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Prólogo – A Orla da Cristandade

Francisco López de Gómora e Adam Smith, com dois séculos de diferença entre os
dois, consideraram as descobertas marítmas, tanto o caminho das Índias, como a
descoberta das Américas, como " os maiores acontecimentos desde a criação do mundo".
Foram as descobertas marítimas que " conectaram" o mundo, de certa forma, ao trazer
conhecimento dos povos uns dos outros de diferentes extremidades, como os da
América, África, do oceano Índico, entre outros.

"(...) a característica principal da história da sociedade humana antes dos descobrimentos


dos Portugueses e dos Espanhóis era a dispersão e o isolamento das várias sociedades
humanas". ( | | )

" Foram os exploradores portugueses e os conquistadores castelhanos da orla ocidental


da cirstandade que uniram, para o melhor e para o pior, os ramos separados e distantes
da grande família humana". (p. 25)

Diferentemente das ideias, bem embasadas, expostas por Gilberto Freyre, a


respeito da convivência pacífica entre Cristãos e Muçulmanos, Mouros e Europeus, a
admiração pela cor negra, é possível " desmitificar" essa ideia, com certos exageros. De
início, o período de certa convivência pacífica foi finalizada no século XV, uma vez que
diversos fatores impulsionavam a repulsa e segregação causada pelos Íberos católicos.
Os mouros da Península Ibérica não eram negros de cor escura, bem como a população
do Norte da África era predominantemente de cor branca. Mouros e Sarracenos, Judeus e
Gentios eram então considerados inferiores, pagãos, que não compartilhavam a mesma
fé dos Cristãos e por isso mereciam a morte.
Portugal destaca-se pelos seus habilidosos marinheiros, e seus cartógrafos
capazes de traçar trilhas e relevos em mapas com uma extrema exatidão. Porém, é de se
admirar que gente desse tipo tenha vindo de uma nação tão pequena, na qual 2/3 do
terreno era rochoso ou inapropriado para cultivo, tendo tempos incertos sendo de chuvas
excessivas ou a falta dela em demasia, além de terem poucos núcleos urbanos
separadas longamente uma das outras, com estradas "(...) terrivelmente más, até
segundo os padrões medievais; (...)". (p. 28)

" A esmagadora esmagadora maioria da população era constituída por camponeses que cultivavam
cereais (milho ou trigo miúdo) ou produziam vinho e azeite, consoante a natureza da terra que
cultivavam, enquanto a pesca e a extração do sal ocupavam a população do litoral." (p. 28-29)

Três estados eram representados nas Cortes: Nobreza, clero e povo. O povo não
tinha respectivos representantes para uma efetiva ação nas cortes. A nobreza não era
totalmente homogênea, uma vez que existiam dentre ela, como nas outras, diversas
subdivisões. Os maiores títulos eram de fidalgo (filho de algo) e cavaleiro, sendo esse
último diferenciando pouco do primeiro. Um fidalgo-cavaleiro era referido a um nobre
armado cavaleiro, ao passo que um cavaleiro-fidalgo era um relés cavaleiro, que alcançou
certo status mediante seus serviços. Respectivamente, o status de nobreza, até 1415, se
referia menos ao cavaleiro militar, do que um indivíduo vivendo entre os padrões da
nobreza, com suas terras, possuindo servos, armas e cavalos.
O clero não tinha muito prestígio na Europa. Seus membros, tanto secular quanto
regular, relatavam centenas de casos de concubinagem, com diversos filhos legitimados
entre os membros. Isso se dava ao baixo nível de educação da Universidade de Portugal,
a qual os religiosos formados nela não eram aceitos em nenhuma outra parte da Europa
sem antes ter uma formação e estudo em outra universidade, tendo seu prestígio inferior
às demais como a de Oxford e Paris, tendo o papa Nicolau IV proibido o ensino de
teologia na universidade, e o papa Clemente VII em 1380 proibiu que os formados na
universidade ensinassem teologia em qualquer lugar do mundo.
Uma outra classe intermediária entre os camponeses e nobreza era a dos letrados,
advogados, médicos, contadores, mercadores. Mercadores que investiam no comércio
marítimo, é avaliado que a grande maioria dos produtos saqueados ou comerciados pelo
mar na época eram Portugueses ou mistos (pertencentes a portugueses e outros). Os que
trabalhavam à Coroa eram verdadeiros "parasitas", tendo uma carga de trabalho que
variava entre 4 e 3 horas diárias.
A grande massa camponesa podia ser dividida desde os camponeses com uma
riqueza própria, possuindo terras e territórios, até trabalhadores sem terras que ofereciam
seu trabalho a donos de terra. Como de costume, o pagamento da Dízima à Igreja era um
dos impostos prioritários a serem pagos, com a contribuição do camponês ao rendeiro
variando sempre entre 10% e 50% da produção, dependendo da safra. Podendo chegar
até 70% de contribuição, os camponeses também estavam sujeitos a trabalhar
obrigatoriamente de 1 a 3 dias a serviços grátis pela Coroa, como oferecer alojamento e
alimentação ao proprietário. Um diferenciador do feudalismo português dos outros em
voga é a obrigação geral de camponeses e artesãos prestarem serviço militar em caso da
Coroa estar ameaçada.
Artesãos e mercadores, corporações de ofício, com o costume de se agruparem,
tomando juntamente uma mesma rua, podendo ser "Rua dos Alfaiates", "Rua dos
Ourives", entre outros, sendo um costume da Alta Idade Média.
Portugal, geograficamente, nunca foi muito favorável ao empreedimento naval de
águas profundas. Apesar das suas conquistas marítimas, o forte do país foi sempre mais
focado na pesca, com sua orla rica em peixes. Por fim, Portugal nunca dependeu
inteiramente do sustento provindo do mar, na qual grande parte de sua população
trabalhava nos campos ou de outras formas que não o marítimo, sendo os diversos outros
países europeus mais voltados ao empreedimento marítimo do que Portugal.

PRIMEIRA PARTE – Viscitudes do Império

Cap 1. O OURO DA GUINÉ E O PRESTE JOÃO (1415 – 1499)

É possível considerar o início da primeira etapa dos descobrimentos por volta da


data de 1419, quatro anos após a conquista de Ceuta, e terminaria com a chegada de
Vasco da Gama em 1499, com a descoberta do caminha às Índias, seis anos após a
descoberta das Antilhas por Cristovão Colombo.
Até antes desse período, ocorreram diversos descobrimentos significantes, mas
que não tiveram as mesmas proporções ou relevâncias para a história mundial. É citado
as descobertas de Marco Polo no século XIII, que não foram bem acreditadas, moedas
cartaginenses do século V a.C., escandinavos na Groelândia, entre outros. (p. 39 – 40)

" Só depois de os Portugueses terem contornado a costa ocidental africana, dobrando o


cabo da Boa Esperança, atravessando o oceano Índico e de se terem fixado nas ilhas das
especiarias da Indonésia e na costa do mar da China Meridional; só depois de os
Espanhóis terem atingido o mesmo objetivo através da Patagônia, do Pacífico e das
Filipinas – nessa altura, e só nessa altura, é que uma ligação marítima regular e
duradoura se iniciou entre os quatro grandes continentes." (p. 40)

"(...) os motivos impulsionadores (...) parece ter surgido de uma mistura de fatores
religiosos, econômicos, estratégicos e políticos." (p. 41)
"(...) os quatro motivos principais que inspiraram os dirigentes portugueses (reis, príncipes, nobres ou
mercadores) foram, numa ordem cronológica mas sobrepostos e em diversos graus: 1. um zelo de
cruzada contra os Muçulmanos; 2. o desejo de se apoderarem do ouro da Guiné; 3. a questão do
Preste João; 4. a procura das especiarias orientais." (p. 41)

um certo impulso de ideal cavaleiresco ?

Portugal passou, ao longo do século XV, por um período de unidade, ao passo que
os diversos reinos passavam por guerras como a Guerra dos Cem Anos, Duas Rosas, e
os conflitos antes da união das coroas da Espanha. Portugueses impulsionados pelo ideal
de cruzada contra os muçulmanos de Marrocos. Portugal, não tendo cunhagem de ouro
desde 1383 (período da guerra civil e revolução), se interessou pelas possibilidades de
obtenção de ouro através de caminhos desconhecidos pela África, tendo o fim da Idade
Média grande busca por ouro com os florins florentinos e o ducado de ouro veneziano.
Também influenciou o mito de Preste João, suposto rei cristão no continente africano de
terras de muitas riquezas.

