhe é
informado. Identifica-se com o genitor patológico e torna-se órfã do genitor
alienado, que passa a ser considerado um invasor, um intruso a ser
afastado a qualquer preço. O alienador, ao destruir a relação do filho com o
outro, assume o controle total. Tornam-se os dois unos, inseparáveis. Este
conjunto de manobras confere prazer ao alienador em sua trajetória de
13
promover a destruição do antigo parceiro.

Sua existência foi constatada pelo psicanalista e psiquiatra infantil Richard

Gardner, por volta de 1985 nos Estados Unidos, que a denominou de Síndrome da

Alienação Parental, definindo-a como “um processo que consiste em programar uma
14
criança para que odeie um de seus genitores sem justificativa.”

Outra importante contribuição para o conhecimento desta prática partiu de

François Podevyn que utilizou suas próprias experiências para descrevê-la: “depois

que me separei da mãe de meus 3 filhos, vejo-os afastarem-se de mim cada vez

mais, apesar de todos os meus esforços.” 15

No Brasil, em agosto de 2010, a lei n° 12.318 finalmente trouxe a definição

legal de Alienação Parental:

Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação


psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a
sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.16

13
Dias, Maria Berenice. Obra citada, p.16.
14
Podevyn, François. Síndrome da alienação Parental, p.1.
15
Podevyn, François. Idem. Ibidem.
16
Lei nº 12.318/2010
17

Alienação Parental nada mais é do que uma forma de abuso psicológico

cometido contra a criança, pois planta nela a idéia de abandonada pelo genitor, o

que lhe causa muito sofrimento e deixa sequelas para o resto da vida. Pior ainda é

quando ela se apresenta sob a forma de falsas acusações de abuso sexual, pois

esta técnica além de danificar o desenvolvimento da criança, cria nela “uma

confusão psíquica irreversível.” 17

A Alienação Parental pode ocorrer sob diversas formas, que vão desde a

simples campanha de difamação do outro pai, a criação de empecilhos as visitas,

sonegação de informações relevantes referentes à criança, mudança do local de

residência e até, nos casos mais graves, as falsas acusações de abuso físico ou

sexual contra o menor.

Como não poderia deixar de ser o legislador incluiu na lei n° 12.318/2010 no

parágrafo único do seu artigo 2° um rol exemplificativo de hipóteses em que a

Alienação Parental pode ocorrer:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além


dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício


da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre


a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de
endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou


contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente;

17
Guazzelli, Monica. Obra citada, p. 48.
18

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a


dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com
familiares deste ou com avós. 18

É importante frisar que o legislador fez questão de deixar claro que se trata

de rol meramente exemplificativo, permitindo que a análise do caso concreto possa

revelar outras situações que possam ser consideradas como Alienação Parental.

2.2 DIFERENÇA ENTRE SAP E ALIENAÇÃO PARENTAL

Como vimos o primeiro a tratar do assunto foi o Doutor Richard Gardner que

a denominou de Síndrome de Alienação Parental. Essa expressão, porém, tem sido

alvo de muitas críticas quanto a sua utilização.

Em primeiro lugar esclareceremos o significado da palavra Síndrome que é

um “conjunto de sintomas que se apresentam numa doença e que a caracterizam.”

Enquanto alienar significa “tornar alheio, alucinar, perturbar, indispor, malquistar,

afastar, desviar, endoidecer, enlouquecer, desvirtuar.” 19

Portanto, podemos concluir que a expressão Síndrome da Alienação

Parental corresponde ao conjunto de sintomas (sequelas) apresentados pelos filhos

submetidos à prática da Alienação Parental. Enquanto que Alienação Parental são

os atos praticados pelo alienador, com a finalidade de promover o afastamento dos

filhos com o outro genitor.

Ressaltamos que essa síndrome não consta nem no CID-10 (Classificação

Internacional de Doenças) nem no DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de

Doenças Mentais).

18
Lei nº 12.318/2010.
19
Michaelis – Moderno dicionário da Língua Portuguesa
19

2.3 EFEITOS COMUNS

Diversos são os efeitos decorrentes da Alienação Parental e estes podem

variar conforme alguns fatores, como por exemplo: idade, personalidade, intensidade

do vínculo estabelecido anteriormente, entre outros.

Como primeira consequência desta prática, podemos citar a perda do

vínculo entre a criança e o genitor vítima da alienação. Em alguns casos a situação

de alienação é tão extrema que torna-se impossível promover qualquer contato entre

a criança e o genitor alienado, nesses casos a resistência da criança em não querer

ver o genitor é tão forte que acaba por convencer até o judiciário de que é melhor

que os dois permaneçam separados.

Podevyn, baseando-se nos estudos de Gardner, diz que “o vínculo entre a

criança e o genitor alienado será irremediavelmente destruído. Com efeito, não se

pode reconstruir o vínculo entre a criança e o genitor alienado, se houver um hiato

de alguns anos. 20

Especialistas ligados a área da psicologia defendem a idéia de que a criança

precisa conviver com ambos os pais para crescer saudável e, que a falta de

convivência com um dos dois pode atrapalhar a formação de sua identidade. Pois

apesar de a criança ter algumas características de personalidade próprias ela

necessita da interação com o pai e a mãe (que serão os primeiros modelos para

elas) para formar sua identidade. Nas palavras de Evandro Luiz Silva:

É na convivência familiar e nos primeiros laços sociais que as condições


psíquicas do ser humano são construídas. Assim é que, a ausência de um
dos pais que conviveu com a criança pode gerar nela sintomas. Esses
sintomas, como já dito anteriormente, surgem da sensação de abandono
que estas crianças fantasiam sofrer e pela falta (da realidade) causada pelo
ausente. São crianças que, por exemplo, costumam ser ótimas alunas e
repentinamente, ante a ausência do pai ou da mãe, apresentam uma queda

20
Podevyn, François. Obra citada, p.2.
20

no rendimento escolar, muitas vezes levando à reprovação; outras passam


a ter insônia; outras ficam ansiosas, agressivas, deprimidas, enfim,
marcadas por algum sofrimento. 21

A criança vítima de Alienação Parental vive em constante ansiedade, tanto

por acreditar que está sendo rejeitada, como pela necessidade constante que surge

de não desagradar o alienador, de aliar-se a ele. Além disso, o menor alienado

também pode vir a apresentar outros sintomas como medo, angústia, depressão,

irritabilidade, agressividade, transtornos de identidade, desorganização mental,

tendência ao uso de drogas e álcool e em casos mais graves, tendência ao suicídio.

