Вы находитесь на странице: 1из 14
FUNDACAO EDITORA DA UNESP PETER BURKE (Org.) A ESCRITA DA HISTORIA NOVAS PERSPECTIVAS Tradugéo de Magda Lopes 5* Retmpressio nese AHISTORIA VISTA DE BAIXO Jim Sharpe* Em 18 de junho de 1815, houve uma batalha préximo a aldeia belga de Waterloo. Como sabem todos aqueles que estudaram a historia britinica, o resultado daquela batalha foi que um exercito aliado, comandado pelo Duque de Wellington, com a ajuda tardia, ‘mas decisiva das forcas prussianas lideradas por Blicher, derrotou uum exército francés, comandado por Napoleio Bonaparte, sendo assim decididos os destinos da Europa. Nos diaiigue se seguitam fa batalha, um daqueles que ajudou a determinar o S¥stino de um continente, o soldado William Wheeler, da 51* Intantaria Britani- a, escreveu varias cartas a sua esposa: (Os ts dias de tuts terminaram. Estou salvo, isto € o gue importa Descreverei agora, e em toda oportunidade, os detalhes do grande aconte ‘imento, ou seja, 0 que puce dele observar.. A manha do di 18 de junho surgiu sobre nos nos encontrou ensopados de chuve, entorpecidos ¢ tremendo de fro... Voc# muttas vezes me censurou por fmar, quando ex estava em casa no ano passado, mas devo dizerlhe que, se ev nao nvesse tum Lom estogue de tabaco nessa noite, podena ter moro,’ * Assitenteséniot de Historia da Unwversidade de York 1 The Later of Preate Wheeler 18091828, ed. B. H. Liddell Har, Londres, 1951, p. 168.72 © PETER BURKE Wheeler prosseguiu, fornecendo a sua esposa uma descricio da Batalha de Waterloo, a partir do violento final: a experiéncia de suportar o fogo da artilhania francesa, seu regimento destruindo tum corpo de couraceiros inimigos com uma rajada de tiros, 0 espeticulo de montes de corpos queimados de soldados britanicos ras rusnas do castelo de Hougoumont, 0 dinheiro saqueado de um oficial hussardo francés, alvejado por um membro de um destaca mento a cargo de Wheeler. Os livros de historia nos contam que ‘Wellington venceu a batalha de Waterloo. De certa maneira, William Wheeler e milhares, como ele, tambem a venceram. Durante as duas ultimas décadas, varios historiadores, traba Ihando em uma ampla variedade de periodos, paises e pos de istoria, conscientizaram-se do potencial para explorar novas pers pectivas do passado, proporcionado por fontes como a correspon: déncia do soldado Wheeler com sua esposa, e sentiram-se atraidos pela idéia de explorar a historia, do ponto de vista do saldado raso, ‘© ndo do grande comandante. Tradicionalmente, a historia tem. sido encarada, desde os tempos clissicos, como um relato dos feitos dos grandes, O interesse na historia soctal e econémica mais ampla desenvolveu-se no século dezenove, mas © principal tema da historia continuou sendo a revelagio das opinies politicas da elite. é claro, varios individuos que se sentiam infelizes com essa €, id em 1936, Bertold Brecht, em seu poema Perguntas de um Operarto que Lé, apresentou aquela que provavelmente ainda @ a afirmagio mais direta da necessidade de uma perspectiva alrernativa a0 que poderia ser chamado de “historia da elite"? Mas provavelmente ¢ justo dizer que uma declaracio séria de possibili clade de eransformar essa necessidade em aco s6 surgiu em 1966, quando Edward Thompson publicou um argo sobre ‘The History from Below’ em The Times Literary Supplement.> Dai em diante, 0 1966, p. 279.80, Para uma discussto da base para o pensamento de Thompson, ver Harvey |. Kaye, The British Mamise Historians: an Iceduetar) Anas, Cambridge, 1984 AESCRITA DA HISTORIA, " conceito da historia vista de baixo enero na linguagem comum dos historiadores. Em 1985 foi publicado um volume de ensaios innitulado History from Below’, enquanto em 1989, uma nova edicdo de um livro referente a historiografia das Guerras Civis Inglesas e as suas conseqiiéncias denominou um capitulo sobre a obra recente dos radicais do periodo de History from Below.5 Assim, durante mais ou menos os Ultimos vinte anos, fot encontrado um rotulo para aquela perspectiva do passado, oferecida pelas cartas de William Wheeler. Essa perspectiva atraiu de imediato aqueles historiadores an- stosos por ampliar os