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Santidade e missão: Um sínodo especial

Alegrai-vos e Exultai para a Amazônia


Serviço de Informação Missionária
Ano 46 - No2 abril a junho de 2018

CAM 5
América
em missão,
o Evangelho
é Alegria
Editorial

Índice
Editorial.................................. 3

Rápidas................................... 4 Serviço de Informação Missionária


Ano 46 - No2 abril a junho de 2018

Destaque................................. 5
Rumo ao 5º Congresso Missionário Americano
Pe. Maurício da Silva Jardim

Nossos Missionários.................. 6
Sai da tua terra e vai...
Dom Mauro Morelli

O SIM é uma publicação trimestral das POM,


POM........................................ 8 organismo oficial de animação, formação e coope-
ração missionária universal da Igreja Católica, em
Santidade e missão quatro ramos específicos:
Pe. Maurício da Silva Jardim
• Pontifícia Obra da Propagação da Fé

Aprofundando a Missão........... 10
• Pontifícia Obra da Infância e
Adolescência Missionária
América em missão, o Evangelho é alegria • Pontifícia Obra de São Pedro Apóstolo
Pe. Estêvão Raschietti
• Pontifícia União Missionária

Testemunhos.......................... 12 Expediente
No país dos telhados azuis Direção:
Ir. Elisabetta Pelucchi Pe. Maurício da Silva Jardim
(diretor nacional das POM)

Propagação da fé.................... 14 Conselho Editorial:


Famílias Missionárias: vidas em doação Pe. Badacer Ramos de Oliveira Neto (secretário
Pe. Badacer Ramos de Oliveira Neto nacional da Obra da Propagação da Fé e
Juventude Missionária)
Ir. Patrícia Souza (secretária nacional da Obra da
Missão em Contexto................ 16 Infância e Adolescência Missionária)
Pe. Antônio Niemiec (secretário nacional da
Um sínodo especial para a Amazônia
Pontifícia União Missionária)
Paulo Martins
Jornalista: Fabrício Preto (Mtb 15907)
Revisão: Cecília Soares de Paiva

IAM....................................... 18 (Jornalista DRT/MS 280)


Projeto Gráfico e diagramação: Wesley T. Gomes
175 anos da IAM Capa: Wesley T. Gomes
Ir. Patrícia Souza Impressão: Cidade Gráfica e Editora Ltda
Tiragem: 12 mil exemplares

Pontifícia União Missionária.... 20


Por uma identidade missionária SGAN 905 - Conjunto B
Marcos Bento 70790-050 Brasília - DF
Tel.: (61) 3340-4494
Site: www.pom.org.br
FORMISE: 10 anos de missão E-mail: imprensa@pom.org.br
Gilson Klaus Barbalho

2 abril a junho 2018


Editorial

O rosto das Igrejas das Américas


Nossa jornada para o 5º Congresso Missionário Americano na
Bolívia segue com passos firmes, confiantes de que o Espírito do Senhor
nos acompanha. A cidade de Santa Cruz de La Sierra vai receber as cores
e o rosto das Igrejas particulares das Américas. É nesse espírito celebrativo
que as Pontifícias Obras Missionárias apresentam esta edição do SIM.
O CAM 5 é tempo de graça para fortale-
cer a identidade e o compromisso missionário
Ad Gentes da Igreja nas Américas. Queremos
anunciar a alegria do Evangelho a todos os
povos, com especial atenção para as periferias
do mundo de hoje e para o serviço de um Es-
tado mais justo, solidário e fraterno.
Dedicamos um espaço especial à nova
Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate
(Alegrai-vos e Exultai), publicada pelo papa
Francisco em abril de 2018. O documento quer
nos recordar que o chamado à santidade no
mundo atual é para todos e todas. Nessa edi-
ção trazemos alguns pontos para nos ajudar a
refletir sobre a vocação à santidade em nossa
atuação missionária.
Apresentamos também as novidades do
documento preparatório do Sínodo para a
Amazônia, encontro dos bispos que aconte-
ce em outubro de 2019 e que busca refletir a
realidade da Pan-Amazônia. “Novos caminhos
para a Igreja e para uma ecologia integral” é o
tema e o desejo expresso do papa Francisco
em colocar a vida dos povos originários da
Amazônia no coração da Igreja.
Não poderíamos deixar de apresentar o trabalho missionário das
Obras que dão vida às POM. Nas páginas da Propagação da Fé, trazemos
um relato sobre as Famílias Missionárias, serviço de animação para todos
os que integram o ambiente familiar. A Infância e Adolescência Missioná-
ria apresenta seu plano de ação para 2018-2020, nos eixos de formação,
missão e organização. Por final, a União Missionária traz uma reflexão
sobre a formação inicial dos presbíteros.
Todo esse conteúdo também está disponível em nosso site e redes
sociais, tornando a mensagem missionária mais acessível a todos. Curta e
compartilhe! Tenha uma ótima leitura.

2018 abril a junho 3


Rápidas

Assembleia das POM em Roma teve encontro com o Papa


Entre os dias 28 de maio a 2 de junho,
Arquivo POM

120 diretores nacionais das POM de diver-


sos países estiveram em assembleia geral em
Roma, para tratar de inúmeros temas, entre
os quais a realização do outubro missio-
nário de 2019. Na abertura da assembleia,
receberam a mensagem em vídeo do Papa
Francisco, tendo também a oportunidade de
poder estar presencialmente durante o en-
cerramento do encontro.
Diretores nacionais tem encontro com Papa

COMINA discute Programa

Arquivo POM
Missionário Nacional
As Pontifícias Obras Missionárias acolheram
missionários de todo o Brasil, entre os dias 16 a
18 de março, para participar da 35ª Assembleia do
Conselho Missionário Nacional – COMINA, com
o tema “Processo de planejamento em vista do
Programa Missionário Nacional”. Além dos bis-
pos, também participaram os responsáveis pelos
Conselhos Missionários Regionais – COMIRES.
Assembleia do Comina discute Programa Missionário Nacional
Sobre o planejamento do Programa Missio-
nário Nacional, Dom Esmeraldo Barreto de Farias, espiritualidade, dando muita atenção à formação.
presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Queremos, com isso, possibilitar aos COMIRES
a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da uma maior dinâmica para a formação em termos
CNBB e Presidente do COMINA, relembrou que o de conteúdo, e o objetivo pleno é sermos mais mis-
caminho percorrido até então tem sido partilhado sionários, discípulos de Jesus Cristo, fazendo com
com os regionais. “Nós refletimos na assembleia a que toda a Igreja seja missionária, como nos pede
importância de se elaborar um Programa Missio- o Papa Francisco, para que vivamos uma Igreja em
nário Nacional com objetivos, etapas, metodologia, saída”, lembrou Dom Esmeraldo.

Encontro de reflexão da missão ad gentes


Nos dias 18 a 20 de março, na sede das Pontifícias Obras Missio-
Arquivo POM

nárias, aconteceu o encontro de reflexão e aprimoramento da missão


ad gentes, com o tema “Um caminho de sensibilização, cooperação
e conversão pastoral missionária”. O encontro foi realizado através
de uma parceria entre a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação
Missionária e Cooperação Intereclesial, as Pontifícias Obras Missio-
nárias (POM), o Centro Cultural Missionário (CCM) e a Conferência
dos Religiosos do Brasil (CRB). Representantes de 18 congregações
religiosas e de 12 regionais da CNBB participaram do encontro que
teve por finalidade partilhar, avaliar e aprofundar as experiências mis-
sionárias além-fronteiras e os projetos ad gentes assumidos e sus-
tentados pelos Regionais da CNBB e por Dioceses, Congregações e
POM acolhe encontro de missários ad gentes Institutos (Comunidades) religiosos.