" Mas no princípio do século XV, muito pouca gente possuía uma definição nítida das
índias; e o termo 'Índia' ou 'Índias' era muitas vezes aplicado vagamente a quaisquer
regiões desconhecidas e misteriosas a leste ou sudeste do Mediterrâneo". (p. 43)

Ao longo do tempo os papas apoiaram o empreendimento marítimo português,


declarando o monopólio das terras conquistadas, dando liberdade para escravizar os
inimigos da fé, comerciar, impedindo que quaisquer outros países interfiram o seu
domínio, através das bulas Dum diversas, de 1452, Romanus pontifex, 1455, e a Inter
caetera, de 1456.

" O efeito cumulativo destas bulas papais foi o de dar aos Portugueses – e, na devida
altura, aos outros europeus que o seguiram – um beneplácito religioso à altitude de
domínio idêntico para todas as raças que estivessem fora do seio da cristandade." (p. 46)

" As bulas refletem, também, a iniciativa tomada pela Coroa portuguesa, pelo Infante D.
Henrique e por outros príncipes da Casa de Avis, de dirigirem e organizarem obra de
descobrimento, conquista, colonização e exploração." (p. 46)

" Depois de 1442, o desenvolvimento do comércio de escravos ajudou, também, a financiar os custos
das viagens portuguesas ao longo da costa ocidental africana. (...) Estes ataques (...) eram descritos
pelo cronista da corte, Gomes Eanes de Zurara, como feitos de heroicidade cavaleiresca,
compara´veis aos realizados nos campos de batalha europeus – e, de fato,eram assim considerados
pela grande maioria dos contemporâneos." (p. 47)

" Mas, depois de alguns anos de contato com as populações negras da Senegâmbia e da
Alta Guiné, os Portugueses compreenderam que podiam obter escravos mais facilmente
através duma troca pacífica com os chefes e mercadores locais." (p. 47)

Foi através do Infante que ocorreram expedições mais ao sul da África, onde antes
ninguém havia chegado, havendo lendas e histórias a respeito dos perigos e
impossibilidades de se seguir adiante após um certo ponto. Foi também, ao mesmo
tempo, o descobrimento de Madeira (1419), Açores (1439) e Cabo Verde (1456) que
impulsionaram o potencial colonizador de Portugal, se tendo as primeiras experiências
com o açúcar e cereais nas ilhas, atraindo investidores de todas as partes da Europa. Os
portugueses tiveram sucesso no comércio de ouro trazido do interior da África. D. João II
ordenou a construção do castelo São Jorge de Mina em 1482, somado a outras
forticações que traziam segurança para o comércio mantido pelos portugueses no
continente africano.
O Infante D. Henrique detinha o controle da maior parte do comércio, não sendo
possível controlar tudo, cedendo parte do controle a outros, cobrando uma quinta parte
dos lucros em troca, ou outros valores a serem acertados. Após a sua morte em 1460, de
alguma forma o controle ficou nas mãos do mercador Fernão Gomes, em um contrato
com a Coroa que, ao experiar em 1475, D. Afonso V cedeu a direção do comércio ao seu
filho D. João, deixando dessa forma o monopólio nas mãos da Coroa, após a subida ao
trono de D. João em 1481.

" D. João II, o Príncipe Perfeito, era um imperialista entusiástico e de vistas largas, que
tinha uma verdadeira paixão por África e pelos seus produtos – fossem eles de natureza
humana, animal, vegetal ou mineral." (p. 51)

Foi o ouro importado da África que colocou Portugal novamente no mercado


monetário. Com o ouro importado do comércio, passou a ser cunhado moedas de ouro,
comumente chamadas de "portugaleses" (apesar de algumas não serem cunhadas em
Portugal). O comércio de especiarias e escravos negros africanos abastecia países como
Holanda, Inglaterra, Espanha, entre outros, tendo o descobrimento do Novo Mundo
invertido a situação do comércio de escravos, concentrando-o nas Américas. Foi com um
certo lucro já obtido através do comércio de ouro e de escravos que D. João II continuou
com sua procura do Preste João.

"(...) progredindo para o Sul, ao longo da costa ocidental africana, a perspetiva de que este continente
pudesse ser circum-navegado a ser, assim, aberto um caminho marítimo para o reino de Preste João e
para as índias, tornou-se mais palusível. Foi também durante o período de D. João II que a procura do
Preste João surgiu associada à procura das especiarias asiáticas (diferentes das africanas)." (p. 54)

" O interesse de longa data de D. João II pelo Preste João e o seu recente interesse pelas especiarias
asiáticas foram herdados pelo seu sucessor, D. Manuel I. Quando Vasco da Gama partiu para a sua
famosa viagem, em Julho de 1497, levava credenciais dirigidas ao Preste João e ao rajá de Calecut,
juntamente com amostras de especiarias, ouro e aljôfar. Tinha ordens para mostrar essas mercadorias
aos habitantes de todas as regiões desconhecidas que pudese visitar, ao longo da costa da África, na
esperança de que esses povos pudessem reconhecer estes produtos preciosos e indicar, por meio de
sinais ou de intérpretes, locais onde eles existissem". (p. 56)

" O que interessa salientar aqui é que, se bem que não estejamos certos dos motivos iniciais que
impulsionaram as primeiras viagens de descoberta dos Portugueses, sabemos que, na altura da morte
do Infante D. Henrique (1460), eram fundamentalmente impulsionadas pela procura do Preste João e
do ouro da Guiné, e que, durante o reinado de D. João II, estes motivos foram reforçados pela procura
de especiarias asiáticas." (p. 57 – 58)

Além do comércio do ouro obtido através da costa ocidental da África, bem como o
de escravos e especiarias, continuou-se a busca pelo Preste João, tendo Vasco da Gama
prosseguido as viagens marítimas contornando a costa africana em busca das Índias,
tendo sucesso posteriormente.

" Deste modo, o até então existente monopólio veneziano-muçulmano do comércio


levantino de especiarias e de produtos de luxo asiáticos seria substituído por um
monopólio português, exercido pela via do caminho marítimo que dobrava o cabo da Boa
Esperança." (p. 58)

" No entando, a mira dos lucros a ganhar com o projetado monopólio português das especiarias e a
confiança na possbilidade de encontrar aliados cristãos nas terras que confinavam com o Índico,
permitiram a D. Manuel vencer as hesitações de alguns dos seus conselheiros e lançar este pequeno
reino reino na sua espetacular carreira de empreendimentos militantes na Ásia das Monções." (p. 58)

Cap 2. A NAVEGAÇÃO E AS ESPECIARIAS NOS MARES DA ASIA (1500 – 1600)

" Um notável historiador indiano, o falecido K. M. Paikkar, afirmou, no seu conhecido livro Asia and
Western Dominance (1949), que a viagem pioneira dos Portugueses à Índia inaugurou aquilo que ele
denominou a época de Vasco da Gama da história asiática, 1498-1948. Este período pode ser definido
como uma era de poder marítimo, de autoridade baseada no controle dos mares, detida apenas pelas
nações europeias. Na história desses 400 anos nada é mais extraordinário do que o modo como os
Portugueses conseguiram obter e manter, virtualmente durante todo o século XVI, uma posição
dominante no comércio marítimo do Índico e uma parte importante do comércio marítimo a oriente dos
estreidos de Malaca". (p. 59)

"(...) os adeptos do Profeta espalharam o seu credo e o seu comércio desde a costa suaíli da África
Oriental até às ilhas das especiarias da Indonésia, sem nunca terem de empregar os métodos militares
que tinham caracterizado a expansão originária do islão desde o deserto da Arábia até os Pirenéus e
aos Himalaias. O fato de, especialmente na costa ocidental da Índia, terem cooperado estreita e
cordialmente com os ricos mercadores e rajás hindus, sem que nenhuma das partes tentasse
converter a outra, consolidou o monopólio muçulmano do comércio Índico. Os Portugueses
compreenderam imediatamente que só poderiam destruí-lo pela força e não pela competição pacífica”.
(p. 65)

Sob o comando das forças militares de Afonso de Albuquerque, Portugal obteve


controle de diversos centros comerciais importantes entre a África Oriental até a Malásia.
A construção de fortes permitiu a atividade portuguesa entre hindus, pactos e intrigas com
muçulmanos e uma certa estabilidade nas atividades comerciais. Foram os três fortes
ponto-chave de Goa, Ormuz e Malaca que asseguraram o controle português das rotas
do comércio marítimo de especiarias, somados posteriormente aos postos comerciais
fortificados das regiões costeiras, desde Sofala até Ternate.