Vimos neste estudo que o menor alienado só consegue perceber que foi

vítima desta prática, depois que atinge certa idade e se afasta do genitor alienador.

Quando isso acontece, ele sente-se muito mal a passa a se culpar por haver

participado de uma campanha injusta contra o genitor alienado, e esse sentimento

de culpa lhe traz ainda mais sofrimento.

Mas o pior efeito que a Alienação Parental pode gerar sobre uma criança é

tendência de que esta quando adulta, passe a reproduzir o comportamento do

genitor alienador, tornando-se ela também, uma alienadora.

É exatamente o que vemos no documentário A Morte Inventada, de Alan

Minas no depoimento da jovem Rafaella que foi vítima de Alienação Parental

materna. Rafaella hoje adulta, afirma ter medo de que algum dia possa vir a

reproduzir o comportamento da mãe, tratando os filhos como “fantoches” e sofre

bastante ao lembrar que a partir de um determinado momento, eram ela e o irmão

que, para vingar a mãe, passaram a afastar o pai. Neste mesmo documentário, outra

jovem, Daniela, também vítima de Alienação Parental materna, afirma que hoje

21
Silva, Evandro Luiz. Perícias Psicológicas nas Varas de Família, p.61.
21

enfrenta muitos problemas de ordem emocional, principalmente com relação à

rejeição. 22

A Alienação Parental deixa diversas sequelas que atingem tanto o pai

alienado como também o próprio alienador, mas os mais prejudicados serão, sem

duvida, sempre os filhos. E, se não houver o tratamento adequado essas sequelas

podem durar para o resto da vida.

22
Documentário: A Morte Inventada - Alienação Parental. Direção de Alan Minas. Caraminhola
Filmes, 2009.
22

3 IDENTIFICAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Reconhecer uma situação de Alienação Parental não é uma tarefa fácil, e

pode ser necessário o auxílio de uma equipe de profissionais como psicólogo,

psiquiatra, assistente social. Esses analisarão todos os envolvidos no caso para

verificar a veracidade das informações.

Como já citamos anteriormente a nova lei trouxe algumas diretrizes para

facilitar essa identificação quando, além de defini-la, citou alguns exemplos de

hipóteses de ocorrência da Alienação Parental, que, no geral, dizem respeito ao

comportamento do alienador. Portanto, podemos concluir que o melhor modo de

identificar a presença deste fenômeno é através da análise do padrão de

comportamento do alienador.

Não é possível relacionar todas as condutas que o alienador pode adotar,

mas algumas delas são bem conhecidas: apresentar o novo cônjuge como novo pai

ou nova mãe; interceptar cartas, e-mails, telefonemas, recados, pacotes destinados

aos filhos; desvalorizar o outro cônjuge perante terceiros; desqualificar o outro

cônjuge para os filhos; recusar informações em relação aos filhos (escola, passeios,

aniversários, festas etc.); falar de modo descortês sobre o novo cônjuge do outro

genitor; impedir a visitação; “esquecer” de transmitir avisos importantes /

compromissos (médicos, escolares etc.); envolver pessoas na lavagem emocional

dos filhos; tomar decisões importantes sobre os filhos sem consultar o outro; trocar

nomes (atos falhos) ou sobrenomes; impedir o outro cônjuge de receber informações

sobre os filhos; sair de férias e deixar os filhos com outras pessoas; alegar que o

outro cônjuge não tem disponibilidade para os filhos; falar das roupas que o outro

cônjuge comprou para os filhos ou proibi-los de usá-las; ameaçar punir os filhos caso
23

eles tentem se aproximar do outro cônjuge; culpar o outro cônjuge pelo

comportamento dos filhos; ocupar os filhos no horário destinado a ficarem com o

outro. Além disso, o alienador também pode utilizar-se de falsas denúncias de abuso

físico, emocional ou sexual. 23

Também é possível identificar a ocorrência de Alienação Parental através do

comportamento dos filhos que tornam-se mais agressivos e passam a evitar o

contato com o genitor alienado, utilizando para isso desculpas bobas. É comum

também essas crianças, em caso de conflitos, tomarem o partido do alienador,

defendendo-o, e contando histórias que não vivenciaram, como fossem suas.

Segundo Podevyn, a Alienação Parental possui 3 estágios: leve, médio e

grave. No estágio leve, a criança resiste um pouco à troca de genitores, mas quando

está sozinho com o outro age normalmente. No estágio médio a resistência no

momento da troca é intensificada para agradar ao alienador, mas a criança ainda

aceita ir com o outro genitor. Já no estágio grave, a criança passa a compartilhar as

mesmas idéias do alienador, tornando-se impossível a visita. 24

Conforme o exposto, vemos que há a necessidade de se detectar a

existência da alienação parental o mais rápido possível, pois quanto mais avançado

o estágio, mais difícil é a reversão do quadro.

É muito importante também, fazer a diferenciação entre os casos de

Alienação Parental com os casos de abuso infantil. Pois pode ocorrer que em um

caso verdadeiro de abuso físico ou sexual infantil, o abusador para defender-se,

alegue estar sendo vítima da prática de Alienação Parental.