4 abril a junho 2018


Destaque

Rumo ao
CONGRESSO
MISSIONÁRIO
AMERICANO
A
cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, Evangelização da Cultura; Missão e Reconciliação; Mis-
vai receber missionários e missionárias de são Ad Gentes na e desde a América; Missão e Eco-
diversos países da América, de 10 a 14 de logia; Família Missionária; Missão e Catequese; Novas
julho de 2018, para o 5º CONGRESSO MISSIONÁRIO Formas de Cooperação Missionária; Jovens e Missão;
AMERICANO (CAM 5), com a temática “A Alegria do Missão e Migrantes; e Missão e Formação sacerdotal.
Evangelho, coração da missão profética, fonte de re- 3. Seis Sub-assembleias que seguem o esquema:
conciliação e comunhão”. A delegação brasileira con- Animação e testemunhos missionários; retomada dos
tará com 250 participantes de todos os 18 regionais da conteúdos da exposição da manhã; trabalho de grupos
CNBB. Dentre eles, leigos e leigas, sacerdotes, diáco- e plenária; breve oração final.
nos, bispos, religiosos e religiosas e seminaristas. 4. Quatro Conversatórios: Novas Perspectivas da
O objetivo geral do CAM 5 é fortalecer, nas Igrejas Missiologia; Comunicação e Missão; Infância e Adoles-
das Américas, a identidade e o compromisso com a cência Missionária; e Missão nas Universidades Católicas.
Missio Ad Gentes, anunciando a Alegria do Evangelho a O Brasil estará presente no CAM 5 com uma dele-
todos os povos, com particular atenção às periferias do gação de 174 missionários(as) dos 18 regionais da CNBB.
mundo de hoje, a serviço de uma sociedade mais justa,
solidária e fraterna. Pe. Maurício da Silva Jardim
Em um processo de continuidade, a preparação do Diretor Nacional das POM
CAM 5 começou em novembro de 2014 em Tegucigalpa,
Honduras, por ocasião do encontro logo após o CAM 4
- COMLA 9. No percurso, também constam reuniões
anuais dos diretores das Pontifícias Obras Missionárias
das Américas, quais sejam: Em março de 2015 em Cuba;
Programação
2016 no Uruguai; 2017 em Santo Domingo; e fevereiro Segunda (9/7)
de 2018 no Paraguai. Em 13 de abril de 2015, ocorreu
Acolhida
a reunião das Comissões organizativas do CAM 5, em
Cochabamba. Em julho de 2015 em Santa Cruz de la
Sierra, o Papa Francisco abençou os símbolos de ani- Terça (9/7)
mação do CAM 5: A Cruz Missionária e as relíquias da Inscrições
beata Nazaria Ignacia. Eucaristia de Inauguração
Para maior aprofundamento dos conteúdos do
CAM 5, ocorreram dois Simpósios de Missiologia: Quarta a sexta (dias 11 a 13/7)
1º Simpósio, 2015 em Puerto Rico com o tema: “O
Conferências Centrais
Evangelho, fonte de reconciliação e comunhão”.
Feiras (exposição de materiais missionários)
2º Simpósio, 2016 no Uruguai com o tema: “O
6 Sub-assembleias
Evangelho da alegria impulsiona a missão”.
12 Oficinas
Durante o CAM 5 em Santa Cruz de la Sierra, a or-
4 Conversatórios
ganização central pensou um caminho metodológico
Noite de atividades nas Paróquias
inserido por meio de cinco Conferências Centrais, doze
oficinas, seis sub-assembleias e quatro conversatórios.
1. Conferências centrais: Evangelho; Alegria; Missão e Sábado (14/7)
Profecia; Reconciliação e comunhão; e Missão Ad Gentes. Experiências Missionárias nas Paróquias
2. Oficinas: Leigos Consagrados na Missão; Mis- Missa de Envio
são, Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso; Missão e
2018 abril a junho 5
Nossos Missionários

Sai
da
tua
terra
e vai... (Gn12)

E
m 2015, ao completar 80
anos, celebrei a Eucaristia
junto à Cachoeira Casca
d’Anta, na Serra da Canastra (MG),
onde o rio São Francisco dá seu
primeiro salto, inaugurando nova
etapa de testemunho de Fé e serviço
ao Reino da Vida em Comunhão.
O caminho percorrido desde o
batismo não termina com a entrega Canastra, criado em 1972 no coração ção, na reconciliação e na partilha
de um múnus pastoral, mas segue da Canastra, para fins de reforma ou comunhão. Urge pensar uma
em frente pelo testemunho e ser- agrária, implantado e administrado teologia canastreira para uma Igreja
viço do Evangelho, até que nossos em guerra com o ser humano, exclu- inserida no bioma do cerrado, agres-
dias se completem nas mãos do ído da biodiversidade por visão mí- te e fecundo, com rosto de agricul-
Amor Misericordioso. Como bispo, ope. Não se promoveu a educação tura familiar agropecuária, cuidadora
sempre enfatizei o batismo como fon- ambiental e, sob a tirania do poder, das fontes da vida, com seu próprio
te de dignidade, de pertença e missão. aterrorizou crianças, violou direitos jeito e ritmo de viver e celebrar.
Não me agradam os qualifi- e pouco se preservou da fauna e da Para viver em missão na Ca-
cativos de Bispo na ativa ou emé- flora, outrora mais rica e pujante. nastra a serviço da paz social e am-
rito. Não somos fantasmas, figuras E não se preserva o pato biental, as motivações devem ser
errantes de outros tempos. Assim mergulhão sem a criança ca- pascais, acompanhadas de compe-
como Moisés, posso não entrar na nastreira! Aliás, segundo o papa tência, revestida da simplicidade da
Terra onde não há mais choro e mor- Francisco, destruir uma cultura é pomba e da astúcia da cobra. De-
te, fome e miséria, mas com o povo tão ou mais grave que a extinção terminante e olhar contemplativo.
de hoje damos um passo a frente! de uma espécie (LS). Na vastidão da Paróquia de
Faz diferença crer e caminhar A Canastra, considerada fim São Roque de Minas, Diocese de
aos oito ou aos oitenta. O apren- de linha de três dioceses, desafia a Luz, onde fui acolhido por Dom
dizado se vive entre tropeços, dúvi- própria Igreja que a ignora e que José Aristeu e Padre Dênis, procu-
das e angústias, dores e alegrias. A também desconhece as expressões ro estar presente no meio do povo,
Canastra me seduz pelas suas bele- de fé do seu povo, vivida pelas fa- em suas casas e comunidades, em
zas e me desafia pelas suas dores. mílias e comunidades em símbolos resposta ao apelo que me foi feito,
Temos o Parque Nacional Serra da e devoções centradas na encarna- em fevereiro de 2015, por ocasião

6 abril a junho 2018


Nossos Missionários

Fotos: arquivo pessoal


Sou grato aos seminários que me acolheram para caminhar
com o Bom Pastor a serviço do Reino da Vida em Comunhão.

