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CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2017

Lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15)


Tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”

TEXTO-BASE

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Brasília – DF

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Diretor Geral:
Mons. Jamil Alves de Souza
Revisão:
Leticia Figueiredo
Cartaz da CF 2017:
Agência ARCANJO
Projeto Gráfico:
Henrique Billygran da Silva Santos
Diagramação:
Camila de Almeida Martins
Capa:
Sávio Gerardo
Impressão e acabamento:
Gráfica Ipiranga

Edições CNBB
SE/Sul Quadra 801, Conjunto “B”
CEP: 70200-014
Fone: 0800 940 3019 / (61) 2193-3019
Fax: (61) 2193-3001
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www.edicoescnbb.com.br

C748c CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Campanha da Fraternidade 2017: Texto-
-Base. Brasília, Edições CNBB. 2016.

Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base / CNBB.


136p.: 14 x 21 cm
ISBN: 978-85-7972-535-7

1. Biodiversidade – Campanha da fraternidade;


2. Desafios do Bioma – Cerrado – Caatinga – CF;
3. CF 2017 – Igreja – Amazônia – Texto – Base;
4. Povos – Política – CF – Sociodiversidade.

CDU: 250.1

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS ...................................................................................7

APRESENTAÇÃO ....................................................................................9

INTRODUÇÃO .......................................................................................13
Objetivo geral ....................................................................................16
Objetivos específicos .......................................................................16
A Igreja no Brasil e o cuidado da casa comum .............................17
A história dos temas coligados com a CF 2017 .............................20

CAPÍTULO I – VER ................................................................................23


1. Os biomas brasileiros ...................................................................23
1.1. Bioma Amazônia .........................................................................23
1.1.1.Localização ........................................................................24
1.1.2.Características naturais – biodiversidade .............................24
1.1.3.Os povos originários e a cultura – sociodiversidade .............27
1.1.4.A beleza, as fragilidades e os desafios do bioma Amazônia 28
1.1.5.Contextualização política ....................................................29
1.1.6.Contribuição eclesial ..........................................................30
1.2. Bioma Caatinga ..........................................................................31
1.2.1.Localização ........................................................................31
1.2.2.Características naturais – biodiversidade .............................32
1.2.3.Os povos originários e a cultura – sociodiversidade .............33
1.2.4.A beleza, as fragilidades e os desafios do bioma Caatinga.. 34
1.2.5.Contextualização política ....................................................35
1.2.6.Contribuição eclesial ..........................................................37

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1.3. Bioma Cerrado ............................................................................39
1.3.1.Localização ........................................................................39
1.3.2.Características do Cerrado ................................................. 40
1.3.3.Cerrado – “Caixa d’água do Brasil” ................................... 40
1.3.4.Biodiversidade....................................................................41
1.3.5.Os povos originários e a cultura – sociodiversidade .............42
1.3.6.A beleza, as fragilidades e os desafios do bioma Cerrado ... 44
1.3.7.Realidade política e os desafios do Cerrado ...................... 44
1.3.8.Contribuição eclesial ......................................................... 46
1.4. Bioma Mata Atlântica ............................................................... 48
1.4.1.Localização ....................................................................... 48
1.4.2.Características naturais – biodiversidade .............................49
1.4.3.Os povos originários e a cultura – sociodiversidade ............51
1.4.4.A beleza, as fragilidades e o desafios do bioma Mata Atlântica ...52
1.4.5.Contextualização política ....................................................53
1.4.6.Contribuição eclesial ..........................................................55
1.5. Bioma Pantanal .......................................................................... 56
1.5.1.Localização ....................................................................... 56
1.5.2.Características naturais – biodiversidade ............................ 56
1.5.3.Os povos originários e a cultura – sociodiversidade .............57
1.5.4.A beleza, as fragilidades e os desafios do bioma Pantanal ...59
1.5.5.Contextualização política ....................................................63
1.5.6.Contribuição eclesial ......................................................... 64
1.6. Bioma Pampa ..............................................................................65
1.6.1.Localização ........................................................................65
1.6.2.Características naturais – biodiversidade ............................ 66
1.6.3.Os povos originários e a cultura – sociodiversidade .............67
1.6.4.A beleza, as fragilidades e os desafios do bioma Pampa ......69
1.6.5.Contextualização política ....................................................71
1.6.6.Contribuição eclesial ..........................................................72

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CAPÍTULO II – JULGAR .......................................................................73
1. Na Sagrada Escritura....................................................................73
2. Harmonia original: o mundo criado ...........................................73
3. A aliança rompida e o pecado ....................................................76
4. Tempos messiânicos: restauração de tudo em Cristo ..............77
5. Laudato Si’: ponto culminante de um caminho ....................... 80
6. Beato Paulo VI: a tomada de consciência do desafio ecológico ...81
7. São João Paulo II: ecologia e ética .............................................82
8. Bento XVI: a ecologia humana ................................................... 84
9. Francisco: uma ecologia integral ................................................85
10.Conclusão do Julgar .................................................................... 88

CAPÍTULO III – AGIR ...........................................................................91


1. O agir na Campanha da Fraternidade 2017 .............................91
2. O agir no bioma Amazônia .........................................................93
3. O agir no bioma Caatinga ......................................................... 94
4. O agir no bioma Cerrado ............................................................ 96
5. O agir no bioma Mata Atlântica ................................................97
6. O agir no bioma Pantanal ........................................................... 98
7. O agir no bioma Pampa .............................................................. 99

CONCLUSÃO GERAL ........................................................................101

CAPÍTULO IV ......................................................................................103
1. Natureza e histórico da Campanha da Fraternidade .............103
2. Objetivos permanentes da Campanha da Fraternidade: .......104
3. Os temas da Campanha da Fraternidade ................................104

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................127

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HINO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2017..........................134

ORAÇÃO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2017 ...................135

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LISTA DE SIGLAS
CIgC Catecismo da Igreja Católica
CV Caritas in Veritate, Carta Encíclica sobre o desenvolvimento
humano integral na caridade e na verdade, Bento XVI
EG Evangelii Gaudium, Exortação Apostólica sobre o anúncio
do Evangelho no mundo atual, Papa Francisco
LS Laudato Si’, Carta Encíclica sobre o cuidado da Casa
Comum, Papa Francisco
OA Octogesima Adveniens, Carta Apostólica por ocasião do 80º
aniversário da Rerum Novarum, Paulo VI
SRS Sollicitudo Rei Socialis, Carta Encíclica pelo vigésimo aniver-
sário da Encíclica Populorum Progressio, João Paulo II

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APRESENTAÇÃO
“Cultivar e guardar a criação”. (Gn 2,15)

Recebemos o dom da fé! Seguir Jesus Cristo, viver das palavras,


da vida, morte e ressureição, é graça. Cultivar a fé, exercitar-se é guar-
dar. Guardados, cuidados pelo dom do Seguimento de Jesus que trans-
forma e matura: plenitude da vida. Cultivar a fé e ser guardado pela fé
abre para o cuidado dos irmãos e de toda a obra criada.
A Quaresma nos provoca e convoca à conversão, mudança de
vida: cultivar o caminho do seguimento de Jesus Cristo. Os exercícios
do cultivo que a Igreja nos propõe, no tempo da Quaresma, são aque-
les que abrem nossa pessoa à graça do encontro: jejum, oração e esmola.
Jejum: esvaziamento, expropriação, libertação e não privação. O jejum
abre nossa pessoa para a receptividade da vida em Cristo. Oração:
súplica de exposição na tentativa de ser atingido pela misericórdia.
Esmola é partilha, o amor partilhado. Deixar-se tocar pela presença do
mendigo que cuida do doador.
Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de
conversão quaresmal, como itinerário do cultivo e do cuidado comu-
nitário e social. “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” é
o tema da Campanha para a Quaresma em 2017. O lema é inspira-
do no texto do Livro do Gênesis 2,15: “Cultivar e guardar a criação”.
A Campanha tem como objetivo geral: “Cuidar da criação, de modo
especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações
fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho”.
Bioma quer dizer a vida que se manifesta em um conjun-
to semelhante de vegetação, água, superfície e animais. Uma “pai-
sagem” que mostra uma unidade entre os diversos elementos da
natureza. “Um bioma é formado por todos os seres vivos de uma

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determinada região, cuja vegetação é similar e contínua, cujo clima é
mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum”
(Texto-Base CF 2017, Introdução).
Como é extraordinária a beleza e diversidade da natureza do
Brasil. Ao abordarmos os biomas brasileiros e lembrarmos dos povos
originários que neles habitam, trazemos à meditação a obra benfazeja
de Deus. Admirar a diversidade de cada bioma e criar relações respei-
tosas com a vida e a cultura dos povos que neles vivem!
Cultivar e guardar nasce da admiração! A beleza que toma o
coração faz com que nos inclinemos com reverência diante da criação.
A campanha deseja, antes de tudo, levar à admiração, para que todo o
cristão seja um cultivador e guardador da obra criada. Tocados pela
magnanimidade e bondade dos biomas, seremos conduzidos à con-
versão, isto é, a cultivar e a guardar.
A depredação dos biomas é a manifestação da crise ecológica que
pede uma profunda conversão interior. “Entretanto, temos de reco-
nhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos,
com o pretexto do realismo pragmático, frequentemente se omitem
das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se
decidem a mudar os seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes,
pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas rela-
ções com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro
com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de
opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte
essencial de uma existência virtuosa” (LS, n. 217).
Ao meditarmos e rezarmos os biomas e as pessoas que neles
vivem sejamos conduzidos à vida nova. Todos nós cristãos recebe-
mos o dom da fé e, na fé, somos despertados para o cultivo e cuida-
do. São Gregório Magno, em uma das suas homilias, perguntava-se:
“Que gênero de pessoas são aquelas que se apresentam sem hábito
nupcial? Em que consiste este hábito e como se pode adquiri-lo?”.
E a sua resposta é: “Aqueles que foram chamados e se apresentam,

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de alguma maneira, têm fé. É a fé que lhes abre a porta; mas falta-lhes
o hábito nupcial do amor. Cultivar e guardar tem a dinâmica do amor.
Somos convidados ao hábito do cuidado e do cultivo”.
O Ano Nacional Mariano celebra os 300 anos do encontro da
Imagem de Nossa Aparecida com os pescadores do rio Paraíba.
Encontro que desperta o cuidado e fortalece o cultivo. Cuidado com
o Mistério revelado e cultivo da familiaridade. Hoje, é o rio que pede
cuidado e cultivo.
Maria, Mãe de Jesus, nos acompanhe no caminho de conversão!
Jesus Cristo crucificado-ressuscitado que transformou todas as coisas
nos desperte para participação do cuidado com a obra criada!
A todos os irmãos e irmãs, todas as famílias e comunidades, uma
abençoada Páscoa!

Brasília, 6 de agosto de 2016


Festa da Transfiguração do Senhor

Dom Leonardo Ulrich Steiner


Bispo Auxiliar de Brasília - DF
Secretário-Geral da CNBB

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INTRODUÇÃO
1. Quando Pero Vaz de Caminha chegou à costa do território
brasileiro, maravilhou-se com tudo o que viu. Descreveu minuciosa-
mente os indígenas, a flora, a fauna e as águas que tinha diante dos
olhos. Estava de tal forma maravilhado que, ao final da carta, escreveu
literalmente ao rei de Portugal: “águas são muitas; infinitas. Em tal ma-
neira graciosa [a terra] que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo;
por causa das águas que tem!”.1
2. Alguns anos mais tarde, após a chegada dos colonizadores,
começa a ocupação e exploração do paraíso descrito por Pero Vaz de
Caminha. A princípio no litoral. E começa a extração do pau-brasil, a
árvore mais abundante que encontraram naquela imensa floresta, cuja
tintura extraída era levada para a Europa. A madeira também era uti-
lizada para fabricar móveis e instrumentos musicais. Para realizar esse
trabalho, começa a exploração e escravização das nações indígenas,
o sequestro de seus territórios, as dizimações por guerras e doenças.
Depois vieram os negros, também na linha da mão de obra escrava.
3. Com o avançar da história, começa o avanço para o interior do
nosso imenso território, seja pelo sul do país, pelo Pampa, seja pelos
leitos de diversos rios. Então, aventureiros, bandeirantes e outros con-
quistadores interiorizaram o Brasil. Mais tarde o próprio Imperador
chamou cientistas para decifrarem o que se tinha diante dos olhos.
Percebeu-se que esse território tem imensa variedades de formas de
vida, de florestas, de animais e de povos.
4. Em tempos mais recentes são delimitados e descritos os cha-
mados biomas brasileiros, com suas interfaces e ligações, mas guar-
dando características próprias de cada um. A expressão bioma vem de
“bio”, quem em grego quer dizer “vida” e “oma”, sufixo também grego

1 CAMINHA. Carta de Pêro Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, 1500. Disponível em:
http://www.memorialdodescobrimento.com.br/lingua_portuguesa/carta-de-pero-vaz-de-
-caminha-ao-rei-de-portugal/. Acesso em: 24/03/2016.

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que quer dizer “massa, grupo ou estrutura de vida”.2 Um bioma é “um
conjunto de vida (animal e vegetal) constituído pelo agrupamento de
tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com
condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudan-
ças, o que resulta em uma diversidade biológica própria”.3
5. Assim, um bioma é formado por todos os seres vivos de uma
determinada região, cuja vegetação é similar e contínua, cujo clima é
mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum.
Por isso, a diversidade biológica também é parecida.4 Há teses de sete
e até oito biomas, considerando os manguezais como um deles e outro
marinho, mas esse não é o reconhecimento oficial. No Brasil temos
seis biomas: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a
Caatinga e o Pampa. Nesses biomas vivem pessoas, povos, resultantes
da imensa miscigenação brasileira.
6. Hoje, mais de 500 anos depois da chegada dos colonizadores,
seria interessante nos perguntar: O que restou daquela floresta? O que
restou daqueles povos? O que restou daquelas águas? O que restou
daquela imensa biodiversidade que maravilhava os olhos? O ambiente
que vivemos interessa a todos os seres humanos, independentemente
de sua religião, credo, ou mesmo sem nenhum deles. Precisamos nos
perguntar qual destino estamos dando a tantas riquezas e qual Brasil
queremos deixar para as gerações futuras.
7. Nesse começo do 3º milênio, somos uma população de mais
de 200 milhões de brasileiros, 80% vivendo em cidades. O impacto
dessa concentração populacional sobre o meio ambiente produz di-
lemas que põem em risco as riquezas naturais. O avanço das tecnolo-
gias em todos os campos, tende a distanciar as pessoas dos problemas
socioambientais que estão ao seu redor. Os povos que perderam seus
territórios, tantas vezes dados por extintos, reivindicam seu lugar na

2 BIOMA, 2016.
3 IBGE. Mapa de Biomas e de Vegetação, 2004. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/
presidencia/noticias/21052004biomashtml.shtm. Acesso em: 06/04/2016.
4 MALVEZZI. Semiárido: Uma Visão Holística. Brasília: CONFEA/CREA, 2007.

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sociedade, sua cidadania, com a prerrogativa de viverem conforme
suas leis e suas tradições, sendo plenamente reconhecidos como bra-
sileiros. Além do mais, pertencemos a uma mesma casa comum, con-
dividindo esse planeta com sete bilhões de pessoas e bilhões e bilhões
de seres vivos. Somos cidadãos globais. Esse fato implica que a tensão
entre a economia e a ecologia se colocou como o maior desafio para
a humanidade. É de sua equação harmônica que depende o futuro da
humanidade e de todos os seres vivos que habitam a Terra.
8. O Papa Francisco, no início de sua carta encíclica Laudato Si’,
diz que escolheu o nome de Francisco também por razões ecológi-
cas. A proposta ecológica do Papa é integral, entrelaçando todas as
dimensões do ser humano com a natureza. Para ele, cada criatura tem
sua mensagem, que precisa ser respeitada e entendida. Mas todas elas
estão interligadas. Toda a Laudato Si’ é um hino de espanto maravilha-
do diante da natureza criada que nos fala de Deus, que é um dom de
Deus, da qual nós seres humanos somos parte integrante, mas também
seus zeladores e cultivadores. O Papa Francisco também nos coloca
diante dos desafios colossais enfrentados pela humanidade, que está
em uma verdadeira encruzilhada, em uma mudança de época.
9. A Igreja Católica já há algum tempo tem sido uma voz profé-
tica a respeito da questão ecológica. Não apenas tem chamado a aten-
ção para os desafios e problemas ecológicos, como tem apontado suas
causas e, principalmente, tem apontado caminhos para sua superação.
As Igrejas particulares, Comunidades Eclesiais de Base, Pastorais
Sociais, Semanas Sociais Brasileiras, Fóruns das Pastorais Sociais, o
Grito dos Excluídos, muito se aproximaram do nosso povo para de-
fender seus direitos e para promover a convivência harmônica com o
meio ambiente em todo o Brasil.
10. Vamos, então, de forma simples, abordar cada um de nos-
sos biomas, com seus respectivos povos, sua situação atual, procurar
entender suas características e problemas fundamentais. À luz da fé,
nos interrogaremos sobre o significado dos desafios apresentados
pela situação atual dos biomas e dos povos que neles vivem. No agir,

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abordaremos as principais iniciativas já existentes para manutenção de
nossa riqueza natural básica. Apontaremos propostas sobre o que po-
demos e devemos fazer em respeito à criação que Deus nos deu para
“cultivá-la e guardá-la”.

Objetivo geral
Cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons
de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos
povos, à luz do Evangelho.

Objetivos específicos
 Aprofundar o conhecimento de cada bioma, de suas belezas, de
seus significados e importância para a vida no planeta, particular-
mente para o povo brasileiro.
 Conhecer melhor e nos comprometer com as populações origi-
nárias, reconhecer seus direitos, sua pertença ao povo brasilei-
ro, respeitando sua história, suas culturas, seus territórios e seu
modo específico de viver.
 Reforçar o compromisso com a biodiversidade, os solos, as águas,
nossas paisagens e o clima variado e rico que abrange o chamado
território brasileiro.
 Compreender o impacto das grandes concentrações populacio-
nais sobre o bioma em que se insere.
 Manter a articulação com outras igrejas, organizações da socie-
dade civil, centros de pesquisa e todas as pessoas de boa vontade
que querem a preservação das riquezas naturais e o bem-estar do
povo brasileiro.
 Comprometer as autoridades públicas para assumir a responsa-
bilidade sobre o meio ambiente e a defesa desses povos.
 Contribuir para a construção de um novo paradigma econômico
ecológico que atenda às necessidades de todas as pessoas e famí-
lias, respeitando a natureza.
 Compreender o desafio da conversão ecológica a que nos chama
o Papa Francisco na carta encíclica Laudato Si’ e sua relação com
o espírito quaresmal.

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A Igreja no Brasil e o cuidado da casa comum

A Quaresma e a Campanha da Fraternidade


11. A Quaresma é o tempo que nos encaminha para a Páscoa.
“A liturgia quaresmal prepara para a celebração do mistério pascal
tanto dos catecúmenos, fazendo-os passar por diversos degraus da
iniciação cristã, como os fiéis que recordam o próprio Batismo e fa-
zem penitência”.5 É um tempo em que fazemos caminho para a Páscoa,
motivados pela Palavra e unidos aos sentimentos de Jesus Cristo, cul-
tivando a oração, o amor a Deus e a solidariedade fraterna.
12. “Convertei-vos e crede no Evangelho”! A Quaresma é
um tempo forte de penitência e de mudança de vida (metanóia),
que nos insere no mistério de Cristo, que se traduz na retomada
do rumo de Deus, segundo a imagem da parábola do filho pródigo.
Conversão que possibilita o retorno da dispersão para a nascente
inesgotável da vida, que é a Páscoa de Jesus. Neste horizonte a Igreja
reza: “Dai-nos, no tempo aceitável, um coração penitente, que se
converta e acolha o vosso amor paciente”.6
13. O insistente apelo à penitência e conversão não se apresenta
na dinâmica da “tristeza”, mas de uma “sóbria alegria”, alimentada pela
esperança. “Vós concedeis, Senhor, aos cristãos esperar com alegria,
cada ano, a festa da Páscoa”.7 Quaresma é tempo de conversão, por isso
tempo de intensa alegria. Alegria, porque iniciamos nossa caminhada
rumo a Páscoa do nosso Salvador Jesus. Se, por um lado, a recordação
do sofrimento de Jesus com sua morte na cruz produz em nós uma dor,
a Ressurreição nos traz a certeza da vitória e a Quaresma passa a ser um
tempo de alegria, pois nos aproxima de Deus e dos nossos irmãos.
14. A Quaresma, isto é, quarenta dias, é um tempo de graça e de
bênção, marcado pela escuta da Palavra de Deus; de reconciliação com

5 Normas Universais do Ano Litúrgico e do Calendário Romano Geral, n. 27.


6 Hino de Laudes.
7 Prefácio da Quaresma, n. 1.

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Deus e com os irmãos. Tempo de oração, de jejum como disponibilida-
de, entrega e docilidade à vontade do Pai; de partilha de bens e de ges-
tos solidários, de atenção misericordiosa com os pobres e necessitados.
15. Na Quaresma a liturgia despe-se dos seus aleluias e glórias,
convidando-nos a à sobriedade e ao despojamento do supérfluo. A um
tempo de germinação silenciosa e profunda iluminada pela esperança
e expectativa. Neste tempo somos convidados a reencontrar o nosso
verdadeiro rosto em um esforço de autenticidade e lucidez, na oração e
na caridade, para que, modelados à imagem de Cristo, sejamos capazes
a uma comunhão mais profunda no seu mistério de morte e ressurrei-
ção. Mistério que não está fora de nós. Ele é o que nós somos e o que
somos convidados a ser. A nossa cruz não é outra senão a de Cristo, é
o seu amor em nós que a carrega. A nossa verdadeira vida é a vida do
Ressuscitado em nós. Se a liturgia nos conduz pelos passos de Cristo é
para nos ensinar o caminho que também é nosso. Procuremos, portan-
to, estar em sintonia com o espírito da liturgia deste tempo e acolher a
seiva de vida que ela nos oferece.
16. A caminhada quaresmal, com suas características de penitên-
cia, conversão e redescoberta da graça do Batismo, estimula e acompa-
nha o processo do nosso crescimento na vida cristã, segundo as poten-
cialidades e a vocação recebidas no Batismo. O tempo da Quaresma,
como momento de renovação da vida cristã através do itinerário batis-
mal que o envolve, é um bom momento de salientar a importância da
Iniciação à Vida Cristã em nossa caminhada eclesial.
17. A Quaresma, no ciclo do Ano A, tem como pano de fundo
o tema sacramental e batismal, pelo qual permite-nos compreender
a realidade da nossa vida de fé: iniciação à vida cristã. Os textos dos
exercícios batismais ou escrutínios, presentes no Ritual de Iniciação
Cristã de Adultos deixam bem claro essa ligação com aquilo que o
catecúmeno deve viver com a temática desenvolvida no Evangelho
de João do III ao V domingo (Revelação pessoal, Luz do mundo e
Ressurreição e Vida): o Senhor faz passar da morte para a vida.

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18. A Quaresma lembra que não podemos esquecer do pri-
meiro aspecto de sua origem: preparação dos catecúmenos para o
recebimento dos sacramentos da iniciação cristã, os chamados sa-
cramentos iniciais de inserção na comunidade de fé. O caminho de
conversão apresentado então a estes catecúmenos é simbolizado por
um tempo de reconciliação.
19. A Campanha da Fraternidade quer ajudar a construir uma
cultura de fraternidade, apontando os princípios de justiça, denun-
ciando ameaças e violações da dignidade e dos direitos, abrindo cami-
nhos de solidariedade. A vida fraterna é a síntese do Evangelho quanto
às relações humanas e testemunha a nossa dignidade como verdadei-
ros filhos e filhas de Deus.
20. A Campanha acontece no tempo forte da Quaresma. Neste
tempo litúrgico a prática da esmola, da oração, do jejum, a conversão
e a Campanha da Fraternidade tornam-se oportunidades de experi-
mentar a espiritualidade pascal capaz de gerar, ao mesmo tempo, a
conversão pessoal, comunitária e social. A Campanha da Fraterni-
dade de 2017 se apresenta como um instrumento à disposição das
comunidades cristãs e de todas as pessoas de boa vontade para en-
frentar, com consciência crítica, o lema: “Cultivar e guardar a criação”
(Gn 2,15), com o tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa
da vida”. Uma pessoa de fé que faz sua caminhada quaresmal rumo
à Páscoa, ao tomar consciência da realidade do como são tratados os
biomas brasileiros, não poderá ficar indiferente.
21. A Campanha da Fraternidade é uma verdadeira iniciação à fé
e à sua prática. A conversão quaresmal é, ao mesmo tempo, um voltar-
-se para Deus, para o próximo e para a vida da criação que nos cerca.
O enfoque da Iniciação à Vida Cristã da Quaresma próprio do ciclo do
Ano A, ressalta que a conversão e a adesão à vida de fé em Jesus Cristo
implicam uma nova postura diante da realidade em que se encontra a
vida nos diversos biomas brasileiros. Como é que alguém poderá cele-
brar a Páscoa ou os sacramentos que o inserem no mistério de Cristo
alheio à vida da criação na qual está mergulhado e que o sustenta?

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22. A celebração dos sacramentos da Iniciação Cristã, não deve
ser vista como ponto de chegada, mas de partida. A mistagogia, pro-
priamente dita, constituí o último tempo da Iniciação à Vida Cristã.
É momento de aprofundar as experiências sacramentais, no exercício
da caridade e das práticas cristãs. Nesta perspectiva, a Campanha da
Fraternidade auxilia os catecúmenos no processo de conversão e no
testemunho de fé na relação com as pessoas e no cuidado da criação
(com a vida que constitui os biomas brasileiros).

A história dos temas coligados com a CF 2017


23. A Igreja Católica, presente no território brasileiro, sem-
pre está atenta aos sinais dos tempos, na sua Ação Evangelizadora.
A Campanha Fraternidade tem contribuído muito e, desde 1979,
a Igreja tem se voltado para a situações existenciais do nosso povo e
que abordaram temáticas socioambientais.
24. A Campanha da Fraternidade deste ano de 2017 está coliga-
da com algumas campanhas:
25. Em 1979, com o tema: “Por um mundo mais humano” e o
lema: “Preserve o que é de todos”, a Igreja Católica apresentava à so-
ciedade brasileira sua preocupação com as questões ambientais e com
o comportamento humano diante da natureza. Não diferente desta
Campanha, mas fazendo uma “leitura” dos sinais e do comportamen-
to humano, a Igreja abordou com profetismo a defesa e a preservação
da ecologia como um dos grandes desafios da humanidade.
1986 – Fraternidade e a terra – Terra de Deus, terra de irmãos: “A terra que
é dom de Deus a todos os seus filhos e filhas está mal distribuída.
Nas regiões indígenas, na zona rural e nas cidades é causa de ter-
ríveis sofrimentos, miséria, migração, fome, violência e mortes”.8

8 CNBB. Campanha da Fraternidade 1986: Manual. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco,
1985, p. 5.

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2004 – Fraternidade e a água – Água, fonte de vida: “Conscientizar
a sociedade de que a água é fonte de vida, uma necessidade de
todos os seres vivos e um direito da pessoa humana e mobilizá-la
para que esse direito à água com qualidade seja efetivado para as
gerações presentes e futuras”.9
2007 – Fraternidade e Amazônia – Vida e missão neste chão: “Conhe-
cer a realidade em que vivem os povos da Amazônia, sua cultura,
seus valores e agressões que sofrem por causa do atual modelo
econômico e cultural, e lançar um chamado à conversão, à soli-
dariedade, a um novo estilo de vida e a um projeto de desen-
volvimento à luz dos valores evangélicos, seguindo a prática de
Jesus no cuidado com a vida humana, especialmente a dos mais
pobres, e com a natureza”.10
2011 – Fraternidade e a vida no planeta – A criação geme em dores de
parto (Rm 8,22): “Contribuir para a conscientização das comu-
nidades cristãs e pessoas de boa vontade sobre a gravidade do
aquecimento global e das mudanças climáticas, e motivá-las a
participar de ações que visam enfrentar o problema e preservar
as condições de vida no planeta”.11
2016 – Casa Comum, nossa responsabilidade – Quero ver o direi-
to brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca
(Am 5,24): “Assegurar o direito ao saneamento básico para todas
as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas
e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro da
nossa Casa Comum”.12

9 CNBB. Campanha da Fraternidade 2004: Manual. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco,
2003, p. 13.
10 CNBB. Campanha da Fraternidade 2007: Manual. Brasília: Edições CNBB, 2006, p. 31.
11 CNBB. Campanha da Fraternidade 2011: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2010, p. 14.
12 CONIC. Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB,
2015, p. 11.