23
Trindade, Jorge. Síndrome da Alienação Parental. In: Dias, Maria Berenice. Incesto e Alienação
Parental, p.27-28. Essas condutas também encontram-se previstas no parágrafo único do artigo 2º da
Lei nº 12.318/2010.
24
Podevyn, François. Obra citada, p.9.
24

Segundo a lei da Alienação Parental havendo declaração de indícios de

Alienação Parental, serão adotadas imediatamente medidas provisórias para

preservar a integridade psicológica do menor e, constatados tais indícios, será

determinada perícia psicológica ou biopsicossocial e, se confirmada a existência do


25
problema o juiz adotará as medidas cabíveis, conforme veremos mais tarde.

3.1 FALSA ACUSAÇÃO DE ABUSO SEXUAL

Na tentativa de excluir o outro genitor da sua vida e dos seus filhos, o

alienador utiliza todas as armas possíveis, inclusive a Falsa Acusação de Abuso

Sexual. Esta é, sem dúvida, a forma mais grave de Alienação Parental e a que

causa mais danos aos filhos.

Em primeiro lugar, vale lembrar que o abuso sexual infantil existe sim,

inclusive podendo ser praticado dentro de casa por familiares ou pessoas ligadas ao

menor, mas não é esta a abordagem que pretendemos fazer aqui. Nosso objetivo é

tratar das falsas acusações de abuso sexual, utilizadas por um dos genitores como

forma de atingir o outro genitor.

Quando ocorre uma acusação de abuso sexual, mesmo que esta venha a

ser desmentida posteriormente, certamente restarão várias seqüelas. Pois até que

se demonstre que a acusação era falsa, e que o menor foi manipulado de forma a

acreditar ter sido mesmo abusado, este terá sido submetido a uma série de

situações que prejudicarão seu desenvolvimento psíquico, como por exemplo, os

infinitos depoimentos que terá que prestar a profissionais, muitas vezes,

despreparados e em locais inadequados.

25
Lei nº 12.318/2010.
25

Além do fato de que, quando há uma acusação de abuso sexual contra um

menor, as autoridades envolvidas tem uma maior tendência a solicitar que as visitas

sejam imediatamente suspensas até que se apure a veracidade das alegações.

Enquanto a pesquisa psicossocial é realizada, o menor permanece afastado do

genitor acusado, rompendo-se o vínculo existente entre eles. Apesar de que o juiz

pode determinar visitas monitoradas, mas ainda assim, o vínculo é enfraquecido.

Nesses casos o menor é induzido a acreditar que foi realmente abusado

pelo genitor alienado, e essa lembrança passa a integrar suas lembranças, como se

ele realmente tivesse vivido aquele fato. Por isso os especialistas afirmam que os

danos para esta criança serão praticamente os mesmos de uma criança realmente

abusada sexualmente.

Muitas vezes a suspensão do contato com o genitor acusado é sugerido por

profissionais não devidamente habilitados, que baseiam seus laudos nas alegações

de apenas uma das partes, não proporcionando a outra parte o direito de defesa.

Maria Berenice Dias descreve essa situação brilhantemente:

Nesse jogo de manipulações, todas as armas são utilizadas, inclusive – com


enorme e irresponsável freqüência – a alegação da prática de abuso sexual.
Essa notícia gera um dilema. O juiz não tem como identificar a existência ou
não dos episódios denunciados para reconhecer se está diante da síndrome
da alienação parental e que a denúncia do abuso foi levada a efeito por
mero espírito de vingança. Com o intuito de proteger a criança muitas vezes
reverte a guarda ou suspende as visitas, enquanto são realizados estudos
sociais e psicológicos. Como esses procedimentos são demorados, durante
todo este período cessa a convivência entre ambos. O mais doloroso é que
o resultado da série de avaliações, testes e entrevistas que se sucedem, às
vezes durante anos, acaba não sendo conclusivo. Mais uma vez depara-se
o juiz com novo desafio: manter ou não as visitas, autorizar somente visitas
acompanhadas ou extinguir o poder familiar. Enfim, deve manter o vínculo
26
de filiação ou condenar o filho à condição de órfão de pai vivo?

Como mesmo que seja requerida urgência para averiguação da denúncia,

esse processo pode levar anos para ter uma solução, e ainda resultar inconclusivo,

26
DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental: uma nova lei para um velho problema! p.1.
26

e, como durante todo este período a criança permanece sem contato com o genitor,

ou com contato reduzido, o alienador terá sido vencedor, tendo alcançado finalmente

seu objetivo de destruir a relação entre o outro genitor e o filho.

3.2 IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS

Tem-se por Implantação de Falsas Memórias, o fato de um dos genitores,

geralmente o guardião, fazer com que o menor se convença da existência de algum

fato que não ocorreu e passe a acreditar que aquela é uma lembrança verdadeira e

sua. Como explica Monica Guazelli:

O que se denomina de Implantação de falsas Memórias advém, justamente,


da conduta doentia do genitor alienador, que começa a fazer com o filho
uma verdadeira “lavagem cerebral”, com a finalidade de denegrir a imagem
do outro – alienado -, e, pior ainda, usa a narrativa do infante acrescentando
maliciosamente fatos não exatamente como estes se sucederam, e ele aos
poucos vai se “convencendo” da versão que lhe foi “implantada”. O
alienador passa então a narrar à criança atitudes do outro genitor que
jamais aconteceram ou que aconteceram em modo diverso do narrado. 27

A professora Elizabeth F. Loftus relata em um artigo científico os resultados

de um experimento de implantação de falsas memórias, no qual se concluiu que “as

pessoas podem ser conduzidas a se lembrarem do seu passado de modo diferente,

e podem até mesmo ser persuadidas a se “lembrar” de eventos completos que

nunca aconteceram”. Além disso, Loftus acrescenta que “as recordações são mais

facilmente modificadas, por exemplo, quando a passagem de tempo permite o

enfraquecimento da memória original” 28

27
Guazzelli. Monica. Obra citada, p.44.
28
Elizabeth F Loftus foi professora de psicologia e professora auxiliar de direito na Universidade de
Washington e seu artigo foi publicado na Scientific American. In: CALÇADA, Andréia. Falsas
Acusações de Abuso Sexual e a Implantação de Falsas Memórias, p. 35-36
27

Diante de tais explicações, vemos que é muito fácil implantar memórias

falsas na mente de uma criança, tendo em vista que elas são muito sugestionáveis.