da rodada de conciliação promovi-


da pelo Poder Judiciário Federal, em
São José do Barreiro: ”Não aban-
done a gente”! Venha conhecer essa
gente hospitaleira de perto e sem
pressa, com seu modo de se rela-
cionar com tudo que a envolve para
apreciar e entender seus encantos e
frustrações, alegrias e dores.
Antes de chegar à Terra em
que o sol se põe cada dia de for-
ma deslumbrante, o firmamento se
mostra imenso e belo na vastidão
da Canastra e a lua se exibe como
uma rainha, andei pelo mundo. sem esquecer o grupo de mulheres da Vida em Comunhão. Com os
Aos dez anos de idade, em 23 de que, com Maria, mãe de Jesus, par- Capuchinhos, o encantamento de
janeiro de 1946, embarquei pela ticipou do caminho percorrido até a Francisco pela biodiversidade. No
companhia ferroviária da época, cruz e ao amanhecer de Pentecostes. Seminário Maior em Viamão (RS),
em Penápolis (SP), com mais onze Cursando o Grupo Escolar so- a relevância da Fé para a Vida. No
companheiros, rumo ao seminário. nhava ser padre ou médico; mais pluralismo cultivado pelos Sulpi-
Até que enfim meu sonho de tarde, advogado e agrônomo. Nos cianos, Baltimore (USA), encontrei
ser padre começava a acontecer, 53 anos de vida pastoral, dos quais a bússola para o pastoreio no diá-
rumo a um longo caminho a ser mais de 43 como bispo, dediquei- logo ecumênico e plural, em com-
percorrido para aprender a servir me ao cuidado da saúde do corpo, promisso com migrantes, margina-
como pastor o Rebanho de Cris- da alma e do espírito do povo a lizados, excluídos e discriminados.
to. Éramos doze na primeira parti- quem fui chamado a servir, como Cursei teologia durante o Con-
da, outros dois viram o sonho se exigência da santidade da vida e da cílio Ecumênico Vaticano II. Guardo
transformar em realidade. dignidade humana. no coração e na memória Raymond
O pastoreio não é tarefa confiada Sou grato aos seminários que Brown e Eugene Van Antwerp, An-
a um aventureiro, mas a doze apósto- me acolheram para caminhar com gelo Roncalli e Giovanni Batista
los e outros setenta e dois discípulos, o Bom Pastor a serviço do Reino Montini, mestres eminentes na Fé e
excelentes na Caridade. Com Martin
Luther King aprendi a ser pastor na
Baixada Fluminense. Como compa-
nheiros de jornada, Paulo Evaristo,
Helder, Aloisio, Ivo, Clemente, Lucia-
no, Waldir, Adriano e Vital. Em tem-
pos mais recentes muito aprendi ao
lado do Patriarca Bartolomeu I, em
simpósios sobre o meio ambiente.
Pastoralidade, colegialidade e
sinodalidade, de vital importância
na vida da Igreja e dos pastores,
como o Papa Francisco testemu-
nha e propõe. O serviço à vida não
é tarefa isolada e nem feudal, exige
participação e corresponsabilidade.
Tudo nasce da comunhão e con-
verge para a comunhão.

Dom Mauro Morelli


Bispo emérito
da Diocese de Duque de Caxias
2018 abril a junho 7
POM
Divulgação

Santidade e missão
Reflexões sobre a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate do papa Francisco

A
vocação à santidade pode parecer distante tudes, o sacrifício da vida no martírio e também os casos
de nossa vida e atuação missionária. O papa em que se verificou um oferecimento da própria vida
Francisco responde a essa questão ao nos pelos outros, mantido até a morte” (Cfe. GE,5).
presentear, em abril de 2018, com a Exortação Apostó- A santidade não é privilégio de um grupo, de
lica Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai), recor- uma elite eclesial. Ser santo não significa revirar os olhos
dando que o chamado à santidade no mundo atual é em êxtase ou fugir dos problemas reais do cotidiano.
para todos e todas. Não é um privilégio para poucos, “Cada pessoa responde essa vocação batismal fazendo
mas ela é o encontro da nossa fragilidade com a força seu próprio caminho inspirado por Deus. O importante
da graça divina dada no batismo. é que cada pessoa entenda o seu pró-
O objetivo do papa nessa Exortação prio caminho e traga à luz o melhor de si
Apostólica é “fazer ressoar mais uma vez mesmo” (Cfe.GE,11). Esse percurso não é
o chamado à santidade, procurando en- realizado de forma isolada, mas comuni-
carná-la no contexto atual, com os seus tária, pois Deus quer salvar a todos.
riscos, desafios e oportunidades” (GE,2). Não é que “Para ser santo, não é necessário
A Exortação oferece uma visão realista ser bispo, sacerdote, religiosa ou reli-
do que é ser santo. Vemos ao longo da a vida tenha gioso” (GE,14) “Para um cristão, não é
história e nos seus diferentes contextos, uma missão, possível imaginar a própria missão na
que o acento no modelo de santidade terra, sem a conceber como um ca-
foi diverso. Contudo, são perceptíveis mas a vida é minho à santidade, porque a ‘vontade
alguns critérios em comum, tais como, uma missão” de Deus é que sejais santos’ (1Ts4,3)”.
“nos processos de beatificação e cano- (GE,27) Cada santo é uma missão (GE, 19). Essa
nização, tomam-se em consideração os missão só adquire pleno sentido e só
sinais de heroicidade na prática das vir- pode ser compreendida em Cristo.
8 abril a junho 2018
POM

A santidade não pode ser confundida como afas-


tamento do mundo. “Não é saudável amar o silêncio
e esquivar-se do encontro com o outro, desejar o re-
pouso e rejeitar a atividade, buscar a oração e me-
Cada pessoa responde
nosprezar o serviço” (GE,26). O santo e a santa vivem essa vocação
de forma integrada. É um contemplativo no meio do
mundo. Reza e trabalha. Busca vida intensa de oração,
batismal fazendo
sem menosprezar o serviço. Às vezes somos tentados seu próprio caminho
a abandonar o serviço pastoral como se fosse uma
distração no caminho da santificação. Esquecemo-
inspirado por Deus. O
nos disto: “não é que a vida tenha uma missão, mas importante é que cada
a vida é uma missão”(GE,27). Somos uma missão de
Deus no mundo.
pessoa entenda o seu
A Exortação Apostólica aponta dois inimigos da próprio caminho e
santidade: o gnosticismo e pelagianismo. São duas
formas de segurança doutrinária ou disciplinar, que
traga à luz o melhor
dão origem a um elitismo narcisista e autoritário. No de si mesmo”
gnosticismo a pessoa fica amarrada à própria razão (Cfe.GE,11)
ou sentimentos. Graças a Deus, ao longo da história
da Igreja, ficou bem claro que aquilo que mede a per- “É um erro suspeitar do compromisso social dos
feição das pessoas é o seu grau de caridade, e não a outros, considerando-o algo de superficial, mundano,
quantidade de dados e conhecimentos que possam secularizado, imanentista, comunista, populista. (...) A
acumular (Cfe.GE,35-37). No pelagianismo se enalte- defesa do inocente nascituro, por exemplo, deve ser
cem, no lugar do mistério e da graça, a vontade hu- clara, firme e apaixonada. Mas igualmente sagrada
mana e o esforço pessoal. É uma ideologia sutil que é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem
nos rouba a abertura para a ação discreta e contínua na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de
da graça divina. pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos
Infelizmente muitos cristãos deixaram-se seduzir privados de cuidados, nas novas formas de escrava-
pelo  gnosticismo e o  pelagianismo, duas heresias en- tura, e em todas as formas de descarte. Não podemos
ganadoras nas quais Jesus Cristo e povo de Deus não propor um ideal de santidade que ignore a injustiça
os interessam verdadeiramente. Uma saída para essas deste mundo, onde alguns festejam, gastam folgada-
tentações é o acolhimento livre e humilde da graça em mente e reduzem a sua vida às novidades do consumo,
nós. A primeira coisa é pertencer a Deus. Trata-se de se ao mesmo tempo em que outros se limitam a olhar de
oferecer a Ele cada dia, a Ele que nos antecipa com sua fora enquanto a sua vida passa e termina miseravel-
graça. Somos cooperadores de sua missão. mente” (GE,101). Considerar estes temas como secun-
dários não é ser cristão.
O papa Francisco insiste na necessidade da
Fotos: Vatican News

santidade em todos os âmbitos, inclusive nas redes:


“Pode acontecer que os cristãos façam parte de re-
des de violência verbal da internet e vários fóruns ou
espaços de intercâmbio digital. Mesmo na mídia ca-
tólica é possível ultrapassar os limites, tolerando-se
a difamação e a calúnia, excluindo a ética e respeito
da reputação alheia” (GE,115). Procura-se compensar
as insatisfações descarregando furiosamente os de-
sejos de vingança. Ao ignorar o oitavo mandamento:
‘Não levantar falsos testemunhos’, destrói-se sem
piedade a imagem alheia.
Não tenhamos medo de um estilo de vida que
aponte para o alto e que caminhe na contramão da cul-
tura dominante. Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo
nesta aventura de, a cada dia, estarmos à disposição de
Deus e colaborarmos com sua obra de salvação.