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26. Com temática em relação à vida de nossos povos, tivemos al-
gumas campanhas:
1988 – A Fraternidade e o negro – Ouvi o clamor deste povo: “Ouvir o
clamor do povo negro e a ele unir-se na busca da ‘Terra Prometi-
da’, onde se possa viver, sem discriminações, a justiça, a liberda-
de e a paz. É uma oportunidade para os negros continuarem na
luta por seus direitos e pelo reconhecimento de sua dignidade,
cultura e de sua contribuição na construção do Brasil”.13
1995 – A Fraternidade e os excluídos – Eras tu, Senhor?: “Olharmos ao
nosso redor, observar as ruas de nossas cidades com mendigos,
os menores de rua, os que pedem esmolas, idosos, portadores do
vírus HIV, drogados, desempregados, doentes e tantos outros.
Sentir a complexidade da vida dessa gente sofrida e as manobras
que fazem para sobreviver. Precisamos buscar ações de miseri-
córdia, assumindo as dores do próximo”.14
1999 – Fraternidade e os desempregados – Sem trabalho... Por quê?: “Con-
tribuir para que a comunidade eclesial e a sociedade se sensibilizem
com a grave situação dos desempregados, conheçam as causas e as
articulações que a geram e as consequências que dela decorrem”.15
2002 – Fraternidade e os povos indígenas – Por uma terra sem males:
“Esta campanha ao tratar dos povos indígenas recorda-nos que
nós podemos aprender das culturas indígenas como, por exem-
plo, o sentido comunitário da vida, a valorização da terra como
fonte de recursos para a sobrevivência humana, o estilo de vida
sóbrio e solidário”.16

13 CNBB. Campanha da Fraternidade 1988: Manual. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco,
1987, p. 83.
14 CNBB. Campanha da Fraternidade 1995: Manual. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco,
1994, p. 69.
15 CNBB. Campanha da Fraternidade 1999: Manual. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco,
1998, p. 13.
16 CNBB. Campanha da Fraternidade 2002: Manual. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco,
2001, p. 8.

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CAPÍTULO I – VER
1. Os biomas brasileiros

Mapa dos biomas

Fonte de dados: IBGE e MMA (2004)

1.1. Bioma Amazônia


27. A Amazônia é o maior bioma do Brasil. Geograficamente é
formada pelos estados da região Norte: Acre, Amapá, Amazonas, Pará,
Roraima, Rondônia e Tocantins. Mas o bioma avança para os estados
do Mato Grosso e Maranhão.

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1.1.1. Localização RR
AP

28. Por este motivo e para AM PA


CE
fins administrativos e de planeja- MA

PT
RN
PB
PE
mento econômico, a Lei n. 1.806, AC
RO
TO
SE
AL

BA
MT
de 1953, incorporou parte dos GO

territórios do Maranhão e do MS
MG
ES

Mato Grosso à Amazônia, crian- SP RJ


PR
do assim o que se chamou de SC

Amazônia Legal. Este território RS

com 5.217.423 km2, representa Fonte de dados: Projeto de monitoramento do desma-


61% do território brasileiro. tamento dos Biomas Brasileiros por satélite (PMDBS)

29. A Panamazônia (países que têm a floresta amazônica) trans-


cende os limites brasileiros e está também no território da Colômbia,
do Peru, da Venezuela, do Equador, da Bolívia, do Suriname, da
Guiana Francesa e da Guiana Inglesa.
1.1.2. Características naturais – biodiversidade
30. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2016): “A
Amazônia é quase mítica: um verde e vasto mundo de águas e florestas,
onde as copas de árvores imensas escondem o úmido nascimento, repro-
dução e morte de mais de um terço das espécies que vivem sobre a Terra”.17
A Amazônia também contém campos naturais e vegetação de altitude por
também atingir os Andes, onde muitos rios amazônicos nascem.
31. Os números são igualmente monumentais. O bioma amazô-
nico, excluindo o restante da Amazônia Legal e da Panamazônia é as-
sim mesmo o maior bioma do Brasil: em um território de 4.196.943
milhões de km2,18 crescem em torno 2.500 espécies de árvores
(ou um terço de toda a madeira tropical do mundo) e 30 mil espécies
de plantas (das 100 mil da América do Sul). É o que se chama de

17 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA. Amazônia. Disponível em: http://www.mma.


gov.br/biomas/amaz%C3%B4nia. Acesso em: 16/03/2016.
18 IBGE. Mapa de Biomas e de Vegetação, 2004. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/
presidencia/noticias/21052004biomashtml.shtm. Acesso em: 06/04/2016.

24

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região megadiversa.19 Mais de 4.200 espécies animais foram conta-
bilizadas, mas sabe-se que uma grande parte das espécies ainda não
foram catalogadas.20
32. Com a mesma grandeza e diversidade das formas de vida no
bioma Amazônico, são também seus povos originários, eles são os res-
ponsáveis por esse pulmão da mãe terra continuar resistindo, eles são
as principais riquezas riqueza deste bioma.
33. “A bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo:
cobre cerca de 6 milhões de km2 e tem 1.100 afluentes. Seu principal
rio, o Amazonas, corta a região para desaguar no Oceano Atlântico, lan-
çando ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a cada segundo”.21
Ele também carrega uma quantidade imensa de material orgânico e
sedimentos que são lançados no oceano, gerando biodiversidade ma-
rinha e contribui para o equilíbrio da temperatura do planeta.
34. Existe ainda um Amazonas debaixo do chão, o aquífero Alter
do Chão, tão imenso quanto o rio de superfície. Mas, não é só. A eva-
potranspiração da floresta produz o chamado rio aéreo que leva água
em forma de vapor pela região Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil,
transcendendo as fronteiras e indo até a Argentina.
35. Além do ciclo das águas, o bioma tem fundamental impor-
tância para o ciclo do carbono. O ciclo do carbono começa pela ab-
sorção do gás carbônico do ar principalmente pelas plantas, quando
elas realizam a fotossíntese. Depois, quando os animais herbívoros
(que comem vegetação) ingerem esses alimentos, acabam liberando no-
vamente no ar o carbono que tinha sido absorvido pelas plantas. Outras
parcelas do carbono são utilizadas na decomposição dos seres vivos
quando morrem.22 As queimadas e a utilização de combustíveis fósseis

19 Idem.
20 FLORESTA AMAZÔNICA. Biodiversidade da Amazônia. Disponível em: http://floresta-
-amazonica.info/biodiversidade-da-amazonia.html. Acesso em: 17/03/2016.
21 Idem.
22 BIOMANIA. O ciclo do carbono. Disponível em: http://www.biomania.com.br/conteudo.
asp?cod=3959. Acesso em: 16/05/2016.

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também liberam novamente o gás carbônico na atmosfera. Ambas cau-
sam desequilíbrio no ambiente e contribuem para o aquecimento global.
36. As estimativas situam a região como a maior reserva de ma-
deira tropical do mundo. Seus recursos naturais – que, além da madei-
ra, incluem enormes estoques de borracha, castanha, peixe e minérios,
por exemplo – representam uma abundante fonte de riqueza natural.
A região abriga também grande riqueza cultural, incluindo o conhe-
cimento tradicional sobre os usos e a forma de explorar esses recur-
sos naturais sem esgotá-los nem destruir o hábitat natural.23 O bioma
Amazônico também contribui com seus recursos para a biomedicina.
37. Toda essa grandeza não esconde a fragilidade do ecossistema
local. A floresta vive a partir de seu próprio material orgânico, e seu de-
licado equilíbrio é extremamente sensível a quaisquer interferências.
Os danos causados pela ação humana são muitas vezes irreversíveis.
38. Pela sua riqueza, a Amazônia é ambicionada tanto em nível
interno como por forças externas. Muito do futuro da humanidade
passa pela Amazônia. A riqueza natural da Amazônia se contrapõe
dramaticamente aos baixos índices socioeconômicos da região, de bai-
xa densidade demográfica e crescente urbanização. Desta forma, o uso
dos recursos florestais é estratégico para o desenvolvimento da região.
39. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
(2016), houve uma redução no processo de desmatamento da
Amazônia, contudo, seu estancamento está longe de acontecer e ela já
acumula com sofrimento 700.000 km2 de desmatamento. Existe um
limite nesse desmatamento que, uma vez ultrapassado, a floresta se de-
sintegrará automaticamente como que por efeito dominó. Essa seria a
maior tragédia ambiental do país, inclusive do mundo, e incalculável
para o ciclo de carbono do planeta. As políticas governamentais de
incentivos às hidrelétricas, mineração e agronegócio tendem a anular
as iniciativas em prol de sua preservação.

23 FLORESTA AMAZÔNICA. Biodiversidade da Amazônia. Disponível em: http://floresta-


-amazonica.info/biodiversidade-da-amazonia.html. Acesso em: 17/03/2016.

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40. Na Amazônia Legal, segundo o censo de 2010,24 vivem apro-
ximadamente 24 milhões de pessoas. Cerca de 80% dessa população
vive no meio urbano, com todos os problemas daí derivados, de au-
sência de saneamento básico, aglomeração nas periferias, insalubrida-
de, desemprego e outras mazelas de uma concentração urbana desre-
gulada. Essa também muito contribuiu para o êxodo rural.
1.1.3. Os povos originários e a cultura – sociodiversidade
41. O processo do chamado desenvolvimento da Amazônia é um
exemplo mais que claro de como ele se deu como reprodução do siste-
ma colonialista que presidiu a formação do Brasil, a partir da chegada
dos portugueses em 1500 e na Amazônia a partir de 1600. Essa repro-
dução ficou evidente, em 1970, quando da abertura e construção da
Transamazônica. A estrada tinha como objetivo “levar homens sem-
-terra, para uma terra sem homens”.
42. As populações locais, indígenas, posseiros, ribeirinhos, se-
ringueiros, quilombolas e toda uma infinidade de comunidades não
tinham importância nesse processo. E, desde esse período até os dias
de hoje, ainda são consideradas um entrave e empecilho ao dito desen-
volvimento e progresso. Essas populações locais passaram a sofrer as
mais diversas formas de pressão para abrir caminho para o “desenvolvi-
mento e o progresso” que chegava do Sul e do Sudeste para “redimir” a
Amazônia do “atraso” em que vivia. Estava instaurado um novo período
colonial no Brasil, a Amazônia se tornava a mais nova colônia do Brasil.
43. Há décadas os conflitos pelo território estão marcando toda a
região amazônica. As populações tradicionais defendem seus direitos
seculares, querem ter seus territórios reconhecidos e legalizados. São his-
tóricas as lutas indígenas pela demarcação de suas terras e de seus lagos.
44. Os ribeirinhos buscam e estão, aos poucos, conseguindo a
concessão comunitária do uso de suas terras. As populações negras
querem que seu território étnico seja reconhecido e demarcado.

24 IBGE. Censo 2010. Disponível em: http://censo2010.ibge.gov.br/.

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Seringueiros e castanheiros buscam a criação das reservas extrativis-
tas. Colonos e posseiros exigem que seus lotes sejam devidamente ti-
tulados. Populações sem-terra lutam por uma reforma agrária que aca-
be com o latifúndio e para que os governos destinem as terras públicas
e devolutas à criação de novos assentamentos, a partir da realidade
amazônica, com políticas públicas eficazes para seu funcionamento.
45. Os conflitos e a violência contra os trabalhadores(as) do
campo que aconteciam e ainda acontecem em todo o Brasil se con-
centram de forma expressiva na Amazônia, para onde avança o capi-
tal, tanto nacional quanto internacional. Em muitos desses latifúndios
amazônicos se constatou trabalho escravo.
46. Algumas aglomerações urbanas são nada mais que nações
indígenas inteiras vivendo nas periferias das grandes cidades. Como
nas demais periferias urbanas do Brasil, são espaço de insalubridade,
de pobreza, muitas vezes do tráfico de pessoas e de drogas, de explora-
ção sexual, inclusive de menores. As populações urbanas querem uma
vida digna nas cidades.
1.1.4. A beleza, as fragilidades e os desafios do bioma Amazônia
47. A Amazônia, por sua riqueza em águas e biodiversidade, é
cobiçada por corporações do Brasil e do mundo inteiro, cada uma
em seu respectivo ramo: água, fármacos, essências, minérios, sabe-
res ancestrais das populações etc. Grandes madeireiras e serrarias
conseguem aprovar propostas de Manejo Florestal junto ao Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) e às Secretarias Estaduais de Meio Ambiente, mas somente
para retirar as árvores nobres da floresta, inclusive de áreas de reserva,
terras indígenas e parques nacionais.
48. O manejo florestal passou a ser uma atividade na qual foram
inúmeras as denúncias de trabalho escravo. Inclusive alguns projetos
de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal
(REDD), da chamada economia verde, têm sido acusados de provocar
perda de controle de territórios tradicionais, impactos na segurança

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alimentar (comunidades impedidas de fazer roça, pescar), êxodo ru-
ral, medo, insegurança, empobrecimento. Em alguns lugares provo-
cando divisões e graves conflitos no interior das comunidades, como
nos indígenas Surui de Cacoal, em Rondônia.
49. A expropriação privada de grandes áreas de terra continua
sendo a principal causa do desmatamento, que financiada pela extração
ilegal de madeira, tem por principal objetivo a grilagem de terras e o
avanço da fronteira agrícola à custa da floresta amazônica. A pecuária
é a principal atividade implantada nas áreas recentemente desmatadas.
Após alguns anos, as pastagens sofrem com a degradação dos solos, pri-
vados da recomposição e proteção das florestas.
50. A dificuldade de regeneração das pastagens empurra a pe-
cuária para novas frentes de desmatamento. As áreas degradadas
pela pecuária passam a ser ocupadas pelas monoculturas de soja, ar-
roz e milho que seguem no rastro da pecuária, substituindo o gado.
As terras de pior qualidade são ocupadas pelo plantio de madeiras
exóticas, como o pinus, a teca e o eucaliptos. Este processo já causou
o desaparecimento de centenas de igarapés e mananciais, sem con-
tar o adoecimento de populações inteiras, devido ao uso abusivo de
agrotóxicos para as monoculturas.
51. A construção de grandes hidrelétricas e a atividade de minera-
ção são responsáveis por boa parte dos danos ambientais e sociais nas
comunidades, inclusive com o desmatamento, que alimenta a indústria
siderúrgica. Portanto, a preservação da Amazônia, atacada em todos os
sentidos, é de interesse do povo brasileiro e de toda a humanidade.
1.1.5. Contextualização política
52. O problema fundamental da Amazônia é o modelo de de-
senvolvimento adotado para a região. Ignorando a vocação da floresta,
seu papel no clima, no ciclo do carbono, a fragilidade de seus solos,
a contribuição para os demais biomas brasileiros, sobretudo no ciclo
das águas, o avanço desse modelo tem sido um desastre denunciado
no mundo inteiro.

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53. A disputa pelas riquezas faz com que a legislação flutue con-
forme os interesses das corporações econômicas que atuam na região.
As monoculturas, a pecuária intensiva, a mineração, sempre precedidas
do desmatamento, atacam o fundamento da sustentabilidade da floresta.
54. A concentração urbana indica que a vida na floresta muitas
vezes é inviabilizada para as populações originárias e tradicionais.
Todas as lutas indígenas, de ribeirinhos, de quilombolas é sempre um
passo a cada dia para manter seus territórios. Porém, mesmo contra
a corrente do modelo, é graças a essas populações que ainda temos
grande parte da floresta em pé. O Brasil, o mundo, muito devem à re-
sistência dessas populações que até agora conseguiram evitar o pior
para o bioma Amazônia.
55. É preciso reconhecer que a Amazônia contribui para o equi-
líbrio do planeta com a sua identidade própria. Ela fornece umidade,
produtos tropicais, oxigenação etc. O atual modelo econômico quer
reduzir esse bioma às mesmas características dos outros violentando-o
a produzir o que ele não suporta.
1.1.6. Contribuição eclesial
56. A Igreja Católica na Amazônia Legal vive e cresce com carac-
terísticas próprias, enraizadas na sabedoria tradicional e na piedade
popular que durante séculos alimentou e continua a manter viva a es-
piritualidade dos povos da floresta e das águas, e agora, do mundo ur-
bano. A Igreja presente na Amazônia é marcada, entre distintos traços,
pelo testemunho de inúmeros mártires. Diversos leigos, sacerdotes,
religiosos e religiosas derramaram seu sangue em nome da dimensão
sociotransformadora da fé, cuja defesa dessas populações e do meio
ambiente foram seu principal esforço.
57. Mesmo antes da criação da Amazônia Legal (1953), a Igreja
Católica na Amazônia se reunia através dos seus bispos para posicio-
nar-se pastoralmente diante dos problemas sofridos pelos povos desta
região e enfrentar os grandes desafios que se anunciavam, pelas inter-
venções políticas e econômicas.

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58. Em 1972, no contexto da ditadura e do surgimento de proje-
tos macroeconômicos para a região amazônica, foi criado o Conselho
Indigenista Missionário (CIMI) para coordenar e intensificar a pre-
sença da Igreja em apoio e defesa dos povos indígenas frente aos pro-
blemas enfrentados na região. Neste mesmo contexto, em 1975, foi
criada a Comissão Pastoral da Terra (CPT), durante o Encontro de
Bispos e Prelados da Amazônia, convocado pela Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), realizado em Goiânia (GO). Mais re-
centemente, foi fundada a Rede Eclesial Panamazônica (REPAM). A
REPAM é um organismo de articulação e comunhão que busca estrei-
tar os laços de colaboração e alcançar uma visão comum do trabalho
missionário e evangelizador na região.

1.2. Bioma Caatinga


1.2.1. Localização
59. A Caatinga encontra-se en-
volvida pelo clima semiárido, entre
MA CE RN
a estreita faixa da Mata Atlântica e o
Cerrado. O semiárido abrange uma área PB
PT
PE
de 969.589,4 km2. O semiárido abran-
AL
ge predominantemente territórios de TO SE
8 estados do Nordeste,25 mais o Norte BA
de Minas Gerais, circunscrevendo
1.135 municípios, onde vivem cerca de GO
27 milhões de pessoas. Estas pesso-
as representam 46% da população do MG
Nordeste e 13,5% da população brasi- Fonte de dados: Projeto de monitoramento do desmata-
leira. Por sua vez, a Caatinga cobre mais mento dos Biomas Brasileiros por satélite (PMDBS)
de 90% desse território, com uma extensão de 844.453 km2.26 É im-
portante observar que o semiárido, clima deste bioma, é relativamente
mais amplo que a própria Caatinga.

25 Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe.
26 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Caatinga. Disponível em: www.mma.gov.br/biomas/
caatinga. Acesso em: 02/05/2016.

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1.2.2. Características naturais – biodiversidade
60. Caatinga é uma palavra originária do tupi-guarani, que signi-
fica mata branca. A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasilei-
ro. Tem um clima semiárido e é o semiárido mais chuvoso do planeta.
Trata de um bioma rico de vida inteligente, adaptada ao clima semi-
árido. Ela é tão rica que alguns especialistas falam em “caatingas”, no
plural, para identificar sua imensa biodiversidade.27
61. Em tempos de seca, a Caatinga “dorme”, hiberna, poupa água
e energia, para voltar à vida plena durante as primeiras chuvas. A “res-
surreição anual da Caatinga” é um dos espetáculos mais belos ofere-
cidos pelos biomas brasileiros. Muitas plantas, como o umbuzeiro,
guardam água em suas raízes, para poder se utilizar dela em tempos de
falta da chuva. As árvores secas e retorcidas, como também os cactos
de folhas fibrosas, não são sinais de pobreza, mas de vida, que soube se
adaptar ao clima semiárido.
62. Observa-se que o regime de chuvas, oscilante entre
300 mm/ano (mínimo) e 800 mm/ano (máximo), faz com que cerca de
750 bilhões de m3 de água caiam nesse território todos os anos. Entre-
tanto, a capacidade de armazenamento de água é de apenas 36 bilhões
de m3, mesmo com toda infraestrutura construída pelo Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Isso significa que há
uma perda média de mais de 700 bilhões de m3 todos os anos.
63. Com 70% do seu subsolo formado por rochas cristalinas,
o bioma Caatinga tem poucas nascentes e rios perenes, portanto,
poucos aquíferos. O maior deles é o rio São Francisco, que nasce no
Cerrado mineiro, e é alimentado pelas águas dos rios que nascem
no Cerrado do Oeste Baiano. Observa-se que cerca de 30% da re-
gião tem o subsolo formado por rochas sedimentares, o que favore-
ce o armazenamento da água em aquíferos, como é o caso da região
do Gurgueia, no Piauí. Nesta região, as águas subterrâneas ainda

27 SIQUEIRA FILHO, José Alves (org.). A flora das caatingas do Rio São Francisco: história
natural e conservação. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson, 2012.

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são abundantes, mesmo com a destruição da vegetação, que coloca
em risco a sustentabilidade desses aquíferos. Se isso não bastasse,
99% dos rios que cortam a Caatinga são intermitentes, correndo ape-
nas em época de chuva. O fato gera equívocos à população em geral,
que julga serem os rios secos um problema de falta de chuva.
64. Com o que diz respeito à fauna, o bioma da Caatinga abriga
178 espécies de mamíferos, 591 tipos de aves, 177 tipos de répteis, 79
espécies de anfíbios, 241 classes de peixes, e 221 espécies de abelhas.28
1.2.3. Os povos originários e a cultura – sociodiversidade
65. Este bioma, com seu clima e vegetação, plasmou sobrema-
neira a formação e a vida social do povo da Caatinga. Podemos cons-
tatar uma maior influência das matrizes étnicas indígena e branca. Ini-
cialmente, possuíam um modo de vida pastoril, marcado pela criação
do boi de serviço e produção do couro, do qual retiravam tudo que
necessitavam. Posteriormente, este povo criador de gado sedimentou-
-se através do cultivo do algodão arbóreo (mocó), espécie que desper-
tava interesse internacional, e, facilmente, adaptada ao semiárido da
Caatinga. Posteriormente, foi desenvolvida a cultura do extrativismo
das palmeiras da carnaúba, a produção de cera e os artefatos de palha.
66. A sabedoria popular na Caatinga encontrou uma nova lógica
e meios para nela sobreviver. Hoje, o paradigma da “convivência com
o semiárido” facilitou essa permanência. Existem inúmeras comuni-
dades tradicionais, como as 300 associações de “Fechos ou Fundos de
Pasto”,29 e mais de 30 nações indígenas nesta convivência do clima se-
miárido com a vegetação da Caatinga. Estas comunidades lutam pela
demarcação de seus territórios, o reconhecimento de seus direitos e
a plena cidadania. Aproximadamente 40% da população ainda está
no meio rural, sendo considerada a região mais ruralizada do Brasil.

28 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Caatinga. Disponível em: www.mma.gov.br/biomas/


caatinga. Acesso em: 02/05/2016.
29 É um modo tradicional de vida comunitária, cuja gestão da terra e de outros recursos naturais
articulam terrenos familiares e áreas de uso comum.

33

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Entretanto, a ampliação dos centros urbanos médios e pequenos na
Caatinga crescem, como em todas as regiões do Brasil, e padecem dos
mesmos problemas de saneamento, violência e outros males dos cen-
tros urbanos brasileiros.
1.2.4. A beleza, as fragilidades e os desafios do bioma Caatinga
67. A Caatinga é o bioma brasileiro sobre o qual se tem mais desin-
formação, preconceitos e estigmas. Por ser semiárido, com um período
anual chuvoso e outro seco, com secas cíclicas maiores, criou-se no
imaginário nacional a ideia do espaço empobrecido, como se a vegeta-
ção estivesse morta e não hibernada, com suas vacas mortas, e com os
fundos de lagoas esturricados. A este clima e bioma foram associadas
as tragédias humanitária e social, acontecidas na região, em tempos de
estiagens mais prolongadas. As ideias do fatalismo e de uma região in-
viável tomaram conta do olhar e da imaginação do Brasil e do mundo.30
68. O clima seco, o sol abundante, há tanto tempo tratados como
problemas, hoje são percebidos, pelo governo, universidades e organi-
zações não governamentais, como poderosos potenciais para a gera-
ção de energia solar e para o cultivo de frutas específicas (cajá, maracu-
já, umbu, licuri, caju, entre outros). A Caatinga, por ser uma vegetação
geralmente baixa, favorece a apicultura. É também o melhor alimento
para a criação de animais de pequeno e médio porte como cabras, ove-
lhas e outros adaptados ao clima semiárido.
69. A Caatinga tem sido agredida pelas queimadas e pelo desma-
tamento para plantio de culturas que raramente se adaptam adequa-
damente, como o caso do ciclo do algodão. Lamentavelmente, a ação
do homem já alterou 80% da cobertura original, que tem menos de 1%
de sua área protegida, em 36 unidades de conservação.31 Outras cau-
sas do desmatamento são o gado bovino solto nas caatingas, e a gera-
ção de madeira para a indústria de gesso e para as carvoarias. Como é

30 Entre as obras, destacam-se Geografia da fome, de Josué de Castro, Os Sertões, de Euclides da


Cunha, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
31 Disponível em: brasilescola.com.br/brasil/caatinga. Acesso em: 04/05/2016.

34

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sabido, o desmatamento gera a desertificação, problema que se agrava
e amplia pela falta de compreensão dos mecanismos do bioma e pela
economia irresponsável e predadora.
70. Ultimamente, implantou-se em várias regiões a agricultura irri-
gada, que demanda cerca de 70% da água doce consumida. No entanto,
não existe um acompanhamento técnico na irrigação do semiárido, re-
sultando em um processo de salinização do solo. Diagnósticos científi-
cos nos dizem que apenas 5% dos solos são aptos para a irrigação, e que
a região dispõe de 2% da água necessária para irrigar esses solos. Com
isto, estabeleceu-se assim um conflito pela água, não só para o consumo
humano, mas também entre os usos econômicos para a irrigação e a ge-
ração de energia elétrica, no caso específico do rio São Francisco.
1.2.5. Contextualização política
71. A partir da década de 90 do século passado, a sociedade ci-
vil brasileira acompanhou algumas mudanças que se processaram no
semiárido, a partir do potencial desse clima e da riqueza da Caatinga.
Estas pequenas iniciativas têm contribuído na transformação desta re-
gião estigmatizada, antes considerada como uma região pobre e eco-
nomicamente inviável.
72. Neste sentido, foram propostas e estabelecidas políticas de
“convivência com o semiárido” brasileiro. O paradigma da “convivên-
cia com o semiárido” consiste em perceber os potenciais da região e
desenvolver um modo de vida adaptado a ele. Por ser um fator natural,
a seca não pode ser combatida. No entanto, é possível criar mecanis-
mos para viver bem nesse ambiente. Estas políticas deram-se através
das seguintes propostas: captação da água de chuva para beber e pro-
duzir, de manejo da Caatinga, de uma agroecologia adaptada, de uma
economia e de educação contextualizada, na defesa dos territórios das
comunidades tradicionais e indígenas, da reforma agrária, da valoriza-
ção da cultura local, dos saberes dos povos caatingueiros, do aprovei-
tamento inteligente da energia solar descentralizada, dos ventos e de
outros potenciais da região.