Portanto basta que o guardião, em uma conversa, passe a conduzir as respostas da

criança acrescentando alguns detalhes e a repeti-las algumas vezes, para que a

criança incorpore essas “lembranças” como sendo suas. Essa situação fica clara no

exemplo citado por Monica Guazzelli:

A cena se passa quando a mãe está dando banho na filha e conversa:


“Minha filhinha, o papai te dá banho e também lava bem tua pererequinha
que nem a mãe?” “Não lembro”, pode responder a filha; contudo a mãe
“convence a filha do que e de como o papai faz”, e a criança acaba, até
porque é sugestionável concordando. Aproveitando-se da sujeição da
criança, a descrição realizada pela mãe vai ficando cada vez mais
detalhada, sem é claro, que a criança se aperceba da gravidade daquilo.
“Mas então” – diz a mãe – “o papai põe a mão em você e fica esfregando
para limpar bem?” E a criança acabará respondendo: “Sim”. Depois de tanto
a mãe repetir essa história, a narrativa acabará se transformando numa
realidade para a criança, pois de fato o pai, quando exerce a visitação,
costuma auxiliar a filha na rotina do banho.
Aquela "verdade" que não retrata a verdadeira verdade acaba "entrando" e
se enraizando na criança de tal forma que, quando ela for questionada a
respeito, a resposta virá nesse sentido - malicioso - e a criança dirá:
"Quando papai me dá banho, ele lava a minha perereca e fica esfregando
bastante para limpar bem" 29

Com o passar do tempo as verdadeiras memórias acabam se perdendo e

nem mesmo o genitor responsável pela implantação dessas Falsas Memórias

consegue mais distinguir o que é realidade do que não é. E tanto este como o filho

passam a vivenciar essas fantasias.

Durante uma investigação de abuso sexual, pode ocorrer que a má

condução de uma sessão de análise ou interrogatório, feito por policiais, assistentes

sociais e até mesmo por psicólogos despreparados e que utilizam “métodos


30
impróprios”, acabem “contaminando’ a memória das crianças. Portanto é

29
Guazzelli, Monica. Obra citada, p.44-45.
30
Calçada, Andréia. Obra citada, p.40.
28

necessário muito cuidado ao se tomar o depoimento de um menor para não

influenciá-lo.

É preciso que o profissional responsável pela investigação mantenha a

mente aberta, sem formar juízos anteriores e que procurem analisar todos os

envolvidos, para que tenha acesso a todas as versões da ocorrido. Se a averiguação

dos fatos for conduzida de maneira adequada, com certeza, muitas injustiças serão

evitadas.

3.3 DIFERENÇAS ENTRE O REAL E O FALSO ABUSO

Da mesma maneira que um genitor acusa o outro de ter cometido abuso

sexual contra o filho, o outro genitor defende-se acusando aquele de estar utilizando

uma falsa acusação de abuso com a intenção de separá-lo do filho, constituindo ato

de Alienação Parental.

Diferenciar um caso de abuso sexual de um caso de Alienação Parental é

uma tarefa muito difícil. Em primeiro lugar é preciso muito cuidado para colher o

depoimento do menor, o que somente deve ser feito por um profissional habilitado e

com experiência nesse tipo de caso e com o emprego de técnicas adequadas,

tomando o máximo de cuidado para não induzi-lo a respostas que não são suas.

Ao longo do tempo, e com o aumento do número desses casos, algumas

pessoas ligadas à área, conseguiram identificar algumas características que

distinguem um caso do outro, passaremos então a apresentá-las.

Segundo Richard Gardner, quando se trata de um caso de abuso o menor

lembra-se facilmente do ocorrido, transmitindo informações detalhadas, no caso de

alienação “a criança necessita de ajuda para “recordar-se” dos acontecimentos.”


29

Além disso, na falsa acusação as informações prestadas “carecem de detalhes e

são contraditórios entre os irmãos.” Quanto ao interrogatório, quando é feito sem a

presença do alienador “os filhos dão versões diferentes. Quando interrogados juntos,

se constatam mais olhares entre eles do que em vítimas de abuso.” 31

Outras características diferenciadoras foram publicadas por Manoel Jose

Aguilar, que ressalta que crianças abusadas costumam apresentar conhecimentos

sexuais impróprios para sua idade, como ereção, ejaculação, sabor do sêmen, além

disso, elas passam a desenvolver condutas voltadas ao sexo como, por exemplo,

sedução e masturbação excessiva, no caso das falsas acusações as crianças não

possuem tal conhecimento nem atitudes. Crianças abusadas sexualmente também

costumam apresentar indicadores físicos como lesões ou infecções, transtornos

funcionais, como alterações no sono ou alimentação, atrasos educativos e ainda

alterações no padrão de interação, como, por exemplo, isolamento social e

agressividade. Outros fatores determinantes do abuso sexual são sentimento de


32
culpa, depressão, choro sem motivo, baixa autoestima e até tentativa de suicídio.

É importante também observar se a criança utiliza palavras compatíveis com

a sua idade, pois nos casos de Alienação Parental é comum a criança utilizar-se de

palavras ditadas por adultos, outro detalhe importante é que a criança também deve

apresentar uma visão infantil dos fatos.

