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PESQUISA QUALITATIVA
NO CAMPO DA
EDUCAÇÃO
EM CIÊNCIAS:
PRESSUPOSTOS,
ABORDAGENS E
POSSIBILIDADES
ORGAN I Z A DORES
Valderez Marina do Rosário Lima
João Batista Siqueira Harres
Marlúbia Corrêa de Paula
CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA
NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS:
PRESSUPOSTOS, ABORDAGENS E POSSIBILIDADES
Chanceler
Dom Jaime Spengler
Reitor
Evilázio Teixeira
Vice-Reitor
Jaderson Costa da Costa
CONSELHO EDITORIAL
Presidente
Carla Denise Bonan
Editor-Chefe
Luciano Aronne de Abreu
Organizadores
PORTO ALEGRE
2017
© EDIPUCRS 2017
CAPA Thiara Speth
DIAGRAMAÇÃO Camila Borges
REVISÃO DE TEXTO Susana Azeredo Gonçalves
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo,
especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos.
Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta
obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características
gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos,
do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas
(arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
“A ideia de um método que contenha princípios firmes, imutáveis e
absolutamente obrigatórios para conduzir os negócios da ciência depara
com considerável dificuldade quando confrontada com os resultados da
pesquisa histórica. Descobrimos, então, que não há uma única regra,
ainda que plausível e solidamente fundada na epistemologia, que não
seja violada em algum momento” (FEYERABEND, 2007).
SUMÁRIO
9 APRESENTAÇÃO
11 PREFÁCIO
15 INTRODUÇÃO
O conjunto de textos que compõe esta obra tem sua gênese em estudos
versando sobre a relação métodos qualitativos de pesquisa e produção
acadêmica, realizados por professores e doutorandos do Programa de
Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Questionamentos e reflexões
iniciais do grupo foram o substrato para debates, reflexões e aprendi-
zagens realizados durante o período 2016−2017. Neste tempo, além de
apropriação teórica, a análise e a apreciação crítica de materiais produ-
zidos foram realizadas de forma intensa e sistemática pelos envolvidos
no diálogo. Estabelecemos uma rede cuja comunicação ora se fazia de
modo virtual ora de modo presencial, para acompanhamento coletivo de
cada um dos textos produzidos.
Ao dar relevo à elaboração colaborativa, trabalhamos em coerência
com pelo menos dois pressupostos importantes aos pesquisadores do
Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática.
O primeiro, o educar pela pesquisa, assume a pesquisa como trabalho
conjunto de produção/reconstrução de conhecimento e deposita na
interação entre sujeitos, mais experientes e menos experientes, o mote
para o desenvolvimento do pensamento autônomo e da autoria de ideias
e argumentos renovados. O segundo, a qualidade da produção científica,
percebe a consistência interna da produção como um elemento essencial.
Essa consistência pode ser obtida, dentre outros cuidados acadêmicos,
por meio da revisão crítica efetuada por colegas. Nesta troca, que é um
movimento gradativo, as contribuições dos demais investigadores per-
10 CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS
Os organizadores
Valderez Marina do Rosário Lima
João Batista Siqueira Harres
Marlúbia Corrêa de Paula
PREFÁCIO
1
Referência à bela obra de Mário Osório Marques, Escrever é preciso: o princípio da pesquisa,
Editora Unijuí.
VALDEREZ M. DO ROSÁRIO LIMA | JOÃO BATISTA S. HARRES | MARLÚBIA C. DE PAULA 13
Por fim, a partir dos temas contidos nos capítulos, esta obra, além de
apresentar contribuições para quem pesquisa em Educação em Ciências
e Matemática, mostra parte do importante trabalho que é realizado no
Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da
PUCRS, no campo metodológico e analítico das investigações. Por tudo
isso, recomendo a leitura atenta deste livro.
ROQUE MOR AE S
Materialismo e idealismo
Os paradigmas
Abordagens de pesquisa
Abordagem empírico-indutiva
Abordagem racionalista-dedutiva
Abordagem fenomenológico-compreensiva
Abordagem etnográfico-cultural
Abordagem naturalístico-construtiva
Abordagem histórico-narrativa
Abordagem crítico-dialética
Abordagem discursivo-interpretativa
Tipos de pesquisa
Considerações finais
REFERÊNCIAS
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J. Métodos y técnicas cualitativas de investigación en ciencias sociales. Madrid:
Sintesis, 1994.
DA NOITE AO DIA 55
1
Neste ensaio, vamos considerar o termo professor-pesquisador como sendo o professor que
atua na Educação Básica e Superior que busca promover o conhecimento com os estudantes e, ao
mesmo tempo, realiza pesquisa no contexto profissional docente, com a finalidade de avançar na
qualidade educativa nesse nível de ensino. É aquele que se propõe a estudar e a aprender a fazer
pesquisa. É “[...] professor e pesquisador simultaneamente, pois a pesquisa lhe permitirá pensar e
agir de forma especial, diferenciada e fundamentada diante de sua profissão” (RAUSCH, 2012, p.714).
58 EMERSON SILVA DE SOUSA | ISABEL CRISTINA M. DE LARA | JOÃO BATISTA S. HARRES
como má conduta e fraudes, ganham espaço cada vez mais abrangente nas
pesquisas realizadas, inclusive, no contexto acadêmico.
Fabricação e falsificação de dados, plágio e autoplágio, falta de con-
trole do direito de autoria, conflitos de interesses e fragilidade das sanções
punitivas em desvios de conduta são alguns dos problemas éticos mais
comuns nas pesquisas (COURY, 2012).
