Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
00482015 1135
Abstract Studies on the work of Mascarenhas Resumo Os estudos que comentam a obra de
analyze his contribution to the history of health in Mascarenhas analisam sua contribuição à histó-
Sao Paulo and the aspects of his work which place ria da saúde em São Paulo e os aspectos de seu
him in what is entitled the second generation of trabalho que o enquadram no que se convencio-
health workers of São Paulo state – being the first nou chamar de segunda geração de sanitaristas
generation the one led by Emílio Ribas. This arti- paulistas – a primeira seria liderada por Emílio
cle recaptures these points and highlights his last Ribas. Esse artigo retoma esses pontos e destaca
works on preventive and community medicine. seus trabalhos mais recentes, relacionados à me-
We argue that the conception of public health dicina preventiva e comunitária. Argumentamos
consolidated during his education was essential que a concepção de saúde pública consolidada
for his interest in the new model of medicine that em sua formação foi central para seu interesse no
was starting to spread in the country. novo modelo de medicina que começava a se di-
Key words History of health, Health centers, fundir no país.
Sanitary administration, Preventive medicine Palavras-chave História da saúde, Centros de
saúde, Administração sanitária, Medicina pre-
ventiva
1
Departamento de
Pesquisa, Casa Oswaldo
Cruz Fundação Oswaldo
Cruz. Av. Brasil 4036/405,
Manguinhos. 21040-361
Rio de Janeiro RJ Brasil.
teixeira@fiocruz.br
1136
Teixeira LA
desses frutos. Seus estudos, além de sistematiza- Mascarenhas também preconizava que essas
rem um conjunto de informações de extrema uti- unidades deveriam funcionar em rede, de forma
lidade para os trabalhos que se seguiram, temati- coordenada e hierarquizada. Nos primórdios das
zaram aspectos de grande centralidade no campo concepções sobre planejamento em saúde, seus
da saúde, se mostrando como uma importante escritos reiteram a ideia da integração, principal-
contribuição a discussões posteriores. mente no entre hospitais e CS. Além disso, tendo
como perspectiva a maior economia de recursos
Os centros de saúde materiais e humanos, recomendava o planeja-
como eixo da organização sanitária mento da localização das diferentes unidades de
saúde e o incentivo estatal a sua coordenação.
Como indicado anteriormente, a visão de No seu entender “Cabe[ria] ao governo estadual,
saúde pública de Mascarenhas foi fruto de sua através de seus órgãos técnicos, estudar planejar
proximidade com Paula Souza e do contexto uma melhor coordenação entre as atividades da
mais geral de expansão da concepção de saúde medicina preventiva e curativa, no âmbito local,
desenvolvida em alguns centros de formação ligando os órgãos de saúde publica aos estabele-
médica dos Estados Unidos e difundida pela cimentos hospitalares gerais”16.
Fundação Rockefeller. Tal concepção enfatizava A atribuição de responsabilidade Estadual à
a educação sanitária, a conformação multiprofis- coordenação das atividades de saúde de nível local,
sional dos serviços de saúde, a atividade das vi- nos remete outro aspecto muito presente na obra
sitadoras de saúde, a atuação em tempo integral de Mascarenhas: a forte crítica a centralização ad-
dos profissionais ligados à pesquisa e ao ensino ministrativas dos serviços de saúde. Para o autor,
em saúde e a expansão dos centros de saúde (CS). a centralização era uma tradição na administração
A importância dos CS para o sistema de saúde sanitária brasileira em seus diversos níveis e trazia
seria um dos temas mais aludidos nos trabalhos como consequência a falta de agilidade e eficiên-
de Mascarenhas. Além de sua tese de livre docên- cia aos serviços20. Apesar da crítica a centralização,
cia, vários de seus artigos fazem menção a estas sua posição sobre o tema se afastava da ideia de
unidades que, na sua visão, deveriam atuar com municipalização. A partir da análise de dados que
base em princípios muitos próximos ao que hoje demostravam a incapacidade das municipalidades
chamaríamos de integralidade e ser um impor- em arcarem com serviços de qualidade, ele defen-
tante aliado da saúde no campo da educação sa- dia a maior atuação dos Estados no financiamento
nitária15-18. e gestão dos serviços de saúde21.
A centralidade atribuída aos CS se dá no Na década de 1960, as discussões sobre esse
âmbito de uma grande valorização da educação tema se avolumaram, chegando ao seu ápice na
sanitária. Para Mascarenhas, “a educação de um 3ª Conferência Nacional de Saúde (1963), quan-
povo em princípios de higiene era a finalidade do as propostas relativas à municipalização ti-
básica dos serviços de saúde”19 e a função fun- veram centralidade e apoio governamental22.