limites de sua diseiplina, abrir novas areas de pesquisa e, acima de tudo, explorar as experiéncias historicas daqueles homens ¢ mulheres, cuja existéncia é tio freqientemente ignorada, tacimmente aceita ou mencionada apenas de passagem na principal corrente da historia. Mesmo hoje,.grande parte da historia ensinada nas sextas classes e nas universidades da Gri- Bretanha (e também, supdese, em instituigSes similares por toda parts), ainda considera a experiéncia da massa do povo no passado como inacessivel ou sem importancia; nfo a considera um probie ‘ma historico; ou, no maximo, considera as pessoas comuns como “um dos problemas com que o governo tinha de lidar”. © ponto de vista oposto fot vigorosamente apresentado paxdward Thomp. son em 1965, no preficio de uma das principais obras de historia inglesa: “a Estou procurando resgatar pobre descaleo, eagneultorultrapassado, © tecelio do tear manual ‘obsoleto', oantesio ‘utopisa’ e ate os seguidores ‘enganadios de Joanna Southcor, da enorme condescendéncia da postenda de. Suas habilidsdes e radigées podem terse tornado moribundas, Sua hostlidsde 20 novo industralismo pode tere tomado retrégrada, Seus 4. Histor fom Below: Suir n Popular PotesCand Poplar Leola, ed. Fredenck Keane, Onford, 1988. Esa foi a edgso ingles de uma colecio p Montreal em 1985, 5.RC. Richardson, The Debate on the English Revol capil 6. Thompson, Revsued, Londres, 1988, "The Tweneth Centuny History from Below” a PETER BURKE. em terse tomado fantasis. Suas conspiragdes tornado unprudentes. Mas eles viveram nesses urrecionais podem nos, ndo.! periodos de extrema perrurbacio 50 Portanto, Thompson ndo se limitou apenas a tdentificar 0 problema geral da reconstrucio da experiéncia de um grupo de pessoas “comuns”. Percebeu também a necessidade de tentar compreender 0 povo no passado, tao distante no tempo, quanto o historiador moderno ¢ capas, 4 luz de sua propria experiéneta e de suas proprias reagSes a essa experiéneia, Meu objetivo neste ensaio sera explorar, 0 maximo possi com referéncia ao que poderia ser considerado um numero con- sistente das obraschaves publicadas, parte do potencial e dos problemas inerentes escrita da historia vista de baixo. Assim fazendo, entrarei em contato com dois temas bem diferentes, se bem que em grande medida emaranhados. © primeiro deles & introduzir o leitor na absoluta diversidade de tematica produzida pelo trabalho sobre 0 que poderia ser descrito, em termos amplos, como uma historia vista de baixo. Ele se estende desde a recor trucdo das experigncias dos pastores medievais dos Pireneus, ate aquelas dos primeitos trabalhadores industiais de certa idade, cujas reminiscéncias formam o principal elemento da historia oral. ( segundo ¢ isolar algumas das questbes, evidenciats, conceituais, ¢ tdeologicas, suscitadas pelo estudo da historia vista de baixo. A idéia de uma tal aborcagem da historia é muito sedutora, mas, como tio freqientemente acontece, os problemas envolvidos no estuclo do passado, rapidamente tornam.se mais complexos do que podem parecer & primeira vista. A perspectiva de se escrever a historia vista de baixo, resgatando as experiéncias passadas da massa da populacio, seja da total negligencia dos historiadores ou da “enorme condescendéncia da posteridade" de Thompson, é, portanto, uma perspectiva atraente. Mas, como sugerimos, a tentativa de estudar a historia dessa maneira envolve muitas dficuldades. A primeira gira em torno da 7.EP, Thompson, The Making of the English Werking Clos, Landes, 1965, p. 12-13, | | AESCRITA DA HISTORIA 2 evidéncia. Tem-se apenas que lero estudo de Thompson sobre os anos formadores da classe trabalhadora inglesa para compreender que, sejam quais forem as criticas que possam ser feitas a. sua interpretagio da questio, pouca duvida existe de que ela seja baseada em uma quantidade de material de fonte macicamente ampla ¢ rica. Em geral, entretanto, quanto mais para tris vio os historiadores, buscando reconstruir a experiéncia das classes s0- ciais infetiores, mais restrita se toma a variedade de fontes a sua disposicio. Como veremos, um excelente trabalho tem sido feito