Yokomizo (2008) aponta cinco fatores que impulsionam a prática de
desvio de conduta no meio acadêmico concernente à produção científica.
São eles: as instituições, que são ambientes legais-regulatórios e contextos
em que as proteções legais são fracas; a racionalidade limitada, que é a
dificuldade de os agentes processarem e compararem conteúdos devido à
grande quantidade de informação; o oportunismo, que é a motivação errada,
o interesse próprio; os indicadores de desempenho, que são as exigências e
o incentivo à produção, à quantidade; o contexto, que se refere à proteção
fraca da propriedade intelectual devido à globalização com o uso da internet.
Diante desses elementos, apresentamos a seguir um esquema sobre estas
questões, as quais atuam diretamente sobre a pesquisa acadêmica.
PESQUISA
Contexto Oportunismo
Indicadores de
desempenho
RUPTURA - Eixo 1
Questão inicial - E1
Exploração - E2
Problemática - E3
Considerações finais
REFERÊNCIAS
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HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2009.
A PESQUISA ACADÊMICA COMO ELEMENTO DE FORMAÇÃO 75
Pesquisa etnográfica
pelo menos 1 ano escolar; o pesquisador deve ter contato com outros povos
e culturas; a abordagem etnográfica deve combinar vários métodos de coleta,
incluindo observação e entrevista; e o relatório etnográfico deve apresentar
uma grande quantidade de dados primários que demonstram a maneira de
ver o mundo e as próprias ações dos participantes.
Nesse sentido, fica claro o papel do pesquisador na condição de
observador da realidade e o pressuposto de que suas tarefas exigirão
riqueza teórica capaz de permitir reduzir o fenômeno em seus aspectos
mais relevantes e ainda abordar a realidade por meio do método mais
adequado para então compreendê-la e interpretá-la.
Estudo de caso
No entendimento de Stake:
Para o autor, o estudo de caso pode ser de dois tipos: intrínseco ou ins-
trumental. Um estudo é intrínseco quando o caso vem dado e o pesquisador
é quase obrigado a tomá-lo como estudo. Esse tipo de estudo de caso pode
ser exemplificado como quando se deseja avaliar um programa, ou quando
um professor quer estudar um aluno com dificuldades de aprendizado. Um
estudo é instrumental quando surge um problema paradoxal, uma necessidade
de compreensão geral como, por exemplo, quando um grupo de professores
tem um certo tempo para reelaborar um projeto de curso ou então para
escolher uma professora e estudar o seu trabalho docente durante certo
período. Neste caso, talvez seja necessário estudar vários professores ao
mesmo tempo, chamando o estudo de estudo coletivo de casos.
Para Bogdan e Biklen (1994), o estudo de caso pode ser explicado
como um tipo de pesquisa que prioriza a observação participante como
principal técnica de coleta de dados, visando a um tratamento histórico
do ambiente. Os autores consideram que quanto menor for o grupo de
sujeitos, maior a probabilidade de o seu comportamento ser alterado pela
presença do pesquisador.
84 DEISE NIVIA REISDOEFER | ROSANA MARIA GESSINGER
História de vida
Pesquisa participante
Grupo focal
Assim como a história de vida, o grupo focal é visto como uma técnica
de pesquisa que visa coletar dados por meio de interações em grupos
específicos e discussão de um assunto proposto pelo pesquisador, que
ocupa uma posição de observador e participante.
De acordo com Barbour (2009), grupo focal é apresentado como um
método de pesquisa qualitativa, cuja característica principal consiste em
qualquer discussão que seja realizada em grupo, no qual o pesquisador
tem o papel de motivar e estimular as interações, evitando repetir ques-
tionamentos a cada sujeito do grupo.
Segundo a autora, para que o pesquisador conduza um grupo focal
se faz necessária a elaboração de um roteiro com antecedência, definindo
quais serão os componentes do grupo, selecionando alguns materiais que
promovam a interação e certificando-se de que haja essa interação entre
os sujeitos participantes e não somente dos sujeitos com o pesquisador.
Barbour (2009) também destaca uma limitação do uso de grupos
focais: não devem ser utilizados para obter narrativas dos sujeitos ou
então avaliar atitudes. Por outro lado, defende que este método deve
ser utilizado para avaliar questionários e verificar a sua necessidade, para
avaliar e encorajar sujeitos pouco acessíveis ou resistentes a pesquisas e
entrevistas e ainda para abordar questões do estilo “por que não?”.
UM OLHAR SOBRE TIPOS DE PESQUISAS QUALITATIVAS 89
Conclusões
Construir novos saberes por meio da pesquisa nas diversas áreas do co-
nhecimento, em especial na educação, sugere a importância de conhecer
as diversidades e os contextos em que se insere cada tipo de pesquisa,
especialmente as de cunho qualitativo. A pretensão deste ensaio foi
elencar algumas dessas pesquisas qualitativas, de modo a dar subsídios
ao leitor para situar-se, enquanto pesquisador, na busca pela forma de
pesquisar com a qual mais se identifique.
Percebeu-se que não há hierarquia entre as formas de fazer pesquisa.
O que determinará a escolha pela melhor abordagem será a natureza do
UM OLHAR SOBRE TIPOS DE PESQUISAS QUALITATIVAS 91
REFERÊNCIAS
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YIN R. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS EM PESQUISAS:
QUESTIONAMENTOS E REFLEXÕES
uma pesquisa. Para que isso aconteça, faz-se necessário que a observação
seja sistematizada, isto é, planejada rigorosamente pelo observador. De
acordo com Yin (2010), esse cuidado na observação pode revelar nuan-
ces difíceis de serem enxergadas se tratarmos a observação como algo
normal da vida real.