damental dos CS era propagar os saberes dessa No ano anterior, Mascarenhas apresentou um
disciplina. Em artigos publicados em 195516,17, novo trabalho – no XV Congresso Brasileiro de
ele define os CS como unidades direcionadas ao Higiene, realizado em Recife – reafirmando sua
atendimento da população de um território cir- posição sobre o tema. Nesse estudo, ele apon-
cunscrito (distrito), que deveriam funcionar de tava um aspecto da discussão que se mostra de
forma coordenada. Deveriam ter como atribui- grande atualidade: o problema do desvirtua-
ções fundamentais, um amplo conjunto de ati- mento da política municipal. “Outros motivos
vidades, que hoje englobariam diversos aspectos desaconselham a entrega das unidades de saúde
do que chamamos de cuidados básicos, e quando aos governos municipais. Há uma barreira cul-
possível, desempenhar diferentes atividades, en- tural que ainda nos impede: a influência nefasta
tre as quais a assistência médica e as atividades da politicagem municipal em atividades técnicas
de reabilitação. De forma semelhante ao que hoje dos governos locais”23. Dez anos depois, quando
se pensa em relação à Estratégia de Saúde da Fa- as discussões sobre a descentralização do siste-
mília, Mascarenhas propunha que esses centros ma de saúde haviam sido caladas pelo regime
tivessem as famílias como objeto de intervenção autoritário, Mascarenhas reafirmaria, em novo
e incorporassem as visitas domiciliares como for- trabalho, sua posição sobre a necessidade de des-
ma de potencializar as ações educativas no cam- centralização, ressaltando que as recomendações
po da saúde. Também defendia que toda a ação de agências multilaterais, como a OPAS e OMS
local de saúde deveria ser feita a partir dos CS. indicavam o mesmo sentido20.
1139
Agradecimentos
1. Mello GA. Revisão do pensamento sanitário com foco no 15. Castro-Santos LA, Faria LR. Saúde e história. São Paulo:
centro de saúde [tese]. São Paulo: USP; 2010. Hucitec; 2010.
2. Ramos R. Professor Rodolfo dos Santos Mascarenhas: 16. Mascarenhas RS, Castro PC. Coordenação das ativida-
1909-1979 (necrológico). Rev Saude Publica 1979; des dos Órgãos locais de saúde pública e a assistência
13(3):169-171. hospitalar. Revista Paulista de Hospitais 1955; 3(7):8-12.
3. Mascarenhas RS. Contribuição para o estudo da admi- 17. Mascarenhas RS, Castro PC. Atividades de centros e
nistração sanitária estadual em São Paulo [tese]. São sub-centros de saúde. Revista Paulista de Hospitais
Paulo: Faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP; 1955; 3(3):9-11.
1949. 18. Mascarenhas RS, Piovesan A. O conceito de integração
4. Faria LR. Saúde e política: a Fundação Rockefeller e seus aplicado à medicina e saúde pública. Arquivos de Higie-
parceiros em São Paulo. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; ne e Saúde Pública 1961; 26(89):179-198.
2007. 19. Mascarenhas RS. Problemas de saúde pública no estado
5. Paula SH, Bonfim FR, Louvison M, Martins CL, Ca- de São Paulo. Arquivos da Faculdade de Higiene e Saúde
pucci PF. Associação Paulista de Saúde Pública: 40 anos Pública da Universidade de São Paulo 1954; 8(1):1-13.
de atuação no movimento sanitário paulista. São Paulo: 20. Mascarenhas RS. História da saúde pública no Estado
Instituto de Saúde; 2014. de São Paulo. Rev Saude Publica 1973; 7(4):433-446.
6. Mascarenhas RS. Contribuição para o estudo das des- 21. Mascarenhas RS, Ferreira NG. Contribuição para o es-
pesas do governo do Estado de São Paulo com seus tudo do financiamento das unidades sanitárias locais
serviços de saúde pública. Arquivos da Faculdade de pelos municípios brasileiros. Arquivos da Faculdade de
Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo Higiene e Saúde Publica da Universidade de São Paulo
1948; 2(1):91-204. 1950; 4(1):45-58.
7. Blount JA. The public health movement in São Pau- 22. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Anais da 3a Confe-
lo, Brazil: a history of the sanitary service: 1892-1912 rência Nacional de Saúde. Brasília: MS; 1963. [acessado
[tese]. New Jersey: Tulane University; 1971. 2014 dez 12]. Disponível em http://bvsms.saude.gov.
8. Merhy EE. O capitalismo e a Saúde Pública: a emergên- br/bvs/publicacoes/cd07_01.pdf
cia das práticas sanitárias no Estado de São Paulo. São 23. Mascarenhas RS. Níveis de autoridade-central, regio-
Paulo: Papirus; 1985. nal e local nos programas de saúde pública no Brasil.
9. Merhy EE. A saúde pública como política: um estudo de Arquivos da Faculdade de Higiene e Saúde Publica da
formuladores de políticas. São Paulo: Huctec; 1991. Universidade de São Paulo 1963; 17(2):223-240.
10. Castro-Santos LA. Power, ideology and public health in 24. Escorel S. Reviravolta na Saúde: origem e articulação do
Brazil: 1889-1930. [tese]. Cambridge: Harvard Univer- movimento sanitário. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz;
sity; 1987. 1998.
11. Castro-Santos LA. A reforma sanitária pelo alto: o pio-
neirismo paulista no início do século XX. Dados: Revis-
ta de Ciências Sociais 1993; 36(3):361-392.
12. Ribeiro MA. História sem fim... inventário da saúde pú-
blica: São Paulo 1880-1930. São Paulo: Unesp; 1993.
13. Telarolli Junior R. Poder e saúde. As epidemias e a for-
mação dos serviços de saúde em São Paulo. São Paulo:
Unesp; 1996.
14. Hochman G. A era do saneamento: as bases da política Apresentado em 13/10/2014
da saúde pública no Brasil. São Paulo: Hucitec, Anpocs; Aprovado em 23/11/2014
1998. Versão final apresentada em 15/12/2014