35

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73. Nos últimos anos, o problema da falta de água atingiu vários
centros urbanos. Esta situação obrigou a sociedade civil e as autorida-
des políticas a vivenciarem, em outras partes do país, os desafios en-
frentados no semiárido, sensibilizando-os a esta situação.
74. Em defesa do desenvolvimento sustentável e da proposta
de convivência com o semiárido, surgiu uma rede de Articulação no
Semiárido Brasileiro (ASA), no início da década de 1990. Esta rede
é formada por mais de três mil organizações da sociedade civil de
distintas naturezas (sindicatos rurais, associações, cooperativas,
ONGs etc.). A ASA formulou e construiu os seguintes projetos: Um
Milhão de Cisternas (P1MC), Uma Terra e Duas Águas (P1+2),
Cisterna nas Escolas e Sementes do Semiárido. Estes projetos têm be-
neficiado milhões de famílias em toda a região, com a captação da água
de chuva para consumo doméstico e produção econômica. O resultado
foi testado nessa última grande seca de 2012 a 2015 – com a pluviosi-
dade abaixo da média em 2016, ainda –, que ainda permanece. Obser-
va-se que, já não se repetiu a tragédia social e humanitária de outras
épocas. Já não se viu migrações intensas, fome, sede, miséria, saques e,
sobretudo, a intensa mortalidade humana, particularmente a infantil.
75. Também se expandiu uma rede de infraestrutura social fun-
damental, como energia elétrica, adutoras, telefonia, internet, trans-
porte, melhoria nas habitações, o que trouxe milhões de brasileiros
caatingueiros para uma vida mais digna. Essas conquistas são fruto do
novo paradigma gestado, a partir da sociedade civil e que se denomi-
na “convivência com o semiárido”, mas também de políticas públicas
desenvolvidas nos últimos governos, além da conquista do salário-
-mínimo para os trabalhadores rurais.
76. Porém, não pode ser desconsiderado que alguns problemas
permanecem. Do ponto de vista técnico, falta uma política estrutural
que facilite a convivência do homem com a Caatinga, em um projeto
que viabilize a geração de riqueza, por uma forma sustentável. Mui-
tas vezes, as alternativas econômicas encontradas, contrárias ao pa-
radigma da convivência com o semiárido, geram outros problemas

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ecológicos: como a carvoaria gera o desmatamento, a queima do solo
gera o empobrecimento da terra para o plantio no ano seguinte, a eco-
nomia doméstica com doces das raízes dos umbuzeiros gera a baixa
resistência da espécie nos períodos de estiagem.
77. Constata-se também, o surgimento de carências estruturais
e outros fatores de vulnerabilidade social, como a debilitada infraes-
trutura da saúde, o problema da violência no campo e a presença das
drogas nas cidades interioranas. A insegurança no campo tem afastado
as pessoas do lugar e incentivado a migração para áreas urbanas, den-
tro do próprio Nordeste. É imprescindível que encontremos soluções
para estes problemas, também.
78. São dois os modelos a partir dos quais se pensa o desenvol-
vimento integral da região: o combate à seca e o novo paradigma da
convivência com o semiárido. O conflito entre ambos permanece e se
revela em nível de políticas públicas e no imaginário nacional.
1.2.6. Contribuição eclesial
79. Assim como se processou com a vida social, a vivência cris-
tã não deixou de ser influenciada pelo bioma da Caatinga. Por muito
tempo, a vida de fé da gente da Caatinga foi marcada pela educação
cristã, consolidada através da memorização das formulações da fé,
pela pastoral sacramental, pelas “desobrigas”, (visitas do padre, e, espo-
radicamente, as missões religiosas). Os sacramentos vividos pelo povo
marcavam os principais momentos da vida do sertanejo.
80. Essa religiosidade influenciou a cultura nordestina, como as
festas de São João, reisados, rodas de São Gonçalo e tantas outras expres-
sões que unem a dimensão religiosa com as festas populares. Há uma
maior identificação com o período da Quaresma e da Semana Santa,
onde o povo vê nos mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo,
uma oportunidade de iluminar o seu próprio sofrimento cotidiano.
81. Foi a linhagem evangelizadora do Padre Ibiapina, um cearense,
quem mais contribuiu com o bioma Caatinga e a resolução dos proble-
mas do povo. Foi ele quem inaugurou ainda no século XIX a captação

37

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da água de chuva nas cisternas implantadas nas Casas de Caridade, a
construção de açudes, igrejas, cemitérios e tantas outras obras nas co-
munidades sertanejas, com a colaboração do próprio povo local.32
82. Seguiram seus passos homens como Padre Cícero e muitos de
seus discípulos, que souberam acolher o povo liberto da escravidão e
remanescentes indígenas, fundando comunidades como Caldeirão no
Crato (CE) e Canudos (BA). Esses sacerdotes e suas comunidades, tan-
tas vezes antes vistas com preconceito, hoje são valorizadas e respeitadas.
83. Padre Ibiapina e Padre Cícero são considerados, inclusive
pela sociedade civil, como precursores da “convivência com o semiá-
rido”. Os mandamentos ecológicos de Padre Cícero continuam como
referência para milhares de sertanejos no trato com a Caatinga.
84. Mais recentemente, várias dioceses, milhares de agentes de
pastorais, principalmente das CEBs, assumiram o paradigma da con-
vivência com o semiárido e participam, de forma decisiva, para a im-
plantação dessas tecnologias e desse novo paradigma que tanto contri-
bui com a melhoria das condições de vida do povo.
85. Atualmente, observa-se que a vida de fé das comunidades
cristãs, presentes neste bioma, é marcada pela piedade popular, que
se caracteriza pela devoção e pelas romarias, o que se revela no expres-
sivo número de santuários, por exemplo: Bom Jesus da Lapa (BA),
Santuário de Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão (CE),
Santuário de Frei Damião (PB), Santuário de Santa Rita de Cássia
em Santa Cruz (RN), Santuário de Nossa Senhora do Impossível em
Patu (RN), Santuário de São Francisco das Chagas em Canindé (CE),
Santuário Sagrado Coração de Jesus em Juazeiro do Norte (CE),
Santuário do Sagrado Coração de Jesus em Ituaçu (BA), entre outros.
Não podemos deixar de citar que, experiências da ação evangelizadora,
como a Campanha da Fraternidade e CEBs, surgiram na região Nordeste.

32 MALVEZZI. Semiárido: Uma Visão Holística. Brasília: CONFEA/CREA, 2007, p. 23.

38

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1.3. Bioma Cerrado
1.3.1. Localização
86. O Cerrado (tratado no
plural – Cerrados – por alguns
especialistas) é uma vegetação
típica de locais com estações
climáticas bem definidas (uma
época bem chuvosa e outra
seca), ele compõe as regiões
com solo de composição areno-
sa, sendo considerado o bioma
brasileiro mais antigo. Sua vege-
FONTE: As Riquezas do Cerrado
tação é encontrada principal-
mente na região Centro-Oeste, ou seja, ele é característico dos estados
do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins, e também
faz parte das belezas da região oeste de Minas Gerais e das regiões sul
do Maranhão e do Piauí.
87. Originalmente, esse bioma ocupava 192,8 milhões de hec-
tares, abrangendo 13 estados da Federação, o que corresponde a
22,65 % do território brasileiro, onde vivem 22 milhões de pessoas.
Esta extensão corresponde ao chamado “Cerrado Contínuo” presen-
te nos estados em proporções diferentes: Distrito Federal (100%);
Goiás (96,6%); Tocantins (75,6%); Mato Grosso do Sul (59,3%);
Mato Grosso (48,3%); Minas Gerais (46,7%); Maranhão (42,1%);
Piauí (38,6%); São Paulo (30,6%); Bahia (21,4%); Rondônia (6,7%);
Paraná (2,7%); Pará (0,1%).33
88. O Cerrado também possui muitas áreas de interfaces com os
demais biomas brasileiros, áreas de transição e de contato (ecótonos), o

33 SILVA, Carlos E. Mazzetto. O Cerrado em disputa. Apropriação global e resistências locais. Série
Pensar o Brasil e construir o futuro da nação. Coronário Editora Gráfica Ltda, 2009, p. 29-30.

39

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que eleva sua abrangência para 315 milhões de hectares, o equivalente a
37% do território brasileiro, onde vivem 37 milhões de pessoas (83,7%
na zona urbana e 16,79% na zona rural) em 1.445 municípios.34
1.3.2. Características do Cerrado
89. Compreendido como o bioma mais antigo, foi por longo perío-
do considerado inadequado para a agricultura, permanecendo como área
aberta para o gado. Estima-se a ele mais de 65 milhões de anos, com esta
estimativa de vida e por ter 70% de sua biomassa dentro da terra, é consi-
derado “uma floresta de cabeça para baixo”.35 Uma vez devastado, segundo
alguns especialistas, não é possível qualquer revitalização.
90. As árvores com galhos tortuosos e de pequeno porte são as
principais características do Cerrado; as raízes destes arbustos são
profundas (propriedade para a busca de água em regiões profundas
do solo, em épocas de seca); as cascas destas árvores são duras e gros-
sas; as folhas são cobertas de pelos; presença de gramíneas e ciperá-
ceas no estrado das árvores.
91. O solo do cerrado caracteriza-se por apresentar cor averme-
lhada, em função da grande presença de óxido ferroso. Outra caracte-
rística do solo do cerrado é o fato dele apresentar pH36 baixo.
1.3.3. Cerrado – “Caixa d’água do Brasil”
92. O Cerrado cumpre um papel fundamental no ciclo das águas
brasileiras. Embora não “produza” água, acumula as águas das chuvas
em seu subsolo poroso, principalmente as vindas dos “rios aéreos”37
amazônicos, formando grandes aquíferos que abastecem inúmeras ba-
cias brasileiras. Nesse caso específico, os biomas Amazônia e Cerrado
formam uma complementação perfeita para a produção e distribuição

34 Idem.
35 Disponível em: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia15.php.
36 Potencial hidrogeniônico que mede o grau de acidez.
37 São imensas massas de vapor d’água que, levadas por correntes de ar, viajam pelo céu e res-
pondem por grande parte da chuva que acontece em várias partes do mundo. Disponível em:
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/sao-rios-voadores-imensas-massas-
-vapor-d-agua-levadas-correntes-ar-534365.shtml.

40

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da água para o Brasil e parte da América do Sul. É como se o Cerrado
prestasse um “serviço ambiental” de fundamental importância, por
isso recebe adjetivos como “Pai das águas”, “Caixa d’água do Brasil”,
“Cumeeira da América do Sul”.
93. Este bioma contribui para as águas das principais bacias
hidrográficas brasileiras (4% da Bacia Amazônica; 71% da Bacia
Araguaia/Tocantins; 11% da Bacia Atlântico Norte/Nordeste;
94% da Bacia do rio São Francisco; 7% da Bacia Atlântico Leste e
71% da Bacia dos rios Paraná e Paraguai), contribuindo ainda em mais
25 importantes rios do Brasil.38
94. Como se viu acima, grande parte das águas tem sua origem
na Amazônia, sendo recebidas e acumuladas no Cerrado, que funcio-
na como uma grande “caixa d’água”. Daí as águas são redistribuídas
pelo território nacional, confirmando assim a grande importância des-
te bioma no ciclo das águas, com sua consequente preservação. Como
podemos perceber o Rio São Francisco recebe suas águas, quase em
sua totalidade, do Cerrado e as distribui em outras regiões.
95. As Chapadas (80,4% das terras do Cerrado Contínuo) são
“áreas de recarga”39 de importantes aquíferos, tais como o Urucuia, o
Bambuí e o Guarani.
1.3.4. Biodiversidade
96. O Cerrado brasileiro é considerado a área de savana mais rica
do mundo devido a sua grande biodiversidade. O conjunto de todos
os seres vivos dessa região (biota), representa 5% da fauna mundial.
Este bioma possui também uma grande diversidade de tipos de ve-
getais, formando 14 paisagens com características próprias que se
apresentam em formação de florestas, savanas (arbustivo-arbórea e
herbácea) ou campestres.

38 LIMA, J.E.F.W.; SILVA, E.M. Recursos Hídricos do Bioma Cerrado: importância e situação.
In: SANO, S.M.; ALMEIDA, S.P.; RIBEIRO, J.F. Cerrado – Ecologia e Flora. vol. 1. Brasília:
Embrapa Cerrados, 2008, p. 93.
39 A área por onde ocorre o abastecimento do aquífero é chamada zona de recarga, que pode ser
direta ou indireta. (Agência Nacional das Águas/ANA).

41

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97. A alta diversidade de ambientes se reflete em uma elevada ri-
queza de espécies vegetais (23.000) e animais (320.000), sendo que des-
tas 90.000 são de insetos (que representam 28% da biota do Cerrado).
Apesar da elevada biodiversidade e de sua importância ecológica, das
427 espécies listadas em risco de extinção,40 132 estão no Cerrado.

1.3.5. Os povos originários e a cultura – sociodiversidade


98. Os povos do cerrado são a principal e maior riqueza deste
bioma. A eles se deve a preservação do que ainda resta do chama-
do “Cerrado em pé” (área não destruída). Eles estão presentes no
Cerrado há pelo menos 11.000 anos, vivendo e convivendo com a bio-
diversidade deste bioma. Por isso, é necessário compreender a lógica
destas populações que habitam milenarmente41 o Cerrado, que desen-
volveram estratégias de convivência, aprendizado e adaptação com a na-
tureza. Nessa realidade verificam-se processos sustentáveis (produção
em pequena escala, pouco capital, trabalho familiar) em uma estratégia
camponesa de viver com o suficiente sem agredir ou destruir o bioma.
99. Os indígenas, primeiros habitantes do Cerrado, conside-
rados “povos originários”, remontam a antigas “Tradições Itaparica,
Una-Aratu e Sapucaí” e que originaram o tronco linguístico “Macro
Jê”. A totalização dessas populações indígenas chega a 44.118.42
100. De acordo com estudos do antropólogo Greg Urban
(1992),43 destacam dentro da família Jê os grupos: Timbira (Canela,
Krinkati, Pukobyé, Krenjé, Gavião, Krahô), Kayapó (Kubenkranken,
Kubenkrañoti, Mekrañoti, Kokraimoro, Gorotire, Xikrin, Txukahamãe),
Xerente, Karajá, Xavante, Xakriabá, Apinayé (hoje tido como do grupo

40 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, n. 06/2008. Lista das Espécies da Flora Brasileira


ameaçada de Extinção.
41 Disponível em: http://www.portalbrasil.net/cerrado.htm.
42 BARBOSA, A.S. Andarilhos da Claridade: os primeiros habitantes do Cerrado. Goiânia: UCG
– Instituto Trópico Subúmido, 2002.
43 Apud MAZZETTO SILVA, C. E. O Cerrado em Disputa: apropriação global e resistências lo-
cais. Coleção Pensar o Brasil – Construir o Futuro da Nação. Brasília: Confea, 2009, p. 50-51.

42

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Timbira), Suyá, Kreen-Akarôre, Kaingang e Xokleng. O tronco maior
Macro Jê incluiria ainda os Pataxós, Bororo, Maxakali, Botocudo,
Kamakã, Kariri, Puri, Ofaié, Jeikó, Rikbatsá, Guató e Fulniô.44
101. Os camponeses, junto às comunidades indígenas, consti-
tuem os grupos importantes no Cerrado. Denomina-se camponês
aquele agricultor que possui sua autoidentidade reconhecida como
povos e comunidades tradicionais45 o que é bastante significativo no
Cerrado, onde são conhecedores e guardiões do patrimônio ecológico
e cultural deste bioma.
102. Estas comunidades tradicionais de camponeses vivem
uma relação harmoniosa de interdependência com o Cerrado. Es-
tas comunidades possuem seus direitos garantidos pela Legislação
Federal e Internacional, como é o caso dos Decretos n. 6.040/2007 e
n. 4.887/2003, ambos da Presidência da República do Brasil, que re-
gulamentam artigos da Constituição Federal de 1988, e a Convenção
n. 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
103. Outro grupo importante no Cerrado é o dos agricultores fa-
miliares. Mesmo não possuindo a autoidentidade de “povos e comuni-
dades tradicionais” formam um número considerável de famílias que
vivem e convivem com o Cerrado, e também possuem os seus direitos
garantidos por leis, como é o caso da Lei n. 11.326/2006.
104. Juntamente com o “povos e comunidades tradicionais” e
agricultores familiares temos também no Cerrado grupos de assenta-
dos, acampados e extrativistas, que lutam pela desapropriação de áreas
para fins de Reforma Agrária e pela criação de Unidades de Conserva-
ção de Uso Sustentável (UCUS).

44 Idem.
45 São os Geraizeiros (norte de Minas e Bahia), Geraizenses (Gerais de Balsas/MA), Retireiros
(áreas alagadas do Araguaia/MT), Barranqueiros e Vazanteiros (da beira e ilhas do rio São
Francisco/MG), Quabradeiras de coco (Zona dos Cocais/MA, PI e TO), Pantaneiros (MT e MS),
Camponeses dos vãos (sul do Maranhão), Quilombolas, Posseiros, Varjeiros, Veredeiros e
Ribeirinhos (ao longo dos rios São Francisco, Grande e Paraná), Caipiras (no Triângulo
Mineiro e São Paulo) e Sertanejos (norte de Minas, Bahia, Maranhão e Piauí).

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105. Todas estas populações que têm sua vida ligada à do
Cerrado e são aqueles que verdadeiramente buscam a preservação
deste bioma, contribuem com sua existência e ação com outras popu-
lações que vivem nas grandes concentrações urbanas e que dependem
das águas do Cerrado, cuja preservação está ligada à preservação do
seu solo, sua fauna e sua flora.
1.3.6. A beleza, as fragilidades e os desafios do bioma Cerrado
106. O fato de abastecer bacias hidrográficas que pendem para
todas as regiões brasileiras, faz com que o Cerrado tenha a particulari-
dade de abastecer a bacia do rio São Francisco.
107. Sem o Cerrado o destino dos rios que dele depende tem
seu futuro ameaçado. Um bioma tão antigo mostra-se frágil em sua ca-
pacidade de resistência e regeneração. A mão humana pode extinguir
rapidamente um dos biomas mais antigos da face da Terra.
1.3.7. Realidade política e os desafios do Cerrado
108. Muitas áreas do Cerrado, que são fundamentais para a
Conservação da Biodiversidade e dos Recursos Hídricos, têm sido
palco de disputas entre o agronegócio e os povos originários e comu-
nidades tradicionais que habitam secularmente este bioma e tem suas
vidas vinculadas à existência do mesmo. De acordo com dados do
Ministério do Meio Ambiente (MMA), tais áreas estão sendo ocupa-
das e exploradas de forma desordenada pelo agronegócio.46
109. Com o pretexto da defesa e preservação da Amazônia, avan-
ça sobre o Cerrado a ocupação desordenada em vista da exploração
econômica, com a destruição da biodiversidade e ameaça à vida e à
cultura dos povos originários e comunidades tradicionais. Ignora-se
o significado de sua riqueza natural e a importância dos povos que ali
habitam, bem como o seu valor ambiental no conjunto do território
brasileiro e na preservação do “ciclo das águas”.

46 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Plano de Ação para a prevenção e controle do desma-


tamento e das queimadas: cerrado, 2011, p. 45.

44

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110. Diante da crise da água estabelecida no território brasilei-
ro, devido à deflorestação, e tendo em vista uso de seu potencial, tem
se falado na transposição das águas do rio Tocantins para o rio São
Francisco. É uma obra pensada, na verdade, com a finalidade de ir-
rigar milhões de hectares do chamado MATOPIBA. Este modelo de
desenvolvimento em curso no Brasil tem sido questionado no mundo
inteiro, por deixar atrás de si um rastro de territórios desertificados.
111. O Governo Federal, pressionado pelo agronegócio, atra-
vés do Ministério da Agricultura, em maio de 2015, instituiu o
Decreto n. 8447 que constituía o território chamado “MATOBIPA”
ele está compreendido por partes dos estados do Maranhão,
Tocantins, Piauí e Bahia (de onde se retiram as iniciais para compor a
expressão “MATOBIPA”).
112. Os critérios utilizados para a criação do “MATOPIBA”,
que abrange 337 municípios e 31 microrregiões em um total de
73 milhões de hectares, foram dois: as áreas do Cerrado existente nos
quatro estados citados e os dados socioeconômico destas regiões,
seu principal objetivo era a ampliação da classe média rural, por isso,
o investimento oficial em infraestrutura, inovação e tecnologia pre-
visto em sua criação.47
113. O que se esconde por detrás das palavras é a exploração dos
solos e das águas do Cerrado para o agronegócio. Esta é uma das situa-
ções preocupantes, pois o monocultivo, típico do agronegócio, exige o
desmatamento de grandes áreas, por isso, sequestram a terra dos “po-
vos e comunidades tradicionais”, compactam os solos, modificam sua
química e consequentemente a sua vegetação, além de alterar o regime
das águas, trazendo efeitos danosos a todo território brasileiro.

47 GOVERNO FEDERAL. Ministério da Agricultura. Ministra lança Plano Matopiba nesta


quarta-feira, em Palmas. 12/05/2015. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/politica-
-agricola/noticias/2015/05/ministra-lanca-plano-matopiba-nesta-quarta-feira-em-palmas.
Acesso em: 16/05/2016.

45

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114. Para muitos especialistas, a situação do Cerrado parece não
ter mais retorno e os rios dele dependentes (como o rio São Francisco)
caminham para fim inexoravelmente definido. Portanto, aos povos e
comunidades tradicionais, bem como os demais grupos que ali vivem,
resta a esperança, que neles estão viva, com a possibilidade de buscar
saídas que mudem tal desfecho.48
115. Este desejo e esta esperança não devem ser somente dos
povos e comunidades tradicionais do Cerrado brasileiro, pois todo
o Brasil, assim como os demais países da América Latina – princi-
palmente o Cone Sul – necessitam deste “serviço ambiental” que o
Cerrado realiza através de sua vegetação e solo, para receber, armaze-
nar e redistribuir as águas. Um exemplo claro das consequências atuais
dessa interferência danosa no Cerrado é a perda de umidade relativa
do ar na região Centro-Oeste, uma vez que não existem mais árvores
com sua respectiva evapotranspiração em grandes áreas. Conforme já
informado, o Cerrado, uma vez destruído não se reconstitui.
1.3.8. Contribuição eclesial
116. Seguimentos e organismos ligados à Igreja Católica, como a
Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e a Comissão Pastoral da
Terra (CPT), bem como a atuação de algumas dioceses, tem transfor-
mado realidades em várias partes do estado. Destacam-se:
1) Grupo Cerrado
 Buscando desenvolver a consciência crítica e uma espiritualida-
de ecológica;
 Elaborando material popular para grupos, comunidades e movi-
mentos visando despertar a preservação ambiental;
 Atuação em favor da aprovação da Proposta de Emenda
Constitucional – PEC 115/150, que inclui o Cerrado e a Caatinga
como Patrimônios Nacionais;

48 SIQUEIRA FILHO. José Alves (org.). A flora das caatingas do Rio São Francisco: história na-
tural e conservação. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson, 2012.

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 Promoção de encontros com reflexões bíblicas, que motivam a
conscientização ambiental;
 Estudo e aprofundamento dos aspectos do bioma Cerrado;
 Parceria com o Ministério do Meio Ambiente na produção de
material didático popular com o tema do Cerrado;
 Integração com a Rede Grita Cerrado do Estado de Goiás;
 Fomentar a participação no Fórum Goiano em Defesa do Cerrado.

2) Encontro “O grito do Cerrado: sabores, saberes e fazeres


dos povos” – Cidade de Goiás, que visa:
 Promover a valorização pessoal e coletiva dos povos e proporcio-
nar o intercâmbio entre cidade e do campo;
 Promover o acesso à informação sobre alimentação e sustentabi-
lidade, com destaque para os mananciais de água, em contrapon-
to ao desmatamento e uso de agrotóxicos;
 Uma maior conscientização para a proteção do Cerrado, sua bio-
diversidade e suas águas, por meio da proteção da cultura das po-
pulações tradicionais e suas relações saudáveis com o ambiente;
 Difundir o trabalho das Farmácias Populares de Plantas Medici-
nais (Farmacinhas);
 Aprofundar o conhecimento cultural através de palestras, ex-
posições fotográficas e oficinas, ou do contato direto com vio-
leiros, fiandeiras, raizeiros, plantas medicinais, artesanatos, pro-
dutos da agricultura familiar, distribuição de sementes e mudas
nativas do Cerrado;
 Formar parcerias de trabalho com a Comissão Pastoral da Terra e
a Pastoral da Saúde, tendo em vista a recuperação de nascentes e
a implementação de hortas e quintais agroecológicos.

3) Encontro: “Tenda dos Povos do Cerrado”


 Fortalecer e dar visibilidade as experiências dos povos e comuni-
dades do Cerrado, como representantes da sociobiodiversidade,
conhecedores do patrimônio ecológico e cultural;

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 Promover o intercâmbio entre as comunidades, criando espaços
de debate, formação e práticas em defesa do bioma Cerrado;
 Conscientizar a sociedade sobre a importância do Cerrado, unin-
do campo e cidade na Campanha em Defesa do Cerrado, o berço
das águas do Brasil.

1.4. Bioma Mata Atlântica


1.4.1. Localização
117. A Mata Atlântica
abrangia uma área equiva-
lente a 1.315.460 km2 e es-
tendia-se originalmente ao
longo do que hoje são 17 es-
tados: Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná, São
Paulo, Goiás, Mato Grosso
do Sul, Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Espírito Santo, Bahia,
Alagoas, Sergipe, Paraíba,
Pernambuco, Rio Grande do
Norte, Ceará e Piauí.49
118. Hoje, restam 8,5% de remanescentes florestais acima de
100 hectares do que existia originalmente. Somados todos os fragmen-
tos de floresta nativa acima de 3 hectares, temos atualmente 12,5%.
É uma das áreas mais ricas em biodiversidade e mais ameaçadas do
planeta e também decretada Reserva da Biosfera pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e
Patrimônio Nacional, na Constituição Federal de 1988.50
119. A Mata Atlântica era originalmente densa, extensa e rica
de variedade animal e vegetal, além de campos de altitude, mangues

49 SOS MATA ATLÂNTICA. A Mata Atlântica. Disponível em: https://www.sosma.org.br/nos-


sa-causa/a-mata-atlantica/. Acesso em: 16/03/2016.
50 Idem.