Entre as vantagens de usar a observação estão: permite contato mais
próximo com as perspectivas dos sujeitos; pode ser usada quando não há
uma base teórica sólida que oriente as coletas de dados; e permite coletar
dados em situações em que não há a possibilidade de outras formas de
comunicação. Assim, segundo Lüdke e André (1996), a observação é um
dos métodos mais adequados para a investigação em pesquisas qualita-
tivas. No entanto, o pesquisador deve definir sobre a intensidade de sua
participação durante a realização da observação, o seu papel e os seus
objetivos junto aos sujeitos.
No que se refere à participação do pesquisador no processo de ob-
servação, Lüdke e André (1996) afirmam que o pesquisador pode atuar de
várias formas distintas, podendo ser um participante total, um observador,
um observador participante e um observador total. Como participante
total o pesquisador não se identifica nem identifica seus propósitos de
pesquisa; como observador revela parcialmente o que pretende; como
observador participante identifica-se e identifica totalmente seus pro-
pósitos; e como observador total não interfere com o grupo, não tem
relação interpessoal com os sujeitos, ou faz suas observações sem ser visto.
Segundo Lakatos e Marconi (2009), a observação participante é
utilizada para coleta de dados em pesquisa de campo. Nesse tipo de es-
tudo, o pesquisador busca estar ao lado do participante, compartilhando
suas experiências. Nessa modalidade, o observador vivencia, na medida
do possível, as atividades, os interesses, os afetos e as ocasiões de uma
comunidade ou de um grupo de participantes. Pode ser realizada de duas
formas: natural ou artificial. Na forma natural, o pesquisador pertence
à comunidade ou grupo em que fará a pesquisa; na forma artificial, o
100 ALESSANDRO PINTO RIBEIRO | ROSANA MARIA GESSINGER
Fotos e vídeos
Considerações finais
REFERÊNCIAS
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LAKATOS, E.M; MARCONI, M.A. Fundamentos da metodologia científica. São
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INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS EM PESQUISAS 109
Barthes (1993, p. 251), em sua reflexão, evidencia que contar histórias acom-
panha o desenvolvimento do ser humano. Narramos fatos, experiências, sen-
timentos. Narramos sobre outras pessoas e também narramos nós mesmos.
Da mesma forma, os textos científicos, de modo mais polido e com linguajar
próprio desse gênero de discurso, também se constituem em narrativas, pois
narram descobertas, compreensões, interpretações, recomendações sobre
determinado fenômeno. Pode-se afirmar, pois, que narrar é dimensão funda-
mental de comunicação humana e maneira de atribuir significados ao mundo.
Tratando-se de investigações de abordagem qualitativa, a narrativa
está sempre presente, independentemente do instrumento utilizado pelo
pesquisador para coletar dados durante o período em que se encontra no
campo de pesquisa. Especialistas de diferentes áreas do conhecimento
se interessam por narrativas dada sua capacidade de fornecer visões
abrangentes e contextualizadas de fenômenos sociais.
112 VALDEREZ MARINA DO ROSÁRIO LIMA | ROSANA MARIA GESSINGER
O que é narrativa?
dos quais fazem parte. De outro lado, porque o pesquisador, para aprofun-
dar a compreensão sobre o fenômeno investigado, realiza um permanente
movimento hermenêutico, não só ao relacionar os significados manifes-
tados pelas pessoas com os elementos do contexto cultural, mas também
pelas escolhas realizadas, desde o delineamento preliminar do estudo até
a construção dos textos nos quais empreende diálogos entre constructos
teóricos e informações decorrentes do campo empírico (ESTEBAN, 2010).
O último traço mencionado, a interpretação, é fundamental para jus-
tificar as narrativas em pesquisas de natureza qualitativas, pois nelas está
sempre presente a interpretação. Os sujeitos, ao narrarem algo que sucedeu,
impregnam os atos verbais com suas representações, seus comportamentos,
seus princípios e valores. Por isso, a ação de contar histórias possibilita ao
investigador estudar o contexto dentro do qual se passa a narrativa relatada,
seja ele social e/ou educativo (GUDMUNDSDOTTIR, 1998).
Apresentadas as razões pelas quais narrativas são importantes para
a pesquisa qualitativa, discorre-se a seguir sobre sua capacidade de gerar
conhecimento na área da educação.
E para finalizar?
REFERÊNCIAS
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NARRATIVAS E PESQUISA EDUCACIONAL: ALGUNS QUESTIONAMENTOS 125
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METANÁLISE COMO POSSIBILIDADE PARA A PESQUISA NA ÁREA DA EDUCAÇÃO 133
Como todo escritor, tenho a tentação de usar termos suculentos: conheço adjetivos
esplendorosos, carnudos substantivos e verbos tão esguios que atravessam agudos
o ar em vias de ação, já que palavra é ação, concordais? Mas eu não vou enfeitar a
palavra, pois se eu tocar no pão da moça se tornará em ouro - e a jovem (ela tem
dezenove anos) não poderia mordê-lo, morrendo de fome. Tenho então que falar
simples para captar a sua delicada e vaga existência (LISPECTOR, 1998).
ser discutido, pois consiste em uma “área que investiga fenômenos, fatos,
problemas que ocorrem em práticas sociais e têm consequências significa-
tivas para e sobre seres humanos” (p.83). A autora, dedicada às questões
que permeiam a temática da leitura e da produção textual, lembra que o
pesquisador do campo educacional “tem como temas questões socialmente
importantes, problemas que não são apenas para serem pesquisados, es-
tudados, mas também para serem resolvidos, permitindo intervenção na
realidade, modificação e transformação da realidade” (2011, p.83).