Pe. Maurício da Silva Jardim


Diretor Nacional das POM

2018 abril a junho 9


Aprofundando a Missão

América
em missão,
o Evangelho
é Alegria

E
stamos nos preparando para a realização do 5º CAM 3 em Quito, Equador (2008); o CAM 4 em Mara-
Congresso Americano Missionário (CAM 5), de caibo, Venezuela (2013). Finalmente, em 2018, o CAM 5,
10 a 14 de julho de 2018 na cidade de Santa Cruz em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia.
de la Sierra, Bolívia. O tema em 2018 é: “A Alegria do Evangelho, coração
A caminhada missionária da Igreja na América La- da missão profética, fonte de reconciliação e comunhão”
tina, rumo a uma progressiva, responsável e original que, junto com o lema: “América em missão, o Evangelho
abertura universal, ficou profundamente marcada por é Alegria”, deseja oferecer um enfoque especial ao objeti-
esses congressos, inicialmente nominados como Con- vo do evento: “fortalecer, nas Igrejas das Américas, a iden-
gressos Missionários Latino-Americanos (COMLAs) e tidade e compromisso missionário ad gentes, anunciando
que tiveram como origem os Congressos Missioná- a alegria do Evangelho a todos os povos, com particular
rios Nacionais do México. Em 1977, foi celebrado o 1º atenção às periferias do mundo de hoje, a serviço de uma
COMLA na cidade de Torreón, México. Depois foi a vez sociedade mais justa, solidária e fraterna”.
de Tlaxcala, México (1983); Bogotá, Colômbia (1987); O enfoque especial do CAM 5 é exatamente o mo-
Lima, Peru (1991); Belo Horizonte, Brasil (1995). tivo recorrente da alegria missionária. Vamos procurar
Em 1999, por ocasião do 6º COMLA em Paraná entender, então, a relevância desse destaque para a
(Argentina), o Congresso abriu suas fronteiras a todo nossa caminhada.
o Continente Americano, tornando-se assim o 1º Con- A alegria do Evangelho não é jovialidade efêmera,
gresso Americano Missionário (CAM 1). E assim rea- excitação alienada ou bem-estar espiritual. A alegria do
lizou-se o CAM 2 na Cidade da Guatemala (2003); o Evangelho não é um estado de espírito meio eufórico,

10 abril a junho 2018


Aprofundando a Missão

que surge apenas por “ter encontrado Jesus”. O jovem

Fotos: arquivo POM


rico também encontrou Jesus, mas não foi embora ale-
gre: foi embora triste (Mt 19,22), porque não foi capaz
de sair de si de se desprender de suas riquezas para
assumir a proposta de vida de Jesus.
A alegria, portanto, procede do acolhimento pro-
fundo do Evangelho: “felizes os pobres em espírito,
porque deles é o Reino do Céus” (Mt 5,3). Feliz é quem
se doa, larga seus bens tornando-se pobre para en-
riquecer os outros, quem descobre “que a vida se al-
cança e amadurece à medida que é entregue para dar
vida aos outros” (DAp 360). Isso é definitivamente vida,
isso é definitivamente missão: a essência do Evangelho CAM 4 teve missionários de diversos países
está aqui. Nada abala a alegria dessa revelação mesmo
diante das perseguições e das humilhações (Mt 5,11). terior da vida missionária. Não conseguiríamos viver
A alegria do Evangelho, portanto, tem a ver dire- uma vírgula sequer do Discurso da Montanha, se o
tamente com a verdade revelada por Jesus, que “veio espírito dessa mesma Palavra não viver em nós. Viver e
ao mundo para fazer-nos participantes da sua natureza testemunhar o Evangelho é uma experiência profunda-
divina” (AG 3), que “de rico se tornou pobre para nos en- mente espiritual, que desvela os nossos limites e que,
riquecer com sua pobreza” (2Cor 8,9), que “esvaziou-se ao mesmo tempo, revela a força da Palavra atuando em
a si mesmo assumindo a condição de servo” (Fil 2,7). A nós: “não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em
Igreja é chamada a trilhar o mesmo caminho de doação mim” (Gal 2,20).
de Cristo: “o caminho da pobreza, da obediência, do ser- E mais do que isso, a alegria do Evangelho é puro
viço e da imolação própria até a morte” (AG 5). Esse ca- e saudável prazer de viver a vida: “a vida em Cristo inclui
minho não é somente para transmitir uma mensagem: a alegria de comer juntos, o entusiasmo para progredir,
ele “é” a própria mensagem de um Deus Amor capaz de o gosto de trabalhar e de aprender, a alegria de servir
morrer por amor. Esse é o conteúdo da missão. a quem necessita de nós, o contato com a natureza,
A alegria do Evangelho é também dinamismo in- o entusiasmo dos projetos comunitários, o prazer de
uma sexualidade vivida segundo o Evangelho, e todas
as coisas com as quais o Pai nos presenteia como si-
nais de seu sincero amor” (DAp 356).
Enfim, a alegria do Evangelho é promessa de um
mundo novo, que já está presente no meio de nós, mas
não ainda na sua plenitude, ofuscado pelas sombras
da tristeza, do pecado e da morte. Por isso, “felizes os
aflitos, porque serão consolados” (Mt 5,4), pela certe-
za de uma promessa que já está se realizando. Papa
Francisco em sua nova Exortação Apostólica afirma: “a
pessoa que, vendo as coisas como realmente estão, se
deixa trespassar pela aflição e chora no seu coração, é
capaz de alcançar as profundezas da vida e ser auten-
ticamente feliz” (GE 76). Feliz, portanto, é quem se in-
digna diante de tantas situações desumanas, estruturas
injustas e violências institucionalizadas sem sucumbir à
tentação do desânimo, do ódio, da vingança: “a alegria
do discípulo é antídoto frente a um mundo atemoriza-
do pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio”
(DAp 29).
A alegria do Evangelho é, portanto, esperança atu-
ante e realista de um outro mundo possível, que se tor-
na mais próxima e solidária lá onde a tristeza da morte
parece reinar.

Pe. Estêvão Raschietti, sx


Rede Latino-americana de
Dom Sérgio Braschi participou do CAM 4 Missiólogos e Missiólogas (Relami)

2018 abril a junho 11


Testemunhos

“No  país dos telhados azuis”


J
á se passaram oito anos beis e suas mães, além da cateque- ninguém, nunca lhe falara de Deus
desde  aquele  novembro se e acompanhamento de pessoas na sua família, e ela estava com re-
de 2008 quando, ao pou- com fé budista que pediam conhe- ceio que dissessem que era fruto
sar em Chiang Mai, na Tailândia, cer Jesus Cristo. Pode-se dizer que, de sua fantasia.
vi muitos telhados de cor azul e na maioria das vezes, essas pesso- Com essas e outras pessoas
pensei que teria gostado  bastan- as chegavam à paróquia “por acaso”. no limiar da fé cristã, partilhei minha
te desse país onde as casas têm o Aphisit acompanhava sua es- experiência de fé. Eles, por sua vez,
telhado  azul. Pareceu-me reviver o posa, católica, à  missa dominical. enriqueceram-me com a sua.
encanto das primeiras descober- Não entendia nada do rito, nem Lembro-me da dificuldade
tas diante daquilo que era total- lhe interessava mesmo, mas um dia vivida por ambas as partes: eu na
mente novo  para mim. Mas ago- ficou tocado  por umas “estrangei- tentativa de aprender a usar uma
ra, voltando  ao meu país, aqueles ras” que acompanhavam crianças língua nada simples, eles por escu-
oito anos se  preenchem  de  no- deficientes, cuidando delas como tarem uma estrangeira que tentava
mes, rostos, vozes, gargalhadas se fossem as mais amáveis pesso- falar sua língua, de forma esquisita
(risos) e choros, e acredito haver as encontradas na vida, enquanto, e de maneira bem estranha a eles,
muito a agradecer. para seus olhos budistas, eram qual era a do Evangelho, que diz:
Lembro que, transcorridos  os pessoas que estavam “pagando a “Deus faz nascer o sol sobre os
primeiros meses no norte para pena” pelo seu carma negativo. bons e os ruins”(Mt 5:45); “deves
o estudo  da língua, desci para a Pharsong chegou trazido perdoar sete vezes sete”, ou ain-
comunidade de Nonthaburi, perife- pela grande enchente de 2011 que da que “os pobres no espírito são
ria de Bangkok, a Capital, onde  per- o tinha forçado a abandonar sua bem-aventurados” (Mt 5:3).
maneci. A nossa comunidade es- casa e se alojar na paróquia...
tava engajada com o anúncio do Muai ouvia falar de Deus pelo
Evangelho por  meio da caridade, namorado e quis “encontrá-lo”


compromisso social nas favelas e porque, em seu  coração, ela con-
presença na “Casa dos Anjos”, que versava com  aquele “Pai” desde
atendia crianças diferentemente há- criança, mas às escondidas, pois