com relacio aos materials que realmente persistem para os tempos Primitivos, mas o probiema é real: os diirios, as memorias e os ‘manifestos politicos, a partir dos quais podem ser reconstruidas as vidas eas aspirag6es das classes sociais inferiores sfo escassos, antes do final do seculo dezoito, com excecao de alguns poucos periodos (como as décadas de 1640 ¢ 1650 na Inglaterra), Em segundo luga: ha varios problemas de conceituacio. Onde exatamente o "baixo’ deve ser alocado, ¢ o que seria feito com a historia vista de baixo, uma ver escrita? As complicagées inerentes & questio de se precisar que historia ver de baixo, estio finamente ilustradas em uma das areas de cxescimento da historia social nos tltimos anos: o estudo da cultura Popular no inicio da Europa moderna. Tant®quanto posso perceber,além de encarila como uma espécie de cagegbria residual nenhum historiador chegou ainda a uma definigao completamente abrangente do que era na verdade a cultura popular naquele periodo.* A principal razfo disso ¢ que “o povo”, mesmo ha tanto tempo atras como no século dezesseis, compunha um grupo muito variado, dividido por estratificacio econdmica, culturas profissio- nais ¢ sexo. Tais consideracdes invalidam qualquer idéia simplista Incoduction: Poy “” PETER BURKE: do que o “baixo” poderia significar na maior parte dos contextos historicos? E igualmente importante a questio do significado mais amplo ou dos propositos de uma abordagem da historia vista de batxo. Os problemas ficam talver mais bem ilustrados tomando-se por refeténcia trabatho dos historiadores que escrevem dentro da tradicio marxista ou dentro da tradicio da historia britinica do trabalho. E ébvio que a contribuigo dos historiadores marxistas, aqui ¢ em qualquer outra parte, tem sido enorme: na verdade, um filosofo marxista declarou que todos aqueles que escrevem a historia vista de baixo, assim o fazem na sombra da conceiniacéo ‘marsista da historia,!© Embora tis afirmagSes possam parecer um tanto hiperbélicas, a divida do historiador social para com as idgias de Manse para com os historiadores manxistas deve ser reconhe ida, ¢ certamente nao e minha intencdo juntarme a tendéncia atualmente em moda de depreciar uma das mais ricas eradicdes intelectuais do mundo. Ainda que pudesse parecer que 0s histo- riadores manastas, antes de outros escritores, que escrevem a partir de tradigBes diferentes, sugerirem a amplitude da tematica que 0 historiador social poderia estudar, tenham tendido a restringir 0 estudio da historia vista de baixo aqueles episédios e movimentos fem que as massas se engajaram na atividade politica manifesta ou em areas familiares de desenvolvimento econdmico. Embora ele fosse transcender tais limitacSes, este foi em grande extensio ponto de partida do ensaio de Thompson de 1966. A fundamen: taco historica para tal linha de pensamento foi descrita mais 9. Uma maneira de contornar este problema ¢ examinar a experiénea de diferentes secores das clases nferires, a veesatraves do ecto de enso sslade, Pars dust ‘obras que uelizam esta aboragern, amas cons France, Londres, 1975 e David Sabean, Power m the Blood: Popular Cute and Village Discoure Barly Moder Germans, Cambridge, 1984, 10, Alex Callinics, The Res Londres, 1983, p- 89. Av [AESCRITA DA HISTORIA 6 recentemente por Eric Hobsbawm. Hobsbawm declarou que, a possibilidade do que ele chama de “historia das pessoas comuns” 86 se tomnou realmente aparente mais ou menos em torno de 1789. "A historia das pessoas comuns como um campo especial de estuco”, escreveu ele, “tem inicio com a historia dos movimentos de massa no seculo dezoito .. Para o marxista, ou mais comumente © socialista, o interesse na historia das pessoas comuns desenvol: veusse com 0 crescimento do movimento trabalhista.” Como ele prosseguiu para observar, essa tendéncia “impos algumas luzes bastante eficazes para os historiadores socialistas’ Algo da natureza dessas luzes foi sugerido em um livro de Richard Hoggart publicado em 1957, The Uses of Literacy, que poderia bem ter recebido o subtitulo de ‘The Breaking ofthe English Working Class’. Discutindo diferentes abordagens