“Depois de terem esmagado o monopólio muçulmano, virtualmente desarmado, das rotas de


especiarias do índico pela força de armas e de terem conquistado três dos seus principais entrepostos,
os Portugueses tentaram então pôr em vigor um sistema monopolista próprio, o que está implícito no
grandiloquente título de D. Manuel, ‘Senhor da conquista, navegação e comércio da Etiópia, Arábia e
Pérsia’, que a Coroa portuguesa manteve durante séculos”. (p. 67)

Apesar do monopólio português e suas instalações em locais favoráveis, os


portugueses nem sempre tiveram domínio total das regiões principais, como por exemplo,
chegando a negociar com a China em seus próprios termos a navegação dos
comerciantes. Participar do comércio marítimo português requeria uma autorização nos
portos e alfândegas sob autoridade de Portugal, na qual os navios ilegais eram passivos
de serem invadidos ou afundados caso não tivessem sua autorização, sendo essa uma
das marcas da autoridade de Portugal sobre seu monopólio. É também citado a diferença
do sucesso das diferentes empresas de Portugal e Espanha, uma vez que Portugal, no
oriente, combatia guerreiros e reinos a certo par de igualdade em questão de poder bélico
e naval, enquanto os Espanhóis enfrentavam civilizações com armamentos primitivos de
pedra e madeira nas Américas.

“A característica mais espantosa do império marítimo português, por volta de meados do século XVI,
foi a sua extrema dispersão. No Oriente, estava representado por uma cadeira de fortes e de feitorias
que se estendiam de Sofola e Ormuz, na margem ocidental da Ásia das Monções, até às Molucas e a
Macau (em 1557), na costa do Pacífico. Estendia-se igualmente no Ocidente, possuindo praças-fortes
em Marrocos (Ceuta, Tânger, Mazagão), feitorias e alguns fortes entre Cabo Verde e Luanda (em
1575) na costa ocidental africana, as ilhas do golfo de Guiné e algumas colônias guerreiras ao longo
da costa brasileira.” (p. 69-70)
“Entre os produtos mais importantes desse império espalhado pela distância encontravam-se o ouro da
Guiné (Elmina), do Sudeste africano (Monomotapa) e da Samatra (Campar); o açúcar da Madeira, de
São Tomé e do Brasil; a pimenta do Malabar e da Indonésia; o macis e a noz-moscada de Banda; o
cravo-da-índia de Ternate, Tidore e de Amboíno; a canela de Ceilão; o ouro, as sedas e a porcelana
da China; os cavalos da Pérsia e da Arábia; os têxteis de algodão de Cambaia (Gurazate) e do
Choromândel. As várias espécies de mercadorias originárias da Ásia eram ou negociadas nos portos
comerciais asiáticos ou levadas, pela rota do cabo da Boa Esperança, para Lisboa, de onde eram
redistribuídas para os mundos mediterrânico e atlântico em troca dos metais, cerais, têxteis, reservas
navais, e de outros produtos manufaturados de que Lisboa dependia largamente, pela sua função de
centro nervoso de um império marítimo. A pimenta era a principal mercadoria importada do Oriente,
enquanto a prata em barra era o principal produto exportado para Goa ‘dourada’”. (p. 70)

De fato, apesar da extensão dos domínios do império português, ainda sim é


perceptível sua carência demográfica que desse conta de todas as áreas. Ao passo que
no século XVI Portugal tinha uma população de cerca de 1.400 habitantes, cerca de
20.000 faziam parte das tropas e iam além-mar. Ao passo que a Espanha tinha uma
população cerca de sete ou oito milhões, seus navegadores se instalavam nas regiões
montanhosas do Mundo Novo, de fácil acesso e boa estadia, enquanto os portugueses
perdiam muitos homens nos combates para defender seu império, e suas instalações
infrutíferas nas regiões áridas da África, com grandes perdas para doenças como a
malária.
Outro problema encontrado em Portugal era a falta de madeira, necessária para a
produção dos navios, galés, entre outros, para navegar e controlar seu Império marítimo,
sendo Portugal um país com dificuldade para produzir madeira e até mesmo transportar
dentro de seu próprio território. E, mesmo que o problema da madeira sendo resolvido
com as cargas infinitas da Índia e China, havia o problema populacional, da escassez de
mão de obra e homens para o trabalho de armas e naval, sendo estimado que em vários
casos apenas o comandante de certas embarcações era o único branco europeu.

“Por evidentes razões, o poder marítimo português era mais efetivo nos mares que ficavam na
vizinhança imediata das suas bases principais – Goa, Diu, Ormuz, Malaca e Moçambique. Mesmo
assim, a superestrutura evidentemente frágil desta dominação marítima foi demonstrada pelos êxitos
devastadores obtidos por duas flotilhas turcas pouco poderosas que fizeram incursões,
respectivamente, em 1551-1552 e em 1585-1586.” (p. 73)

“Tais reveses, no entanto, por muito sérios que fossem, como aconteceu algumas vezes, não
destruíam os alicerces do poder marítimo português no Índico. Os corsários turcos, egípcios,
malabares ou malaios, com galeras de remos ou embarcações de um só mastro, não podiam opor-se
efetivamente, no alto mar, às grandes carracas e galeões que constituíam o coração da força naval
portuguesa. (…) Generalizando um tanto, pode dizer-se que os Portugueses dominaram mais ou
menos efetivamente o comércio marítimo do Índico durante a maior parte do século XVI. As perdas
sofridas pelas pilhagens do comércio costeiro feitas por corsários malabares e outros não afetavam as
bases reais do seu poder marítimo, exatamente do mesmo modo que os maiores danos causados por
corsários e piratas franceses ao comércio marítimo inglês, durante a Guerra da Sucessão espanhola,
não conseguiram minar o poder da Marinha britânica.” (p. 74)

Portugal detinha um dos principais comércios marítimos, conectando a Ásia à


Europa. Contudo, não chegou a ter total monopólio do comércio, sendo aliado da Pérsia
numa forma de defesa contra a crescente ameaça dos Turcos Otomanos, tendo que
ceder parte do comércio aos muçulmanos no Mar Vermelho. Os Portugueses
conseguiram defender suas bases e fortificações heroicamente, em situações que o
invasor chegava a ter um número relativamente maior. A pimenta foi a principal especiaria
comercializada, chegando as vezes a corresponder 50% da carga anual do comércio.

“Com o advento do século XVII e a chegada dos Holandeses e Ingleses ao Oriente, a posição dos
Portugueses deteriorou-se ainda mais. Mas ainda em 1611 se declarava oficialmente em Lisboa que a
pimenta era a mercadoria fundamental do comércio português com a Índia, e que era a única a dar um
lucro satisfatório à Coroa.” (p. 75)

A Coroa não se beneficiava muito do comércio do cravo-da-índia, a qual, mesmo


com as rígidas regras de comércio, deixava passar entre suas mãos o comércio ilegal. A
canela foi de extrema importância para Portugal, sendo uma grande parte dos lucros
dirigidos à Coroa sendo do comércio da Canela, a qual milhares de portugueses, como
costuma-se narrar, deixavam suas terras para viver dos atrativos comerciais da canela.
Foi também o conflito entre a China e Japão no século XVI que contribuiu para o
monopólio Português naquela região, por conta que tanto o Japão quanto a China não
permitiam comércio entre si. Embora Portugal não detivesse o monopólio propriamente
dito dos produtos comerciados entre Macau e Nagasaki, arrendando direitos de comércio
específicos e com bastante contrabando, ele ainda tinha grande prestígio e parte dos
lucros adquiridos.

“Durante a última década do século XVI, o monopólio português do comércio marítimo japonês e o
monopólio jesuíta das missões no Japão, fundado por São Francisco Xavier em 1549, foram
igualmente ameaçados pelo aparecimento dos comerciantes e frades missionários espanhóis vindos
das Filipinas. Estes rivais ibéricos provocaram considerável inveja e preocupação aos Portugueses,
mas as suas atividades, finalmente, não reduziram grandemente os lucros do comércio de Macau-
Nagasaki. Apesar da união das duas Coroas ibéricas na pessoa de Filipe II, em 1580, o governo de
Madrid aceitou, geralmente, a reivindicação feita pelos Portugueses de que o Japão se situava dentro
da sua esfera de influência (tal como aparecia demarcada no Tratado de Tordesilhas, em 1494) e de
que o comércio japonês devia ser monopolizado por Macau e não por Manila.” (p 79-80)

Cap 3. OS CONVERTIDOS E O CLERO NA ÁSIA DAS MONÇÕES (1500 – 1600)

“ Como observou o padre Antônio Vieira, o grande missionário jesuíta português, na sua História do
Futuro: ‘Se não houvesse mercadores que fossem procurar os tesouros da terra no Oriente e nas
índias Ocidentais, quem transporia para lá os pregadores que levam os tesouros celestes? Os
pregadores levam o Evangelho e os mercadores levam os pregadores’”. (p. 81)

Tão importante quanto o comércio e as riquezas para os comerciantes eram as


almas a serem convertidas almejadas pelos pregadores que iam ao oriente. Os
missionários enviados até 1542 não tiveram muito êxito em sua empresa de conversão. É
tido que eles não se esforçavam em aprender a língua nativa, nem de estudar seus livros
sagrados e crenças religiosas, estando sempre ao lado de tradutores, além de muitos
deles irem com a verdadeira intenção de conseguir riquezas, se aproveitando do
comércio.