É necessário que a escrita do trabalho acadêmico leve isso em consi-
deração, pois é por meio dela que a pesquisa é divulgada e se difundem os
resultados e contribuições obtidos. Como argumenta Marques (1997, p.
93), «não se faz ciência sem escrever: essa a forma de se comunicar com
a comunidade científica». Entretanto, apenas compartilhar os resultados
não é suficiente. É preciso dividir com o leitor detalhes que embasam a
pesquisa, bem como os fundamentos políticos, filosóficos e sociais que
sustentaram o modo como a pesquisa foi conduzida. Com isso, criam-se
condições que possibilitam ao leitor fazer suas próprias inferências, bem
como apreciar o valor de suas conclusões (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 238).
Escrever não é uma tarefa fácil, pois exige tempo, dedicação e discipli-
na. Laville e Dionne (1999) destacam que mesmo pesquisadores experientes
enfrentam certa dificuldade ao escrever suas pesquisas, satisfazendo-se
em escrever de quatro a cinco páginas por dia. Bogdan e Biklen (1999)
compartilham da mesma visão e complementam destacando: “Lembre-
se que nunca se está verdadeiramente ‘pronto’ para começar; quando
escrevemos temos de tomar uma decisão consciente de começar e de
nos disciplinarmos para continuarmos” (BOGDAN; BIKLEN, 1999, p. 246).
Autores mais correntemente utilizados para orientações em pesquisas
acadêmicas destacam a relevância de um relatório de pesquisa ser trans-
parente e apresentar o problema de pesquisa, os caminhos escolhidos para
lhe responder e, por fim, as conclusões alcançadas. Como ressaltam Laville
e Dionne (1999), em geral, é a partir da escrita do trabalho acadêmico
140 JULIANA B. P. DOS SANTOS | PRISCILA M. CHAVES | ISABEL CRISTINA M. DE LARA
1
Ao mencionarmos estrutura, estamos remetendo à concepção de gênero proposta por Marcuschi,
que consiste em “textos materializados que encontramos na nossa vida diária e que apresentam
características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e
composição característica. É impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero,
assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto” (2005, pp.22-23).
A concepção de gênero é deveras importante na esfera acadêmica, e seu trabalho vem tomando
espaço não somente nas ciências sociais como nos demais campos do conhecimento. Entretanto,
evidencia-se que, diferentemente de compreender a ascensão do conceito de gênero como
diferentes formas de ação social, o mesmo foi tomado como técnica a ser seguida. Por vezes,
insistir em fazer ver tais distinções significa “não saber explicar a matéria” (GUEDES, 2009),
haja vista um louvor que se adquire na esfera acadêmica pela sua típica escrita. Para uma breve
constatação disso, basta olhar os anais dos eventos científicos ou algumas edições de periódicos
em que muito pouco se tem avançado nos problemas que circundam o contexto educacional e
as produções aumentam exponencialmente. O impasse não condiz com a forma em si mesma.
Entretanto, quando se trabalha a partir da primazia da forma, impede-se o aluno de ter acesso às
especificidades que fazem da escrita uma forma única de contato com a elaboração de referenciais
para significar o mundo. Esse processo forja novas exigências que não podem ser explicadas senão
em função do mundo admitido pela instituição (GUEDES, 2009).
2
Outros autores como Bogdan e Biklen (1999) e Marques (1997) também apontam a importância
do uso de dicionário no momento da escrita. Marques (1997, p. 59) reafirma sua opinião ao expor
que “escrever é exercer a imaginação criativa como num artesanato em que são ferramentas
indispensáveis o dicionário e a gramática”.
MOVIMENTOS DA ESCRITA: PESQUISA, ENUNCIAÇÃO E AUTORIA 141
seguir os referidos cânones de modo pouco crítico faz que reneguemos nossa
formação de leitores que buscam ressignificar a existência e pensar o conhe-
cimento mais como processo em nome do consumo do conhecimento como
produto. Nesse sentido, é bem verdade que o trabalho com as estruturas no
âmbito da pós-graduação facilita a escrita e o pensar com clareza. Entretanto,
as ideias próprias não podem ser deixadas de lado em detrimento do consumo.
3
Extrato de uma das cartas de Paulo Freire aos professores, intitulada Ensinar, aprender: leitura
do mundo, leitura da palavra contida em sua famosa obra Professora sim, Tia não. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142001000200013,
acesso em 02 de janeiro de 2017.
MOVIMENTOS DA ESCRITA: PESQUISA, ENUNCIAÇÃO E AUTORIA 143
4
Referencia-se aqui a seguinte citação do cineasta Eduardo Coutinho a propósito de seus
documentários, feita por Amorim: “O que se filma é o encontro e não a realidade: o encontro
de uma equipe de cinema com o outro” (COUTINHO apud AMORIM, 2001, p.23), na qual
a autora faz correspondência ao jogo realidade/construção, em que o outro é posto como
enigma. Assim sendo, como entendê-lo? Como entender suas ações? Assim como o ponto de
vista de um cineasta, o de um pesquisador é a todo o momento transformado pelo outro de
sua narrativa (AMORIM, 2001).
MOVIMENTOS DA ESCRITA: PESQUISA, ENUNCIAÇÃO E AUTORIA 145
Conclusões
palavras dos próprios autores. Mas aqui optou-se pela forma ensaística de
apresentar as reflexões. Do mesmo modo, transgride-se na finalização do
texto, pondo um ponto final – e provisório – com as palavras de Marques
(1997): “[...] escrever como provocação ao pensar, como o suave deslizar
da reflexão, como a busca do aprender, princípio da investigação” (p. 26).
