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Expresso | Como é que um pano se transforma numa bandeira? http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-06-09-Como-e-que-um-pano-se...

SOCIEDADE

Como é que um pano se transforma numa bandeira?


10.06.2015 0h50  45

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Verde e Rubro. Estas duas cores foram usadas pela primeira vez em 1385, por D. João I (a quarta bandeira, na fila de cima)
DR

Esta quarta-feira, 10 de Junho, é Dia de Portugal. Eis a história da bandeira nacional, que à semelhança da
roupa também teve as suas modas. E descubra que o vermelho não representa o sangue dos heróis, nem o
verde a cor dos mares desbravados pelos marinheiros dos Descobrimentos portugueses

MANUELA GOUCHA SOARES

Há quem morra para defender um bocado de pano. Ou pelo menos o que ele representa. E isto acontece porque esse bocado
de pano provoca em muitos uma intensa vibração. Uma pulsão patriótica. Identitária. Em Portugal, muitos julgam que as
cores da bandeira nacional simbolizam a esperança e o sangue derramado dos heróis. Mas isso é um mito. O verde tem
pouco a ver com a esperança ou com a cor do mar que foi desbravado pelos afoitos marinheiros dos Descobrimentos. É "a
cor que Auguste Comte destinava à ordem e ao progresso das nações futuras" e que assim "inscreve a sua matriz ideológica
e cultural positivista". O vermelho é "a cor dos movimentos populares e revolucionários, da Revolução de 1848 à Comuna
de Paris de 1871" e que "inscreve no símbolo nacional a matriz política democrática do republicanismo".

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Era assim a bandeira içada no dia 5 de Outubro de 1910 na Câmara Municipal de Lisboa
IMAGENS DO LIVRO "HERÓIS DO MAR - HISTÓRIA DOS SÍMBOLOS NACIONAIS"

Num Portugal que não nasceu com a República mas em 1143, "a esfera armilar e o escudo das quinas, inscrevem na
bandeira a tradição histórica e os mitos das origens e da idade de ouro: a Fundação e a Expansão. No fundo, os dois
momentos históricos que a propaganda republicana contrapunha à decadência da Monarquia Constitucional e que
inscrevem no símbolo nacional a matriz nacionalista e colonial do republicanismo".

Por isso, era vermelha e verde a bandeira içada na Câmara Municipal de Lisboa quando foi proclamada a República, a 5 de
Outubro de 1910. Tal como era verde e encarnada "a primeira bandeira da República desfraldada em Portugal" a 31 de
janeiro de 1891, aquando da primeira tentativa de derrube da monarquia.

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Teixeira, vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa, que agora chega às bancas. Um livro que conta a história política do
hino e da bandeira, os nosso símbolos nacionais, recordando que o poeta Guerra Junqueiro, republicano inflamado, queria
que a República mantivesse o azul e branco como cores da bandeira nacional. "Verde e vermelha é uma bandeira de
pretos", assim consta que terá comentado... vá lá saber-se porquê. Talvez por um traço de ancestral ou cromossómico
porte aristocrático, porque em tudo o resto Guerra Junqueiro era um democrata.

Projeto de bandeira apresentado por Guerra Junqueiro em 1910


DR

À semelhança da roupa, as bandeiras também têm modas. Eram quadradas na Idade Média, retangulares no período
moderno e contemporâneo. A República recupera as cores da bandeira do Mestre de Avis e, neste século, o desporto,
sobretudo o futebol, têm um papel determinante na popularização deste símbolo da nação.

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"Alegoria à República". Litografia de Roque Gameiro


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Ao contrário do regime monárquico, em que "o rei tem um corpo físico, uma imagem que os súbitos conhecem e
reconhecem", a república "é uma ideia abstrata, intangível". Uma ideia que precisa de símbolos para chegar aos cidadãos.
Exímios na arte da propaganda, aquilo a que hoje se chamaria "marketing político", o Partido Republicano desenvolve uma
"estratégia da construção imagética e da simbólica" política que defende. "Primeiro, a República ganha uma imagem
feminina. Depois, essa 'república mulher' traja sempre de verde e vermelho".

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Bandeira da dinastia de Avis durou 96 anos


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Ao longo dos sete séculos em que Portugal foi governado por reis, "apenas uma vez, e de forma marginal, verde e vermelho
apareceram em conjunto"; foi na bandeira de D. João I, o rei aclamado pelo povo, quando a crise de 1383-1385 fez perigar a
independência nacional, dando assim início à dinastia de Avis.

Era quadrada a bandeira da dinastia de Avis, à semelhança de todas as bandeiras de matriz medieval. Este estandarte
perdura até ao reinado de D. João II, o Príncipe Perfeito, o homem que planeia e programa toda a aventura dos
Descobrimentos.

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Bandeira da Restauração da independência. 1º de Dezembro de 1640


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O verde e o vermelho voltam a surgir em 1640, outra data crítica da história da nação portuguesa. A bandeira da
Restauração - proclamada a 1 de Dezembro de 1640 no Palácio da Independência, em Lisboa - tinha um fundo verde e uma
cruz branca e vermelha, e havia de inaugurar a última dinastia reinante em Portugal, a dos Bragança. Recorde-se que a
primeira bandeira portuguesa, aquela que terá sido usada por Afonso Henriques em 1143, era branca com uma cruz azul.

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Primeiro projeto de bandeira que a comissão encarregue da sua elaboração apresentou ao Governo. Foi chumbado em outubro de 1910
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Feita a revisão dos momentos chave em que se recorreu à utilização do verde e do vermelho como cores representativas da
identidade nacional, passemos à polémica e participada história da atual bandeira portuguesa, que este ano completa 105
anos.