Deus faz nascer o


sol sobre os bons
e os ruins” (Mt 5:45);
“deves perdoar sete
vezes sete”, ou ainda
que “os pobres no
espírito são bem-
aventurados”
(Mt 5:3)

12 abril a junho 2018


Testemunhos

Algumas vezes precisava expli-


car um pouquinho o contexto e dar a
fundamentação para que pudessem
compreender as atitudes, os gestos e
as palavras de Jesus, outras vezes
eles mesmos devolviam para mim
coisas que eu conhecia desde pe-
quena, mas repletas agora de signi-
ficado novo, como o “lava-pés” que,
para mim, a recusa de Pedro diante
de Jesus reclinado para lhe lavar os
pés parecia teimosia. Na Tailândia,
porém, ninguém pode tocar os pés
de um adulto, pois os pés são a par-
te mais indigna do corpo. Tanto que,
quem faz isso, é alguém que ocupa
uma posição social “inferior” ou de
serviço.
Compreendi muitas passagens
da Sagrada Escritura de maneira
nova, exatamente quando os ca- gir de Deus?” Ele iniciou dizendo nha), mas não conseguia acom-
tecúmenos mesmos faziam  a ex- que, quando criança, não conhecia panhar a Missa, pois na sua cabe-
periência de que aquela Palavra é o cristianismo, mas nos filmes via ça ecoava a passagem de Mateus:
verdadeiramente viva. frequentemente a árvore de Na- “Vinde a mim, benditos de  meu
No meu último domingo com tal, e que foi sempre um grande Pai, pois eu estava com fome e me
eles, o jovem Gioseng esperava sonho possuir uma delas. Desde destes de comer...” (Mt 25:35ss).
por mim. Enquanto eu o agradecia, novembro, ele estava poupando di- Saindo  da igreja, Gioseng
lembrando o retiro feito com ele nheiro para comprá-la, porque pegou em suas mãos a poupan-
no primeiro domingo de Advento, aquele ano seria o seu primeiro Na- ça destinada à árvore de Natal e
para a admissão ao  catecumenato, tal, pois ele não era mais budista. a colocou na caixinha das ofertas.
em 2013. Tínhamos apresentado  a Durante aquelas semanas, as Porém não foi uma oferta feita
figura do Profeta Jonas que foge Filipinas foram atacadas por um com alegria. Então, ao chegar em
de Deus, pois não queria cumprir furacão devastador. Com isso, na casa, Gioseng decidiu limpar a saca-
sua missão na cidade de Nínive. A frente do altar, na igreja, encon- da, que nos meses anteriores tinha
reflexão estava acompanhada por trava-se uma caixinha de ofertas ficado abandonada por descuido.
algumas perguntas que podiam ser para ajudar a população. Entran- Guardava ali vasos e coisas ve-
respondidas livremente. do na igreja, Gioseng fez como lhas. Ao remexer  aquela bagunça
Gioseng escolheu  a pergun- se não ligasse para a caixinha ficou  mudo, como que paralisado,
ta: “Tu fizeste a experiência de fu- (Gioseng fingiu não ver a caixi- pois meses antes um amigo seu,
do  Canadá, havia enviado semen-
tes que ele mesmo plantara, mas
Fotos: arquivo pessoal

não vendo nada desabrochando,
esquecera totalmente as sementi-
nhas. Naquele domingo, num da-
queles vasos, havia um pinheiri-
nho de 10 centímetros com a mais
linda e natural árvore de natal que
Gioseng tinha visto e desejado.
Lembrando-me disso, na ma-
nhã de minha despedida, disse co-
migo mesma: “Lembra-te, Elisabete,
Deus não se deixa vencer em gene-
rosidade”.

Ir. Elisabetta Pelucchi


Missionária de Maria - Xaveriana

2018 abril a junho 13


Propagação da fé

Famílias Missionárias:
vidas em doação
H
á cinquenta anos, o Concílio Vaticano II A antiga expressão “Igreja Doméstica” tem suas
recuperou, dos escritos paulinos, a família origens nos tempos apostólicos, quando o núcleo da
nascida do sacramento do matrimônio Igreja era em geral constituído por aqueles que, “com
como “Igreja Doméstica” e “Santuário íntimo da Igreja”. toda a sua casa”, tornavam-se cristãos (cf. At 18,8). O
Hoje, o papa Francisco, na Exortação Apostólica Apóstolo Paulo em suas pregações falava sobre “cons-
“A Alegria do Evangelho”, pede a atenção dos fiéis truir” a comunidade e, para isso, utilizava metáforas que
com relação à família, “célula básica da sociedade”. correspondiam a “edificar a casa”. As Igrejas domés-
Sua mensagem orienta as relações de fraternidade ticas foram, então, os principais pilares das primeiras
que se encontram ameaçadas pelo individualismo comunidades cristãs. A partir delas, os lares passaram
e pelo egoísmo crescente, os quais enfraquecem a promover e a dar expressão aos laços que tinham
o desenvolvimento de valores e a estabilidade em comum, sempre na preocupação de promover a
dos vínculos entre as pessoas, sobretudo vínculos hospitalidade como principal impulsionador da missão
familiares (cf. EG66-67). deixada por Jesus Cristo.
A Pontifícia Obra da Propagação da Fé, obra fun-
dada em 1822 pela Jovem Paulina Jaricot, que tem
como alicerce o tripé da oração, sacrifício pessoal e
solidariedade concreta em função das missões, e ainda
despertar, animar e promover o espírito missionário
ad gentes, envolve atividades com as Juventudes, os
idosos e enfermos, e também com as famílias. São as
Famílias Missionárias (FM).
Como Obra Pontifícia, todas essas atividades são
comprometidas a rezar pelas missões, oferecer algum
sacrifício no decorrer do dia pela evangelização, contri-
buir financeiramente cada mês para suprir as necessida-
des missionárias da igreja, e formar e alimentar o espíri-
to missionário pela leitura de publicações missionárias.
As Famílias Missionárias são um serviço de ani-
Missionários visitam as famílias da comunidade mação oferecido pela Obra da propagação da Fé, como