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MOVIMENTOS DA ESCRITA: PESQUISA, ENUNCIAÇÃO E AUTORIA 151
Considerações finais
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158 JERONIMO BECKER FLORES | JOÃO BATISTA SIQUEIRA HARRES
Nesse contexto é que Wang e Hannafin (2005, p.6) afirmam que a teoria
é, ao mesmo tempo, o fundamento e o resultado da PBD. Esses autores defi-
nem a PBD “como uma metodologia sistemática, mas flexível, que objetiva
aperfeiçoar as práticas educacionais, através de análise iterativa, projeto,
desenvolvimento e implementação, com base na colaboração entre pesqui-
sadores e profissionais, no cenário do mundo real”. Desta forma, a intenção
não é testar se a teoria funciona ou não (VAN DEN AKKER, 1999), uma vez
que design e teoria são mutuamente desenvolvidos no processo de pesquisa.
Barab e Squire (2004) consideram que a PBD não é tanto uma aborda-
gem, mas uma série de abordagens que têm como objetivo produzir novas
teorias, artefatos e práticas que possam ser empregados para melhorar
o ensino e a aprendizagem. Sendo assim, uma de suas características é o
foco em problemas educacionais, para os quais são realizadas experiências
ou intervenções, que por sua vez podem incluir o uso de Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC), seja no desenvolvimento do experimento
em si, seja como apoio no entendimento e na solução do problema de forma
mais ampla. Para Ramos (2010), o uso de TIC na PBD é fundamental, uma vez
que as tecnologias facilitam a coerência na união da teoria com a prática e
permitem construir um material que seja compatível tanto com as intenções
pedagógicas e teorias de aprendizagem quanto com as práticas dos contextos
de aprendizagem. Esta construção de materiais é feita com base “tanto nos
pressupostos da teoria norteadora quanto nas expectativas dos sujeitos sobre
a integração das TIC com a prática, o que se concretiza nas características
das ferramentas, recursos, materiais e estrutura de aprendizagem” (p. 38), e
envolve uma equipe de profissionais, tais como professores, pesquisadores e
programadores, promovendo integração, uma das características do método.
Segundo Wang e Hannafin (2005), a PBD é fundamentada, pragmática,
interativa, iterativa e flexível, integrativa e contextualizada. Considerando
como fundamental a utilização de tecnologias, uma possibilidade a pensar
é, por exemplo, criar ou pesquisar a eficiência de um determinado objeto de
PESQUISA BASEADA EM DESIGN COMO MÉTODO INVESTIGATIVO 161
aprendizagem1 que vai ser usado por alunos. Para isso é necessário, efetiva-
mente, fundamentar a criação desse objeto em teorias que levem em conta
o conteúdo em si e as dificuldades dos alunos em se apossar de tal conteúdo,
mas de modo que o objeto também realimente a teoria com novos dados.
Neste sentido, a pesquisa é pragmática, ou seja, busca resolver problemas
práticos da aprendizagem de um determinado conteúdo. Já a interatividade
manifesta-se na necessidade de trabalhar em conjunto com os professores
desses alunos − com pessoas que eventualmente os auxiliem − e com outros
pesquisadores que desenvolvem recursos semelhantes.
A iteração é evidenciada na necessidade de as intervenções do pesquisador,
ao introduzir o objeto em questão, serem realimentadas continuamente com
testes e refinadas por meio de novos projetos, o que permite desenvolver a
pesquisa com flexibilidade maior do que em outras abordagens metodológicas.
A pesquisa é também integrativa porque os pesquisadores necessitam
integrar uma variedade de métodos e abordagens, tanto quantitativos quan-
to qualitativos, dependendo das necessidades da pesquisa. E, finalmente, a
pesquisa é contextualizada porque os resultados são “conectados tanto com
o processo de design por meio do qual os resultados são gerados como com
o ambiente no qual a pesquisa é conduzida” (WANG; HANNAFIN, 2005, p. 11).
Ainda de acordo com Bell e Sandoval (2004), perguntas comuns
como “O que determina o sucesso de uma intervenção específica em
uma situação particular?” ou “Como se pode generalizar um resultado
positivo a partir de uma observação de um caso particular?” podem ser
respondidas pelos princípios da PBD. Esse tipo de pesquisa pode produzir
diferentes tipos de conhecimento, incluindo melhor compreensão teóri-
ca dos fenômenos de aprendizagem por meio de uma intervenção e de
práticas de design generalizáveis.
1
De acordo com o IEEE (2000), um objeto de aprendizagem é definido como qualquer entidade
que possa ser utilizada, reutilizada ou referenciada durante o aprendizado apoiado por com-
putador. Pode conter recursos variados, desde os mais simples, como um texto ou um vídeo,
até alguns mais sofisticados, como um hipertexto, um curso ou até mesmo uma animação com
áudio e recursos mais complexos.