Aguilar diz também que no caso de abuso o genitor percebe e importa-se

com o sofrimento do filho, podendo ele também ter sido vítima de abusos, além

disso, as denúncias não estão ligadas à separação do casal, estas geralmente

antecedem a separação. No caso de Alienação Parental ocorre o contrário.33

31
Gardner, Richard. In: CALÇADA, Andréia. Obra citada, p. 33
32
Aguilar, Jose Manoel. Comparação dos sintomas da alienação parental com os sintomas de abuso
sexual. Disponível em: HTTP://www.apase.org.br.
33
Aguilar, Jose Manoel. Idem. Ibidem
30

4 A PERÍCIA NAS VARAS DE FAMÍLIA

4.1 PAPEL DO PSICÓLOGO

Por vezes o direito precisa socorrer-se em outras áreas para solucionar

problemas que lhe são apresentados. O Direito de Família, por exemplo, com

freqüência, recorre a Psicologia Jurídica na busca de soluções para os problemas

que envolvem guarda de filhos e visitas.

Porém é preciso que o psicólogo tenha em mente que seu papel é distinto

do papel do juiz, enquanto este tem como função julgar e decidir os casos, ao

psicólogo não cabe emitir juízo de valor, este somente tem como função descrever

características psicológicas para que de posse destas o juiz possa decidir qual a

melhor solução a ser adotada.

No trecho a seguir o psicólogo Evandro Luiz Silva deixa clara a função do

psicólogo:

No entanto, não são raros os casos em que o psicólogo é chamado para


apontar os comportamentos que fogem à norma, para diagnosticar e colar
no sujeito o selo CULPADO! E é exatamente este lugar que não devemos
ocupar. Descrever processos mentais e comportamentais e fornecer
diagnósticos é próprio do psicólogo, mas valorar, rotular e julgar vão de
encontro aos princípios fundamentais do seu código de ética. 34

Nos casos de Alienação Parental o psicólogo tem papel fundamental, pois

na maioria das vezes, o juiz não tem como apurar os fatos apontados, e precisa

recorrer a uma análise psicológica ou biopsicossocial para chegar a uma decisão.

Mas como vimos em nosso estudo há situações em que psicólogos

confundem suas funções e acabam apontando culpados e decidindo com quem os

34
Silva, Evandro Luiz. Obra citada, p.12.
31

menores devem ficar. Deixam-se comover pelo provável abuso sofrido pelos

menores e com base somente no relato do guardião, decidem que a melhor solução

é o afastamento do acusado, sem que seja feita uma perícia psicológica adequada.

Mais uma vez, esclarece Evandro Luiz Silva:

A psicologia não se propõe a valorar os comportamentos em melhores ou


piores, tampouco tem o objetivo de uniformizá-los. Se ela, ao descrever
características, estruturas de personalidade, fazer diagnósticos, etc..., der
subsídios para interpretações de valoração ou julgamento, estes ficam por
conta e risco de quem o fizer. 35

Isso não quer dizer que o psicólogo não possa, em seus laudos, apontar

alternativas para o caso. Muito pelo contrário, ele deve apontar alternativas de

solução para os problemas detectados, assegurando assim o direito do menor a

convivência com a família. Assim, se, por exemplo, o juiz ao apreciar um laudo

psicológico entender que um dos pais não apresenta condições para ser detentor da

guarda, cabe ao psicólogo, apresentar alternativas (nas sessões devolutivas) para

que este progenitor possa superar as dificuldades e recuperar o mais rápido possível

o seu direito de convivência. 36

4.2 PAPEL RELATIVO DOS LAUDOS

Conforme visto anteriormente, o juiz pode solicitar a realização de perícia

psicológica ou biopsicossocial, quando esta se fizer necessária. Porém, como

salienta Elizio Luiz Perez “a necessidade da perícia, evidentemente, não pode ser

absoluta, sob pena de retrocesso”. 37

35
Silva, Evandro Luiz. Obra citada, p.12.
36
Silva, Evandro Luiz. Idem. P.15.
37
Perez, Elizio Luiz. Breves Comentários acerca da Lei da Alienação Parental. In: Dias, Maria
Berenice. Incesto e Alienação Parental, p.72.
32

Isso significa que, em casos nos quais fica evidente se tratar de ato de

Alienação Parental, a perícia torna-se dispensável. Podendo o juiz intervir

imediatamente, tomando as medidas cabíveis.

A lei nº 12.318/2010, em seu artigo 5º, caput, deixou clara a importância da

perícia psicológica ou biopsicossocial diante da existência de indícios da prática de

Alienação Parental. Porém, o legislador também fez questão de estabelecer, nos

parágrafos 1º e 2º do mesmo artigo, requisitos mínimos para a realização de laudo

pericial. Vejamos o que diz a lei:

Art. 5o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação


autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia
psicológica ou biopsicossocial.

§ 1o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou


biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista
pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do
relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes,
avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a
criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra
genitor.

§ 2o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar


habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico
profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.

Ao estabelecer tais requisitos, o legislador tornou evidente sua preocupação

com a relatividade das informações que possam advir desses laudos. Essa

preocupação é válida, pois como temos visto, não são raros os casos em que o juiz

foi levado a tomar decisões erradas, baseando-se em laudos mal elaborados e

realizados, muitas vezes, por profissionais não habilitados.

O que se pretende é garantir uma investigação mais profunda, rigorosa e

responsável e que deixe evidente a boa atuação dos profissionais responsáveis

pelas perícias.
33

4.3 PODER DISCRICIONÁRIO DO JUIZ

Não há na doutrina uma definição unânime e exata do que seja o poder

discricionário do juiz. Mas podemos concluir que este refere-se à liberdade que o juiz

tem de decidir, segundo critérios de razoabilidade, qual providência adotará, dentro

de limites impostos pela lei.

O legislador, ao redigir a lei que trata da Alienação Parental, tratou de

ressaltar o poder discricionário do juiz ao atribuir a este a possibilidade de declarar

como formas de alienação parental, outros atos percebidos por este, tanto no

contato com as partes quanto os constatados por perícias, praticados de forma

direta ou com auxilio de terceiros.