“Mas foi a Companhia de Jesus, em seu papel de ponta-de-lança da Igreja militante, que
tornou a luta pelas almas tão intensa e ampliada quanto a competição pelas especiarias.”
(p. 82)

Com a destruição massiva dos templos hindus de Goa em 1540, a Coroa


portuguesa havia adotado medidas a qual favoreciam os convertidos e adeptos ao
Cristianismo nos locais de domínio português na costa africana e asiática, impedindo a
prática pública das religiões hindu, budista e islâmica. Após concílios ocorridos em Goa
em 1567, instigados pelas recentes resoluções do Concílio de Trento (1563), passou-se a
ter deliberações sobre as práticas portuguesas missionárias.
“As suas deliberações foram ditadas por três considerações fundamentais, (…):
1. Todas as religiões que não a fé católica romana ortodoxa definida pelo concílio de Trento eram
intrinsecamente erradas e nocivas em si próprias;
2. A Coroa de Portugal tinha o inelutável direito de espalhar a fé católica romana e o poder secular do
Estado podia ser utilizado para sustentar o poder espiritual da Igreja;
3. A conversão não podia ser feita pela força, nem por ameaça de força ‘porque ninguém chega até
Cristo pela fé a não ser que seja conduzido pelo Pai Celeste com amor voluntário e graça
preveniente’”. (p. 82 – 83)

Nessa época passou-se então a ser lançado políticas públicas, nos territórios sob o
domínio da Coroa Portuguesa, de combate às religiões “pagãs” em prol da cristã/católica.
Entre elas, a destruição de mesquitas, abolição do Alcorão, separação de crianças orfãs
dos parentes para serem iniciados por padres ao catolicismo, proibição de visitas a
templos localizados entre outros territórios, entre outras. Os diversos concílios
promulgados ao longo do tempo tornava a discriminação entre cristãos e pagãos cada vez
mais evidente, sendo reservado cargos públicos para a população conversa, como
também a proibição de conversão entre as religiões exceto à cristã. O objetivo dos
legisladores de 1567 visavam, se não a completa conversão ao cristianismo, que, pelo
menos, se tornasse difícil ou sem muitas opções quem decidisse manter a antiga fé.

“Mas, como observavam sentenciosamente esses legisladores, uma coisa era prmulgar boas leis e
outra, completamente diferente, obrigar a cumpri-las. De fato, a sua aplicação variava muito consoante
o local, o tempo e as circunstâncias, e, mais especificamente, conforme o caráter de cada vice-rei e
arcebispo, cujos poderes eram muito grandes.”
(p. 84)

Vice-reis buscando manter boa relação com seus vizinhos, ou até mesmo a
impossibilidade de pôr em prática em determinados territórios, contribuíam para uma
tolerância às religiões alheias, a qual permitiam o culto religioso “à portas fechadas”. A lei
de monogamia não era seguida nem mesmo pelos próprios Portugueses, que tinham um
harém e, até mesmo, várias concubinas, tolerando procissões religiosas. Inclusivo a que
especificava a ocupação de cargos públicos à população convertida não se seguia, já que
foi percebido que alguns dos mais prestativos funcionários eram os que não se
convertiam e mantinham sua antiga religião.
O jesuíta provincial de Goa, Antônio de Quadros, em 1561, criticava a forma em
que se obtinha cristãos conversos. Em suas cartas, afirmava que alguns iam por livre
vontade, outras por influência, e outros por força. Alguns eram encarcerados, os hindus
que se submetiam, antes do batismo deviam comer e tocar nos pratos do sacerdote
cristão, no ato sendo expulso de forma irretornável de sua casta. As truculências tinham
seus motivos, uma vez que os missionários dependiam dos serviços dos conversos para
atividades econômicas e escravas, se tendo prejuízo quando fugiam. Entre os atos,
cortavam suas barbas e obrigavam comer carne de vaca, além de outros pecados aos
seus cultos “pagãos” para se afastar completamente de sua antiga religião.
Bispos de diversas partes diferentes constatavam dados alarmantes quando as
ações dos missionários jesuítas em suas missões, denominado de “a inclemência da
caridade” (p. 86). Como por exemplo, a evasão dos hindus de Goa era tão alarmante, nas
políticas de governo do vice-rei D. Constantino de Bragança (1558 – 1561), que seus
sucessores precisaram adotar práticas de tolerância, como o decreto de 1561, que
garantia aos hindus que fugiram por perseguições religiosas que poderiam recuperar suas
posses caso voltassem no prazo de seis meses.

“Depois da destruição massiva dos templos hindus ocorrida na década de 40 e das conversões em
massa ocorridas na década de 60, o cristianismo criou raízes firmes no território português de/e à volta
de Goa e Baçaim. Tal como na Europa os descendentes dos Saxões, Teutões e Eslavos, que, em
muitos casos, foram convertidos à força ao cristianismo, se tornaram posteriormente cristãos
fervorosos, também os habitantes da ilha de Goa e do distrito de Baçaim, no espaço de duas ou três
gerações, ficaram profundamente ligados à religião que tinha sido imposta, não muito
gentilmente, aos seus avós” (p. 87)

Os Portugueses sabiam da utilidade e importância das conexões e paz com os


muçulmanos e hindus de certas partes. Certas políticas eram adotadas que favoreciam
hindus contra muçulmanos, ou os dois. Houve uma maior tolerância e respeito aos
hindus, diferenciando da destruição dos templos e abolição de práticas dos muçulmanos.

“Mas a intensificação dos diferendos religiosos na Europa, resultantes do aumento de heresias


protestantes e do renascimento da Igreja católica conhecido pelo nome de Contrarreforma, refletiu-se
claramente no Oriente durante o reinado de D. João III (1521 – 1557) que precedeu aquilo que o
professor Francis Rogers denominou de ‘a época da arrogância latina’”. (p. 88)

“Tem se dito, com razão, que ‘o homem é um animal religioso’. Pode-se afirmar, com igual veracidade,
que o homem é também um animal perseguidor. A história do cristianismo, declaradamente uma
religião pacifista que prega o amor fraterno, fornece amplas provas desse fato, e a ação dos
portugueses na Índia não constituiu exceção a essa regra geral”. (p. 88 – 89)

A força da Igreja católica romana sempre foi forte em Portugal, mais ainda após a
Contrarreforma. Os padres tinham grandes posses e imunidades, por vezes indo morar
definitivamente na Ásia, com uma estadia maior do que o período trienal dos vice-reis.
Pela legislação, era vedado, teoricamente, o uso de força para a conversão de
adultos. Diferentemente para as crianças orfãs que, segundo a lei, deveriam ser tomadas
à força de quem estivesse tomando conta dela, que não fosse os pais ou os avós, para
ser levadas à evangelização. Regra essa nem sempre respeitada, sendo levada à força
diversas crianças que haviam perdido apenas o pai ou a mãe, alegando-se que as
Ordenações explicitava esse sentido para orfão, podendo ser aplicado nas áreas de
domínio português até 1678, quando foi abolido esta definição, e em 1718 se fixou a
idade limite a qual era considerado uma criança permitida a ser levada, sendo antes
ambígua.
A política do uso da força era creditado à dificuldade ou falta de familiaridade dos
cidadãos do Oriente com a fé católica. Era também um caso comum a prática do
comércio pelos missionários jesuítas. Além dos que iam para obter riquezas, por muitas
vezes faltava fundos para sustentar as missões. A Coroa teoricamente supriria os gastos
e suportaria as missões, mas, embora fosse reclamado que se gastava mais com os
missionários que com a manutenção da marinha entre outros, era dito que a ajuda vinha
“pouco, raro ou nunca”.
Por final do século XVI os missionários se contentaram em manter uma relação
pacífica e comercial com os povos do oriente, conservando o que já havia sido
conquistado. Atitude essa mal vista por espanhóis e holandeses que alegavam que em
nada contribuíam, os jesuítas, no alargamento da Fé e o fim do paganismo.