162 THAÍSA JACINTHO MÜLLER
Considerações finais
Intervenção
TI
de
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uma pesquisa baseada em design integrando a temática da saúde e o uso de
170 THAÍSA JACINTHO MÜLLER
KE TLIN KROE TZ
SOL ANGE C ARVALHO DE SOUZ A
JOSÉ LUÍS SCHIFINO FERR ARO
A Análise do Discurso (AD) teve sua origem nos anos 1950 e 1960, no
auge do estruturalismo. Na perspectiva de Ferreira (2003), a emergência
da AD se deu quando os defensores do estruturalismo pregavam “[...]
a ruptura com a fenomenologia, o psicologismo ou a hermenêutica”
(FERREIRA, 2010, p.18), sendo o sujeito um elemento que incomodava a
análise do objeto científico. Para Ferreira (2003, pp. 39-40), “[...] esse era
MICHEL FOUCAULT E A ANÁLISE DO DISCURSO 173
O discurso em Foucault
DISCURSIVOS ORIENTAM
PRÁTICAS
TEM
CONSTITUEM
CARÁTER
AO
REGULAREM
DETERMINAM UMA
NORMATIVO
ÉTICA NA RELAÇÃO
INSERIDOS EM UMA SUJEITO/OBJETO
DIMENSÃO
REFLETIDA NA DIMENSÃO
Sugestões
existem heróis, autores ideais, e que nesse sentido devem ser evitados
os ‘fã-clubes’, Veiga-Neto e Rech (2014) sugerem que prestemos mais
atenção tanto nos detalhes e na potência quanto nos limites do pensa-
mento do filósofo − menos militância e mais ativismo, nesse sentido, não
necessários. Assim, a ideia é se apropriar do pensamento de Foucault de
maneira equilibrada, sem excessos, como se quisesse fazer que todo o
estudo ‘ecoasse’ em torno de seus escritos.
Utilize Foucault de modo interessado: devem ser utilizadas as ferra-
mentas que podem ser úteis em nosso estudo. Foucault pode ser utilizado,
mas não necessariamente sempre, dado que, se nos fundamentarmos
apenas nos aportes teóricos e metodológicos de Foucault, podemos limi-
tar nossos estudos. Sugere-se, desse modo, ir além do seu pensamento,
mantendo ao filósofo, como sugere Veiga-Neto (2006), uma ‘fidelidade
infiel’ que consiste em uma espécie de ambivalência, pois, ao praticar a
liberdade, na medida em que o deixamos para trás, continuamos sempre
presos a Foucault: “É sendo fiel ao seu pedido que o abandono sem que
venha jamais a abandoná-lo” (VEIGA-NETO, 2006, p. 11). Dado que todos
os livros de Foucault são como pequenas caixas de ferramentas, que temos
dois tipos de ferramentas (metodológicas e conceituais) e que precisamos
das duas para exercitar nossa análise, não devemos escolhê-las a priori.
Sugere-se utilizar apenas as ferramentas que necessitamos em nossa
pesquisa, evitando os excessos e focando apenas naquilo que nos convém.
“Desconfie das metanarrativas”: não se trata de argumentar contra
as metanarrativas modernas, mas de desnaturalizá-las e mostrar seu ca-
ráter contingente. Não devemos buscar a origem das coisas, mas realizar
uma crítica, nos questionando sobre as condições que possibilitaram a
existência de determinadas narrativas e não outras. Em suma, trata-se
de tornar “difíceis os gestos fáceis demais” (FOUCAULT, 2006, p. 180),
praticando a hipercrítica, e não iniciar nossos estudos tomando como
pressuposto algo já dado e autodemonstrado.
Pense de outros modos: desconstrua, estranhe, o filósofo jamais
tomou a escrita como um intuito e como um fim (DELEUZE, 2005). Isso
possibilita utilizar o pensamento foucaultiano sem precisar ‘jogar tudo fora’,
MICHEL FOUCAULT E A ANÁLISE DO DISCURSO 179
Considerações
REFERÊNCIAS
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182 KETLIN KROETZ | SOLANGE CARVALHO DE SOUZA | JOSÉ LUÍS SCHIFINO FERRARO
Este capítulo tem por objetivo descrever quais softwares foram utilizados
para o tratamento das informações, em análises textuais, de pesquisas
qualitativas, no período entre 2004-2015. Com esse fim, foram identifi-
cados, em relação à época, a predominância de uso de um determinado
software utilizado durante os processos de análises textuais. Em relação
às fases da ATD (Análise Textual Discursiva), este livro contém, em seu
Capítulo 5, uma descrição que poderá oferecer ao leitor oportunas in-
formações sobre este modo de análise. Em seguida, passa-se a minuciar
quais trabalhos (dissertações e teses) têm predominado e qual tipo de
análise textual prevaleceu no período escolhido para a coleta de dados.
O material de que se compõe este capítulo tem sua origem no artigo
apresentado no CIAIQ11.O texto utilizado naquele artigo foi resultado de
1
1 5º CIAIQ (Congresso Ibero-americano em Investigação Qualitativa) realizado no Porto – Portugal,
Universidade Lusófona do Porto (ULP), de 12 a 14 de julho de 2016. Após a apresentação dos trabalhos,
alguns artigos foram selecionados para publicação em revistas, motivo pelo qual o artigo de título “O
Uso de Caqdas na Pesquisa Qualitativa: Perfil da Última Década” encontra-se na integra disponível, na
revista Internet Latent Corpus Journal, disponível em <http://revistas.ua.pt/index.php/ilcj/article/
view/4534>. A RCLI tem por temática em suas publicações o desenvolvimento de metodologias de
investigação que tratem de dados com potencial latente, já disponíveis na internet, bem como o
estabelecimento de aplicações e relações com os problemas clássicos de cada área de investigação,
que se possa lançar luz em novas implicações e encaminhamentos, conforme seus fundamentos teó-
ricos. Disponível em: <http://revistas.ua.pt/index.php/ilcj/about/editorialPolicies#sectionPolicies>.
184 MARLÚBIA CORRÊA DE PAULA | LORÍ VIALI | GLENY TEREZINHA DURO GUIMARÃES
softwares, o que, ao longo dos anos, deverá produzir efeitos ainda maiores
sobre as escolhas dos pesquisadores.