A nova lei também reforça a idéia de que a convivência familiar é essencial

para o perfeito desenvolvimento da criança. Tanto que menciona ser um direito

fundamental da criança ou do adolescente a convivência familiar saudável,

permitindo que o juiz utilize o seu poder discricionário para intervir em qualquer

momento processual, aplicando as medidas provisórias que julgar cabíveis, a fim de

garantir a integridade física ou psíquica do menor e a manutenção do seu direito à

convivência familiar. Diz a lei:

o
Art. 4 Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de
ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou
incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará,
com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias
necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou
viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.

Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor


garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há
iminente risco de prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou
do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz
para acompanhamento das visitas. 38

38
Lei nº 12.318/2010.
34

A lei, portanto, direcionou o poder discricionário do juiz no sentido de manter

vivo o vínculo entre o menor e o genitor alienado, mesmo que minimamente por

meio de visitas monitoradas, o que somente não será admitido quando representar

iminente risco a integridade do menor. Para isso, pode o juiz agir liminarmente ou de

oficio. Como mostra Marcos Duarte:

A norma quis dar efetividade ao comando do art. 226, § 8° da Constituição


Federal, a exemplo da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), com a
finalidade de tutelar esta forma de violência no âmbito das relações
familiares, que é a alienação parental. A providência jurisdicional deve ser
no sentido de impedir o agravamento do impedimento da convivência entre
pais e filhos e garantir sua integridade psicológica e moral. Estas
providências possuem natureza cautelar, antecipatória e também satisfativa,
podendo (devendo) o juiz agir, liminarmente, inclusive de ofício (art. 797 do
CPC), ou ainda, com base na cláusula geral autorizadora prevista no § 7°
do art. 273 do CPC. 39

A lei 12.318, portanto inovou quando colocou como regra aproximar pais e

filhos e não mais afastá-los como vinha acontecendo até então. Agora é preciso ter

certeza da necessidade de rompimento do convívio com o genitor, não permitindo

mais que enquanto haja dúvidas quanto ao ocorrido o contato entre ambos seja

rompido.

39
Duarte, Marcos. Alienação Parental: Comentários Iniciais à Lei 12.318/2010. Disponível em:
http://www.ibdfam.org.br.
35

5 MEDIDAS DE PROTEÇÃO E EFETIVIDADE

5.1 MEDIDAS PREVISTAS NA LEI N° 12.318/2010

A lei n° 12.318, em seu artigo 4°, prevê que quando forem declarados

indícios da prática de Alienação Parental, surge imediatamente a necessidade de o

juiz adotar medidas de cautela a fim de proteger o menor e assegurar seu direito de

convivência familiar. Determina também que o processo tenha tramitação prioritária,

para evitar que a demora na apuração das alegações acabe por piorar a situação de

afastamento entre filhos e pais.

Entre essas medidas de cautela podemos citar a visita monitorada, que é um

instrumento útil para garantir direito mínimo de visitação, principalmente em casos

de denúncia de abuso físico ou sexual.

Quando caracterizada a Alienação Parental, a lei determina a adoção de

medidas de proteção direta, que estão elencadas no artigo 6° da lei. Cabe ressaltar

que trata-se de rol meramente exemplificativo, cabendo a aplicação de outras

medidas além das que foram citadas.

o
Art. 6 Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer
conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor,
em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não,
sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla
utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus
efeitos, segundo a gravidade do caso:

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

III - estipular multa ao alienador;

IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua


inversão;
36

VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

VII - declarar a suspensão da autoridade parental.

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço,


inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá
inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da
residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de
40
convivência familiar.

É importante também frisar que essas medidas não tem a intenção de punir

o alienador, mas sim de proteger a criança e o adolescente. Isso pode ser verificado

no inciso IV, deste mesmo artigo, que abre a possibilidade de acompanhamento

psicológico e/ou biopsicossocial para qualquer um dos envolvidos e não somente à

criança. O que reforça a idéia de que a lei pretende possibilitar a reaproximação da

família e não seu afastamento.

Como vimos as medidas sugeridas variam desde uma simples advertência e

multa, à indicação de tratamento psicológico, chegando a impor medidas mais

severas como a possibilidade de inversão da guarda e ainda a destituição do poder

parental. A indicação da aplicação de uma ou outra medida dependerá da análise do

caso concreto.

Observa-se também no inciso V, a idéia de que a guarda compartilhada

possa representar um importante instrumento para inibir a prática da Alienação

Parental. Isso deriva do fato de que a guarda compartilhada, como já nos referimos

anteriormente, possibilita o exercício conjunto da autoridade parental, estreitando os

laços entre pais e filhos.

Segundo Elizio Luiz Perez, as medidas previstas na nova lei não diferem

muito das que já vinham sendo aplicadas pelos tribunais, estando de acordo com as

já previstas no artigo 129 do Estatuto do Menor e do Adolescente. 41

40
Lei n ° 12.318/2010.
41
Perez, Elizio Luiz. Obra citada. P.81.
37

5.2 VISITA MONITORADA

Como já vimos, diante de uma acusação de abuso físico ou sexual contra

menores tem sido comum a determinação do afastamento do acusado e do menor,

por tempo indeterminado, até que se apure a veracidade da acusação.

Também já vimos que a lei que trata da Alienação Parental propõe que se

busque sempre a preservação do convívio entre pais e filhos, a menos que isso

represente risco de dano a integridade do menor. Para isso a lei prevê, como forma

de garantia mínima ao direito de convivência, a instituição da visita monitorada, que

ocorre geralmente em local previamente determinado e com a presença de uma

terceira pessoa que será responsável por supervisionar o encontro.