14 abril a junho 2018


Propagação da fé

alternativa para todos os que integram o ambiente fa-

Fotos: arquivo POM


miliar. Elas desejam ajudar na animação missionária a
partir do interior do lar, para edificar Igrejas Domésticas
enraizadas na vivência do Evangelho e em Jesus Cristo.
Seu objetivo geral é promover a consciência missionária
universal nas famílias, como igrejas domésticas, des-
pertando vocações missionárias comprometidas com o
anúncio do Evangelho e em favor da vida.
Para alcançar tal objetivo elas fortalecem os gru-
pos de famílias para que vivam em estado permanen-
te de missão na ternura do amor cristão, realizando
encontros para a escuta, reflexão e partilha da vida,
desenvolvendo atividades de formação e animação
missionária com as variadas famílias, e ainda ajudan- IAM e JM participam da caminhada
do a despertar, no seio familiar, vocações missionárias
além-fronteiras. Além de articular ações conjuntas com da Realidade Missionária. Escolhe-se um tema gerador
pastorais, movimentos, organismos e entidades que que norteará toda a reflexão e ação do mês. Sobre o
trabalham com a ética e a promoção da dignidade hu- tema escolhido se estuda, se reflete e se forma. É o pri-
mana, e assim, estimulam projetos de inclusão social e meiro encontro do mês. Quinze dias depois o grupo
sustentáveis, levando as famílias à comunhão fraterna. se reúne para a vivência do terceiro passo da metodo-
As atividades da Obra da Propagação da Fé, bem logia que é a visita missionária, a qual deve acontecer
como as demais Obras, adotam a metodologia das uma vez por mês de acordo com a realidade local. É
quatro áreas integradas, ver, julgar, agir e celebrar. As uma maneira de interferência direta dentro da realida-
Famílias Missionárias, sendo uma dessas atividades, de que fora estudada. Pode ser realizada também em
também agem por essa metodologia e buscam viven- parceria com as pastorais, movimentos e organismos
ciá-la em duas etapas: Vida de grupo e vida de Família. organizados na comunidade, dentro de uma perspecti-
Vida de grupo é o momento em que as famílias que va orgânica e de conjunto.
compõem o grupo vivem em comunidade, partilham Vida Familiar, como o nome sugere, é um momen-
vivências e orientam os trabalhos a partir de encontros to mais voltado para o interior de cada lar, na vivência
como Igreja doméstica. Vida de Família é o momen- da fé dentro de casa. Esse passo contempla as outras
to de vivência familiar que busca fortalecer o diálogo, duas áreas que correspondem à Espiritualidade Mis-
a presença de Deus e os vínculos dentro da família. sionária buscada no interior do lar, após olharem a
Completam assim, as quatro áreas integradas que de- realidade, perceberem como se pode iluminar aquela
vem ser vividas no seio familiar. determinada realidade, enquanto família missionária,
podendo também se rezar o terço missionário em fa-
mília ou se fazer a leitura orante da palavra, realizando
Para melhor compreender assim, esse segundo passo. E o Celebrar, como teste-
Vida de Grupo: é o momento da reunião dos gru- munho missionário, celebra tudo o que foi vivenciado
pos das famílias missionárias que devem ser compos- no grupo e em família, podendo também convidar as
tos de no máximo sete famílias. Aqui se vive o 1º Passo famílias visitadas a celebrarem consigo, gerando um
da metodologia das quatro áreas integradas que é o espírito de fraternidade dentro da comunidade. Dessa
maneira, acredita-se que os grupos de FM se formam
enquanto grupos, mas também, tornam-se grupos de
famílias evangelizando famílias - famílias em missão.
Portanto, por meio dessa metodologia e na comu-
nhão com toda a Igreja, as Famílias Missionárias que-
rem ser, no importante momento que vive nossa Igreja,
instrumentos que favorecem e garantem a saída missio-
nária, recuperando, no seio dos lares, a vocação de cada
batizado, de nós todos, convocados a assumir, na pró-
pria vida, a vida de Cristo no anúncio e no testemunho
do Reino de Deus que já desponta em nossa história.
“Famílias em missão, vidas em doação!”

Pe. Badacer Neto


Famílias celebram encontro na comunidade secretário nacional da Obra da Propagação da Fé

2018 abril a junho 15


Missão em Contexto

UM SÍNODO PARA A

AMAZÔNIA

C
onvocada em 15 de do Sínodo e da preocupação com (REPAM) e presidente da Comis-
outubro de 2017, a as populações indígenas e com a são Episcopal para a Amazônia
grande reunião de Amazônia. (CEA) da Conferência Nacional
bispos para refletir a realidade Uma comissão preparató- dos Bispos do Brasil (CNBB), e a
da Pan-Amazônia terá sua re- ria foi nomeada pelo papa para Ir. Maria Irene Lopes dos Santos,
alização em outubro de 2019. conduzir os trabalhos. Coorde- delegada da Confederação La-
Até lá, muitos estudos, escutas, nada pelo cardeal Dom Lourenzo tino-Americana e Caribenha de
reuniões e atividades preparató- Baldisseri, a equipe pré-sinodal Religiosos e Religiosas (CLAR),
rias ocorrerão, tanto em Roma, conta com a participação de cin- secretária executiva da REPAM-
quanto na realidade amazônica. co brasileiros, entre eles, o car- -Brasil e assessora da CEA.
“Novos caminhos para a Igreja deal Cláudio Hummes, arcebispo No itinerário até o Sínodo,
e para uma ecologia integral” é emérito de São Paulo, presidente para conhecimento da realida-
o tema a ser refletido e que, se- da Rede Eclesial Pan-Amazônica de e escuta das populações da
gundo o papa Francisco, precisa
vir das vozes da própria Amazô-
Fotos: Felipe Larozza

nia, desde os povos originários,


até as populações mais urbanas
da região.
“O Sínodo para a Amazônia
já começou”. A afirmação é do
próprio papa, em janeiro deste
ano, em Porto Maldonado, por
ocasião da sua visita ao Peru. O
país, que faz parte da Pan-Ama-
zônia, recebeu o bispo de Roma
em mais uma visita apostólica à
América do Sul, quando, na opor-
tunidade, ele falou da realização Papa Francisco com delegados do Conselho pré-Sinodal
16 abril a junho 2018
Missão em Contexto

Pan-Amazônia, um documento identidade dos povos indígenas,

Fotos: REPAM
foi elaborado por especialistas memória histórica eclesial, justiça
convidados pelo Conselho Pré- e direitos dos povos, espirituali-
sinodal. Dos treze expertos que dade e sabedoria são os pontos
auxiliaram na elaboração do apresentados nessa parte do texto.
documento preparatório, três Segundo o documento preparató-
são brasileiros e membros da rio, “em sua história missionária, a
REPAM-Brasil. Amazônia tem sido lugar de teste-
munho concreto de estar na cruz,
Documento preparatório inclusive, muitas vezes, lugar de
Na primeira reunião do Con- martírio. A Igreja também apren-
selho pré-Sínodo, realizada em deu que nesse território, habitado
abril deste ano, em Roma, o do- por mais de dez mil anos por uma
cumento foi aprovado pelos con- grande diversidade de povos, suas
selheiros e pelo papa Francisco. culturas se construíram em harmo-
Além de auxiliar na caminhada até nia com o meio ambiente”.
a assembleia especial, ele apresen- O julgar/discernir é a se-
ta algumas questões para serem gunda parte do documento que
respondidas pelas populações da ilumina as reflexões para uma
Pan-Amazônia, como uma forma conversão pastoral e ecológica.
de fazer ouvir, pelos bispos da O anúncio do Evangelho de Je-
grande reunião, as vozes da Ama- sus na Amazônia é apresentado
Papa e Ir. Irene, da REPAM-Brasil
zônia. De acordo com o texto do a partir das dimensões bíblico-
documento, “escutar os povos in- teológica, social, ecológica, sa- sonhamos com os pés fincados
dígenas e todas as comunidades cramental e eclesial-missionária. na terra de nossos ancestrais e,
que vivem na Amazônia, como os “Hoje o grito da Amazônia ao com os olhos abertos, pensamos
primeiros interlocutores deste Sí- Criador é semelhante ao grito do como será essa Igreja a partir da
nodo, é de vital importância para povo de Deus no Egito (cf. Ex 3,7). vivência da diversidade cultural
a Igreja universal”. É um grito de escravidão e aban- dos povos. Os novos caminhos
O documento está dividi- dono, que clama pela liberdade terão uma incidência nos minis-
do em três partes, segundo o e o cuidado de Deus. É um gri- térios, na liturgia e na teologia
método ver-julgar-agir. Ao final to que anseia pela presença de (teologia indígena)”, destaca o
do texto estão algumas questões Deus, especialmente quando os texto.
que permitem um diálogo e uma povos amazônicos, por defen- O documento preparató-
progressiva aproximação da rea- der suas terras, são criminaliza- rio termina com as palavras de
lidade e expectativa regional, na dos por parte das autoridades; Francisco em Porto Maldonado,
perspectiva da “cultura do encon- ou quando são testemunhas da no momento em que abre, ofi-
tro”, em que as populações da destruição do bosque tropical, cialmente, o Sínodo especial para
Amazônia deverão ser ouvidas. que constitui seu habitat mile- a Amazônia: “ajudem aos seus
A primeira parte é ver, em um nar; ou, ainda, quando as águas bispos, ajudem aos missionários
convite para se olhar a identidade de seus rios se enchem de espé- e missionárias para que sejam
e os clamores da Pan-Amazônia. cies mortas no lugar de estarem um com vocês, e, dessa maneira,
Território, diversidade sociocultural, plenas de vida”, afirma o texto de dialogando entre todos, possam
preparação. plasmar uma Igreja com ros-
Por fim, o documento, na to amazônico e uma Igreja com
última parte, provoca à ação: rosto indígena. Com este espírito
novos caminhos para uma convoquei o Sínodo para a Ama-
Hoje o grito da Igreja com rosto amazônico. O zônia no ano de 2019”, conclui
Amazônia ao Criador é texto reflete o que seria esse ros- Francisco.
semelhante ao grito do to, a dimensão profética, os mi-
povo de Deus no Egito nistérios e os novos caminhos. Paulo Martins
(cf. Ex 3,7) “No processo de pensar uma Assessor de Imprensa
Igreja com rosto amazônico, REPAM-Brasil