A 15 de outubro de 1910, o Diário do Governo publicou um decreto que instituía a comissão que iria escolher este símbolo da
pátria, e que teria de trabalhar depressa e de preferência bem. A comissão "era composta por cinco elementos, todos eles
figuras de relevo da vida pública portuguesa". O pintor Columbano Bordalo Pinheiro, irmão de Rafael, o 'pai' do Zé
Povinho, o jornalista João Chagas, o romancista Abel Botelho, e os militares Ladislau Parreira e Afonso Palla.

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Postal alusivo à escolha da bandeira. 1910


COLEÇÃO PARTICULAR ANTÓNIO PEDRO VICENTE

A 30 de outubro o Conselho de Ministros de então chumbou o primeiro projeto apresentado. A 6 de novembro foi enviado
um segundo projeto. "Não se chegou a consenso. A polémica foi longa e furiosa. Por todo o lado, continuavam as propostas
para a nova bandeira. A 28 de novembro, a Sociedade de Geografia de Lisboa sobre bandeiras históricas". Teve seis mil
visitantes.

Por fim, "a 29 de novembro para gáudio dos defensores do verde e rubro e indignação dos partidários do azul e branco",
como era o caso do republicano Guerra Junqueiro, o Governo aprovou o projeto apresentado pela comissão da bandeira
"pela escassa maioria de um voto". Era preciso andar depressa porque a bandeira do novo regime iria ser hasteada no dia 1º
de Dezembro, celebrando em simultâneo a jovem República e os 270 anos da restauração da independência nacional.

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A bandeira nacional 'sobreviveu' e faz 105 anos em dezembro. Já atravessou três regimes políticos
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Passaram 105 anos, e Portugal atravessou três regimes. O país despediu-se das colónias e virou-se para a Europa. Perdeu a
moeda nacional [outro símbolo identitário] para aderir ao euro. Mas a bandeira que foi fabricada sob o olhar da comissão
nomeada em 1910, "por um batalhão de operárias da oficina de bandeiras Cordoaria Nacional" é aquela que os portugueses
continuam a desfraldar nos momentos em que precisam de se projetar no coletivo da nação.

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Bandeira nacional com uma partitura do hino em fudo


COLEÇÃO PARTICULAR ANTÓNIO PEDRO VICENTE

Ao contrário do que acontecia na República e na ditadura do Estado Novo, em que a bandeira era venerada e honrada numa
liturgia das elites políticas, a Democracia popularizou este símbolo. A grande viragem acontece já neste século, pela mão de
um treinador de futebol brasileiro. Quem não se lembra do ano em que Portugal acolheu o Europeu de Futebol, e da
resposta dada pelos portugueses ao apelo de Scolari nessa primavera de 2004. A bandeira popularizou-se, encheu os
estádios, engalanou janelas. O mesmo aconteceu com o hino, A Portuguesa, com música de Alfredo Keil e letra de Henrique
Lopes de Mendonça.

A Portuguesa surgiu vinte anos antes da implantação da República, e foi uma das muitas reações à humilhação causada pelo
Ultimato inglês [11 de janeiro de 1890], que exigia que Portugal entregasse à coroa de Sua Majestade a Rainha Victoria
grande parte das possessões portuguesas em África.

"Depois da Revolução Francesa, a cidadania moderna utilizou muitas vezes a música como expressão de solidariedades
políticas ou identidades nacionais", escreve Severiano Teixeira. A Portuguesa foi um dos muitos hinos que expressaram a
indignação patriótica. Mas, ao contrário dos outros, foi a música que acompanhou a "marcha dos revolucionários
republicanos, soldados e populares armados" na manhã do 5 de Outubro de 1910. A 19 de junho do ano seguinte, a
Assembleia Constituinte da I República consagrou-a como símbolo nacional.

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Diário do Governo de 4 de setembro de 1957 que fixa a versão oficial de A Portuguesa


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O Estado Novo "manteve o regime republicano e conservou os símbolos nacionais. E não só os conservou, como se
apropriou deles e os investiu da sua retórica nacionalista". Foi também durante a ditadura de Salazar que foi fixada a

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A revolução do 25 de Abril de 1974 mudou o país, e lançou as bases da descolonização e do fim do Portugal colonial. Mas
manteve a bandeira e o hino nacional, sem que nunca nenhum deles tenha sido posto em causa.

E issso prova quão importantes são os símbolos no exercício da representação política. Por isso, é que o incidente ocorrido
na Câmara Municipal de Lisboa a 5 de Outubro de 2012 escandalizou os portugueses e encheu páginas da imprensa nacional
e europeia. Esta gafe de má memória atrapalhou o dia de Cavaco Silva e António Costa, quando Portugal celebrava o 112º
aniversário da implantação da República. Por lapso de alguém, a bandeira nacional foi içada ao contrário. Com o país
intervencionado pela troika, a imagem correu mundo e fez com que o jornal espanhol "El Mundo" titulasse: "La bandera de
Portugal izada por error al revés, símbolo de un país patas arriba".

Palavras-chave

POLÍTICA (GERAL) NUNO SEVERIANO TEIXEIRA DIA DE PORTUGAL HENRIQUE LOPES DE MENDONÇA KEIL POLÍTICA A PORTUGUESA SÍMBOLOS NACIONAIS

HISTÓRIA 25 DE ABRIL PORTUGAL

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Comentários

Esta seria afinal a melhor solução porque consegue incluír a melhor simbologia, que já existe, com as
verdadeiras cores nacionais que existem desde o tempo de D.Afonso Henriques.

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