Segundo Maria Regina Fay de Azambuja, algumas alternativas

experimentadas pelo Sistema de Justiça como forma de operacionalizar as visitas

monitoradas são: a determinação de visitas no Fórum; a criação do visitário, em São

Paulo; a designação de uma pessoa de confiança do genitor guardião para

acompanhar a criança nas visitas e a realização das visitas no recinto do Conselho

Tutelar. 42

Ainda segundo Azambuja, tais alternativas tem se mostrado ineficientes,

porque os locais escolhidos não são apropriados para crianças, pois no Fórum a

criança é exposta a diversas cenas de litígio entre adultos, o visitário acabou se

parecendo mais com um presídio do que um local para visitas familiares e o

Conselho Tutelar não tem como atribuição presidir encontros de pais e filhos.

Enquanto que nos encontros com a supervisão de pessoa de confiança do guardião,

42
Azambuja, Maria Regina Fay de. A criança vítima de violência sexual intrafamiliar: como
operacionalizar as visitas? In: Dias, Maria Berenice. Incesto e Alienação Parental, p.311.
38

o genitor sente-se vigiado pois essa terceira pessoa acaba servindo de informante
43
do outro genitor, acirrando ainda mais os ânimos.

Frente a esse problema formulou-se uma nova proposta de realizar os esses

encontros “no ambiente terapêutico da criança”, para que o profissional que a atende
44
possa auxiliar a ambos, evitando assim mais traumas e danos ao menor.

5.3 RELATO DE CASOS

Os casos que serão relatados a seguir foram retirados do documentário “A

Morte Inventada: Alienação Parental” de Alan Minas. 45

Caso 1: Sócrates, Karla e Daniela

Depois de uma separação conflituosa a mãe que era a guardiã das filhas

proibiu o pai de vê-las. Este fez várias tentativas de contato, recorrendo inclusive ao

judiciário, mas nem assim obteve êxito. Para as filhas a mãe contava que o pai

abandonou a família e que não queria mais contato com elas, e descrevia o pai

como um bandido, que a traiu, agrediu e tentou matá-la. As filhas não sabiam nem

qual era o nome do pai, pois era proibido mencioná-lo, nem tinham fotos dele.

O pai só pode ver as filhas quando a mãe precisou falar com ele e teve que

ceder. Durante o encontro as filhas permaneceram acuadas diante do pai, que era

como um estranho, sobre o qual pairavam uma série de histórias ruins. Marcaram

um jantar para o dia seguinte, as filhas aguardaram, em casa, ansiosamente pelo pai

e este não apareceu, a mãe então disse a elas que o pai não apareceu porque não

43
Azambuja, Maria Regina Fay de. Obra citada.p.312
44
Azambuja, Maria Regina Fay de. Idem. Ibidem.
45
Documentário: A morte Inventada – Alienação Parental. Direção de Alan Minas. Caraminhola
Filmes, 2009.
39

queria vê-las e que elas teriam que se contentar em ter como pai o padrasto. Porém

o que ocorreu foi que a mãe combinou com o pai que seria um passeio a praia e que

esse deveria aguardar em outro local, ele esperou por horas e depois ligou para a

mãe que disse que as meninas estavam muito abaladas pelo encontro no dia

anterior e que seria melhor que eles não se vissem mais. O pai desistiu de procurar

as filhas e mudou-se com sua nova família para outro país. Elas somente

descobriram a verdade quando Karla, aos 19 anos, brigou com a mãe e saiu de

casa. A mãe então precisou ligar para o pai, para solicitar que este desse

autorização para um processo judicial que a forçasse a voltar para casa. O pai se

negou e ligou para a filha, convidando-a para conhecê-lo. Karla foi primeiro e depois

Daniela foi também.

E apesar de hoje elas se relacionarem bem com o pai, Daniela ressalta que

a relação nunca mais será a mesma e que os danos são irreparáveis, sendo que ela

ainda hoje tem muito medo de ser rejeitada.

Caso 2: Rafaella e José Carlos

Após a separação a mãe ficou com a guarda dos filhos. O pai, que já tinha

uma nova companheira, ofereceu um apartamento em Recife para a mãe e as

crianças morarem a fim de que eles ficassem mais próximos. A mãe provavelmente

achando que haveria a possibilidade de uma reconciliação aceitou, e se mudaram

para lá. Após três meses quando a mãe se deu conta de que não haveria a

reconciliação, fugiu com os filhos para o Rio de Janeiro. O pai ainda continuou a

visitar os filhos por anos.

Rafaella conta em seu depoimento que a mãe descrevia o pai como um

canalha, um monstro, que a tinha enganado e traído e trocado sua família por outra.
40

E os filhos passaram a compartilhar o sofrimento da mãe, tornando-se seus

cúmplices. Tanto que, quando saíam com o pai faziam questão de não mostrar

interesse por nenhuma atividade e de tratá-lo mal. Ela conta ainda que quando

retornavam das visitas, para agradar a mãe, não podiam demonstrar nenhum

entusiasmo pelo passeio, então já entravam em casa reclamando de como era ruim

sair com o pai. Ela lembra ainda que em determinado momento passou a procurar o

pai apenas para pedir dinheiro e diz que sentia satisfação em fazer isso,

principalmente por ver o contentamento da mãe com sua atitude. Depois que ela

completou 15 anos, o pai acabou desistindo de procurá-los e eles ficaram onze anos

sem se ver. Até que Rafaella, já adulta, começou a fazer terapia e sentiu a

necessidade de buscar saber qual era a verdade de tudo aquilo, e foi ao encontro do

pai. Ela precisou romper com a mãe para descobrir a verdade e o irmão,

infelizmente, ficou ao lado da mãe.

Rafaella lembra que a mãe sempre foi muito dedicada e carinhosa com os

filhos, mas ela lembra também que foi a mãe a responsável por atrapalhar a relação

dos filhos com o pai. Porém a mãe não admite em hipótese alguma que teve

qualquer responsabilidade pelo rompimento dos filhos com o pai. Hoje Rafaella se

culpa por ter participado da campanha contra o pai e teme que algum dia possa vir a

reproduzir as atitudes da mãe, usando os filhos como fantoches, para ferir o ex

companheiro.