no estudo da classe trabalhadora, Hoggart pediu cutdado aos leitores das histé rias dos movimentos da ciasse trabalhadora. Como muitos outros, Hoggare se afasta de muitas dessas hustérias, com a impressio “de que seus autores supervalorizam o lugar da atividade politica na vida da classe trabalhadora, que nem sempre tf_m uma nocio adequada da rouna didria dessa vida"? Em 1966, Thompson observou uma mudanca das preocupacées mais antigas dos histo- niadores do trabalho com as instituigées do trabalho e com os lideres e a ideologia aceitos, embora tambem tenha observado que esse processo estava tendendo a subtrait da historia do trabalho parte de sua coeréncia.!? Hobsbawm, escrevendo a luz da subse quente ampliacio da historia do trabalho, conseguiu fazer comen- tarios mais centralizados neste ponto. O problema era (como sugeriu Hobsbawrn) que os historiadores do movimento trabalh ‘, marxistas ou nio, estudaram “no exatamente as. pessoas comuns, mas as pessoas comuns que poderiam ser consideradas 1B). Hobsbavan, “History from Below - Some Reflecions’, em History from Below ed, Krone, p18 12, Richard Hoggat, The Uses of Lierecy: Aspets of Werkinglass Life with Special Reference o Pblicauons and Enertainment, Harmondeworch, 1958, p. 15. 13, Thompson, "History from Below", p, 280 6 PETER BURKE ‘08 ancestrais do movimento; ndo os trabalhadores como tai porém mais como cartistas, sindicalistas, militantes trabalhistas ‘Ahhistotia do movimento trabalhista ede outros desenvolvimentos institucionalizados, declarou ele, no deveria “substiuir a historia das pessoas comuns em si". (Quta limitagao que acorrente principal da historia do trabalho cria para a historia vista de baixo é aquela de uma restricio no periodo. Os leitores do ensaio inicial de Thompson e da posterior contribuigao de Hobsbawm poderiam facilmente ter ficado (apesar das intencSes dos autores) com a impressio de que 2 historia vista de baixo s0 pode ser escrita para os periodos da Revolucio Francesa em diante. Hobsbawm, como observamos, acrediava que foi o desenvolvimento dos movimentos de massa no final do século dezoito que primeiro alertou os estudiosos para a possibilidade de se escrever a historia vista de baixo, e prosseguiu declarando que “g Revolugdo Francesa, especialmente desde que 0 jacobinismo foi revitalizado pelo socialismo ¢ 0 Iluminismo pelo marxismo, tem sido o campo de prova para esse'tipo de histéria”. Indagando um pouco mais adiante “por que tanta histéria moderna popular emergiu do estudo da Revolucio Francesa?", Hobsbawm citou a acio conjunta da massa populacional e os arquivos criados por “uma vasta e diligente burocracia",“que documentava os atos das pessoas comuns e depois passou a classificar e preencher seus registros “em beneficio do historiador”. Esta documentacio pro porcionava um rico filo para e pesquisa posterior e era também, segundo Hobsbawm, “perfeitamente legivel, a0 contrario das cali- grafias intrincadas dos seculos dezesseis e dezessete”.!* Entretanto, a historia vista de baixo no tem sido meramente escrita a respeito da historia politica familiar moderna, por histc- ‘se podera experimentar sobre singularidade dda Revolucio Francesa, permanere ciaro que as reat Fear of 1789, Pans, 1932, tad. gl, Nova York, ‘obra mats recente de Richard Cobb, AESCRITA DA HISTORIA ” riadores incapares de enftentar os desafios paleogréficos. Na verdade, embora o conceito da historia vista de baixo tenha sido essencialmente desenvolvido por historiadores marxistas ingleses, que escreviam dentro dos limites cronologicos tradi historia britinica do trabalho, talver o livro, que utiliza essa Perspectiva no passado a criar maior impacto, tenha sido escrito Por um estudioso francés que tomou como sua tematica uma comunidade medieval camponesa dos Pireneus, Montaillou, de Emmanuel Le Roy Ladurie, pela primetra vez publicado na Franca em 1975, despertou maior atencio, foi mais vendido e teve maior alcance de leitores que & maior parte das obras de historia medie vval.!6 Evidentemente, ele tem suscitado alguma critica no interior da comunidade erudita, ¢ varias questdes foram levantadas