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e restingas. Entretanto, desde o descobrimento do Brasil que ela vem
sendo destruída, o pau-brasil, característico dela, foi o principal alvo
de extração e exploração dos exploradores que colonizavam o Brasil e
hoje está praticamente extinto.
120. Após a derrubada da mata, vieram as plantações que fo-
ram responsável pela destruição em massa da vegetação nativa, por
isso, resta uma área muito pequena para a preservação de espécies
que estão em risco devido a poluição ambiental ocasionada pela
emissão industrial de agentes nocivos à sua sobrevivência como por
exemplo no município de Cubatão (SP); mais ao sul, na região Sul, a
exploração predatória da Mata Atlântica devastou o ecossistema da
Floresta das Araucárias devido ao valor comercial da madeira pinho
extraída da Pinheiro-do-paraná.
121. Os relatos antigos falam de uma floresta aparentemente
intocada, apesar de habitada por vários povos indígenas com popu-
lações numerosas. Hoje, a concentração urbana na Mata Atlântica
abriga a maioria das nossas capitais litorâneas e regiões metropolita-
nas, por isso a necessidade de atenção em relação às políticas públicas,
principalmente de saneamento básico, que não tem sido priorizadas
pelos agentes políticos ou administradores públicos dos mais de três
mil municípios que compõem o bioma Mata Atlântica.
1.4.2. Características naturais – biodiversidade
122. A Mata Atlântica ainda guarda riquezas naturais: tem po-
der de regeneração. As iniciativas de preservar o que resta e tentar
regenerar o mínimo para não faltar água, regular o clima, ainda é uma
esperança viva.
123. Vivem na Mata Atlântica mais de 20 mil espécies de plan-
tas, sendo 8 mil endêmicas (que existe somente em uma determinada
área ou região geográfica); 270 espécies conhecidas de mamíferos;
992 espécies de aves; 197 répteis; 372 anfíbios; 350 peixes.
124. Seus serviços ambientais são inumeráveis e essenciais:
estão ali sete bacias hidrográficas brasileiras; regulagem do fluxo de

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mananciais hídricos; controle do clima; fonte de alimentos e plantas
medicinais; lazer, ecoturismo, geração de renda e qualidade de vida.
125. A pressão sobre a Mata Atlântica é histórica, ao longo do
tempo muda de aspecto e aumenta em intensidade. Começa com a
extração de pau-brasil, passa por vários ciclos econômicos de cana-
-de-açúcar, café, ouro, fumo. A devastação quase total das araucárias
ocorreu a partir do séc. XX: a intensa exploração da agricultura e
agropecuária; exploração predatória de madeira e espécies vegetais;
a industrialização; expansão urbana desordenada; poluição do ar, das
águas, dos solos, com sua compactação e impermeabilização que gera
enchentes a cada chuva mais intensa.
126. A costa brasileira é também o lugar da beleza, do lazer, para
milhões de brasileiros e turistas que vem desfrutar de suas areias, suas
praias, seu sol e seus pratos característicos. Nela há ecossistemas mui-
to particulares, que dizem respeito a inúmeros serviços ambientais,
sociais e econômicos, principalmente para as populações praieiras.
São os manguezais.
127. Os manguezais, que compõem o bioma Mata atlântica, têm
um papel especial para o planeta, espécies e muitos povos no Brasil e no
mundo. Os manguezais possuem importância ecológica de grande re-
levância para a manutenção da vida marinha, principalmente por pos-
sibilitar a transformação de nutrientes em matéria orgânica, gerando
vida, alimento, proteção e inúmeros serviços ao meio ambiente e à hu-
manidade. Os manguezais, por estarem estabelecidos em áreas abriga-
das, apresentarem alta produtividade, são considerados como berçários
naturais para muitas espécies de moluscos, crustáceos, peixes, répteis e
aves, garantindo o crescimento e sobrevivência desses organismos.
128. Vale destacar que os manguezais são designados como Áreas
de Preservação Permanente (APPs) devido à sua grande importância
ambiental. Contudo, a conscientização sobre a utilização desses re-
cursos naturais, que em muitos casos, são condições de sobrevivência,
deve ser assumida por homens e mulheres que habitam no mundo e
cuidam da criação, como processo de conversão pessoal e social.

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1.4.3. Os povos originários e a cultura – sociodiversidade
129. Originalmente, ocupavam esse imenso território litorâ-
neo povos como Tamoio, Temininó, Tupiniquin, Caetés, Tabajara,
Potiguar, Pataxó e Guarani que foram os primeiros a sofrerem com
a chegada dos colonizadores. Os brancos, além de espalhar doenças,
usaram os índios como soldados nas guerras contra os invasores e
como escravos. Muitas etnias foram extintas e as que sobreviveram
sofrem as pressões da civilização.51 Os remanescentes dos Guarani,
Pataxó e outros, ainda hoje enfrentam problemas na defesa de seus
territórios e na defesa de seus direitos como seus ancestrais.
130. Nesse espaço existem populações praieiras, quilombolas,
remanescentes indígenas, os “caiçaras”, além da imensa concentração
populacional urbana.
131. Milhares de comunidades tradicionais pesqueiras no Brasil
dependem dos manguezais para sua reprodução física e cultural.
A busca diária pelos meios de vida se estabelece a partir de uma pro-
funda e complexa afinidade entre homem/mulher/natureza resul-
tando na composição de um rico patrimônio ecológico e cultural.
Os grupos humanos (pescadores/as, indígenas, ribeirinhos/as, caiça-
ras, quilombolas etc.) que interagem com os manguezais diretamente
são integrantes dos povos e comunidades tradicionais.
132. Para as comunidades pesqueiras, o manguezal não é apenas
um lugar do qual se retira sustento, ou seja, não é apenas um bem eco-
nômico, mas faz parte dos seus territórios pesqueiros. É uma espécie
de lugar sagrado que tem um valor simbólico muito forte. Existe uma
consciência ecológica resultante de valores ancestrais de matriz afri-
cana e indígena, mas harmonizada pelo e com o catolicismo popular.
Há um rito de profundo respeito às águas, a lama, ao cheiro, a fauna e
a flora existentes nos manguezais de modo que se institui uma lingua-
gem própria e uma cosmovisão específica da criação.

51 APREMAVI. Moradores da Mata. Disponível em: http://www.apremavi.org.br/mata-atlanti-


ca/entrando-na-mata/moradores-da-mata/. Acesso em: 15/05/2016.

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133. Entre as interferências no processo cultural do bioma Mata
Atlântica, estão as empresas nacionais e transnacionais cingidas ao
setor de produção de papel e celulose. Elas, preocupadas com o mer-
cado, investem na monocultura do eucalipto, escamoteiam os impac-
tos socioambientais dessa monocultura e estão transformando as pai-
sagens em vários estados como Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio
Grande do Sul, Maranhão, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul dentre
outros em “deserto verde”.
134. Além do deserto verde, outra motivação do mercado que
interfere no bioma Mata Atlântica, principalmente com desmata-
mento e prejuízos à vegetação, são as mineradoras e as construções
de hidrelétricas, os argumentos de seus defensores seguem o mesmo
padrão, ou seja, o desenvolvimento de matrizes elétricas limpas, desta
forma, se esconde ou minimiza os impactos destes projetos faraônicos
que tem causado prejuízos irreparáveis ao meio ambiente.
135. Outra situação preocupante é que uma grande parcela do
que resta de Mata Atlântica está na mão de proprietários particulares,
por isso é tão essencial incentivar entre eles mecanismos de proteção
destes remanescentes florestais, caso contrário tudo o que foi “guarda-
do” e é defendido pelos povos originários, corre perigo.
1.4.4. A beleza, as fragilidades e o desafios do bioma Mata Atlântica
136. Projeto de Lei da Mata Atlântica, (Lei n. 11.428, de 2006, e
o Decreto n. 6608/2008 – Ministério do Meio Ambiente) que regula-
menta o uso e a exploração de seus remanescentes florestais e recursos
naturais, tramitou por 14 anos no Congresso Nacional e foi finalmente
sancionado em dezembro de 2006.
137. O Brasil já tem mais de 1.100 Reservas Particulares do
Patrimônio Natural (RPPNs) reconhecidas, sendo que mais de
760 delas estão na Mata Atlântica. Das 633 espécies de animais amea-
çadas de extinção no Brasil, 383 ocorrem na Mata Atlântica.52

52 SOS MATA ATLÂNTICA. A Mata Atlântica. Disponível em: https://www.sosma.org.br/nos-


sa-causa/a-mata-atlantica/. Acesso em: 16/03/2016.

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138. Junto com a imensa concentração populacional – as gran-
des cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Porto
Alegre e outras – vieram imensos problemas; desmoronamentos, falta
de saneamento básico, a concentração urbana rápida e sem planeja-
mento, causou ocupação de áreas de risco, de mananciais, encostas de
morros, compactou os solos, mudou o clima e a qualidade do ar pelos
gases das indústrias e dos veículos movidos a combustíveis fósseis.
139. Os serviços urbanos ligados ao saneamento básico – abas-
tecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, drenagem da água
de chuva, manejo dos resíduos sólidos – não chegam às suas imensas
periferias, ou, quando chegam, são de qualidade ruim. Esses fatores re-
metem à Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016 com o tema:
“Casa Comum, nossa responsabilidade”.
140. Também são espaços das indústrias, do setor de serviços,
dos empregos da população, da geração de riqueza e renda. São as con-
sequências de um modelo de desenvolvimento que para gerar riqueza
tem que concentrar pessoas e destruir o ambiente no qual se insere.
1.4.5. Contextualização política
141. Todo esse patrimônio ecológico e cultural está ameaçado
pelo avanço dos grandes empreendimentos econômicos sobre os terri-
tórios tradicionais pesqueiros. A falta de consciência ecológica de uma
parte significativa da população brasileira, a omissão e/ou conivência
do poder público, a ganância capitalista tem provocado a degradação
do meio ambiente e a expulsão de diversas comunidades.
142. A atividades de criação de camarão em cativeiro, conhecida
como carcinicultura, contamina o lençol freático e saliniza as águas, o
que tem levado dezenas de comunidades a situação de colapso d’água.
Para além desses impactos, esses empreendimentos impedem o acesso
dos pescadores e pescadoras às áreas rotineiras de pesca, causando um
maior esforço de deslocamento, intensificando doenças ocupacionais.
Principalmente as marisqueiras, que muitas vezes carregam mais de
40 quilos de mariscos com casca em suas cabeças.

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143. Em 2012, o Congresso Nacional aprovou o novo Código
Florestal, instrumento jurídico que regulariza áreas de proteção per-
manente, como margens de rio etc. Nessa nova formatação foi retirada
dessa categoria áreas de apicum e salgado (ecossistema associado que
é banhado por água em marés cheias), que eram anteriormente consi-
deradas ecossistema manguezal, com essa mudança, passou a ser per-
mitida a instalação de projetos de carcinicultura nessas áreas tornando
ainda mais frágeis a proteção aos mangues.
144. A ausência de saneamento básico é outra grave ameaça.
Grande parte dos esgotos das residências de áreas urbanas e rurais é
despejada diretamente nos rios, no mar e nos mangues, como também
resíduos que não são descartados corretamente, causando um alto ní-
vel de poluição que compromete o equilíbrio do ecossistema.
145. Entre as inúmeras possibilidades de atividades econômicas
que implicam na destruição do meio ambiente, está a utilização de
plantas para a produção de remédios, matéria-prima para a produção
de vestimentas, corantes, essências de perfume, insumos para a indús-
tria alimentícia e exploração de árvores para a produção de móveis.
146. A falta de comprometimento político em relação ao uso e ao
cuidado com a água, bate às portas da sociedade brasileira, inclusive
nos últimos anos a região Sudeste tem sido o grande palco dessas cons-
tatações. As justificativas são as mais diversas, inclusive com atribui-
ções de responsabilidades ao criador, sobre o desmando do homem em
relação aos mananciais e bacias hidrográficas do bioma Mata Atlântica.
147. Na Mata Atlântica estão localizadas sete das nove grandes
bacias hidrográficas do Brasil, alimentadas pelos rios São Francisco,
Paraíba do Sul, Doce, Tietê, Ribeira de Iguape e Paraná. As florestas
asseguram a quantidade e qualidade da água potável que abastece
mais de 110 milhões de brasileiros em aproximadamente 3,4 mil mu-
nicípios inseridos no bioma.
148. Por fim, nos solidarizamos com as diversas iniciativas pro-
vocadas pela sociedade civil, ONGs e consórcios de culturas agrí-
colas que propõem o plantio com espécies arbóreas que podem ser

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utilizadas para restaurar e recuperar as áreas degradadas. São iniciativas
que além de minimizar os impactos provocados pelo uso de agrotóxi-
cos, demostram comprometimento com a criação e com o Criador.
1.4.6. Contribuição eclesial
149. A evangelização chegou junto com os primeiros colonizado-
res, embora esse seja um processo contraditório em nossa história. Inú-
meras cidades da Mata Atlântica carregam a marca da Igreja: Salvador,
Olinda, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Mariana e muitas outras.
150. Com a chegada dos primeiros missionários jesuítas, Padre
Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e outros, deu-se início ao pro-
cesso de aldeamentos, a construção de conventos e colégios. Outras
ordens religiosas e congregações deram a sua contribuição, os francis-
canos, beneditinos, carmelitas etc. Vemos assim, que sempre houve
uma relação intensa com as populações indígenas, negras e brancas.
151. Com o caminhar da história da Igreja, no bioma Mata
Atlântica, grande é a sua contribuição na defesa da vida dos povos ori-
ginários e na defesa deste bioma. Não podemos deixar de lembrar das
pastorais sociais com atuação nos diversos seguimentos da sociedade,
defendendo a vida, nas diversas instâncias em que ela é ameaçada pelo
modelo econômico em desenvolvimento.
152. A luta pela terra constitui um caminho de cuidado e respon-
sabilidade com a criação. Os frutos destas conquistas são os alimentos
que hoje chegam na maioria das mesas brasileiras, eles são os resul-
tados do trabalho dos pequenos produtores, camponeses e comuni-
dades ribeirinhas que se mantêm vivas com a agricultura familiar, e a
Igreja muito contribuiu e contribui para isso.

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1.5. Bioma Pantanal
1.5.1. Localização
153. De acordo com o
Ministério do Meio Ambien-
te, o bioma Pantanal é consi-
derado uma das maiores ex-
tensões úmidas contínuas do
planeta. Este bioma continen-
tal é considerado o de menor
extensão territorial no Brasil,
entretanto este dado em nada
desmerece a exuberante ri-
queza que o referente bioma
abriga. A sua área aproximada
é 150.355 km2 e ocupa 1,76% da área total do território brasileiro.
154. Situado dentro da Bacia do Alto Paraguai, o bioma Pantanal
é considerado como Reserva Biosfera e patrimônio Natural Mundial
pela UNESCO. Seu território envolve três países sendo 70% dessa
planície no território brasileiro (nos estados do Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul), 20% na Bolívia e os outros 10% no Paraguai.
155. Os rios que abastecem o Pantanal são provenientes de regiões
bem altas e, por isso, as águas acumulam-se facilmente, transformando o
Pantanal em uma grande planície de inundação, principalmente no pe-
ríodo chuvoso.

1.5.2. Características naturais – biodiversidade


156. O Pantanal tem uma das maiores extensões úmidas contí-
nuas do mundo, com grande beleza e rica biodiversidade. O ecossis-
tema mantém boa parte da sua cobertura vegetal nativa, responsável
pela permanência de espécies que, em outros biomas, já se mostram

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em extinção. São cerca de 3,5 mil espécies de plantas, 124 espécies de
mamíferos, 463 espécies de aves e 325 espécies de peixes.53
157. O Pantanal é uma grande área continental inundável e, a
cada ano, grandes regiões dele mudam de hábitats aquáticos para ter-
restres e vice-versa. As cheias ocupam cerca de 80% do Pantanal. Em
contraste, durante a estiagem, grande parte da área inundada seca,
quando a água retorna para o leito dos rios ou evapora.
158. “Ele depende da manutenção do ciclo hidrológico, que
permite o subir e baixar das águas e a inter-relação entre as espécies.
‘O ciclo de inundação do Pantanal é regido pelas chuvas em toda a
Bacia do Alto Paraguai, no período de setembro a janeiro no norte do
Pantanal e novembro a março na porção sul’. Qualquer mudança nesse
ciclo compromete os ecossistemas e modifica toda essa paisagem”.54
159. Nesta região, encontra-se grande variedade de espécies vege-
tais da Amazônia, do Cerrado, e do Chaco Boliviano. Nas planícies (re-
gião que alaga na época das cheias) domina uma vegetação de gramí-
neas. Nas regiões intermediárias, desenvolvem-se pequenos arbustos
e vegetação rasteira. Já nas regiões mais altas, árvores de grande porte.
1.5.3. Os povos originários e a cultura – sociodiversidade
160. “Quando chegaram os primeiros colonizadores europeus,
o Pantanal já era ocupado por importantes povos indígenas de várias
etnias. Somente no Mato Grosso do Sul, 1,5 milhões de indígenas ha-
bitavam a região: Guaraní, Guató, Ofayê, Kaiapó Meridional, Payaguá,
dentre outras. Atualmente, os Payaguá estão extintos e os Guató tem
uma população que não ultrapassa 400 pessoas. A maioria vive em
uma área indígena do Pantanal, porém alguns optaram por viver em
cidades da região ou trabalhar nas fazendas”.55

53 ICMBIO. Pantanal. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconserva-


cao/biomas-brasileiros/pantanal.
54 As informações técnicas apresentadas sobre o bioma Pantanal, suas características localiza-
ção, belezas e fragilidades tem por base o Almanaque Socioambiental ed. 2008. Disponível
em: www.socioambiental.org.
55 Idem.

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161. “Por volta do século XIX, além dos colonizadores euro-
peus, desbravadores da região Sudeste, impulsionados pela descober-
ta do ouro, chegaram à região de Cuiabá – MT, iniciando um novo
processo de ocupação”.56
162. A miscigenação provocada pelo processo de ocupação mais
recente resultou em uma cultura que abriga características das diver-
sas etnias indígenas, populações ribeirinhas, populações originárias de
outros estados brasileiros e países vizinhos (principalmente Bolívia e
Paraguai). A materialização dessa “cultura pantaneira” pode ser exempli-
ficada pelas festas religiosas – como a festa de São Sebastião, pelas mú-
sicas e danças, pela culinária, pelo artesanato, sobretudo em cerâmica.
163. O homem pantaneiro descende dos bandeirantes e dos ga-
rimpeiros que, no século XVIII, viajavam em canoas, através dos rios
Tietê, Paraná e Paraguai, desde o interior de São Paulo, em direção às
minas de metais preciosos da região de Cuiabá. Ele traz consigo ele-
mentos culturais do bandeirante português, do sertanista paulista, e
dos índios, de quem recebeu habilidades e o conhecimento da natureza.
164. O povoamento da região resultou da miscigenação dessas
populações. Hoje, a população no Pantanal brasileiro é de aproxima-
damente 1.100.000 pessoas. Na Bolívia se estima 16.800 habitantes e,
no Paraguai, 8.400 habitantes. As principais cidades brasileiras inse-
ridas na planície brasileira, dez no total, possuem populações que va-
riam desde 15.369 habitantes em Porto Murtinho (MS), até 551.350
habitantes, em Cuiabá (MT).57
165. O território dos Kadiweu/Ejiwageji, que fica em Porto
Murtinho (MS), é uma extensa área demarcada de aproximada-
mente 550 mil hectares. Os indígenas mantêm uma vigília de resis-
tência para garantir o seu território afastando o assédio dos fazen-
deiros da região, que tentam se apossar destas terras, incluindo as
propostas para arrendar as terras.

56 Idem.
57 IBGE. Censo 2010. Disponível em: http://censo2010.ibge.gov.br/.

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166. Outro grupo em permanente luta são os Terenas que estão
na cidade de Aquidauana e Miranda. Estes grupos estão em um pro-
cesso de retomadas, ocupações de fazendas dentro de seus territórios
ancestrais, que hoje estão nas mãos de fazendeiros ligados a grupos
políticos do Mato Grosso do Sul, lugar de muitas ameaças e de as-
sassinatos. Já dos indígenas Guató (Índios Canoeiros do Pantanal),
restam poucas famílias.
167. É importante que se entenda, que a luta dos povos indíge-
nas não é da terra pela terra, que poderia ser em qualquer outro lugar,
mas se lutam por determinadas regiões o fazem, porque estes territó-
rios têm valores que não são puramente econômicos, mas são princi-
palmente espaços ancestrais. Sendo assim, preservar estes espaços sig-
nifica preservar a identidade, a memória, a cultura e a fé destes povos.
168. Finalmente, também há as comunidades tradicionais e ri-
beirinhas que resistem dentro do Pantanal, cujas informações de suas
demandas são dispersas e pouco divulgadas.
1.5.4. A beleza, as fragilidades e os desafios do bioma Pantanal
169. “O bioma Pantanal tem qualidades ambientais específicas por
ser uma “ecorregião” onde encontram-se o Cerrado (leste, norte e sul);
o Chaco (sudeste); a Amazônia (norte); e o Bosque Seco Chiquitano
(noroeste). A convergência e presença de distintos biomas, somadas
ao variável regime de cheia e seca, conferem particular diversidade e
variabilidade de espécies. A taxa de endemismo é relativamente baixa,
porém as características múltiplas possibilitam a interação entre mate-
rial genético de animais e plantas de maneira muito particular. Por ser
compreendido como a ligação entre as duas bacias da América do Sul,
do Prata e Amazônia, o Pantanal funciona como corredor biogeográfi-
co, promovendo a dispersão da fauna e flora”.58
170. “Durante a cheia, os rios, lagos e riachos ficam interligados
por canais e lacunas ou ‘desaparecem’ no ‘mar’ de águas, permitindo

58 CAMPANILI, Maura e Beto Ricardo. Almanaque Brasil Socioambiental 2008. Editora: Instituto
Socioambiental. Disponível em: www.socioambiental.org.

59

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o deslocamento de espécies. Esse processo é um dos principais res-
ponsáveis pela constante renovação da vida e pelo fornecimento de
nutrientes. Na época da seca, formam-se então lagoas e corixos isola-
dos, os quais retém grandes quantidades de peixes e plantas aquáticas.
Lentamente esses corpos d’água vão secando, o que atrai aves e outros
animais em busca de alimentos promovendo espetacular concentra-
ção de fauna. Coincide, em algumas regiões, com a florada de várias
espécies, provocando cenários de raríssima beleza. Vale lembrar que
o Pantanal é uma das áreas mais importantes para aves aquáticas e es-
pécies migratórias, como abrigo, fonte de alimentação e reprodução”.59
171. As principais atividades econômicas desenvolvidas na pla-
nície pantaneira são a pecuária, a pesca, o turismo, a extração de miné-
rios e a agricultura.
172. A pecuária não sustentável, a monocultura da cana-de-açú-
car e da soja e a contaminação de solos e dos recursos hídricos com in-
sumos agrícolas são pontos de alerta. Qualquer impacto negativo nas
nascentes e cabeceiras dos rios pode, por exemplo, alterar de forma
drástica toda a planície inundável.
173. A pecuária é a atividade econômica que se tornou a mais
significativa e se estende do planalto das bordas da bacia até a pla-
nície alagável. Com um rebanho estimado em 16 milhões de cabe-
ças de gado – 16 cabeças de gado para cada habitante – estabelece
o padrão de ocupação do espaço geográfico e determina a cultu-
ra pantaneira, além de muitos dos impactos ambientais na região.
Desmatamento, queimadas e assoreamento de rios são alguns dos
problemas relacionados com a atividade, quando a mesma não é
praticada com responsabilidade.
174. A expansão desordenada e rápida da agropecuária, com a
utilização de pesadas cargas de agroquímicos, a exploração de diaman-
tes e de ouro nos planaltos, com utilização intensiva de mercúrio, são

59 Idem.

60

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responsáveis por profundas transformações regionais. Algumas delas
vêm sendo avaliadas pela Embrapa Pantanal, como a contaminação de
peixes e jacarés por mercúrio e diagnóstico dos principais pesticidas.
175. A remoção da vegetação nativa nos planaltos para imple-
mentação de lavouras e de pastagens, sem considerar a aptidão das
terras, e a adoção de práticas de manejo e conservação de solo, além da
destruição de hábitats, são fatores que aceleraram os processos erosi-
vos nas bordas do Pantanal. A consequência imediata tem sido o asso-
reamento dos rios na planície, o que tem intensificado as inundações
– com sérios prejuízos à fauna, flora e economia do Pantanal.
176. Nos últimos anos, o Pantanal tem sido objeto de diversas
ações do poder público associado a interesses empresariais de gran-
des impactos negativos, tais como a construção da hidrovia Paraguai/
Paraná, a instalação de Zonas de Processamento de Exportação e a
construção de hidroelétricas e uma política de pesca prejudicial às po-
pulações da região.60
177. Os recentes esforços de redução das emissões de CO2 pela
expansão da produção de álcool e biocombustíveis em geral aumentam
a preocupação a respeito de seus impactos sobre o Pantanal, tendo em
vista a crescente demanda por terra agricultável e água para irrigação
de lavouras e processamento destes combustíveis, o que provocará o
aumento da liberação de agrotóxicos e rejeitos, além da sedimentação
provocada pela erosão.
178. “A pesca e o turismo – O peixe é o bem natural que mais
gera renda no Pantanal. Essa condição pode mudar devido ao desma-
tamento no planalto e na planície para o plantio de pastagens e grãos,
somando às queimadas, o que afeta negativamente os sistemas aquáti-
cos e, consequentemente, toda a fauna aquática, principalmente os es-
toques pesqueiros. A gravidade do quadro é mais evidente quando se
considera que os peixes constituem um dos maiores compartimentos

60 Manifesto em defesa do Pantanal. 2012.

61

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de reserva viva em nutrientes e energia, garantindo a sobrevivência de
inúmeras outras espécies e o equilíbrio do sistema. Entre outras fun-
ções, atuam como dispersadores de sementes e constituem a alimen-
tação básica para muitos componentes da fauna. Nos períodos da seca,
a mortalidade aumenta, pois as populações são obrigadas a concen-
trarem-se nas lagoas e canais permanentes, constituindo presas fáceis
para as aves e outros animais, além de ficarem ainda mais suscetíveis
à pressão da pesca. A pesca esportiva se tornou o principal atrativo
do turismo regional, especialmente no Mato Grosso do Sul, trazendo
mais de 100 mil pescadores por ano. Conta com uma infraestrutura de
barcos e gera milhares de postos de trabalho nos dois estados. Apesar
da importância da pesca, devem ser anotados problemas ambientais e
sociais. Entre os sociais está a prostituição”.61
179. Além do turismo de pesca, também desenvolveram o tu-
rismo ecológico e rural, que, na última década, contribuíram para a
melhoria da infraestrutura, com mais hotéis e barcos, e para o aperfei-
çoamento dos serviços. O turismo é uma atividade que pode ampliar-
-se com a sustentabilidade, pois promove retorno econômico. Infeliz-
mente, o turismo não tem sido considerado em todo o seu potencial,
permanece o discurso industrialista para algumas regiões.
180. “Mineração e siderurgia – A mineração e, mais recentemen-
te, a siderurgia, são atividades em plena expansão na bacia do Alto
Rio Paraguai, impulsionadas pelo crescimento da economia brasileira
e a demanda mundial. São explorados o ferro, o manganês e o calcá-
rio na parte sul e o ouro na parte norte. A mineração encontra-se em
dois complexos na periferia do Pantanal: Maciços do Urucum e de
Cuiabá – Cáceres. No Urucum, município de Corumbá, situa-se uma
das maiores jazidas de manganês da América Latina, com mais de
100 bilhões de toneladas: as de ferro estão estimadas em 2 bilhões
de toneladas. Todo o manganês é extraído de minas subterrâneas e o
ferro de minas a céu aberto. As atividades de mineração podem afetar

61 CAMPANILI, Maura e Beto Ricardo. Almanaque Brasil Socioambiental 2008. Editora: Instituto
Socioambiental. Disponível em: www.socioambiental.org.