“Seria fácil multiplicar críticas contemporâneas desfavoráveis a este respeito, entre as quais bastantes
de origem portuguesa; mas na verdade, Deus não estava em toda a parte subordinado a Mamona,
como estes comentários depreciativos fazem supor. Pelo contrário, mesmo um estudo apressado da
Ásia portuguesa dos fins do século XVI revela uma atuação conseguida, notável e contínua, dos
missionários do padroado em geral e dos Jesuítas em particular” (p. 93)

A missão missionária surpreende pelos seus feitos, levando em consideração as


dificuldades que foram encontradas por toda a Ásia. Em um número relativamente
pequeno de missionários em cada região, milhares de conversos é um número
surpreendente, onde existiam problemas como doenças, falta de provisão, problemas
políticos, entre outros.
Não é de se assustar também a hostilidade que se tinha os conterrâneos dos
conversos, a qual se acreditava, com razão, que eles se tornariam aliados aos
portugueses e oferecendo risco à região pertencente. Tendo-se o exemplo dos hindus,
que, ao se converter, era expulso da sua casta antiga, indo buscar auxílio e ajuda dos
portugueses. Suspeita essa também propagada entre os chineses e japoneses.
São apontados diversos fatores que contribuíram para a propagação do
cristianismo. Diversas práticas, consideradas diabólicas e pagãs pelos católicos, se
assemelhavam de certa forma às católicas, tornando fácil a assimilação entre as duas
religiões. Além também das questões das castas, como a questão dos pescadores que,
por sofrerem preconceito das outras castas que iam de contra o consumo de carne, eram
acolhidos pela religião cristã trazido dos missionários.
Por fim, o intercâmbio cultural foi intenso graças às ações e convivência dos
missionários na Ásia, servindo de catalisadores culturais entre a Europa e a Ásia.
Fiquemos atento a essa conexão de forte influência entre as duas partes do mundo, onde
um contribuiu ao outro mutualmente.

“Mas, acima de tudo, alargaram a extensão e a profundidade do conhecimento europeu


sobre a Ásia, através das cartas e relatórios que enviavam das suas missões e que
circulavam em grande escala através das principais casas impressoras europeias” (p. 97)

Cap 4. OS ESCRAVOS E O AÇÚCAR NO ATLÂNTICO SUL (1500 – 1600)

Ao se tratar do Brasil, Charles não considera importante discutir questões quanto


às motivações ou “acidentes” que teriam levado Pedro Álvares a chegar ao Brasil. Pero
Vaz, em sua carta, na chegada ao Brasil, relata com beleza os índios encontrados, nus,
com uma “pureza” com os filhos do “Jardim do Éden”, relatando as belezas e qualidades
corporais das índias. Discurso esse que anteciparia a visão do “bom selvagem” pelos
filósofos franceses do século XVIII, mas é apontado tão somente como um apetite sexual
por marinheiros de longa viagem, se assemelhando a discursos de outras descobertas
navais. Mais tarde, esse discurso seria substituído por outro, o de índios selvagens “sem
fé, sem rei, sem lei”.
Esse discurso prevaleceria na segunda metade do século XVI, com a mudança da
economia, saindo da extração do pau-brasil para a da cana-de-açúcar, que demandava
mão de obra organizada. Nas primeiras décadas do século, o contato com os nativos se
deram de forma pacífica, com contato comercial e relações raciais não só com os
portugueses, mas também franceses entre outros, o qual a guerra entre tribos era
fomentada pela guerra entre portugueses e franceses, a qual diferentes tribos se aliavam
a diferentes europeus.

“A ameaça crescente da possível fixação dos Franceses neste território da América do Sul, que tinha
sido atribuído à Coroa portuguesa pelo Tratado de Tordesilhas (1494), induziu eventualmente D. João
III a promover sistematicamente a colonização do Brasil. O sistema que adotou em 1534 foi a divisão
do literal entre o rio Amazonas e São Vicente em doze capitanias hereditárias de extensão limitada,
variando entre trinta e cem léguas, no sentido da latitude mas de extensão indefinida para o interior.”
(p. 100)

Os primeiros colonos tiveram certas dificuldades para se fixar no local, exceto as


capitanias de Pernambuco e São Vicente. Em 1549 foi fundado uma nova capitania no
centro da Baía, enviando-se um governador-geral em função direta da Coroa. Junto ao
Governo, foram enviados jesuítas, com o intuito de fazer missões e catequizar os
ameríndios, além de cuidar das questões religiosas que concerniam à Coroa.
“Os donatários que obtiveram as primeiras concessões, em 1534, e os seus sucessores não
pertenciam à alta nobreza nem eram ricos mercadores mas sim membros da classe média e da
pequena nobreza. Não possuíam, na sua maioria, capital ou outros recursos que lhe permitissem
desenvolver as terras, apesar dos enormes privilégios judiciais e fiscais que lhes tinham sido
concedidos pela Coroa. Estes privilégios incluíam o direito de fundar cidades e de lhes conceder
direitos municipais; (...) o direito de lançarem impostos, salve no que respeitava aos produtos (como o
pau-brasil) que eram monopólio da Coroa; o direito de autorizarem construções como, por exemplo, de
engenhos de açúcar, e de receberem décimas sobre certos produtos, entre os quais o açúcar e o
peixe. O sistema de donatários, com a sua mistura de elementos feudais e capitalistas, tinha
anteriormente sido utilizado com êxito para desenvolver a Madeira e os Açores, e foi aplicado com
menor êxito em Cabo Verde e, durante um curto espaço de tempo (em 1575), em Angola” (p. 100-
101)

Com a chegada do Governo central na Baía, vendo junto com milhares de


portugueses. A interação com os Ameríndios foi alterada, mesmo com as antigas trocas e
contatos pacíficos, mas com a necessidade de mão de obra maior e mais intensa com a
extensão do cultivo de mandioca, trabalho açucareiro, entre outros, a qual os índios não
estavam dispostos a desperdiçar suas vidas em trabalhos tão penosos quanto. Os
emigrantes portugueses que vinham ao Brasil não pretendiam gastar esforços no que era
considerada uma “terra prometida” para investimentos e lucros, ocasionando na
escravização de índios de diversas formas, podendo ser invadindo os que consideravam
“hostis”, compra de cativos por tribos rivais, entre outros.
A escravatura de Ameríndios foi proibida pela Coroa em 1570, mesmo na prática
não sendo tão fervorosamente seguida, além de haver exceções para a captura, como
uma “guerra justa” ou tribos de canibais. Porém, com o tempo, diversos fatores levaram
aos colonos procurarem uma fonte alternativa à mão de obra, que se tornava escassa por
parte dos Ameríndios, que morriam de exaustão, entre outros motivos, a partir da
segunda metade do século XVI.
Sendo a principal solução, foi inserido o tráfico e comércio de escravos negros
africanos, já inseridos e usados em certas colônias portugueses e inclusive em Portugal,
além de serem trazidos para as Antilhas e para o Império Espanhol do Novo Mundo. As
ilhas inabitadas de São Tome e Príncipe, colonizadas primeiramente por brancos (entre
eles judeus deportados) e escravos negros trazidos, forneceram as primeiras experiências
com a economia açucareira, sendo o solo e clima muito favorável para o mesmo.
Mesmo com as dificuldades encontradas no Brasil, como o clima incerto, falta de
nutriente no solo, rios que dificultavam o adentramento na mata, ainda sim era menos
difícil de se adentrar do que na costa africana, com guerreiros impedindo sua entrada, ou
outros tipos de pragas que afetavam os portugueses. Milhares eram os emigrantes que
deixavam sua terra natal, Portugal, para morar no Brasil. Mesmo as regiões mais férteis
não suprimiam as necessidades, além de uma condição de vida pobre e deplorável. Uma
boa parte dos que iam ao Brasil eram deportados, mas com o tempo a quantidade foi
reduzindo, inclusive mulheres iam que, mesmo sendo poucas, ainda eram maiores que as
quantidades de mulheres que iam à Índia.

“Ambrósio Fernandes Brandão, um colono com larga experiência no Nordeste brasileiro no fim do
século XVI, dividia os emigrantes portugueses em cinco categorias. Primeiro, os marinheiros e
marítimos que tripulavam os navios que navegavam entre Portugal e o Brasil; (…) Segundo, os
mercadores e os comerciantes, muitos dos quais trabalhavam com base em comissões para patrões
que ficavam em Portugal.(…) Terceiro, os artífices e artesãos que trabalhavam por conta própria como
pedreiros, carpinteiros, tanoeiros, alfaiates, sapateiros, ourives, etc. (…) Quarto, os indivíduos que
serviam outros como trabalhadores assalariados, capatazes ou encarregados nas plantações de
açúcar, ou como trabalhadores nas fazendas de criação de gado. Quinto, a classe patronal, cujos
membros mais importantes eram os senhores de engenho e os donos das plantações”
(p. 104)
Contemporâneo de Brandão, o padre Fernão Cardim também narrou as coisas que
viu no Brasil no mesmo período, sendo seu testemunho roubado por corsários ingleses
em 1601 e publicado por Samuel Purchas vinte e quatro anos mais tarde. Cardim se
impressionava com a longevidade das pessoas, afirmando que se passava facilmente dos
70, 80 e até 90 anos. O clima, narrava, sendo “temperado, de ar bom, delicado e
saudável”, melhor que o de Portugal. Pela região se situar no hemisfério Sul, é citado o
fato de qe “o Inverno começar em Março e acabar em Agosto; o Verão começar em
Setembro e acabar em Fevereiro; as noites e os dias serem iguais durante todo o ano”.
Influenciado pelo costume medieval da influência da Lua, escreve que é perigosa e
prejudicial à saúde, assim como seus contemporâneos.
Cardim também criticou a forma que eram tratados os índios no Brasil, o qual
sofriam muitos abusos, raptos, sendo praticados tanto por colonos quanto por
funcionários da Coroa, se seguindo a lógica dos Anglo-Saxões de que “índio bom é índio
morto”. Tendo os jesuítas como únicos aliados e defensores, sendo os únicos que os
ameríndios realmente confiavam, escravagistas se disfarçavam por vezes de jesuítas
para adentrar e praticar seus atos. Esses acontecimentos foram narrados por Cardim e
enviados à Coroa em forma de denúncia.
É notável que houve abusos por parte dos colonizadores aos ameríndios,
contrariando a ideia moderna de que a ocupação portuguesa do Brasil e sua relação com
os nativos se deu de forma pacífica e sem derramamento de sangue. Da mesma forma,
pode-se dizer que não foi forte e grosseiro quanto as outras nações colonizadoras na
América, como a Espanha, Inglaterra, França ou Holanda, a qual, mesmo tendo alguns
dos primeiros donatários tendo dificuldades nos primeiros anos para manter-se no local,
como Duarte Coelho e as oposições das tribos locais em 1540-1570, também se tem o
conhecimento dos feitos amorosos de Jerônimo de Albuquerque. O chamado Adão
pernambucano é conhecido, com contato amigável com os indígenas e amoroso com
filhas de chefes, a qual tinha vinte e quatro filhos registrados em 1584.