sobre a merodologia de Le Roy Ladurie e a abordagem por ele utilizada de suas fontes."7 Os historiadores que trabalham com a visio de baixo devem, ¢ claro, ser tio rigorosos nessas questes quanto em quaisquer outras, mas Montaillou se situa como uma especie de marco na escrita da historia vista dessa perspectiva. Como observou seu autor, “embora haja muitos estudos historicos relacionados as comunidades camponesas, ha muito pouco material disponivel que possa ser considerado 0 testemunho direto dos proprios camponeses” #8 Le Roy Ladurie contomnou esse problema baseando set livro nos registros inquisitoriais produsidos por Jacques Four nier, Bispo de Poitiers, durante sua investigagdo da heresia entre 1318 e 1325. Sejam quais forem seus inconvenientes, Montaillow ndo apenas demonstrou que a historia vista de baixo poderia atrair © piblico leitor em geral, mas também que alguns tipos de registro oficial poderiam ser utilizados para explorar o mundo mental ¢ marerial das geracées passadas. rn PETER BURKE Na verdade, os historiadores sociais e econdmicos pregando cada vez mais tipos de documentacio, cuia real u como evidéncia historica repousa no fato de que seus compiladores do estavam deliberada e conscientemente registrando para a posteridade. Supde-se que muitos desses compiladores ficariam surpresos, e talvez preocupados, com 0 uso que os historiadores recente fizeram dos casos ucicas,regstros paroquiats, testamen tos e transagées de verras feudais que registraram. Tal evidencia pode ser empregada, adequadamente, para explorar agées e ideias 2s ou supostedes implicitas, e também para propiciar uma base quansitativa as experiéncias do pasado. Como observou Edward Thompson: AAs pessoas pagavamn tmpostas: as ae pelos hisonatores de tmao, mar por demigafos < 136038 pagavam disimos: os inventinos sio apropriadas como evidéncia alos dem cos. As pessoas eram arrendatarias consuetidin‘ ‘nas 00 ef nieulos de posse eram inscritos @ constavam dos repos da cone feuds: ess ons exsencasso caueovment ner roradas pelos bistonadores, nao coments em busa ce nova evidéncs ra etn um dislogo em que eles propdem novas perguntas. Pelo que sugere esta citagio, tis matertais so muito variados. Ocasionalmente, como ocorre com 0s materiais em que Montaillow fo1 baseado, permirem que o historiador consiga chegar tio pro mmo as palavras das pessoas, quanto consegue 0 gravador do histontador oral A historia oral tem sido muito usada pelos historiadores que tentam estudar a experiéneia das pessoas co uns, embora,¢clato, nfo haja razio por si s6 evidente do motivo pelo qual 0 historiador oral no deva gravar as memorias das Guquesas, dos pluocraas e dos bispos, da mesma forma que dos 1h ey oT on er Ey Lads 178,» 21920. icureio mats emplados upos de registos sobre os quais os hiscoradores, ‘Sioa tra hiona sade ban, ver Alan Maceane, Sash ing Htnl Commas, Carbide, 1977 18. EP, Thomps 20, Algumas impressdes AESCRITA DA HISTORIA * munetros e dos operatios fabris.9 Mas o historiador oral tem problemas ébvios ao tratar com pessoas que morreram antes de serem gravadas ou cuja memoria foi perdida por seus sucessores, € 0 Upo de testemunho direto que pode obter ¢ negado aos historiadores dos periodos mais antigos. Ao contritio, como sugerimos, existem fontes que permicem aos historiadores de tais Periodos chegarem mais perto das experiéneias das pessoas das classes infertores. Le Roy Ladurie utiizou uma fonte desse tipo: o registro de Jacques Fournier. Outro trabalho, que mostra como este po de registto legal poderia ser empregado por um tipo bem diferente de historia vista de baixo, foi publicado em 1976, a edicio italiana de The Cheese and the Worms, de Carlo Ginzburg"! O objetivo de Gineburg nao era reconstrutr a mentalidade e o modo de viver de uma comunidade camponesa, mas antes explorar 0 mundo inte lectual e espinitual de um moleito chamado Domenico Seandella (apelidado de Menocchio), nascido em 1532, que viveu em Friu no nordeste da Itilia. Menocchio teve complicagdes com a Ing sicdo (foi final executado, provavelmente em 1600) a volumosa documentagio que se refere a0 seu caso permit que Ginzburg