62

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os lençóis freáticos que abastecem os rios, córregos e poços, contami-
nando a água. Impactos negativos da mineração já foram evidenciados
no município de Corumbá. Grandes empresas responsáveis pelo maior
volume de extração mineral estão envolvidas na construção de um polo
siderúrgico para a produção do ferro-gusa e aço. Outras como a de uma
usina termoelétrica movida a gás. A maior preocupação dos ambienta-
listas para os próximos anos é com a produção siderúrgica e sua depen-
dência do carvão vegetal, para o abastecimento dos fornos, fator que já
tem levado a uma retirada de vegetação de maneira acelerada”.62
181. O tráfico, a caça e a venda de peles, couro ou artefatos pro-
venientes de animais silvestres são práticas que, embora ilegais, ainda
ocorrem. Várias espécies de animais já estiveram sob forte ameaça de
extinção. As situações mais conhecidas nacional e internacionalmente
são o jacaré-do-pantanal e a onça.
1.5.5. Contextualização política
182. “As áreas alagadas do mundo demoraram para ter seu papel
ambiental reconhecido e respeitado, embora ainda hoje sofram ameaças
de extinção em toda a face da Terra. Os Programas do Regime Militar
Brasileiro, como o Pró-Várzeas incidiram de modo nefasto sobre nos-
sas áreas alagadas, drenando-as para facilitar o cultivo de monocultu-
ras, ignorando seu papel na regulação do fluxo de água, das nascentes,
de ‘ninhos’ da biodiversidade”.63
183. “A falta de visão e políticas integradas para o Pantanal, que
considerem efetivamente as tendências regionais e as necessidades es-
senciais das populações locais resultam em ações isoladas e com pou-
ca repercussão em sua totalidade. Além disso, as principais demandas
sociais vão sendo postas em segundo plano, devido à falta de imple-
mentação de políticas participativas e a má aplicação de recursos. São
escassos os esforços para a construção de sinergias entre iniciativas,
o que dificulta a implementação de estratégias sustentáveis para a

62 Idem.
63 Idem.

63

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melhoria da qualidade de vida no bioma Pantanal. Os problemas am-
bientais, sociais e econômicos na região pantaneira têm sido cada vez
mais intensos, exigindo medidas articuladas e eficazes com a realidade
local”,64 tais como: o alinhamento da atuação das diferentes esferas do
poder público (municipal, estadual e federal); revisão da legislação vi-
gente referente às áreas de proteção permanente e reservas legais para
a região da BAP; integração nas políticas de conservação e uso dos
recursos naturais entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul; maior esforço do poder público no sentido de avaliar profunda-
mente o licenciamento e a fiscalização de novos empreendimentos
que provoquem impactos sobre a região da BAP e a implementação de
um amplo programa de restauração ambiental nas áreas já degradadas
e que estejam em discordância com a legislação vigente, atribuindo
aos responsáveis pela degradação o ônus de custear este processo.
1.5.6. Contribuição eclesial
184. A presença missionária e servidora da Igreja Católica per-
manece viva no bioma Pantanal, suas dioceses, com as Pastorais
Sociais: Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Cáritas, Pastoral
da Criança, Pastoral da Saúde, Comunidades Eclesiais de Base, entre
outras, dedicam especial atenção aos povos originários, ribeirinhos e
pantaneiros desta região. Elas estão mais próximas e podem ser o elo
para a “ecologia integral” neste “Santuário da Vida”.
185. A partir do Evangelho, a Igreja, para além dos aspectos da
preservação e do cuidado, se preocupa com a vida no bioma Pantanal.
Com esperança e comprometimento, ela se mantém firme na defesa
da vida dos povos originários e das comunidades tradicionais, que fo-
ram se instalando na região e acabaram por transformar estas localida-
des pantaneiras em terras ancestrais.
186. Para a Igreja, o bioma não representa somente um santuário
ecológico onde se preservam espécies, mas sim um lugar onde o ser
humano faz uma profunda experiência de Deus, da natureza e do outro.

64 Idem.

64

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1.6. Bioma Pampa
187. Os Campos da Região Sul do Brasil são denominados
como “pampa”, termo de origem indígena para “região plana”, entre-
tanto, esta denominação corres-
ponde somente a um dos tipos MS
de campos encontrados.
SP
188. A característica prin-
cipal deste bioma é a sua vegeta- PR
ção, que apresenta uma compo-
sição herbácea, ou seja, formada SC
basicamente por gramíneas e es-
pécies vegetais de pequeno por-
te, não ultrapassando os 50 cm RS
de altura. Esse tipo de paisagem
apresenta dois tipos bem defini-
dos: os chamados campos lim- Fonte de dados: Projeto de monitoramento do desmatamen-
pos e os campos sujos. to dos Biomas Brasileiros por satélite (PMDBS)

189. Campos limpos: Ocorrem quando a vegetação não apre-


senta arbustos, ganhando uma paisagem mais homogênea, sem dife-
renças muito grandes entre uma parte e a outra.
190. Campos sujos: Ocorrem quando há uma maior presença
desses arbustos, que se “misturam” à paisagem.
191. O bioma Pampa exibe um imenso patrimônio cultural as-
sociado à biodiversidade, suas paisagens naturais se caracterizam pelo
predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas
ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, formações arbustivas,
butiazais, banhados, afloramentos rochosos etc.
1.6.1. Localização
192. O bioma Pampa, com 176.496 km2, ocupa 2,07 % do
território nacional e se restringe ao estado do Rio Grande do Sul,

65

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ocupando 63% do território daquele estado, entretanto, ele se estende
aos países vizinhos, Argentina e Uruguai.65
193. Por se tratar de uma “região plana” e coberta por vegetação
rasteira, o bioma Pampa, por suas pastagens naturais, acabou por fa-
vorecer o desenvolvimento extensivo da pecuária. Hoje, aproximada-
mente 2,6 milhões de brasileiros habitam esse bioma.66
1.6.2. Características naturais – biodiversidade
194. Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos e paisa-
gens naturais variadas entre serras e planícies, morros, onde crescem
vegetação e coxilhas – pequenas colinas cobertas por pastagens –,
o bioma Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversida-
de, que, inclusive, não está completamente descrita pela ciência.
195. As estimativas indicam valores em torno de 3.000 espécies
de plantas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa vale des-
tacar o Algarrobo e o Nhandavaí arbustos cujos remanescentes podem
ser encontrados apenas no Parque Estadual do Espinilho.
196. A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves. Tam-
bém ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres. O Pampa
abriga um ecossistema muito rico. Trata-se de um patrimônio natural,
genético e cultural de importância nacional e global.
197. Uma das características marcantes no cenário pampeano,
que não se pode deixar de mencionar, é o vento. Fator vital na con-
figuração da paisagem, o vento minuano, companheiro nos dias de
inverno, moldou não só a paisagem como também o temperamento
da população, influenciando seus hábitos. Essa paisagem bucólica do
bioma Pampa se mantém viva no imaginário popular.
198. É no bioma Pampa que se localiza grande parte do Aquífero
Guarani, uma reserva estratégica de água doce não só para o Rio Grande

65 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Pampa. Disponível em: http://www.mma.gov.br/bio-


mas/pampa.
66 GOVERNO FEDERAL. Os biomas e suas florestas. Disponível em: http://www.florestal.gov.br/
snif/recursos-florestais/os-biomas-e-suas-florestas?print=1&tmpl=component. Acesso em:
05/04/2016.

66

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do Sul, mas para todo o Brasil e toda a América Latina, que é fundamen-
tal na manutenção de toda a biodiversidade. Também no bioma Pampa,
duas bacias hidrográficas se destacam, a Bacia Costeira Sul e Bacia do Rio
da Prata, com destaques aos rios Uruguai, Santa Maria, Jacuí e Ibicuí.
199. “A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das
pastagens com espécies exóticas têm levado a uma rápida degradação e
descaracterização das paisagens naturais do bioma Pampa. Estimativas
de perda de hábitat dão conta de que em 2002 restavam 41,32% e em
2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa”.67
1.6.3. Os povos originários e a cultura – sociodiversidade
200. Os povos indígenas Tupi-Guarani habitavam o Rio Grande
do Sul, localizando-se as etnias Tapes, Carijós, Arachanes e Guaianás
no norte e nordeste e os Guenoas, Minuanos e Charruas a oeste e ao
sul. Pode-se afirmar que os Charruas e Minuanos, através de seus há-
bitos, foram os povos que mais contribuíram para formação do tipo
humano e social que mais tarde foi identificado como “gaúcho”.
201. Os primeiros europeus a ocupar o Rio Grande do Sul foram
os jesuítas espanhóis vindos do Paraguai que fugindo dos bandeiran-
tes paulistas se estabeleceram na parte noroeste do estado trazendo in-
dígenas e gado bovino. Este gado recém-chegado era criado solto. Não
havia nenhum rigor ou cuidado especial já que muito bem adaptado o
gado crescia livre alimentando-se de vastas pastagens.
202. No século XVIII, os negros escravos chegam ao Rio Grande
do Sul, participando das lavouras de trigo, nas charqueadas e nas es-
tâncias de criação, assim como a ocupação da região da campanha pe-
los portugueses devido ao tratado de Madri.
203. As estâncias a partir da exploração pastoril, passaram a de-
finir a posse das áreas de conflito no estado, a posse do gado, e a esta-
belecer as relações capitalistas com o assalariamento de capatazes e

67 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Pampa. Disponível em: http://www.mma.gov.br/bio-


mas/pampa.

67

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peões. A pecuária era um fator que determinava a posse da terra, ou
seja, quanto mais cabeças de gado, mais terras poderiam ser ocupadas,
garantindo a posse do território.
204. A partir do século XIX iniciou-se o cercamento dos campos
iniciando importantes mudanças no modo de vida do gaúcho.
205. Com o passar do tempo, a estância passa à fazenda. Mudam-se
as relações familiares e o caráter principal de subsistência dando lugar à
fazenda com função comercial. Com todas estas mudanças provocadas
por pressões de fatores externos, como a disseminação do iluminismo,
a revolução industrial e a consolidação das relações capitalistas no mun-
do, mudou-se também a própria cultura do gaúcho de vida errante.
206. Ainda hoje, nos pecuaristas e agricultores familiares, estão
presentes os laços de apego à terra, ao trato direto com os animais, da re-
lação com o ambiente e a identificação com o gaúcho-peão. Este grupo
social pode ser representado pela noção de pequeno pecuarista familiar
que ajudará a caracterizar os grupos de trabalhadores rurais gaúchos,
descendentes de etnias indígenas, de europeus e de povos africanos.
207. Destaca-se a heterogeneidade da dimensão étnica dos pecu-
aristas familiares, pois não possuem uma origem homogênea ou uma
única matriz étnica. Constituem-se como um grupo oriundo de uma
miscigenação histórica entre comunidades tradicionais adaptados à
região da campanha gaúcha, como quilombolas, indígenas e açorianos.
208. A mulher tem assumido seu papel na conservação do Pampa.
Em épocas passadas elas eram responsáveis pelas lidas domésticas,
pela alimentação da família, pelos cuidados com os filhos. As mulhe-
res dos peões além de trabalharem em suas casas também trabalhavam
na casa dos patrões e muitas ainda na agricultura para autoconsumo.
209. Atualmente, muitas mulheres rurais na campanha gaúcha
têm sido as responsáveis e as mantenedoras da economia doméstica,
organizando-se em cooperativas, lidando com a pecuária de leite, com
o artesanato e com a produção de alimentos manufaturados e com as

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hortaliças complementando a renda da casa. A mulher rural é conhe-
cedora das ervas medicinais e dos processos de curas naturais auxi-
liando na preservação dos recursos naturais.
210. Mesmo com todo esse processo histórico, o Pampa, com
sua culinária, danças e costumes é o palco principal da cultura gaúcha,
em uma região constituída basicamente por grandes fazendas para a
criação de gado bovino e haras para criação de cavalos de raça. A ovi-
nocultura, tanto pelo uso da carne como da lã, ainda é a mais forte
tradição da região Pampa, mas sua principal atividade continua sendo
a criação de gado bovino.
211. O chimarrão, o churrasco, a música de fronteira, são ri-
quezas que permanecem mesmo em tempos da indústria cultural.
Essa cultura atravessa fronteiras, abrangendo também o território do
Uruguai e da Argentina.
1.6.4. A beleza, as fragilidades e os desafios do bioma Pampa
212. Com espécies raras e ameaçadas e lembrando uma savana o
Parque do Espinilho no sudoeste do Rio Grande do Sul, no município
de Barra do Quarai compõe a beleza do bioma Pampa. Ampliado como
Parque Estadual do Espinilho, pelo Decreto n. 41.440, de 28 de feverei-
ro de 2002, sua área é de 1.617,14 hectares. Nele se encontra o último
remanescente significativo desse tipo de vegetação do bioma Pampa.
213. Outro destaque do bioma Pampa fica por conta de seus
“banhados” – eles, ao contrário do aspecto seco do parque de espini-
lho, são presenças comuns na paisagem pampeana. No sul do estado,
o Banhado do Taim, protegido por uma estação ecológica do mesmo
nome, é o mais conhecido. Nos municípios de Itaqui e Maçambará, na
fronteira com a Argentina, ocorre o banhado São Donato, reconheci-
do como reserva ecológica na década de 1970.
214. Estudo realizado pela Secretária Estadual do Meio Ambien-
te indicou a ampliação da área de “banhado” para 17 mil hectares vi-
sando abranger outros ecossistemas. Sua área atual, de 4.392 hectares,
está praticamente cercada pela agricultura, principalmente de arroz.

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A grande maioria dos banhados foi drenada para uso agrícola, atra-
vés do Programa Pró-Várzea do governo federal na década de 1970.
Informações não oficiais dizem que os poucos banhados que restam
foram protegidos para viabilizar a caça, uma vez que esta prática está
legalizada no Rio Grande do Sul.
215. Com predominância no Sudoeste, mas presente em todo o
bioma Pampa, encontram-se os cerros e as serras. São pequenos e bai-
xos morros que aparecem em área totalmente plana.
216. Entre os desafios e as fragilidades do bioma Pampa estão as
iniciativas governamentais que contrariam a vocação natural da região
para a pecuária e o turismo, elas pretendem desenvolver uma cultura
totalmente estranha ao povo e ao ecossistema da região. A pecuária,
atividade tradicional do bioma Pampa, produz proteína e alimentos
que recebem alta cotação no mercado consumidor, além de causar im-
pactos ambientais menor, do que às atuais propostas.
217. Já é possível constatar nas “novas iniciativas” em andamen-
to, os grandes plantios de pinus e eucaliptos no Pampa brasileiro, sen-
do que os impactos ambientais dessas grandes monoculturas são bem
conhecidos no planeta. Considerando que grande parte do bioma
Pampa é uma grande planície, o plantio extensivo de pinus e eucalip-
tos, além de alterar os recursos hídricos e a cultura, interferem no regi-
me dos ventos e de evaporação, condições essas, que causará impactos
significativos no clima do bioma Pampa.
218. O processo de formação de bancos de areias em solos já
arenosos e não consolidados, o que acarreta a baixa presença ou até a
extinção da vegetação em virtudes de fixação em função das constan-
tes movimentações da camada superficial dos solos, conhecido como
arenização. Por se tratar de um grave problema socioambiental, é um
dos desafios do bioma Pampa.
219. Nela, ocorre um processo erosivo conhecido popularmen-
te como desertificação. Esse afloramento de depósitos arenosos a

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partir da remoção da cobertura vegetal também provocada pelo esco-
amento da água da chuva, estão entre as fragilidades a serem conside-
radas no bioma Pampa.
220. Outras preocupações que constituem ameaças ao bioma
Pampa, são a ampliação da área de soja, trigo e arroz e a cultura da
mamona para a elaboração de biocombustível. Há, ainda, a antiga e
constante ameaça da mineração e queima de carvão mineral, cujos
impactos locais, regionais e globais tais como: acidificação da água;
alteração da paisagem; deslocamento de populações assentadas; au-
mento da incidência e frequência de doenças pulmonares; chuva ácida
e emissão de gases efeito estufa, são bem conhecidos.
1.6.5. Contextualização política
221. O latifúndio do Pampa é fruto das chamadas sesmarias, ca-
pitanias hereditárias, por isso esta região do estado é onde há a menor
concentração demográfica e onde há também muita pobreza fruto da
concentração da terra nas mãos de alguns em detrimento da maioria.
222. É no Pampa que existe a grande maioria dos latifúndios do
Rio Grande do Sul. A partir da criação de gado e nos últimos dez anos
estes latifúndios, grande parte improdutivos ou abaixo do índice de
produtividade estabelecido pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA), vem sendo tomados por monoculturas de
eucalipto, acácia e pinus.
223. Esses monocultivos são denominados pelos Movimentos
Sociais de “Deserto Verde”, exatamente porque são extremamente no-
civos ao meio ambiente, prejudicando profundamente a fauna e a flora
originais do Pampa. Outro impacto social negativo é a inviabilização
a agricultura familiar camponesa devido aos impactos ambientais que
estão afetando o ambiente e o clima da região.
224. É importante destacar que, apesar de ser região latifundiária,
há muitas famílias de pequenos agricultores, indígenas, quilombolas.

71

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1.6.6. Contribuição eclesial
225. A Igreja está presente na região desde a “primeira evangeli-
zação”, mas com características muito próprias. Foi ali que os missio-
nários jesuítas fundaram “As Missões dos Sete Povos”. Instituíram o
cooperativismo dando grande contribuição na defesa dos indígenas,
mas que foi golpeada pelo Tratado de Madri entre Portugal e Espanha,
1750, determinando que teriam que deixar seus territórios e irem para
o lado controlado pelos espanhóis. Os índios resistiram, mas houve
guerra, massacres e teve ali o início da dizimação do povo guarani.68
226. Nos últimos anos, seja pela presença das Pastorais Sociais,
das Semanas Sociais, das Campanhas da Fraternidade, das CEBs, mui-
to se valoriza a agricultura familiar, os territórios das comunidades tra-
dicionais e os remanescentes indígenas.

68 GOVERNO DE PORTO ALEGRE. História das Missões. Disponível em: http://websmed.


portoalegre.rs.gov.br/escolas/obino/cruzadas1/indio1/reducoes_pag/historia.htm. Acesso em:
18/05/2016.

72

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CAPÍTULO II – JULGAR
1. Na Sagrada Escritura
227. A Sagrada Escritura não se preocupa diretamente com os
biomas. Contudo, oferece elementos que iluminam a temática a partir
do projeto de Deus nela apresentado. Tal projeto inicia-se pela criação
e organização do mundo, conhece uma ruptura por causa do pecado e
seu verdadeiro significado é revelado em Cristo Jesus. A reflexão que
segue está dividida nesses três momentos buscando apresentar que o
mundo e as criaturas fazem parte desse projeto de Deus.

2. Harmonia original: o mundo criado


228. A fé judaico-cristã aponta um caminho objetivo: o mundo
foi criado por Deus. A Sagrada Escritura apresenta em suas primeiras
páginas este elemento de fé que indica que o mundo é obra desejada
por Deus, criado harmonicamente por amor. A criação é apresentada
em dois relatos diferentes nos quais Deus vai progressivamente orga-
nizando seus elementos interdependentes até a conclusão de toda a
obra. O primeiro relato apresenta a criação sendo realizada em sete
dias (Gn 1,1-2,4a). O próprio número sete indica a perfeição da obra
criada. Cada dia tem em seu programa um elemento necessário para
a continuidade da obra no outro dia: a luz (Gn 1,3), o firmamento e
a separação das águas (Gn 1,7), a solo firme ou continente para nele
fazer brotar as plantas (Gn 1,9-12), os luzeiros para separar dia e noite
(Gn 1,14), os seres vivos das águas e os pássaros (Gn 1,20) e os ani-
mais terrestres (Gn 1,24). O sétimo dia tem como programa o des-
canso de Deus. Assim é apresentada a criação e a inter-relação de seus
elementos é identificável inclusive na criação primeiro dos ambientes
para na mesma sequência criar aqueles que neles se encontram (luz-
-luzeiro, firmamento-pássaros/peixes, solo firme-animais terrestres).
A esta mesma constatação se chega quando se lê o segundo relato da
criação (Gn 2,4b-25) no qual, após criar o céu e a terra, ainda não

73

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existia arbusto devido à ausência da chuva e de quem pudesse cultivar
o solo (Gn 2,4b-5). Será o próprio Deus a providenciar a chuva e a
formar o homem (Gn 2,7). Cada relato com sua peculiaridade expõe
a mesma realidade: tudo aquilo que existe é criação amada, desejada e
realizada por Deus. Assim a Bíblia afirma que nenhum ser existe isola-
damente, todos estão relacionados como partes de um plano no qual,
de certa forma, uns dependem dos outros e o ser humano possui o
papel de ser o guarda desta obra criada.
229. Nessa harmonia as diversas criaturas de Deus são muito
boas (Gn 1,31). Isso leva à constatação que a criação está repleta de
maravilhas que ultrapassam o conhecimento ( Jó 42,3). A simples
existência de cada ser é um louvor a Deus. O esplêndido cântico de
Daniel brota da contemplação dessa bondade: “Bendizei ao Senhor,
todas as obras do Senhor; aclamai e superexaltai-o para sempre”
(Dn 3,57), convidando toda a criação a dar o devido louvor a Deus
através da beleza peculiar de cada um de seus elementos.
230. A obra criada é, portanto, uma obra-prima das mãos de
Deus como se lê no Salmo 8. A liturgia judaica afirma esta convicção
considerando o céu e a terra como um pergaminho aberto sobre o
qual está escrita uma mensagem de Deus para o homem. Essa imagem
se inspira no Salmo 19 no qual o salmista fala de uma silenciosa sin-
fonia “os céus narram a glória de Deus, o firmamento anuncia a obra
de suas mãos. O dia transmite ao dia esta mensagem e a noite conta a
notícia a outra noite. Não é uma fala, nem são palavras, não se escuta a
sua voz. Por toda a terra difundiu-se a sua voz e aos confins do mundo
chegou a sua palavra” (Sl 19/18,2-5). E, por isso, todos os movimen-
tos na criação são entendidos como desejados por Deus que “cobre o
céu de nuvens, prepara a chuva para a terra, faz brotar sobre os montes
a erva e plantas úteis ao homem; (...) faz cair a neve como lã, espalha a
geada como cinza. (...) envia uma ordem e se derretem, sopra o vento
e correm as águas” (Sl 147/146+147,8-18). Todas as ações naturais
encontram assim em Deus a sua origem por ser ele “criador do céu e
da terra, do mar e de quanto contém” (Sl 146/145,6).

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231. Dentro desta harmonia, o homem recebe uma missão espe-
cial. O primeiro relato afirma que o homem foi criado à imagem e se-
melhança de Deus (Gn 1,27); a ele foi dado um papel mais importante
que aos outros seres (Gn 1,28). O segundo relato é mais direto, nele
Deus confia ao homem o papel de guarda da criação. Por isso, Deus
modela o homem do barro sopra em suas narinas, planta um jardim
e coloca o homem ali para cultivar e guardar (Gn 2,5.15). Forma a
mulher da costela do homem, conferindo a ela a mesma dignidade e a
mesma missão (Gn 2,18). Destes versículos observa-se que o homem
possui, no ideal inicial, três tipos de relação: com Deus, com a obra
criada e com seu próximo. A relação com Deus e com seu próximo se
dá dentro do jardim indicando que o jardim não é apenas o local do
qual retira o seu alimento, mas é o ambiente do encontro com Deus
e da vivência da fraternidade (Gn 1,29-31). Por isso, ele precisa ser
cultivado com o mesmo amor com que foi criado, para continuar fru-
tificando; e deve ser guardado com cuidado, para que as relações entre
as pessoas também sejam fecundas. O jardim bem cuidado seria o in-
dicativo que as três relações estão bem cultivadas.
232. A acusação que a ordem de Deus “enchei a terra e submetei-a”
(Gn 1,28) favoreceria a exploração selvagem da natureza se baseia
em uma má compreensão do texto. O Papa Francisco na encíclica
Laudato Si’ explica que “‘cultivar’ quer dizer lavrar ou trabalhar um
terreno, ‘guardar’ significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto im-
plica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e
a natureza”.69 Ademais, o próprio relato da criação indica limites: não
é lícito ao casal comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e
do mal, indicando com isso que o homem não pode dispor da terra a
seu bel-prazer (Gn 2,17). Com isso se adianta o que se afirma no Livro
do Deuteronômio 10,14 que ao Senhor pertence a terra e o que ela
encerra, e o que canta o salmista “do Senhor é a terra” (Sl 24/23,1).
O próprio Senhor afirma “a terra é minha, e vós sois estrangeiros e
meus agregados” (Lv 25,23).

69 LS, n. 67.

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233. A criação pertence a Deus. O homem, que é imagem e se-
melhança de Deus, recebeu a vocação de cuidar e guardar com aten-
ção dos seres que dela fazem parte.

3. A aliança rompida e o pecado


234. As primeiras páginas do Livro do Gênesis relatam tam-
bém a triste realidade do pecado do homem. Ao desobedecer a Deus
comendo do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal
(Gn 3,6), o homem provoca uma ruptura nas relações com conse-
quências imediatas.
235. A primeira relação a ser ferida é com Deus. Tendo des-
confiado da bondade de Deus e desobedecido sua palavra, o homem
que se realizava no contexto da aliança, não se encontra mais seguro.
O casal que antes convivia com Deus no jardim, passa a ter medo e a se
esconder (Gn 2,10). Observa-se que, gradualmente, a humanidade vai
se tornando arrogante, querendo “ser como Deus” (Gn 3,5). O mes-
mo percebe-se na narrativa da torre de Babel: “Vamos construir para
nós uma cidade e uma torre que chegue até o céu. Assim nós faremos
um nome” (Gn 11,4). A intenção de ocupar o lugar de Deus e usurpar
seu nome mostra a que ponto chega a ruptura da relação com ele.
236. As relações interpessoais também são afetadas. Rompe-se a
harmonia da relação do casal, que se degenera gradualmente: primeiro
se transforma em cumplicidade no pecado (Gn 3,6) e depois ambos
fogem de sua responsabilidade transferindo a culpa (Gn 3,12-13).
A partir daí, em uma espiral crescente, a tensão invade as relações fra-
ternas, transforma-se em violência e culmina no assassinato de Abel
por Caim (Gn 4,8) e a injustiça se espalha sobre a terra (Gn 4,23).
A multiplicidade de idiomas apresentada em Gn 11,9 sinaliza a in-
capacidade do ser humano de reconstruir sozinho o relacionamento
com seu próximo. A perda da linguagem do amor que harmoniza tudo
é a verdadeira causa do desentendimento e das rupturas seja com o
próximo, seja com a criação.

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237. A ruptura dos relacionamentos inclui o mundo criado. Mui-
tos são os textos que apresentam as atitudes do homem como provoca-
doras de sofrimento à obra criada: Sodoma e Gomorra serão destruídas
(Gn 19), o Egito sofrerá com as pragas (Ex 8-11), Nínive é ameaçada de
destruição (Jn 1,2), Jerusalém sofre pelo pecado de Davi (2Sm 24) etc.
O relado da queda afirma que, em consequência do pecado, a terra passa
a ser hostil ao homem (Gn 3,19) que é expulso do jardim. O mundo
desfigurado é sinal que a aliança foi rompida e Deus foi esquecido.
238. Aos profetas caberá a missão de denunciar o pecado confron-
tando-o com o plano de Deus. Eles denunciam o pecado em termos de-
cisivos, mas não deixam de insistir no valor do arrependimento (Am 5,4;
Os 14; Jr 3,12; Is 55,7; 57,15; Ez 18,23). Com eles surge uma nova pers-
pectiva: as relações feridas pela desobediência podem ser restauradas por
Deus compassivo e misericordioso. É anunciado um novo tempo, no
qual será o próprio Deus a intervir na desarmonia presente no coração do
homem (Ez 37). Inicia-se assim o anúncio de um tempo novo, o tempo
messiânico, no qual a conversão e a esperança podem renascer. Em Isaías
o tempo messiânico é anunciado como um tempo no qual a harmonia da
criação será reestabelecida. O homem recuperará sua relação com Deus:
“teus filhos serão todos discípulos do Senhor e grande será a felicidade
deles” (Is 54,13). A relação entre os homens será restaurada: “nenhuma
nação pegará em armas contra a outra e nunca mais se treinarão para a
guerra” (Is 2,4; Is 60,18-19). E a relação com todo o mundo criado será
pacificada: “o lobo, então, será hóspede do cordeiro, o leopardo vai se dei-
tar ao lado do cabrito, o bezerro e o leãozinho pastam juntos, uma criança
pequena toca os dois (...) O bebê vai brincar no buraco da cobra veneno-
sa” (Is 11,6-8). A harmonia que regia os relacionamentos será restaurada.

4. Tempos messiânicos: restauração


de tudo em Cristo
239. “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu
Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram
sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos” (Gl 4,4-5).