“A Coroa estava também ansiosa por obter cooperação amigável dos ‘índios mansos’, nome por que
eram conhecidos os ameríndios ‘domesticados’, na defesa das colônias costeiras contra os ataques
dos corsários estrangeiros – primeiro franceses, antes de 1570, e depois dessa data sobretudo
ingleses. Esses ameríndios amigáveis eram também utilizados na captura dos escravos negros
fugitivos, dado que, se bem que as mulheres ameríndias se juntassem muitas vezes livremente com
africanos, os homens destas duas raças parece terem-se detestado mutuamente” (p. 107-108)

Os jesuítas tentaram domesticar os Ameríndios, através do método de aldeamento,


similar à prática Espanhola bem sucedida. A miscigenação foi mais geral entre brancos e
ameríndios nas regiões de São Paulo e São Vicente. Os paulistas, sentindo-se mais à
vontade, adentrava as florestas e matos em busca de materiais preciosos, chegando até a
alcançar os Andes em expedições até o fim do século.
Apesar da convivência e trabalho dos Ameríndios, eram os escravos negros
africanos que constituíam a principal base da economia portuguesa. Vindas de diversas
partes da África, Portugal manteve uma relação com os reis africanos que permitiam certo
comércio e boas relações.

“Os reis portugueses da Casa de Avis não tentaram, a partir de 1483, conseguir o controle político do
reino do Congo nem conquistá-lo pela força das armas. Contentaram-se em reconhecer os reis do
Congo como seus irmãos de armas, em tratá-los como aliados e não como vassalos e em tentar
convertê-los a eles e aos seus súditos através do envio de missionários ao Congo e da educação de
minorias escolhidas de jovens congoleses em Lisboa.” (p. 110)

Houve um grande intercâmbio cultural entre o reino do Congo e de Portugal, sendo


enviado impressora, mulheres para ensinar economia doméstica, jesuítas, entre outros. O
rei Nzinga Nvemba foi o mais ardente e fervoroso rei cristão do Congo seiscentista,
posteriormente batizado de D. Afonso I após sua conversão ao cristianismo, governando
de 1506 a 1543. Entre outros motivos, tudo levava a uma cristianização e ocidentalização
da África através do contato amigável entre o Congo e Portugal e sua cultura e religião,
sendo sempre bem aceitos os missionários jesuítas e a educação portuguesa.
Porém, mesmo com esses fatores, o objetivo falhou, restando a análise das
causas. Entre elas, que era sempre em número insuficiente a quantidade de missionários,
artesãos, instrutores que iam ao Congo, mesmo com os pedidos de D. Afonso I do Congo.
Segundo Boxer, os missionários que iam eram de certa forma indiferentes, sem qualquer
sentido de vocação, além do foco das empresas marítimas em Marrocos e nas ilhas das
especiarias desviarem a atenção e esforços do Congo. Invasões de canibais jagas ao
Congo foram expulsas apenas muito tempo depois, sendo ela e outros pedidos de ajuda
negligenciados ou demorados e ineficientes em resposta por parte de Portugal.

“Mas a razão fundamental do falhaço definitivo do começo prometedor da civilização ocidental no


Congo foi, sem sobra de dúvida, a estreita ligação que rapidamente se desenvolveu entre os
missionários e os traficantes de escravos. Esta ligação estava firmemente estabelecida antes da
invasão jaga.” (p. 111)

Mesmo com a Coroa procurando manter relações com o reino do Congo e impedir
e/ou reduzir o tráfico escravagista de negros do Congo, os traficantes de São Tomé e
outras regiões conseguiam burlar a fiscalidade, intensificando o tráfico de escravos e o
comércio com diversos outros reinos, também dispostos a aceitar o cristianismo, como a
região de N’gola. Com as dificuldades impostas pelos Bantos, como a prisão e
impedimento de tropas e missionários em solo africano, passou a ser difundido,
principalmente por Paulo Dias de Novais, que a conversão de Angola era impossível pelo
amor, considerando os nativos bárbaros e que sua conversão só seria possível através da
força.
Paulo Dias havia pedido o alvará da Coroa para colonizar a Angola, em 1565,
como conquistador e donatário. Alvará concedido em 1571, se mostrou um fracasso, uma
vez que o tráfico escravagista já está solidamente firmado, além de problemas como a
malária, trouxeram a desistência do seu objetivo primário, levando novamente o foco ao
comércio e tráfico de escravos. Estima-se em média que cerca de 15000 escravos vieram
apenas de Angola, sem se ter números exatos dos contrabandos ilegais, sendo a
população negra no Brasil em 1600 de aproximadamente 15000, tendo uma vida
estimada em 7 anos e a importação de escravos em trinta anos ser de aproximadamente
50000.

“Quais que pudessem ter sido os números exatos, não pode haver dúvida de que a rápida expansão
da indústria do açúcar brasileiro nos anos 1575-1600 era um dos maiores acontecimentos do mundo
atlântico desse tempo. Pernambuco e a Baía continuaram de longe a ser os centros produtivos e
populacionais mais importantes, e até mesmo em 1585 ainda só havia três engenhos de açúcar e 150
chefes de família portugueses no Rio de Janeiro, enquanto Olinda e o seu distrito contavam com
sessenta e seis engenhos e 2000 famílias portuguesas. (…) Cardim conta-nos que em 1584 eram
utilizados cerca de quarenta navios no comércio de açúcar entre o Recife e Lisboa, e o número
aumentara para 13 em 1618” (p. 115)

“No fim do século, um deles podia vangloriar-se junto ao Governo de Lisboa de que o
açúcar do Brasil era mais lucrativo para a monarquia dual ibérica do que toda a pimenta,
especiarias, joias e produtos de luxo importados dos indianos de Goa ‘dourada’” (p. 116)

Cap 4. A LUTA GLOBAL COM OS HOLANDESES (1600-1663)

“Willem Bosman (…) observou que o papel dos descobridores e conquistadores


portugueses no mundo colonial foi o de ‘lançarem cães para espantarem a caça que foi
depois apanhada por outros’, sendo os Holandeses os principais beneficiados.” (p. 117)

“Uma vez que as possessões ibéricas estavam espalhadas por todo o mundo, a luta subsequente foi
travada em quaro continentes e em sete mares e esta luta seiscentista merece muito mais ser
chamada a Primeira Guerra Mundial do que o holocausto de 1914-1918, a que geralmente se atribui
essa honra duvidosa.” (p. 117)

“O ataque maciço dos Holandeses ao Império Colonial Português foi ostensivamente motivado pela
união das Coroas portuguesa e espanhola na pessoa de Filipe II da Espanha, contra cujo Governo,
nos Países Baixos, se tinham revoltado os Holandeses em 1568. […] As Coroas de Espanha e de
Portugal continuaram unidas nos sessenta anos seguintes, um período que os patriotas portugueses
compararam subsequentemente ao cativeiro dos judeus na Babilônia. O império colonial ibérico, que
durou de 1580 a 1640, e que se estendia de Macau, na China, a Potosi, no Peru, foi assim o primeiro
império mundial, onde o Sol nunca se punha.” (p. 118)

Mesmo antes da união das duas coroas Ibéricas, já havia uma tensão entre as
potências protestantes com Portugal na questão da sua pretensão do monopólio do
comércio marítimo oriental. De fato, as hostilidades de Filipe II aos demais contribuiu a um
ataque significativo à Portugal, sendo o território mais fragilizado para um ataque, sendo
as possessões portuguesas em sua maioria nas costas marítimas, abrindo possibilidade
para um ataque naval, diferente das possessões espanholas de Castela no Novo Mundo.
Os ataques têm início em 1598-1599 nas ilhas de São Tomé e Príncipe, se alastrando às
colônias na Ásia, África e Brasil, terminando com a conquista das colônias portuguesas do
Malabar em 1663.