reconstruisse grande parte de seu sistema religioso. © livro em st € uma realizacio notivel, o preficio de Ginzburg apresenta uma proveitosa discussie dos problemas conceituais e metodologicos da reconstrugio da cultura das classes subalternas no muhdo Préindustrial. Ble fot particularmente insistente para “o fato de uma fonte ndo ser ‘objetiva’ (para aquele tema, nem um inventirto © &) nfo significar que ela seja inuti mesmo a Em sum: 1 de areas tematcascabertas pelos ore podem ser obeda atraves da to connor em Or desde 1972 21, Poblcado em ngs, radustdo por Annee Jon Tedeschi, come The Chesse Worms: the Cos Miler, Londres, 1980. 01 Ginzbury, The Ni Wicheait and Agtanan Seventeenth Cents, Londres, 1983 (ed liana, 196 ‘os restos inquisttonas podem see usados para esclareer as etencar pupul a PETER BURKE documentacio escassa, dispersa e obscura pode ter um bom uso", eo estudo dos individuos nesse tipo de profundidade e tio val quanto as abordagens coletivas mais familiares & historia soctal Restao problema, ¢ claro, da tepresentatividade de taisindividuos, ras os estudos de caso desse tpo, sratados de forma adequada, lem ser imensamente esclarecedores. Ean tm seus esforgon para esudar a historia viet de bai, os historiadores utiizaram outros tipos de documentacio oficial ou semrofical, além de uma fonte rica isolada, Um exemplo disso e Barbara A. Hanawalt, que fez um uso extensivo de uma das grandes fontes nepligenciadas da histéra socal ingles, a inquingio do coroner? na reconstrucso da vida familiar camponesa medieval Hanawalt declara que esses registros estio isentos das tendéncias encontradas nos registros das cortes reais, eclesiasticas ou feudais, além de apontar (volrando a um tema anterior) que os dealhes da vida material ¢ das atvidades familiares neles assinalados sio incidentais 20 principal propésito dos registros, dat a improbabi lidade de serem distorcidos. Como ¢ tio freqiiente quando se trata eles tém sua maior utilidade quando emprega- dos para propositos que seus compiladores jamais sonharam Combinadas com outras formas de documentagéo, Hanawaltusot as inquirigées para compor um quadro do ambiente material, da economia familiar, das etapas no cielo de vida, nos padrdes de educagio dos filhos e de outros aspectos da vida cotidiana dos camponeses medievais, Em certo sentido, seu trabalho demonstra uma escratégia alternativa aquela seguida por Le Roy Ladurie ¢ Ginzburg: 0 exame minucioso de um vasto corpo de documents fo, em ver da construgso de um estudo de caso baseado em uma 25, A melhor trod patna obra ABSCRITA Dy rORIA si fonte excepcionalmente rica. Mas o resultado final ¢ uma demons- tracdo de como mais uma forma de documentacio oficial pode ser usada para construir a histéria vista de baixo. Esta ampliacéo do alcance cronologico da historia vista de batxo, assim como o movimento em direggo « um ambito mais das preocupagées histéricas do que as acGes politicas ¢ os movimentos politicos das massas, levou a uma busca de outros modelos, além daqueles proporcionados pelo marxismo tradico- nal, ou pelo velho estilo da historia do trabalho. A necessidade de se manter um didlogo com os estudiosos marxistas ¢ essencial, mas permanece claro que até a aplicacao, para o mundo pre-industrial, de um conceito marxista bisico como aquele, ¢ problematica, 20 ‘mesmo tempo em que ¢ dificil imaginar se uma linha distintamente maraista em um processo de difamacio em Yorkshire, no século dezesseis, ou em uma fraude em Wiltshire, no século dezessete Infelismente, a busca de um modelo alternativo (admitidamence, ainda em seus escassos primordios) até agora alcancou muito pouco sucesso. Muitos historiadores, especialmente na Europa continental, foram inspirados pela escola francesa dos Annales. ‘Sem davida, muitos dos varios trabalhos produzidos por escritores, que operam dentro da tradicio dos Annales, ndo apenas aprofun. daram nosso conhecimento do passado, mas também proporcio- aram inctiveis reflexdes metodolégicas demonstrando © uso inovador que pode ser feito das formas familiares de documentacéo € 0 modo como novas questées sobre 0 passado podem ser