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Estas palavras de São Paulo dirigidas aos gálatas indicam a dimensão da
graça realizada em Cristo Jesus. Nele se concretiza o que foi anunciado
através da lei e dos profetas. O Verbo de Deus se encarna assumindo
nossa humanidade ( Jo 1,14), todavia sem pecar (Hb 4,15). Desta for-
ma inaugura-se o tempo messiânico. Em Jesus podemos compreender
o motivo pelo qual o mundo foi criado. “Tudo foi feito por meio dele,
e sem ele nada foi feito de tudo o que existe” ( Jo 1,3). Com a encarna-
ção nos é revelado que a bondade da criação não foi perdida, mas que
“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo
o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” ( Jo 3,16). Deus
não deseja condenar o mundo, mas salvá-lo ( Jo 3,17). Tudo é dele,
por ele e para ele (Rm 11,36).
240. Desta forma, em Cristo é restabelecida a relação entre o ho-
mem e Deus. A iniciativa é sempre de Deus, porque o homem em si é in-
capaz de se reconciliar com seu Criador por suas próprias forças. A ação
de Deus é primeira e decisiva “tudo vem de Deus, que, por Cristo, nos
reconciliou consigo” (2Cor 5,18). Ele sempre amou a humanidade mes-
mo enquanto pecadora (Rm 5,10) e morreu para salvá-la (2Cor 5,8).
Jesus, o homem perfeito, relaciona-se de forma próxima com Deus,
chamando-o de Pai (Jo 11,41b; 17,1b) e ensina os discípulos a fazerem
o mesmo (Mt 6,9-13; Jo 20,17). A revelação da paternidade de Deus
não apenas restaura a relação antes ferida, mas a eleva à plenitude.
241. A relação de Jesus com a criação serve de paradigma para o
que ensinará aos seus discípulos. Em suas parábolas faz perceber que a
criação contém em si explicações do agir de Deus (Mc 4,3-9) e de re-
alidades relativas ao Reino Deus. Jesus utiliza de elementos da criação
em sua catequese: a graça de Deus é comparada a uma fonte de água
viva ( Jo 4,10-14), a bondade de Deus com a chuva que cai sobre jus-
tos e injustos (Mt 5,45), a relação do homem com Deus com a vinha
e seus ramos ( Jo 15), a fé com a semente e o coração do homem com
o terreno onde a semente é lançada (Mc 4,1-20). Assim, por meio da
contemplação da criação o ser humano é convidado compreender que
sua vida está nas mãos de Deus e a abandonar-se à providência divina
que veste os lírios com uma beleza não acessível aos reis (Mt 6,28-29).

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242. Jesus é o modelo do homem abandonado à providência de
Deus. A confiança em Deus pacifica o coração do homem, libertan-
do-o do desejo desenfreado de possuir para garantir segurança a si
mesmo. Somente buscando o Reino de Deus em primeiro lugar o ho-
mem pode libertar-se do insaciável desejo de possuir (Mt 6,33-34).
Assim, as parábolas demonstram que para entender a lógica do Rei-
no de Deus o homem precisa da criação que dá visibilidade concreta
às palavras de Jesus. Ele mesmo está acima das contradições existen-
tes na criação. Estas não lhe são nocivas. Sua soberania o torna capaz
de pacificar os ventos e o mar (Mc 4,39), de caminhar sobre o mar
revolto (Mt 14,25; Jo 6,19), de trazer a vida aquele que já morreu
( Jo 11,1-45). Tudo isso, porque é ele quem aperfeiçoa a criação fa-
zendo nova todas as coisas (Ap 21,5).
243. A criação precisa ser renovada, porque sofreu as consequên-
cias do pecado, a humanidade redimida habitará uma terra também
redimida (Mt 5,5). Mas, por hora, ela não está pronta e ainda “espera
ser libertada da escravidão da corrupção, em vista da liberdade que é
a glória dos filhos de Deus” (Rm 8,21). As consequências do pecado
serão redimidas pela salvação realizada em Jesus Cristo. A redenção da
criação é apresentada em Ap 21-22 através da imagem da Jerusalém
celeste. O Apocalipse, através de simbologias, apresenta os sofrimen-
tos e contradições dentro da obra criada. Muitos são os elementos que
apontam o desequilíbrio gerado pelo pecado do homem e que despe-
jam suas consequências em toda a criação. São apresentados rios poluí-
dos (Ap 8,8; 16,4), árvores que são queimadas (Ap 8,7) pessoas que
morrem (Ap 8,11), terremotos (Ap 16,18), pessoas acometidas por
doenças (Ap 9,4-5), um cavaleiro que recebe o poder de retirar a paz da
terra para que os homens se matassem (Ap 6,4), outro que mata pela
espada, fome e peste (Ap 6,7). Tudo isso simbolizando o caos no qual a
criação se encontra envolvida. Quando a trama atinge seu clímax pare-
cendo não haver mais solução, a intervenção divina estabelece um fim a
este sofrimento e surge então um novo céu e uma nova terra (Ap 21,1).
A meta da história foi alcançada, a criação foi reconstruída em Jesus
Cristo que faz nova todas as coisas (Ap 21,5). O êxodo duro e difícil da

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história encontra no advento do novo céu e da nova terra o seu termo,
sua realização. Os símbolos utilizados para descrever a Jerusalém ce-
leste mostram que a criação está renovada. Diante do trono existe um
rio de água vivificante (Ap 22,1), a árvore da vida (Ap 22,2), a noite
desaparecerá, porque a luz será o próprio Senhor (Ap 22,5).
244. Portanto, a criação, amada e desejada por Deus, é ambiente
concreto onde o homem realiza sua vocação. Apesar de sofrer as con-
sequências do pecado do homem, ela também conhecerá uma renova-
ção. Deus continua sendo o seu Senhor e exercendo a soberania sobre
ela. Do interior da própria revelação emerge o desejo de Deus pela
preservação e cuidado com a obra criada. Para isso, colocou o homem
no jardim com a vocação de cultivar e guardar a criação. Quando o
homem realiza esta vocação consegue contemplar a grandeza de Deus
em sua criação e ouve a sinfonia silenciosa de louvor nela contida. No
entanto, não é possível ao homem realizar esta sua vocação quando se
descuida de sua origem e geração. Quando o homem se esquece de
Deus, desintegra-se a relação com seu próximo e a criação passa a ser
objeto de exploração e domínio. Pela revelação, Deus ensina ao ho-
mem que todas as criaturas estão relacionadas entre si e que a criação
o precede em existência e lhe foi confiada para cuidar e guardar. A fé
no Deus da vida, Pai de Jesus Cristo e criador do mundo, exige o zelo
e o respeito pela obra criada.

5. Laudato Si’: ponto culminante de um


caminho
245. A reflexão sobre os biomas e a convivência dos povos tradi-
cionais com eles destaca a importância da consciência de que na cria-
ção tudo está interligado e sobre a necessidade imperativa de cultivar
esses vínculos. Entre os temas do ensino social da Igreja a ecologia é
uma presença recente, mas já suficientemente consolidada.
246. Os pronunciamentos e documentos do magistério têm con-
tribuído significativamente para o aprofundamento e para a divulgação
dos desafios e da busca coletiva de soluções. Têm também evidenciado

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a ligação existente entre o desrespeito ao meio ambiente, questões so-
ciais, econômicas e éticas. Ponto culminante da contribuição eclesial
nessa área é a encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco. Ele, desde o dis-
curso que fez no início de seu ministério como Bispo de Roma, 19 de
março de 2013, afirmou ter consciência de que “guardar a criação intei-
ra” é “um serviço que o Bispo de Roma é chamado a cumprir”.
247. A reflexão seguinte quer contribuir para conhecer o caminho
de aprofundamento da consciência eclesial sobre a ecologia e para situar
nele a encíclica Laudato Si’. O desafio da convivência com os biomas,
embora não seja tema tratado especificamente, se ilumina de modo par-
ticular com a reflexão a respeito da interligação de todas as criaturas.

6. Beato Paulo VI: a tomada de consciência do


desafio ecológico
248. O Beato Paulo VI, na carta apostólica Octogesima Adveniens,
em comemoração dos oitenta anos da encíclica Rerum Novarum
(do Papa Leão XIII), iniciou a reflexão do magistério pontifício sobre
a ecologia, indicando sua relação com o modelo de desenvolvimento:
“À medida que o horizonte do homem assim se modifica, a partir das
imagens que se selecionam para ele, uma outra transformação come-
ça a fazer-se sentir, consequência tão dramática quanto inesperada da
atividade humana. De um momento para outro, o homem toma cons-
ciência dela: por motivo da exploração inconsiderada da natureza, co-
meça a correr o risco de destruí-la e de vir a ser, também ele, vítima
dessa degradação. Não só já o ambiente material se torna uma ameaça
permanente, poluições e lixo, novas doenças, poder destruidor absolu-
to; é mesmo o quadro humano que o homem não consegue dominar,
criando assim, para o dia de amanhã, um ambiente global, que poderá
tornar-se-lhe insuportável. Problema social de envergadura, este, que
diz respeito à inteira família humana. O cristão deve voltar-se para es-
tas perspectivas novas, para assumir a responsabilidade, juntamente
com os outros homens, por um destino, na realidade, já comum”.70

70 OA, n. 21.

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7. São João Paulo II: ecologia e ética
249. São João Paulo II aprofundou essa reflexão indicando que
é preciso levar em conta as ligações que há entre todas as criaturas e
afirmando que “é preciso levar em conta a natureza de cada ser e as liga-
ções mútuas entre todos, em um sistema ordenado, que é justamente o
cosmos”.71 E especificou as raízes bíblicas da questão ecológica, pondo
em evidência que “a limitação imposta pelo próprio Criador, desde o
princípio, e expressa simbolicamente com a proibição de ‘comer o fruto
da árvore’ (Gn 2,16-17), mostra com suficiente clareza que, em relação
à natureza visível, nós estamos submetidos a leis não só biológicas, mas
também morais, que não podem ser impunemente transgredidas”.72
250. Em particular, a sua Mensagem para o 23º Dia Mundial da
Paz foi toda centrada no tema “Paz com Deus criador, paz com toda a
Criação” (1º de janeiro de 1990). O seu pensamento foi expresso com
clareza: “O gradual esgotamento da camada do ozônio e o consequente
‘efeito de estufa’ que ele provoca já atingiram dimensões críticas, por
causa da crescente difusão das indústrias, das grandes concentrações
urbanas e do consumo de energia. Lixo industrial, gases produzidos
pelo uso de combustíveis fósseis, desflorestamento imoderado, uso
de alguns tipos de herbicidas, de sistemas de refrigeração e de outros
combustíveis, tudo isto, como se sabe, é nocivo para a atmosfera e
para o ambiente. Daí resultam múltiplas mudanças meteorológicas e
atmosféricas, cujos efeitos vão desde prejuízo para a saúde até a possí-
vel inundação, no futuro, de terras baixas. Enquanto em alguns casos o
dano já é talvez irreversível, em muitos outros casos ele pode ser ainda
atenuado. É um dever, portanto, que se impõe à inteira família humana
– indivíduos, Estados e Organismos internacionais – assumir cada um
seriamente as próprias responsabilidades”.73 Nessa mensagem falava de
aquecimento global e dos efeitos das mudanças climáticas ainda antes
que esses termos entrassem no uso comum. Afirmava um verdadeiro

71 SRS, n. 34.
72 Idem.
73 JOÃO PAULO II. Mensagem para o 23º Dia Mundial da Paz, 1990, n. 6.

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“direito a um ambiente seguro, como de um direito que deve passar a fi-
gurar em uma Carta atualizada dos direitos do homem”.74 Mas, acima de
tudo, falava da “urgente necessidade moral de uma nova solidariedade,
especialmente nas relações entre os países em vias de desenvolvimen-
to e os países altamente industrializados”.75 São João Paulo II observou
como os Estados devem se mostrar solidários, mas também, entre si,
“complementares” na promoção do desenvolvimento de um ambiente
natural e social pacífico e saudável. Aos países recém-industrializados
“não se pode requerer que apliquem certas normas ambientais restri-
tivas às próprias indústrias nascentes, se os países industrializados não
forem os primeiros a aplicá-las no seu interior”.76
251. Em sua encíclica Centesimus Annus (1º de maio de 1991),
São João Paulo II considera que “o homem, tomado mais pelo de-
sejo do ter e do prazer, do que pelo de ser e de crescer, consome de
maneira excessiva e desordenada os recursos da terra e da sua pró-
pria vida. Na raiz da destruição insensata do ambiente natural, há um
erro antropológico, infelizmente muito espalhado no nosso tempo.
O homem, que descobre a sua capacidade de transformar e, de certo
modo, criar o mundo com o próprio trabalho, esquece que este se
desenrola sempre sobre a base da doação originária das coisas por
parte de Deus. Pensa que pode dispor arbitrariamente da terra, sub-
metendo-a sem reservas à sua vontade, como se ela não possuísse
uma forma própria e um destino anterior que Deus lhe deu, e que o
homem pode, sim, desenvolver, mas não deve trair. Em vez de reali-
zar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação, o homem
substitui-se a Deus e, desse modo, acaba por provocar a revolta da
natureza, mais tiranizada do que governada por ele”.77
252. A questão ecológica já era posta por São João Paulo II em
uma perspectiva mais ampla e ligada ao ambiente humano mais abran-
gente. O seu objetivo era o de salvaguardar as condições morais de uma

74 Ibidem, n. 9.
75 Ibidem, n. 10.
76 Idem.
77 CA, n. 37.

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autêntica “ecologia humana”.78 Segundo ele, a atenção à preservação dos
hábitats naturais das diversas espécies animais ameaçadas de extinção
deve ir de mãos dadas com o respeito pela estrutura natural e moral, da
qual o homem foi dotado. Daí a atenção aos “graves problemas da mo-
derna urbanização, a necessidade de um urbanismo preocupado com
a vida das pessoas, bem como a devida atenção a uma ‘ecologia social’
do trabalho”. O Papa falou da necessidade de ter coragem e paciência
para “demolir” as estruturas contrárias à humanidade do ambiente e
“substituí-las com formas de convivência mais autênticas”.79
253. Para ele, a crise ambiental não é só científica e tecnológi-
ca: é fundamentalmente moral. A “relação” entre a humanidade e o
restante da criação é de suma importância e deve ser cultivada com
amor e sabedoria.

8. Bento XVI: a ecologia humana


254. O Papa Emérito Bento XVI foi diversas vezes apresentado
como “o primeiro papa verde”.80 Em sua Mensagem para o 60º Dia
Mundial da Paz (1º de janeiro de 2007), ele retomou e consolidou a
relação inseparável que existe entre “ecologia da natureza”, “ecologia
humana” e “ecologia social”. É muito forte, na sua mensagem, o vín-
culo entre a questão ecológica e o fato de que, em algumas regiões do
planeta, ainda se vivem condições de grande atraso, em que o desen-
volvimento está praticamente bloqueado, também por causa do au-
mento dos preços da energia. O Papa pergunta: “Que será dessas po-
pulações? Que tipo de desenvolvimento ou de não desenvolvimento
lhes será imposto pela escassez de reabastecimento energético? Que
injustiças e antagonismos provocará a corrida às fontes de energia?
E como reagirão os excluídos dessa corrida?”.81

78 Ibidem, n. 38.
79 Idem.
80 Por exemplo, na revista National Geographic de 28 de fevereiro de 2013.
81 BENTO XVI. Mensagem para o 60º Dia Mundial da Paz, 2007.

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255. Na encíclica Caritas in Veritate (29 de junho de 2009)
Bento XVI expressa seu pensamento sobre a temática correlacionan-
do-a com diversos âmbitos: o ecológico, o jurídico, o econômico, o
político, o cultural.82 Afirma: “a natureza, especialmente no nosso tem-
po, está tão integrada nas dinâmicas sociais e culturais que quase já
não constitui uma variável independente”.83 Recordou a urgência de
uma solidariedade que leve a “uma redistribuição mundial dos recur-
sos energéticos, de modo que os próprios países desprovidos possam
ter acesso a eles”.84 Nessa ocasião, reiterou que a questão ecológica diz
respeito à Igreja: “A Igreja tem uma responsabilidade pela criação e
deve fazer valer essa responsabilidade também em público. E, ao fazer
isso, deve defender a terra, a água e o ar como dons da criação que
pertencem a todos. Deve proteger o homem contra a destruição de
si mesmo”.85 Na Audiência Geral de 26 de agosto de 2009, afirmou:
“é indispensável converter o atual modelo de desenvolvimento global
para uma maior e compartilhada assunção de responsabilidade em re-
lação à criação: isso é exigido não só pelas emergências ambientais,
mas também pelo escândalo da fome e da miséria”.

9. Francisco: uma ecologia integral


256. No magistério do Papa Francisco aparece clara uma visão
global, em continuidade com os seus antecessores. Seres humanos, na-
tureza e ambiente, criação e sociedade estão ligados entre si: “Ecologia
humana e ecologia ambiental caminham juntas”.86 Uma das palavras-
-chave é “harmonia”. Essa visão ampla, atenta às “relações” e não só ao
homem entendido como “centro”, interroga-se sobre qual impacto o
progresso econômico, as novas tecnologias e o sistema financeiro têm
sobre os seres humanos e sobre o ambiente: “o perigo é sério, porque
a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é só uma

82 CV, n. 48.
83 Ibidem, n. 51.
84 Ibidem, n. 49.
85 Ibidem, n. 61.
86 FRANCISCO. Audiência Geral, 5 de junho de 2013.

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questão de economia, mas de ética e de antropologia. A Igreja ressal-
tou isso várias vezes, e muitos dizem: ‘Sim, é justo, é verdade’, mas o
sistema continua como antes, porque o que domina são as dinâmicas
de uma economia e de uma finança carentes de ética. O que manda
hoje não é o homem, é o dinheiro, o dinheiro manda. E Deus, nosso
Pai, deu a tarefa de guardar a terra não para o dinheiro, mas para nós:
aos homens e às mulheres, nós temos essa tarefa! Ao contrário, ho-
mens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo: é
a ‘cultura do descarte’”.87
257. Essas convicções do Papa Francisco são apresentadas na sua
exortação apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013):
«Nós, os seres humanos, não somos meramente beneficiários, mas
guardiões das outras criaturas. Pela nossa realidade corpórea, Deus
uniu-nos tão estreitamente ao mundo que nos rodeia, que a desertifi-
cação do solo é como uma doença para cada um, e podemos lamentar
a extinção de uma espécie como se fosse uma mutilação. Não deixe-
mos que, à nossa passagem, fiquem sinais de destruição e de morte que
afetem a nossa vida e a das gerações futuras”.88 É clara sua denúncia do
sistema “que tende a englobar tudo para aumentar os benefícios”, por-
que, nele, “qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente,
fica indefesa em relação aos interesses do mercado divinizado, trans-
formados em regra absoluta”.89
258. O apelo de Francisco é contundente: “O tempo para encon-
trar soluções globais está acabando. Só podemos encontrar soluções
adequadas se agirmos juntos e de comum acordo. Portanto, existe um
claro, definitivo e improrrogável imperativo ético de agir”.90
259. A preocupação com a ecologia humana e ambiental eviden-
cia uma dimensão fundamental da fé. Somando-se aos Papas que lhe
precederam, inclui o tema da ecologia na Doutrina Social da Igreja.

87 Idem.
88 EG, n. 215.
89 Ibidem, n. 56.
90 FRANCISCO. Conferência de Lima, 27 de novembro de 2014.

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Com isso, o Papa percebeu que era chegado o momento de produzir
um documento oficial da Igreja sobre a ecologia, nasce assim, a Laudato
Si’ (24 de maio de 2015). Nela, o Papa enfrenta o desafio ecológico
de modo amplo, reconhecendo adequadamente o ponto de vista cien-
tífico sobre as mudanças climáticas, as suas causas e consequências,
e os remédios necessários. Seu objetivo não é o de fazer especulação
nem de simplesmente se unir a esta ou aquela teoria, mas convidar os
homens e mulheres de boa vontade a considerar bem as suas respon-
sabilidades para com as gerações futuras e agir de modo consequente.
Não se trata de fazer apenas campanhas para salvar algumas espécies
animais ou vegetais raras – o que é também importante –, mas se trata
de assegurar que centenas de milhões de pessoas tenham água lim-
pa para beber, ar puro para respirar, possam levar uma vida digna, ter
acesso aos bens do desenvolvimento integral, boas condições de saúde
e possam continuar se relacionando com a criação, da qual são parte.
260. O tema da CF 2017 permite contextualizar a Laudato Si’ lo-
calmente suas reflexões e assumir suas propostas em cada comunidade,
relacionando a questão ecológica global com os desafios locais. Dois ele-
mentos da fé cristã a respeito da criação são especialmente destacados
pelo Papa Francisco. No número 69 da encíclica cita o Catecismo da Igreja
Católica: “cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias. (...)
As diferentes criaturas, queridas pelo seu próprio ser, refletem, cada qual
a seu modo, uma centelha da sabedoria e da bondade infinitas de Deus.
É por isso que o homem deve respeitar a bondade própria de cada cria-
tura, para evitar o uso desordenado das coisas (CIgC, n. 339)”. E, mais
adiante, no número 86: “Tal é o ensinamento do Catecismo: ‘A interde-
pendência das criaturas é querida por Deus. O sol e a lua, o cedro e a
florzinha, a águia e o pardal: o espetáculo das suas incontáveis diversida-
des e desigualdades significa que nenhuma criatura se basta a si mesma.
Elas só existem na dependência umas das outras, para se completarem
mutuamente no serviço umas das outras’ (CIgC, n. 2418)”.
261. Sua reflexão, após indicar os elementos fundamentais da
fé com relação à criação, adentra os problemas e desafios atuais e as

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perspectivas de futuro, convidando todos a assumirem uma responsa-
bilidade que é comum e diferenciada. Nesta que é a primeira encíclica
ecológica, o Papa indica como um dos eixos fundamentais da reflexão
ecológica “a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a
convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a críti-
ca do novo paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia,
o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o pro-
gresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia,
a necessidade de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade
da política internacional e local, a cultura do descarte e a proposta de
um novo estilo de vida”.91 Estas duas convicções, a interligação existente
entre todos os seres e a conexão existente entre problemas ecológicos
e pobreza, são retomadas e desenvolvidas ao longo de toda a encíclica.
262. Ressalta igualmente a necessidade da participação e o en-
volvimento de todos, não só dos cientistas, técnicos e líderes políticos.
As questões sejam discutidas não só de modo global, mas sejam con-
sideradas também em seu impacto sobre cada local: “É necessário dis-
por de espaços de debate, onde todos aqueles que poderiam de algum
modo ver-se, direta ou indiretamente, afetados (agricultores, consu-
midores, autoridades, cientistas, produtores de sementes, populações
vizinhas dos campos tratados e outros) tenham possibilidade de expor
as suas problemáticas ou ter acesso a uma informação ampla e fidedig-
na para adotar decisões tendentes ao bem comum presente e futuro”.92

10.Conclusão
263. A reflexão sobre os biomas e os povos originários recebe
uma rica iluminação da Palavra de Deus e do Magistério da Igreja.
É preciso que a constatação das riquezas e dos desafios ligados ao tema
da Campanha da Fraternidade seja levada à ação a partir de uma refle-
xão serena e profunda dos ensinamentos de nossa tradição cristã.

91 LS, n. 16.
92 Ibidem, n. 135.

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264. A partir da fé cristã, é grande a contribuição que pode ser
dada às questões da ecologia integral e, em particular, à convivência
harmônica com os nossos biomas. Como afirma o Papa Francisco: “as
convicções da fé oferecem aos cristãos – e, em parte, também a ou-
tros crentes – motivações importantes para cuidar da natureza e dos
irmãos e irmãs mais frágeis”.93

93 LS, n. 64.

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CAPÍTULO III – AGIR
1. O agir na Campanha da Fraternidade 2017
265. O agir da Campanha da Fraternidade de 2017 está em sin-
tonia com a Doutrina Social da Igreja, principalmente com a encíclica
Laudato Si’ e com a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016.
Elas indicam a necessidade da conversão pessoal e social, dos cristãos
e não cristãos, para cultivar e cuidar da criação.
266. Cuidar dos biomas brasileiros além de ser uma ação de fé
e cidadania é uma demonstração de comprometimento para com o
criador que paulatinamente espera a conversão de seus filhos e filhas,
criados à sua imagem e semelhança. Ela também atende aos apelos do
Papa Francisco que propõe a defesa da vida na ecologia integral.
267. A encíclica Laudato Si’, propõe a ecologia integral como
condição para a vida do planeta. É também referência para a aproxima-
ção do homem e da mulher com o Criador e a criação. A Campanha
da Fraternidade propõe o cuidado e cultivo dos biomas brasileiros e o
respeito pelos povos originários.
268. A Campanha da Fraternidade 2017 também está em sinto-
nia com a celebração dos trezentos anos do encontro da imagem de
Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
269. Sob o cuidado daquela que amou incondicionalmente a
vida, rogamos a Deus para nos encorajar com sabedoria, ética, bênção
e responsabilidade social o cuidado da vida e da criação que no pla-
neta está ameaçada, queremos fazer, junto com todos os povos, ecoar
nosso grito à sociedade brasileira e ao mundo que os biomas pedem
socorro. Este grito virá com as ações de caráter geral, e também espe-
cífico para cada bioma, que serão apresentadas a seguir:
 Retomar as propostas da Campanha da Fraternidade Ecumênica
de 2016, no contexto do cuidado com a Casa Comum, com en-
foque no saneamento básico.

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 Despertar para a beleza dos biomas e a necessidade do cuidado.
 Aprimorar em todos os biomas o monitoramento por satélite,
com objetivo de desenvolver políticas de combate ao desmata-
mento e demais ações predatórias.
 Exigir do poder executivo a consolidação do plano municipal de
saneamento básico.
 Defender o desmatamento zero para todos os biomas e sua re-
composição florestal, particularmente em morros, encostas, áre-
as de preservação, recargas de aquíferos e matas ciliares.
 Fortalecer as redes, articulações, em todos os níveis, como as me-
lhores formas de suscitar uma nova consciência e novas práticas
na defesa dos ambientes essenciais à vida.
 Motivar todas as igrejas, religiões, pessoas de boa vontade, a de-
fender o patrimônio (biomas) que é o fundamento natural de
nossas vidas e deverá ser das gerações futuras.
 Aprofundar os estudos, promover debates, seminários, celebra-
ções, romarias, nas escolas públicas e privadas sobre o tema da CF.
 Celebrar as vitórias acontecidas em termos de demarcação dos
territórios dos povos originários, recuperação de rios, avanço no
aumento de cooperativas de reciclagem, avanço na consciência.
 Potencializar toda dimensão ecológica que já existe na piedade po-
pular, como as festas de padroeiro, as devoções aos santos e a liturgia.
 Fortalecer a ecologia integral, que começa nos pequenos gestos, e
que precisa se estender para o comunitário, o regional, o nacional e
a cidadania global, como nos pede o Papa Francisco na Laudato Si’.
 Combater a corrupção exigindo transparência nos processos lici-
tatórios em relação às enchentes e secas que acabam sendo meca-
nismo de exploração e desvio de recursos públicos.
 Defender as temáticas das questões ecológicas dentro da educa-
ção popular e regular.
 Incentivar a criação de um Projeto de Lei que impeça o uso de
agrotóxicos.

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 Promover rodas de conversa sobre os malefícios que as queima-
das e a poluição urbana provocam aos biomas e inevitavelmente
à vida humana.
 Valorizar e incentivar a participação dos leigos e das leigas nos
conselhos paritários.