Ao utilizar a sigla CAQDAS (Computer Assisted Qualitative Data Analysis
Software Computer), adota-se a compreensão do que é expresso por Kelle
(1997, p.3), pois: “[...] um CAQDAS representa “uma série de programas
de computador orientados para o auxílio na análise de dados qualitativos”
Visto que esse livro reúne artigos sobre métodos de pesquisa quali-
tativa, a presença de um levantamento sobre o uso de CAQDAS torna-se
essencial, uma vez que os próprios recursos utilizados neste cunho de
pesquisa, em função das tecnologias, têm sido indiscutivelmente variados.
Ao perceber que a própria análise textual não só pode como tem recorrido
a esses usos, então que se passe a observá-los e a compreender como
e quando esses softwares podem implementar os processos de análise.
No que se refere às análises, pode-se considerar que existem “dife-
rentes abordagens à análise de dados na pesquisa qualitativa, algumas
delas mais gerais e outras mais específicas para determinados tipos de
dados pois, todas elas têm em comum o fato de serem baseadas em aná-
lise textual” (FLICK, 2009, p. 13). Para Flick, qualquer tipo de material na
pesquisa qualitativa (entrevistas, questionários, entre outros) deve ser
preparado para ser analisado como texto. Há neste livro, no Capítulo 3,
uma abordagem referente aos diferentes tipos de pesquisa qualitativa. E
no que se refere aos instrumentos de coletas de dados, o Capítulo 4 expõe,
em todo seu teor, argumentações sobre as observações, as bibliografias
e os documentos, as entrevistas, os questionários e formulários, as fotos
e os vídeos. Esses elementos oferecem ao leitor uma complementação
ao texto que por ora se expõe resumidamente aqui.
Com relação ao período escolhido para esta análise, constatou-se
que, em anos anteriores, mais especificamente na década de 1980, os
softwares para uso em análises qualitativas estavam em fase de estudos
nos Estados Unidos e na Inglaterra, conforme apontam Teixeira & Becker
(2001). Aqui no Brasil, nos anos 1990 ainda não eram comuns as pesquisas
qualitativas com análises textuais realizadas com uso de softwares. Isso
186 MARLÚBIA CORRÊA DE PAULA | LORÍ VIALI | GLENY TEREZINHA DURO GUIMARÃES
se justifica uma vez que, nessa época, os softwares não eram próprios
para análises textuais, pois não estavam adaptados para esse fim.
Nesse contexto, para poder utilizar um software naquela época, o pes-
quisador precisaria ter outros conhecimentos, pois era necessário adaptar
(ou dobrar, na linguagem do autor) um programa para os seus próprios fins
a fim de não ficar preso as suas premissas e quadros (WHEITZMAN, 1999).
Percebe-se, no entanto, que o cenário mudou. A fase em que um
software precisava ser acomodado para os fins da pesquisa qualitativa já
foi ultrapassada. No decorrer deste capítulo, serão apresentados softwares
correlatos às análises, evidenciando, assim, que já há uma predominância
de usos de softwares em algumas Instituições de Ensino Superior (IES).
Pode-se afirmar que se vive uma outra época, na qual cada software
oferece (des)vantagens ao alcance do pesquisador para cada tipo de
pesquisa realizada, e em que os manuais explicitando seus usos, com
sugestões e encaminhamentos, encontram-se disponíveis na rede mundial.
Quanto aos aspectos metodológicos, para a realização deste capítulo
mantém-se a compreensão de Minayo (2013, p. 14). Desse modo, “[...]
metodologia é o caminho percorrido pelo pensamento e a prática exercida
na abordagem da realidade”. Assim, adotou-se como caminho percorrido
uma busca ao portal BDTD/IBCT (Biblioteca Digital Brasileira de Teses
e Dissertações, constituinte do Instituto Brasileiro de Informação em
Ciências e Tecnologias), selecionando os trabalhos por palavras-chave
(pesquisa qualitativa; software; educação).
Como resultado, foram encontrados 200 trabalhos (43 teses e 157
dissertações). Desse total, após a leitura dos resumos e, em alguns casos,
da parte metodológica dessas pesquisas, foram selecionados 31 trabalhos,
pois os demais apresentavam softwares para outros fins. A busca por meio
das palavras-chave já mencionadas resultou em trabalhos de outras áreas.
Optou-se por não descartá-los, uma vez que em todos estava presente o
uso de um CAQDAS (Computer Assisted Qualitative Data Analysis Software)
auxiliando um modo de análise textual. Outro aspecto considerado nor-
CAQDAS COMO FERRAMENTA NA PESQUISA QUALITATIVA 187
Em relação aos medos, Lee & Fielding (1998) destacavam a eventual dis-
tância entre o pesquisador e os seus dados. Parecia haver uma crença de que, se
os dados eram automaticamente manipulados, fazendo-se uso das facilidades
oferecidas pelas janelas de um software, o pesquisador distanciava-se das rela-
ções que se estabeleciam. E qual pesquisador não tem este temor? No entanto,
hoje isso precisa ser ponderadamente analisado, pois se sabe que não há, no
CAQDAS, por melhor que tenha sido estruturado para uma análise textual,
possibilidades de realizar relações sem a escolha consciente do pesquisador.
As escolhas de quem pesquisa encaminham as decisões advindas
de objetivos norteados pelo problema de pesquisa. Esses elementos são
estruturados em projetos ou planos de estudo, que são construídos em
fase anterior à seleção de um CAQDAS. Claro, é preciso conhecer bem
o recurso tecnológico escolhido que atenda à pesquisa a ser realizada.