2018 abril a junho 17


IAM

175 anos
da IAM
Agradecer a caminhada,
sonhar e projetar novos passos
A
Obra da Infância e Adolescência Missioná- dos podemos transformar o mundo melhor, aprendi que
ria no Brasil tem uma bonita caminhada. tudo é possível pela oração, aprendi a interagir mais com
Temos milhares de crianças e adolescentes as pessoas, a falar, a expor minhas ideias,” afirma Bruno.
que fazem parte dessa obra nas mais diferentes regi- Hoje em dia, nossas comunidades contam com di-
ões. Do sul do país, por exemplo, temos o testemunho versas lideranças que tiveram sua iniciação na vida de
de Rafaela Martinelli, da Diocese de Umuarama (PR): comunidade por meio do grupo da Infância e Adoles-
“IAM para mim é ter uma experiência maior com Deus, cência Missionária, como relata Isabela Carolina Rocha
aprender mais sobre a sua Palavra, aprender a amar ao da Trindade, da Arquidiocese de Brasília (DF): “A IAM
próximo e a rezar por todas as crianças do mundo”. representa para mim várias coisas e várias etapas da
Do norte da Diocese de Conceição do Araguaia (PA) minha vida. Na infância, quando passei a ser membro
nos fala Luiz Fernando: “Estou na IAM desde os três do grupo, representou o encontro com o Cristo que me
anos, e a importância da IAM na minha vida me fez ser chamou para servir. No grupo, comecei como ambien-
uma criança melhor amando e respeitando. Servindo a tadora onde eu pude expressar a minha criatividade da
minha igreja com amor quero ser sempre um missio- maneira que eu sabia fazer, e foi também o momento de
nário, poder ensinar as crianças o que aprendi.” aprender a fazer o sacrifício material. Creio que se não
Já Alice Maria da diocese de São tivesse aprendido quando criança, hoje
Mateus (ES) destaca que a IAM faz parte eu não manteria o meu cofrinho ainda
de seu processo de crescimento, como ativo. Na minha adolescência até a mi-
ela ressalta: “Comecei a participar na nha juventude, o grupo foi o lugar onde
IAM desde os sete anos. Quando eu era Servindo a minha comecei a desenvolver a minha espiritu-
pequena não tinha muita noção, então igreja com amor alidade pessoal e o encontro da minha
não entendia muita coisa, mas agora vocação. Tive a graça de poder exercer
que tenho dez anos entendo e ofereço quero ser sempre um essa espiritualidade em comunidade, a
a Palavra de Deus. Gosto muito da IAM, missionário, poder maneira que me sentia convidada por
porque nela aprendi a ser solidária com Jesus e Maria, porque não havia em
os nossos encontros na Casa do Idoso, ensinar as crianças o meu grupo exclusão. Hoje como as-
na Casa de Passagem, pois lá aprendi a que aprendi.” sessora é ainda a obra em que posso
ajudar os mais necessitados, e também colaborar e trabalhar com as crianças e
descobri que nem todo mundo tem só adolescentes os mesmos valores e ca-
o bom no coração que também existem pessoas com a rismas que compreendi. Sei que um dia pode acontecer
ruindade. Espero um dia passar a Palavra de Deus, assim de eu ser chamada a servir de outra maneira, porém a
como a IAM me passou, pois quero que todos saibam IAM não deixará de fazer parte de mim.”
que Deus te ama,” considera Alice. Assim como essas pessoas, muitas outras con-
A partir do ano de 2005, os adolescentes também tribuíram e continuam a contribuir com a IAM e, da
passaram a fazer parte dessa Obra. Atualmente, nas di- mesma maneira, a IAM marcou e continua a marcar a
versas regiões do Brasil, há adolescentes pertencendo história de muito cristão.
a IAM, como partilha o jovem Bruno da Diocese de
Ji-Paraná (RO): “A IAM me mostrou a importância de Ir. Patrícia Souza,
ajudar as crianças e adolescentes. Com a ajuda de to- secretária nacional da IAM.
18 abril a junho 2018
IAM

OBJETIVO GERAL: Fortalecer a identidade da IAM por meio de ações que gerem
processos de formação, missão e articulação, visando à unidade e à comunhão da
Obra em todos os âmbitos de atuação no Brasil.

OBJETIVO: Fortalecer a identidade missionária universal de assessores e coor-


denadores da IAM, por meio do carisma e espiritualidade da obra.
AÇÕES:
• Curso de formadores/multiplicadores;
• Material formativo.

OBJETIVO: Despertar e testemunhar o ardor missionário na comunidade a par-


tir dos grupos da IAM.
AÇÕES:
• Jornada nacional da IAM;
• Mês missionário.

OBJETIVO: Fortalecer a unidade e a comunhão da IAM no Brasil


AÇÕES:
• Elaborar diretrizes, orientações para a atuação da IAM no Brasil;
• Mapeamento de atuação da IAM em unidades educacionais;
• Assembleia Nacional.