2. O agir no bioma Amazônia


270. Por séculos, a Amazônia segue sendo vista como terra para
ser desbravada, terra para ser explorada, terra para ser colonizada.
271. Acenamos propostas irrecusáveis no desejo de preservar,
não somente a natureza, como a urgente instalação de projetos capa-
zes de melhorar a qualidade da vida da população nas grandes cidades
situadas na região:
 Compartilhar saberes e estratégias de sobrevivência e convivên-
cia com o meio ambiente oriundas dos povos originários e comu-
nidades tradicionais.
 Valorizar e promover a cultura do bem-viver (modelo da cultu-
ra indígena que cultiva harmonia para com todos os irmãos/ãs,
com culturas diferentes, com Deus e a natureza).
 Reforçar as articulações e resistências apoiando os povos tradi-
cionais nas mobilizações e nas lutas por direitos e regularização
de seus territórios.
 Fortalecer as iniciativas como as de cooperativas, baseadas no
agroextrativismo, pois tem gerado renda para muitas famílias.
 Defender a biodiversidade e o meio ambiente articulando orga-
nismos, entidades, igrejas e comunidades.
 Defender as riquezas e os saberes dos povos amazônicos, vitima-
dos e ameaçados secularmente por interesses econômicos de em-
presas nacionais e internacionais.
 Fortalecer a Rede Panamazônica (REPAM), como espaço de ar-
ticulação e intercâmbio das várias redes eclesiais que atuam em
conjunto na sociedade amazônica.

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 Fortalecer as políticas públicas por saneamento básico e trans-
porte público de qualidade.
 Valorizar os elementos e os significados das artes, músicas e ou-
tras expressões da cultura amazônica.
 Atuar na defesa de políticas públicas socioambientais para am-
pliar parcerias e trabalhos em rede.

3. O agir no bioma Caatinga


272. A Caatinga é rica em biodiversidade, mas um bioma extre-
mamente frágil. Sua flora é constituída por espécies com longa história
de adaptação ao calor e a seca, sendo incapaz de naturalmente se rees-
truturar se máquinas forem usadas para alterar o solo. Nas últimas dé-
cadas, 40.000 km2 da Caatinga se transformaram em deserto por inter-
ferência do homem, a sua exploração segue em ritmo preocupante.94
273. Padre Cícero, que viveu no semiárido em meados do século
passado e muito contribuiu com a vida no nordeste brasileiro, deixou
onze preceitos ecológicos que continuam atuais e devem ser exercita-
dos nesta campanha:
 “Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau.
 Não toque fogo no roçado nem na Caatinga.
 Não cace mais e deixe os bichos viverem.
 Não crie o boi nem o bode soltos; faça cercados e deixe o pasto
descansar para se refazer.
 Não plante em serra acima, nem faça roçado em ladeira muito em
pé: deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste
e não se perca a sua riqueza.
 Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água da chuva.
 Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com
pedra solta.

94 ALVES, José Jakson Amancio. Geoecologia da caatinga no semiárido do Nordeste brasileiro.


CLIMEP: Climatologia e Estudos da Paisagem, v. 2, Rio Claro, 2007.

94

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 Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá
ou outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só.
 Aprenda a tirar proveito das plantas da Caatinga, como a maniçoba,
a favela e a jurema; elas podem ajudar a você a conviver com a seca.
 Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se
acabando, o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer.
 Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai
virar um deserto só”.
274. Além dos preceitos de Padre Cícero, segue outras ações
a serem realizadas como exercício quaresmal da Campanha da
Fraternidade:
 Retomar as discussões sobre a realidade urbana, principalmen-
te em relação ao esgotamento sanitário e o Plano Municipal de
Saneamento Básico.
 Reforçar os projetos da Articulação no Semiárido Brasileiro
Por Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Por Uma Terra e Duas
Águas (P1+2).
 Reformular e ampliar a rede de captação de água de chuva para
beber e produzir.
 Conhecer e fortalecer a malha de adutoras para abastecimento
rural e urbano de água para as comunidades rurais e centros ur-
banos planejados no Atlas do Nordeste, da Agência Nacional de
Águas (ANA), priorizando efetivamente o abastecimento huma-
no e a dessedentação dos animais.
 Desenvolver a captação da energia solar descentralizada, como
fonte de renda para as famílias e produção de energia.
 Incentivar a energia eólica, com projetos que sejam do interesse
das comunidades tradicionais, respeitando seus territórios.
 Reforçar a luta pela demarcação dos territórios indígenas, quilom-
bolas e das comunidades tradicionais – particularmente os “Fundos
ou Fechos de Pasto” – e reforçar a necessidade da reforma agrária.

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 Reforçar a “educação contextualizada” nas escolas públicas, para
aprofundar um entendimento mais correto do que é o semiárido
e a própria Caatinga.
 Reforçar o desenvolvimento da agroecologia adaptada ao semiári-
do, com o manejo cuidadoso da Caatinga, em favor de seus povos.
 Denunciar o uso dos agrotóxicos, usados de forma indiscri-
minada para o aumento da produção e proteção das pragas na
agroindústria.
 Reforçar a proposta do desmatamento zero na Caatinga visando
combater o desmatamento e a desertificação.
 Reforçar as iniciativas do “recaatingamento”, perenização inteli-
gente de rios e riachos para armazenar água.
 Fortalecer e ampliar a defesa da revitalização do rio São Francisco.
 Reforçar a criatividade dos povos originários e as iniciativas ofi-
ciais que visam a expansão de uma infraestrutura que beneficie o
povo, evitando a depredação do semiárido.
 Buscar parceria com o Ministério Público a fim de que a implan-
tação, a ação e os impactos ambientais das mineradoras possam
ser devidamente fiscalizados.

4. O agir no bioma Cerrado


275. A Igreja propõe ações para o cuidado e preservação da vida
no Cerrado brasileiro:
 Promover o intercâmbio entre as comunidades locais para a troca
de experiências e o conhecimento da biodiversidade do Cerrado.
 Incentivar o desenvolvimento de projetos de preservação, recu-
peração e valorização das frutas, ervas medicinais.
 Fortalecer a agricultura camponesa familiar através de meios que
viabilizem a produção agroecológica, agroextrativista e as redes
de comercialização.

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 Desenvolver ações de recuperação de nascentes de rios e recons-
tituição das matas ciliares.
 Trabalhar pelo reconhecimento do Cerrado como Patrimônio
Nacional. Promover ampla e participativa reflexão e discussão
para aprovação da PEC 504/2010, que beneficiará também o
bioma Caatinga.
 Fortalecer a luta em defesa dos territórios tradicionais e da refor-
ma agrária.
 Exigir controle mais rígido sobre o licenciamento de novos pro-
jetos de irrigação.
 Promover debates e seminários sobre o Projeto de Desenvolvi-
mento do MATOPIBA (região agriculturável em território de
cerrado, formada por parte dos estados do Maranhão, Tocantins,
Piauí e Bahia), que é uma grande ameaça ao Cerrado.
 Exigir o respeito ao direito dos povos e comunidades tradicionais
de serem consultados sobre empreendimentos que afetem seus
meios de vida, como prescreve a Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT).
 Envolver a população urbana no debate sobre o Cerrado, cons-
cientizando-a de que também depende dos serviços ambientais
do bioma, como a disponibilidade de água, a umidade do ar, a
temperatura e todo desenvolvimento econômico baseado nos
solos e na utilização da água.
 Reforçar a campanha promovida por diversas entidades cujo lema
é: “Cerrado berço das águas: sem Cerrado, sem água, sem vida”.

5. O agir no bioma Mata Atlântica


276. O bioma Mata Atlântica rico em biodiversidade está
ameaçado.
277. O Criador espera de cada um dos seus filhos, princi-
palmente dos que habitam no bioma Mata Atlântica, respostas
individuais e coletivas.

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278. Algumas ações de cuidado e cultivo que são propostas:
 Exigir do poder público a recuperação das áreas degradadas
como: matas ciliares e nascentes.
 Defender a demarcação dos territórios indígenas, quilombolas e
demais comunidades tradicionais.
 Exigir que as políticas de saneamento básico sejam implantadas
em toda área urbanizada e rural do bioma Mata Atlântica.
 Apoio ao abaixo-assinado do projeto de lei de iniciativa popular
para o reconhecimento, proteção e garantia do direito ao territó-
rio das comunidades tradicionais pesqueiras.
 Fomentar e/ou apoiar ações relacionadas a despoluição e re-
vitalização das bacias hidrográficas e baías: Alto Tietê, Baía da
Guanabara, Bacia do Rio Doce e Rio Paraíba do Sul.
 Cuidar das nascentes e dos rios.
 Apoiar as ações em defesa do bioma frente ao avanço das mine-
radoras que degradam e retiram riquezas que provocam perdas
humano-culturais.
 Participar e acompanhar a efetivação do plano diretor, sobretu-
do, em relação ao saneamento básico dos municípios.
 Denunciar os projetos econômicos imobiliários em Áreas de Pre-
servação Permanente (APP).
 Apoiar a produção agroecológica camponesa com base na agri-
cultura familiar, como alternativa ao latifúndio e o agronegócio.
 Incentivar o consumo de produtos agroecológicos e sustentáveis
provenientes da Economia Solidária.

6. O agir no bioma Pantanal


279. O bioma Pantanal é considerado uma das maiores extensões
úmidas contínuas do planeta. Este bioma continental é considerado o
de menor extensão territorial no Brasil, entretanto este dado em nada
desmerece a exuberante riqueza que o referente bioma abriga.

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280. O bioma Pantanal nos oferece a possibilidade de contem-
plação da criação. Se não agirmos, muito em breve não mais podere-
mos contemplar a vida neste belíssimo bioma, por isso, seguem algu-
mas pistas e ações para nossa conversão quaresmal:
 Incentivar políticas públicas de preservação do meio ambiente
do Pantanal.
 Dar visibilidade as populações pantaneiras, com suas culturas
e costumes.
 Colaborar com a defesa das comunidades tradicionais e ribeiri-
nhas que resistem dentro do Pantanal, a fim de que tenham seus
direitos garantidos.
 Apoiar os povos indígenas para garantir que suas terras ances-
trais lhes sejam demarcadas, afastando os fazendeiros ganancio-
sos da região.
 Promover campanhas de conscientização quanto ao descarte
adequado dos resíduos sólidos e esgotos sanitários, para preser-
var os rios, lagoas e igarapés.
 Promover a integração das lideranças indígenas e das populações
tradicionais na luta pelas causas comuns.
 Assegurar a presença efetiva da Igreja na assistência espiritual às
comunidades católicas indígenas.

7. O agir no bioma Pampa


281. O bioma Pampa exibe um imenso patrimônio cultural as-
sociado à biodiversidade. A perda de biodiversidade compromete
o potencial de desenvolvimento sustentável da região, seja perda de
espécies de valor forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja
pelo comprometimento dos serviços ambientais proporcionados pela
vegetação campestre.
282. É notório que o bioma Pampa está sendo ameaçado e tem
seus ecossistemas modificados, por esta razão, propomos:
 Incentivar ações que promovam o direito à vida e a cultura dos
povos tradicionais que habitam o bioma.

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 Conscientizar a necessidade de defender a biodiversidade animal
e vegetal do bioma.
 Propor novos métodos de produção das áreas ocupadas pelo
agronegócio, com monoculturas, através da recomposição da ve-
getação original e de cultivo agroecológico.
 Motivar a recuperação das fontes de água potável, rios, lagoas e
banhados, através de políticas de despoluição, replantio das ma-
tas ciliares e redefinição de seu uso.
 Exigir políticas públicas para o controle da exploração e comer-
cialização da água, com incentivo ao controle social.

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CONCLUSÃO GERAL
283. As indicações do agir não são de caráter geral. Algumas
delas chegam a aspectos bem particulares. É importante que cada co-
munidade, a partir do bioma em que vive e em relação com os povos
originários desse bioma, faça o discernimento de quais ações são pos-
síveis, e entre elas quais são as mais importantes e de impacto mais
positivo e duradouro.
284. A mensagem do Papa Francisco proferida no dia 1º de
setembro de 2016 (Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação)
ilumina as comunidades para fazerem seu discernimento.
285. Ele convida a renovar o diálogo sobre os sofrimentos que
afligem os pobres e a devastação do meio ambiente, com cada pessoa
que no planeta habita. Ele afirma que Deus deu-nos de presente um
exuberante jardim, mas estamos a transformá-lo em uma poluída vas-
tidão de ruínas, desertos e lixo. Ele nos alerta para não nos rendermos
ou ficarmos indiferentes perante a perda da biodiversidade e a destrui-
ção dos ecossistemas, muitas vezes provocadas pelos nossos compor-
tamentos irresponsáveis e egoístas.
286. Para o Papa Francisco, é por nossa causa que milhares de
espécies já não darão glória a Deus com a sua existência, nem poderão
comunicar-nos a sua própria mensagem e nós, segundo ele, não temos
esse direito. Por mais que não queiramos, é devido à atividade humana
que o planeta continua a aquecer. Segundo os registros, o ano de 2015
seria o mais quente, entretanto, há estudos já apontando que o ano de
2016 foi mais quente do que o anterior.
287. Os resultados desse aquecimento são visíveis com a provo-
cação de secura, inundações, incêndios e acontecimentos meteoroló-
gicos extremos cada vez mais graves. As mudanças climáticas contri-
buem também para a dolorosa crise dos migrantes forçados. Os po-
bres do mundo, embora sejam os menos responsáveis pelas mudanças
climáticas, são os mais vulneráveis e já sofrem os seus efeitos.

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288. Ao salientar a importância da ecologia integral, ele afirma
que os seres humanos estão profundamente ligados entre si e à criação
na sua totalidade. Portanto, quando maltratamos a natureza, maltra-
tamos também nós seres humanos. Ao mesmo tempo, cada criatura
tem o seu próprio valor intrínseco que deve ser respeitado. Para que
possamos garantir uma resposta adequada e célere, ele nos convoca a
escutar, tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres.
289. A CF, abordando a realidade dos biomas brasileiros e as
pessoas que neles moram, deseja despertar as comunidades, famílias e
pessoas de boa vontade para o cuidado e cultivo da casa comum. Cui-
dar da obra saída das mãos de Deus deveria ser um compromisso de
todo cristão. Partindo do Evangelho, o cristão encontra nas criaturas
um irmão, uma irmã, a exemplo de São Francisco de Assis.
290. A criação é obra amorosa de Deus confiada a seus filhos e
filhas. Nossa Senhora Mãe de Deus e dos homens acompanhará as co-
munidades e famílias no caminho do cuidado e cultivo da casa comum
no tempo quaresmal.

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CAPÍTULO IV
1. Natureza e histórico da CF
Em 1961, três padres responsáveis pela Caritas Brasileira ideali-
zaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades assis-
tenciais e promocionais da instituição e torná-la, assim, autônoma
financeiramente. A atividade foi chamada Campanha da Fraternidade
e realizada, pela primeira vez, na Quaresma de 1962, em Natal (RN),
com adesão de outras três dioceses e apoio financeiro dos bispos nor-
te-americanos. No ano seguinte, dezesseis dioceses do Nordeste rea-
lizaram a Campanha. Não teve êxito financeiro, mas foi o embrião de
um projeto anual dos Organismos Nacionais da CNBB e das Igrejas
Particulares no Brasil, realizado à luz e na perspectiva das Diretrizes
Gerais da Ação Pastoral (Evangelizadora) da Igreja em nosso país.
Em seu início, teve destacada atuação o Secretariado Nacional de
Ação Social da CNBB, sob cuja dependência estava a Caritas Brasileira,
que fora fundada no Brasil, em 1957. Na época, o responsável pelo
Secretariado de Ação Social era Dom Eugênio de Araújo Sales, que,
por isso, era presidente da Caritas Brasileira. O fato de ser administra-
dor apostólico de Natal (RN) explica que a Campanha tenha iniciado
naquela circunscrição eclesiástica e em todo o Rio Grande do Norte.
Esse projeto foi lançado, em âmbito nacional, no dia 26 de
dezembro de 1963, sob o impulso renovador do espírito do Concílio
Vaticano II, em andamento na época, e realizado pela primeira vez
na Quaresma de 1964. O tempo do Concílio foi fundamental para
a concepção, estruturação e encaminhamentos da CF, do Plano de
Pastoral de Emergência, do Plano de Pastoral de Conjunto e de outras
iniciativas de renovação eclesial. Ao longo de quatro anos seguidos,
por um período extenso em cada um, os bispos ficaram hospedados
na mesma casa, em Roma, participando das sessões do Concílio e de
diversos momentos de reunião, estudo, troca de experiências. Nesse
contexto, nasceu e cresceu a CF.

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Em 20 de dezembro de 1964, os bispos aprovaram o projeto
inicial da CF, intitulado: “Campanha da Fraternidade: pontos fun-
damentais apreciados pelo episcopado em Roma”. Em 1965, tanto a
Caritas quanto a Campanha da Fraternidade, que estavam vinculadas
ao Secretariado Nacional de Ação Social, foram vinculadas diretamen-
te ao Secretariado Geral da CNBB. A CNBB passou a assumir a CF.
Nessa transição, foi estabelecida a estruturação básica da CF. Em 1967
começou a ser redigido um subsídio, maior que os anteriores, para a
organização anual da CF. Nesse mesmo ano, iniciaram-se, também, os
encontros nacionais das Coordenações Nacional e Regionais da CF.
A partir de 1971, tanto a Presidência da CNBB como a Comissão
Episcopal de Pastoral começaram a ter uma participação mais inten-
sa em todo o processo da CF.
Em 1970, a CF ganhou um especial e significativo apoio: a men-
sagem do Papa, transmitida em cadeia nacional de rádio e televisão,
quando de sua abertura, na Quarta-feira de Cinzas. A mensagem papal
continua enriquecendo a abertura da CF.

2. Objetivos permanentes da Campanha


da Fraternidade:
a. Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, com-
prometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum;
b. educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor,
exigência central do Evangelho;
c. renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da
Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma
sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e todos de-
vem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja).

3. Os temas da Campanha da Fraternidade


Os temas da CF, inicialmente, contemplaram mais a vida inter-
na da Igreja. A consciência sempre maior da situação de injustiça,
de exclusão e de crescente miséria levou à escolha de aspectos bem

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determinados da realidade socioeconômica e política brasileira. O res-
tabelecimento da justiça e da fraternidade nessas situações era com-
promisso urgente da fé.

1ª Fase: Em busca da renovação interna da Igreja


a) Renovação da Igreja
CF 1964: Igreja em renovação – Lembre-se: você também é Igreja
CF 1965: Paróquia em renovação – Faça de sua paróquia uma
comunidade de fé, culto e amor
b) Renovação do cristão
CF 1966: Fraternidade – Somos responsáveis uns pelos outros
CF 1967: Co-responsabilidade – Somos todos iguais, somos todos
irmãos
CF 1968: Doação – Crer com as mãos
CF 1969: Descoberta – Para o outro, o próximo é você
CF 1970: Participação – Participar
CF 1971: Reconciliação – Reconciliar
CF 1972: Serviço e vocação – Descubra a felicidade de servir

2ª Fase: A Igreja se preocupa com a realidade social


do povo, denunciando o pecado social e promovendo
a justiça (Vaticano II, Medellín e Puebla)
Neste período marcado por graves injustiças e restrições socio-
políticas no país, a Igreja, por meio da Campanha da Fraternidade,
contribuiu para que o chamado à conversão próprio da Quaresma se
estendesse ao âmbito comunitário e social, despertando as consciên-
cias para as graves injustiças existentes nas estruturas do país, em vista
de ações transformadoras. Assim, a Páscoa repercutiu na história do
povo brasileiro gerando fraternidade e vida.
CF 1973: Fraternidade e libertação – O egoísmo escraviza, o amor liberta
CF 1974: Reconstruir a vida – Onde está o teu irmão?
CF 1975: Fraternidade é repartir – Repartir o pão

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CF 1976: Fraternidade e comunidade – Caminhar juntos
CF 1977: Fraternidade na família – Comece em sua casa
CF 1978: Fraternidade no mundo do trabalho – Trabalho e justiça
para todos
CF 1979: Por um mundo mais humano – Preserve o que é de todos
CF 1980: Fraternidade no mundo das migrações: exigência da euca-
ristia – Para onde vais?
CF 1981: Saúde e fraternidade – Saúde para todos
CF 1982: Educação e fraternidade – A verdade vos libertará
CF 1983: Fraternidade e violência – Fraternidade sim, violência não
CF 1984: Fraternidade e vida – Para que todos tenham vida

3ª Fase: A Igreja se volta para situações


existenciais do povo brasileiro
Nesta fase, a Igreja, com a realização das Campanha da Fraternidade,
tem contribuído ao evidenciar situações que causam sofrimento e morte
em meio ao povo brasileiro, nem sempre percebidas por todos, quando o
Brasil reencontra seu longo caminho rumo à construção de uma socieda-
de democrática, capaz de integrar todos os seus filhos e filhas.
CF 1985: Fraternidade e fome – Pão para quem tem fome
CF 1986: Fraternidade e terra – Terra de Deus, terra de irmãos
CF 1987: A fraternidade e o menor – Quem acolhe o menor, a Mim acolhe
CF 1988: A fraternidade e o negro – Ouvi o clamor deste povo!
CF 1989: A fraternidade e a comunicação – Comunicação para a ver-
dade e a paz
CF 1990: A fraternidade e a mulher – Mulher e homem: imagem de Deus
CF 1991: A fraternidade e o mundo do trabalho – Solidários na digni-
dade do trabalho

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CF 1992: Fraternidade e juventude – Juventude: caminho aberto
CF 1993: Fraternidade e moradia – Onde moras?
CF 1994: A fraternidade e a família – A família, como vai?
CF 1995: A fraternidade e os excluídos – Eras Tu, Senhor?!
CF 1996: A fraternidade e a política – Justiça e paz se abraçarão!
CF 1997: A fraternidade e os encarcerados – Cristo liberta de todas
as prisões!
CF 1998: A fraternidade e a educação – A serviço da vida e da esperança!
CF 1999: Fraternidade e os desempregados – Sem trabalho... Por quê?
CF 2000: Ecumênica: Dignidade humana e paz – Novo milênio
sem exclusões
CF 2001: Campanha da fraternidade – Vida sim, drogas não!
CF 2002: Fraternidade e povos indígenas – Por uma terra sem males!
CF 2003: Fraternidade e pessoas idosas – Vida, dignidade e esperança!
CF 2004: Fraternidade e água – Água, fonte de vida
CF 2005: Ecumênica: Solidariedade e paz – Felizes os que promovem a paz
CF 2006: Fraternidade e pessoas com deficiência – “Levanta-te, vem
para o meio” (Mc 3,3)
CF 2007: Fraternidade e Amazônia – Vida e missão neste chão
CF 2008: Fraternidade e defesa da vida – Escolhe, pois, a vida (Dt 30,19)
CF 2009: Fraternidade e segurança pública – A paz é fruto da justiça
(Is 32, 17)
CF 2010: Ecumênica: Economia e Vida – Vocês não podem servir a
Deus e ao Dinheiro (Mt 6,24)
CF 2011: Fraternidade e a Vida no Planeta – A criação geme em dores
de parto (Rm 8,22)

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CF 2012: Fraternidade e Saúde Pública – Que a saúde se difunda sobre
a terra (cf. Eclo 38,8)
CF 2013: Fraternidade e Juventude – Eis-me aqui, envia-me! (Is 6,8)
CF 2014: Fraternidade e Tráfico Humano – É para a liberdade que
Cristo nos libertou (Gl 5,1)
CF 2015: Fraternidade: Igreja e sociedade Eu vim para servir (cf. Mc 10,45)
CF 2016: Ecumênica: Casa Comum, nossa responsabilidade. Quero
ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que
não seca. (Am 5,25)
O itinerário da Campanha da Fraternidade continua em 2017
com o tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o
lema: “Cultivar e guardar a criação” (cf. Gn 2,15).

4. O gesto concreto – Coleta da Solidariedade


A Campanha da Fraternidade se expressa concretamente pela
oferta de doações em dinheiro na coleta da solidariedade, realizada no
Domingo de Ramos. É um gesto concreto de fraternidade, partilha
e solidariedade, feito em âmbito nacional, em todas as comunidades
cristãs, paróquias e dioceses. A Coleta da Solidariedade é parte inte-
grante da Campanha da Fraternidade.

DIA NACIONAL DA COLETA DA SOLIDARIEDADE


Domingo de Ramos, 09 de abril de 2017

Bispos, padres, religiosos(as), lideranças leigas, agentes de pasto-


ral, colégios católicos e movimentos eclesiais são os principais moti-
vadores e animadores da Campanha da Fraternidade. A Igreja espera
que com esta motivação todos participem, oferecendo sua solidarie-
dade em favor das pessoas, grupos e comunidades, pois: “Ao longo de
uma história de solidariedade e compromisso com as incontáveis vítimas
das inúmeras formas de destruição da vida, a Igreja se reconhece servidora

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do Deus da vida” (DGAE, n. 66). O gesto fraterno da oferta tem um
caráter de conversão quaresmal, condição para que advenha um novo
tempo marcado pelo amor e pela valorização da vida.

1. Os fundos de solidariedade
O resultado integral das coletas realizadas nas celebrações do
Domingo de Ramos, coleta da solidariedade, com ou sem envelope,
deve ser encaminhado à respectiva Diocese.
Do total arrecadado pela Coleta da Solidariedade, a Diocese deve
enviar 40% ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), gerido pela
CNBB. A outra parte (60%) permanece nas Dioceses para atender proje-
tos locais, pelos respectivos Fundos Diocesanos de Solidariedade (FDS).
Doações para o Fundo Nacional de Solidariedade da CNBB, para
aplicação em projetos sociais, podem ser efetuados na conta indicada
abaixo, ao longo de todo o ano.
PARA DEPÓSITO DOS 40% da Coleta da Solidariedade
(Fundo Nacional de Solidariedade – CNBB)
Banco Bradesco, Agência 0484-7 – Conta Corrente 4188-2 – CNBB
O comprovante do depósito precisa ser enviado por:
e-mail – financeiro@cnbb.org.br
OU
Correspondência – Endereço:
SE/Sul Quadra 801 Conjunto B
CEP: 70.200-014 – Brasília - DF
Contato pelo telefone – (61) 2103-8309 (falar no financeiro)

2. A destinação dos recursos


Os recursos arrecadados serão destinados preferencialmente a
projetos que atendem aos objetivos propostos pela CF 2017.

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3. O trâmite dos projetos
A recepção, análise da viabilidade e acompanhamento do desen-
volvimento dos projetos enviados ao Fundo Nacional de Solidariedade
(FNS), são trabalhos executados pela CNBB.
A supervisão do Fundo, a destinação dos recursos e a aprovação
dos projetos está a cargo do Conselho Gestor do FNS, assim composto:
Secretário Geral da CNBB; Bispo Presidente da Comissão Episcopal
Caridade, Justiça e Paz e seu Assessor; Presidente da Caritas Brasileira;
Tesoureiro da CNBB; Representante dos Secretários Executivos
dos Regionais da CNBB, a Assistente Social da CNBB e o Secretário
Executivo da Campanha da Fraternidade.
As Organizações que desejam obter apoio do Fundo Nacional de
Solidariedade, de acordo com os critérios de destinação previstos para
a CF 2017, deverão encaminhar os projetos ao seguinte endereço:

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil


Fundo Nacional de Solidariedade – CNBB
SE/SUL Quadra 801 – Conjunto B
CEP: 70.200-014– Brasília DF
Tel. 61 2103-8300
Os projetos, após análise, serão submetidos ao Conselho Gestor
do FNS.
O Fundo Diocesano de Solidariedade (FDS), composto por
60% da coleta do Domingo de Ramos, é administrado pelo Conselho
Gestor Diocesano, que pode ser constituído com a participação de
uma pessoa da Caritas Diocesana (onde ela existe), de um represen-
tante das Pastorais Sociais, da Coordenação de Pastoral Diocesana, da
Equipe de animação das Campanhas, do responsável pela administra-
ção da Diocese e de uma pessoa ligada ao tema da CF. O Bispo consti-
tui este Conselho Gestor e normalmente o preside.