O que há, com certeza, como resultado do uso deste tipo de recurso, é
maior agilidade e profundidade oferecidas ao apresentar os resultados
dessas escolhas. E é essa agilidade que gera esperanças de obter melhores
resultados provenientes da coleta de dados realizada para a pesquisa.
Ainda em relação ao uso de computadores, mais especificamente às
escolhas de como fazer determinada tarefa, Valente (1997, p. 19) afirma que:
Visto que os CAQDAS não são o objeto de estudo deste artigo, eles
não são especificados aqui, exceto quando tiverem sido objeto de estudo
de uma tese ou dissertação, momento em que é feita a devida chamada
de atenção para esse trabalho. Tendo sido esclarecidas as vantagens e
desvantagens dos softwares, por meio de publicações que apresentam
os CAQDAS, não há por que ter receio deste caminho. E, não é o caso de
uso incorreto, para trazer dissabores ao pesquisador. Cabe ao pesquisador
analisar bem todos os recursos selecionados para uso durante a pesquisa.
Ao CAQDAS cabe apenas o papel de recurso.
Talvez, (re)conhecer um software adequado possa ser um dos entra-
ves para maior junção entre estudos qualitativos e CAQDAS. O uso de
softwares, conforme Gibbs (2009, p.136):
ANÁLISE
CURSO/INSTITUIÇÃO/ANO (M/D) SOFTWARE
TEXTUAL
AC –
T-3. Educação Física – UFSC 2015 (M) Atlas .ti
Narrativas
Grounded
T-5. Informática – UFAM 2011 (M) Atlas.ti
Theory
Análise de
Minera
T-6. Informática na Educação – UFRGS 2011 (D) Fóruns de
Forum
Discussão
196 MARLÚBIA CORRÊA DE PAULA | LORÍ VIALI | GLENY TEREZINHA DURO GUIMARÃES
ANÁLISE
CURSO/INSTITUIÇÃO/ANO (M/D) SOFTWARE
TEXTUAL
Alceste + AC (Quali/
T-7. Psicologia – UCB 2004 (M)
SPSS Quanti)
Análise
T-9. Nutrição – UFSC 2012(M) Alceste
Lexical
Análise
T-11. Educação Física – UFSC 2013 (M) NVivo
Lexical
AC (Quali/
T-12. Educação – PUCPR 2007 (M) Sphinx
Quanti)
QDA
T-14. Ciências da Motricidade – UNESP 2012 (D) TFD*
Miner
ANÁLISE
CURSO/INSTITUIÇÃO/ANO (M/D) SOFTWARE
TEXTUAL
2
Este software é uma ferramenta versátil e poderosa para a análise de dados em larga escala,
trabalhando com os mais diversos formatos de mídia e extensões de arquivo.
3
Software utilizado em análises qualitativas que permite ao usuário organizar, classificar, ordenar,
examinar relações e combinar análises, ligando e moldando, e analisar dados não estruturados.
4
O conjunto de programas que permite a análise das evocações e que é muito utilizado na
área de psicologia.
5
O nome desse software deriva do ícone utilizado em sua denominação, pois trata-se de
uma esfinge.
200 MARLÚBIA CORRÊA DE PAULA | LORÍ VIALI | GLENY TEREZINHA DURO GUIMARÃES
6
É um software utilizado para analisar periódicos e desenvolvido pelo CIDEHUS-UE no âmbito
do seu programa de investigação.
7
Software utilizado para análise de dados obtidos em fóruns de discussões on-line.
8
Esse software que é um membro da família do Office que você já conhece. Cria anotações
com pontos retirados do e-mail do Outlook ou insere uma tabela do Excel. Realiza mais tarefas
com todos os seus aplicativos favoritos do Office trabalhando em conjunto.
9
São computadores embutidos e computadores de painel de toque em si utilizados em áreas
como usinagens e engenharia automotiva.
CAQDAS COMO FERRAMENTA NA PESQUISA QUALITATIVA 201
Considerações finais
Este estudo teve por objetivo verificar quais teses e dissertações, no período
de 2004 a 2015, apresentaram, em suas pesquisas qualitativas, durante a
realização de suas análises textuais, a presença e o uso de um CAQDAS.
O levantamento realizado no BDTD/IBCT utilizando palavras-chave
resultou em 31 trabalhos (28 dissertações e 3 teses). O número ainda é
modesto no contexto da educação, considerando que o estudo buscou
trabalhos publicados no entorno da última década. Há autores que justi-
ficam este modesto resultado obtido nesta busca por meio da presença
de medos e receios dos pesquisadores quanto ao uso um CAQDAS, não só
em análises textuais, mas no todo da pesquisa que não seja quantitativa.
Colaborando com este sentimento, Lévy (2008) considera que há uma
cegueira quando uma técnica não é aceita em determinada época, e dá-se
extrema valorização a outras técnicas que a antecederam.
Muitas vezes, para esse autor, o que há é um desconhecimento do
quanto as decisões são realizadas sem reconhecer que determinada prática
também, há anos atrás, envolveu uma nova tecnologia. Para exemplificar,
ele menciona a questão da presença dos livros, que advêm do processo
de impressão. Hoje soaria absurdo condenar a Imprensa de Gutenberg.
No entanto, naquela época, a impressão de um livro teve de enfrentar
muitos obstáculos, os quais hoje nem sequer são nominados, diante de
tantas utilidades ao se poder desfrutar do uso de um ou de vários livros.
Tais questões não se discutem mais.
202 MARLÚBIA CORRÊA DE PAULA | LORÍ VIALI | GLENY TEREZINHA DURO GUIMARÃES
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204 MARLÚBIA CORRÊA DE PAULA | LORÍ VIALI | GLENY TEREZINHA DURO GUIMARÃES
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