2018 abril a junho 19


Pontifícia União Missionária

Por uma identidade


missionária
O reconhecimento da missionariedade
como base da vida cristã

U
m encontro com Cristo transforma a nos- vida, não é mais necessário sair para pregar quando se
sa vida completamente e nos abre para as pode fazer uma transmissão ao vivo ou postar textos
relações de reciprocidade, permitindo-nos bíblicos nas redes sociais digitais. Por causa disso, cul-
entender que missão não é uma estratégia de prose- tivar e incentivar uma espiritualidade que reforce nossa
litismo, mas o reconhecimento do encanto pela vida. identidade missionária dentro dos seminários não é tão
Como Jesus, que na sua experiência humana de- simples, pois a ideia de missão impregnada na mente
volveu o encanto da vida e em tudo se orientou para de muitos seminaristas e formadores não corresponde
o Pai – até mesmo sua morte foi para a glória de Deus àquele estilo de vida assumido por Cristo.
(Jo 12,23), os presbíteros são chamados a serem ho- Apesar das motivações imbuídas de entusiasmo
mens apaixonados por Deus e por sua missão. missionário presentes no Documento de Aparecida,
Sem um amor oblativo não há missão, pois nin- nas Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da
guém vai ao encontro do outro para proclamar uma Igreja no Brasil e, principalmente, no magistério do
Boa Notícia sem antes apaixonar-se por seu conteúdo. Papa Francisco, a missão ainda continua como opção
Tendo em vista essas considerações, a questão de poucos, como se fosse um acidente na vida de al-
missionária na formação inicial dos presbíteros é algo guns vocacionados ao sacerdócio.
indispensável. Porém, em muitos se- Inegavelmente, há um hiato
minários e casas de formação, está preocupante entre o Evangelho, as
na hora de um evangélico despertar orientações presentes nos documen-
missionário. Infelizmente, para al- Como Jesus, que tos oficiais da Igreja acerca da forma-
guns seminaristas, missão se reduz na sua experiência ção presbiteral e o que acontece na
às experiências ad gentes, às ativida- formação inicial dos presbíteros: faz-
des pastorais dos finais de semana,
humana devolveu o se missão sem incentivar o ser mis-
do mês missionário e dos períodos encanto da vida e em sionário. Limitados a uma questão
de férias. Para outros, o cenário cul- tudo se orientou para laborativa, não é raro escutarmos, de
tural em que vivemos não necessita o Pai – até mesmo formadores e professores, que nós
de missionários em saída, mas sim sua morte foi para a precisamos “fazer missão”. Ora, mas
de boas estratégias de evangelização. se a missão é um trabalho a fazer,
Como a globalização facilitou nossa
glória de Deus ela pode ser realizada num intervalo
(Jo 12,23)

20 abril a junho 2018


Pontifícia União Missionária

Fotos: Arquivo POM


pequeno de tempo, logo não passa de um serviço pas- É imperioso refletir a missão na dinâmica do
sageiro. Para que então falar com tanta insistência que a encontro (ser com os outros). Para isso, só uma renova-
vida presbiteral é uma vocação específica dos continua- ção da consciência, capaz de acolher a missionariedade
dores da missão de Jesus? Nos encontros vocacionais, como dom, irá possibilitar que assumamos uma vida
distingue-se vocação de profissão pela integralidade missionária contagiante, principalmente na convivência
com que se vive a primeira. Diferentemente de todo pro- com outros seminaristas, proporcionando a participa-
fissional que tem uma carga horária de trabalho espe- ção na vida divina, como fez Jesus. Assim, a missão
cífica, um padre, um religioso, uma religiosa, um pai e deixa de ser atividade pastoral organizada ou conceito
uma mãe vivem sua vocação a todo instante. eclesial e se torna reflexo do que Deus é, fazendo-nos
Continuar a missão de Jesus não é só desenvolver viver diariamente na lógica do seu amor, aproximan-
atividades pastorais ou sair de casa em casa falando do-nos dos outros e conduzindo-os pelo caminho do
do Evangelho, mas sim abraçar o seu estilo de vida e Evangelho. Isso deve acontecer em todo nosso discer-
testemunhar concretamente o seu amor. De fato, Jesus nimento vocacional, não apenas nos finais de semana,
não fazia missão, mas vivia em missão. quando estamos em serviço pastoral nas paróquias.
Por conseguinte, para recuperarmos o sentido evan- Portanto, a grande saída para superarmos a la-
gélico da missão e romper com a limitada ideia de que cuna presente na formação presbiteral está entre a
uma das dimensões da formação presbiteral é missioná- passagem da compreensão geográfica da missão para
ria, nossa primeira insistência deve ser o reconhecimento o âmbito da consciência. E os COMISEs podem aju-
da missionariedade como base da vida cristã e, automa- dar muito nessa tarefa, pois missão é uma questão de
ticamente, da vida presbiteral. É verdade que as Diretrizes identidade. Olhando para Jesus, vemos que sua pessoa
para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil têm e missão coincidem. Que passemos de uma compreen-
orientações para que o presbítero seja discípulo-mis- são missionária do fazer para o ser, “tendo os mesmos
sionário, inclusive destacam cinco aspectos essenciais, a sentimentos de Cristo” (Fl 2,5), a fim de sermos seus
saber: “O encontro com Jesus Cristo, a conversão, o dis- autênticos discípulos-missionários.
cipulado, a comunhão e a missão” (Doc. 93 CNBB 92; cf.
DAp 278). No entanto, enquanto não superarmos a ideia Marcos Bento
de missão como dimensão, dificilmente evoluiremos na Seminarista da Diocese de
formação missionária dos futuros presbíteros. Livramento de Nossa Senhora (BA)

2018 abril a junho 21


Pontifícia União Missionária

FORMISE

Arquivo pessoal
10 anos de missão

“Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo


caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32)

V
ivenciando as alegrias dando frutos, tanto no Nordeste ranhuns (PE). Este ano, para come-
dos 10 anos de cami- como em outras regiões do país. O morar o 10° encontro, realizaremos
nhada dos encontros ponto de partida foi o amor, como em julho um FORMISE nacional na
de Formação Missionária para Se- nos lembra Santa Teresinha, padro- Cidade de São Luiz do Maranhão,
minaristas (FORMISE), somos con- eira das missões, que descobriu que com o tema A alegria do evangelho,
vidados a “olhar para o passado era esse amor que fazia agir, dava anúncio, comunhão e missão.
com gratidão, viver o presente com vigor a todos os seus membros e Como nos pediu várias vezes o
paixão e abraçar o futuro com es- encerrava todas as vocações, e ani- Papa Francisco, “sejamos missioná-
perança” (Papa Francisco). mava também os missionários: “... rios da alegria”. E não nos esqueça-
A formação dos seminaristas então, num transporte de alegria mos de que ser missionário não é
para a missão é algo que deve ser delirante, exclamei: encontrei final- privilégio de determinadas pessoas,
tratado com profundo zelo e dedi- mente a minha vocação, a minha mas é a essência cristã: “Anunciar
cação. A Igreja nasceu da missão e vocação é o Amor!”. Do amor nas- o evangelho não é título de glória
só se manterá acesa enquanto exis- ceu o compromisso com o cres- para mim; é, antes, necessidade que
tirem missionários comprometidos cimento. É o amor que nos torna se me impõe. Ai de mim se eu não
em levar a Boa Nova para todos. A responsáveis, que nos faz sair e ir anunciar o Evangelho!” (1Cor 9,16).
semente foi lançada, já germinou, já ao encontro do outro, nos faz co- Ser missionário não é só percorrer
deu e continua a dar frutos nos cora- nhecer e aprender. Nascia assim a grandes distâncias, mas é a difícil
ções que se abriram ao acolhimento. Formação Missionária voltada para viagem de sair de si, ir ao encontro
São diversas as formas e diferentes seminaristas, um encontro com a do outro, ir ao encontro do “dife-
os dons, mas Deus chama a todos cara do Nordeste e, porque não di- rente”, ir ao encontro do marginali-
para uma vivência missionária. zer, com a cara do Brasil. A primeira zado. Nesses10 anos de encontro é
Com o desejo de melhor servir edição FORMISE aconteceu no ano isso que o FORMISE tem fomenta-
à Igreja, um grupo de seminaristas de 2007, em Teresina (PI), e desde do em nossos corações.
entusiasmados pela missão resol- então vem sendo realizado. O En- Que Nossa Senhora Aparecida
veu organizar um encontro missio- contro já esteve presente em quase e os Santos do Nordeste abençoem
nário, no qual se pudesse refletir, todos os Estados do Nordeste: em a todos!
partilhar, testemunhar e conhecer 2008 – Fortaleza (CE); 2009 – São
a realidade dos outros estados do Luiz (MA); 2011 – Campina Grande Gilson Klaus Barbalho
Nordeste. Com essa iniciativa, esses (PB); 2012 – Feira de Santana (BA); Seminarista da Arquidiocese
jovens deixaram para nós um le- 2014 - Aracaju (SE); 2015 – Natal de Natal (RN) e coordenador
gado, uma proposta que continua (RN); 2016 – Crato (CE); e 2017 - Ga- do COMISE NE2
22 abril a junho 2018
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