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4. Prestação de contas
A seguir, é apresentada a prestação de contas da coleta da soli-
dariedade das CF 2016. Consta a contribuição enviada ao FNS pelas
Dioceses, referente a 40% da coleta.
Contribuições para o Fundo Nacional de Solidaridade 2016
Regional Norte 1 Data Valor R$
ALTO SOLIMÕES - AM 09/05/16 1.348,55
BORBA - AM 13/07/16 2.136,00
COARI - AM 20/05/16 2.082,00
ITACOATIARA - AM 24/05/16 1.612,40
MANAUS - AM 18/05/16 54.534,94
PARINTINS - AM 29/07/16 3.516,00
RORAIMA - RR 13/06/16 12.073,78
SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA - AM – –
TEFÉ - AM 30/05/16 2.766,22
Total R$ 80.069,89

Regional Norte 2 Data Valor R$


ABAETETUBA - PA 02/09/16 11.970,60
BELÉM - PA – –
BRAGANÇA DO PARÁ - PA 03/06/16 6.130,90
CAMETÁ - PA – –
CASTANHAL - PA 30/03/16 10.300,00
ITAITUBA - PA 30/05/16 4.960,38
MACAPÁ - PA – –
MARABÁ - PA – –
MARA JÓ - PA 16/09/16 3.500,00
ÓBIDOS - PA – –
PONTA DE PEDRAS - PA – –
SANTARÉM - PA 25/05/16 21.353,24
SANTÍSSIMA CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA - PA 13/05/16 4.741,18
XINGÚ - PA 25/05/16 8.319,90
Total R$ 71.276,20

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Regional Norte 3 Data Valor R$
CRISTALÂNDIA - TO 23/05/16 882,00
MIRACEMA DO TOCANTINS - TO 01/04/16 3.696,88
PALMAS - TO – –
PORTO NACIONAL - TO 22/06/16 2.035,84
TOCANTINÓPOLIS - TO 04/05/16 17.107,18
Total R$ 23.721,90

Regional Nordeste 1 Data Valor R$


CRATEÚS - CE 01/06/16 10.213,40
CRATO - CE 30/05/16 7.427,80
FORTALEZA - CE – –
IGUATU - CE 19/05/16 6.002,50
ITAPIPOCA - CE – –
LIMOEIRO DO NORTE - CE 27/05/16 8.065,68
QUIXADÁ - CE 05/07/16 4.084,08
SOBRAL - CE 30/05/16 10.001,00
TIANGUÁ - CE 20/05/16 9.938,35
Total R$ 55.732,81

Regional Nordeste 2 Data Valor R$


AFOGADOS DA INGAZEIRA - PE 30/05/16 6.127,02
CAICÓ - RN 06/07/16 8.804,16
CAJAZEIRAS - PB 30/05/16 7.006,62
CAMPINA GRANDE - PB 30/05/16 15.982,97
CARUARU - PE 22/08/16 14.450,00
FLORESTA - PE 30/05/16 3.424,00
GARANHUNS - PE 03/05/16 12.889,03
GUARABIRA - PB 25/04/16 7.404,75
MACEIÓ - AL – –
MOSSORÓ - RN 07/07/16 16.718,05
NATAL - RN 30/05/16 46.504,56
NAZARÉ - PE 19/08/16 7.800,00
OLINDA E RECIFE - PE 10/06/16 45.168,13
PALMARES - PE 19/05/16 7.653,00
PALMEIRA DOS ÍNDIOS - AL 04/07/16 5.150,00

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PARAÍBA - PB 30/05/16 20.143,90
PATOS - PB 10/05/16 25.160,70
PENEDO - AL – –
PESQUEIRA - PE 30/05/16 4.861,91
PETROLINA - PE – –
SALGUEIRO - PE 31/05/16 6.230,48
Total R$ 261.479,28

Regional Nordeste 3 Data Valor R$


ALAGOINHAS - BA 19/05/16 8.561,00
AMARGOSA - BA 30/05/16 10.624,68
ARACAJU - SE 30/05/16 22.559,11
BARRA - BA 23/05/16 4.587,42
BARREIRAS - BA 19/05/16 19.788,10
BOM JESUS DA LAPA - BA 23/05/16 3.854,40
BONFIM - BA – –
CAETITÉ - BA – –
CAMAÇARI - BA 10/06/16 5.132,00
ESTÂNCIA - SE 10/06/16 9.744,10
EUNÁPOLIS - BA 30/05/16 5.303,00
FEIRA DE SANTANA - BA 12/05/16 19.156,21
ILHÉUS - BA 26/04/16 9.515,42
IRECÊ - BA 30/05/16 2.782,54
ITABUNA - BA – –
JEQUIÉ - BA 08/06/16 5.228,00
JUAZEIRO - BA 30/05/16 5.062,56
LIVRAMENTO DE NOSSA SENHORA - BA 07/06/16 10.417,36
PAULO AFONSO - BA 19/09/16 8.447,46
PROPRIÁ - SE 24/05/16 7.428,24
RUY BARBOSA - BA 30/05/16 9.148,54
SÃO SALVADOR DA BAHIA - BA 30/05/16 30.546,06
SERRINHA - BA 30/05/16 15.215,38
TEIXEIRA DE FREITAS CARAVELAS - BA 27/05/16 23.067,52
VITÓRIA DA CONQUISTA - BA 05/05/16 17.708,24
Total R$ 253.877,34

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Regional Nordeste 4 Data Valor R$
BOM JESUS DE GURGUÉIA - PI 28/04/16 4.873,20
CAMPO MAIOR - PI – –
FLORIANO - PI 19/05/16 5.391,65
OEIRAS - PI 23/05/16 9.764,74
PARNAÍBA - PI – –
PICOS - PI 30/05/16 7.768,24
SÃO RAIMUNDO NONATO - PI – –
TERESINA - PI 07/07/16 40.336,82
Total R$ 68.134,65

Regional Nordeste 5 Data Valor R$


BACABAL - MA 30/05/16 12.327,80
BALSAS - MA 07/06/16 4.817,48
BREJO - MA 23/06/16 6.163,40
CAROLINA - MA 18/05/16 1.400,00
CAXIAS DO MARANHÃO - MA – –
COROATÁ - MA – –
GRA JAÚ - MA 25/05/16 8.800,00
IMPERATRIZ - MA 16/05/16 10.280,00
PINHEIRO - MA 31/05/16 6.419,70
SÃO LUÍS DO MARANHÃO - MA 30/05/16 21.277,76
VIANA - MA – –
ZÉ DOCA - MA 30/05/16 6.888,06
Total R$ 78.374,20

Regional Leste 1 Data Valor R$


ADM. APOSTOLICA P. S. JOÃO MARIA VIANNEY 27/05/16 2.621,00
BARRA DO PIRAÍ - VOLTA REDONDA - RJ 30/05/16 32.921,40
CAMPOS - RJ 23/06/16 8.900,00
DUQUE DE CAXIAS - RJ 25/06/16 19.877,80
ITAGUAÍ - RJ 09/06/16 9.783,56
NITERÓI - RJ 25/05/16 50.744,01
NOVA FRIBURGO - RJ 17/06/16 31.727,75

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NOVA IGUAÇU - RJ 30/05/16 27.169,00
PETRÓPOLIS - RJ – –
RIO DE JANEIRO - RJ 30/05/16 114.133,27
VALENÇA - RJ 24/05/16 8.200,00
Total R$ 306.077,79

Regional Leste 2 Data Valor R$


ALMENARA - MG 02/05/16 4.300,00
ARAÇUAÍ - MG 30/06/16 2.198,00
BELO HORIZONTE - MG 01/06/16 168.977,68
CACHOEIRO DO ITAPEMIRIM - ES 30/05/16 43.461,39
CAMPANHA - MG 07/04/16 33.536,34
CARATINGA - MG 30/05/16 22.516,94
COLATINA - ES 27/05/16 40.027,53
DIAMANTINA - MG 09/06/16 25.599,39
DIVINÓPOLIS - MG 24/05/16 52.970,23
GOVERNADOR VALADARES - MG 09/05/16 21.277,83
GUANHÃES - MG – –
GUAXUPÉ - MG 03/05/16 29.160,98
ITABIRA - CORONEL FABRICIANO - MG 24/05/16 30.487,22
ITUIUTABA - MG – –
JANAUBA - MG 31/05/16 2.640,00
JANUÁRIA - MG – –
JUIZ DE FORA - MG 30/05/16 35.455,12
LEOPOLDINA - MG – –
LUZ - MG 17/06/16 16.559,02
MARIANA - MG 16/05/16 51.793,86
MONTES CLAROS - MG 30/05/16 14.169,58
OLIVEIRA - MG 27/04/16 11.937,30
PARACATU - MG 01/06/16 10.650,48

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PATOS DE MINAS - MG – –
POUSO ALEGRE - MG 03/06/16 40.897,20
SÃO JOÃO DEL REI - MG 23/05/16 13.426,72
SÃO MATEUS - ES 05/05/16 50.587,02
SETE LAGOAS - MG 25/05/16 12.337,70
TEÓFILO OTTONI - MG 19/05/16 5.124,64
UBERABA - MG 30/05/16 27.648,54
UBERLÂNDIA - MG – –
VITÓRIA - ES 30/06/16 102.682,80
Total R$ 870.423,51

Regional Sul 1 Data Valor R$


AMPARO - SP 23/05/16 17.012,00
APARECIDA - SP 29/04/16 15.528,39
ARAÇATUBA - SP 07/06/16 18.396,32
ASSIS - SP 23/05/16 22.441,94
BARRETOS - SP 30/05/16 14.909,55
BAURU - SP 07/06/16 38.981,06
BOTUCATU - SP 13/06/16 34.288,38
BRAGANÇA PAULISTA - SP 29/04/16 39.944,46
CAMPINAS - SP 30/05/16 69.903,54
CAMPO LIMPO - SP 30/05/16 37.411,56
CARAGUATATUBA - SP 01/06/16 11.660,00
CATANDUVA - SP 23/09/16 16.320,00
FRANCA - SP 30/05/16 48.185,83
GUARULHOS - SP 30/05/16 54.831,38
ITAPETININGA - SP – –
ITAPEVA - SP 31/05/16 12.969,12
JABOTICABAL - SP 30/05/16 22.937,09
JALES - SP 30/05/16 29.407,14
JUNDIAÍ - SP – –
LIMEIRA - SP – –
LINS - SP 03/06/16 14.591,70

116

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LORENA - SP – –
MARÍLIA - SP 25/05/16 93.415,26
MOGI DAS CRUZES - SP 30/05/16 27.886,38
OSASCO - SP 01/06/16 34.895,60
OURINHOS - SP 16/06/16 23.564,08
PIRACICABA - SP 25/05/16 22.861,29
PRESIDENTE PRUDENTE - SP 30/05/16 47.413,17
REGISTRO - SP 03/06/16 7.790,00
RIBEIRÃO PRETO - SP 30/05/16 27.236,05
RIO PRETO - SP 27/05/16 89.197,96
SANTO AMARO - SP 30/05/16 34.305,37
SANTO ANDRÉ - SP 18/05/16 81.817,38
SANTOS - SP 16/05/16 57.036,13
SÃO CARLOS - SP 30/05/16 27.293,22
SÃO JOÃO DA BOA VISTA - SP 22/06/16 34.551,10
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP 31/03/16 102.357,84
SÃO MIGUEL PAULISTA - SP 30/05/16 39.960,00
SÃO PAULO - SP 30/05/16 276.678,44
SOROCABA - SP 30/05/16 30.932,82
TAUBATÉ - SP 30/05/16 32.410,74
Total R$ 1.611.322,29

Regional Sul 2 Data Valor R$


APUCARANA - PR 30/05/16 42.477,42
CAMPO MOURÃO - PR 23/05/16 36.607,72
CASCAVEL - PR 29/04/16 39.479,04
CORNÉLIO PROCÓPIO - PR 30/05/16 14.476,20
CURITIBA - PR 30/05/16 111.613,84
FOZ DO IGUAÇÚ - PR 17/05/16 28.737,98
GUARAPUAVA - PR 30/05/16 31.940,42
JACAREZINHO - PR 11/05/16 42.771,78
LONDRINA - PR 31/05/16 90.519,42
EPARQUIA IMACULADA CONCEIÇÃO - PR 31/05/16 6.840,00
MARINGÁ - PR 26/04/16 57.106,44
PALMAS - PR 31/07/16 39.695,71

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PARANAGUÁ - PR – –
PARANAVAÍ - PR 30/05/16 22.192,66
PONTA GROSSA - PR 30/05/16 50.247,87
SÃO JOSÉ DOS PINHAIS - PR 01/06/16 71.609,81
TOLEDO - PR 30/05/16 45.488,82
UMUARAMA - PR 18/05/16 44.706,98
UNIÃO DA VITÓRIA - PR 30/05/16 13.281,79
Total R$ 789.793,90

Regional Sul 3 Data Valor R$


BAGÉ - RS 18/04/16 5.344,90
CACHOEIRA DO SUL - RS 30/05/16 3.639,30
CAXIAS DO SUL - RS 30/05/16 56.664,68
CRUZ ALTA - RS 30/05/16 15.935,45
EREXIM - RS 16/05/16 17.154,53
FREDERICO WESTPHALEN - RS 10/08/16 13.339,04
NOVO HAMBURGO - RS 30/05/16 54.267,34
OSÓRIO - RS 30/05/16 9.413,23
PASSO FUNDO - RS – –
PELOTAS - RS 31/05/16 6.687,27
PORTO ALEGRE - RS 13/07/16 35.464,47
RIO GRANDE - RS 09/06/16 2.488,15
SANTA CRUZ DO SUL - RS 30/05/16 32.394,93
SANTA MARIA - RS 05/04/16 9.702,00
SANTO ÂNGELO - RS 06/06/16 36.000,00
URUGUAIANA - RS 01/06/16 13.140,60
VACARIA - RS – –
MONTENEGRO - RS 30/05/16 22.920,04
Total R$ 334.555,93

Regional Sul 4 Data Valor R$


BLUMENAU - SC 05/05/16 43.246,49
CAÇADOR - SC 30/05/16 21.000,00
CHAPECÓ - SC 30/05/16 60.330,98

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CRICIÚMA - SC 30/05/16 40.127,30
FLORIANÓPOLIS - SC 20/04/16 114.458,82
JOAÇABA - SC 04/05/16 18.340,42
JOINVILLE - SC 12/05/16 56.594,43
LAGES - SC 20/05/16 16.816,88
RIO DO SUL - SC 06/05/16 25.018,06
TUBARÃO - SC 25/05/16 22.672,00
Total R$ 418.605,38

Regional Centro Oeste Data Valor R$


ANÁPOLIS - GO 30/05/16 28.172,62
ORDINARIADO MILITAR DO BRASIL - DF 30/05/16 5.907,57
BRASÍLIA - DF 07/06/16 75.528,36
FORMOSA - GO 11/05/16 6.233,45
GOIÂNIA - GO 30/05/16 76.289,90
GOIÁS - GO 24/05/16 11.602,20
IPAMERI - GO 30/05/16 9.657,21
ITUMBIARA - GO 30/05/16 7.586,50
JATAÍ - GO 13/06/16 18.380,17
LUZIÂNIA - GO 30/05/16 9.737,82
RUBIATABA - MOZARLÂNDIA - GO – –
SÃO LUÍS DE MONTES BELOS - GO 30/05/16 13.738,90
URUAÇU - GO 23/05/16 16.972,96
Total R$ 279.807,66

Regional Oeste 1 Data Valor R$


CAMPO GRANDE - MS 25/08/16 31.500,00
CORUMBÁ - MS 15/06/16 5.036,08
COXIM - MS 04/04/16 8.241,44
DOURADOS - MS 27/05/16 23.464,00

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JARDIM - MS 16/05/16 5.453,58
NAVIRAÍ - MS 13/06/16 15.323,18
TRÊS LAGOAS - MS 19/05/16 12.273,00
Total R$ 101.291,28

Regional Oeste 2 Data Valor R$


BARRA DO GARÇA - MT – –
SÃO LUÍZ DE CÁCERES - MT 30/05/16 19.229,32
RONDONÓPOLIS - GUIRATINGA - MT 30/05/16 12.066,38
CUIABÁ - MT 19/05/16 49.449,69
DIAMANTINO - MT 30/05/16 26.205,80
JUÍNA - MT 31/05/16 5.312,46
PRIMAVERA DO LESTE - PARANATINGA - MT 30/05/16 13.262,32
SÃO FÉLIX - MT 25/04/16 2.303,54
SINOP- MT 30/05/16 42.561,85
Total R$ 170.391,36

Regional Noroeste Data Valor R$


CRUZEIRO DO SUL - AC – –
GUAJARA MIRIM - RO 30/05/16 4.910,00
HUMAITÁ - AM 12/05/16 3.860,00
JI-PARANÁ - RO 30/05/16 51.300,15
LÁBREA - AM – –
PORTO VELHO - RO 30/05/16 28.277,98
RIO BRANCO - AC 30/05/16 15.826,38
Total R$ 104.174,51

Total Geral R$ 5.879.109,88

(Demonstrativo atualizado em 19 de setembro de 2016


informações: financeiro@cnbb.org.br)

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5. Atividades do Fundo Nacional
de Solidariedade – 2014- 2015

Ano Total arrecadado: Total de projetos apoiados


2012 R$ 5.449.723,13 245
2013 R$ 5.234.749,05 265
2014 R$ 6.460.036,43 327
2015 R$ 6.902.853,12 230

6. Projetos atendidos por região


Região 2012 2013 2014 2015
Norte 28 45 40 33
Nordeste 62 72 90 64
Sul 57 34 39 37
Sudeste 65 87 101 70
Centro Oeste 33 27 56 26
HAITI – – 1 –
Total 245 265 327 230
Para informações, esclarecimentos e orientações sobre a or-
ganização e realização da Campanha da Fraternidade, contatar
Pe. Nelson Rosselli Filho, Secretário Executivo da CF pelo e-mail:
campanhas@cnbb.org.br ou telefone (61) 2103-8300.

5. O serviço de preparação e animação da CF

1. Serviço de coordenação e animação da CF


A Campanha da Fraternidade é um programa global conjunto
dos Organismos Nacionais, do Secretariado Nacional da CNBB e
das Igrejas Particulares, sempre realizado à luz e na perspectiva das
Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.
Desde 1963, com o Plano de Emergência, e 1966, com o Plano
de Pastoral de Conjunto, a ação evangelizadora da Igreja vive um pro-
cesso de planejamento abrangente. Esse processo tem as Diretrizes
como fundamentação e inspiração e se expressa no Plano de Pastoral,
elaborado de forma participativa e em diversos âmbitos.

121

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A busca desse planejamento, sempre mais participativo, requer
envolvimento dos agentes de pastoral, das equipes de coordenação e
animação, dos conselhos e outros órgãos a serviço do crescimento da
vida comunitária.
A realização da CF, como programa global conjunto, é exercício
e expressão de planejamento participativo e de articulação pastoral,
decorrente da própria natureza da Igreja-Comunhão.

2. Necessidade de Equipes de Campanhas


Para uma eficaz e frutuosa realização da CF, como de todo pro-
grama pastoral, é indispensável reavivar, a cada ano, o processo de seu
planejamento. Isso não acontece sem a constituição de equipes de tra-
balho com coordenação entusiasta, dinâmica, criativa, com profunda
espiritualidade e zelo apostólico.
Em muitos regionais, dioceses e paróquias, a animação da CF é
assumida pela respectiva equipe de Coordenação Pastoral, com o esta-
belecimento de uma Comissão específica para a CF. Esse procedimen-
to poderá favorecer maior integração, evitando paralelismos. Poderá,
por outro lado, apresentar o risco de a CF “ser de todos e, ao mesmo
tempo, de ninguém”.
1) Equipe regional da CF
Compete-lhe:
 estimular a formação, o assessoramento e a articulação das equi-
pes diocesanas;
 planejar a CF em âmbito regional: o que organizar, quem envol-
ver, que calendário seguir, onde e como atuar.
Atividades que poderá desenvolver antes da Campanha:
 realizar encontro regional para o estudo do Texto-base, a fim de
descobrir a melhor forma de utilização das peças e subsídios
de divulgação;
 definir atividades a serem assumidas conjuntamente nas dioce-
ses, paróquias e comunidades;

122

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 verificar a possibilidade da produção de subsídios adaptados à
realidade local;
 possibilitar a troca de informações e o repasse de subsídios, re-
lacionados ao tema, produzidos em âmbito mais local ou prove-
nientes de outras fontes e regiões;
 constituir equipes e/ou indicar pessoas que possam prestar ser-
viço de assessoria.
Durante a Campanha:
 descobrir formas de estar em permanente contato com as equi-
pes diocesanas, para animação e intercâmbio das experiências
mais significativas;
 possibilitar o acompanhamento das atividades comuns
programadas.
Depois da Campanha:
 promover um novo encontro regional de avaliação;
 providenciar a redação e o envio da síntese regional da avaliação à Se-
cretaria Executiva Nacional da CF, dentro do cronograma previsto;
 definir a participação regional no encontro nacional de avaliação
e planejamento da CF;
 repassar às dioceses a avaliação nacional e outras informações.

2) Equipe Diocesana da CF
Compete-lhe:
 estimular a formação, assessorar e articular as equipes paroquiais;
 planejar, em nível diocesano: o que realizar, quem envolver, que
calendário seguir, como e onde atuar.
Atividades que poderá desenvolver antes da Campanha:
 encomendar os subsídios necessários para as paróquias, comunidades
religiosas, colégios, meios de comunicação, movimentos de Igreja;
 programar a realização de encontro diocesano para estudo do
Texto-base, buscando a melhor forma de utilizar as diversas peças
da Campanha;

123

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 definir atividades comuns nas paróquias;
 promover o intercâmbio de informações e subsídios;
 sugerir a escolha do gesto concreto;
 estabelecer uma programação especial de lançamento;
 constituir equipes para atividades específicas;
 informar da existência de subsídios alternativos e repassá-los às equipes.
Durante a Campanha:
 acompanhar as diversas equipes existentes;
 verificar o andamento das atividades comuns programadas;
 manter frequente contato com as paróquias, para perceber o an-
damento da Campanha;
 conferir a chegada dos subsídios a todos os destinatários em
potencial;
 alimentar com pequenos textos motivadores (releases) os meios
de comunicação social.
Depois da Campanha:
 promover encontro diocesano de avaliação;
 cuidar da redação final e do envio da síntese da avaliação à equipe
regional;
 participar do encontro regional de avaliação;
 repassar às equipes paroquiais a avaliação regional e outras
informações;
 realizar o gesto concreto e garantir o repasse da parte da coleta
para a CNBB regional e nacional;
 fazer com que a Campanha se estenda por todo o ano, repassan-
do outros subsídios que forem sendo publicados.
3) Equipe Paroquial da CF
A CF acontece nas famílias, nos grupos e nas comunidades ecle-
siais, articulados pela paróquia. Como em relação a outras atividades
pastorais, o papel do pároco ou da equipe presbiteral é preponde-
rante. Tudo anda melhor quando ele estimula, incentiva, articula e
organiza a ação pastoral.

124

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Em toda paróquia, pastoralmente dinâmica, não faltarão equipes de
serviço para tudo que for necessário. O Conselho Paroquial de Pastoral,
já constituído na maioria das paróquias, por si ou pela constituição de
comissão específica, garantirá a realização articulada e entusiasta da CF.
Atividades que poderá desenvolver antes da Campanha:
 providenciar o pedido de material junto à diocese;
 programar um encontro paroquial para estudo do Texto-base e
para discussão da melhor maneira de se utilizar as diversas peças
de reflexão e divulgação da CF;
 definir as atividades a serem assumidas conjuntamente;
 estabelecer a programação da abertura, em âmbito paroquial;
 buscar, juntos, os meios para que a CF possa atingir eficazmente
todos os espaços e ambientes da realidade paroquial;
 planejar um gesto concreto comum e a destinação da coleta da CF;
 realizar encontros conjuntos ou específicos com as diversas equipes
paroquiais, para programação de toda a Quaresma e Semana Santa;
 prever a utilização do maior número possível de subsídios da
Campanha.
Durante a Campanha:
 intensificar sua divulgação;
 conferir a chegada dos subsídios aos destinatários;
 motivar sucessivos gestos concretos de fraternidade;
 realizar a coleta.
Depois da Campanha:
 avaliar sua realização, encaminhando a síntese à coordenação
diocesana;
 marcar presença no encontro diocesano de avaliação;
 repassar às lideranças da paróquia as conclusões da avaliação
diocesana;
 realizar o gesto concreto e garantir o repasse da parte da coleta à
diocese;
 fazer com que a Campanha se estenda por todo o ano, repassan-
do outros subsídios que forem sendo publicados.

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Cronograma da CF 2017
 1º de março de 2017: Quarta-feira de Cinzas: Lançamento da
CF 2017 em todo o Brasil, em âmbito nacional, regional, diocesa-
no e paroquial, com a mensagem do Papa, da Presidência da CNBB
e programas especiais.
 Realização – 1º de março a 9 de abril de 2017: a Campanha des-
te ano se realiza com o tema: Fraternidade: biomas brasileiros e defe-
sa da vida, o lema: Cultivar e guardar a criação (Gn 2,15).
 Domingo de Ramos – 9 de abril de 2017: Coleta nacional da
solidariedade (60% para o Fundo Diocesano de Solidariedade e
40% para o Fundo Nacional de Solidariedade).
 Avaliação – abril a junho de 2017: nos âmbitos: paroquial
(de 24 de abril a 22 de maio), diocesano (de 24 de maio a 12 de
junho) e regional (12 de junho a 8 de julho).
 Encontro Nacional com representantes dos regionais da CNBB –
agosto de 2017.

126

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Oração da CF 2017
Deus, nosso Pai e Senhor,
nós vos louvamos e bendizemos,
por vossa infinita bondade.

Criastes o universo com sabedoria


e o entregastes em nossas frágeis mãos
para que dele cuidemos com carinho e amor.

Ajudai-nos a ser responsáveis e zelosos pela Casa Comum.


Cresça, em nosso imenso Brasil,
o desejo e o empenho de cuidar mais e mais da vida das pessoas,
e da beleza e riqueza da criação,
alimentando o sonho do novo céu e da nova terra
que prometestes.

Amém!

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Hino da CF 2017
L.: Pe. José Antonio de Oliveira M.: Wanderson Luiz Freitas da Silva

1. Louvado sejas, ó Senhor, pela mãe terra, 4. Senhor, agora nos conduzes ao deserto
que nos acolhe, nos alegra e dá o pão (cf. LS, n. 1). e, então nos falas, com carinho, ao coração (cf. Os 2,16),
Queremos ser os teus parceiros na tarefa pra nos mostrar que somos povos tão diversos,
de “cultivar e bem guardar a criação”. mas um só Deus nos faz pulsar o coração.

Da Amazônia até os Pampas, 5. Se contemplarmos essa “mãe” com reverência,


do Cerrado aos Manguezais, não com olhares de ganância ou ambição,
/: chegue a ti o nosso canto o consumismo, o desperdício, a indiferença
pela vida e pela paz.:/ se tornam luta, compromisso e proteção (cf. LS, n. 207).

2. Vendo a riqueza dos biomas que criaste, 6. Que entre nós cresça uma nova ecologia (cf. LS, cap. IV),
feliz disseste: tudo é belo, tudo é bom! onde a pessoa, a natureza, a vida, enfim,
E pra cuidar a tua obra nos chamaste possam cantar na mais perfeita sinfonia
a preservar e cultivar tão grande dom (cf. Gn 1–2). ao Criador que faz da terra o seu jardim.

3. Por toda a costa do país espalhas vida;


São muitos rostos – da Caatinga ao Pantanal:
negros e índios, camponeses: gente linda,
lutando juntos por um mundo mais igual.

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