formuladas. Além disso, a clarficacio dos annalistas do conceito de mentalité comprovou-se de grande valor para os historiadores que teraram reconstruir o mundo mental das pessoas das classes inferiores. Entretanto, eu gostaria de afirmar que a mator contri- buicéo da abordagem dos Annales tem sido a demonstracéo de como compor 0 contexto dentro do qual poderia ser escrita a historia vista de baixo. Porexemplo, o conhecimento de uma queda Method: the Annales Paedigm, 2 PETER BURKE. nos precos dos graos, em uma determinada sociedade durante um dado periodo, ajuda a compor o pano de fundo essencial para a compreensio da experiéncia do pobre: tal evidéncia quantificada, no entanto, pode nao ser toda a histor Outros buscaram modelos na sociologia ¢ na antropologia. At, tambem, em mos comperentes e sensiveis, os ganhos tém sido grandes, embora mesmo nessas mios alguns problemas ainda permanecam, enquanto em outras ocorreram alguns desastres. Poderia ser argumentado que a sociologia é de maior releviincia para os historiadores da sociedade industrial, enquanto algumas de suas suposicées nem sempre tm sido muito facilmente aplicé- veis 20 tipo de microestudo da preferéncia cos profissionais da (0. A antropologia tem atraido muitos histo- riadores que estudam topicos medievais ¢ do inicio de modernis: mo, embora aqui também o resultado tenha apresentado alguns problemas.” Algumas dessas questées sao esclareeidas pelo trabe- Iho de Alan Macfarlane sobre as acusagées de bruxaria na Essex dle Tudor e Stuart. Macfarlane decidiu escrever o que poderta ser rito como uma historia da bruxaria vista de baixo. A interpre tacio elitists do tema foi anteriormente apresentada por Hugh Trevor Roper, que, em seu proprio estudo da bruxatia na Europa, no inicio da era moderna, ceclarou sua falta de interesse em “meras crencas, em bruxarias: aquelas credulidades aldeds elementares que os antropdlogos descobrem em todas as epocas e em todos os historia vista de ASCRITA DA HISTORIA 3 lugares". Macfarlane, a0 contririo, imergiu ele proprio nas “me. ras crencas em bruxatias” e produriu um livro que se constituiu em um importante aprofundamento de nossa compreensio do assunto, Um dos elementos mais notaveis em seu projeto foi a aplicasdo de estudos antropolégicos ao material historico. O resul tado fot um aprofundamento de nossas reflexes na fancio da bruxaria no interior da sociedade da aldeta ea percepcio do quanto as acusagGes de bruxaria eram geradas na mator parte das vezes por lum conjunto razoavelmente padronizaco de tens6es interpessoais. Mas a abordagem antropologica ajudou pouco aos leitores na compreensio daquelas dimens6es mais amplas do topico e que sio exteriores a comunidade da aldeia; por que foi aprovada uma lei no parlamento permitindo a perseguicio da bruxaria maléfica em 1563 e por que outra legislagao, tornando impossivel a perseguicto legal da bruxaria, for aprovada em 1736? A abordagem micro historica utilizada preferenciaimente pelos modelos ancropologicos Pode facilmente obscurecer o problema mais geral do lugar, onde © poder esta concentrado na sociedade como um todo e da natureza de sua operagio. Por tris de toda a nossa discussdo ocultou-se uma questio fundamental: a histénia vista de baixo constitul uma abordagem da historia ou um tipo distinto de historia? O ponto pode ser enfocado de ambas as diresdes. Como abordagem, a historia vista de baixo preenche comprovadamente duas funcoes importantes. A | primeira servir como um corretivo a historia da elite, para mostrar quea batalha de Waterloo envolveu tanto o soldada Wheeler, quanto o Duque de Wellington, ou que o desenvolvimento econémico da Gri-Bretanha, que estava em plena atividade em 1815, envolveu © que Thompson descreveu como “a pobre e sangrenta infantaria da Revolucio Industrial, sem cujo trabalho e pericia ela teria Permanecido uma hipotese nfo testada”® A segunda € que, oferecendo esta abordagem alternaiva, a historia vista de baixe W®.HR. TrevorRoper, The Europe Centunes, Harmondsworth, 1967, p.9. 30. Thorspson, “History fram Below, p. 280, tchCraze 0} the Sitzenth and Seven

Вам также может понравиться