Caso 3: Hélio Monteiro

Este caso relata o sofrimento de um avô ao descobrir que a mãe de sua

neta, que já estava separada de seu filho, havia dado início a um processo judicial

na vara da Infância e Juventude, alegando que a filha havia sido vítima de violência

sexual. Neste Processo de Providências, havia um documento emitido por uma


41

psicóloga da FIA do Rio de Janeiro, que afirmava que a menina havia sido abusada

sexualmente e nomeava como possíveis autores o pai e o avô. O relatório da

psicóloga baseou-se apenas no depoimento da mãe da criança, sem dar

possibilidade de defesa à outra parte e foi responsável pelo afastamento do pai e do

avô da vida da menor.

Caso 4: “A”

“A” viveu com sua companheira até a filha do casal completar um ano e três

meses, até que um dia a mãe simplesmente foi embora levando consigo a filha.

Após algum tempo ele conseguiu localizar as duas e passou a visitar a criança,

porém as visitas foram ficando cada vez mais difíceis, pois a mãe colocava todo tipo

de empecilho. Ele então deu entrada em um processo de regulamentação de visitas,

durante o qual a mãe alegou que não permitia as visitas devido a criança haver

sofrido abuso sexual por parte do pai. A psicóloga responsável pela avaliação

atestou, em uma declaração escrita em poucas linhas, que existiam indícios físicos

de abuso sexual e que a criança deveria permanecer afastada do pai. Em 2004, o

próprio juiz que havia expedido a liminar de afastamento, cassou-a e regulamentou

as visitas, mas a mãe não cumpriu o acordo. O pai socorreu-se novamente no

judiciário, que afirmou que a mãe deveria receber tratamento psicológico. Apesar de

estar muito revoltado, o pai afirma que não vai desistir da filha.
42

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A separação do casal é um evento que marca a vida de todos os membros

da família, especialmente a dos filhos. Muitas vezes, os pais ficam tão preocupados

com seus problemas e suas necessidades durante a separação, que não

conseguem distinguir o que é melhor para os filhos, tratando-os como meros objetos

de uma disputa. Nestas situações cabe ao Estado intervir para assegurar que esses

menores tenham respeitada sua dignidade e seu direito à convivência familiar.

Uma das maneiras encontradas para se preservar o direito dos filhos de

contato com os pais é a instituição da guarda compartilhada, que por assegurar uma

distribuição mais equitativa da autoridade parental, permite que a criança e o

adolescente beneficiem-se da convivência com ambos. Essa característica

apaziguadora da guarda compartilhada acabou destacando-a também como uma

forma de solução para o problema da Alienação Parental.

Quando a separação ocorre em meio a conflitos, pode desencadear

sentimentos extremos de ódio e vingança entre os ex-cônjuges. Tais sentimentos

resultam em condutas desequilibradas por parte dos genitores, e podem

comprometer seriamente o desenvolvimento psicológico dos filhos, que já estão

fragilizados pela separação dos pais. Essa fragilidade aliada a alta

sugestionabilidade (comum da criança) tornam-na presa fácil para o alienador, que

consegue fazer com ela acredite em todas as histórias inventadas por ele.

Portanto, podemos dizer que a Alienação Parental é uma forma de abuso

psicológico cometido contra o menor e que deixa uma série de seqüelas neste,

podendo transformá-lo em um adulto problemático que pode inclusive, vir a

reproduzir o comportamento alienador.


43

Também é possível afirmar que identificar a presença da Alienação Parental,

o mais rápido possível, é uma necessidade, pois quanto mais tempo a criança

permanecer submetida a esta prática nociva, mais difícil será para reverter o quadro.

E como essa identificação não é uma tarefa simples, faz-se necessário que os

profissionais que atuam na esfera do direito de família, busquem informar-se sobre

esta prática para que quando se deparem com um caso desta natureza tenham

condições de proceder de maneira adequada, evitando injustiças.

Vimos nos casos relatados que algumas vezes o Judiciário acabava atuando

como auxiliar do alienador, que simplesmente desrespeitava as ordens judiciais e

manipulava o sistema a fim de que o processo se prolongasse pelo maior tempo

possível, fazendo com que a criança se desligasse totalmente do genitor, sem que

fossem impostos limites para suas ações.

Foi para evitar que injustiças como essas continuassem a ser cometidas que

foi criada recentemente a lei n° 12.318/2010, com o intuito de facilitar a identificação

da Alienação Parental e a adoção de medidas, pelo juiz, para inibir esta prática.

A lei traz o conceito legal de Alienação Parental e exemplifica as formas

como ocorre tal prática, além de direcionar o poder discricionário do juiz para a

adoção de medidas, que visam proteger a integridade física e psicológica do menor

e que garantam a manutenção do vínculo parental entre o menor e os pais,

colocando inclusive, como direito fundamental da criança e do adolescente o direito

a convivência familiar saudável. Ressaltando que a convivência deve ser mantida

mesmo durante as investigações, nem que seja de forma reduzida, por meio de

visitas monitoradas, a não ser que isto represente risco de dano ao menor.

A lei também estabeleceu alguns requisitos para a realização de perícias,

que incluem, entre outras, entrevistas com todos os envolvidos, análise do histórico
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da separação e principalmente, o exame da forma como a criança ou adolescente se

manifesta acerca da eventual acusação contra o genitor. A lei exigiu ainda que o

profissional responsável pela perícia possua aptidão comprovada para diagnosticar

atos de alienação parental.

É possível concluir que a medida que a Alienação Parental se torna mais

conhecida, torna-se mais fácil a identificação e prevenção de sua ocorrência. Nesse

sentido a nova lei representa um avanço, pois aborda questões relevantes

referentes à Alienação Parental, na tentativa de solucionar ou pelo menos minorar

os problemas que vinham ocorrendo.

Esperamos que a lei, que veio em tão boa hora, consiga alcançar seu

propósito de garantir a efetividade do comando constitucional que assegura as

crianças e adolescentes total proteção com absoluta prioridade.


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