“A expansão holandesa nos Sete Mares durante a primeira metade do século XVII foi, à
sua maneira, tão notável como a expansão marítima portuguesa e espanhola ocorrida 100
anos antes (…).” (p. 120)

“Até à restauração da independência com a proclamação do duque de Bragança como rei


D. João IV (1640), os Portugueses e os Espanhóis eram aliados contra os Holandeses,
mas, nos vinte e três anos seguintes, os Portugueses tiveram de lutar contra os
Espanhóis na Península e contra os Holandeses no ultramar” (p. 120)

Resumidamente, pode-se dizer que o resultado saiu equilibrado: vitória para os


Holandeses na Ásia, empate na África Ocidental e vitória Portuguesa no Brasil.
A Companhia Holandesa das Índias Orientais obteve o controle do cravo-da-índia,
do maciz e da noz-moscada das Molucas, da canela da costa do Ceilão e da pimenta do
Malabar. Desbancaram os portugueses de sua posição de beneficiados com a parte de
leão no comércio de transporte nos mares asiáticos entre o Japão e a Arábia, sendo
expulsos, os Portugueses, do Japão em 1639 por assuntos políticos pelo ditador militar da
família Tokugawa, tendo os Holandeses obtido o comércio europeu com o Japão.
Os Holandeses falharam em conquistar o posto intermediário da ilha de
Moçambique duas vezes (1607 e 1608), levando-os a fundar uma colônia holandesa no
Cabo da Boa Esperança em 1652. Fixaram-se na Costa do Ouro em 1612, privando os
Portugueses da maior parte do comércio do ouro. Falharam em conquistar São Jorge da
Mina em 1625 mas conseguiram em 1638. Com a paz em 1663, os Holandeses
dominavam as primeiras posições portuguesas na Costa do Ouro, e os Portugueses
mantiveram o controle sobre Angola, Benguela, São Tomé e Príncipe, reconquistado em
1648-1649.
No Brasil, os Holandeses ocuparam a Baía apenas entre 1624-1625, invadindo
Pernambuco em 1630. Os habitantes se revoltaram em Junho de 1645, recebendo uma
ajuda, “não oficial” (p. 122), de D. João IV, travando uma dura batalha até Janeiro de
1654. O ódio teológico entre ambas denominações reforçaram a disputa, além do objetivo
do controle açucareiro. As tropas Portuguesas eram compostas de índios e negros, se
destacando Camarão, índio, Henrique Dias, negro, e João Fernandes Vieira, primeiro
chefe da revolta que combateu “desde a primeira até a última hora” (p. 123), sendo fidalgo
da Madeira e de uma prostituta mulata.
As derrotas portuguesas para os Holandeses nos primeiros quarenta anos do
século XVII são uma das principais razões para a revolta contra a Coroa espanhola em
1640, mesmo os ataques continuarem após a separação das coroas. Em 1641 foi
assinada uma trégua de dez anos entre as duas potências em Haia, ratificada um ano
depois e que só entrou em vigor na Ásia em Novembro de 1644. No Brasil e em Angola a
trégua não foi muito bem observada até mesmo antes da retomada da guerra com origem
na revolta pernambucana de Junho de 1645. A hostilidade da guerra em 1652 fora da
Europa levou os Portugueses a buscar uma aliança inglesa no casamento de Carlos II
com Catarina de Bragança em 1661.
Boxer explica a vitória dos Holandeses na Ásia em três “fatos fundamentais”:
recursos econômicos superiores, número superior de homens e poder marítimo superior.

“As Províncias Unidas da Holanda Livre eram uma metrópole mais rica do que o empobrecido reino de
Portugal. A população dos dois países devia ser mais ou menos idêntica (…) mas, enquanto Portugal
tinha sido obrigado a fornecer carne para canhão ao serviço da Espanha até 1640 e carne de canhão
contra ela a partir de então, os Holandeses podiam sentir-se, e serviram-se em grande escala, do
potencial humano fornecido pelos seus vizinhos alemães e escandinavos nos seus exércitos e frotas.”
(p. 124)

O jesuíta português Antônio Vieira em 1649 provou a disparidade do poderio naval


entre Portugal e Holanda. Com dito antes, o problema da falta de pessoas aptas para
navegar em Portugal era latente desde o início, se acentuando no período da guerra
contra os Holandeses. Um censo em Lisboa em 1620 atestou apenas 6260 homens aptos
para tribularem uma frota, e em uma reunião do conselho consultivo do vice-rei em Goa
em 1643 afirmou que não havia pilotos suficientemente qualificados para conduzir
quaisquer navios à Índia, uma vez que os únicos dez disponíveis estavam nas três
embarcações detidas pelo bloqueio holandês em Goa.
Outro fator é a preparação que os líderes holandeses tinham em comparação aos
portugueses. Ao passo que os Portugueses contavam com fidalgos, homens de linhagem
nobre, senhores de linhagem para chefes navais e militares, os Holandeses contavam
com pessoas capacitadas que, mesmo de linhagem humilde, tinham uma melhor
preparação, além de ser a experiência e a competência os critérios para a promoção.
Também o porte físico e a preparação dos Portugueses é posta em pauta em
comparação aos Holandeses. Um exército composto de franceses, escandinavos,
holandeses e ingleses (até 1652), bem treinados, disciplinados e com boa guarnição,
jovens e “altos” se sobrepunham aos dos portugueses, que eram em número insuficiente
em Goa, “esfomeados”, velhos, indisciplinados, uma vez que o recrutamento das fileiras
portuguesas eram forçados ou de prisioneiros enviados de Portugal pelos seus crimes, ao
passo que outros que chegavam em Goa deixavam as armas em troca do hábito de
alguma ordem religiosa.

“Esta falta de disciplina e de treino militar estava aliada a uma presunçosa autoconfiança, que tornava
os Portugueses notoriamente descuidados e negligentes em alturas e lugares críticos, quando maiores
cuidados e vigilâncias eram necessários.(...)a maioria dos solados da guarnição de Ormuz habitavam e
dormiam habitualmente fora do castelo, vinham fazer sentinela duas horas atrasados, e quando se
apresentavam já atrasados ao serviço mandavam à sua frente um (ou mesmo mais) negros que lhes
transportavam as armas. (…) As guarnições portuguesas geralmente também não possuíam armas
suficientes e, quando isso não acotnecia, as armas que tinham estavam negligenciadas, enferrujadas e
não utilizáveis por outras razões (…).” (p. 127)
Outro fator determinante foi a familiaridade dos Portugueses com a região. Os
Holandeses, acostumados com batalhas travadas em campos abertos, tiveram dificuldade
nas empreitadas no Brasil, tendo considerável vantagem nos territórios africanos. A força
naval é inegavelmente superior, porém, o apego às terras a qual os portugueses ficavam
fora de Portugal contribuía para uma maior defesa dela. Ao paço que os Holandeses
pretendiam apenas obter suas conquistas e retornar à terra natal, pensando apenas em
curto prazo e destruindo edificações e plantações, os Portugueses que saíam de Portugal
não pretendiam voltar, tendo mais raízes tanto em conhecer o local quanto os
conterrâneos, além de manter o local e cuidá-lo a longo prazo.
Foi também a familiaridade da população local que dificultou a propagação do
Calvinismo, sendo a grande maioria não tendo aderido. A fé católica se manteve não
apenas pelo tempo da devoção dos antigos, mas também pela ligação da população com
os padres e missionários da fé católica. Os Portugueses tinham maior contato com a
população, até no fato da estadia e se casando com asiáticas e africanas, ao passo que
os Holandeses evitavam contato ou não empregavam os moradores dos locais que
visitavam.

“Além da luta direta e da rivalidade econômica, política e religiosa entre os Portugueses e Holandeses,
houve outro aspecto dessa luta que merece uma breve menção aqui. (…) na batalha entre as duas
línguas (…). Uma vez que a expansão ultramarina europeia foi iniciada pelos Portugueses, a sua
língua (ou uma adaptação dela) tornou-se língua franca da maioria das regiões costeiras que abriram
ao comércio e aos empreendimentos europeus em ambos os lados do globo. (…) Durante os vinte e
quatro anos que os Holandeses dominaram todo ou parte do Nordeste brasileiro, a população
subjugada recusou-se obstinadamente a aprender a língua dos seus heréticos senhores, e acredita-se
que apenas duas palavras holandesas sobreviveram na linguagem popular pernambucana. (…) Mas
estes foram fatos sem grande significado ou influência, e os missionários jesuítas depressa destruíram
qualquer vestígio da influência holandesa nos ameríndios brasileiros, a partir de 1656.” (p. 134)

“Como o governador-geral Johan Maetsuyker e o seu conselho em Batávia explicaram aos diretores da
Companhia Holandesa das Índias Orientais em 1659: ‘A língua portuguesa é uma língua fácil de falar e
de aprender. Esta é a razão pela qual não podemos impedir os escravos trazidos para aqui de Aracão
e que nunca ouviram uma palavra de português (e até os nossos próprios filhos) de preferirem essa
língua e de a considerarem a sua’”. (p. 135)

Cap 6. ESTAGNAÇÃO E CONTRAÇÃO NO ORIENTE (1663-1750)

O padre Manuel Godinho, jesuíta que fez uma viagem por terra da Índia à Portugal
em 1663, lamentou a triste realidade do Império Marítimo Português, ao relatar as glórias
do passado e o tamanho que se encontrava na época.
Com poucas mulheres nas colônias, a Coroa encorajava o casamento com
mulheres brancas europeias, enviando anualmente uma pequena quantia de mulheres
orfãs com idade pra casar, mas por muitas vezes desencorajados os homens de as
terem. A quantidade de mulheres europeias, tanto por livre vontade quanto as orfãs do
Rei, se mostravam em número insuficiente para a demanda demográfica nas colônias
Portuguesas.
Outro motivo que contribuiu para o declínio foi a insalubridade do local, em Goa
“dourada” especificamente, onde o terreno era suscetível a infiltrações de esgoto, sendo
de fácil contágio várias doenças tropicais, fecais, ocasionando em mortes.
A quantidade de deserções também foi um fator preocupante. Como citado
anteriormente, grande parte dos que compunham as fileiras do exército eram exilados ou
criminosos transferidos de Portugal. Mesmo com pagamentos boas condições, os
mesmos não tinham motivo ou vontade de se sacrificar no estrangeiro. Muitos inclusive
procuravam seguir o caminho clerical de uma ordem, sendo promulgadas leis que
proibissem a admissão de novos, uma vez que era custo à Coroa e retirava do exército.
“A escassez de potencial humano europeu foi a razão básica pela qual a África Oriental
portuguesa se manifestou incapaz de fazer qualquer progresso material na primeira
metade do século XVIII.” (p. 147)

“Outra das razões que ajudam a explicar a estagnação e decadência das possessões portuguesas na
Ásia e na África Oriental durante a maior parte deste período foi a falta de justiça, tema de queixas
contínuas tanto na correspondência oficial como na mão oficial durante vários séculos, em locais tão
distantes como Moçambique, Goa e Macau.” (p. 149)

Um dos principais fatores que manteve vivo o Império Marítimo Português foi sua
tenacidade em manter-se mesmo após as conquistas inglesas e holandesas e com as
perdas na Ásia. Considerados herdeiros dos conquistadores de Afonso de Albuquerque,
tendo orgulho e exaltando a Coroa, ainda sentiam-se os conquistadores dos mares
quinhentistas de séculos atrás.

“Se Portugal contava ainda alguma coisa nos conselhos dos grandes poderes da Europa,
era antes de mais nada pela importância do seu império ultramarino; e se, em 1700, o
Brasil era de longe a joia mais lucrativa da Coroa portuguesa, a índia era ainda mais
prestigiosa” (p. 153)

Cap 7. RENASCIMENTO E EXPANSÃO NO OCIDENTE (1663-1750)

Era esperado um renascimento na economia de Portugal após a paz com a


Espanha e com as Províncias Unidas em 1668-1669, o que não foi o caso. Portugal
dependia do açúcar adquirido do Brasil e da exportação de matérias-primas do país para
sua economia, não sendo suficiente para ressarcir os gastos com importação, o qual era
previsto como o motivo de uma quebra na economia de Portugal. Portugal também
competia com a produção açucareira das Índias Orientais inglesas e francesas, e “era
agravado pela depressão econômica geral em grande parte da Europa Ocidental e pelo
declínio das importações lisboetas anuais de barras de prata, oriundas da América
espanhola via Cádis e Sevilha.”
Os comerciantes se queixavam das grandes taxas alfandegarias que a Coroa
portuguesa impunha nos produtos para exportação. É relatado que diversas famílias
decretavam falência, sendo uma mesma fazendo repassada para outros em torno de 2 a
3 gerações. Os motivos por vezes eram por conta da extravagância dos próprios
senhores com altos gastos a longo prazo e em juros em crédito.

“A indústria brasileira do açúcar, que parecia estar à beira de um colapso total em 1691,
começou a recuperar pouco depois, provavelmente por causa do aumento de procura na
Europa, do esgotamento das reservas acumuladas em Lisboa e porque o açúcar
brasileiro ainda mantinha o seu prestígio, sendo considerado de qualidade superior às
variedades cultivadas nas Índias Ocidentais”. (p. 159)

O açúcar brasileiro era refinado, tido como por qualidade superior ao “mascavo”
das plantações Inglesas. Outro motivo para o renascimento econômico se deu no
descobrimento de Ouro adentrando-se no Rio de Janeiro, numa região batizada de Minas
Gerais. O ouro e açúcar brasileiro trouxeram um período de prosperidade para Portugal.
O rei João V, conhecido por viver uma vida próspera e sabiamente, morreu com
ressentimentos da população, ao ter feito gastos exorbitantes, endividando Portugal e
atrasando salários.
João V era notável pela sua sabedoria, sempre ativo nos assuntos do reino, como
também muito religioso. Os “erros” que lhe trouxeram desaprovações não eram infrações
cometidas unicamente por ele. Seu apego ao sagrado, investindo em festas religiosas,
rituais, decretar dias de festas e feriados, enfim, sua devoção que lhe custou no bolso,
não era algo exclusivo, sendo tamanha devoção e “pecados” partilhados pelos seus
súditos e a população em geral de Portugal.
Porém, tais despesas e gastos só foram possíveis por causa da prosperidade
adquirida com o ouro provindo do Brasil. Em pouco tempo, e Europa ocidental e as
diversas colônias usavam o ouro vindo do Brasil na cunhagem de suas moedas, tendo
forte influência na balança econômica mundial. Dessa forma, Portugal teve um de seus
maiores aliados, Inglaterra, que passou a ter um forte laço comercial e uma aliança com o
país. Enormes quantidades de ouro eram levados pela Inglaterra, sendo esse ouro um
dos principais na cunhagem da moeda inglesa, e de várias partes do mundo, acreditando-
se que a grande maioria das moedas que circulavam eram produzidas com o ouro
brasileiro.

“O estado florescente do comércio anglo-português na primeira metade do século XVIII


não foi devido essencialmente ao famoso Tratado de Methuen, concluído em Dezembro
de 1703, porquanto os privilégios comerciais nele concedidos aos Ingleses pelo Governo
português depressa foram concedidos a outras nações, a começar com os Holandeses
em 1705. Mas este tratado manteve, sem dúvida, o caminho aberto para o aumento
espetacular da importação de tecidos ingleses e de outras exportações para Portugal, de
onde a grande maioria era reexportada para o Brasil, e da exportação de vinhos
portugueses para a Grã-Bretanha (...)”. (p. 170)

O tráfico de escravos africanos se intensificou no século XVIII e começo do XIX.


Entre os diversos fatores, a demanda pelo crescimento da manufatura em decorrência da
prosperidade econômica com a Inglaterra somou-se às demandas de mão de obra para o
trabalho nas minas de ouro, além de guerras e crises no continente Africano.
Esse tráfico era facilitado por conta do tabaco da Bahia. Os Holandeses, em seu
período de ocupação, tinham em mente do gosto dos negros africanos pelo tabaco
brasileiro, dessa forma permitindo o tráfico de negros com Portugal única e
exclusivamente por tabaco, sendo cobrado impostos alfandegários na exportação. O
tabaco dado é de terceira qualidade, sendo produzido com ingredientes artificiais a mais
para compensar. Porém, mesmo de qualidade inferior, era considerado melhor que todo o
tabaco dos concorrentes ingleses, franceses entre outros.

“No início, os Portugueses exportavam, através deste comércio, algum ouro em pó contrabandeado,
tendo as primeiras moedas de ouro emitidas pela Casa da Moeda da Bahia sido fundamentalmente
cunhadas a partir de ouro obtido em troca de tabaco; mas depois da exploração das minas de Minas
Gerais, este processo inverteu-se. A partir dessa altura, o ouro brasileiro passou a ser contrabandeado
por traficantes de escravos baianos em Ajudá, apesar de todos os esforços pelo Governo da metrópole
e pelas autoridades locais para porém termo a esta ‘fuga’ e para limitarem a exportação comercial ao
tabaco.” (p. 173)

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